Fundamentos de Regência I
Fundamentos de Regência I
Fundamentos de Regência I
Histria da Regncia
= Spalla
= Auxiliar. Geralmente o compositor. Participao ao cravo. B. Lully (1632 87) Basto no cho
G.
A Orquestra
de Mannheim Marco histrico entre a orquestra barroca e a orquestra clssica. Notvel refinamento de execuo com efetivo instrumental que chegava a 45 msicos. Direo de Stamitz.
Bach
compositor-diretor perfeccionista em sua conduo. necessrio prolongar algumas notas, tocar algumas a mdio volume, outras mais alto ou mais baixo, sem falar na importncia que atribuo ao tempo, um pouco mais lento ou mais rpido e sem a observncia desses elementos a pea estar destruda. (Trecho de carta a Friedrich Klopstock, 1780)
Glck
Haydn
e Mozart Foram bons diretores de orquestra, mas no apresentaram contribuio marcante ao avano das tcnicas de direo. (LAGO)
Maestro
Maior
Foi uma das primeiras referncias importantes na histria da direo do sc. XIX. Violinista e compositor. Um dos primeiros maestros a fazer uso da batuta. Foi o responsvel pela codificao da partitura por meio de nmeros e letras facilitando o trabalho dos ensaios. Foi tambm um dos primeiros a se situar de frente para a orquestra colocando a partitura sobre o pdio. Devido isso tudo e ateno a mim dispensada ao serem dirigidos de uma forma clara atravs do procedimento visual de marcar o compasso, os msicos tocaram com um nimo e correo que no conheciam. A orquestra, surpreendida e inspirada pelo resultado, expressou sua aprovao ao finalizar a primeira parte da sinfonia. (Spohr)
em 1804 em Breslau e diretor da pera Alem em Dresden em 1817. um dos primeiros diretores a adotar o modelo de distribuio dos intrumentos, com violinos dispostos da forma como hoje se v, colocando os sopros atrs das cordas.
Foi
Chegou a elevar o nmero de msicos de sua orquestra para 94, revogando a antiga disposio dos intrumentos da orquestra, colocando os primeiros violinos sua esquerda, os segundos direita, as madeiras e as trompas atrs, esquerda, e os metais e a percusso na parte posterior, direita.
Criou um modelo de ensaio de orquestra tal como conhecemos nos dias de hoje.
Spontini tambm tornou-se um diretor de peras que cuidava de todos os detalhes da apresentao, desde a parte tcnica at o trabalho com os cantores. Era tido como dspota pelos msicos, exigente ao paroxismo na obsesso pelos ensaios.
O novo Maestro
No sc. XIX, a regncia deixa de ser uma funo predominantemente rtmica, passando categoria de funo interpretativa. Dirigir msicos, orientar sobre como executar determinadas passagens, determinar o andamento e definir nuances de ritmo e dinmica. Profundidade na complexidade da escritura orquestral. Desenvolvimento da arte da interpretao. Respeito escrupuloso partitura, com a preocupao da objetividade e da clareza do seu pensamento e expresso. Linguagem gestual.
Com Berlioz, a teoria, a arte, e a tcnica da direo de orquestra atingem o marco inaugural de um processo evolutivo. Foi o primeiro msico a criar e desenvolver um sistema completo de direo de orquestra e definir os princpios bsicos das funes do novo regente. O diretor, a partir de Berlioz, comea a reger cada compasso segundo suas concepes e passa a exigir dos msicos que o olhem insistentemente, pois a orquestra que no olha a batuta, no tem um maestro. Publicou em 1855 o ensaio LArt du chef dorchestre o primeiro estudo completo realizado por um msico que conhece profundamente a orquestra e seus instrumentos. Aborda questes importantes da regncia como tcnicas boas e ms, questes esttico-interpretativas, tempo, etc.
Em 1829, na Sing Akademia de Berlim, apresenta ao pblico sua recente descoberta: A Paixo Segundo So Mateus de Bach. Em 1833 torna-se diretor musical da Orquestra de Dsseldorf. Mais tarde, assume a direo da Orquestra Gewandhaus de Leipzig.
Temperamento suave e contido. Gestos quase imperceptveis, mas sumamente vivazes, por meio dos quais podia transmitir o esprito de sua personalidade ao coro e orquestra, corrigindo pequenos erros com um leve movimento de dedo. (Joachim violinista)
Foi um dos marcos principais da evoluo da arte e da tcnica da regncia no sc. XIX. Escreveu em 1869 o ensaio A Arte de Dirigir, onde ressalta:
A importncia do regente como intrprete e artista; Os aspectos fundamentais da esttica da direo; Os princpios e as indicaes poticas da arte da direo e da interpretao; As grandes questes da interpretao na obra de Beethoven; A idia da orquestra invisvel sob o proscnio, com a finalidade de evitar que os instrumentos cubram as vozes do canto na pera; A importncia do tempo e do significado da arte do canto; O significado da msica como linguagem dinmico-expressiva; A importncia das nuances dinmicas a serem extradas da orquestra e do canto; O significado da esttica de suas peras, principalmente com relao ao fluxo do melos, s funes cnicas e interpretao msico-dramtica a cargo do diretor e dos cantores.
Wagner afirma que no sendo nem imperador, nem rei, deve se considerar como tal e dirigir. O Maestro como centro, eixo da direo do novo drama lrico realizado sob o signo das artes unificadas como suprema concepo = Gesamtkunstwerke (Obra de arte total). Especula sobre o significado do melos fluxo meldico que, para ele, constitui a essncia de toda a msica. Preocupao com variaes do tempo.
Hans von Blow (1830 Regente primordial para a evoluo dos 1894) conceitos de direo de orquestra.
O maestro assume plenamente o seu papel de supremo intrprete da obra musical, detentor de uma autoridade nica e indiscutvel, personagem dotado de autoridade mxima para transmitir aos seus msicos cada detalhe da partitura, exigindo rigor na execuo e impondo um padro superior de tcnica interpretativa. Foi o primeiro virtuose da batuta e o regente que se tornou maestro itinerante, dirigindo em toda a Europa. Dirigia sempre de cor. autor da famosa frase: necessrio ter a partitura na cabea e no a cabea na partitura.
Com Blow, tem incio a fase de direo-espetculo (dramatizao gestual e interpretativa). Extremo rigor em ensaios exaustivos. Para ele, em arte no existem detalhes insignificantes.
Foi o primeiro de uma srie de grandes maestros hngaros que tiveram presena marcante no transcurso do sc XX.
Depois de realizar estudos no conservatrio de Viena em 1874, Nikisch torna-se primeiro-violino da pera Imperial, trabalhando sob a direo de Brahms, Liszt, Verdi e Wagner. Em 1879 inicia sua carreira como regente titular. Assumiu a sinfnica de Boston, a pera de Budapest, a Filarmnica de Berlim e tambm a Gewandhaus de Leipzig.
Em sua tcnica, Nikisch ressalta mais o fraseado do que o compasso, tradio herdada por Liszt e Wagner, bem como a mo esquerda em relao direita, e o olhar passa a ser tambm meio de expresso para a conduo dos msicos. Nikisch era um artista dotado de grande memria e sensibilidade, e fez da msica o centro de sua vida. No era lgico e cerebral como Von Blow. Seu contato com a msica era mais emocional e intuitivo. Quando ensaiava, no atribua importncia ao trabalho exaustivo tpico dos direitores mais exigentes.
Pela sua habilidade de relacionamento, era adorado pelos msicos e haver tocado sob sua direo era um certificado honroso. Um dos marcos em sua carreira foi em 30 de dezembro de 1884, na Gewandhaus, quando regeu a primeira apresentao da Stima Sinfonia de Bruckner.
Outro marco na vida de Nikisch foi ter realizado, em 1914, a primeira gravao gramofnica completa da Quinta Sinfonia de Beethoven, com a Filarmnica de Berlim, reunida em 8 discos de 78 rotaes.
Foi o primeiro a reconhecer a importncia do volume sonoro caracterstico de cada instrumento. Diretor da pera de Viena e da pera Imperial. Os conceitos interpretativos de Mahler so expressos em declaraes suas, como a arte da direo antes de tudo a das transies, ou na msica, o melhor no est escrito nas notas. Suas principais caractersticas como regente:
A ampliao do repertrio orquestral, com obras de Verdi, Puccini, Strauss, Tchaikovsky, Bizet e Smetana; O meticuloso trabalho dos ensaios; A adoo dos recursos da cenografia e da luz, em sintonia com a natureza de cada ao dramtico-musical.
Mahler encarnou, de muitas formas, a primeira gerao da moderna direo tirnica e perfeccionista, associada energia fantica e a uma sempre absoluta insatisfao.
Weingartner foi uma das personalidades mais originais, contraditrias e talentosas da regncia dos dois sculos. Estreou na carreira de diretor de orquestra em Graz, regendo O Trovador de Verdi. Em seguida trabalhou com Von Blow, com quem teve inmeras divergncias interpretativas. Em seu opsculo sobre a direo de orquestra, publicado em 1905 Sobre a Direo de Orquestra aborda temas importantes como o estilo de Von Blow, a execuo das sinfonias de Beethoven, questes relacionadas com a dinmica orquestral, a direo de pera, o drama lrico wagneriano, a fidelidade interpretativa do regente.
Para Weingartner, o que determina o valor de uma direo de orquestra o grau de fora sugestiva que o regente capaz de exercer sobre os executantes.
No cuso dos ensaios, o regente no mais do que arteso, que instrui seus operrios com uma preciso meticulosa, a fim de que cada um saiba quais os papis e as funes a desempenhar. Antes de tudo, [o regente] deve ser sincero e leal com relao obra que vai executar, a ele mesmo e ao pblico. [] A partir do momento em que o regente tem a partitura em sua mo, ele deve pensar:
Que posso fazer com esta obra? E mais: o que desejou ou pensou seu criador?; Deve estudar conscientemente a obra de modo que, durante a execuo, a partitura sustente sua memria, sem o limitar; Se o estudo da obra lhe permite ter uma concepo prpria, que ele a restitua integralmente, sem a fragmentar; Deve lembra-se, incessantemente, de que o regente a personalidade mais importante e a mais responsvel da vida musical.
Passou pelo Brasil, em 1920, em turn realizada pela Amrica do Sul, ocasio que regeu dois movimentos da primeira sinfonia de Villa-Lobos.
Chega ao exagero de no atribuir importncia mo esquerda que para ele no tem o que fazer na direo, a no ser ficar no bolso do maestro.
Como diretor, em suas relaes com os msicos, Strauss conhecia muito bem a psicologia de cada instrumentista, e, com humor e compreenso, chama-os de horda maligna que deambula em um crnico mezzo-forte, quando no pode obter um pianssimo, nem preciso nos acordes dos recitativos, ou quando no dirigida por um diretor apropriado. Quando completou oitenta anos, Strauss escreveu algumas regras ureas referentes sua concepo da direo orquestral. Alm disso, responsvel pela complementao e reviso do Tratado de Instrumentao de Berlioz, onde expe no prefcio, sua anlise de Tristo e Isolda, dos Mestres Cantores e do Idlio de Sigfried, alm de abordar outras questes relacionadas arte da orquestrao e da instrumentao.
A Regncia no sc. XX
O Maestro se torna o mestre absoluto da orquestra e da interpretao, senhor do mundo e figura reitora (Jungheinrich). O Maestro moderno passou a ser o artfice de uma arte que abrange todo o espectro das emoes humanas, exprimindo sua concepo musical com vises interpretativas bastante diversas. Nesse sculo, a fora moral e criativa, associada ao carisma artstico reforado pelos meios de comunicao criaram um dos monstros sagrados e tits do nosso tempo. O Regente do sc. XX ser o artista, administrador, o entrepreneur, o pensador, o educador, o disciplinador e o guardio das tradies da msica orquestral sob todas as suas formas e gneros.
Segundo Alain Pris (La Direction Dorchestre, 1995), as qualidades desse homem evoluram no decorrer dos anos: suas funes eram estritamente limitadas no domnio artstico num primeiro tempo e depois se estendero gesto, promoo, e ao show business, tornando o regente o smbolo da orquestra aos olhos do pblico.
Exemplos: Furtwngler e Karajan com a Filarmnica de Berlim, Karl Bhn na Staatkapelle de Dresden, Eugene Jochum com a Radiofuso Bvara, Ferenc Fricsay com a RIAS de Berlim, Andr Clytens com a Sociedade de Concertos do Conservatrio, Evgeny Mravinsky com Leningrado, e mais recentemente, Kent Nagano na pera de Lyon, Simon Rattle na Birmingham Symphony [antes de assumir Berlim] e Zubin Mehta na Israel Philarmonic Orchestra. Como maestro, ele o mediador que contri suas interpretaes valendo-se de consumada habilidade para se comunicar tanto com a orquestra quanto com a platia. Este
SUBJETIVISMO:
Predomnio da inveno e da liberdade, onde o intrprete tende a dominar a subtncia e a forma em nome de um gosto prprio. O artista romntico tende a representar e a transfigurar a msica enquanto que o intrprete clssico simplesmente a apresenta e descreve. Direo imantada de uma sempre refinada viso da obra, onde prevalecem a flexibilidade do tempo, o domnio total do fraseado, o rigor e equilbrio nas mudanas de dinmica. Preferncia pelos andamentos mais lentos, prevalncia da expresso lrica, dramtica ou monumental, dependendo do estilo clssico ou romntico da obra.
A Regncia de pera
De todas as formas de expresso musical e de execuo artstica, a pera talvez seja a mais exigente de estudos e pesquisas, a mais complexa, trabalhosa e de difcil realizao, pela multiplicidade de recursos que emprega. Canto Orquestra Representao Ballet Criao cnica
A pera, em razo de sua heterogeneidade, impe ao regente um trabalho mais complexo do que o repertrio sinfnico. Sem trguas, ele deve zelar pela manuteno da harmonia entre o fosso e o palco, controlando com os olhos o sentido da preciso, valendo-se de todo o sangue-frio que o teatro exige, e quando ocorrem imprevistos estes podem tornar a representao um desastre. (Karl Bhm)
Nunca subestime a fora de um regente num teatro de pera. A maior parte das pessoas vai a um espetculo para ver determinada pera ou escutar determinado cantor, enquanto que o regente aquele sujeito humilde l embaixo no poo da orquestra mal notado por elas. Mas seria um erro subestimar a importncia do regente ou sua responsabilidade pela totalidade do espetculo. (Leopold Stokowsky)
Ensaios
do maestro na pera:
Com os cantores, quase sempre utilizando o piano; Com a orquestra; Com o coro; Simultaneamente com os solistas e os coros; Com o coregrafo e o ballet; Com os artistas no palco.
Como consequncia dos avanos nas pesquisas em msica, surge uma nova arte interpretativa fundada na autenticidade histrica, na divulgao da literatura musical antiga e nos novos conceitos de execuo e interpretao. Harnoncourt e Leonhardt. Oposio ao ideal romntico tardio o qual no busca a recriao segundo o esprito do tempo em que a obra foi concebida. A execuo s ser fiel se ela traduzir a concepo do compositor no momento da composio.
Os Maestros Brasileiros
Padre Jos Maurcio Nunes Garcia (1767 1830) Padre Joo de Deus Castro Lobo (1794 1832)
Lutero Rodrigues
Veiga Jardim
Roberto Miczuk Silvio Barbato (1959 2009) Luiz Fernando Malheiro
Marcos Arakaki
Marcelo Lehninger
Fonte Principal: LAGO JR., Sylvio. A arte da regncia: histria, tcnica e maestros. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2002. 600 p.; 23 cm.