Temática Indígena
Temática Indígena
Temática Indígena
Diêgo Rabêlo
REPERTÓRIO PEDAGÓGICO SOBRE A TEMÁTICA
Diêgo Fernando Silva Rabêlo
REPERTÓRIO
PEDAGÓGICO
SOBRE A
TEMÁTICA
INDÍGENA
pag. 1 pag. 2
índice 1
A diversidade de povos
11
Repertórios pedagógicos
3 53
2
Os povos indígenas do
34
Sugestões de atividades
4 63
estado do Maranhão na 64
4.1 Ampliando o conhecimento
contemporaneidade histórico indígena
36 66
2.1 Populações Indígenas do 4.2 Refletindo sobre o
Estado do Maranhão protagonismo dos Povos
Indígenas
71
4.3 Debatendo as matérias
jornalísticas x texto acadêmico
Referências bibliográficas 77
pag. 5 pag. 6
APRESENTAÇÃO
Caros coleg@s professores e professor@s de História do
Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino do Maranhão venho
com satisfação apresentar-lhes este manual de Repertórios
Pedagógicos sobre a temática Indígena. Neste sentido, este
material tem como objetivo oferecer algumas referências
e informações sobre os povos indígenas de forma sucinta e
didática para que nós professores possamos preparar nossas
aulas.
Este guia pedagógico é resultado do trabalho de pesquisa
desenvolvido no Mestrado de História da Universidade Estadual
do Maranhão - UEMA, onde constatamos que existem poucos
materiais pedagógicos para trabalhar a questão indígena na
escola. Desta maneira, a fim de suprir essa lacuna elaboramos
este material e, assim, esperamos colaborar para a valorização
e promoção da diversidade étnica dos povos indígenas.
Este Conjunto de Repertórios Pedagógicos está dividido
da seguinte maneira: O primeiro capítulo trazemos informações
gerais sobre a diversidade de povos indígenas que habitam
atualmente o Brasil. Sendo que as informações foram retiradas
do site da FUNAI e Censo Demográfico do IBGE de 2010.
No segundo capítulo apresentamos algumas informações
dos principais povos indígenas do Estado do Maranhão na
Contemporaneidade.
A partir do terceiro capítulo apresentamos uma série
pag. 8
de indicações de referências bibliográficas, sites, filmes e
documentários sobre a temática indígena que os auxiliarão na
preparação de aulas.
No quarto capítulo apresentamos algumas sugestões de
atividades para serem utilizadas em sala de aula.
Esperamos que este guia pedagógico possa ajudá-los no
aperfeiçoamento das suas práxis pedagógicas.
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1
Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
para a sua sobrevivência física e cultural e garantir às próximas públicas para os vários segmentos da sociedade, o que inclui
gerações melhor qualidade de vida. As comunidades indígenas os povos indígenas. Contudo, foi só a partir de 1991 que os
vêm enfrentando problemas concretos, tais como invasões indígenas foram inseridos nessa pesquisa.
e degradações territoriais e ambientais, exploração sexual, De acordo com Pimentel (2012, p. 52), “a partir dos
aliciamento e uso de drogas, exploração de trabalho, inclusive anos de 1991 e 2000, o IBGE obteve as primeiras informações
infantil, mendicância, êxodo desordenado causando grande sobre a população indígena do Brasil perguntando às pessoas
concentração de indígenas nas cidades. sobre qual era sua raça ou cor. Sendo aplicado o critério de
Portanto, os povos indígenas de acordo com o IBGE de autoidentificação, onde o próprio sujeito entrevistado se dizia
2010 falam mais de 274 línguas, sendo que cerca de 17,5% da pertencer ou não as etnias indígenas.”
população indígena não fala a língua portuguesa. E, estão O Censo Demográfico 2010 avançou ainda mais e
organizados em 305 etnias e ocupam 12% do território nacional. aprimorou a pesquisa da população indígena investigando o
Com esses dados é possível perceber a diversidade de povos pertencimento étnico e as línguas indígenas faladas, além de
indígenas que habitam o território brasileiro, as previsões do identificar a população residente nas Terras Indígenas e fora
delas. Assim sendo, Pimentel (2012, p. 52), nos aponta que:
século XIX que os indígenas iriam desaparecer num futuro próximo
Nos censos anteriores, de 1991 e 2000,
não se cumpriu o que vemos é um crescimento exponencial das o IBGE obteve informações sobre a
populações indígenas em todo o território nacional. população indígena do país perguntando
A seguir apresentaremos em forma de gráficos e tabelas às pessoas sobre qual era sua raça ou cor.
Já era aplicado aí o critério chamado de
dados sobre os povos indígenas retirados do site da FUNAI e IBGE
autoidentificação – a própria pessoa dá sua
que poderão subsidiar as aulas dos professores de História que resposta, não é o pesquisador que atribui
tem interesse em trabalhar com a temática indígena no âmbito a cor ou a raça seu olhar, ou segundo um
padrão predeterminado.
da escola.
No Censo de 2010, a novidade foi que, além
dessa questão sobre cor ou raça, também
1.1 Os Indígenas no censo demográgico de 2010 entraram perguntas sobre etnia e língua
A cada dez anos o Instituto Brasileiro de Geografia e falada, quando a pessoa se declarava como
indígena. O mesmo foi feito com quem não
Estatística - IBGE faz a contagem da população Brasileira a fim
se declarou indígena (considerando cor
saber o quantitativo de pessoas que vivem no território Nacional. ou raça), mas se considera indígena, por
Esses dados são importantes para traçar as diretrizes das políticas questões familiares ou culturais, e reside
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
Centro-Oeste
de dados da FUNAI e IBGE. Essas informações poderão auxiliar Sudeste
aulas.
Quantitativo de povos indígenas
Segundo dados do censo do IBGE realizado em 2010, a
Fonte: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao>
população brasileira soma 190.755.799 milhões de pessoas. Ainda
segundo o censo, 817.963 mil são indígenas, representando 305 Os Povos Indígenas estão presentes nas cinco regiões do
diferentes etnias. Brasil, sendo que a região Norte é aquela que concentra o maior
número de indivíduos, 305.873 mil, sendo aproximadamente
37,4% do total.
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
Amapá
Bahia
Pernambuco
Maranhão
Fonte: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao> Ceará
Paraíba
Na região Norte o estado com o maior número de
Alagoas
indígenas é o Amazonas representando 55% do total da região.
Sergipe
Fig 5 – População Indígena por Região e por zona Urbana e Rural
Piauí
Rio Grande do Norte
Fonte: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao>
Fonte: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao>
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
Fig – 7 Centro-Oeste terceira região com maior concentração de indígena e a Sul, nessa ordem, sendo São Paulo no Sudeste e o Rio Grande
do Sul no Sul os estados com maior número de indígenas em suas
regiões.
Fig 9 – População residente, segundo a situação do domicilio e condição de
Fonte: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao>
As regiões com menor número de indígenas são a Sudeste Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1991/2010
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Fig 11 – Número de Municípios, segundo as classes de população indígena do 50 a 99 121 2,7% 343 6,2% 288 5,2%
município – Brasil 1991/2010 100 a 249 73v 1,6% 313 5,7% 254 4,6%
Número de municípios, segundo as classes de população indígena do município 500 a 999 12 0,3% 81 1,5% 56 1,0%
- Brasil - 1991/2010 - 1000 a 1499 5 0,1% 24 0,4% 21 0,4%
500 a 999 53 1,2% 136 2,5% 113 2,0% Fig 13 – Número de Municípios, segundo as classes de população indígena do
1000 a 1499 30 0,7% 63 1,1% 50 0,9%
Município – Brasil – 1991/2010
1500 a 2999 26 0,6% 53 1,0% 52 0,9%
Número de municípios, segundo as classes de população indígena do 1000 a 1499 28 0,6% 31 0,6% 35 0,6%
município - Brasil - 1991/2010 - 1500 a 2999 21 0,5% 32 0,6% 44 0,8%
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
4 3550308 São Paulo 12,977 3304557 Rio de 6,764 1300607 Benjamim 8,704 investigaram a filiação étnica e linguística, as perguntas de quem
Janeiro Constant
5 1303601 Santa 10,749 1400100 Boa Vista 6,072 1303601 Santa Isabel 8,584 eram essas pessoas e onde viviam e por que haviam mudado
Isabel do do Rio Negro
Rio Negro sua resposta entre um censo e outro permaneceram sem uma
6 1300607 Benjamim 9,833 5300108 Brasília 5,941 5102603 Campinápolis 7,589
Constant resposta satisfatória ou uma explicação. No Censo demográfico
7 2610905 Pesqueira 9,335 5002704 Campo 5,657 3162450 São João das 7,528
Grande Missões de 2010, foi introduzido um conjunto de perguntas especificas
8 1400100 Boa Vista 8,550 2610905 Pesqueira 4,048 1400050 Alto Alegre 7,457
para as pessoas que se declaram indígenas, como o povo ou
9 1300409 Barcelos 8,367 1302603 Manaus 3,837 5000609 Amabai 7,157
10 3162450 São João 7,936 2611606 Recife 3,665 1300409 Barcelos 6,997
etnia a que pertenciam, como também, as línguas indígenas
das Missões
faladas. Além disso, incorporou-se um novo recorte geográfico,
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1991/2010
que foi a localização do domicilio indígena – dentro ou fora de
1.2 Características Sociodemográficas e Domiciliares Terras indígenas já reconhecidas pelo governo Federal (FUNAI,
da população indígena segundo o IBGE2
2010).
Desde 1991 o Censo Demográfico3 coleta dados sobre a
Em decorrência, os resultados do Censo 2010 permitem
população indígena brasileira, com base na categoria indígena
um delineamento bastante detalhado acerca das pessoas que
2 As informações desta seção foram retiradas do site da FUNAI. <http://www.
se declaram indígenas para os recenseadores. Surge um país
funai.gov.br>. Acesso: 26/01/2019.
3 Os censos realizados em 1900, 1920, 1940, 1950 e 1980 não individualizavam a com uma expressiva diversidade indígena.
população indígena do país, classificando-os conjuntamente com categorias
sociais que indicavam a mestiçagem e situando-os entre os brasileiros “pardos”.
As concepções sobre o branqueamento e posteriormente a valorização da
mestiçagem ganharam sucessivamente “status” de ideologia oficial do país. Oliveira et al. A presença Indígena na Formação do Brasil. Brasília: Ministério da
A obra Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre, desempenhou um papel Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.
importante em relação à valorização do mestiço. OLIVEIRA, João Pacheco de LACED/Museu Nacional, 2006, p. 158.
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90
80
Homens 70 Mulheres
60
50
40
30
20
10 Fonte: < http://www.funai.gov.br>
0
-2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 REGISTRO DE NASCIMENTO
Terras Indígenas Fora das Terras Indígenas De um modo geral, o percentual de pessoas de até 10 anos
Fonte: :< http://www.funai.gov.br>
que tinham algum tipo de registro de nascimento é elevado.
O registro (RANI) fornecido pela Fundação Nacional do Índio
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ABASTECIMENTO DE ÁGUA
No tocante ao abastecimento de água em Terras
Indígenas, há um predomínio de domicílios servidos de poços ou
nascentes (37,7%), além da rede geral de distribuição (30,8%) e
de rios, açudes ou igarapés (23,8%).
Fonte: < http://www.funai.gov.br>
DESTINO DO LIXO
O lixo nas Terras Indígenas é normalmente queimado
(68,3% dos domicílios), porém ainda é alta a quantidade de lixo
jogado em terrenos baldios (11% dos domicílios) que, no caso,
constitui a própria terra indígena.
Fonte: < http://www.funai.gov.br>
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2
Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
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Fig 15 – População Indígena do Brasil e Maranhão quer, garantir os direitos mínimos consagrados na Constituição
Indígenas por estados de 1988. Mantém ainda uma relação de tutela, misturada com
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
Os índios Tenetehara representam um dos poucos ocupam atualmente no Maranhão, onze áreas indígenas
remanescentes dos outrora numerosos povos Tupi-Guarani que localizadas na Pré-Amazônia, nas regiões dos rios Mearim e
se distribuíam por extensa área do território brasileiro. Segundo Pindaré e seus afluentes: os rios Corda, Grajaú, Caru, Zutiwa e
WAGLEY E CALVÃO, as aldeias Tenetehara estendem-se de Buriticupu. Estima-se que hoje, a população dos Guajajaras está
Barra do Corda, no rio Mearim, Maranhão, até os rios Gurupi, em torno de quase 25 mil pessoas”.
Guamá e Capim, noroeste do Estado do Pará. Os que habitam
no Estado do Maranhão, nos rios Mearim, Grajaú e Pindaré, são URUBU-KAAPOR
chamados de Guajajara, enquanto que aqueles que migraram De acordo com Figueiredo (2009, p. 7), “os Ka’ apor surgiram
para o Gurupi, originários do Pindaré, são chamados de Tembé. como povo distinto há cerca de 300 anos, provavelmente
Ambos Guajajara e Témbe, partilham a mesma língua e tradição na região entre os rios Tocantins e Xingu. Talvez por causa de
cultural e consideram-se um só povo, autodenominando-se conflitos com colonizadores luso-brasileiros e com outros povos
Tenetehara. nativos, iniciaram uma longa e lenta migração que os levou nos
São ainda WAGLEY e GALVÃO que se referem aos idos de 1870, do Pará, através do rio Gurupi, ao Maranhão”.
Tenetehara como simplesmente um povo unido por uma Sua autodenominação Ka’apor significa “moradores” na
mesma língua e tradições comuns do que uma aldeia ou nação mata”. Outros nomes pelos quais são conhecidos são Urubu,
conscientemente organizada em uma base política. Muito Kambõ, Urubu-Caápor, Urubu-Kaápor, Kaapor. O termo Urubu foi
embora os Tenetehara de uma região tenham conhecimento evidentemente atribuído ao povo Ka’apor durante o século XIX
da existência das outras aldeias, não há um entrosamento pelos inimigos luso-brasileiros, sendo esta etimologia dada pelos
frequente entre elas. próprios informantes Ka’apor, embora estes não se refiram a si
A unidade mais importante na estrutura social Tenetehara mesmos pelo termo quando falando com terceiros. Os termos
é a família extensa, constituída por um número de famílias hifenizados Urubu-Caápor e Urubu-Kaápor foram introduzidos
simples, reunidas por laços de parentesco. É a família extensa pelos indigenistas brasileiros nos anos 50, numa tentativa de
que constitui a base de produção econômica, é mais estável padronizar, na etnologia, a grafia dos nomes de grupos nativos.
e subsiste ao rompimento das famílias simples, garantido maior Sobre o modo de vida dos Ka’ apor Coelho (1987, p. 46 –
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
definido pela natureza, assim como sua a obtenção das penas com que fabricam
mitologia é elaborada a partir da floresta. seus magníficos adornos plumários – parte
Para sobreviver na mata, os Kaapor tiveram fundamental do artesanato Kaapor – é uma
que recriá-la a seu modo, dando significação atividade constante e exaustiva.
às coisas. Dessa forma, selecionaram De setembro a novembro é iniciada a lavoura,
elementos da flora e da fauna fundamentais com a derrubada da mata. Os Kaapor
a sua sobrevivência. cultivam vinte e oito plantas diferentes,
O ciclo anual das atividades Kaapor dentre elas a mandicoca, a batata doce, o
estabelece os meses de janeiro a abril como cará, o milho, favas, etc.
fase de coleta de frutos. Este é o período em O período da fartura vai de dezembro a
que a floresta amazônica oferece os frutos março e coincide com o período das festas
mais variados como: caju, bacuri, piquiá, e atividades sociais mais intensas.
cacau, jenipapo, coco, etc. Durante o período de escassez são mais
Durante os meses de setembro até abril intensas as atividades artesanais, os homens
as atividades de subsistência estão ficam mais tempo ocupados na confecção
especialmente voltadas para a pesca, pois de adornos plumários, armas e outros
é o período que coincide com a vazante e artefatos.
é quando esta atividade é mais produtiva. Fig 16 - Informações sobre os indígenas Ka’apor
As pescarias coletivas rendem enormes
POVO KA’APOR
quantidades de peixe de todas as variedades,
que são conservados no moquém sempre Outras denominações: Outras grafias:
aceso, como uma forma de garantir sua Urubur- Ka’apor Kaapor, Kaaporté, Kambô
animal quando ele vem beber. Com a estação Terra Indígena: Estado: Município:
ele vem comer. A caça dos pássaros para nio cultural Maranhense, São Luís, 2013.
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
da floresta amazônica, nos vales dos rios Gurupi, Turiaçu e goianos já instalados no Pará, que construíram
pontes sobre o rio Gurupi para explorar
Pindaré, no estado do Maranhão”. Esse território tem sido
madeira e estabelecer novas fazendas
tradicionalmente compartilhado com outros povos indígenas, (sem a preocupação em registrar essas
como os Tenetehara, Urubu-Kaapor e Krejé, quase sempre supostas propriedades no Maranhão); por
fim, cortando todo esse território, construíram
em posições relativamente desfavoráveis. Enquanto aqueles
a rodovia BR-222 e a Ferrovia Carajás, que
índios desenvolviam suas culturas às margens dos rios, os Guajá criaram as condições de estabelecimento de
se posicionavam nas cabeceiras dos seus afluentes, em áreas novas fazendas, povoados e assentamentos
íngremes, de menor utilidade para agricultura e de difícil acesso. oficiais de posseiros e lavradores imigrantes. O
resultado é que, exceto pelas áreas indígenas
Sobre o território tradicionalmente ocupado pelos índios
Turiaçu (515.000 há) e Caru (172.000 há), os
Guajá, Gomes (1994, p. 354), nos diz que: diversos grupos Guajá foram se isolando
Desde a década de 1950 esse território vem cada vez mais uns dos outros e terminaram
sendo invadido e tomado pelas diversas se ilhando em meio à destruição da floresta,
frentes de expansão econômica. Do norte, entre capoeiras vastíssimos, vilas e “centro”
subindo o curso dos rios, vieram os lavradores de lavoura e povoamento, encurralados
maranhenses, piauienses e de outros estados e acossados ainda mais pela violência
nordestinos, expulsos de suas terras e à urgente e sem freios dessas novas frentes de
procura de terras livres e melhores condições expansão.
de vida; ao sul também chegaram pobres
lavradores sem terra do Paraná e Santa OS POVOS INDÍGENAS TUPI GURANI
Catarina, mas principalmente fazendeiros de OS KRIKATI
4 Os indígenas Awá-Guajá são considerados como um dos povos indígenas mais ameaçados de De acordo com Deusdédit (2013, p. 56), “os Krikati
extinção, pois fazendeiros, madeiros e grileiros querem retirar a posse das terras indígenas. Coma
a medida Provisória Nº 870 assinada pelo atual presidente os fazendeiros se sentiram fortalecidos localizam-se no sul do Maranhão nos municípios de Montes
para invadir as terras dos índios Awá-Guajá. Desta forma, a área, demarcada desde 2014, abrange
os municípios de Carutapera, São João do Caru, Governador Newton Belo e Centro Novo do
Altos, Sítio Novo, Amarante e Lajeado Novo, dentro da terra
Maranhão. Entretanto, invasões nas terras dos indígenas Awá-Guajá nunca pararam de acontecer Indígena Krikati. Por fazerem parte da cultura Timbira, possuem
e têm se intensificado após medida assinada pelo [...] atual presidente, que enfraqueceu a Funai
e dá ao Ministério da Agricultura presidido por uma ruralista o atributo de identificar, delimitar e praticamente o mesmo repertório cultural que é comum aos
demarcar terras indígenas. <https://oimparcial.com.br/social/2019/01>
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
O arqueólogo Deusdédit et al. (2013, p. 57), nos diz que: Portanto, os povos indígenas Pukobyê vivem atualmente
Os indígenas Pukobyê habitam a Terra no Estado do Maranhão e continuam resistindo as investidas de
Indígena Governador, situada no município
grupos de posseiros, grileiros, madeireiros que tentam se apropriar
de Amarantes. Por estarem próximos ao
município de Amarante, se relacionam com de suas terras. Apesar de serem chamados pela expressão
esta cidade, comprando mercadorias de Pukobyê pelos antropólogos são conhecidos na região em que
que precisam, matriculam seus filhos para
habitam pelo nome de indígenas Gaviões.
cursarem o ensino médio, internam seus
membros doentes e fazem negócios.
Atualmente, os Pukobyê estão distribuídos RAMKOKAMETRÁ (CANELA)
em três aldeias – Governador, Rubiácea O site socioambiental nos informa que “ os indígenas
e Riachinho – e, em 2006, somavam uma Ramkokametrá atualmente se auto-denomina com o nome
população de 494 (FUNASA) pessoas.
português Canela. Ramkokametrá significa “índios do arvoredo
Informações coletadas por etnógrafo Curt
Nimuendaju apontam uma depopulação de almécega”. É provável que o nome Canela seja uma
drástica de meados do século XIX – quando referência ao fato desses índios serem visivelmente mais altos –
há referências de um “exército Pykobyê
com suas longas pernas, quando comparados pela população
com 1.600 homens” – para quando os
visitou em 1929, encontrando apenas 270 regional a seus vizinhos Guajara.
pessoas. A população Pukobyê continuaria Coelho (1987, p. 26) se reporta aos Ramkokametrá dizendo
apresentado um decréscimo considerável que:
até a década de 1960, apresentado um [...] são popularmente conhecidos como
relativo aumento a partir da década de 70, Canela. Esses índios habitam uma única
que pode ser atribuído às melhores condições aldeia localizada na área indígena Canela, a
de assistência médica após a instalação do aldeia do Ponto, que fica a 74 km da cidade
Posto da Funai na área. de Barra Corda.
Os indígenas Pukobyê mantém suas tradições vivas como A área habitada tradicionalmente pelos
os ritos “Ykreré” ou Festa do Seveiro que é um ritual de passagem Ramkokamekrá constitui-se numa região de
savana, com poucas áreas de mata. É uma
da fase da infância para a adolescência. Existem outra festa
região que favorece a pecuária e isso de
denominada Barriguda que é um ritual que completa o ciclo da certa forma explica a história dos conflitos
vida Gavião, este ritual tem como objetivo despedir-se de um interétnicos envolvendo os Ramkokamekrá e
os “civilizados”.
ente querido que morrera em tempo recente.
A principal aldeia dos Ramkokamekrá chama-se
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
Escalvado, é conhecida pelos sertanejos e moradores de Barra Habitam uma aldeia na área Indígena Porquinhos, a
do Corda como Aldeia do Ponto e localiza-se em torno de 70 km 110 quilômetros de Barra do Corda. A regularização da Terra
a sul-sudeste dessa cidade, no estado do Maranhão. Indígena Porquinhos aconteceu no começo da década de 1980
A Terra Indígena Ramkokamekrá hoje está homologada e e, tem a extensão de 79.520 hectares. Encontra-se localizada
registrada. Neste sentido, Coelho (1987, p. 27), nos fala que: nos municípios de Fernando Falcão e de Grajaú.
A área indígena Canela está totalmente A antropóloga Coelho (1987, p. 29), nos fala sobre a
demarcada desde 1970. Possui uma extensão
Terra indígena “Porquinhos” onde vivem os índios Apaniekra da
de 125. 212 hectares. Limita-se ao norte com
terras devolutas do Estado, ao sul com a seguinte maneira:
serra das Alpercas, a leste com o povoado Apesar de demarcada, esta área continua
Centro do Leandro e a oeste com o povoado invadida. Uma das principais invasões é a
Bacabal dos Vieiras. fazenda Serra Branca, de propriedade do
Para a realização da demarcação dessa área Sr. Yukio Akashi. Em 1977, quando foi feita a
foi necessário a retirada de vários invasores, discriminação das terras pela Funai, a fazenda
incluindo-se fazendas e pequenos povoados. ficou incluída na área indígena. Desde então
Atualmente não há invasões na área, mas o citado fazendeiro entrou com um processo
após a demarcação já foram devidamente na justiça [...]. Isto é motivo para ocasionais
retiradas sem maiores conflitos. Está área está conflitos envolvendo os índios e o fazendeiro,
sob a jurisdição direta da Ajudância da Funai uma vez que os índios julgam-se com direito
em Barra do Corda. à utilização dos produtos e bens encontrados
na fazenda, por ser área indígena.
Atualmente os indígenas Canelas (Ramkokamekrá),
[...] A atuação da Funai na área indígena
continuam resistindo as investidas de madeiros e posseiros que Porquinhos é dificultada, da mesma forma
tentam invadir suas terras. que na área Canela, em virtude da grande
distância da sede do município para áreas
APANIEKRA (CANELA) e a ausência de viaturas que sirvam a estes
Postos. A locomoção dentro e fora da área
Coelho (1987, p. 28), nos fala que “os índios Apaniekra,
fica na dependência da disponibilidade da
cujo nome significa “filho da piranha”. ajudância, que por seu lado não possui uma
Supõe-se que eram chamados por esse nome porque boa infra-estrutura de transportes.
pintavam o maxilar inferior de vermelho, remetendo à imagem Sobre esse povo indígena Beserra (1987, p. 28), acrescenta
desse peixe carnívoro. São também conhecidos como Canela. que:
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6 Geralda/T. Preto Krêpum Kateyê 18.506 Ha. DH s/n de 16.05.94 CRI 165
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Diêgo Rabêlo Repertório Pedagógico sobre a Temática Indígena
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Sugestões de
atividades
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TEXTO 1
A feição deles é serem pardos, à maneira avermelhados,
ANALISANDO AS FONTES
Com base nos fragmentos e imagens produzidas pelos
de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem
viajantes europeus sobre os povos indígenas que habitavam
nenhuma cobertura, nem estimam cobrir coisa nenhuma, nem
a América Portuguesa durante a colonização responda as
mostrar suas vergonhas: acerca disso, estão em tanta inocência
questões a seguir:
como tem em mostrar o rosto.
1. Descreva como os povos indígenas foram retratados
CAMINHA, Pero Vaz. Carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei D. Manuel, 1500.
pelos viajantes e pintores europeus.
“São pessoas bonitas de corpo e estatura, tanto homens você consegue formular sobre os povos indígenas? Justifique.
quanto mulheres, da mesma forma que as pessoas daqui, exceto 3- Pesquise e responda as seguintes questões:
que são bronzeadas pelo sol, pois andam todos nus, jovens e Quem foi o pintor que produziu as imagens acima e qual
velhos, e também não trazem nada nas partes pubianas”. sua relação com os povos indígenas?
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil: primeiros registros sobre o Brasil. [tradu- Como as imagens apresentadas acima representam os
ção. Angela Bojadsen, introdução de Eduardo Bueno]. Porto Alegre, RS, 2008. indígenas?
Você conhece outros artistas que produziram trabalhos
TEXTO 3 sobre indígenas durante período colonial? Justifique.
“Todas estas nações de gentes [...] seguem sua gentilidade,
4.2 Refletindo sobre o protagonismo dos Povos Indí-
são feras, selvagens, montanhesas e desumanas: vivem ao som genas
da natureza, nem seguem fé, nem lei, nem rei (freio comum Leia o texto e responda as perguntas abaixo.
de todo homem racional). E em sinal dessa singularidade lhes
negou também o Autor da natureza às letras F, L, R. Seu Deus é TEXTO 1
seu ventre [..], sua lei, e seu rei, são seu apetite e gosto. [...]. [...] A resistência indígena
Nos mais costumes são feras, sem política, sem prudência, sem O contato dos povos indígenas com os invasores coloniais –
quase rastro de humanidade, preguiçosos, mentirosos, comilões, portugueses, franceses, holandeses etc. – não pode ser reduzido
dados a vinhos; e só nesta parte esmeraldos [...]”. ao binômio extermínio e mestiçagem. Desde as primeiras
VASCONCELOS, Simão de. Crônica da Companhia de Jesus [1663]. Petrópolis: Vozes, Brasília: IN, 1977. p. 97-98. relações de escambo, passando pelas inúmeras alianças
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ele comungue e participe politicamente de ações, aspirações participativa e representativa os diferentes povos.
e projetos definidos como agenda de interesse comum das BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O índio Brasileiro: o que você precisa
pessoas, das comunidades e das organizações que participam saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: MEC/UNESCO, 2006.
articuladas em torno de uma agenda de trabalho e de luta mais percepção dos alunos com relação aos povos indígenas do
ou menos comum em defesa de interesses coletivos também Brasil e se conhecem a história de resistência e luta desses povos.
no lugar de movimento indígena dever-se-ia dizer ´´índios em 2ª Em seguida o professor deve distribuir os fragmentos dos
movimento. Ele tem certa razão, pois não existi no Brasil um textos acima que abordam aspectos da resistência indígena.
movimento indígena. Existem muitos movimentos indígenas, uma Posteriormente o professor deverá conduzir a leitura do texto e
vez que cada aldeia, cada povo ou cada território indígena ao término da leitura o professor indagará os discentes sobre o
estabelece e desenvolve o seu movimento. que entenderam do texto. (Faça perguntas do tipo: Qual o tema
Mas as lideranças indígenas brasileiras, de forma sábia, central dos textos? O que autores entendem por movimento
gostam de afirmar que existe sim um movimento indígena, aquela de resistência indígena? Vocês concordam com autores?
povos indígenas, visando a uma luta articulada nacional ou 2ª Após a leitura do texto e debate em sala, o professor
regional que envolve os direitos e os interesses comuns diante deve iniciar a aula visando desconstruir os estereótipos e
de outros segmentos e interesses nacionais e regionais. preconceitos sobre as populações indígenas. Dando ênfase
Essa visão estratégica de articulação nacional não anula aos protagonismos dos movimentos de resistências dos povos
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4.3 Debatendo as matérias jornalísticas x texto no campo guiados por outras formas de relação com a terra.
acadêmico Os povos indígenas precisam de espaços suficientes de terras
A seguir apresentamos duas matérias jornalísticas e um para caçar, pescar e desenvolver suas tradições culturais e seus
trecho de um texto acadêmico que versam sobre a demarcação rituais sagrados que só podem ser praticados em ambientes
de terras indígenas. Estes textos podem ser apresentados aos adequados – diferente dos não-índios ocidentais, que vivem
alunos no decorrer da aula para que possam entender que ao em casas e apartamentos patrimonialmente individualizadas
longo tempos os povos indígenas foram expropriados de suas e por meio de empregos, de comércio, de bancos, de outras
terras e que o Estado Brasileiro, muitas vezes foi omisso com o atividades que não exigem espaço territorial amplo e coletivo.
processo de demarcação das terras. Neste sentido, no final da [...] A falta de terra ou a sua insuficiência acarreta não
aula o professor deverá propor aos alunos que façam em grupo apenas dificuldades de sobrevivência física das comunidades
uma pesquisa sobre o processo de demarcação de terras de indígenas, mas ameaça a própria continuidade étnica, na
indígenas no Estado do Maranhão e assim apresentar o resultado medida em que impede a realização de práticas tradicionais,
da pesquisa em forma de seminário em data a ser combinada como os rituais, as cerimônias, as festas e outras tradições
com a turma. fundamentais para a reprodução da cultura ancestral do povo.
É igualmente grave a situação de terras já regularizadas, mas
DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS que foram invadidas, impedindo a ocupação efetiva dos povos
O Direito ao território nos marcos do Estado brasileiro indígenas, seus habitantes originais.
supõe, portanto, que os povos indígenas brasileiros demandem BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O índio Brasileiro: o que você precisa
“espaço étnico” para seu desenvolvimento como povos, e saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: MEC/UNESCO, 2006, p.
não somente como cidadãos individualizados. A delimitação 103 -104.
territorial supõe fixação de limites para que dentro deles os
PRESIDENTE TRANSFERE PARA O MINISTÉRIO DA
índios desenvolvam seus costumes, culturas e seus modos de AGRICULTURA A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS
autogoverno e jurisdição. É isso que as autoridades não-índias Medida não define como serão feitas as identificações e
não entendem quando repetem constantemente a ideia errada demarcações de terras. Serviço Florestal Brasileiro também foi
de que no Brasil “há muita terra para pouco índio”, como se para a pasta.
aos índios tivessem que ser concedidas terras, do mesmo modo
que há espaços necessários para os que vivem em cidades ou O presidente [...] do partido (PSL) transferiu para o Ministério
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da Agricultura a atribuição de identificar, delimitar e demarcar Bruno de Lima, fazendeiros que ocupavam as terras ilegalmente
terras indígenas e quilombolas. Até então, a atribuição sobre as haviam sido retirados das terras dos índios em 2014 após uma
terras indígenas ficava com a Fundação Nacional do Índio (Funai), decisão judicial. Mas, desde 2015, fazem incursões, sem se
vinculada ao Ministério da Justiça; e sobre os quilombolas, com o estabelecer no local.
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vinculada Ao determinar a saída dos fazendeiros em 2014, a Justiça
à Casa Civil. estabeleceu que eles deveriam ser assentados pelo Instituto de
Atualmente são 462 terras indígenas no Brasil – o que representa Colonização e Reforma Agrária (Incra) na região da cidade de
12,2% do território nacional – mas só 8% estão regularizadas. A maior Parnarama, no leste do Maranhão.
parte se concentra na área da Amazônia Legal. No entanto, segundo a Frente de Proteção Awa, os
O presidente em exercício em meio à campanha eleitoral, fazendeiros estariam insatisfeitos porque os reassentamentos não
afirmou que, se vencesse a disputa pelo Palácio do Planalto, não foram cumpridos para uma parte das famílias, e têm intenção
iria demarcar um centímetro a mais para reservas indígenas ou para de voltar a viver nas terras.
quilombolas. [...] Lima avalia que a Medida Provisória (MP 870) editada pelo
Matéria vinculada em 02/01/2019 no G1 jornal online. Disponível em: <https:// atual presidente do Brasil que tirou da Funai a demarcação de
g1.globo.com/politica> terras estimula esse movimento.
Os Awá Guajá são definidos pela Funai como “de recente
FUNAI REGISTRA INVASÃO A TERRAS INDÍGENAS NO contato”, prova disso é que a maioria só fala a língua nativa, o
MARANHÃO «Awá Guajá”.
Fazendeiros têm entrado em área que pertence aos O G1 entrou em contato com o Conselho Indigenista
índios Awa Guajá para extrair madeira e criar gado, segundo Missionário (CIMI), que disse considerar inadmissível os fazendeiros
representante da instituição passarem por cima de uma decisão transitada em julgado.
Fazendeiros e posseiros têm entrado na terra indígena dos Matéria vinculada em 16/01/2019 no G1 jornal online. Disponível em: <https://
índios Awá Guajá da região do São João do Caru, a 245 km g1.globo.com/ma/maranhao>
de São Luís, para derrubar árvores e colocar gado para pastar
na região. As informações são da Frente de Proteção Étnico- QUESTÃO EM FOCO
Ambiental Awá, da Fundação Nacional do Índio (Funai). DEBATENDO O TEXTO
De acordo com o coordenador da Frente de Proteção, Observação: Este texto poderá ser utilizado em sala de
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aula para debater a questão da autonomia indígena. incluido-se torturas, prisões arbitrárias, abuso sexual contra
Leia o texto abaixo mulheres indígenas, e mesmo execuções de líderes indígenas
A autonomia dos povos indígenas “rebeldes”. Tudo praticado sob a capa da “tutela”.
Um ponto importante é, como se nota na própria Em 2002, o Congresso Nacional ratificou um acordo
Constituição, o que se vem convencionando chamar de internacional, a Convenção 169 da Organização Internacional
autonomia dos povos indígenas – o que, de certa forma, pode do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e tribais – popularmente
ser visto como um princípio geral de orientação para a forma conhecida como Convenção 169. Esse documento reforça
como os países deveriam manejar as relações com os povos ainda mais a ideia de que a ação do Estado deve se dar no
indígenas. sentido de garantir autonomia aos povos indígenas.
Na nossa Carta Magna, esse princípio da autonomia se A convenção 169 vai além, porque, por exemplo, quando
expressa, por exemplo, no artigo 232: falamos em empreendimentos que afetem as terras indígenas,
Os índios, suas comunidades e organizações são parte não se trata somente de “ouvir” as populações que ali residem,
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e mas de realmente consultá-las a respeito do que vai acontecer,
interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do obtendo acordo ou consenso antes de qualquer ação. Isso vem
processo. sendo chamado de direito à “consulta livre, prévia e informada”.
Dito assim, parece trivial, mas não se você comparar com Essa novidade ainda não está devidamente
o que existia antes no país. Até 1988, o índio, por ser considerado regulamentada. Mais uma vez, está em aberto o debate sobre
“relativamente incapaz”, era “tutelado” pelo Estado, como um como é que o país vai poder garantir aos povos indígenas esse
menor de idade em relação a seus pais. Nesse sentido é que a direito de serem ouvidos.
Constituição representa um avanço. A tradição do Estado brasileiro não é a de conversar com
Para que se tenha uma ideia, durante o regime militar, a população antes de realizar alguma ação, como se sabe.
sobretudo, os indígenas tinham de pedir permissão à Funai Durante o regime militar, muitas obras ignoraram completamente
até para viajar, tendo que carregar o tempo todo consigo um os direitos de grupos de ribeirinhos, camponeses, quilombolas e,
documento para que não fossem detidos. Esse poder todo sobretudo, das populações indígenas.
costumava ser muito mal usado. São inúmeras as denúncias Pimentel, Spensy. O índio que mora na nossa cabeça. São Paulo, 2012, p. 81-82
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Referências OLIVEIRA, João Pacheco de Oliveira et al. A presença
Indígena na Formação do Brasil. Brasília: Ministério da Educação,
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Autor
Diêgo Fernando Silva Rabêlo, graduado em História pela
Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
Mestre em História pela Universidade
Estadual do Maranhão -UEMA, Especialista
em Metodologia do Ensino Superior –
UFMA e especialista em Gestão Escolar e
Educacional – UEMA. Áreas de interesse
História Indígena e do Indigenismo,
Educação Indígena e contatos
interétnicos. Professor substituto de História
IFMA - Campus de Alcântara.
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Diêgo Rabêlo