Livro Historia Positivismo No Brasil Ivan Lins
Livro Historia Positivismo No Brasil Ivan Lins
Livro Historia Positivismo No Brasil Ivan Lins
HISTORIA
' do POSITIVISMO
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NO BRASIL
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IVAN LINS
AO LEITOR
HISTÓRIA DO POSITIVISMO
NO BRASIL
BRASILIANA
volume 322
Direção de
AMÉRICO JACOBINA LACOMBE
.
IVAN LINS
,
HISTORIA
DO POSITIVISMO
NO BRASIL
... libera
Verba a11iml pro/erre, et vitam
impedere vero.
(JUVENAL, IV, 90-91)
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SÃO PAULO
Trabalho preparado
sob os auspícios
da
SOCIETÉ D'ÉTUDES
WSTORIQUES DOM PEDRO li
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Exemplar N. 0
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1964
IN2DITOS
O Teatro Espanhol: Lope de Vega, Calderon e Tirso de Molina.
Erasmo e seu tempo, curso de seis conferências comemorativo do quarto
centenârio da morte de Erasmo, realizado em 1936 no salão da Aca-
demia Brasileira de Letras.
Tomds Jefferson, pensador e homem dt< Estado.
A Reabilitação de Frtlncla.
Concepç<ie., Económicas, Política.< e Sociais de Augu.,ro Comte.
O Criador de Do11 Jua11.
1,'Oetl\'re d'A11,:m1r Comte e/ sa sig11ificatio11 sc1e1111/íq11e, phi/o,ophiq11 e e/
po/itiq11" a11 XIX' si~cle, li sair nos "Cal11er., d'H111oire Mondiale''
editados pela Unesco.
Direito, co11ceíto ab.,olt1to, i!!dil'i<lua/ista. ou. ao contrdrio, relativo I' sociril.'
· (Tese apresrnradu, ao Coni;rer,c;o Intcrnac1onal de Filosofia. realizado em
1954, em São Paulo) .
Positfrismo e Catolicismo. (Uma resposta a Fernando Callage).
Idéias F.,parsas ~ J. 8 série (colPtânea de artigos_ publicados em jornais).
A Ba11de1ra Nacional: seu ll';:m/1c11do e s11a hHtár,a, d1~curso proferido em
19 de novembro de 1948, no Ror~ry Cluhe do Brnsil.
A11l(i.s10 Co1111e e a Ciência - em comemoração do primeiro centené.rio da
morte do filósofo.
A Ora1<!ria Rcli::io.1a no Bra.,i/, aula no Curso de Oratória promovido pela
Academia Rrnsilt.'ira ele lctr:is em 1959.
Berg.w11 J lt1, 1/n ro,ith-im10 , discurJo na se·.são da Academia Brasileira de
Letras comcmorativ:i. do l'Cntenario de B<:rgson.
C/riv1.< Re, ·'i/ar111a e o pe11same11to /ilos n,fico de seu 1e111po.
A /l.1cnsat;em d,• Francisco Bacon em se11 quarto ce11te11árfo.
G<i11,:ora ,. sua poesia.
João Pinheiro: sr,a formação filosófica t seus idecís po/1/ico.f,
Luís Murar .
Marti11.1· J,ín;or e a poesia científica. .
Pascal: o cíentiwa, o filós<>fn e o escrt/or.
Barbosa L íma ,. set1s id1wix rt'f'"blica,1os .
Com a., tra11.1,lorinaç1jts da 1m·11ta/id11df humana d"l'ªf'fl!ecerá, um dia. do
cnufrio social, a l'elígitio? O Pos1111 ·1.o no como rehc1110 <' al,:um· aspectos
de .m a atua,·tio 110 8raJ}I. (Tese a!)rl'Sl'N:ida ao IV.• Congresso Nac10 n 3 )
de Filosofii, realizado em Forlaleza, Novembro de 1962).
O Contrato Social e A11,'11s.'o Comre - em comemoração do segundo cen-
tenário do Contrato Social.
.
Ao prezado Amigo,
SUMARIO
PREFACIO 5
PRIMEIRA PARTE
TERCEIRA PARTE
QUINTA PARTE
O Positivismo e a República
Cap. I - Benjamin, a abolição e a fundação da república 303
C~p. II - Influência po~.itivista no govêrno provisório ... 323
Cap. III - A separação da Igreja relativamente ao Estado .. 343
Cap. IV - Outros aspectos da influência positivista na organização da
república ...... - .......... · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 3ti0
Cap. V - Ainda aspectos da influência positiviste na orgJnização da
república ...................... · - · · · - · · · · · · · · · · · · · · · · 376
Cap. VI - Rui Barbosa e o positivismo . 388
SEXTA PARTE
Sf;;TIMA PARTE
OITAVA PARTE
APf;;NDICE
I -Cartas de Antônio Carlos d'Oliveira Guimarãe~-. fundador da
primeira Sociedade Positivista do Brasil, a Pierre Laffitte . . . . 577
II - Cartas de Miguel Lemos a Pierre Laffitte . . . . . . . . . . . . . . . . 579
Ili - Cartas de Pierre Laffitte a Miguel Lemos . . . . . . . . . . . . . . 622
IV - Carta de Raimundo Teixeira Mendes a Pierre Laffitte . . .. , 628
V - Cartas de Benjamin Constant a Pierre Laffitte . . . . . . . . . . . 629
VI - Carta de Pierre Laffitte a Benjamin Constant . . . . . . . . . . . . . . 630
VII - Cartas do Dr. Joaquim Ribeiro de Mendonça a Pierre Laffitte
e Robinet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 633
VIII - Sémérie: "La conquête du Microbe" ·...................... 647
IX - Programa de Filosofia e Lógica do Colégio Pedro II, enquanto
era profesmr Agliberto Xavier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 651
X - Bibliografia positivista . . . . . . . . . . . . . . . . 655
.
PREFACIO
PRIMEIRA PARTE
II
III
Dos demais brasileiros que, na Escola Politécnica, freqüen-
taram os cursos de Augusto Comte, três foram ainda seus alunos
particulares, segundo consta de notas de seus arquivos, colhidas
pelo Embaixador Paulo Carneiro e por êste fornecidas ao autor
do presente estudo: José P. d'Almeida, Antônio de Campos Belos
e Agostinho Roiz Cunha.
José P. d'Almeida figura na lista dos discípulos particulares
de Comte desde janeiro de 1837, com o pagamento mensal de
80 francos. Em dezembro dêsse ano juntam-se-lhe os dois outros.
Ao lado do nome de José P. d'Almeida, anotou Augusto Comte,
em dezembro de 1837: "Deux brésiliens (A. J. de Campos BeloJ·
et Cunha)".
Em 30 de maio de 1838, Campos Belos escreve a Augusto
Comte prevenindo-o de não poder continuar as aulas que vinha
tendo com êle, porquanto deveria partir dentro em pouco para
Munique, onde seus pais queriam terminasse os seus estudos. Uma
das maiores tristezas que lhe causava a sua partida de França -
dizia - era não poder continuar as liçõe5 que Comte sabia tornar
tão cheias de interêsse. Duvidava jamais pudesse encontrar um pro-
fessor capaz de substituí-lo. Não pensasse o filósofo que assim se
externava por simples cortesia. Suas palavras traduziam a expressão
fiel, mas bem mínima, dos sentimentos de estima e admiração que
professava para com o seu mestre. Se pudesse ser-lhe de alguma
utilidade em sua nova residência, os pequenos serviços que viesse
a prestar-lhe consolá-lo-iam um pouco da infelicidade de tê-lo
perdido.
Antônio Roiz da Cunha prosseguiu nas aulas particulares com
Augusto Comte até março de 1839. Enquanto cursavam juntos,
os dois brasileiros pagavam a soma de 150 francos por mês. Ao
ficar só, Antônio Roiz da Cunha passou a pagar mensalmente
100 francos. De Falmouth, a 17 de março de 1839, escreveu
êle a Augusto Comte uma carta de despedida.
José Patrício de Almeida permaneceu ainda, como aluno par-
ticular de Augusto Comte, até o fim de 1839, época em que
também deixou Paris. Dêle se encontram, nos arquivos do filósofo,
quatro cartas das quais se conclui que o jovem brasileiro, filho de
um senador do Império, se viu em sérios apuros em França. :e
que fôra a Paris a fim de doutorar-se em Direito. Julgando, toda-
via, carecer o Brasil de seu tempo mais de engenheiros que lhe
mobilizassem a indústria, do que de bacharéis, resolveu, por conta
própria, ingressar na Escola Politécnica. Ao saber, porém, da
mudança de carreira do filho, suspendeu-lhe o pai os meios de
subsistência. Apelou, então, o jovem para Augusto Comte a fim
de que êste lhe pleiteasse a causa, convencendo ao nosso ministro
OS PllIMÕIU>JOS 15
IV
Quanto a Araújo Pinho, que também foi aluno de Augustc,
Comte na Escola Politécnica, era o Dr. Felipe Ferreira de Araújo
Pinho, nascido em 13 de setembro de 1815 no engenho Barriguda,
no Recôncavo Santamarense da Bahia.
Indo jovem para a França a fim de aí fazer os seus estudos,
diplomou-se, em 1842, pela Faculdade de Ciências da Universi-
dade de Paris, como "bachelier es scicnces mathéma1iq11es". De !'"'
volta ao Brasil, fixou residência em Santo Amaro, no Engenho da
Fortuna.
Em Santo Amaro, Purificação, Coração de Maria e comarcas
vizinhas, representou uma fôrça eleitoral sempre solicitada e aca-
tada, graças àquela espécie de liderança e direção social-político-
econômica espontâneamente exercida p~los homens de maior in-
teligência, cultura e recursos sôbre as populações da freguezia e
municípios próximos ao da sua residência.
Faleceu em 1900, aos 85 anos, em Santo Amaro, na residên-
cia de seu filho, Dr. João Ferreira de Araújo Pinho, que foi no
Império deputado provincial, secretário do govêrno da Província,
deputado geral, presidente da Província de Sergipe, e na República,
foi governador do Estado da Bahia.
O Dr. Felipe Ferreira de Araújo Pinho era avô paterno do
eminente historiador e homem de letras Dr. José Wandcrley de
Pinho, a cuja gentileza deve o autor dêste ensaio os presentes
dados.
Que ligações de amizade teria tido Felipe de Araújo Pinho
com outro baiano, o Dr. Justiniano da Silva Gomes, que cstêve em
Paris na mesma ocasião? Na tese - Plano e Método de um curso
de Fisiologia - apresentada para a conquista de uma cátedra na
Faculdade de Medicina da Bahia e sustentada em 5 de setembro
de 1844, apenas dois anos depois de publicado o último volume
do Curso de Filosofia Positiva, o Dr. Justiniano da Silva Gomes
OS PlllMÓRDIOS 17
NISIA FLORESTA
II
Ao visitar o t6mulo de Clotilde de Vaux, em 5 de abril de
1857, consagrou-lhe Nísia, em francês, uma expansão que muito
comoveu a Augusto Comte, tornando-o profundamente grato à es-
critora brasileira. Eis, vertida para o vernáculo, essa expansão,
primeira manifestação brasileira do culto de Clotilde que se tor-
naria uma das características da Igreja que vinte e quatro anos
mais tarde Miguel Lemos e Teixeira Mendes fundariam no Rio
de Janeiro:
"Uma lágrima por prece, sôbre o teu túmulo! Uma lágrima,
que te oferece um coração, tão cedo quanto o teu iniciado nos
mistérios da dor!
"Recebe êste pequenino tributo de uma estrangeira, que o
não seria, se lhe tivesse sido dada a ventura de conhecer-te em
vida, pois corações como o teu não alimentam preconceitos na•
cionalistas, que dividem os homens e retardam o verdadeiro pro-
gresso da humanidade.
"Alma pura e afetuosa, passaste apenas pela terra, como a
flor primaveril! - Mais feliz do que ela, todavia, encontraste, nos
teus últimos dias, um grande guia, que conservou o teu perfume
em seu nobre coração, como a vestal zelava pelo fogo sagrado do
templo. ~sse perfume êle o esparze, agora, pelo ttmndo inteiro,
em incomparáveis trabalhos que te imortalizarão, tanto quanto a
êle próprio.
"Nova Beatriz, teu nome passará às gerações vindouras com
uma glória ainda maior, pois não é a admirável ficção de um
grande poeta, mas a doutrina regeneradora de um grande filósofo
OS PRIMÓRDIOS 23
III
fazendo, nes.se ano, uma excursão pela Jtãlia. E foi como tenor
de uma companhia lírica que veio, em 1857, ao Brasil. (1)
Ainda hoje se encontram nos arquivos da casa de Augusto
Comte uma carta que, do Rio, lhe dirigiu o Dr. Segond, e duas
que endereçou a Pierre Laffitte, dando suas impressões do Brasil.
Na primeira, remetida a Laffitte em 14 de setembro de 1857,
faz uma apreciação do Imperador, que muito se aproxima dos
traços gerais com que, afinal, parece a História dever fixar a
figura de Pedro II.
"O que há de notável aqui - escreve - é a veneração unâ-
nime que o Imperador e sua mulher inspiram. A sua vida privada
é sem mâcula; vivem retirados, fora da cidade, num palácio ina-
cabado e muito simples, onde a etiquêta é reduzida ao estrito ne-
cessãrio; o Imperador recebe diàriamente, ao meio dia, as pessoas
que têm qualquer coisa a pedir-lhe. Anima, com sua presença,
tôdas as instituições que julga úteis para melhorar o país e a mo-
desta dotação, que lhe é fixada no Orçamento, é absorvida por
obras de caridade. ~. sobretudo, a êsse ascendente moral que se
deve atribuir o sucesso do govêrno constitucional, aplicado aqui
na forma, mas não de fato. D. Pedro demite, por motivos de
imoralidade, magistrados ditos inamovíveis, e as Câmaras, onde
se proferem longos discurst,s, nunca tomam uma decisão contrária
à vontade do Imperador. Em suma, trata-se de um ditador cuja
fôrça provém de sua moralidade pessoal e é bastante inteligente
para saber mantê-la. Possui conhecimentos muito amplos, e, se
preside ao Instituto Geográfico tôda sexta-feira, é menos por
pedantismo do que para estimular os trabalhos especiais relativos
ao Brasil. ~ tamhém religioso, sem beatismo".
Passa, em seguida, o discípulo de Comte a referir-se aos hor-
rores da escravidão e à hipocrisia inglêsa na chamada cruzada
contra os navios negreiros, aludindo aos maus tratos que, nas co-
lônias britânicas, eram impunemente infligidos aos cativos:
"A chaga dêstc país é a escravidão dos negros importados e
seus descendentes. ~ uma causa de degradação ainda maior para
os "senhores" do que para os escravos. Tenho freqüentemente pre-
senciado o espetáculo de pequenos hrancos, criados por negras,
que, desde a mais tenra idade, são ensinados a bater em suas
amas e nas negrinhas que lhes servem de brinquedo.
. "A emancipação faz, entretanto, alguns progressos. A So-
ciedade dos Ipirangas (nome do rio junto ao qual se encontrava
Dom Pedro I quando proclamou a Independência do Brasil, a 7
de setembro de 1822) liberta um certo número de escravos todos
os anos.
"Está bem demonstrado aqui que a Cruzada inglêsa contra os
negreiros não tinha outro objetivo senão arruinar o Brasil e nossas
colônias nas Antilhas, a fim de monopolizar, nas lndias Orientais,
· o comércio das mercadorias coloniais. Essa hipócrita manifestação
OS PRIMÓRDIOS 29
turo para êsses pequenos déspota,, muitas vêzes tão brutais e tão
ávidos, se se conseguisse desenvolver nêles um sentimento social
conveniente, tornand~s dignos chefes agrícolas!
"~sse futuro parece ainda bem distante, quando se vê com que
facilidade o "unhor" destroi os laços de família entre os negros.
Freqüentemente os irmãos não se conhecem e o próprio laço fun-
damental [o matrimônio], além da falta de cultura, é ainda alte-
rado pela venda , sempre possível, das crias, negociadas, nem mais
nem menos, como se fôssem animais domésticos.
"O egoísmo coroou seus crimes pela invenção diabólica de
uma companhia de seguros através da qual os senhores se crêem
dispensados, em relação a êsses infelizes, dos cuidados que não
recusamos aos cães e aos cavalos.
"Que anomalia poder-se censurar a católicos não enobrecerem
a veneração dos inferiores através cio seu próprio devotamento!
"Por esta última reflexão deveis ter percebido, meu venerado
Mestre, que já comecei a leitura do tomo primeiro da Sinte.Je
Subjetiva. Estou na introdução, que estudo com tôda a atenção
respeitosa de que sou capaz. De conformidade com a primeira
parte dessa Introdução, permiti-me exprimir-vos quanto me senti
feliz ao ler aí a consagração, tão perfeita, dos sentimentos reli-
giosos e poéticos, que sempre me foram inspirados pela contem-
plação do espaço e dos fenômenos cosmológicos de que é o
teatro.
"Qualquer que seja, de fato, a brutalidade dêsses fenômenos
e de seus efeitos, e quaisquer que sejam as imperfeições que nêles
possamos teoricamente conceber, o bem que encerram é, no entan-
to, ainda bastante imponente para inspirar nossa admiração reli-
giosa, e, bem assim, nossa submissão voluntária ao destino imodifi-
cável. Quanto, aliás, êste otimismo, verdadeiramente filosófico,
difere dessa adoração católica, tão estúpida quanto absoluta, na
qual os maiores benefícios e os maiores desastres são erigidos à
categoria de efeitos divinos.
"Não posso esquecer-me de agradecer vossa carta de apresenta-
ção a Mme. Brasileira. Seu irmão, Dr. José Medeiros, foi pa~a
mim cheio de bondade e dedicação. Pelo prazer que tem em serv~r
sua irmã, pode-se julgar como Mme. Brasileira sabe fazer-se queri-
da. Mme. José Medeiros e sua encantadora filhinha partilham do
culto do irmão. ( •)
"Segundo minhas primeiras informações, o p~itivismo foi
particularmente estudado, no Rio, pelos alunos da Escola d~ Ma-
rinha; o livreiro Garnier vendeu-lhes vários exemplares do "Swema
de Filosofia Positiva". O mesmo livreiro forneceu ultimamente,
(') - SEGOND estava equivocado: a aenhora do Dr. Jo~ Medeiros 6 que era
irml de Nlm, Ftolt.l!sn.
32 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
II
II
III
II
II
Assim como Pereira Barreto, os discípulos diretos de Augusto
Comte - ~ Drs. Audiffrent e Sémérie, desde os primeiros instuntes,
adotaram a teoria pasteuriana, publicando o segundo, em 1883,
um notável opúsculo - La Conquête du Microbe. Aí expunha
Sémérie as imensas perspectivas que se abriam à medicina com a
assepsia e as vacinas. Também Pereira Barreto, desde antes de
187 8, se assenhoreou dos trabalhos de Pasteur e de Líster, apli-
cando-os em sua clínica ( 7 ), e, daí, sem dúvida, as grandes e
e3petuculares vitórias que alcançou, tornando-se, em determinado
momento, o médico de maior prestígio e fama de São Paulo.
Eis como, em artigo de 8 de junho de 1884, publicudo na
"Província de São Paulo", sôbre "A Cirurgia e a Medicina Legal
- Cartas ao Conselheiro José Bonifácio", se externava Pereira
Barreto a respeito das descobertas de Pasteur:
"Os meus colegas não se comovem perante a significação
dêste gigantesco resultado [os benefícios da doutrina microbianu]
e continuam a não compreender o alcance científico e filosófico
do poderoso método com que Pasteur dotou a medicina.
"Quando mesmo a doutrina tivesse permanecido até aqui
estéril cm resultados práticos. era bastante que o seu método se
conservasse para que Pasteur merecesse as bênçãos da mais lon-
gínqua posteridade. Em biologia , mais do que em qualquer outra
ciência, mas cm biologia prática ~obretudo, o método é a alavanca
suprema. E, se Descartes e Bacon inspiram-nos a mais viva admi-
ração, não tanto pelos re~ultados efetivos de suas pesquisas pessoais,
como pelo alcance remoto do método geral que acompanha as
ciências de observação, de quanta gratidão não devemos nos sentir
possuídos diante de uma ohra, que não só surpreende o presente
com seus maravilhosos resultados, como ainda promete maiores
beneíícios para as gerações vindouras?"
Já em artigo de 26 de fevereiro de 1884, da mesma série que
acabo de citar, escrevera Pereira Barreto:
"Esta vista clara das coisas, esta intuição penetrante da cau-
salidade dos fenômenos não seriam possíveis sem a enérgica in-
fluência da doutrina dos micróbios lançada por Pasteur e imposta
de autoridade pela escola de Líster. r, a medicina explicada pela
cirurgia ; é o espírito po.1·itivo .m bstituindo o espírito mt•tafísico; é
a razão experimental rechassanclo n razão subjetiva".
Vê-se, por aqui, que o Positivismo não é responsável pelas
opiniões indi viduais de alguns de seus adeptos brasileiros, acêrca
da teoria microbiana, da assepsia, da vacina, etc., pois, inclusive,
quanto à vucina, tanto a apreciava Comte que cogitou incluir
o nome de Jenner no Calendário Positivista.
64 llISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
III
Contràriamente à alegação de Sérgio Buarque de Holanda que
acusa os positivistas de um "secreto horror à realidade nacio-
nal" ( rn), Pereira Barreto sempre a teve presente em tôdas as
suas cogitações e empreendimentos.
1:: o que, com justiça, ressalta o Professor Cruz Costa:
"Pereira Barreto, embora estudasse na Europa ( e talvez por
isto mesmo), não ficou prêso aos encantos do transoceanismo
que enfeitiçaram tantos dos nossos filosofantes, críticos e literatos.
Ao contrário, a sua constante preocupação foi sempre o Brasil ...
. . . .. . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .
"Já estamos fartos de diplomas, e o que precisamos hoje,
é menos ouropel na frase e mais positividade de- método na dou-
trina", - escrevia êle em 1874.
"A primeira obra de divulgação da doutrina positivista, livro
que inaugura a tendência positivista no Brasil, vem marcada, assim,
por um anseio de reforma prática, eficaz, ativa, que não existe nos
demais filosofantes brasileiros, todos êles simples repetidores de
doutrinas puras, sem aplicação à vida nacional, meros adornos de
LufS PEREIRA BARRETO 65
IV
Outra cruzada que comprova o senso realístico de Pereira
Barreto é a da viticultura nacional. Referindo-se ao assunto dizia
em 1915, em artigo saído em O Estado de São Paulo, o Dr. Arnal-
do Vieira de Carvalho:
"Geníalmente Pereira Barreto percebeu que um problema de
climatologia se reduzia a uma simples questão de desinfecção. Do
mesmo modo que se evita erisipela da pele, se poderia evitar a fer-
rugem da vinha: eram êsses males resultados de parasitas vege-
tais". ( 13 )
No escrito "A propósito da febre amarela", publicado em O
Estado de Siío Paulo de 18 de março de I 897, assim evocava Pe-
reira Barreto os seus trabalhos no domínio da viticultura:
"Os autores os mais clássicos afirmavam que a cultura da
Viris Vinífera só era possível enti:e os paralelos 36 e 52 e o culto
fetichista da climatologia reinante não admitia um grau mais nem
menos. Eram verdadeiramente bárbaras as noções de clima que
tinham curso na ciência.
"A capital de São Paulo está situada a 23º e meio e alguns
minutos. Portanto, segundo a inclemente doutrina dominante só
um visionário ou franco imbecil poderia transgredir .!ls sacramentais
preceitos e tentar a obtenção de uvas de luxo em nossa zona.
ºMas Comte, baseado em De Blainville, havia preparado o meu
espírito para a revolta contra tôda opinião não formada em fatos
experimentais; e, base:mdo-me, por minha vez, em Pasteur, ousei
· tentar a aventura, bem certo de que nesse tentamen se envolvia o
futuro da imigração espontânea para o nosso país.
Lufs PEREIRA BARRETO 67
II
Ili
-
intermédio da pecuária - comenta Roque Spencer Maciel de
Barros - Pereira Barreto "encontraria oportunidade para reafirmar
as teses que já sustentara em 190 l, no artigo O Século X X sob o
ponto de vista brasileiro. O problema da instrução e da imigração
continuam a preocupá-lo. Não é possível fazer de um país despo-
voado uma grande nação; um povo inculto, sem ter a dirigí-lo uma
forte elite intelectual, formada no seio fecundo da ciência, não
pode ser nunca um grande povo. Em novembro de 1910, con-
vidado a paraninfar o ato de colação de grau da primeira turma
formada pelo Colégio Anglo-Brasileiro, Pereira Barreto encontraria
a ocasião propícia para reafirmar suas idéias. E é uma oração de
Rui Barbosa, pronunciada também como discurso de paraninfo,
no Colégio Anchieta, que lhe serve agora de ponto de partida.
Qual o programa que o ilustre parlamentar deseja ver executado
no país? O da "recristianização" do Brasil, admitindo que fora da
religião e da fé não há salvação. Barreto se define como "homem
de ciência" contra o "exímio literato" que era Rui Barbosa. "A
literatura, constitui, sem dúvida - afirma Pereira Barreto, repe-
tindo uma das suas caras idéias - um belo ornamento do espírito,
mas não é, por certo, um instrumento de emancipação intelectual.
A mais vasta erudição literária não exclui a tara da ignorância". E
mais adiante: "Não é instrução legítima senão a que nos ministram
as ciências positivas. A razão moderna não se curva senão diante
da demonstração experimental. As mais elementares noções de
física e química fazem, hoje, de qualquer simples cidadão um
homem superior ao mais brilhante literato puro". Só a ciência
nos trouxe a tolerância e a liberdade de pensamento; só ela foi
capaz de libertar-nos das fogueiras da Inquisição, que se erguiam
em nome da mais genuina fé católica". ( 111)
A Grande Guerra de 1914 veio mostrar que Pereira Barreto
não desertara a sua missão em prol dos grandes ideais. O choque
emocional que lhe causou a invasão da Bélgica, onde formara o
seu espírito, fê-lo retornar com renovado ardor às idéias de sua
juventude e às conclusões históricas do "Sistema de Política Po-
sitiva".
82 fflSTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
A) - LIVROS E OPOSCULOS
O POSITIVISMO NO MARANHÃO
II
Conforme registra Joaquim Serra, comecou em 1869 a ser
publicado, em São Luís, o "periódico de lit~ratura amena, inti-
tulado "Juvenília".
"Seu fundador e principal redator foi o Sr. José Eduardo Tei-
xeira de Souza, talentoso escritor, que mais tarde se fêz notável,
na imprensa fluminense, por trabalhos literários e científicos. Poeta
distinto e filósofo positivista, o Dr. Teixeira de Souza nessa folha
literária, como em outras onde colaborou, deu justa medida de
sua culta e variada ilustração". (H)
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em
medicina, defendendo uma tese sôbre a "influência das experiências
fisiológicas no progresso da medicina prática", Teixeira de Souza
foi um dos primeiros aderentes da Sociedade Positivista do Rio de
-Janeiro, realizando, em seu nome, em 25 de maio de J881, uma
conferência comemorativa de Calderon de La Barca que figura
na coleção de publicações do Apostolado Positivista do Brasil. (º)
Desligando-se do grêmio fundado por Miguel Lemos, visto
não concordar com a ruptura com Pierre Laffitte, foi Teixeira de
Souza, após a proclamação da República, nomeado, por indicação
de Benjamin Constant, professor de Sociologia da Escola Militar
do Rio de Janeiro.
Em 1876 surge de nôvo a doutrina de Augusto Comte na
imprensa maranhense, desta vez provocando um escândalo, que
NOS ESTADOS 99
III
Pouco mais de vinte anos depois da polêmica de Celso Ma-
galhães com o Padre Raimundo Alves da Fonseca, voltaria o
Positivismo a interessar a opinião pública do Maranhão quase nas
mesmas condições: uma discussão, através da imprensa, "entre
um padre de famosa ilustração e um môço de invejável talento,
ainda como Celso, filho do fecundo vale do Pindaré. Foi o debate
travado, em 1898, entre o Cônego Dr. Leopoldo Damasceno Fer-
reira e o Capitão de Engenharia Agostinho Gomes de Castro". ( 21 )
Em casa de um antigo colega de Gomes de Castro, o farma-
cêutico João Vital de Matos, reunia-se, em animados serões, a elite
intelectual do Maranhão. E foi êle quem, acolhendo com entu-
siasmo o jovem positivista, antigo aluno de Benjamin Constant,
se tornou o seu primeiro prosélito, sugerindo-lhe a idéia de uma
propaganda mais extensa da doutrina de Comte. Assim foi que,
104 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
-
pela "Pacotilha", Gomes de Castro anunciou um curso de Po-
sitivismo, dividido em duas partes: aulas de matemática, às terças
e quintas, das 19 às 21 horas, e conferências sôbre o Catecismo
Positivista aos domingos, das 12 às 14 horas, declarando que "es-
perava o concurso dos seus compatriotas em geral, dado o caráter
social, público e gratuito da tentativa", que ia empreender. Num
domingo, 29 de fevereiro de 1898, no edifício da Escola da Rua
Grande, onde funciona hoje o Instituto Histórico, deu Gomes de
Castro a sua aula inaugural, tomando como tema a "exposição
popular do positivismo". O sucesso foi espantoso. Grande as-
sistência passou a ouvir-lhe a palavra, sempre fluente e fascina-
dora". (!! 2 )
Entre os assistentes, Jerônimo de Viveiros enumera Reis Car-
valho, os irmãos Matos, Zeca Sardinha, Abelardo Fernandes, Pedro
Cardoso, e muitos outros, entre os quais alguns jovens do Liceu,
sendo um dêles o próprio Jerônimo de Viveiros, que foi, assim,
testemunha de vista do episódio por êle narrado em "O Imparcial"
de São Luís:
"O salão enchia-se e o conferencista era entusiàsticamente
aplaudido quando terminava. A clareza das exposições de Gomes
de Castro fazia prosélitos e a Religião da Humanidade passou a
ser assunto de tôdas as rodas de São Luís.
"Tal sucesso apavorou o clero maranhense, que resolveu reagir.
opondo doutrina contra doutrina.
"Para isso apelaram os padres para sua maior ilustração -
o Cônego doutor Leopoldo Damasceno Ferreira. Mandaram-no
buscar na Vila do Paço, de cuja freguczia era encarregado. O
Cônego veio e iniciou uma série de conferências contra o Positivis-
mo na Igreja cte Santo Antônio. Estava o caso nesta altura quando
Gomes de Castro teve de sair de São Luís, para, em cumprimento
dos seus deveres militares, ir ao Rio. O Cônego Damasceno con-
tinuou as suas palestras cm Santo Antônio.
"Regressando do Rio, retomou Gomes de Castro, no domingo
18 de julho, o curso de sua propaganda positivista no salão nobre
do Teatro São Luís. E como já tivesse explicado o Catecismo,
passou à Filosofia Primeira.
"Noticiando, a "Pacotilha" adiantava esta nota:
"Além da coleção completa das obras positivistas que o nosso
compatriota trouxe do Rio para a nossa Biblioteca Pública, va-
liosíssima oferta do eminente maranhense Teixeira· Mendes, o Ca-
pitão Gomes de Castro constituiu entre nós, desde já, um depósito
permanente de publicações positivistas".
E dava a "Pacotilha" a relação das publicações que podiam ser
procuradas no domicílio de Gomes de Castro.
A propaganda intensificava-se, portanto, e, por isto, o Cônego
Damasceno Ferreira julgou de bom alvitre dirigir a Gomes de
NO!! ESTADOS 105
Castro uma carta que foi verdadeiro desafio para discutir, com êle,
pela imprensa, o Positivismo.
Aceitando o repto, enviou Gomes de Castro longa missiva ao
Cônego Damasceno, publicada no "Diário do Maranhão" e na
"Pacotilha". E como divergissem as versões publicadas nesses
jornais, o Cônego Damasceno pediu, a fim de cotejá-Ias, um laudo
de homens insuspeitos, entre os quais figuraram Francisco Antônio
Brandão Júnior e João Vital de Matos, em cuja casa se hospedava
Gomes de Castro.
Esclarecido o incidente - escreve Jerônimo de Viveiros -
"o Cônego enviou a Gomes de Castro o esquema dos pontos sôbre
os quais devia versar a discussão. Eram 29 teses, abrangendo o
vasto campo da filosofia.
"Apreciando-o, Agostinho Gomes de Castro afirmou ser o
esquema tudo o que se quisesse, "menos resumo ou qualquer coisa
do Positivismo", e que das suas vinte e nove proposições nem uma
s6 se poderia aproveitar, "estando tudo errado e numa balbúrdia de
pasmar", o que atestava "o espírito obscuro, confuso e incoerente"
do seu opositor. E, passou Gomes de Castro a analisar as teses,
uma por uma, em longa série de artigos que a "Pacotilha" pu-
blicava diàriamente, classificando-as de erradas, monstruosas e
dignas de um espírito estonteado".
Os que se interessarem pela dialética de Gomes de Castro,
encontrarão nos artigos de Jerônimo de Viveiros, publicados no
Imparcial de São Luís, de 12 e 19 de dezembro de 1954, e de
1, 9 e I 6 de janeiro de 1955, extratos dos principais tópicos da
resposta do jovem positivista ao Cônego Damasceno. Entre outras
destaca-se a análise que fêz da "demonstração matemática" apre-
sentada pelo Cônego, do "dogma da Santíssima Trindade", ou
seja de ser 1 + 1 + l = 1. Procurava o Cônego estribar-se, para
tal resultado, na soma das áreas dos triângulos equiláteros inscritos
num triângulo também equilátero, as quais, a seu ver, sendo iguais
entre si, seriam também iguais, cada uma delas, à área total do
triângulo ...
Depois de examinar as teses propostas pelo Cônego Damasce-
no, Gomes de Castro deu por encerrada a discussão, com o que
ninguém, no Maranhão, se conformou. :e, que, no dizer de Je-
rônimo de Viveiros, todo o escol intelectual do Maranhão estava
interessado no debate. Nem mesmo o sexo feminino, em geral
alheio às questões filosóficas, quis aceitar o final da contenda, e,
na Pacotilha, de 28 de agôsto de 1898, apareceu um apêlo da
"mulher maranhense" no sentido de mostrar Gomes de Castro as
belezas da doutrina positivista relativamente ao sexo feminino.
E Gomes de Castro correspondeu a "essa doce ordem", pu-
blicando sete artigos sôbre o assunto, terminando-os com vigorosa
págin;i çle combate ao divórcio.
106 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
O POSITIVISMO NO CEARA
II
A mais humana figura do nosso pensamento jurídico - Cl6vis
Bevilaqua - "o santo do evolucionismo brasileiro", como lhe
chama Antônio Gomez Robledo ( 10) também recebeu forte in-
fluência positivista, que lhe foi despertada quando, simples es-
tudante de Liceu, teve a atenção voltada para o movimento lítero-
filosófico a cuja frente se achava Rocha Lima.
Conforme assinala Dolor Barreira "o laborioso grupo atuou
sôbre o espírito juvenil do que depois se alcandorou à altura do
112 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
"Não longe da hora atual por certo surgirá uma nova síntese.
Os elementos estão se amontoando para êsse fim. Por agora pre-
domina o elemento dissolvente da crítica. Virá mais tarde o ele-
mento construtor, visto como o desenvolvimento do espírito cole-
tivo, da mesma forma que o do individual, é sempre um trabalho
de organização penoso e demorado, segundo um princípio hoje
vulgarizado.
"Compreendo o momento científico atual assim: o metro
do positivismo já é pequeno para conter a ciência moderna que se
agita à procura de um novo apoio. tste será encontrado em uma
síntese que conservará o que houver de definitivo na construção
de Comte e transformará ou substituirá o que as condições do tem•
po tornarem lacunoso ou falso". (lª)
Tal era, aliás, o pensamento do próprio Augusto Comte ao
sustentar que "a natureza profundamente relativa do Positivismo
não lhe permite a imobilidade peculiar ao caráter absoluto do dog-
ma teológico. Essa pretensa imutabilidade acaba realmente na mor-
te, ao passo que as graduais modificações do Positivismo são in-
dubitáveis sintomas de uma vida tão duradoura quanto a de nossa
espécie. Sem esperar pelos seus inesgotáveis aperfeiçoamentos -
concluía o filósofo - considero o Positivismo assaz elaborado para
dirigir hoje a reorganização social" ( H)
Com grande lucidez assim prosseguia Clóvis as suas conside-
rações:
"Parvo será supor que êste modo de ver, aliás já muito co-
nhecido, amesquinha o altanado vulto do filósofo francês. Filóso-
fo é aquêle que tem a faculdade eminentemente vantajosa de
sintetizar os sentimentos e as aspirações de uma época, que pode
condensar, enfeixar e metodizar os conhecimentos e os princípios
114 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO RRASIL
de Leão XIII sem que uma referência se fizesse àquele de seus pre-
decessores, que tão preeminente papel desempenhara no desenvolvi-
mento das idéias contemporâneas e tão decisiva influência exerccn:.
sôbre a geração que fundou no Brasil a República.
No discurso comemorativo do tri-centenário de Camões, pro-
ferido em Recife no Gabinete Português de Leitura, disse Ctóvis:
"O supernaturalismo está derrotado pelo estudo positivo das
ciências; os fenômenos hiperfísicos estão desconceituados. Nascido
de longa experiência, um espírito de positividade paira por sôbre
a consciência da Humanidade a única manifestação religiosa con-
sentânea com o espírito positivo que domina a mentalidade mo-
derna é a religião da Humanidade, mas sem os aparatos do culto
prescritos por Comte, que motivaram um epíteto um pouco duro de
Stuart Mill e a frase acre bem conhecida de Huxley."
E acrescentou :
"Sem os aparatos do culto externo, como simples reconheci-
mento do que devemos am grandes homens, como uma expansão
solene da gratidão, será o humanismo a única religião capaz de
orientar o sentimento pelo desenvolvimento do altruísmo e de sa-
tisfazer às aspirações da "consciência futura". (2º)
Oitenta anos depois confirmou-se a previsão de Ctóvis em
1880. As manifestações de entusiasmo, que, em 1959, em todo o país
se sucederam cm torno de Pedro Lessa, Euclides da Cunha e do
próprio Clóvis, comprovaram o que dizia o grande civilista. O
convite do Brasil para comemorar êsses três representantes de
nossa intelectualidade, convite em que se destacou o III Con-
gresso Nacional de Filosofia, que outra coisa foi senão "um culto
sem aparato", sem ritual prescrito, sem regras litúrgicas, mas in-
discutivelmente um culto, ou seja a manifestação concreta do re-
conhecimento coletivo pelo que fizeram em prol da cultura na-
cional?
II 1
Bezcrril Fontenelle, disdpulo de Benjamin Constant e positi-
- vista entusiasta, representou o Ceará na Constituinte republicana,
e, posteriormente exerceu as funções de governador do Estado.
Foco de irradiação das idéias comtianas, no Ceará, foi a EscolA
Militar criada e instalada em Fortaleza em 1889, onde foi profes-
sor Barbosa Lima. Dessa Escola emanaram, entre outros positivis-
tas de valor, os coronéis Alípio Bandeira, Oscar Peitai e Alfredo
Severo, fundadores da Revista Primeiro de Maio, na qual colabo-
raram. ( 27 )
Alípio Bandeira, natural de Rio Grande do Norte, casou-se
com uma filha do Dr. Bagueira Leal e tornou-se elemento presti-
gioso do Apostolado Positivista do Brasil, que lhe deve uma de
NOS ESTADOS 119
IV
Iogia, da psicologia. Para êle, a sociologia foi "a conquista mais es-
plêndida do século XIX" (Ensaio.t e Estudos, l, 117). F.ra a fé
comtiana na "rainha das ciências" que assim se exprimia. Capis-
trano foi algum tempo férvido comtista. "Nos domingos assisto a
umas leituras positivistas a que não posso faltar", escrevia êle a
Assis Brasil em 12-3-1881 ( o grifo é meu). Mas a influência do
positivismo é de muito antes, como se poderá rastrear nos traba-
lhos mais antigos. ~ a tarefa que, agora, se impõe, a do levanta-
mento e classificação das idéias capistraneanas, após êsse prelimi-
nar desbravamento do fundo de cena contra o qual elas se sa-
lientavam". ( 47 )
Fora de dúvida é que, como observa José Honório Rodrigues,
"as leituras po.. itivistas que [Capistrano] ouvia aos domingos, a
partir de 1881, no Centro, e a amizade de Teixeira Mendes e Mi-
guel Lemos robusteciam a sua formação teórica iniciada no Cea-
rá". (4B)
1:. o que patenteia a leitura de vários de seus trabalhos, nos
quais fàcilmente se pode comprovar a influência de Comte sôbre
a sua formação, mesmo na fase em que mais desprendido dessa
influência se supunha Capistrano.
Por outro lado, reagindo contra o Positivismo no Ceará, es-
creveu o Dr. José Faustino em 1897, a crítica "Positivismo às cla-
ras". (4º)
E, seguindo-lhe as pegadas, também insurgiu-se contra o Po-
sitivismo Farias Brito.
Entretanto, embora, num verdadeiro apostolado filosófico, ti-
vesse o pensador cearense em mira restaurar a metafísica, não
conseguiu livrar-se da influência de Comte, segundo mostra o Pro-
fessor Sílvio Rabelo. Vejamos, entre outras consideraçoos dêste úl-
timo, a seguinte a propósito da retificação da lei dos três estados
tentada por Farias Brito:
"~ essa a retificação que Farias Brito faz na sucessão dos três
estados do sistema comtiano. Embora essa retificação se tenha feito
no sentido de erros de ordem lógica e de ordem cronológica, o
que se nota é que Farias Brito não conseguiu desembaraçar-se da
influência de Augusto Comte. O espírito de sua classificação é o
mesmo. A. Comte não foi só um degrau para a sua - o que seria
razoável; mas é o próprio significado que não é diferente nes-
ta". (liº)
Também reflete a influência de Comte sôbre o pensamento
de Farias Brito o passo da "Finalidade do Mundo" onde escreve
"que a crítica psicológica e histórica sustenta em princípio e de-
monstra pelos fatos a morte de tôdas as religi~. inclusive o ca-
tolicismo.
122 HISTÓRIA 00 POSITIVISMO NO BRASIL
dade delicada, essa que ora nos oferece a filosofia positiva, que
não é outra coisa mais do que a lógica aplicada aos fatos ....... .
• . . . . . . . . . . . E, a 20 de setembro, dirigia-me à Faculdade com
um manuscrito, bom ou mau, não importa, mas laborioso e cons-
ciente, sôbre o importantíssimo ponto de fisiologia - Funções do
Cérebro. Ignorava que fôsse uma cruel irrisão êsse estribilho aí in-
finitamente repetido a cada momento: A Faculdade não aprova
nem reprova as opiniões emitidas nas teses. Entendendo estas pa-
lavras na acepção real de seu sentido, estava longe de supor que
pudesse haver uma dialética tão extravagante para as leis dêste
país, que sob as palavras de suas disposições, se ocultasse sem-
pre um sentido sibilino, direi melhor - um sentido católico ..... .
Ignorava que a ciência, que estabelece seus princípios em fatos.
não tivesse o direito neste país de ter um tom seu, próprio de
suas verdades; que tivesse obrigação imprescindível de falar de
concêrto com a religião do Estado. Como se a ciência fôsse como
aquêles cavaleiros da idade média, que deviam trazer sempre a
cruz para terem personalidade reconhecida, sendo por ela só au-
tenticados, post-mortem até, por baixo dos arnezes despedaçados
entre cruzes e sangue.
"Ignorava que a medicina devesse, entre nós, trajar à romana
e trazer sempre debaixo do braço uma Bíblia para poder ser re-
conhecida". ( 3 )
E, referindo-se ao homem, "aquêle resF?atado da ficção" para
ser "trazido à pura realidade de seu ser", acrescenta Guedes Cahral:
"~ o que faz a ciência moderna. . . A sociedade, cujos destinos
vão mudar ou pelo menos modificar-se profundamente, deverá a
êsses novos e verdadeiros filósofos o seu maior adiantamento. Tudc
quanto existe até aqui, que se funda sôbre o imaginário, o hipoté-
tico, o ideal, o mitológico, o quimérico da filosofia espiritualista,
tudo vai baquear inevitàvelmente Já do seu fictício domínio nas
regiões do raio. E o raio aqui é a verdade, o real, o sólido, o
inegável da filosofia positiva".(~)
Guedes Cabral conta que tratou também, sob o prisma filosô-
fico, do conceito de alma, que seria o complemento natural de sua
tese:
"Como um complemento ao nosso trabalho, fomos tentados a
imprimí-lo aqui [o exame do conceito de alma], o ·que nos obstou
o caráter puramente fisiológico que tinham necessidade de oferecer
estas linhas. Aquela parte, porém, do nosso trabalho, que inti-
tulamos - "Cérebro e alma" - virá um dia à luz pública, espe-
ramos". ( 6 )
Teria sido publicado êste segundo trabalho do médico baiano?
Ainda se encontrarão, na Bahia, ou alhures, os seus manuscritos?
NOS ESTADOS 127
II
Em Pernambuco, conforme observa Clóvis Bevilaqua, Tobias
Barreto, até então espiritualista, como se vê do estudo sôhre "Guiwt
e a escola espiritualista do século XIX, começa a inclinar-se, em
1868, para o Positivismo, segundo se depreende do trabalho "Teo-
lvl{ia e teodicéia não são ciências", onde se lê a célebre (rase de
Littré sôbre o infinito : "C'est un océan qui vient battre notre
rive, et pour lequel nous n'avons ni barque ni voile, mais dont la
claire vision cst aussi salutaire que formidable". E nesta orien-
tação foi elaborado o artigo. No escrito intitulado "Moisés e
Laplace" transparece a orientação positivista, com relação à lei
dos três estados, acentuando-se a passagem do fetichismo para o
politeísmo, e dêste para o monoteísmo. Em "A religião perante
a psicologia", há um interessante estudo sôbre as idéias de Va-
cherot, em suas afinidades com as doutrinas de Augusto Comte.
"Na "Crônica dos Disparates", Augusto Comte é ainda invo~ado
por Tobias para estabelecer a diferença entre mundo e univer-
so". (1)
128 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
gida no ar, que atrai o viajante, mas que asfixia-o depois, porque
a altura faraônica das suas muralhas não deixa penetrar dentro
dela a rajada forte do movimento, da luta, da concorrência da
vida em tôda a sua revolucionária liberdade ...
"Releva notar, porém, que as minhas simpatias pelo positivis-
mo heterodoxo não dão um caráter limitado e exclusivo às idéias
que tenho sôbre poesia científica. Não. Com a Filosofia Po-
sitiva ou com qualquer outro sistema filosófico moderno as con-
clusões restam as mesmas". ( 3 º)
Ainda propugnaram pelo Positivismo, em Pernambuco, Lucia-
no de Souza Pinto e Antônio Pereira Simões. este último, que era
engenheiro civil e foi gerente da via férrea da cidade do Recife a
Olinda e Beberibe, publicou, em 1880, no Rio de Janeiro, o trabalho
"Contingente para a construção de pontes econômicas", a cuja apre-
ciação, a partir de 28 de janeiro de 1881, consagrou Arão Reis uma
série de artigos na Gazeta de Notícias.
Além de Engenhos Centrais em Pernambuco, editado no Rio,
em 1882, e Uma Visita à penitenciária, também estampado no Rio,
o Dr. Antônio Pereira Simões publicou, em 1897, em Recife, "O
Romance de Augusto Comte", obra em dois volumes". ( 31 )
Foi em Recife que travou conhecimento com o Positivismo
Francisco José Viveiros de Castro, natural do Maranhão. For-
mado em 1883, jurista e homem de letras dos mais brilhantes e
independentes, autor de vários livros de valor entre os quais A
Nova Escola Penal, Atentados ao Pudor, Ensaios Jurídicos, foi
desembargador no Distrito Federal e professor na Faculdade de
Direito, sendo notáveis as sentenças por êle proferidas sóhre a
liberdade profissional e liberdade espiritual cm que adota as teses
positivistas a êsse respeito. (82)
Também Barros Cassai, gaúcho e cunhado de Aníbal Falcão,
fêz-se positivista em Recife, ao lado de Alfredo Varela, outro
~aúcho, que mais tarde se destacaria como deputado, representando.
na Câmara Federal. o castilhismo. O seu volume - "DireiU>
Constitucional" · - "trabalho original interessantíssimo", no dizer
de Clóvis Bevilaqua (3 3 ) - é todo inspirado nas doutrinas histó-
ricas e so<.:iais de Autusto Comte.
Distinguiu-se também como positivista em Recife Francisco-
Peixoto de Lacerda Werneck que, em 1882, fôra condenado, na
Faculdade de Direito de São Paulo, a perder dois anos de estudos
por ofensa à Religião do Estado, visto haver escrito numa prova
sôbre liberdade de religião:
"Esses ignorantes sem caráter, que ensinam a moral baseada·
na existência de um ente supremo, chamado Deus" . .. (34)
Bacharelando-se pela Faculdade do Recife, Lacerda Werneck
pertenceu mais tarde ao Apostolado Positivi:.ta do Brasil e pu-
blicou: "O Calendário Positivista acompanhado da biblioteca do·
proletário no século XIX por Augusto Comte, com um apêndice
NOS ESTADOS
III
Anteriormente a 1893 verificaram-se, no Estado da Paraíba,
vagas manifestações positivistas. A partir dêsse ano, porém, Venân-
cio de Figueiredo Neiva publicou, em "O Estado da Paraíba" o
primeiro artigo de uma série que se vem prolongando por perto de
sete décadas, porquanto até hoje continua.
Em 1897, na Gazeta do Comércio, Adolfo Ferreira Nóbrega,
Luís Mariano Pereira de Andrade, Antônio Batista Neiva de Fi-
gueiredo, Joaquim Lins de Albuquerque e Venâncio Neiva faziam
um apêlo no sentido de serem lidas as publicações positivistas re-
cebidas pela Biblioteca Pública do Estado.
Entre muitos outros, Artur Moreira Lima publicou, em "O
Comércio" de 5 de setembro de 1900, em comemoração do nasci-
mento do fundador do Positivismo, um artigo intitulado: "Augusto
Comte - Onorate l'altissimo Maestro" .
Em O Comércio de 11 de novembro de 1900 saiu um artigo
francamente positivista, sob o título "Pela memória do fundador
da República", assinado por Artur Moreira Lima, Manuel Gui-
marães Filho, João de Andrade Espínola, Manoel V. Ferrer Júnior,
Felipe Dias Paredes, Antônio Bernardino Neto , Henrique V. de
Mello, Manuel Simplício de Paiva, João Antônio Vasconcelos,
Francisco Rangel Tôrrcs, Virgílio César, ôrris Soares, Antônio
Lopes dos Santos, Augusto Toscano de Brito, Pedro Soares e Lou-
renço Moreira Lima.
E outros nomes aparecem nos jornais da Paraíba propugnan-
do pelo Positivismo como os do Tenente Izidro Leite Ferreira de
Araújo, Olinto de Mesquita Vasconcelos, conforme se vê em "O
Comércio"' de 5 de janeiro de 1901.
Nesse mesmo jornal, em 5 de novembro de 1901, vem um
convite para a comemoração da data da Fundação da República,
constante de um a sessão sociolátrica e de uma procissão cívica em
que seriam conduzidos, em andores, a exemplo do que. por ês$C
tempc_, se fazia no Rio de Janeiro, os bustos cm gêsso de Tiradentes,
José Bonifácio, Benjamin Constant, Deodoro e Floriano.
Entre inúmeros outros, publicou Venâncio Neiva, em "1,
União" de 15 de junho de 1907, longo artigo inteiramente posi-
tivista, dedicado a ôrris Soares, sôbre "A Função da Mulher na
Sociedade".
134 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
IV
Em 1874 José Veríssimo, que se matriculara na Escola Central
do Rio de Janeiro, logo transformada cm Politécnica, cujo primeiro
ano cursou, aí conheceu o Positivismo na convivência de Coelho
Barreto, pai de Paulo Barreto (João do Rio), e de Pedro Barreto
Galvão, segundo informações de seu amigo, Dr. Rodolfo Paula
Lopes, catedrático de Biologia do Colégio D. Pedro II, falecido no
Rio, em 194 7, aos 87 anos.
Transferindo-se, por motivo de doença, cm meados de 1876,
para o Pará, figurou Veríssimo entre os redatores do "Ditirio do
Grão Pará", onde trabalhou de 1880 a 1884. Em 1883 funda a
Sociedade paraense promotora da instrução e cria a Revista Ama-
zônica, na qual é apoiado por Barbosa Rodrigues, Ferreira Pena e
conselheiro Tito Franco de Almeida.
Em 1881 publica o opúsculo Emílio Li11ré ( traços biográficos).
Dedicado à mocidade, êsse opúsculo. no dizer de Alberto Faria ao
suceder a Veríssimo na Academia Brasileira de Letras, "compõe-se
de artigos saídos na Gazeta de Notícias de Belém, a respeito da
filosofia positiva, importando em documento para a história das
idéias modernas no Brasil, razão porque se lhe ajuntou um de
réplica à "Boa Nova", órgão de teologia católica. Ficaram es-
parsos outros, firmados com o pseudônimo "Lúci7er", contra os
quais se levantou o clero irritadiço e dizcdor. Em filosofia, como
em ciência, manteve-se êle, vida fora, entre o positivismo e o de-
terminismo". ( 36 )
Quem, no jornal - "Boa Nova" escreveu uma série de artigos
contra Augusto Comte e Littré, sob o título geral de "A Filosofia
Positiva", foi o Cônego Raimundo Ulisses de Albuquerque Pena-
NOS ESTADOS 135
37) - Vide SACII.AMENTO BLAICF:, op. cit .. sétimo volume, pgs. 124 ·e 125,
Rio, Imprensa Nacional, 1902.
38) - JosÉ VERfssu,10; "Estudos de Literatura'', primeira série, pgs, 69
e 70, Rio, Garnier, 1901.
39) - Vide ANATOLE FRANCE: "Vers les temps meilleurs", II, pgs, 14 a 20,
e a conferência que, sôbre Laffite, pronunciou em São Paulo, em
1909, a qual se acha no tomo XVII das "Oeuvres Completes ll/ustré~s
de Anato/e France'', Paris, Calmann-Lévy-Editeurs, 1928, pgs. 299 a
325.
40) Vide MIGUEL LEMOS? L'Aposto/at Positiviste du Brésil - rapporl
pour /'année 1883", pg. 124, Rio, Au. Slege de la Société Positii>is-
le", 1885.
..
ic~.
~- \
CAPITULO QUARTO
li
III
"Carta aberta
Viver às claras
Vicente de Carvalho
Floreal! Messidor!
Na casa em que nasci, no Familiar
Teto dos meus Avós, nosso Patrono
Numa alta mesa como sôbre um trono,
Augusto Comte iluminava o Lar!
IV
13) - Vide ~JosÉ LEÃO: "Sifra Jardim", Rio, Imprensa Nacional, 1895, pg.
39, 40, 42, 49, 53, 54, 55, 61 e/ passim e SPENCER VAMPRP.: "MP-
m6rias para a lli.<t6ria da Academia de São Pa11/o", vol. li, pgs. 42~
e 430.
14) - Vide MIGUEI. LEMOS: "L'Apostolat Positiviste au Brésil - de11xieme
circulaire ammelle", pgs. 45 e 46 ela 2.ª ed., Rio, 1908. Na Biblio-
teca Nacional encontrnm-se exemplares de O Horizonte.
15) - S11.vA JARDIM: "Memórias e Viagens", pg. 20, Lisboa, 1891.
16) - Idem, ibidem, pgs. 26 e 27.
17) - Idem, ibidem, pg. 219.
18) - Apt1d José, LEÃO, op. cit., pgs. 171 e 172.
19) - Júuo RIBEIRO: "Traços Gerais de Li11,:11ística", pgs. 11 a 13.
20) - AFONSO CELSO DE Assis FIGUEIREDO JÚNIOR: "Teses e Di.çsertação
- defendidas para obter o grau de Doutor em Direito nos dias 19 e
23 de março de 1881, pg. 35, São Paulo, 1881. O ponto do programa
da Faculdade escolhido para tema da dissertação era o seguinto·
"Constituído o poder público, há soberania imanente 11a multidão,
capaz de opor-se ao poder co1tstlt11!do?"
21) - Vide GILBERTO FREYRE: "Ordem e Progresso", t. I, pg. 128, Li-
vraria José Olympio Editôra, Rio, 1959.
22) - Vide CÂNDIDO MOITA FILHO: "Uma Grande Vida - biografia de
Bernardino de Campos", pg. 40, Companhia Editôra Nacional, São
Paulo, 1941.
23) MIGUEL REALE; "Pedro Lessa e a Filosofia Positiva em São Paulo",
in Re\•ista Brasileira de Filosofia, n.0 36, outubro a dezembro de
1959, pgs. 529 a 530.
24) - ALBERTO SALLES: "Emaio s/;bre a moderna concepçao do Direito",
pg. 256, Siio Paulo, Tipografia da Província, 1885.
25) - Idem, ibidem, pgs. 266 e 267.
26) - Vide ALBERTO SAUEs: "Ciência Polltica", pg. 55, São Paulo, Teixein
& Irmão Editóres, 1891.
27) - Vide PAULO fa,vo10: "Do Estudo da Sociologia como base do e.1tudo
do Direito", pgs. 42 e 43, São Paulo, Tipografia do "Diário 0/iclal".
1898.
28) - JoÃo MENDES DP. ALMEIDA: "O Direito e o Positivismo", pgs. 9 a 10,
São Paulo, Tipografia da Papelaria Guarani, 1895.
29) - Idem, ibidem, pg. 15.
30) - ALBERTO SALLES: "Política Republicana", Rio de Janeiro, Tipografia
Leuzinger & Filho, 1882, pgs. 15, 16 e 25.
31) - Lufs ANTÔNIO DOS SANTOS WERNECK: "O PositlvLçmo Rep11bllcano
na Academia", São l'aulo, Jorge Seckler, 1880, pg. 142.
32) - Vide MÁRIO M. MEIRELES: "Panorama da Literatura Maranhense",
pg. 129, São Luís. Imprensa Oficinl, 1955.
33) - DEMÓCRITO: "Cartas a Júlio Ribeiro", pg. 7, São Paulo, Tipografi11
da Província, 1885.
34) - Júuo RrnE1Ro: "Curtos Sertanejas", Apêndke, pg. 193 da 2.ª edição,
Lisboa, Livraria Clássica Editôra, 1908.
35) - DEMÓCRITO, op. cit., pgs. 63 e 64.
36) - ANTÔNIO GOMES D'AZEVEDO SAMPa\10, em seu "Essai sur l'hi.1toire
du Positivisme au Brésil", escrito em 1898, isto é, apenas um ano
depois da morte de Cesário Moita, assim se refere a êste notável
homem público de São Paulo:
"O ensino público do Estado de São Paulo foi reformado pelo
seu ministro republicano, o saudoso Cesário Motta. Tão firme em
sua crença positivista quanto refletido em mas aplicações, êste homem
de Estado, em consequência mesmo de sua audaciosa sabedoria, não
foi sempre compreendido, nem pelos que o cercavam, nem mesmo
por aquêles em cujo nome fie agi3: oomo ministro. Suas duas criaçõe_s,
0 Ginásio e a Escola Modelo, maJS do que qualquer outra no Brasil,
NOS ESTADOS 173
48) Vide JosÉ MARIA POS SANTOS: "A Política Geral do Brasil", pg. 334,
J. Magalhães editôrcs, São Paulo, 1930.
49) - Apud MmuEL LEMOS: "Boletim do Apostolado Positivista do Brasil'',
n. 0 15 P, novembro de 1899, pgs. 10 e 11.
50) - Vide PEDRO LFssA: "O Direito no sfrulo XIX", in "Revista da Fa-
culdade de Direito de São Paulo", ano de 1900, vol. VIII, pgs. 199,
200 e 201.
51) - Vide MIGUEL LF.Mos: "Quatrieme Clrculaire Annuelle" (1884), pg!.
87 da 2.ª ed., Rio, IR95.
52) - Os versos de BRASÍLIO MACHADO intitulam-se "A um romllntlco";
trazem a data de 1881 e foram publicados no Almanaque Litel'ário
de S. Paulo de 1884, pgs. 69 e seguintes. Vide SPENCER VAMPd,
op. cit., vol. II, 484 a 486.
53) - Ap11d RODRIGO SOARES JÚNIOR: "Jorge Tibiriçá e .ma lpoca", tomo
t. 0 , pgs. 205 e 206, Brasiliana, 5.ª série, vol. 304, Companhia Editõra
Nacional, S. Paulo.
54) - Apud MIGUEL LEMOS: "Dlcima Quima Circular Anual" (ano de
1895), pgs. 47 e 48 da edição de 1896.
55) - JORGE AMERICANO: "São Paulo naquele tempo - 1895-1915", pg.
388, edição Saraiva, São Paulo, 1957.
56) - MIGUEL LEMOS: "Décima Circular Anual", pgs. 72 e 73, Rio, m1
sede da Igreja Positivista, 1892. Sôbre o assunto, vejam-se ainda os
Boletins do Apostolado Positivista do Brasil: 15 P, pgs. 3 e seguintes;
29 P, pgs. 3 e seguintes, e 32 P, pg. 20.
57) - Ap11d DAVID HALL STAUFFER: "Origem e fundação do Serviço de
Proteção aos lndios", in "Revista de História", julho-setembro de
1960, São Paulo, Brasil, pg. 177.
58) - Idem, ibidem, pg. 181.
59) - Idem, ibidem, pg. 182.
60) - Vide "Revista Nova", Ano I. n. 0 4, 15 de dezembro de 1931, p115.
648 e 649, Rua Xavier de Toledo, n. 0 72, São Paulo.
CAPITULO QUINTO
II
Castilhos seria a figura exponencial do movimento republicano
no Rio Grande do Sul. Como salienta João Neves da Fontoura,
''pertencia êle ao número dos que, na frase de Raul Pompéia,
"tinham as convicções ossificadas na espinha inflexível do caráter".
Professava uma filosofia. Tratou de conquistar para ela o apoio
da massa partidária".
Guilhermino César - principal fonte na elaboração do pre-
sente capítulo - assim traça o perfil de Júlio de Castilhos:
"Tipo másculo e autoritário, inteligência admiràvelmente bem
dotada, polemista destro e persuasivo. A sua dialética de fundo
positivista, colocou-a ao serviço, em primeiro lugar, da propagan-
da, e, após o Quinze de Novembro, do federalismo à outrance.
Lutou com adversários poderosos, dialetas do naipe de Rui e Sil-
veira Martins; na Constituição de 91, como no Gevêrno do Estado,
advogou ardentemente os princípios do govêrno forte. Inscreveu
suas idéias na carta estadual, defendeu-as pela imprensa, e no go-
vêrno rio-grandense defendeu-as também mobilizando as armas que
tanto sangue derramaram em 93. Deve-lhe a República um grande
serviço. Foi o mais decidido colaborador de Floriano. A glória
do Consolidador não se escreverá jamais sem a menção do nome
de Castilhos, dêle afastado a princípio, mas a quem prestou, com
NOS ESTADOS 179
III
Em Bagé, a partir de l 890, os Drs. Domingos Pinto Fi-
gueiredo de Mascarenhas, Veríssimo Dias de Castro, Capitão João
A. de Oliveira Valle, Capitão Maurício Antônio de Lemos, Vicente
Lucas de Lima e J. Lucas de Lima constituíram um núcleo posi-
tivista que promoveu a públicação de vários opúsculos, como, entre
outros, "O Sr. Gaspar Martins e a Bandeira Nacional", "Carta ao
Dr. Romaguera Corrêa, deputado estadual sôbre a separação dos
podêres temporal e espirirual''.
A Escola de Engenharia de Pôrto Alegre, fundada em 1896
pelo positivista, discípulo de Benjamin Constant, João Simplício
Alves de Carvalho, em colaboração com quatro outros positivistas
- Gregório de Paiva Meíra, João Vespúcio de Abreu e Silva,
Lino Carneiro da Fontoura e Juvenal Octaviano Miller, foi, du-
rante muitos anos, um foco de irradiação dos ensinos científicos e
filosóficos de Comte.
Em 1899, Dinarte Ribeiro, irmão de Demétrio, publicou, em
Pôrto Alegre, uma tradução dos "Opúsculos de Filosofia Social"
de Augusto Comte, precedida de esplêndido prefácio onde historia
a difusão do Positivismo no mundo, e, especialmente, no Brasil. ( 311 )
Ainda em 1899, ajudado pelo Dr. João Luís de Faria Santos,
pelo General Osório de Azambuja Cidade e pelos Drs. Arthur
Homem de Carvalho e Carlos Tôrres Gonçalves, o Dr. Joaquim
José Felizardo Júnior funda, em Pôrto Alegre, um Centro Positi-
vista, ao qual se ligaram, entre outros, o Drs. Protásio Vargas,
João Leivas de Carvalho e o capitão de engenheiros Antônio Pe-
reira Prestes, pai de Luís Carlos Prestes.
Lastimando o falecimento dêste último, em sua Circular de
1908, assim se exprime Teixeira Mendes:
"Transformação - O ano que findou ficou dolorosamente as-
sinalado para a nossa Igreja. Em 12 de Moisés (Domingo, 12
de janeiro), faleceu após longos padecimentos, o nosso correli~i~-
nário, capitão de engenheiros Antônio Pereira Prestes. Na Nor1c1a
da propaganda posirívista no Estado do Rio Grande do Sul, re-
lativa"'' ao ano passado, o nosso confrade Carlos Tôrres Gonçalves
dá as seguintes informações sôbre a sua rápida existência:
... "O nosso malogrado correligionário era filho dêste Estado,
tendo nascido nesta cidade, a 21 de agôsto de 1869, e casado com
a Exma. Sra. D. Leocádia Felizardo Prestes, digna irmã do nosso
saudoso confrade Felizardo Júnior, tendo deixado tra. filhinhos.
194 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
IV
.,..
NOTAS DO CAPITULO QUINTO DA TERCEIRA PARTE
4) - Ibidem •·
5) - Ibidem, pg. 344.
6) - Vide JOÃO NEVriS DA FONTOURA: "Mem6rias": 1.º volume - BorgeJ
de Medeiros e seu tempo", pgs. 34 e 35, Editôra Globo, Pôrto Alegre,
1958.
7) - Ibidem, pg, 292.
li) - GUILHERMINO CÉSAR, op. clt., pg. 344,
9) - V,de SACRAMEN1·0 81.AKB: "Diciontírio Bibliográfico Brasileiro", 2. 0
volume, Imprensa Nacional, Rio, 189J, pg. 168.
10) - GulUIERMINO CÉSAR, op. c1,., pgs. 346 e 347. .
11) - Ap11d ÜTIIELo RosA: "Júlio de Castifhos", pp. 67 e 68, Ed1tôra
Globo, Pôrto Alegre, 19:28.
12) Desembargador F1.0RE.Nc10 DE ABREU: "Movimento Positivista no
Rio Grande do S11/", Separata da Revista das Academias de Letras
n.U 72, pg. 8, Rio, 1958.
13) - Ap11d ÜTHELO ROSA, op. cit., pg. 494.
14) - Vide IVAN LJNs: "Três Abolicionistas Esq11ecidos'', -Rio, 1938, pgs. 82
a 92, nota 4.
15) - ARTHUR FERREIRA FILHO: "História Geral do Rio Grande do Sul
1503-1957", pg. 149, Editôra Globo, Pôrto Alegre, 1958.
16) - O dis~urso de Getúlio Vargas, proferido na sessão fúnebre realiz..3da
na noite de 31 de outubro de 1903, no Teatro São Pedro, de Porto
Alegre, uma semana após o falecimento de Júlio de Castilhos, foi re-
produzido na lnlegra, pelo Correio do Povo, de Pôrto Alegre, em
seu número de 29 de junho de 1960 comemorativo do primeiro
cenlcnário do nascimento do ilustre estadista do Rio Grande.
17) - Vide SILVA JARDIM: "Memórias e Viagens", I, Campanha de um
propagandista, pgs. 249 a 251, Companhia Nacional Edüôra, Lisboa,
1891.
18) - JoÃo NF.VES DA FoNTouu: "No Centenário de Júlio de Caslilhos",
artigo saído em "O Globo". do Rio, de 28 de junho de 1960, pg. 14.
19) - Desembargador FLORÊNCIO DE ARREU, op. cit., pg. 12.
20) - DARIO DE BITTF.NC"O\JRT: "Júlio de Ca.11ilhos e os operários", artigo
Mído no Correio do Povo de Pôrto Alegre, de 29 de junho de
1960, pgs. 4 e 17.
21) - EUCLIDES DA CtJNIIA: "Dia a dia". artigo publicado no "Estado de
São Paulo", de 22 de junho de 11!92, apud "Rcfista do Livro", órgão
do Ins\ituto Nacional do Livro, n.0 15, setembro de 1959.
22) - JoÃo NEVES DA FoNTOURA, op. clt., pgs. 6 e 7.
23) - Idem, ibidem.
24) - Idem, ibidem, rgs. 29 e 35.
2~ J - Vide JoÃo NEVJ;S DA FONTOUU, op. clt., pgs. 126 e seguintes.
26) - AUGUSTO COMTc: "Do Orçamento", apud TEIXEIRA MrNDF.S "Au-
g,me Comre - évol111io11 ori1<inale", Rio de Janeiro, A11 silge de
/'{;g/íse PoJitivistt d11 Brésil, 19 D, pg. 336.
27) - Apt1d JoÃo Pto Df. ALMEIDA: "Borges d, 1\1,J,iros - s11bsldios para
o es/lldo de sua vida e obro", Livraria do Globo, Põrto Alegre, 1928,
pg. 114.
28) - Vide A. CoMTE: "Filosofia Positiva", vol. IV, pgs. 200 e seguintes;
vol. V, pgs. 530 e seguintes e vol. VI pg. 364 <1:1 4.ª edição. "Po-
lítica Positi,•a", vol. I, pgs, 29 e 156; v'ol. II, pg. 428 et pa.sslm, voL
IV, Apêndice Geral, pas.d m; Pt13RRE LAFFITTE: "Lt Posltivi.m1e et
l'éco11omie politiq11e", Paris, Ritti, 3.ª ed., 1876: RoGER MAUDUIT'
"A11g11ste Comte et la scle11ce économique", Paris, Alcan, 1929.
29) - Ap11d JoÃo Pio DE ALMEIDA, op. cil., pg. 123.
30) - Vide TOCARY ASSIS llASTOS: "O Po.d1ivis1110 e a Realidade Bra.<lleira",
tese aprcsentnda ao Concurso de Livre Docência da Cadeira de
Política da Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 1961, pg. 100,
NOS ESTADOS 203
31) - Apud 1ofo Pio DE ALMEmA, op. cit., pgs. 166 e 167.
32) - Vide "O Jornal", do Rio de Janeiro de 26 de abril de 1961: "Aus-
teridade e bravura eram lema da vida de Borges", pg. 2 da 2.ª sccção,e
JoÃo PJO DE ALMEmA, op. dt ., pgs. 117 a 119.
33) - Vid,• Jofo NEVES DA FoNTOUAA, op. cit., pg. 7.
34) - Ap11d Jofo MANGABEIRA: "Rui - o Estadista da República", pg. 226,
Livraria José Olympio Editôra, 1943.
35) Vide Auc;usTo CoMTF.: "Op1isrnlo., de Philo.,nphia Social - 1819-
1828", tradução de Dinurte Ribeiro, Pôrto Alegre, Livraria do Globo,
1899.
36) - Vide TEIXEIRA MENDES: "Circular correspondente ao ano de 1908"
pg. 58.
37) - Vide CARLOS TÕRRES GONÇALVES: "A Questão da Jmigraçíio", Rio,
Tipografia do Jornal do Combclo, 1925, pgs. 3 e 4.
38) - Idem, ibidem, pgs. 5, 6 e 8.
39) - Vide Shc;10 BUARQUE DE HoLANDi\: "Ralz:.es do Brasil", Livraria Jo,6
Olympio Editôra, Rio, 1936, pg. 120.
40) - Desembargador F1.0Rb1c10 DE AAREU, op. dt., pas.. 8 e 9.
41) - Idem, ibidem.
42) - JoÃo NHl'S D,\ FoNTOUU, op. clt., PI- 84.
43) - Desembarg.idor FLORf.NCIO DE ABRt,U, op. cit., pg. 9.
44) - Vide Lufs EDMUNDO: "O Rio de Ja11l'iro do meu tempo", vol. I, pgs.
359 a 361, Rio, Imprensa Nacional, 1938.
45) - Vide JOAQUIM Lufs Os6R10: ''Constituição Política do Rio Grande
do Sul - Comentários", 2. 8 edição, Livraria do Globo, Põrto Alegre,
1923.
46) - Vide R. DE MONTE ARRi\Es: "O Rio Grande do Sul e as suas insti-
tuições govername11tais", Rio, TiJ)Ografia do Anuário do Brasil, 1925.
47) - Vide VICTOR RussOMANO: "História Constitucion.71 do Rio Grande
do Sul", com prefácio do Dr. João Neves da Fontoura, Pelotas,
Barcellos, Bertaso & Cia., 1932.
48) - Vide "Docume11tos Parlamentares - Revisão Constitucionar', vol.
III, pgs. 573 e 574.
49) - Entrevista de Getúlio Vorgas a "O Pafs", de 29 de agõsto de 1925,
apud IVAN UNS: "Benjamin Co11stant", pgs. 146 a 151, Rio, J. R. de
Oliveira & Cia., 1936.
50) - Ap11d ANDRt CARRAZONI: "Perfil do estudante Getúlio Varias", pg. 36,
"A Noite", editõra, Rio, 1942.
51) Vide MIGUEL LEMOS: "Décima Sexta Circular" (1896), pg. 60.
52) - Vide GILBERTO FREYRE: "Ordem e Progresso", vol. I, pg. XXXIV
CAPITULO SBXTO
II
João Pinheiro manteve-se, vida afora, fiel à sua adesão ao Po-
sitivismo. Ao falecer, nenhum sacerdote foi chamado para pres-
tar-lhe assistência religiosa, pois, um ano antes, tornara claro, em
momento solene, não ser católico.
Ao participar, em 6 de agôsto de 1907, como Presidente do
Estado, do banquete realizado em Mariana em homenagem a Dom
Silvério, então elevado a Arcebispo, João Pinheiro, que havia sido
seu aluno, declarou, dirigindo-se ao seu antigo mestre, perante o
Cardeal Arcoverde, sete Bispos e quase uma centena de sacerdotes:
"Seu antigo discípulo, Exmo. Sr., teria omitido um dever de
afeto, se não viesse pessoalmente prestar a V. Excia a homenagem
NOS ESTADOS 209
"Vai inl'.lo esta carta desconexa, mas vai sendo escrita com o
coração. Adeus, meu Edmundo, recebe o coração de teu amigo
e a solidariedade, na tua dor, de minha mãe, minha mulher e
meus filhinhos.
"Teu amigo
"João Pinheiro".
No discurso com que, em 15 de agôsto de 1907, instalou o
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, por êle fundado,
disse João Pinheiro haver "fôrças positivas governando a atualida-
de, e elementos poderosos sustentando o presente e dirigindo o
futuro, no ensinar ao homem que deve confiar somente na justiça
[da história], que nunca falta, contra a onda das paixões efêmeras
e dos interêsses passageiros que desaparecem com o tempo que os
criou, para deixar, eterno e duradouro, o que foi feito no serviço
da Humanidade e da Pátria, que nunca morrem ............. .
"Se a história - continuava êle, santifica a própria materia-
lidade dos lugares que a ela se ligam, também nos dá lições mais
altas e de caráter bem mais generalizado.
":e ela que nos ensina a confiar no Direito, na Justiça, na
Liberdade, no Bem e na vitória definitiva dos sagrados princípios
da consciência humana, ensanguentados às vêzes, eclipsados por
períodos, mais ou menos longos, na seqüência dos tempos, negados
e tentados destruir neste ou naquele ponto da terra por usurpa-
dores poderosos ~ e, entretanto, vencendo sempre nas lutas mi-
lenárias da Humanidade em marcha.
"As suas lições fortificam, pois, a consciência do cidadão para
os deveres do altruísmo, sobrelevam sempre à grosseria dos inte-
rêsses materiais, egoístas e passageiros". (26)
Referindo-se a João Pinheiro, Mendes Pimentel, que com êle
convivera, assim se externou em 1951, em entrevista concedida a
Cipriano Lage:
"[João Pinheiro] "do que lia muito aproveitava. Conhecia
os princípios gerais do positivismo, deixando-se guiar por êles, e
embora morigerado na sua filosofia, era um predisposto aos im-
pulsos, às vêzes perigosos, dos sectários convictos e apaixona-
dos". ( 27 )
No dizer de Francisco de Assis Barbosa, pertenceu à Con-
gregação da Escola de Medicina de Belo Horizonte "Henrique
Marques Lisboa, professor de História natural_ médica, que era
todo francês pela formação, partidário da escola de Paris, citando
a todos os instantes Pasteur, Roux e Calmette. Não escondia
as suas idéias positivistas, hauridas do conhecimento direto da
obra doutrinária de Augusto Comte. Gostava mesmo de dar um
toque de cultura geral às suas aulas, recomendando aos alunos não
só os livros da pregação positivista como os romances de Anatole
France". ( 28 )
NOS ESTADOS 219
II
Afonso Cláudio de Freitas Rosa, que, em Recife, se tornou
grande amigo de Clóvis Bevilaqua e Martins Júnior, seus colegas
do ano, era positivista e também foi intimo do redator-gerente de
O Horizonte - Maximino Maia.
Ainda na monarquia, exerceu Afonso Cláudio os cargos de
promotor, procurador fiscal da Província do Espírito Santo, e lente
de História e Geografia do Ateneu Provincial. Com a República,
veio a ser o primeiro governador do seu Estado.
Em dezembro de 1891, foi nomeado desembargador, cargo que
- no dizer de Clóvis Bevilaqua - exerceu com alta proficiência
e no qual se aposentou em 1920. Transferindo-se para o Rio, foi
até à sua morte, em 1934, lente da Faculdade de Direito do Estado
do ..~io de Janeiro. Jurisconsulto, historiador e literato - escreve
Clovis Bevilaqua - "em todos êsses domínios tem publicado tra-
balhos de valor: Estudos de direito romano, t. 0 volume. Rio de Ja-
neiro, 1916 - (2~ vol., 1927). e livro didático de grande valor,
pela criteriosa análise dos institutos, pela originalidade de muitas
observações, e pela aplicação ao direito pátrio dos princípios do
224 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
III
A figura mais eminente do Positivismo capixaba foi o Dr.
José de Melo Carvalho Moniz Freire, de quem, na História da
Literatura Espírito Santense, diz Afonso Cláudio : "As suas idéias
filosóficas, em comêço, obedeceram à doutrina do Positivismo he-
terodoxo sob a direção de Littré; mais tarde à ortodoxia de Comte,
quer na filosofia, quer na política". ( 6 )
Nascido cm Vitória a 13 de julho de 1861, matriculou-se
Moniz Freire, em 1877, na Faculdade de Direito de Recife, de
onde se tran~feriu, em 1879, para a Academia de São Paulo pela
qual se diplomou em 5 de novembro de 1881.
Eleito à Assembléia Provincial do Espírito Santo de 1884 a
1889, neste mesmo ano passou a representar a Província, como
Deputado Geral, sendo, no ano seguinte, eleito para a Constituinte
Republic"ana. Nesta apoiou tôdas as teses positivistas, acêrca das
quais proferiu, em 12 de janeiro de 1891, um discurso que, na
época, foi grandemente comentado. (1 )
Depois de ocupar a Presidência do Estado durante o qua-
driênio de 1892 a 1896, foi novamente escolhido para exercê-la
no período de 1900 a 1904.
. Ao deixar, pela segunda vez, a Presidência do Estado, foi
eleito. senador. mandato que ocupou de 1904 a 1915. Faleceu,
no Rio, em 3 de abril de 1918.
De sua autoria é o ante-projeto da Constituição do Espírito
S~nto q~e. passou a vigorar em 1892 e onde é evidente a influên-
_ç1a pos1t1v1sta.
Foi fundador e redator da "Aurora'' (1875), "A Liberdade"
(1876), "Gazeta Acadêmica" (1878), "Liberal Acadêmico de São
Paulo" (1880-1881).
<;om Cleto Nunes fundou, em 1882, o jornal "Província do
Espírito Santo", mais tarde transformado em "Estado do Espírito
San('(, e colaborou sob o pseudônimo de Kosciuzko, no "Correio
da Manhã", na "Epoca", no "Jornal do Comércio" e outros perió-
dicos.
São de sua lavra, entre outros, os seguintes livros: "Cartas ao
Imperador", 1885, "A Constituição de 1892", "Pela Liberdade Po-
11rica do Brasil", 1910, "Exisrlncia Polirica dos Estados", 1913. ( 8 )
228 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
IV
Sob o aspecto cultural, a Província do Rio de Janeiro foi,
durante o Império, absorvida pela Côrte. Entrando, além disto,
em precipitada decadência econômica a partir da Abolição, o
grande Estado quase nenhuma influência direta recebeu do Posi-
tivismo, muito embora hajam sido fluminenses alguns dos mais
prestigiosos discípulos brasileiros de Augusto Comte, como Benja-
min Constant, Pereira Barreto, Miguel Lemos e Silva Jardim,
entre outros.
O mais notável representante do Positivismo que haja atuado
no próprio Estado do Rio foi o Dr. Antônio Luís dos Santos
Werncck, o qual, como vimos em capítulo anterior, publicou, em
1880, cm São Paulo, o livro "O Positivismo Republicano na Aca-
demia".
Nascido em Bcmposta, mumc1p10 de Paraíba do Sul, for-
mou-se em São Paulo cm 188 I.
A princípio monarquista, fêz, da tribuna, depois de eleito
deputado provincial em 1885, profissão de fé republicana em
discurso que encontrou, na então Província, enorme repercussão.
Por decreto de 3 de dezembro de 1889 foi nomeado pelo
Marechal Deodoro para integrar com Saldanha Marinho, Amé-
rico Brasiliense, Magalhães Castro e Rangel Pestana, a comis-
são encarregada de elaborar o ante-projeto de Constituição Fe-
deral. Nessa Comissão apresentou um projeto que foi subscrito
pelo seu companheiro de ideais políticos e filo-sóficos, Rangel
Pestana.
Durante o Govêrno Provisório foi Secretário da administra-
ção de Campos Salles na pasta da Justiça. Posteriormente, ocupou
o lugar de Juiz Federal na secção de São Paulo, notabilizando-se
as suas sentenças pela inteireza moral e profundidade jurídica.
Rejeitou, em certo momento, a indicação do seu nome para o
NOS ESTADOS 229
.
e cultivada inteligência a mais respeitosa e sincera saudação.
"Miguel A. Feitosa". ( 1ª)
O Imperador não ficou estranho e indiferente à penetração
do Positivismo en1re nós. A êste propósito registou Teixeira Men-
des em seu Diário uma conversa com Benjamin Constant ocor-
rida em abril de 1880:
240 HISTÓRIA DO POSITMSMO NO BRASIL
II
Não se fizeram tardar, porém, no Rio, os opositores da nova
doutrina.
Em 1876, Feliciano Pinheiro Bittencourt, então estudante de
Medicina, toma posição ostensivamente contrária ao Positivismo
em palestra pronunciada numa série de conferências populares,
realizada na capital do Império e na qual trata da doutrina de
Comte sob o ponto de vista filosófico, político e religioso. ( 28 )
Em 26 de abril de 1879, falando no Senado sôbre o decreto
7247, de 19 de abril do mesmo ano, da lavra do ministro liberal
do gabinete Sinimbu, Carlos Leôncio de Carvalho, e que estabe-
lecia o ensino livre, o senador João José de Oliveira Junqueira
rejeitava as faculdades livres, previstas no decreto, porque não
havia qualquer garantia de que nelas as doutrinas católicas não
seriam contestadas e elas certamente o seriam em virtude da
"doença moral que infecciona lentamente a nossa sociedade, na
qual vão grassando as idéias e doutrinas positivistas, que se filiam
· à escola de Augusto Comte". (24)
Em 1882, encarnando, com maior ressonância, a reação espi-
ritualista contra a penetração do Positivismo no Rio, proferiu
Ferreira Viana, na Câmara dos Deputados, em sessão de 4 de
agôsto, veemente discurso interpelando o Ministro do Império,
Le{o Veloso, a propósito da retirada do pórtico da antiga Aca-
dem1a de Belas Artes, de autoria de Grandjean de Montigny, o
qual, reconstruido por iniciativa do Serviço do Patrimônio His-
tórico Nacional, se encontra hoje no Jardim Botânico do Rio. ( 2 ~)
Dêsse discurso, que é longo e palavroso, não confirmando a
fama de grande orador desfrutada por Ferreira Viana, extraio os
244 HISTÓRIA 00 POSITIVISMO NO BJlASIL
24) - Anais do Senado, 1879, tomo IV, pgs. 218 e 238, especialmente
229 a 233, cit. pelo Prof. ROQUE SPENCER MACIEL DE BARROS: "A
Ilustração Brasileira e a idéia de Universidade", São Paulo, 1959,
pg. 285.
25) - Vide GASTÃO CRULS: "Aparência do Rio de Janeiro", segundo volume,
pg. 606, Livraria José Olympio Editôra, R.io, 1949.
26) - "Anai.• do Congresso Nacional -- Cdmara dos Deputados", sessão
de 4 de agôsto de 1882.
27) - Ibidem, sessão de 15 de maio de 1882.
28) - Vide; "Atas e pareceres do Co11gresso da Instrução", Tipografia
Nacional, Rio, 1884, 24.ª Questão: "Escolas Normais - Sua Or-
ganizaçllo, plano de estudos, métodos e programas de ensino", pgs. 1
a 36.
29) - Ibidem; 7.ª Questão: "Ensino de moral e de religião nas escolas
primárias, nos estabelecimentos de Instrução secundária e nas es-
colas normais", pg. 12.
30) - RAMIZ GALVÃO: "O Púlpito no Brasil", pgs. 156 e 157 do tomo 92,
vol. 146 da "Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro".
Rio, Imprensa Nacional, 1926.
31) - Vide AFONSO DE E. TAUNAY: "Entrudo Carioca", in "Jornal do
Comércio", de 6 de janeiro de 1956. Conf. INA VON BINZER:
"Alegrias e Tristezas de uma educadora alemã no Brasil", Editôra
Anhembi Limitada, São Paulo, 1956, pg. 73.
32) - Vide ALCEU AMOROSO LIMA: "Reação Espiritualista", pg. 400 do
vol. terceiro, tomo primeiro, de "A Literatura no Brasil", obra di-
rigida por Afrânio Coutinho, Rio, Livraria São José, 1959.
CAPITULO SEGUNDO
em vista por êsse tempo, como talvez ainda hoje, não era tanto
a apreciação do saber dos caudidatos quanto a ostentação, por
parte dos examinadores, do seu próprio saber e da ferocidade com
que arrasavam os concorrentes, e, redprocamente, êstes àquêles.
Elevadas, assim, à categoria de espetáculos circenses, as de-
fesas de tese muito contribuiram para difundir o Positivismo, pois
numerosas foram as que se fizeram dentro dessa orientação, a
partir de 1850, perante as Congregações dos diversos estabeleci-
mentos de ensino do Rio de Janeiro.
Professor de matemática altamente apreciado pelos alunos da
Escola Politécnica de Paris, além de autor de um Tratado de
Geometria Analítica notável pela sua originalidade pedagógica e
clareza didática, ainda consagrou Augusto Comte à apreciação his-
tórico-filosófica da matemática todo o primeiro volume do Curso
de Filosofia Positiva. E, encerrando a sua carreira, publicou, em
1856, no primeiro tomo da "Slntese Subjetiva" o seu Sistema de
L6gica ou Tratado de Filosofia Matemática, onde expõe sob todos
os seus aspectos históricos, científicos e filosóficos, o cálculo aritmé-
tico e algébrico, a geometria preliminar, a trigonometria, a geo-
metria algébrica, a geometria diferencial e integral, o cálculo das
variações e a mecânica geral, constituindo êsse tomo, no dizer de
Euclides da Cunha, "o mais admirável livro do século XIX". (1)
Essas obras matemáticas de Comte, que se caracterizam pela
profundeza metodológica e pela elegante concatenação das matérias,
trazendo concepções inteiramente novas sôbre a indução e a de-
dução em matemática, sôbre a noção de espaço e sôbre a lógica
positiva, exerceram, pela sua clareza e superioridade pedagógica,
imensa atração sôbre os que se dedicavam, na segunda metade do
século XIX, ao ensino e ao estudo da matemática entre nós. :8 o
que passaremos a mostrar.
li
ros, ganha hoje esta referência, pois morreu pobre, entre enfer-
midades e dívidas. :8 a história simples de muitos precursores, e
nem seria contada sem a saudade de um jorna!ista que não soube
da morte de Trajano de Medeiros a tempo de acompanhá-lo ao
cemitério. Mas o Brasil continua. . . - como foi de voga dizer
há quatro anos. :e o que serve, e é o que anima".
Também frequentou a Escola Politécnica do Rio de Janeiro,
embora não se tenha diplomado, o positivista maranhense Antônio
dos Reis Carvalho, autor dos livros - "Feriados Nacionais", "A
Ditadura Republicana" e "Filosofia Primeira", além de vários
opúsculos versando temas científicos. Fêz também, autorizado por
Pierre Laffitte, a tradução do livro dêste 6Jtimo: Cálculo aritmé-
tico. Em 1898, em O Debate, jornal do Rio de Janeiro, fundado
pelo positivista maranhense Benedito Leite, publicou uma série de
artigos sob o título geral de "Através da ciência", e, desde então,
em diversos jornais estampou Ensaios Científicos, dissertações sôbrc
matemática, física e química, consideradas sob o prisma do Po-
sitivismo. Foi, durante muitos anos, crítico de arte do "Fon-Fon"
e colaborou em "O Globo" e no "Correio da Manhã", onde te-
nazmente combateu o integralismo, o nazismo e o fascismo.
Na primeira guerra mundial foi um dos fundadores da Liga
pelos Aliados, para cujo êxito muito concorreu ao lado de José
Veríssimo, Graça Aranha e Sá Viana. No decurso da segunda
guerra mundial destacou-se, entre os intelectuais brasileiros, pela
sua persistente campanha contra as ditaduras totalitárias.
Desde a mocidade até à sua morte em 13 de novembro de
1946, estêve sempre alerta na defesa dos seus ideais de justiça
social e liberdade espiritual. Contra a ditadura, de 1937 a 1945,
foi intransigente na luta. Quando o DIP impedia a publicação de
seus artigos, Reis Carvalho não vacilava: pobre, vivendo exclusi-
vamente dos seus vencimentos, editava-os em folhetos que distribuia
gratuitamente.
No govêrno Washington Luís, foi convidado para inspetor da
Alfândega de Santos. Declinou da comissão por entender que aí
a indisciplina e a desordem eram então as principais características.
Pediu carta branca para agir e como não lha dessem, não aceitou
o encargo.
Herdou-lhe, aprimorado, o talento literário, sua filha - a
poetiza Beatrix dos Reis Carvalho.
'Edison Passos, que tinha garbo em filiar-se ao Positivismo,
foi durante muitos anos Presidente do Clube de Engenharia, ha-
vendo realizado, como Secretário Geral de Viação e Obras da
Prefeitura do antigo Distrito Federal, importantes empreendimen-
tos, entre os quais se conta a abertura da Avenida Presidente Ge-
túlio Vargas, durante a eficiente administração de Henrique Dods-
worth.
NO RIO DE JANEIRO 265
III
No Colégio Pedro II, foram professôres entre outros positivis-
tas, o Dr. Antônio Carlos de Oliveira Guimarães, fundador da
primeira Sociedade Positivista do Brasil, Timóteo Pereira, Alfredo
Coelho Barreto, Rodolfo Paula Lopes, Agliberto Xavier, Pedro do
Couto e Hahnemann Guimarães.
Aluno interno do Colégio Pedro II (então Ginásio Nacional)
a partir de 1895, Vivaldo Coaracy pôde observar, durante seis anos,
o grU:i,'de número de professôres declaradamente positivistas que
imprimiam às suas aulas a orientação didática de Comte.
Um dêsses professôres era o catedrático de Matemática Ele-
mentar Tim6teo Pereira. "Lecionava, na seriação lógica, Aritméti-
ca no primeiro ano, Álgebra no segundo e Geometria e Trigonome-
tria no terceiro. Era homem taciturno e reservado. Fora J!i¼s aulas
266 HISTÓRIA DO POSITMSMO NO BRASIL
II
Grande foi a contribuição metodológica de Augusto Comte
em biologia e constituiu incontestável novidade. A5sinalou, de
fato, a necessidade de um estudo aprofundado do meio físico em
que se desenvolvem os diversos tipos de vida; esboçou as leis da
biologia estática ou biotomia, assim como as da biologia dinâmica
ou bionomia. A sua classificação dos sêres vivos, o seu estudo
biológico das funções do cérebro e das relações do físico com
o moral, ou seja a incessante interação entre a vida vegetativa
e a cerebral ou de relação, apresentam observações filos6ficas que
fundamente repercutiram no evolver da ciência biológica, influen-
ciando Claude Bernard e demais cientistas da segunda metade
do século XIX, entre os quais se salienta Mme. Curie, que, em
sua mocídade, entusiàsticamente se proclamava positivista.
Rlainville, o grande biologista do século XIX, costumava citar
Augusto Comte, em seus cursos, como uma autoridade na parte
atinente às idéias gerais em biologia, e Charles Robin, fisiologista
de renome, declarou haver inutilmente procurado, em biologia,
idéias fundamentais tão justas e luminosas quanto as de Augusto
Comte - "Fui forçado - acrescenta - a seguir passo a passo
Augusto Comte em meu trabalho [sôbre biologia]".
Conseguiu, por isto, Comte, entre os médicos e fisiologistas
- nota Paul Tannery - "adesões tão importantes pelo seu valor
quanto pelo seu número, exercendo, por suas idéias, pronunciada
influência sôbre o progresso da ciência biológica. Esta influência
transparece especialmente no espírito que durante longo tempo
animou a Société de Biologie, fundada em 1848, como salienta o Dr.
Gley em notável estudo inserto nos Anais Internacionais de Histó-
ria Comparada ( Congresso de Paris, 1900, História das Ciências).
Graças aos trabalhos dos sábios ilustres que fizeram a glória dessa
Sociedade, e que foram todos mais ou menos tocados pelo com-
tismo, a influência da Filosofia Positiva penetrou na Biologia tanto
quanto era necessário para assegurar-lhe um progresso decisivo sem
acabar por constrangê-la nos liames de uma fór_mula morta ...
"A concepção da vida sôbre uma base puramente química,
tal como Comte a apresentou (numa época em que a teoria ce-
lular ainda não existia) é, evidentemente, o ponto de partida da
que Le Dantec devia formular em nossos dias [ 1905].
"Talvez seja cabível indagar se, na sociologia do futuro, a
influência da obra de Augusto Comte ficará mais profundamente
marcada do que em biologia, ( 1º)
NO RIO DE JANEIRO 287
mais do que o seu dever, pois o aprovado não fui eu, mas meu
incomparável mestre Augusto Comte".
27) - Jaime de Oliveira: "Do parto provocado", Rio, 1916.
28) - João Francisco de Souza: "Teoria da Sensação", Rio,
1925. trabalho bem fundamentado e conscíendoso, de grande eru-
dição e profundidade, onde o autor desenvolve as vistas de Au-
gusto Comte e seus discípulos sôbre os sentidos da musculação, ca-
lorição e eletrição.
O Dr. João Francisco de Souza é neto do alienista do mesmo
nom..e, também positivista, que em 1881 publicou um opúsculo
sôhre a teoria da loucura segundo o Positivismo e ao qual me re-
feri no capítulo anterior. Entre muitas outras, o Dr. João Francis-
co de Souza tem publicado traduções de obras de Augusto Comte,
Pierre Laffitte e Audiffrent.
Ainda deve ser mencionado entre os médicos positivistas, além
de Lycurgo de Castro Santos, Polycarpo Viotti e outros, aos quais
me referi nos capítulos anteriores, o Dr. José Francisco da Cunha
Cruz que, em 1901, publicou um volume todo baseado na teoria
cerebral de Augusto Comte - "Medicina Psíquica". (1 2 )
Positivista entusiasta foi ainda o fundador da Universidade
do Paraná - Dr. Nilo Cairo, catedrático de Patologia Geral da
Faculdade de Medicina da mesma Universidade.
No prefácio da primeira edição de seus "Elementos de Fisio-
logia", escreveu êle:
"Aproximando-me o mais possível das lições deixadas, em
suas obras, pelo meu venerando Mestre Augusto Comte, adotei
mesmo o princípio do seu método subjetivo: é assim que, nas lo-
calizações cerebrais, procedi de acôrdo com as que êle nos indicou,
adaptando-as quanto pude às descobertas novas da ciência experi-
mental. Nestas lições, encontrar-se-ão ainda a concatenação nova
das diversas teorias fisiológicas, as suas teorias da fecundação e
das funções do grande simpático e várias outras, como a das leis
gerais da animalidade e a do funcionamento do sistema nervoso,
que os atuais livros em voga tão mal sabem apreciar, deixando em
quase completa obscuridade a solução de importantes problemas da
fisiologia. Pela primeira vez, em um tratado desta matéria, fixa-se
nltidamente o papel dos nervos tróficos e defende-se francamente
o número oito dos nossos sentidos, em vez 'dos cinco da antiga
sensibilidade e dos sete dos autores pusilânimes; aí se torna, enfim,
precisa, logicamente e filosoficamente, a concepção das funções do
tálamo ótico, e seus gânglios anexos, até hoje suspeitados, mas
desprezados pela ciência. Procurei o mais possível cimentar essas
teorias com os dados fornecidos pelas pesquisas experimentais". ( 13 )
No prefácio da primeira edição de seus Elementos de Patologia
Geral, declara ainda o Dr. Nilo Cairo:
NO RIO DE JANEIRO 293
IV
Na Escola de Belas Artes, onde lecionou Basílio de Maga-
lhães, podem ser citados, como tendo recebido larga e confessada
influência do Positivismo, Almeida Reis, Décio Vilares, Rodolfo
Amoedo, Eduardo Sá, Aurélio de Figueiredo, Manuel Madruga,
Francisco Baiardo, Newton Sá e Raimundo Cella. Da autoria de
Décio Vilares, além de vários quadros sôbre episódios da História
do Brasil, são o monumento erigido a Júlio de Castilhos em Pôrto
Alegre e a estátua de Benjamin Constant que hoje se acha no
Campo de Santana no Rio de Janeiro.
Almeida Reis, Eduardo Sá, Rodolfo Amoedo, Aurélio de Fi-
gueiredo e Manuel Madruga deixaram, assim como Décio Vilares,
telas de valor, sendo Eduardo Sá o autor dos monumentos a Flo-
riano e São Francisco de Assis erigidos no Rio de Janeiro.
NO RIO DE .JANEIRO 295
O POSITIVISMO E A REPÚBLICA
J'
CAPITULO PRIMEIRO
II
A partir de 1883 a indisciplina militar, sempre crescente,
tornou dia a dia mais precário o destino da monarquia.
Havendo, nesse ano, o jornalista Apulco de Castro atacado,
no "Corsário", alguns elementos da oficialidade do l.º Regimento
de Cavalaria, oficiais dêste e de outros corpos do exército deram-
lhe acintosamente o aviso de que iam matá-lo, "como um cão,
fôsse onde fôsse, a cacete, faca e bala".
Avisada a polícia, comunicou-se esta, diante da insólita gravida-
de do caso, com o Ajudante-General do Exército, Visconde da Gá-
vea, ficando combinado, como medida preventiva, mandar êste úl-
timo, em seu nome e autoridade, o seu ajudante de ordens acompa-
nhar, de carro, o jornalista ameaçado.
Tratando-se da primeira autoridade hierárquica do Exército,
parecia ser essa providência bastante para afastar de seu intento os
oficiais.
Ao passar, porém, a poucos passos da Chefatura de Polícia,
o carro conduzindo o oficial e o jornalista por êle protegido, foi
NA REPÚBLICA 307
Ili
II
Foram os seguintes os principais reflexos da influência po-
sitivista na República, decorrente da ação conjugada de Benjamin
Constant, Demétrio Ribeiro, Miguel Lemos, Teixeira Mendes e de
vários constituintes filiados, em graus diversos, ao sistema comtia-
no, entre os quais se destacavam, como vimos, líderes prestigiosos
como Júlio de Ca,çti/hos, RanRel Pc.çtana, João Pinheiro, Aníbal
Fakão, Barho,ça Lima, Lauro Sodré, Borges de Medeiros, Homero
Batista, Antiío de Faria, Moniz Freire, José Bevilaqua e Rodolfo
Miranda.
Historiando a adoção do presidencialismo no Brasil, Medeiros
e Albuquerque tece as seguintes considerações sôbre a ascendência
positivista na Constituinte Republicana.
"A Constituinte foi uma assembléia de calouros. A maioria
de seus membros entrava por aí na vida pública. Um grande
número dêlcs vinha dos quartéis: eram oficiais moços, que quase
todos se consideravam solidários com Benjamin Constant. Só havia
nessa assembléia um grupo realmente atfro e coerente, sabendo
mais ou menos o que queria: o grupo positivista. Embora pequeno,
pesou muito - e nefastamente - sôbre a Constituinte. A êle
aderiam em regra todos os militares, que se julgavam obrigados a
concordar com o positivismo, porque era a doutrina de Benjamin
Constant. A ignorância de quase todos sôbre as questões políticas
mais elementares chega a limites estupendos! Ora, o positivismo,
tendendo naturalmente para a ditadura, preferia o presidencialismo
ao regime parlamentar. Quando se lêem hoje os debates daquela
assembléia, vê-se bem que os próprios positivistas mais ilustrados
e que mais influência tiveram, ignoravam o mecanismo real do
NA lll!PÚBUCA 337
legal o que fêz foi manter a legislação de mão morta, ou seja a imo-
bilização dos bens da Igreja nas mãos do Estado.
II
III
anos, viúvas dos seus pastores, sem se atender ao clamor dos povos
e à ruína das almas; era o apoio oficial dado a abusos, que esta-
beleciam a ·abominação no lugar santo; era a opressão férrea a
pesar sôbrc os institutos religiosos, cflorcscência necessária da vida
cristã, vedando-se o noviciado, obstando-se à reforma, e espiando-se
baixamente o momento, em que expirasse o último frade, para se
pôr "mão viva" sôbre êsse sagrado patrimônio chamado de "mão
morta".
"Aí tendes a.e; pinceladas sombrias, com que nos definiram
êlcs, naquele regime, o doloroso estado da Igreja .
,
............................................ .......... .
"Sobreveio a República, e renovou a face da terra. Muitos
males, por certo, trouxe ela à Igreja de Cristo em nossa pátria;
mas lhe trouxe juntamente um bem, que superou todos os males:
foi a liberdade.
"Não mais, como se lê na Pastoral Coletiva de 1890, não
mais se hão de ver ministros de Estado, que deviam ocupar-se só
de negócios civis, ordenando ridiculamente aos Bispos, o cumpri-
mento dos cânones do Concílio de Trento, no provimento das pa-
róquias: proibindo-lhes a saída da diocese, sem licença do govêrno,
sob a pena de ser declarada a sé vacante, e proceder o govêrno à
nomeação de um sucessor; sujeitando à aprovação do govêrno os
compêndios de teologia, por que se há de estudar nos seminários;
revogando disposições dos estatutos de certos cabidos, e ordenan-
do-lhes pontual observância do Sagrado Concílio Tridentino ...
isentando os capelães militares da visita dos Prelados, e dando-lhes
o direito de usar solidéu e anel; proibindo às ordens regulares re-
ceberem noviços; autorizando os superiores regulares a licenciarem
os religiosos, para residirem seis meses fora dos seus conventos;
aprovando as resoluções capitulares dos frades Franciscanos; con-
cedendo o uso de cinta e borla encarnada aos cônegos do Pará,
ficando, daquela data em diante, mudada a côr de que usavam ...
Basta! Não veremos mais êste triste espetáculo.
"E à sombra da liberdade republicana, tanto prosperou a Igreja
no Brasil, que hoje nos deslumbra com o espetáculo dêste Concí-
lio, mais numeroso e magnificente que o de tôda a América Latina,
celebrado, há quarenta anos, na própria capital do catolicismo.
":8 que os nossos Arcebispados, dos quais, no advento da Re-
pública, não existia senão um, fundado havia mais· de dois séculos,
são hoje, decorrido apenas meio século, dezessete; os bispados, que
eram apenas onze, são agora, cinquenta e seis; as Prelazias e Pre-
feituras Apostólicas, enfim, de que não havia nenhuma, sobem
atualmente a vinte e cinco". ( 19 )
NA REPÚBLICA 359
II
No artigo XIX das "Bases de uma Constituição Política Di-
tatorial Federaliva para a República Brasileira" propôs o Aposto-
lado Positivista do Brasil:
"XIX - J:: garantído o livre exercício de tôdas as profissões,
quer morais, quer intelectuais, quer industriais".
:este dispositivo foi transplantado para a Constituição Federal
de 1891 nos seguintes têrmos do § 24 do artigo 72:
"§ 24 - J:: garantido o livre exercício de qualquer profissão,
moral, íntelectual e industrial".
A liberdade de profissões, sem restrição de qualquer natureza,
foi adotada na Constituição do Rio Grande do Sul, de autoria de
Jólio de Castilho e na do Espírito Santo, da lavra de Moniz Freire,
e foi nesses Estados praticada, o que deu lugar a grandes e apaixo-
nados debates corno se pode ver nos Anais do Congresso Federal
e em diversas publicações, dentre as quais cito as seguintes: A. de
Souza Pinto: "Es1udos Sociais e Jurídicos - Liberdade Profis-
.sional", Recife, 1896; João Galeão Carvalhal - "Parecer na Co-
missão de Constituição, Legislação e Justiça da Câmara dos Depu-
tados", em 13 de julho de 1899, sôbrc a indicação do Sr. Alfredo
Ellis, com referência à interpretação do § 24 do artigo 72, que
trata do exercício profissional, ( 5 ); André Werneck: "A Liberdade
individual e a liberdade profissional", discurso pronunciado na
sessão de 27 de setembro de 1900 da Assembléia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro; Bernardo de Campos: "Liberdade Pro-
fissional", Rio, 1905; Pacífico Pereira: "Reforma do Ensino Mé-
dico", Bahia, 1912; Reis Carvalho: "O Poder Judiciário e a Liber-
dade Profissional", Rio, 1913; Congresso Nacional "Liberdade
Profissional", discurso pronunciado pelo deputado Dr. J. F. Freire
de Carvalho, na sessão de 29 de setembro de 1913, Rio, 1913; "Li-
berdade Profissional - Sentença e Estudo" pelo juiz de direito de
Rio Nôvo, Minas, Wladimir do Nascimento Matta, publicada no
Jornal do Comércio de 28 de maio, e 3,4 e 6 de junho de 1916, e
reduzida a folheto por ordem da Câmara Municipal de Rio Nôvo,
Rio de Janeiro, 1916; Nilo Cairo: "Liberdade de Ensino e Liber-
dade Profissional", Curitiba, 1914.
Ainda em 1921 repercutiria a questão no Supremo Tribunal
Federal a propósito da Apelação Cível n. 0 3288, julgada em outu-
bro daquele ano.
364 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
III
Partindo do princípio de que a revolução era apenas contra
as instituições e não contra as pessoas, o primeiro cuidado de Ben-
jamin foi não só cercar, tanto quanto possível, de ·atenções a famí-
lia imperial, como ainda acautelar escrupulosamente seus bens e
propriedades.
Organizou para isso urna Comissão formada de~ssoas abso-
lutamente probas e de reconhecida dedicação à família imperial,
corno, entre outras, o General João de Souza da Fonseca Costa,
Visconde da Penha.
Foi ainda Benjamim um dos que se lembraram de conceder
o Govêrno Provisório, ao Imperador, a ajuda de custo de 5.000
contos a fim de estabelecer-se na Europa.
Essa ajuda de custo, corno se sabe, s6 deixou de ser dada,
porque se recusou o Imperador a aceítá-la, fazendo devolver, da
Europa, o cheque recebido, no Brasil, sem ciência sua, pelo Conde
d'Eu.
Na véspera da partida para Lisboa, onde faleceria pouco
depois, pediu a velha Imperatriz lhe fôsse permitido ouvir uma
missa na Capela Imperial, a última a que assistiria no Brasil.
Ao receber o pedido, deferiu-o imediatamente Benjamin, mas,
em atenção aos seus colegas de junta revolucionária, mandou con-
sultá-los a respeito, declarando não encontrar nenhum inconve-
niente em ser atendido.
Todos, porém, dêle discordaram.
Não é, pois, estranhável que o próprio Imperador se entriste-
cesse com a notícia da morte de Benjamin Constant, dizendo, no
depoimento de Tobias Monteiro, "havê-lo estimado e que era muito
boa criatura". (12)
Não é sem fundamento que, em 1936, a prop6sito do cen-
tenário de Pereira Passos, ao referir-se à brandura e cavalheirismo
com que foi tratada, pelos republicanos, a família imperial, escre-
veu Sampaio Correia:
"Essa, e outras atitudes semelhantes da nossa gente àquele
tempo, eu só a explico pela disciplina mental dos nossos homens,
que recebiam a influência direta ou indireta (grifo desta transcrição)
da Escola Positivista orientada por Miguel Lemos e Teixeira Mendes,
e das lições de Benjamin Constant.
"A essa disciplina muito deve o Brasil ter escapado à anarquia,
logo após a proclamação da República, quando predominavam no
ambiente político múltiplos fatôres de conflito e de confusão: mu-
dança radical de regime, com o desaparecimento da figura cen-
.,
NA REPÚBLICA 369
IV
Decisiva, em tôdas as medidas de inspiração positivista, ven-
tiladas na Constituinte, foi a atuação dos deputados do Rio Grande
do Sul liderados por Júlio de Castilhos, dos quais disse Aristides
Lobo que "constituiam uma constelação de talentos". ( 16 )
Vejamos, pois, como Borges de Medeiros em 1936, isto é,
..;iuarenta e cinco anos após a Constituinte, relcmbr~, no Congres-
so Nacional, o que foi a ação de Benjamin Const!rrít ao livrar-nos
do caudilhismo e o que representou a influência positivista na
organização da República:
"E os fatos posteriores encarregaram-se de confirmar as pré-
dicas de Benjamin Constant.
"Houve, é certo, nos primeiros tempos, o vago terror de que
a República proclamada em nome do Exército e da Armada, se
reduzisse afinal a um simulacro destinado a velar o despotismo da
fôrça em detrimento dos cidadãos e das liberdades públicas.
"Admitia-se que, contaminados os militares de ambições e
paixões políticas, relaxada a disciplina e enfraquecida a hierarquia,
pudéssemos retrogradar à era dos "pronunciamientos" com tôdas
suas nefastas consequências.
"Não estava ainda de todo extinto o caudilhismo militar na
América espanhola, onde várias repúblicas continuavam a viver
sob o flagelo permanente ou periódico de grosseiras ditaduras.
"tsse espetáculo havia necessàriamente de impressionar os
patriotas brasileiros e amigos da democracia.
"Afortunadamente o nosso quase meio século de vida repu-
blicana já dissipou de vez as vãs apreensões, que por vêzes assal-
tavam espíritos impressionáveis e visionários. Excetuados os dias
sombrios do golpe de estado de 3 de novembro de 1891, temos
vivido normalmente sob a égide da Constituição e a ação de go-
vernos regulares.
"Até hoje tivemos apenas três presidentes militares cujos go-
vernos só se diferenciaram dos governos civis pela diversidade das
situações históricas.
"Em todo o curso da nossa existência nacional s6 três vêzes
foi chamado o Exército Nacional a intervir e a decidir dos nossos
destinos políticos; em 7 de abril, 15 de novembro e 3 de outubro,
impondo a abdicação do primeiro imperador, proclamando a re-
pública e depondo o presidente em 1930.
"Mas, nesses grandes momentos, não fêz o.Exército mais do
que interpretar e satisfazer "as legítimas aspirações nacionais", in-
tervindo sempre em prol do povo e da liberdade ameaçada.
"Se, no passado monárquico, irrepreensível tinha sido sua
conduta, com mais forte razão sê-lo-ia no regime nôvo, que êle
próprio instituira.
NA REPÚBLICA 371
.
372 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
II
Ili
Ao ser baixado, em 30 de abril de 1930, o decreto que fa-
cultou o ensino religioso nas escolas oficiais, primeiro passo para
a preponderância política do clero católico que desde então co-
meçou a acentuar-se, a reação positivista não se fêz tardar, mani-
festando-se através de vários jornais do país. ( 13 )
~ ainda um eco dessa reação a seguinte carta do General
Manuel Rabello quando exercia o comando da 7.ª Região Militar,
conforme telegrama publicado pelo "Diário da Noite", de 21 de
julho de 1933:
"Recife, 21 (União) - Em data de ontem, os jornais pu-
blicaram a seguinte carta que o general Manuel_ Rabello, coman-
dante da 7.ª Região Militar, enviou, há dias, ao virtuoso frei José
Maria Casanova, provincial do Carmo :
"Acusando o recebimento do convite com que v. r. me honrou
para assistir aos festejos cultuais da padroeira desta cidade, a
Virgem do Carmo, cumpre-me cordialmente agradecer a distinção
que me foi conferida, o que implicitamente deve exprimir a justiça
NA REPÚBLICA 385
II
Foi s6 a partir de 1890, em com1equência das vivas refregas que
sustentara com Miguel Lemos e Teixeira Mendes, ou como observa
Miguel Reale, "ao sentir, na própria carne, a intolerância irromper
do bojo da idolatria científica, que Rui, o qual "buscava nas
ciências exatas e no "saber positivo" uma lição de relatividade e
tolerância, compreendeu a insuficiência de sua posição e a neces-
sidade de procurar outros caminhos". ( 4 )
Dura luta teve Rui de manter não só com o Apostolado Posi-
tivista, ma:o. com Demétrio, Caslilhos e outros adeptos de Comte
durante o Govê:-no 'i>rovisório e a Constituinte, sobretudo na
parte relativa à sua política financeira, acerbamente combatida
pelos positivistas. Por não concordar com ela, Demétrio deixou o
Govêrno Provisório. Mas, além dêsses motivos ainda concorre-
ram fortemente para levar Rui Barbosa a abjurar sua adesão aos pos-
tulados básicos do Positivismo, as necessidades eleitorais de sua
carreira política.
Quem atravessou a vida atormentado pelo partidarismo po-
lítico, e, depois de proclamada a República, pelo intenso desejo de
ocupar-lhe a Presidência, tendo como base eleitoral, a Bahia de
Antônio Conselheiro, podia dar-se ao luxo de dizer-se adepto do
Positivismo, mesmo apenas sob o prisma filosófico?
Já na eleição de 1884 para deputado geral fôra Rui derrotado,
por espalhar o clero baiano ser êle "um homem sem princípios e
sem religião, inimigo figadal da igreja e seus ministros, desprezador
de Deus e dá Virgem, o Anti-Cristo, enfim".
Apesar do grande prestígio do Senador Dantas, que o apoiara
e o tinha como filho, foi ainda Rui, por interferência do clero,
derrotado nas eleições de 1886 e 1888 realizadas na Bahia para
deputado geral. (ú)
Tr~ derrotas eleitorais, em sua própria terra, em quatro anos,
deviam constituir, para Rui, empolgado pela política, um aviso de-
cisivo.
Ainda em 1890, a sua eleição para a Constiruinte republicana,
apesar de sua posição de imenso relêvo no Govêrno Provisório,
sofrera as mais sérias restrições do eleitorado por dizerem os
seus adversários ser êle ateu.
Na sessão da Constituinte, de 26 de dezembro de 1890,
Jo1é Joaquim Seabra fêz questão de tornar bem claro haver votado
cohtra o artigo do projeto de Constituição de autoria de Rui, que
expulsava os jesuítas, porque, embora católico, em sua eleição para
RUI BARBOSA E O POSITIVISMO 393
III
CARACTERISTICAS DO APOSTOLADO
I) Positivismo e fanatismo. Importância da cor-
respondência de Augusto Comte na aplicação de
sua doutrina. Miguel Lemos e Teixeira Mendes:
traços marcantes de suas personalidades. li) Os
estatutos do Apostolado e sua feição monástica
em contradição com a sociedade Positivista fun-
dada por Augusto Com/e em Paris. Apreciações
de Euclides da Cunha e Oliveira Vianna. Ili)
O "Levítico Científico", uma nova infalibilidade c
uma nova inqui.vição. A "missa negra", a "clo-
tildolatria" e os cripto-positivistas.
II
lhes vem a voz, tão longe êles ficaram no território ideal de uma
utopia, no ·dualismo da positividade e do sonho". ( 5 )
Se tivesse aderido aos Estatutos do Apostolado, Benjamin Cons-
tant deveria ter tomado o compromisso de deixar as suas cátedras
de ensino na Escola Militar, na Escola de Marinha e na Escola
Politécnica. E, sem o seu ensino nessas cátedras, a influência de
Augusto Comte ter-se-ia feito sentir tão intensamente sôbre a ofi-
cialidade do Exército e da Marinha e sôbre numerosos engenheiros
dos últimos anos da monarquia? E teria Benjamin Consta,1t
adquirido o prestígio que o colocou em situação de se tornar o
fundador da República?
E se Demétrio Ribeiro, Júlio de Castilhos, João Pinheiro,
Barbosa Lima, Nelson de Vasconcellos, Borges de Medeiros, Lauro
Sodré, Moniz Freire, José Bevilaqua e tantos outros positivistas, em
graus diversos, tivessem adotado os Estatutos da Igreja Positivista,
teriam podido êles, como constituintes, assegurar a liberdade reli-
giosa, o arbitramento nos conflitos internacionais e demais prin-
cípios positivistas incluídos na Constituição de 1891?
Se Benjamin Constant não fôsse o prestigioso Ministro da
Guerra do Govêrno Provisório, teria sido por êste adotada em 19
de novembro de 1889, a bandeira ideada por Teixeira Mendes?
Em 1924, perguntei ao Dr. Bagueira Leal o que os positivistas
pensavam sôbre Borges de Medeiros. E a resposta foi que "o sr.
Teixeira Mendes o julgava um positivista que não cumpria com
os seus deveres, porquanto, se os cumprisse, deveria renunciar ao
pôsto de Governador do Rio Grande do Sul e entregar-se à propa-
ganda do Positivismo".
Mas, retruquei, "se o Dr. Borges de Medeiros tem aptidões
para ser um governador de Estado, e não possui vocação, nem
qualidades para ser propagandista do Positivismo, o que deve fa.
zer?" A resposta do Dr. Bagueira não se fêz esperar: "O Sr.
Teixeira Menles pensa que, então, êle prestaria maior serviço social
abandonando o Govêrno e recolhendo-se à vida privada".
Decorria dêste ponto de vista uma atitude de alheamento
à realidade brasileira, apreciada com agudeza por Oliveira Viana
ao dizer que "apesar de sua beleza estrutural e elevação de sua
moral, não se apresentava o Positivismo como uma doutrina de
que emanassem eflúvios de sedução. Dir-se-ia, ao contrário, car-
regado de eletricidade negativa: não atraía, repelia. Nos seus
dogmas, nos seus preceitos, nas suas regras, duras como tomentos
de linho bravo, havia qualquer coisa que recordâva os ásperos ci-
lícios monacais e os seus discípulos pareciam antes severos Ba-
tistas, vestidos de pele, de cajado profético, macerados pelas rudes
abstinências do deserto". (º)
Alguns adeptos do Apostolado apegam-se a uma carta de
Augusto Comte a Dix Hutton, onde o filósofo frisa que o sacer-
CARACTERfSTICAS DO APOSTOLADO 405
III
A propagação das doutrinas de Comte por Miguel Lemos e
Teixeira Mendes caracterizou-se pela preocupação da mais extrema
fidelidade aos ensinos do Mestre, não apenas no seu espírito, mas
na sua letra, fazendo dêles uma espécie de Bíblia.
406 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
O ATIVO DO APOSTOLADO
I) O Apostolado e a defesa de tôdas as formas
de liberdade. Sua preocupação com o proleta-
riado. Combate ao militarismo. Tasso Fragoso
e a influência positivi1ta no Exército. II) O
Serviço de Proteção aos Jndios: Teixeira Mendes,
Mário Barboza Carneiro, Rodolfo Miranda,
Rondon e seu estado maior positivista. O Apos-
tolado e nossos feitos de glória. Defesa da me-
mória de Pedro II. O Apostolado como fonte
de cultura geral. O Apostolado e a política
internacional. III) A teoria microbiana e a
questão da vacina obrigatória, Barata Ribeiro,
Joaquim Murtinho e Rui Barbosa tomam po-
siçüo idêntica à cio Apostolado. IV) O Apos-
tolado e a moralidade dos sem Deus. Depoimen-
10 do Padre Paulo Maria de Lecourieux sôbre
Teixeira Mendes. Como João do Rio viu a
Igreja Positivista.
li
llI
Mesmo quando o ponto de vista adotado pelo Apostolado
se revelou, na prática, infrutífero, ou foi comprometido por um
espírito de intransigente hostilidade contra as classes e as cor-
rentes de pensamento dominantes, não é de desprezar a contri-
buição que representou: em sua origem deparar-se-á sempre
uma preocupação social ou moral digna de respeito, como acon-
teceu no caso da obrigatoriedade da vacina, em que defendia,
assim como Ruí Barbosa, Barata Ribeiro, Joaquim Murtinho,
Barbosa Lima, Lauro Sodré e tantos outros, a liberdade de opi-
nião e a dignidade da pessoa humana, pois, como dizia Rui:
"nesse assunto só uma certeza existe: a de que o Estado exor-
bita de suas funções e perpetra um crime, ditando penalmente
sua leviana sentença".
A paixão tem impedido até hoje que se aprecie com sere-
nidade a interferência do Apostolado na questão da vacina e de
sua obrigatoriedade . Essa interferência foi, entretanto, legítima
e nada teve de condenável, como os adversários do Positivis-
mo propalam.
Sendo a Filosofia Positiva ainda muito recente no comêço
do nosso século, contrariava de modo chocante os hábitos men-
tais então estabelecidos, divulgando-se sôbre ela e seus adeptos
as mais disparatadas versões.
Nada, entretanto, menos estranhável, porque são sempre
mal recebidas pelos homens as verdades novas - "essas infeli-
zes forasteiras" - na expressão de Fontenelle.
Ao traçar o quadro dos costumes, ciências e artes do rei-
nado de Carlos I de Ingl aterra, conta Hume que descobrindo
Harvey a circulação do sangue , nenhum dos médicos do tempo.
cuja idade atingia aos quarenta anos, lhe aceitou nunca a irre-
fragável argumentação a respeito. Ao contrário, caiu em imen-
422 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
IV
Outro aspecto importante do Apostolado foi o alto nível de
moralidade de seus aderentes, os quais provaram, em sua vida
particular e pública, que homens sem temer o inferno, nem as-
pirar ao Paraíso, são, contuclo, capazes de competir, sob o as-
pecto da moralidade, com os mais ferventes adeptos das cren-
ças sobrenaturais.
Como Diógenes, que se limitava a andar diante dos sofis-
tas que negavam o movimento, provaram co°' a sua vida os po-
sitivistas do Apostolado que a moralidade, as virtudes pessoais
e cívicas não dependem de qualquer concepção extra-terrena, pois
foram, em suas vidas íntimas e em suas atitudes públicas, senão
mais, pelo menos tão bons e moralizados quanto os melhores
católicos de seu tempo.
Compreende-se assim que Joaquim Nabuco, haja dito, em
1897, no discurso com que comemorou o tricentenário da mor-
te de Anchieta:
":É, risível queixarmo-nos dos positivistas. A pequena Igreja
que vive entre n6s pela dedicação de dois homens [Miguel Lemos
e Teixeira Mendes] que sabem quanto devem à sua formação
católica, e que, na medida do temperamento nacional, seriam
mais que humanos, se não se deixassem fascinar pelo sucesso
que teve em nosso país a fantasia de sua mocidade, essa pe-
quena Igreja não tem a mais remota possibilidade de fazer vin-
gar no Brasil o seu apostolado matemático .
. . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .
"Não, n6s, os católicos, nada temos que temer do Positivis-
mo que já foi chamado um Catolicismo sem Deus ..•
"Não, senhores, não é o Positivismo que ameaça o princí-
pio religioso no Brasil, é o indiferentismo que está em nossos
corações; é a tibieza que está em nossos espíritos, é êsse aban-
dono das gerações futuras à sua sorte, qualquer que seja, grave
sintoma de atrofia nacional". ( 21 )
Concordava com Joaquim Nabuco o ilustrado Padre Paulo
Maria de Lecourieux, que faleceu como querido e conceitua-
do Vigário da Igreja de São Paulo Apóstolo em Copacabana.
O ATIVO DO APOSTOLADO 429
lósofo não fumava nem bebia excitantes, porque lhe faziam mal;
Miguel Lemos, doente como é, não se atira a êsses excessm; Tei-
xeira Mendes, um homem que reflete dezesseis horas a fio, não
se pode dar aos devaneios da fumaça!. . Não há proibições for-
ma is para o horrendo vício; há apenas mêdo ...
II
r
442 HIST61UA DO POSITIVISMO NO BRASIL
E, mais adiante:
"Ora, dêsse labor, surge, luzindo, o poema
De uma Religião humana e demonstrada,
De uma Moral austera e positiva e honrada,
De uma Sociedade honesta e previdente .
Guiada pelo Amor, debaixo do ascendente
Da Indústria, do Saber, das Artes e da Paz". ( 36 )
III
Também no Rio Grande do Sul repercutiria a poesia
científica.
DJmnsceno Vieira que, "em quase sessenta anos de vida,
teve mai3 de quarenta dedicados sem pausa a atividades literá-
rias" ( 38 ), tendo sido um dos colaboradores mais assíduos da
"Revis:a do Partenon", depois de dizer-se patidário das doutri-
nas de Comte, escreve, em "A Musa Moderna", publicada em
1885, em Pôrto Alegre:
r
II
III
Outra figura de primeira grandeza que não passaria ao largo
do movimento positivista foi Lima Barreto, o grande escritor ca-
rioca, fiel retratista de sua época.
Seu melhor biógrafo, Francisco de Assis Barbosa, situa o ano
de 1897 como aquêle em que Lima Barreto passou a freqüentar
460 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
II
Muitas vêzes os próprios opositores não só chamaram a aten-
ção para o Positivi5mo, como ainda conduziram a êle alguns de
seus leitores. Foi, por exemplo, o que ocorreu com o Almirante
Alfredo Colônia que teve a sua curiosidade voltada para o Po-
sitivismo principalmente ao ler o livro de Sílvio Romero -
Doutrina contra Doutrina - livro que o levou a procurar outras
obras através das quais se tornou um dos representantes do Po-
sitivismo em nossa Marinha de Guerra.
Para Araripe Júnior não constituiria surpresa que tal acon-
tecesse, pois assim se externou, em 28 de abril de 1894, através
de "A Semana":
"Livro concebido e executado em ódio a uma escola, a Dou-
trina contra Doutrina, do Dr. Sílvio Romero, traduz o tempera-
mento do autor com muito mais fidelidade do que todos os livros
até hoje por êle dados à estampa.
"O Dr. Sílvio Romero entende que o positivismo é um artifí-
cio da demonologia filosófica moderna; e, convencido de que a
humanidade, especialmente o povo brasileiro, só tem que perder
com a sua vitória, enchendo-se de furor sagrado contra os pro-
pagandistas daquela escola, agride-os com uma violência bem com-
parável à do autor do De Tribus impostoribus.
"O livro terá defeitos; mas não se lhe pode negar calor e elo-
qüência.
"A obra é extensa e promete desenvolver-se em sucessivos vo-
lumes, nos quais o crítico atacará a construção de Comte em todos
os seus redutos.
"O instrumento de que se serve, a espada com que pretende
cortar os nós górdios do humanitismo é forjada e afiada nas ofi-
cinas do mestre Spencer. Ao positivismo opõe êlc o evolucionis-
mo, para mostrar a inanidade da doutrina, não só nas suas apli-
cações, isto é, na política e na moral prática, mas também nos
seus fundamentos lógicos. Tarefa árdua, apesar dos trabalhos de
Stuart Mill, Littré e Huxley, não hesitou o crítico empreendê-la; e
começa analisando nesse primeiro livro, em três longos capítulos,
a razão fundamental do positivi5mo, a classificação das ciências e
a lei dos três estados. A ê5tes capítulos deverão seguir-se outros
sôbre as três filosofias de Comte, sôbre a política, a religião e a
ação pessoal do mestre e de Clotilde de Vaux. Finalmente, a obra
será encerrada com a história e a crítica do po5itivismo no Brasil.
sob o ponto de vista de sua influência no regime republicano.
470 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
r
REPERCUSSÕES NA LITERATURA BRASILEIRA 471
..:
472 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
III
IV
res. Tanto mais que é bem fácil abrir caminho aos bons pen-
samentos. São povos, disse eu uma vez, que a sorte irmanou
para sempre, obrigando-os a cair juntos de joelhos na adora-
ção de túmulos que ninguém pode distinguir. Cada metro da-
quele solo bebeu sangue de um avô nosso, ou guarda-lhe os res-
tos decompostos. Ninguém poderá jamais dizer se o guerreiro
que ali dorme é nosso ou dêles. Envolveu-os a fatalidade na
mesma mortalha de heroismo.
"Sendo certo que o desrespeito da fronteira uruguaia fôra
considerado casus belli pelo Paraguai; sendo certo que isso não
era quixotesca valentia de um intruso, e sim cumprimento de
tratados formais; sendo certo que o Paraguai ofereceu sua me-
diação no conflito - sumàriamente recusada pelo Império, como
podemos nós, republicanos da minha geração, em consciência
atirar tôda a culpa da guerra às costas do vencido?
"Amor da Pátria, que não tine como o ouro da verdade,
é moeda falsa do patriotismo. Não há, pois, nem retórica nem
sentimentalismo na voz dos que pedem aos chefes da nossa
democracia considerem o erro do passado, no mais puro de-
sejo de ver engrandecido o Brasil pela liberdade e pela justiça". ( 6 )
Contrapondo-se, por sua vez, a Roquette Pinto, diria Fer-
nando Magalhães em 23 de junho de 1928 ao receber o Barão de
Ramiz Galvão:
"mesmo a fase cruciante da guerra [do Paraguai], transfor-
mada pelo sectarismo mirrado em investida de imperialismo
algoz". (7)
II
...
REFLEXOS DO POSITIVISMO EM OUTROS SETORES 495
n
Luís Murat foi outro escritor de fins do século passado e
primeiras décadas do atual que aludia freqüentemente a Augusto
Comte, de quem tomou, para epígrafe de seu poema "Sara".
um trecho da dedicatória do Sistema de Política Positiva. ( 1 º)
Tal a atmosfera do século, que Augusto de Lima, colega
e amigo de Júlio de Castilhos na Faculdade de São Paulo e que
acabou devoto de São Francisco de Assis, revela, em seus pri-
meiros poemas, influência positivista, pelo menos relativamen-
te ao seu afastamento, por êsse tempo, em relação à teologia.
Eis, de fato, como, ao recebê-lo em 5 de dezembro de 1907,
na Academia Brasileira de Letras, se exprimiu a êsse respeito
Medeiros e Albuquerque:
"Vosso exemplo demonstra que é um engano o dos que pen-
sam que os descrentes em velhos mitos obsoletos têm de ser
forçosamente tristes. Bem ao contrário! :esses são os que não se
agarram covardemente a ilusões que já tão pouco iludem. :esses
por issso mesmo que sabem que os pobres, os fracos, os infe-
lizes, só aqui podem achar lenitivo para suas mágoas, descem
até êles para os consolar; descem até êles para afirmar a soli-
dariedade humana; descem até êles para lhes dizer as palavras
feitas de toques de clarins, que há em vossos versos:
"Da antiga divindade o grande assento
ruiu de há muito às lúcidas procelas.
Não procures mais deus no firmamento:
- o firmamento só contém estrêlas !" ( 11 )
III
Ao tratar do Positivismo em São Paulo, registei a influên-
cia da doutrina de Comte na formação de Martins Fontes.
Essa influência, exercida a princípio por seu Avô e seu Pai,
e, mais tarde, pelo Apostolado Positivista do Brasil, manifesta-
se, embora em estado latente, em tôda a sua multifária produção.
:e o que provam diversas passagens da conferência sôbre "A
Cavalaria", realizada em fevereiro de I 920:
"Augusto Comte - sempre que pronuncio êste nome, tenho
a impressão de que me inspiro na bondade de seu coração cí-
clico, na amplitude do seu saber enciclopédico ..•
"Augusto Comte inspirou-me esta conferência. Foi êle o pri-
meiro a dar à idade média o seu valor real.
"Como, na sua religião demonstrável, a mulher ocupa a su-
premacia, a cavalaria medieval, glorificando-a, não podia deixar
de empolgar, de apaixonar a alma heróica do maior dos filóso-
fos do poeta que viveu, perpétuamente, num surto de razão
abstrata, do divinizador da humanidade, o Grande Ser do nosso
culto ...
"No silêncio do gabinete, sem dormir, sem comer, há três
dias, um velho, absorto, tendo a terra tôda, a criação inteira no
saber que encerra seu crânio firmamental, sonha, resume, sinte-
tiza, ascende, pela seriação hierárquica, à estética: levanta o Tem-
plo da Humanidade.
"Quem és tu, Cavaleiro Filósofo, ó Pai do nosso espírito?
E, através das eras, como um eco perene, a voz do Grande
Ser: Augusto Comte!"
Em menino, fôra Martins Fontes discípulo do engenheiro
positivista Otávio Barbosa Carneiro, e, no Rio, quando estudan-
te de Medicina, colega de ano de Gambetta Perissé e Guilher-
me Milward, freqüentou as conferências de Teixeira Mendes no
Apostolado.
Compreende-se, assim, o entusiasmo com que nos últimos
meses de vida, se voltou para o Positivismo.
Em carta de 10 de março de 1937 êle escrevia ao autor
dêste ensaio:
"A Canção de Ariel está pronta. Na parte final é tôda ins-
pirada em Comte. Anunciai:á um livro inteiro sob sua claridade".
498 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
O Perfume na Flor
Imitação de Comte
(A João Francisco de Souza)
Anoitecer
Viver às claras
Cícero
IV
III
Positivismo
A verdade, meu amor, mora num poço,
S Pilatos, já na Bíblia, quem nos diz,
E também faleceu por ter pescoço
O autor da guilhotina de Paris.
A CONTRIBUIÇÃO DE RONDON
A CULTURA BRASILEIRA
O POSITIVISMO CONTINUA
31) - Vide Dr. Loms PASTOR: "Histolre des Papes depuis la fin du Mo)'e'I
Áge", ouvrage traduit de l'allemand par Furcy Raynaud, t. I, Paris,
Librarie Plon, 1925, avls du traducteur, pg. XXXIX.
32) - Vide NlCHOLAS MURREY BULER: "Divi.,ior1 o/ intercoure and edu-
cation", apud relatório anual da Fundação Carnegie, de 1934, dtado
por ANTÔNIO LEÃO VELLOSO no artigo "Lição Perdida" in Correio
da Manhã de 12 de junho de 1940.
33) Vide EDWARD McNALL BURNS: "História da Civilização Ocidental",
tradução de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e
Leonel Vallandro - 2.ª edição - 1.ª impressão revista e atualizada
de acôrdo com a 4.ª edição norte-americana de 1954. - volume II
- pg. 959. - Editôra Globo - Rio de Janeiro - Pôrto Alegre -
São Paulo, 1959.
34) - Vide GUILHERMO FERRERO, artigo in "The London Ilustrated News",
número de 16 de abril de 1927, pg. 688, apud MCQUILQUIN D"!•
0RAN0E: "Com/e a/ter seventy years", pgs. 76 e 77 de "The Po-
sivlst Year Boock", Paris, Les Presses Universitaires de France, 1929.
35) - Vide AUGUSTO CoMTE: "Lettres à Divers", t. II, pg. 93, Paris,
Fonds Typographique de l'Exécution Testamentaire d'Auguste Comte,
1905.
36) - Vide ALFRED EsPINAS: "Des Sociéth Animales", 3.ª edição, Paris,
Félix Alcan, 1924, Avertissement, pg. 2. Conf. G. DEHERME: "A,n:
Jeunes-Gens - Un Maitre; Auguste Comte - Une Direction:
Le Positivisme", pg. 47, Librairie-Bibliotheque Auguste Comte, Paris,
1921. A propósito da conspiração do silêncio em tôrno do Positivis-
mo, veja-se ainda RAMALHO ORTIGÃO: "Notas de Viagem", pg. 4S,
Rio, Tipografia da Gazeta de Notícias, 1879.
37) - Vide A. CoMTE: "Sys/eme de Politique Positive", t. IV, pgs. 453,
467, 468 el passim.
38) - Vide JEAN DEVOLVÉ: "R'flexions sur la pensée comtienne", pgs. VI e
VII, Paris, Alcan, 1939.
39) MICHEL UTA: "La T/iéorie du savoir dan.s la philosophie d'Auguste
Comte", pg. 59, Paris, Alcan, 1928.
40) - ÜTTO MARIA CARPEAUX: "Notas sôbre o destino do Positivismo",
i,r "Rumo", ano I, vol. I, 1943, pg. 16.
41) - Idem, ibidem, pg. 12.
42) - Vide Padre HENRI DE LuBAC, S. J,: "Le Drame de l'humanisme
a1l11!e", pgs. 275 da 4.ª ed., ~ditions Spes, Paris, 1950.
43) - Vide A. CoMTE: "Systeme de Politique Positive", vol. IV, pg. 377.
44) - EVAlllSTO DE MOllAES FILHO: "Augusto Comte e o pensamento so-
ciológico contemporâneo", pg, 14, Rio, Livraria São José, 1957.
4S) Vide HAllRY E. BARNES e HOWARD BECKEll: "História dei pensamien-
to social", trad. de Vicente Herrero, vol. I, México, 1945, pg. 560.
46) - Vide TOCARY Assis BASTOS: "Posições Metodo/6gicas em Sociologia",
i11 "Revista Brasiliense", n. 0 21, Janeiro-Fevereiro de 1959, pg. 126.
47) - Vide JEAN LAc1to1x: tlogC' du Positivisme", "in "Espril", n.O 3 (1956),
apud TOCARY BASTOS, /. cit., pg. 127.
48) - Vide RoGER DAVAL: "Histoire des ld,!es en France", Paris, Presses
Universitaires de France, 1953, pgs. 87-88.
49) - Vide LÉON EMERY: "De Comte à Marx", in "Le Contrai Social",
revue historique et critique des faits et des idées, Institui d'Histoire
Sociale, Paris, julho de 1957, pgs. 142, 147 e 148.
50) - Vide A. COMTE: "Lettres et Fragments de Lettres", pg. 197, edição
do Centro Positivista de São Paulo, 1926.
Sl) - Vide MAXIME LEROY: "Histoire des Idi!es Sociales en France", t. III,
"D'Aug11ste Comte à P. /. Proudhon", PS. 236, da 5.ª ed., Paris, Li·
brairie Gallimard, 1954.
52) - Vide o preâmbulo da Carta das Nações l,;nidas e Estatuto da Cõrte
de Justiça, resultante da Conferência de São Francisco.
572 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
I
Cartas de Antônio Carlos d'Oliveira Guimarães, fundador da primeira So-
;ie<lade Positivista do Brasil, a Pierre Laffitte.
II
Cartas de Miguel Lemos a Pierre Laffitte.
Ili
Cartas de Pierre Laffitte a Miguel Lemos.
IV
C::rta de Raimundo Teixeira Mendes a Pierre Laffitte.
V
Cartas de Benjamin Constant a Pierre Laffítte.
VI
Carta de Pierre Laffitte a Benjamin Constant.
VII
Cartas do Dr. Joaquim Ribeiro de Mendonça a Pierre Laffitte e Robinet
VIII
Sémérie: "La Conq11ite d11 Mlcrobe".
IX
Programa de Filosofia e Lógica do Colégio Pedro II, enquanto era professor
Agliberto Xavier.
X
Bibliografia Positivista.
J'
i
CARTAS DE ANTONIO CARLOS D'OLIVEIRA GUIMARÃES,
FUNDADOR DA PRIMEIRA SOCIEDADE POSITIVISTA DO BRASIL,
A PIERRE LAFFITTE
M. Pierre Laffitte.
Je vous ai écrit l'année derniere, et je vous ai remis aussi une premiere
de change de 200 frs. Je vous remets maintenant la seconde de change de li;
même valeur, en supposant que vous n'ayez pas reçu la premiere.
Je suis tres malr.Je, et je suis forcé d'aller respirer l'air des montagnes,
d'ou je ne sais pas si je reviendrai, et bien portant!.
578 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
Mr. P. Laffitte.
Rio-Janeiro - Todos os Sanctos - 23 Novembro 1877.
Rua Getulio n. 0 2 B
Je m'habillais le jour 21, lorsque ma femme entre dans la êhambre avec
une lettre de l'Europe et me dit: "c'est naturellement de Mr. Laf!iffe"
En effet, ouvrant la lettre et voyant votre signature, je sentis une émotion
si forte, que je pleurai. ·
Je vous remercie beaucoup des expressions affectueuses que vous
m'adressez et des offres que vous me faites dans votre lettre. Je les acceptt•
avec plaisir et bonheur!
: Je vous remettrai, le mois prochain, ma part du subside de cette annéa
Mon médecin me promet que dans 40 jours je serai rétabli, s'il ne survient
quelque accident.
' Alors, Mr., je pourrai m'épancher avec vous.
APÊNDICE 519
Mon líbraire n'a pas encare reçu les circulaires et les autres publication,,
dont vous me parlez dans vottre lettre.
Ne remarquez pas la lettre, parce que• je tremble encare.
Veuillez, Mr., acccpter les protestationsl de ma profonde reconnaissance.
Antonio Carlos d'Oliveira Guimarães
Professor de Matemática elementar.
II
CARTAS DE MIGUEL LEMOS A PIERRE LAFFITTE
Paris, le 23 Dante 91 (le 7 Ao(lt 1879)
Mon cher Maitre
J e vous écris pour vous consulter sur une affaire, dont la solution ne
peut attendre votre retour à Paris.
Vous savez que j'avais fait, avec mon ami M. Mendes, une traduction
de la Géométrie Analytique d'A. Comte, qu'un libraire de Rio, à qui nous
avions cédé gratuitement notre travail, devait faire imprimer à Paris, mai,
jusqu'à présent il n'avait pu réaliser son projet. Ce retard me donna h
temps d'y réfléchir de maniere à me faire voir l'avantage qu'il y aurait à
faire simplement une nouvelle édition française, ce qui profiterait à tout
le monde, au lieu de publier notre traduction, qui ne s'addressait qu'à
un public restreint. Em conséquence j'avais écrit dernierement à ce même
libraire, lui proposant cette modification du projet primitif. li vient de me
répondre en acceptant ma proposition et en me chargeant de mener à bonnc
fin l'cntreprise.
L'édition accordée au libraire de Rio n'excéderait pas 2.000 exemplaires.
Si vous ne voyez aucun inconvénient à cette publication, je vous prie dl'
me le faire savoir, afin de commencer les premieres démarches.
Veuillez agréer, mon cher Maitre, l'assurance de ma profonde vénération.
Votre disciple reconnaissant
Miguel Lemos
8 Rue des !coles.
pressait j'ai pris alors lâ résolution de remettre au Dr. Dubuisson mon article,
en !e priant de vouloir bien vous envoyer les épreuves typographiques. Je
crois qu'ainsi on ne perdra pas un moment et vous pourrez en méme temps
prendre connaissance de mon travai! et indiquer les modifications qu'il y
aurait Iieu d'y faire, avant qu'il soit livré au public.
Nous avons su avec grand plaisir que votre santé est tout à fait rétablíe,
et nous attendons avec impatience votre retour à Paris.
Votre disciple dl':voué
Miguel Lemos
(8 Rue des :8<:oles).
de ses répugnances, et des . rapports plus smv1s et intimes lui inspirerent fi-
nalement pour moi une véritable affection maternelle.
Si le sort de mon coeur restait ainsi assuré, ma situation personnelle
devint bientôt plus dificile. Mon peu de fortune m'obligeait d'attcndre la
fín de mes études et l'obtention d'un emploi quelconque, pour pouvoir réa•
liser mon mariage. J'attendis ainsi quatre années. Au bout de la quatrieme
eut lieu l'incident à la suite duquel je fus exclu de l'~cole Polytechnique
pour deux ans.
Alors ma situation s'aggrava de plus en plus. Mes convictions républi,
caines me faisaient un scrupule de ne pas accepter un emploi public, ce qui
dans un pays fortement centralisé et ou le gouvernement fait tout restreignait
beaucoup la possibilité pour moi de trouver quelque occupation. J'essayais
alors du journalisme et de l'enseignement privé. En même temps, sur l'ins-
piration de Ia lecture du Cours de Philosophie Positive, je pensais à suivre
les cours de la Faculté de Médecine, afin de compléter mon iniciation scien-
tifique.
Mais la caísse du journal se montrait toujours peu communicative quand
j'y passais prendre mes appointements et le directeur du college ou j'enseignais~
voulant m'obliger à enseigner d'apres son intérêt et non pas d'apres mon pro-
gramme, je reconnus alors toute la gravité de ma situation. Je me voyais
dans l'impossibilité de gagner ma vie à cause de ma cohérence politique et
philosophique: je désespérais l'avenir. Mon caractere commença à
s'aigrir, les compensations que ie trouvais dans le tendre dévouement de
ma fiancée ne faisaient qu'augmenter mes inquiétudes, car s'était surtout
pour elle que je craignais cette impossibilité. C'est alors que son dévouement
!ui inspira de me faire accepter I'offre que mon pere me faisat depuis mon
exclusion de !'~cole Polytechnique, de venir achever mes études en Europe.
Elle sut m'inspirer le couragc nécessaire pour quitter Rio ct sut me convain-
cre que je devais faire ce voyage, non seulement à cause eles avantages qtti
en résulteraient pour mon avenir matériel, mais surtout parce qu'un te!
changement de milieu serait un remêcle salutairc contre la modification mé-
lancolique qu'éprouvait mon caractere dans dcs luttes stériles. A ujourcl"hui
quand j'y pense, je m'étonne moi-mêmc de mon courage, et certes, il fallait
que ma situation à Rio fut bicn intolérable et nos espérances bien grandes
pour nous être résignés à cette séparation, apres quatre ans cl'un commerce
affectueux de tous les jours! Mais, d'un autre côté, je bénirai toujours la
sainte inspiration de ma compagne, car je lui dois ma conversion à la
religion de l'Humanité!
Je m'embarquai donc le 3 octobre 1877, et j'arrivai à Paris à la fin
du même mois. Mais le sort ne devait pas m'être plus favorable ici qu'ailleurs.
Peu de temps aprês mon installation dans la grande ville, lorsque je venais de
recevoir toutcs les autorisations nécessaires pour prendrc mes inscriptions à
l'~cole de Médecine, une nouvelle terrible vint me surprendre. Mon pere
avait perdu tous ses biens, à la suite de revers éprouvés par son banquier,
et son corrcspondant français m'annonça qu'il ne pouvait plus continucr à me
servir la pension habituelle. Je me vis donc à Paris sans ressources, n'y
connaissant presque personne et sous l'impression pénible du malheur arrivé
à mon pere. Heureusement mon ami Mendes qui était venu en-Europe en
même temps que moí, m'aida de ses faibles ressources et partagea avec une
rare abnégation ma misere inattendue.
J'ai connu alors, pour la premiere fois, le besoin; mais je bénis au-
jourd'hui ces épreuves. Elles provoquerent en moi de salutaires réactions,
en me portant à réfléchir sur le peu de cas que j'avais fait jusqu'alors des
venus économiques et sur le désordre que j'avais toujours dans mes dé-
penses. II en résulta pour moi l'acquisition de qualités que je n'avais pas
cultivées encore: je suis devenu un homme tres réglé, ami de l'ordre et
donnant plus d'importance à l'emploi du capital humain. Mais il faut dire
aussi que ces transformations furent puissamment aidées par une adhésion
croissante aux dernieres conceptions d'Auguste Comte.
APÊNDIC~ 583
Je m'en vais donc chez moí, sans savoir au juste ce que je pourrai y
faire. Sans doute, je ne suis plus, grãce au positivisme, ce farouche dé·
mocrnte qui en voulait à toutes les monarchies, surtout à celle de mon pay<1,
mais destiné par mes dispositions théoriques et par mon tempérament d'apó-
tre à intervenir souvent dans Ies discussions publiques qui puissent intéresser
!'lºn pays et la doctrine que je sers, je dois me conserver toujours dans une
JUste indépemlance du monde officiel. Cette condition va devenir formelle
d'aprês ma consécration comme aspirant au sacerdoce de l'Humanité.
Quoi qu'il en soit, j'espere ne pas mourir de faim et pouvoir offrir
Plus ou moins prochainement à ma future épouse Ie bonheur domestique,
en échange de tout ce que je lui dois.
584 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
affiche
Traduction française
Protestation centre le projet de créer une Université au Brésil
Les soussignés considérant:
1.º - Q,1e les universités de l'!;tat, npres avoir été les foyers de la liberté
spirituelle quand le catholicisme devint oppresseur, sont devenues à
leur tour des institutions rn décadence et un des plus grands obsta-
eles à toute libre tentative de réorganisation spirituelle.
2.º - Que la création d'une telle institution dans notre pays ne répono
à aucun besoin réel, mais seulement au patriotisme mal éclairé d'un
certain nombre de citoyens qui poussent ainsi à l'imitation d'orga-
nisations vieillies et centre lesquelles protesteut depuis longtemps teus
les esprits émancipés du vieux monde;
3.º - Que le Brésil possede un nombre d'écoles supérieures plus que suffi-
sant pour pourvoir aux besoins professionnels et que la création d'une
Université n'aurait d'autre résultat que de donner plus d'exten~.ion aux
déplorables prétentions pédantocratiques de notre bourgeoisie, laquelle
abandonne les autres professions, également utíles et honorables, pour
ne se préoccuper que de l'acquisition d'un diplôme quelconque:
4.º - Considérant, en outre, qu'une telle institution ne peut intéresser en
rien, comme on a voulu le faire croire, la gloire du regne de Dom
Pedro II, leque!, au contraire, ne peut prétendre à la gratitude de son
successeur qu'en dirigeant les destins de notre patrie d'apres les vraies
tendances de notre époque et non pas en les sacrifiant à la satisfaction
d'une vanité indigne de la haute responsabilité de sa fonction;
APÊNDICE 587
cimetieres. J'ai cru la chose opportune et j'ai donné mon approbation 'IU
projet de M. Mendes, qui attendra pour le réaliser la rentrée prochaine des
Chambres ou bien leur dissolution probablc.
J'ai chargé aussi M. Mendes d'écrire une série de trois ou quatre articles
à propos d'un mémoire qu'un de nos docteurs vient de publier en trois
langues (portugais, latin et français) et ou il propose une modification du
calendrier ayant pour but la suppression des années bisscxtiles. II profitern
de l'occasion pour exposer d'apres vous la théorie positive du calendrier en
général et du calendrier positiviste en particulier. A ce propos je dois vous
dire que le rédacteur en chef du journal lc plus répandu de Rio et qui nous
est tres sympathique, m'a offert d'ouvrir dans son journal une se<:tion pour
toutes les fois que nous jugerions utile d' avo ir recours à la presse
pour faire connaitre notre maniere de voir sur une question locale. J'a1
accepté cette offre dont j'userai avec le plus de prudence possible et sans
donner à notre intervention sous cette forme un caractere périodique qui
nous entrainerait imensiblement dans le journalisme.
Je compte faire dans mois trois conférences sur la révolution fran-
çaise; je compléterai ainsi mon appréciation de la tentative de Turgot.
En dehors de ces conférences je pense à un cours regulier d'histoire gé-
nérale: je me tâte pour voir si je pourrai oser une telle entreprise. En tout
cas je vous indique cette idée pour savoir votre sentiment là-dessus.
Depuis mon arrivée la Société Positiviste se réunit régulierement et au
complet tous les dimanches à midi. Nous causons sur les questions du jour
et nous lisons Auguste Comte.
Tout nous sourit, les sympathies sont presque universelles et presque
tous le jours on reçoit ou on prépare une nouvelle adhésion. 11 est seule-
ment regrettable que le chef nominal du Positivisme au Brésil soit si loin de
Rio et dans l'impossibilité, malgré sa bonne volonté, de donner une direction
quelconque à notre action. D'un autre côté il faut avouer que ce n'est pas
três constit11tionnel l'initiative que ie prends, sous ma responsabilité et avec
l'assentiment unanime de mes confrêres, des mesures que je crois utiles;
car officielleme,zt je ne suis qu'un simple membre de la Société comme les
autres. Mais nous ne pouvons rester sans un chef réel, sous peine de ne rien
faire et j'ai pris sur moi, pressé par les circonstances et profitant de l'influen-
ce que me donne le 1•• degré du sacerdoce, de diriger nos forces. C'est
une situation qu'il faudra régulariser et sur laquelle j'appelle votre attention.
Je n'ai rien obtenu encore quant à ma position matérielle. Je ne trou-
verais de facilités pour me faire une position que dans le moncle officiel
qui me doit rester fermé tant que je serai à la tête du mouvement positiviste.
Cette situation est trcs pénible, mais i'attendrai encorc un peu. Les gens
actifs ne veulent pas m'employer car ils se méfient d'un ex-lettré qui veut
dcvenir employé, et les idéologues ne veulent pas de moi pour la raison
contraíre. li faudra bien cependant que je finisse par trouver quelque
chose.
J'attends avec impatience votre portrait.
Salut et Respect
Miguel Lemos
(Travessa do Desterro, 47)
ele d'une incohérence quelconque. Si, par exemple, les dernfüres divisions
qui ont malheureusement éclaté, en France et en Angleterre, au sein de
l'~glise Positivistc, se fussent produites ici, la murche du Positivisme eflt été
retardée pendant de longues années. Ces déchirements intestins auraicnt
éclaté ici comme la foudre en plein jour, tandis Que là-bas en Europe ils
n'ont guere été connus que des initiés.
Sans doute, ie suis entiêrement de votre avis sur les ménagements exigés
par mon âge et par le simple grade d'aspirant: aussi ie me suis efforcé
toujours de ne pas les oublier, car ie sentis immédiatement cette double
difficulté de ma situation, surtout celle qui dérivait de mon âge. Mais,
d'un autre côté, la situation que je viens de décrire rendait indispensable
l'avénement d'un chef, directcur ou guide quelconque, autour duque! 1e ral-
liement pflt se faire. On sentit, et je sentis moi-même, que tout m'indiquait
pour ce rôle. D'abord j'arrivais du foyer normal du Positivi~me ou votre
Au10rité m'avait consacré comme digne d'aspirer au sacerdoce; mes rapports
personnels avec le groupe parisien me rendaient comme l'élément transmetteur
de la tradition positiviste. Ensuite, la plupart de nos confreres, je dirais, la
totalité de nos confreres, ne possédait pas assez la doctrine pour diriger
la propagande et surtout pour en appliquer les solutions à notre milieu.
Cette derniere opération exigeait en outre certaines conditions de caractere,
surtout une suffisante combinaison de courage et de prudence. M. Mendes,
par exemple, le seu! qui commençait à posséder suffisamment la doctrine, et
dont vous connaissez l'intelligence remarquable, laissait beaucoup à désirer
à ce dernier point de vue. Les plus âgés d'entre nous, en dehors de leur
préparation, occupaient des fonctions officielles; ils n'avaient ni assez d'in,
dépendance, ni assez de loisir pour se mettre à la tête de notre groupe. De
son côté, M. Mendonça comprit aussitõt qu'il ne pourrait plus être titulaire
d'une fonction qu'il ne remplissait pas, et avec un sentiment tres digne d'éloge,
alia au devant des désirs de tous et résigna entre mes mains la présidence
de la Société Positiviste. JI y avait en outre, une circonstance qui rendai!
M. Mendonça incompatible, c'était sa qualité de patricien agricole brésilien.
c'est-à-dire, possesseur d'un certain nombre d'esclaves. En dehors des in-
convénients purement moraux d'une telle situation, comment pourrait-il offrir
des garanties d'impartialité dans la grave question - la question sociale
du Brésil -, c'est-à-dire !e problerne du remplacement du travai! esclave par
le travai! libre?
Tout m'indiquait donc, même ma pauvreté absolue, comme Je chef
naturel des Positivistes au Brésil, malgré ma jeunesse. C'est parce que j'en
étais fcrmcment convaincu que j'acceptai, apres mure réflexion, la. succession
de M. Mendonça.
En l'acceptant, je savais tres bien que la divulgation du Positivismc serait
désormais le seu! but de ma vie. Mais je vis aussitôt que pour agir il fallait
une discipline et une organisation, conditions sans lesquelles la périodci
active ou nous allions entrcr deviendrait funeste au Positivisme. La situation
pousscrait elle-même néccssairement à établir l'ascendant spontané du chef.
En effet, c'est ce qui est arrivé.
Nous étions une vingtaine, au début de ma direction, nous sommes au-
jourd'hui cinqu1nte. Ces adhésions ont toutes les origines: profc~.scurs,
fonctionnaires publics, commerçants, médecins, ingéneurs, étudiants, etc. Tous
acceptent franchement, sans arriere-pensée, leur subordination envers moi
et tous y voient la condition indispensable de notre succes.
Si au Iieu de cette subordination néccssaire, chaque individu füt entie-
rement libre d'agir et de parler au nom du Positívismc, nous aurions bientôt
la dívagation la plus, déplorable. Au lieu de cela, l'activité coordonnée de
notre groupe a déjà conquis un point capital, qui n'est pas encore acquis en
Europe: il n'y a plus à Rio des gens qui se disent positivistes, sans l'être
completement. Personnc n'ose plus se considérer positiviste, s'il ne fait pas
partie de notre organisation, ce qui n'empêche pas que le mouvement de
594 HISTÓRIA DO POSITMSMO NO BRASIL
P. Scriptum - Parmi les divers sujets dont je voulais vous entretenir dans
cette lettre, j'avais pris note du discours de M. Beesley, publié dans les
derniers n.Os de la Revue Occidentale. Mais comme cette lettre devenait
excessivement longue j'avais ajourné cette question pour une autre fois. Un
fait qui est venu confirmer ma prévision sur l'effet de ce discours, m'oblige
à vous en dire quelques mots, au risque d'allonger encare cette lettre.
596 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
011 moms positiviste, comme il y a dcs lignes plus ou moins droites, mais de
même que la ligne droite est une chose bien définie et précise de même le
positiviste est un type bien caractérisé et précis.
L'autre point du discours de M. Beeslcy qui nous a suggéré quelques
objection quoiquc moins capital, est encore d'une grande importance pour
nous. Je veux parler des considérations qu'il a présentées à propos de notre
culte public. li n'est pas difficile de voir que la plupart des précautions
qu'il prend à ce sujet, lui sont dictées par les conditions du milieu anglais
et par les réclamations de M. Congreve - deux circonstances trop spécbles
pour devoir déterminer la même maniere de voir dans le pays ou la popu-
lation n'est pas protestante et ou l'on n'est pas préoccupé directement :le
faire revenir les adhérents de M. Congreve dans le giron de l'l::glise.
Tout le monde est d'accord, d'apres vos sages recommandation, que
l'institution de notre culte public, doit être pours-uivie avec une extrême
réserve dont vous donncz le précieux exemple, mais cela veut-il dire que
nous ne ferons rien dans cette direction et surtout que nous ne profiterons
pas des éléments existants dans les diverses populations de l'occident? Dans
nos populations méridionales, par exemple, qui aiment les fêtes, les discours
éloquents, la poésie, la musique, mettons-nous de côté ces moyens précieux
de propagande? lei, les fêtes, les beaux discours, etc. ne sont pas le privilege
de J'église catholique; cela est passé dans les moeurs, c'est populaire et la"ique.
Nous mettons à profit ces dispositions pour propager notre doctrine. Les
fêtes de Camoens, de Turgot, de Calderón, célébrées chez nous, wnt là pour
démontrer les bons résultats de cette excellente politique.
Je crois qu'une propagande qui ne profiterait sagement (comme a fait
du reste le catholicisme) de ces dispositions propres à chague pays, pour
Jes faire servir au triomphe de la nouvelle religion, ferait une faute grave.
On d ira: mais il faut procéder avec une extrême prudence; 5.ans dou te,
peut-on diriger à un dep.ré quelconque un mouvement de cet ordre sans pru-
dence? C'est une qualité préalablc que doivent avoir ceux qui sont à la tête du
mouvement.
Tels sont, mon cher Maitre, les objections et les doutes soulevés dan1
notre esprit par la lecture du discours de M. Beesley, et que je vous expose
loyalemcnt comme c'cst mon devoir.
Quand nous eumes lu ce discours, nous nous sommes dit que les faux
positivistes allaient nager dans la joie et profiter des armes que leur fournis-
sait notre digne confrere de Londres, Notre prévision vient de se réaliser
11 a paru hier dans un journal de Rio (O Cruzeiro) un article anony-
me (l ).
Dans cette article on s'appuie sur les discours de M. Beesley pour nier
avec quclque vraisemblance, la nécessité d'une organisation positiviste et pout
mettre de côté, jusqu'à nouvel ordre le systcme politique et religieux d'Au-
11:uste Comte, l'adhésion devant se borncr à la philosophie positive. On y
fait l'éloge de M. Littré, commc le plus éminent propagateur du positivisme,
011 déclare que les vrais chefs du Positivisme sont M. Barreto, au Brésil,
M. Braga, au Portugal, M.M. Beesley et Bridges en Angleterre et... M.
Laffitte, en France, comme chef suprêmel.. . L'auteur de l'article, comme
toujours., se pose en homme pratique, fait appel au bon sens et insinue que
nous sommes (la société positiviste de Rio) des exaltés qui compromeltons par
notre imprudence l'avenir du Positivisme. Sans doute je ne nie pas que ce
soit plus pratique de vouloir être riche, député, etc., qu'on montre plus de
bon sens en voulant comme nous disons chez nous, allumer un cíerge à Die!.I
et un autre au Diable, et surtout que c'est beaucoup plus prudent d'accepter
le positivisme de maniere à ce qu'on ne devienne incompatible avec toutes
les ambitions temporelles et spirituelles, en même temps.
( 1) D faut que vous sachiez qu'ici tous les journaux ont une section l la dlll-
position du public, ou l'on écrit en payant tant par article.
598 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
(Traduction)
S. Paulo, le 10 Aout 1881
Cher Monsieur G. Furtado
Je vous remets inclus le tableau des positivistes ortodoxes de S. Paulo
et avec leur assentiment je vous prie de vouloir bien, dans votre qualité de
membre du centre Positiviste de Rio, l'envoyer à notre digne chef et Pré-
sident du même groupe, pour que celui-ci veuille nommer parmi ceux qui y
sont in!\Crits un délégué afin de constituer dans cette ville un "noyau positi-
viste" filial du Centre de Rio, capable d'initier les travaux de divulgation et
de cathéchcse avec la régularité inseparable du régime de la nouvelle Eglise
Votre dévoué
José Leão.
Voir !e tableau ci-joint.
Tableau des positivistes rcligieux habitant la ville de S. Paulo
Dr. Carlos Mariano Galvam Bueno - (l)
Jo.•I Leão Ferreira Souto - (2)
Francisco Paulino de Almeida Albuquerque (3)
Dr. Leopoldo de Bulhõcs Jardim - (4)
Antônio Fontoura Xavier - (5)
Manoel lgnacio Carvalho de Mendonça Júnior - (6)
Antônio da Silva Jardim - (7)
(1) - agé de 49 ans - marié - Professeur à la Faculté de Droit.
(2) - " " 31 " garçon - employé d'administration.
,. n n
(3) - " " 31 "
(4) " 28 " marié - Professeur et avocat.
(5) " 23 " garçon - étudiant en droit.
(6)
(7)
" 22 "
" 21 "
.
n
.
tt
.
H
soit exclu par votre propre autorité de toute participation au subside po-
sitiviste.
C'est pour moi une condition capitale et j'ai fait savoir à M. Alvaro
que j'allais faire cette démarche aupres. de vous. On a offensé en moi
l'aspirant au sacerdoce institué par Auguste Comte, le chef reconnu du
Positivisme au Brésil, de maniere que l'offense s'étend à vous qui m'av•!z
consacré comme aspirant et reconnu comme chef brésílien, et à Auguste Comte
lui-même fondateur de notre "Êglise. Nos armes sont toutes spirituellt)s
mais il faut savoír y recourir pour faire respecter la digníté de nos fonctions.
La mesure que je dem2nde a des précédents dans le Positivisme. Si ma
mémoire n'est pas en défaut, je crois qu'Auguste Comte l'a apliquée le premier,
mais vous-même l'avez prise dernierement envers M. Sémérie.
La conduite blessante de M. Alvaro a déterminé de la part de nos
confreres brésiliens une m, nifestation qui les honore beaucoup. Ils m'ont
adressé une chalereuse adhésion à ma conduite et ont réprouvé énergique-
ment celle de M. Alvaro. Je vous envoie ci-jointe une traduction de cette
adresse.
Je ne regrette pas M. Alvaro, sinon d'une maniere générale, comme
on doit regretter toute perte quelconque. Mais il etait plutôt un obstack
car sa conduite n'étant pas en harmonie avec nos principes, la solidarit-5
qui nous unissait à !ui, rendait souvent embarrassante notre situation devant
certaines interrogatiom,. Je vous le répete, ici le Positivisme est en plein
jour et on est à même de connaitre tous les actes de notre vie privée et
publique. M. Alvaro, par son orgueil intrail'1ble, par ses prétentions ridicules
était un grand empêchement à l'unité positiviste et une source de continuelles
critiques et oppositions.
Ce qu'il y a à regretter le plus dans la retraite de M. Alvaro, c'est
qu'il a réussi, apres quelque hésitations, à entrJiner M. Benjamin Constant,
son ami intime et, comme !ui, professeur officiel.
Mais ici le cas est tres différent. M. Benjamin est un parfait gentlemon,
il joint une intelligence élevée à une nature affective de haute valeur. 'ia
grande lacune est du côté du caractere; tres ferroe quand il s'est décidé une
fois, il e~t néanmoins Ires facile à se laísser entrainer quand on agit sur son
coeur. li connait Je Posítivisme moins encore peut-être que M. Alv~ro, mai~
il l'avoue toujours loyalernent et c'est l'homme le plus modeste, le plus dénué
de prétention que je connaisse.
Cependant, malgré l'excellence de son coeur, la fatalité de sa situatio:1
officielle, aggravée encore par la faiblesse de son caractere ne pouvait pas
détermincr chez !ui une adhésion complete à notre action publique. li d
déclaré même (!u'en politique, et sourtout en mathém~tiques qu'il enseigne, :l
a de graves díssentiments avec les opinions d'Auguste Comte. li suffira d,.
vous dire qu'il n'accepte pas la Synthese Suhjective.
Un autre travers de son esprit, et celui-ci est trop grave pour une
personne qui se dit positiviste, c'est qu'il croit na'ivement que la mielleurc
maniere de faire triompher le Posítivisme c'est de faire p:tsser nos doctrine,
dam, les programmes officiels d'enseignement. li méconnnit ainsi le théoreme
fondamental de notre politique et tombe dans une contr.tdiction formelle,
car se disant sectaire d'une doctrine qui proclame l'entiere liberté spirituelle,
la cessa tion de tout privilege théorique et l'incompétence de l'~tat sur ces
matieres, il commence par conseiller au gouvernement d'imposer cette doc-
trine.
Dans ses cours de mathématiques il n'a jamais cessé, tout à l'opposé de
M. Alvaro, de rendre homm1ge au génie d'Auguste Comte et de proclamer
toujours son nom. Mais son exposition se borne toujours aus généralité5
philosophiques contenues d1ns la partie mathém1tique du Co11rs de Phi!osophie
Positive, quoiqu'il n'ait jamais caché son adhésion au systeme politique et
religieux, Mais il déclarait loyalement que cette adhésion était de pure con-
fíance, car il ne connaissait pas l'ensemble de la doctrine.
APÊNDICE 603
Vous voyez donc qu'il s'agit d'un homme tres différent de M. Alvaro.
Mais l'un et l'autre ne pourront pas échapper, quoiqu'à des degrés diffé-
rcnts à la grave responsabilité d'avoir laissé la mystification littréiste s'emparer
des jeunes intelligences, sans lui opposer l'exposition de la vraie doctrine.
II fallut a.ttendre la transformation de ces mêmes jeunes gens pour que le
Positivisme complel fut connu de notre public.
M. Benjamin Constant avait d'abord accepté l'idée de mon subside, mais
la retraite de M. Alvaro étant survenue quelques jours apri':s, celui-ci réussit à
l'ébranler. Enfin, j'ai reçu avant-hier une lettre de lui dans laquelle, avec
sa courtoisie habituelle, il me déclarait ne pouvoir plus continuer à faire
partie de la Société Positiviste.
Dans M. Benjamin il y a à regretter le concours de son excellente nature
morale, mais il faut bien le dire, lui et M. Alvaro, à cause de leurs préjugés
de classe, et des inconvénients de leur situation officielle, créaient plutôt
des difficultés à l'action positiviste. Ils avaient peur de tout et la plu~
petite manifestation les effrayait. Chez M. Benjamin cela affectait des formes
douces et polies, mais M. Alvaro se répandait en critiques malveillantes. Te
viens même d'apprendre que celui-ci, apres sa retraite de la Société Posi-
tiviste, répand les plus viles calomnies sur mon compte. Ce procédé est
digne de lui, mais, heureusement il n'aura aucun effet sur un public qui me
connait assez bien. Du reste il a soin de s'épancher à voix basse.
Ainsi la seule personne qui avait refusé son concours à mon subside,
n'a été suivie que par son ami intime, qui n'a pas su résister à cette in-
fluence. Tous les autres confreres, depuis S. Paulo jusqu'au Maranhão, ont
accepté avec empressement la proposition d'augmenter leurs contributions
d'une cotisation applicable à mon entretien.
Je vous prie, afin de défaire une fois pour toutes les sophismes malveil-
lants, de vouloir bien déclarer dans votre prochaine circulaire:
1.º que vous approuvez mon subside personnel, comme aspirant au sacerdoce
et comme chef brésilien;
2.0 que ce subside doit être considéré une partie du subside sacerdotal préa,
lablement désignée pour être appliquée à cette fin.
3.0 que M. Alvaro de Oliveira, vu sa conduite blessante envers le Di-
recteur du Positivisme au Brésil, est exclu par vous de toute contribution .iu
subside sacerdotal.
Je crois que vous ne devez pas hésiter: le Positivisme au Brésil est déj1't
une affaire considérable el celui qui a réussi à être accepté comme chef par
ses confreres mérite d'être soutenu énergiquement par vous. Je sais tres
bien que j'ai contre moi la présomption d'imprudence qui résulte de mon
âge, mais je crois avoir déjà donné assez de preuves du contraire pour mé~
riter votre entiere confiance. Du reste il n'y a ici qu'un chef reconnu et
qu'un groupe positiviste et du moment que la totalité de roes confreres
est avcc moi, vous ne pouvez pas balancer. La marche du Positivisme au
Brésil dépend de J'approbation entiere de ma conduite dans cette affaire.
C'est cette approbation que j'attends de votre haute justice.
J'ai tout sacrifié à ma mission apostolique et il serait bien malheureux
que des gens qui ne se distinguent que par un égoi'sme hautain et qui passent
leur vie à s'occuper de soi et de leurs families, eussent raison contre moi.
J'aurais pu, j'ose le dire, aspirer aux plus hautes positions sociales et po-
litiques de mon pays; j'ai renoncé à tout, pour me consacrer entierement i
l'oeuvre de la régénération humaine.
C'est donc avec une pleine confiance que ie m'adresse au second Grand
Prêtre de l'Humanité, au successeur d'Auguste Comte, pour qu'il défende en
ma personne la dignilé des fonctions spirituelles.
Salut et Respect
Miguel Lemos
(Travessa do Ouvidor n.o 7)
Lettre de M. Alvaro de Oliveira, em réponse à la circulaire instituant un
subside pour le Directeur du Positivisme au Brésil
604 HISTÓRIA 00 POSITIVISMO NO BRASIL
(Traduction)
Rio, le 22 Bichat 93 (le 24 Décembre 1881)
Monsieur et Confrere
Seulement !lUjourd'hui je puis ré}'londre à votre lettre--circulaire du 3
de ce mois, reçuc le 6.
Ce retllrd résulte de la gravité du sujet. Je ne voulais. pas que ma ré-
ponse fut affectée de la surprise que me causa cette circula ire.
Apres. mure réflexion, j'ai cru devoir me borner à vous déclarer: que
je ne considere pas un devoir, comme vous le supposez:, de contribuer pour
le subside dont s'occupe votre circulaire.
Et ce n'est pas tout: cette nouvelle divergence me conduit à réaliser le
projet, conçu depuis quelque temps, de ne plus faire partie de la Société
Positiviste de Rio de Janeiro.
Salut et Frnternité
Alvaro Joaquim de Oliveira
P. S. Je n'ai jamais reçu votre délégation pour mon mariage, ni la. lettr,:
que vous avez dü adresser en même temps. Si vous avez gardé une copie
de la délégation et de la lettre, pourriez-vous m'en envoyer une repro-
duction?
2•P. S. Afin d'éviter les difficultés d'un ajournement M. Mendes m'a pro-
posé le moyen que vous trouverez dans la demande ci-jointe. La cérémonie
catholique de son màriage doit avoir lieu le 24 avril prochain.
Nous soussignés prions M. Miguel Lemos, aspirant au sacerdoce de
l'Humanité, directeur provisoire du Positivisme au Brésil et président per-
pétuel de la sociétó posítiviste de Rio, de présenter à M. Pierre Laffitte,
second Grand-Prêtre de l'Humanité et successeur d'Auguste Comte la deman-
de suivante:
APÊNDICE 607
1.0 - Quelle est volre op1IUon sur la tbéorie de l'atomicité, dont M. Wurtz
s'est fait l'apôtre en Francc.
2. - Cette thforie pcut-elle fournir la base de la classification chimique.
0
Je vous prie de ne P"-S oublier d'ajouter aux renseignements que vous m'avez
promis sur certaines destinations, l'indication précise des empêchements au
mariage.
Pour ajouter aux questions de chimie: quel est votre jugement sur
Gerhardt? Partagez-,·ous sur lui l'opinion de M. Sabatier dans sa brochure
sur l'organisation des écoles communales?
APtNDICB 619
et exige une prudencê extrême, et c'est là son principal avantage sur l'action
temporelle, nécessairement absolue, Dans le cas spécial de M. Araujo, ~i
jamais il demandai! à faire partie du sacerdoce, il y aurait lieu alors de le
soumettre à un examen spécial pour porter un jugement définitif. Jusque là,
je ne crois pas qu'il y ait lieu de refuser la participation modeste mais tri::i,
utile à notre oeuvre d'enseignement scientifique: utile pour )e positivisme
et utile pour l'amélioration morale de celui qui l'accomplit. La distance
a pu probablement exagérer l'importance de la chose. Mais, en outre, d'une
maniere générale, il faut insistcr le plus que l'on peut, sur les recmblanccs
en éliminant autant que possible, les dissidences. Cette communication est
au fond confidentielle, sauf les communications personnel!es à faire avec pru-
dence quant à l'explication des faits sur lesquels vous m'avez interrogé.
Je vous félicite maintenant de tout mon coeur de l'activité et du dévoue-
ment que vous mettez dans la propagande du positivisme au Brésil; vous
aurez inévitahlement des luttes à wurenir, mais mon estime et ma sympathie
de même que celle de tous nos confreres vous seront un appuí dans les
luttes inévitahles qu'entraine une si grande chose que l'installation de la re•
ligion finale.
Je vous enverrai bientôt une délégation spéciale pour conférer les divers
sacrements sauf celui relatif à la destination sacerdotale. ou plutôt pour tous
les. sacrements préliminaires iusqu'au mariage inclusivement.
Bien à vous,
Pierre Laffitte
capital; et nous ne devons pas oublier que la science est la ba.~e inébranlable
de notre religion.
Je vous félicite de nouveau de votre admirable initiative dans le mouve-
ment brésilien; j'insisterai là-dessus dans ma prochaine circulaire.
Salut et fra ternité
Pierre Laffitte
10 rue Monsieur le Prince
P.S. J'ai reçu vos diverses publications, dont je vous remercie,
Je vous suis tr~ reconnaissant des amitiés dont vous ave,. chargé M.
Marcondes pour moi. M. Oscar d'Araujo porteur de la présente vous
témoignera combien je prise haut les conseils éclaírés que vous m'avez
adressés. M. d'Araujo est chargé par moi de vous díre confidentiellement
ma pensée sur tout ce qui a trait à mes projets et aux éleves que j'ai envoyés
à Paris. II sera en quelque sorte !e ministre de la répuhlique aupres du
nouveau pouvoir spirituel.
Veuillez donc le considérer comme te! et avoir recours à son intermé-
diaire pour me faire parvenir toutes les indications qui vous sembleront pouvoir
aider au cléveloppement de notre doctrine au Brésíl.
Croyez mon cher Maitre à mes sentiments de la plus haute considéralion
et de la plus profonde vénération.
Salul et fraternité.
Benjamin Constant Botelho de Magalhães.
Ce!:> réflexions s'appliquent l!llrtout aux abus que plusíeurs positivistes ont fait
du mot dic1amre, dont on a tant abusé aussi contre le posilívisme lui-même.
Auguste Comte pr,..clame, en effrt, wuvent la nécessité du régime dicta-
torial: m11is qu'entend-il par là7 li faut le reconnaitre ses vues maoquent
peut,être de précision. Mais Ies applications qu'il en a faites, et la con-
ceptíon qu'il a toujours établie de la nécessité, avec la dictature, de la Ji.
berté comp!Me de discussion el d'exposition, et de la surveillance d'une as•
semblée financiire élue qui peut refuser le budget, permettent de mieux
préciser Ia théorie de Comte et de la dégager du caracthe trop absolu qu'on
a voulu lui donner. Du reste, grâce à la lutte que depuis 1870 nous sou-
tenons en Frnnce pour l'établissement d'une république à la fois organique et
progressive, nous avons acquis une expérience qui manquait à Auguste Comte;
et enfin, sans manquer au respect que nous devons au grand génie du Maitrn
eette expérienee a pu nous conduire à des observations historiques qui lui
ont fait défaut .
.En premier lieu, Auguste Comte ne donne nullement au mot dietature
!e sens de pouvoir personnel absolu qu'on lui attribue; car il appelle Louis
XVIII le meilleur des dictateurs quí aient surgi en France depuis Danton,
et Louis Philippe le plus imparfait. Par conséquent le mot dictature désígne
ehez lui la prépondérance du Gouvernement sur les Assemblées, prépondérance
qui se caractérise surtout par l'initiative; et, en second líeu, la concentration
en une personne de cette action directrice gouvernementale. Certes on peut
discuter sur ces idées et les combattre mais ont-elles quelque chose dont
puissent s'effrayer les partisans sinceres d'une réelle liberté? Du reste, un
exemple caractéristique va éclaircir ma pensée.
L'Angleterre a réalisé ce régime, de Robert Walpole jusqu'à nos jours,
et c'est pour cela que le régime parlementaire a pu faire en Angleterre de si
grandes chores et placer si haut ce grand pays. Au fond, l'Angleterre a été
pendant cette période gouvemée par une série de dictateurs; car le Parlement
subissait toujours la direction du premier ministre et la subit encore, jusqu'à
ce que Ie dictateur provisoiTe ne se trouve plus en rapport avec l'opinion
publique. Robert Walpolc a ie crois, gouverné l'Angleterre pendant 21 ans;
William Pitt a présidé aussi pendant un grand nombre d'années à ses desti-
nées; mais il n'e~ jamais tombé dans la tête des sages hommes d'fl:tat de
I'Angleterre de vouloir se dispenser de la direction politique d'un chef unique,
et de confier la direction des affaires à une asscmblée sans responsabilité,
dont l'incohérence ne peut cesser que par la subordination à un ministêrc
ferme et présidé. Telle est la vraie conception de la. dictature. On peut dis-
cuter sans aucun doute sur la part proportionnelle de la chambre et du
gouvernement; et pour mon compte je suis de ceux qui pensent qu'il faut
faire três grande celle d u gouvernement; mais qu'y a-t·il là d'effrayant · ~t
d'opressif?
S'il m'est permis de me citer, c'est cette conception que j'ai chcr-
ché à appliquer dans mon intervention philosophique dans des affaires de
mon pays. C'ef.t pour cela que j'ai constamment appuyé ta prépondérance
de Gambetta et, apres sa mort, celle de M. Julles Fcrry, non pas que j'approu-
vasse tous leurs actes, mais parce qu'ils me paraissaient être au mieux des in-
térêts du pays et les plus capable~ de diriger les destinées de la France. J'admet-
tais du reste, fort bien, que je pouvaís me tromper, n'ayant jamais cru à mon
infaillibilité. Je n'admets pas le ridicule ineffable de me transformer en un
Grégoire VII in par1ibus excommuniant les peuples et les rois. li fa.ut laisser
cela aux gens, qui, n'ayant pas assez de talent pour être journalistes, veulent en
avoir néanmoins le plus alléchant privilege, celui de prononcer irrévocablement
sur toutes les questions, principalement sur celles qu'ils ne connaissent pas.
Au reste, Monsieur, vous et vos collegues, vous n'avez fait au fond
qu'apliquer cette maniere saze et raiêonnable de concevoir la dictature, et
permetlez-moi de vous en faire tous mes compliments. Vous avez, à vos
risques et périls, pris l'initiative de l'établissement au Brésil d'une république
vraíment opportune; et je dis à vos périls, car si vous avez ménagé les
632 HISTÓRIA DO l'OSITMSMO NO BRASIL
.,
VII
--
634 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
Réservée
à Mr. Pierre Laffitte
Chef et Directeur du Positivisme
Jacarehy 3 Cesar 90 (25 Avril 1878)
Monsieur,
Lorsqu'un catholique a commis un péché, il se confesse à un prêtre
de sa religion; un positiviste doit, je suis convaincu, régler sa vie, d'apr~s
les avis des prêtres de la Religion de l'Humanité, dont vous êtes le chef,
librernent accepté. C'est pourquoi je vous prie de donner votre avis sur
un point particulier de la vie de mon arni Mr. J.
II faut que je vous donne l'histoire de sa familie afin que votre
avis soit sur.
Son grand-p~re est mort je ne sais pas de quelle maladie, mais je
ne sais bien qu'elle n'a été une maladie héréditaire. Sa grande-m~re est
morte d'apres ses parents, à l'âge fort avancé, de Elephantiasis Greco-
636 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
Salut et fratemité
Votre disciple
Dr. J. R. Mendonça
À M. Pierre Laffitte
Chef et Directeur du Positivisme
Jacarehy 9 Shakespeare 90· (18 Septembre 1878)
II y a quelques jours j'ai pris la liberté de vous annoncer mon ma-
riage, que j'ose confirmer en cas de ma participation ne pas avoir pri,
la juste direction. Je désirais bien avoir reçu le sacrement du mariage
de vos mains, au Iieu de l'avoir reçu d'un prêtre catholique. Malgré
cela je persévérai dans le Positivisme; je me suis marié dans le Catholi-
cisme parce que les lois du Brézil reconnaissent seulement le mariage ca-
tholique Je vous envoie á cette date une copie de I'acte de la pre-
miere séance d'une Association que nous avons créée à Rio de Janeiro.
Elle n'est pas encore bien basée vue qu'elle est encore à org::niser de-
finitivement, c'est à peine une ébauche du premier effort qui, j'cspere,
ne sera pas inutilisé. En exécution de I'articlc 3º"'º, je vous remeis jointe
à la présente, une lettre de change de Ia somme de mille cent soixante
un francs (1161 frs) pour que vous ayez la bonté d'acheter des livres
selon la détermination du même article décrit dans la copie qu'avec cette
Iettre doit vous parvenir et faire encaisser et les diriger, ainsi que !e con-
naissement pour les retirer de Douane, à Mr. le Dr. Alvaro Joaquim de
Oliveira, rue de Sto Amaro 33 à Rio de Janeiro.
Nous avons eu l'idée d'établir des enseignements publics et gratuits
mais l'état actuel de notre Association ne comporte pas.
Nos confreres, le Dr. Benjamin Constant et !e Dr .• Alvaro de Oli-
veira, m'ont demandé de vous prier de donner des éclairci~sements sur
un cours de Arithmétique et de Physique. Le Dr. Benjamin Constant a été
prié de faire un cours de Arithmétique positive et il a répondu qu'il
peut enseigner toutes les parties de la Mathématique, moins l'Arithmé-
tique, qu'il considere la plus difficile. Le Dr. Alvaro espere obtenir la
chaire de Physique dans l'&ole Polytechnique.
Je vous demande excuse et pardon en même temps, excuse de vous
faire de la peine avec ces exigences, et pardon de ne pouvoir vous
faire quelques petites considérations sur le développement de notre doctri-
ne dans !e Brezil qu'il me semble doivent vous intéresser. Aussitôt que
APÊNDICE 637
7,m• - Que les sommes traitées dans l'article précédent resteront à char-
ge d'un tré~orier à qui 1e Directeur donnera les instructions néce~llaires.
s•m• -·-· Que les associés présents ct représentés dans cette séancc con-
tractent 1c compromis solemnel d'tcrirc drs articles qui commcnceront à
être publiés dans les journaux au plus tard jusqu'au mois d'Archimêd-.:
(Mars ct Avril) de l'année prochainc pour rropager le positivisme, con-
sacrant surtout à montrer !'aptitude de cette Doctrine pour éduqner et
moraliser la société.
9•m• - Que les nouveaux associés contracteront touiours qu'il sera po,-
sible le compromis de propagande par les journaux.
10•••• - Que ces articles seront soumis à l'approbation de deux con-
fréres avant d'être publié,, afin de garantir la parfaite solidarité de;
autres membres de l'Associatíon avec les opinions émises par l'auteur.
Jt•m• - Que l'auteur remette à chaque associé un exemplaire du Jour-
nal dans leque! il aura publié quelqucs-uns de ses écrits.
12•m• - Que pour être admis associé il est indispensable la présentatioo
par trois associés et l'approbation du Directeur.
13•m• - Que le Directeur convoquera une séancc par lettres ou circulaire
dirigées aux associés en Jeur marquant iour, heure et endroit, et en les
informant des affaires à traiter.
Il est choisi Directeur le Dr. J. Mendonça et celui-ci dé~igne pour la
charge de trésorier le Dr. Alvaro de Oliveira et pour celle de biblio-
thécaire le Dr. Benjamin Constant. Moí Oscar Araujo, sécrétaire, j'écris
le présent acte qui a été par moi sigoé, et par tous les associés présents.
Directeur
Dr. Joaquim Ribeiro de Mendonça
Trésorier
Dr. Alvaro Joaquim de Oliveira
Bibliothécaire
Dr. Benjamin Constant Botelho de Magalhães
Secrétaire
Oscar Araujo
À Monsieur P. Laffitte
Chef et Directeur du Pos,itivisme.
Jacarehy, le 1 Cesar 91 (23 a vril 1879)
J'ai reçu votre aimable et importante lettre du 13 A.ristotele 91 (10
Mars 1879) que je vous réponds, profitant J'occasion de vous présen-
ter mon ami M. Leon Simon. Né dans la religion Juda:ique il commence
soo iniciation dans la Religion de l'Humanité.
M. le Dr. Alvaro de Oliveira a déjà reçu la caísse des livres que
vous avez bíen voulu lui envoyer.
J'espere ardcmment la copie de votre cours d'arithmétique et je vous
demande la permissíon de la traduire et la faire publier.
Si vous croyez que le foyer brésilien est tres important et régulier,
vous vous tro,npez. Nous avons posé fermement les bases de l'Associatíon po-
sitivíste de Rio de Janeiro, célébré au 5 Septembre la commémoration d'
Auguste Comte; mais nous n 'avons fait rien au 1•• Janvier, nous ne fe-
APÊNDICE 639
Á M. P. Laffitte
Directeur du Positivisme et vrai successeur d'Auguste Comte.
S. José dos Campos 21 Homere 94 (Aristophane) 18 Février 1882.
Cher Maitre
J'ai reçu votre aimable lettre de 8 Dante 93. Le désir de vous an-
noncer la publication du travai! de mon oncle sur !e Fétichisme, et les
maladies de ma femme et des mes enfants ont retardé jusqu'aujourd'hui
la réponse que je vow. devais. J'ai demandé à notre confrere M. Lemos
APÊNDICE 64!
M. Pierre Laffitte
Suprême Chef et Directeur du Positivisme.
lei joint je vous envoie un article que i'ai publié dans la "Provín-
cia de S. Paulo" en votre défense contre le mauvais disciple M. Lemos.
Je vous envoye en portugais parce que je ne connais bien le français
pour faire une bonne traduction, mais v-0us pouvez demander à M. Oscar
de Araujo ou à quelque autre de faire la traduction,
Agréez le respect et la vénération de votre disciple bien devoué
Dr. J. R. Mendonça
-1
642 msTÓRJA DO P0SITMSM0 NO BRASIL
- ---------
644 HISTÓRIA DO POSITMSMO NO BRASIL
vous reçue? N'avez-vous pas pubhé la Circulaire de 1887? J'ai reçu une
duplicata de Ia Circulairc de 1886. mais je n'ai pas encore reçu celle de
1887. Pouvez-vous me donner l'opinion de l'école poiitiviste sur l'hypn<>-
tisme? je ne sais pas ce qu'on doit penser quand on voit des hommes
tels que Charco! et Luys défendrc l'hvpnotisme. J>ouvez-vous me donncr
des formules pour prêter le serment devant le tribunal du jury'! J'ai été
dejà ohligé de faire un serment devant l'autorité. Voilà comment je le
fis: Je jure devant l'Humanité de dire la vérité et de juger d'apres la jus-
tice. C'est bien fait? Pardonnez-moi, cher Maltre, de prendre votre pré-
cieux temps avec ces petites choses.
Agréez, monsieur, les respects de votre disciple bien dévoué
Dr. J. R. Mendonça
VICHY
WALLON, IMPRIMEUR
1883
LA CONQUtTE DU MICROBE
Par le Docteur E. Sémérie
Lorsque sur la terre, enfin refroidie, les animaux apparurent, long-
temps la question resta indécise de savoir auquel d'entre eux appartien-
drait la planete, et rien ne prouvait que ce serait l'homme. Les théolo-
giens, rendant constamment à Dieu ce qui appartient à l'Humanité, racon-
tent que ce pere adorable avait tout préparé avec amour pour notre venue.
Mais ceux qui onl étudié l'histoire de notre origine autre part que dans
la bíblíothi-que du Paradis terrestre, savent combien il faut rabattre de
cette gracicuse réception.
C'était inhabitable et peuplé de bêtes sans nombre qui nous dispu-
taient la place. II a faliu des milliers de générations humaines, luttant
sans relâche, pour conquérir péniblement la terre sur les grands végetaux
et les grands animaux, et approprier à nos besoins le sol, qui se défen-
dait par des mortelles émanaLions telluriques. Et si nous trouvons au-
jourd'hui, en contemplanL les résultats obtenus, que tout cela est bon,
l'honneur, comme la reconnaissance, doivent en remonter à nos ancêtres
disparus, à l'Humanité, dans laquelle nos métaphisiciens s'obst.inent à
ne voir qu'une abstraction, comme si les abstractions avaient à leur actif
de pareilles campagnes. Quant à Dieu, ses préférences étaient manifeste-
ment pour les poissons, si c'est !ui, comme on le prétC'nd, qui leur a
donné les trois quarts du globe d'une manicre indélogeable. Et si son
plan a échoué, c'est qu'à l'inverse d'un maréchal célebre, il a man-
qué d'eaul
Bien qu'il ne puisse y avoir de doute aujourd'hui aur l'issue de la
grande opération sociale qui doit nous livrer tout le domaine terrestre,
cette conquête n'est pas tellement terminée qu'on ne puisse juger ce qu'el-
le a dO. coO.ter. Aujourd'hui encore, dans l'Inde seulement, plus de vingt
mille êtres humains succombent annuellement sous la dent des tigres ou
la morsure des serpents. En outre, et c'est !à ce dont nous voulons nous
occuper en ce moment, d'autres ennemis se sont révélés dont la nature
exigeait un certain développement scientüique de civilisation.
L'épuration de la terre au profit de l'homme exige, pour être com-
plete, une derniere campagne contre les animaux et végétaux microsco-
piques, !e monde des infiniment petits, le microbe, selon une appellation
qui tend à prévaloir.
648 HISTÓRIA DO POSITIVISMO NO BRASIL
et l'on ne serait 1)as éloigné d'en faire Ia base d'une nouvelle synthe~c
médicale ou d'y trouver au moins la formule de toutes Ies maladies viru-
Ientes, infectieuses et contagieuses. On Ie che-rche dans Ie vírus de Ia rage,
on Ie wnpçonne dans la phthisie, dans Ia syphilis; on croit I'avoir trou-
vé dans Ia Icprc, Ie pus blennorrhagique, et il tend à détrõner Ie vicu:<
miasme des fievres intermittentes. À la condition de ne jamais prendre
une hypothese pour un fait, et un désir pour une réalité, il est permis
et même utile aux savant~ de sortir du constaté pour entrer dans Ie pos-
sible. C'est pourquoi nous disons que Ie jour viendra pcut-être ou un
Pasteur de I'avenir, tenant dans son liquide de culture Ies microbes de
Ia fievre jaune, du choléra et de Ia peste, nous montrera au bout de sa
Iancette les fils apprivoisés de ces redoutables fléaux transformés en vac-
cins de Ieurs pcres. Quelque éloigné et douteux que soit encore m, ré-
sultat aussi grandiose, iI est possible, et doit par conséquent être renté.
car il ne dépa..~i;e pas les limites permises de l'idéal scientifique moderne.
N'avons-nous pas vu, dans Ie passé, un exemple de progres bien plus
admirable, quand Ies antiques sacerdoces préludant à la lente transfor-
mauon toute sodale de Ia femelle humaine en fomme, constitucrent gar-
diens jaloux de l'indispensable pureté virginale, ceux qui étaient le plus
à même de la flétrir, et ont créé, par une culture morale spéciale, des races
d'hommes qui respectent leurs filies et Ieurs soeurs.
Contemplons donc l'avenir avec assurance et ne dénigrons pas le passé.
À la tri~te et confuse philosophie pessimiste qui nous vient d'Allcmagnc,
prêchant le désespoir social, la ela ire et énergique philosophic française,
filie de Ia Révolution et de la science, répond cn nous ouvrant légitime-
mcnt la porte des plus audacicuses espérances et en promettant la fin
de la misere et de Ia maladie; car bien que de grandes choses aient déjà
été accomplies, nous n"en sommes qu'au début de la conslruction du
bonheur, et les deux notions connexes de Progres et d'Humanité comrnen-
ccnt à peine à se concréter dans les cerveaux encore obscurcis par rimmobi-
lisme théologique.
IX
PSICOLOGIA
Concepção metafísica de alma.
Consequências relativas à doutrina: unidade e imortalidade da alma.
Consequência referente ao método: processo de instrospecção.
Princípio de filosofia fisiológica - Não há função sem órgão - do
qual resulta a concepção positiva de alma. Consequência quanto à doutrina:
pluralidade dos órgãos e dificuldade da unidade psíquica, donde o grande
problema moral e religioso. Consequências atinentes ao método: imprati-
cabilidade da observação interior; uso do método subjetivo ou construtivo.
completado pelo método objetivo - anátomo-patológico.
Análise da obra de Gall encarada como posição do problema da psi-
cologia no terreno positivo: 1. 0 , considerando a alma como o conjunto de
impulsos afetivos, faculdades intelectuais e qualidades práticas; 2. 0 admitindo
que, a cada uma das funções simples dêsse complexo corresponde um
órgão; 3.0 localizando todos êsses órgãos no cérebro. • Insuficiência dos
meios científicos de Gall para a solução definitiva de seu problema.
Impossibilidade da localização de funções e mesmo de uma an~ise
psicológica perfeita sem um quadro prévio das funções simples ou irre-
dutíveis. Solução apresentada por Comte. Quadro das funções simples
e sua localização. Exame de algumas funções compostas.
Teoria da sensação. Determinação do número de sentidos do Ho!Dem.
Concepção antiga do sensorium cummune e teoria moderna da pluralidade
das sedes sensoriais. Localização dessas sensações.
Alucinações e êxtases. Sono, sonho e sonambulismo.
APÊNDICE 653