O Leite em Minas Gerais
O Leite em Minas Gerais
O Leite em Minas Gerais
Belo Horizonte
2010
SXC / RF
4 De mãos dadas
2 Evolução do mercado
O comércio de leite nas grandes cidades 60
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Projetos Educampo e Balde Cheio 156
1 A expansão
do gado leiteiro
3
12 Por todo
o território 1
De olhos no passado, é impossível imaginar
que a cadeia produtiva do leite seria um
dia, como é hoje, uma das maiores em
faturamento e geração de emprego e
renda no Brasil. É a única que cria emprego
no interior do país de maneira contínua,
porque envolve atividades intensivas em
mão de obra e está espalhada pelos 5.560 2
municípios brasileiros. É curioso lembrar
que a pecuária de leite não teve incentivos
estatais para se desenvolver no país
durante o período pré-colonial e colonial,
embora aqui estivesse praticamente desde
o início da presença europeia.
O to que feminino
Afonso de Souza. Ele desembarcou em São Vicente (considerada a
mas teve que voltar a Portugal em 1534, cerca de dois anos depois de
1545, quando essa ordem foi revogada por Ana Pimentel, os moradores de
São Vicente puderam aventurar-se “dez a doze léguas pelo sertão e terra
para o amplo sertão e, com o tempo, desceu até Minas Gerais, onde se multiplicou pelo Vale do São
19
Francisco e se espalhou pelo Norte e Oeste do estado, pelo Triângulo, chegando a Goiás. Historiadores
concordam em que a ocupação do interior do Brasil foi sustentada pela pecuária, sendo o boi usado
Outra via de entrada do gado em Minas Gerais foi São Paulo, que recebia a manada
trazida por boiadeiros do Rio Grande do Sul. Esta era revendida para fazendeiros do Sul
do estado e também servia de alimento para a população das regiões ricas em ouro.
Estima-se que em 1770 o Brasil tinha dois milhões de habitantes, enquanto só nos pampas
gaúchos cerca de um milhão de bovinos viviam soltos, à disposição de quem os laçasse.
De outras terras
O gado chegou a Minas Gerais também trazido do Rio de Janeiro, espalhando-se pela
Serra da Mantiqueira, pela região de Barbacena e por toda a Zona da Mata. Foi por
4
essa via que se introduziu no estado o gado Holandês, o pardo-Suíço e o gado Mestiço
proveniente do cruzamento dessas raças com o gado comum.
Centro-Oeste do estado.
Continua na página 30
1. Reprodução de cartas escritas por Dona Joaquina
de Pompéu/Sara Torres
2. Curral Del Rey, hoje Belo Horizonte, era rota de
tropeiros que levavam gado para outras regiões do
estado. Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
1 a expansão do gado leiteiro
A importância do leite para o homem é
reconhecida desde a idade da pedra, tanto que
fazia parte de ritos da fecundidade, da literatura
clássica e das antigas lendas, como a de Rômulo
27
e Remo, fundadores de Roma. Eles teriam ficado
órfãos muito cedo e, abandonados à própria sorte,
sobreviveram porque uma loba os alimentou.
O queijo e a manteiga eram produzidos principalmente em Minas Gerais, em
Cá entre nós
pequenos cômodos nas fazendas, às vezes na própria residência da família. Não
havia máquinas apropriadas ou atenção à higiene, mesmo quando a produção era
destinada ao consumo doméstico. Em geral, a fabricação era dirigida pela mulher
É referência também o texto bíblico sobre a saga do fazendeiro.
dos judeus que fugiram da escravidão no Egito
e se dirigiram a Canaã, a terra em que manam O autor de Viagens ao Interior do Brasil, John Mawe, um britânico
leite e mel. Três séculos antes de Cristo, o grego que esteve no país durante dois anos, a partir de 1809, escreveu
Hipócrates, “Pai da Medicina”, escreveu que sobre o assunto. Na região de Juiz de Fora, ele chegou à Fazenda
leite é alimento muito próximo da perfeição e do Capitão Rodrigo de Lima e se espantou ao visitar a “fábrica de
preventivo de várias doenças. queijo”. Em vez de um compartimento apropriado à fabricação
do produto, encontrou um quarto sujo, de cheiro insuportável. E
Desde a antiguidade, o leite está presente no ouviu, como explicação, que não era época de fabricação de queijo,
preparo de refeições. No Egito dos faraós, queijo pois as vacas só produziam leite na estação das águas. Pela mesma
e leite compunham os tesouros guardados nas razão, ninguém tinha se preocupado em lavar os utensílios, desde
pirâmides para que os mandatários falecidos a última vez em que haviam sido usados.
pudessem ter uma viagem bem alimentados ao
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prejudicada pelo clima quente e pelo preço elevado do sal.
no século XIX, na terra do “pai da aviação”, a indústria de laticínios era mais do Em 1888, antes mesmo de Palmyra ser reconhecida como município,
que uma promessa. Era uma realidade econômica que transformou o pequeno foi instalada ali a primeira fábrica de laticínios da América do Sul. O
proprietário era o médico Carlos Pereira de Sá Fortes, neto de Carlos Sá
município no maior polo brasileiro de produtos lácteos.
Fortes, primeiro importador de gado Holandês na região. Nascido em
Barbacena em 1850, seu sonho era produzir queijos com a mesma qualidade
dos europeus. Para isso, foi à Europa visitar laticínios e comprou na Holanda
o maquinário da Companhia de Laticínios da Mantiqueira, erguida às
margens do Rio Pinho.
De funcionário
A família Sá Fortes fez história em Palmyra e deixou registros interessantes, além do
a patrão
envolvimento com a produção de leite e derivados. Um deles é sobre a amizade entre o
Outro amigo de Santos Dumont também foi
coronel José Jorge Sá Fortes, também grande fazendeiro, e o inventor do avião. Santos Dumont importante personagem da história da então cidade
(1873/1936) nasceu na Fazenda Cabangu, localizada a 16 quilômetros da então vila de João pólo de laticínios. O holandês João Kingma era gerente
Gomes. Seu pai, o engenheiro Henrique Dumont, se instalou na propriedade em 1870, pois era do laticínio do também holandês Alberto Boeke,
quando constatou que fabricar coalho seria uma
o construtor responsável pelo ramal da Estrada de Ferro Dom Pedro II que passaria pela região.
grande oportunidade de negócio.
em 1920 por Pedro José Ribeiro, produtora dos queijos das marcas Palmyra
35
o equipamento comprado na Europa pelo médico
e Chantecler. Em 1935, a empresa muda de nome, com a entrada de outro
Hermenegildo Vilaça, que estava instalando um
laticínio em Juiz de Fora, na longínqua Minas Gerais. 1 sócio, Galileu Fonseca.
Ele enviou carta a Vilaça pedindo o emprego e, só
depois de aceito, informou aos pais que ia viajar
O coalho nacional
A Ribeiro Fonseca chegou a empregar mais de 500 pessoas em 60
laticínios espalhados pela região. Em 1960, morreu Albert Boeke,
e, cinco anos depois, o laticínio fundado por ele foi comprado pela
Ribeiro Fonseca. Esta, por sua vez, foi adquirida, em 1975, pelo paulista
Jorge Chammas Neto, dono do grupo Moinho São Jorge, do qual fazia
parte a Leite União. Em 1996, a Ribeiro Fonseca foi fechada.
37
tão hostis, o mesmo não se pode dizer de seu
desenvolvimento culinário. Nesse verdadeiro
laboratório experimental em que se transformou
nossa culinária, o leite — é verdade, sempre como Continuação da página 35
um subproduto — mesclou-se com todos os demais
ingredientes locais ou estrangeiros. Sua culinária
Do café ao leite
floresceu e rendeu inúmeros pratos inesquecíveis.
Com o milho, deu origem a angus, broas e bolos de
fubá, a canjicas, a inúmeras receitas de milho verde
ou de seu derivado, a farinha de milho. Também se
transformou em queijo, outra forma de busca de
permanência, e com ele foram feitos pães de queijo,
pudins, bons-bocados, queijadinhas, além, é claro,
do célebre requeijão. Com o açúcar colonial, às A pecuária do Sul de Minas Gerais se beneficiou do crescimento do mercado
consumidor de leite na capital paulista, para onde o produto era transportado
a partir da década de 1880, por vagões de carga, em latões de 50 litros. Quando
Uma verdadeira especiaria o Vale do Paraíba se viu castigado pela decadência da cafeicultura, no começo
do século XX, e seus fazendeiros começaram a substituir os cafezais por
pastagens de capim-gordura ou a vender terras, os do Sul do estado souberam
aproveitar a oportunidade.
vezes na forma de rapadura, outras de melado,
o leite transmutou-se em bebidas, balas, doce de
leite e roscas doces. Em conjunto com a mandioca,
resultou talvez nos pratos mais originais do período
Foi na culinária que colonial. Começando pela própria farinha, que se
presta para bolos e doces; o polvilho, ótimo para Eles compraram terras baratas pertencentes a fazendas de café em decadência,
o leite encontrou
biscoitos; a tapioca e o carimã, para doces diversos
seu espaço como e mingaus. A mandioca rende tantos produtos e passando a produzir leite mais perto da cidade de São Paulo, beneficiando-se também da
alimento do brasileiro. combina tão bem com o leite que é um capítulo
Na descrição de especial na culinária brasileira, única e deliciosa. boa infraestrutura de transporte existente no Vale do Paraíba. Esses mineiros ajudaram
Com os ovos, surgem as ambrosias, as babas de
Maria Luiza de Brito
moça, inúmeros cremes de ovos e pudins. Já com a construir ali, nos primeiros anos do século XX, a principal bacia leiteira paulista — um
Ctenas e André o coco e seu subproduto, o leite de coco, o leite
Constantim Ctenas, participa de alguns de seus pontos altos da culinária movimento que se repetiria mais tarde no Paraná e em Goiás, entre outras regiões.
essa característica se brasileira. Cuscuzes, manjares e docinhos de coco,
sempre com leite, continuam surpreendendo
evidencia: paladares desavisados. Com a europeia farinha de
trigo, o leite surpreende menos, porém, modificado
por mãos negras e influências indígenas, rende
ótimos pães, bolos e doces. E, por último, o arroz
nos brinda com ótimos arrozes-doces, bolos, mães-
bentas e alguns pratos salgados...” Continua na página 40
Maior produtor de leite do país Na década de 1980, a fazenda fez opção pelo gado Holandês
preto e branco, importando 300 novilhas dos Estados Unidos
e trocando o pasto pelo confinamento free-stall (baia livre),
inventado na Califórnia, e o leite B pelo tipo A, comercializado
A ligação de produtores de leite do Sul de
com a marca Fazenda Bela Vista. A sala de ordenha, construída
Minas Gerais com São Paulo, o principal em aço inoxidável, tem capacidade para 500 animais por hora.
mercado consumidor do país, continua A ordenha é toda mecanizada, sem qualquer contato manual,
até hoje. Um exemplo é Orostrato Olavo bem como todo o resto da linha de produção, até o envasamento
Barbosa, de Guaxupé, que instalou feito na própria fazenda, que também fabrica as embalagens.
na cidade vizinha de Tapiratiba, em
território paulista, a sede da Fazenda São O rebanho é formado por 6.000 animais. A São José produz ração e tem
José, maior produtora de leite do Brasil. laboratório próprio. Foi pioneira no país em contagem de células somáticas
do leite. Em 1990, montou um laboratório de transferência de embriões,
o que possibilita a reposição de animais e o aprimoramento genético do
rebanho. Ate 2005, eram realizadas cerca de 3.600 transferências de
embriões. Atualmente, a fazenda importa embriões dos Estados Unidos
e realiza um programa de fertilização in vitro, no qual os embriões são
transferidos para receptoras meio-sangue Simental/Nelore, multiplicando
assim os melhores animais e fazendo o aprimoramento genético.
2 3 4
43
Belo Horizonte mostrou que 94% do rebanho era constituído por gado azebuado ou
A primeira rodovia
por gado mestiço, com predominância de raças especializadas na produção de leite.
Personagem da história das estradas de ferro no Brasil, Dom Pedro II também foi quem Os números ao
inaugurou a primeira rodovia macadamizada do país, em junho de 1861. O imperador
percorreu toda a estrada de 144 quilômetros, entre Petrópolis e Juiz de Fora, viajando em longo de décadas
diligência puxada a cavalo.
Os imigrantes e suas famílias foram morar na Colônia Dom Pedro II, nos
3
arredores de Santo Antônio do Paraibuna, atual Juiz de Fora. Desde 1840, Apesar dos problemas provocados pela política governamental
o governo brasileiro incentivava a imigração, prometendo terras para para o abastecimento das grandes cidades, como veremos
europeus empobrecidos pelas guerras napoleônicas. mais adiante, a produção de leite brasileira cresceu 43%
na década de 1960, chegando a 4,8 bilhões de litros anuais,
enquanto a de Minas Gerais aumentava 157%, atingindo 2,4
E assim, com o tempo, as rodovias tomaram o lugar dos trens no transporte de leite. O bilhões, de acordo com pesquisas do IBGE. Não obstante esse
uso de caminhões-tanque começou provavelmente em 1955, quando a Cooperativa de incremento acima da média nacional, a participação mineira
Laticínios de São José dos Campos instalou, sobre um chassi Mercedes-Benz adaptado, nessa década recuou de quase 35% para 33,2% devido à entrada
um tanque de aço inox revestido com chapas de ferro, mas sem isolamento térmico, mais forte de outras regiões na atividade.
com capacidade para 17.500 litros. A ideia foi aperfeiçoada por algumas indústrias
produtoras de semirreboque, que substituíram a cortiça usada para o isolamento com
lã de vidro por placas de isopor e, finalmente, por poliuretano.
46
O aproveitamento do cerrado se deu muito em
função de políticas implantadas por Paulinelli, que
ocupou o cargo de ministro no período de 1974/1979.
Ele foi homenageado, em 2006, com o The World
Food Prize (Prêmio Mundial de Alimentação), por sua
contribuição ao aproveitamento das extensas áreas
Na década de 1970, técnicas para aproveitamento do cerrado chegaram ao do cerrado brasileiro. São 297 milhões de hectares,
o segundo maior bioma nacional, que, até a década
conhecimento dos fazendeiros, iniciando-se nova migração da produção de
de 1970, era improdutivo ou servia apenas para a
leite e a ocupação da região. criação extensiva de gado, cultivo de arroz, extração
de madeira e produção de carvão vegetal.
O cerrado como alternativa Tendo iniciado o trabalho em 1971, como secretário da Agricultura de Minas Gerais, Paulinelli foi
bem além quando no governo federal. Criou políticas para o setor, instituições e infraestrutura
para estimular o desenvolvimento. Concentrou recursos consideráveis nos projetos e atraiu
financiamentos privados, nacionais e estrangeiros para as regiões de cerrado. Promoveu, por
Quando o então secretário da Agricultura de Minas Gerais no governo Rondon Pacheco, Alysson exemplo, a instalação do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC) da Embrapa,
Paulinelli, promoveu a desapropriação de 60 mil hectares de áreas de cerrado na região de São responsável pelo amadurecimento e avanço de tecnologias para utilização da área. O cerrado se
Gotardo, no Alto Paranaíba, o proprietário, Antônio Luciano Pereira Filho, mantinha no local transformou nas décadas seguintes, ganhando em aproveitamento e diversidade de produção.
apenas gado de corte, empregando seis pessoas para seu trato. Paulinelli implantou ali o Padap —
Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba, que garante hoje milhares de empregos.
Segundo dados da Embrapa, 42% do rebanho brasileiro estão no cerrado, que é responsável por
Segundo Martins, não é possível falar em tecnologia no cerrado sem citar 55% da produção de carne. Em Minas Gerais, um estudo da Faemg e do Sebrae, publicado em 2006,
Paulinelli. Foi na sua época como ministro da Agricultura que a Embrapa revelou que já em 2005 as regiões de cerrado no Alto Paranaíba e Triângulo lideravam a produção
(Empresa Brasleira de Pesquisa Agropecuária) e a Epamig (Empresa de Pesquisa mineira de leite, com 24,7%, enquanto a Zona da Mata, que no passado ocupara a primeira posição,
Agropecuária de Minas Gerais) se desenvolveram e deram ao cerrado as caíra para apenas 9,9%. Entre as 12 mesorregiões que compõem o estado, a que abrange o Triângulo
vantagens de hoje. e o Alto Paranaíba mantinha, em 2007, a maior produção de leite, com cerca de 1,8 bilhão de litros.
A segunda, Sul e Sudoeste, produziu 1,3 bilhão no mesmo ano, ficando a Zona da Mata em terceiro
lugar, com 762 milhões. No período de 1998 a 2008, as mesorregiões que mais cresceram em
volume de leite foram duas outras de cerrado, o Noroeste e o Norte de Minas.
49
milho e aveia para alimentação do rebanho.
Sonho realizado
A propriedade começou a ser formada
em 1994, depois que o empresário Flavio
Guarani resolveu produzir leite em
escala comercial. Filho único de Antônio
Luiz Noronha Guarany — que foi sócio-
proprietário do Banco Mercantil do Brasil
e da Remil (Refrigerantes Minas Gerais),
engarrafadora da Coca-Cola em Belo O confinamento dos animais é do tipo free-stall (baia livre). O
Horizonte —, Flavio começou a trabalhar setor de produção de leite conta com quatro galpões para 3.800
muito cedo nas empresas do pai, mas vacas e mais três para 40 a 50 animais em cada. Todas as camas
sempre se interessou pela atividade rural. são repostas a cada quatro dias com areia nova. A taxa de ocupação
é de 80% a 90%. Para resfriar o ambiente nessa região quente do
cerrado mineiro, o sistema de aspersão fica ligado por um minuto
e desligado por cinco minutos, de maneira rotativa. É acionado
Quando resolveu trocar o lazer rural pela produção de leite em escala comercial,
sempre que a temperatura ambiente fica acima de 19ºC, o que
encontrou em Inhaúma a fazenda dos sonhos de Dona Huguette, sua mulher e
assegura conforto para as vacas Holandesas. O leite é pesado
sócia, outra apaixonada pela vida no campo. A fazenda foi adquirida pela holding
individualmente em todas as três ordenhas diárias, de 220 vacas por
da família, a True Type, nome que designa, em inglês, um animal perfeito. Antes
hora. A média de produção diária por animal é de cerca de 28 litros.
dos investimentos na área, foi encomendado a especialistas o projeto detalhado da
futura fazenda leiteira, que tem como meta produzir 80 mil litros por dia. Para isso,
Huguette e Flávio apostaram no aperfeiçoamento genético do rebanho. Na propriedade, são adotadas práticas de preservação ambiental,
que garantem a qualidade da água das nascentes. Não é permitido o
Com o projeto pronto, iniciou-se experiência pioneira no Brasil de se montar despejo de qualquer tipo de dejeto nos mananciais da fazenda, que
toda uma infraestrutura antes de trazer o primeiro animal para a fazenda. Foram também emprega as mais avançadas técnicas de plantio direto para
cinco anos de trabalho, desde a preparação da terra para plantio até a construção conservar o solo e garantir a agricultura sustentável.
de galpões, plataformas de ordenha e dois tanques de resfriamento de leite com
capacidade para 20 mil litros cada, entre outras benfeitorias.
O IBGE, na Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) de 2008, calculou a produção nacional em 27,5
bilhões de litros de leite, apontando um aumento de 5,5% em relação ao ano anterior, sendo que, de
Apesar da produtividade ainda baixa e da qualidade deficiente, o
51
1996 a 2006, se apurou um aumento de 19,5%.
aumento do rebanho possibilitou que o país se posicionasse entre
os grandes produtores mundiais de leite no final do século XX. A
partir de 1970, em apenas 14 anos, a área de pastagens do Brasil
Avanço nacional
aumentou de 147 milhões de hectares para 179 milhões.
(Pronaf) representam 64,4% dos Esses números demonstram que existe amplo espaço de atuação para
estabelecimentos rurais e geram 47,1% do programas de capacitação de produtores e de gestão das propriedades, como
os desenvolvidos no estado pelo Sebrae-MG e pela Faemg — Educampo e
valor do leite produzido no país, contra
Balde Cheio, respectivamente. Para o engenheiro agrônomo Roberto Simões,
52,5% dos que não pertencem ao programa presidente da Faemg (2006/2011) e do Sebrae-MG (2007/2010), os programas
e que somam 1,6 milhão de produtores. das entidades são importantíssimos, mas o país precisa também de uma
profunda mudança de mentalidade em relação aos produtores rurais,
sobretudo em relação aos médios, que não contam hoje com assistência
Tamanho é documento
técnica do governo nem com financiamentos específicos.
Está no sangue gado fica no pasto. O sistema utilizado por Gontijo não é o free-
stall: “É um sistema em que faço pistas de tráfego. O animal tem
uma área para andar no pasto, mas come no cocho. Meu gado é
de meio sangue a 7/8 Holandês”.
Um dos que atenderam ao apelo
do governo pelo desenvolvimento
Antes de ser eleito presidente da Itambé em 2007, Jacques Gontijo
do cerrado em Minas Gerais foi
foi presidente da Cooperativa Agropecuária de Bom Despacho,
José Álvares Filho, presidente da
da Comissão de Leite da Faemg e da Comissão de Pecuária de
Faemg de 1969 a 1981. Ele pediu
Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
ao filho, o engenheiro civil Jacques
além de coordenar a Câmara Temática do Leite da Organização
Gontijo Álvares, que o ajudasse a
das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em 1993, passou a integrar a
desenvolver a propriedade familiar
diretoria da Itambé, como vice-presidente Comercial.
de 1.500 hectares, no município
de Bom Despacho, no Centro-
Oeste do estado. “Quando saíram Como a maioria dos produtores mineiros de leite, Gontijo vem de
aqueles financiamentos do governo uma família de fazendeiros. O bisavô materno, Altino Teodoro,
para aproveitamento do cerrado, era dono da Fazenda do Sapé, também em Bom Despacho. A casa
já tínhamos começado a mexer na da sede, construída por volta de 1800, ainda existe, mas a grande
fazenda”, lembra o atual presidente gameleira que havia no meio do curral caiu. Quando essa casa foi
da Itambé, contando que foram erguida, a fazenda tinha cerca de 7 mil alqueires ou quase 17 mil
aproveitados 1.200 hectares com hectares, mas certamente já era bem menor na época de seu Altino,
pastagens e capineiras, ficando o morto em meados da década de 1950. “Ele falava que só comprava sal
restante como reserva legal. e querosene”, conta o bisneto. O presidente da Itambé era menino,
mas se lembra de algumas observações de Altino, entre elas, “uma
arroba de boi vale 100 litros de leite” e “uma vaca vale o leite que ela
Jacques Gontijo possui atualmente cerca de 200 hectares da fazenda, pois a
dá numa cria”. Não é muito diferente de hoje em dia, observa Gontijo.
maior parte foi dividida entre os demais herdeiros de José Álvares Filho. Para
produzir 3.500 litros de leite por dia, ele utiliza apenas 70 hectares, o que
significa alta produtividade e elevada utilização de tecnologia. Parte dessa
área é formada por pastagens, e parte é irrigada para produção de silagem. As
demais áreas são ocupadas por reflorestamento com eucalipto. “Eu tenho uma
produtividade boa por área. É um regime mais estabulado do que de pasto”, diz.
2
Evolução
do mercado
57
2 evolução do mercado
1
paulista subiu de 65 mil para 1,32 milhão, ultrapassando o da então de leite. A urbanização vigorosa se
refletiu no mercado de laticínios. Nos
capital federal. Mais 30 anos, e São Paulo se aproximava dos 6 milhões
acima dos 126% de crescimento da população brasileira, que chegou a anos de 1950, a produção brasileira
de leite cresceu 107%, chegando a 4,6
93 milhões naquela época. Nesse período, o percentual de moradores
1. No início do século XX, o imigrante italiano Arthur Savassi Revista Laticínios, maio de 2009
vendia leite pasteurizado nas ruas de Belo Horizonte. Ele
também estava à frente de padarias e uma cerâmica.
Reprodução Livro Belo Horizonte & o Comércio
2. As “vaquinhas” marcaram época ao venderem leite
diretamente ao consumidor. Na foto, a “vaquinha” e 3. Serviço de entrega da Itambé ao comércio
alunos de escolas públicas. Arquivo Itambé em Belo Horizonte. Arquivo Itambé
2 a evolução do mercado
Continuação da página 59
62
das cooperativas centrais de produtores de leite a ser criada no país, em 17
O processo
notícia foi criada na Inglaterra, em
1844, por um grupo de 28 tecelões, em
Manchester, cidade onde se iniciou
Continua na página 64
Continuação da página 62
Dentro de algum tempo, o prédio da Rua Itambé, número 40, será apenas um retrato na parede. Foi
construído para abrigar uma indústria e adaptado na década de 1970 para servir de sede administrativa.
64 Recentemente, foi condenado pelos bombeiros, pois não tem saída de emergência, as escadas são
estreitas, há pavimentos com pé direito de cinco metros, entre outros problemas de segurança. A saída
2 3
encontrada foi erguer uma nova sede, na área ao lado, até então destinada a estacionamento.
Da CCPL à Itambé
A obra já foi iniciada. O projeto prevê a construção de um prédio de
cinco pavimentos, com área eq uivalente à da sede atual, que será 4
A capacidade instalada da Usina Central de Leite era de 60 mil churrasco oferecido por ele a produtores na Fazenda Teixeira França, associado da Coopersete.
litros, mas só distribuía a metade, por falta de fornecedores, Mata Grande. Com o empurrão de Giannetti, 65 Para se diferenciar da central carioca, a CCPL
pois os produtores sofriam com os baixos preços pagos pelo produtores se reuniram para constituir a Cooperativa mudou seu nome, em 1956, para Cooperativa
produto e ainda recebiam com atraso. No final da década Regional de Produtores Rurais de Sete Lagoas Central dos Produtores Rurais Ltda. (CCPR).
de 1940, Belo Horizonte produzia apenas 900 litros de leite (Coopersete).
por dia, e a usina precisava buscar sua matéria-prima nos Entretanto, ficou mais conhecida por
municípios vizinhos e até em outros mais distantes, como Mês depois da reunião de Giannetti com os Itambé, marca por ela lançada em 1950 para
Carmo do Cajuru, a mais de 120 quilômetros, que fornecia produtores, nascia, em 10 de novembro de 1948, a comercialização do leite e subprodutos. O nome,
4.500 litros por dia, transportados em latões, por ferrovia. Cooperativa Central dos Produtores de Leite Ltda. que em tupi significa pedra afiada, ficou tão forte
(CCPL), formada pela Coopersete e pelas cooperativas que se tornou também o nome de fantasia da
O secretário estadual da Agricultura era Américo Renné de Pará de Minas, Pedro Leopoldo, Itaúna, Matozinhos cooperativa central. Itambé é também nome do
Giannetti, que se elegeria prefeito de Belo Horizonte em 1950, e Esmeraldas, além de cinco produtores individuais: monumento natural localizado no Parque Estadual
ficando no cargo por quatro anos, período em que o ex-prefeito Armindo Caixeta, José Alvarenga Costa, Sebastião Pico do Itambé, entre Serro e Santo Antônio do
Juscelino Kubitschek governava Minas Gerais. Empresário Fernandes, Manoel da Fonseca Viana e Vitor de Itambé, municípios famosos por seus queijos
e político habilidoso, Giannetti reuniu, em 1948, no Parque Freitas Figueira. Seu primeiro presidente foi Alcides artesanais.
Municipal, que hoje tem seu nome, um grupo de produtores de
leite, para propor que organizassem cooperativas e fundassem
uma cooperativa central, para que esta assumisse a Usina
1
Central de Leite e a distribuição na cidade.
2. Nascida em 1948, a Cooperativa Central viveu
momentos difíceis, mas criou estrutura e se
Em Sete Lagoas, a 60 quilômetros da capital, a ideia de criar consolidou como empreendimento de sucesso ao
cooperativas fora lançada dois anos antes, em 1946, pelo longo das décadas. Arquivo Itambé
jovem líder ruralista João Raimundo Dutra Reis, durante 3. Américo Renné Giannetti lançou a semente da
Cooperativa Central, quando secretário estadual de
Agricultura, no final dos anos 40. Arquivo Fiemg
1. Na década de 1970, a bacia leiteira de atuação da CCPR. 4. A constituição da CCPR foi um marco para os
Revista Realidade Rural nº35 produtores mineiros. Revista Realidade Rural nº70
2 evolução do mercado
Pouco depois de sua criação, o governo estadual arrendou para a CCPR a Usina Central
de Leite. Nos anos seguintes, a cooperativa central enfrentou muitos desafios, gerados
66 sobretudo pelas intervenções do governo federal no setor. Em 1967, José Pereira Campos
Filho, o doutor Pereira, assumiu a presidência da cooperativa central, aos 32 anos de idade,
sete anos após se formar em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A CCPR se encontrava em situação de grande No começo de sua gestão, doutor Pereira subia algumas vezes, às
fragilidade financeira. Quando deixou o cargo duas horas da madrugada, na boleia de um caminhão de entrega de
40 anos depois, ela era exemplo de sucesso leite, para ver de perto como era feita a distribuição para as padarias
no cooperativismo brasileiro. Em 2005, a de Belo Horizonte. Logo no primeiro ano, ele introduziu os sacos
Itambé recebeu o prêmio Primeira Empresa plásticos para substituir os vidros, revolucionando a embalagem
no Setor de Laticínios do Brasil, resultado de do leite fluido no Brasil. Conseguiu reduzir estoques de leite em pó,
1 análise realizada pela revista Globo Rural, vendendo-o em embalagens plásticas de 250 gramas, visando às
que seleciona anualmente as 500 maiores classes C e D, décadas antes de se tornarem alvo do marketing das
empresas do país no setor de agronegócios. grandes indústrias brasileiras. 3
obter o maior valor possível e dando lucro. Sua estratégia deu tão certo que, quatro anos após assumir
das Cooperativas de
a presidência, a Itambé pôde isentar os cooperados do pagamento da taxa de 3% do valor do leite,
expandidas e peletizadas e líder em vendas no mercado mineiro. direcionou a Itambé para a área. Foi
Cooperativas e laticínios em números Em 1963, os dois sócios foram a Taubaté, no interior paulista,
adquirir o controle acionário da Produtos Laticínios Embaré S.A.
(hoje Embaré Indústrias Alimentícias S.A.), dando novo rumo a
uma empresa que tinha décadas de existência e havia sido criada
com o nome de Inglez de Souza Filho & Cia Ltda.
Ao contrário da Itambé, muitas cooperativas centrais não entenderam a situação criada pela abertura
Fundada em 1935, na Granja Embaré, na zona rural de Taubaté,
do mercado em 1991 e, como muitos laticínios, fecharam as portas ou entraram em sérias dificuldades. a Inglez de Souza vendia seus produtos (doces, geleias, sopas e
Entretanto, as cooperativas agropecuárias ainda são fundamentais no cenário da produção agrícola e derivados de tomate) para São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1947,
comprou equipamentos modernos e importados para fabricação de
pecuária do estado. Em 2009, representaram cerca de 10,67% do PIB do agronegócio mineiro, sendo o
caramelos, criou esta nova linha de produção, agora na região urbana
leite e o café responsáveis por cerca de 43,7% e 44,7% da produção estadual. de Taubaté, adotou o nome de Embaré e desativou a antiga fábrica.
Dados de 2010 mostram que 101 cooperativas de leite in natura e 46 cooperativas de A Embaré se despediu de Taubaté em 1969, quando a unidade industrial foi
laticínios possuem registro na Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais transferida para Lagoa da Prata. Conquistou, nas décadas seguintes, posição de
(Ocemg). No Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), órgão responsável pela inspeção
destaque no cenário nacional, com a produção de doces, caramelos, manteiga e
leite em pó. A empresa exporta seus produtos para vários países.
e fiscalização sanitária oficial do estado, foram listadas 68 usinas de beneficiamento de
leite e 131 fábricas de laticínios. A moderna fábrica, instalada em terreno de mais de 35 mil metros quadrados,
trabalha com matéria-prima vinda de postos de resfriamento de leite em
Divinópolis, Dores do Indaiá e Bambuí (Oeste), Araxá, Sacramento e Santa
Continua na página 72 Juliana (Triângulo Mineiro) e Coromandel (Alto Paranaíba), captando cerca de
300 mil litros de leite por dia. A empresa emprega mais de mil funcionários e
1. Ronaldo Scucato, presidente da Ocemg desde 2001. tem filiais comerciais em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Entidade reúne 46 das 101 cooperativas de leite in
natura de Minas Gerais. Arquivo Ocemg
2. Rótulos antigos usados pela Embaré. Arquivo Embaré
2 a evolução do mercado
Continuação da página 70
72 Sob controle.
De Vargas a Collor
O setor leiteiro enfrentou no controle de preços pelo governo uma verdadeira
pedreira, formada por números, cálculos e tabelas, que emperrou por quase meio
Por longo tempo
século o seu desenvolvimento, algo inesquecível para produtores e para a indústria.
Milliet afirmou ainda que a produção de leite, por causa do preço, Em janeiro, foi baixada portaria estabelecendo o preço mínimo a
estava desestimulada, pois o boi de corte solto no campo, criado sem ser pago ao produtor das zonas geoeconômicas que abasteciam
qualquer trabalho, valia muito mais. Alegou que o governo gostaria as capitais de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O produtor
de dar reajuste maior para o produtor de leite, para estimular mais recebia mais pelo leite entregue na plataforma da usina ou dos
a produção, mas, por outro lado, teria de servir a “uma população postos de refrigeração do interior.
assoberbada” pelo encarecimento dos gêneros de primeira
necessidade e que já não suportava qualquer aumento de preços.
2 a evolução do mercado
74 Variação de preço
Desde 1957, segundo ano do governo Juscelino Kubitschek, o preço pago ao produtor
maior preocupação do governo, por razões políticas, era manter o preço final pago
O grupo iniciou suas atividades no Brasil em 1921 e, por muito tempo, não teve aqui
concorrente multinacional na área de produtos lácteos. Ainda em 1921, a Nestlé
inaugurou sua primeira fábrica brasileira, em Araras (SP). A segunda só surgiu em
2 1937, em Barra Mansa (RJ).
Importação permitida
Foi no início da década de 1960 que chegou a primeira concorrente
multinacional da Nestlé: a Fleischmann Royal; depois, em 1968, a Yakult S.A.
Mas essa concorrência não atrapalhou os planos da Nestlé no país. Em 1983,
inaugurou a fábrica de Montes Claros, atualmente a maior do mundo. Sete anos
depois, a de Teófilo Otoni iniciou suas atividades. E passou a engarrafar água
O achatamento de suas margens de preço trouxe graves distorções para os laticínios, mas a mineral em São Lourenço, de fonte vendida pelo governo de Minas Gerais.
produção aumentou e o governo não teve que recorrer à importação e à reidratação de leite
No começo do novo século, a Nestlé formou uma joint venture com a
para a regularização do abastecimento. No entanto, permitiu que grandes empresas privadas
Fonterra, cooperativa da Nova Zelândia e maior exportadora de lácteos do
importassem leite, para aumentar seus lucros. mundo. É a DPA (Dairy Partners America), em que cada sócia tem 50% de
participação no capital. A nova empresa começou a operar em janeiro de
2003, com uma fábrica na Argentina, uma na Venezuela e sete no Brasil,
Os produtores, apesar dos percalços, faziam de tudo para continuarem 3
na atividade. Durante a década de 1960, as empresas de laticínios estendendo-se depois para outros países do continente americano. Antes,
concentravam suas operações em seus mercados regionais, excetuando- a Nestlé já havia feito aliança com a General Mills, na área de cereais, e com
se as multinacionais estruturadas para atingir os melhores mercados a Coca-Cola, na de bebidas. Agora atua também no segmento de leite longa
brasileiros, como a Nestlé. vida premium, com as marcas Ninho e Molico.
Em março de 2010, o presidente da Nestlé, Ivan Zurita, informou ao governo de Minas Gerais que
Continua na página 78
seriam investidos mais R$ 525 milhões no estado, até 2015. Dos 2,3 bilhões de litros de leite que a
empresa processava no Brasil, 800 milhões (34,7%) eram captados em Minas Gerais. A filial mineira
representa 16% da operação da Nestlé no Brasil e, com os novos investimentos, vai superar os 20%.
1. Caminhão de leite em pó, usado pela assistência social da prefeitura
de Belo Horizonte, em 1957. Arquivo Público de Belo Horizonte
2. A primeira fábrica dos produtos Aviação foi criada em Passos (foto), O Brasil é hoje o segundo país em volume e faturamento da Nestlé no mundo, atrás apenas dos
no Sul de Minas Gerais, na década de 1920. Hoje está instalada em Estados Unidos. Há dez anos, o Brasil era o nono no ranking da empresa. O salto se deu com a
São Sebastião do Paraíso, e sua principal produção continua sendo a entrada no mercado de produtos lácteos das classes C e D, que já representavam 82% dos R$16
“manteiga da latinha”. Arquivo Aviação
bilhões faturados pela Nestlé no Brasil em 2009.
3. A Nestlé chegou ao Brasil em 1921. A empresa lançou produtos
voltados para as classes C e D, usando como apelo em suas
propagandas a economia usufruída pelos consumidores. Livro Belo
Horizonte e o Comércio/Fundação João Pinheiro
2 a evolução do mercado
O produtor de leite viu o preço do produto cair ainda mais após maio de 1970, pois o custo de
transporte no chamado segundo percurso, entre a usina e o entreposto ou a indústria, passou a ser
deduzido do preço mínimo tabelado. O Sul de Minas Gerais e outras regiões demoraram a reagir
à baixa de preços, mas a produção de leite em São Paulo também vinha caindo, causando sérios
problemas no abastecimento.
79
Continuação da página 76
Apareceu a margarina
Salto nas importações
O invento foi comprado, em 1871, por uma empresa holandesa
Para contornar o problema da escassez de leite, foi instituído, em outubro de 1974, subsídio para
fabricante de manteiga, que passou a vender margarina
o transporte do produto do interior para as capitais. Dez meses depois, o subsídio foi alterado,
pela metade do preço de seu produto tradicional. Em 1895,
passando a ser dado à usina desde que o leite fosse distribuído in natura nas regiões metropolitanas. a produção atingiu a marca de 300 mil toneladas, ou 10%
Isso provocou redução do capital de giro das empresas que vendiam à vista a maior parte do leite in do mercado da manteiga. A firma foi um dos pilares para a
natura, agravando o problema da pequena margem de comercialização. fundação da Unilever, que lidera esse mercado na Europa e nos
Estados Unidos.
Outra medida de Paulinelli foi reduzir, em junho de 1974, o teor de gordura do Em 2007, a Unilever fechou acordo com a Perdigão para
leite C, de 3% para 2%. A gordura assim obtida seria usada na reidratação do leite aumentar sua fatia no mercado brasileiro, estimado em 330
em pó. Naquele ano, o Brasil importou 14.261 toneladas de leite em pó; o número
aumentou para 18.241 no ano seguinte; e pulou para 55 mil em 1977. Esse salto mil toneladas anuais. Somente no século atual fabricantes de
nas importações foi provocado por acordos firmados na Alalc (Associação Latino- margarina se animaram a construir unidades em Minas Gerais
Americana de Livre Comércio) e resultou, em 1978, em elevados estoques de
manteiga, leite em pó e queijo, agravados pelo crescimento da produção brasileira. para concorrer com os produtores mineiros de manteiga.
O foco do governo era o abastecimento. Ele próprio se tornara grande comprador de leite em pó
para atender aos programas assistenciais. Desse modo, também como comprador, o governo Em junho de 2006, a Sadia, que entrou nesse segmento em
passou a ter grande influência no mercado. 1991, inaugurou em Uberlândia a primeira dessas fábricas,
Entre as consequências da intervenção estatal, destacam-se a falta de crescimento vertical da com capacidade para produzir 4.500 toneladas por mês de
produção de leite e o enfraquecimento ou desaparecimento de empresas nacionais no setor de margarinas das marcas Qualy, Deline e Bom Sabor. Antes, ela
laticínios. Sem condições para crescer verticalmente, por meio de investimentos para aumentar a
produtividade, registrou-se forte expansão horizontal das bacias leiteiras (com o aproveitamento
já havia montado fábrica em Paranaguá, no estado do Paraná.
de outras regiões), aumentando as despesas de transporte a grandes distâncias. Para reduzir Em 2009, a Sadia se juntou à Perdigão, nascendo dessa fusão a
custos, algumas cooperativas passaram por processos de fusão.
BRF (Brasil Foods).
Continua na página 84
Equipamentos
para laticínios Fabricação mineira
2
Ali foi oficialmente estabelecido, em 2005, o
Até praticamente meados do século XX, os laticínios Arranjo Produtivo Local (APL) de fabricação de
brasileiros eram muito dependentes da importação de equipamentos em inox para laticínios, com apoio do
máquinas produzidas na Europa e nos Estados Unidos. Sebrae-MG e Federação das Indústrias do Estado de
Meireles (1983) cita trabalho da Financiadora de Estudos e Minas Gerais (Fiemg).
Projetos (Finep), de setembro de 1977, que analisa a demora
de se instalar no país um setor produtor de bens de capital Quatro anos depois, a Fibrav, a Inoxul, a Injesul
para a indústria de laticínios. O estudo afirma que o marco Plásticos e a Lambari Inox, integrantes do APL,
inicial é a instalação, em 1952, em São Paulo, da APV do participaram em Juiz de Fora da 37ª Expomaq e do
Brasil, subsidiária da APV inglesa, mantendo-se mesmo 26º Congresso Nacional de Laticínios, realizados
assim baixo índice de nacionalização. pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes. As
quatro empresas foram incluídas no Projeto
“É provável que a lentidão da expansão da produção interna Extensão Industrial Exportadora, do Ministério do
por parte da APV tenha-se devido aos conhecidos subsídios à Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e
importação de bens de capital na década de 1950 e que a APV
da Agência Brasileira de Promoção de Exportações
internacional a tenha usado como estratégia para o Brasil manter
e Investimentos. Também a Inoxmilk faz parte do 3
um baixo índice de nacionalização, apenas compatível com um
fortalecimento de sua posição no mercado brasileiro, que até APL, com uma linha de cerca de três dezenas de
então ela dividia basicamente com a Alfa-Laval e a Silkborg”. equipamentos.
84
Que mau humor!
O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, recorda que a Parmalat — cuja falência foi decretada na Itália em 2003 e
a filial brasileira vendida, entrando em processo de recuperação judicial — começou a comprar o leite
embalagens coloridas e atraentes. Passaram a prestar mais atenção às Ele se via obrigado a entregar o leite à Parmalat pelo preço que ela
impunha, pois não havia opção: a multinacional comprara todos os
técnicas de comercialização e à posição de seus produtos no mercado. pequenos e médios laticínios da região, fechando praticamente todos.
Mas nada disso evitou o aumento da concentração de capital, com as
Essa situação parecia inevitável, pois as empresas nacionais não tinham capital para investir
grandes comprando as pequenas e médias empresas e se posicionando na fabricação de produtos mais rentáveis que dependem de vendas em grande escala e grandes
investimentos em publicidade. E o problema piorou para muitas delas, na década de 1990, após a
em todos os principais mercados do país. abertura do mercado brasileiro pelo governo Collor.
Se os anos de 1970 foram difíceis para as cooperativas de leite e os laticínios nacionais, a situação
No fim da década de 1970, havia sete multinacionais atuando no mercado de foi ainda pior na década seguinte. No governo de João Batista Figueiredo, o produtor de leite do Rio
laticínios no país: Nestlé (suíça), Fleischmann Royal (americana), Yakult (japonesa), Grande do Sul — e do restante do país — se viu atingido por uma declaração injuriosa lançada na
Danone (francesa), Polenghi/Bongrain Gerard (francesa), Anderson Clayton imprensa pelo próprio presidente do Brasil: “Durante muito tempo, o gaúcho foi gigolô de vaca”.
(americana) e Parmalat (italiana).
Independentemente do mau humor do último general na presidência do
país diante das críticas dos produtores de leite ao seu governo, deve-se
reconhecer que, quando ele assumiu o cargo, em março de 1979, a existência
de estoques enormes em mãos do governo e dos laticínios justificava a
manutenção de preços ainda mais baixos ao produtor.
de 1980, cairia para a metade do volume da década de 1960, de acordo com Meireles (1983). De
fato, entre 1977 e 1984, os preços reais recebidos pelos produtores de leite haviam se reduzido
87
anualmente, chegando ao fim desse período a 66% do que eram em 1977.
O tabelamento
O governo brasileiro não agia de forma isolada no mundo, quando intervinha no mercado do leite.
Em seu estudo de 2004, em que analisa as políticas públicas e o mercado do leite, Paulo Martins
conclui que a atividade láctea é intensamente regulamentada em todo o mundo, o que a situa
distante dos postulados de livre comércio. “Isso leva a distorções sólidas nos mercados domésticos,
Em razão disso, no governo de José Sarney, logo depois com reflexos apreciáveis no mercado internacional, que é estreito, por consequência”, escreveu.
de inaugurado o Plano Cruzado, quando a população se
viu livre provisoriamente do imposto inflacionário, o país
tecnologias modernas, oferecendo b ônus para No começo da década de 1990, a Itambé tinha oito linhas
incentivar a qualidade e a produtivi dade. de produtos e 45 itens. No ano 2000, já eram 19 e 152,
respectivamente, o que refletia seu planejamento estratégico.
A meta era ampliar o raio de atuação e se consolidar
como empresa de caráter nacional, conquistando mais
consumidores pela qualidade e diversidade dos produtos
A Itambé seguiu esse movimento, adaptando-se bem aos oferecidos ao mercado.
novos tempos. Em 1991, contratou a empresa de consultoria
externa McKinsey & Company para fazer o diagnóstico
empresarial, criou um fundo para implantação do programa
Dentro desse espírito, depois de ter promovido várias ações para
de aumento da qualidade e produtividade das cooperativas
profissionalizar e melhorar a gestão, foi criada em agosto de 2000 a Itambé
associadas, lançou novos produtos, de maior valor agregado.
S.A., que elegeu como objetivo a busca de parceiro estratégico do ramo
alimentício que deveria trazer novas tecnologias e recursos financeiros. O vice-
presidente administrativo financeiro da Itambé, Marcos Elias, informou que na
época apareceram muitos interessados, mas, devido à situação política do país
e ao risco Brasil elevado, o projeto foi adiado.
1 2
90
tanques isotérmicos de caminhões. O plano da Itambé previa que até 2007 todo o leite seria resfriado nas fazendas e recolhido a
granel, em caminhões isotérmicos. De acordo com alguns estudos, a coleta a granel reduz em
mais de 30% o custo do frete, em relação ao transporte por latão. Por outro lado, a introdução
Uma das consequências da IN 51 foi a criação, em 2005, da Rede Brasileira de
do conceito de logística integrada pelos laticínios resultou no fechamento de postos de
Laboratórios de Qualidade. Atualmente, são oito laboratórios credenciados
resfriamento, na redução de rotas de coletas e na demissão de pessoal.
formalmente pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da
Agricultura. Eles realizam análises para cerca de 1.300 laticínios e produtores.
A meta de dez anos estabelecida pela Itambé foi alcançada em apenas três, pois os cooperados
Os dois laboratórios localizados em Minas Gerais analisam mais de 70 mil
se apressaram a tomar financiamento em condições vantajosas e comprar o tanque resfriador,
amostras de leite por mês.
para poder fazer duas ordenhas por dia e elevar assim a produção de leite em 30%, em média.
Para incentivar o uso correto do resfriamento, a Itambé criou também a bonificação pela
temperatura do leite. Em 2003, implantou um modelo de participação nos lucros, mediante a
distribuição de sobras, com o objetivo de fidelizar o produtor.
Queijos finos
sucedidas experiências para obtenção de um queijo tradicional
de seu país, chegou a um produto novo que teve boa aceitação no
mercado: o queijo prato. Mas quem passou para a história como o
inventor do novo queijo foi o patrão, Thorvald.
Nove anos depois de estabelecido no país, Thorvald buscou a família
na Dinamarca e arrendou uma pequena queijaria da Fazenda Campo
Ao descrever o novo produto, fiscais do Ministério
Lindo, em Aiuruoca, entre as cidades de Cruzília e Minduri, e começou
da Fazenda registraram ser ele “um queijo grande,
a fabricar no local queijos finos, que “exportava” para o Rio de Janeiro.
circular, com formato de prato.” O nome pegou. Podiam
ter dito também que o queijo tem cor amarelo-ouro,
Para trabalhar com Thorvald, chegaram na Campo Lindo
consistência untuosa e sabor e aroma suaves. Seria mais
alguns técnicos dinamarqueses em laticínios, ainda na década
apropriado às condições atuais, pois, além dessa forma
de 1920. Entre eles, Leif Kai Godtfredsen — que adotou
tradicional, o queijo prato se apresenta ao mercado em
o nome de Godofredo e também se tornou empresário,
outros formatos e com outros nomes.
comprando, em 1942, uma fábrica de queijos em Itutinga e,
três anos depois, uma outra fábrica que pertencia ao ex-patrão
Axel se tornou sócio de Thorvald e acabou comprando a participação
Thorvald, em Seritinga, onde fundou a Laticínios Skandia.
do ex-patrão em uma de suas empresas. Na década de 1930, ele
hospedou por três dias na Fazenda Encruzilhada, em Cruzília, o
Foi ali que Godofredo fabricou o primeiro queijo roquefort do Brasil,
presidente Getúlio Vargas, que aproveitou para conhecer, numa
conhecido atualmente como gorgonzola. Ele chegou a possuir 13
viagem a cavalo de cerca de 10 quilômetros, a Fazenda Campo Lindo.
laticínios na região. Muitas décadas depois de sua iniciativa, em
1983, a Skandia foi comprada pelo grupo francês Bongrain, que se
tornou dono também da empresa fundada por Thorvald.
1. Thorvald Nielsen foi o pioneiro entre os dinamarqueses 2. Em torno de Minduri, a produção de queijos
e o responsável pela vinda de compatriotas que fizeram finos se desenvolveu a partir do envolvimento de
a história do queijo no Sul de Minas Gerais. Arquivo imigrantes dinamarqueses que vieram para o Brasil
Prefeitura de Minduri tentar a sorte. Arquivo Prefeitura de Minduri
2 a evolução do mercado
Antes de Thorvald, outro dinamarquês, Paul Bartholdy, Continuação da página 91
Selo de qualidade
antes ganhara o primeiro prêmio da loteria federal, comprou
a queijaria da Fazenda Campo Lindo e a Companhia Oeste de
Laticínios, criada em 1912 por ricos fazendeiros de São Vicente 95
de Minas, fundando o Laticínio Campolindo.
1. Hans Norremose, casado com Paulina, chegou a ter 21 fábricas de 2. Em Lima Duarte, na Zona da Mata, o MB Laticínios, produtor
queijos na região de Minduri, entre elas a da marca Dana. Depois dos queijos da marca Jong, foi o primeiro a conquistar o Cert
vendeu o patrimônio para multinacionais, mas se tornou uma lenda Leite, selo de qualidade instituído pelo governo estadual. O
na cidade, onde ainda vive, e que há décadas organiza torneios entre fundador Jong é um dos pioneiros da indústria de laticínios
produtores. Arquivo Prefeitura de Minduri na Zona da Mata. Arquivo MB Laticínios
2
2 a evolução do mercado
96 produtos nacionais. Em 1998, o Brasil importava US$508 milhões em produtos lácteos e leite em pó e
exportava US$8 milhões. O consumo interno havia subido significativamente após o Plano Real. O de
iogurte, por exemplo, aumentou 180% de 1994 para 1995, comprovando que a elevação da renda das
Perturbação na
economia mundial 3
no patamar tradicional de 130 litros por ano, bem inferior aos 210 litros por ano recomendados pela
Porém, ninguém previu, continua o presidente da Comissão
Nacional de Pecuária de Leite da CNA, que na mesma época Organização Mundial de Saúde. A situação não havia mudado muito em 2005, quando o país produziu
haveria a crise econômica da Argentina, a crise do “apagão”
24,6 bilhões de litros e o consumo per capita passou a 134 litros. A expectativa do aumento de consumo
elétrico no Brasil e, ainda, que em 11 de setembro as torres
gêmeas do World Trade Center, em Nova York, seriam do leite e seus derivados indicava um grande potencial de crescimento para a pecuária leiteira.
derrubadas por terroristas. Em consequência, a economia
mundial viria abaixo, por um período. Para o setor leiteiro no
Brasil, a crise só não foi mais grave por causa das medidas Apesar do consumo baixo, não era a primeira vez em nossa história que o país enfrentara
antidumping adotadas em fevereiro de 2001.
problemas de estoques elevados. Na década de 1970, a Itambé teve que recorrer ao mercado
A economia brasileira só cresceu 1,5% e, “no fim do ano, havia 2 bilhões externo para escoar estoques acumulados de leite em pó e manteiga. Por meio de uma trading,
vendeu os produtos para países da Europa e da África, em embalagens industriais. De outra vez,
de litros de leite em excesso no mercado, derrubando os preços.
no começo da década de 1990, exportou cerca de 4 mil toneladas de leite em pó para a Argélia.
A indústria resolveu experimentar exportar e, para sua surpresa,
descobriu que éramos competitivos no mercado internacional. Por sorte,
o mercado estava comprador, apesar de toda a crise que se estabeleceu
no mundo”, lembra Alvim.
Mas o grande passo nessa área ocorreu no início dessa década. “Em 2002, criamos
98 a Serlac Trading S/A, unindo cinco empresas brasileiras: três cooperativas — Itambé,
a trading exatamente para não brigar lá fora e tentar exportar juntos”, lembra,
Jacques Gontijo. O presidente da Itambé conta que ao longo de cinco anos as outras
100 O mercado internacional de leite é limitado e tem poucos players. Há muitos anos,
Poucos na disputa
Em 2008, do Brasil saíam apenas 2% do leite em pó e 16% do leite
condensado comercializado entre países. O volume exportado de lácteos
representou faturamento de US$ 541 milhões, praticamente o dobro do
resultado do ano anterior.
praticamente zerados.
as exportações brasileiras como um todo e facilitando a entrada de lácteos em
nosso mercado. No segundo semestre de 2009, o governo suspendeu as licenças
automáticas para importações de leite do Uruguai e Argentina e negociou cotas
com os países do Mercosul.
Mas em 2009, com a crise financeira mundial, a União Europeia voltou
a conceder mais fortemente subsídios aos criadores de gado leiteiro, Nos últimos meses de 2009, os preços internacionais de produtos lácteos iniciaram tendência
para aumentar a produção e as exportações, e os preços do leite em pó de alta. A produção mundial de leite, durante o ano, aumentou 1%, superando 700 milhões de
desabaram no mercado internacional. toneladas, com destaque para os países em desenvolvimento.
Cooperativismo é o caminho
maior cooperativa captadora de leite do mundo, que vende
Na Europa, existem cooperativas ch amadas de terceira ou cooperativas. No Brasil, dirigentes de três cooperativas se
quarta geração, eficientes, que disp utam preço e trazem tornaram protagonistas, em 2009, de ambicioso projeto
retorno aos seus cooperados”, anali sa o presidente da de fusão da CCPR com outras quatro cooperativas: Cemil
Faemg e do Sebrae-MG.
e Minas Leite, de Minas Gerais; Centroleite, de Goiás; e
Ele ressalta que a Itambé, meritoriamente, sobreviveu como cooperativas é uma ideia antiga.
cooperativa central. “Tínhamos centrais no Rio de Janeiro,
São Paulo, Rio Grande do Sul etc, e elas quebraram. A Itambé
prevaleceu e hoje está tentando crescer ainda mais, associar-
Mas a oportunidade de concretizá-la surgiu apenas em agosto de 2009. Um
se a outras para ganhar volume e condições de competição.
ano depois, ele relata os avanços obtidos, manifestando a esperança de que o
Esse é o caminho, é o futuro”, assinala Simões, destacando
processo seja brevemente concluído. A Cemil desistiu de participar do projeto,
ainda que para disputar mercado é preciso ter tamanho
o que reduziu de cerca de 7 milhões para perto de 6,5 milhões por dia a previsão
e modernizar o sistema cooperativo, no qual a decisão é
geralmente muito lenta, o que . prejudica a competitividade. de captação de leite pela nova cooperativa, dos quais 3,5 milhões vindos de
“É preciso evoluir nesses processos, porque o caminho é o produtores ligados à Itambé.
cooperativismo. Montar uma S/A associada que seja mais ágil,
algo nessa linha”, defende.
Uma empresa especializada foi contratada para avaliar
A Itambé é a terceira maior captadora de leite do Brasil, com 1,125 bilhão de litros em cada cooperativa, e estavam acertados, praticamente,
2009. Já foi a segunda, mas foi superada pela BR Foods, que é a união da Perdigão e da os percentuais de cada uma no empreendimento. O
Sadia e está no mercado de lácteos há pouco tempo. Se houver a fusão das cooperativas Memorando de Entendimento definiu as premissas, e
centrais de Minas Gerais, Goiás e Paraná, a Itambé ficará em primeiro lugar. Essa posição as assembleias de cada cooperativa deverão aprová-las.
é ocupada atualmente pela DPA/Nestlé, que em 2009 captou 2,05 bilhões de litros.
Ranking disputado
além de gestão profissional da cooperativa. É proibida a competição entre cooperativas associadas
105
e cooperativas centrais, o que representa inovação para as sócias no empreendimento, mas não
para a CCPR. “Esse é o modelo que a Itambé vem seguindo”, afirma Gontijo.
Modelo único e nosso Apesar do otimismo do idealizador da nova grande cooperativa, que prevê que o Brasil
será o quarto maior produtor de leite do mundo em 2020 — depois dos Estados Unidos,
Índia e China — dificilmente o país conseguirá avançar ainda mais nesse ranking. A Índia
é o segundo maior produtor de leite de vaca, animal sagrado no país, e, se for incluída a
Com esse modelo único, a captação de leite seria
unificada na nova grande cooperativa, acabando produção de leite de búfala, já ultrapassa os Estados Unidos. No entanto, a Índia não é
com o sistema de dupla intermediação, no qual a
cooperativa compra o leite do produtor e depois exportadora de leite e ainda precisa importar da Oceania para alimentar sua população.
fornece para a central. “É um modelo mais
moderno de cooperativa, sempre visando criar
valor para o produtor. O objetivo final é esse, e a
cooperativa deixará de ser um meio oneroso para A produção de leite da China,
por sua vez, cresce muito, de 15%
ele”, explica o presidente da Itambé, lembrando
que é assim que funciona a cooperativa da Nova
Zelândia, que, para ele, representa um grande
De acordo com Jacques Gontijo, a nova grande cooperativa de leite vai atuar em condições
diferentes daquelas em que operava a Fonterra, que capta 95% do leite produzido na
aumenta 10%.
Nova Zelândia, onde as cooperativas locais têm o monopólio da comercialização do leite
no mercado interno. “A Fonterra está instalada aqui, mas nem a Itambé nem a Nestlé
nem ninguém pode ir para lá. Eles reservaram o mercado deles. Tinham monopólio na Nos primeiros cinco anos deste século, os chineses produziam menos que
exportação. Era um órgão do governo que exportava. Privatizaram, passaram para a o Brasil, e hoje se aproximam dos 40 bilhões de litros de leite por ano. O
cooperativa, mas continuou o monopólio”, critica Gontijo.
que ainda é muito pouco, considerando a população da China.
A nova cooperativa brasileira pretende também conseguir um sócio importante.
“Ela precisa, para crescer, de um parceiro. Pode ser estratégico ou financeiro”,
O esforço do país para aumentar a produção é bem maior que o do Brasil, pois
explica o presidente da Itambé. “Precisamos de alguém para capitalizar, porque
o problema maior do produtor é que ele tem dificuldade de capitalização.” há hoje na China o entendimento de que o leite é alimento essencial, o que não
O modelo prevê a criação de uma sociedade anônima controlada pela nova ocorria até recentemente. Tanto que a China vem importando grandes volumes da
cooperativa central. Nova Zelândia e da Austrália.
Aurélie Trouvé citam, em artigo publicado pelo Le Monde Diplomatique, previsão do GEB–Institut de L’élevage de
107
entre outros fatores. Seu número cairia dos atuais 88 mil para 60 mil em 2015 e para 20 mil em 2030.
Realidade europeia Se o governo brasileiro vai insistir na “política de alimentos baratos” adotada
em relação ao leite, conforme Martins (2004), ele deveria tomar algumas 2
3. Foto Xará
Tela de Marc Chagal, O Vendedor de Gado. Masp
3
Tecnologia e qualidade
em construção
2
1. Também na antiguidade, o leite de cabra foi usado 2. O queijo é um alimento antigo, consumido por assírios,
como alimento pelo homem. RF/SXC caldeus, egípcios, gregos e romanos. RF/SXC
3 tecnologia e qualidade em construção
1
Das delícias suíças O século XIX foi marcado por grande progresso científico e pelo rápido
1
Vivendo uma nova era
3
Os suíços, como Jean Tobler e Charles-Amédé Kohler, se 4. A descoberta de Papin foi aproveitada com êxito por
destacaram na produção de chocolate, uma história que Nicollas Appert e ainda mais por Napoleão Bonaparte, que
começou com Françoise-Louis Cailler, fundador da fábrica conseguiu abastecer suas tropas com alimentos em lata.
de mesmo nome. Arquivo Palácio Pitti/Florença
1. Arquivo Tobler 5. A ebulição vivida pela França no século XIX produziu
inventores como Denis Papin (na reprodução) que, ao
2. Arquivo LTM
fabricar a máquina a vapor, incentivou métodos que
3. Arquivo Chocolates Cailler permitiram a conservação de alimentos por muito tempo.
3 tecnologia e qualidade em construção
3
No começo do século XVIII, grandes casas Novas experiências mostraram que era possível eliminar
europeias tinham compartimentos subterrâneos micro-organismos aumentando a temperatura e 4
para armazenar gelo durante o inverno e desse
1 diminuindo o tempo gasto no processo de pasteurização
modo conservar carnes e peixes por mais tempo.
e, assim, ampliar a capacidade dos laticínios, que
No século seguinte, cientistas como Gay-Lussac
descobriram que a expansão de gases subtrai calor passaram a aquecer o leite a 72ºC por 15 segundos. Outra
do ambiente e que um método de compressão descoberta: resfriando o leite logo após o aquecimento, a
de gás, seguido pela sua liberação, promovia carga calórica residual cozinhava o alimento. As pesquisas
refrigeração. Com isso, as câmaras poderiam criar avançaram. Em 1913 surgiu na Inglaterra o método
ambientes frios, e não apenas conservar o frio. O
2 HTST (High Temperature — Short Time). Esse processo
gelo artificial foi fabricado pela primeira vez em
1834, pelo americano Jacob Perkins. Dezessete foi aperfeiçoado mais tarde. Com o processo UHT (Ultra
anos depois, outro americano, John Gorrie, obteve High Temperature), o leite é aquecido por três segundos,
a patente do primeiro compressor de ar movido com temperaturas variando entre 138ºC e 150ºC. Essa
a vapor para refrigerar câmaras de hospitais. Em tecnologia é usada também para conservar outros
1879, foi lançado o refrigerador para uso doméstico,
alimentos, como leites aromatizados, iogurtes, bebidas à
inventado pelo alemão Carl Von Linde, o que
base de soro de leite, cremes, sorvetes, pudins e tortas.
possibilitou que o leite pasteurizado fosse vendido
em grande escala. Surgiam os grandes laticínios.
que o leite fosse conservado por muito tempo, era preciso mantê-lo em ambiente estéril.
O leite longa vida surgiu em meados do século XX. O empresário sueco Ruben Rausing
lançou a embalagem “Tetra Pak”, capaz de conservar o leite UHT na prateleira por quatro a
118
seis meses, em temperatura ambiente.
A opção que se verificou nos últimos anos pela embalagem cartonada, praticamente
imposta pelos supermercados, eleva o preço do leite pago pelo consumidor, de acordo
120
com estudo feito por Paulo Martins (2004). Segundo o economista, embalagem
cartonada é o item que mais onera a cadeia produtiva do leite, correspondendo a mais de
50% de todos os custos variáveis consolidados. “Para a indústria, o custo da embalagem Em julho de 2010, o Laticínio Cordilat,
está próximo do custo de obtenção do leite não beneficiado, posto na plataforma de
de Santa Catarina, anunciou que seria
processamento”, escreveu ele.
o primeiro no Brasil a envasar leite
Tudo na caixinha
com capacidade para um litro. Fundado
Não adiantaria muito avançar nas técnicas de conservação do leite e seus derivados e no
próprio marketing desses produtos se o país não evoluísse na cadeia de produção, começando
pela melhoria do rebanho leiteiro. Esse esforço já era observado no começo do século XIX. Um
4
dos pioneiros foi Dom Pedro I. O imperador era proprietário, no Rio de Janeiro, da Fazenda
Real de Santa Cruz, que pertencera aos jesuítas. A Santa Cruz chegou a ter 1.600 vacas. Para
Porteira aberta
administrá-la, Dom Pedro I contratou o inglês John Mawe. Ele deveria transformá-la numa
espécie de fazenda-modelo, com lavouras irrigadas, pastagens artificiais, solos fertilizados,
açougue e fábrica de queijo e manteiga.
Queda de braço
nas exposições Renovação com a SuperAgro
No começo do século XX, havia disputa acirrada
1
entre criadores de gado originário da Europa e da A SuperAgro resultou de um esforço da Faemg para fazer
com que a tradicional feira de exposições agropecuárias
Índia. Na primeira exposição paulista, em 1925,
da Gameleira, em Belo Horizonte, se tornasse realmente a
foi proibida a presença de Zebu. Os criadores vitrine do agronegócio mineiro. A primeira foi realizada em
de gado europeu alegavam que Zebu não era 2005. Quando a Faemg assumiu a coordenação financeira
nada além de aventura genética que não trazia
da exposição, em parceria com o governo e o IMA (Instituto
Mineiro de Agropecuária), a operação ficou mais ágil, o evento
qualquer contribuição à pecuária brasileira. A
cresceu muito e se tornou talvez o mais diversificado do
proibição vigorou até 1934, quando a exposição estado, atraindo milhares de visitantes — 75 mil em 2010.
do Parque da Água Branca, na capital paulista,
ganhou forte presença do gado Indubrasil, para Um destaque do evento foi a II Conferência Nacional
sobre Defesa Agropecuária, um dos mais importantes
grande regozijo dos criadores de Uberaba. espaços para orientação da produção. Mas a SuperAgro
se qualifica também como fonte de bons negócios,
inclusive com a exibição de maquinários e produtos
As exposições foram importantes para a propagação de raças e para avanços genéticos. alimentícios. “Em 2010, tivemos quase a capacidade
Naquele tempo havia grande interesse dos criadores por novos conhecimentos. Em 1936,
máxima no número de leilões, todos eles com resultados
por exemplo, a Semana do Fazendeiro, promovida pelo Departamento de Zoologia da
muito positivos”, afirma Roberto Simões. O presidente
Universidade Federal de Lavras, teve 340 participantes.
da Faemg lembra que os 12 leilões resultaram na venda
de 380 animais, no valor total de R$ 6,1 milhões. Foram
Eles se inscreveram em cursos que se iniciavam às seis e meia da manhã e iam até as onze da noite. Os mais de 3.000 animais expostos, todos em julgamento. É
professores eram estimulados a participar das exposições para orientar os criadores. A primeira exposição uma exposição diferente de todas as outras no seu aspecto
estadual ocorreu em Porto Alegre, em 1901, e a segunda foi marcada para ser realizada em Minas Gerais, cultural e social, porque a população mais jovem de Belo
em outubro de 1907, mas os organizadores enfrentaram problemas e precisaram adiar para o dia 24 de
Horizonte conhece pouco o que é a produção agrícola, a
fevereiro de 1908. Foi realizada no Prado Mineiro, onde funcionava um clube de turfe. Para a exposição, foram 3
origem dos alimentos. “Muitas crianças só alcançam o
construídos estábulos para cavalos, bovinos e caprinos, rotundas para suínos e pavilhões para restaurantes.
Participaram 94 criadores, que inscreveram 224 animais, a maioria bovinos e equinos. Um dos premiados foi
supermercado, dali em diante não sabem nada. Então,
o coronel Francisco Libânio de Sá Fortes, grande criador de gado Holandês na região de Santos Dumont, na nessa ocasião, recebemos milhares de estudantes, que
Zona da Mata. Quase cinco mil pessoas compareceram à inauguração. Atualmente, ocorrem no Brasil cerca de visitam a fazendinha, montada no espaço, com animais e
1.500 exposições de criadores de gado por ano, número provavelmente não ultrapassado por nenhum país. produtos agrícolas”, conta Roberto Simões.
Equívoco certeiro
126 Outro marco importante da pecuária de leite é a chegada do gado Gir
A raça foi tão apreciada pelos criado res que, Mesmo antes das pesquisas de Martinez, o Gir já ocupava lugar de
registrados, contra 48 mil Nelores. Rodolfo Machado Borges. O registro foi feito em 1938 pelo ministro da
Agricultura Fernando Costa, durante solenidade na Exposição Nacional
do Parque da Gameleira, em Belo Horizonte. O registro genealógico
passou a ser realizado pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu
Paulo Martins, que foi chefe-geral da Embrapa (ABCZ), com sede em Uberaba (Triângulo), depois de vencer a disputa
Gado de Leite, esclarece que o Gir trazido da Índia com uma associação paulista fundada em 1950.
não era animal especializado na produção de
leite. A especialização resultou de processo de
seleção, com teste de progênie, dando origem a De acordo com a ABCGIL, atualmente é grande o interesse por animais dessa
uma raça brasileira. A pesquisa foi coordenada, raça. Em 2008, por exemplo, foram vendidas mais de 805 mil doses de sêmen,
durante mais de 20 anos, por Mário Luiz Martinez ocupando o segundo lugar entre as raças leiteiras com maior comércio desse
(morto em 2006), engenheiro-agrônomo e Pós- produto. O Gir leiteiro está presente em praticamente todos os estados brasileiros
Doutor pela Iowa State University (EUA) e pelo e vem tendo preferência para cruzamentos com gado leiteiro europeu, como
Animal Research Center, do Canadá. Holandês, Jersey e Pardo Suíço, resultando em um animal mestiço rústico, fértil,
de alta conversão alimentar e produtividade de leite.
O trabalho começou em 1983 e, logo depois, a Embrapa
Gado de Leite e a Associação Brasileira dos Criadores de
O Gir é raça menos sujeita a doenças e infestações de ecto e endoparasitas do que
Gir Leiteiro (ABCGIL) lançaram o Programa Nacional de
Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL). Martinez também outras de clima temperado, exigindo menos uso de carrapaticidas, vermífugos e
coordenou estudos com marcadores genéticos, para antibióticos. Portanto, produz leite mais saudável. Como são animais resistentes e
identificar no genoma bovino características de interesse adaptados ao clima tropical, sua alimentação tem como base as pastagens, o que
econômico, como a produção de carne e leite e a resistência implica menor custo de produção.
aos carrapatos e ao estresse térmico.
128 das raças Bos Taurus e Bos Indicus. Ela nasceu oficialmente em 1996, com o surgimento
Girolando
Com área de 900 hectares, ela produz cerca de 18 mil litros de leite por dia. Dispõe de modelo
próprio de produção a pasto, empregando alta tecnologia. Com 300 hectares de pastagem
intensificada e 60 hectares de capineira e 150 hectares de milho para silagem, a fazenda consegue
Inspeção sanitária
manter 3.500 fêmeas. As vacas Girolando, na Fazenda Santa Luzia, produzem em média 4.800
kg de leite na lactação. Silveira Coelho diz que a tecnologia de produção de leite a pasto vem
Além do manejo eficiente de fêmeas em propriedades leiteiras, a atenção às condições
evoluindo muito, possibilitando alta produtividade, com oito a dez animais por hectare.
sanitárias é essencial para o crescimento do rebanho e da produção leiteira, uma exigência
Extraoficialmente, segundo Dias (2006), a raça Girolando começou a aparecer na perseguida há muito no país. No governo Getúlio Vargas, o Ministério da Agricultura criou, em
segunda metade do século XIX, principalmente nas bacias leiteiras de Minas Gerais 1952, o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, visando
e São Paulo, depois que criadores promoveram o cruzamento de animais Zebu e melhorar a qualidade do leite. Antecipando-se a isso, em 1934, o governo paulista se inspirou
Holstein, interessados em produzir leite com baixo custo. O autor acredita que existam
atualmente no Brasil, não registradas, 20 milhões de vacas Girolando produzindo leite
no Código Sanitário de Nova York para publicar o Regulamento de Fiscalização Sanitária do Leite e
e formando o maior rebanho originado desse cruzamento no mundo.
Derivados. Como resultado dessa legislação, autoridades paulistas se viram obrigadas a sacrificar
milhares de cabeças de bovinos, pois cerca de 40% do rebanho estava atacado pela tuberculose.
Pressionado pelos produtores, o governo indenizou os donos dos animais abatidos. Essa
legislação também criou a tipologia A, B e C para o leite e proibiu que os “vaqueiros” vendessem
de reprodução
fundada em 1883 por Gustaf Laval se chamava ainda AB Separator. A máquina foi
lançada na Europa em 1918, mas a primeira desembarcou no Brasil por volta de 1930.
Demorou, mas não tanto quanto se gastou para inventá-la. A primeira referência à
130 máquina que substituiria a mão do homem na ordenha do gado data de 1819, no jornal
New England Farmer. Entre 1877 e 1898, foram patenteadas 80 dessas máquinas, mas
quase nenhuma veio a ser fabricada. Já a inseminação artificial foi introduzida no país por um
2
de seus inventores, o professor inglês Christopher Polg,
Substituindo
do National Institute of Medical Specialties in Mill-Hill,
de Londres. Ele foi convidado, em 1953, pelo Ministério da
Agricultura, para fazer a primeira demonstração do processo
as mãos humanas
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e a segunda
exibição na Faculdade de Medicina Veterinária da USP
(Universidade de São Paulo). Mas o uso prático do sêmen
congelado só teve início em 1974, com o surgimento da
A primeira ordenha mecânica a ter sucesso
Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Após 3
surgiu em 1917. Foi inventada pelo neozelandês
1
Norman John Daysh, contratado pela empresa o fim do tabelamento do leite, o método foi muito usado
fundada por Laval, que morreu quatro anos para elevar a produtividade das fazendas.
antes de a máquina chegar ao mercado. Filho
de fazendeiro, Daysh partiu do princípio de
que mais importante do que dar conforto ao Em fins de 2005, cerca de 5% do rebanho leiteiro
homem era construir algo que não causasse nacional era inseminado, sendo metade das vendas
por sêmen da raça Holandesa. Dois anos depois,
incômodo à vaca. Em 1995, apenas 6% dos
o Brasil deu mais um passo na seleção genética,
produtores de leite em Minas Gerais tinham
com o primeiro transplante de embrião, feito em
adotado a ordenha mecânica, segundo Sorocaba (SP), numa fazenda do banqueiro Pedro
levantamento realizado pelo Sebrae. Dez Conde. Em Jaboticabal, também em São Paulo,
anos depois, pesquisa da Faemg mostrou que realizou-se em 1992 a primeira fertilização in
o percentual subira para 17% na média das vitro, nascendo um bezerro Zebu, apenas 14 anos
fazendas produtoras de leite, mas naquelas desde o nascimento do primeiro bebê de proveta
do mundo — Louise Brown, em 1978, na Inglaterra
com produções mais elevadas o índice
— e dez anos após o primeiro bezerro produzido
ultrapassava 80%.
por fecundação in vitro nos Estados Unidos.
Atualmente, quase metade da produção in vitro de
embriões no mundo, principalmente na pecuária
1. Ordenha mecânica: uma realidade, mas ainda pouco de corte, ocorre no Brasil.
usada nas pequenas e médias fazendas mineiras.
Ronaldo Guimarães/Arquivo Sebrae
2 e 3. Técnicas de melhoramento e seleção genética
foram introduzidas no país, aprimorando a qualidade
do rebanho nacional. Arquivo ABS Pecplan
2
Genética na Embrapa
132 Em 1998, a Embrapa apresentou o protocolo para a produção de embrião das
valor para o aperfeiçoamento da raça. Pesquisas De acordo com o professor Geraldo Carneiro, da Escola Superior de Agricultura de
de alta tecnologia às vezes levam décadas para dar Viçosa, em 1924 a produção média em Minas Gerais foi de 346 litros por vaca por ano.
resultados e, para atingir seus objetivos, a Embrapa No início da década de 1970, a produtividade do rebanho leiteiro nacional era inferior
Gado de Leite tem mantido mil animais em teste. A a 700 litros por vaca ordenhada por ano. Essa produção vinha principalmente de vacas
de raças zebuínas de baixa produtividade, de alguns nichos de gado Holandês e de
instituição foi criada três anos após o surgimento,
raças originadas do cruzamento de Holandês e Zebu.
em abril de 1973, da estatal Embrapa. Naquela época,
Produção em baixa
do Ministério da Agricultura eram graduados
134 Nacional de Pesquisa de Gado de Leite (CNPGL), que, na década de 1990 ganhou
Suporte essencial
Faria e Martins (2008) observam que o início da pesquisa científica
mais elaborada se deu após 1980. Antes, ela foi pouco eficiente
no Brasil por inexistência de pessoal treinado e capacitado
para equacionar não só ensaios experimentais, mas também os
problemas encontrados nas fazendas leiteiras.
Ao comemorar os 37 anos de existência, a Embrapa apresentou
o Balanço Social 2009, defendendo que suas atividades deram
Só em 1962 iniciaram-se no país cursos de pós-graduação com o objetivo de
lucro social de R$ 18,84 bilhões, tendo em conta os resultados de
preparar pessoal qualificado para pesquisa e ensino, e também o treinamento
104 tecnologias e 140 cultivares desenvolvidas pela empresa e
de brasileiros em cursos de mestrado e doutorado no exterior. Atualmente,
seus parceiros e transferidas para a sociedade.
várias universidades, entidades de pesquisa e empresas privadas contribuem
para a formação de pessoal capacitado e o país conta com corpo técnico
Hoje praticamente todos os pesquisadores da Embrapa têm mestrado ou
razoavelmente numeroso e de boa qualidade.
doutorado, e cerca de 70% das pesquisas públicas sobre gado de leite se
originam na estatal. A performance da Embrapa é comparada à de países
O acervo da Embrapa, em suas várias áreas, incluindo gado de corte, é
desenvolvidos, embora os investimentos brasileiros em pesquisa estejam
formado por 2.000 animais em campos de pesquisa, 2.850 hectares de terra
no nível de países do Terceiro Mundo. A instituição mantém acordos de
e 12 laboratórios, que representam investimentos de 10 milhões de dólares
cooperação técnica com meia centena de países e com mais de 150 instituições
para sua montagem. Não é preciso dizer, porém, que o maior patrimônio da
de pesquisa. O trabalho da Embrapa em relação ao melhoramento genético de
Embrapa são os recursos humanos.
bovinos e de forrageiras fez com que o Brasil se tornasse referência para países
de clima tropical. Aqui os custos de produção são dos mais baixos do mundo.
136 muito apreciado, mas ele só garante boa lactação durante três meses por ano.
Renovação
de pastagem
O capim faz a diferença Em 1977, a Embrapa Gado de Leite se tornou a primeira empresa do mundo
a cultivar napiê para formação de pastagens. Atualmente, o napiê é muito
usado como pasto de reserva para alimentação verde e para silagem.
A introdução em Minas Gerais de sementes selecionadas de capim foi mais um marco Esse capim alcança até cinco metros de altura — daí o apelido de capim
elefante. É muito nutritivo e se adapta bem a qualquer tipo de clima.
importante na pecuária leiteira. Antes, entraram no Brasil, por outros meios, vários tipos de
sementes africanas. Dias (2006) supõe que, na época da escravidão, navios negreiros tenham Cinco anos depois, a Embrapa começou a divulgar as vantagens de
transportado inadvertidamente sementes de capim-angola, marmelada, gordura e jaraguá, rotação de pastagem com naipê. Na época, a bibliografia mundial ainda
presas em cabelos, roupas e colchões dos escravos. De fato, em 1829, o viajante alemão Carl von se restringia às forragens cortadas. No ano seguinte, a Embrapa lançou
campanha nacional, com apoio da Petrobras, defendendo a adoção da cana
Martius observou capim-angola em Salvador, na Bahia, e capim-de-guiné no Rio de Janeiro.
misturada com ureia para alimentação do gado bovino.
Paulo Martins afirma que o que mais diferencia o Brasil, em termos de pecuária de
Em 1885, atuavam no Brasil empresas importadoras de sementes de capim e leite, é o capim. “O capim que existe na África, naturalmente, nós o transformamos em
leguminosas, como a grama-estrela e a alfafa, entre outras, trazidas da Guiana, Estados algo produtivo. Fizemos seleção genética com os capins e hoje temos uma produção
Unidos, Austrália e Venezuela. Oficialmente, o brachiaria decumbens entrou no Brasil altamente qualificada. E estamos exportando. Existem empresas brasileiras que estão
em 1952, quando técnicos do Instituto de Pesquisa da Amazônia, em Belém, trouxeram vendendo sementes para a África.”
sementes da Colômbia, mas sua propagação pelo país ocorreu de fato após 1965.
Os adubos minerais não eram produzidos no Brasil e só foram importados a
Hoje, existem no Brasil cerca de 110 espécies de forrageiras. São aproximadamente 70 partir do fim do século XIX, mas seu uso se intensificou em meados da década
espécies de capins e 40 tipos de ervas leguminosas. O capim nativo havia perdido o vigor de 1920. Os precursores foram os produtores de café e algodão de Campinas. Esse
natural tão admirado no passado pelos portugueses recém-chegados ao país, mas o plantio município paulista contava com polo agroindustrial importante e desenvolveu
das sementes importadas era caro e difícil, como se verifica no Manual Prático de Criação de bacia leiteira equiparada à de poucos países. Foi ali que se iniciou a produção no
Gado Bovino no Brasil, escrito em 1918, em Castro, no Paraná, por Fernand Ruffier. Brasil do leite tipo A e B.
No Brasil, estudos sobre agricultura eram feitos nas academias desde o século XVIII,
mas, em meados do século XIX, o imperador Dom Pedro II estabeleceu uma política para
modernização do setor no país, preocupado com o atraso tecnológico visto nas diferentes
regiões. Foram criados então vários institutos imperiais agrícolas, como os de Pernambuco
(1859), Sergipe (1860), do Rio de Janeiro (1860) e do Rio Grande do Sul (1861).
138
O aprendizado nas escolas
Os institutos imperiais tinha m a missão de criar escolas
agrícolas, estudar as causas d a decadência da agricultura
brasileira, introduzir máqui nas e equipamentos na
realidade dos agricultores.
Um dos marcos dessa política foi o Imperial Instituto Bahiano de Agricultura (que Até 1929, foram criadas 20 escolas de agricultura e veterinária
precedeu a Imperial Escola Agrícola da Bahia, responsável pelo primeiro curso superior de no país. Quase 80 anos depois, o último censo do Instituto
ciências agrárias do Brasil), criado em 1859, e a assemelhada Imperial Estação Agronômica Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), de 2008,
de Campinas (hoje Instituto Agronômico de Campinas, órgão da Agência Paulista de registrou 200 cursos de Agronomia, 156 de veterinária, 48 de
Espaço para as Os bons resultados obtidos pela Acar levaram o governo federal a criar, em
estatais e entidades
1956, a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (Abcar). Com
sede no Rio de Janeiro, a entidade também ganhou novo nome em 1974,
passando a se chamar Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Embrater), que durou até 1991, quando foi extinta pelo governo do ex-
pesquisa e ensino indicam que se sabia da O Sistema Brasileiro Descentralizado de Assistência Técnica e
importância da agropecuária para a economia Expansão Rural (Sibrater) foi criado em substituição à Embrater,
ainda no começo da década de 1990, e atualmente é coordenado
brasileira. Contudo, o governo demorou a criar um pela Embrapa. Tem entre seus objetivos a transferência de
tecnologia e a articulação entre as instituições geradoras de
nos Estados Unidos desde a década de 1880. A Emater-MG, porém, continuou existindo e, em 2009, contava com 2.700
funcionários, espalhados em escritórios em 805 municípios do estado.
Ainda assim, para suprir as deficiências da estatal, cooperativas passaram a
Naquele país, os resultados das pesquisas feitas em centros de
oferecer serviços de assistência técnica aos associados.
experimentação e em colégios agrícolas eram divulgados pelo
Extention Service, com demonstrações realizadas diretamente nas
fazendas. Em certas datas, reuniam-se, numa fazenda, produtores Com o tempo, também sindicatos e federações mantidos por produtores rurais se
rurais da vizinhança, para aprender a “fazer fazendo”. tornaram atuantes em extensão rural. Em 1951, surgiu a Faemg, que hoje reúne quase
400 sindicatos, que congregam mais de 400 mil pequenos, médios e grandes produtores.
No Brasil, esse serviço começou em 1948, em Minas Gerais, com A entidade integra o Sistema Sindical Patronal Rural, liderado pela Confederação da
a criação da Associação de Crédito e Assistência Rural (Acar), que Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
em 1976 passou a se chamar Emater-MG (Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais). A Faemg oferece aos sindicatos e produtores filiados diversos serviços nas áreas
jurídica, econômica, sindical, contábil e ambiental. Seu trabalho é subsidiado por
comissões técnicas, formadas por produtores representativos de cada setor.
Instituto
146 Cândido Tostes
A primeira instituição especializada no ensino de
2
laticínios da América do Sul foi criada oficialmente
Ao lado do esforço governamental e de entidades ligadas aos produtores
em 1935, em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Seu nome
na área de extensão rural, a iniciativa privada teve papel importante na homenageia o maior produtor mineiro de café no
evolução da produção de leite no país. começo do século XX, Cândido Teixeira Tostes.
O leite como prioridade Foi no Cândido Tostes que surgiu o Queijo Minas
padrão, além de adaptações para a fabricação
Em setembro de 1956, a Lei 1.476 mudou o nome de queijos gorgonzola (Queijo Azul de Minas),
da escola para Instituto de Laticínios Cândido Camembert, Saint Paulin, Morbier, entre outros; e
Tostes, integrado à estrutura da Secretaria de de queijos de leite de cabra, como o chabichou. Ali é
151
funcionar, a partir de 1976, o Centro de
Organização e Assistência Laticinista
Ltda. (Coal), fundado pela primeira
laticinista brasileira, Pautilha
Alguns espinhos
Guimarães de Carvalho, que vive em
Juiz de Fora.
Nascida na Fazenda Estrela do Norte, em Bocaina de Minas, na Zona da Mata, A equipe ainda está em formação, com a maioria fazendo
ela estudou química no Rio de Janeiro. Em 1948, fez o curso de especialização em cursos de mestrado ou doutorado. Todos os pesquisadores
laticínios do Cândido Tostes e se tornou gerente do laticínio do pai, o Estrela do também dão aulas no Cândido Tostes. O instituto faz pesquisa
Norte. Na década de 1950, Pautilha foi cursar doutorado nos Estados Unidos, um aplicada, demandada por outras instituições ou empresas de
feito raro entre as mulheres naqueles anos. laticínios que precisam resolver algum problema específico em
equipamentos ou na fabricação de queijos.
Como técnica especialista em laticínios do Escritório Técnico
de Agricultura Brasil-Estados Unidos (ETA), criado pela
Aliança para o Progresso (Usaid), ela percorreu o Brasil,
avaliando as condições para instalação de novos laticínios e
treinando extensionistas para assessorar pequenos produtores
de queijo na zona rural.
4
É um fórum privilegiado para apresentação de
pesquisas e debates, que recebe participantes
de vários países do mundo. Ao mesmo tempo,
são realizadas a Exposição de Máquinas,
Equipamentos, Embalagens e Insumos para
A máquina em funcionamento
Laticínios, a Exposição de Produtos Lácteos e o
Concurso Nacional de Produtos Lácteos. Em 2011 o Cândido Tostes deverá processar em seus laboratórios cerca
de 8.000 litros de leite por dia, em modernos laboratórios que foram
reformados e ampliados no final da década — juntamente com outras
unidades da instituição —, tornando-se não o maior, mas certamente o
mais moderno laticínio mineiro.
2
mostra que os problemas estruturais encontrados são muitos: 35% dos rebanhos são
constituídos por vacas, e somente 23,7% delas produziam leite, enquanto 28,4% são
155
machos destinados à venda como animais de corte ou para reprodução.
Passado rico e
futuro próspero
O chamado rebanho leiteiro é muito grande para uma produção
pequena. A lotação média de 1,24 cabeça por hectare exige áreas e
investimentos grandes em infraestrutura. As fazendas com produção
acima de 500 litros por dia mantêm mais de três animais improdutivos
para cada vaca que produz leite durante o ano.
Lançado em 1997 pelo Sebrae-MG, para a cadeia produtiva do leite, o projeto obteve
1
2
160
agroindústria
planejamento, reduzindo as incertezas em torno do negócio. O presidente
do Sebrae-MG, Roberto Simões, acredita que o sucesso do Educampo está em
seu formato, por apostar, ao longo dos anos, que o atendimento a programas
coletivos oferece mais resultados do que o individual.
O modelo adotado é o de consultoria gerencial e técnica intensiva, para grupos de
Empreendedores
164 nas fazendas
Dinâmico, o Educampo se adapta às características dos grupos e
fazendas que são tratadas como únicas. O produtor aumenta sua renda e recupera,
e empregos para o país. Em parte, o programa Balde Cheio pode ser assim definido.
167
transferência de tecnologia aos técnicos extensionistas, de entidades públicas ou
1
171
Baixo custo e
Mas o mesmo produtor acabou se convencendo de que poderia passar seis meses
limpando curral de vizinhos a troco do esterco e, com isso, criar condições para
adubar meio hectare de pastagem com cinco quilos de esterco de curral por
grandes resultados
metro quadrado, para substituir toda a adubação inicial de correção da área. O
importante é que a área serviu para que o produtor aprendesse como manejar sua
pastagem, enfrentando os problemas financeiros de uma outra maneira.
Os conceitos do Balde Cheio são os mesmos, mas o técnico precisa encarar cada
Em Minas Gerais, o coordenador do programa, contratado pela Faemg, é o engenheiro
propriedade como se fosse única, levando tecnologias aplicáveis de acordo
agrônomo Walter Miguel Ribeiro, um discípulo de Chinelato. Ele explica que o trabalho
com a condição financeira do proprietário. “Se o dono de pequena propriedade
começa pela recuperação da auto-estima dos produtores, que geralmente é muito
consegue bons resultados com pouco dinheiro, passa a servir de exemplo a
baixa pelos inúmeros problemas enfrentados na atividade.
outros, bem mais do que aqueles que investiram muito dinheiro para tornar
uma grande fazenda mais produtiva”, ressalta o coordenador em Minas Gerais.
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