O Negocio Da Comida
O Negocio Da Comida
O Negocio Da Comida
O NEGÓCIO DA
COMIDA
QUEM CONTROLA NOSSA ALIMENTAÇÃO?
ESTHER VIVAS ESTEVE
O NEGÓCIO DA COMIDA
Quem controla nossa alimentação?
1ª edição
EXPRESSÃO POPULAR
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SUM Á R IO
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Transgênicos e agrotóxicos
A propagação de sementes híbridas e transgênicas foi outro
mecanismo usado para controlar sua comercialização. As semen-
tes geneticamente modificadas também contaminam variedades
tradicionais – através do ar e da polinização – condenando-as ao
desaparecimento e impondo um modelo de alimento nas mãos do
agronegócio. Segundo a autora, Syngenta, Bayer, Basf, Dow Che-
mical, Monsanto e DuPont controlam 60% do mercado mundial
de sementes que está extremamente monopolizado. De acordo
com o Grupo ETC, a Monsanto além de ser a maior empresa de
sementes no mundo é, ao mesmo tempo, a quarta maior produtora
de pesticidas e a quinta maior empresa agroquímica do mundo.
Ou seja, as mesmas empresas que vendem ao agricultor as sementes
híbridas e transgênicas são as que lhes fornecem os pesticidas.
Frente a este cenário, os movimentos sociais no Brasil e em
várias partes do mundo, através da Via Campesina, têm travado
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Dependência do petróleo
Outro tópico certeiramente incluído pela autora dentro do
esquema do negócio da comida diz respeito aos deslocamentos
das mercadorias alimentares em escala global. O sistema vigente
tornou a agricultura industrial dependente do petróleo. Precisa-
-se dele desde o cultivo, passando pela colheita e chegando na
comercialização e consumo.
A mecanização dos sistemas agrícolas e o uso intensivo de
fertilizantes químicos e pesticidas são os melhores exemplos.
Esta política privatizou a agricultura, deixando agricultores e
consumidores à mercê de umas poucas empresas do agronegócio.
O sistema agrícola atual precisa de altas doses de fertilizantes
feitos à base de petróleo e gás natural, tais como a amônia, a
ureia etc., que substituem os nutrientes do solo. Transnacionais
petrolíferas como Repsol, Exxon Mobile, Shell, Petrobras têm
em sua carteira investimentos na produção e comercialização de
fertilizantes agrícolas.
O petróleo também é intensamente demandado para dar
conta dos transportes dos alimentos. A globalização alimentar e
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Outro modelo
A alternativa ao atual sistema passa pela soberania alimentar,
direção para onde convergem os últimos capítulos do livro. Por-
que comer é muito mais que engolir alimentos. Comer de forma
consciente. Saber de onde vem o que está se consumindo, como
o alimento foi elaborado e em quais condições. E por que se paga
um determinado valor por aquele alimento. Ou seja, termos o
controle de nossos hábitos alimentares. Em outras palavras, ser
soberano, poder decidir sobre a nossa alimentação. Esta é a es-
sência da soberania alimentar.
A globalização alimentar, concebida para beneficiar o agro-
negócio e os supermercados, privatizou os bens comuns. Está
extinguindo aqueles que se preocupam em trabalhar a terra, e
transformou os alimentos em um negócio. São políticas que,
amparadas por instituições e tratados internacionais, acabam com
os pequenos e médios agricultores e com as comunidades rurais.
Em função desse cenário, a Via Campesina defende a so-
berania alimentar. Com este conceito se avança para além da
segurança alimentar, pois não só afirma que é preciso que todos
tenham acesso à comida, mas que também tenham acesso aos
meios de produção, aos bens comuns (água, terra, sementes). É
uma aposta na agricultura local e de proximidade, camponesa,
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Os riscos da cooptação
O atual sistema alimentar tem procurado se apropriar da
agroecologia, processo brilhantemente ilustrado pelos exemplos
nesta obra. E uma das estratégias tem sido a cooptação. Ou seja,
a assimilação de sua prática por parte da indústria agroalimentar.
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Comércio justo
Neste contexto alternativo, Vivas argumenta que optar por
um comércio justo – radicalmente transformador das relações
de produção, distribuição e consumo – passa por reinterpretá-
-lo. E levá-lo à prática a partir da demanda política da soberania
alimentar. Mas o comércio justo tem sido utilizado pelas grandes
empresas como um instrumento de marketing empresarial e de
limpeza de imagem. Vendendo uma ínfima parte de seus produtos
de comércio justo, elas pretendem justificar uma prática comer-
cial totalmente injustificável: precarização da força de trabalho,
submissão do pequeno agricultor, exploração do meio ambiente,
promoção de um modelo de consumo insustentável e competição
desleal com o comércio local.
Biodiversidade
O atual sistema alimentar globalizado transformou o alimento
em mercadoria, concentrando o modelo de produção, distribuição e
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Produção e desperdício
Um país consegue a soberania alimentar se produz acima de
250 kg de grãos por habitante/ano. Tomando como referência
estudos da FAO, atualmente são produzidos alimentos suficientes
para alimentar 12 bilhões de pessoas para uma população de 7,2
bilhões. Mas 2 bilhões sofrem de deficiências de micronutrientes
como Ferro, Vitamina A e Iodo, e 1,4 bilhão encontra-se acima
do peso, sendo 500 milhões com problemas de obesidade. O
Brasil conta com 3,4 milhões (1,7% da população) em situação
de insegurança alimentar.
A própria FAO identifica como um dos problemas da crise
alimentar o desperdício de alimentos. São desperdiçados um mon-
tante de US$ 750 bilhões por ano (deste valor, 54% na produção,
pós-colheita e armazenagem; 46% nas etapas de processamento,
distribuição e consumo). Isso equivale a 1,3 bilhão de toneladas
por ano. A Europa é responsável por 222 milhões de toneladas,
o que equivale à produção de alimentos da África Subsaariana.
O Brasil desperdiça 40 mil toneladas por dia, e é importante não
esquecer que 70% da nossa água doce é utilizada na agricultura.
* http://www.abag.com.br/conteudos/interna/abag-alimentar-o-mundo
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* http://exame.abril.com.br/negocios/as-50-maiores-redes-de-supermerca-
dos-do-brasil/
** http://www.abia.org.br/vsn/tmp_2.aspx?id=319#sthash.MF3Ccpva.dpbs
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Pr efácio à ediç ão br a sil eir a
Os editores
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INTRODUÇ ÃO
onde se produz mais comida do que nunca? Por que somos de-
pendentes de “comida-lixo”? Este livro traz respostas para estas
e outras perguntas.
Em vários capítulos analisamos a causa da fome, os mecanismos
que permitem a especulação com os alimentos, a corrida pela terra,
as relações entre pobreza e alimentação, o porquê de uma dieta
globalizada e com alimentos “viajantes”, a conexão entre agricultura
industrial e mudança climática, o desaparecimento do campesina-
to, a fome recorde entre as mulheres, o impacto dos transgênicos,
a consequência do que comemos em nossa saúde, os motivos de
termos uma alimentação baseada no consumo de carne etc.
Assim, entramos nas profundezas do agronegócio, escavando
o lado oculto da Coca-Cola, do McDonald’s, da Panrico e das
telepizzas. Chegamos também nas entranhas dos supermercados,
com atenção especial ao Mercadona – o número um da grande
distribuição espanhola. Vamos mostrar o que eles não querem
que vejamos.
Mas este livro não quer ficar somente na crítica. O seu objetivo
é nos municiar de informação útil, compreensível e valiosa para
“nos indignarmos”. Reunir elementos para que possamos julgar por
nós mesmos – para além do discurso único que nos é imposto, tirar
conclusões e passar à ação. Nesse sentido, apontamos as alternativas
existentes, mostrando que “sim, podemos” alterar as coisas. E tal pers-
pectiva passa pela política da soberania alimentar – como paradigma
alternativo ao sistema agroindustrial –, pela prática da agricultura
ecológica e do comércio justo, com os seus erros e acertos, até ver
como aplicamos estes princípios no nosso dia a dia – nos grupos e
cooperativas de consumo agroecológico, nas hortas urbanas, nos
restaurantes ecológicos escolares, na cozinha slow e comprometida.
Esta obra é um alerta contra a resignação e a vacilação. É
uma chamada ao questionamento, à rebeldia e ao compromisso.
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OS JOGOS DA FOME
Causas políticas
A fome não é uma fatalidade inevitável que afeta determinados
países. As causas da fome são políticas. Quem controla os recursos
naturais (terra, água, sementes) que permitem a produção de ali-
mentos? Quem se beneficia das políticas agrícolas e alimentares?
As respostas dessas perguntas nos dão uma pista. Os alimentos
se converteram em mercadorias, e sua função principal, que é nos
alimentar, ficou em segundo plano.
A seca, com a consequente perda de colheitas e gado, é
apontada como uma das principais causas da fome no Chifre da
África. Mas como se explica que países como os Estados Unidos
ou a Austrália, que sofrem regularmente de secas severas, não
padeçam de fome? Evidentemente que fenômenos meteorológicos
podem agravar os problemas alimentares, mas não bastam para
explicar as causas da escassez. No que diz respeito à alimentação,
o controle dos recursos naturais é a chave para a compreensão de
quem e para quem se produz.
Em muitos países do Chifre da África, o acesso à terra é um
bem escasso. A compra, em grande escala, de solo fértil por parte
de investidores estrangeiros (agroindústria, governos, fundos es-
peculativos) provocou a expulsão de milhares de agricultores de
suas terras e diminuiu a capacidade desses países de se autoabas-
tecerem. Assim, em plena crise alimentar, enquanto o Programa
Mundial de Alimentos (PMA) tentava dar comida a milhões de
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Produção x Acesso
Voltando ao início, por que existe fome em um mundo de
abundância de alimentos? A produção mundial de cereais tripli-
cou desde os anos 1960, enquanto a população mundial apenas
duplicou desde então (Grain, 2008). De fato, não enfrentamos
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“Petróleo Verde”
A aposta de vários governos e instituições internacionais nos
biocombustíveis – tais como bioetanol, em meados dos anos 2000
– em resposta ao aumento dos preços do petróleo, e com o objetivo
de encontrar um combustível alternativo e mais barato, também
é responsável pelo aumento do preço dos alimentos. A produção
de agrocombustíveis (que a indústria chama de “biocombustí-
veis”, uma clara estratégia de marketing empresarial) precisa de
milho, arroz, trigo e cevada para sua elaboração. O aumento na
demanda por tais produtos para a produção de “petróleo verde”
leva a um aumento dos seus preços e isso acaba afetando o custo
dos alimentos para os consumidores.
Desde 2004, dois terços do aumento na produção global de
milho foram destinados a atender à demanda estadunidense de
agrocombustíveis. Em 2010, 35% da safra de milho dos Estados
Unidos – o que significa 14% da produção mundial – foi usada
para produzir bioetanol. Esta tendência é crescente. Estima-se
que até 2020, dependendo da velocidade de expansão dos bio-
combustíveis, o preço internacional do milho poderia aumentar
entre 26% e 72%, e o das sementes oleaginosas entre 18% e
44% (Holt-Giménez e Patel, 2010). Alimentos para comer ou
para movimentar carros? Lester R. Brown (2007), presidente do
Earth Policy Institute, nos EUA, coloca isso claramente: “Do
ponto de vista agrícola, a demanda por combustível automotivo
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O novo colonialismo
Estima-se que, entre 2008 e 2009, em apenas um ano, foram
adquiridos cerca de 56 milhões de hectares de terra no mundo,
dois terços (cerca de 30 milhões) na África subsaariana, onde a
terra é barata e a propriedade comum torna as pessoas mais vul-
neráveis, de acordo com dados do Banco Mundial (Deininger e
Byerlee, 2011). Antes de 2008, a “demanda” de terra anual era
de menos de 4 milhões de hectares. A apropriação de terras a
partir de então tem sido enorme. Outras fontes, como o Projeto
Global Land (2010), apontam entre 51 e 63 milhões de hecta-
res, só na África, uma extensão igual à da França. Trata-se de
arrendamentos, concessões ou compra de terras – as formas de
transações podem ser múltiplas e muitas vezes não transparentes
– uma dinâmica que alguns autores têm descrito como “novo
colonialismo” ou “colonialismo agrário”, representando uma
recolonização indireta dos recursos africanos.
O Banco Mundial tem sido um dos seus principais promo-
tores, desenvolvendo, em conjunto com outras instituições inter-
nacionais – a FAO, a Agência de Comércio e Desenvolvimento
das Nações Unidas e o Fundo Internacional de Desenvolvimento
Agrícola (Fida) – o que tem sido chamado de “Princípios para o
Investimento Agrícola Responsável”, que legitima a apropriação
de terras por investidores estrangeiros (Grain, 2012b). Através da
International Finance Corporation, instituição filiada ao Banco
Mundial que lida com o setor privado, tem-se promovido pro-
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Países à venda
A Etiópia, um dos países mais afetados pela fome de 2011,
ofereceu naquele mesmo ano três milhões de hectares de terra
cultivável para investidores estrangeiros da Índia, China, Pa-
quistão, Arábia Saudita, entre outros. O negócio não poderia ser
melhor: 2.500 km2 de terras virgens, produtivas, a 700 euros por
mês, com um contrato de 50 anos. Este foi o acordo feito pelo
governo etíope e a empresa indiana Karuturi Global – uma das
25 maiores da agroindústria mundial – que dedicou essas terras
para o cultivo de óleo de palma (dendê), arroz, cana-de-açúcar,
milho e algodão para exportação (Vidal, 2011). As consequências:
milhares de camponeses e povos originários expulsos de suas
terras, particularmente aqueles que mais padeciam por causa
da fome e da falta de alimentos, bem como vastas extensões de
florestas derrubadas e queimadas.
Outros países africanos como Moçambique, Gana, Sudão,
Mali, Tanzânia e Quênia têm alugado milhões de hectares de seu
território. Na Tanzânia, o governo da Arábia Saudita adquiriu
500 mil hectares de terra para a produção de arroz e trigo para
exportação. No Congo, 48% da superfície agrícola está nas mãos
de investidores estrangeiros; em Moçambique, mais de 21%; e
em Uganda uma extensão superior a 14% (Global Land Project,
2010). A conferência acadêmica “Global Land Grabbing”,* que
foi realizada na Grã-Bretanha em 2011, chamou a atenção para o
impacto negativo dessas aquisições. Mais de cem estudos de casos
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DE ONDE V EM O QUE COMEMOS?
Um menu globalizado
O que países como Índia, Senegal, Estados Unidos, Colômbia,
Marrocos, Espanha e muitos outros têm em comum? O fato de
a comida ser cada vez mais semelhante, apesar das diferenças
significativas que ainda sobrevivem. Além da “mcdonaldização”
das nossas sociedades e do consumo global de coca-cola, a in-
gestão mundial de alimentos depende cada vez mais de algumas
poucas variedades de culturas. Arroz, soja e trigo se impõem em
detrimento de outras culturas, como milho, mandioca, centeio,
batata, sorgo ou batata-doce. Se a alimentação depende de tão
poucas variedades, o que poderá acontecer frente a uma má co-
lheita ou uma praga? Será que teremos nossos pratos realmente
assegurados?
Avançamos para um mundo com mais alimentos, mas com
menor diversidade e segurança alimentar. Alimentos como a soja,
que até alguns anos atrás eram irrelevantes, tornaram-se indispen-
sáveis para três quartos da humanidade. Outros, já significativos,
como o trigo ou o arroz, se espalharam em grande escala, sendo
consumidos atualmente por 97% e 91% da população mundial,
respectivamente (CGIAR, 2014).
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Menos variedade
De acordo com os autores do estudo, este menu é “uma amea-
ça potencial à segurança alimentar.” Por quê? Em primeiro lugar,
porque apesar de consumir mais calorias, proteínas e gordura
do que há 50 anos, a comida contemporânea é menos variada
e é mais difícil ingerir os micronutrientes necessários ao corpo.
Ao mesmo tempo, “a preferência por alimentos energeticamente
densos e baseados em um número limitado de cultivos agrícolas
globais e alimentos processados está associada ao aumento de
doenças não transmissíveis como diabetes, problemas cardíacos
e alguns tipos de câncer”. A saúde está em jogo.
Em segundo lugar, a homogeneização do que comemos nos
torna mais vulneráveis às más colheitas ou a pragas, que devem
aumentar com a intensificação das mudanças climáticas. Somos
dependentes de algumas poucas culturas, que estão nas mãos de
um punhado de empresas que produzem em larga escala, sob
condições de trabalho precárias, desmatando florestas, poluindo
solos e águas e utilizando pesticidas sistematicamente.
Não se trata de ser contra uma mudança nos hábitos alimen-
tares – o problema surge quando estas são impostas por interesses
econômicos particulares, independentemente das necessidades
das pessoas. A “dieta global” é o resultado de uma cadeia de
produção-distribuição-consumo globalizada, em que nem os agri-
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O negócio da comida
Sementes sequestradas
Quem já ouviu falar alguma vez da beringela branca, do melão
Piñonet,* da batata negra bonita, da abóbora “bom gosto”, do
tomate bulbo, da alface “língua de boi”? São variedades locais e
antigas que ficaram à margem dos canais habituais de produção
e consumo de alimentos. Variedades ameaçadas de extinção.
A dieta moderna é dependente de poucas variedades agríco-
las e pecuárias. Atualmente, apenas cinco variedades de arroz
fornecem 95% das colheitas nos principais países produtores, e
96% das vacas leiteiras no Estado espanhol pertencem a uma só
raça, friesian (Veterinarios sin Fronteras, 2007), a mais comum
em todo o mundo na produção leiteira. De acordo com a FAO
(2010a), 75% das variedades agrícolas desapareceram ao longo
do século passado.
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Os alimentos viajantes
Também observamos a necessidade de petróleo nas longas
viagens que os alimentos realizam, desde onde são cultivados até
onde são consumidos. Estima-se que a refeição média viaje cerca
de cinco mil km do campo à mesa, com a consequente necessidade
de hidrocarburetos e com o impacto sobre o meio ambiente. Estes
“alimentos viajantes” geram cerca de cinco milhões de toneladas
de CO2 por ano, contribuindo para o agravamento das alterações
climáticas (González, 2012).
A globalização alimentar, na sua corrida para obter benefício
máximo, deslocaliza a produção de alimentos, como tem feito
com tantas outras áreas da economia. Produz em grande escala no
Sul, tirando vantagem das más condições de trabalho e de uma
legislação ambiental quase inexistente, e vende sua mercadoria
no Norte, a um preço competitivo. Ou produz no Norte, graças
a subsídios agrícolas para grandes empresas para, em seguida,
comercializar os bens subsidiados no outro lado do planeta,
vendendo abaixo do preço de custo e fazendo uma concorrência
desleal com a produção nacional. Nisto reside o porquê dos “ali-
mentos quilométricos”: máximo benefício para alguns; máxima
insegurança, pobreza e poluição para a maioria.
Em 2007, foram importados para a Espanha mais de 29
milhões de toneladas de alimentos, 50% a mais do que em
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Comendo plástico
O que acontece assim que os alimentos chegam ao supermer-
cado? Plástico e mais plástico derivado do petróleo. Assim, po-
demos encontrar uma embalagem primária contendo alimentos,
uma embalagem secundária que permite uma exposição atrativa
no estabelecimento e, finalmente, sacolas para levá-lo para casa.
Na Catalunha, 25% das quatro milhões de toneladas de resíduos
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* Biscoitos doces típicos da Espanha feitos com farinha de trigo. (N. T.)
** Sopa preparada na Catalunha com carnes, legumes, ovos e macarrão. (N. T.)
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Matar o galo
O frango assado recheado ou o capão são outros pratos típicos.
Dizem que o consumo de carne é essencial para essas festas. Uma
canção catalã retrata bem essa concepção: “Agora chega o Natal,
vamos matar o galo e à Tia Pepa vamos dar um pedaço”. Meu avô
assim fazia todos os 25 de dezembro, com um galo de seu quintal.
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A DEUS AO C A MPE SINATO?
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O negócio da comida
Um novo olhar
O surgimento da Via Campesina também trouxe um novo
olhar para as políticas agrícolas e alimentares. Em 1996, no âm-
bito da Cúpula Mundial da Alimentação da FAO, em Roma, a
Via Campesina lançou um novo conceito político, o de soberania
alimentar. Até então, a fome só era abordada do ponto de vista da
segurança alimentar – no qual defende o acesso e o direito à ali-
mentação, mas sem questionar o que se come, como é produzido
e de onde vem –, e o novo conceito cunhado pela Via Campesina
“revolucionou” o debate (Vivas, 2010a).
Já não se tratava somente de comer, mas de ser “soberano”
e poder decidir. A soberania alimentar dá um passo além da
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As mulheres contam
Uma soberania alimentar tem que ser feminista se quer sig-
nificar uma mudança verdadeira de modelo. Hoje, as mulheres,
apesar de serem as principais fornecedoras de alimentos nos paí
ses do Sul – entre 60% e 80% da produção de alimentos é feita
por elas (FAO, 1996a) –, são as que mais sofrem com a fome,
padecendo 60% de fome crônica global (ONU Mujeres, 2011). A
mulher trabalha a terra, cultiva os alimentos, mas não tem acesso
à sua propriedade, a máquinas, a crédito agrícola. Se a soberania
alimentar não permitir a igualdade de direitos entre homens e
mulheres, não será uma alternativa de verdade.
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Os governos corruptos
A oligarquia do poder negocia compromissos urbanísticos nos
bastidores, propõe requalificações e transforma a terra rural em
edificável. Os casos de corrupção se multiplicam. A “cultura do
envelope marrom”* está na ordem do dia. Um novo despotismo
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Povos indígenas em pé
Os povos indígenas, expulsos de suas terras, são a ponta de
lança da luta contra a privatização da terra. Uma batalha que não
é nova e da qual Chico Mendes, seringueiro, conhecido por sua
luta em defesa da Amazônia e assassinado em 1988 por fazendei-
ros brasileiros, foi um dos principais expoentes. Chico Mendes
articulou no Brasil a Aliança dos Povos da Floresta – composta
por índios, seringueiros, ambientalistas e agricultores campone-
ses – contra empresas madeireiras transnacionais, reivindicando
uma reforma agrária com propriedade comunitária da terra e seu
uso em usufruto por parte das famílias camponesas. Como ele
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AGR ICULTUR A E A LIMENTAÇ ÃO,
NOME S DE MULHER
As invisíveis do campo
Agricultura e alimentação são áreas onde as mulheres tradi-
cionalmente desempenham um papel fundamental. Entre 60%
e 80% da produção de alimentos nos países do Hemisfério Sul é
realizada por elas – 50% em todo o mundo (FAO, 1996a).* Elas
são as principais fornecedoras de comida, encarregadas de traba-
lhar a terra, guardar as sementes, processar os alimentos, coletar
os frutos, obter água, cuidar dos rebanhos e vender no mercado.
Em muitos países africanos, de acordo com a FAO (1996a),
as mulheres realizam 70% do trabalho agrícola: são responsáveis
por 90% do abastecimento de água e lenha em suas casas; por
60% a 80% da produção de alimentos para o consumo familiar
e para a venda; por 60% das atividades de colheita e de comer-
cialização no mercado; por 100% do processamento de alimentos
e por 80% das ações para o armazenamento e transporte da roça
para a aldeia. Estes números mostram o papel crucial que as
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Migração em feminino
O aprofundamento da crise no campo nos países do Sul e
a intensificação da migração para as cidades provocaram, ao
longo da segunda metade do século XX, um claro processo de
“descampenização” (Bello, 2009) que, em muitos países, não
assumiu a forma de um clássico movimento campo-cidade – em
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Sem direitos
O papel das mulheres rurais tem sido fundamental no campo.
Mulheres que cuidam da terra, de filhas e filhos, da casa, dos
animais. Mesmo com as mudanças nas zonas rurais, elas ainda
têm um peso significativo na agricultura familiar. Estima-se que
82% das mulheres rurais trabalham atualmente no campo, mas a
maioria o faz na qualidade de cônjuge ou filha, invisibilizadas, sem
direitos, em atividades formalmente consideradas nas estatísticas
como “ajuda familiar” (Ministerio de Agricultura, Alimentación
y Medio Ambiente, 2011). Isso significa que elas não contribuem
para a seguridade social. Portanto, elas não têm acesso à indeni-
zação por desemprego, por acidente, por maternidade ou a uma
aposentadoria digna.
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Saúde ameaçada
Outro impacto do sistema agrícola industrial na vida das
mulheres camponesas e no mundo rural se dá sobre a saúde.
Meses atrás, em um encontro de mulheres rurais em Tenerife,
tive a sorte de encontrar a bailarina Ana Torres e sua companhia
Revolotearte. Nessa reunião, eles interpretaram a peça “Silent
Spring” [Primavera Silenciosa], inspirada na obra de mesmo
nome de Rachel Carson, na qual retratavam, através da dança, do
corpo e de imagens, o impacto brutal da utilização de pesticidas
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Um novo campesinato
Hoje, um novo campesinato começa a surgir no mundo ru-
ral. Isto é o que a doutora em Geografia, Neus Monllor (2012),
assim definiu:
os jovens que estão fazendo coisas de forma diferente, tanto se vêm de
agricultura tradicional quanto se são recém-chegados. São jovens que
estão a tomar conta da sua atividade, tentando ser independentes e vender
seus produtos diretamente, muito sensíveis ao território e à qualidade.
Acima de tudo, este novo campesinato rompe com o discurso pessimista
continuísta.
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Sacrificadas e abnegadas
O patriarcado atribui algumas ocupações ao gênero feminino,
o qual, por “natureza”, tem de assumir tais funções. Mãe, esposa,
filha, avó abnegada, sacrificada, altruísta. Quem não cumprir com
este dever carrega o peso, a culpa de ser “mãe ruim”, “má esposa”,
“má filha”, “má avó”. Assim, ao longo da história, as mulheres têm
desenvolvido estas tarefas de cuidado, em função de seu papel de
gênero. A esfera do trabalho “produtivo”, desse modo, é domínio
da masculinidade, enquanto o trabalho considerado “improduti-
vo”, em casa e não remunerado, é patrimônio das mulheres. Fica
estabelecida uma clara hierarquia entre trabalhos de primeira e
“labores” de segunda. São impostas tarefas específicas, valorizadas
e não valorizadas, visíveis e invisíveis, dependendo do nosso sexo.
A alimentação, o cozinhar em casa, as compras de comida, as
pequenas hortas para o autoconsumo fazem parte desses trabalhos
de cuidados, que não são valorizados ou vistos, mas que são es-
senciais. Talvez por isso não apreciamos o que, o como ou quem
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A “economia iceberg”
Esse trabalho invisibilizado é o que, definitivamente, sustenta
o lucro do capital. A metáfora da “economia iceberg”, criada pela
economia feminista, coloca isso em evidência (Duran, 2000;
Pérez Orozco, 2006). A economia capitalista funciona como um
iceberg, do qual você só vê a ponta, uma pequena parte da econo-
mia produtiva de mercado, o trabalho remunerado associado ao
masculino. Mas a maior parte do bloco permanece “escondido”
debaixo d’água. É a economia reprodutiva, da vida, do cuidado,
associada ao feminino. Sem ela, o mercado não funcionaria, por-
que ninguém a iria sustentar. Um exemplo: as horas de trabalho
invisibilizadas e incompatíveis com a vida pessoal e familiar, sem
alguém para ter o cuidado de manter a casa, preparar a comida,
buscar as crianças na escola, cuidar de idosos dependentes... Para
que alguns possam trabalhar “em maiúsculas”, outras têm que o
fazer “em minúsculas”.
Pegando a “economia iceberg” sob o ponto de vista ecológico,
vemos, também, como a natureza faz parte deste apoio invisível
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TR A NSGÊNICOS NÃO, OBR IG A DO!
Transgênicos e agronegócio
Transgênicos – sim ou sim. Não nos deixam opção. A Comis-
são Europeia os impôs no início de 2014, quando decidiu adotar,
apesar da rejeição da maioria dos países membros, o cultivo do
TC1507, uma nova variedade de milho transgênico do Grupo
Pioneer-DuPont. De nada serviram os votos contra de 19 países,
de um total de 28, no Conselho de Ministros da União, inclu-
sive o rechaço da maioria do Parlamento Europeu. A Comissão
argumentou que a maioria contrária, manifestada no Conselho,
não sendo qualificada, era insuficiente para arquivar a proposta.
Desse modo funciona a Comissão, que usa esse mecanismo para
impor medidas impopulares quando lhe interessa. Quem manda
na Europa? Os cidadãos ou os lobbies?
A União Europeia, na verdade, já permite o cultivo de OGMs
(Organismos Geneticamente Modificados, ou transgênicos) –
mais especificamente, o milho MON810 da Monsanto. Um milho
geneticamente modificado, no qual é introduzido o gene de uma
bactéria que o leva a produzir uma toxina, conhecida como Bt,
que o torna resistente à broca, permitindo combater esta praga. No
entanto, muitos países membros, incluindo França, Alemanha,
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Ligações perigosas
Porém, como se dizia nos tempos de Generalíssimo Francis-
co Franco, “a Espanha é diferente”. O país é o único da União
Europeia a cultivar milho transgênico em grande escala, espe-
cialmente em Aragão e Catalunha. Estima-se que na Espanha
esteja plantada 80% da produção da Europa, de acordo com o
Serviço Internacional de Agrobiotecnologia (ISAAA) (2010).
Isso sem levar em conta os campos experimentais. Por quê? O
cultivo começou em 1998 sob o governo de José Maria Aznar e
do Partido Progressista, com a produção da variedade de milho
Bt176 da Syngenta, que, em 2005, foi proibido por seus efeitos
negativos sobre o ecossistema. Desde então, a produção que se
leva a cabo é a do milho transgênico MON810. Os laços estrei-
tos entre a indústria da biotecnologia, principal promotora dos
OGMs, e as instituições públicas explicam o porquê. Amizades
perigosas para o bem comum.
A dinâmica de portas giratórias* – passagem da iniciativa pri-
vada à administração pública e vice-versa – tem estado na ordem
do dia tanto nos governos do PP quanto do Partido Socialista
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Saúde em jogo
Outra questão das mais controversas é o impacto dos OGMs
na saúde das pessoas. Muitos dizem que eles são seguros, que
foram suficientemente testados e não representam riscos para
o nosso corpo. Desde administrações públicas, departamentos
universitários até comitês científicos, muitos defendem essa po-
sição. No entanto, os interesses, muitas vezes escondidos por trás
dessas posições se tornam evidentes. Os tentáculos da indústria
de biotecnologia são muito longos. Mesmo empresas como a
Bayer e Syngenta, à frente da indústria transgênica, já têm suas
próprias cátedras: a cátedra Bayer CropScience na Universidade
Politécnica de Valência e a cátedra UAM-Syngenta de Fertilizante
de Micronutrientes na Universidade Autônoma de Madrid. É
evidente a que interesses respondem suas pesquisas universitárias,
bem como a divulgação de tais trabalhos.
Relatórios científicos independentes indicam o impacto ne-
gativo que podem ter os transgênicos sobre a nossa saúde: novas
alergias, resistência a antibióticos, diminuição da fertilidade, da-
nos aos órgãos internos etc. (Greenpeace, 2009). “Os riscos para a
saúde – em longo prazo – dos OGMs presentes na nossa alimen-
tação ou na dos animais, cujos produtos consumimos, não estão
sendo avaliados adequadamente”, sentencia Greenpeace (2009).
Assim que estes relatórios críticos são publicados, múltiplas
tentativas são feitas para desacreditá-los e difamar seus autores.
Há muitos interesses em jogo para empresas como a Monsanto,
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Concentração empresarial
Além do impacto sobre o ambiente e a saúde, um dos efeitos
negativos dos transgênicos se dá em âmbito político, com relação
ao controle das sementes – a essência da vida – e outros insumos
agrícolas (a genética do gado, os pesticidas e fertilizantes químicos
etc.). Hoje, umas poucas transnacionais como a Syngenta, Bayer,
BASF, Dow, Monsanto e DuPont controlam 60% das sementes
vendidas e 76% dos produtos químicos agrícolas aplicadas às
culturas (Grupo ETC, 2013a). Vemos como aqueles mesmos
que fazem negócio patenteando as sementes são os que também
lucram comercializando os pesticidas químicos que são utilizados
na agricultura “moderna”.
A concentração empresarial aumenta, e tem consequências.
Por exemplo, o preço das sementes nos Estados Unidos, entre
1994 e 2000, subiu mais do que os de quaisquer outros insu-
mos de produção agrícola, duplicando seu custo em relação
ao preço que os agricultores obtinham pelas colheitas (ETC
Group, 2013a). A Monsanto é a maior empresa de sementes
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Wikileaks e os transgênicos
Os interesses da indústria de biotecnologia e as alianças
políticas para promover os transgênicos não escaparam ao le-
vantamento do Wikileaks. No final de 2010, este portal revelou
discussões entre a Embaixada dos EUA e o governo espanhol em
que este pedia a Washington que “pressionasse Bruxelas em favor
dos transgênicos” (El País, 2010).
Os telegramas, dos anos de 2008 e 2009, punham em evidên-
cia a aliança entre os dois governos em favor dos OGMs e suas
preocupações com o veto de diferentes países europeus – incluindo
Alemanha, França, Áustria, Grécia, Luxemburgo e Hungria – ao
milho transgênico MON810, de propriedade da Monsanto, e
com o avanço do movimento contra os transgênicos no Estado
espanhol. Além disso, os telegramas gravaram a mediação da
Embaixada dos Estados Unidos em favor da Monsanto e contra
as posições da Comissão Europeia para limitar o seu cultivo.
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certeza das consequências que isso pode ter, e se essas são reversí-
veis ou não. Vemos, novamente, como empresas de biotecnologia
apostam em fazer experimentos com a natureza e com nossa
saúde. Isso porque os insetos transgênicos são uma das novas
fontes de negócio para as transnacionais do setor.
O conflito de interesses é outro problema evidente. Nenhum
país tem uma regulamentação específica para a introdução de
insetos geneticamente modificados. A quem, por curiosidade, se
está encarregando a elaboração de tais regulamentos, diretivas e
marcos de referência? Aos mesmos funcionários da principal em-
presa que os fornece: Oxitec. O relatório “Insetos geneticamente
modificados: sob controle de quem”, de GeneWatch (2012) e ou-
tras organizações, assim o testemunham. Oxitec, aliás, conta com
o apoio ativo da gigante da indústria de biotecnologia Syngenta.
Felizmente, o Comitê Nacional de Biossegurança, no âmbito
do Ministério da Agricultura, rejeitou a proposta e exigiu novos
relatórios, caso a empresa demandasse reconsideração. A Genera-
litat de Catalunya – que teve a última palavra – também rejeitou
o pedido. Ainda assim, Oxitec disse que iria tentar novamente,
a partir de novos testes e resultados.
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Fechando a cara
Confrontados com tal absurdo, muitos não permanecem em
silêncio e o enfrentam de cara amarrada. Milhares são as frentes
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E STÃO NOS A DOECENDO!
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Doentes e gordos
A “dieta ocidental”, como o jornalista Michael Pollan (2009)
aponta em seu best-seller O detetive no supermercado, é responsável
por muitas das nossas doenças. “Quatro das dez principais causas
de morte hoje são doenças crônicas, cuja conexão com a dieta está
comprovada: doença cardíaca coronária, diabetes, infarto e cân-
cer”, afirma. A dieta ocidental, com muitos alimentos processados,
carne, muita gordura e muito açúcar, nos deixa doentes e gordos.
No início do século XX, como assinala Pollan, um grupo de
médicos observou que quando as pessoas abandonam sua forma
tradicional de comer e adotam a “dieta ocidental”, logo aparecem
doenças como obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares e
câncer, batizadas como “doenças ocidentais”.
O relator especial sobre o direito à alimentação da ONU,
Olivier de Schutter, coincide nesse diagnóstico: “dietas não sau-
dáveis são um risco maior para a saúde global do que o tabaco”.
Ele acrescenta: “os governos têm colocado o foco no aumento da
quantidade de calorias disponíveis, mas muitas vezes têm sido
indiferentes sobre que tipo de calorias oferecer, a que preço, para
quem são acessíveis e como são comercializados” (Oficina del
relator especial sobre el Derecho a la Alimentación de las Nacio-
nes Unidas, 2014b). Não surpreendentemente, de acordo com a
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Modus operandi
O modus operandi não falha. Em primeiro lugar, a publi-
cidade, tanto para vender um quanto o outro – embora entre
um Danone Morango e um Danacol não haja tantas diferenças
para além do marketing nutricional. Para os investimentos em
publicidade não são poupados recursos econômicos. Em 2005,
a indústria alimentar dos EUA gastou mais de 50 bilhões de
dólares em publicidade, mais do que qualquer outra indústria
do país. A Coca-Cola, especificamente, desembolsou 2 bilhões e
200 milhões, um total muito maior do que todo o orçamento da
OMS (De Sebastián, 2009). As crianças, com frequência, são o
público-alvo, e podem chegar a ver, pelo menos na Grã-Bretanha,
5 mil anúncios de junk food por ano (The Food Comission, 2004).
Como afirmado por Tim Lobstein, diretor da Food Comission
(organização britânica dedicada a garantir um alimento seguro
e saudável) em um debate na BBC britânica: “Vivemos em um
ambiente ‘obesogênico’, cheio de estímulos que nos incentivam
a comer mais, a se exercitar menos e, especialmente, a consumir.
Trata-se de um ambiente gerido comercialmente” (De Sebastián,
2009).
Em segundo lugar, a culpabilização. Somos culpados por
comer mal, engordar, adoecer. Se você ficar gordo, dizem eles,
você não tem força de vontade. Você tem que se sacrificar, dizem.
Vendem-nos o paradigma da mulher e do homem perfeito, como
se fosse fácil caber em um tamanho 38. Em suma, a culpa é nossa.
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Comer bem
Tendo visto o que vimos, o que podemos fazer para comer
bem? Como diz Michael Pollan (2009): “Comer comida’ não
é tão simples como parece. Antes, o único que se podia comer
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Um hambúrguer globalizado
Além disso, em uma cadeia alimentar profundamente
globalizada, descobrir onde começou tal fraude é uma verda-
deira missão impossível. Um hambúrguer pode ser feito da
carne de 10 mil vacas, passando por cinco países diferentes,
antes de chegar ao supermercado. Onde foi “colada” a carne
de cavalo? A Irlanda acusou inicialmente o Estado espanhol,
e em seguida a Polônia. Quando o caso estourou na França,
a culpada era uma fábrica de Luxemburgo, que por sua vez,
alegou que a carne veio da Romênia, que ao mesmo tempo
disse que a mercadoria lhe chegava da Holanda e do Chipre.
Sem jeito de saber a resposta!
A história se repete. Cada vez que aparece um novo escândalo,
assistimos ao mesmo pingar de acusações cruzadas, alarme social,
impossibilidade de saber a origem, e toneladas de alimentos no
lixo. Foi o que aconteceu com a E. Coli e os pepinos, e muito antes
com os frangos com dioxinas, as “vacas loucas”, a peste suína e
um extenso etecetera. E vai acontecer novamente!
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O negócio da comida
Conflito de interesses
O Tribunal de Contas Europeu parece não estar muito de
acordo com tais declarações, como se depreende do seu relatório
sobre o conflito de interesses em certas agências da União, no qual
afirma que a Agência Europeia de Segurança Alimentar, junta-
mente com três outras agências europeias auditadas, “não lidam
corretamente com situações de conflito de interesses”. Acrescenta
que esses “riscos de conflito de interesses estão incrustados nas
estruturas destas agências (...) e dependem da investigação reali-
zada pela própria indústria” (European Court of Auditors, 2012).
Mais claro que água!
Como uma anedota, as conclusões do Tribunal de Contas
Europeu contrastam com os louvores de uma avaliação que,
pouco antes, havia feito a auditoria privada Ernst & Young –
contratada, evidentemente, pela mesma Agência Europeia de
Segurança Alimentar.
As críticas à falta de neutralidade da Agência não são novas.
Organizações como o Observatório Europeu das Corporações e
a Earth Open Source publicaram, em fevereiro de 2012 – coin-
cidindo com o décimo aniversário da instituição –, um relatório
que levantou polêmica. Eles questionaram a independência da
Agência e apontavam para os estreitos vínculos de seus peritos
com empresas do setor (Holanda, Robinson e Harbinson, 2012).
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Portas giratórias
Para além do peso da indústria, está a dinâmica, também já
aventada, das “portas giratórias”: funcionários e peritos da Agên-
cia Europeia de Segurança Alimentar, que depois de um tempo
passam a trabalhar em empresas do agronegócio ou biotecnologia,
e vice-versa, dando lugar a uma situação óbvia – exceto para eles
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SOBR E A NIM A IS E PEI X E S
A revolução pecuarista
A pecuária tornou-se uma parte fundamental do sistema
alimentar atual, investindo num modelo industrial e intensivo
que tem sido chamado de “revolução pecuária” (Delgado et al.,
1999). Este sistema tem implicado um aumento exponencial da
produção e consumo de carnes e produtos derivados, seguindo o
mesmo padrão produtivista da “revolução verde” (uso intensivo
da terra, insumos químicos, “melhoria” genética etc.), ao mesmo
tempo que modifica nossa dieta. Um modelo que tem promovi-
do a concentração empresarial, deixando para um punhado de
empresas transnacionais a capacidade de decidir quais carnes e
derivados consumimos, o quanto, e como elas são processadas.
No entanto, se a “revolução verde” prometeu acabar com
a fome no mundo e falhou, o aumento da produção de carne
tampouco tem significado uma melhoria na dieta alimentar. Ao
contrário, o aumento desse consumo tem levado ao aumento
dos problemas de saúde, e sua lógica produtivista tem tido um
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Saúde ameaçada
Embora a revolução pecuária afirme “melhorar” as raças
de gado – isso sim, respondendo aos interesses do mercado,
promovendo aquelas mais produtivas, resistentes a doenças, de
fácil adaptação ao ambiente etc. –, nada disso significou um
enriquecimento do que comemos. Na verdade, a variedade de
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O trabalho precário
As condições de trabalho das pessoas nessas fazendas deixam
muito a desejar. De acordo com um relatório da Human Rights
Watch (2004), trabalhar na indústria da carne é o mais perigoso
emprego industrial nos Estados Unidos. O relatório destacou o
abuso sistemático de mão de obra imigrante indocumentada,
intimidação, falta de indenizações, retaliações e ameaças de
demissão contra aqueles que denunciavam abusos.
De fato, entre os animais que são sacrificados e os funcio-
nários que trabalham, há mais pontos em comum do que estes
últimos poderiam imaginar. Upton Sinclair (2012 [1906]), em
seu brilhante livro The Jungle [A Selva], que retratou a vida
precária dos trabalhadores dos matadouros de Chicago nos
primeiros anos do século passado, deixou isso claro: “Aqui se
sacrificavam homens igualmente como se sacrificava o gado:
cortavam seus corpos e almas em pedaços e os convertiam em
dólares e centavos”.
Hoje, nos Estados Unidos, muitos matadouros contratam,
em condições precárias, os imigrantes mexicanos – como retrata
Nação Fast Food, o excelente filme de Richard Linklater – ou
nos países centrais da União Europeia, imigrantes da Europa
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O leite* da má-fé
Os agricultores e produtores de leite estão em pé de guerra.
O setor está passando, como temos visto nos últimos anos, por
uma profunda crise, provocada pela queda acentuada do preço do
leite, o que é especialmente prejudicial para pequenos e médios
pecuaristas, que estão gradualmente abandonando suas fazendas.
Não é apenas uma “crise de preços”; estamos diante de uma
“crise do modelo agrícola”. Resultado de políticas governamen-
tais que promovem uma agricultura e uma produção intensiva e
insustentável. Apesar desta situação difícil, o Conselho Agrícola
da União Europeia, em setembro de 2009, manteve-se impassível,
permitindo uma alta produção enquanto a demanda diminuía,
com a consequente queda acentuada nos preços de leite e empo-
brecimento dos pequenos produtores.
Por essas razões, desde a Plataforma Rural e a Coordenação
Europeia da Via Campesina, insiste-se, em primeiro lugar, em
uma regulação do mercado, adaptando a oferta à procura. Não
como agora, que se promove um aumento da cota de produção,
independentemente da quantidade de demanda, uma política
que visa basicamente beneficiar a indústria de laticínios e os
* No original, “de mala leche”. Significando literalmente “mau leite”, é uma ex-
pressão normalmente traduzida como “má índole”, “má-fé”, e tem sua origem
na ideia de que o caráter das pessoas se vincularia estreitamente às heranças
familiares; como se a mãe, pelo amamentamento, pudesse transferir elementos
negativos para a formação da criança. O jogo de palavras foi aqui adaptado, em
livre tradução. (N. T.)
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Em poucas mãos
Umas poucas empresas repartem o suculento bolo da pesca
industrial. São elas grandes companhias que compram e ab-
sorvem outras ainda pequenas, com o objetivo de exercer um
maior controle da indústria, integrando criação, processamento
e comercialização. Atualmente, para dar um exemplo, quatro
empresas controlam mais de 80% da produção mundial de sal-
mão. A noruego-holandesa Nutreco é a número um, seguida das
também norueguesas Cermaq, Fjord Seafood e Domstein que,
após uma fusão em 2002, ocupam a segunda posição.
Outras grandes empresas, como a Pescanova, de origem
galega, optam pela compra de cotas, investindo na produção de
salmão no Chile, da tilápia no Brasil, do pregado em Portugal,
do camarão na Nicarágua. No entanto, essas empresas vão do
sucesso à falência. Atualmente, a Pescanova está na corda bamba,
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OS BA STIDOR E S DO AGRONEGÓCIO
“Coca-Cola é assim”
“Obrigado por compartilhar felicidade”, diz um recente
anúncio da Coca-Cola. Mas, olhando de perto, parece que a
Coca-Cola, de felicidade, reparte muito pouco. Perguntem aos
trabalhadores das fábricas que a transnacional começou a fechar
em 2014 em Fuenlabrada (Madrid), Mallorca, Alicante e Astúrias.
Ou perguntem aos sindicalistas perseguidos – alguns até mesmo
sequestrados e torturados na Colômbia, Turquia, Paquistão, Rús-
sia, Nicarágua – ou às comunidades na Índia, que ficaram sem
água após a passagem da empresa. E isso para não falar da péssima
qualidade de seus ingredientes e o impacto sobre a nossa saúde.
A cada segundo se consomem 18.500 latas ou garrafas de
Coca-Cola em todo o mundo, de acordo com a empresa. O im-
pério Coca-Cola vende suas 500 marcas em mais de 200 países.
Quem poderia ter dito isso a John S. Pemberton, quando criou,
em 1886, a tão bem-sucedida bebida em uma pequena farmácia
em Atlanta! Hoje, a transnacional já não vende apenas uma be-
bida, mas muito mais. Abusando do dinheiro e de campanhas de
marketing de milhões de dólares, a Coca-Cola nos vende algo tão
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Um rastro de abusos
Por fim, chegou a vez do Estado espanhol. A empresa anun-
ciou, em janeiro de 2014, um Expediente de Regulamentação de
Emprego que envolvia o fechamento de 4 de suas 11 fábricas, a
demissão de 1.250 trabalhadores e a realocação de outros 500.
Uma medida que foi tomada, de acordo com a transnacional, “por
razões organizativas e produtivas” (Bravo, 2014). Uma declaração
da Confederação Sindical de Comissões Obreras (CCOO), no
entanto, observou que a empresa detinha enormes lucros, de cerca
de 900 milhões de euros, e um faturamento de mais de 3 bilhões
(Europa Press, 2014).
As más práticas da empresa são tão globais quanto a sua
marca. Na Colômbia, desde 1990, 8 trabalhadores da Coca-
-Cola foram mortos por paramilitares e 65 receberam ameaças
de morte. O sindicato colombiano Sinaltrainal denunciou que,
por trás destas ações, se encontra a companhia. Em 2001, o Sinal-
trainal, através do Fundo dos Direitos de Trabalho Internacional
e do Sindicato dos Trabalhadores United Steel, conseguiu abrir
nos Estados Unidos um processo contra a empresa para estes
casos. Em 2003, o tribunal indeferiu o pedido alegando que os
assassinatos ocorreram fora dos Estados Unidos. A campanha de
Sinaltrainal, no entanto, já havia conseguido numerosos apoios
(Zacune, 2006).
A trilha de abusos da Coca-Cola é encontrada em pratica-
mente todos os cantos do mundo. No Paquistão, em 2001, vários
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onde ela está instalada; acaba com a água corrente para consu-
mo humano, higiene pessoal e agricultura, e para o sustento de
muitas famílias. Em Kerala, em 2004, a fábrica de Coca-Cola de
Plachimada foi forçada a fechar depois que o conselho negou a
renovação da licença, acusando a empresa de esgotar e poluir suas
águas. Meses antes, a Suprema Corte de Kerala sentenciou que
a extração massiva de água pela Coca-Cola era ilegal (Adhyayan
Vikas Kendra, 2003). Seu fechamento foi uma grande vitória
para a comunidade.
Casos semelhantes ocorreram em El Salvador e Chiapas, entre
outros. Em El Salvador, a instalação de fábricas de engarrafa-
mento de Coca-Cola esgotou os recursos hídricos, após décadas
de extração. Poluiu os aquíferos pela eliminação de água não
tratada, procedente de tais fábricas. A empresa sempre se recu-
sou a assumir o impacto de suas práticas. No México, a empresa
privatizou numerosos aquíferos, deixando as comunidades locais
sem acesso a eles, graças ao apoio incondicional do governo de
Vicente Fox (2000-2006), ex-presidente da Coca-Cola México
(Zacune, 2006).
A fórmula secreta
O impacto de sua fórmula secreta sobre a nossa saúde também
é amplamente documentado. Suas altas doses de açúcar não nos
beneficiam e nos tornam “viciados” em sua mistura. O asparta-
me – um adoçante não calórico, substituto do açúcar usado na
Coca-Cola Zero –, se consumido em doses elevadas pode causar
câncer, como assinala a jornalista Marie-Monique Robin, em seu
documentário “Nosso veneno diário”.
Em 2004, a Coca-Cola na Grã-Bretanha foi forçada a reco-
lher, após seu lançamento, a água engarrafada Dasani, depois que
foram descobertos níveis ilegais de bromuro, uma substância que
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De Panrico a “panpobre”
Até recentemente, os anúncios de Donuts nos diziam: “Co-
mece o dia com um sorriso”. No entanto, nas fábricas Panrico
já não se espalham sorrisos. De algum tempo para cá, a vida da
força de trabalho tornou-se uma roleta russa. Agora nas mãos
de uns, depois nas mãos de outros. A usura, que não conhece
limites, tem sido a sentença de morte da empresa, e o corte nos
direitos de seus trabalhadores, como nos repetem, é o “sacrifício
necessário”.
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A chave do sucesso
Qual é o segredo do sucesso? Embora Telepizza nos venda
que “o segredo está na massa”, e seu fundador Leopoldo Fernán-
dez Pujals se apresente como um homem que fez a si mesmo, na
verdade a chave para o triunfo reside no domínio completo da
cadeia (desde a produção até a entrega), nas precárias condições
de trabalho, na baixa qualidade de seus alimentos e em uma
publicidade agressiva de ofertas e promoções.
A corrida para ganhar dinheiro – e quanto mais, melhor –
levou a empresa a cortar cada vez mais direitos de seus trabalha-
dores. Se, em 1994, a sua equipe estava incluída no Convênio de
Hotelaria, a partir de 2017, e com o beneplácito dos sindicatos
majoritários, se criou um novo Convênio de Delivery (entrega), o
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O PODER DOS SUPER MERC A DOS
Operação Supermercado
Na Espanha, a abertura do primeiro supermercado foi realiza-
da em 1957 e teve lugar em Madrid. Tratava-se de um self-service
de natureza pública, promovido pelo regime de Franco no âmbito
do programa “Operação Supermercado”, que importou o modelo
de distribuição comercial dos Estados Unidos, sob a influência do
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A cadeia de exploração
Os supermercados impõem um modelo de agricultura e ali-
mentação no qual o campesinato não tem lugar. O seu objetivo é
controlar toda a cadeia alimentar, desde a fonte até a boca, reduzir
custos de produção e aumentar o preço final dos alimentos, para
obter o máximo benefício econômico (lucro). Ao agricultor é pago
o menor preço possível para a sua produção, condenando-o à mi-
séria e, muitas vezes, ao fechamento de seu sítio. Uma dinâmica
que permite à grande distribuição a sujeição do agricultor, e que
é extensível a outros fornecedores, numa cadeia de exploração
do maior ao menor.
Nos shoppings, segue-se a mesma política. O quadro de pessoal
está sujeito a uma estrita organização taylorista, caracterizada por
um ritmo de trabalho intenso, tarefas repetitivas e de rotina, e
com pouca autonomia de decisão. Uma situação que envolve o
aparecimento de esgotamento, estresse e enfermidades laborais
próprias da indústria, como dor crônica nas costas e dores cer-
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“Passando um pano”
Confrontada com os impactos negativos que lhe são atribuí-
dos, a grande distribuidora desenha uma estratégia de limpar sua
imagem com um revestimento verde e solidário. Desse modo, nos
últimos anos têm proliferado nas prateleiras de seus estabeleci-
mentos produtos ecológicos e de comércio justo. Uma estratégia
que tem atraído críticas do movimento por um consumo ecológico
e do comércio justo.
Na Espanha, cadeias como Carrefour, Alcampo e Eroski sãos
algumas das que mais esforço têm dedicado para adquirir uma
imagem “justa e responsável” a partir da comercialização de tais
artigos. No entanto, apesar da introdução de produtos rotulados
como “justos” e “verdes” em suas linhas, as práticas comerciais
destas cadeias não mudaram e deixam muito a desejar. O comér-
cio justo e ecológico é usado como um instrumento de limpeza
de imagem, atrás da qual se escondem graves impactos sobre o
meio ambiente, a comunidade, os direitos dos trabalhadores e o
comércio local (Vivas, 2007b).
A maioria das grandes redes de varejo tem as suas próprias
fundações, ou se integra a outras, com o objetivo de promover
uma imagem “socialmente responsável”. O grande gigante do
varejo, Wal-Mart, tem a Fundação Wal-Mart, que financia
principalmente atividades em âmbito local. Coincidentemente,
é nesse âmbito que sua imagem está se deteriorando, devido a
suas práticas antissindicais e desleais na fixação dos preços dos
produtos, que acabam matando o pequeno comércio e precari-
zando a mão de obra.
Na mesma linha, podemos citar o exemplo de outras grandes
cadeias como Carrefour (com a Fundação Solidariedade Carre-
four), Eroski (com a Fundação Eroski) e Alcampo – que não tem
uma fundação própria, mas faz parte da Fundação Empresa e
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leira, 20% de nós compramos antes a marca que está no nível dos
olhos do que qualquer outra, apenas por conveniência, mesmo
que as outras sejam mais baratas. Sem saber, somos cobaias em
um grande laboratório chamado “super”.
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quase tudo sobre nossas vidas privadas: quem somos, qual a nossa
idade, estado civil, preferências, hobbies. À margem do que diz a
ficha que preenchemos, as compras regulares que fazemos ficam
gravadas para sempre em nosso arquivo: se nós gostamos ou não
de chocolate, se preferimos carne ou peixe, qual café, que massas,
doces, bebidas, conservas, verduras que usamos. Eles sabem tudo.
As empresas armazenam esses dados e os utilizam através do
marketing para melhorar suas vendas. Assim, eles sabem quem
consome o quê e quando, podendo realizar perfis detalhados de
seus compradores. A partir desse momento, nos oferecem, através
de publicidade variada, tudo aquilo que “necessitamos” – e com-
pramos, encantados. Nossa vida privada nas mãos de empresas
torna-se uma nova fonte de negócios, sem que possamos nos dar
conta.
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“Modelo alemão”
Mercadona sempre se gabou de seus contratos estáveis, de
oferecer salários acima da média do setor e formação, além de
apostar na conciliação entre trabalho e vida familiar. O próprio
The Wall Street Journal elogiou o “modelo alemão” da empresa,
considerando-o a chave para o seu sucesso: condições de traba-
lho flexíveis e salários vinculados à produtividade (Ball e Brat,
2012) – o que não parece o mais adequado a conciliar a vida
pessoal com o trabalho, nem o melhor para um salário estável.
Na verdade, o mesmo Juan Roig, como presidente do Instituto
da Empresa Familiar, que reúne centenas de empresas líderes em
seu setor, tem repetidamente exigido a “necessária” flexibilidade
do mercado de trabalho, a redução do custo de demissão, a ele-
vação da idade de aposentadoria para 67 anos, a transferência de
feriados de terça a sexta para a segunda-feira para evitar “pontes”,
e a desvinculação do aumento salarial ao aumento do IPC (Índice
de Preços ao Consumidor) (Lafont, 2006). Tudo, claro, pensando
nos trabalhadores...
As denúncias feitas contra Mercadona por abusos laborais são
muitas e vêm de longe. As demissões improcedentes, a política
antissindical, a extrema pressão sobre a força de trabalho, as
dificuldades para conceder a aposentadoria, o assédio aos traba-
lhadores (Llopis, 2014). Em 2006, começou um longo conflito no
Centro Logístico de Sant Sadurní d’Anoia – encarregado do abas-
tecimento dos supermercados da Catalunha, Aragão e Castelló.
Vários vendedores começaram um processo de auto-organização
contra os abusos da empresa, com o apoio do sindicato CNT. A
resposta de Mercadona foi rápida: três funcionários para a rua! Isso
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Adeus, quitandas!
O desaparecimento do pequeno comércio local é outro dos
“danos colaterais” da proliferação de supermercados, a despeito
de Mercadona dizer que várias lojas se desenvolvem no entorno
de seus estabelecimentos. No entanto, eu diria que se instalam
“apesar” da empresa. E não se trata de qualquer tipo de loja, mas
quitandas que se aproveitam do insípido e embalado produto que
Mercadona vende para oferecer uma alternativa fresca aos clientes
da cadeia. O próprio Juan Roig deixou isso claro ao afirmar que
em torno de cada Mercadona “não há supermercados, mas há
oito quitandas”. E acrescentou: “Sem ir a Harvard, mas a ‘Har-
vacete’, os vendedores de frutas e verduras são mais espertos do
que nós” (Zafra, 2013a). Qual é a sua meta agora? Eliminar lojas
de conveniência e quitandas nas proximidades de Mercadona.
A empresa lançou, no final de 2013, uma nova estratégia para
vender diretamente produtos frescos.
Agricultores, pecuaristas e fornecedores tampouco estão satis-
feitos com Mercadona. Sindicatos agrários como o Coordinadora
de Organizaciones de Agricultores y Ganaderos [Coordenação
das Organizações de Agricultores e Pecuaristas] (Coag) (2009)
denunciaram várias vezes como o processo de concentração dos
supermercados só favorece o enriquecimento deles mesmos, à
custa da redução da renda dos agricultores. Em junho de 2013,
camponeses das Canárias, concentrados no portão de um Merca-
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Alimentos “viajantes”
De onde vêm os alimentos até a rede Mercadona? Um
relatório de Amigos de la Tierra afirma que, se os alimentos
que compramos tivessem um velocímetro, a média antes de
alcançar nosso prato seria de 5 mil quilômetros (Gonzalez,
2012). Mercadona, a maior cadeia de supermercados, não é
uma exceção a isso. A Coag denunciou, em março de 2009, o
contrato entre Mercadona e a empresa portuguesa Sovena, cujo
principal acionista é um dos genros de Juan Roig, para plantar
oliveiras e produzir azeite em Portugal e no Norte do Magrebe,
deslocalizando a produção.
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SIM, E X ISTEM A LTER NATI VA S!
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você não pode pagá-la, em vez de lhes dar para comer, jogam no
lixo. Da mesma forma, os cereais não são produzidos apenas para
alimentar as pessoas, mas também para alimentar carros (como
os biocombustíveis) e animais – cuja criação exige muito mais
energia e recursos naturais do que se gastaria, com tais cereais,
para alimentar pessoas diretamente. Produz-se comida, mas uma
grande quantidade dela não acaba em nosso estômago. O sistema
de produção, distribuição e consumo de alimentos é projetado
para dar dinheiro às empresas do agronegócio, que monopolizam,
do início ao fim, a cadeia alimentar. Eis, aqui, a causa da fome.
Portanto, por que alguns ainda insistem que temos de produ-
zir mais? Por que nos dizem que precisamos de uma agricultura
industrial, intensiva e geneticamente modificada que nos permita
alimentar toda a população?
Querem nos fazer crer que as próprias causas da fome serão
a solução. Mas isso é falso. Mais agricultura industrial, mais
agricultura transgênica, como já foi demonstrado, significa mais
fome. Há muita coisa em jogo quando falamos de alimentos. As
grandes empresas do setor sabem disso muito bem. Daí vem o
discurso hegemônico dominante nos dizer que elas têm a solução
para a fome no mundo, quando na verdade são elas que, com
suas políticas, a causam.
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Produtos de época
Estamos acostumados a comprar, se quisermos, tangerinas,
uvas, morangos, melão etc., durante todo o ano. Já não sabemos
se os tomates ou as laranjas são cultivos da época ou não. Desa-
prendemos os ritmos de produção da terra, e nos distanciamos do
trabalho no campo. Comprar produtos que não são da temporada
faz com que acabemos pagando mais pelo que comemos, obtendo
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Eficiência e preço
“A agricultura ecológica é pouco eficiente e cara”, dizem seus
detratores. Aqueles que fazem essa afirmação se esquecem de que
é precisamente o atual modelo de agricultura industrial que des-
perdiça anualmente um terço dos alimentos que são produzidos
para consumo humano – à escala mundial, cerca de um bilhão e
300 milhões de toneladas de comida, segundo os dados da FAO
(2012b). Trata-se de uma agricultura de “usar e jogar fora”. Em
consequência, o que é aqui o ineficiente? Para além dessas cifras,
é óbvio que o atual modelo de agricultura industrial, intensiva e
transgênica não satisfaz às necessidades alimentares das pessoas.
A fome, num mundo onde se produz mais comida do que nunca,
é o melhor exemplo.
Por sua parte, a agricultura ecológica e de proximidade tem
demonstrado que garante melhor a segurança alimentar do que
a agricultura industrial. E permite uma maior produção de co-
mida, especialmente nos ambientes desfavoráveis, nas palavras
de Olivier de Schutter (2010), apoiando-se em seu relatório “A
agroecologia e o direito à alimentação”. A partir dos dados ex-
postos neste trabalho, a reconversão de terras em países do Sul
ao cultivo ecológico aumentou sua produtividade em até 79%, e,
particularmente na África, a reconversão permitiu um aumento
de 116% nas colheitas. Os números falam por si só.
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O QUE ENTENDEMOS POR
COMÉRCIO JUSTO?
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Do local e do global
A maior parte das organizações que podemos demarcar no
polo “tradicional e dominante” tem uma visão unidirecional
do comércio justo Sul-Norte. Trabalhar a favor da justiça nas
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Aprendizagens mútuas
A partir do que já assinalamos, podemos concluir que só um
discurso e uma prática de comércio justo que rompam com as
injustas políticas agrárias e comerciais, tanto no Norte quanto
no Sul, nos permitirão avançar em direção a um modelo social
e ecológico mais justo.
A soberania alimentar propõe um paradigma global al-
ternativo ao atual sistema agroalimentar, desde a produção,
passando pela distribuição, até o consumo: ao mesmo tempo
que o comércio justo incide em uma parte – a comercialização
e distribuição –, tem-se em conta, desde a perspectiva “global
e alternativa”, o conjunto da cadeia. É aqui onde a soberania
alimentar e o comércio justo se encontram. E a primeira dá uma
perspectiva ao segundo.
Um comércio justo é impossível fora do marco político da
soberania alimentar. Se os camponeses não têm acesso aos bens
naturais (água, terra, sementes); se os consumidores não podem
decidir, por exemplo, sobre o consumo de alimentos livres de
transgênicos; se os países não são soberanos para estabelecer suas
políticas agrícolas e alimentares; não pode existir um comércio
justo, porque as transações comerciais seguirão em mãos de em-
presas transnacionais, apoiadas por elites políticas, que buscam
fazer negócio com a agricultura e com a alimentação.
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Algumas considerações
Para dar respostas às perguntas formuladas, gostaria de fazer
três considerações.
Em primeiro lugar: comércio justo não significa somente ven-
der. O comércio justo tem por objetivo mudar as regras injustas
do comércio internacional, e submeter o comércio às necessidades
dos povos. Vender não deveria ser um fim em si mesmo, mas
um meio para sensibilizar as pessoas sobre esses temas e apoiar
solidariamente os produtores do Sul. Vender através dos grandes
centros comerciais nunca nos permitirá modificar tais regras
injustas do comércio, já que estes são os primeiros interessados
em manter um modelo comercial injusto, que lhes rende lucros
e importantes benefícios econômicos.
Em segundo lugar: o comércio justo não é uma lista de cri-
térios, nem uma mera transferência monetária Norte-Sul. Não
podemos limitá-lo a uma série de normas, aplicadas unicamente
à produção na origem. Trata-se de algo muito mais complexo
do que um produto elaborado com base em princípios de justiça
social e ambiental. O comércio justo é um processo que vai desde
o produtor até o consumidor, e do qual participam muitos outros
atores. Não podemos submeter o produtor no Sul ao cumprimento
de uma série de requisitos na produção (pagamento de um salário
digno, organização democrática, políticas de gênero, respeito ao
meio ambiente) e não aplicar ao resto da cadeia estes mesmos
critérios. Se impuséssemos os princípios do comércio justo aos
supermercados que vendem alimentos com a etiqueta de “justo”,
nenhum deles os cumpriria. Dessa forma, temos que transcender
o olhar assistencial sobre os produtores no Sul e avançar a uma
prática de solidariedade internacionalista.
Em terceiro lugar: o comércio justo não é apenas Norte-Sul.
A justiça nas práticas comerciais não deve se limitar ao comércio
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Justificar o injustificável
O comércio justo é utilizado pelas grandes superfícies como
um instrumento de marketing empresarial e limpeza de imagem.
Vendendo uma ínfima parte de seus produtos de comércio justo,
pretendem justificar uma prática comercial totalmente injustifi-
cável: precarização da mão de obra, submissão do pequeno agri-
cultor, exploração do meio ambiente, promoção de um modelo de
consumo insustentável, competição desleal com o comércio local.
Frente à pergunta “existem supermercados bons e maus?” é
importante destacar que o modelo de produção e comercialização
de todos eles parte de uma lógica de mercado, que antepõe a ma-
ximização de seus benefícios econômicos, ao respeito aos direitos
sociais e ambientais. Em consequência, a lógica de funcionamento
de todos eles é a mesma, ainda que existam alguns que tenham
uma estratégia melhor de limpar sua imagem que outros.
Diante desse cenário, temos que advogar por um comércio
justo que rechace ser um instrumento de “maquiagem” a serviço
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Somar-se ao cortejo
Tesco, o maior supermercado da Grã-Bretanha, tampouco
deixou escapar a oportunidade de aderir ao cortejo. Não é em vão
que a Grã-Bretanha, juntamente com a Suíça, é um dos merca-
dos mais importantes de produtos de comércio justo na Europa.
Tesco afirma contar com “a maior oferta de produtos de comércio
justo”, desde frutas, bolachas, musli, chá, aperitivos, sucos etc.,
chegando a totalizar mais de 90 produtos, alguns dos quais com
marca própria. Uma cifra irrisória – 0,2% do total da oferta – se
comparada com os mais de 40 mil produtos que a companhia
comercializa (Amigos de la Tierra, 2005b).
Na gama de comércio justo da Tesco, as rosas vermelhas
constituem um dos produtos carro-chefe. A companhia fez um
lançamento publicitário sem precedentes, afirmando que se trata-
va das primeiras flores de comércio justo comercializadas na Grã-
-Bretanha, e que garantiam “um melhor intercâmbio econômico
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Limpando a imagem
Na Espanha, várias cadeias de supermercados vendem alimen-
tos etiquetados como justos. Deve-se ter em conta que a comer-
cialização destes produtos não tem parado de crescer há vários
anos. Se, em 2000, suas vendas chegavam apenas aos 7 milhões de
euros, em 2012, somaram mais de 28 milhões, multiplicando-se
por quatro, e com um crescimento interanual de 11,4% (Donaire,
2013). Carrefour, Alcampo e Eroski são algumas das que mais
propagandeiam estes alimentos.
O comércio justo passou a fazer parte da estratégia de Respon-
sabilidade Social Corporativa (RSC) da indústria agroalimentar
e da grande distribuição. As transnacionais buscam associar sua
marca a conceitos como ecologia, solidariedade, justiça – com
o objetivo de adotar uma imagem responsável e comprometida,
que lhes permita aumentar os lucros de seus negócios. O relatório
“O Comércio Justo e a Grande Distribuição na Catalunha” não
poderia deixar isso mais claro:
O componente social é um atributo importante para a marca, e aporta
valor e prestígio às entidades que são mais sensíveis. Incorporar produ-
tos de comércio justo e solidário aos catálogos das grandes cadeias de
distribuição mostra essa sensibilidade e atitude de cumplicidade (...). É
nesses detalhes que a empresa incrementa um valor intangível, até o do-
bro do valor de mercado, e contábil (Grup de Recerca em Comunicació
Empresarial, Institucional i Societat, 2006).
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PA SSA R À AÇ ÃO
Consumidores e camponeses
Na Espanha, encontramos duas grandes tipologias de grupos
e cooperativas de consumo agroecológico. Aqueles que integram
consumidores e camponeses, e outros que estão formados apenas
por consumidores. No primeiro grupo, destacaria a experiência
da cooperativa de produção e consumo Bajo el Asfalto está la
Huerta! (BAH!), em Madri e arredores, que se inspirou em mo-
delos europeus de longa data, como nas Associações pela Ma-
nutenção da Agricultura Camponesa (Amap) francesas (López
García, 2007), ou nas associações históricas andaluzes, como La
Ortiga de Sevilla, La Breva de Málaga, El Encinar de Granada.
Todas elas buscam integrar, num mesmo marco, produtores e
consumidores, conseguindo um compromisso estável, em que os
consumidores garantem de maneira antecipada a compra total da
produção dos agricultores, solidarizando-se com eles tanto nos
benefícios quanto nas perdas. Em determinados projetos, seus
membros, inclusive, trabalham em um sítio alguns dias do ano,
apoiando o trabalhador rural.
No segundo grupo, encontramos a maioria das experiências
catalãs e outras cooperativas de referência, como Landare, em
Pamplona, Bio Alai, em Vitoria, La Llavoreta, em Valência, ou
Arbore, em Vigo, entre outras. Nestas, a relação consumidor/
camponês é mais flexível, baseada na confiança e no conheci-
mento mútuo (com visitas periódicas aos sítios), mas cada um
se encontra em marcos separados. Alguns grupos e cooperativas
mantêm uma relação mais estreita com os camponeses com os
quais trabalham, outros, menos.
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Do anedótico ao significativo
Os primeiros grupos no Estado espanhol surgiram no final
dos anos 1980 e princípios dos 1990. Na Andaluzia, na origem
da constituição do Instituto de Sociologia e Estudos Camponeses
(Ised) na Universidade de Córdoba, se introduziram os princípios
da agroecologia, dando lugar a experiências como a cooperativa
Almocafre, em Córdoba (1994). Outras iniciativas andaluzes
foram: La Ortiga, em Sevilla (1993), El Encinar, em Granada
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Limites e oportunidades
A multiplicação de grupos e cooperativas de consumo agroe-
cológico apresenta uma série de oportunidades, mas o desenvol-
vimento levado a cabo neste momento também põe em relevo
uma série de limites.
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Coordenação
Outro elemento a se ter em conta, ao analisar o crescimento
dessas experiências, é a capacidade de articulação entre elas. Nos
territórios com um maior número de grupos de consumo, se têm
consolidado coordenadorias e federações que cumprem este papel,
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Mil e um modelos
Existem diferentes tipos de hortas urbanas. Desde os espaços
que uma instituição, pública ou privada, cede ou aluga à vizi-
nhança, passando por mansões abandonadas (e ocupadas para
lhes dar uma função social), até hortas nas escolas, ou experiên-
cias individuais, como as hortas em casa ou na varanda. Todas
têm em comum a vontade de se reapropriar do que comemos, de
trabalhar a terra, do contato com a natureza.
Frente à irracionalidade de um sistema agrícola e alimentar que
abandona o saber camponês, que acaba com a diversidade alimentar,
que nos oferece produtos quilométricos vindos do outro lado do
mundo – quando estes também podem ser cultivados aqui – as hor-
tas urbanas demonstram que há alternativas. Ensinam-nos de onde
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