Matematica Borroes
Matematica Borroes
Matematica Borroes
O COMPUTADOR
NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Premiado no
V Concurso de Materiais de Apoio à Integração e Utilização
das Tecnologias de Informação e Comunicação nos
Ensinos Básico e Secundário (1998)
do Programa Nónio Século XXI
Setembro de 1998
ÍNDICE
Introdução ........................................................................................................ 1
I.1. A Posição dos Profissionais de Ensino e das suas Associações de Classe .... 4
I.1.1. "Recomendações para o Ensino da Matemática nos Anos 80" ........... 4
I.1.2. "Normas para o Currículo e a Avaliação em Matemática Escolar" ..... 9
I.1.3. "Matemática Fundamental para o Século XXI" .................................. 14
I.1.4. A posição da Associação de Professores de Matemática (APM) ........ 19
Anexo 1 ........................................................................................................ 68
Anexo 2 ........................................................................................................ 71
Anexo 3 ........................................................................................................ 74
Bibliografia ........................................................................................................ 75
INTRODUÇÃO
de metodologias.
e inúteis) ou desenvolver "skills" que, por serem adquiridos mecânicamente, não constituem
aprendizagens reais (são dependentes do contexto, logo não transferíveis) (Barrón Ruiz,
informação, mas sim como processo de construção cognitiva que se favorece mediante a
explorar, a aprender com os erros (NCTM, 1991; Papert, 1991). O computador, pelas suas
educação matemática, a realidade mostra que isso raramente acontece. As razões para esta
situação são variadas e ainda não totalmente conhecidas, dada a quase inexistência de estudos
neste âmbito. Da nossa experiência de formação contínua de professores nesta área (cursos no
1
concluir pela existência de duas razões principais: 1) falta de formação (técnica e didáctico-
Se quanto à segunda pouco ou nada podemos fazer para alterar a situação, quanto à
doutoramento na área). Este mesmo trabalho visa contribuir para a formação didáctico-
(euclideana). Dentro de cada uma destas áreas demos atenção aos três tipos de actividades
No capítulo I fazemos uma revisão, necessáriamente sucinta, das posições dos profis-
2
REFERÊNCIAS
3
I.
ORIENTAÇÕES ACTUAIS
NO ENSINO DA MATEMÁTICA
sob o título genérico "Uma Agenda para a Acção", as "Recomendações para o Ensino da
Matemática nos Anos 80" *. Eram em número de 8 e cobriam todos os aspectos do ensino e da
Das 8 recomendações, as três primeiras têm um interesse particular para este trabalho, já
que são aquelas que mais directamente se prendem com as suas finalidades:
*
Editadas em Portugal pela Associação de Professores de Matemática.
4
Recomendação 1. :
Recomendação 2. :
Recomendação 3. :
dia-a-dia de cada cidadão. Mas também deve preparar indivíduos para lidar
com os problemas especiais que terão de enfrentar nas suas vidas futuras.
ciências matemáticas.
unificam. Cada problema não pode ser tratado como um exemplo isolado.
5
(...) Os programas de Matemática dos anos 80 devem ser delineados de
simulação;
aprender a:
• experimentar;
6
• transferir capacidades e estratégias para novas situações;
Matemática.
reais.
7
No desenvolvimento da recomendação 2. pode ler-se:
"(...) básico deve incluir aquilo que é essencial para que um cidadão
(...) Uma listagem completa do que é essencial deve conter pelo menos
escolas.
8
(...) Os educadores devem ter cuidado na escolha do software que se
disponível.
1985).
das Normas para a Avaliação, este documento retoma, na sua essência, as "Recomendações..."
escolaridade.
*
Editadas em Portugal pela Associação de Professores de Matemática.
9
Na fundamentação das Normas pode ler-se:
respeito à Matemática:
problemas.
10
(...) a matemática escolar deve valorizar a aquisição de formas
ser central na vida escolar, de tal modo que os alunos possam explorar,
alunos: (1) que aprendam a dar valor à matemática, (2) que adquiram
11
− ser encorajados a explorar, a fazer tentativas, e mesmo a fazer erros e a
pessoal.
finalidade.
12
para a aquisição da compreensão de modelos, estruturas e simulações
da própria matemática.
alunos;
de demonstração;
e em grupo;
ferramentas que simplificam, mas não executam, o trabalho que está entre
13
I.1.3. "Matemática Fundamental para o Século XXI"
Supervisors of Mathematics (NCSM) dos EUA descreve, num artigo com o título "Matemática
Fundamental para o Século XXI", aquilo a que chamou "as competências matemáticas
fundamentais de que os cidadãos terão necessidade para iniciarem a vida adulta no próximo
milénio" .
NCTM atrás referidas, o NCSM considera que as competências necessárias para abrir as
competências matemáticas fundamentais para que os alunos possam ter uma idade adulta
responsável.
profissional várias vezes ao longo da sua vida. Os cargos que vierem a desempenhar
A fim de se prepararem para esta mobilidade, os alunos devem desenvolver uma profunda
compreensão dos conceitos e princípios matemáticos; têm de raciocinar com rigor e comunicar
com clareza; têm de reconhecer as aplicações matemáticas no mundo que os rodeia e devem
novas situações e controlar de forma contínua a sua auto-formação, ao longo de toda a vida.
memorizar regras sem compreender os conceitos em que essas regras se baseiam. Os alunos
14
têm que compreender os princípios matemáticos; devem saber como e quando usar o cálculo e
O manifesto de 1977 do NCSM foi uma reacção contra o movimento "back to basics",
redutora. Agora, quando olhamos para o futuro, reconhecemos que o uso de calculadoras e
criativa de problemas, o raciocínio preciso e a comunicação eficaz terão uma importância cada
vez maior. Para desempenhar, com eficiência, funções no próximo século, os alunos precisarão
de um conjunto mais vasto de competências matemáticas. A lista que se segue identifica doze
• Resolução de Problemas
captar ideias matemáticas através da audição, leitura e visualização. Devem ser capazes de
15
apresentar ideias matemáticas através da exposição oral ou escrita, através de desenhos e
• Investigação Matemática
Os alunos devem aprender por si próprios as ideias matemáticas. Devem ser capazes de
conjecturas. Devem aprender a usar contra-exemplos para mostrar que uma conjectura é falsa
ou modelos, factos conhecidos e argumentos lógicos para a validar. Devem ser capazes de
Os alunos devem não só compreender como a Matemática se aplica ao mundo real, mas
número para serem capazes de decidir se os resultados dos cálculos são adequados
16
• Estimação
numa situação do dia-a-dia pode usar-se uma estimativa para averiguar da sensatez da solução,
Os alunos devem adquirir técnicas simples para estimar medidas e ser capazes de decidir
inteiros e decimais. Mas, cálculos longos e complicados devem ser feitos com calculadoras e
importante.
• Pensamento Algébrico
17
• Medição
experiências concretas. Devem ser capazes de medir distâncias, massa, peso, tempo,
e volumes simples. Devem ser capazes de efectuar medições nos sistemas usuais, utilizando os
• Geometria
de problemas e medições.
• Estatística
Os alunos devem planificar e executar a recolha e organização de dados para dar resposta
a questões do seu dia-a-dia. Devem saber construir , ler e interpretar tabelas, mapas, plantas e
gráficos simples. Devem ser capazes de apresentar informação acerca de dados numéricos, tais
como: medidas de tendência central (média, mediana, moda) e medidas de dispersão (desvio-
18
• Probabilidade
Devem familiarizar-se com o modo como a Matemática é utilizada para fazer previsões
tomadas de decisão.
*
Analisando a revista "Educação e Matemática" , ou quaisquer outras publicações da
Paulo Abrantes:
19
procuram sobretudo dominar técnicas úteis para resolverem exercícios tipo.
20
porque inibe, nos nossos alunos, a actividade matemática, a capacidade de
da descoberta matemática.
jogador que, tendo ensaiado várias estratégias sem êxito, tem, de repente,
causa. O primeiro jogador vê-se então obrigado a rever a estratégia que, até
podendo vir a abandoná-la por outra que lhe pareça superior. E assim
Que dizer de uma escola que não ensina os alunos a "jogar"? (...)"
*
A autora cita Imre Lakatos em "Preuves et réfutations", 1984.
21
I.2. A POSIÇÃO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO *
definidas na Lei de Bases do Sistema Educativo (de forma genérica) e nos diversos
aprovados.
Dado o carácter prescritivo dos programas, a nossa análise da posição do Ministério irá
função:
mobilização.
*
Referimo-nos ao caso português, óbviamente.
22
(...) A alteração fundamental consiste em serem considerados
Tendo presente
pessoa;
Básico:
- (...)
23
- promover a realização pessoal mediante o desenvolvimento de
Articulando conhecimentos com capacidades e atitudes, pode ler-se mais adiante neste
Projecto de Programa:
indutivo.
raciocínio dedutivo assumirá uma importância cada vez maior. O aluno irá
24
estudo dos números e do cálculo seja constituído por problemas com
interesse para o aluno relacionados com o seu dia-a-dia, com jogos, com a
construção de gráficos.
(...)"
" (...) Tendo como pressuposto ser o aluno agente da sua própria
de situações concretas.
25
• os conceitos são abordados sob diferentes pontos de vista e
Matemática (...) .
utilidade da Matemática.
cooperação.
dedutivo (assuma) uma relevância cada vez maior: o aluno vai verificar
26
conjecturas, justificar propriedades, fazer pequenas cadeias de raciocínio,
rigoroso.
de aprendizagem."
Apesar das alterações que os textos finais dos Programas vieram a apresentar
relativamente aos textos dos Projectos respectivos, cremos que a posição do Ministério sobre
como deveria ser o ensino da Matemática ficou bem expresso nas páginas anteriores.
27
I.3. SÍNTESE, CRÍTICA E CONCLUSÕES
Três grandes linhas orientadoras são comuns às posições analisadas nos números
anteriores.
A primeira diz respeito aos conteúdos curriculares. Para além dos conhecimentos
e
o desenvolvimento de atitudes • confiança nas suas capacidades e
positivas potencialidades
• persistência na procura de soluções
• autonomia
• iniciativa
• criatividade
• responsabilidade
• espírito crítico
• cooperação
• etc.
28
A segunda relaciona-se com as metodologias de ensino/aprendizagem da Matemática.
Pode ser sintetizado na frase: "saber Matemática é fazer Matemática". Isto significa que as
actividades com finalidades objectivas e significativas para eles (Barrón Ruiz, 1991).
pode ser um ponto de partida para a descoberta de novos conceitos. É, para além disso, um
1986).
encarados como instrumentos poderosos que permitem, por um lado aliviar os alunos de
29
I.3.2. ... Crítica ...
Autores como Dewey, Bruner, Wertheimer ou Piaget, defendem que cada indivíduo é
capaz de encontrar por si mesmo uma regra ou uma estrutura conceptual desconhecida a partir
métodos de ensino em que o aluno produza o seu próprio conhecimento ao invés de o receber
já elaborado. Como consequência adicional, espera-se também que melhorem a sua capacidade
de investigar, de resolver problemas e de raciocinar, o que, por sua vez, gerará atitudes
desenha ou pratica o modelo e, também, segundo o aspecto sobre o qual enfatizam os seus
Estes modelos centram-se nos processos da Matemática e têm por finalidade fundamental
culturalmente valioso que deve ser conhecido pelos estudantes. Estes conteúdos são
30
descobertos ( ou redescobertos ) por eles mediante diferentes técnicas de ensino: diálogo
socrático com o professor em pequeno ou grande grupo; raciocínio dirigido mediante uma
com vários condicionalismos que determinam e enquadram rígidamente a sua acção educativa.
pouca flexibilidade curricular, etc. , que os afastam das metodologias inovadoras por
Em segundo lugar, a própria situação de aula demasiados alunos por turma, espaços
ensino, impedem quer a introdução destes (mesmo num ensino de tipo tradicional), quer a
orientações analisadas. Duas ordens de razões determinam o nosso apoio: primeiro porque têm
uma base científica ampla e comprovada; mas, sobretudo, porque são os profissionais de
31
I.3.3. ... e Conclusões
problemáticas;
32
REFERÊNCIAS
APM (1985). Agenda para a Acção. Recomendações para o Ensino da Matemática nos
anos 80. Lisboa: APM.
Pollak, H. (1987). Notes from a talk given at the Mathematical Sciences Education Board.
Frameworks Conference, Maio 1987, Minneapolis.
33
II.
ALGUMAS PROPOSTAS DE
ACTIVIDADES DE ENSINO/APRENDIZAGEM
DA MATEMÁTICA USANDO COMPUTADORES
problemas.
óbvio, seguem de perto esta nossa posição sobre a utilização educativa do computador.
34
Centraremos a nossa atenção apenas em dois tipos de software: folha de cálculo e
euclideana plana.
porque, apesar de algumas lacunas que se lhe possam apontar, é dos programas de mais fácil e
35
II.1. A FOLHA DE CÁLCULO NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM DA
MATEMÁTICA
medição de objectos concretos. A primeira sobre objectos físicos (pedaços de ferro); a segunda
definido.
1ª actividade:
pedaço de ferro
cálculo
36
Materiais 1 pedaço de ferro por aluno
Metodo- Cada grupo (3/4 alunos) mede o volume e o peso de cada um dos
logia pedaços de ferro que lhe foram distribuídos e regista-os numa tabela.
todos os grupos.
37
fig. 1
+A7+B7 na célula C7, +A8+B8 na célula C8, +A9+B9 na célula C9, etc..
O comando Copy está situado no menu Edit.
Com esta actividade os alunos têm um primeiro contacto, ainda num nível concreto e
nalidade. Para que a passagem à fase de abstracção seja bem sucedidada, é necessário que
38
Deve ficar interiorizado, por exemplo, que o Peso(g) e o Volume(cm3) de pedaços de
ferro são grandezas directamente proporcionais porque é sempre constante (7.6) a razão
Peso(g) / Volume(cm3) em cada um desses pedaços ; que se pode obter o valor numérico do
Peso(g) de qualquer pedaço a partir do seu Volume(cm3), multiplicando este por aquela
constante (7.6).
Mas não se deve ficar pela leitura óbvia e directa da folha de cálculo. Os alunos devem ser
fig. 2
a razão Volume(cm3) / Peso(g) de cada pedaço de ferro também é constante e tem valor
39
Peso(g) / Volume(cm3). Logo, o Volume(cm3) também é proporcional ao Peso(g), e pode
40
2ª actividade:
grandezas
de cálculo
Metodo- Cada grupo (3/4 alunos) constrói uma folha de cálculo que julgue
perímetro de rectângulos.
Como sabem calcular quer a Área quer o Perímetro de um rectângulo a partir das medidas
dos comprimentos dos lados, esta actividade desenrola-se totalmente na folha de cálculo sem
lados dos rectângulos podem ser geradas aleatóriamente pela própria folha de cálculo.
41
A construção desta folha de cálculo segue um modelo semelhante aos das folhas das fig. 1
e fig. 2. A única diferença reside nas fórmulas das colunas A (Base) e B (Altura).
Pretendemos que os valores destas colunas sejam gerados aleatóriamente e que variem
entre 1 e 11, isto é, que pertençam ao intervalo [1,11[. A função que gera número aleatórios é
a função RAND( ). Mas esta gera, de cada vez que é chamada, um número aleatório do
intervalo [0,1[. Para obter um número aleatório no intervalo desejado temos que recorrer à
Assim, as fórmulas a colocar nas células A6 e B6 são ambas iguais e têm a forma
10*RAND( )+1. Basta copiá-las depois para as células A7 a A19 e B7 a B19, respectivamente,
fig. 3
42
Em presença desta folha de cálculo, e pela simples leitura dos valores das colunas
actividades de formalização.
43
II.1.2. Resolução de problemas
realidade concreta.
criadora.
Problema:
"Um comboio inicia uma viagem com 200 passageiros a bordo. Na 1ª estação sai 1 passa-
geiro e entram 10; na 2ª estação saiem 2 passageiros e entram 20; na 3ª estação saiem 3
passageiros e entram 30; e assim sucessivamente. Os lugares sentados são em número de 1000.
44
Objectivos 5. Aprofundar os conhecimentos técnico e conceptual da folha
(cont.) de cálculo
o problema.
do problema.
construíu-se, a partir do menu Data/Series, a série de valores com passo (Step) igual a 1 e
valor final (Final value) igual a 15. O número de saídas em cada estação, na coluna B, constrói-
se de maneira idêntica.
45
Para a construção do número de entradas em cada estação, na coluna C, introduz-se a
fórmula +A6*10 na célula C6 e copia-se esta fórmula para as restantes células da coluna C,
fig. 4
*
Poderíamos utilizar a fórmula 200+D6, mas perder-se-ia a possibilidade de ensaiar com outro valores iniciais
46
na célula E7 a fórmula +E6+D7, que dá o número total de passageiros na 2ª estação, incluindo
já o número inicial destes, e copia-se esta fórmula para as restantes células da coluna E.
passageiros e lendo o número da estação em que aquele número é superior a 1000, obtém-se a
solução procurada.
Contudo, podemos fazer com que seja o próprio computador a sinalizar a ultrapassagem
do valor 1000. Foi o que fizémos na coluna F: enquanto o total de passageiros for igual ou
inferior a 1000, não se dá nenhuma indicação; assim que ultrapassar esse valor escreve-se, por
exemplo, "de pé", sinalizando a estação em que ficaram os primeiros passageiros de pé. O teste
vasto conjunto de situações semelhantes; pode, portanto, ser considerado como uma
generalização de um problema.
Enquanto o problema lida com constantes, o modelo lida com parâmetros. Fazendo variar
estes parâmetros, podemos analisar cada uma das situações concretas cuja totalidade o modelo
representa.
A construção da folha de cálculo anterior foi efectuada de forma que alguns valores
nova situação. Por exemplo, para 0 passageiros no início é a partir da estação 20 que começam
Também as entradas e/ou saídas em cada estação podem ser manipuladas, reflectindo-se
47
Esta possibilidade de variar os parâmetros e observar as mudanças concomitantes quase
relativamente à Matemática.
Matemática não podem ser descurados, pelo menos nos níveis mais avançados da
aprendizagem.
Em anexo (Anexo 1) propomos uma abordagem analítica deste problema, posterior à sua
48
II.1.3. Modelação
Determinados problemas são tão complexos* que apenas admitem estratégias de resolução
experimentais. Outros apresentam resultados tão díspares, dependentes das condições iniciais,
resolver problemas concretos, um de cada vez , da família que o modelo representa. Para
Problema:
aquelas distam 10 Km. Pretende-se construir uma estrada de A a B passando sobre o rio. A
ponte, por razões económicas, terá que ser perpendicular às margens. Onde deverá ser
49
Objectivos 4. Generalizar a estratégia resolução escolhida
de cálculo
para os cálculos mas importante para a apreensão visual do problema e o modelo própriamente
cálculo e cujos ícones se situam por baixo do menu Help. Este esboço vai servir-nos de
A ponte tem sempre o mesmo comprimento onde quer que seja construída, logo pode ser
ignorada. O objectivo do modelo passa a ser então encontrar o mínimo da soma dos
50
fig. 5
Para isso consideramos um ponto genérico P sobre uma margem do rio, de tal forma que
os 10 Km que medeiam entre as projecções das cidades sobre as margens são divididos em
dois segmentos de comprimentos denotados por `x´ e `10-x´. `x´ representa a distância entre a
d1 = x 2 + 52 ; d 2 = (10 − x ) 2 + 2 2 .
A solução do problema é, portanto, o valor de `x´ para o qual a soma d1+d2 é mínima,
Para implementar o modelo na folha de cálculo começamos por definir as células B16 e
B18 como x inicial e incremento, o que nos dará automáticamente os valores de x na coluna
51
F. Assim, na célula F3 entrará a fórmula +B16, o que copia o valor inicial de x em F3. Na
valor de incremento atribuído em B18. A fórmula +F3+B18 é então copiada para as restantes
células da coluna F.
células da coluna H.
Após estes procedimentos o modelo encontra-se definido e pronto a ser explorado. Para
Por exemplo, para valor inicial 0 e incremento 1 verifica-se que a soma d1+d2 é mínima
quando x≈7, o que nos sugere a exploração de uma vizinhança de 7 com raio da ordem das
mínima encontra-se no intervalo [6.8,7.4]. Para estreitar este intervalo alteremos a precisão
dos valores da coluna I (menu Format /Number) para 4 casas decimais. Verifica-se agora que o
valor procurado de x pertence a uma vizinhança de 7.1 com raio da ordem das centésimas.
Esta técnica empregar-se-á tantas vezes quantas as necessárias para obter o valor de x
52
II.1.4. Alguns problemas para resolver com o auxílo da folha de cálculo
Deixamos aqui alguns problemas, não resolvidos, do tipo que entendemos que pode
contribuir para o desenvolvimento cognitivo do aluno. Foram escolhidos pela possibilidade que
perfeito (25=52). Haverá mais números naturais que gozem de propriedades semelhantes?
2. Um pastor tem 100 m de rede para construir um redil quadrangular. Como ele quer que
a área interior seja máxima, que dimensões devem ter os lados do redil?
igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos. Serão os quadrados os
4. Quantas vezes se deve dobrar sucessivamente uma folha (imaginária) de papel com 0.1
mm de espessura para que a altura de papel obtida ultrapasse a distância da Terra ao Sol,
5. Dois automóveis fazem um percurso de ida e volta, sem parar, entre duas cidades A e B
faz toda a viagem a 50 Km/h, o segundo faz a ida (de A para B) a 60 Km/h e a volta (de B
para A) a 40 Km/h.
53
II.2. O PROGRAMA "CABRI-GÉOMÈTRE" NO PROCESSO DE
ENSINO/APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA
do programa "Cabri-Géomètre"
54
Metodo- Conjectura-se sobre a relação do circumcentro com as linhas
válida.
Assim, construiremos um ponto a igual distância dos três vértices e uma circunferência com
centro neste ponto e raio igual à distância do ponto a qualquer dos vértices. Se esta
Edit/Name). Este ponto P será manipulado até se encontrar à mesma distância dos três
vértices.
Para podermos medir distâncias temos que, primeiramente definir os segmentos que unem
55
fig. 6
Movemos, então, o ponto P até as medidas dos comprimentos afixadas serem iguais.
A circunferência deste círculo contém os três vértices, o que confirma a nossa conjectura.
56
fig. 7
As alturas são segmentos perpendiculares a cada um dos lados com origem no vértice
oposto. O programa permite-nos traçar rectas passando por um ponto e perpendiculares a uma
dada direcção (recta ou segmento). Traçando as três rectas que contêm as alturas (menu
57
Para não sobrecarregar a figura apaguemos estas rectas (menu Edit/Appearance of
objects) e passemos a construir as bissectrizes dos três ângulos internos. Para tal é necessário
bissectrizes intersectam-se num ponto diferente de P (fig. 9), portanto, também não interessam
fig. 8 fig. 9
Apagamos as bissectrizes e passamos a testar a intersecção das mediatrizes dos três lados
bisector. As três mediatrizes intersectam-se no ponto P (fig. 10). Então, podemos concluir que
Finalmente, para validar esta generalização geométrica, testamos esta conclusão em vários
58
3. construímos o círculo de centro no ponto de intersecção dessa mediatrizes e raio igual
fig. 10
59
II.2.2. Resolução de problemas
Problema:
programa "Cabri-Géomètre"
programa "Cabri-Géomètre".
60
Tal como se nos apresenta, o "Cabri-Géomètre" já tem pré-definida a rotina que determina
inadequado quando o objectivo é construir esse mesmo centro. Foi a pensar nestas situações
que os autores incluiram a possibilidade de alterar os menus, para que o aluno construa as
Assim, antes do ensaio de resolução do problema, temos que retirar a opção "Center of a
Comecemos por desenhar um círculo (menu Creation/Circle). Para traçar duas cordas
on object). Criados os quatro pontos vamos definir com eles dois segmentos (menu
Para confirmar, construímos um círculo (menu Creation/Circle def. by 2 pts) com centro
naquele ponto e passando por um dos extremos de uma das cordas (fig. 11). Verifica-se que os
61
fig. 11
podemos manipular os extremos das cordas alterando quer a sua posição, quer o seu
comprimento, e observar as relações entre as mediatrizes e centro do círculo.
A conclusão geral, após estas variações dos parâmetros, é a de que a intersecção das
62
II.2.3. Modelação
Problema:
"O João naufragou e foi ter a uma ilha em forma de triângulo equilátero. Como o João
quer ir todos os dias às três praias (lados do triângulo) para ver se avista algum barco,
pretende construir o seu refúgio num ponto tal que a soma das distâncias às três praias seja
programa "Cabri-Géomètre"
63
O modelo consiste, fundamentalmente, num triângulo equilátero, num ponto interior ao
triângulo e nas distâncias deste ponto a cada um dos três lados afixadas. Movendo o ponto
dentro do triângulo vão-se registando as somas daquelas distâncias até determinar a posição
Para isso, começa-se por traçar um segmento de recta [AB] (menu Creation/Line-segment).
triângulo equilátero [ABC] (fig. 12). Os vértices são nomeados a partir do menu Edit/Name.
Os círculos, utilizados como construções auxiliares apenas, podem ser apagados com a
cada um dos lados. As distâncias são medidas dos comprimentos de segmentos perpendiculares
aos lados. Então, vamos fazer passar por P três linhas perpendiculares, cada uma a seu lado
64
fig. 12
Os segmentos definidos por P e por estes pontos de intersecção são perpendiculares aos
lados, e as medidas dos seus comprimentos são as distâncias procuradas. Afixando estas
medidas (menu Miscellaneous/Measurement), o modelo (fig. 13) está pronto a ser utilizado na
nota, para cada nova posição, da soma das distâncias atrás referidas na tentativa de encontrar
Mais uma vez reafirmamos que, embora necessários, estes processos não são suficientes
65
avançados. A demonstração e a generalização formais, parte essencial da ciência Matemática,
fig. 13
66
II.2.4. Algumas actividades e problemas para resolver no "Cabri-Géomètre"
Tal como fizémos relativamente à folha de cálculo, deixamos aqui algumas actividades
geométricas e problemas, não resolvidos, do tipo que entendemos que pode contribuir para o
2. Determinar a relação entre as medidas dos lados dos quadriláteros (não necessáriamente
3. Determinar a relação entre as medidas dos ângulos dos quadriláteros (não necessária-
4. Verificar que a soma das amplitudes dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180º.
E que a soma das amplitudes dos ângulos internos de qualquer quadrilátero é 360º.
67
ANEXO 1
O problema das páginas 44-48 é um bom exemplo de como a partir de situações concretas
cálculo.
Após esta resolução experimental, os alunos de níveis mais avançados, devem tentar
Os valores na coluna "Total dentro" (fig. 4, coluna E) são os termos de uma sequência
descrever por uma expressão a relação entre o total de passageiros e o nª da estação? Isto é,
A existir tal função será uma sucessão, pois Estação varia em N . Vamos então procurar o
1 .......................................... un=209=200+9x1
2 .......................................... un=227=200+9x1+9x2
3 .......................................... un=254=200+9x1+9x2+9x3
4 .......................................... un=290=200+9x1+9x2+9x3+9x4
5 .......................................... un=335=200+9x1+9x2+9x3+9x4+9x5
..........................................
n
n .......................................... un=200+ ∑ 9 i
i =1
68
n
un = 200 + ∑ 9 i
i =1
n
un = 200 + 9 ⋅ ∑ i , pela linearidade do operador somatório
i =1
1+ n n
un = 200 + 9 ⋅
2
⋅ n , pois ∑i
i =1
é a soma de n termos de uma progressão aritmética
e finalmente
9 n 2 + 9 n + 400
un =
2
Para confirmar que a expressão anterior é realmente o termo geral da sucessão dos totais
de passageiros voltemos à folha de cálculo da fig. 4 e construamos uma nova coluna de valores
9 n 2 + 9 n + 400
a partir da expressão com n a variar no conjunto dos números de estação.
2
Comparando estes novos totais da coluna G (ver fig. A1) com os totais da coluna E
constata-se que são iguais, o que confirma a validade do termo geral encontrado.
69
fig. A1
Esta metodologia mostra como o computador permite integrar o concreto com o formal, a
70
ANEXO 2
A resolução empírica de problemas, reafirmamo-lo, deve ser sempre o passo inicial, mais
Isto não quer dizer que tenhamos que gastar tempo e esforço em cálculos fastidiosos,
mesmo que sejam cálculos algébricos. O importante não é o cálculo, mas sim a integração de
derivadas de qualquer ordem, limites, integrais indefinidos, etc.. No entanto, não passa de um
Assim, vamos deixar ao computador a resolução deste modelo. Utilizaremos, para isso, o
programa DERIVE.
A resolução do problema consiste, como já vimos, em encontrar o valor de `x´ para o qual
expressão (1), calcular as suas raízes * (que são pontos de estacionaridade) e reter aquelas em
que a derivada é negativa à esquerda e positiva à direita, que são os mínimos da função.
*
Para este problema só interessam raízes no intervalo [0,10], óbviamente.
71
Os passos da resolução, se bem que de pequena dificuldade, são morosos e sujeitos a
erros, dado o volume de cálculos envolvidos. Mas é aqui que o computador revela
d
2: -- (SQRT (52 + x2 ) + SQRT (22 + (10 - x)2 ))
dx
50
5: x = ----
7
6: X := 7
72
775
8: - -------
42311
9: X := 7.2
383
11: -------
50154
73
ANEXO 3
distâncias do ponto genérico P aos lados são representadas por h1, h2 e h3. Suponhamos que
5
5
h2 h3
P
h1
A B
5
fig. A3
52
5 ⋅ 52 −
2 2 . Por outro lado, esta
A área do triângulo [ABC] é dada pela expressão
2
mesma área é igual à soma das áreas dos três triângulos [APB], [APC] e [BPC]. Estas áreas
5 ⋅ h1 5 ⋅ h 2 5⋅ h3
são obtidas, respectivamente, através das expressões , e .
2 2 2
52
5 ⋅ 52 − 2
2 = 5 ⋅ h1 + 5 ⋅ h 2 + 5 ⋅ h 3 sai a relação h1 + h 2 + h 3 = 5 ⋅ 3 ,
Da igualdade
2 2 2 2 2
o que mostra que a soma das distâncias de qualquer ponto P interior ao triângulo é constante.
74
BIBLIOGRAFIA
1) BÁSICA:
APM (1985). Agenda para a Acção. Recomendações para o Ensino da Matemática nos
não publicadas).
Dugdale, S., Wagner, L. J. & Kibbey, D. (1992). Visualizing Polynomial Functions: New
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APM.
Pollak, H. (1987). Notes from a talk given at the Mathematical Sciences Education Board.
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2) De APROFUNDAMENTO:
Blänsdorf, K. & Frey, K. (Eds) (1987). A utilização dos computadores no ensino das
Matemática, Nº 3, p. 27-31.
Matemática, Nº 4, p. III-IX.
Matemática, Nº 5, p. III-VI.
Matemática, Nº 7, p. VI-VI.
Matemática, Nº 7, p. I-II.
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Canavarro, A. P., Borralho, A. & Matos, J. F. (Eds) (1992). Quadrante 1. Lisboa: APM.
da Educação.
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Gardner, M.., (1990). Ah, Descobri!. Lisboa: Gradiva.
Editora.
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