Escala de Recuperação
Escala de Recuperação
Escala de Recuperação
ISSN: 1981-6324
marcomachado@brjb.com.br
Universidade Iguaçu
Brasil
ESTADO DE RECUPERAÇÃO
AVALIADO ATRAVÉS DE DOIS
MÉTODOS APÓS TESTE DE APTIDÃO
FÍSICA
RECOVERY STATE EVALUATED BY TWO METHODS AFTER PHYSICAL FITNESS
TEST
RESUMO
CURTY, V. M.; BARA FILHO, M. G. Estado de recuperação avaliado através de dois métodos após teste de
aptidão física. Brazilian Journal of Biomotricity. v. 5, n. 3, p. 186-199, 2011. Atualmente, busca-se um
método simples e eficaz para o controle da carga de treinamento e da recuperação. Nesse propósito, a
escala de qualidade total de recuperação é um método interessante a ser utilizado junto a outros métodos.
O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento da recuperação após o Teste de Aptidão Física
através do uso da escala da qualidade total de recuperação e da creatina-kinase. Vinte e oito homens
(idade: 18,5 ± 0,4 anos), que iriam realizar o Teste de Aptidão Física, participaram voluntariamente do
estudo. A intensidade do esforço foi classificada através da escala de percepção subjetiva do esforço criada
por Borg (1982). Todos foram submetidos a três coletas de sangue (pré-teste, 24 e 72 horas após os testes)
e responderam como se sentiam fisicamente de acordo com a escala de recuperação, simultaneamente as
coletas, para se avaliar a qualidade de recuperação antes e após os testes físicos. Foi utilizada ANOVA
para testar a significância do efeito do teste físico sobre os níveis de creatina-kinase e a escala subjetiva de
recuperação. O nível de creatina-kinase não respondeu de maneira significativa tanto na coleta 24 (192,9 ±
41,3) quanto na coleta 72 horas (178,0 ± 33,2a) após os testes em relação aos níveis pré-teste (182,7 ±
52,1). Porém, observando a qualidade de recuperação através da escala, foram observados menores
valores na recuperação tanto 24 (12,5 ± 3,4) quanto 72 horas (14,6 ± 4,3) após os testes em relação aos
valores pré-teste (18,3 ± 1,6). Pôde-se observar uma recuperação inadequada 72h após o término do teste
através da escala, mesmo a atividade sérica de creatina-kinase não apresentando alteração significativa em
relação ao teste físico executado.
Palavras-chave: Esforço físico; músculo esquelético; dano muscular; creatina-kinase; recuperação
muscular.
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ABSTRACT
CURTY, V. M.; BARA FILHO, M. G. Recovery state evaluated by two methods after physical fitness test.
Brazilian Journal of Biomotricity. v. 5, n. 3, p. 186-199, 2011. Currently, search is a simple and effective
method to control the training load and recovery. This purpose, the total quality recovery scale is an
interesting method to be used with other methods. The aim of this study was to analyze the behavior of the
recovery after the physical fitness test through the use of the total quality recovery scale and creatine kinase.
Twenty-eight men (age: 18,5 ± 0,4 years), that would perform the the physical fitness test, participated
voluntarily in the study. Intensity of effort was classified by the scale of perceived exertion created by Borg
(1982). All were submitted to three blood samples (pre-test, 24 and 72 hours after the tests) and they
answered how they felt physically by according to the recovery scale to assess the quality of recovery before
and after the physical tests. ANOVA was used to test the significance of effects of physically test about the
creatine kinase levels and the recovery scale. The level of creatine kinase didn’t answer significantly both in
samples 24 (192,9 ± 41,3) as in samples in 72 hours (178,0 ± 33,2a) after the test related to pre-test levels
(182,7 ± 52,1). However, observing the quality of recovery through of scale, was observed less values at the
recovery as 24 (12,5 ± 3,4) as 72 hours (14,6 ± 4,3) after the tests, related to the values pre-tests (18,3 ±
1,6). Could be observed an inadequate recovery 72 hours after the test through of scale, even the serum
activity of creatine kinase not showing significant changes in relation to the physical test run.
Key words: Physical effort; skeletal muscle; muscle damage; creatine kinase; muscle recovery.
INTRODUÇÃO
Atualmente, os efeitos benéficos e nocivos do exercício físico estão sendo evidenciados e
cada vez mais o treinamento desportivo está se voltando para um processo rigoroso e
sistematizado (MIRANDA e BARA FILHO, 2008; FREITAS et al., 2009). A sobrecarga
imposta no treinamento tem aumentado substancialmente nos últimos anos na busca de
melhores desempenhos. Considerando o treinamento físico uma condição exógena de
estresse, o organismo humano responde alterando sua estrutura para realizar a atividade
de uma forma mais eficiente mantendo suas condições ótimas de funcionamento
MÉTODO
Sujeitos
Vinte e nove voluntários, com idade média entre 18 e 19 anos, não usuários de esteróides
anabolizantes, suplementos nutricionais, participaram voluntariamente do estudo. Foi
requerido aos participantes que durante o período do estudo proposto não praticassem
nenhum tipo de exercício físico além das atividades de vida diárias, bem como não
participassem de nenhum outro tipo de estudo que fosse envolver qualquer tipo de
esforço físico. Todos assinaram um termo de participação consentida conforme a
resolução nº 251, de 07/08/1997 do CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE e a resolução nº
196, de 10/10/1996 que são as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa
envolvendo seres humanos.
Procedimentos
Inicialmente todos foram avaliados antropometricamente para obtenção da estatura, da
massa corporal total (MCT) e obter o índice de massa corpórea (IMC). No dia seguinte,
todos os participantes foram submetidos a uma coleta de sangue (CKP) e responderam a
pergunta “Como você se sente em relação a sua recuperação?” previamente a realização
dos testes, de acordo com a escala da qualidade total de recuperação (TQR I) citada por
Kenttä e Hassmén (1998). Essa escala consiste em uma tabela com valores numéricos,
representando vários níveis de recuperação que o indivíduo se encontra, desde uma
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recuperação inadequada até totalmente recuperado (Tabela 2). Passando assim para a
realização do TAF. A execução do TAF consistiu em:
• Corrida de 12 minutos (teste de Cooper): Realizado em terreno com superfície plana,
ao comando do avaliador, cada participante teria que correr a maior distancia possível,
em ritmo contínuo, até que completasse os 12 minutos de teste. Assim, foi registrada a
distância em que cada participante percorreu no tempo estimado.
• Flexão de braço: O teste foi composto da execução de sucessivas flexões de braço,
com apoio de frente, com as mãos e as pontas dos pés no solo, estando as pernas e
braços estendidos, aproximando o peito do solo na flexão dos braços e, em seguida,
estendendo estes últimos, voltando à posição inicial. Determinou-se que o exercício fosse
realizado de maneira ininterrupta, com o máximo de repetições possíveis, sem tempo. É
considerado como uma repetição o momento da extensão completa do braço. A
interrupção do exercício por parte do executante resultava no encerramento da contagem.
• Flexão na barra fixa: Ao comando do avaliador o militar empunhou a barra com os
punhos em pronação e os braços estendidos. Ao comando de "iniciar", executou o
máximo de repetições, elevando seu corpo até ultrapassar a barra com o queixo e
estendendo os cotovelos ao abaixar. Não foram permitidos movimentos abdominais
("galeios") e "pedaladas" para impulsionar o tronco (BRASIL, 2002). Toda a amostra já
era familiarizada com o exercício em questão, tendo realizado regularmente nas semanas
anteriores, durante as instruções de treinamento físico militar.
• Abdominal: O candidato na posição deitada em decúbito dorsal, com as pernas unidas
e estendidas e braços estendidos atrás cabeça, tocando o solo. Ao comando, o candidato
flexionava simultaneamente o tronco e membros inferiores na altura do quadril, lançando
Tabela 1 – Escala da qualidade total de recuperação (TQR scale adaptado de Kenttä e Hassmén,
1998).
Como você se sente em relação a sua recuperação?
Nível Recuperação
6 Em nada recuperado
7 Extremamente mal recuperado
8
9 Muito mal recuperado
10
11 Mal recuperado
12
13 Razoavelmente recuperado
14
15 Bem recuperado
16
17 Muito bem recuperado
18
19 Extremamente bem recuperado
20 Totalmente recuperado
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Após o término do TAF, aproximadamente 30 minutos após o encerramento, os
participantes responderam ao avaliador como eles consideraram a intensidade do esforço
exercido no teste, através dos valores representados na escala de esforço percebido,
proposta por Borg (1982), apresentado na tabela 2. Foi orientado aos atletas que eles
escolhessem um descritor e depois um número de 0 a 10 para se obter a intensidade do
esforço, onde “0” corresponde ao valor mínimo (condição de repouso) e “10” ao valor
máximo (maior esforço físico).
Como critério de inclusão para a sequência dos procedimentos utilizados neste estudo,
somente continuaram nesta pesquisa aqueles participantes que responderam que o
esforço exercido no teste ficou entre “muito intensa” a “máxima” de acordo com a escala
citada. Aquele que respondesse qualquer outro valor já estaria excluído dos
procedimentos seguintes. Dessa forma não teria o risco de manter inclusos àqueles
participantes que não realizaram o teste físico com o máximo de esforço possível.
Nas exatas vinte e quatro horas após o término dos testes, cada participante foi
submetido a uma nova coleta de sangue (CK24) e mais uma vez responderam ao
avaliador qual sua percepção de recuperação após o TAF (TQR II), mas não realizando
nenhum exercício físico, em nenhum dos próximos dias. Um dia de intervalo foi concedido
aos participantes (dia 4), sem nenhum compromisso no local do estudo, apenas
permanecendo em repouso sem realizar qualquer atividade que comprometa os
resultados do estudo, para que no 5º dia, aproximadamente setenta e duas horas depois
de realizado o TAF, os participantes retornassem ao mesmo local para serem submetidos
ao mesmo procedimento realizado no 3º dia (CK72 + TQR III) sem a realização de
qualquer exercício físico. Os procedimentos realizados estão resumidos no quadro 1,
conforme explicado acima.
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Quadro 1 - Desenho experimental:
Dia Dia Dia Dia Dia
1 2 3 4 5
Coleta (CKP)
+
Escala de Repouso Repouso
recuperação I + +
Avaliação
(TQR I) Coleta (CK24) Coleta (CK72)
+ + Repouso +
(Estatura e
TAF Escala de Escala de
peso corporal)
+ recuperação II recuperação III
Percepção (TQRII) (TQR III)
subjetiva do
esforço (PSE)
Amostras sanguíneas
Aproximadamente 5 ml de sangue venoso foram coletados do antebraço de cada
participante. Esta alíquota foi colocada em tubos para ser centrifugada tendo o soro
separado para dosagens da enzima CK. A coleta foi realizada por profissional habilitado
vinculado a um laboratório da região e nas condições de higiene exigidas pelos órgãos
públicos responsáveis. Para dosagem de CK foi utilizado o método espectrofotométrico,
que é um procedimento analítico pelo qual se determina a concentração de espécies
Tratamento estatístico
Inicialmente, foram testados os pressupostos de normalidade e homocedasticidade dos
dados, através do teste Shapiro-Wilk e do teste de Levene, respectivamente. Não
atendidos os pressupostos paramétricos, utilizou-se a ANOVA de Friedman para testar a
significância do efeito do TAF sobre os níveis de CK e a percepção de recuperação 24h e
72h após a realização do teste. Para identificar os momentos em que as variáveis
apresentaram diferenças significativas, procedeu-se à comparação múltipla de médias
ordenadas. Todos os dados foram analisados através do software SPSS (v.16, SPSS Inc,
Chicago, IL), considerando um nível de significância α = 0,05.
RESULTADOS
Os sujeitos apresentavam características antropométricas semelhantes, como pode ser
observado na tabela 3. Os coeficientes de variação foram abaixo de 10%.
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Tabela 3 – Características dos Sujeitos (MCT = Massa Corporal Total em Kg; IMC = Índice de
massa corporal).
Características dos sujeitos (n = 29) Média ± DP
(adiferença significativa: medida 24h x 72h; bdiferença significativa: medida 24h e 72h x pré-teste; p<0,05).
Nº de repetições - 18 ± 5 50 ± 8 60 ± 11
APLICAÇÕES PRÁTICAS
Dentro do processo de treinamento desportivo ainda há muitas dúvidas em relação ao
momento ideal de se aplicar uma nova carga de treino, em relação ao tempo de
recuperação após a realização dos exercícios, ou mesmo de se realizar qualquer tipo de
exercício sem prejudicar o desempenho do praticante bem como sua evolução ao
decorrer das sessões de treinos. Com os resultados do presente estudo pôde-se observar
a importância de se avaliar a recuperação pós-exercícios por meio de outros métodos
menos utilizados, mesmo que simples e menos precisos, não se limitando aos resultados
apresentados apenas por um único método. Dessa forma, pode-se realizar um
acompanhamento diário com os atletas através dos métodos de percepção de esforço e
da qualidade de recuperação, que são métodos de fácil e rápida aplicação e também de
baixo custo.
REFERÊNCIAS