Fundamentos e Técnicas Da Regência - Emanuel Martinez
Fundamentos e Técnicas Da Regência - Emanuel Martinez
Fundamentos e Técnicas Da Regência - Emanuel Martinez
Emanuel Martinez
Emanuel Martinez
FUNDAMENTOS E
TÉCNICAS DA REGÊNCIA
Aspectos práticos do gestual
TÉCNICAS DE REGÊNCIA
CORAL, BANDA E ORQUESTRA
EMANUEL MARTINEZ
Curitiba, 1998
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 3
01. APRESENTAÇÃO
1
Editora Dom Bosco, Curitiba (2000)
2
Maestro, professor e compositor, é atualmente é o coordenador artístico da Orquestra Sinfônica do
Paraná, maestro titular do Coro Nova Philarmonia e maestro assistente da Orquestra Sinfônica do Paraná
no Teatro Guaíra em Curitiba, da Oficina de Música de Curitiba e do Festival de Música de SC -
FEMUSC. Foi por 9 anos professor de regência e repertório no curso superior de composição e regência
da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. É autor de 8 livros, destacando o livro REGÊNCIA
CORAL – Princípios Básicos, publicado em 2000 pela Editora Dom Bosco de Curitiba e os demais livros
com publicação do autor. Também é autor de diversos textos publicados em revistas e jornais
especializados do país, assim como em sites específicos na internet. Como compositor é autor de diversas
4 - EMANUEL MARTINEZ
02. INTRODUÇÃO
Muitos dos regentes existentes hoje em dia passaram a ocupar esta função
circunstancialmente - alguns motivos o levaram a ocupar a função: uns tinham
bom relacionamento com a pessoa chave que indicou seu nome para a função,
ou tinham QI (quem o indicasse), ou possuem uma liderança nata para a
função, ou estavam no lugar certo e na hora certa, ou por algum interesse
profissional ou financeiro, ou simplesmente optaram por ser regentes por
vocação e estes poucos se dedicaram a um longo estudo - fizeram curso de
regência – infelizmente uma pequena minoria seguiu este caminho. Para
qualquer um deles eu tenho uma pergunta: porque ser um regente?
Como todo o bom músico, o bom maestro deve colocar em seu cronograma
diário, tempo para se dedicar ao estudo da regência em todos os seus
aspectos. Quem deve estipular este tempo é o próprio maestro: se dispõe de 2
horas por dia para o estudo, ótimo, mas se tem apenas meia hora, não tão
bom, mas o importante é que seja todo o dia a fim de atingir um alto grau de
aprimoramento individual necessário a uma carreira artística de sucesso.
Espero que este estudo possa ser realmente útil ao desenvolvimento pessoal
de cada aluno de regência, e que possa contribuir de alguma forma para o
crescimento de cada um dos regentes que se utilizarem deste trabalho.
obras para orquestra, coro e música de câmara. De suas obras para órgão, algumas foram publicadas em
conjunto com obras para piano de Alexandre Reichert Filho no livro Reflexões Piano & Órgão da Editora
VP, Rio de Janeiro. 1986 (esgotado). Em 2008 e após participar de concurso internacional passou a atuar
como um dos maestros da Orquestra UNINORTE em Asunción, Paraguay.
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 5
I - Arte e Ciência
A arte da regência é uma ciência como qualquer outra, utilizada como um meio
de fazer arte.
A música como toda a arte é difícil de definir, por se tratar de algo em parte
abstrato e em parte real; não podemos ver e tocar os sons e sim senti-los
através de nossos órgãos sensoriais.
3
encontrá-los. Durante a renascença, Leonardo da Vinci (1452-1519), Leon Battista
4 5
Alberti (1404-1472), Fra Luca Pacioli (1445-1514) entre outros, consideravam o
conhecimento como condição prévia necessária para qualquer tipo de ação, inclusive o
da artística. Nesta época essencialmente pluridisciplinar, arte e ciência tinham muitos
pontos de contato (...) Na obra em latim De Re Oedificatoria, publicada em Florença em
1485, Alberti expõe as condições necessárias à criação do belo, e defende que os
intervalos musicais agradáveis ao ouvido – 8a,5a, e 4a – obtidos por divisão de uma
corda (1/2, 2/3, 3/4), representam proporções que servem igualmente à arquitetura e às
artes plásticas (citado por Freitas, 1977). Esta idéia vem mesmo da Antigüidade, e está
6
presente em todos os aspectos da criação humana” .
3
Leonardo nasceu na pequena cidade de Vinci, perto de Florença, centro intelectual e científico da Itália.
O seu talento artístico cedo se revelou, mostrando excepcional habilidade na geometria, na música e na
expressão artística. Reconhecendo estas suas capacidades, o seu pai, Ser Piero da Vinci, mostrou os
desenhos do filho a Andrea del Verrocchio. O grande mestre da renascença ficou encantado com o talento
de Leonardo e tornou-o seu aprendiz. Em 1472, com apenas vinte anos, Leonardo associa-se ao núcleo de
pintores de Florença. Não se sabe muito mais acerca da educação e formação do artista, no entanto,
muitos autores afirmam que o seu conhecimento não provém de fontes tradicionais, mas sim da
observação pessoal e da aplicação prática das suas idéias. Pintor, escultor, arquiteto e engenheiro,
Leonardo da Vinci foi o talento mais versátil da Itália do Renascimento. Os seus desenhos, combinando
uma precisão científica com um grande poder imaginativo, refletem a enorme vastidão dos seus
interesses, que iam desde a biologia, à fisiologia, à hidráulica, à aeronáutica e à matemática. Durante o
apogeu do renascimento, Da Vinci, enquanto anatomista, preocupou-se com os sistemas internos do corpo
humano, e enquanto artista interessou-se pelos detalhes externos da forma humana, estudando
exaustivamente as suas proporções. Os pensadores renascentistas viam uma certa perfeição matemática na
forma humana. Da Vinci, recorreram a conceitos de geometria projetiva (centro de projeção, linhas
paralelas representadas como linhas convergentes, ponto de fuga) para criar os seus quadros com um
aspecto tridimensional. A obra prima «A Última Ceia» é um bom exemplo disso.
4
Leon Battista Alberti, nascido em Florença em 1404, foi uma das figuras maiores da Renascença
italiana: pintor, compositor, poeta e filósofo, autor da primeira análise científica da perspectiva. Ficou
mais conhecido como arquiteto. Entre suas obras mais famosas está o Palácio Rucellai em Florença
(1451), a Igreja de São Francisco em Rimini (1455) e a fachada da Igreja de Santa Maria Novella em
Florença (1470). Desenhou a primeira Fontana di Trevi de Roma e foi autor do primeiro livro impresso
sobre arquitetura, o "De Re Aedificatoria", o qual agiu como um catalisador na transição do desenho
gótico para o renascentista. É também o autor de um tratado sobre a mosca doméstica e de uma oração
fúnebre para o seu cão. Até cerca dos 40 anos passou a maior parte do tempo estudando as civilizações
antigas da Grécia e Roma, tornando-se famoso como humanista e latinista erudito. Morreu em Roma em
1472.
5
Luca Pacioli nasceu em Itália, em 1447, numa pequena localidade, Borgo de Sansepolcro, ,situada nos
confins da Úmbria a da Toscânia, Província de Arezzo, não longe da nascente do Tibre, próximo do
monte Fumaiolo. Luca Pacioli, Luca Paciolo, Luca Paciuolo, Luca di Borgo - são nomes por que é
conhecido, viveu num período privilegiado. Foi contemporâneo dos Médicis. Nasceu numa época em que
a florescência literária e artística, a curiosidade científica e a atividade comercial, eram intensas. Eram
tempos propícios à revelação de vocações, ao desenvolvimento das personalidades e ao aproveitamento
dos valores. Foi contemporâneo de Leonardo da Vinci, Camões e Cervantes, Santa Teresa a Copérnico,
Shakespeare a tantos outros. Toda a sua vida decorreu num ambiente de estremada cultura. Na
adolescência teve como mestre de ábaco o seu conterrâneo, o famoso Piero della Francesca a viveu alguns
meses em casa de Leão Baptista Alberti, homem que se distinguiu pelos seus vastos conhecimentos e que
veio a ter forte influência na obra de Pacioli. Aos 32 anos de idade, em 1477, ingressa na ordem de S.
Francisco, onde tinha dois sobrinhos. Uma vez frade, começa a ensinar matemática e teologia em diversas
escolas e universidades, tendo na sua atividade passado por cidades como Zara, Roma, Napoles, Pádua,
Milão, Assis, Urbino. Em 1494 está em Veneza, revendo as provas da Summa. Fra Luca di Borgo, assim
é chamado por alguns dos seus biógrafos, é uma verdadeira "catedra ambulante", de matemática e de
teologia. Foi um homem do Renascimento. Nunca terá trabalhado como contabilista. Escreveu duas obras
máximas: a Summa de Arithmética, Geometria, Proportioni et Proportionalita, da qual o Tratactus
Particularis de Computis et Scripturis constitui um dos capítulos, e La Divina Proportione (em 1497). A
parte principal do seu livro não era sobre contabilidade, mas sim aritmética, álgebra e geometria.
6
Luis L. Henrique: Acústica Musical. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002.
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 7
5. O investigador faz uma abordagem científica, mas tem também uma parte
verdadeiramente criativa, na visão de certos fenômenos e teorias.
6. O artista, embora não tenha uma atitude científica, tem uma base sólida de
conhecimentos técnicos na sua área que correspondem a uma parte
racional e científica.
Para que o cientista desenvolva o seu conhecimento científico, deve envolver-se num
procedimento que é constituído por três fases:
• Observação;
• Formulação da teoria; e a
7
Albert Einstein (1879-1955)
8
Minha intervenção
9
Luis L. Henrique: Acústica Musical (pág. 2 a 4). Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002
8 - EMANUEL MARTINEZ
“... seria um erro encarar a ciência e estética como mutuamente hostis,... A estética não
existe num domínio totalmente etéreo. Ela trata de impressões e sentimentos causados
por objetos reais e acontecimentos reais, e a ciência pode certamente ajudar a definir
esses objetos e acontecimentos com mais precisão. Por outro lado, os cientistas
preocupam-se mais do que a maioria das pessoas se apercebe com os aspetos
estéticos do seu próprio trabalho. Entre os seus métodos, experiências e teorias, os
cientistas distinguem: alguns são belos, e outros não. Naturalmente eles preferem
muito mais os belos. Por exemplo, no desenvolvimento da sua teoria da relatividade,
Einstein foi guiado muito mais por uma procura de elegância, do que por fatos
experimentais. Os cientistas apreciam especialmente a beleza das estruturas
ordenadas e simétricas. Eles compreendem que mesmo que a ciência se construa com
fatos, uma mera acumulação de fatos não é ciência, assim como uma pilha de tijolos
10
não é uma casa”.
2. Conhecimento do repertório
4. Habilidade performática
10
Donald Hall: Musical Acoustics (pág. 443). Hall, 1991
11
Charles W. Heffernan: Tecnique and Artistry (págs. 7 a 19). Englewood Cliffes. Prentici Hall, 1982
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 9
Qual a necessidade de conhecer tudo isto? A cada obra, a cada novo grupo e
dificuldades do gestual fazem com que o maestro se mantenha em constante
estudo e aperfeiçoamento. Como disse anteriormente, dirigir um grupo musical
não é só marcar os diagramas de cada fórmula de compasso, dirigir inclui
passar informações, solicitar procedimentos relevantes, interferir na sonoridade
do conjunto, entre muitas outras coisas. São conhecimentos científicos
indispensáveis a serviço da arte.
A música está associada à ciência como um meio de fazer arte. Seus critérios
estéticos e científicos são muito amplos e peculiares a cada indivíduo, seja ele
o criador ou observador, transformando-se numa arte de linguagem universal.
12
Autor desconhecido
10 - EMANUEL MARTINEZ
13
Leonardo di ser Piero da Vinci nasceu na pequena cidade de Vinci, perto de Florença, centro intelectual
e científico da Itália. O seu talento artístico cedo se revelou, mostrando excepcional habilidade como
pintor, escultor, arquitecto, físico, engenheiro, botânico e músico. Reconhecendo estas suas capacidades,
o seu pai, Di Ser Piero da Vinci, mostrou os desenhos do filho a Andrea del Verrocchio. O grande mestre
da renascença ficou encantado com o talento de Leonardo e tornou-o seu aprendiz. Em 1472, com apenas
vinte anos, Leonardo associa-se ao núcleo de pintores de Florença. Não se sabe muito mais acerca da
educação e formação do artista, no entanto, muitos autores afirmam que o seu conhecimento não provém
de fontes tradicionais, mas sim da observação pessoal e da aplicação prática das suas idéias. Leonardo da
Vinci foi o talento mais versátil da Itália do Renascimento. Os seus desenhos, combinando uma precisão
científica com um grande poder imaginativo, refletem a enorme vastidão dos seus interesses, que iam
desde a biologia, à fisiologia, à hidráulica, à aeronáutica e à matemática. Durante o apogeu do
renascimento, Da Vinci, enquanto anatomista, preocupou-se com os sistemas internos do corpo humano,
e enquanto artista interessou-se pelos detalhes externos da forma humana, estudando exaustivamente as
suas proporções. Os pensadores renascentistas viam uma certa perfeição matemática na forma humana.
Da Vinci, recorreram a conceitos de geometria projetiva (centro de projeção, linhas paralelas
representadas como linhas convergentes, ponto de fuga) para criar os seus quadros com um aspecto
tridimensional. A obra prima «A Última Ceia» é um bom exemplo disso.
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Leon Battista Alberti, nascido em Florença em 1404, foi uma das figuras maiores da Renascença
italiana: pintor, compositor, poeta e filósofo, autor da primeira análise científica da perspectiva. Ficou
mais conhecido como arquiteto. Entre suas obras mais famosas está o Palácio Rucellai em Florença
(1451), a Igreja de São Francisco em Rimini (1455) e a fachada da Igreja de Santa Maria Novella em
Florença (1470). Desenhou a primeira Fontana di Trevi de Roma e foi autor do primeiro livro impresso
sobre arquitetura, o "De Re Aedificatoria", o qual agiu como um catalisador na transição do desenho
gótico para o renascentista. É também o autor de um tratado sobre a mosca doméstica e de uma oração
fúnebre para o seu cão. Até cerca dos 40 anos passou a maior parte do tempo estudando as civilizações
antigas da Grécia e Roma, tornando-se famoso como humanista e latinista erudito. Morreu em Roma em
1472.
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Luca Pacioli nasceu em Itália, em 1447, numa pequena localidade, Borgo de Sansepolcro, ,situada nos
confins da Úmbria a da Toscânia, Província de Arezzo, não longe da nascente do Tibre, próximo do
monte Fumaiolo. Luca Pacioli, Luca Paciolo, Luca Paciuolo, Luca di Borgo - são nomes por que é
conhecido, viveu num período privilegiado. Foi contemporâneo dos Médicis. Nasceu numa época em que
a florescência literária e artística, a curiosidade científica e a atividade comercial, eram intensas. Eram
tempos propícios à revelação de vocações, ao desenvolvimento das personalidades e ao aproveitamento
dos valores. Foi contemporâneo de Leonardo da Vinci, Camões e Cervantes, Santa Teresa a Copérnico,
Shakespeare a tantos outros. Toda a sua vida decorreu num ambiente de estremada cultura. Na
adolescência teve como mestre de ábaco o seu conterrâneo, o famoso Piero della Francesca a viveu alguns
meses em casa de Leão Baptista Alberti, homem que se distinguiu pelos seus vastos conhecimentos e que
veio a ter forte influência na obra de Pacioli. Aos 32 anos de idade, em 1477, ingressa na ordem de S.
Francisco, onde tinha dois sobrinhos. Uma vez frade, começa a ensinar matemática e teologia em diversas
escolas e universidades, tendo na sua atividade passado por cidades como Zara, Roma, Napoles, Pádua,
Milão, Assis, Urbino. Em 1494 está em Veneza, revendo as provas da Summa. Fra Luca di Borgo, assim
é chamado por alguns dos seus biógrafos, é uma verdadeira "catedra ambulante", de matemática e de
teologia. Foi um homem do Renascimento. Nunca terá trabalhado como contabilista. Escreveu duas obras
máximas: a Summa de Arithmética, Geometria, Proportioni et Proportionalita, da qual o Tratactus
Particularis de Computis et Scripturis constitui um dos capítulos, e La Divina Proportione (em 1497). A
parte principal do seu livro não era sobre contabilidade, mas sim aritmética, álgebra e geometria.
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5. O investigador faz uma abordagem científica, mas tem também uma parte
verdadeiramente criativa, na visão de certos fenômenos e teorias.
16
Luis L. Henrique: Acústica Musical. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002.
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Albert Einstein (1879-1955) Nasceu em Ulm, 14 de Março de 1879 e faleceu em Princeton, 18 de
Abril de 1955) foi um físico alemão radicado nos Estados Unidos mais conhecido por desenvolver a
teoria da relatividade. Ganhou o Prémio Nobel da Física de 1921 pela correta explicação do efeito
fotoeléctrico; no entanto, o prémio só foi anunciado em 1922. O seu trabalho teórico possibilitou o
desenvolvimento da energia atômica, apesar de não prever tal possibilidade. Devido à formulação da
teoria da relatividade Einstein tornou-se famoso mundialmente. Nos seus últimos anos, a sua fama
excedeu a de qualquer outro cientista na cultura popular: "Einstein" tornou-se um sinónimo de génio. Foi
por exemplo eleito pela revista Time como a "Pessoa do Século" e a sua face é uma das mais conhecidas
em todo o mundo. Em 2005 celebrou-se o Ano Internacional da Física, em comemoração dos 100 anos do
chamado "Annus Mirabilis" (ano miraculoso) de Einstein, em que este publicou quatro dos mais
importantes artigos cientifícos da física do século XX. Em sua honra, foi atribuído o seu nome a uma
unidade usada na fotoquímica, o einstein, bem como a um elemento químico, o einstênio.
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Minha intervenção
12 - EMANUEL MARTINEZ
6. O artista, embora não tenha uma atitude científica, tem uma base sólida de
conhecimentos técnicos na sua área que correspondem a uma parte
racional e científica.
Para que o cientista desenvolva o seu conhecimento científico, deve envolver-se num
procedimento que é constituído por três fases:
• Observação;
• Formulação da teoria; e a
“... seria um erro encarar a ciência e estética como mutuamente hostis,... A estética não
existe num domínio totalmente etéreo. Ela trata de impressões e sentimentos causados
por objetos reais e acontecimentos reais, e a ciência pode certamente ajudar a definir
esses objetos e acontecimentos com mais precisão. Por outro lado, os cientistas
preocupam-se mais do que a maioria das pessoas se apercebe com os aspetos
estéticos do seu próprio trabalho. Entre os seus métodos, experiências e teorias, os
cientistas distinguem: alguns são belos, e outros não. Naturalmente eles preferem
muito mais os belos. Por exemplo, no desenvolvimento da sua teoria da relatividade,
Einstein foi guiado muito mais por uma procura de elegância, do que por fatos
experimentais. Os cientistas apreciam especialmente a beleza das estruturas
ordenadas e simétricas. Eles compreendem que mesmo que a ciência se construa com
fatos, uma mera acumulação de fatos não é ciência, assim como uma pilha de tijolos
20
não é uma casa”.
1. Altura (freqüência).
2. Intensidade (força).
4. Duração (tempo).
19
Luis L. Henrique: Acústica Musical (pág. 2 a 4). Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002
20
Donald Hall: Musical Acoustics (pág. 443). Hall, 1991
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 13
Com a intensidade o som se propaga pelo ar, por ondas sonoras esféricas e
por isso só se pode falar em intensidade de um som num ponto do espaço. A
intensidade com que ouvimos um som é apenas uma pequena parte da
potência sonora radiada pela fonte sonora.
21
Luis L. Henrique: Acústica Musical. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002
22
Idem
14 - EMANUEL MARTINEZ
3. Tipo de ataque
1. Quando ele atinge o chão o lápis pelo atrito do seu corpo sólido, ao tocar
um outro corpo sólido – o chão – emite um som (som musical ou ruído).
25
idem
26
Eric Émery: Le silence musical. Sciences et Avenir (nov e dez). Hors-séries, 1997
16 - EMANUEL MARTINEZ
A onda é uma perturbação que se propaga num meio elástico por movimento
ondulatório. Cada impulso origina uma nova onda e uma série de impulsos
origina uma série de novas ondas.
1. Direcionamento do instrumento
2. Dependendo do ar circundante
Para um instrumento radiar energia sonora com eficácia, é necessário que haja
superfícies cuja vibração movimente zonas de ar consideráveis. Por exemplo,
uma guitarra elétrica, quando desligada produz um som de pouco intensidade,
visto que ela não possui zona de movimentação de ar para o transporte do som
ao meio. A radiação dos instrumentos de corda e sopro são bem diferentes
devido à sua geometria e estrutura. Nos instrumentos de sopro a radiação é
reforçada pelas ressonâncias acústicas do tubo.
Por que estou abordando estes aspectos? Estas parcas informações não foram
colocadas aqui com o intuito de ensinar algo, mas sim de tentar despertar
interesse sobre o assunto, levando o regente a descobrir e a estudar a matéria,
aprofundando-se sempre.
Eu, neste momento dos estudos, levando uma questão para meus alunos.
Pense você também: Temos numa varanda de uma bela casa, um conjunto de
quatro vasos que foram plantados com a mesma planta, mas épocas
diferentes. O primeiro vaso a semente plantada tem apenas uma semana; ao
lado desse, há um outro vaso cuja semente foi plantada faz 30 dias; ao lado
desse há um outro vaso mas e semente foi plantada faz 180 dias e por último
temos um quarto vaso com a mesma que foi plantada já se vão 365 dias,
portanto, seu processo de crescimento está completo e ela esta exuberante,
linda, desfilando sua beleza incontestável. A minha pergunta é: qual dos quatro
vasos é a planta perfeita? Antes de você olhar a resposta, como sugestão, eu
proponho a você pensar em cada vaso27.
Quando um regente assume uma banda, uma orquestra ou um coral, ele não
terá qualquer problema no diagrama de cada fórmula de compasso, porque
nada muda, mas como já me referi antes, o que muda são os conhecimentos
específicos. Quando se dirige um grupo vocal, pretende-se que o dirigente
saiba sobre vozes, que conheça as diversas técnicas de emissão vocal e que
saiba das possibilidades e características de um soprano ou de um baixo, saiba
das limitações de um mezzo ou de um tenor, saiba como se produz o som
vocal e saiba como tirar melhor rendimento do grupo como um todo. Quando
se dirige um grupo de cordas friccionadas, não se pretende que o maestro seja
um desses instrumentistas, mas se o for melhor ainda, no mínimo deverá
conhecer as técnicas de arco, de afinação, como se produz um som nesse tipo
de instrumentos.
Um maestro não precisa saber tocar todos os instrumentos, aliás, se isso fosse
possível, seria muito bom, mas é utópico, o maestro deve conhecer um pouco
27
A resposta é a seguinte: cada vaso é perfeito para a sua idade de plantação. Nunca se poderia esperar
que uma semente plantada há uma semana tivesse a exuberância de uma semente planta há 365 dias. Para
o tempo de semeadura aquela planta só poderia ter aquele desenvolvimento, assim como os demais vasos.
Todas estas plantas estão perfeitas para o tempo de vida de semeadura - 30 e 180 dias. É lógico que a
planta com 365 dias atingiu a sua maturidade máxima, mas ara chegar neste estágio ela precisou crescer e
se desenvolver em todo esse período de tempo (365 dias) até atingir a maturidade atual.
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 19
No entanto há um ponto que gostaria de frisar. Ser regente é acima de tudo ser
um bom instrumentista, ser um músico completo e por fim ser um regente. Não
sei se você entendeu o que disse aqui: primeiramente o regente precisa ser um
bom instrumentista, ele deve ser capaz de poder “fazer música” em um
instrumento, seja ele o violino, ou o piano, ou o violão, ou a flauta, ou o
trompete. Não importa o instrumento que você toque você deve conhecer como
ninguém e deve saber tocá-lo muito bem. É partindo de sua experiência como
instrumentista que você poderá ser um bom regente. No entanto, há um
instrumento que todos os regentes devem saber tocar: o piano. O piano é o
instrumento base para o estudo de partituras e outras ciências ligadas à
regência.
Quando comecei minha lida como maestro, não sabia muita coisa, e só
descobri isso quando cheguei à frente de uma orquestra pela primeira vez, ai
descobri que eu sabia desenhar bem os diagramas dos compassos, mas não
sabia o que fazer com eles para obter alguns resultados importantes em uma
obra musical. Como um dos caminhos que precisei escalar, foi procurar quem
sabe, em outro horário. Na ocasião não entendia muito de violino ou outro
instrumento de cordas friccionadas, por isso passei a solicitar a ajuda ao spalla
da orquestra informações, ele me oferecia opções e eu as escolhia. Quando
chegava à frente da orquestra eu tinha argumentos em uma solicitação, porque
já havia consultado quem sabia. Outra opção é levar o estudo muito a sério,
mas em muitos casos precisamos consultar quem sabe mais que nós. Tenho
muitos amigos músicos e alguns professores antigos que não tenho vergonha
de perguntar, até o dia de hoje ainda acontece assim.
Aí o maestro pode dizer então: não preciso saber nada, eu pergunto e pronto,
ou deixo que eles façam do modo deles, afinal eles são profissionais! Será? Se
for assim, o grupo não precisa de um maestro. Como diz o termo em francês
Conducteur, ou o termo em inglês Conductor, ou seja, aquele que conduz,
aquele que dirige. O termo italiano Maestro pressupõe que o regente seja um
professor, aquele que pode trazer algo mais, algo diferente. Esta sim é a
20 - EMANUEL MARTINEZ
verdadeira função do “ser maestro”, o que pressupões ter uma gama ampla de
conhecimentos, saber lidar com as diferenças e com as pessoas, e acima de
tudo ser um músico para saber fazer música.
Muitos maestros são como aquelas pessoas que não sabem ler: lêem, lêem e
lêem, ao final você vai dialogar sobre o texto lido e eles não lembram de nada
do que leram. Que triste isso. Hoje mais do que nunca, há a necessidade de
termos uma cultura geral de grande profusão. Temos ao nosso alcance muitos
meios que podem ser adicionados ao nosso estudo, como livros, Internet, CD
ROOM, muitas formas de publicações.
e) As técnicas do gestual.
Até pouco tempo atrás este tema não me chamava a atenção, e foi depois de
diversos trabalhos realizados com o maestro Roberto Duarte a partir de 1990
que despertei para o assunto. Fui seu assistente por anos consecutivos nas
Oficinas de Música de Curitiba tanto nas classes de regência quanto junto à
Orquestra Sinfônica das diversas oficinas que o maestro Roberto Duarte era o
diretor artístico. Em suas aulas de regência o poder do regente e as relações
humanas sempre pontuaram suas aulas com grande destaque. Quando
comecei a dar aulas na Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 1998,
passei a abordar o assunto com meus alunos, porque estou convicto da
importância da matéria. Quando de sua passagem por Curitiba, convidei o
maestro para ministrar máster classe a meus alunos, e novamente essa foi a
tônica. Na ocasião este meu trabalho já estava elaborado de forma apostilada e
sendo usado por meus alunos, convencido da importância do tema, resolvi
aprofundar meus estudos e incluir este tópico no trabalho para que todos
possam refletir mais a fundo no tema. Aqui está portanto, parte desse estudo
para que sirva de estímulo a estudos, pesquisa e provoque reflexões aos novos
regentes.
• Autoridade pessoal
• Autoridade técnica
• Relações humanas
28
Dicionário Aurélio - 3ª. Edição revista e atualizada – 1ª. Impressão da Editora Positivo de 2004.
22 - EMANUEL MARTINEZ
29
Palavras do maestro Bernard Haitink
30
Eleazar de Carvalho (Iguatu, Ceará, 28 de julho de 1912 — São Paulo, 12 de setembro de 1996) foi um
regente e compositor brasileiro. Seus pais eram Manuel Afonso de Carvalho e Dalila Mendonça.
Transferiu-se ainda jovem para o Rio de Janeiro, tocando tuba na Banda do Batalhão Naval. Teve sua
primeira ópera, O Descobrimento do Brasil, estreada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1939,
recebendo, no ano seguinte, o diploma de maestro. Foi para os EUA em 1946. Em 1963 tornou-se doutor
em música pela Washington State University, nos Estados Unidos. Fez doutorado em Letras e
Humanidades, pelo Hofstra College, em Hempstead. Nos Estados Unidos, estudou regência com Sergey
Koussevitzky, no Berkshire Music Center, em Massachusetts. Em 1947 dividiu com Leonard Bernstein a
função de assistente do maestro Koussevitzky, que o sucedeu após sua morte ficando até 1965. Estreou
em 1950, na Europa, no Palais Beaux-Arts em Bruxelas. Atuou longamente como regente titular na
Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro. Foi diretor artístico e regente da Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo e fundador da cadeira número 32 da Academia Brasileira de Música. Teve
relevante atuação pedagógica tanto nos EUA quanto no Brasil, onde seu nome é indissociável do Festival
Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Em seu tempo de vida, Eleazar de Carvalho era
conhecido por seu temperamento forte e pelo vigor de seu fazer musical, respeitado tanto no repertório
tradicional quanto em dois campos que ele sempre se empenhou divulgar: a música contemporânea e a
brasileira.
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 23
Dentro deste aspecto, tem outro ponto que considero importante ressaltar: as
relações humanas. Saber lidar com o tecido musical, ter todos os
conhecimentos científicos necessários e possíveis, nada disso tem seu valor se
não souber lidar com as pessoas. Lidar com o ser humano exige outros
conhecimentos além da música, que muitas vezes esquecemos ou ignoramos.
Não podemos esquecer que somos “um” contra todos. Não somos absolutos e
invencíveis. O músico quando tem um maestro à sua frente, espera que ele
seja um músico competente no seu lidar humano e artístico. Todos os músicos
e maestros possuem problemas pessoais. Não que o grupo musical seja um
hospital, mas que saibamos lidar com as diferenças. Cada um tem suas
peculiaridades educacionais, culturais e sociais, e é esta diversificação que sob
a liderança do maestro fazem toda a diferença.
31
Roberto [Ricardo] Duarte (pianista e regente) nasceu no Rio de Janeiro a 26 de dezembro de 1941.
Formou-se em Direito pela Universidade Federal Fluminense, em piano no Conservatório de Música de
Niterói e em Composição e Regência na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fez pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro e estudou também no Corso Internazionale
di Interpretazione Musicale di Ravello. Foi bolsista do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico e da
Fundação Vitae (para revisão do Descobrimento do Brasil de Villa-Lobos). É ganhador de diversos
prêmios em concursos nacionais e internacionais de regência. Foi membro do Conselho Estadual de
Cultura do Rio de Janeiro, do Conselho Municipal de Cultura de Niterói, do Conselho Regional da Ordem
dos Músicos do Brasil, dos Serviços Culturais do Departamento de Difusão Cultural da Universidade
Federal Fluminense. Dirigiu os Cursos Internacionais de Férias Pró-Arte de Teresópolis. Foi regente do
Coro da Rádio MEC. Durante quase 30 anos, foi professor de regência da Escola de Música da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo sido igualmente regente titular da Orquestra Sinfônica da
Escola de Música da UFRJ. Deu aulas também em outras instituições de ensino musical no Brasil e no
exterior. Regeu dezenas de orquestras brasileiras e estrangeiras, tendo com elas gravado diversos
programas para rádio e televisão, assim como diversos discos e CDs. Publicou os seguintes livros:
Harmonia tradicional (Ed. do Autor, 1964-1965); Revisão das obras orquestrais de Villa-Lobos (Ed.
Universidade Federal Fluminense, vol. I,1989, e vol. II, 1994).
24 - EMANUEL MARTINEZ
“Dirigir é muito mais que abanar os braços. É acima de tudo saber se relacionar com as
pessoas. É lembrar que do outro lado de uma estante de música encontra-se um ser
humano, que tem alegrias, tristezas, preocupações e problemas como todos, inclusive
o maestro, e que todos devem ser tratados com respeito. O ato de dirigir engloba
diversos conhecimentos importantes, como o conhecimento do relacionamento
humano, o domínio dos conhecimentos musicais, o domínio de conhecimentos gerais,
o domínio dos conhecimentos específicos da regência e por último o domínio da
técnica do gesto. Nenhum destes conhecimentos isolados desempenha a função do
“ser um regente”, mas só a soma do conjunto desses poderá contribuir para que o
regente se torne um bom regente”.
O gesto encontra-se no alto da pirâmide da arte da regência, mas que para que
ele aconteça é necessário que na base da pirâmide hajam outros
conhecimentos:
Gestual (4%)
05. A MEMÓRIA
Para dar início aos principais conceitos da memória, serão apresentados duas
classificações importantes: os tipos de armazenamento – um dos processos de
memória que serão vistos mais adiante – e os tipos de memória.
Cada conceito, então, como o exemplo “vovó”, possui várias conexões com
várias categorias, e de acordo com a quantidade de conexões, os conceitos
vão se tornando mais complexos. A complexidade dos conceitos é importante
porque determina a capacidade de Recuperação da memória, através do
princípio de que quanto mais conexões acerca de um conceito, maior a
probabilidade de evocação. Tome o exemplo do conceito de acorde de Do
Maior, isolado. Quantas informações existem acerca desse conceito? Você
pode pensar nos conhecimentos acerca das notas musicais, da forma como os
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 29
V - Memória e aprendizagem
“mais vale a pena ter a partitura na cabeça, que ter a cabeça na partitura”.
33
A mentalização deve ser realizada em estado de relaxamento. No caso da mentalização dos
movimentos da regência, deve-se primeiro estabelecer objetivamente e detalhadamente como é o
movimento, para somente então visualizá-lo. Além disso, devem-se visualizar as situações ideais,
perfeitas (cuidado com a visualização do erro!).
34
Minha intervenção a partir deste ponto do texto.
34 - EMANUEL MARTINEZ
VI - Referências bibliográficas
Pinker, S. (1998) Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras.
Alguns regentes pré determinam o que vão pedir a seus músicos, em alguns
momentos isso até pode ocorrer, mas o regente só pode saber o que pedir
quando tiver ouvido o que o grupo fez. Ai sim vem a solicitação. Já vi alguns
regentes, antes mesmo da orquestra tocar qualquer coisa, solicitar que eles
toquem “assim ou assado”, sem ter ouvido a orquestra tocar. Será que eles não
tocam como ele queria? Ele nem os ouviu! O regente passa muitas
informações apenas através do gestual, caso a resposta não tenha vindo como
você deseja, deve interromper o ensaio e deixar claro a intensidade da
informação que deseja obter. Isso é ter domínio da partitura, por isso a
necessidade do maestro ter a concepção real do que ele deseja.
Num paralelo com o que mencionei acima com relação à concepção diferente
dos 10 alunos em sala de aula: imagine uma orquestra, um coro, uma banda
formada por 20 músicos, se o maestro não pede nada, então haverão 20
maneiras diferentes de fazer a música. É ai que o regente tem sua importância,
fazer com que os 20 músicos façam a música de uma mesma forma, como se
fosse apenas um, seguindo as diretrizes do maestro.
“A obra musical deverá amadurecer em nós até que se torne parte de nós mesmos”.
Herbert von Karajan.
Uma obra mesmo executada diversas vezes, precisa ser estudada a cada
retomada, pois somente dessa forma o processo de aperfeiçoamento e
maturidade musical vai se consolidando. O estudo permanente sempre revela
algo novo, mesmo para os maestros mais experientes. Isso ficou claro, por
exemplo, nas gravações integrais que os maestros Karajan e Cláudio Abbado
fizeram do ciclo completo das sinfonias de Beethoven.
Para ele (Georg Solti) o melhor método é sentar-se à mesa de trabalho e ler
minuciosamente cada linha e detalhe da partitura. Ele assegura que o processo
de estudo e a assimilação não acontece de um dia para o outro.
“O músico que diz não precisar desse processo é um mentiroso e não é um bom
músico com toda a certeza”.
40 - EMANUEL MARTINEZ
35
Os diagramas são convenções de uso universal, sendo assim, não há a necessidade de modificações, a
não ser que a partitura assim o exija, de outro modo, novos diagramas devem ser informados, explicados
e mantidos por todo o processo de ensaios e apresentações, para que os músicos entendam e respondam ás
ação solicitadas pelo maestro.
42 - EMANUEL MARTINEZ
O maestro que não possui gestos claros, ou que possui gestos tencionados
sem necessidade, que não olha para seus conduzidos, marcando apenas os
compassos, perde a sua função como maestro, ou seja, o músico não sente a
necessidade de interagir com seu diretor.
“A função de maestro não é só o marcar de compassos, ser maestro vai muito mais além,
é a arte de se comunicar com as mãos, ou ainda saber utilizar a comunicação não verbal,
saber inspirar seus músicos, controlar o som do seu grupo em cada detalhe, usar todos os
recursos intuitivos para dominar a técnica e saber dosar a mente e o coração em partes
iguais” são palavras de Arnold Schoenberg (1874-1951).
“Cada vez que subo num pódio eu estou assumindo um risco publicamente de as
coisas não acontecerem exatamente como programadas, para meus ouvidos – mas
não há excelentes executores de música sem se assumir tal tipo de risco”.
O regente acha que ele estuda para ser exclusivamente regente e/ou diretor
artístico, mas nos dias atuais, o maestro engloba outras funções.
Esta atividade não visa só despertar o interesse pela atividade musical, mas
também poder despertar a possibilidade de se obter um ouvinte mais
consciente e apreciador também deste e de todos os tipos de música. A cada
dia o leque de opções musicais é cada dia maior, e nossa música também faz
parte deste universo, que precisa ser mostrado ao maior número de pessoas
possíveis.
Eu acredito que é nosso dever fomentar este tipo de atividades pensando pelo
menos em dois aspectos:
Algumas pessoas falam o seguinte: o pessoal lota o teatro para assistir este ou
aquele cantor e pagam uma fortuna pelo ingresso, mas nós dedicamos anos a
fio ao estudo da música, pagamos caro por um instrumentos, pagamos caro
por uma única partitura, realizamos grandes investimentos em nossa carreira
com estudos avançados em nosso país e no exterior, organizamos super
produções, escolhemos obras difíceis de tocar e cantar, passamos semanas a
fio ensaiando, para depois não ter quase ninguém assistindo e pior, ainda não
querem pagar a mixaria do ingresso, e quando vem assistir ainda pedem
ingressos de cortesia. Acho que todos nós artistas já passamos por momentos
semelhantes, ou já ouvimos algum comentário parecido.
Porque isso acontece? Não preciso nem responder, acredito que você tem a
resposta na ponta da língua. Um dos motivos está na diferença de tempo de
exposição pública do artista.
Vou levantar algumas perguntas que poderão ajudar a responder esta questão,
ou melhor, provocar uma reflexão sobre o assunto:
- O que você está fazendo com seu grupo para melhorar a qualidade
musical e artística, para que o público fique encantado com os
resultados obtidos?
- Quantas viagens foram realizadas por seu grupo no último ano, nem
que seja num final de semana?
- O que você fez para divulgar seu grupo, fora das atividades
corriqueiras, para que ele seja conhecido de alguma forma em seu
bairro, em sua cidade, no seu Estado, em seu País?
- O que você já fez ou está fazendo para qualificar mais seu grupo
musical?
- O que seu grupo pensa a seu respeito? Você sabe? Não estou falando
de seus amigos, estou falando de seu grupo, não o que você acha, e sim
o que eles acham.
Os cantores e grupos populares vão buscar ouvintes onde eles estão, vão a
cada cidade, das pequenas às grandes, levam sua música, sua imagem,
cativam antigos e novos admiradores. Depois disso, qualquer show que eles
fizerem em qualquer lugar, seu público vai onde for para poder estar perto de
seu ídolo. Sabemos de espetáculos que acontecem em uma determinada
cidade, você presencia gente do Brasil inteiro, até do exterior, e mais, pagam
ingresso para assistir o show.
48 - EMANUEL MARTINEZ
III) Artísticas: Quando sentamos num banco de faculdade por “tantos anos”,
somos catequizados para cuidar da ação artística. Este trabalho visa o ajudar o
regente a pensar neste ponto especificamente, por este motivo não vou me
ater aqui neste tópico, porque este trabalho e muitos outros existentes no
mercado estão ai para nos ajudar de uma forma mais profunda e objetiva. No
entanto, dentro do leque de opções ligadas ao novo regente, esta deve
merecer um cuidado especial, estudo, muito estudo, constante atualização
dedicação, porque na realidade se não formos os melhores em relações
públicas e administração, com certeza devemos ser o melhor na arte de fazer
música.
IV) Políticas: O maestro não precisa ser partidário de algum partido político, ou
mesmo ser um candidato a algum cargo eletivo, mas precisa sim ter um
relacionamento político com as diversas autoridades, no mínimo de sua região.
Hoje em dia é um diferencial na vida do artista, ter bons relacionamentos e
bons contatos. 36
08. OS ENSAIOS
Linguagem não verbal: Quando se fala que o maestro deve falar, isso não
significa que o maestro deve utilizar o tempo todo, a linguagem verbal e sim, de
forma especial a linguagem gestual da regência. O que o maestro faz é a lei?
Não, se acha que não funciona, deve mudar sem constrangimento, e mudar
quantas vezes for preciso. É óbvio que o maestro ao chegar à frente de uma
orquestra deve saber exatamente o que deseja. Não deve deixar passar nada,
nem mesmo uma entrada imprecisa, um erro, ou uma negligência, devendo
parar e recomeçar as passagens que tiveram erros e recomeçar quantas vezes
for necessário, mesmo que os músicos não demonstrem agrado por essas
repetições. Para que isso possa acontecer com disciplina e qualidade, deve
haver o máximo de concentração por marte do maestro e por parte dos
músicos.
cada obra a ser estudada por parte dos músicos e o estudo detalhado da obra
por parte de cada maestro.
É no ensaio que qualquer mudança pode ser aceitável, mas nunca durante a
apresentação que é o momento sublime. O ensaio geral não deve ser utilizado
para a realização de mudanças de ultima hora, porque este ensaio representa
em termos, uma mostra do que poderá ser a apresentação. O resultado de um
bom concerto é conseqüência de bons ensaios.
O maestro deve ser flexível ás opiniões dos músicos, sempre atento a novas
possibilidades, anotando-as na própria partitura. O maestro Stokowsky, era um
dos maestros que utilizava dessa técnica. Ele oferecia opções, mas também
aceitava sugestões, e quando esta funcionava, anotava esta opção em sua
partitura para poder utilizá-la numa outra oportunidade.
Ensaio geral: Só lembrando que nada de novo deve ser inserido, ou trocado
no ensaio geral e na apresentação. Vi um colega meu certa vez, na hora dos
músicos entrarem no palco, passar uma informação, que certo ritornello não
seria feito. Lógico que não deu certo esta informação de última hora, alguns
músicos lembraram do aviso de última hora e outros ou não ficaram sabendo a
tempo ou esqueceram, e no momento aconteceu uma catástrofe, uns voltaram
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 53
38
Assunto que não será abordado neste texto, por não ter de relevância aos objetivos estabelecidos nesta
redação.
54 - EMANUEL MARTINEZ
⇓ ⇓
O número inferior ou a figura, que pode ser qualquer uma das figuras musicais,
indica o tipo de figura que deve preencher a unidade de cada tempo:
⇑ ⇑
I. Compassos Simples
Os compassos simples possuem unidades de tempo (U. T.) cuja figura possui
uma subdivisão binária, ou seja duas figuras para cada tempo. Veja:
56 - EMANUEL MARTINEZ
⇑ ⇑
Binário simples
⇑ ⇑ ⇑
Ternário simples
⇑ ⇑ ⇑
Quaternário simples
⇑ ⇑ ⇑
⇑ ⇑
⇑ ⇑ ⇑
Binário composto
representação do compasso
Ternário composto
representação do compasso
58 - EMANUEL MARTINEZ
Quaternário composto
representação do compasso
Nos compassos irregulares não há uma formação fixa dos valores. Os valores
irregulares podem estar localizados em qualquer tempo do compasso. As
representações abaixo são apenas exemplos e a figura utilizada como
referencia pode ser substituída por qualquer figura do nosso sistema musical.
Binário irregular
representação do compasso
Ternário irregular
representação do compasso
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 59
Ternário irregular
representação do compasso
Quaternário irregular
representação do compasso
Quaternário irregular
representação do compasso
Quaternário irregular
representação do compasso
60 - EMANUEL MARTINEZ
SIMPLES 2 3 4
(Unidades de tempo de
subdivisão binária)
COMPOSTO 6 9 12
(Unidades de tempo de
subdivisão ternária)
IRREGULAR 5 7-8 9 - 10 - 11
(Unidades de tempo de
subdivisões binárias e ternárias
no mesmo compasso)
10. O GESTUAL
O gesto tem grande importância na comunicação e por este motivo precisa ser
simples, objetivo, claro e conciso, atendo às necessidades não do maestro e
sim às necessidades da obra, sublinhando elementos importantes da estrutura
do tecido musical, que pode ir da eventual marcação das fórmulas de
compasso, não como um metrônomo, até aos elementos estruturais, como
dinâmica, fraseado, entradas relevantes, fraseado, mudanças harmônicas,
mudanças temáticas, evidenciar passagens importantes, entre muitas outras
funções do gestual.
Ser artista é muito mais que ter um diploma debaixo do braço, ser um artista é
muito mais que se auto denominar de... (alguma coisa). Um artista apenas é, e
quando vai para a escola, apenas vai receber as orientações necessárias para
aperfeiçoar seu dom artístico. De qualquer forma, voltando à pergunta acima,
mesmo tendo dom, há a necessidade de tempo para assimilar a “forma”, a
“maneira”, a “técnica”, o “domínio” da arte. No nosso caso, os “músicos” não
tem paciência quando estão sendo conduzidos por um jovem regente, recém
formado. O manejo vem com a prática, e se essa prática não acontece, não
adianta, esqueça. Tenho um aluno que é meu assistente no coro do Teatro
Guaíra, quando ele assume os ensaios, muitos coralistas reclamavam, ai eu
explicava que se não for desta forma, por muito talento que o músico possa ter,
se não tiver a prática que lhe propiciará o manejo adequado da função, levará
muito mais tempo para se tornar independente, de personalidade própria. No
39
Livro: A arte da possibilidade – Benjamim Zander & Rosamund Stone Zander. Editora Campus, Rio de
Janeiro. (6ª. Edição - 2001).
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 63
início usava termos e jeitos copiados de seu professor, depois de alguns anos
trabalhando e estudando comigo, começa a ser mais independente, não tendo
mais a necessidade de usar as referencias de seu professor, e sim tendo seus
próprios “dizeres” e sua maneira de fazer música, seu modo de expressão, não
sendo mais a cópia e sim sendo ele próprio, sua personalidade artística que
começa a aflorar, sua independente. A maturidade e a vivência propiciam uma
personalidade artística própria e firme.
O bom regente é o que sabe conjugar a ciência e a arte num mesmo painel, é
aquele que se utiliza da ciência para emocionar pela arte. Se a música não
marca, é sinal que faltou alguma coisa.
“Não podemos transmitir o sentimento da música, se não estivermos sob o perfeito
40
controle técnico.”
Hoje em dia temos grandes preocupações com o acertar tudo, fazer tudo
maravilhosamente. Hoje os conjuntos musicais, buscam a perfeição técnica
das apresentações ao vivo e de gravações (especialmente após o advento do
sistema de gravação digital do CD, Vídeo e DVD, entre outros sistemas que
surgem a cada dia), não aceitando erros, ou tentando minimizar esses erros.
Com certeza em tempos passados, as orquestras e os coros não eram tão
40
Livro: A arte da possibilidade – Benjamim Zander & Rosamund Stone Zander. Editora Campus, Rio
de Janeiro. (6ª. Edição - 2001). Benjamim Zander, é maestro da Orquestra Filarmônica de Boston (EUA)
e professor de regência do Conservatório da Nova Inglaterra.
64 - EMANUEL MARTINEZ
“Cada vez que subo num pódio eu estou assumindo um risco publicamente de tudo ou
em parte dar certo. Não há excelentes executores de música sem assumir tal tipo de
41
risco”.
“Erros podem ser como o gelo. Se resistirmos a eles, podemos escorregar em uma
postura defensiva. Se incluirmos os erros em nossa definição de desempenho,
estaremos como que deslizando por cima deles e apreciando a beleza dessa corrida”.
42
Se errarmos, então podemos assumir este erro e partir para frente, ir além,
superar, ir além do “dane-se”. Todo o ser humano é passível de erros, do
contrário seríamos deuses. Quando alguém se desfaz de suas camadas de
conceitos, direitos, orgulho e ego inflado, outras pessoas instantaneamente
sentem a conexão.
“A natureza não faz julgamentos, seres humanos fazem. Enquanto a capacidade de
distinguir o bom do mau puder ser uma das nossas melhores características, é
importante perceber que “bom” e “mau” são categorias que impomos ao mundo – elas
43
não são o mundo propriamente dito”
41
Idem
42
Idem
43
Idem
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 65
descontrolado quando sentiu o erro que parou de tocar, e ficou tão rubro que
chamou a atenção de todos. Ao final do espetáculo, ele se aproximou de mim
aos prantos pedindo desculpas pelo ocorrido. A minha resposta foi a mesma
que dei para o músico de SP. Tudo estava bem. Aquela falha foi visível a
todos, infelizmente, o spalla estava sentado na primeira cadeira do lado de
fora, todo o mundo viu sua vermelhidão involuntária, e especialmente porque
ele não soube disfarçar o erro, mas isso não tirou o brilho da apresentação.
Dentre todas as obras apresentadas nos 90 minutos do concerto, essa obra
destacou-se das demais, não pelo erro do spalla, mas pelo engajamento de
todos os integrantes para que o concerto fosse sublime, como foi. Até hoje,
alguns anos depois da apresentação, ao encontrar pessoas que estavam
presentes ao concerto, comentam que esse concerto foi um dos melhor que já
havíamos feito até então, sem se preocupar em destacar o ocorrido.
O que é um erro? O que é uma falha? A arte está acima de tudo isso, a arte
gera centelhas de possibilidades para os outros e é isto que temos de propiciar.
Lutero dizia: “acerta-se errando”.
A persuasão é:
“...em geral usada para obter o que desejamos, quer ou não à custa de alguém. A
persuasão trabalha melhor quando os interesses da outra pessoa casam com os seus,
ou quando a transação, de alguma forma, beneficia a todos. Podemos chamar isso de
44
“interesses alinhados”.
44
Livro: A arte da possibilidade – Benjamim Zander & Rosamund Stone Zander. Editora Campus, Rio de
Janeiro. (6ª. Edição - 2001).
66 - EMANUEL MARTINEZ
potente, o que lhes permitirá então apreciar a música num outro plano e lhes poderá
45
revelar o seu valor intrínseco”.
Gestos trabalhados são importantes, mas ter coragem de olhar no olho de cada
músico, saber traduzir não só o que está explícito, mas também, e
especialmente o que está implícito, o que está além, ou o que está por traz de
cada notinha, de cada frase, de cada idéia, de cada instrumento, de cada
harmonia, de cada ritmo, de cada... emoção, sensação, alegria, tristeza ou, ou,
ou...
Em inglês há duas palavras que dizem muito mais que o nosso costumeiro
termo “maestro” - conductor ou director – palavras que representam muito mais
a real função de um regente: aquele que conduz, aquele que dirige, que leva o
grupo a algum objetivo ou algum lugar.
45
Igor Stravinsky (1882-1971)
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 67
O maestro “deve dizer o máximo com o mínimo de palavras, fazer o máximo com o mínimo
46
de gestos” . O gesto deve ser sempre claro e objetivo, evitando que o músico
seja confundido pela ambigüidade de gestos impróprios. O gestual é o principal
canal de comunicação entre maestro e músicos, por isso a capacidade de
comunicação pelas mãos e olhos deve estar associada à expressão do rosto e
corpo, constituindo assim qualidades essenciais do maestro.
“Quando o maestro não faz nada no gesto, deixa que cada um toque o que deseja. Os
músicos estão abandonados à sua sorte... Os braços são o centro da vida emotiva do
homem como ser, o centro de nossa fala como maestro, é o centro eufônico. Por isso o
gesto deve sempre convergir para o centro, ao nos afastarmos desse centro, não
podemos fazer música... O que eu faço na mão pode afetar o resultado sonoro que
47
desejo obter .” Sergius Celebidache (1912-1996) .
É importante mencionar os cuidados que o maestro deve ter para que não
desperdice energia supérflua com gestos excessivos. Muitos regentes utilizam-
se de gestos extraordinários para expressar alguma coisa, desperdiçando suas
energias e gestos. O maestro poderá reestudar, redimensionando seu gestual
de tal forma que o torne mais objetivo e consequentemente produzindo melhor
efeito. Eu sempre digo para meus alunos, que o espelho é o melhor amigo dos
46
Palavras de um de meus professores.
47
Maestro romeno. Celebrizou-se por seu trabalho à frente da Berlin Philharmonic Orchestra e da
Munich Philharmonic Orchestra. Também atuou como professor de regência orquestral no Conservatório
de Paris.
68 - EMANUEL MARTINEZ
regentes, eles poderão estudar e escolher o melhor gesto para uma determinada
passagem. Alguns maestros regem para o público, e esquecem que o grupo
está à sua frente e não nas suas costas. Lembre-se que o público saberá
reconhecer seu trabalho, não pelo espetáculo à parte que o maestro poderá
produzir, mas sim pelo resultado obtido por seu trabalho criterioso. A economia
e a eficiência do gesto é fruto de um longo e criterioso trabalho de estudo da
comunicação não verbal do maestro. O gesto deve ser dinâmico, flexível,
utilizando todas as possibilidades que o braço pode oferecer, da ponta dos
dedos ao ombro.
“a técnica regêncial é tanto mais importante quanto mais realizada sem esforço,
quando então o que se vê é a música”.
“A música faz com que nos alinhemos a cada instante. Não é só tocar um instrumento,
ou fazer que uma orquestra toque junto. Não é só isso, os compositores ao escreverem
suas obras não se interessam apenas por fatores, mas também pela relação com a
obra, como ela virá ao mundo”.
“A música é um idioma, uma linguagem e é uma das forças mais poderosas das
emoções humanas. Nossa tarefa é dominar esse idioma em todos os detalhes,
conhecer seu vocabulário, como tudo funciona, as diferenças entre, por exemplo, uma
frase, onde temos compassos iguais e as formas da linguagem são bem diferentes. É
isso que se deve aprender, estudar e, sobretudo entender. Uns podem levar vinte
minutos para entender como uma frase foi criada e desenvolvida, e outros mais ou
menos tempo para isso”.
“Não conseguiremos fazer grande música se não tivermos partido nossos corações. É
isso que devemos fazer: transcender a arte e elevar-nos do pessoal e do imediato para
o universal. È uma das expressões mais gratas”.
“A inibição der ser sublimada, temos de ser crianças quando precisamos e um bailarino
quando houver necessidade, de certa forma esquecer que as pessoas estão te
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 69
“Do que trata a música? Podemos responder a essa pergunta? Então qual o gesto? Se
não pode responder a essas indagações então só estarão marcando compasso ou
abanando os braços e não causará nenhuma sensação a ninguém nem aos músicos,
nem ao público, portanto a necessidade de verificar o que acontece na obra e sentir o
corpo. Portanto em momentos mais enérgicos os movimentos são mais perto do corpo,
se não veja o caso dos boxeadores, quando eles desejam maior concentração de força
eles fecham os gestos perto do tórax para poder desfechar golpes com maior poderio
de impacto. O gestual pode ter grande força. Quando os instrumentos de arco, exemplo
os violinistas tocam perto da ponte, imprimem mais força e poderio sonoro, se
fechando sobre o instrumento. É exaustivo, e deverá ser assim. Nos movimentos
enérgicos, quanto mais claro o gesto, mais claro os músicos entenderão suas
intenções”.
“Tudo o que se fizer com as mãos, braços, olhos e corpo, deve sugerir o que vai e está
dizendo, pensar a cada momento da música e tentar passar o máximo de informações
com o máximo de concentração”.
“O gesto grande o tempo todo, priva o maestro das possibilidades de expressão, o que
o impede de chegar onde deseja. Esse tipo de gesto contradiz com o caminho natural
do som para o gesto que se coloca entre o som e a música”.
a. “Dirigir é estabelecer uma relação com o conjunto de seres humanos: quanto mais
simples, mais verdadeira e intensa essa relação, mais compreensível e eloqüente
será a mensagem, e os músicos, com bem estar e entusiasmo, poderão melhor
reconstituir a execução como uma verdadeira obra de arte”. Maestro Hermann
Scherchen.
48
Comentário meu
49
Livro: A arte da possibilidade – Benjamim Zander & Rosamund Stone Zander. Editora Campus, Rio de
Janeiro. (6ª. Edição - 2001).
70 - EMANUEL MARTINEZ
f. “Numa obra musical, tudo tem sua importância e cada detalhe tem sua razão de
ser”. Feliz Weingartner (1863-1942). Cuidar dos detalhes sempre
pensando que não existe nada inútil. Vale ressaltar que é o detalhe
que faz a diferença. Alguns maestros preocupam-se com os grandes
efeitos, mas na realidade, é o pequeno detalhe que faz a diferença.
Assisti um vídeo de maestro Karajan ensaiando a Filarmônica de
Berlim, e o que me surpreendeu foi que determinada passagem não
estava a contento, então ele frisava diversas vezes seu desejo,
repetindo em torno de 30 vezes a mesma passagem, até que ficasse
como desejasse. O mesmo aconteceu com o maestro Celibidache,
ensaiando a mesma orquestra, repetiu pelo menos umas 15 vezes o
ataque de uma determinada obra até que ficasse da forma que ele
desejava.
j. “Quando o maestro não faz nada no gesto, deixa que cada um toque o que deseja.
Os músicos ficam abandonados à sua sorte”. Sergius Celebidache.
Aqui no Brasil não há escola de regência nesse sentido e por esse motivo
poucos são os maestros que a utilizam. Nas orquestras européias, é muito
comum este tipo de regência.
Certa feita estava regendo uma orquestra no Brasil, e como é meu hábito, eu
dirijo antecipadamente, alguns músicos na hora do intervalo vieram me indagar
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 73
“O gesto regêncial do maestro como linguagem não verbal comunica as sutilezas das
movimentações melódicas expressivas com força maior do que as palavras, pois os
detalhes coreográficos das pulsações e acentuações rítmicas necessárias para a
interpretação do tema musical, na hora de sua execução não seriam passíveis de
descrição verbal. O ato de reger faz uso de toda conjuntura do universo musical para
dar vida e corpo à composição, cujos movimentos expressivos produzem os efeitos
artísticos indispensáveis à obra de arte, ao mesmo tempo, transmitem em forma de
50
linguagem musical a mensagem codificada na partitura.”
Usar ou não usar a batuta? Quando usar ou quando não usar? Eis a questão!
Muitos maestros não concebem a direção de um grupo instrumental ou vocal
sem o auxílio de uma batuta. Para que serve a batuta?
A batuta na forma como se usa hoje, foi utilizada pela primeira vez
provavelmente por Louis Spohr (1784-1859), por volta de 1820, substituindo o
barulhento e anti-musical bastão que era utilizado nos séculos XVII e XVIII pelo
chamado marcador de compasso.
“o coração não deve ter razões que a razão não possa conhecer”.
50
Livro: A comunicação gestual na regência de orquestra. José Viegas Muniz Neto. Editora Annablume,
S. Paulo. (2ª. Edição 2003)
74 - EMANUEL MARTINEZ
“a batuta não é indispensável, mas serve para tornar mais visíveis e claros os
movimentos do maestro, devendo integrar-se a ele como se fosse um só corpo”.
Alguns maestros não gostam de utilizar a batuta, um dos primeiros a dirigir uma
orquestra sem a batuta foi o maestro russo Vassily Safonoff (1852-1918). Outro
maestro que se destacou também pela abstinência do uso da batuta foi o
maestro russo Leopold Stokowsky (1882-1977). Já o maestro italiano Toscanini
não dispensava a batuta, pois achava que suas mãos não eram
suficientemente expressivas. Vários maestros acham que a batuta é um
economizador de energia, outros acham que a batuta é uma necessidade
expressiva, dá maior precisão à marcação de compassos, enquanto para
outros a batuta inibe a expressão da mão, é um complicador, é um objeto que
precisa ficar na mão o tempo todo, e alguns também acham que não há
necessidade de um prolongamento ótico. Alguns maestros utilizam a batuta
para movimentos de precisão rítmica e movimentos rápidos, já nos movimentos
lentos preferem a utilização das mãos por serem muito mais expressivas. Os
regentes antigos achavam que a batuta era um símbolo de poder e domínio.
A batuta deve ser utilizada como ferramenta e sempre na mão direita, deixando
que a mão esquerda seja mais comunicativa. Alguns alunos canhotos
perguntam, porque não posso usar a batuta na mão esquerda? Num primeiro
momento eu respondo, é uma convenção universal. A minha pergunta agora é,
como fica um pianista canhoto, ele só toca a mão esquerda da música? O que
ele tem que fazer, é desenvolver a habilidade da mão direita. Da mesma forma
eu tenho que desenvolver a habilidade de minha mão esquerda se desejar
tocar piano. Tenho outra pergunta? Se eu toco violão e inverto as cordas para
poder virar o violão ao contrário, está certo? Eu digo que não, porque o simples
inverter das cordas e da posição do instrumento não vai ajudar em nada, o
violão é concebido para que o braço seja tocado com a mão esquerda e que as
cordas graves devam ficar na parte superior do instrumento. Se o violonista é
canhoto, então ele deve mandar fazer um instrumento com as características
invertidas, ai o luthier fabrica o instrumento para que as cordas graves fiquem
invertidas em função da inversão do braço do instrumento. Um violinista
canhoto como fica? O instrumentista deve desenvolver a capacidade de
utilização da mão direita e da mão esquerda segundo as características
estruturais do seu instrumento, da mesma forma o maestro deve desenvolver a
capacidade de dirigir com a mão direita na batuta e a mão esquerda na
comunicação geral. Tem maestros que dirigem com a batuta na mão esquerda,
eu pessoalmente não gosto. Acho que o instrumentista é prejudicado por essa
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 75
Sempre que há uma estagnação, uma parada do gestual, faz com que o
processo de preparação se reinicie novamente de forma clara e objetiva.
Veja os exemplos:
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
Exemplo 4
posiciona, antes de iniciar deve ter o tempo necessário para observar todos os
músicos se estão prontos e de refletir sobre o que vai dirigir.
Todo o início de gesto deve ser preparado. Eu sugiro a meus alunos que o
posicionamento das mãos deve ficar em dois tempos antes da nota escrita, ou
seja, a primeira posição é de atenção, a segunda posição é o movimento de
respiração que antecede o som. Em outras palavras, o ato de reger inicia-se
com o sinal de atenção, seguido da respiração que culmina com a realização
do som.
Atenção. Respiração.
A distância que separa os pontos pode ser benéfica para a exploração de sons
harmônicos, mas se os pontos estiveram mais próximos, esses elementos se
misturam não propiciando uma maior nitidez se o tempo é muito lento os sons
ficam muito espaçados, os pontos ficam muito distantes, há uma perda de
contato entre os pontos.
51
Pensamento de autor por mim desconhecido.
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 81
“É mais fácil mostrar que falar sobre o assunto. No entanto o rubato pode ser logrado
abreviando-se ligeiramente um determinado tempo para alongar um outro. Dessa forma
atinge-se uma certa relação de andamento que não é a forma maquinal do compasso”.
Essa técnica exige muito estudo, é necessário muito tempo de dedicação para
efetuar um rubato inteligente, é uma técnica perigosa e que deverá estar a
serviço do estilo.
possa apresentar. É lógico que jamais você obterá um piano se o gesto for
tenso e grande. Por vezes um gesto suave pode ser obtido com os braços
afastados do corpo, mas em compensação este gesto deverá ter pequeno.
Quando se está numa passagem suave e se passa para uma intensidade forte
de forma brusca, este gesto deverá ser antecipado, ou seja, ele deverá ocorrer
um pouco antes da intensidade.
15. FERMATA
A Fermata seguida de pausa deve ser cortada, pela forma com que está
escrita, neste caso. Embora na seqüência haja uma pausa, a partir do
momento do corte a pausa é regida no tempo indicado, como vinha antes da
suspensão, a não ser que haja alguma indicação de mudança de andamento.
Havendo uma mudança de andamento, o levare do gesto deverá ser no novo
tempo, ficando bem claro a indicação das intenções para o novo período
musical.
A regra tradicional, que se estuda nas escolas de música, indica que a figura
que possui a Fermata deverá ser prolongada em pelo menos 50% do seu valor.
Esta é a regra acadêmica que meus avós e bisavós estudaram, mas na prática
não funciona assim, a duração de uma Fermata depende do contexto da obra.
Em geral, o “bom senso” do maestro e do intérprete deve ser colocado á prova.
O que está à prova? Seu senso estético, sua sólida formação musical, seus
conhecimentos gerais, e muitas outras coisas pertinentes à profissão já
mencionadas anteriormente no início deste trabalho.
Como se lê então?
4 = trompas
4, 3 = 3 trompetes
4, 3, 3 = 3 trombones
4, 3, 3, 1 = 1 tuba
5. Duração: 3 minutos
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 87
7. Gênero: transcrição
9. Os 3 movimentos da obra
88 - EMANUEL MARTINEZ
Os catálogos das editoras são mais ou menos parecidos, uns com mais outros
com menos informações, mas as indicações do instrumental é fixa com 4
números (instrumentos de sopro de madeira), traço ( - ) mais 4 números
(instrumentos de sopro de bocal), traço ( - ) e os demais instrumentos que
podem variar de acordo com a composição.
1 = 1 flauta transversa
1, 2 = 2 oboés
4 = 4 trompas
4, 3 = 3 trompetes
4, 3, 2 = 2 trombones
4, 3, 2, 1 = 1 tuba
TÉCNICAS DE REGÊNCIA - 89
18. BIBLIOGRAFIA
NA INTERNET
http://www.kalmus-music.com/
http://www.schott-music.com/