Recursos Naturais
Recursos Naturais
Recursos Naturais
Direitos Socioambientais
MMA apresenta pontos de novo anteprojeto de lei sobre acesso a recursos
genéticos e provoca polêmica
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco,
apresentou os principais pontos de uma nova e inédita versão do anteprojeto de lei (APL) sobre o acesso aos
recursos genéticos e a proteção aos conhecimentos tradicionais. O documento veio a público, pela primeira vez,
na manhã de hoje, 6/10, último dia do seminário As Encruzilhadas das Modernidades: da luta dos povos
indígenas ao destino da Convenção de Diversidade Biológica.
Segundo João Paulo Capobianco, a proposta não foi discutida nem mesmo dentro do governo. A apresentação
do texto causou polêmica tanto entre os participantes brasileiros quanto os estrangeiros do evento, que está
sendo promovido pelo Instituto Socioambiental (ISA), pelo Instituto Indígena Brasileiro de Propriedade
Intelecutal (Inbrapi) e pela organização francesa Institut du Développement Durable et des Relations
Internationales (IDDRI).
Depois de ter sido discutido por representantes da administração federal, dos povos tradicionais, do setor
empresarial, de organizações da sociedade civil e pesquisadores no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
(CGEN), o anteprojeto está parado na Casa Civil da Presidência da República, desde 2003, aguardando ser
encaminhado para o Congresso Nacional. A proposta vem sendo alvo de uma verdadeira guerra de bastidores
entre ministérios do governo Lula envolvidos com a questão. O CGEN é o colegiado interministerial que regula os
assuntos relativos ao acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados à
biodiversidade.
O documento trazido a público por Capobianco foi elaborado por determinação da ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, para tentar contornar o impasse que se estabeleceu entre dois grupos ministeriais. De um lado,
está o MMA, que capitaneia a defesa dos direitos dos povos tradicionais. De outro, os ministérios da Agricultura,
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e da Ciência e Tecnologia, que pretendem flexibilizar a legislação e
facilitar ao máximo o acesso de empresas e pesquisadores aos conhecimentos e recursos naturais desses povos.
O MMA detém a presidência do CGEN.
Novidades
Entre outras novidades, a projeção em arquivo Powerpoint feita pelo secretário de Biodiversidade e Florestas
durante o seminário faz menção a um Fundo de Proteção e Valorização dos Conhecimentos Tradicionais, gerido
pelas próprias organizações dos povos tradicionais para repartição dos benefícios oriundos do uso de recursos
genéticos e conhecimentos tradicionais entre comunidades diferentes, quando elas detiverem um mesmo
conhecimento. Também aponta mecanismos de autorização e repartição de benefícios para acesso em fontes
secundárias, ou seja, para o uso de conhecimentos tradicionais já publicados, inseridos em bancos de dados,
disponíveis em feiras ou herbários, por exemplo. A nova proposta abre ainda a possibilidade de investimentos
em Unidades de Conservação (UCs) em troca da utilização de seus recursos biológicos, mas não obriga a
repartição de benefícios no caso de estudos que não visem, pelo menos a princípio, objetivos econômicos.
Alguns participantes do seminário questionaram se haveria autonomia efetiva dos povos tradicionais para
autorizar ou não pesquisas feitas com seus recursos e informações. A pesquisadora Eliane Moreira, do Centro
Universitário do Pará (Cesupa), considerou ainda que o documento apresentado por Capobianco tem muitas
diferenças em relação ao anteprojeto formulado no CGEN e classificou de antidemocrática a elaboração de uma
nova versão. "Peço que o MMA reconsidere e reabra todo o processo de discussão. Não podemos começar este
processo de forma democrática e acabá-lo de forma autoritária", criticou.
"Não aceito insinuações de que o MMA esteja querendo desrespeitar o acordo feito no CGEN para proteger os
direitos dos povos tradicionais. Não acho válida a crítica de que o processo não é democrático", respondeu
Capobianco. Ele reforçou que a iniciativa do MMA decorre da necessidade de se resolver um impasse e foi
irônico ao aconselhar a fazer "greve de fome" aqueles que querem que a Casa Civil encaminhe rapidamente para
o Congresso o anteprojeto elaborado no CGEN. O comentário foi uma referência ao jejum realizdo pelo bispo da
Diocese de Barra (BA), D. Luís Flávio Cappio, em protesto ao projeto da administração federal de transposição do
rio São Francisco. Cappio conseguiu que o governo prometesse prolongar o debate sobre o assunto antes do
início das obras.
O secretário de Biodiversidade e Florestas disse também que a ministra Marina Silva considera ter legitimidade
para intermediar as negociações e tentar resolver as divergências sobre o anteprojeto dentro do governo.
Garantiu que o documento ainda não foi finalizado e está aberto a contribuições e aperfeiçoamentos, não
sendo, portanto, definitivo. Questionado sobre a possibilidade de realização de uma consulta pública para
discutir o texto antes de seu envio ao Congresso Nacional, Capobianco respondeu que isto seria o ideal. "Só acho
que existe um problema de tempo. Queremos que o projeto seja votado no ano que vem. Vamos ver."
Autonomia e patenteamento
Na opinião de Debra Harry, do Conselho dos Povos Indígenas para o Biocolonialismo (IPCB, na sigla em inglês), a
proposta do MMA fere a autonomia das comunidades sobre seus saberes e recursos. "Acho que esta proposta é
um exemplo dos extremos a que pode ir o princípio da soberania nacional dos países sobre os recursos
existentes em territórios indígenas. Esta soberania é relativa. O direito de autodeterminação dos povos
indígenas é garantido no direito internacional”, avaliou a indígena representante de comunidades do Havaí. Ela
argumentou também que o documento não prevê nenhuma forma de compensação para as comunidades para
pesquisas sem fins comerciais.
Capobianco assegurou que está garantido o direito de qualquer comunidade tradicional inclusive de negar o
acesso a seus conhecimentos e recursos. "A proposta tem o objetivo de garantir a soberania do País sobre seus
recursos genéticos e os direitos dos povos tradicionais, além de definir regras claras para a repartição de
benefícios", defendeu. O representante do MMA lembrou que, no caso de atividades desenvolvidas por
instituições e cientistas estrangeiros, também será necessário o consentimento prévio da comunidade
pesquisada e um contrato de repartição de benefícios preliminar. Ele confirmou ainda que está prevista a
possibilidade de revisão do contrato no caso de alguma população tradicional sentir-se prejudicada.
"Acho que a proposta traz avanços e é bem intencionada, mas permanece o problema fundamental de continuar
sendo possível o patenteamento de produtos e processos obtidos a partir de conhecimentos tradicionais. Isso
me traz tristeza", lamentou Laymert Garcia dos Santos, professor da Universidade de Campinas (Unicamp). Ele
avaliou que, se for mantida a possibilidade, o Brasil, país com a maior biodiversidade do mundo, não poderá
apresentar uma proposta inovadora nos debates internacionais sobre o tema que vá na direção contrária à
lógica do mercado da biotecnologia. Uma das principais polêmicas do seminário, que começou na terça-feira e
termina hoje, foi justamente a relação entre o sistema de propriedade intelectual e os conhecimentos
tradicionais. Parte do movimento indígena internacional e vários especialistas consideram que o patenteamento
de produtos e processos feito a partir dos recursos ou conhecimentos das populações tradicionais é uma forma
de privatização e apropriação indevida.
:: Recurso genético - É todo o material de origem vegetal ou animal que contenha a informação genética (DNA)
responsável pela produção das substâncias e tecidos essenciais ao organismo (hormônios, proteínas, órgãos
etc).
:: Repartição dos benefícios oriundos da biodiversidade - É a compensação financeira ou de outra natureza que
devem receber os povos tradicionais pelas pesquisas feitas a partir de seus recursos naturais ou conhecimentos.
:: Consentimento prévio informado - É a autorização preliminar dada por uma comunidade a uma pesquisa ou
estudo realizado em seu território, com seus conhecimentos ou recursos biológicos.
:: Sistema de propriedade intelectual - Confere direitos de propriedade a descrições e estudos sobre processos
que visam a obtenção de invenções, as quais, por sua vez, apresentem uma inovação e permitam o uso
comercial. Em todo o mundo, existem organizações e escritórios responsáveis por conceder esses direitos, que
podem ser patentes, marcas, registros e copyrights, entre outros. No Brasil, o Instituto Nacional de Propriedade
Intelectual (Inpi) tem a competência de conceder e registrar tais direitos.
===================================================================
Uma moção de protesto contra a tentativa de eliminar a participação dos representantes da sociedade civil no
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) foi apresentada e aprovada ontem, quinta-feira, em Brasília,
durante o último dia do seminário As Encruzilhadas das Modernidades: da luta dos povos indígenas ao destino
da Convenção da Diversidade Biológica (CDB). O documento foi assinado por 37 representantes de organizações
e povos do Brasil, Peru, Moçambique, Costa Rica, Colômbia, Estados Unidos, Malásia e Panamá.
A moção foi lida e entregue ao secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA),
João Paulo Capobianco, durante o evento promovido pelo Instituto Socioambiental (ISA), pelo Instituto Indígena
Brasileiro de Propriedade Intelectual (Inbrapi) e pela organização francesa Institut du Développement Durable et
des Relations Internationales (IDDRI).
O CGEN é o colegiado interministerial que regula os assuntos relativos ao acesso aos recursos genéticos e aos
conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade. O Conselho conta com uma participação limitada de
representantes da sociedade civil na qualidade de “convidados permanentes” sem direito a voto.
Com apoio dos representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), o conselheiro responsável pela proposta alegou que a presença de povos tradicionais e
entidades civis no CGEN tem causado “constrangimento” e inibido os conselheiros na defesa de suas posições. O
funcionário do MAPA argumentou ainda que a legislação atual sobre o assunto, a Medida Provisória (MP) 2.186-
16/01, não prevê a participação da sociedade no colegiado.
De fato, a MP não menciona a figura do “convidado permanente”. Ela foi criada pela ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, no início de 2003, dando voz, mas não voto aos convidados, com a justificativa de que
traria mais transparência e legitimidade às atividades do Conselho.
A moção aprovada no seminário afirma que a proposta do MAPA revela a “falta de democracia e o autoritarismo
com que a política de acesso, repartição de benefícios e proteção de conhecimentos tradicionais vem sendo
conduzida neste governo, apesar da boa vontade" da ministra. O texto exige que a sociedade civil possa
participar com direito a voto do CGEN e da definição da posição do Brasil nos fóruns internacionais sobre o tema
dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais (confira abaixo a íntegra do texto).
Conflito
Na abertura da primeira mesa do seminário, na manhã de quinta-feira, a moderadora Nurit Bensusan fez
menção à tentativa de restringir a participação nos debates do CGEN. “Será que os conselheiros que fizeram
essa proposta estão realmente constrangidos ou têm alguma coisa para esconder? Por que tanta resistência à
presença da sociedade civil?”, perguntou.
O próprio secretário João Paulo Capobianco classificou de “sandice” a iniciativa do MAPA. “Existe um conflito
dentro do governo que ninguém imaginava que pudesse acontecer. É uma disputa de agenda”, admitiu. Ele
explicou que cada ministério envolvido com o assunto considera que tem a competência de decidir sobre ele.
Praticamente desde a entrada no CGEN dos “convidados permanentes”, MAPA, MCT e Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) vêm tentando sucessivamente dificultar sua atuação. Além disso,
o mesmo grupo ministerial está envolvido em uma disputa com o MMA por conta do Anteprojeto de Lei (APL)
sobre o acesso aos recursos genéticos e a proteção aos conhecimentos tradicionais, atualmente parado na Casa
Civil da Presidência da República e aguardando ser enviado ao Congresso Nacional. De um lado, a pasta do Meio
Ambiente capitaneia a defesa dos direitos dos povos tradicionais. De outro, MAPA, MCT e MDIC pretendem
flexibilizar a legislação e facilitar ao máximo o acesso de empresas e pesquisadores aos conhecimentos e
recursos naturais desses povos.
Ainda durante o seminário, Capobianco apresentou pela primeira vez os principais pontos de uma nova versão
do APL, elaborada por determinação da ministra Marina Silva para tentar contornar o impasse que se
estabeleceu entre os dois grupos ministeriais. O documento causou polêmica entre os participantes do evento
(saiba mais).
Pouco depois, o representante do MMA também ouviu a leitura do documento intitulado “Diretrizes dos Povos
Indígenas, Quilombolas e Comunidades Locais para a proteção dos conhecimentos tradicionais”. O texto foi
produzido durante o Caucus Indígena Internacional, reunião entre representantes de populações indígenas e
tradicionais ocorrida na segunda-feira, 3 de outubro, um dia antes do início do seminário. Entre outros 15
pontos, a carta exige a participação dos povos tradicionais, com direito à voz e voto, nos fóruns internacionais
sobre biodiversidade, reivindica a valorização dos conhecimentos tradicionais e denuncia o que considera o
“descaso” do governo brasileiro em relação a elaboração de uma nova legislação sobre o acesso aos recursos
genéticos (confira).
Encerramento
O seminário As Encruzilhadas das Modernidades terminou ontem, 6 de outubro, depois de três dias de debates.
Participaram do evento mais de 170 pessoas representantes de quase 40 organizações e 27 etnias do Brasil,
Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Peru, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Moçambique e Filipinas.
O evento discutiu a legislação nacional e internacional sobre o tema do acesso aos recursos genéticos e dos
conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade. O evento serviu como preparação à 8ª Conferência das
Partes Signatárias (COP-8) da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), que ocorre em Curitiba, em março de
2006.
“O seminário deixou claro que precisamos de soluções criativas para avançar na discussão. O debate
internacional chegou a um limite teórico e jurídico para além do qual só é possível avançar se levarmos em conta
experiências locais concretas. Não podemos ficar batendo na mesma tecla, nem ficar reclamando das mesmas
coisas”, avaliou Fernando Mathias, advogado do ISA e um dos coordenadores do seminário. Para ele, os debates
ocorridos em Brasília também mostraram que os povos indígenas não podem se deixar levar pelas exigências de
tempo e dos ritmos ditados pela economia e pelo mercado da biotecnologia. Mathias também lembrou
inúmeras manifestações de participantes que cobraram de pesquisadores e instituições científicas a
incorporação dos princípios e valores da bioética e do controle social sobre a pesquisa.
Moção de protesto
Os participantes do seminário As Encruzilhadas das Modernidades: da luta dos povos indígenas ao destino da
Convenção da Diversidade Biológica (CDB), abaixo assinados, vêm manifestar seu protesto e indignação com a
tentativa de eliminar a participação da sociedade civil e de representantes indígenas, quilombolas e de
comunidades locais no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), perpetrada por representantes do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) durante a reunião da Câmara Temática de
Procedimentos Administrativos, em 5 de outubro de 2005.
Esta atitude revela a falta de democracia e o autoritarismo com que a política de acesso, repartição de
benefícios e proteção de conhecimentos tradicionais vem sendo conduzida neste governo, apesar da boa
vontade da Ministra de Meio Ambiente, Marina Silva. Revela também a torpeza e obscuridade de órgãos e
ministérios que pretendem fazer política as escuras, como se houvesse algo a esconder da sociedade.
A ampla participação da sociedade civil na construção de uma política de uso e conservação da biodiversidade
no Brasil é o mínimo que pode se esperar de um país democrático, que reconhece constitucionalmente o direito
e o dever da sociedade de proteger e conservar o meio ambiente, inclusive o patrimônio genético.
Por isso renovamos a exigência de participação da sociedade civil no CGEN com direito a voto, bem como na
construção das posições brasileiras nos foros internacionais que lidam com meio ambiente, em especial a CDB,
cuja próxima COP será realizada no Brasil.
===================================================================
Um novo relatório da ONG Ação Internacional pelos Recursos Genéticos (GRAIN) descreve como, em vários
países em desenvolvimento, novas leis supostamente sobre a "biossegurança" estão sendo transformadas para
chancelar e legitimar a liberação de culturas transgênicas das grandes empresas multinacionais.
Mesmo assim, em alguns países a resistência à imposição do "transgênico goela abaixo" está crescendo e
encontrando novos caminhos.
14.10.05 - BRASIL
Adital - O governo FHC passou para a história como aquele que desencadeou a "privataria" no Brasil.
Especialistas calculam que 70% do patrimônio nacional foram entregues ao grande capital nacional e
internacional durante seu governo. Esse foi um dos motivos para a intensa votação em Lula na eleição de 2002.
À primeira vista Lula não é um privatizador. Quem temia pela privatização do que restou do patrimônio
brasileiro, como Petrobrás e Correios, teve em Lula a garantia que eles não serão privatizados, pelo menos
enquanto ele for governo.
Entretanto, é preciso uma lupa mais perspicaz para analisar o governo Lula do ponto de vista das privatizações. A
lente petista voltou-se não mais para a privatização de empresas públicas, mas dos bens naturais do Brasil.
Em primeiro veio a lei dos transgênicos, que FH nunca conseguiu instituir. Através dela o Brasil conheceu o
patenteamento das sementes geneticamente modificadas, mesmo que elas sejam fruto do saber acumulado
pela humanidade durante milênios, com a pequena modificação de um gene em laboratório. Toda resistência da
sociedade brasileira caiu por terra com a lei dos transgênicos, embutida numa votação emocional que também
votou a liberação de células embrionárias para fins medicinais.
Pouco tempo depois o governo veio a público com a lei de "concessão de florestas", uma proposta também do
governo FHC que nunca passou, que esse governo ressuscita. Embora as florestas continuem públicas, serão
entregues às empresas para exploração comercial em longas concessões. Há muitas dúvidas sobre a capacidade
governamental de controlar a ação das empresas, já que também consegue pouco controle efetivo sobre
grilagens, derrubadas, queimadas, assim por diante. Os críticos afirmam que outras experiências mundiais nessa
questão foram desastrosas. Essa questão ainda não está decidida.
Finalmente, pela transposição do São Francisco, a privatização da água. O governo Fernando Henrique, numa
regulamentação da Lei de Recursos Hídricos 4.933/97, tentou regulamentar o "mercado de outorgas". A
Secretaria de Recursos Hídricos, vinculada ao MMA, conseguiu segurar até agora sua regulamentação. Porém, o
próprio MMA agora apoia a Transposição do São Francisco, que tem em seu modelo de gestão, a venda da água
pela Chesf aos estados, a compra dessa água nos estados por empresas públicas ou privadas e a venda dessa
água para possíveis usuários. A Chesf fala ainda em criar o "leilão de águas" para o que ela chama de "águas
excedentes". Para agravar, esse governo se colocou contra a admissão da água como direito humano, uma luta
mundial de ambientalistas, humanistas e religiosos, defendida pela CNBB na Campanha da Fraternidade de 2004
sobre a água.
Assim, pouco a pouco, o atual governo vai mostrando sua face privatista. Não mais a partir de empresas
públicas, mas dos bens naturais, o que é infinitamente mais grave para o povo brasileiro - também para a
humanidade - que privatizar uma empresa.
24/10/2005
O tema mais intrigante é o da nanotecnologia e suas possíveis implicações em nosso modo de vida nas
próximas décadas. A nanotecnologia é um conjunto de técnicas desenvolvidas pelos cientistas que permite
manipular a matéria na escala de átomos e moléculas. Refere-se somente à escala, e um nanômetro equivale a
um bilionésimo do metro (para se ter uma ideia, um fio de cabelo humano tem em média 80 mil nanômetros).
Tudo em nanoescala é invisível a olho nu e só pode ser detectado pelos mais desenvolvidos microscópios
eletrônicos. O poder da nanotecnologia e seu potencial de influir decisivamente no futuro da humanidade
residem no fato de que, em nanoescala, as propriedades de diversos materiais podem mudar drasticamente,
descoberta que promete revolucionar a indústria mundial.
Sem ter sua substância alterada e apenas sofrendo uma redução de tamanho, alguns materiais exibem
propriedades que não possuíam antes, como mudança de cor, condutividade elétrica, maior elasticidade, maior
dureza e resistência ou maior reatividade química, entre outras. Um bom exemplo é o carbono na forma de
grafite que, da maneira usada em um lápis, é maleável e se quebra facilmente, mas, se reduzido à nanoescala,
torna-se mais resistente que o aço e seis vezes mais leve. Essa descoberta já bastaria para mudar sensivelmente
a produção industrial de diversos produtos, mas, além disso, as pesquisas em nanotecnologia indicam a
utilização de matérias que, em nanoescala, podem ajudar a esfriar a atmosfera, aumentar a propulsão e reduzir
a necessidade de combustível para foguetes, limpar ambientes tóxicos ou interferir na fotossíntese das plantas,
entre outras aplicações.
Mais ainda, a manipulação dos materiais em nanoescala pode permitir aos cientistas a criação e o
desenvolvimento de materiais que não existiam antes. Uma vez que “os instrumentos de trabalho” da
nanotecnologia são os elementos da Tabela Periódica, os cientistas podem manipular os blocos básicos de
construção de tudo o que existe no planeta, seja animado ou inanimado, fazendo com que os processos nano
tecnológicos possam ser aplicados em qualquer setor da indústria, criando novos produtos manufaturados e
transformando radicalmente os que já existem. Várias empresas de todo o mundo divulgaram recentemente a
realização de pesquisas nessa área visando a criação de computadores mais rápidos, aviões mais leves, novas
drogas para tratamentos específicos e alimentos mais duráveis, entre outros produtos. Todo esse potencial fez
com que a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos estimasse que o mercado da indústria nano
tecnológica movimentará mais de US$ 1 trilhão nos próximos dez anos.
“A elite científica mundial gastou no ano passado US$ 10 bilhões em pesquisa básica em nanotecnologia. Nunca
houve um gasto tão grande em pesquisa básica. Nos EUA, por exemplo, o custo de um ano de pesquisas em
nanotecnologia significou mais dinheiro do que o gasto para as pesquisas da ida à Lua e do Projeto Manhattan,
que criou a bomba atômica, juntos”, disse o ambientalista canadense Pat Mooney, que é especialista no tema.
Dirigente do Grupo ETC (Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração), Mooney esteve em
Florianópolis no último final de semana, onde participou de um grupo de trabalho sobre os temas da COP-8 a
convite de diversas organizações brasileiras.
Alguns exemplos mostram que a ameaça aos trabalhadores é concreta. Produzido e lançado este ano no Brasil
pelo Grupo ETC, o livro Nanotecnologia – Os riscos da tecnologia do futuro (Editora L&PM) afirma que a indústria
automobilística já está projetando nanopartículas (elementos químicos ou compostos com tamanho menor do
que 100 nanômetros) para criar um material que substitua a borracha e seja capaz de aumentar em muitas
vezes a durabilidade de um pneu de automóvel. Se obtiver sucesso, a demanda por borracha natural certamente
cairá vertiginosamente, o que significará um enorme impacto social para os milhões de seringueiros em países
como a Tailândia, a Malásia, a Índia e a Indonésia, além do Brasil. Outro caso é o algodão. Pesquisas avançam na
obtenção de nanopartículas que possibilitem a obtenção de uma fibra sintética similar a do algodão, mas muitas
vezes mais resistente: “O que as fibras nano tecnológicas vão significar para as cem milhões de famílias
envolvidas mundialmente com a produção de algodão?”, indaga o livro, lembrando que 35 dos 54 países
africanos produzem algodão.
Um relatório feito em 2004 por uma empresa norte-americana de consultoria e análise industrial, a Lux
Research, afirma que a nanotecnologia deve “deslocar fatias de mercado, cadeias de suprimento e postos de
trabalho em praticamente todas as indústrias”. Em outro trecho, o relatório afirma que “assim como a
Revolução Industrial inglesa nocauteou do mercado as fiações e tecelagens manuais, a nanotecnologia vai
arrebentar com uma grande quantidade de companhias e indústrias hoje bilionárias”. A velocidade com que as
inovações vêm acontecendo sem serem bem compreendidas ou sequer acompanhadas pela sociedade preocupa
ambientalistas, humanistas e militantes de esquerda em todo o mundo. Para Pat Mooney, no entanto, ainda há
tempo para a reação: “É fundamental que essa discussão seja multiplicada e que estejamos preparados para ela
na COP-8, ocasião em que os países ricos vão querer incluir à sua maneira a questão da nanotecnologia na CDB”.
Apenas no setor de alimentação e agricultura, cerca de 260 empresas admitem estar trabalhando com
nanotecnologia. A “corrida do ouro” nano tecnológica tem provocado nos últimos dois anos uma frenética busca
pela obtenção de patentes: “Os pedidos de patente hoje falam de aplicações da nanotecnologia nos campos
mais diversos, com tecnologias que envolvem coisas vivas e não vivas. Um terço da tabela periódica já está
patenteado”, alerta Mooney. Segundo estimativa do Grupo ETC, cerca de 475 produtos contendo nanopartículas
invisíveis, não-regulamentadas e não-rotuladas, já estão sendo comercializadas em países como o Brasil. As
nanopartículas já fariam parte de produtos alimentícios, agrotóxicos, cosméticos, protetores solares, fraldas e
absorventes íntimos: “Parece coisa de filme de ficção-científica. Mas é verdade e talvez seja a batalha mais dura
que travamos até agora”, avalia Mooney.
===================================================================
27 de Outubro de 2005.
Leia o texto elaborado na Assembleia da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), realizada em Florianópolis
no dia 20 de outubro, durante o III Congresso Brasileiro de Agroecologia, com a participação de mais de 200
pesquisadores da área:
“Nos próximos dias, o presidente Lula deve assinar o decreto que regulamenta a Lei de Biossegurança
(11.105/05), objeto de grandes controvérsias no Congresso, no meio acadêmico e na opinião pública do país e
do mundo.
A Lei de Biossegurança confere importantes poderes a uma Comissão formada exclusivamente por cientistas,
com grau acadêmico de doutor.
Quem já prestou atenção no debate mais técnico sobre a segurança dos organismos transgênicos deve ter
constatado que os “representantes” da ciência que aparecem em defesa da liberação ampla e irrestrita de
transgênicos são exclusivamente pesquisadores da engenharia molecular ou do melhoramento genético.
Raramente há neste debate especialistas de outras áreas – mesmo das ciências biológicas – que discutam os
métodos mais adequados para se conhecer e avaliar os riscos dos transgênicos, embora todos reconheçam que
a Biossegurança é uma matéria interdisciplinar por sua própria natureza.
Pode dar ainda a falsa impressão de que as sociedades científicas têm uma posição definida e favorável à
liberação irrestrita de transgênicos, quando, na verdade, são praticamente apenas expoentes da área de
genética molecular que se manifestam.
Não se trata de negar a importância da participação de melhoristas e geneticistas moleculares nos processos de
decisão sobre transgênicos, mas sim de afirmar a necessidade de uma abordagem científica integrada que dê
conta da complexidade do assunto.
Certamente, sob diferentes e complementares olhares sobre as implicações da introdução desses produtos no
meio ambiente e na cadeia alimentar, ciência e sociedade ganhariam.
A operacionalização do conceito da biossegurança não é possível pela via uni disciplinar, e entre as questões que
confirmam a necessidade de uma visão plural, estão:
- A transferência horizontal de genes e os impactos decorrentes do uso de vetores infecciosos para a criação de
plantas transgênicas;
- A confirmação de que o gene modificado da soja é transferido para a flora intestinal de seres humanos;
- O cruzamento entre variedades transgênicas com diferentes características e a criação de plantas de difícil
controle, como a canola no Canadá que ganhou resistência a três diferentes herbicidas;
- O impacto sobre os organismos decompositores de matéria orgânica no solo e sobre bactérias fixadoras de
nitrogênio;
Pela lei, a nova CTNBio será composta por 12 cientistas, nove representantes de ministérios e seis
representantes da sociedade civil, todos obrigatoriamente com grau de doutor e com destacada atividade
profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente.
A partir da lista tríplice, a escolha final caberá ao MCT, conforme previsto na Lei de Biossegurança.
As organizações da sociedade civil propõem ainda que, entre os critérios para escolha dos cientistas, conste (1) o
equilíbrio entre as mais variadas áreas das ciências biológicas (e não um domínio da genética molecular), e (2) a
independência dos cientistas, isto é, que os membros não participem de projetos de desenvolvimento de OGMs.
Para que a nova CTNBio seja de fato uma instância encarregada de garantir biossegurança à sociedade,
apelamos aos cientistas para que discutam o assunto CTNBio, biossegurança e bioética em suas entidades de
representação e se manifestem junto ao MCT, junto ao presidente da República e junto à opinião pública,
reivindicando a ampla participação das várias sociedades científicas na CTNBio e a coordenação deste processo
de indicação pela SBPC.
Bombardeio de informações
A opinião pública tem sido bombardeada com informações de que as "comunidades científicas" de todo o
mundo não veem qualquer risco com a liberação comercial dos transgênicos, citando estudos da OMS, FAO e
várias Academias de Ciência, inclusive a do Brasil.
A verdade não é essa. Embora as organizações em questão tenham feito declarações “a favor” dos transgênicos
elas tiveram o cuidado de recomendar que cada liberação fosse objeto de avaliações específicas para cada
bioma particular.
Alguns cientistas bastante respeitados com posições independentes em relação aos grandes interesses das
indústrias de biotecnologia têm opiniões que devem servir de alerta para todos:
"Sou geneticista e, portanto, estou muito entusiasmado sobre o que se passa em termos de engenharia genética.
Penso que estamos vendo agora possibilidades que eu nunca imaginei ver na minha vida” .... “O que me
incomoda é que temos governos que deveriam estar zelando pela nossa saúde e pela segurança do nosso meio
ambiente e que atuam como torcida organizada para esta tecnologia que está ainda na sua infância e nós não
sabemos o que pode provocar” .... “qualquer pessoa que diga que os transgênicos são perfeitamente seguros é
inacreditavelmente estúpido ou está mentindo deliberadamente. A realidade é que nós não sabemos. As
experiências simplesmente não foram feitas e nós agora viramos cobaias". (David Suzuki, cientista canadense,
26/4/2005, em entrevista ao The Leader Post).
Infelizmente, o que se observa em diversos países é a confusão entre a propaganda das empresas de
biotecnologia e informações científicas.
Esta “confusão” inclusive é promovida pelas próprias empresas, que fundaram em diversos países organizações
com a finalidade de difundir informações sobre biotecnologia.
A sociedade civil e a população brasileira esperam que os cientistas das diversas áreas se envolvam nesta
discussão para que as análises sobre os impactos da introdução dos Organismos Geneticamente Modificados na
produção e no consumo se façam de forma adequada e responsável.”
Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br
9/novembro/2005.
Relações perigosas
Diante da escolha dos cientistas que irão compor a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, diversas
entidades, sob a capa de caráter científico, financiadas ou apoiadas por multinacionais do setor, têm se dedicado
ao lobby em Brasília. Conheça algumas delas
Desde julho um amplo grupo de entidades da sociedade civil (organizações de consumidores, de ambientalistas
e dos movimentos sociais do campo), preocupadas com os rumos do debate interno no governo a respeito da
regulamentação da Lei de Biossegurança, vem pedindo uma audiência com a toda poderosa ministra da Casa
Civil, Dilma Roussef, sem receber qualquer resposta. No entanto, a ministra recebeu um grupo de cientistas que
foram pressionar para uma imediata assinatura do decreto de regulamentação e, é claro, por uma
regulamentação que facilite a rápida liberação comercial dos transgênicos.
A caravana foi organizada, ao que se sabe, por Aluízio Borém, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e
conselheiro do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia). Mas quem custeou as passagens e demais
gastos? Será que foi a Universidade? Será que foram os cientistas do próprio bolso? O fato preocupa neste
momento porque está em discussão o decreto de biossegurança e a composição da CTNBio (Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança).
Fatos como esse e a atuação de organizações "científicas" colocam em debate quais serão os cientistas
escolhidos para integrar a Comissão que irá avaliar a biossegurança dos transgênicos e de que forma serão
escolhidos.
Diversas entidades, sob a capa de caráter científico, financiadas ou apoiadas por empresas de biotecnologia
(Monsanto & cia) têm se dedicado ao lobby pro-liberação de transgênicos. Foi assim na aprovação da Lei de
Biossegurança e prossegue assim na regulamentação da Lei. O CIB foi fundado e é financiado diretamente por
um conjunto de empresas multinacionais, entre elas a Monsanto e a Syngenta. A Anbio (Associação Nacional
para a Biossegurança) tem entre seus sócios corporativos e institucionais a Monsanto, a Cargill, a Pionner
Sementes Ltda, a Bayer Seeds Ltda, entre outras. Merece menção ainda uma organização não-governamental
chamada Pró-Terra, a Associação Brasileira de Tecnologia, Meio Ambiente e Agronegócios, que tem como
empresa associada a Monsanto e tem como coordenador de comunicação e de seu boletim Aluízio Borém.
Até há pouco, constava como conselheiro do CIB o advogado Beto Vasconcelos. Em 1999, ele tinha procuração,
com outros advogados, para defender os interesses da Monsanto em escritório de São Paulo. Depois de atuar no
Ministério da Justiça, Vasconcelos bem recentemente mudou-se para a Casa Civil. Tem participado ativamente
do processo de regulamentação da Lei de Biossegurança. O escritório de advocacia KLA, do qual está licenciado,
é associado ao CIB.
Vasconcelos trabalha junto com outro advogado da Casa Civil, Caio Bessa Rodrigues, outrora advogado da área
de Assuntos Regulatórios e Relações Governamentais do Pinheiro Neto - Advogados em Brasília. Este famoso
escritório paulista tem como um de seus clientes a Monsanto e participou de diversos aspectos da
regulamentação de transgênicos no Brasil, como por exemplo da Resolução 305/02 do CONAMA. Rodrigues
também teve parte ativa na discussão do decreto de regulamentação da Lei de Biossegurança.
Luiz Antonio Barreto de Castro é outro conhecido defensor de transgênicos. Este senhor é membro da Anbio e é
o novo secretário de Política e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Não consta em seu currículo na página na internet do MCT, mas ele foi o primeiro presidente da CTNBio e
ocupava o cargo em 1998, quando foi decidida de forma açodada e contra avaliações de dois renomados
especialistas da Embrapa a liberação comercial da soja transgênica da Monsanto. Teme-se que ele tenha papel
de destaque na escolha dos cientistas que vão compor a nova CTNBio.
Vale mencionar o alerta do geneticista canadense David Suzuki, entusiasta da engenharia genética, que
declarou: "o que me incomoda é que temos governos que deveriam estar zelando pela nossa saúde e pela
segurança do nosso meio ambiente e que atuam como torcida organizada para esta tecnologia que está ainda na
sua infância e nós não sabemos o que pode provocar" (...) "Qualquer pessoa que diga que os transgênicos são
perfeitamente seguros é inacreditavelmente estúpido ou está mentindo deliberadamente. A realidade é que nós
não sabemos. As experiências simplesmente não foram feitas e nós agora viramos cobaias". (em 26/4/2005, em
entrevista ao The Leader Post).
É por essas e outras que a visita da comitiva de cientistas à Casa Civil causou certa apreensão. O jornalista
Cláudio Humberto, em nota divulgada 29/02/04, já chamava atenção sobre a composição da CTNBio: "A
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNBio, do Ministério da Ciência e Tecnologia, tem tantos
representantes de empresas e cientistas pendurados em verbas de multinacionais, como a Monsanto, que
ganhou apelido de pesquisadores independentes: CTNBingo!
*Jean Marc von der Weid é coordenador do Programa de Políticas Públicas da ONG AS-PTA e membro do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável/MDA.
====================================================================
Na divisa entre os municípios de Lagoa Nova e Cerro-Corá as comunidades estão assustadas com as explosões.
Entre plantas nativas da região, como umburana, angico e aroeira, um fenômeno na Serra de Sant’Ana, na divisa
dos municípios de Lagoa Nova e Cerro-Corá, vem chamando a atenção da população nos últimos dias. Os
moradores das comunidades Poço Velho e Floresta andam assustados e à procura de explicações para o que
realmente está acontecendo. à noite, são ouvidos estrondos, parecidos a tremores de terra. Em meio ao
matagal, no topo da serra, a reportagem do Diário de Natal esteve ontem visitando uma área onde se formou
um grande amontoado de pedras escuras e claras.
Como na parte superior montanhosa não existem rochas, as que surgiram no local são como se tivessem saído
do interior do solo. Muitas pessoas opinam, mas ninguém chega a uma conclusão. Falam até em vulcão. Fagner
Medeiros Soares, 16 anos, que desbastava lenha na região para construção de cercas, demonstra receio de
voltar ao local. “Na semana passada, meus colegas estavam cortando lenha lá na serra, quando de repente o
terreno começou a afundar. Eles correram e abandonaram a lenha”, comenta o jovem.
Aprígio Moreira de Araújo, 72 anos, ex-minerador que tem se preocupado em tentar explicação para o fato,
disse que há anos aconteceram fenômenos semelhantes, mas que não foram de igual intensidade aos ocorridos
atualmente. Comparando, ele avalia que o aspecto está se tornando cada vez mais estranho. “Pode ser até uma
grande concentração de minério ou até mesmo um vulcão, que está prestes a entrar em erupção, mas só
poderemos ter mais certeza quando estudiosos estiverem no local”, declarou Aprígio Moreira.
As pedras amontoadas dão a impressão que passaram por uma forte explosão. “Existem pedras de há algum
tempo atrás, mas podemos ter a certeza que pedras mais novas se movimentaram há pouco tempo”, analisa o
ex-minerador, pegando em algumas rochas. “São estrondos. As pedras surgiram como se vissem de debaixo da
terra, de um buraco, e queimadas. Estamos torcendo que os estudiosos apareçam para nos dar uma explicação”,
comenta Morreira.
Para o assessor de comunicação da prefeitura de Lagoa Nova, Val Araújo, é tudo muito estranho. “É um
fenômeno a se explicar, que geólogos e sismólogos poderão dar um laudo preciso”, avalia, após acompanhar a
reportagem até o local.
São Paulo (Agência Estado) - O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, colocou em prática ontem
mesmo a regulamentação da Lei de Biossegurança - que trata da pesquisa com organismos geneticamente
modificados e do uso de células-tronco embrionárias. No dia em que o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva com as novas normas foi publicado, Rezende editou uma portaria que é o ponto de partida para a
recomposição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - o órgão encarregado de analisar projetos de
pesquisa e da comercialização de produtos. O ministro espera que a primeira reunião da CTNBio seja ainda neste
ano.
“Temos de andar rápido. Mas estou confiante que vamos cumprir o prazo”, afirmou Rezende em Brasília. Na
portaria editada ontem, o ministro criou a comissão encarregada de formar uma lista tríplice com cientistas
indicados para integrar a CTNBio. Tal comissão terá um mês para apontar os nomes dos candidatos. Rezende
está confiante de que esta etapa será cumprida antes do prazo. Ao mesmo tempo, o ministro deverá enviar hoje
uma carta para que ministérios indiquem rapidamente seus representantes.
A rapidez desejada por Rezende não é à toa. Em março, quando a Lei de Biossegurança entrou em vigor, a
CTNBio foi desativada. Desde então, 417 processos de novas pesquisas, de importações de produtos usados em
estudos e relatórios ficaram parados, aguardando uma nova formação da CTNBio.
Com a regulamentação, a tendência é de que o número aumente rapidamente. O ministro sabe que vai
demorar um tempo ainda para colocar a casa em dia. Mas definiu algumas prioridades. “A recomendação é que,
assim que retomar as atividades, a CTNBio analise processos mais urgentes”, afirmou. E ele já tem em mãos a
lista do que não pode esperar: nove processos de liberação comercial na área humana e animal e outros 49 na
área vegetal e ambiental: oito deles, de liberação comercial.
Tempo perdido - A demora comprometeu o plantio de organismos geneticamente modificados em pelo menos
dois anos. “Até a CTNBio sentar de fato para trabalhar, outra safra terá sido perdida”, diz Alda Lerayer,
secretária-executiva do Conselho de Informações de Biotecnologia (CIB). Em nota, a empresa Monsanto afirma
que “a retomada das atividades da CTNBio é um importante passo para a continuidade das pesquisas de novas
tecnologias agrícolas”.
Contudo, alguns desses métodos são barrados pelo texto, que impede a produção de grãos inférteis. Um trecho
feito especificamente para proibir o uso do gene terminator - que torna a semente estéril e obriga os produtores
a comprarem novas a cada safra, em vez de aproveitarem uma parte de sua colheita - acaba impedindo outras
técnicas, como a produção de frutos sem semente e de plantas como fonte de matéria-prima para vacinas. “Do
jeito que está, a regulamentação coíbe tecnologias que são muito interessantes para o Brasil”, diz o pesquisador
Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Avanço - A regulamentação da lei também foi comemorada pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
“Finalmente temos um projeto que nos dá o deslanche para avançar rapidamente.” Ao comentar a publicação do
decreto presidencial, Rodrigues adiantou que em breve fará a indicação de seu ministério para compor a
CTNBIo.
Rezende disse não haver formas de mensurar o prejuízo provocado na ciência brasileira pela interrupção das
atividades da CTNBio neste ano. “Mas prefiro olhar por outro ângulo: agora temos uma lei moderna, que muito
vai nos auxiliar.”
A demora na regulamentação foi provocada porque integrantes do governo divergiam sobre dois temas: o
quórum necessário para a aprovação da comercialização de organismos geneticamente modificados e a criação
de um dispositivo que impediria que integrantes da CTNBio participem da análise de processos que, de alguma
forma, eles têm interesses pessoais ou profissionais.
Marina - Na queda-de-braço de setores do governo, saiu vencedora a ala formada pelo Ministério do Meio
Ambiente e Ministério da Saúde. Ambos defendiam o quórum de 2/3 para a aprovação da comercialização de
transgênicos. Os Ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia defendiam apenas maioria simples - como
acontece para pedidos de pesquisa. “Isso de fato vai dificultar um pouco a aprovação dos pedidos”, admitiu
Rezende.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, justificou o
quórum. “Pesquisa é algo restrito. Mas comercialização envolve uma série de critérios. Qual seria a segurança da
sociedade de consumir um produto que passou ‘raspando’ na comissão?
Assim, todos terão confiança na decisão. Em última análise, será bom até para empresários.” Para Alda Lerayer,
do CIB, a exigência acabou concedendo para a comissão um caráter político, não apenas técnico. “Por que, no
caso da pesquisa, basta a minoria simples? Por que essa diferenciação?”, questiona. “É um texto muito mais
severo do que esperávamos.”
O coordenador-executivo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Sezifredo Paz, lamenta que os
Ministérios de Saúde e Meio Ambiente não tenham poder de veto no caso da comercialização de transgênicos.
“Uma árvore doente dá frutos doentes. A lei (da Biossegurança) tem dispositivos inconstitucionais que
submetem ministérios à CTNBio, e a regulamentação é seu reflexo.”
Fonte: https://www.oliberal.com/
===================================================================
Com o termo, que formaliza uma importante parceria já existente, os dois órgãos pretendem estabelecer a
realização conjunta de projetos e programas desenvolvidos pelos jardins botânicos e suas aplicações. O acordo
prevê ainda o intercâmbio de informações e pesquisas científicas.
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é referência no trabalho de preservação e pesquisa e é o mais antigo no
Brasil, o que torna a cooperação positiva para a Fundação de Belo Horizonte.
Além disso, possibilita uma maior interação entre as instituições na política de conservação da flora, que tem,
em sua linha de atuação, programas de conservação da biodiversidade, uso sustentável das plantas e o
fortalecimento da educação ambiental em jardins botânicos.
A assinatura do Termo de Cooperação Técnica acontece na sede da Fundação Zoo-Botânica , avenida Otacílio
Negrão de Lima, 8.000, Pampulha.
Fonte: http://www.otempo.com.br
A estimativa é que entre 20% e 25% da riqueza genômica (vegetal e animal) do planeta se concentre no
território brasileiro. Isto equivale a 55.000 espécies vegetais, 524 mamíferos, 517 anfíbios, 1.622 aves, 468
répteis, 3.000 espécies de peixes de água doce e cerca de 15 milhões de insetos. Os olhos do mundo, calçados
nas lentes da biopirataria, estão postos nestes formidáveis capital e poupança biológicos.
Tão somente no livro Plantas Medicinais da Amazônia e Mata Atlântica de L.C. Di Stasi e de C.A. Hiruma (editora
Unesp) foram catalogadas 135 espécies medicinais citadas por 110 moradores da Amazônia e 170 da Mata
Atlântica. A descoberta dessa riqueza, ainda pouco desvendada, iniciou com o trabalho do farmacêutico
Theodoro Peckolt que desembarcou no Brasil por orientação do renomado médico e botânico Carl Friedrich Von
Martius e quem já em 1874, assentando as primeiras bases de uma química de produtos naturais brasileira,
isolou um primeiro alcaloide iridóide a partir da planta apocinácea Plumeria lancifolia e que ele denominou
agoniadina, hoje, plumerídio.
Chama a atenção na mídia, a oferta do heptapeptídio Deltorphin ou Dermencephalin por parte da Phoenix
Pharmaceuticals, Inc. (EUA) por US$ 50 cada meio miligrama (1 mg é a milésima parte de um grama). É obtido da
secreção de glândulas da pele da perereca Phylomedusa sauvagei, cujo gênero é comum na Amazônia. A
potentíssima atividade biológica frente a receptores para opiáceos (*) tem a ver com a seqüência em que os L-
aminoácidos estão dispostos na cadeia deste peptídio e a circunstância especial de que o penúltimo deles
(metionina) é um isômero D. Este é um formidável desafio para os bioquímicos e biólogos moleculares já que o
RNAm que “orienta” a biossíntese do peptídio traz um códon que é especifico para a incorporação de L-
Metionina em analogia aos oligopeptídios que trazem na penúltima posição o aminoácido D-Alanina (ao invés de
L-Alanina). Logo, depois do peptídio ser traduzido (RNAm -: proteína) nos ribossomas, ocorre uma modificação
post-translacional que converte um aminoácido da série “L” no respectivo isômero da série “D” (um par
isomérico L / D é como a imagem especular de um objeto defronte a um espelho; há semelhanças, mas as
estruturas não são sobreponíveis). O que a moderna farmacologia está oferecendo trata-se da mesma “vacina
de sapo” ou kambô de longa data conhecida e manipulada pelos índios katukina (Acre) que a aplicam para
corrigir a “panema” ou estado de espírito negativo que favorece as doenças. Todavia, o uso do kambô está
proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não obstante dezenas de pedidos de patente
assinados por laboratórios estrangeiros.
Uma outra espécie de perereca (P. distincta) forneceu uma mistura de peptídios tendo entre 25 e 33 resíduos de
aminoácidos. Provaram forte atividade antimicrobiana contra bactérias Gram positivas (Staphylococcus,
Enterococcus) e negativas (Escherichia e Pseudomonas) na faixa de 0,6 a 40 micromoles / litro. Da pele desta
mesma ranzinha C.V. F. Batista e C. Block Jr ainda isolaram a distinctina, um peptídio heterodimérico em que as
cadeias individuais são ligadas por uma ponte dissulfeto e dotado, igualmente como os demais, de alta
bioatividade antimicrobiana.
(*) Receptores opiáceos compõem uma família inicialmente deslindada através da ação analgésica de um
componente do ópio, a morfina.
José Domingos Fontana é professor emérito na UFPR junto ao Departamento. de Farmácia, pesquisador 1A do
CNPq e 11.º Prêmio Paranaense em C&T.
Fonte: https://tribunapr.uol.com.br/
Medidas a adoptar pela Comissão Europeia - Lançada consulta pública sobre perda
de biodiversidade após 2010
12.12.2005 - 13h57 PUBLICO.PT
A Comissão Europeia lançou hoje uma consulta pública na Internet, com a duração de oito semanas, sobre as
medidas a adoptar para contrariar a perda de biodiversidade depois de 2010.
Os resultados da consulta serão "levados em consideração na comunicação final sobre os compromissos feitos
pelos chefes de Estado e de Governo da União Europeia para impedir a perda de biodiversidade no espaço dos 25
e no planeta", segundo um comunicado de Bruxelas.
A consulta, que funciona através do preenchimento de um inquérito online sobre a política europeia no sector
(ver link em baixo), sugere vários desafios e medidas para salvaguardar sítios prioritários e espécies, conservar e
recuperar a biodiversidade fora das áreas protegidas, reconciliar desenvolvimento terrestre e biodiversidade e
apoiar a adaptação das espécies e habitats às alterações climáticas. Além disso, é ainda pedida a opinião sobre
formas de reduzir o impacte de espécies exóticas invasoras e integrar estas preocupações na elaboração de
políticas.
A Comissão Europeia salienta que, desde a década de 19550, a Europa perdeu mais de metade das suas zonas
húmidas. Atualmente, na União Europeia, estão em risco de extinção 335 espécies de vertebrados e 800
espécies de plantas.
Não posso deixar de anotar que é um absurdo essa informação ter sido divulgada primeiro nos Estados Unidos,
não no Brasil. ONGs de pesquisa séria como IPAM e ISA, que têm vários coautores no artigo em questão do
periódico Conservation Biology, precisam cuidar melhor da divulgação. Se não fosse por uma dica desinteressada
de um antropólogo amigo, os leitores da Folha (e deste blogue) demorariam a ficar sabendo de uma informação
ultra relevante para uma polêmica antiga entre ambientalistas.
--------------------------------------------------------------------------------
Se você acha que os índios do Brasil já têm terra demais, como afirmou o presidente da Funai, mas também
quer ver a floresta amazônica preservada, pense duas vezes. Será preciso escolher uma das duas opiniões.
Segundo um estudo publicado na edição de fevereiro do periódico "Conservation Biology", as terras indígenas
são tão boas -ou melhores- que parques nacionais para conter a destruição da mata.
É a primeira vez que se mede, de fato, um efeito que já era conhecido. Basta olhar fotos de satélite ou mesmo
sobrevoar áreas em torno do Parque Indígena do Xingu em Mato Grosso, por exemplo, para ver que a
devastação é muito menor dentro do que fora dele. Havia, no entanto, uma convicção difundida entre algumas
correntes ambientalistas de que parques eram melhores que reservas indígenas para proteger a biodiversidade.
A nova pesquisa prova que não é bem assim.
A base do estudo são imagens de satélite. Para quantificar o efeito inibidor do desmatamento de um dos quatro
tipos mais importantes de reserva do país (parque, terra indígena, reserva extrativista ou floresta nacional),
pesquisadores de sete instituições brasileiras e americanas compararam o desmatamento e a ocorrência de
queimadas dos dois lados da linha demarcatória de cada área. O método foi escolhido para diminuir o peso
daquelas reservas que, por ficarem muito longe da fronteira agrícola, só estão preservadas por falta de pressão
(atividades econômicas, como agricultura e extração de madeira).
"A idéia de que muitos parques nos trópicos existem somente "no papel" precisa ser reexaminada, assim como a
noção de que as terras indígenas são menos eficazes do que os parques na proteção da natureza", afirmou o
ecólogo Daniel Nepstad num comunicado do Centro de Pesquisa de Woods Hole (Massachusetts, EUA). Ele é o
autor principal do estudo, ao lado de vários americanos e de Ane Alencar, geógrafa do Ipam (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia), uma ONG de pesquisa de Belém, e de Márcio Santilli e Alicia Rolla, do ISA
(Instituto Socioambiental), de São Paulo.
É uma antiga controvérsia: reservas inabitadas (parques) são mais eficazes que as habitadas ou aquelas que
permitem alguma exploração (terras indígenas, reservas extrativistas e florestas nacionais)? Os autores
concluem que não, e se apoiam em números.
Há cerca de 1 milhão de km2 de terras indígenas (TIs) no Brasil, a maior parte na Amazônia. É muita terra: 1/5 da
floresta e metade de tudo que existe como área protegida. Foram consideradas no estudo 121 TIs (40% do total
de sua área na Amazônia), no caso do desmatamento, e 87 TIs (35% da área total), no das queimadas.
À primeira vista, os parques parecem proteger mais contra desmatamento: comparando áreas sem cobertura
registradas em 1997 e 2000, observou-se 20 vezes mais destruição na faixa de 10 km fora dos parques do que na
de dentro. Para TIs, o coeficiente não foi tão alto (8,2 vezes), similar ao das Flonas (9,5 vezes). No quesito
inibição de queimadas, as TIs se saíram melhor: o coeficiente de pontos de fogo identificados por satélite foi
quase duas vezes mais positivo no caso das reservas indígenas do que na zona equivalente em unidades de
conservação.
A razão disso deve ser buscada na maior pressão que sofrem as TIs, pois os parques em geral são criados pelo
governo federal longe das frentes agrícolas e madeireiras, como o de Tumucumaque -um dos maiores do
mundo, com 38.867 km2, mas nos confins da fronteira norte do país. Já a TI Mãe Maria, dos índios gaviões
(Pará), é cortada por uma rodovia estadual e uma linha de transmissão elétrica e tem como vizinha a estrada de
ferro de Carajás.
Se quiser conter a sanha devastadora de pecuaristas, madeireiros e sojicultores, parece que o melhor que o
governo federal tem a fazer é dar mais terra para os índios, porque sabem protegê-la.
Tipicamente, uma espécie se divide em duas novas somente quando alguns espécimes são isolados dos demais
em um lugar diferente. Vários teóricos dizem que a especiação simpátrica também é possível, mas tem sido
difícil de provar sua existência. Agora, há estudos de dois casos.
Axel Meyer, um biólogo evolucionista da Universidade de Konstanz na Alemanha, visitou um lago isolado, de
cinco quilômetros de extensão, no Nicarágua. No passado, o lago de 23 mil anos era cheio de um tipo de peixe
ciclídeo chamado de Midas. Quando a equipe comparou o DNA mitocondrial e outros genes do Midas com um
peixe endêmico chamado de ciclídeo Flecha, eles descobriram que o Flecha - que evoluiu do Midas há cerca de
10 mil anos - era diferente o suficiente para ser classificado como uma espécie diferente.
Havia outros sinais de que os peixes seguiram caminhos diferentes: um deles se alimenta no fundo do lago,
enquanto o outro não, e eles não conseguem cruzar com sucesso.
Vincent Savolainen e William Baker, do Jardim Botânico Real, em Richmond, no Reino Unido, foram para a Ilha
Lord Howe no Oceano Pacífico. Eles se seus colegas construíram uma árvore genealógica baseada no DNA que
incluía as duas espécies de palmeira, e descobriram que um determinado tipo de palmeira havia descendido da
Kentia entre 1 e 2 milhões de anos atrás. Apesar de coexistirem em 20% do território, elas florescem com seis
semanas de diferença.
As Kentia nascem em solo alcalino, enquanto o outro tipo de palmeira prefere o ácido. Savolainen e seus colegas
sugerem que conforme a Kentia se espalhava por diversos solos, o tempo de florescer atrasou, possivelmente
porque os genes precisavam se adaptar ao pH alterado. Eventualmente, as plantas do solo alcalino não puderam
polinizar as do ácido, e vice-versa.
"Esses estudos são importantes porque são muito convincentes, e também são oportunos", disse Giacomo
Bernardi, um biólogo evolucionista da Universidade da Califórnia. Agora existem dados verdadeiros para avaliar
os modelos teóricos do processo. A especiação simpátrica "pode não ser tão incomum como presumimos",
completou Jeffrey Feder, biólogo evolucionista da Universidade De Notre Dame, no Estado de Indiana (EUA).
Fonte: Estadão.
Em 1977, quando alguns proprietários procuraram o IBAMA desejando transformar parte de seus imóveis em
reservas particulares, foi editada a Portaria 327/77, do extinto IBDF, criando os Refúgio particulares de Animais
Nativos – REPAN, que mais tarde foi substituída pela Portaria 217/88 que lhes deu o novo nome de Reservas
Particulares de Fauna e Flora.
Com essa experiência mostrou-se a necessidade de um mecanismo melhor definido com uma regulamentação
mais detalhada para as áreas protegidas privadas. Assim, em 1990, surgiu o Decreto nº 98.914 regulamentando
esse tipo de iniciativa que, em 1996, foi substituído pelo Decreto nº 1.922, sendo que, em 2000, com a nova lei
do Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, as RPPN passaram a ser considerada unidade de
conservação, integrante do grupo de uso sustentável.
· Isenção do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) referente à área criada como RPPN;
· Prioridade na análise dos projetos, pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA;
· Preferência na análise de pedidos de concessão de crédito agrícola, junto às instituições oficiais de crédito, para
projetos a serem implementados em propriedades que contiverem RPPN em seus perímetros;
· Possibilidades de cooperação com entidades privadas e públicas na proteção, gestão e manejo da RPPN
A fim de aprimorar estas duas portarias, em 1990, foi editado o Decreto 98.941, que institui as RPPN's, sendo o
Decreto 1.922, de 05 de junho de 1996.
As RPPN's são importantes para a conservação porque : (1) contribuem para uma rápida ampliação da áreas
protegidas no país; (2) Atuam como zonas-tampão no entorno de parques reservas, constituindo-se em
corredores ecológicos; (3) Apresentam índices altamente positivos na relação custo-benefício; (4) São facilmente
regulamentadas. Possibilitam a participação da iniciativa privada no esforço nacional de conservação; (5)
Contribuem para a compensação da biodiversidade dos biomas brasileiros.
As propriedades particulares podem ser preservadas e reconhecidas pelo Poder Público como Reserva Particular
do Patrimônio Natural - RPPN's, sem prejudicar seus direitos de proprietário. Você também pode requerer o
reconhecimento integral ou parcial de sua propriedade.
A área passa a receber atenção especial dos órgãos de meio ambiente, instituições de pesquisas e entidades
ambientalistas. E obtém muitas vantagens para permanecer protegido de queimadas, desmatamentos, caça e
pesca ilegais, além de outras atividades degradadoras do meio ambiente.
Como RPPN, sua propriedade pode desenvolver atividades de turismo ecológico, lazer e educação ambiental,
gerando novas opções de renda.
As RPPN's existem desde 1.990, através de um programa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - Ibama. Trata-se de uma iniciativa que visa estimular os proprietários particulares
a somar esforços na conservação da rica diversidade biológica brasileira.
2. O Ibama analisará o processo, procederá a vistoria técnica na propriedade emitindo o respectivo laudo e, se
favorável, solicitará ao interessado o Termo de Compromisso de que trata a legislação pertinente e publicará o
ato de reconhecimento.
Fonte: http://www.ambientebrasil.com.br
==================================================================
“Falsificações” Naturais
Os Executivos são todos iguais. Estejamos onde estivermos, conseguimos identificar um quadro importante de
uma empresa – o vestuário, o calçado e os adereços são semelhantes. Independentemente das diferentes
empresas a que pertencem, percursos de vida, educação e anos de carreira, um executivo transmite uma
imagem perfeitamente identificável, estejamos em Nova Iorque, Tóquio ou na Bolsa de Lisboa.
Tal como os executivos adoptam uma imagem semelhante, a Natureza reproduz formas e funções semelhantes
em organismos muito diferentes.
Tubarões e golfinhos, ao nível do seu plano corporal, são muito semelhantes, apesar de um ser um peixe e o
outro um mamífero, e estarem separados evolutivamente por 400 milhões de anos. Tubarões e golfinhos podem
ser apontados como exemplos de Evolução Convergente – aquisição independente de características físicas
semelhantes por parte de seres vivos muito diferentes.
Existem outros exemplos de Evolução Convergente: os membros anteriores das aves, dos morcegos e dos
pterossauros (répteis voadores, parentes e contemporâneos dos dinossauros) apresentam formas semelhantes.
Embora de grupos diferentes, separados por milhões de anos de evolução, possuem estruturas anatómicas que
lhes permitem (ou permitiam, no caso dos pterossauros) uma mesma função: voar. A locomoção bípede
(somente nos dois membros posteriores) evoluiu convergentemente nos humanos e nas aves – nestas surgiu há
mais de 200 milhões de anos, nos seus dinossauros antepassados; nos seres humanos, a transição para a
locomoção bípede, há uns meros milhões de anos…
Os leitores e os pombos partilham, convergentemente, este tipo particular de locomoção com alguns roedores,
com os cangurus e com alguns lagartos - facultativamente nestes.
Mas qual o “motivo” da Natureza para organismos tão afastados, em termos evolutivos, apresentem estruturas
e funções tão semelhantes?
Quem não tem muita paciência para cuidar de plantas em casa conhece os cactos. Estas plantas apresentam
formas características, adaptadas aos climas desérticos – forma alongada ou arredondada, sem folhas (para não
perderem água) e as folhas que possuem estão transformadas em espinhos e tecidos internos capazes de
retenção de água. Mas, onde ia eu?
A maioria dos amantes de cactos não sabe é que… está a ser “traída”! Não possuem cactos (família Cactaceae e
originários da América do Norte) mas sim plantas da família Euphorbiaceae. Mas a “traição” é justificável… As
plantas que consideramos cactos desenvolveram, pelo fenómeno de evolução convergente, formas idênticas às
plantas dos westerns. Vivendo em climas igualmente áridos, mas em África, as Euphorbiaceae necessitaram de
adaptar a sua estrutura para evitar perdas de água e…” imitaram” os cactos!
Podemos utilizar um exemplo da cultura humana – a música. Já todos nós constatámos que quando um grupo
musical tem sucesso logo aparecem vários outros a o imitar. As condições do mercado e do gosto musical num
determinado momento são as certas, de maneira que os imitadores também vingam, por se aproveitarem de
um modelo vencedor. Na Natureza, a “imitação” estrutural também funciona de uma maneira equivalente. Por
exemplo quer os veados quer os cavalos desenvolveram membros finos e esguios, assentes no desenvolvimento
do dedo III (central) e redução dos restantes. Estas adaptações permitiam a optimização da corrida. Quer uns
quer outros tinham o mesmo tipo de predadores e, ao longo de milhões, desenvolveram anatomias
semelhantes.
A Seleção Natural conduziu espécies competidoras de um mesmo ecossistema por trilhos evolutivos paralelos,
pois o sucesso evolutivo estava dependente da economia da forma, da função e do design. Todos nós já
constatámos que quando um determinado produto tem sucesso comercial, logo aparecem imitações. É o ritmo
da sociedade de consumo.
------------------------------------------
Junto a tudo isso, colocamos na mesa de negociações os conhecimentos tradicionais adquiridos pelos membros
dessas comunidades ao longo de suas gerações. São novamente essas comunidades que mais sofrem quando a
biodiversidade, da qual dependem, "é destruída ou expropriada e quando seus conhecimentos tradicionais são
apropriados por outros sem seu consentimento ou corroídos pelas pressões do desenvolvimento econômico e
cultural moderno", declara um guia da United Nations University e do Institute of Advanced Studies, ambas
entidades integrantes das Nações Unidas (ONU).
Pensando nisso a lógica seria que essas comunidades pudessem participar mais ativamente de toda e qualquer
discussão relacionada ao 'Acesso e Repartição dos Benefícios' adquiridos por meio da Biodiversidade. Mas não é
assim. Um material produzido pela ONU, chamado de Guia da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
declara que esses povos têm sido excluídos de qualquer participação significativa nas decisões nacionais e
internacionais sobre a biodiversidade, e que afetam diretamente suas vidas.
O tema, desde então, está em discussão porque há muitos interesses ligados a aprovação ou não, do Artigo 15
da CDB, que trata justamente do uso dos recursos genéticos, reafirmando a soberania dos países sobre seus
recursos genéticos. Em princípio é dado aos países o direito de facilitar ou proibir o acesso dos pesquisadores e
empresas estrangeiras aos seus recursos biológicos.
É interessante perceber que as Diretrizes de Bonn foram colocadas como uma alternativa voluntária à adoção
dos países. Elas ajudaram a esclarecer as comunidades locais e indígenas com relação aos seus direitos, como a
proteção sobre o seu conhecimento e utilização dos recursos biológicos. As Diretrizes demostram três grandes
responsabilidades dos países membros:
Buscar e assegurar que a comercialização e qualquer outro uso de recursos genéticos não impeça o uso
tradicional de recursos genéticos;
Estabelecer a existência de mecanismos para assegurar que suas decisões sejam disponibilizadas para
comunidades indígenas e locais relevantes;
Apoiar as comunidades indígenas e locais na melhoria da capacidade dessas comunidades e na
representação dos seus interesses nas negociações referentes ao acesso aos recursos genéticos e
repartição de benefícios.
Artigo 8: Conservação 'In situ'
Como exemplo a bióloga também citou que das 130 drogas (remédios) mais indicados nos Estados Unidos, 37%
contém ao menos um componente derivado de recursos genéticos, principalmente de países megadiversos, sem
que eles tenham retorno significativo, como é o caso do Brasil, relata Cristina.
A questão mais ressaltada pela bióloga é a proteção dos conhecimentos tradicionais. Segundo as pesquisadoras
Ten Kate e Laird, no livro "The Commercial Use of Biodiversity", 50% das empresas usam conhecimento
tradicional na produção de seus produtos. "Por isso precisamos discutir e ampliar as ações da Repartição dos
Benefícios, para que essa utilização da biodiversidade nacional e dos conhecimentos tradicionais possa ser feita
de maneira mais democrática", afirma.
"Tem que haver uma partição equitativa, mas como isso será feito?", pergunta Cristina Azevedo. As nações
desenvolvidas tencionam não regulamentação, de nenhuma forma. Não regulamentar, proibindo o acesso às
espécies nativas, permite que a biopirataria continue a ser uma grande fonte de renda ilegal dentro de países
em desenvolvimento, ao invés de permitir o uso sustentável da Biodiversidade de maneira justa e eqüitativa. Os
benefícios deveriam englobar não somente as comunidades locais, detentoras dos conhecimentos tradicionais,
mas também a sociedade sendo ela nacional ou internacional.
A ONG suíça SwissAid iniciou sua campanha anual intitulada "Nada de patentes sobre nosso futuro", em que
denuncia que "o governo suíço defende claramente os interesses das multinacionais e exige sempre uma
proteção particularmente severa da propriedade intelectual em seus acordos bilaterais e nas organizações
internacionais". A Suíça é o país sede de alguns dos principais laboratórios multinacionais como Novartis-
Syngenta e Ciba-Geygi, tais conglomerados químicos possuem patentes de cultivares transgênicos, genes
(incluindo humanos), medicamentos, extratos de plantas, fórmulas etc.
Diferente do que possa parecer, se a ideia da não existência de patentes e/ou a 'Repartição de Benefícios' cair
somente sobre os recursos da Biodiversidade, como plantas, sementes, animais e microrganismos, e não sobre
seus derivados, como a fórmula de medicamentos, ou o conhecimento tradicional que norteou as pesquisas
para a fabricação de produtos, qualquer discussão a respeito da Biodiversidade torna-se parcial.
Isso possibilita a concentração de benefícios às partes que se encontram melhor representadas, principalmente
em relação às normas internacionais sobre propriedade intelectual, tratadas no Trade-Related Aspects of
Intellectual Property Rights (TRIPS), que integra da Organização Mundial de Comércio (OMC); ou dentro da
TRIPS-plus que rege normas ainda mais rígidas e específicas pois permitem a privatização de seres vivos.
A posição dos países mega diversos como Brasil, Índia e do continente Africano é imprescindível para a
manutenção da existência e permanência das comunidades locais e dos povos indígenas. A normatização do
conhecimento tradicional e a privatização dos recursos da Biodiversidade, por meio de patentes - sejam elas
regimentadas por tratados bilaterais, nacionais, regionais ou internacionais - irão definir a vida dessas
comunidades. As discussões da CDB em Curitiba neste ano, são definitivamente, para o bem ou para o mal das
gerações pertencentes a essas comunidades e do mundo.
------------------------------------------
Autoria: Clarissa Taguchi e Paula Batista fazem parte da Equipe Consciência.Net e participarão dos eventos sobre
biodiversidade, em Curitiba, em março de 2006.
===================================================================
Em 1998 participei de um encontro de Biosaúde na Alemanha onde foram discutidos assuntos relacionados ao
empobrecimento do solo agriculturável e consequente "fome oculta" de determinados oligoelementos na dieta
humana.
Discutiu-se também que somos a primeira geração bombardeada com centenas de produtos químicos
alimentares desde a fase de semente até a fase de armazenamento e processamento, fatores abióticos que
enfraquecem o sistema imunológico pela sobrecarga de serviço metabólico.
E que a Aids era apenas uma das consequências desse "modus vivendi" desfocado. Preveniram a mutação do
vírus influenza (batizado por Hipócrates que achava ser "influencia" dos espíritos) e seu ressurgimento, onde a
estratégia não linear para aguardar sua chegada não estaria em vacinas nem em químicas, mas sim na
autoimunidade e toda orquestra de atitudes para municiar o organismo humano.
Desde a época da faculdade me correspondo com um antigo professor que atualmente é pesquisador no IPA
(Instituto de Pesquisas do Amazonas) e um dos seus trabalhos é o monitoramento da malária. Numa das
comunicações, ele disse que para a ótica humana produzir uma vacina contra a malária seria uma vitória, mas
sob a ótica da floresta amazônica seria um desastre pois sem a malária, ela seria mais rapidamente destruída,
pois a doença é recorrente e o infectado não se imuniza contra ela... ou seja, a malária é um dos anticorpos que
Gaia possui para afastar sua principal ameaça.
Me lembrei disso em Ilhabela quando soube que lá a Mata Atlântica tem 94% de preservação. Acho que um dos
motivos é o pequeno borrachudo que afugenta o "homo predatorius". Como estaria Ilhabela sem os
borrachudos? Lá na comunidade clareando nós temos galinhas para atender a família do caseiro, mas já o estou
informando sobre a iminência do surto ocorrer no Brasil a partir de setembro quando a rota migratória das aves
do Canadá e Europa cruzam o continente sul americano. Até existe a possibilidade de cancelarem a Copa na
Alemanha caso aconteçam mais casos em mamíferos, mas pessoalmente acho que a lógica financeira vai
distorcer os fatos e estaremos perigosamente disseminando o H5N1 por todo o planeta. Calcula-se de 20 a 70
milhões de óbitos (entre 1918 e 1919 morreram 40 milhões de pessoas da gripe influenza enquanto a I Guerra
matou 10 milhões).
Bem, é isso meus caros irmãos, só quis destacar essa notícia que acho relevante no meio de tanto silicone e
mensalão.
A Noruega, país que desde a MOP tem deixado claras suas intenções de preservar o país livre de OGMs, durante
a tarde de ontem (21), na discussão oficial do Grupo de Trabalho II, sobre acesso e repartição de benefícios,
exigiu das Partes que a comunidade indígena representativa pudesse se pronunciar.
Diante desse pedido, e do apoio de Cote D'Ivoire e Equador, o presidente da mesa cedeu a palavra à
representante que disse: "As comunidades locais e indígenas se preocupam com a proteção dos seus
conhecimentos tradicionais e seus produtos, criados a partir da sustentabilidade do que a natureza lhes oferece.
Não é porque não nos posicionamos até agora, que não nos preocupemos com isso. Ao contrário, nós estamos
'gritando' e não estamos sendo ouvidos. Nós achamos que é preciso que nós mesmos nos representemos, e não
a comunidade técnica, porque eles não conhecem nossa realidade, nosso dia-a-dia, por isso não podem decidir
por nós, sobre a nossa biodiversidade, nossas águas, flora e fauna ".
Após esse pronunciamento, as Partes também apoiaram a postura da Noruega em estabelecer um órgão
intergovernamental de negociação, como indício de convergência entre as posições dos países em vias de
desenvolvimento e desenvolvidos.
Outras entidades como a Organização Mundial para a Agricultura e Alimentação (FAO), a União Internacional
para a proteção de novas variedades vegetais (UPOV – sigla em inglês), Organização Mundial da Propriedade
Intelectual, Grupo Consultivo sobre Investigação Internacional Agrícola e a Universidade das Nações Unidas
também colocaram suas posições sobre a criação desse regime internacional proposto pela Noruega.
A China pediu que se aumentem as condições de participação dos países em desenvolvimento para participar
dessas negociações, levando o Equador a pedir espaço para uma participação equitativa do país. A União
Europeia, ao final do encontro, se posicionou a favor da participação efetiva da comunidade indígena nas
discussões oficiais da Convenção sobre a Biodiversidade, levando Camarões a dizer que essa participação deve
ser, então, equilibrada entre as regiões onde eles vivem. Argentina levantou polêmica afirmando que a
participação indígena deve estar restrita às discussões nacionais.
Ao final, para assegurar o reconhecimento dos direitos indígenas e financiamento claramente destinado à sua
participação, no GT sobre acesso a recursos genéticos e participação de benefícios, a Nigéria, Tuvali, a FIIDB e a
Coalisão Florestal Mundial solicitaram o firmamento das propostas de participação e o reconhecimento
internacional dos direitos humanos e indígenas.
"Gostaria de dar espaço para que o Brasil se pronuncie sobre os assuntos aqui levantados”.
"Agradecemos Senhor Presidente, mas gostaríamos de ouvir mais sobre a posição dos outros países”.
Presidente: "O Brasil se recusou a mergulhar na minha água. Alguém mais gostaria de pular na minha piscina? E
dar uma voltinha? Prometo que não vou morder!!!”.
A África levanta a placa para falar e o presidente diz: "A África é corajosa e prova que a água da minha piscina é
inofensiva".
Ahmed Djoghlaf, Secretário Executivo da CDB, falou sobre os avanços conseguidos nessa edição da Convenção e
colocou que, as discussões mais polêmicas são sempre as mais difíceis de serem consensuadas. "Aqui houve um
processo muito diferente das outras edições. Conseguimos sair das discussões pontuais e apontar um novo
caminho para a discussão da repartição de benefícios. Saímos dos 'parênteses', avançamos e conseguimos a
aprovação da proposta de criação de um documento sobre esse tema e, após a conclusão, será consensuado
pelas Partes em 2010", declarou.
Marina disse ainda que outras questões, bilaterais, como a questão das sementes Terminators, foram
amplamente discutidas e que a posição do Brasil contribuiu para que a moratória contra a utilização,
comercialização e pesquisas em campos abertos, fosse mantida.
Marina endossou a declaração de Ahmed e começou a explicar o que, no ponto de vista do Governo do Brasil,
como presidente da COP nos próximos dois anos, seria um avanço. "Começamos avançando nas discussões da
MOP, quando conseguimos, pela posição do nosso governo, grandes resultados com a aprovação de propostas
que garantem a integridade do Protocolo de Cartagena e um período de transição para que haja a rotulagem dos
organismos vivos modificados (OVMs) e tiramos esse assunto da pauta da CDB", disse. "Conseguimos avançar e,
a partir de agora nós, no Brasil, já estamos identificando", completa.
Outra questão destacada pela ministra foi em relação aos assuntos transversais – a transversalidade: abordagem
ecossistêmica, mudanças climáticas, iniciativa mundial de Taxonomia (nomeação das espécies), espécies
exóticas, conhecimentos tradicionais, áreas protegidas, transferência e cooperação tecnológica e diversidade
biológica de terras áridas e sub úmidas.
"A questão dos recursos financeiros também demonstrou nosso avanço. Temos certeza de que teremos muito
trabalho nesses dois anos para manter, multiplicar e até ampliar esses recursos que chegam aos países por meio
da GEF. Quero que saibam que existem esforços quanto a isso e não temos dúvidas que vamos mobilizar essa
questão", Marina referiu-se a respeito dos esforços para que os recursos do Fundo Global para Biodiversidade
(GEF em inglês), não sejam reduzidos como foi ameaçado acontecer. Os EUA, que apesar de não serem mais
parte da Convenção, continuam a contribuir e exercer seu posicionamento, propondo um corte de US$ 107
milhões para US$ 56 milhões no orçamento de 2007. O problema é se outros países seguirem o mesmo
caminho.
Sobre as discussões nessas duas semanas da COP ela comentou que houve um trabalho intenso, e muitas coisas
positivas na visão da Ministra, aconteceram, como um trabalho de regime internacional de acesso aos recursos
genéticos, que deverá ser escrito e apresentado em 2010. "Mas essa questão já é um consenso. Vamos trabalhar
nos próximos anos somente na confecção de um trabalho único, que ajude os países nessa integração e na
verdadeira implementação". Marina disse que essa condição de documentar as questões relativas ao acesso aos
recursos genéticos e repartição de benefícios já um grande avanço.
Ela contou que antes, nas outras edições dessa discussão, nunca se chegou tão perto de um consenso, pois a
discussão não sai de pontos específicos e a questão principal ficava sempre à margem. "Nunca antes as Partes
consensuadas a formulação de um documento que levasse já a certeza de uma assinatura futura e de um
trabalho tão integrado. Por isso acreditamos que, mesmo sendo uma assinatura para 2010, esse período é curto
se avaliarmos a história dessa discussão".
Ela completou dizendo que até mesmo temas que não estavam na pauta ganharam muito destaque, como a
questão das árvores transgênicas, cuja amostra está sendo levada para avaliação do centro de estudos da CDB.
O assunto veio à tona com a divulgação dos 'desertos verdes' quando as mudas da Aracruz foram destruídas
pelas mulheres da Via Campesina. Os 'desertos verdes' para sequestro de carbono e produção de papel e óleo,
vem desde o final da década de 90 tomando espaço de cultivos alimentares, tornando-se uma monocultura de
espécies exóticas (não nativas), ocasionando degradação ambiental e excluindo famílias campesinas de seus
territórios; e contam com o auxílio da biotecnologia para obtenção de espécies com melhores valores de
mercado.
Sobre as manifestações em Curitiba, contra as transnacionais, Ahmed disse que o mundo está mudando, e que
na visão dele, hoje já existem empresas que conservam a biodiversidade, e aquelas que não conservam, o
próprio mercado consumidor está se encarregando de esclarecer quanto aos prejuízos à biodiversidade, mas
também correlacionado aos prejuízos financeiros. "Não teremos sucesso na conservação da biodiversidade
enquanto não mobilizarmos a biodiversidade na pauta dos governos. Para termos ideia da importância que ela
tem, no nosso dia-a-dia, é só lembramos que no Brasil, mais de 50% do PIB (Produto Interno Bruto), como me
disse a Ministra Marina Silva, é advinda dos recursos naturais. Então as empresas, sejam elas nacionais,
multinacionais ou transnacionais, não podem virar às costas para números como esses". Marina Silva
completou, dizendo que os problemas são conhecidos e as ferramentas estão disponíveis. "Conhecemos os
problemas, e sabemos quais são as soluções. O que falta hoje é vontade política e ação concreta. Nunca tantos
ministros se reuniram para considerar o destino da biodiversidade. Nunca antes eles tiveram uma análise tão
completa das ameaças e das opções. Nunca antes os políticos tiveram tão pouco motivos para não agir. Então
existe uma luz no fim do túnel, e agora, os governos têm nas mãos as ferramentas para reverterem, nas
próximas décadas, muitas dessas tendências de degradação ecossistêmica. O que esperamos é que se preste
mais atenção e que se promova uma verdadeira redução da pobreza, essa é a nossa meta. Não se pode sair
daqui, de Curitiba, dizendo que não avançamos".
A Ministra antecipou resposta às possíveis críticas, com relação aos trabalhos das últimas três semanas, dizendo
que, antes de se falar algo assim, é preciso conhecer a história da CDB e ver quais foram os resultados de cada
uma. "Depois sim, uma pequena avaliação sobre o que ocorreu aqui, pode aclarar sobre os avanços que
tivemos", finalizou.
Recado consciente!
Nas reuniões da CDB, os países têm a oportunidade de encontrar mecanismos de ação conjuntos e, a partir da
abertura desses temas, podemos ver a participação da sociedade. Foram os movimentos sociais diversos que
encheram as ruas ao redor da Convenção, foram a Via Campesina, o Greenpeace, o ECT, o MST e milhares de
jovens e crianças quem chamaram a atenção de chefes de estado à importância de suas decisões.
Para que as discussões realizadas este ano em Curitiba - e quaisquer outras que venham a surgir - sejam efetivas
e a realidade então seja transformada, é preciso apenas uma coisa: que as pessoas saibam o que está
acontecendo no planeta. A COP 2006 teve a maior cobertura jornalística de toda a Convenção. Para as seguintes,
lembraremos da urgência na qual o planeta se encontra.
Este é o recado da Revista Consciência.net a seus leitores que acompanharam a maratona de temas, acordos e
discussões nesses 21 dias de MOP e COP; intermeados de acaloradas, singelas e Biodiversas manifestações
populares que deixaram o evento da ONU mais acessível aqueles que mais interessam: os diversos povos que
habitam este mundo. Que as discussões continuem e que o debate se torne cada vez mais participativo sem o
seu indevido atraso cronológico, hoje, nos dias de amanhã e depois.
Obrigado,
Autoria:
Paula Batista, jornalista colaboradora da Revista Consciência.Net presente a COP e MOP 2006.
Clarissa Taguchi, editora de Ecologia da Revista Consciência.Net do Rio de Janeiro.
Gustavo Barreto, coeditor da Revista Consciência.Net do Rio de Janeiro.
CURITIBA – Foram trinta resoluções acerca de políticas públicas internacionais para proteger a biodiversidade.
Duas semanas de discussões que envolveram mais de quatro mil delegados vindos de todos os cantos do
mundo, entre eles 122 ministros ou vice-ministros do Meio Ambiente. Para algumas organizações da sociedade
civil, foi um fracasso. Para a maioria dos representantes de governo, um avanço histórico. O fato é que a 8ª
Conferência das Partes (COP-8) da Convenção Sobre Diversidade Biológica da ONU (CDB), encerrada na
madrugada de sábado (1) em Curitiba, foi o maior debate já realizado pela humanidade desde que o tema surgiu
pela primeira vez, durante a Eco-92 realizada no Rio de Janeiro. Se os avanços serão concretos, só o tempo dirá,
mas o inegável é que a COP-8 destravou uma agenda que já se encontrava imóvel há alguns anos e reacendeu a
esperança na implementação de ações multilaterais capazes de deter a perda de biodiversidade no planeta.
Considerado, ao lado da discussão sobre as sementes Terminator, como um dos temas quentes da COP-8, o
debate sobre a adoção de um regime internacional que defina regras para o acesso aos recursos genéticos
derivados dos conhecimentos tradicionais e para a repartição dos benefícios econômicos e não-econômicos a
eles associados foi desbloqueado somente no último dia da conferência. Os governos decidiram adotar o texto
redigido em Granada (Espanha), durante uma reunião preparatória à COP-8 realizada em janeiro, como
documento guia rumo à adoção definitiva do regime internacional. O "avanço" conseguido nesse ponto, na
realidade, foi evitar um retrocesso, uma vez que, no início da COP-8, a maioria dos países ricos defendia que se
abandonasse o texto de Granada e que um documento guia só começasse a ser discutido daqui a dois anos, na
COP-9 que acontecerá na Alemanha.
Ficou decidido que o Grupo de Trabalho sobre o regime internacional de acesso e repartição fará duas reuniões
antes da COP-9, de maneira a sistematizar a discussão e evitar que na Alemanha se repita o ocorrido em
Curitiba, onde alguns países tentaram voltar atrás no debate. Para evitar manipulações, também foi decidido
que o GT passará a ter dois presidentes, "um de um país desenvolvido e um de um país em desenvolvimento". A
principal polêmica continua sendo o caráter do regime. Os países mais pobres, que também são os maiores
detentores de biodiversidade, querem que ele seja adotado sob a forma de protocolo vinculante - que
estabelece obrigações e sanções aos signatários - e os mais ricos querem evitar esse compromisso. Os governos
marcaram a adoção definitiva do regime internacional para a COP-10, que será realizada em 2010, ano em que
também termina o prazo estipulado pela ONU para a implementação das diretrizes da CDB.
Outra medida prática nascida em Curitiba foi a criação de um grupo composto por 25 especialistas e sete
observadores que irão elaborar até a COP-9 uma proposta para a criação de um certificado internacional de
origem e procedência legal relacionado aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais a eles
associados. A ideia é que esse certificado seja emitido pelo país de origem e garanta o respeito às respectivas
legislações nacionais: "A criação do certificado de origem será o primeiro grande passo para a adoção do regime
internacional", avalia o argelino Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da CDB.
A ministra brasileira Marina Silva, que presidirá a CDB pelos próximos dois anos, afirmou que a COP-8 "avançou
significativamente" no sentido da adoção de um regime internacional de acesso e repartição: "Antes, tínhamos
diferenças que pareciam inconciliáveis e agora temos um texto de referência e um prazo indicando que o
processo deve ser finalizado em 2010. Conseguimos uma proposta de consenso, com uma data limite e com o
reconhecimento de que a não-existência desse regime é um prejuízo para implementação das metas da CDB",
disse.
RECURSOS FINANCEIROS
Marina afirmou que o governo brasileiro pretende aproveitar seu período na presidência da Convenção para dar
sequência aos resultados obtidos em Curitiba: "Teremos amplas discussões nesses dois anos em que o Brasil
estará na presidência da CDB", disse a ministra. A principal tarefa colocada para Marina é obter os recursos
financeiros sem os quais a maior parte das resoluções da CDB permanecerá como letra morta: "O Brasil vai
trabalhar com afinco nos próximos dois anos para buscar os recursos que nos permitam implementar o que foi
decidido aqui em Curitiba. Vamos realizar um esforço de gestão para que os países que alimentam o GEF (Fundo
Global para o Meio Ambiente, na sigla em inglês) cumpram seus compromissos", disse.
Sobre a questão financeira, Ahmed Djoghlaf se mostrou otimista: "O GEF estará disponibilizando US$ 1 bilhão
durante o período em que o Brasil presidirá a CDB", disse. O secretário-executivo, que está deixando o cargo este
ano para assumir a direção do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), afirmou que a posição de
liderança assumida pelo Brasil deve fazer com que ainda mais recursos cheguem para a implementação das
diretrizes da Convenção: "O tema da biodiversidade foi colocado com muita coragem pelo presidente Lula no
encontro recente com o primeiro-ministro britânico Tony Blair. Agora, a biodiversidade está na pauta do G-8
(grupo que reúne os oito países mais industrializados) e tenho certeza que os países mais ricos vão reafirmar seu
compromisso com a CDB", disse.
OUTRAS RESOLUÇÕES
Além da adoção do regime internacional de acesso e repartição de benefícios, o outro tema quente da COP-8
também teve um encaminhamento que pode ser considerado positivo. Foi mantida a moratória para a
comercialização e os testes de campo das Técnicas Genéticas de Restrição de Uso (GURTs, na sigla em inglês),
também conhecidas como sementes Terminator. A polêmica questão das árvores transgênicas, colocada "de
surpresa" na pauta da COP-8 pelas empresas interessadas em sua exploração comercial, teve sua discussão
adiada par a COP-9. Em relação aos transgênicos, uma outra vitória já havia sido obtida no 3º Encontro das
Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP-3), realizado antes da COP-8, quando ficou
decidida a adoção da expressão "contém OVMs (Organismos Vivos Geneticamente Modificados)" para identificar
os carregamentos contendo transgênicos.
Outros temas que despertaram menos paixão, mas que são igualmente importantes, também foram
encaminhados pela COP-8. Entre eles, destaque para a adoção de um plano internacional para combater
espécies exóticas invasoras: "É um problema mundial, que ameaça a biodiversidade em muitos países. No Brasil,
onde um levantamento revelou a presença de 553 espécies exóticas invasoras, temos casos de danos sérios à
cadeia alimentar, como o causado pelo mexilhão dourado", afirmou o secretário de Biodiversidade e Florestas
do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.
Outra decisão importante foi acelerar o processo de classificação da biodiversidade através de um programa
intitulado Iniciativa Global de Taxonomia: "Nesse caso, o importante é conseguir recursos que permitam de fato
uma classificação global das espécies. Nós sabemos que a maioria dos países em desenvolvimento tem
dificuldades para realizar esse imenso trabalho", disse Capobianco. Entre os pontos importantes que não
lograram avanço prático na COP-8 estão a criação de uma rede global de áreas protegidas, o fortalecimento dos
mecanismos de participação dos povos indígenas e tradicionais nas discussões sobre o regime internacional de
acesso e repartição, a adoção de regras para proteger a biodiversidade marinha em águas internacionais e a
adoção de uma moratória para a pesca de arrasto.
Para saber mais sobre as decisões citadas acima e sobre outros temas tratados em Curitiba, leia a cobertura
especial da COP-8 e da MOP-3 realizada pela CARTA MAIOR.
===================================================================
A Inglaterra sai na frente com uma proposta de créditos de carbono individual do secretário de Meio Ambiente.
David Miliband. Segundo ele, o país deve fazer mudanças radicais para deter o aquecimento global, tendo que
encarar a questão da poluição individual, que responde por 44% das emissões britânicas. "Imagine um mundo
onde o carbono se torna a nova moeda", disse Miliband. É a humanidade esperneando para achar soluções.
E neste exercício alucinante, até a Amazônia está na berlinda dos cientistas que duvidam se ela é mesmo o
pulmão do mundo. Segundo eles, quando se faz cálculos aritméticos para tentar ver se em um ano entra mais
(dióxido de carbono na Amazônia) do que sai, algumas coisas não ficam claras. Bem, claro nada está, nem o ar
que se respira, nem as contas dos cientistas. A única clareza, é a certeza dos riscos que corremos.
Data: 22/7/2006
À medida que o tempo passa as vozes contra os seus pressupostos e a sua inexequibilidade tornam-se mais
evidentes e a revisão dos seus objetivos será inevitável. A alternativa a essa revisão será o seu abandono, puro e
simples!
Para Portugal, o protocolo de Quito e as condições que foram negociadas ou impostas são ainda mais penosas e
criarão problemas crescentes de competitividade à economia portuguesa pelas seguintes razões:
a) Os objetivos que foram estabelecidos para Portugal são os mais exigentes da Europa, em termos relativos; b)
A indústria portuguesa apresenta graus de eficiência, em termos de emissões de CO2 por energia consumida,
dos mais favoráveis da Europa; ao pretender-se impor níveis ainda mais exigentes à indústria, serão criados
sérios problemas de competitividade e o risco de deslocalização da indústria de Portugal para outros países
aumentará;
c) As grandes fontes de aumento das emissões de CO2 em Portugal têm sido o sector dos transportes e os
edifícios, refletindo a melhoria de qualidade vida que o país alcançou na década de 90.
Nas negociações de Quioto Portugal aceitou níveis de emissões perfeitamente irrealistas uma vez que se
esqueceu que, por um lado, a nossa indústria já era, de forma geral eficiente, em termos relativos, e, por outro
lado, que o nível de pobreza do país, que só na década de 90 começou a ser vencido de forma estrutural,
acarretaria níveis mínimos de conforto que induziriam crescimentos adicionais das emissões de CO2, ainda
assim, como vimos, abaixo da média europeia.
O que não pode acontecer agora é que se pretenda penalizar a economia e a indústria - já de si razoavelmente
eficientes - para atingir um objetivo de redução de emissões que têm aumentado por razões
predominantemente associadas ao consumo não industrial.
Os entusiastas de Quioto e os fundamentalistas do ambiente deveriam então, para serem coerentes com os seus
princípios, defender a tributação agressiva do consumidor final de energia, nomeadamente nos transportes e
nos equipamentos eléctricos dos edifícios. Mas isso seria cavalgar o comboio da impopularidade e é sempre
mais fácil defender soluções que, aparentemente, à superfície são excelentes e não trazem ónus para ninguém.
A cultura do rigor, da exigência e das necessárias análises custo/benefício, que se impõem em todas as
circunstâncias, não fazem parte da cartilha da demagogia barata!
Portugal deverá adoptar uma estratégia que combine a adopção de medidas que assegurem um acréscimo da
eficiência energética e de redução de emissões de gases de efeito estufa com uma renegociação dos termos de
Quito.
Julgo que se deveriam considerar os seguintes vetores estratégicos na abordagem nacional a este tema:
a. Impor a renegociação dos limites de Quioto em concertação com Espanha e outros países da zona Euro;
d. Introdução de mecanismos de eficiência - incluindo soluções de fiscalidade diferenciada, que não a introdução
de novos impostos - do lado do consumo energético final;
Por estranho que pareça a energia hídrica é normalmente esquecida como energia renovável. Por estranho que
pareça a construção de uma barragem é um atentado à natureza virgem, mas a colocação de milhares de hélices
no topo das nossas serras e milhares de painéis fotovoltaicos no Alentejo já passa como expoente de harmonia
paisagística e ambiental! Por estranho que pareça Portugal é um dos países com uma maior percentagem de
energia produzida a partir de fontes renováveis: graças à energia hídrica... exatamente!
Porém, os nossos ambientalistas opõem-se com unhas e dentes à aposta na única fonte de energia renovável
que Portugal tem em bastante quantidade e que se pode constituir numa alternativa seria a outras fontes de
energia por ser a única armazenável, o que não é o caso de nenhuma das outras energias renováveis.
Talvez fosse a altura de todos assumirem uma posição responsável e lutarem ao lado do Governo pela
aprovação em Bruxelas da barragem do Sabor e contribuírem ativamente para a construção de outras barragens
no país. A não ser que tais ambientalistas venham a ser - como já aconteceu na Finlândia - também ativos
defensores da energia nuclear!
Fonte: http://www.negocios.pt
====================================================================
A Iniciativa, mecanismo de cooperação entre sete grandes metrópoles, agências de desenvolvimento, empresas,
e organizações não-governamentais e acadêmicas, busca, desde 1998, reduzir a poluição urbana, promovendo
capacitação e intercâmbio de experiências e tecnologias, além de catalisar o diálogo entre diferentes setores.
Esta conferência abre uma nova fase, cujo principal objetivo é “consolidar uma estratégia regional para
melhorar a qualidade do ar”, contando com um instituto para ampliar adesões, financiamentos e planos de
ação, disse ao Terramérica Sergio Sánchez, secretário-executivo da Iniciativa.
===================================================================
NASA: o espaço cósmico e... imagens de satélites da nossa Terra: não mais?
NASA abandona monitoramento ambiental
Já era de se esperar, e foi noticiado discretamente. A NASA foi levada a abandonar o monitoramento
ambiental que vinha realizando.
Trata-se de uma estatal que depende de verbas do governo norte-americano. O Partido do Anticristo não
permitiu que a Central espacial americana seguisse informando o mundo sobre a crescente e rápida crise
ambiental do planeta.
Os potentes instrumentos da NASA seguirão fazendo suas medições, mas sem o compromisso “social” de
informar, tornando-se mais uma espécie de órgão exclusivo dos interesses políticos estadunidenses.
Doravante nos limitaremos a nos deleitar com as imagens tiradas por seus observatórios e telescópios,
acompanharemos as viagens das sondas e outras fantasias espaciais, saberemos cada vez mais sobre o nosso
passado cósmico, enquanto ignoramos sobejamente o que acontece ou poderá acontecer ao nosso próprio
planeta num futuro próximo. E que sem sequer o saber, certamente apenas o pior se poderá esperar. É mesmo
lamentável.
Autoria: Luís A. W. Salvi (LAWS), filósofo, canalizador & escritor, autor de cerca de noventa obras, entre elas O
Evangelho da Natureza (IBRASA, SP).
Fonte: http://www.jornalinfinito.com.br/materias.asp?cod=150
O MAPA DO FUTURO
No MAPA DO FUTURO, vai virar mar o sertão e muito mais.
Neste Futuro –breve, pelo visto–, os pampas já não estarão assinalados. Os pampas vieram do mar e para ele
vão voltar.
No Mapa do Futuro, boa parte da Hileia irá soçobrar de vez. A Amazônia convive com o rio-mar e nele vai se
afogar.
O que não é motivo para agravar as coisas devastando o que ainda há, em nome de um futuro em que ainda há
muito de especulação.
Se a crise se apressa no ritmo da devastação, podendo gerar um ciclo de colapsos ambientais, a reacomodação
das coisas poderá ser longa e grandemente imprevisível. Uma congregação de peritos deverá ser convocada
para tentar estimar as consequências em todas as áreas.
O certo é que os nossos netos conviverão já com uma realidade bem distinta.
E não foi ainda desta vê que o recente “Congresso Planetário dos Direitos Biosféricos” tratou objetivamente da
questão. E não poderá tardar outros oito anos pois o 2013 virá antes disto.
A ideia dos grupos de resgate e salvamento para catástrofes foi apenas um pequeno ensaio, caberá ser
desenvolvida e integrado com medidas sérias de recolocação de populações inteiras, tal como previsto nas
Noozonas.
Apenas se mencionou que o derretimento total dos gelos naturais fará as águas subirem 105 metros. Mesmo
que sejam apenas os 20 metros que falam outras fontes, é suficiente para gerar muito caos nas áreas litorâneas,
em cidades onde habitam centenas de milhões de pessoas por todo o globo.
A migração para o interior das terras ocorrerá por bem ou por mal. Partes do planeta entrará em pralaya
(adormecimento).
Os acomodados e indiferentes esperarão as águas bater na soleira da porta para se mobilizar. Os sábios e os
compassivos se antecipam e preparam as coisas para o que virá. Foi dito que a sentença AMOR À VIDA será o
grande divisor de águas.
Não é preciso ser vidente, basta ser previdente. Pode ser suficiente conhecer o Mapa do Futuro. Que deverá
ser traçado também com novos valores e procedimentos. Os agentes de amanhã se preparam no hoje.
Um novo Dilúvio está em preparação, o Ararat está escolhido e o arco-íris já se estende como chamamento e
Estrada de Esperança.
Autoria: Luís A. W. Salvi (LAWS), filósofo, canalizador & escritor, autor de cerca de noventa obras, entre elas O
Evangelho da Natureza (IBRASA, SP).
Enchentes, secas e incêndios afetam países nos cinco continentes. Tormentas e furacões ocorrem em diversos
lugares do mundo. As calotas polares estão derretendo e, como consequência, o nível do mar está aumentando,
colocando em risco as zonas costeiras.
No Brasil, a situação não é diferente. A seca ameaça a Amazônia, a desertificação avança no Nordeste e a
agricultura da região Sul sofre com a falta de água. Esses impactos estão acontecendo agora!
Nosso país não está livre dos efeitos do aquecimento global, precisamos agir!
O Brasil é o 4º maior poluidor mundial da atmosfera. Além das indústrias e dos veículos, a principal fonte de
poluição é o desmatamento da Amazônia. Cerca de 75% das emissões brasileiras de gás carbônico são resultado
da destruição da floresta.
O mundo já fala em adaptação para sobrevivermos em um clima mais quente. Precisamos agir hoje!
Fonte: Greenpace
13/09/2005
Agência FAPESP - A Fundação Biodiversitas, em parceria com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste
(Cepan), lançou na semana passada um novo edital do Programa de Proteção das Espécies Ameaçadas de
Extinção da Mata Atlântica Brasileira. As inscrições dos projetos vão até /*28 de outubro*/.
O programa, subsidiado pelo Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF), foi lançado em dezembro de
2003 para promover a proteção e o manejo das espécies da fauna e flora ameaçadas da Mata Atlântica. Desde
então, apoiou 32 propostas, contemplando 39 espécies em 13 Estados brasileiros.
A cobertura florestal atual da Mata Atlântica corresponde a menos de 8% da sua extensão original e, apesar das
medidas de conservação e do arcabouço legal priorizando a sua proteção, ainda continua sendo alvo de intensa
devastação, segundo a Fundação Biodiversitas.
Como consequência, centenas de espécies se encontram sob forte pressão de extinção, o que coloca o Brasil
entre os países com o maior número de espécies com risco de desaparecimento em todo o planeta.
Apesar dessas interferências, a Mata Atlântica abriga ainda uma parcela significativa de diversidade biológica,
com altíssimos níveis de endemismo. São mais de 20 mil espécies de plantas vasculares - as únicas que possuem
verdeiras folhas - e mais de 2 mil espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, sendo que cerca de
40% dessas espécies são endêmicas ao bioma.
Em virtude da sua riqueza biológica e níveis de ameaça, a Mata Atlântica, ao lado de outras 24 regiões,
localizadas em diferentes partes do planeta, foi indicada como um dos hotspots de biodiversidade, ou seja, uma
das prioridades para a conservação global.
Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=4328
Em Rincón del Socorro, uma estância na Província argentina de Corrientes, a paisagem é absolutamente plana e
o horizonte parece não ter fim. A longa e poeirenta estrada de terra converge para o infinito. Apesar dessa
amplitude, até onde a vista alcança a terra pertence a uma pessoa, o americano Douglas Tompkins. Mas lá não
há plantações e quase não há gado, como nas estâncias vizinhas. Sobram pássaros, capivaras e jacarés, comuns
nessa região, os Esteros del Iberá, uma versão argentina do pantanal brasileiro.
Tompkins, de 65 anos, é um dos maiores proprietários de terras do mundo. Empresas e fundações dele e de sua
mulher, Kristine, possuem cerca de 830 mil hectares na Argentina e no Chile (o número é uma estimativa). Mas
seu objetivo é diametralmente oposto ao de grandes latifundiários, como os reis da soja brasileiros. Ex-
empresário do setor de moda, Tompkins vendeu sua empresa nos EUA para se tornar um ícone do
ambientalismo, comprando terras para promover a conservação da paisagem e da biodiversidade.
Para isso, ele disse já ter gasto US$ 370 milhões de sua fortuna. E espera gastar outro tanto até o fim da vida.
"Mas isso vai depender de quanto eu vou viver", brincou Tompkins em entrevista ao Valor em sua casa, em
Rincón del Socorro, parte dos 135 mil hectares que possui nos Esteros del Iberá.
A maior parte de suas terras é área de conservação natural, onde não há nenhum tipo de atividade econômica, a
não ser visitação turística. É o caso do imenso Parque Pumalín, com seus quase 300 mil hectares no sul do Chile.
Ele divide o país ao meio, pois ocupa uma área que vai da costa do Pacífico até a fronteira com a Argentina (veja
mapa). Mas Tompkins tem também fazendas com criação de gado e plantações, cujos objetivos são, segundo
ele, dar dinheiro e fornecer um modelo de produção ambientalmente sustentável. "Somos bons fazendeiros."
Olhando pelo seu ponto de vista atual, o da conservação quase sem concessões, Tompkins passou por uma
espécie de conversão, já que hoje renega a atividade com a qual fez fortuna. Ele fundou nos anos 60 duas grifes
de muito sucesso nos EUA: a The North Face, que logo vendeu para criar a Esprit.
"Comecei a me dar conta do negócio em que atuava, que era produzir coisas de que ninguém necessitava. Na
verdade, o que fazíamos era produzir o desejo nas pessoas de comprá-las, por meio de propaganda, construção
de imagem e marketing. E constantemente fornecer algo novo", disse.
Essa crise existencial coincidiu com um interesse maior pelo ambiente. "Eu retornava a lugares e via vários tipos
de desenvolvimento, como projetos florestais, estradas, prédios, represas. Projetos humanos tinham avançado
sobre a paisagem, deformando-a. Tentei entender, de modo sistemático, quais eram as forças que estavam por
trás dessa marcha implacável do progresso e do desenvolvimento, como chegamos ao ponto de achar que é bom
derrubar florestas e eliminar biomas, alterando seriamente paisagens e ecossistemas." Sua conclusão foi que
"isso era uma crise de civilização".
Essa conversão foi um processo longo, explica. O ativismo ambiental conviveu anos com a atividade empresarial,
até 1990. "Então simplesmente me livrei dos meus negócios. E usei a receita aferida para criar fundações sem
fins lucrativos, cujo objetivo é parar a demolição da paisagem por essa civilização perturbada. Coloquei-me do
lado de Davi contra Golias."
Sua primeira fundação foi a Deep Ecology Foundation, inspirada no conceito de ecologia profunda, do filósofo
norueguês Arne Naess, que coloca o ser humano em pé de igualdade com outras espécies como parte integrante
(e não acima) do ambiente e que se opõe a um uso utilitarista da natureza pelo homem. Essa fundação financia
estudos e publica livros. Em seguida, Tompkins criou a The Conservation Land Trust, por meio da qual passou a
comprar terras para conservação, inicialmente no Chile e depois na Argentina. A Conservacion Patagonica foi
criada em 2000, por Kristine, para projetos específicos de conservação na Patagônia argentina.
Hoje, o casal mora parte do ano na Argentina e parte no Chile. Nos dois lugares, Tompkins comprou brigas pelo
ativismo conservacionista. No Chile, ele se opõe à construção de hidrelétricas, que ajudariam a minimizar o
problema da escassez de energia no país, e de estradas na região de seu parque. Na Argentina, denunciou à
Justiça fazendas vizinhas que retiravam, sem autorização, água do pantanal para irrigar plantações. Isso levantou
suspeitas e críticas. Ele foi acusado, entre outras coisas, de ser agente da CIA e de querer se apoderar do
aquífero Guarani. Na estrada que leva à sua estância, há pichações "Tompkins pirata".
"Há oposição em todo lugar, não há dúvida. O mundo da produção e o da conservação são antagonistas, por
natureza. É assim no mundo inteiro, pois o uso da terra é uma questão política."
A estância Rincón del Socorro, onde ele mora, foi quase totalmente convertida de rancho de gado para a
conservação (há também uma pequena pousada). Parte das terras fica dentro da reserva natural do Iberá. O
vilarejo mais próximo, que antes dependia da produção, agora vive de turismo e das atividades de conservação,
como o monitoramento ambiental da área, em boa parte financiadas por Tompkins. "A conservação da
biodiversidade sempre foi uma questão central na minha visão de mundo. Ao final, é a saúde do ecossistema que
sustenta tudo", disse.
Para ele, a visão utilitarista segundo a qual o homem pode fazer o que bem entender com a natureza, é uma
característica do que ele chama de sociedade tecnológico-industrial, que se desenvolveu no Ocidente rico e se
alastrou. "Essa obsessão pela produção e pelo consumo é, na realidade, uma conversão da natureza em
produtos humanos. Isso é claramente uma coisa errada, é a grande ilusão da modernidade", diz. "Essa sociedade
acha que pode ignorar a natureza, que seria apenas um vasto armazém de recursos à nossa disposição, e que
podemos mudar a paisagem do modo que quisermos e não haverá consequências."
Nessa hora lhe vem em mente o Brasil. "Você vê aquelas imensas plantações de soja no Brasil e se pergunta: que
tipo de vida selvagem vai sobreviver lá? Nenhuma. Mas isso nem é percebido como um problema." Mas os
produtores brasileiros podem respirar aliviados. Tompkins diz que nunca cogitou comprar terras no Brasil e que
não tem planos para isso. "Vocês no Brasil têm um imenso reservatório de espécies, e provavelmente estamos
extinguindo espécies que ainda não foram descobertas. Deveríamos nos envergonhar."
O Chile o atraiu por conta da paisagem, com montanhas, neve, vales e o mar, tudo muito perto, além da
segurança jurídica oferecida pelo país no início dos anos 90. Já a maior parte das terras na Argentina foi
comprada durante a crise econômica no país, no início desta década. Nesse caso, Tompkins se disse atraído por
um ecossistema muito particular, os Esteros del Iberá, que estavam em situação ruim de degradação. "Gosto de
comprar as coisas em mal estado e recuperá-las."
Tompkins esclarece alguns princípios de sua atuação. Ele não compra pequenas propriedades para juntá-las, pois
nesse caso teria de remover muita gente, em geral gente pobre. Ele mantém seu dinheiro em fundos em euro,
mas não permite investimentos numa série de empresas, como de armas, biotecnologia e combustíveis
(inclusive etanol). Ele e suas fundações não financiam partidos nem políticos. "Queremos estar bem com todos,
o que não é fácil." Ele cita a boa colaboração com o governo do ex-presidente socialista Ricardo Lagos, no Chile,
e com o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, nesse caso para a criação de um parque nacional na Província
natal de Kirchner.
Milionário, ele diz que não tem ambições patrimonialistas e que seu modelo preferido é, sempre que possível,
recuperar o ecossistema e devolver a terra ao país, por meio da criação de parques nacionais. Nesse caso, ele faz
uma doação ao governo, condicionada à manutenção do parque. "Se tentarem dar um outro uso, retomamos a
terra." Essas doações já foram feitas na Argentina e no Chile.
O ponto central da atuação de Tompkins é que a paisagem deve ser o principal "marcador", sinalizador, da
economia, e não a produção. Assim, um modelo que estimula, por exemplo, uma agricultura intensiva baseada
na monocultura, que resulta em profundas modificações na paisagem e no seu ecossistema, não é um modelo
saudável, ainda que em termos de produção seja mais eficiente. "Isso significa passar de um mundo
antropocêntrico para um mundo ecocêntrico. Essas duas visões de mundo estão em disputa, e uma delas é muito
perigosa."
"Obviamente isso é muito diferente do que dizem os economistas e políticos 'integrados', cuja visão e gestão nos
levaram à crise das extinções [de espécies], da redução da biodiversidade e, é claro, da mudança climática, que é
a expressão pura do modelo econômico neoliberal." Modelo, ele alfineta, que é promovido pelos jornais
econômicos. "Todas as pessoas que têm poder, prestígio e privilégio são ligadas a esse modelo, se beneficiam
dele, e não querem ver nada diferente." E, no que ele qualifica de realidade única, "o desenvolvimento, o
progresso e o crescimento econômico são dogmas".
Tompkins é cético quanto à maioria dos programas de sustentabilidade promovido por empresas. "Isso em geral
é bobagem, é só marketing. O máximo que podemos falar é de menos insustentabilidade." Também é crítico de
boa parte do movimento ambientalista pelas excessivas concessões.
Para ele, não é possível conciliar sustentabilidade com transformações profundas na natureza, inerentes ao
padrão de produção e consumo atual, e que geram efeitos imprevisíveis. "Temos de pensar no sistema como um
todo. É um sistema muito complexo e não deveríamos ter a arrogância da ciência ocidental que crê que tudo é
compreensível. Em última análise, não é. E não é bom pensar que vamos entender, pois isso é um modo de nos
isolarmos da enorme complexidade do mundo. Há esferas que não conhecemos. Toda vez que se lança no
ambiente uma nova tecnologia, como os telefones celulares, abre-se um vasto buraco negro de ignorância. Não
sabemos quais os efeitos de todas essas micro-ondas. Suspeita-se agora que elas estão confundindo os sinais de
reprodução dos sapos. E se os sapos não se reproduzem, estamos perdendo sapos por toda a parte. Bem, um
financista em Nova York ou Paris pode dizer: ´Para que precisamos de sapos? ´. Isso só demonstra o quão
estúpido ele é. Os sapos são peças-chave para ciclos que são importantes para outras coisas, pois tudo está
interconectado. As variáveis são tantas que nenhum modelo de computador pode predizer quais são as
implicações. Só podemos saber que haverá problemas não previstos em cascata nos ecossistemas."
Pergunto a Tompkins: como fazer para vencer o incentivo econômico que é o fato de que as pessoas, a
sociedade, o país ficam mais ricos no curto prazo derrubando florestas para plantar soja?
"Sua questão é típica, pois vai direto para a estratégia. Sabemos que as pessoas ficam mais ricas no curto prazo,
que essa é a força motora. Como se muda isso? Não sei, prefiro deixar para o futuro. Mas sei que, se mais
pessoas pensarem como eu penso, políticas diferentes começarão a ser elaboradas. Haverá uma preocupação
com o futuro. Não pensamos no curto, mas no longo prazo, bem além das nossas vidas. É uma posição religiosa,
moral, se você quiser. Vai além do você ganha ou perde hoje. Você precisa acordar pela manhã preocupado com
o futuro do mundo. Se você assume essa posição, então pode liberar a sua mente para poder ver o que estamos
de fato fazendo."
Tompkins admite que as desigualdades no mundo constituem um obstáculo, mas não justificam continuar a
marcha de destruição da natureza. "Vamos olhar pelo outro lado: se não for possível [reduzir a degradação
ambiental], podemos dar adeus ao mundo." Observo que quem não tem o que comer dará adeus ao mundo
antes. "Se partirmos da ideia de que não há futuro, então tanto faz dar adeus mais cedo ou mais tarde." E
argumenta que o modelo de produção intensiva, além de degradar o ambiente, não favorece a distribuição de
renda, pelo contrário.
Tompkins não fornece uma estratégia clara de saída, mas a sua atuação indica para onde ele gostaria de ir. A sua
produção agrícola sustentável implica pequena escala, com variedade de culturas e pouco ou nenhum uso de
fertilizantes químicos e agrotóxicos. Isso reduziria a produção e elevaria o preço dos alimentos. Haveria assim
menos excedente para gastar com consumo de outros bens e serviços, o que, por sua vez, diminuiria a pressão
sobre outros recursos e sobre o ambiente. O mundo seria materialmente mais pobre.
Ele diz que que as pessoas nos países ricos gastam de 5% a 10% de sua renda, em média, com alimentação.
"Deveria ser muito mais, algo como 25% a 30%." Essa redução, para que as pessoas tivessem um excedente para
gastar com carros, viagens e universidades caras, só foi conseguida por meio da produção agrícola intensiva,
com forte dano ambiental. Ele vê nisso um antagonismo entre o campo e a cidade. "A população urbana vive de
sugar os recursos do campo, mas não tem a menor ideia do que se passa lá, do tsunami ambiental que está
chegando."
A entrevista está acabando e pergunto a Tompkins se ele não se sente às vezes vivendo numa ilha da fantasia,
tanto pela paisagem que se vê de sua janela como pelas suas ideias.
"Toda revolução começa com um primeiro passo. Não sabemos onde estamos na história. Vamos descobrir isso
depois. Ao final, todos buscam fazer o melhor que podem, sob as condições e as perspectivas que têm. O que
mais você pode fazer? Sabemos que estamos lutando contra as tremendas forças motoras da economia e seus
fatores políticos. Mas qual é a alternativa? Aderir a isso? Isso está arruinando o futuro. Você tem de trabalhar no
que acredita, e acredito que o que fazemos é melhor para o presente e para o futuro. É por isso que acordamos
todas as manhãs, mesmo sem ilusões e sem grandes esperanças diante das tremendas forças da sociedade
tecnológico-industrial. Sem encontrar um sentido no trabalho diário, a vida não vale a pena."