Exu Na Lei Da Kimbanda
Exu Na Lei Da Kimbanda
Exu Na Lei Da Kimbanda
A Lei da Kimbanda vem dos bantos, dos povos Angola-Congo. A “misturança”, ou ainda
podemos dizer “sincretismo” entre o Exu-iorubá, os Ngangas e Tatás (almas de chefes
kimbandeiros das nações bantas) foi o que deixou esse ar de confusão no povo, que muitos
até mesmo sendo "feitos na kimbanda", não entendem, ou o que é pior, tratam-no de diabo. Na
verdade, o Exu da kimbanda não é o Exu-Iorubá (Orixá ou Imalé dessa cultura). Os Espíritos
que chegam na linha da kimbanda são espíritos de Ngangas ou Tatás, aqueles que quando
encarnados na terra eram sacerdotes bantos adoradores de algum Nkisi ou Npungu.
No Brasil, o culto aos Npungus e Nkisis através dos seus mensageiros – os Ngangas - foi
misturado na escravidão com o culto aos Encantados e aos pajés (da cultura tupi-guarani) e
também com o dos Iorubás, surgindo os seguintes novos cultos, fruto da miscelânea:
Macumba - que vem de "ma-kiumba" (espíritos da noite). Foi assim chamado o mais primitivo
culto sincretista no sul do Brasil (e o primeiro originado no Brasil), dada sua maior
preponderância banto; é dela que descendem os outros cultos afro-brasileiros com influência
das nações Angola-Congo, Tupi-guarani, Nagô e a Igreja, nessa ordem. A razão de se
chamar makiumba (logo após por deturpação da palavra ficaria makumba ou macumba) foi
justamente, porque é um culto que se faz na noite, onde se deveriam chamar necessariamente
os espíritos da noite (almas de outros sacerdotes do culto - Eguns ou Ancestrais). No culto
iorubano-nagô conhece-se e rende-se culto aos Ancestrais = Egun, porém eles são afastados
dos rituais aos Orixás, tentando ter um contato com outro tipo de energia. Isto contribuiu para
que os rituais onde se chamavam os eguns fossem menosprezados, tratados pejorativamente
e mal interpretados.
Por outro lado, a Igreja também condenava os cultos com influência índio-banto onde se fazia
beberagem e supostamente “orgias”.
Na verdade, as danças bantús eram no Brasil e ainda são na África, bastante eróticas, e
também é verdade que os Guias bebem e fumam, porém é muito distante de ser uma orgia ou
uma bebedeira. Depois, quando os grupos de nações começaram a procurar sua identidade,
dividiram-se os principais componentes da makumba, aparecendo: Candomblé de Angola;
Candomblé de Congo; Candomblé de Caboclo ou dos Encantados; Catimbó; - todos eles à
procura de uma raiz cultural - e também, ao final do século XIX surgem da macumba urbana,
(onde se tinha muita participação dos brancos pobres e os descendentes de escravos) a
Umbanda e a Kimbanda com influências para o Espiritismo e com muito sincretismo. Na
Kimbanda, permaneceu grande parte do culto aos Ngangas da nação Angola-Congo, porém
misturado com o diabo (pelas influências dos mitos e tabus dos próprios integrantes - que não
tinham conhecimento das origens) e também embaixo do pé do Orixá Iorubá Exu.
O titulo desta página teria que ser: O kimbanda "na sua lei".
A seguir oferecemos um listado com as coincidências (muitas para não ser tidas em conta) entre a
Kimbanda (afro-brasileira) y o Kimbanguismo (afro-banto):
A Kimbanda tem sete reinos, sendo sua organização remanescente das organizações tribais
em reinos na África Banto. Cada Reino é composto por nove povos de Exu, sendo que cada
povo é comandado por um Exu-Chefe.
1) Reino das Encruzilhadas - Que sendo chefiado por Exu Rei das Sete Encruzilhadas e
Pomba-gira Rainha das Sete Encruzilhadas, governa todas as passagens dos Exus que ali
trabalham. Sua função principal é abrir os caminhos para os outros Guias chegarem e também
para os filhos e fregueses.
2) Reino dos Cruzeiros - Chefiado pelo Exu Rei dos Sete Cruzeiros e Pomba-gira Rainha
dos Sete Cruzeiros, governa todas as passagens dos Exus que trabalham nos cruzeiros (não
confundir com encruzilhada).
3) Reino das Matas – Chefiado pelo Exu Rei das Matas e Pomba-gira Rainha das Matas.
Governa todos os Exus que trabalham nas matas ou locais que tenham árvores à exceção do
Cemitério, que pertence a outro reino.
4) Reino da Kalunga Pequena (Cemitério) Governado pelo Exu Rei das Sete Calungas ou
Kalungas e Pomba-gira Rainha das Sete Kalungas. Esses Exus também são chamados pelo
nome de Rei e Rainha dos Cemitérios. Geralmente quando se diz "calunga" nas giras de
Kimbanda é para nomear ao cemitério. Trabalham neste reino todos os Exu que moram dentro
dos cemitérios exclusivamente.
5) Reino das Almas - Chefiado por Exu Rei das Almas Omulu e Pomba-gira Rainha das
Almas. Eles também são conhecidos por Rei e Rainha da Lomba, porque governam todos os
Exus que trabalham em locais altos. Porém, os Exus deste reino também trabalham em
hospitais, morgues, etc.
6) Reino da Lira - Os chefes deste reino são muito mais conhecidos por seus nomes
sincréticos: Exu Lúcifer e Maria Padilha, sendo na verdade seus nomes kimbandeiros Exu
Rei das Sete Liras e Rainha do Candomblé (ou Rainha das Maria’s). Seus apelidos
kimbandeiros mostram justamente sua afinidade pela dança, a música e a arte (lira e
candomblé). Dentro do reino da Lira, que também às vezes é chamado "reino do candomblé"
não pelo culto africanista aos orixás, senão por ser essa palavra o sinônimo de dança e música
ritual. Trabalham aqui todos os Exus que tem a ver com a arte, a música, poesia, boemia, artes
ciganas, malandragem, etc.
7) Reino da Praia - Governado por Exu Rei da Praia e Rainha da Praia. Dentro dele
encontram-se todos os Exus que trabalham nas praias, perto d'água o ainda dentro dela,
podendo ser salgada ou doce.
Em cada reino existem 9 povos, sendo um total de 63 povos de Exu. A seguir oferecemos uma
lista com os povos que pertencem a cada reino:
REINO DA KALUNGA:
1) Povo das Portas da Kalunga - Chefe Exu Porteira
2) Povo das Tumbas.- Chefe Exu Sete Tumbas
3) Povo das Catacumbas.- Chefe Exu Sete Catacumbas
4) Povo dos Fornos - Chefe Exu da Brasa
5) Povo das Caveiras - Chefe Exu Caveira
6) Povo da Mata da Kalunga - Chefe Exu Kalunga (conhecido também como Exu dos
Cemitérios)
7) Povo da Lomba da Kalunga.- Chefe Exu Corcunda
8) Povo das Covas - Chefe Exu Sete Covas
9) Povo das Mirongas e Trevas - Chefe Exu Capa Preta (conhecido também como Exu
Mironga).
REINO DA LIRA:
1) Povo dos Infernos - Chefiado por Exu dos Infernos.
2) Povo dos Cabarés - Chefiado por Exu do Cabaré
3) Povo da Lira - Chefiado por Exu Sete Liras
4) Povo dos Ciganos - Chefiado por Exu Cigano
5) Povo do Oriente - Chefiado por Exu Pagão
6) Povo dos Malandros - Chefiado por Exu Zé Pelintra
7) Povo do Lixo - Chefiado por Exu Ganga
8) Povo do Luar - Chefiado por Exu Male
9) Povo do Comércio - Chefiado por Exu Chama Dinheiro.
REINO DA PRAIA:
1) Povo dos Rios - Chefiado por Exu dos Rios.
2) Povo das Cachoeiras - Chefiado por Exu das Cachoeiras.
3) Povo da Pedreira - Chefiado por Exu da Pedra Preta.
4) Povo dos Marinheiros - Chefiado por Exu Marinheiro.
5) Povo do Mar - Chefiado por Exu Maré.
6) Povo do Lodo - Chefiado por Exu do Lodo.
7) Povo dos Bahianos - Chefiado por Exu Bahiano.
8) Povo dos Ventos - Chefiado por Exu dos Ventos
9) Povo da Ilha - Chefiado por Exu do Coco.
Cada Exu-homem da Kimbanda tem sua parte feminina ou contrapartida, que na verdade são
a mesma Energia em baixo de aparências distintas, temos assim:
Cada pessoa tem pelo menos um par de Exus que age e mora perto dela desde o dia do
nascimento. Que um homem tenha como Guia uma Pomba-gira (que incorpore nele) não quer
dizer que ele vai se tornar homossexual, ou vai mudar seu gosto pelas mulheres, como muitos
pensam; nada disso, ele vai seguir sendo o mesmo homem de sempre. O mesmo é para as
mulheres que tiverem um Exu. Isso é para os casos onde se puxa somente uma das duas
Entidades da Kimbanda que possui cada um como mínimo, pois existem muitas casas onde
são puxadas as dois (Exu-homem e Pomba-gira), sendo que tampouco eles vão influir na
definição sexual da pessoa. O que acontece é que muitos se aproveitam para colocar as
culpas em Exu. Pode acontecer também que alguma pessoa tenha duas pomba-giras e dois
exus, um par de exus que estava submetido aos espíritos evangelizados e que logo após foi
liberada, e uma parelha de exus que se apresentou sem estar sob o comando de umbanda.
Suas oferendas levam ovos, maçãs, morangos, perfumes, pentes, espelhos, flores
(especialmente rosas - nunca botões), bebidas, cigarros, etc.
Esta entidade se apresenta como um homem de idade avançada, de pele escura, barba e
olhos vermelhos, cor de brasa. Traz a metade do seu corpo (o lado esquerdo) queimado, sendo
que sua perna esquerda não funciona bem, por isto é muito comum que se apóie em um
bastão.
Prefere beber whisky de boa qualidade e fumar charutos grossos, sua voz é rouca, grave e
forte. Quando está manifestado em algum médium, gosta também de azeitonas. Seu olhar é
insustentável e quando se fixa em alguém, parece que o atravessa, sabendo seus segredos
mais íntimos. As pessoas que o conhecem sentem certa autoridade nele e o respeitam.
Se desmancha em passagens que envia ao mundo para que transmitam suas mensagens
através de seus cavalos (médiuns), sendo que isto acontece com todas as demais Entidades
de Kimbanda. Sua vestimenta quase sempre é em tons vermelho e negro, com toques brancos
e às vezes dourados (quando fora da Encruzilhada da Lira), prefere a capa e a cartola. Gosta
de trabalhar com pouco público, em sessões que tenham força espiritual, onde os que nelas se
encontram estejam concentrados ao máximo para dar o melhor de si. Não é importante a
quantidade, e sim a qualidade e o resultado final da cerimônia.
Em sua última encarnação foi um Tatá Nganga banto, que foi trazido como escravo ao Brasil.
Começou chegando em Umbanda, como um "exu de baixo" e foi levantado para "o alto"
quando se fizeram os sacrifícios correspondentes na Kimbanda. Quando lhe perguntamos
porque se denominava "da Lira" respondeu:
"Lira é uma cidade africana, que fica nas fronteiras orientais do Reino Baganda, de lá venho
eu..."
Tem um caráter sério, amável e tranqüilo, mas também pode ser enérgico e enojar-se quando
há algo que ele não gosta. Tem prazer em ensinar e doutrinar, por isto sempre está tirando
dúvidas a todo aquele que lhe faça perguntas, desde as perguntas mais insólitas como "porque
há estrelas..." até as mais comuns como "quero saber se meu marido me engana...".
Apesar do Exu Rei das 7 Encruzilhadas tenha sido posto em um lugar privilegiado por alguns
autores (os que escreveram com muita subjetividade), ele mesmo afirma que não é o Rei
absoluto da kimbanda, e sim que apenas é um dos principais.
É rígido e severo quanto a seguir as tradições e que os rituais se cumpram passo a passo
como deve ser, mesmo que, como todo "exu" está aberto a mudanças, às movimentações e
inovações, sempre e quando os mesmos sejam feitos pelos próprios Exus.
EXU VELUDO
Este Exu vem das costas orientais da África, era swahili (negro arabizado). Usa um turbante na
cabeça, e lindos tecidos de veludo trazidos de oriente, que lhe valeram o apelido na Kimbanda
de "veludo" Dado a sua forma luxuosa de se vestir, no estilo muçulmano, muitos que viram seu
tipo de apresentação através da mediunidade, o confundiram com um cigano e o associaram
com os mesmos. Isto não significa que não trabalhe com os ciganos, ao contrário, tem inclusive
uma passagem ou caminho que se apresenta como um. Tem muitos conhecimentos sobre
feitiços que se fazem utilizando panos, tigelas, agulhas, pembas e outros ingredientes. Abre os
caminhos e limpa trabalhos negativos feitos nos cemitérios. Gosta de um bom whisky e
grossos charutos.
Alguns de seus caminhos são:
Exu Veludo da Meia Noite
Exu Veludo Cigano
Exu Veludo 7 Encruzilhadas
Exu Veludo Menino (Veludinho)
Exu Veludo dos 7 Cruzeiros
Exu Veludo das Almas
Exu Veludo dos Infernos
Exu Veludo da Kalunga
Exu Veludo da Praia
Exu Veludo do Oriente
Exu Veludo Sigatana
Exu Veludo do Lixo
EXU MEIA NOITE
O Exu da Meia noite que conhecemos foi um negro descendente de escravos, que vivia em
Minas Gerais. Sua especialidade é a de praticar feitiços ou trabalhos que são efetuados sob a
influência dos planetas, as estrelas e suas posições. E prefere, como seu nome o diz, receber
oferendas e fazer trabalhos à meia-noite, mais não o que marca no relógio, e sim a mágica,
aquela que se calcula dividindo as horas do dia em que há luz solar e encontrando justamente
sua metade.
Gosta de beber whisky e fuma charutos. Sua vestimenta é totalmente de cor negra, com alguns
tons vermelhos. Traje negro, chapéu e às vezes traz uma capa.
Alguns de seus caminhos são:
Exu Meia Noite da Kalunga
Exu Meia Noite das Almas
Exu Meia Noite da Praia
Exu Meia Noite do Mar
Exu Meia Noite do Oriente
Exu Meia Noite das 7 Encruzilhadas
Exu Meia Noite da Capela
Exu Meia Noite do Cruzeiro
Exu Meia Noite da Mata
EXU CIGANO
Este como seu nome indica, se manifesta sob a aparência de um cigano. Quando vivia foi um
cigano árabe, que veio como escravo ao Brasil junto com um contingente que provinha da
África Oriental. Seu nome em vida era Hassam. Por ser o primeiro cigano que se iniciou no
culto afro-brasileiro que ele conheceu no cativeiro junto com os demais escravos, obteve o
privilégio de ser o comandante dos demais ciganos que se iniciaram, de onde passou a ser
chefe do povo cigano. Logo, quando começa a manifestar-se, primeiro na macumba primitiva,
logo depois em Umbanda e por último como "Exu de Alto" se dá a conhecer como "Cigano
L'erú" que significa: "O cigano que foi escravo", dando a entender que foi um dos que
chegaram primeiro.
Sua vestimenta é composta de panos coloridos, turbante e bombacha no estilo árabe. Sendo
um dos poucos ciganos (homens) que se apresentam desta maneira, já que a maioria vem com
chapéu de feltro ou lenço de cabeça, calça, camisa e jaleco, pois são ciganos muito mais
novos no tempo. Os outros Exus que se manifestam como ciganos, quase nunca se chamam
"ciganos", por que de uma maneira geral são Almas de Ciganos que se iniciaram no culto, e
chegam com a representação de algum outro Exu do Alto Comando, por exemplo: Exu
Corcunda Cigano.
Alguns de seus caminhos são ramos de onde podem chegar os distintos ciganos:
Exu Cigano do Oriente - O que vem da África Oriental, Arábia e outros países asiáticos.
Exu Cigano do Circo - O que trabalha - como indica seu nome - nos circos e também em todos
os lugares onde fazem espetáculos públicos.
Exu Cigano do Pandeiro – É ele que vem com um pandeiro na mão, bom dançarino, tem um
estilo turco.
Exu Cigano Caló – É ele que representa a os ciganos que vieram ao Brasil desde Portugal,
Espanha e França.
Exu Cigano da Praça - Aquele que se dedica a buscar oportunidades nas praças, feiras e
parques, fazendo negócios.
Exu Cigano Romanó - Quando se apresenta como um cigano que vem de algum dos países de
Europa oriental.
Exu Cigano do Violino - Que é a passagem na qual ele sabe tocar violino, sendo um cigano
romano.
Exu Cigano da Lira – Que faz alusão aos conceitos: a) que provém de uma cidade africana
chamada Lira e que fora a princípio um ponto de encontro entre várias raças para comerciar; b)
que é hábil compondo canções, cantado e tocando instrumentos variados.
Exu Cigano Giramundo - Que não deve se confundir com "Exu Giramundo-cigano", pois Cigano
giramundo é uma passagem de Exu Cigano o que mostra sob a faceta de trota-mundos,
andarilho, em sua carruagem viajando de povo em povo. Sem dúvida, Giramundo-cigano é a
representação de Exu Giramundo através de uma passagem como cigano.
Exu Cigano do Garito - O que trabalha nas casas de jogo clandestino. Devemos ressaltar, que
"garito" é uma palavra cigana.
Há, todavia, muitos sub-ramos derivados das primeiras passagens e também outras
passagens. Devemos deixar claro que, na Kimbanda, não há algum lugar para ciganos
(homens) com nomes próprios, pois temos ouvido por aí que chegam: cigano-Andrés, cigano-
Ramiro, cigano-Sandro, cigano-marco, etc. Na Kimbanda só chega Exu Cigano - "de tal parte",
os espíritos de ciganos homens que venham com nomes próprios, NÃO SÃO EXUS DE LEI,
não devem ser admitidos nas giras, porque não pertencem à nossa religião. Os ciganos que
entraram na nossa religião quando viviam, têm até o momento, somente um dos caminhos: a)
Chegar representando a Exu Cigano ou Pomba-gira Cigana e um grupo; b) Chegar
representando qualquer Exu dos altos comandos e ter ao final a denominação: "cigano".
Fonte: Chefe de kimbanda Seu Osvaldo do Exu Rei (Babalorixá Osvaldo Omotobàtálá).