A Invençã Do Zero
A Invençã Do Zero
A Invençã Do Zero
Resumo: este artigo foi escrito pelos alunos da disciplina A História da Matemática e seu potencial no
processo de Ensino-Aprendizagem - Mestrado Profissional em Educação matemática da UFOP. Foi
resultante de uma pesquisa bibliográfica sobre a invenção do zero em autores já considerados
clássicos. Contém desde os babilônios, maias, chineses até chegar aos hindus, verdadeiros inventores
do zero. Contém também uma breve discussão sobre o símbolo para o zero, segundo alguns
historiadores, e a palavra zero.
Introdução
O homem é um ser em evolução, capaz de criar, de recriar de acordo com suas
necessidades, usando o instinto de sobrevivência, há quem diga que os mais fortes
sobrevivem, mas crê-se que aqueles que se adaptam são os que de fato sobrevivem. A história
é testemunha.
No entanto a capacidade de pensar, de criar faz do ser humano um ser em condições
de constantes mudanças e descobertas. Concordando com outros autores, entre eles Barco
(s/d), indaga-se qual foi a mais importante descoberta para a humanidade. Terá sido o fogo, a
roda, a energia elétrica, o telefone, a internet, o zero?
Acredita-se que cada grande descoberta foi um passo rumo ao novo e a outras
descobertas, não se sabe se é possível precisar qual destas e de muitas outras foi a mais
importante, mas cada uma no seu tempo, no seu lugar, no seu espaço, fez com que a
humanidade caminhasse um pouco mais. Pensar nestes grandes feitos é pensar quem está por
trás deles. Quem primeiro pensou? Quem sentiu a primeira necessidade e buscou uma solução
para o “problema”?
Segundo Cajori (2007) os babilônicos criaram um sistema de numeração de base vinte
e conseguiram sobreviver por volta de 12 séculos sem o zero. Nos registros babilônicos antes
da era cristã há um símbolo para o zero, porém não foi utilizado para cálculos, uma vez que o
zero ainda nem sonhava em ser um número.
É possível imaginar os dias atuais sem o zero? Entretanto que diferença é esta que o
“nada” faz na vida atual?
A resposta é rápida sem exigir grande raciocínio. Usa-se o sistema posicional de
numeração, uma invenção fantástica. Pensar que apenas com dez símbolos é possível escrever
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qualquer quantidade que se possa imaginar, conclui-se que, de fato, o zero foi uma grande
descoberta!
De acordo com Barco (s/d), Laplace disse: “Apreciaremos ainda mais a grandeza
dessa conquista se lembrarmo-nos de que ela escapou ao gênio de Arquimedes e Apolônio,
dois maiores homens da antiguidade”.
É possível que quando Leonardo Fibonacci (1175-1250) popularizou o sistema Indo-
arábico em seu livro Liber Abbaci, não tinha o conhecimento de todo o caminho percorrido
pelos hindus até incorporarem o zero aos nove algarismos já existentes.
A História
O uso do zero já era feito desde os antigos Babilônios, mas não era utilizado como se
vê atualmente, como uma “quantidade para o nada” e sim como símbolo posicional. Na
verdade, segundo Ifrah (2005) o zero babilônico nasceu por volta do século II a.C.
Segundo Garbi (2009) o sistema de numeração maia por volta do século V d.C. se
tornara posicional de base vinte. Segundo Gundlach (1992) o símbolo para o zero indicava a
ausência de unidades nas ordens.
Os autores divergem quanto a aparência do símbolo utilizado, concha ou caramujo
(Garbi, 2009), mão fechada vista de frente (Gundlach, 1992), concha ou olho semi-aberto
(Struik, 1989), para Vasconcelos(1919?), o sinal “o” é a primeira letra da palavra grega nada.
Segundo Eves (2007), Ch’ín Kiu-shao, foi o primeiro chinês a dar um símbolo para o zero e
este era uma circunferência, isto no século XIII. No entanto, segundo IFRAH, (2005, p.248),
foi somente a partir do século VIII d.C. aproximadamente, sob a influência dos matemáticos e
dos astrônomos de origem indiana, que os sábios chineses passaram a dispor de um
verdadeiro zero (..)
Nossa palavra zero, provavelmente é originária do latim zephirum, para Vasconcelos
(1919?), a palavra cifra, isto é, zero, provém do árabe cifron que significava vazio. Para Eves
(2007, p. 40-41),
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Conforme se refere Eves (2007), os mais antigos exemplos dos símbolos numéricos
encontram-se em algumas colunas de pedra construídas na Índia por volta do ano 250 a.C.
Estas colunas não contêm nenhum zero e não utilizam a notação posicional. Porém, as idéias
de valor posicional e um zero devem ter sido introduzidos na Índia algum tempo antes do ano
800 d.C., pois o matemático persa Al-Khowarizmi descreveu de maneira completa o sistema
hindu num livro do ano 825 d.C.
Estamos tão acostumados com o sistema de numeração decimal que ele nos parece
muito simples. No entanto, desde os tempos em que os homens fizeram suas primeiras
contagens, até o aparecimento do sistema de numeração hindu, decorreram milhares de anos.
É surpreendente que diversas civilizações da Antiguidade, como as dos egípcios, babilônios e
gregos, capazes de realizações maravilhosas, não tenham chegado a um sistema de numeração
tão funcional quanto o dos hindus.
Embora diversos autores apresentem suas versões para o surgimento do zero, Garbi
(2009) desenha um quadro cronológico interessante e bastante convincente, baseado no
referido autor apresentamos fatos que remontam a descoberta que revolucionaria a
matemática e o mundo em geral.
Data de 875 d.C a mais antiga inscrição em pedra, comprovadamente datada, do
emprego do zero. Mas algumas descobertas discordam de tal precisão.
Entre 718 e 729 d.C o autor Qutan Xida ou Gautama Sidhanta seu nome adotado pelo
budismo, vivendo na China, sinaliza com a possibilidade do sistema posicional hindu já
chegara à China ao descrever o método de trabalhar com o sistema numérico contendo nove
símbolos e o zero.
Retrocedendo ao século VII, o poeta Subanthu, mostrando a familiaridade com o
sistema numérico em sua obra, fala sobre o zero como um instrumento matemático.
Precisamente em 628 d.C, Brahmagupta discorreu sobre a forma de calcular empregando o
sistema posicional com os nove numerais e o zero.
O mais antigo indicio do zero diz que por volta de 510 d,C Aryabhata utilizou um
notável método para calcular raízes quadradas e cúbicas que somente poderia ser aplicado em
um sistema posicional dotado de um símbolo para o zero.
Diante de tantos fatos e datas, o certo é que:
Nossos numerais surgiram na Índia; sua natureza posicional e seu conceito de zero são
criações locais, sem influências externas; o sistema consolidou-se entre os séculos V e
VI; a partir daí espalhou-se, inicialmente dentro da Índia e, a seguir, para os países
vizinhos e para o resto do mundo. Para o Leste, o veículo de difusão foi o budismo;
para o Oeste foram os árabes (eruditos ou mercadores) (GARBI, 2009, p.444).
Com a conquista do Norte da Índia entre 707 a 718 pelos árabes o estreitamento da
cultura destes dois povos foi inevitável. Em 773, o califa al-Mansur e seus eruditos
aprenderam a trabalhar com o sistema de numeração hindu, graças aos ensinamentos de uma
delegação de astrônomos e matemáticos hindus. Graças ao mais notável integrante da corte
do califa: Abu-Abdullah Mohamed ibn Musa al-Kwarizmi que além de seu célebre livro sobre
Álgebra , escreveu o Livro sobre o método hindu da adição e subtração, popularizou o sistema
numérico para as escolas, sendo assim usado por pessoas comuns e principalmente
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comerciantes. E assim coube ao comércio entre o mundo cristão e muçulmano, apresentar aos
europeus tal tipo de aritmética até então desconhecida por eles.
Encontra-se na Espanha e data de 976 d.C, o mais antigo documento produzido na
Europa onde aparecem os nove algarismos indu-arábicos (sem o zero). Em visita a este país, o
papa matemático Gerbert d’Aurillac conheceu o sistema numérico, aprendeu a trabalhar com
ele e posteriormente apresentou tal sistema à França e à Itália.
Sem sucesso, Gerbert não conseguiu comprovar que tal sistema era superior ao
sistema romano até então usado em toda a Europa. Certamente, o dificultador era a cultura
muçulmana completamente rejeitada pelos tradicionalistas e religiosos.
Somente um século depois de Gerbert, um destemido erudito inglês, aventurou-se pela
Europa e conseguiu contrabandear para a Inglaterra os 13 livros dos Elementos em Árabe,
tabelas astronômicas de Al-Kwarizmi e muitas informações sobre o sistema hindu de
numeração. Além da tradução de todos os documentos para o Latim, escreveu comentários
importantes sobre a aritmética indu-arábica de Al-Kwarizmi, dando início assim à divulgação
do zero e dos 9 algarismos nas Ilhas Britânicas. Porém, a popularização dos numerais indo-
arábicos na Europa só aconteceu meio século depois através da publicação do Liber Abbaci,
em 1202 e também através de uma versão revista e ampliada do Líber Abbaci em 1228 por
Leonardo de Pisa. Começou então a derrocada do sistema romano e o avanço do sistema de
numeração dos hindus.
Na atualidade pouca importância tem se dado para a descoberta do zero como um
número ou um “símbolo para o nada” como Contador (2006) se refere ao zero.
Provavelmente isso se dá devido à facilidade que temos para efetuar as operações
básicas. Tendo-o hoje como conhecido e a facilidade de efetuar operações com o nosso
sistema de numeração, não nos deixa perceber o quanto seria difícil efetuá-las sem a presença
do zero como um número que exprime a falta de quantidades.
A falta do zero refletiu por muito tempo na estagnação do desenvolvimento
matemático, dificultando até os cálculos elementares.
Com a falta do zero, os reflexos na história por milhares de anos foram imediatos,
os gregos, que não aceitavam o vazio como um número, desenvolveram uma
geometria fantástica e quase chegaram ao cálculo diferencial e integral por
intermédio de Arquimedes, mas não passaram de uma álgebra extremamente
elementar nas mãos de Diofanto. (CONTADOR, 2006, p.146).
As dificuldades com a falta do zero, causou um grande colapso, até que alguém, não se
sabe onde e nem quando, mas provavelmente na Índia, criou um símbolo para representar o
vazio, o nulo ou o nada, que veio a se tornar um número que mudou a história. De fato, os
hindus operavam com o zero, incluindo números negativos (HOFMANN, 2006).
Contador (2006, p. 145-146), comenta a importância das propriedades do zero e as
operações.
Um número especial, que diferentemente dos outros, iria possuir características
próprias muito particulares, variando da onipotência quando da multiplicação (todo
numero multiplicado por zero é igual a zero), a impotência da adição ou subtração
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Concluindo
Estamos tão acostumados com o sistema de numeração decimal que ele nos parece
muito simples. No entanto, desde os tempos em que os homens fizeram suas primeiras
contagens, até o aparecimento do sistema de numeração hindu, decorreram milhares de anos.
É surpreendente que diversas civilizações da Antiguidade, como as dos egípcios, babilônios e
gregos, capazes de realizações maravilhosas, não tenham chegado a um sistema de numeração
tão funcional quanto o dos hindus.
É inegável a contribuição dos hindus com a invenção do zero e as possibilidades de com
ele operar, considerando-o de fato um número. Não importa se não se conseguiu datar com
exatidão sua descoberta e a qual personagem se deve. Certamente a algum matemático hindu.
De fundamental importância também é o sistema posicional de base dez, bem mais
facilitador dos cálculos que os de base vinte ou sessenta, ou qualquer outro.
Aos comerciantes árabes que divulgaram a Matemática hindu também muito se deve.
Não é por acaso que os algarismos são conhecidos por hindu-arábicos.
Referências:
CONTADOR, Paulo R., M. Matemática, uma breve história. Vol 1. São Paulo: Livraria da
Física, 2006.
GUNDLACH, Bernard H. Historia dos números e numerais . Trad.Hygino H. Domingues.
V.1. São Paulo: Atual, 1992
EVES, H., Introdução à História da Matemática. Trad.: Hygino H. Domingues. Campinas,
SP: Unicamp, 2007. 844 p.
GARBI, Gilberto G., A Rainha das ciências: um passeio histórico pelo maravilhoso mundo
da matemática – 3 ed rev. e ampl. – São Paulo: Livraria da Física, 2009, 468 p.
IFRAH, Georges., Os números: história de uma grande invenção. 11. ed. Trad.: Stela Maria
de Freitas Senra.São Paulo: Globo, 2005 . 367p.
RIBNIKOV K., Historia de las Matemáticas. Trad.: Concepción Valdés Castro. Moscou:
Mir. 1987. 487 p.
STRUIK, Dirk, J., Historia Concisa das Matemáticas. Trad.: João Cosme Santos
Guerreiro.Lisboa: Gradiva.1989.360 p.