BR 06 Iii Serie Suplemento 02 2014
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Direito Constitucional I
Texto de Apoio
Tema I
O Estado é definido como um povo baseado num território no qual institui, por
autoridade própria, um poder político (relativamente) autónomo.
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Como Estado-Comunidade – sociedade constituída por seres humanos, na
qual se exerce um poder para a realização de fins comuns.
2. O Estado e o Direito
O Direito cria direitos e obrigações nas relações entre indivíduos e entre estes e a
comunidade. O direito de mandar que assiste os governantes e o dever de obediência que
vincula os cidadãos são estabelecidos por normas jurídicas.
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O Direito vincula não apenas os indivíduos mas também o Estado e suas
instituições, cujas actividades devem ser realizadas em conformidade com princípios e
regras jurídicas.
3. Direito Constitucional
3
4. Direito Constitucional ou Direito Político
O facto político tem a ver com a sociedade política como um todo e, neste
sentido, abrange, coordena e sintetiza a pluralidade de grupos, interesses e situações.
4
A Constituição é o elemento de unidade do ordenamento jurídico do Estado e,
nesta conformidade, impede:
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sufrágio, o apuramentos dos resultados eleitorais e o contencioso
eleitoral);
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Tema II
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princípios jurídico-políticos fundamentais e determinações dos fins do
Estado em que radicam estas disposições organizatórias e garantias
jurídicas.
1.1.3. Perspectiva formal - Constituição definida tendo em conta a posição das suas
normas em face das demais normas jurídicas e modo como se articulam e se recortam no
plano sistemático do ordenamento jurídico.
1.1.3.1. Constituição em sentido formal - complexo de normas formalmente
qualificadas como constitucionais, situadas no topo da hierarquia do ordenamento
jurídico estatal e revestidas de força jurídica superior em face de quaisquer outras normas
existentes no ordenamento jurídico.
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1.1.3.5. Constituição formal primária – normas que são primária, directa e
imediatamente obra do poder constituinte formal.
1.1.3.6. Constituição formal complementar – normas anteriores ou posteriores
pertencentes ao mesmo ordenamento jurídico ou provenientes de outro ordenamento que
recebem da Constituição formal primária a força de normas constitucionais.
1.1.4. Constituição em sentido instrumental – o documento escrito onde estão inseridas
as normas constitucionais
Em sentido amplo – todo e qualquer texto constitucional, seja ele definido
material ou formalmente, seja único ou plúrimo.
Em sentido restrito – o texto denominado Constituição ou elaborado como
Constituição e carregado de força jurídica específica de Constituição formal.
a) Constituições normativas
As suas normas dominam o processo político;
O processo do exercício do poder se adapta às normas constitucionais e a
elas se submete;
Limitam efectivamente o poder político.
b) Constituições nominais
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c) Constituições semânticas
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O carácter simples ou compromissório de uma Constituição depende:
Dos circunstancialismos da sua formação, da sua aplicação e das suas
vicissitudes.
Da ausência ou da presença de um conflito de fundamentos de legitimidade ou de
projectos de organização colectiva que as normas constitucionais tenham de
ultrapassar através duma plataforma de entendimento.
Do modo como é encarada a integração política.
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Forma institucional – expressão institucional ou simbólica da representação ou
chefia do Estado (monarquia ou república).
O conteúdo essencial da Constituição em cada Estado e em cada tempo se traduz em
princípios jurídicos específicos, explícita ou implicitamente, e esses princípios abrangem
também a forma de Estado, a forma de governo, o sistema de governo, e a forma
institucional. O conjunto destes princípios consubstancia a Constituição material.
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CONCEPÇÕES GERAIS SOBRE A CONSTITUIÇÃO
a) Concepções jusnaturalistas
Constituição como expressão e reconhecimento em cada sistema
jurídico de princípios e regras de Direito natural, sobretudo, os que exigem o
respeito pelos direito fundamentais das pessoas.
Constituição como meio de subordinação do Estado a um Direito
superior e, de tal modo que, juridicamente, o poder político não existe senão
em virtude da Constituição.
b) Concepções positivistas
Constituição como lei, definida pela forma, independentemente de
qualquer conteúdo axiológico e, havendo entre a lei constitucional e a lei
ordinária uma relação lógica de supra-ordenação.
Constituição como conjunto de normas decretadas pelo poder do
Estado e definidoras do seu Estatuto.
c) Concepções historicistas
Constituição como expressão da estrutura histórica de cada povo e
referente de legitimidade da sua organização politica.
Constituição como lei que deve reger cada povo, tendo em conta as
suas qualidades e tradições, a sua religião, a sua geografia, as suas relações
políticas e económicas.
d) Concepções sociológicas
Constituição como conjunto ou consequência dos mutáveis
dos factores sociais que condicionam o exercício do poder.
Constituição como lei que rege efectivamente o poder
político em certo país, por virtude das condições políticas e sociais nele
dominantes.
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e) Concepções marxistas
Constituição como super-estrutura jurídica da organização
económica que prevalece em qualquer país.
Constituição como um dos instrumentos da ideologia da
classe dominante.
Constituição socialista como Constituição-balanço e
Constituição-programa.
f) Concepções institucionalistas
Constituição como expressão da organização social, seja
como expressão das ideias duradouras na comunidade política, seja como
ordenamento resultante das instituições, das forças e dos fins políticos.
g) Concepções decisionistas
Constituição como decisão política fundamental, válida só
por força do acto do poder constituinte, e sendo a ordem jurídica
essencialmente um sistema actos preceptivos de vontade, um sistema de
decisões.
i) Concepções estruturalistas
Constituição como expressão das estruturas sociais
historicamente situadas.
Constituição como estrutura global do equilíbrio das
relações políticas e da sua transformação.
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2.1. Teoria de FERDINAND LASSALE
Para Kelsen:
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A produção de normas jurídicas gerais reguladas pela
Constituição tem, dentro da ordem jurídica estadual, o carácter
de legislação.
Segundo Hauriou:
O regime constitucional, que é a ordem essencial da sociedade estatal no seu
livre desenvolvimento, determina-se pela acção de quatro factores: o poder, a
ordem, o Estado e a liberdade.
O Poder é, simultaneamente, o fundador e organizador da
ordem.
O Estado é a forma aperfeiçoada da ordem.
A liberdade é tanto a causa como o fim dessas acções e da
criação dessas formas.
Uma organização social torna-se duradoura quando está instituída, isto é:
Por um lado, quando o poder de governo se pode subordinar à
ideia directora que existe nessa organização social desde o
momento da sua fundação, através do equilíbrio de órgãos e de
poderes.
Por outro lado, quando esse sistema de ideias e de equilíbrio de
poderes foi consagrado, na sua forma, pelo consentimento dos
membros da instituição e do meio social.
As formas jurídicas empregadas na organização do Estado em vista da
liberdade são, por ordem histórica:
As instituições costumeiras.
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O reino da lei com valor constitucional.
As Constituições nacionais que aparecem em finais do século
XVIII a par do princípio da soberania nacional.
Uma Constituição nacional é o Estatuto do Estado (considerado como
corporação ou associação) e dos seus membros, estatuto que é estabelecido em
nome da nação soberana por um poder constituinte e por uma operação
legislativa de fundação segundo um processo especial.
A Constituição compreende:
Constituição política – que versa sobre a forma geral do Estado e
sobre os poderes públicos.
Constituição social – que tem por objecto primacial os direitos
individuais que também valem como instituições jurídicas
objectivas.
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O acto do poder constituinte não contém em si quaisquer normas, mas sim, a
totalidade da unidade política considerada na sua particular forma de existência, por ser,
precisamente, o único momento de decisão.
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Tema III- Formação da Constituição e o Poder Constituinte
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A entidade determinante do conteúdo fundamental da Constituição pode adoptar
duas atitudes possíveis: (i) elaborar e decretar, ele própria, a Constituição formal ou (ii)
convocar ou estabelecer uma assembleia ou outro órgão a fim de elaborar e decretar a
Constituição.
O exemplo do primeiro caso verificou-se em Moçambique, onde a Frente de
Libertação de Moçambique encarregou-se de elaborar e decretar a Constituição da
República Popular de Moçambique, através do seu Comité Central. O Mesmo já não
aconteceu, por exemplo, em Portugal, onde o Movimento das Forças Armadas que
provocou a derrocada do regime fascista, através do golpe de Estado de 25 de Abril de
1974, endossou a responsabilidade de elaborar e decretar a nova Constituição a uma
Assembleia Nacional Constituinte.1
Neste último caso, órgão que elabora e decreta a Constituição formal deve ser fiel
à ideia de Direito ou aos valores fundamentais que correspondem à ruptura, não podendo
agir em sentido contrário a essa ideia de direito, sob pena de provocar nova ruptura e de
se transformar em entidade originária de uma Constituição material diferente.
Quando a ideia de Direito é democrática e a Constituição é aprovada pelo povo
(directamente ou através de assembleia representativa), o órgão que elabora e decreta a
Constituição formal tem uma legitimidade que deriva, só por si, da constituição material
ou que se confunde com esta. Nos restantes casos, há uma necessária mediatização entre
a Constituição formal e a legitimidade do órgão da Constituição, ou, por outras palavras
entre a legitimidade do poder constituinte material e a legitimidade do poder constituinte
formal.
Mesmo nos casos em que a ideia de Direito é de democracia pluralista, o órgão
encarregado de fazer a Constituição formal não goza de liberdade total, porquanto,
embora esse órgão não fique vinculado estritamente a um determinado e único sistema de
direitos fundamentais, de organização económica, de organização política, ou de garantia
da constitucionalidade, está sujeito a um limite que se traduz na necessidade de coerência
1
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo I, 7.a Edição, Coimbra Editora, 2003, Pág. 332:
“Das proclamações (...) do Programa do Movimento das Forças Armadas logo constou o anúncio público
da convocação (...) de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio universal, directo e
secreto, segundo lei eleitoral a elaborar pelo futuro Governo Provisório.”.
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com o princípio democrático e da sua preservação. Não pode, em consequência, aprovar
uma Constituição que se desvie do princípio democrático.
A vinculação necessária do órgão do poder constituinte formal ao poder
constituinte material não dispensa a elaboração da Constituição formal nem reduz a sua
importância, pelas seguintes razões:
a) Na era da civilização da lei escrita e do constitucionalismo, não se pode
considerar que a vida colectiva esteja regulada juridicamente pelo facto de existir apenas
uma ideia de Direito ou um conjunto de princípios, porque o estatuto jurídico do Estado
exige sempre uma Constituição formal.
b) A ideia de Direito, esteja ou não definida de forma mais ou menos clara, carece
sempre de ser interpretada, concretizada e convertida em regras de comportamento e de
relação entre o Estado e os cidadãos e entre os futuros órgãos do poder político, e estas
regras compõem a Constituição formal.
c) Até a decretação da Constituição formal, os órgãos de poder são provisórios ou
transitórios e a validade ou eficácia dos actos de decisão política praticados por esses
órgãos está condicionada a futura confirmação ou convalidação.
d) O Direito ordinário criado entre o momento da ruptura da ordem anterior e o da
entrada em vigor da nova Constituição formal – porque está ou se pressupõe que está de
acordo com a nova ideia de Direito – não pode ser submetido a tratamento igual ao do
Direito criado no regime precedente, não obstante somente a nova Constituição é que
representa o novo fundamento do ordenamento jurídico.
e) O poder constituinte ou a soberania do Estado não se manifesta apenas no
momento inicial ou no primeiro acto do processo constituinte, nem apenas momento final
de decretação da Constituição formal. Esse poder manifesta-se na conexão de todos os
actos constituintes e no conjunto de todos os órgãos que intervêm nos mesmos.
Do exposto resulta que o poder constituinte material – poder de auto-organização
e de auto-regulação do Estado segundo uma certa ideia de Direito – e o poder constituinte
formal – poder de decretação de normas com a forma e força jurídica próprias das normas
constitucionais – representam duas faces da mesma realidade, ou dois momentos que se
sucedem e complementam.
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Trata-se, pois, de um mesmo poder constituinte que, no primeiro momento, é
somente material e que, no segundo momento, é, ao mesmo tempo, material e formal.
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2. O poder constituinte material originário
O poder constituinte material (na sua expressão inicial e mais elevada de poder de
auto-ordenação) caracteriza-se por ser de exercício raro, contudo permanece latente em
toda a existência do Estado e predisposto a emergir a actualizar-se em qualquer momento.
Com efeito, uma comunidade política só adopta uma nova Constituição em
momentos de viragem histórica nos quais é possível ou se impõe escolher um novo rumo.
Tais momentos especiais não podem ser previstos nem catalogados a prior, sendo
apenas possível apontar os seus resultados típicos:
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A formação ou o nascimento de um Estado coincide com a sua primeira
Constituição, porque é nela onde serão expressar as representações particulares do
conceito de Estado.
A constituição mais originária do Estado é a do seu nascimento, porque é ela que
configura, de modo concreto, o povo, o território e o poder político do Estado e chama a
si a ideia de Direito dominante no meio social.
No entanto, a afirmação anterior já não é válida quando se trata de transformação
da soberania ou do território, na medida em que, neste caso, prevalece sempre o
princípio da continuidade do Estado. Mesmo assim, a nova fase histórica do Estado
que decorre da transformação de seus elementos tem de apoiar-se numa ideia ou num
projecto que qualifique a alteração ocorrida.
Na formação, na restauração ou na transformação do Estado o conteúdo da nova
ideia de Direito não é separável do próprio poder político em si, mas na mudança de
regime ocorre a substituição da ideia de Direito. Por isso, a mudança de regime associa-se
mais ao fenómeno de sucessão de regimes políticos do que às vicissitudes do Estado.
Tendo em conta o seu grau de profundidade, a mudança de regime pode equivaler
à destruição ou à supressão:
a) Destruição quando a mudança de regime implica o desaparecimento tanto a
Constituição como o poder Constituinte em que se baseava.
b) Supressão quando na mudança de regime implica apenas o desaparecimento
da Constituição, mas permanecendo o poder constituinte.
A mudança de regime político tem revestido frequentemente os seguintes
modalidades de revolução ou de transição constitucional:
a) Revolução – foi considerada, até aos séculos XII e XIII, principalmente na
óptica do direito de resistência colectiva ou rebelião; como uma forma extrema de
resistência contra os governantes.
A partir dessa época, e sobretudo por causa da Revolução francesa de 1789, a
revolução passou a ser encarada não como uma mera substituição de um governo por
outro mas principalmente como criação duma nova ordem e este facto tem a ver com a
prevalência de formas modernas de legitimidade legal racional sobre as formas
anteriores de legitimidade tradicional.
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Mais tarde, a Ciência do Direito veio a reconhecer na revolução um fenómeno
constituinte (gerador de Constituição) ou um acto normativo objecto de estudo ex
professo.
Com efeito, a revolução não é triunfo da violência, mas sim o triunfo de um
Direito diferente ou de um diverso fundamento de validade do sistema jurídico positivo
do Estado. A revolução não é antijurídica, é apenas anticonstitucional por oposição à
anterior Constituição e não em face da Constituição que com ela vai surgir.
A ruptura com o ordenamento jurídico em vigor só é possível pela presença de
novos valores, princípios e critérios que afectando os anteriores vêm legitimar o acto
revolucionário e desencadear efeitos normativos múltiplos e extensos e susceptíveis de
adquirir uma dinâmica própria.
A revolução pode assumir uma das duas formas:
Golpe de Estado quando o seu autor é um governante em funções (um
titular do poder constituído que usurpa o poder constituinte).
Insurreição ou revolução stricto sensu quando o seu autor é um
grupo ou movimento vindo de fora dos poderes constituídos.
Em qualquer das hipóteses e independentemente dos respectivos objectivos
políticos ou políticos e sociais, a revolução rompe a ordem constitucional para a refazer
de imediato, fundando de novo o sistema jurídico estadual.
b) Transição constitucional (passagem sem ruptura, mudança na continuidade ou
reforma política stricto sensu) distingue-se da revolução pelo seguinte:
Na revolução verifica-se uma necessária sucessão de Constituições – material
e formal – , pois a ruptura com o regime anterior determina logo o nascimento
de uma nova Constituição material, seguida, a médio ou a longo prazo, de
uma Constituição formal.
Na transição constitucional ocorre sempre um dualismo, na medida em que,
enquanto se prepara a nova Constituição formal subsiste a anterior a termo
resolutivo.
Na transição constitucional pode acontecer que mesmo órgão funcione
simultaneamente como órgão do poder constituído à luz da Constituição
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vigente e como órgão de poder constituinte para a constituição que vai
substituir a anterior.
A transição constitucional pode ocorrer por via da revisão constitucional e
nela observam-se as competências e as formas de agir instituídas
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5. Do poder Constituinte material ao poder constituinte formal
Não costumam ser frequentes as situações em que as Constituições material e
formal surgem em simultâneo. As situações mais frequentes são aquelas em que, a seguir
ao exercício do poder constituinte material, se abra um processo complexo e longo
tendente a preparação e a redacção do texto da Constituição formal.
Este processo não decorre de modo arbitrário, ele carece de ser regulamentado.
No caso da revolução e devido a ruptura que se verifica, tal processo implica
ainda uma organização provisória do Estado até a entrada de funcionamento dos órgãos a
serem instituídos pela futura Constituição formal.
Ao conjunto de normas que tem a dupla finalidade de definir do regime de
elaboração e aprovação da Constituição formal e de estruturar o poder político no
interregno constitucional chama-se pré-Constituição ou Constituição provisória ou
ainda Constituição revolucionária.
As normas da Constituição provisória, em virtude da sua função, adquirem valor
reforçado em confronto com as outras normas, não podendo ser alteradas ou derrogadas
por normas posteriores que não tenham valor idêntico.
A Constituição provisória contrapõe-se à Constituição definitiva ou de duração
indefinida para o futuro, como pretende ser a Constituição que é produto final do
processo constituinte.
A Constituição provisória deve, igualmente, distinguir-se do fenómeno da
entrada em vigor provisoriamente de determinados princípios ou normas constitucionais
formadas durante o processo constituinte e deve distinguir-se também da subsistência
provisória de normas constitucionais anteriores não contrárias aos novos princípios
constitucionais.
É exemplo recente de pré-Constituição a Constituição provisória da África do Sul
aprovada no World Trade Centre, em 1993, no culminar de negociações que envolveram
todos os partidos políticos sul africanos desde 1991. A Constituição definitiva da África
do Sul veio a ser aprovada em 1996 e teve de ser confrontada com a Constituição
provisória pelo Tribunal Constitucional.
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6. Os tipos de actos constituintes
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Os actos deste tipo poder revestir as seguintes formas:
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d) A elaboração por órgão provindo da Constituição anterior, com
subsequente aprovação popular (França em 1799, 1801 e 1804).
e) A elaboração por autoridade revolucionária ou órgão legitimado pela
revolução, seguido de referendo (Portugal em 1933, Cuba em 1976, Chile
em 1980, Turquia em 1982).
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Contudo, o poder constituinte não equivale a um poder soberano absoluto nem
equivale à capacidade de dar à Constituição todo e qualquer conteúdo, sem atender a
quaisquer princípios, valores e condições.
O poder constituinte está sujeito a limites materiais que podem ser:
transcendentes, imanentes e, em certos casos, heterónomos.
a) Limites transcendentes (dirigidos tanto ao poder constituinte quanto ao
poder constituinte formal) são os que, precedendo e impondo-se à vontade
do Estado (ou do povo em poder constituinte democrático) e demarcando
a sua esfera de intervenção, provém de imperativos do Direito natural, de
valores éticos superiores ou de uma consciência jurídica colectiva. Entre
os limites transcendentes destacam-se os que se prendem com os direitos
fundamentais imediatamente conexos com a dignidade da pessoa humana
(v.g. o direito à vida e à integridade física e moral, a liberdade pessoal, a
liberdade de crenças, a igualdade perante a lei).
b) Limites imanentes (específicos do poder constituinte formal) estão
ligados à configuração do Estado à luz do poder constituinte material e
compreendem os limites que se reportam à soberania do Estado e, por
vezes, à forma de Estado, assim como os limites concernentes à
legitimidade política em concreto.
c) Limites hetrónomos (dirigidos tanto ao poder constituinte material como
ao poder constituinte formal) são os provenientes da conjugação com
outros ordenamentos jurídicos.
Limites heterónomos de Direito internacional – referem-se a
princípios, regras ou actos de Direito internacional, donde resultem
obrigações para todos os Estados ou para certo Estado.
Limites heterónomos de Direito interno – referem-se a regras de
Direito interno, quando o Estado seja composto ou complexo e, por
conseguinte, tenha de ser complexo o seu ordenamento jurídico.
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TEMA V- MODIFICAÇÃO E SUBSISTÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO
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1.2. Modificações da Constituição e vicissitudes constitucionais
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Vicissitudes de alcance concreto ou excepcional- afectam situações
concretas, verificadas ou a verificar-se e alguns dos destinatários
possíveis abrangidos pelas normas.
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A revisão constitucional é a modificação da Constituição nos termos
nela própria previstos, ou, na falta de estatuição expressa sobre o processo, nos
termos que decorram do sistema de órgãos e actos jurídico-constitucionais.
A revisão constitucional pode operar-se tanto através da inserção da
modificação directamente no próprio texto constitucional ou através da
aprovação, para o efeito, de uma lei constitucional autónoma.
A revisão constitucional propriamente dita é normalmente uma
modificação parcial. Nas hipóteses da chamada revisão total, trata-se
verdadeiramente de transição constitucional.
A revisão total, como verdadeira e própria revisão constitucional, só existe
quando se pretende renovar um texto constitucional na totalidade sem a mudança
dos princípios fundamentais que o enformam.
A revisão total só pode de ser da Constituição instrumental e não da
Constituição material.
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As normas constitucionais derrogatórias de princípios constitucionais podem ser
criadas:
Por via de revisão ou por via de acto análogo
Pelo poder constituinte originário (auto-rupturas constitucionais, segundo
certos autores).
No entanto a legitimidade das normas constitucionais derrogatórias tem sido
contestada, por se considerar que a sua admissibilidade incontrolada pode descambar em
manipulações constitucionais conducentes a um conglomerado de rupturas que se podem
traduzir numa outra Constituição substancialmente diferente da Constituição desenhada
pelo poder constituinte.
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A interpretação evolutiva deve ser feita de forma que, preservando o espírito da
Constituição, se revitalize as suas normas.
A eliminação das normas constitucionais pode ocorrer, no limite, por virtude do
costume constitucional e não por virtude da actividade do intérprete.
A revisão indirecta
É uma forma particular de interpretação sistemática e consiste no reflexo
sobre certa norma da modificação operada por revisão directa.
A revisão indirecta ocorre quando o sentido de uma norma não objecto de revisão
constitucional vem a ser alterado por virtude da sua interpretação sistemática e evolutiva
em face da nova norma constitucional ou da alteração ou da eliminação da norma
preexistente.
f) A transição constitucional
É a passagem de uma constituição material a outra com observância das formas
constitucionais, sem ruptura.
Aqui muda a Constituição material mas permanece a constituição instrumental e,
eventualmente, a Constituição formal.
A transição constitucional pode ser operada através de:
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Processo de revisão e neste caso pode constar de preceitos constitucionais
expressos. Trata-se dos casos das Constituições que estabelecem um regime
de revisão dos seus princípios fundamentais.
Processo geral de revisão constitucional, verificados certos requisitos para a
remoção de princípios fundamentais ou para a substituição de regime político.
É o que acontece quando pelo processo de revisão se arredam limites
materiais, explícitos ou implícitos, equivalentes a tais princípios.
g) Desenvolvimento constitucional
Ocorre através da combinação de várias vicissitudes como a interpretação
evolutiva da Constituição, revisão constitucional, e costume secundum, praeter e contra
legem.
O desenvolvimento constitucional não comporta a emergência de uma
Constituição diversa, apenas traz a reorientação do sentido da Constituição vigente.
h) Suspensão da Constituição
É a não vigência durante certo tempo de algumas normas constitucionais,
decretada por causa de certas circunstâncias.
A suspensão tem grande interesse no domínio dos direitos liberdades e garantias,
susceptíveis de serem suspensos, mas nunca na totalidade, por declaração do estado de
sítio, de emergência, ou de outras situações de excepção.
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Uma Constituição cuja fonte é a lei, tanto pode ser rígida como pode ser flexível.
Uma Constituição consuetudinária é necessariamente flexível
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b) A Expressão de legitimidade - A Constituição deve consagrar uma forma de
revisão de harmonia com a expressão de legitimidade que pode ser, por
exemplo, democrática, monárquica, ou a combinação de ambas.
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g) Limites circunstanciais – impossibilidade de revisão da Constituição em
situações de necessidade correspondentes ou não a declaração de Estado de sítio ou de
emergência ou noutras circunstâncias excepcionais.
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ISCTEM
DIREITO CONSTITUCIONAL I
42
4.3. Revisão pela assembleia ordinária com maioria qualificada (vg. de dois terços
ou mais de todos os deputados).
4.4. Revisão pela assembleia ordinária, renovada após eleições gerais
subsequentes a uma deliberação ou decisão de abertura do processo de revisão, e com ou
sem maioria qualificada.
4.5. Revisão por assembleia ad hoc, isto é, por assembleia eleita especialmente e
só para fazer revisão, a qual se pode designar de Convenção.
4.6. Revisão por assembleia ordinária (ou, eventualmente, por assembleia de
revisão) susceptível de sujeição a referendo.
4.7. Revisão por referendo que incide sobre o projecto elaborado pela assembleia
ordinária ou sobre a lei de revisão carecida de sanção popular.
4.8. Revisão peculiar das Constituições federais, em que acresce à deliberação
pelos órgãos do Estado federal a participação dos estados federados, por via
representativa ou de democracia semidirecta, a título de ratificação ou de veto resolutivo.
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b) O órgão competente – compete exclusivamente à Assembleia da
República aprovar leis de revisão constitucional, estando afastada a
hipótese de revisão por Decreto-Lei do Governo (art. 179, n.º 2, al. a)
CRM).
c) O tempo de revisão ou a competência em razão do tempo – a Assembleia
da República só pode exercer o poder de revisão constitucional decorrido
o prazo de cinco anos sobre a entrada em vigor da última lei de revisão,
salvo assunção de poderes extraordinários de revisão aprovada por maioria
de três quartos dos deputados em efectividade de funções (art. 293 CRM).
d) A normalidade constitucional – a Assembleia da República não pode
aprovar qualquer alteração da Constituição durante o período da vacatura
do cargo de presidente da República (art. 157, n.º 1 CRM), assim como
durante a vigência do estado de sítio ou de emergência (art. 294 CRM).
e) A maioria de revisão – as alterações da Constituição têm de ser
aprovadas por maioria de dois terços dos deputados da Assembleia da
República (art. 295, n.º 1 CRM).
Os elementos acima descritos são verdadeiros requisitos de qualificação da
revisão constitucional, consequentemente, a sua falta torna o acto juridicamente
inexistente como lei de revisão.
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Independentemente da sua variedade, todos os limites materiais de revisão
constitucional visam salvaguardar certos princípios fundamentais em face do poder de
revisão.
As Constituições moçambicanas de 1975 e de 1990 não estabeleciam
expressamente limites matérias de revisão constitucional. No entanto, há que observar
que a doutrina e a jurisprudência têm sustentado a existência, em qualquer Constituição,
de limites materiais implícitos decorrentes de princípios constitucionais, do sistema
político e da forma de governo consagrados na Constituição.
A Constituição de 2004, diferentemente das Constituições que a precederam,
consagra no art. 292, n.º 1, uma longa lista de matérias que devem ser respeitadas pelo
poder de revisão constitucional. Note-se que
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TEMA VI - ESTRUTURA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
No senso comum, quando se fala em Direito, a ideia que logo aparece relaciona-se com
os diplomas normativos (v.g. as leis, os decretos os regulamentos). No entanto, a nossa
experiência mostra que tais diplomas normativos são constantemente aprovados,
publicados e revogados pelos órgãos competentes do poder e, consequentemente não
pode, de forma isolada, justificarem a permanência, a coerência e a consistência do
ordenamento jurídico.
O Direito não é mero somatório de regras avulsas, produto de actos de vontade ou mera
concatenação de fórmulas verbais articuladas entre si.
Esse ordenamento, esse conjunto, essa unidade, esse valor projecta-se ou traduz-se em
princípios, logicamente anteriores aos preceitos.
Os princípios são parte integrante do Direito; fazem parte do ordenamento jurídico.
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Os princípios não se contrapõem às normas; contrapõem-se aos preceitos
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conexos com os princípios constitucionais ou através da
prescrição de princípios.
Função prospectiva, dinamizadora e transformadora: pela sua
maior generalidade ou indeterminação, admitem concretizações,
densificações e realizações variáveis alicerçando a interpretação
evolutiva.
prospectivo
Segundo G. Canotilho
Segundo J. Miranda
48
a) Princípios axiológicos fundamentais (correspondentes aos limites
transcendentes do poder constituinte): proibição da discriminação,
inviolabilidade da vida humana, integridade moral e física das pessos, a
liberdade de religião e de convições, a não retroatividade da lei penal
incriminadora, a dignidade social e do trabalho, o direito de defesa dos
acusados.
Os Preâmbulos Constitucionais
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Quanto ao objecto ou conteúdo
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Inovadoras _ são apreensíveis directamente nas disposições expressas
Encontram-se implícitas noutras normas (Interpretação enunciativa).
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Classificação específica do Direito Constitucional
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x. Normas constitucionais a se – contêm uma específica regulamentação
constitucional seja a título denormas materiais, seja a título de normas de
garantia.
xi. Normas constitucionais sobre normas constitucionais – reportam-se a outras
normas constitucionais para certos fins (disposições sobre a revisão
constitucional).
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Normas Preceptivas e Normas Programáticas
Quanto ao valor – tanto umas como outras possuem força jurídica superior em relação
às normas do Direito ordinário.
A diferença reside:
Na estrutura
No grau de realização e de efectividade.
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aparecerem, muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou
parcialmente indeterminados (indeterminação).
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Sobreposição parcial entre classificações “normas preceptivas e normas
programáticas” e “normas exequíveis e não exequíveis por si mesmas”.
Comparação entre:
Normas programáticas e
Normas preceptivas não exequíveis por si mesmas
Características comuns.
Características distintivas
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As normas programáticas:
o Exigem regulamentação legislativa acrescida de providências
administrativas, assim como operações materiais.
o Dependem ainda e sobretudo de factores económicos e sociais.
Força jurídica das normas programáticas e das normas preceptivas não exequíveis
por si mesmas
Aspectos comuns
i. Sua consideração na interpretação das restantes normas que sem elas teriam
alcance diverso;
ii. Sua contribuição para a integração de lacunas através da analogia;
iii. Ainda que tenham um conteúdo primário sempre prescritivo e não
proibitivo, elas adquirem um duplo sentido:
a. Proibitivo ou negativo
- proibindo a emissão de normas legais contrárias.
- Proibindo a prática de comportamentos que impeçam
a produção de actos por elas impostos.
b. Daqui inconstitucionalidade material em caso de violação.
iv. Fixam critérios ou directivas para o legislador ordinário nos domínios sobre
que versam. (o afastamento desses ceritérios determina
inconstitucionalidade material por desvio de poder).
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v. As normas legais que as concretizam não podem, pura e simplesmente ser
revogadas, retornando-se à situação anterior. Tal equivaleria a retirar
supervenientemente a norma constitucional a exequibilidade adquirida.
Aspectos diversos
Normas programáticas
i. Determinam a inconstitucionalidade superveniente das normas legais
anteriores descrepantes, mas apenas a partir do momento em que seja possível
receberem exequibilidade.
ii. Determinam a inconstitucionalidade por omissão apenas a partir do momento
em que seja possível a sua exequibilidade.
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possuem um sentido específico de regulamentação
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Disposições do Direito transitório material: normas temporárias destinadas a
estabelecer o regime jurídico correspondente à passagem do regime até então
vigente para o regime novo decretado
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xii. Normas constitucionais materiais (grosso modo, normas primárias) –
reflectem o núcleo da Constituição em sentido material, a ideia de direito
modeladora do regime ou da decisão constituinte (normas dos princíupios
fundamentais)
xiii. Normas constitucionais de garantia (grosso modo, normas secundárias) –
estabelecem os modos de assegurar o cumprimento da Constituição perante o
Estado (normas sobre a fiscalização da constitucionalidade).
xiv. Normas constitucionais de fundo – respeitantes às relações entre a sociedade e
o Estado ou ao estatudo das pessoas e dos grupos dentro da comunidade
política (normas sobre os direitos fundamentais)
xv. Normas orgânicas – definidoras dos órgãos do poder, da sua estrutura, da sua
competência, da sua articulação recíproca e do estatututo dos seus titulares.
xvi. Normas processuais ou de forma – relativas aos actos e actividade do poder,
aos processos jurídicos de formação e expressão – vontade necessariamente
normativa e funcional.
xvii. Normas constitucionais preceptivas – as de eficácia incondicionada ou não
dependentes de condições institucionais ou de facto.
xviii. Normas constitucionais programáticas – as que dirigidas a certos fins e à
transformação não só da ordem jurídica mas também das estruturas sociais e
da ordem constitucional, implicam a verificação pelo legislador, no exercício
de um verdadeiro poder discricionário, da possibilidade de as concretizar.
xix. Normas constitucionais exequíveis por si mesmas – aplicáveis só por si, sem
necessidade de lei que as complementem.
xx. Normas não exequíveis por si mesmas – as carecidas de normas legislativas
que as tornem plenamente aplicáveis as situações da vida.
xxi. Normas constitucionais a se – contêm uma específica regulamentação
constitucional seja a título denormas materiais, seja a título de normas de
garantia.
xxii. Normas constitucionais sobre normas constitucionais – reportam-se a outras
normas constitucionais para certos fins (disposições sobre a revisão
constitucional).
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Normas Preceptivas e Normas Programáticas
Quanto ao valor – tanto umas como outras possuem força jurídica superior em relação
às normas do Direito ordinário.
A diferença reside:
Na estrutura
No grau de realização e de efectividade.
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aparecerem, muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou
parcialmente indeterminados (indeterminação).
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A norma não exequível por si mesma é identificada pela a necessidade de
complementação por normas legislativas para que realize a sua finalidade específica.
Comparação entre:
Normas programáticas e
Normas preceptivas não exequíveis por si mesmas
Características comuns.
Características distintivas
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o Exigem apenas a intervenção do legislador, actualizando-as ou tornando-
as efectivas.
o Dependem apenas de factores jurídicos e de decisões políticas
As normas programáticas:
o Exigem regulamentação legislativa acrescida de providências
administrativas, assim como operações materiais.
o Dependem ainda e sobretudo de factores económicos e sociais.
Força jurídica das normas programáticas e das normas preceptivas não exequíveis por si
mesmas
Aspectos comuns
vi. Sua consideração na interpretação das restantes normas que sem elas teriam
alcance diverso;
vii. Sua contribuição para a integração de lacunas através da analogia;
viii. Ainda que tenham um conteúdo primário sempre prescritivo e não
proibitivo, elas adquirem um duplo sentido:
a. Proibitivo ou negativo
- proibindo a emissão de normas legais contrárias.
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- Proibindo a prática de comportamentos que impeçam
a produção de actos por elas impostos.
b. Daqui inconstitucionalidade material em caso de violação.
ix. Fixam critérios ou directivas para o legislador ordinário nos domínios sobre
que versam. (o afastamento desses ceritérios determina
inconstitucionalidade material por desvio de poder).
x. As normas legais que as concretizam não podem, pura e simplesmente ser
revogadas, retornando-se à situação anterior. Tal equivaleria a retirar
supervenientemente a norma constitucional a exequibilidade adquirida.
Normas programáticas
iii. Determinam a inconstitucionalidade superveniente das normas legais
anteriores descrepantes, mas apenas a partir do momento em que seja possível
receberem exequibilidade.
iv. Determinam a inconstitucionalidade por omissão apenas a partir do momento
em que seja possível a sua exequibilidade.
Capítulo II
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Problemática da Interpretação Constitucional
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Dificuldades (factores de perturbação) no campo da interpretação constitucional
A interpretação constitucional
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Estar atenta aos valores sem dissolver a lei constitucional no subjectivismo ou na
emoção política;
Fazer-se mediante a circulação norma – realidade constitucional – valor.
Dimensões:
a) Princípio da prevalência da Constituição – de entre várias possibilidades de
interpretação , só deve escolher-se a que não seja contrário ao texto e ao
espírito das normas constitucionais.
b) Princípio da conservação das normas – uma norma não deve ser declarada
inconstitucional, quando observados os fins da norma ela pode se interpretada
conforme a Constituição.
c) Princípio da exclusão da interpretação conforme a Constituição, mas contra
lege – o aplicador duma norma não pode contrariar a letra e o sentido desta
norma através duma interpretação conforme a Constituição, mesmo através
desta interpretação consiga uma concordância entre a norma
infraconstitucional e as normas constitucionais.
Interpretação autêntica
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Sentido geral: interpretação feita pelo órgão da qual emanou um determinado acto
normativo (ex: o sentido duma lei é fixado autenticamente por outra lei; um
regulamento com equivocidade de sentidos é interpretado por outro regulamento.
Portanto:
Lacuna constitucional autónoma (lacuna de regulamentação) surge quando se
constata a ausência na Constituição formal de uma disciplina jurídica, mas que pode
deduzir-se a partir do plano de regulamentação da Constituição e da teleologia de
regulamentação constitucional
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a) lacunas constitucionais heterónomas – resultam do não cumprimento de
ordens de legislar e das imposições constitucionais concretamente
estabelecidas na Constituição.
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APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NO TEMPO
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Constitucionalização e recepção material
3. A recepção material
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4. Caducidade (revogação consequente)
Traduz-se na cessação automática da vigência das normas que tenham sido objecto de
recepção material e/ou formal por uma constituição anterior que é revogada por força
da entrada em vigor duma nova Constituição
5. Desconstitucionalização
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