Resenha - Geografia Da Fome, Josué de Castro
Resenha - Geografia Da Fome, Josué de Castro
Resenha - Geografia Da Fome, Josué de Castro
DIREITO
TEORIA DO ESTADO 2
PROFESSOR: ENZO BELLO
BRENO LIMA
LUCAS MARQUES
Niterói
2019
O AUTOR
O autor, em Recife, se deparou com uma situação política conturbada, haja vista a
Campanha da Aliança Liberal e a Revolução de 30, que depusera o governador do estado,
Estácio Coimbra. Ainda assim, Josué de Castro não envolveu-se em militâncias aderentes a
quaisquer movimento político-partidário. Outrossim, devotou-se ao campo da fisiologia,
iniciando tratamentos endocrinológicos, quando, concomitantemente, ingressava como
professor na Faculdade de Medicina.
Diante disso, Josué de Castro, a fim de elevar a problemática social acima da econômica,
buscou estudar com afinco os problemas relativos à fome, produzindo diversos trabalhos que
intentaram demonstrar como tal mácula é produto de razões sociais que trabalhavam em
desfavor aos menos abastados e perpetuavam a pobreza e a miséria, e não oriundos de causas
climáticas e étnicas.
Pioneiro em sua disciplina, a Geografia humana, no ano de 1946, publicou o livro objeto
deste trabalho, “Geografia da Fome”, um marco nos estudos acerca da fome, sobretudo, em
território brasileiro. Em 1951, o autor foi nominado presidente do Conselho Executivo da FAO
– Food and Agricultural Organization. Em 1952, Josué de Castro publica o livro “Geopolítica
da Fome”, produto de viagens por inúmeros países do globo, as quais tiveram como foco a
visualização dos problemas relativos à fome, principalmente em países ditos subdesenvolvidos.
Segundo o autor, esse estigma tinha como fonte a estrutura social, ideal que o fez se
aproximar de grupos de esquerda que idealizavam reformar o quadro social através da
modernização, esta voltada à população desfavorecida e, indo contra ao cenário vigente, em
oposição à modernização que apenas maximizavam os lucros dos mais abastados.
Entre os diversos ofícios empregados durante sua vida, como Professor, Geógrafo,
Médico e Sociólogo, Josué de Castro também exerceu função política, tendo sido deputado
federal de Pernambuco, pelo partido Trabalhista Brasileiro. Seus mandatos compreenderam os
anos de 1954 a 1958 e de 1958 a 1962, sendo que neste ultimo foi intitulado embaixador do
Brasil na Conferência Internacional de Desenvolvimento, tendo sido deposto deste cargo ao ter
seus direitos cassados, no ano de 1964, após o Golpe Militar.
Ao passo que foi exilado, Josué de Castro estabeleceu-se em Paris, França, onde foi
professor de Geografia da Universidade de Vicennes, desenvolvendo pesquisas e, sendo
requerido em inúmeros países, viajando, com o objetivo de conceder apoio a estes.
A décima edição do livro “Geografia da Fome” do autor Josué de Castro, objetiva por
meio de uma análise pautada em argumentos históricos, culturais, políticos, geográficos e
biológicos demonstrar o problema da fome no Brasil. Dessa forma, o autor tenta desmistificar
a abordagem do tema “fome” no país e no mundo, pois até então é um assunto muito pouco
debatido em escala mundial, havendo poucas matérias escritas sobre esse fenômeno, mesmo
constituindo-se uma calamidade global.
Para a explicação dessa afirmativa, o autor observa que esse fato pode se tratar
de um aspecto cultural de abstenção em relação a temática, no qual os interesses e preconceitos
de ordem moral e ordem política e econômica da nossa civilização ocidental tornaram o
fenômeno da fome, um assunto proibido ou pelo menos pouco aconselhável de ser abordado
publicamente. Visto que, o fundamento moral que originou esse empecilho foi o sentido da
fome de alimentos e da fome sexual serem interpretados pela sociedade como um instinto
primário, o que se torna chocante para uma cultura racionalista como a nossa, que procura por
todas as vias impor a razão acima dos instintos da conduta humana.
Além disso, por motivos de sua diversidade territorial, o Brasil é constituído por
pelo menos cinco diferentes áreas alimentares. Essas são definidas conforme os recursos
naturais presentes, predominância cultural dos grupos, mas também do clima e do solo. Dessa
maneira, os diferentes tipos de dieta são delimitados pela Área da Amazônia, Área da Mata do
Nordeste, Área do Sertão do Nordeste, Área do Centro-Oeste e Área do Extremo Sul. Cabe,
pois, ressaltar que dentre essas regiões apenas a Área Amazônica, a da Mata e a do Sertão
Nordestino são consideradas áreas de fome. Já as áreas do Centro-Sul são classificadas como
subnutrição.
O autor expõe em seu livro a sucessiva exploração infligida sobre essa região, advinda
dos grupos econômicos que exerciam a extração de cana de açúcar deste território, ocasionando,
em vista da negligência para com o meio ambiente, a destruição das florestas locais, que, ao
passo que o processo de produção de cana de açúcar exigia mais área, ficavam cada vez mais
debilitadas.
“Contudo, mais destrutiva do que esta ação direta da cana sobre o solo é a sua
ação indireta, através do sistema de exploração da terra que a economia
açucareira impõe: exploração monocultora e latifundiária”.
“A monocultura é uma grave doença da economia agrária, comparada por
Guerra y Sanchez à gangrena que ameaça sempre invadir o organismo inteiro,
e por Grenfell Price ao câncer, com o desordenado crescimento de suas
células se estendendo impunemente por todos os lados”. (CASTRO,1984)
ÁREA DO SERTÃO NORDESTINO
Como retratado por Josué de Castro, a miséria proveniente da seca na região em questão
tem caráter qualitativo e quantitativo, infligindo drasticamente sobre o território e assolando as
mais diversas classes sociais. Entretanto, salvo estes períodos fatais de seca, o Sertão
Nordestino apresenta relativa abundância de alimentos, uma vez que o regime alimentar da
população, baseado no milho, se faz satisfatório no que diz respeito ao equilíbrio alimentar dos
seus habitantes. O geógrafo destaca esse equilíbrio, relatando que, caso não houvessem os
infortúnios da seca, essa região talvez não figurasse entre as áreas de fome do Continente
Americano, já que os sertanejos, em razão dos seus hábitos alimentares, conseguem driblar a
falta de nutrientes e minerais.
Ademais, a região do Sertão Nordestino pode ser fragmentada em três áreas: O Alto
Sertão, A Caatinga e o Agreste. Segundo o geógrafo, cada área apresenta particularidades,
muito embora configurem formas atenuadas de Caatinga.
Ao discorrer a respeito dessa região, Josué de Castro deixa claro que a fome que compete
à área em questão se distingue das já retratadas, tendo em vista que não é caracterizada por ser
endêmica ou epidêmica, mas como uma carência parcial.
Por conseguinte, muito embora não haja a presença de déficit calórico na dieta dos
habitantes dessas regiões, sendo fato, em muitos casos, o extremo contrário, vide o quadro de
obesidade presente nesses locais, constata-se certa carência nutricional, a exemplo do iodo,
substância escassa nos solos, alimentos e na água do local. Em decorrência, a carência desse
metaloide acaba por acarretar na alteração do organismo da população regional, uma vez que a
falta deste gera deficiências no metabolismo e no crescimento, entre outras.
Ainda que a região Centro-sul se caracterize pela abundância em face à outras áreas do
território nacional, como afirma o autor, o proletariado e as classes desfavorecidas em geral,
sofrem com o flagelo da carência parcial de alimentos, uma vez que, marginalizados, a classe
trabalhadora, sob o reflexo da divergência de classes, se vê refém da concentração de renda
pelos mais abastados.
ESTUDO DO CONJUNTO BRASILEIRO
Para concluir, Josué de Castro, na última parte da obra, "Estudo do conjunto brasileiro",
esclarece a opção por uma pesquisa qualitativa que estuda as condições de vida real das pessoas,
ao invés de apenas se pautar em dados estatísticos. Nesse sentido, ele reafirma que apesar do
desenvolvimento econômico nos mais variados setores, a problemática da fome no Brasil ainda
existe. Dentre os motivos para a persistência do fenômeno da fome no país estão as influências
do seu passado histórico, nos quais os grupos humanos sempre estiveram em conflito com os
quadros naturais. Além da influência do Estado que opta pela realização de seus interesses
individuais em detrimento do coletivo.
CASTRO, Josué de. Geografia da fome: o dilema brasileiro - pão ou aço. 10º ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1946.
LIMA, José Francisco Araújo. Amazônia, a Terra e o Homem. Ed. Nacional, 1937.