Revista de Portugal
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MAGALHÂES
IN MEMORIAM
PORTUCALE
SUEVOS
SORRISOS
ANTÓNIO SÉRGIO
SILÊNCIO DE EÇA
FRÉDÉRIC SPTIZER
TÚMULO DE NEFERTARI
VERDEMILHO
BIBLIOGRAFIA 2018
ATIVIDADES 2018
Revista de Portugal
Anual, n.º 16, novembro de 2019
Registo ICS 124625
Redação:
Solar Condes de Resende
Travessa Condes de Resende, 110
4410-264 CANELAS VNGaia
Portugal
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Conselho consultivo:
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Fernando Manuel P. J. Silva; Francisco Ribeiro da Silva; João de Castro de Mendia (Conde de Resende);
José Rentes de Carvalho; Nassalete Miranda e Ricardo Charters d’Azevedo
Capa:
"A Arte é um Resumo da Natureza feita pela Imaginação. Eça de Queirós"; Quadro de Adias Machado, 2013; na lateral esquerda
tem a seguinte legenda. "Oferta da Confraria do Abade de Priscos à Confraria Queirosiana / Do Grão-mestre para o patrono"
Poveiros 23-11-2013; fotografia de Ana Isabel Ferreira
Impressão e acabamento:
URBIFACE – Meios Publicitários, Lda.
Edifício Intercontinental Trade Center
Avenida da Boavista, 1588 – 2.º – Sala 304 – 4100-115 Porto
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EDITORIAL
Desde o século XIX que Portugal entende comemorar algumas figuras e feitos importantes da sua His-
tória, nomeando comissões para o efeito que se obrigam à execução de programas com três valências: fes-
tividades populares; debates científicos; lições políticas. Pretende-se com estas comemorações avivar nos
Portugueses o conhecimento da sua identidade e mostrá-la à comunidade internacional, perpetuando-a
no tempo e, – talvez o mais importante em termos de futuro – incentivar uma revisitação profissional da
biografia das figuras marcantes e dos referidos feitos, não só para aumentar a sua credibilidade, expurgan-
do-os de adjacências espúrias, como procurando dar-lhes um outro brilho que o avanço das ciências per-
mite. Com algumas outras pelo meio, foi assim com as Comemorações Camonianas (1880), as do Caminho
Marítimo para a Índia (1889); o 5.º Centenário do Infante D. Henrique (1894); já no século XX, a Exposição
Colonial (no Porto em 1934), os Centenários de 1940, os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renas-
cimento (1983), a Expo 98 e agora o 5.º Centenário da Viagem de Fernão de Magalhães.
Mas nem sempre os objetivos iniciais foram alcançados: em 1898 Eça de Queirós viu assim as Come-
morações realizadas em Lisboa: «Imensas multidões – dizem que vieram da província mais de cem mil pes-
soas. Ainda apanhei o cortejo cívico, que não tinha civismo nenhum, e onde apenas ofereciam interesse,
um bando de pretos de Moçambique, e, atrás do carro da Agricultura (perfeitamente ridículo), um grande
esquadrão de Campinos do Ribatejo de uma incomparável beleza. Entusiasmo nenhum – o povo ainda
não percebeu quem era este Vasco da Gama. Aqui no Rossio, o Cortejo passou num silêncio glacial, quase
sombrio, um silêncio de 30 mil pessoas.» (Eça de Queirós, Correspondência, 20-05-1898).
No que diz respeito às comemorações magalhânicas, o atual governo encarregou de tal uma comissão.
O mínimo que dela se espera é que faça com que os mais recentes estudos cheguem ao público ou que
este se importe com eles, contribuindo assim para que cesse a alusão a enganosos equívocos em volta do
navegador e que efetivamente se avance num maior conhecimento do feito, até porque, com comissão ou
sem ela, a comunidade científica irá certamente continuar a produzi-los. A atualização desse conhecimen-
to, mesmo em obras de divulgação, está em marcha: já na obra Le Voyage de Magellan 1519-1522. La relation
d’Antonio Pigafetta du premier voyage autour du monde. Paris: Chandeigne, 2017, Michel Chandeigne, um
divulgador da cultura portuguesa, tinha alertado para o que NÃO era lícito comemorar a propósito dos 500
anos desta viagem (tradução e adaptação nossa, pág.s 6-8): que antes dela «toda a gente» julgava que a
Terra era plana, ou seja, não redonda; que o navegador tinha proposto o seu projeto a D. Manuel antes de
o propor a Carlos V; que importa que o navegador não fez a circum-navegação completa, mas apenas até
ao arquipélago das (depois chamadas) Filipinas, onde foi morto (A restante parte da «volta ao mundo», ou
seja, entre as Filipinas e Lisboa, já a tinha feito no sentido inverso, de Ocidente para Oriente, anos antes);
que dos 237 homens que partiram, 91 sobreviveram e voltaram à Europa, e não quaisquer outros números
que por aí andam; que o navegador atravessou o Pacífico «às cegas», porque na realidade já conhecia a
sua dimensão pela cartografia portuguesa anterior à viagem; que esta travessia não foi uma «hecatombe»,
pelo contrário; que o móbil da viagem (chegar às Molucas por Ocidente e confirmar a sua localização no
hemisfério «espanhol»), não seria garantido pelo lucro das especiarias aí produzidas, pois o seu comércio,
no imediato, não cobriria o investimento feito.
Este autor refere estes e outros erros comuns em obras publicadas sobre o navegador e a viagem des-
de, pelo menos desde 1864 pelo chileno Barros Araña, passando por Alderley (1874), Zweig (1938), a que
poderíamos juntar Roditi (1989) e muitos outros autores não profissionais da História, mais antigos ou
mais recentes, muitos deles fazendo eco da fake new do seu pretenso nascimento em Sabrosa ou, mais
recentemente, de uma outra invenção que lhe quer dar o berço em Ponte da Barca. Nesta obra que vimos a
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citar, procura-se expurgar o erro da menção de Sabrosa, «tirada de documentos falsificados aparecidos no
século XIX» (p. 10, trad.) mas, como foi escrita antes de 2017, não cita ainda os mais recentes textos dos his-
toriadores Amândio Barros («Vila Nova de Gaia. Os Forais, o Rio e o Mar», in O Foral Manuelino de Vila Nova
de Gaya 1518-2018. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal, 2018), onde na página 58 se lê «Magalhães
que,
de resto, teve fortíssimas ligações a Gaia e ao Porto, correndo teoria acerca do seu nascimento num destes
locais»; e de Rui Manuel Loureiro (Em demanda da Biblioteca de Fernão de Magalhães. Lisboa: Biblioteca
Nacional de Portugal, 2019), onde na página 17 escreveu: «Fernão de Magalhães terá nascido na região
do Porto, na margem sul do rio Douro, como sugerem alguns documentos de arquivo
Dois testemunhos
portugueses um pouco mais tardios confirmam esta hipótese». As hipóteses Porto (aliás já anteriormente
assimilada por muitos historiadores portugueses), e Vila Nova de Gaia, são assim reequacionadas com base
em documentos autógrafos do navegador, ganhando esta última uma cada vez maior consistência. Não é
esta uma questão menor nem a sua clarificação pode ser encarada como a afirmação de qualquer bairris-
mo bacoco, mas sim a procura da verdade histórica que proporcione uma mais correta interpretação da
sua vida e feitos, nomeadamente sobre o ambiente portuário em que foi criado, a formação intelectual que
teve, e quem o levou para a Corte e aí o protegeu na sua carreira de mareante.
São pois hoje completamente ridículas as fantasias artísticas (literárias e materializadas em escultura,
pintura ou desenho
ou em rótulos de garrafas de Vinho do Porto) de um menino a brincar com barquinhos
nas águas do Alto Douro e a sonhar com a travessia do Pacífico distante, ou outras que tais. Vamos vendo
em concursos escolares e recreações lúdicas, publicadas em jornais ou exibidas em exposições e vídeo-
-filmes, várias imagens antigas ou agora criadas, a quererem representar o navegador em atos ou ações
em que nunca esteve, a atribuir-lhe feitos que nunca fez, ou ideias que nunca teve, em total desacordo
com a História. Alguns artistas gráficos atuais mostram nos seus desenhos que sobre a sua vida só sabem
o que leram em textos que propagam as tais fake news, ou, no mínimo, interpretações erradas sobre a sua
missão, já desacreditadas pelos historiadores. Não me venham com o falacioso argumento da liberdade
de criação, pois a liberdade é irmã gémea da verdade, não da mentira. E os artistas, como quaisquer ou-
tros profissionais que se querem credíveis e úteis à sociedade que lhes paga o salário ou as encomendas,
devem informar-se e estudar as matérias sobre as quais querem exercer a sua arte, pois em arte não «vale
tudo» para gozo dos papalvos. Quanto às exposições bibliográficas e documentais sobre Fernão de Maga-
lhães elas poderão ser interessantes se forem acompanhadas de algum aparato cronológico e crítico, pois
não tem qualquer valor pedagógico meter na mesma vitrina obras sérias de historiadores profissionais ao
lado de desbragadas fantasias de literatos locais escritas para satisfazer clientelas paroquiais ou mesmo
nacionais cujos interesses não são consentâneos com a verdade histórica.
Por isso nos dias de hoje, para além das multidões, dos cortejos, dos carros alegóricos, da falta de en-
tusiasmo e dos silêncios glaciais e sombrios, estas comemorações dos 500 anos da viagem de Fernão de
Magalhães deverão servir para uma renovada abordagem histórica da figura e do feito, um efetivo salto
qualitativo na historiografia nacional e, já agora, também do incremento da fraternidade entre os povos
que, pelas mais diversas razões, se conheceram nesta aventura humana protagonizada por um português
nascido e crescido nas margens do Douro perto da sua entrada no Atlântico.
J. A. Gonçalves Guimarães
Diretor-adjunto
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Revista de Portugal: Estatuto editorial
1. A Revista de Portugal é o boletim cultural dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana e a sua publicação tem por objetivos os consignados nos Estatutos da associação nos arti-
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em Comissão Especial prevista no Art.º 43 dos Estatutos, com o nome de Comissão da Revista, adiante
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atos serem sancionados por aquele órgão, sob risco de nulidade.
4. A CR deverá dar preferência à colaboração científica, literária e artística dos sócios, tendo em conta
os objetivos dos ASCR-CQ e um rigoroso critério de qualidade.
5. A colaboração não solicitada, desde que aceite, será gratuita; a colaboração encomendada será
remunerada, de acordo com as propostas da CR e das disponibilidades financeiras dos ASCR-CQ.
6. Os originais entregues (texto e imagens) para publicação deverão ser propriedade integral dos res-
petivos autores e obedecer aos princípios consignados na Lei dos Direitos de Autor e Direitos Conexos
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7. Os originais devem ser dirigidos aos ASCR-CQ em nome de Revista de Portugal, ou ao seu diretor,
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sentante, conforme os casos e o contrato celebrado.
8. Todos os originais serão devolvidos aos respetivos autores.
9. A Revista de Portugal é gratuita para os sócios e confrades.
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IN MEMORIAN
Alexandre Franco Rufo nasceu em Santa Marta de Portuzelo, Viana
do Castelo, a 24 de julho de 1939. Ainda criança mudou-se para a cidade
do Porto, onde veio a desenvolver a sua atividade profissional como pin-
tor de construção civil na empresa Soares da Costa, tendo chegado a en-
carregado. Mais tarde trabalhou por conta própria dedicando-se à reabili-
tação de mobiliário antigo, lacagens, patines, dourados e outros.
Desde novo que cultivou o gosto pela arte, mas foi durante os anos em
que viveu na ilha da Madeira que se dedicou assiduamente à pintura em
acrílico e depois a óleo. Nunca frequentou aulas e por isso se considerava
um autodidata, tendo pintado numerosas obras. Participou vários anos no
Salon d’Automne queirosiano, exposição anual organizada pela Confraria
Queirosiana no Solar Condes de Resende.
Tendo falecido no dia 31 de dezembro de 2016, a sua memória aqui
permanecerá através de uma obra sua oferecida por sua viúva a esta as-
sociação.
Gabinete Português de Leitura ao qual presidiu entre 1992 e 2016. Foi ainda presidente da Federação
das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras; da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de
Socorros D. Pedro V; do Liceu Literário Português; da Real Sociedade Clube Ginástico Português, entre
outras instituições.
Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, foi condecorado com a Ordem do Rio Branco – grau
de Comendador, a que acrescentou a Ordem do Mérito Naval, a Ordem do Mérito Aeronáutico e a Ordem
do Mérito Militar. Era igualmente Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique e também possuidor
da Grã-Cruz das Ordens do Mérito Agrícola e Industrial (Portugal), entre outras condecorações.
Foi convidado para estar presente no capítulo anual da Confraria Queirosiana a 24 de novembro de
2012, mas devido à sua avançada idade tal não chegou a acontecer, contudo foi proclamado confrade
honorário, grau mecenas, distinção que recebeu «com muita honra e alegria... [desejando] estreitar laços
de cooperação entre o Real Gabinete Português de Leitura e a Confraria Queirosiana», conforme então
escreveu. Faleceu a 9 de maio de 2017.
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José Alberto Querido Loureiro nasceu na freguesia das Alhadas, con-
celho da Figueira da Foz, a 21 de março de 1940. Ainda a finalizar o curso
na Escola Industrial da Figueira da Foz, em 1956, respondeu a um anúncio
da Séculoheron Portuguesa, S. A. (actual Sepsa), iniciando assim aos 17
anos a sua vida profissional no Porto, como desenhador de ferramentas
especiais. Em 1960 colaborou no projecto de condutas forçadas e do cim-
bre metálico da ponte da Arrábida.
A 15 de Maio de 1961 casou-se, pelo registo civil, com Filomena Edite
Pinto Serra Loureiro, com a qual teve três filhos.
A sua atividade profissional sofreu um interregno entre 1961 e 1964
para cumprir o serviço militar obrigatório. Quando passou à disponibili-
dade foi convidado para ser sócio da Metalúrgica F. Moucho, Ld.ª. Nesta
empresa trabalhou para a Shell, BP, Mobil, L’Air Liquide, Sandeman, Fer-
mentos Holandeses, Hoechst, Foster Wheeler Française, Badger, Cristian
& Nielsen e a SNAN-Progetti.
A 21 de julho de 1969 partiu para Cabo Verde, onde dirigiu vários projetos para a Shell, e em 1970 foi para
Paris para estudar a palatização das garrafas de gás para uso doméstico. Em 1971 regressa novamente a Paris
para negociar com a Foster trabalhos para a refinaria do Porto. Em janeiro de 1974 é convidado para ingressar na
empresa Soares da Costa. Em março de 1981 foi nomeado director da empresa de metalomecânica Socometal.
Em janeiro de 1987 interrompeu a colaboração com a Socometal e enveredou pela profissão liberal de
consultadoria, regressando mais tarde ao Grupo Soares da Costa como adjunto do novo chefe-executivo.
Em janeiro de 1995 é nomeado administrador-delegado da Socometal. Após 43 anos de intensa actividade
profissional, em outubro de 2000 achou por bem retirar-se.
Ao longo da vida fez vários cursos oficiais e livres, quer os diretamente relacionados com o exercício da
sua profissão, quer com a sua insaciável curiosidade intelectual. Assim, para além do curso de Electrotecnia
e Máquinas no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), que em 1973 lhe deu o título de engenhei-
ro técnico, equiparado a bacharel de Engenharia, em 1979 concluiu a licenciatura em Engenharia Mecânica
na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Concluiu também um curso de Gestão In-
tegrada (A.I.C.O.P.N), um outro de Informática para Gestão da Produção promovido pela AIP e um outro de
Operador de Gestão Industrial no Cesai (Centro de Formação Profissional de Informática). Em paralelo com
a sua atividade profissional, foi assistente do curso de Línguas e Literatura Espanholas, no Colégio Oficial
Español de Oporto em 1958, e em 1960 concluiu o curso de francês prático, no Instituto Francês do Porto.
Em 2000-2002 frequentou o curso de inglês do American Language Center. Foi frequentador assíduo dos
cursos livres organizados pela Academia Eça de Queirós no Solar Condes de Resende.
Como profissional de Engenharia nas diversas empresas onde trabalhou em projetos de grande exi-
gência técnica nunca descurou a parte humana e social, o que o levou à criação de cantinas, gabinetes
médicos e outras formas de apoio e valorização profissional dos trabalhadores, promovendo encontros de
convívio lúdico entre os seus colaboradores. Quando se reformou os seus interesses continuaram a girar
em volta da matemática e da eletrónica, mas também da pintura, lógica, literatura, história, cinema e reli-
gião, além da vitivinicultura e da vela, onde em 2002 acedeu à categoria de patrão de costa.
Foi sócio e participou nas atividades de diversas agremiações, como o Sindicato dos Engenheiros Téc-
nicos e a Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN), na qual foi eleito como secretário da mesa para
os triénios 2004-2007 e 2007-2010. Foi também sócio do Automóvel Clube de Portugal, do Real Clube
Clube Fluvial Portuense, colaborou com o Abrigo Nossa Senhora da Esperança e a Liga Portuguesa Contra
o Cancro; foi sócio da Árvore – Cooperativa de actividades artísticas, CRL; e dos Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana.
De índole discreta e por natureza avesso a manifestações que envolvessem a sua pessoa, mesmo as-
sim algumas das instituições de que fez parte reconheceram publicamente a sua colaboração: em 2010,
o conselho diretivo nacional da Ordem dos Engenheiros outorgou-lhe o nível de qualificação profissional
de membro sénior como «reconhecimento da Ordem pela competência e maturidade demonstradas no
exercício da profissão, em trabalhos de Engenharia, na área técnica ou científica».
Faleceu a 20 de julho de 2018, vítima de doença prolongada, aos 78 anos de idade.
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O NOME E OS LUGARES DE PORTUCALE
Jorge de Alarcão
Professor catedrático (aposentado) do Instituto de Arqueologia
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
A localização de Cale foi durante muito tempo cimo Júnio Bruto; e porque os Callaeci foram o pri-
discutida, oscilando as opiniões entre a cidade do meiro povo que o cônsul defrontou depois de ter
Porto e a de Vila Nova de Gaia (CORREIA, 1932; SIL- atravessado o Douro, o nome de Callaecia terá sido
VA, 2010: 217-220, com bom resumo do debate en- estendido pelos Romanos a uma vasta região do
tre as décadas de 1930 e 1970). Hoje, graças a mui- Noroeste que era ocupada por muitos outros populi
tas intervenções arqueológicas realizadas na cidade (TRANOY, 1981: 65-66).
do Porto desde a década de 1980 (SILVA, 1994: 66- Cale terá sido tomada por Perpena. A referên-
105; SILVA, 2010, com inventário exaustivo actuali- cia a esta expedição do lugar-tenente de Sertório
zado até à data da publicação), não há dúvida de encontrar-se-ia num texto de Salústio, infelizmen-
que a Cale romana corresponde à cidade do Porto. te perdido e que só conhecemos indirectamente
O morro da Sé do Porto, ocupado desde o Bron- através de um comentário de Sérvio, gramático do
ze Final, foi o núcleo originário de Cale. Circunscre- século IV, que escreveu: «Cale civitas... est enim in
via-o uma muralha já na Idade do Ferro – muralha Gallaecia, quam Sallustius captam a Perpenna com-
que terá sido refeita no século I d. C. e, depois, nos memorat» (VASCONCELOS, 1905: 29, nota 7; COR-
fins do século III ou nos inícios do IV, talvez sem que REIA, 1932: 23; SILVA, 1994: 82).
essas reconstruções se tenham desviado muito do Cale foi, no século I d. C., elevada à categoria
primeiro traçado (SILVA, 2010-2011). político-administrativa de capital de civitas. Como
A povoação seria, nos finais do século II a. C., o tal, teve seguramente seu forum. Parece razoável
lugar principal de um dos populi do Noroeste pe- supor que se situaria na área da Sé. O morro era, to-
ninsular: o dos Callaeci. Por aqui terá passado Dé- davia, acanhado. O desenvolvimento urbano ter-se-
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-á feito para a zona ribeirinha entre dois pequenos cais da margem oposta ficaria na Ribeira, junto da
cursos de água que hoje não são perceptíveis, mas confluência do antigo rio da Vila. Daqui partiria o
na Idade Média se chamavam rio da Vila e rio Frio. caminho que, seguindo as actuais ruas dos Merca-
Foi aqui, aliás, que se descobriram os restos da úni- dores e da Banharia, contornava o morro da Sé e
ca domus (com mosaicos) até agora identificada na iria entroncar na via que saía do oppidum de Cale
cidade (TEIXEIRA e DORDIO, 2000). para Norte. No antigo aljube da rua de S. Sebastião
Na margem esquerda do Douro situava-se um foram recolhidos muitos fragmentos de ânforas
outro povoado que, como o de Cale, teve origem no (MORAIS, 2013: 105-107). Podemos supor que a
Bronze Final. Ficava num morro sobranceiro ao rio – área, fora de muralhas, era vazadouro de ânforas
morro que ainda hoje é conhecido como Castelo de que, chegadas à cidade e esvaziadas, eram atira-
Gaia, apesar de não sobreviverem vestígios do cas- das para essa lixeira.
telo que aí terá surgido na Idade Média. A ocupação O cais do lado de Cale ficaria ligeiramente a
da Idade do Ferro, romana e suevo-visigótica do montante do cais da margem esquerda do Douro.
local está atestada (GUIMARÃES, 1989 e 1995; CAR- As barcas de passagem seguiriam um percurso li-
VALHO e FORTUNA, 2000; GUIMARÃES, 2000: 159; geiramente oblíquo. A travessia seria facilitada se
CARVALHO, 2003; GUIMARÃES, 2017; SILVA, 2017; se aproveitasse a maré enchente para passar da
SILVA, MORAIS, PINA-BURÓN e DE LA TORRE, 2018). margem sul à margem norte e se, pelo contrário,
Nunca o sítio foi abandonado, e devemos conside- se esperasse a vazante para se atravessar de Cale à
rá-lo como um dos pólos geradores da cidade de margem oposta.
Vila Nova de Gaia. Na sua origem, portus Cale seria o nome daque-
Não é fácil reconstituir, na actual área urbana le troço do rio onde fundeavam as embarcações, se
de Vila Nova de Gaia, o percurso da estrada romana faziam cargas e descargas e se passava de uma a
que, vinda do Sul, alcançava o Douro (MATOS, 1937; outra margem. Em escavações recentes e ainda não
MANTAS, 1996: 831-832; MANTAS, 2012: 198-199). publicamente divulgadas foi identificado junto do
Parece difícil fazê-la passar pelos pontos altos rio, na margem esquerda, um edifício que serviu de
de Santo Ovídio (157 m) ou de Coimbrões (129 m). armazém e se deve atribuir aos finais do século I a.
Num caso ou no outro, teria demasiado declive até C. ou aos inícios do I d. C.
ao rio – a menos que descesse em lacetes pela en- A palavra portus, «porto», como tem sido recor-
costa. A passagem entre Santo Ovídio e Coimbrões dado por muitos autores, não significava apenas
resolveria a questão do declive. Se o percurso pela fundeadouro e lugar de embarque e desembarque
rua Direita de Vila Nova de Gaia parece lógico, não de mercadorias e de passageiros, mas tinha tam-
nos devemos esquecer que Armando de Matos bém o sentido de “lugar de passagem”.
(1937: 23) atribuiu a sua abertura ao fim do século. Talvez este tenha sido mesmo o sentido pri-
XVII. Terá o autor razão? Ou nessa data foi apenas meiro, pois o termo indo-europeu *pr-tu significa-
melhorada uma antiquíssima via? Gonçalves Gui- va «ponto de passagem» (PRÓSPER, 2002: 274). O
marães (2017: 70) considera a rua Direita como me- sentido original ainda se conserva na toponímia
dieval, alargada no século XIX. portuguesa em Porto Alto, Porto Carreiro, Porto da
Um miliário de Caracala encontrado (mas des- Estrada... São múltiplas as atestações – e mais ainda
contextualizado) no lugar de Tartomil, na foz do rio as do seu diminutivo Portela.
Valverde, na freguesia de Valadares (LEITE, BEITES e Podemos perguntar-nos se esse troço do rio se
COELHO, 2012-2013), complica a restituição da rede chamava Portus Cale ou Portus Calis. A palavra Cale
viária no actual concelho de Vila Nova de Gaia. Aca- podia ser flexionável – e no Itinerário de Antonino te-
so a estrada principal, correndo pela actual fregue- mos o acusativo Calem. Nada impede que se admi-
sia de Valadares, ia direita ao povoado do Castelo de ta um genitivo Calis. A verdade é que não o temos
Gaia? Ou trata-se de um percurso alternativo, sem atestado. Talvez se falasse de Portus Cale e não se
prejuízo de uma outra via que poderia passar entre usasse a designação Portus Calis.
Santo Ovídio e Coimbrões? Na margem esquerda do rio, junto do cais, de-
Seja como for, a estrada devia alcançar o rio vemos presumir a emergência de um povoado que,
Douro sensivelmente num ponto ligeiramente a de pequeno, se pode ter tornado relevante. Haveria
ocidente da igreja de Santa Marinha. Aí havia cer- aí armazéns, tabernae, uma estalagem, as casas dos
tamente um cais de embarque e desembarque. O barqueiros e dos estivadores. Talvez este lado fosse
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também o mais adequado à instalação de estaleiros o mais antigo dos quais data do século XIII. Ficamos
onde se construíssem e reparassem embarcações. sem saber quando, exactamente, se fez a versão lati-
Perto da povoação do Castelo de Gaia, este núcleo na: em algum tempo entre os séculos VII e XIII.
seria distinto (ainda que, eventualmente, não tives- A forma (românica) Ceno deixa supor uma for-
se administração autónoma). ma latina Caenum. Porque o nome pessoal Caeno
Se o cais da margem direita servia Cale e as povoa- também surge com a forma Caino na epigrafia ro-
ções a Norte, o da margem esquerda servia uma vasta mana da Lusitânia (Atlas Antroponímico), podemos
região a sul. Só em Cacia, na foz do Vouga, havia, na admitir Cainum.
época romana, outro porto, na civitas de Talabriga. Caenum ou Cainum seria o nome do povoado
O povoado ribeirinho da margem esquerda te- do Castelo de Gaia? Ou o do povoado junto do cais?
ria nome próprio e diferente do do Castelo de Gaia? Ou ambos partilhavam o mesmo nome?
Neste caso, que nome seria o seu? E que nome teria Escrita no século VII, a Chorographia do Anóni-
a povoação do Castelo de Gaia? mo de Ravena não é obra que possa considerar-se
No Itinerário de Antonino não se regista esta pa- actualizada para a época. O autor forrageou em coro-
ragem. Estará ela mencionada na Chorographia do grafias, mapas ou roteiros muito mais antigos, desig-
Anónimo de Ravena, roteiro atribuído ao século VII nadamente no Itinerário de Antonino (onde, porém,
(ROLDÁN HERVÁS, 1973: 111)? como dissemos, não se encontra menção de Ceno).
Neste texto lemos a seguinte sequência: Olisi- Podemos admitir que no século VII o nome já se ti-
pona, Terebrica, Langobrica, Cenoopi docalo, Augus- nha perdido e que o Anónimo o encontrou em qual-
ta Bracaria. quer fonte bem mais antiga. A antiga Ceno podia ter,
no século VII, outro nome. Ou, na hipótese contrária:
Cenoopi docalo tem sido restituído como Ceno,
Ceno seria, no século VII, o nome de um povoado
opido Calo ou Ceno opido, Calo.
que em séculos anteriores teria tido outro nome?
Não deixa de surpreender-nos que o Anónimo
Poderá o nome Ceno ter sido transferido para
de Ravena omita Scallabis, Sellium, Conimbriga, Ae-
outro lugar?
minium e Talabriga, localidades todas elas impor-
tantes na estrada de Olisipo a Bracara Augusta. Em 1035, o mosteiro de Leça recebeu parte de
uma «...piscaria que est in Durio quam vocitant Cau-
Langobriga ficaria no Monte Redondo ou Mon-
num inter Villar et Lauridello» (LP 184). Vilar e Lordelo
te de Santa Maria (Fiães, Vila da Feira) (ALMEIDA e
são identificáveis na actual área urbana do Porto.
SANTOS, 1971; MANTAS, 1996: 640-645; MANTAS,
2012: 197-198). Ceno tem de situar-se, pois, entre a De Caeno ou Ceno não podemos derivar Cau-
Vila da Feira e o Porto. num; mas, na hipótese de Cainum, a evolução Cai-
num > Caunum já seria admissível. Se o povoado da
Ora nesse troço de estrada não temos indício de
margem esquerda se chamou Cainum, terá o nome
povoação relevante que merecesse referência a não
emigrado para a margem direita? Isto é mais do que
ser na margem esquerda do Douro. Não nos parece
incerto, se bem que migrações toponímicas se en-
que Ceno possa identificar-se com o castro do Mon-
contrem atestadas.
te Murado (SILVA, 1983 e 2015). A distância a que
este se acha do Monte de Santa Maria é de cerca de Chegados a este ponto, podemos concluir:
12 milhas. Isso justificaria uma mutatio. Um roteiro 1 – Na época romana, na margem esquerda do
que omite Scallabis, Sellium, Conimbriga, Aeminium rio Douro e na actual área urbana de Vila Nova de
e Talabriga mencionaria uma simples mutatio? Gaia haveria uma povoação no Castelo de Gaia e ou-
Tudo nos inclina a localizarmos Ceno na área de tro aglomerado mesmo junto do rio, com seu cais.
Vila Nova de Gaia. Mas seria o povoado do Castelo 2 – Não sabemos se partilhavam o mesmo
de Gaia ou a povoação ribeirinha onde se fazia a tra- nome.
vessia do Douro? 3 – É possível, mas não seguro, que Caenum ou
A Chorographia do Anónimo de Ravena, onde se Cainum fosse o nome de uma dessas povoações (ou
encontra a única atestação do nome Ceno, põe-nos das duas, se acaso tinham o mesmo nome).
numerosos problemas. Terá sido escrita, em grego, No século. VI, Portucale era nome comum à ci-
no século VII. Em data incerta terá sido feita uma tra- dade do Porto e à povoação situada no Castelo de
dução (ou transcrição) para latim. Perdido o original, Gaia. A ocupação desta na época suevo-visigótica
não dispomos senão de manuscritos da versão latina, está, como dissemos, arqueologicamente atestada.
10
O Parochiale Suevum documenta uma reorga- Dado o sentido do adjectivo antiquus, o nome
nização do mapa eclesiástico feita sob a égide de de «Portucale castrum antiquum» para a povoação
S. Martinho de Dume entre 569 e 572 (ALARCÃO, da margem esquerda parece dever entender-se no
2015: 36). sentido de que o nome de Portucale foi primeira-
Nele lê-se: mente dado a essa povoação antes de ser atribuí-
do também ao Porto. O nome de castrum, por ou-
«Ad sedem Portugalensem in castro novo» – e
tro lado, inclina-nos a supor que a ecclesia ficava
seguem-se as ecclesiae ou «paróquias» que integra-
no Castelo de Gaia. Seria a igreja supostamente
vam a diocese.
identificada no sítio da capela do Bom Jesus ou da
«Ad Conimbricensem» – seguem-se as respec- Senhora da Bonança (GUIMARÃES, 1989 e 1995:
tivas ecclesiae, terminando com «Portucale castrum 123-139 e 175-183).
antiquum».
Neste caso, nos finais do século VI, a povoação
Havia, pois, c. 572, duas localidades com o nome do Castelo de Gaia, se em algum tempo se chamou
de Portucale: uma era a antiga Cale, isto é, a cidade Caenum ou Cainum, chamar-se-ia então Portucale.
do Porto; outra ficava na área urbana de Vila Nova A Ceno do Anónimo de Ravena poderia ser a povoa-
de Gaia. Esta última pertencia à sé de Conimbriga, ção junto do rio, onde se fazia a travessia?
porque era o rio Douro que servia de limite às dio-
Não podemos deixar de examinar agora o teste-
ceses portucalense e conimbricense.
munho da Crónica de Idácio.
Não é forçoso pensar que havia um Portuca-
Segundo este, em 456, Teodorico, rei dos Vi-
le Novum contraposto a um Portucale Antiquum
sigodos, atacou os Suevos. O rei suevo, Requiá-
(como hoje temos Montemor-o-Novo e Montemor-
rio, derrotado «ad fluvium nomine Urbicum», a
-o-Velho ou Torres Novas e Torres Vedras). Aliás, se
doze milhas de Astorga, fugiu «ad extremas sedes
se usassem adjectivos para distinguir uma povoa-
Gallaecia» e acabou por ser feito prisioneiro em
ção da outra, talvez se dissesse Portucale Vetus e não
Portucale: «Rechiarius, ad locum qui Portumcale
Portucale Antiquum. «Ad sedem Portugalensem in
appellatur profugus, regi Theodericus captivus
castro novo» poderá entender-se como «À sé portu-
adducitur» – «Requiário, fugido para o lugar a
calense na sua nova localização». Isto explicar-se-ia
que chamam Portucale, foi levado como prisio-
porque a primitiva sede episcopal havia sido Mag-
neiro ao rei Teodorico» (ou «fugido para o lugar
netum (Meinedo, Lousada) (MARQUES, 2002: 482).
a que chamam Portucale, foi aí preso e levado ao
Sob a igreja paroquial de Meinedo reconheceram-
rei Teodorico»).
-se vestígios de uma anterior igreja que foi atribuída
ao século VI-VII (SILVA, 1994: 102-103; RODRIGUES, Tem-se argumentado que este Portucale onde
2012-2013). Esta atribuição cronológica não pode Requiário foi preso deve identificar-se com a cida-
considerar-se indiscutível. Talvez o templo possa de do Porto, visto que ficava «ad extremas sedes
datar-se do século IX ou X. De qualquer forma, é Gallaecia» e o limite da Gallaecia era o Douro.
mais do que provável que a transferência da sede de A releitura atenta de Idácio permite outra inter-
Magnetum para Portucale tenha tido lugar aquando pretação. Derrotado junto do rio Orbigo, Requiário
da reorganização do mapa eclesiástico sob a égide fugiu para Braga, que era a capital do reino suevo.
de S. Martinho de Dume. Teodorico avançou para esta cidade: «Theoderico
No II Concílio de Braga, em 572, ainda aparece rege cum exercitu ad Bracaram extremam civitatem
Viator subscrevendo as actas como «Magnetensis Gallaeciae pertendente...» – «o rei Teodorico, com
ecclesiae episcopus». Deveremos deduzir daqui seu exército, tendo marchado para Braga, cidade
que, em 572, a sede continuava em Meinedo, e nos confins da Galécia...».
que a sua transferência para o Porto foi posterior? A cidade que ficava nos confins da Galécia era
É possível que a transferência tenha sido aprova- Braga e não foi aqui que Requiário foi preso. O rei
da ou oficializada nesse mesmo concílio. Viator fugiu para Braga. Depois, perante o ataque de Teo-
terá comparecido como bispo de Magnetum, mas dorico a esta cidade (ataque que Idácio também
saído como bispo de Portucale. Podemos também descreve), continuou a fuga e foi preso em Portuca-
recordar o caso dos bispos de Coimbra que con- le. Mas onde ficava este Portucale?
tinuaram a intitular-se «episcopi Conimbrigenses» Idácio escreveu que Requiário foi preso «ad lo-
mesmo depois da transferência da sede de Conim- cum qui Portumcale appellatur». Nunca o cronista
briga para Aeminium. se refere a outras cidades usando a expressão «ad
11
locum qui appellatur». Não diz, por exemplo, «ad tumcale castrum idem hostis invadit» – «Maldras...
locum qui Conimbrigam appellatur» ou «ad locum invadiu como inimigo o castro de Portucale».
qui Scallabim appellatur». Após a morte de Agiulfo, os Suevos dividiram-se:
Isto deixa-nos pensar que Portucale era um lu- uns reconheceram Frantano como seu rei e, depois,
gar menor que muitos dos seus leitores desconhe- Requimundo; outros aclamaram Maldras. Este teve a
ceriam, ou era uma designação recente para um Lusitânia, enquanto Frantano e Requimundo reina-
lugar que todos (ou quase todos) conheceriam por ram na Galécia. Se o Douro era a fronteira, a área de
outro nome: o de Cale. Vila Nova de Gaia seria de Maldras, e a do Porto, do
Se pensarmos que, para a batalha do rio Orbi- inimigo ou adversário. Maldras terá invadido a cida-
go, Idácio usa a expressão «ad fluvium nomine Ur- de do Porto. A própria referência a Portucale como
bicum», podemos admitir a primeira hipótese, isto castrum e não, como anteriormente, a locus, parece
é, a de que Portucale era um lugar menor que pou- dever tomar-se como alusão a um Portucale diferente
cos saberiam identificar. Idácio não fala de «fluvium do lugar onde Requiário havia sido feito prisioneiro.
nomine Tagum» nem de «fluvium nomine Anam», Que concluiremos de tudo isto? Que talvez, já
porque o Tejo e o Guadiana eram rios conhecidos nos meados do século V, o nome de Portucale se
de todos. O rio Urbicum seria desconhecido da aplicasse tanto à povoação da margem direita como
maior parte dos leitores e por isso Idácio usa nomi- à da margem esquerda; mas se podemos duvidar
ne (equivalente a qui appellatur). disso, pois o testemunho de Idácio não é isento de
ambiguidades, o Parochiale Suevum deve levar-nos
A segunda hipótese (a de ser recente a desig-
à conclusão de que, na década de 570, os dois luga-
nação de Portucale para a antiga Cale) é igualmen-
res tinham realmente o mesmo nome. Ainda assim,
te razoável. Neste caso, a expressão de Idácio seria
fica a dúvida: acaso, no século V ou VI, o Portucale
equivalente a «ad locum qui nunc Portumcale appe-
da margem esquerda poderia ser a povoação da
llatur». Apenas o uso do termo locum nos obriga a
beira-rio onde se fazia a travessia? E o povoado do
reflectir: se Portucale era a antiga Cale, Idácio não
Castelo de Gaia teria outro nome?
teria escrito «ad castrum (em vez de ad locum) qui
Portumcale appellatur»? Parece útil recordarmos agora o testamento do
bispo D. Gomado a favor do mosteiro de Crestuma
O nome Portumcale, com flexão do elemento por-
em 922 (LP 81 = DC 25).
tum e não do nome Cale, também merece atenção.
Acaso Idácio escreveu «ad portum Cale» e foi um co- Noutro trabalho justificaremos a ideia de que D.
pista que reuniu numa só palavra, Portumcale, o que, Gomado foi bispo do Porto e de que o documento
no manuscrito original, estaria como duas palavras? deve considerar-se autêntico.
Ficamos, pois, na dúvida: em 456 (quando Re- Deixou o bispo ao mosteiro de Crestuma (ao
quiário foi preso) ou em 469 (data em que Idácio qual se havia recolhido depois de resignar) várias
terminou a sua Crónica), Portucale era nome recente terras e, entre elas, «villa de Portugal quomodo di-
para a antiga Cale? E foi aí que Requiário foi preso? vidit per suos terminos antiquos quomodo dividit
cum villa de Mahamudi et inde per montem, a ter-
Nada nos impede de pensar que Requiário foi mino de Colimbrianos usque in Gal».
preso na margem esquerda do Douro. Aqui estaria,
Sendo identificáveis e localizáveis Mafamude
aliás, mais estrategicamente situado: no Porto cor-
e Coimbrões (nomes que ainda persistem na área
reria o risco de ficar encurralado; do lado de Gaia
urbana actual de Vila Nova de Gaia), é provável que
teria maiores possibilidades de continuar a fuga, se
Gal corresponda ao Castelo de Gaia, e villa de Portu-
necessário, para Sul ou Oriente.
gal ao povoado ribeirinho junto do cais.
Não pretendemos sustentar que Requiário foi
Gal é grafia anómala num documento em latim
preso do lado de Gaia e que ficava aqui o «locum qui
do século X. Esperaríamos Gale ou Galia. Não me-
Portumcale appellatur»; queremos apenas manter a
nos anómala, porém, é a forma Portugal em vez de
dúvida. Será que em outros passos de Idácio encon-
Portugale ou Portucale. Terá o notário usado as for-
tramos outras referências que nos permitam esclare-
mas faladas? Gal corresponderia a Cale e Portugal a
cer se Portucale corresponde ao Porto ou a Gaia?
Portucale, nos dois casos com apócope do /e/, como
Prossigamos na leitura do cronista. em sole > sol, aprile > abril ou fidele > fiel, e com a
Em 457, «Agiulfus... Portucale moritur» – «Agiul- oclusiva velar surda /c/ transformada na velar sono-
fo morreu em Portucale»; em 459, «Maldras... Por- ra /g/, como em Lucus > Lugo ou Callaecia > Galécia.
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De qualquer forma, parece dever concluir-se mos, em qualquer outro documento, indício de que
que, no século X, o povoado ribeirinho do Douro se o mosteiro de Salzedas tenha tido área tão vasta.
chamava Portugal(e), e o do Castelo de Gaia, Gal(e). A igreja de S. Martinho ficaria na Afurada
Donde vem o nome de Gaia? A hipótese de Cale ou na encosta do Castelo de Gaia (GUIMARÃES,
> *Gala > Gaia não parece impossível. A vocalização AFONSO e PRATA, 1983, mapa de p. 41 e GUIMA-
do /l/ em /i/ encontra-se, por exemplo, em ausculta-
RÃES, 1995: 432)?
re > escuitar (forma arcaica e popular de «escutar»).
Em 1255, D. Afonso III deu foral a «mea villa de
Numa outra hipótese, podemos admitir que,
de Cale, com o sufixo -ia, se formou Calia/Galia. Gaia» (GUIMARÃES, AFONSO e PRATA, 1983). Ao
Este sufixo serve à formação de nomes de regiões mesmo tempo, concedeu ao concelho o seu re-
ou províncias, com Britannia, Gallia, Lusitania. Nes- guengo de Gaia, «quomodo dividit cum terminis
te caso, Calia/Galia teria designado uma área, não de Conimbrianos et de Canidelo et de Almeara et
necessariamente muito extensa, em torno de Cale. deinde quomodo intrat in Dorium».
A evolução Galia > Gaia explicar-se-ia pela queda Aquelas localidades correspondem a Coim-
do /l/ como em salire > sair, casales > casais ou mo- brões, Canidelo e Alumiara. Pode entender-se que
lino > moinho. o reguengo era muito mais vasto e que D. Afonso III
O elemento Calia encontra-se no nome de Ca- apenas deu ao concelho uma parte desse mesmo
liabriga, que foi, segundo o Parochiale Suevum, ec- reguengo – parte que já não abrangeria as aldeias
clesia da diocese de Viseu depois convertida em
de Coimbrões, Canidelo e Alumiara, embora essas
sede de bispado pelos Visigodos.
ficassem no reguengo. No que respeita a Canide-
Na Chronica Gothorum (in Scriptores: 13) diz-se lo, terá continuado terra regalenga, pois viria a ser
que, em 1147, os Cruzados entraram no porto de
doada aos filhos de D. Pedro e de D. Inês de Castro –
Gaia: «Eodem quoque tempore venerunt quedam
ou, pelo menos, a D. Beatriz, filha do casal (ARNAUT,
naves exinsperato de partibus Galliarum, plene ar-
matis viris votum habentes ire in Jerusalem, cum- 1960: 18-19, 74 e 220).
que venissent ad portum Gaye et intrassent Do- Se Coimbrões, Canidelo e Alumiara ficavam
rium, audivit hec Rex»... fora do concelho de Gaia no tempo de D. Afonso III,
Talvez se não deva tomar esta referência como fora ficariam também, provavelmente, Mafamude
segura prova de que o povoado ribeirinho se cha- e Quebrantões. Em data que desconhecemos estas
mava, em 1147, portus Gaye, pois a Chronica, escri- localidades terão sido integradas no concelho.
ta depois dessa data, pode ter actualizado o nome. D. Afonso III doou aos habitantes de «mea villa» de
Quando não dispomos de originais, mas de cópias,
Gaia também o «casale quod fuit sedis portucalensis
há sempre o risco de actualizações, que os copistas
quod est in Gaia, et Sanctum Martini si illum habere
frequentemente faziam. Há, todavia, documentos
dos séculos XII e XIII que se referem à igreja de San- potuero». A interpretação de «casale quod fuit sedis
ta Marinha de portu Dorij ou de portu (GUIMARÃES, portucalensis como «casal que foi sé portucalense» e
1989: 18 e 1995: 64). a sua identificação com o burgo em torno da igreja
Em 1155, D. Afonso Henriques doou ao mos- de Santa Marinha já foi corrigida (SILVA, 1994: 83-84).
teiro de Salzedas «ecclesia Sancti Martini de Deve entender-se «casal que foi da sé portucalense».
Gaya cum piscariis et pertinentiis suis» (DR 255); Não sabemos onde ficaria, exactamente.
e em 1161 confirmou a doação, delimitando-a Quanto a Sanctum Martini, poderia ser aquele
«per petram de Deveza», pela «carreriam quae mesmo lugar (ou igreja) que D. Afonso Henriques
venit de Gaya», pela extrema com Villar e pelo havia doado ao mosteiro de Salzedas. Talvez D.
Douro» (DR 277). Afonso III estivesse em negociações para, por meio
A autenticidade destes documentos foi examina- de escambo, reaver o lugar.
da por Rui de Azevedo (DR II: 751-753). Se o primeiro No foral, D. Afonso III refere-se aos moradores
é falso, o de 1161 deve considerar-se autêntico. de «meo burgo veteri de porto» e à «villa episcopi».
Não nos parece possível identificar petra de De- A «villa episcopi» era a cidade do Porto. Noutros
veza com o lugar de Devesas na actual área urbana documentos do mesmo rei surge como »civitate
de Gaia, nem Villar com Vilar de Andorinho. Não te- episcopi» (Chanc. Afonso III, Liv. I, 308 e Liv. III, 34).
13
O «meo burgo veteri de porto» não pode iden- Castelo de Gaia. Porque o Parochiale Suevum fala de
tificar-se com a cidade do Porto: seria o povoado «Portucale castrum antiquum», e porque o nome
em torno da igreja de Santa Marinha, distinto do de castrum não se aplicaria ao povoado ribeirinho,
povoado do Castelo de Gaia, que seria a sede do devemos supor que era o da povoação do Castelo
concelho afonsino. Documentos dos séculos XII e de Gaia. Acresce que os materiais arqueológicos
XIII chamam ao povoado da margem esquerda Por- descobertos na igreja do Bom Jesus consentem a
tu Dorij, Portum Dori, Portus Gay (GUIMARÃES, 1995: hipótese de ser aí a sede da ecclesia sueva.
64). Um documento de 1251 (MOREIRA, 1964-1966: A povoação ribeirinha surge com o nome de por-
120) chama, à povoação em torno da igreja de San- tus Dorii no século XII, com o de «burgo de portu de
ta Marinha, «burgo de portu de Gaya». Gaya» em 1251, e, em 1255, com o de «burgo vetus
A igreja de Santa Marinha era do padroado régio. de portu». D. Dinis chamou-lhe Vila Nova d´El-Rei. O
Em 1292, D. Dinis cedeu-a ao bispo do Porto, junta- nome não vingou, e a povoação passou a chamar-
mente com dois casais, por escambo com o lugar de -se, desde os tempos de D. João I, Vila Nova de par
de Gaia – nome que ainda mantinha no século XVIII.
Marachique (no Alentejo) (ALARCÃO, 2015a: 26-31).
Em 1288, D. Dinis deu foral ao «burgum vetus»
e determinou que passasse a chamar-se Villa Nova Referências
de Rey. A povoação em torno da igreja de Santa Ma-
ALARCÃO, Jorge de (2015) — «Os limites das dioceses suevas
rinha tornou-se assim autónoma da do Castelo de
de Bracara e de Portucale». Portugália, nova série, 36,
Gaia, embora o seu foral dionisino tenha seguido os Porto, pp. 35-48
termos do de D. Afonso III dado a «mea villa de Gaia». ALARCÃO, Jorge de (2015a) — Ourique: o lugar controverso.
Porto: Figueirinhas
Não conhecemos os limites de Villa Nova de Rey.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de e SANTOS, Eugénio dos
Provavelmente eram muito reduzidos, vindo a sul só (1971) — «O castro de Fiães». Revista da Faculdade de Letras.
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Em documentos da Chancelaria de D. João I, Vi- Gaia, pp. 83-100
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século XIV. I. A sucessão de D. Fernando. Coimbra: Faculdade
As designações ainda se mantinham no século de Letras.
XVIII, pois nas Memórias Paroquiais de 1758 lemos: Atlas Antroponímico = Atlas Antroponímico de la Lusitania
romana. Mérida: Fundación de Estudios Romanos / Bordéus:
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Gaya, que nos foraiz antigos se [chama]
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14
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15
O edifício de tradição romana sob a igreja do Bom Jesus de Gaia
destruído nos últimos dias do reino dos Suevos
J. A. Gonçalves Guimarães
Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR– CQ)
ggui@portualmail.pt
Localização e descrição geral terior agora inexistente, tendo no seu espaço sido
construídos uns sanitários e a tal recente capela
mortuária. O telhado foi alteado duas vezes em
épocas indeterminadas, sendo a empena da cabe-
ceira coroada por uma pequena cruz de pedra.
O corpo principal da igreja abre para a capela-
-mor através do arco triunfal, feito ou refeito prova-
velmente no século XIX e que é de muito menor es-
pessura do que a primitiva parede onde se implanta.
A nave da igreja, mais elevada do que a capela-mor,
apresenta, além da porta principal na fachada virada
a poente, duas portas laterais ao nível do piso térreo,
uma de cada lado junto ao arco triunfal. A parede
norte, para além desta porta, apresenta uma outra
Fig. 1 – Localização da igreja do Bom Jesus no Castelo de Gaia, a nível mais elevado, presentemente entaipada,
visto da cidade do Porto; fotografia do autor. e que dava acesso ao púlpito que se abria a meio
da parede através de uma escada de pedra exterior
A igreja do Bom Jesus de Gaia é um pequeno que continua até à porta elevada da torre sineira, so-
templo que fica situado no centro histórico de Vila brelevada acima do telhado, abrindo o campanário
Nova de Gaia, na encosta nordeste da colina sobran- através de dois olhais com arcos de volta perfeita.
ceira ao rio Douro, a meio caminho entre este e o alto Possui dois sinos antigos e é coberta por um telhado
do Castelo (77,8 metros) na antiga vila medieval de piramidal de quatro águas, encimado por uma cruz
Gaia (fig. 1). Construída sobre um socalco artificial em ferro. Abre-se igualmente para o interior da igre-
entulhado pelos destroços de dois edifícios anterio- ja através de uma porta que dava acesso a um coro
res, com um desnível de cerca de 5 metros junto à construído em madeira sobre a porta principal, re-
cabeceira, o edifício tem de comprimento máximo tirado nas obras recentes. Na parede sul, para além
17,5 metros e a largura do corpo principal é de 7,75 da porta já referida, abre-se um janelão engradado,
metros. A sua área de implantação, considerando que presentemente dá para a sacristia.
também o pequeno adro a norte e o largo do Prior
a sul é de 576 metros quadrados. A igreja compõe-se
de dois corpos simples e justapostos, a capela-mor
e o corpo principal, tendo a sacristia adossada a sul
e a torre sineira, no alinhamento da fachada, a nor-
te. Em época recente foi construída neste adro uma
capela mortuária com materiais de construção mo-
dernos. Ao longo dos tempos o edifício sofreu obras
de alargamento e «beneficiação» que o foram alte-
rando. Apresenta o aspeto de uma pequena igreja da
segunda metade do século XVII ou XVIII (fig. 2).
A capela-mor evidencia alguns paramentos de
boa silharia, com uma fresta a nascente e uma ou-
tra na parede norte, onde igualmente em tempos Fig. 2 – Igreja do Bom Jesus de Gaia na atualidade; fotografia
se abria uma porta de acesso para uma divisão ex- do autor.
16
A fachada, voltada a oeste, apresenta um am- a barra do Douro; já em 1059 a «villa santa maria»
plo portal construído após obras que destruíram a (por mari[~]a, marinha) se dizia «inter riuulo... (?)
porta medieval e cujas ombreiras foram recobertas et sancto martinu» e em 1155 D. Afonso Henri-
por nova cantaria tendo as aduelas do antigo arco ques doa ao Mosteiro de Santa Maria da Salzeda
sido reutilizadas para compor um incipiente arco de a «ecclesia Sancti Martini de Gaya cum piscaris
descarga, suporte de um óculo quadrilobado que et pertinentiis suis» que depois confirma, indi-
se lhe sobrepõem. A soleira foi elevada. A parede cando os limites em 1161 3. Mas como explicar
exterior apresenta cantarias nitidamente reutiliza- que não apareça na lista do Censual do Cabido
das, mas com paramentos com alguma unidade so- atribuída aos anos 1174-1175, ou no Rol anterior
bretudo no cunhal sudoeste. A empena, rematada a 1238, ou no Catálogo das igrejas de 1320? Em
por uma cornija de tijolos, é coroada por uma cruz 1292 a igreja de Gaia aparece claramente referi-
de pedra e duas pirâmides. da em três documentos, sem qualquer possibili-
A sacristia, que comunica com o corpo principal dade de confusão com a igreja de Santa Marinha
através de uma porta na parede sul e pelo janelão de Vila Nova, o mesmo acontecendo em 1298.
já referido, aninha-se no prolongamento do telha- Mas a confusão documental volta a estabelecer-
do da igreja. Situada a um nível mais baixo do que a -se no século XIV, talvez não por causa do ora-
soleira da porta principal, desce-se para a sua porta go, mas porque muitos escrivães de outras terras
por degraus em granito. Na sua parede exterior, a confundiam Gaia com Vila Nova, as duas povoa-
sul, abrem-se duas pequenas janelas engradadas 1. ções que existiam dentro de uma única freguesia
A povoação de Gaia, ou Castelo de Gaia, onde se chamada de Santa Marinha 4.
localiza esta igreja, é muito antiga. Os vestígios ar- Em 1557 os habitantes de Gaia afirmavam que
queológicos já conhecidos datam-na desde o Bron- «... a Igreja do Crusefisio que se hora mandava Cor-
ze Final, tendo sido um povoado castrejo romani- reger e Rapairar Era muito antiga das majs deste
zado, cristianizado no período tardo-romano ou já Reyno em tanto que della tomara o nome o Reyno
na presença dos povos germânicos, com fortes pro- de Portugal por rezão de dita villa», e onde ouviam
babilidades de aqui se ter localizado um dos Portu- missa «...ha tanto tempo que não ha memoria
cale Castrum da Crónica de Idácio (século V), ou o d’homens», pois a igreja era «muito antiga, tinha
Portucale castrum antiquum do Paroquial suevo de Campanário Antigo», mas que nela cabia apenas
569 ou da Divisão de Teodomiro de 572. Foi depois a «quarta parte dos habitantes de Gaia» (80 fre-
um castelo arabizado e asturo-leonês e por fim por- gueses, isto é, fogos ou cerca de trezentas almas),
tucalense, o qual se tornou a cabeça do julgado me- o que aliás também acontecida com a igreja de
dieval de Gaia, com foral outorgado em 1255, até Santa Marinha de Vila Nova. Trata-se pois de uma
que em 1384, durante a crise dinástica portuguesa, igreja medieval com prerrogativas especiais, que
a população da vizinha cidade do Porto situada na lhe virão a merecer o tratamento de filial da igreja
margem direita do rio Douro, que pretendia subor- matriz da freguesia 5.
dinar à sua tutela os julgados da região, destruiu o
Não obstante a sua antiguidade e importância
castelo, ficando Gaia, a vizinha Vila Nova e o respe-
simbólica, a degradação do templo e da respetiva
tivo julgado integrados no Termo do Porto, uma su-
Confraria das Almas acompanhou a degradação da
perestrutura regional subordinada à administração
vila de Gaia, muito maltratada pelos bombardea-
daquela cidade até 1834 2.
mentos durante as lutas liberais 6. Com o abandono
do lugar pelas famílias nobres ou burguesas ricas,
Contexto histórico e arqueológico nos finais do século XIX já era conhecida simples-
mente por capela da Senhora da Bonança, dado
A documentação medieval apresenta algu- que a maioria dos habitantes era então constituída
mas confusões hagionomásticas no que se refere por famílias ligadas à faina marítima e fluvial. A de-
às igrejas de Gaia e de Vila Nova e em que a pri- gradação foi-se acentuando até 1987, ano em que
meira aparece sistematicamente sem orago. Mas foi solicitado à Câmara Municipal de Vila Nova de
antes, pelo menos no século XII, teve como pa- Gaia a realização de obras adequadas, o que permi-
droeiro S. Martinho, o apóstolo dos Suevos que tiu a realização de escavações arqueológicas, cujos
em 550 chega por mar a Portus Galliciae, ou seja, resultados passaremos a descrever 7.
17
Estruturas e estratigrafia socalco de saibro onde se abriam sepulturas antro-
pomórficas, contrariado pela abertura de uma es-
A intervenção revelou as sucessivas fases de cadaria perpendicular em granito com cerca de 1,5
construção, destruição e reconstrução dos edifícios metros de largura da qual subsistem quatro degraus,
que existiram neste local ao longo dos tempos. O a qual prosseguia até à cota mais elevada, pois ainda
estudo do seu espólio tem permitido tirar conclu- existiam vestígios do seu alinhamento. Os degraus
sões para uma diacronia do lugar com cerca de que faltam terão sido destruídos para abrir as sepul-
1500 anos. Concentrando agora o nosso estudo no turas já referidas ou para alinhar a grelha sepulcral
edifício de tradição romana destruído nos últimos existente na Época Moderna. Este muro encontrava-
dias do reino suevo, o primeiro assente no local, -se muito derrubado do lado SSO devido ao facto de
por ali terem rolado enormes batólitos de granito
deixamos por ora os construídos por cima dos seus
usados para o derrube do edifício. A NNE o muro
escombros, um alti-mediévico, também destruído,
apresenta-se mais bem conservado, com mais de 1
e um terceiro, de construção medieval que chegou
metro de altura e com aparelho regular (fig. 3). Deste
aos nossos dias com reconstruções e remodelações
lado partia um outro muro (M 2), perfeitamente per-
sucessivas a que já aludimos na introdução. Dado
pendicular ao primeiro, o qual, no sentido ONO/ESE,
que só foi escavada a área interior da atual igreja, as
continuava até ultrapassar a sapata do arco triun-
conclusões aqui apresentadas são necessariamente
fal para terminar em ângulo reto já dentro da área
limitadas, mas representaram, à época, um grande
da atual capela-mor, com um total de 9 metros de
avanço no conhecimento da história local 8.
comprimento. Deste ângulo parte uma outra pare-
Assim, sobre o afloramento granítico, situado à de para NE (M 3) que, ao contrário das anteriormen-
cota negativa média de -2,50 metros abaixo do pon- te descritas construídas com duas faces de pedra
to 0 (nível do soalho existente antes das obras), fo- aparelhada e enchimento central, esta é formada
ram encontradas as ruínas de um edifício destruído por grandes blocos de granito bem aparelhados e
no século VI, sobre as quais foi posteriormente cons- esquadriados, o que nos levou a pensar que estáva-
truído na Alta Idade Média um outro edifício, tam- mos perante uma parede de fachada ou o pedestal
bém ele violentamente destruído e incendiado, e de uma colunata, dado que nos entulhamentos des-
por cima das suas ruínas, a igreja atual, que apresen- te canto do corpo principal da igreja descobrimos
ta alguns paramentos de parede de Baixa Idade Mé- um fuste partido, de bom granito e também bem
dia, sucessivamente alterados, reforçados e alteados aparelhado, ainda com 1 metro de comprimento e
ao longo das épocas Moderna e Contemporânea e cerca de 30 centímetros de diâmetro. Neste canto,
que as obras recentes vieram mostrar. também ao contrário do restante «alicerce» da igreja
feito de pedras em posição caótica, aqui existe um
outro muro de grandes blocos graníticos bem apa-
relhados (M 4), paralelo ao muro de maior compri-
mento atrás descrito (M 2), e que seria parte de uma
outra parede mais interior (fig. 4).
Para além das diferenças de materiais e de
técnica de construção dos muros atrás descritos,
encontramos vestígios de estuque com óxidos ne-
gro e vermelho junto de M 2, o que pode querer
significar que a parede tinha reboco pintado. No
espaço delimitado pelos muros M 1 e M 2 foram
encontradas tijolos de argila alaranjada clara (bes-
sallis), com as dimensões aproximadas de 19 x 18 x
Fig. 3 – Ruinas do edifício tardo-romano destruído em 585 exis- 5,5 cm, pertencentes a colunelos que suportavam
tentes sob a igreja do Bom Jesus de Gaia; fotografia do autor. um pavimento que ruiu aquando da destruição
de que o primeiro edifício foi alvo, e que o desli-
Coincidindo com parte da planta da atual igreja zamento posterior dos escombros fizeram sair das
encontramos um muro no sentido NNE/SSO a cer- posições iniciais e concentrar-se junto da sapata do
ca de 2,5 metros do alicerce da fachada que passa- arco triunfal da igreja, para onde pende a inclina-
remos a designar por M 1. Este muro sustinha um ção do suporte geológico. Por toda a área escavada
18
distribuía-se um extenso nível de tegulae de argila Espólio com elementos paleocristãos
alaranjada, de boa cozedura, algumas com incisões
digitais, resultante do abatido telhado do edifício, a Os materiais de construção encontrados indi-
qual separava nitidamente este estrato do da des- cavam-nos apenas que estávamos perante um edi-
truição do edifício construído, e também derruba- fício tardo-romano, mas foi o restante espólio que
do, em nível superior, e sobre o qual a camada de veio fornecer-nos uma cronologia mais fina para a
entulhamento era demasiado caótica, formada por data da sua destruição através de um número sig-
pedras de derrube dos muros, mas igualmente pe- nificativo de fragmentos de cerâmica importada
los enormes blocos graníticos que obviamente não datável do século VI d. C.. Estávamos pois perante
pertenciam à construção que derrubaram. Quer as um edifício destruído depois de 580 d. C., a avaliar
tegulae, quer os tijolos são idênticos aos de outras pelos resultados disponíveis do estudo ceramológi-
construções romanas na região 9. Apareceram ain- co. De entre os cerca de 15.000 fragmentos recolhi-
da, para além de tambores de fustes em granito, al- dos destacam-se neste estrato os de terra sigillata
guns elementos de capitéis, de pilastra e outros, de foceense, que pertenceram a peças importadas da
tipo corintizante 10. zona oeste da atual Turquia, entre meados do sécu-
Comparando a planta das ruínas deste edifício e lo V e primeira metade do século VI d. C..
a da atual igreja que lhe está sobreposta, sem esque-
cer que entre ambos existiu outro edifício destruído,
ao que tudo leva a crer, no século XI ou princípios do
XII, de imediato se verifica que, ao contrário do que
sucede com as paredes da capela-mor e do corpo
principal, a planta da sacristia tem uma relação dire-
ta com os alinhamentos dos muros destas ruínas de
um primeiro edifício. A escada de acesso à sacristia é
paralela e de largura semelhante à que abre em M l, a
parede exterior sul do corpo da igreja é praticamente
paralela ao muro M 2 e a parede de fecho da sacristia
SO/NE aparece com a mesma orientação do muro M
3, o tal formado por grandes blocos graníticos apa-
relhados. Podemos pois concluir que estas paredes
assentam sobre o que resta da parte do edifício de
tradição romana que lhe servem de alicerce, o que
explicaria também o seu traçado oblíquo em relação
à planta da igreja atual
19
Estão igualmente presentes fragmentos de ter- única peça deste local para já reconstituída, um
ra sigillata africana tardia, dos quais destacamos copo-taça com pé e asa lateral no bojo, não te-
um prato-taça da forma Hayes 104A, tendo estam- mos encontrado paralelos locais, sabendo que se
pilhados no fundo três cordeiros em volta de uma insere numa tradição de fabrico e utilização de
jewelled cross, cuja data de fabrico é apontada para peças idênticas que se estende da Itália à Rússia
o período entre 540 e 580 d. C.. Trata-se de uma nesta época (fig. 6) 12.
produção típica da zona de Cartago, caracteriza- Por fim registe-se o achado, também neste ní-
da pelo seu engobe avermelhado, existente só no vel arqueológico, de um elenchi lacrimiforme de
interior, e pelos bordos de tipo almendrado. Duas ouro, constituído por uma fita martelada daque-
peças de ambas as proveniências foram entretanto le metal a delimitar-lhe a forma, tendo no interior
reconstituídas, as quais se expõem hoje no Núcleo uma pedra transparente de cristal de quartzo, com
Museológico de Arqueologia do Solar Condes de um arame estirado do mesmo metal, em forma de
Resende (fig.s 5a e5b). Foram aqui também encon- S, para suspensão na orelha, sendo até à data este
trados, além de fragmentos de cerâmica comum brinco a única joia tardo-romana conhecida neste
regional, também de terra sigillata hispânica tar- local (fig. 7) 13.
dia, com cronologia idêntica, mas em quantidade
muito menor, e de cerâmicas cinzentas tardias, de
origem gálica 11.
20
hoje existe uma sua imagem. Tal significa apenas Um edifício destruído em 585
que no lugar sempre houve uma grande consciên-
cia da sua antiguidade materializada em volta da Na área hoje ocupada pela igreja do Bom Je-
sua igreja e de uma demolida capela de S. Marcos, sus no lugar do Castelo de Gaia existiu até ao sé-
que ainda era visível no século XIX, a qual, segundo culo VI um edifício com boas paredes de granito,
outra tradição, fora a primitiva sé portucalense 14. um piso interior suportado por colunelos cerâmi-
cos, com colunata da mesma pedra na sua face
voltada ao rio Douro, capitéis decorados e telha-
do de tegulae, com dois lanços de escada para
acesso a cota superior, hoje a rua que passa em
frente da fachada da igreja.
Podemos inferir o seu aspeto geral por analo-
gia com edifícios que apresentam a mesma área e
a distribuição dos mesmos materiais de constru-
ção, segundo o modelo vitruviano, mas não sabe-
mos qual a sua utilidade. Poderia tratar-se de um
templo, e o espólio aqui encontrado ser para o
serviço dos seus curadores ou oferendas dos de-
votos. Esta dedução tem em conta, não só o que
atrás se disse, mas a constatação de que estamos
perante um d’«aqueles sítios aos quais uma longa
e sedimentada memória de gerações, por uma ou
outra razão, conferiu poderes sacralizadores, [e
que] raramente esquecem estas qualidades mes-
mo quando já se perderam as razões originais»
(TORRES, 1992: 169). Em todo o caso, registe-se
que foi aqui que apareceram os dois primeiros
elementos paleocristãos num povoado da mar-
gem esquerda do Baixo Douro, o já referido pra-
to-taça com uma cruz e três cordeiros gravados
e um fundo de terra sigillata foceense, com uma
cruz com o esboço do P do Khi-Rho constantinia-
no, datável de entre 470 e 580 (fig. 8). Posterior-
mente haveriam de aparecer, ainda no Castelo de
Gaia, outras ruínas paleocristãs de muito maior
envergadura e espólio, cuja publicação se aguar-
da, bem assim como nas escavações do Castelo
de Crestuma, situado a montante deste primeiro,
também na margem esquerda do Douro 15.
Outra interrogação que estas ruínas suge-
rem é a que se refere à sua violenta destruição
no último quartel do século VI, através de enor-
mes batólitos de granito rolados a partir de cota
superior e que entraram pelo edifício dentro,
destruindo-o de tal modo que as suas estru-
turas apenas serviram para assentamento dos
edifícios posteriores, para além da reutilização
de alguns materiais. A explicação poderá ser
Fig. 7 – Brinco de ouro e cristal de rocha, século. VI; fotografia encontrada na lição histórica: em 573 Leovigil-
do autor. do, que seguia a corrente cristã ariana, torna-se
21
rei dos Visigodos, sendo Miro, Eborico e Aude- Notas
ca, os reis dos Suevos contemporâneos, da cor-
rente católica. As duas povoações denominadas 1
Para esta descrição simplificamos o publicado em
Portucale, a da margem direita (futura cidade GUIMARÃES, 1989: 17-20; idem 1995a: 429-431 e idem
do Porto), sueva e católica, e a da margem es- 1995b: 123-127.
querda (futura vila de Gaia), visigoda e ariana, 2
As referências à antiguidade de Gaia, e desta sua igreja,
ficavam precisamente numa das fronteiras en- foram por nós apresentadas e discutidas em GUIMARÃES, 1989:
tre os dois povos e crenças, controlando a mais 431-433; idem 1995b: 54 e seg.s; idem 2002: 547-549, idem
importante travessia litoral entre a Galécia e a 2010: 5-20, sobretudo nota 4, e idem 2017: 56 e seg.s.
Lusitânia. Cada uma tinha então o seu bispo, um
3
Cf. PMH-DC 12; 420; DMP-DR 255; DMP-DR 277 e 354;
católico e outro ariano. Talvez venha daqui a len-
OLIVEIRA, 1964: 57 e seg.s; TORRE RODRÍGUEZ, 2001; MACIEL,
da seiscentista da «primeira sé portucalense» na
2007: 8; FERNANDES, 2012, 126 e 137.
margem esquerda16. Pelos dados ceramológicos
tudo leva a crer que o edifício que temos vindo 4
Cf. OLIVEIRA, 1967: 223, 233 e 237; MOREIRA ,1987: 105/106.
a apresentar tenha sido destruído na sequência 5
Cf. CAMPO BELLO, 1984: 337/338; COSTA, 1983: 160.
da revolta de Audeca, a qual trouxe Leovigildo à
Galiza e, como consequência, a conquista defini-
6
A própria igreja de Gaia parece ter sofrido com os bom-
tiva do reino dos Suevos em 585 17. bardeamentos pois algumas paredes tinham brechas muito lar-
gas que podem não ter sido só originadas pela deslocação dos
terrenos e muros de suporte. Isso explicaria igualmente a não
existência de altares anteriores ao século XIX, embora existam
ali algumas imagens importantes do século XVIII.
7
À data o Regulamento do Centro Histórico de Vila Nova
de Gaia determinava que nas obras de restauro ou beneficiação
em edifícios localizados nesta área classificada, sempre que
aparecessem elementos ou vestígios com interesse histórico
ou arqueológico, o seu estudo e enquadramento passassem a
ser feitos pelo Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova
de Gaia (hoje Gabinete de História, Arqueologia e Património
– ASCR-CQ), do qual o autor era membro e hoje coordenador.
Sobre a evolução administrativa do Centro Histórico de Gaia e
seus regulamentos ver COUTO, 2017: 187-206. A intervenção
arqueológica teve início a 30 de janeiro de 1988 e prolongou-
se até 1 de abril de 1989; cf. GUIMARÃES, 1989: 17. Após uma
interrupção para o avanço dos trabalhos de engenharia e ar-
quitetura, em maio de 1992 retomamos as escavações no sen-
tido de proteger as ruínas já descobertas, aquando do assenta-
mento dos pilares para suporte da placa do chão da igreja e da
consolidação dos «alicerces» com betão injetado.
8
Privilegiando nesta abordagem as cerâmicas, de que
publicamos um primeiro estudo, GUIMARÃES & PINTO, 2000.
Desde 1992 para cá, muito perto da igreja de Gaia ou um pouco
por todo o Castelo de Gaia, têm sido realizadas escavações ar-
queológicas com notáveis resultados, pese a precariedade das
condições em que foram feitas algumas delas e da não aceit-
Fig. 8 – Cruz paleocristã sobre fundo de cerâmica do Mediterrâ- ação de um plano global para as intervenções no sítio já por
neo oriental, século V/VI: in GUIMARÃES, 2002: 556. nós apresentado a várias administrações autárquicas desde
1984; a este propósito ver COUTO, 2017 e SILVA, 2017a.
22
9
Ver estes elementos em GUIMARÃES, 1995b: 183-184 e e não àquele outro mais recente, mas cuja lenda passou a ser
305, comparáveis com os de Tongóbriga apresentados em sinónimo literário do Castelo de Gaia.
DIAS, 1997: 132.
Nota final: uma primeira versão deste texto foi publicada
10
Sobre a possível reconstituição e interpretação funcional em GUIMARÃES, 2018.
destes elementos arquitetónicos ver GUIMARÃES, 1995a: 437 e
1995b: 137e 294.
Bibliografia
11
Parte destes materiais cerâmicos foram publicados em
GUIMARÃES, 1993: 46; idem, 1995a: 435; idem 1995b: 179-183 AZEVEDO, Rui de (1958 e 1962) — Documentos Medievais Por-
e 302-304; GUIMARÃES & PINTO, 2000: 500-502; GUIMARÃES, tugueses. Documentos Régios, vol.s I, II e III. Lisboa: Academia
2002: 551-553 e 556. Mais recentemente os fragmentos de terra Portuguesa da História; DMP-DR.
sigillata africana tardia, terra sigillata foceense e terra sigillata CAMPO BELLO, Conde de (1984) — «Para a história da igreja de
hispânica tardia, foram estudados em pormenor por Joaquim Santa Marinha de Gaia». Gaya, vol. II. Vila Nova de Gaia: GHA-
Filipe Ramos, aluno do mestrado em Arqueologia da Faculdade VNG, p. 329-348.
de Letras da Universidade do Porto orientado pelo Prof. Doutor COSTA, Francisco Barbosa da (1983) — Memórias Paroquiais – V.N.
Rui Morais; cf. RAMOS, 2017. de Gaia 1758. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal, GHAVNG.
COUTO, Daniel (2017) — Quarenta anos de Intervenção no Centro
12
Publicamos a peça em GUIMARÃES, 1995b: 209-210
Histórico de Vila Nova de Gaia. In SILVA, António Manuel S. P.
e 316; sobre os vidros tardo romanos na região ver MOREI-
coord. (2017) – Cidades de Rio e Vinho. Memória. Património.
RA, 1997: 13-82; sobre a sua ocorrência na Europa visigótica,
Reabilitação. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal, GAIURB/
merovíngia e bizantina, ver FOY, 1995. Edições Afrontamento, p. 187-206.
13
Publicamos a peça em GUIMARÃES, 1995b: 210-212 e CUNHA, D. Rodrigo da (1742) – Catálogo dos Bispos do Porto,
316. Algumas destas peças, nomeadamente o prato-taça de tomo I, 2.ª edição.
sigillata; o copo-taça de vidro e o brinco, foram publicadas em DIAS, Lino Tavares (1997) – Tongobriga. Lisboa: Ministério da Cul-
GUIMARÃES, 2017c: 187/188; 255; 386; 412; 506 e 533. tura/ IPPAR.
14
Cf. OLIVEIRA, 1964: 111 e seg.s; COSTA, 1983: 160. A lenda Documentos Medievais Portugueses. Documentos Régios, I, II e III –
da capela de S. Marcos como primitiva sé portucalense, além ver AZEVEDO, 1958 e 1962 (DMP-DR).
de referida por vários autores desde o século XVII, foi literari- FERNANDES, A. de Almeida (2012) — Os Primeiros Documentos
amente desenvolvida por Almeida Garrett no seu romance O de Santa Maria de Salzeda – até à Morte da Fundadora. Tarou-
Arco de Santana (1.ª edição 1845). Recorde-se que o escritor ca: Santa Casa da Misericórdia.
na sua infância viveu na Quinta do Castelo [de Gaia], perto das FOY, Danièle, coord. (1995) – Le verre de l’ antiquité tardive et du
suas ruínas que então ainda seriam visíveis. Haut Moyen Age. Typologie – Chronologie – Diffusion. Guiry-
-en-Vexin: Musée Archeologique Departemental du Val
15
Cf. GUIMARÃES, 2002: 551-553; SILVA & GUIMARÃES, d’Oise.
2013: 16, e SILVA, 2017a: 113/114; O fundo cerâmico com o
GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2018) — «O edifício de tradição ro-
chrismon foi publicado em GUIMARÃES, 2002: 556.
mana sob a igreja do Bom Jesus de Gaia (Vila Nova de Gaia
16
«Ao que respondemos com facilidade, q. S. Basileo, naõ – Portugal) destruído nos últimos dias do reino dos Suevos».
foy Bispo desta cidade [do Porto], no sitio em que ella hoje està, In LÓPEZ QUIROGA, coord. (2018) — In Tempore Sueborum.
e a edificaraõ os Suevos, porque isto aconteceo quasi à 380 El Tiempo de los Suevos en la Gllaecia (411-585). El Primer reino
Medieval de Occidente. Volumen de Estudios. Ourense: Depu-
años depois de sua gloriosa morte: se naõ em quanto esteve
tacion Provincial, p. 209-212.
dlem douro, na paragem de Gaya, e com o nome de Cale, ou
Portucale» (CUNHA, 1742-I: 18). GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2017a) – «O Centro Histórico de
Gaia como estrutura portuária atlântica». Douro. Vinho, His-
17
Cf. MATTOSO, 1992: 315. Curiosamente, ainda no século tória e Património. Wine, History and Heritage, n.º 5. Porto:
XIV, no Castelo de Gaia havia uma «fonte do Rey miro», que tem APHVIN/GEHVID, p. 53-94.
sido associada à lenda do Rei Ramiro de Leão, posta por escrito GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2017b) – «O Centro Histórico de
no final do século anterior ou mesmo no início deste (MATTOS, Gaia, a Barra do Douro e o Mundo». In SILVA, António Ma-
1933: 20, nota 2 e 24-31). Mas essa associação pode ser abu- nuel S. P. coord. (2017) – Cidades de Rio e Vinho. Memória. Pa-
siva e apenas pela similitude fonética rei miro> Ramiro, e na trimónio. Reabilitação. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal,
realidade referir-se ainda então à memória do último rei suevo GAIURB/ Edições Afrontamento, p. 60-99.
23
GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2017c) – «Plato de TSAD de Vila Nova MACIEL, Justino (2007) – «Portucale segundo os textos da época
de Gaia; Prato de TSAD de Vila Nova de Gaia; Plate of TSAD suévica». Revista de Portugal, n.º 4. Vila Nova de Gaia: ASCR-
from Vila Nova de Gaia» (p. 187/188; 386; 506); «Pendiente -CQ, pp. 7-10.
de Vila Nova de Gaia; Pendente de Vila Nova de Gaia; Earring
MATTOS, Armando de (1933) – A Lenda do Rei Ramiro e as armas
from Vila Nova de Gaia» (p. 255; 412; 533); «Copa de Vila Nova
de Viseu e Gaia. Porto.
de Gaia; Copa de Vila Nova de Gaia; Cup from Vila Nova de
Gaia»; (p. 255; 412; 533). In LÓPEZ QUIROGA, Jorge; MARTÍNEZ MATTOSO, José (1992) – «A Época Sueva e Visigótica». In MAT-
TEJERA, Artemio Manuel, coord.s – In Tempore Sueborum. El TOSO, José – História de Portugal. Primeiro volume: Antes de
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I. Porto: Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão;
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dente. Ourense: Diputación Provincial. 169-178.
24
Sorrisos Lágrimas Poemas
Jaime Milheiro
Psicanalista; ensaísta
25
Sorrir será condição matricial duma espécie importantíssimos meios de comunicação com a mãe
sempre estruturalmente insegura e sempre rebus- e significativos avanços no crescimento do bebé que
cada nas suas próprias afirmações e confirmações. gostosamente se envolve, interpreta e replica.
Todas as mães sabem disso e todas o esperam,
Num segundo tempo, desde sempre o mais sem livro de instruções, desde o Paleolítico. Todas
visível, sorrir será o festejo de proximidades conse- reconhecem o que o sorriso representa para elas
guidas. Representará simpatias encadeadas, amabi- e para o filho, quanto lhes propicia em gostos e
lidades distribuídas, galhardias em movimento. desgostos, seguranças e inseguranças, recusas e
aceitações. E quanto através dele dão e recebem,
Contrariando pânicos, teimosias e disfunções,
numa adaptação progressiva aos choros e sofri-
sinaliza o glorioso triunfo da espécie sobre a im- mentos que nunca acabarão de percutir.
ponderabilidade e a volatilidade das relações, num
alegre contributo. Pelo menos numa temporária Brincar só induz parcerias porque fermenta sor-
aparência, todas as divergências se colocam para risos, incorporando emoções e presenças. Não brin-
car adoece porque não relaciona sorrisos nem os
além do postigo e para aquém de empedernidos
distribui, incapaz de simbolismos e de integrações.
vernizes. Contagiando alegorias, o sorriso patrocina
quem evoca e renova quem participa, resolvendo Mãe e bebé têm prazer no estímulo, na respos-
ansiosas reservas dentro e fora de cada um. ta, no sinal, na partilha, na atenção, no diálogo, na
experiência, na vivência, em tudo quanto sorrisos
Sorrir será imperiosa necessidade duma espécie
faça prosseguir.
sempre interiormente carecida e sempre rebuscada
nas suas próprias referências e consistências. Há calor e erotismo nessa troca. Num e noutro
o corpo estremece em ritmos de cintura, carícias
de manipulação, balancear de extremidades, re-
Num terceiro tempo, o sorriso converte-se num laxamentos tensionais, animismos em teatro, cenas
estereotipo aberto às portas do salão e fechado de toque e retoque. Todo o Sapiens rodopia numa
logo à saída, particularmente utilizado nas estações troca que sonoriza.
e apeadeiros das lojas de conveniência que os seres É a festividade em gorjeio, a bênção que se
humanos se obrigaram a frequentar. assegura.
De geometria variável e de focalização à me-
dida, em moldes afectivos, económicos, sociais ou
Sorrir veicula a genuinidade duma relação,
outros, transforma-se no esgar humedecido de bor-
mais ainda duma relação mãe/bebé.
nais a preencher, como quem engendra compro-
missos sem se querer comprometer. A sua justeza e dimensão marcará tendências
e desenvolvimentos. Num interesse pressentido e
Facetas gloriosas ou desdenhosas ganham en-
numa funcionalidade engalanada, assinala mere-
tão volume, abandonada a fluidez naturalista dos
cimentos e recompensas, objectos e objectivos,
tempos infantis. Frequentemente evolui para aneu-
conteúdos e continentes.
rismas dissecantes de mentes empobrecidas, pro-
tagonizando encomendas e exercitando vibrações Sem verdadeiros sorrisos tudo se prejudica,
tanto mais estampadas quanto maior for o jogo e o porque os artifícios sorridentes nunca serão sorrisos.
pedaço a presumir. Não passam de caricaturas que atrofiam a esponta-
neidade da relação, amortecem a evolução da miste-
Sorrir será indispensável encenação duma es- riosidade e comprimem uma afectividade deficiente
pécie sempre socialmente entretecida e sempre re- à partida. As falsidades ganham corpo e os ressenti-
buscada nas suas próprias realizações e admirações. mentos acentuam-se numa tal condição, pouco ou
nada se resolvendo dos fantasmas de abandono que
Esboços de sorriso aparecem desde os primei- no horizonte sempre se levantam, nem das ameaças
ros dias, por norma entremeados de agitações e de um desconhecido tornado cada vez mais hostil
de choros, como reflexos neuromusculares de um por cada vez mais desconhecido.
bebé que se inicia. Resultarão depressividades mais ou menos en-
Nascidos prematuros, absolutamente depend- cobertas, inúmeras vezes automaticamente rep-
entes de quem os alimente e agasalhe, os primeiros rimidas e conservadas.
verdadeiro sorrisos aparecerão pelo mês e meio. Risos Não partilhar sorrisos em curta idade perturba a
abertos, gargalhadas, caretas, virão a seguir, tornados essência da emocionalidade. Multiplica as defesas,
26
justifica alertas e desconfianças da cidadela, perturba «Vivo numa raiva de tudo... já nem de lágrimas
alguns dos alicerces fundamentais do crescimento. disponho... na minha rotunda ninguém circula... de-
Uma das maiores preocupações da criança, a par- sesperado de mim e dos outros».
tir dos 4/5 anos, é a procura de uma mãe que lhe sor-
ria. Tal sorriso significará que ela estará bem consigo Lágrimas
própria, apesar de todas as malandrices pela criança
realizadas. E significará também que provavelmente Lágrimas são emoções liquefeitas, a brotar sem
ela estará bem com o mundo em geral, sobretudo com pedido em fastas e nefastas ocasiões.
o mundo do pai, numa proclamação e numa dúvida Ao contrário dos sorrisos, sempre activos e di-
inúmeras vezes, mesmo no adulto, vivenciada até ao rigidos, lágrimas são processos reactivos. Partem de
fim. Tudo na vida lá irá bater, tal a importância do es- alegrias e tristezas donde o sorriso se expatriou, na
tado emocional da mãe, às vezes numa tal intensidade sequência de sofrimentos, de perdas ou de falhas.
que para a protegerem até com ela se identificam. Algumas pretendem repatriar os sorrisos perdidos,
Sisudez não significa ausência de sorriso: signifi- até os suplicam, outras pretendem expulsá-los mais
ca apenas controlo de qualidade. ainda, numa expressão que será sempre íntima
e pessoal dos jardins de quem chora, mesmo que
aparentemente aos outros se dirija.
Três fundamentais organizadores da vida
psicológica são temporizados no crescimento. Há lágrimas de emoções visíveis, de emoções
escondidas e de emoções tão secretas que nem o
Serão, segundo os livros: próprio descortina.
O sorriso... no terceiro mês... donde parte o con- Neste último caso, podem irromper através de
forto expressivo de uma relação que recompensa.
emergências tão compulsivas e tão inquietantes
A angústia do desconhecido... no oitavo mês... que fornecem inopinadas revelações sobre íntimos
donde parte o medo do outro e a misteriosidade recônditos. Serão emoções de quem reage, não ap-
que o compensa. enas aos confrontos de momento, mas a todos os
A capacidade de dizer não... no décimo oitavo de idêntico teor que dentro de si se acumularam
mês... donde parte o sentimento de autonomia e a e que associados retinem, mesmo considerados
responsabilização que o não dispensa. esgotados. Partem quase sempre de zonas incon-
fessáveis, de arquivos ou de elementos indecorosos
ou traumatizantes, negativamente auto estimados
Só cabalmente cumpridos, o adulto de si
por impossibilidade de elaboração.
próprio dirá:
«Sempre me senti altamente desapontado
Ninguém lacrimeja porque quer, embora todos
por não ganhar os 100 metros nos Jogos Olímpi-
os humanos transportem um saco de lágrimas e a
cos... mas continuo a sorrir e a responder a mim e
experiência facilite.
aos outros».
Todos engoliram dores e sofrimentos desde o
Ou, dito doutro modo:
primeiro dia.
«A quem contarei a imensidade de histórias e de
Todos por entre gritos, demandas e compen-
memórias que dentro de mim fervilham e que nin-
sações inscreveram alarmes e pedidos de socorro,
guém parece interessado em escutar, menos ainda
por vezes num formato incontinente.
em dialogar...?»
Todos com lágrimas lubrificaram fisiologica-
«... Provavelmente apenas a mim mesmo... na
mente os olhos e psicologicamente os olhares,
certeza de continuar a pensar e na satisfação de
compungindo-se, alegrando-se, amaldiçoando-se,
continuar a sorrir».
na companhia doutros gestos e linguagens que es-
meradamente entrecruzaram.
Não cumpridos, provavelmente dirá:
«Morro no deserto, insatisfeito de todos e de mim... Muitas lágrimas são lágrimas perdidas.
num vazio onde nada me interessa e onde ninguém Mesmo aparentemente justificadas são lágri-
me sorri... ninguém sabe quem sou nem onde estou... mas do chão. Não passam de fermentações epi-
não sei o que faço por aqui... resta-me partir». dérmicas, purificadoras de homens e mulheres
Ou, dito doutro modo: numa cultura que as admite.
27
Mas há lágrimas doutro cariz. Soberanas e sem Mas, mesmo antes de nascerem, já em todos os
rede, fundamentos da espécie que as vive e reali- seres humanos funcionavam dois originários tram-
za, como veremos a seguir, nunca serão externali- polins, plenos de lágrimas e de sorrisos.
dades culturais. O primeiro vinha do sexto dia, altura em que
A cultura apenas reside no último piso de um o «Criador», pleno de esperanças mas descuidado
edifício atribuladamente construído. de quantas guerras, maledicências e apedrejamen-
tos com tal gesto iria fomentar, criou Adão e Eva.
Quando criou apenas dois sexos, não quatro ou
A cultura impressiona mas não cria.
cinco, num tremendo erro até há pouco sem remé-
Engendra partituras mas não gera criaturas. Dá dio. Foi um erro colossal, o maior da História, como
novas expressões e novos formatos, mas só por si recentemente nos têm vindo a garantir os meios de
não chora nem ri. Não cria lágrimas nem sorrisos, comunicação social, mais indesculpável ainda por
menos ainda poemas. ter vindo de quem veio.
Muito antes de se envolverem nas suas circunstân- Fontenários de lágrimas de tal desatenção re-
cias epigenéticas e nos respectivos mergulhos cul- sultaram, embora o «Criador» tenhamos de descul-
turais, já os seres humanos se haviam comprometido par, por dois motivos.
noutras primícias e noutras elaboradas composições.
Primeiro, reconhecendo-lhe o enorme cansaço
Só pelo facto de existirem já todos se haviam (tão desgastado andava que no sétimo dia se obrig-
comprometido com as lágrimas da mãe, por exem- ou a descansar), segundo, dando-nos conta dos
plo, plenas de sossegos e desassossegos, e com a seus anteriores compromissos. Nos gatos, nas aves,
enorme repercussão que elas tiveram e que pela nos peixes, nas minhocas, nas couves, nos bichos
vida fora continuaram a ter, mesmo em secreto seg- das couves, em todos os seres vivos até então con-
redo. Para o bem e para o mal, com ela e com elas hecidos, apenas dois sexos ele havia igualmente cri-
haviam compartilhado choros, às vezes numa tal ado. Não pareceria justo abrir excepções, fosse para
magnitude que metaforicamente poderíamos diz- quem fosse, nem nada justificaria dar aos primatas
er: sem as lágrimas da mãe (sem aquele verdadeiro maior protagonismo do que aquele que já tinham.
interesse que elas revelaram, tal como no que diz
Por razões difíceis de explicar, esses dois sexos
respeito aos sorrisos) ninguém sobreviveria.
tenazmente foram mantidos ao longo dos tempos,
apesar das enormes dificuldades de relação que
Todas as mães são iguais em tais sobressaltos, pertinazmente lhes aconteciam. E só agora, cerca
salvo as «mães científicas» em livros formatadas. de cinco mil anos volvidos, os Sapiens mais enten-
Em todas as épocas, em todas as culturas, nos didos na matéria acordaram e tão grave anomalia
índios da Amazónia ou em Silicon Valley, por es- decidiram corrigir. Ancorados nos novos dados pela
sência biológica e por condição psicológica, todas evolução mental concedidos, facetados nos novos
funcionam numa idêntica atitude, porque intrin- desígnios pelos estados gerais concedidos, tal erro
secamente e em toda a parte representam a fun- assertivamente repudiaram e em breve irão prom-
cionalidade da espécie. Jamais o poderemos elidir, ulgar as necessárias medidas.
mesmo que artificiosas supermotivações e engen-
hosas superinteligências (neles e nelas) nos últi- Quatro ou cinco sexos estão nesta altura a fab-
mos tempos tenham vindo a propor mães à con- ricar-se, na poderosa e constituinte determinação
signação e pais em perfusão. Só mudando quem de quem nos Sapiens orienta as artificialidades que
somos tal seria possível. seremos. De máscaras montadas far-se-ão pessoas,
Só elas dão à luz. Só elas darão à luz, que se saiba, estando igualmente prevista a rápida exportação
facto que ultrapassa todos os «senhorios» epocais e de tão reconfortante mudança para todo o univer-
todos os «alocamentos» tribais porventura desenha- so, buracos negros incluídos.
dos. Ninguém em vez delas se vincula e ninguém tão Em modos de voo e em nome da justiça, todas
abnegadamente pode sequer tentar perceber o seu as humanas dificuldades irão por fim dissipar-se,
«misterioso» bebé. É impossível ser doutro modo. restando-nos agradecer e piedosamente colaborar
Jamais haverá seres humanos de aviário. Morre- em tão abrangente boa nova, não vá o céu cair-nos
riam em tempo curto, embrutecidos pelo chumbo. em cima e atolar-nos na jarreta ou na valeta.
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Acabar-se-ão finalmente as medievais tor- sejam lágrimas de morte, «lágrimas de péta-
rentes de lágrimas que pelo planeta circularam, las»... (há uma agência funerária em Évora com esse
igualmente fenecendo muitas outras indecentes nome)... sinalizando perdas, contrições, desamores e
questões às questões sexuais associadas, substituí- sofrimentos
das pelos harmoniosos sorrisos de quem sexo não mesmo que os seus conteúdos possam even-
possui e nem sabe o que isso é. tualmente diferenciar-se entre homens e mulheres
mesmo que o seu grande manancial provenha de
O segundo trampolim provinha de um outro ocultas jazidas e quanto mais oculta for a sexualidade
enorme sobressalto, na pradaria acontecido. de mais lágrimas disporá, numa equação universal
Resultava daquela esquisitíssima posição de mesmo que todas não passem de gotas de água
pé pela evolução desencantada, posição que pro- salgada em sentimentos, teatros e ilusões, por-
fundamente ocultou os genitais femininos e que, ventura já secas e caladas
sobretudo a partir da altura em que machos e mesmo que todas sejam despejadas numa su-
fêmeas tentaram civilizar-se e referenciar-se como perfície e sensibilidade de evaporação equiparável
homens e mulheres, tantas lágrimas determinou e em ambos os sexos
nas culturas ainda não abrangidas pela boa nova mesmo que todas sejam convertíveis num in-
continua a determinar. igualável processo de relação pela beleza que des-
A evolução proporcionou, de facto, esse pertam e pela conjugalidade que outorgam.
oblíquo «recalcamento orgânico sexual», ex-
celente base para os recalcamentos psicológicos
Noutro plano, são essas mesmas que lágrimas
que vieram a seguir-se. Dificultou o acesso aos
dão corpo e mote ao mais elevado que os Sapiens
pontos de encontro, motivou desencontros e des-
até hoje obtiveram.
varios, embora tal ocultação também os tenha
beneficiado com uma sexualidade disponível o Todas as humanas faculdades de pensar, sentir,
ano inteiro (não apenas na época do cio) e com mentir, fazer humor, fazer poesia, assentes em duas
uma misteriosidade ampliada e atractivamente fo- razões pela evolução instituídas:
calizada em ardentes regozijos. aquisição de uma subjectividade pessoalizada
Muitos homens e mulheres deixaram de saber aquisição de uma capacidade de mentalmente
objectivamente onde o filme começava e onde transportar figuras parentais, mesmo na sua ausên-
terminavam os efeitos especiais. E todos foram cia, tornando-as desse modo presenças internas e
obrigados a inventar uns estranhíssimos posicion- constantes, protectoras e julgadoras
amentos corporais e uns energéticos contorcionis- intimamente conjugam as complexidades es-
mos para as portas franquearem e para uns breves truturais da espécie e as singularidades culturais de
sorrisos anunciarem, enquanto o resto da bichara- cada um
da que não sabe o que são sorrisos, nem lágrimas, numa construção onde as lágrimas represen-
nem poemas, funciona muito mais à vontade e tam um significativo condimento da criatividade
nem nisso pensa. em geral e da criatividade artística em particular.
Por insuficiente engenho na distinção entre Sem misteriosidade lágrimas não haveria.
real, simbólico e imaginário, grande parte dos ho-
Nada haveria para descobrir, ajustar ou decifrar.
mens e das mulheres não se mostraram, de facto,
capazes de sorrir nem de chorar numa tal condição, Apenas haveria machos e fêmeas, numa caserna
menos ainda de cuidar ou repartir. Não inocularam de paranóias e de cios, ninguém nada inventando
o quantitativo necessário de benefício e continu- nem reinventando.
aram sofridamente a respirar. Perdidas as lágrimas perderíamos as artes e as
Por entre fascínios e consumições, virtudes e letras.
consumações, malabarismos e solidões, enchar- Pior ainda, perderíamos a poesia que digna-
caram-se de lágrimas, nenhuma cultura até hoje as mente eterniza incombustíveis sorrisos.
conseguindo interromper: Jamais os seres humanos encerrarão este capítulo.
sejam lágrimas de vida, «pétalas de lágrimas»... Jamais o secarão, mesmo que por vezes o
a sinalizar cânticos, amores, orações e poemas pareça.
29
Poemas Numa ocasião de encontro um poeta dizia-me:
«Poeta será sempre uma pessoa em crise... será o
Sorrisos e lágrimas calam palavras. De palavras seu interior inquieto que ao interrogar-se produz...
caladas podem brotar prejuízos e benefícios. só sofrendo o poeta vai criando... as suas palavras
Podem brotar sonhos e paradoxos, alguns de in- traduzem um sofrimento que muitas vezes nem ele
olvidável dimensão, sem antes nem depois. sabe donde vem... ”»
Podem brotar efemeridades intermináveis, a Segundo ele, nunca haveria tranquilidade beatí-
recomeçar no dia seguinte porque não podem fica no processo criativo das artes em geral, particu-
terminar. larmente na poesia e jamais haveria pombinhas do
Espírito Santo a insuflar proposições.
Podem brotar caligrafias de amor/desamor e
ortografias doutros confins, mesmo sabendo que Haveria sempre mal-estar, inquietação, desas-
palavras de amor são palavras de dicionário: só na sossego, contra o qual o poeta luta e em cuja elabo-
fonte sabem o que dizem, só na maresia significam ração assenta quanto de si dissimula e quanto de si
o que serão. próprio descreve.
Podem brotar poemas que serão sempre os
seus momentos mais altos: os momentos em que Por entre ideias, factos, latências e reconstitui-
verdadeiramente metade de nós são os outros e ções, o interior do poeta de facto sonha, imagina e
metade dos outros seremos nós. soletra, ora na reconfiguração de si, ora na íntima
ancoragem duma infância que recapitula nas in-
confidências que recupera.
Sem misteriosidade poemas nunca haveria, da
mesma maneira que nunca haverá poemas de cariz Nada resolve enquanto faz, mas isso nada lhe
racional, académico ou geométrico, mesmo que os importa. Apenas envia mensagens e nada mais pro-
escritores porventura lhes cumpram os devidos rit- picia do que as palavras que nos deixa, mas a breve
mos, métricas e compassos. pacificação que no momento pressente e posterior-
mente o ilumina iluminando quem passa, comple-
Poemas nunca serão uma ideia a defender, tamente lhe justifica as improváveis ousadias e as
uma ideologia a demonstrar, uma externalidade inesgotáveis alegorias.
a propor.
É por isso que só quem «teve» infância pode
Serão um interior a falar com o interior dos out-
fantasiar os símbolos que devassa nos poemas que
ros, mais derivados de sensibilidades propulsivas
repassa. Só alguém que revive pode frequentar ar-
que de escolaridades favorecidas.
quivos que baralha e emoções que agasalha, num
jogo arriscado e eterno, que só terminará se a espé-
Poesia será sobretudo o desejo de a fazer, numa cie implodir. Se desmoronar quanto em nós sobre-
disponibilidade avançada por alusões e sentimentos. vive, parasitada por tecnicismos e códigos que tudo
Poeta será quem perto ou longe das complexi- tentam demolir.
dades críticas, literárias, logísticas, linguísticas ou
outras, entrelaça, hoje como há mil anos, o passado, É por isso também que o produzido pelo poeta,
o presente e o futuro numa textura consistente e como pelos artistas em geral, nunca será o mais
numa esteticidade promitente. Sem fixação tempo- significativo, apesar de por norma apenas isso lhes
ral nem localização espacial, será alguém que sente conhecermos.
e a seu propósito fala (ou escreve), através de res-
Essencial será, para quem emite e para quem re-
sonâncias e palavras que em toda a gente germi-
cebe, a levitação do processo, a estética do testemu-
nam garantias culturais mas poucos sabem dizer.
nho, o desembaraço da emoção. Algo que lhe com-
Sorrindo lágrimas, encantando sorrisos, desen- praza o seu próprio comprazimento e nos conduza
cantando emoções, foi na humana insatisfação que ao nosso próprio usufruir... seja no coração dilac-
as ondas da poesia se iniciaram e sem cansaço milé- erado das «ligações sentimentais», seja no simbolis-
nios atravessaram. mo exacerbado das «escavações universais», seja
Surfando, navegando, criando, foram os po- no psicologismo desconcertado das «felicidades
emas ditos sem razão que capacitaram ilusões e paradoxais», seja na total ausência de sentido que
conduziram a humanidade aos picos da montanha muitos mobilizam e que a si próprios autorizam...
anunciada mas nunca atingida. através de instrumentos que lágrimas e sorrisos to-
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cam no interior e trocam no exterior, mesmo que porque em todos os humanos há uma poesia
apenas mencionem desesperos de causa, moradias originária (todos transportam lágrimas e sorrisos)
sem casa e sofrimentos sem pausa. nas franjas dum rochedo que os inquieta...
mesmo que a actual cultura tudo isso pretenda
Desde que a espécie os reconheceu como ne- negar ou destruir, como se tal fosse possível, através
cessidade, sem legislação a impedir, os poetas de- de cliques e aparelhos.
screvem eternidades impossíveis de discutir, menos
ainda de dirimir. Há sempre um planeta enriquecido no interior
Transformam as palavras numa auto-suficiente de cada um.
capacitação de liberdade e viagem. Debulham Há sempre um jardim primaveril, latente mes-
as asnarias propagandeadas, desenovelam as ex- mo não dito, pela poesia sacralizado. Todos com
clusões sedimentadas. Analisam a mediocridade ele fomos dotados e todos nele pairamos desde o
das pomposas avenidas, rebatem a excentricidade primeiro dia, imaginando horizontes que a poesia
das inumanas teorias, afastam o vazadoiro das in- redimensiona e repescando alimenta. Há sempre
fectas mercadorias, mesmo que nada saibam ex- frutos maduros, comensalidades apetecidas, paisa-
actamente definir. Nelas vogamos e alunamos, só gens desmesuradas que a si próprias se justificam
lhes podendo agradecer, mesmo que ao acordar
numa exigência-testemunho que funcionará sem-
tudo esteja na mesma e nada se verifique difer-
pre como um documento de si, mesmo entremea-
entemente resolvido.
do de sonambulismos e tempestades.
Pelo caminho atropelam as construções fonéti-
Tratar desse jardim será o destino final dos hu-
cas, descumprem os trânsitos gramaticais, debicam
manos, mesmo daqueles que na realidade nunca
inqualificáveis fraseologias, desapontam bacama-
o possuíram, ou daqueles que por circunstâncias
rtes e auditorias, aconchegam novidades sem fron-
de morte em vida nem dele tiveram conhecimen-
teiras, desalinham tributações encapotadas e fac-
to. Todos necessitam de algo que lhes encareça
tualidades pouco lisonjeiras sobre quem somos e
memórias e os desembarace de teorias. Cuidando
sobre o que andamos por aqui a fazer...
cuidam-se, cuidando-se sobrevivem, secando er-
vas daninhas e desintoxicando os desertos que ao
(tudo coisas que mais ninguém diz porque mais longe nunca se esgotam.
ninguém pode dizer) Mexendo, remexendo, todos alindam essa
jardim-terra-jardim que os irá recolher e com
numa conjugação impossível de repelir, menos gosto à tarefa se entregam, sabendo que se o
ainda de fugir: merecerem estarão melhor consigo próprios e
pela admiração que propicia retribuídos serão.
pela motivação despida de condenações À terra todos irremediavelmente voltarão, de
murmuradas e de ordenações catequizadas que corpo inteiro ou de cinzas ao vento, na levada de
se adivinha. todos e na levada da estima de si.
pela envolvência de misteriosos recantos que a
poesia veicula e no seu enriquecimento transporta Fazer poesia será jardinar por entre as pa-
pela saudação que faz da vida, jamais da morte, lavras, numa solução inútil e magnífica por
mesmo que paraísos perdidos e noivados do sepul- isso mesmo.
cro entreteça. À maneira de quem pede sem pedir, ou de
quem encadeia e encandeia sem disso fazer mercê,
Poesia é o contraponto do vazio. alguns começam cedo outros no limite, todos o de-
sejando, poucos o acometendo.
Soluciona os maus sonhos e os maus desfiladei-
ros de quantos por ela sobrenadam, aderentes ou Todos dispõem dessa capacidade, porque no
não ao tema desvendado, pelas mobilizações que início todos a possuíram.
anuncia e pelo pensar que pronuncia. Todos os poetas e todos os humanos disso têm
O seu destino será o nosso destino, visível so- consciência.
bretudo de olhos fechados, mesmo que jamais in- Todos de poesia necessitamos, mesma que dela
dique partidas ou chegadas... não cuidemos
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ANTÓNIO SÉRGIO. TEMAS ESSENCIAiS DE VIDA E OBRA
A. Campos Matos
Ensaísta
Com defuntos terei portanto de gastar a minha cera, enquanto os defuntos forem mais vivos do que os vivos,
e os vivos, mais defuntos do que os defuntos.
Em memória dos queridos amigos, sergianos de polpa, que tanta falta me fazem:
Dr. Jacinto Baptista e Prof. Vasco de Magalhães-Vilhena.
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-Vilhena, no belo prefácio ao meu livro, não o refere, res, atingindo uma qualidade de escrita ímpar, de
pois o devia assaz incomodar, não o considerando grande originalidade.
deliberadamente. Nas conversas que tivemos, ao Quanto à análise que dediquei a estes autores, pos-
longo do tempo, jamais me ocorreu abordar este so sem vaidade dizer que fui precursor, apenas porque
tema com ele. Fi-lo em 2007, na entrevista que pu- não esqueci a lição que aprendi com Sérgio, na leitura
bliquei na monografia Agostinho da Silva e Vasco de do seu ensaio acerca de Junqueiro: só uma leitura feita
Magalhães-Vilhena, Entrevistados sobre António Sér- em profundidade, repetidas vezes, pode levar à desco-
gio. Aí questiono-o deste modo: berta do que entre linhas se oculta de mais essencial.
– «Numa conferência que fez na Academia de
Ciências de Lisboa considerou o carácter místico do
1. De como entrei ao conhecimento
racionalismo sergiano como «a mais grave limita-
da sua obra
ção desse racionalismo.» No entanto Sérgio afirma-
va que misticismo e razão eram revelações de uma
só tendência: a da afirmação da Unidade, e que os Foi em Ponte de Lima, pelos anos 50, na biblio-
grandes místicos eram espíritos de inteligência, de teca do meu futuro sogro o conhecido advogado
subtileza, de objectividade e até de previsão... Teófilo Carneiro, amigo e consultor jurídico do ge-
neral Norton de Matos, que vi, pela primeira vez, os
– Essa é uma pergunta de natureza complexa
Ensaios de António Sérgio. Por essa altura já haviam
que tenciono desenvolver, em capítulo específi-
sido publicados seis volumes. Com esse título de
co, no trabalho que tenho em preparação sobre o
Ensaios havia lido uma antologia francesa de Mon-
idealismo crítico sergiano. Há que reunir primeiro
taigne, associando desde logo Sérgio ao conhecido
tudo aquilo que ele escreveu sobre essa matéria,
autor. De Sérgio ninguém me falara e comecei a ler,
confrontar as respectivas datas e verificar o exacto
com muita curiosidade, o 1.º volume, para logo me
sentido que ele dava à palavra misticismo. Em todo
deslumbrar com o texto «O caprichismo literário do
o caso deverá recordar-se, desde já, o que a este
Sr. Junqueiro». Claro que apreciava Junqueiro e me
respeito ele disse: «Para perceber a preceito como
divertia a leitura da «Sesta do senhor abade», gran-
o racionalismo se acomoda com a mística – é ler Es-
de e humorístico poema. De repente, à medida que
pinosa e é estudar Platão. Atenção também, neste
percorria Sérgio, Junqueiro caía em pedaços. Quer
ponto, à enorme influência de Antero sobre ele. O
dizer, eu lera A Velhice do Padre Eterno inteiramente
Bem é o fim supremo, unificando a mente com as
a dormir! Assim fora, na verdade, e como eu vim a
leis da natureza. Em ambos existe um sentimento
verificar mais tarde, grande parte da minha geração
de religiosidade sob forma de espiritualidade pura.»
ficara apanhada com a leitura deste brilhante en-
Nos dois extensos estudos que dedicou a Sér-
saio. O’Neill, num conhecido poema da obra Feira
gio, Magalhães-Vilhena não referiu este tema incó-
Cabisbaixa, escrevera com chiste:
modo. Voltemos todavia à coincidência a que alu-
dimos de início desta minha comunicação e que
associa Eça e Sérgio. Não é difícil atribuir-lhes gran- «Dizem que me junqueiro
des afinidades, embora sejam muito diferenciados E tolentino e até que me paulino
os temas das suas escritas: romancista um, ensaís- «Depois vi o Sérgio desmontar as peças de
ta o outro. São ambos muito próximos no tempo, uma máquina que nem sequer havia
tendo Sérgio nascido apenas 38 anos depois de E perdi o Junqueiro de vista.
Eça. Filosofia e filosofar, como demonstrei na mo- Será que me junqueiro? Pode ser.
nografia agora publicada, com o título de Por Entre Já que tenho comido sem saber
Névoa e Realidade, foram uma constante na produ- De muita alpista...»
ção queiroziana, muito embora o seu autor tenha
afirmado «sou em filosofia um touriste facilmente A crítica demolidora de Sérgio dirigia-se às insa-
cansado, em ciência um diletante de coxia». Ambos náveis contradições ideológicas de Junqueiro, que
são escritores de alta craveira e artistas civilizado- no seu tempo era dado como «filósofo», anuncian-
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do até a criação de um «sistema filosófico». A crítica 2. Peculiaridade e categoria
era pertinente e válida, não atingindo o estro poéti- da sua escrita
co de Junqueiro.
Dias depois atirava-me, no volume VI, ao ensaio Era conhecida a rapidez fulgurante com que
acerca de Eça, uma interpretação geral do sentido escrevia, como testemunhou o grande especialista
claro e profundo da sua obra. Ainda hoje, cerca de da sua filosofia, Vasco de Magalhães-Vilhena, que o
70 anos depois, na vastíssima bibliografia de Eça, na- conta na entrevista que lhe fiz em 2007, publicada
cional e estrangeira, nada li de mais aliciante do que em Livros Horizonte. O convívio estreito e, por ou-
este texto brilhante, que David Mourão-Ferreira, na tro lado, os estudos sobre mestres, como Bernar-
Homenagem a António Sérgio, da Academia de Ciên- des, Vieira, D. Francisco Manuel de Melo, Camões,
cias das Lisboa, 1972, disse «ser dos mais notáveis Antero, Eça, Camilo e Oliveira Martins deram-lhe o
exemplos de crítica intrínseca que jamais se escreve- domínio absoluto da língua e um lugar cimeiro no
ram em qualquer literatura.» Fiquei, a partir daí, intei- seu panteão, como escreveu Jorge de Sena. Vem daí
ramente fascinado pelo autor da História de Portugal. a riqueza do vocabulário que usa, e até a criação de
Vim para Lisboa poucos anos mais tarde, e não vocábulos por ele compostos, muito embora pos-
tardei a descobrir a Livraria Histórica-Ultramarina, ao sam aborrecer a muitos tais virtudes.
Bairro Alto, do sr. Almarejão. Aí pude fazer a minha
«sergiana» paulatinamente, até com textos anóni- 3. O seu papel como crítico literário
mos publicados no Brasil, incluindo tudo aquilo que
existia sobre este autor de eleição. Ao meu segundo Neste domínio é deveras espantoso o seu labor
filho, poria então o nome do ensaísta. Professor, mais crítico, com trabalhos extremamente originais, de
tarde, da Faculdade de Letras da Universidade de Lis- análise dos autores atrás citados. As suas anotações
boa, viria a tornar-se também ensaísta e sergiano. aos Sonetos de Antero (muito embora seja discu-
Um dia fui à Travessa do Moinho de Vento, a tível a sua organização), em três edições diversas,
Buenos-Aires, à casa de Sérgio, com o VI volume dos apresentam uma intuição e capacidade analítica
Ensaios na mão para ele autografar. O escritor esta- raras, que não conheço em nenhum outro crítico.
va de cama desde a morte de sua mulher, em 1960, Essas anotações apresentam uma exposição por-
com uma grande depressão de que não se liberta- menorizada de Hegel, autor muito citado por An-
ria mais. A empregada entregou-me depois esse tero. O mesmo se poderá dizer dos seus estudos
exemplar, com grandes desculpas de Sérgio pela le- acerca de Camões e também sobre Oliveira Martins.
tra tremida. Entretanto relacionara-me com um dos A sua originalidade crítica atinge o brilho supremo,
amigos íntimos de Sérgio, Castelo-Branco Chaves, ao que me parece, com o extenso ensaio sobre Eça
autor de belos estudos acerca de Eça, e mais tarde de Queiroz, escrito para as comemorações do Cen-
com o prof. Vasco de Magalhães-Vilhena, o maior tenário do romancista e depois recolhidas no vol. VI
especialista da ideologia sergiana, ele próprio tam- dos seus Ensaios. Fialho, Camilo, Raúl Brandão, An-
bém grande admirador de Eça. Terei ocasião de, por dré Gide e José Régio proporcionaram-lhe também
diante, voltar a falar deste meu amigo. páginas de estupenda análise, ao longo dos oito vo-
lumes dos Ensaios.
Tive ocasião mais tarde de publicar um instru-
mento de trabalho indispensável, a sua Bibliografia,
em nova edição de 1983, na Revista da História das 4. Um retrato do ensaísta feito
Ideias de Coimbra. Depois, em 1989, a 2.ª edição do com as suas próprias expressões
Diálogo Com António Sérgio, prefaciado pelo prof.
Magalhães-Vilhena, que enorme gosto teve em o É sabido que os grandes autores falam muitas
fazer. Inúmeros artigos fui também publicando so- vezes de si próprios, quando analisam os seus au-
bre temas sergianos, aqui e ali. tores preferidos. Não é, assim, difícil usar termos de
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Sérgio para definir o seu retrato e as suas confissões. palavras caíram como uma bomba, embora Régio
Começaremos por dizer que toda a sua obra respira admirasse e tivesse relações muito cordiais com Sér-
«uma tónica atmosfera de problemática», conse- gio. Durante três dias, os membros da tertúlia disse-
guindo atingir a «alta civilidade» de Eça e de Antero. caram este ensaio de Magalhães-Vilhena, ao rubro
Quanto ao seu temperamento, segundo nos disse, da indignação. O meu amigo Prof. João Marques,
é o de um «extrovertido, risonho, de claro humor membro activo da tertúlia, punha-me diariamente,
e folgazão». Herdou de sua mãe «a susceptibilida- entusiasmado, ao corrente do que se ia passando.
de profunda, a sensibilidade feminina de artista». É Vergílio Ferreira, por seu turno, reagiu também in-
seu «um dom de clareza crítica» afirmando-se «um dignado mas Vilhena não lhe respondeu.
pedagogista, uma sorte de pregador, um filósofo, Retomemos todavia o caso delicado do «racio-
um campeador pela cultura e pelo bem do Povo.» nalismo místico». Vem de longe o apreço de Sérgio
Salienta-se do seu contacto, eminentemente, a «ho- pelos grandes místicos: Santa Teresa de Ávila, San-
nestidade intelectual e a solidez do espírito», a par to Inácio, Santa Clara, etc,. que ele considera men-
da acção constante de «grande campeador melho- tes modelares, claras, altamente ordenadas, efi-
rista». O seu estilo distingue-se pelo «garbo mar- cazes e racionais. Daí a considerar-se, ele próprio,
cial de um pensamento sólido». Chamar-lhe-ia um um «racionalista místico», dá para encher todo um
«nervoso e musculoso, marcial e esgrimista». caderno... Este é um problema deveras complexo
que exigiria a definição prévia, que aqui não pode-
5. Falemos agora do aspecto fulcral remos fazer, dos conceitos em causa. Cumpre-nos
da sua actividade, o cerne mesmo expor os textos mais expressivos. Já com 26 anos,
do seu pensamento no domínio em carta para sua noiva, escreve: «Tenho um gran-
da filosofia de amor místico pelas coisas puras.» No pequeno
texto denominado «Em louvor de S.ta Clara» escre-
Não é nada fácil a exposição do seu idealismo ve: «O racionalismo em mim, é a busca da Unidade
racionalista, como se pode ver através dos dois es- (doutrina pois de unidade mística, ligada à de que
tudos que lhe dedicou Magalhães-Vilhena em 1964 é possível uma apreensão directa, não discursiva
(António Sérgio, o Idealismo Crítico e a Crise da Ideo- dessa mesma Unidade radical do Ser» Na obra:
logia Burguesa) e mais recentemente, em 2013, em Cartas de Exílio a Joaquim de Carvalho (1927-1933),
ensaio publicado depois da sua morte, organizado Sérgio dá-nos conta de uma «revelação» que teve
pelo prof. Hernâni Resende (António Sérgio, O Idea- na juventude, sobre o carácter do seu idealismo,
lismo Crítico: Génese e Estrutura. Raízes Gnoseológi- durante uma viagem de comboio, que não mais
cas e Sociais. Estudo de História Social das Ideais). o abandonou. Ora esta revelação aproxima-se,
A primeira obra, atrás citada, começa com uma de certo modo, da sua descoberta do misticismo
afirmação ousada, que viria a provocar enorme es- como caracterizador do seu racionalismo. E «racio-
cândalo entre os intelectuais: «António Sérgio ocu- nalismo místico» muito implica sentimento, «reve-
pa na história das ideais em Portugal uma posição lação», emoção. É um dos caminhos para alcançar o
singular. Nada talvez a defina melhor do que a dis- «Uno-unificante». A emoção criadora subordina-se
tância imensa que o separa do vivaz e culto mas de a uma disciplina intelectual. No prefácio ao ensaio
certa maneira limitado António Verney, do enciclo- de Magalhães-Vilhena, o prof. Hernani Resende, é
pedista «estrangeirado» Ribeiro Sanches, da fluidez um dos poucos autores a referir o pendor «místico»
filosofante e do confusionismo «teórico» de Oliveira de Sérgio, não mencionado quase nunca, ou esca-
Martins, do diletantismo metafísico– social do ma- moteado, pelos seus comentadores. E este analista
logrado Antero». Repare-se que Magalhães-Vilhena interroga-se: «Como atribuir, como atribuía Sérgio,
não refere um único nome do século XX, para não um papel filosoficamente tão essencial, numa dou-
causar susceptibilidades. Pois mesmo assim, não foi trina que se queria racionalista de ponta a ponta, à
poupado a protestos de toda a ordem. Na tertúlia ideia de um Deus de cuja existência não se duvida
de Verão, de José Régio, na Póvoa de Varzim, estas apenas, mas que categoricamente se nega? (...) O
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problema não é fácil e, a nosso ver, não tem sido partidários deste misticismo... Nas «Anotações» às
até hoje devidamente analisado» (p.74). Ficam es- Notas de Esclarecimento (Ensaios II, p. 262) podemos
tas observações como uma ferida nos textos ser- ainda ler: «A inteligibilidade do Mundo, a existência
gianos, de dificílima aceitação e explicação, ou seja, de Formas, o determinismo dos factos, são simples
aquilo que apetece chamar de «heresia epistemo- postulados da actividade científica, não são re-
lógica». Este aspecto não me escapou, quando pu- sultados experimentais da ciência; mas a eles me
bliquei, há cerca de 30 anos, o Diálogo Com António atenho; nunca deles desisti. Racionalismo radical
Sérgio, aprofundando-o agora, quando voltei a re- – ou misticismo racionalista, se assim preferirem.
ler todas as suas obras, para ampliação desse livro. Em mim (pode dizer-se) há um racionalismo radical
Com efeito, na pagina 183, interrogo Sérgio deste que tem o seu quê de místico, de vida unitiva, de
modo: «para melhor esclarecimento da questão moral fraterna.»
anterior parece-me indispensável perguntar-lhe o Numa excelente tese apresentada à Faculda-
que é para si o misticismo». Ora a questão anterior de de Letras de Lisboa, em 2012, Romana Isabel
focava precisamente o «racionalismo místico». Na Valente Pinho foi um dos raros autores a abordar
importante nota, exarada nessa página, transcrevi frontalmente o «racionalismo místico» de Sérgio,
um passo de uma carta a sua noiva, onde Sérgio, escrevendo com pertinência: «No que respeita
então com 26 anos, confessava: «Tenho um gran- a esta temática temos a sensação de que o en-
de amor místico pelas coisas puras, e sou cristão saísta se refugia em questões mascaradas e em
em certa repugnância instintiva ao que às vezes pseudo-ciências, que não ousa sair de um mundo
se chama a natureza. (...) Esse misticismo é exclu- que ele próprio criou.» Bento de Jesus Caraça, por
sivamente sentimental e não mental.» Sérgio mais seu turno, caracterizava este «Uno-unificante»,
do que uma vez se define como não religioso. Em como um mero flatus vocis, na polémica célebre
1925 diz ser a-religioso. Declara em 1938, em «Con- que travou com Sérgio em 1945. Subestimou o
siderações sobre problemas da cultura», Seara significado do tema que não soube ou não quis
Nova: «Tenho sem dúvida alguma, uma sensibilida- compreender, tornando-se perfeitamente cla-
de mística e romântica; sendo porém, um cérebro ra esta atitude num marxista. Como veremos, o
implacavelmente racionalista, sequioso de clareza professor Hernani Resende abordou também co-
e demonstração». E é esta sede de clareza, quanto rajosamente esta matéria ao apresentar a segun-
a mim, que o leva a um extremismo que me legiti- da grande tese póstuma de Magalhães-Vilhena, e
ma questionar, se tal sede de saber justifica a sua vale muito a pena lê-lo.
declaração de ser um «racionalista místico»... Para
Muita água ainda isto fará correr por se inte-
isso, junta ao seu pensamento uma noção metafí-
grar numa área de grande interesse, a da dificul-
sica que designa como «Uno-unificante», e classifi-
dade do conhecimento e da realidade das coisas,
cou de «Origem das origens das nossas hipóteses
no mundo obscuro, sempre em mudança, que nos
científicas da necessidade de um acto absoluto de
rodeia. No formoso texto com que Sérgio fez an-
pensamento efectivo; de uma actividade originária
teceder a sua tradução de Os Problemas da Filoso-
de pronunciar juízos» A sua imensa admiração pela
fia, de Bertrand Russell (1959), escreveu: «Porque
pureza da mensagem evangélica, juntamente com
não consiste a educação filosófica, na adopção de
o apreço das qualidades excepcionais dos grandes
umas tantas das opiniões de um filósofo, senão
místicos, e a consciência dolorosa de uma zona
que no treino da atitude crítica, no exercício pes-
obscura, impenetrável da realidade da vida, leva-o
soal de um pensar autêntico, no uso metódico de
a considerações metafísicas que casam mal, ao que
um cepticismo activo, na prática da elucidação dos
se me antolha, com o seu vero racionalismo. Como
problemas básicos.» Não nos esqueçamos de ser,
é evidente, se pudesse conversar ou polemicar com
pois, activos cepticistas...
Sérgio acerca deste tema ele num ápice me con-
traditaria com ponderosas razões e por certo que
não deixaria de invocar em sua defesa cientistas Lisboa, 10 de Abril de 2019
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UM, PARA MIM, ESTRANHO SILÊNCIO DE EÇA DE QUEIRÓS
César Veloso
Ensaísta
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Apesar da desbrutalização que as «Regras de sados em livro póstumo denominado Cartas de
Cambridge» trouxeram à prática do futebol, a sua Inglaterra. Pois devo dizer que não existe corre-
observância ia-se fazendo muito devagar, criando, lação nenhuma. Não há nas Cartas de Inglaterra,
em termos de produção industrial, um problema que eu encontrasse, uma só palavra sobre o fute-
de enorme dimensão, qual foi o crescente absen- bol. Ainda que este, como acima sublinhei, tives-
tismo dos trabalhadores que jogavam futebol, pro- se atacado transversalmente as estruturas da so-
vocado por lesões ocorridas nos terrenos de jogo, ciedade civil inglesa, com destacado reflexo, não
situados, em geral, nos logradouros contíguos às se duvide, nos jornais e revistas de que Eça certa-
fábricas. O patronato reagirá de uma forma muito mente era leitor assíduo. Cá para mim, que, pela
lúcida e muito «british»: em vez de comprar uma idade, posso gozar, como disse o próprio Mestre,
guerra aberta aos sindicatos, proibindo ou difi- as delícias da irresponsabilidade, é este, na ver-
cultando a prática do futebol, o que fez foi apoiar dade, um estranhíssimo silêncio. No mesmo sen-
financeiramente as organizações desportivas que tido, outra omissão a assinalar terá sido o facto de
iam surgindo, foi ajudar a promover a implemen- o nosso escritor ter ignorado os primeiros Jogos
tação das «Regras de Cambridge», tudo isso para Olímpicos Modernos, realizados com toda a pom-
reduzir a violência das confrontações físicas em pa e circunstância no Estado Olímpico de Atenas,
campo. Vendo bem, o que, nessa ilha dos nevoei- expressamente construído para o efeito. Como se
ros intensos e dos parques verdejantes, estava a calcula, a inauguração destes Jogos em 1886 teve
irromper era uma autêntica revolução nos hábitos uma enorme carga simbólica, ou não se preten-
colectivos de uma população que, com a práti- desse fazer deles a versão moderna de jogos que
ca do futebol, vai ganhando como que um culto foram o mais importante festival religioso e atlé-
novo, certamente uma nova e genuína devoção. tico da Grécia Antiga. Sempre tão atento e tão lú-
Mas não é só a sua prática que nos dá a con- cido ao fluir dos acontecimentos mais relevantes
figuração completa da revolução social que, na da época, e magistralmente a escrever sobre eles,
Inglaterra, o fenómeno futebol arrastava consigo. por certo que Eça conhecia bem os contornos da
A consequência mais visível terá sido o estabe- formidável iniciativa civilizacional que foi a reali-
lecimento oficial da chamada «semana-inglesa». zação destes Jogos.
Por outro lado, de ano para ano, os jogos de fute- Mas, tal como quanto ao futebol, não deixou
bol, assistidos por entusiasmadas multidões, vão nada escrito.
ganhando a natureza de grande espectáculo, a Sobre o porquê destes silêncios, por mera
suplantar, a nível de sumptuosidade pública e so- recriação já se vê, tem o autor destas linhas, não
bretudo de receitas de bilheteira, os espectáculos raras vezes, procurado uma explicação. Sem ne-
tradicionais como o teatro, o circo, as «horsing ra- nhum sucesso, há que dizer. Será que o escritor,
ces», as corridas de galgos, as paradas militares, a devido à sua fraca figura de gente, magricela e de
procissão religiosa, o protesto político, etc, etc. E, costas a fazer curva, com as vísceras sempre ava-
como tudo aquilo que nasce com força, o futebol riadas, por complexo, por despeito, abominaria fa-
vai precisar de ser organizado. Em 1868, é fun- lar e escrever sobre cultura física, designadamen-
dada «The English Football Association», que faz te, pela sua bruteza, sobre o futebol? Digo que não
disputar, em 1872, a primeira Taça da Inglaterra e, e, penso eu, por indiscutíveis razões. Vejamos, para
em 1876, a primeira «Primier League». Ora bem. começar, como ele retrata o seu amigo Ramalho
É mesmo altura de dar conta da hipotética cor- Ortigão. Passo a citar: «de entre a figura anémica e
relação entre tais acontecimentos por um lado derreada dos seus contemporâneos, tem a saúde,
e os escritos queirosianos e bem assim a própria a firmeza, a linha desempenada, a marcha sólida, o
personalidade do romancista, por outro. Eça de movimento ágil. E mais: tem 1,80 metros de altura.
Queirós, como se sabe, trabalhou em Inglaterra E mais ainda: não é bacharel!». Era, aliás, numa sim-
nos anos 70 e 80 do século XIX e produziu escri- ples expressão, que Eça, a meu ver, costumava ex-
tos notáveis sobre este país, mais tarde conden- primir a sua admiração pelo porte atlético do ami-
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go quando lhe chamava a «Ramalhal Figura». Em Parece-me, pois, de concluir que Eça de Quei-
Os Maias, por exemplo, lembram-se do Mr. Brown, rós, se nada publicou sobre desporto, tal se não de-
perceptor de ginástica de Carlos da Maia na Quin- veu a qualquer aversão sua à cultura física. Ele era,
ta de Santa Olávia? Dizia ele, no seu português mal pelo contrário, um seu assumido entusiasta, como
pronunciado: «o que é prreciso é terr forrça, o que fiz prova nos vários exemplos de texto que acima
é prreciso é terr músculo»! pude transcrever. Na tentativa de indagar por que
Ainda em Os Maias, desta vez com recurso à motivo Eça de Queirós, nos seus escritos, terá si-
sempre luminosa ironia do autor, pela boca do lenciado o desporto, apetece-me formular uma
conde de Gouvarinho, a propósito de intervenção hipótese que, sob a nudez forte da verdade, tem
sua, em debate nas Cortes, sobre a possível intro- a cobri-la, devo avisar, um largo e diáfano manto
dução da educação física no sistema escolar. Diz de fantasia – isto é um «falar» meu, baralhando e
esse ilustre pateta: «...nunca este país retomará o maltratando a frase inscrita na estátua a ele erigida
seu lugar à testa da civilização, se, nos liceus, nos no Largo Barão de Quintela em Lisboa.
colégios, nos estabelecimentos de instrução, nós Houve sempre muito boa gente a embirrar
outros, os legisladores, formos, com mão ímpia, com o futebol. Ora bem. Quer as Cartas de Ingla-
substituir a cruz pelo trapézio!». terra quer os Ecos de Paris são obras póstumas.
Mas será em Lendas de Santos que Eça de Quei- Os textos foram seleccionados por pessoas que
rós, para mim, mais terá enfatizado o esplendor podiam não ter os mesmos critérios que tinha o
das capacidades atléticas do ser humano. Num seu autor. Pode ter havido a preocupação de fazer
dos contos que integram esta obra, «S. Cristóvão», publicar certos textos e não publicar outros. Existe
escreve o autor que este, tendo nascido disfor- um exemplo concreto deste tipo de discriminação:
me, feíssimo, desmedido e aparentemente sem houve cartas trocadas entre marido e mulher do
discernimento, ao longo da vida, sempre a favor casal Queirós que permaneceram nos arquivos de
dos pobres e dos oprimidos, cometeu façanhas de família por opção desta e não integraram a obra
desempenho físico absolutamente assombrosas. póstuma intitulada Eça de Queirós entre os seus:
Nunca tão prodigamente se juntaram numa só apresentado por sua filha: cartas íntimas (1948).
pessoa, mesmo na ficção, tanta força de corpo e Porque não admitir que a viúva do escritor, D. Emí-
tanta pureza de alma. Para se ter a ideia do extraor- lia de Castro, tivesse tido uma participação muito
dinário «élan» atlético do «Imenso Bruto», como o actuante nas opções a tomar quanto à publicação
autor lhe chama, detenhamo-nos numas brevíssi- ou não dos textos escritos por seu marido?
mas passagens desse conto: «seus vastos pés (os
Como ninguém me sabe dizer se D. Emília gos-
de Cristóvão) empurravam rochas como seixos...»;
tava ou não gostava de futebol, peço imensa des-
«é ele, só ele que na aldeia devasta florestas a gol-
culpa mas vou usar a minha «doida da casa», como
pes de machado, carrega às costas grossas pipas,
quem diz, a velha mas não cansada fantasia que
puxa carros de bois...», que trata dos velhos e dos
sempre viveu em mim.
mendigos, dos órfãos e das viúvas, cura as suas fe-
ridas, lava as suas roupas, lava e conserta os seus Querem saber o que ela me disse? Sim, de facto,
casebres que enche de pão e de lenha seca para os o nosso Eça escreveu alguns textos sobre o impacte
defender do frio trazido, com os ventos revoltos, que o futebol teve em «Terras de Sua Majestade»; D.
do alto das montanhas». Emília, porém, decidiu, pura e simplesmente, não os
deixar publicar.
Não tenho dúvidas: S. Cristóvão ganharia todo
o ouro das Olimpíadas de Atenas de 1886. Se acaso Coitada da senhora... Mas pronto, brincando
o Cristóvão da lenda tivesse existido. E, se existin- um pouco, aqui têm à la carte uma «explicação»
do, não se desse o caso de, por compaixão, tudo possível para o estranho silêncio que venho co-
fazer para que fossem os adversários e não ele a mentando.
ganhar as provas... E assim termino.
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Eça de Queirós e a coleção de Frédéric Sptizer (1815-1890).
Perspetivas críticas
Susana Moncóvio
smoncovio@gmail.com
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austríaca, no entanto, a The Jewish Encyclopedia Durante mais de uma década, sobretudo en-
identifica Friedrich (Samuel) Sptizer, colecionador e tre 1878 e 1890, conviveu com a alta sociedade
comerciante de arte francês, nascido em 1814, em parisiense, quer na qualidade de connaisseur, con-
Pressburg (atual Bratislava, Eslováquia), e falecido selheiro e intermediário nas aquisições dos cole-
em Paris, em 1890. Era filho do coveiro oficial da co- cionadores amadores, designadamente diversos
munidade, e cedo foi viver em Viena, tendo viajado elementos da família Rothschild, Sir Richard Wallace
pela Alemanha, Inglaterra, Bélgica e Holanda, expe- e outros, quer nas receções em sua casa, onde re-
riência que lhe permitiu apurar o sentido de negó- cebia numerosas individualidades da «artistocracie
cio e ampliar a educação artística (G., 1906, XI: 524; de naissance, de talent ou de fortune», entre as quais
Catalogue, 1929). o pianista Franz Liszt, o pintor John Singer Sargent,
Integrou as campanhas militares do exército aus- os Rothschild, ou o empresário americano William
tríaco em Itália (1848), e por essa altura começou a Randolph Hearst (Catalogue, 1929; Kunstkammer,
comprar objetos de arte. É consensual que o eleva- 2016: 10). Um círculo de relações privilegiadas que
do lucro obtido na venda de uma gravura (em Paris), lhe permitiu cultivar o inato sentido de negócio,
que se comprovou ser da autoria de Albrecht Dürer, mas também lhe conferiu proteção no turbulento
lançou as bases da sua fortuna. Ainda na década de período de transição do Segundo Império de Napo-
quarenta viajou para Londres com o negociante de leão III (1852-1870) para a III República de Adolphe
arte König, tendo aproveitado a ocasião para visitar Tiers (1870-1940) (KAPLAN, 2016).
diversos colecionadores ingleses, apercebendo-se Ao fim de alguns anos, com a posição consoli-
do apreço que tinham pelas armas antigas, pelo que dada, permitiu-se colocar preços exorbitantes nas
começou a investir nessa categoria. Vendeu algumas peças colocadas à venda, o que afastava muitos
peças ao barão Adolf von Rothschild, influente per- clientes, e ocupar-se cada vez mais da sua própria
sonalidade que o instou a fixar-se na capital francesa, coleção de arte medieval e do Renascimento, che-
o que aconteceu cerca de 1852, residindo na rue de gando a incorporar outras coleções particulares,
Villejust (atual rue Paul-Valéry), próximo do Arco do como as de Louis Fidel Debruge-Duménil, do prín-
Triunfo, onde acomodou a sua coleção e criou repu- cipe Soltykoff, do barão Seillière, de Alessandro Cas-
tação de negociante de arte (G., 1906, VI: 524; Kuns- tellani, de Julien Gréau, e outros (Collector, 1890:
tkammer, 2016: 10). 116; Frick, 2019). Embora poucos tivessem o ensejo
Entre 1855 e 1869, aproximadamente, estabe- de contemplar a robusta seleção de objetos, orga-
leceu negócio de antiguidades, criando a empresa nizados no espaço das várias galerias, a verdade é
Spitzer, Kunst und Antiquitäten-Handlung em Aix- que o «museu Spitzer» possuía uma magnitude que
-la-Chapelle (Aachen, Alemanha), e terá sido nesse rivalizava com as melhores galerias públicas da ci-
período que formou parceria com Reinhold Vasters dade. Segundo o testemunho de um conhecedor,
(1827-1909), ourives e restaurador que interveio no «La Renaissance, dans la collection Spitzer, est, nous
tesouro da catedral de Aachen, uma relação cujos dit M. M., pour nous donner le vertige» (MÉLY, 1894:
contornos e significado veremos adiante. 31). Mas o colecionador levou mais longe o seu afã
No período da Guerra Franco-Prussiana (1870- e investiu na realização de catálogos ilustrados, fac-
1871), Spitzer enviou parte da sua coleção para to que nos permite avaliar o espólio reunido.
Londres, onde foi comprada por Sir Richard Walla- Em 1887, surgiu The illustrated Catalogue of
ce (1818-1890), cujo espólio pessoal e familiar deu Spitzer´s collection, publicado em Paris, em três vo-
origem à The Wallace Collection (1900), Hertford lumes (1200 francos), logo considerado uma publi-
House. Na mesma época expediu a coleção de ar- cação admirável (G., 1906, XI: 525). Em 1890, o co-
maduras para Viena, onde foi comprada pelo barão lecionador e historiador de arte Edmond Bonnaffé
Anselm von Rothschild (1834-1854) por 500.000 (1825-1903) publicou em Paris o livro Le Museé Spit-
francos. Progressivamente, foi ampliando os meios zer (BONNAFFÉ, 1890). Procurando colmatar a au-
de fortuna e adquirindo um crescente número de sência de informação sobre os colecionadores pri-
objetos de arte. vados, pois os estudos enfatizavam habitualmente
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as obras, as escolas e os artistas, este autor havia já também escreve sobre as faianças de Saint-Porchai-
lançado a obra Dictionnaire des Amateurs français au re (renascimento), as faianças de Bernard de Palissy
XVII.e siècle (BONNAFFÉ, 1884). (século XVI) tratadas por Émile Molinier, o estudo de
Nos últimos anos de vida, Frédéric Spitzer solici- serralharia conduzido pelo historiador e especialis-
tou a colaboração do curador e historiador de arte ta em artes decorativas Henri-René D´Allemagne
Émile Molinier (1857-1906) para elaborar um catá- (1863-1950), e os objetos em couro por Alfred Dar-
logo da sua coleção, supervisionou pessoalmente cel, diretor do museu de Cluny, que também aborda
o primeiro dos seis volumes, tendo os seguintes a ourivesaria civil (MÉLY, 1894: 1-31).
sido publicados postumamente, embora de acor- Também o periódico americano The Collector
do com as instruções deixadas. A obra, intitulada (1890), especialista em notícias de arte, bibliografia
La Collection Spitzer: Antiquité, Moyen Age, Renais- e antiguidades, dedicou diversos apontamentos à
sance, foi publicada entre 1890 e 1892, pela Maison coleção francesa, que conhecedores e amadores
Quantin, Librairie Centrale des Beaux-Arts, em Paris, reputavam como «the eighth wonder of the worl»,
e M. Davis, em Londres, com a seguinte cadência: sublinhando o carácter de exceção do dealer ter
tomo 1.º – 1890, 2.º e 3.º – 1891, 4.º, 5.º e 6-.º – 1892. ascendido à condição de colecionador, e a reserva
Teve uma tiragem de 600 exemplares, possuía 342 com que geria o acesso a uma das maiores coleções
cromolitografias e placas heliográficas, numerosas do género. Oferece uma descrição detalhada das
ilustrações intertexto, com encadernação em couro vinte principais divisões (e subdivisões) que com-
(MOLINIER, 1890-1892). põem a coleção reunida ao longo de décadas, em
Através do testemunho de Fernand de Mély alguns casos com a incorporação de museus par-
(1851-1935), arqueólogo, historiador e crítico de ticulares para completar certas secções, citando a
arte que privou com Spitzer, sabemos que havia a coleção de armas de Carrand, de Lyons, parte da
intenção de publicar um catálogo que fizesse jus à coleção do amador inglês Waddington, os marfins
coleção, e superasse todos os precedentes. O pro- e esmaltes da coleção Meyrick, a joalharia das co-
jeto contava com textos e imagens de Émile Levy, leções de Debruge e de Soltykoff (Collector, 1890:
o livreiro Quantin, e a colaboração de figuras de 61). Também o lançamento do primeiro dos seis
prestígio e reconhecidas autoridades no mundo volumes do catálogo da coleção europeia no mer-
da arte como Wilhelm Fröhner (1834-1925), ar- cado americano foi notícia, tendo correspondido
queólogo e curador no Museu do Louvre, Alfred às expetativas lançadas pelos promotores (texto e
Darcel (1818-1893), curador dedicado ao período ilustrações) (Collector, 1890: 93).
medieval e do Renascimento, Léon Palustre (1838- Foi igualmente publicado em Paris outro for-
1894), arqueólogo com interesse na arquitetura mato do catálogo, pela Macon, Protat Frères, Im-
do Renascimento e ourivesaria religiosa, Eugène primeurs, agrupando no primeiro volume (1890) as
Müntz (1845-1902), professor na École des Beaux- seguintes categorias: antiguidades, marfins, ourive-
-arts e especialista em arte do Renascimento, com saria religiosa, tapeçaria, esmaltes pintados, faian-
várias obras publicadas, Émile Molinier (1857- ças de Bernard Palissy, faianças de Saint. Porchaire,
1906), curador e historiador de arte. ditas de Henrique II ou D´Oiron, móveis (madeira
No texto escrito em 1890 e publicado em 1894, esculpida), couro, ferragens, chaves, faianças persas
Mély salienta as terracotas gregas e os bronzes e orientais, faianças hispano-mouriscas, faianças
etruscos, mas dilata a sua análise no que diz respeito italianas, mármores, terracotas, medalhas italianas,
às demais categorias. Refere-se ao segundo volume, medalhas alemãs, medalhas francesas, bronzes,
cuja publicação póstuma teve como objetivo asse- placas, grés e outros. O conteúdo do segundo vo-
gurar que o projeto editorial sobreviveria, o qual lume do catálogo (1891) versava sobre ourivesaria
contemplava: esmaltes pintados, apresentados pelo civil, joias, anéis, vitrais, vidros, escultura, cutelaria,
pintor de esmalte Claudius Popelin (1825-1892), a ferragens, pedras duras, relógios, instrumentos de
secção de mobiliário e escultura em madeira com precisão, ceras, cofres, jogos, manuscritos, estofos,
texto de Edmond Bonnaffé (1825-1903), autor que armas, miniaturas, quadros, cobres.
42
Por altura da sua morte, em 1890, Frédéric Spit- os numerosos compradores encontrava-se Geor-
zer era visto como o mais proeminente negocian- ge Salting (1835-1909), colecionador sediado em
te e colecionador de arte europeu. Ainda em vida, Londres, que mais tarde legou obras aos museus
surgiram ofertas de compra para a coleção, desig- londrinos British Museum, The National Gallery e
nadamente de Gambetta, que ofereceu 6.000.000 Victoria and Albert Museum. Algumas peças foram
francos, e de uma corporação encabeçada pelo adquiridas ou doadas a museus americanos, como
banqueiro Hainauer, de Berlim, que ofereceu The Metropolitan Museum, em Nova Iorque e The
25.000.0000 francos por toda a galeria. Foi também Frick Collection, também em Nova Iorque, e muitos
ponderada a sua incorporação num museu públi- mais contribuíram para a mobilidade dos cobiçados
co, sendo Sptizer designado diretor perpétuo, con- artefactos (KAPLAN, 2016).
tudo, o proprietário determinou em testamento a
realização de um leilão três anos após a sua morte Eça de Queirós e o Museu Sptizer
(G., 1906, XI: 524).
Frédéric Spitzer faleceu no dia 23 de abril de
Enquanto representante da diplomacia por-
1890, encontrando-se sepultado em jazigo no ce-
tuguesa, Eça de Queirós exerceu atividade em
mitério de Passy, Paris. Como estipulado, os herdei-
Havana, então Antilhas Espanholas (1872), onde
ros procederam à venda de grande parte da cole-
teve intervenção ativa no que concerne aos direi-
ção em 1893, naquele que foi designado o «leilão
tos dos imigrantes chineses procedentes do por-
do século», um acontecimento com repercussão na
to de Macau (coolies), posteriormente foi coloca-
imprensa local e internacional. Pelo seu carácter ex-
do em Inglaterra, em Newcastle (1874) e Bristol
cecional, este evento constituiu uma referência que
(1878), e em 1888 tomou posse no consulado de
perdurou por longo tempo entre os negociantes
Paris. Permaneceu nesta cidade doze anos, tendo,
de arte, e o catálogo tornou-se um verdadeiro guia
entre 1889 e 1891, habitado na rue Creveaux, 5,
para colecionadores e profissionais dos museus
no quartier de Passy e próximo da avenue du Bois
(Catalogue, 1929). Compreensivelmente, os interes-
de Bologne (atual avenue Foch, desde 1929), mu-
sados consideravam a participação um bom inves-
dando posteriormente para a rue Charles Laffitte,
timento, uma perceção baseada na qualidade dos
32, em Neuilly-sur-Seine, onde residiu entre 1891
próprios objetos e na reputação do proprietário,
e 1893 (MATOS, 1996: 17).
valores que transitariam para as coleções dos novos
possuidores (Catalogue, 1929).
O evento decorreu na rue de Villejuste, entre 17
de abril e 16 de junho de 1893, a exposição apre-
sentou mais de três mil objetos, o que acarretou
alguns problemas de identificação, e foi acompa-
nhado da publicação do Catalogue des objets d’art
et de haute curiosité antiques, du moyen âge et de
la Renaissance, composant l’importante et précieuse
collection Spitzer, com prefácio de Émile Molinier e
participação de Edmond Bonnaffé, e do atlas ilus-
trado (Catalogue, 1893). Foram ainda publicados
catálogos parcelares (Numismática, sessão realiza-
da em maio; Manuscritos do século XV e XVI, sessão
realizada em junho). Fig. 2 – Avenue du Bois de Bologne, c. 1900. In Rues de Paris.
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nou a atualidade parisiense e atraiu colecionado- tangível o «luxo faustoso com que a Renascença re-
res, interessados ou curiosos, que afluíram ao pa- vestiu toda a sua vida civil, militar e religiosa» (QUEI-
lacete da rue de Villejust, nas cercanias da avenue ROZ, 1988: 329-330).
du Bois de Bologne. Com admiração, destaca as armas, designada-
Eça de Queirós teve o ensejo de percorrer as dez mente as diversas espadas, adagas, punhais e cou-
ou doze galerias do palacete, observar o ambiente raças, pois, embora fossem objetos de uso pessoal
sumptuoso e organizado, onde uma profusão de e do quotidiano dos homens da Renascença, osten-
objetos artísticos e elementos decorativos reunidos tavam uma decoração requintada, saída das mãos
ao longo de uma vida se apresentavam dispostos dos melhores cinzeladores e joalheiros. Coloca no
em vitrines, estantes e peanhas, uma extensa co- mesmo patamar de «luxo complicado e bárbaro»
leção subordinada a um denominador comum: o as chaves, as campainhas, as cobertas de cama,
gosto do proprietário pela arte medieval e do Re- os cabos de facas e de garfos finamente esculpi-
nascimento. A experiência estética é contada pelo dos em marfim, onde abundam as representações
escritor numa das crónicas inspiradas pela vida mitológicas do mundo pagão. Mas além das artes
quotidiana na capital francesa, “Uma colecção de decorativas da Renascença, salienta a presença de
Arte” (1893), texto publicado na Gazeta de Notícias pequenas estátuas de marfim, madeira, faiança,
e integrado na edição de Notas Contemporâneas bronze, peças de proveniências diversas e com es-
(QUEIROZ, 1988: 329-334). tilos de épocas entre os séculos XIII e XVI. O escri-
tor estende-se na descrição de imagens de santos,
«provenientes de capelas ou de oratórios fidalgos»,
referindo as Virgens esculpidas em dentes de mar-
fim, São Cristóvão talhado em madeira de carvalho,
o Menino Jesus vestido e caracterizado ao gosto
barroco. Contudo, a sua atenção é despertada pela
presença de «uma breve e modesta coleção de ter-
racotas gregas», constituída por «quinze ou vinte
dessas figurinhas, cor de greda, de roupagens ligei-
ras, designadas pelo vago nome de tânagras [...].
São obras pertencentes à indústria mais que à arte»
(QUEIROZ, 1988: 330-332).
Fig. 3 – Museu Spitzer, 1893. In Kunstkammer, 2016: 11.
Na deambulação pelas salas, capta a presen-
ça de esmaltes de Limoges, a faustosa ourivesaria
Mas a narrativa contém outros elementos de eclesiástica, os marfins esculpidos, as faianças de
interesse. Sobre o colecionador, Eça de Queirós sa- Bernard Palissy, ceramista quinhentista que influen-
lienta a riqueza, a erudição, o gosto seguro e a te- ciou a louça desenhada por Rafael Bordalo Pinheiro
nacidade, predicados que guiaram os cerca de cin- e produzida na Fábrica de Faianças das Caldas da
quenta anos de vida dedicados à formação da vasta Rainha, mas acaba por reconhecer que o percurso
e valiosa coleção de objetos de arte da Renascença. efetuado pelas sucessivas galerias e a observação
Sobre o espólio, não obstante a ausência de obras de tantas e tantas peças que representam «o génio
em ouro ou pedras preciosas, confere-lhe dignida- ornamental de uma grande civilização», não se fi-
de para integrar um qualquer museu nacional, pois xou na mesma extensão na sua memória, a qual, a
o «génio de uma civilização» encontra-se represen- custo, formou algumas imagens, mas sem atender
tado em materiais menos nobres: o barro, o vidro, a aos seus pormenores, frustrando o desejado en-
cera, a madeira, o cobre ou o ferro. Descreve a cole- riquecimento do «pecúlio da educação artística»
ção de «móveis, estofos, louças, esmaltes, ferragens, (QUEIROZ, 1988: 333-334).
armas, relicários, iluminuras, cofres, dalmáticas, Mas a reflexão sobre a impressão causada pela
lâmpadas, alfaias, imagens», elementos que tornam imensa e multivariada coleção Sptizer aprofunda-
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-se e, se da amálgama de sensações vividas emer- a desconstruir os substratos de uma das coleções
ge apenas a noção da «vaga refulgência de um te- mais elogiadas do seculo XIX.
souro», Eça de Queirós acaba por reconhecer que
apenas as «quinze ou vinte terracotas gregas», que
Abordagem crítica à coleção Spitzer
«há três mil anos os santeiros de Atenas vendiam
por meio dracma», conseguiram provocar-lhe uma
emoção distinta, fazendo perdurar «pela recorda- Depois do grande leilão de 1893, a dispersão
ção o mesmo encanto que deram pela contem- das peças da coleção Spitzer prosseguiu. Em junho
plação». Por fim, conclui: «Em arte, a copiosa, exu- de 1895 decorreu o leilão de armas, realizado na
berante, luxuosa e florida fantasia cansa, esquece Galerie Georges Petit, em Paris (Collection, 1895).
e passa – e só há eternidade para a beleza pura e Em janeiro de 1929 teve lugar o leilão de peças de
simples» (QUEIROZ, 1988: 334). arte medieval, do Renascimento, pinturas, escultu-
ra, armaduras, e algum mobiliário do século XVIII,
promovido pelas suas herdeiras, Mme baronesa Co-
che de la Ferte e Mme Augustin Rey de Villette, na
Andersen Galleries, em Nova Iorque, muitas delas
expostas ao público pela primeira vez (Catalogue,
1929). Em Portugal, a Casa Museu Medeiros e Al-
meida, em Lisboa, possui uma complexa ampulhe-
ta (século. XVII), de Michael Schedeloch, comprada
neste leilão (Casa, 2012).
Embora se tenham levantado algumas dúvi-
das aquando da realização do leilão de 1893, as
suspeitas sobre as peças provenientes da coleção
Spitzer surgiram no início do século XX, sobretu-
Fig. 4 – Coleção Sptizer: Terracotas gregas. In MOLINIER, 1890, I do quando os estudos colocaram em evidência
haver, afinal, cópias ou alterações em peças ge-
nuínas, fatores que comprometiam a autenticida-
O catálogo, publicado em 1890, possui uma sec-
de dos exemplares.
ção dedicada à Antiguidade, na qual se incluem as
terracotas gregas, as figuras de Tânagra que estimu- Mas podemos falar em falsos? A resposta a
laram o sentido estético do escritor e lhe causaram a essa questão requer o devido enquadramento. À
impressão mais duradora, aqui tipificadas pelas escul- época, as exposições apresentavam lado a lado
turas como o n.º 2: Amour et jeune fille / Amor e jovem obras originais, restauros e imitações, pois a cor-
mulher, alt. 21 cm, policromada, considerada uma das rente historicista que atravessou o século XIX foi
mais belas da categoria «par la forme, le motif et le pródiga em revivalismos, tanto no âmbito da ar-
sentiment», e n.º 3: Femme en deuil / Mulher de luto, quitetura como nas artes decorativas (neorromân-
alt. 24 cm, policromada (Collection, 1890, I: 1-2). tico, neogótico, etc.). Assim, tomar como modelo
O testemunho direto, mediado pela sageza e peças do Renascimento e produzir «recriações»
acutilância que reconhecemos nas observações de insere-se no mesmo gosto e prática (JONES, 1990;
Eça de Queirós, aliadas à sensibilidade estética e HACKENBROCH, 1986: 163).
capacidade descritiva do escritor, fornece-nos uma Sendo um fornecedor muito requisitado, Spit-
primeira perspetiva crítica sobre a «oitava maravi- zer disponibilizava aos colecionadores com eleva-
lha» e sobre o abalizado colecionador oitocentista. do poder de compra peças executadas pelos me-
Concluímos que o juízo do português não foi sedu- lhores artesãos do ofício, superando por vezes os
zido pelos materiais refulgentes, nem sucumbiu à exemplares do século XVI. Essa realidade do merca-
«vertigem» que atingiu muitos dos estudiosos que do da arte oitocentista e as relações entre os diver-
rodearam Spitzer. Intuitivamente, senão premoni- sos agentes tem vindo a ser desconstruída pelos
toriamente, antecipou o escrutínio que tem vindo sucessivos estudos.
45
Logo em 1909, Stephen Beissel (1841-1915),
jesuíta e historiador de arte nascido em Aachen,
com trabalhos publicados sobre relíquias, revelava
que durante décadas Sptizer encomendou peças
«antigas» aos melhores artistas de Paris, Colónia,
Aachen e outros centros (Kunstkammer, 2016: 10).
Nos anos setenta, o conservador Charles Truman
(1949-2017), estudioso da joalharia da Renascença,
descobriu no Victoria and Albert Museum vários
desenhos de Reinhold Vasters que esclareceram o
processo. Além de apresentaram instruções manus-
critas para a execução de objetos de arte medieval
e do Renascimento, possibilitaram reconhecer cor-
respondências entre os projetos e as peças reali-
zadas. Assim ocorreu com a taça em ágata verde,
coberta, com base, friso com figuras, pegas e orna-
mentos em esmalte dourado, outrora pertencente à
coleção Spitzer, datada de cerca 1870-90, colocada
em confronto com o projeto que lhe deu origem, o
desenho de Vasters existente no Victoria and Albert
Museum, Londres (HACKENBROCH, 1986: 241).
46
Os mais recentes estudos efetuados sobre Collector (The). New York, 15.02.1890: 61.
esta temática devem-se a Paola Cordera, primeiro Collector (The). New York, 15.05.1890: 116.
na tese de doutoramento Dal museo delle cose al
CORDERA, Paola, 2014 — Dal museo delle cose al Musée Imagi-
Musée Imaginaire. Materiali per la (ri)costituzione
naire. Materiali per la (ri)costituzione del museo di arti de-
del museo di arti decorative e industriali di Frédéric corative e industriali di Frédéric Spitzer (1815-1890). Milão:
Spitzer (1815-1890), na qual procura reconstruir a Politécnico de Milão, Departamento de Design. Tese de
unidade da coleção oitocentista, considerada um doutoramento.
modelo em 1893, analisar o seu papel no quadro
CORDERA, Paola, 2015 — La fabbrica del Rinascimento. Frédéric
europeu do século XIX e significado na cultura Spitzer mercante d’arte e collezionista nell’ Europa e delle
atual (CORDERA, 2014). Este trabalho deu origem nuove nazioni. Bolonha: Bononia Universiy Press.
ao livro La fabbrica del Rinascimento. Frédéric Spit-
Frick Collection (The), 2019 — Spitzer, Frédéric, 1815-1890.
zer mercante d’arte e collezionista nell’Europa e delle
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Sptizer, por Félix Nadar (1820-1910), envergando browserecord.php?-action=browse&-recid=11901>
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47
Há 40 anos na Fundação Calouste Gulbenkian:
Reconstituição do túmulo da rainha Nefertari
Luís Manuel de Araújo
Faculdade de Letras da Universidade de Lisbo
Nos primeiros meses de 1979, a Fundação Ca- posição parisiense sobre Tutankhamon e o valio-
louste Gulbenkian levou a efeito, nas suas instala- so espólio encontrado no túmulo do jovem faraó,
ções em Lisboa, uma notável reconstituição, em uma espetacular mostra que esteve em diversas
tamanho natural, do túmulo da rainha Nefertari, a cidades europeias e americanas.
esposa preferida de Ramsés II, célebre faraó do Egi- Para além da experiência própria, granjeada
to, que reinou entre 1279 e 1213 a. C. (XIX dinastia pela visita feita à Galeria de Exposições Temporá-
do Império Novo). Essa reconstituição foi depois fei- rias da Fundação Calouste Gulbenkian 2, na altura
ta no Porto, no Museu Nacional de Soares dos Reis, em que Maria Teresa Gomes Ferreira era diretora
atestando uma salutar política cultural de descen- do Museu Calouste Gulbenkian, o essencial da im-
tralização que já nessa altura a mecenática Funda- pecável reconstituição fotográfica do túmulo pôde
ção procurava seguir 1. ser apreendido graças a um pequeno livrinho en-
Três anos antes, e graças ao empenho da Ko- tão editado pela Fundação, onde eram apresenta-
dak-France, a reconstituição fotográfica do belo das as principais divindades que desfilavam pelas
túmulo da rainha Nefertari tinha estado à dispo- paredes e pilares da casa de eternidade de Neferta-
sição dos milhares de visitantes que então a ela ri, e sobretudo pelo esclarecedor livro de Christiane
acorreram, coincidindo com a exposição feita em Desroches-Noblecourt e Diane Harlé, O Túmulo da
Paris subordinada ao aliciante título «Ramsés, o Rainha Nofretari (Lisboa: Fundação Calouste Gul-
Grande», a qual repetiu o imenso sucesso da ex- benkian, 1979) 3.
Fig. 1 – Lintel da entrada da câmara do sarcófago mostrando a deusa Maet alada encimada pela inscrição: «Palavras ditas
por Maet, filha de Ré, que protege (a sua) filha, a grande esposa real Nefertari-meritenmut, justificada».
48
A realização, coordenação e montagem da ex-
posição esteve a cargo do Serviço do Museu, com
as conservadoras Maria Helena Soares Costa e Ma-
ria Manuela Marques Mota, assessoradas por Maria
Helena Assam (recentemente falecida, autora de
um pequeno catálogo da coleção egípcia editado
em 1991) e Maria Rosa Figueiredo (recentemente
aposentada depois de muitos anos de dedicação ao
Museu). O Serviço de Exposições e Museografia co-
laborou na montagem com o arquiteto José Aleixo
França Ribeiro e o desenhador-projetista Américo
Ferreira da Silva.
A rainha Nefertari
49
tep III e Amen-hotep IV-Akhenaton), que desposa- das pela rainha Tuia, a mãe de Ramsés II (viúva de
ram algumas irmãs (ou meias-irmãs) e filhas ainda Seti I), e pela rainha Nefertari. De resto, esta viria a
de tenra idade. Quanto ao herdeiro do longevo Ra- conhecer a futura esposa de Ramsés II vinda do Hat-
msés II, acabou por ser o seu décimo terceiro filho, ti, quando, na altura do tratado de paz, se entendeu
Merenptah, filho da rainha Isitnefert, que se tornou reforçar os laços de amizade entre as duas grandes
senhor das Duas Terras já em idade avançada, rei- potências da época com o casamento do faraó com
nando entre 1213-1203 a. C., tendo sido também uma princesa hitita, filha do rei Hattusil. Sabe-se
sepultado no Vale dos Reis 6. que depois deste jubiloso enlace, com fortes moti-
Embora existissem várias rainhas na corte (para vações políticas, o nome de Nefertari, a graciosa rai-
além de muitas esposas menores e concubinas), nha que teria então 50 anos de idade, praticamente
Nefertari foi a principal rainha, com o elevado títu- desapareceu dos textos contemporâneos 9.
lo de «grande esposa real» (hemet nesu ueret) até à
sua morte. Existe um santuário dedicado a Ramsés
II, em Gebel el-Silsileh, que conserva uma estela da-
tada do seu primeiro ano de reinado, onde se po-
dem ver Ramsés e Nefertari desempenhando rituais
perante várias divindades. De facto, ao contrário de
outras apagadas rainhas, Nefertari parece ter parti-
cipado na vida política e nos assuntos «de Estado»,
aparecendo ao lado do seu marido nas cerimónias
festivas, sabendo-se que ela trocou correspondên-
cia com a rainha dos Hititas, rivais do Egito durante
os séculos XIV e XIII a. C., antes do tratado de paz
assinado entre o Egito e o Hatti no vigésimo primei-
ro ano de reinado de Ramsés II, na sequência da in-
decisa batalha de Kadech travada em 1275 a. C. nas
margens do rio Orontes, na Síria do Norte 7. Nessa
empolgante batalha, que o rei das Duas Terras quis
apresentar como uma grande vitória egípcia, este-
ve presente Nefertari com algumas crianças reais,
como de resto era hábito naquele tempo, em que
a família real e os altos dignitários da corte seguiam
o faraó mesmo em campanhas militares no estran-
geiro, sendo uma oportunidade para que os jovens
príncipes, mesmo ainda adolescentes, pudessem
adquirir alguma experiência de combate.
No texto que descreve a batalha de Kadech,
percebe-se o momento dramático em que os carros Fig. 3 – Algumas das divindades representadas nas paredes do
de guerra hititas, depois de terem destroçado a di- túmulo de Nefertari, reconhecendo-se Khepri, Ísis (conduzindo
visão de Ré (com cerca de 5000 soldados, o tradicio- pela mão a rainha) e Serket.
nal número de combatentes de uma divisão egípcia
no Império Novo), irrompem pelo acampamento da Sublinhe-se, entretanto, que as inscrições do
divisão de Amon, onde na altura se encontrava o rei seu túmulo e as do templo rupestre de Abu Simbel
e a sua família, ordenando então Ramsés II que fos- preservaram os títulos elevados e os epítetos dig-
sem protegidas e afastadas do local «as mulheres e nificantes que foram atribuídos a Nefertari, onde a
as crianças», atestando assim a presença de parte rainha surge com o seu nome completo de Neferta-
da corte faraónica em Kadech 8. ri-meritenmut (amada da deusa Mut). Quanto à for-
Na correspondência trocada entre o rei do Egi- ma onomástica principal, note-se que Nefertari tem
to, na altura residindo amiúde em Per-Ramsés (no o sugestivo significado de «A mais bela de todas»,
Delta oriental), e o rei do Hatti, cuja capital era Hat- derivando de um epíteto gentil usado na época
tucha, no centro da península da Anatólia (a atual para certas damas. A imagem de Nefertari é geral-
Turquia), também foram encontradas cartas envia- mente acompanhada por vários títulos, como o de
50
«grande esposa real» (a que acima aludimos), e ne- «A única, a amada sem igual, a mais bela entre
bet-taui, ou seja, «senhora das Duas Terras» (o Alto e todas (Nefertari)!
o Baixo Egito), nebet-tau nebu, «senhora de todas as Ela é como a estrela da manhã que aparece no
terras», neferet-her, «bela de rosto» e beneret-merut, início de um bom ano.
«doce de amor». No seu templo funerário de Abu
Ela tem uma luminosa perfeição, a pele resplan-
Simbel é dignificada com os títulos de «membro
decente.
da elite» (irit-pat) e «esposa divina» (hemet-netjer),
detetando-se também a apropriada referência ao É amoroso o olhar dos seus lindos olhos.
facto de o sol brilhar para ela, o que bem se entende É suave o falar dos seus lábios, sem nunca falar
com a posição da fachada virada a oriente, sendo demais.
essa alusão solar enfatizada com a presença do dis- De pescoço elegante, peito radioso, cabelo de
co solar (como Aton ou como Ré). Por outro lado, o verdadeiro lápis-lazúli.
título de «mão do deus» (deret-netjer) que algumas Os seus braços valem mais que o ouro, os seus
rainhas do Império Novo exibem, aludindo à mas- dedos são como flores de lótus.
turbação levada a cabo pelo deus Atum para criar o
De coxas largas e cintura estreita, as pernas
mundo através da ejaculação do seu sémen, não se
acentuam a sua beleza, com um andar gracioso ao
vê na titulatura composta para Nefertari 10.
pisar o chão.» 11.
As rainhas do antigo Egito tinham o título ge-
nérico de hemet-nesu (esposa do rei), já que na lín-
gua egípcia não existia a palavra rainha, e este título O túmulo de Nefertari
acompanha amiúde a figura de Nefertari, por vezes
alongado para hemet-nesu ueret (grande esposa O túmulo, descoberto pelo italiano Ernesto Schia-
real), reforçado pelo título de conotação política de parelli em 1904, foi escavado no Vale das Rainhas, sí-
nebet-taui (senhora das Duas Terras), com a variante tio a que os antigos Egípcios chamavam Tasetneferu,
henut-taui (dama das Duas Terras) e ainda henut- isto é, «O Lugar da Beleza», sendo ainda conhecido
-tau-nebu (dama de todas as terras). Outros títulos pelas expressões Tainetaat («O Grande Vale») ou Ta-
referem-na como sendo henut-nedjem-ib (dama de setresit («O Vale do Sul»). Hoje é conhecido por Biban
doçura), nebet-imat (senhora de encanto) e henut- el-Harim, estando localizado, com o número 66 (QV
-hemut-nebut (dama de todas as mulheres). Pode- 66), no lado sudoeste da vasta necrópole tebana
ria, enfim, ajustar-se a Nefertari um belo poema líri- onde se encontram os devassados túmulos faraóni-
co da época ramséssida exaltando o ideal de beleza cos do Vale dos Reis (Biban el-Muluk) e as centenas
feminina de então: de tumbas do chamado «Vale dos Nobres» 12.
Fig. 4 – Imagem da câmara do sarcófago, também conhecida por sala dos quatro pilares,
tirada durante a fase dos trabalhos de restauro (1988-1992).
51
Fig. 5 – Planta do túmulo da rainha Nefertari, no Vale das Rainhas, reconstituída nas instalações
da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, em 1979 (Galeria de Exposições Temporárias).
No belo túmulo do Vale das Rainhas, rasgado cima com uma bela imagem da deusa Maet com
em profundidade na montanha calcária, seguindo asas abertas) dá acesso à câmara funerária, a qual
o plano geral de uma tumba real, a decoração é de tem quatro pilares e três pequenas câmaras laterais.
elevada qualidade mas partes do gesso pintado que Trata-se do local onde esteve o sarcófago, e que era
revestia as paredes já desapareceu, perdendo-se as- sem dúvida o espaço mais importante do túmulo,
sim algumas imagens e os textos hieroglíficos que as tendo sido feito num nível ligeiramente inferior ao
acompanhavam. Do espólio que já conteve restam do chão da câmara. Este precípuo espaço nuclear
fragmentos do sarcófago de granito de Assuão, pla- é conhecido pela expressiva designação de «sala
cas de ouro e de prata com o nome da rainha, cerca dourada», exibindo um teto decorado com estrelas
de trinta estatuetas funerárias (chauabtis), alguns re- amarelas de cinco pontas sobre um fundo azul es-
cipientes de alabastro e de cerâmica, bem como par- curo, representando o céu do Além, a Duat 14.
te de uma perna da múmia, materiais que se encon-
tram hoje guardados no Museu Egípcio de Turim 13. A decoração, de temática fúnebre e religiosa,
que em certa medida também se pode apreciar em
O túmulo consiste numa entrada com uma es-
certos túmulos reais coevos, evidencia finos deta-
cadaria que desce até uma primeira antecâmara,
lhes e uma composição deveras equilibrada, con-
a qual dá acesso a um duplo vestíbulo à direita de
cluindo-se que houve um criterioso estudo prévio
onde se passa para o primeiro anexo do túmulo.
Neste pequeno anexo esteve guardado parte do para que os artistas, sob as ordens de experientes
vultuoso espólio funerário da rainha, estando de- iconógrafos, levassem a cabo o programa decora-
corado com cenas do capítulo 148 do «Livro dos tivo. A câmara exibe ainda os capítulos 144 e 146
Mortos», permitindo apreciar a típica cena com o do «Livro dos Mortos», desfilando pelas paredes os
desfile das sete vacas e o touro copulador. A ante- guardiões das várias portas do Além. Também os
câmara mostra nas paredes o capítulo 17 do «Livro quatro pilares da sala apresentam uma rica deco-
dos Mortos» e imagens da rainha a ser apresentada ração de que sobressai o profilático pilar djed invo-
aos deuses, continuando esta temática pelo ves- cando o deus Osíris. Numa das três pequenas salas
tíbulo. Surge depois uma escadaria onde a rainha laterais da câmara funerária pode observar-se uma
Nefertari aparece junto de diversas divindades, sen- imagem de Nefertari em forma de múmia, contras-
do aí acompanhada por fórmulas mágicas de prote- tando com a maior parte das suas representações
ção. No final da escadaria, uma porta (decorada em na pujança da vida 15.
52
O túmulo da rainha Nefertari, magnificamente ram a efeito importantes campanhas para suster a
reconstituído pela Fundação Calouste Gulbenkian avançada deterioração das pinturas e conservar o
em 1979, é o mais belo do Vale das Rainhas, mes- túmulo. O processo incluiu a remoção de parte das
mo superior a alguns túmulos feitos para faraós do camadas de gesso para as colocar em novas super-
Império Novo escavados no calcário friável do Vale fícies, mas o método acabou por alterar as cores,
dos Reis. Trata-se, em suma, de uma estrutura inter- gerando nos meios internacionais algumas críticas.
na bem escavada, com motivos decorativos fora do Muito ficou por fazer, além de as tarefas de restauro
comum e pinturas de cores vivas, onde a sedutora não serem fáceis naquele difícil contexto, porque o
esposa de Ramsés II surge em todo o seu esplen- túmulo foi escavado em calcário de má qualidade,
dor e gracioso donaire, envergando longos vestidos com a agravante de ao longo dos séculos a água ir
brancos e transparentes e ostentando belas joias. A entrando nas fendas. De facto, embora a zona onde
rainha é representada com um bonito rosto de to- se situa o Vale das Rainhas seja inóspita e extrema-
nalidades rosadas, exibe cabeleira requintada, cin- mente seca, uma vez por outra caem lá inopinadas
tura estreita, mãos e gestos delicados e uma pos- chuvadas de grande intensidade, formando eféme-
tura majestosa, o que também reflete a perícia dos ros riachos de caudal destruidor que entram nos
artistas que elaboraram a decoração parietal. túmulos, e os sais cristalizados que se foram acu-
A rainha terá, aparentemente, participado na mulando fizeram com que algumas das placas de
escolha dos temas para a decoração da sua casa de gesso com as pinturas caíssem das paredes. Entre a
eternidade e terá passado por ela a seleção dos ca- variedade cromática, notou-se que a coloração em
pítulos do «Livro dos Mortos» que lá figuram, alguns verde escuro das pinturas também estava danifica-
em versões sintetizadas. Muitas divindades do vas- da, devido à cristalização dos sais, na sua maioria
to panteão egípcio foram representadas nas pare- cloreto de sódio 17.
des, notando-se uma especial predileção por Osíris, A degradação do túmulo foi evoluindo, geran-
o deus da eternidade, e Ré, deus solar, relacionado do lícitas preocupações das autoridades culturais
neste contexto com o tão desejado renascimento – a e arqueológicas do Egito e nos meios científicos e
exemplo do próprio sol, que todos os dias volta a nas- académicos internacionais, e já no decurso da expo-
cer, como Khepri, a oriente. Era, pois, com estes dois sição parisiense de 1976 sobre «Ramsés, o Grande»
poderosos deuses que a bela rainha (e, afinal, todos o assunto foi alvo de debate, com resultados positi-
os defuntos) se desejava identificar: com Osíris obti- vos – uma parte dos lucros com essa exposição con-
nha a divinização e a vida eterna fruída nos úberes tribuiu para a constituição de um fundo destinado
e verdejantes Sekhet-Iaru, isto é, os Campos de Iaru ao restauro do túmulo de Nefertari 18.
(de onde os Gregos farão os seus Campos Elíseos), e Em 1986 a Organização de Antiguidades Egíp-
com Ré ela auferia a solarização e a capacidade de cias, numa eficiente cooperação com o Getty Con-
viajar na divina barca solar, em perpétuo movimento servation Institute, recomeçou os trabalhos de res-
no céu diurno e no céu noturno da Duat. tauração do túmulo, num projeto mais ambicioso e
Outras divindades pintadas na tumba são Anú- cientificamente mais estruturado. No ano seguinte,
bis, benévolo protetor dos defuntos e das necrópo- a equipa internacional começou a estudar os vários
les, Atum (deus criador do mundo pela sua mastur- aspetos ligados à delicada tarefa que se antevia: fo-
bação), Ptah (também criador do mundo pela força ram desta vez tidos em conta os aspetos geológicos,
eficaz do seu verbo divino), Tot (criador da escrita, químicos, biológicos, geográficos e ainda os traba-
patrono de escribas e médicos), Khepri (o sol na lhos complementares de conservação. As áreas da-
alvorada), Hórus e os seus quatro filhos protetores nificadas foram cuidadosamente verificadas, sendo
das vísceras (Imseti, Hapi, Duamutef e Kebehse- analisados por especialistas os pigmentos, os ges-
nuef ), além de Ísis, Néftis, Serket, Neit, Hathor e a sos, os sais e as cores, chegando-se à conclusão que
muito solicitada deusa Maet, personificação da ver- as partes em pior estado estavam nas secções mais
dade, justiça e ordem universal 16. profundas do túmulo, isto é, a câmara fúnebre e as
salas laterais. O teto, pintado de azul, com as tradi-
cionais estrelas de cinco pontas a sugerir o céu es-
O restauro das paredes do túmulo trelado, apresentava várias fraturas 19.
O minudente trabalho de restauro das pinturas
Entre 1934 e 1977, vários restauradores e técni- parietais do túmulo de Nefertari teve início em 1988,
cos da Organização de Antiguidades Egípcias leva- constituindo o primeiro passo a importante tarefa de
53
fixação dos painéis que estavam soltos ou ameaçan- documentalista no mesmo departamento, sendo mais tarde
do cair, usando-se para esse efeito um tipo de papel conferencista e professora na École du Louvre.
japonês, para que não eles não se soltassem. Com 4)
Nas visitas anuais que o Instituto Oriental da Faculdade de
grande proficiência, as poeiras acumuladas ao longo Letras da Universidade de Lisboa promove ao Egito, e que nos
dos séculos foram removidas com instrumentos den- últimos anos têm sido organizadas pela agência Novas Frontei-
tários, e a camada de gesso foi reforçada, tendo sido ras, os membros que integram os grupos estão presentes em
injetada nas falhas uma substância apropriada, de- Abu Simbel para ver o grande templo erigido para Ramsés II e
signada primal (a 3%), uma solução de resina acrílica outras divindades (Ptah, Amon-Ré e Ré-Horakhti) e o templo de-
consolidada com água. As junções foram reparadas dicado à rainha Nefertari e à deusa Hathor (sugerindo Christiane
usando uma argamassa leve, o sal foi removido da Desroches-Noblecourt que Hathor possa ali ser também a deu-
rocha manualmente com instrumentos cirúrgicos, e sa Sothis, a estrela brilhante que surgia no céu no primeiro dia
foram recolocadas as placas de gesso. As cores foram do ano, coincidindo com o aparecimento da cheia anual); ver
limpas com algodão embebido em primal, e as cores DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Rainha Nofre-
originais tornaram-se então mais brilhantes, sem se- tari, p. 6. Para a deusa Sothis (forma grega do nome egípcio So-
rem necessários novos retoques. Os trabalhos foram pdit) veja-se SALES, As Divindades Egípcias, pp. 145-146.
completados em 1992, e a equipa de especialistas Ver DESROCHES-NOBLECOURT, La Femme au Temps des
5)
manteve o túmulo sob observação durante três anos, Pharaons, pp. 79-82, 90-93, e 134; ver ainda DESROCHES-NO-
até que finalmente, em 1995, o túmulo foi aberto ao
BLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Rainha Nofretari, pp. 6-7. Para
público – e todos os anos, alguns dos viajantes que
a deusa Hathor ver SALES, As Divindades Egípcias, pp. 174-181.
integram os grupos da Faculdade de Letras da Uni-
6)
Para o reinado de Ramsés II pode ser útil a consulta de
versidade de Lisboa na tradicional viagem ao Egito
ARAÚJO, Os Grandes Faraós do Antigo Egito, pp. 172-177; JOU-
decidem entrar no túmulo restaurado, quedando-se
RET (dir.), Thèbes, 1250 av. J.-C. Ramsès II et le rêve du pouvoir ab-
embevecidos perante a imagem da rainha Neferta-
solu, 1990; LALOUETTE, L’Empire des Ramsès, 1985; LALOUETTE,
ri, grande esposa real, esposa divina e senhora das
Duas Terras, senhora de doçura e de encanto, bela de Ramsés II, o Grande, 2006; SMITH, Ramesses II. A chronological
rosto e doce de amor 20. structure for his reign, 1982. Para o reinado de Merenptah ver
ARAÚJO, Os Grandes Faraós do Antigo Egito, pp. 172-177.
Ver ARAÚJO, «Kadech», Dicionário do Antigo Egipto, pp.
7)
Notas 470-472.
Ibidem; também em DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ,
8)
1)
Registe-se, com o devido apreço, o fundamental apoio O Túmulo da Rainha Nofretari, p. 8.
do Professor Gonçalves Guimarães, diretor do Solar Condes de
Ver DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Rai-
9)
Resende e mesário-mor da Confraria Queirosiana que naquele
nha Nofretari, pp. 9-10.
edifício tem a sua sede, a informação sobre a exposição que tam-
bém se realizou no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto.
10)
Lista dos títulos da rainha Nefertari em MCDONALD,
House of Eternity. The Tomb of Nefertari, p. 17; ver também PU-
O autor deste texto evocativo era então aluno finalista do
2)
VILL DOÑATE, Textos de la Tumba de la Reina Nefertari, pp. 60-
curso de História da Faculdade de Letras de Lisboa e, com a sua
61; para o expressivo título de «mão do deus» ver ARAÚJO, Arte
turma da altura, foi à exposição numa visita de estudo conduzi-
Egípcia. Coleção Calouste Gulbenkian, pp. 80-83.
da pelo Professor Rio de Carvalho. Nessa ocasião todos os visi-
tantes, incluindo o docente que conduzia essa visita, sentiram
11)
Ver ARAÚJO, «Beleza», Dicionário do Antigo Egipto, pp.
alguma frustração por não entenderem toda a rica iconografia 146-147. Sobre as rainhas do antigo Egito e o seu estatuto
mural e as muitas inscrições hieroglíficas do espaço tumular re- ver DODSON e HILTON, The Complete Royal Families of Ancient
criado na Fundação Calouste Gulbenkian. Egypt, 2004; GRAJETZKI, Ancient Egyptian Queens. A Hieroglyphic
Dictionary, 2005; JACQ, As Egípcias. Retratos de Mulheres do Egip-
3)
O livro então editado para acompanhamento da recons-
to Faraónico, 1998 (apesar dos muitos erros de revisão e de tra-
tituição fotográfica, feita na Galeria de Exposições Temporárias,
dução feita a partir do original francês); LESKO, The Remarkable
apresenta textos de Christiane Desroches-Noblecourt e Diane
Harlé, com as respetivas traduções em português. Note-se que Women of Ancient Egypt, 1996; e SALES, «Rainha», Dicionário do
a exposição que esteve patente em Lisboa e no Porto teve o Antigo Egipto, pp. 731-734.
apoio das embaixadas da França e do Egito em Portugal. A Ver HALL, «Vale das Rainhas», Dicionário do Antigo Egipto,
12)
notável egiptóloga Christiane Desroches-Noblecourt (1913- pp. 857-858; para o túmulo veja-se, entre outros, GOEDICKE e
2011) era na altura conservadora-chefe do Departamento de THAUSING, Nofretari. Eine Dokumentation der Wandegemälde ihres
Antiguidades Egípcias do Museu do Louvre, e Diane Harlé era Grabe, 1971; e ainda NASR e TOSI, The Tomb of Nefertari, 2001.
54
13)
Ver DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da José Nunes CARREIRA, «Mulher», Dicionário do Antigo Egipto,
Rainha Nofretari, p. 15. Lisboa: Editorial Caminho, 2001, pp. 585-592.
14)
Podem ser apreciados os capítulos mencionados em AL- Miguel Angel CORZO e Mahasti AFSHAR, Art and Eternity: the
Nefertari Wall Paintings Conservation Project, Santa Monica:
LEN, The Book of the Dead or Going Forth by Day, 1974; BARGUET,
The J. Paul Getty Trust, 1993.
Le Livre des Morts des Anciens Égyptiens, 1968; e FAULKNER, The
Christiane DESROCHES-NOBLECOURT, La Femme au Temps des
Ancient Egyptian Book of the Dead, 1985. Uma versão portugue- Pharaons, Paris: Éditions Stock, Laurence Pernoud, 1986.
sa do «Livro dos Mortos» traduzida do francês por Maria Helena Christiane DESROCHES-NOBLECOURT e Diane HARLÉ, O
Trindade Lopes é inaproveitável devido aos crassos e grosseiros Túmulo da Rainha Nofretari, Lisboa: Fundação Calouste
erros que contém. Gulbenkian, 1979.
15)
Ver MCDONALD, House of Eternity. The Tomb of Nefertari, Aidan DODSON e Dyane HILTON, The Complete Royal Families
of Ancient Egypt, Cairo: The American University in Cairo
p. 57; veja-se também ARAÚJO, «Livro dos Mortos», Dicionário
Press, 2004.
do Antigo Egipto, pp. 513-517.
Raymond FAULKNER, The Ancient Egyptian Book of the Dead,
16)
Para as divindades mencionadas veja-se SALES, As Divin- Londres: British Museum Publ., 1985.
dades Egípcias, 1999 (pesquisa a partir do índice final). Hans GOEDICKE e Gertrud THAUSING, Nofretari. Eine
17)
Ver SILIOTTI, «Cronaca di un restauro: il risveglio di Ne- Dokumentation der Wandegemälde ihres Grabe, Graz:
Akademische Druck– U.Verlagsanstalt, 1971.
fertari», Archeologia Viva, 18, pp. 32-51; também em CORZO e
AFSHAR, Art and Eternity: the Nefertari Wall Paintings Conserva- Wolfram GRAJETZKI, Ancient Egyptian Queens. A Hieroglyphic
Dictionary, Londres: Golden House Publ., 2005.
tion Project, 1993.
Carolyn GRAVES-BROWN, Dancing for Hathor: Women in Ancient
18)
Ver DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Egypt, Londres: Humbledon Continuum, 2010.
Rainha Nofretari, p. 7. Aline Gallasch HALL, «Vale das Rainhas», Dicionário do Antigo
19)
Ver SILIOTTI, «Cronaca di un restauro: il risveglio di Ne- Egipto, Lisboa: Editorial Caminho, 2001, pp. 857-858.
fertari», Archeologia Viva, 18, pp. 32-51. Christian JACQ, As Egípcias. Retratos de Mulheres do Egipto Faraónico,
Porto: Edições ASA, 1998 (tradução do original francês).
20)
Mas nem para tudo houve solução, tendo Eduardo
Rose-Marie JOURET (dir.), Thèbes, 1250 av. J.-C. Ramsès II et le
Porta, coordenador do notável projeto, considerado que
rêve du pouvoir absolu, série Mémoires, 3, Paris: Éditions
se perdeu cerca de 20% da decoração que ainda existia no Autrement, 1990.
momento da descoberta de Ernesto Schiaparelli, em 1904 – Claire LALOUETTE, L’Empire des Ramsès, Paris: Librairie Arthème
ou seja, em menos de um século, a desaconselhada acumu- Fayard, 1985.
lação de visitantes, a falta de uma vigilância consistente, Claire LALOUETTE, Ramsés II, o Grande, Lisboa: Edições Ésquilo,
ou os atos de vandalismo deixaram para sempre funestos 2006 (tradução do original francês).
resultados; ver CORZO e AFSHAR, Art and Eternity: the Ne- Jean LECLANT (dir.), Les Pharaons. 2: L’Empire des Conquérants,
fertari Wall Paintings Conservation Project, 1993; e SILIOTTI, série Le Monde Égyptien, Col. L’Univers des Formes, Paris:
«Cronaca di un restauro: il risveglio di Nefertari», Archeolo- Éditions Gallimard, 1979.
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55
Aveiro e a Fundação Eça de Queiroz
Através do site da Fundação Eça de Queiroz comitiva aveirense que a “Tormes” se deslocou,
tive conhecimento que entre a Fundação e a Câ- não teve coragem ou não se lembrou de dar co-
mara Municipal de Aveiro foi celebrado um acor- nhecimento, à Fundação Eça de Queiroz, que a
do de cooperação. casa já tinha sido demolida há mais de um ano
Em representação da edilidade aveirense esti- ficando reduzida à sua fachada?
veram presentes o vereador da Cultura da Câmara Compreendo que após um repasto queiro-
Municipal de Aveiro, Miguel Capão Filipe, acompa- siano à base do famoso arroz de favas, frango
nhado da chefe de divisão da Cultura, Sónia Almei- alourado ou cabidela e leite-creme (Jacinto jurou
da e da diretora da Biblioteca Municipal, «onde pu- «nunca ter provado nada tão sublime»), regado
deram conhecer a Fundação e degustar a ementa com verde da Fundação (um vinho fresco, esper-
queirosiana da obra A Cidade e as Serras. Para além to, seivoso e tendo mais alma, entrando mais na
disso, foram definidas algumas linhas orientadoras alma, que muito poema ou livro santo, de acordo
para o cumprimento do protocolo estabelecido». com Eça) o espírito amoleça e tudo vai ficando no
O protocolo tem em vista «a dinamização e rea- esquecimento.
lização de iniciativas que visem o reforço pedagó-
gico da ligação de Eça de Queiroz a Aveiro, por um
lado, e do turismo cultural e na educação informal
da comunidade por outro, assim como a afirmação
do município de Aveiro nos circuitos nacionais e in-
ternacionais da obra queirosiana».
Ao tornar-se mecenas da Fundação, o Minicí-
pio de Aveiro terá que fazer uma comparticipação
anual de 5.000,00€.
Durante a visita foi entregue o diploma que con-
fere esse estatuto, bem como um medalhão de Eça
de Queiroz, conforme está estabelecido nas regalias
que a Fundação atribui aos seus mecenas.
Considera a Fundação que a atribuição do título
de mecenas ao município aveirense se deve ao fac- PS: Aproveito para questionar o facto de o «Memorial a Eça de
to de que em Verdemilho, «ainda se encontra edifi- Queiroz» instalado em plena EN 109, na chamada rotunda do
cada. pese embora em ruínas, a denominada casa Botafogo, ter como elemento preponderante e mais destacado
de Eça de Queiroz, casa essa indissociavelmente do monumento um brasão de armas quando Eça de Queiroz
ligada à vida e obra de Eça de Queiroz, considera- nunca teve qualquer título de nobreza. O brasão de armas é
do “filho de Aveiro”, educado na Costa Nova, quase de seu avô, o conselheiro Joaquim de Queiroz. De acordo com
“peixe da ria”, como o próprio escreveu, de tal modo o despacho da rainha D. Maria II, de 30 de junho de 1835, que
que foi intensa a sua ligação a Aveiro, tornando as- lhe concedeu esse privilégio «poderá trazer e usar tão somente
sim Aveiro num dos municípios queirosianos» o dito Joaquim José de Queiroz e Almeida [...] e com elas pode-
A surpresa acontece sabendo-se que o protoco- rá entrar em batalhas, reptos, escaramuças e exercitar todos os
lo fora assinado em 9 de julho de 2019 e a «Casa de mais actos lícitos da guerra e da paz», podendo ainda usar «em
Eça de Queiroz» em Verdemilho já havia sido demo- seus firmais, anéis, sinetes e divisas, pô-las em suas casas, cape-
lida um ano antes, em 2018. las e mais edifícios e deixá-los sobre a sua própria sepultura»,
Poder-se-á concluir que a Fundação desco- e, finalmente, «servir, honrar, gozar e aproveitar delas em tudo
nheceria tal facto. A pergunta surge: será que a que à sua nobreza convém».
56
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134; Visconde da Ermida, 1.º (1841-1896) [co-aut.
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dos Santos (1847-1924), p. 147; Augusto César da
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Vol. 1: Novo Testamento: os quatro evangelhos.
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(1858-1932) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. [adapt.]. 1ª edição. [S.l.]: Jornal de Notícias. (Clássicos
156; Agostinho de Almeida Rego (1858-1938) [co- da literatura portuguesa contados às crianças; 7).
aut. com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. – Juncos à beira do caminho. Alfragide: Editorial
158; Domingos da Rocha Romariz (1859-1929) [co- Caminho.
aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 159; Maximiano
Lemos (1860-1923) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. Elaboração: Celeste Pinho
67
Relatório de atividades em 2018 da associação Amigos
do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana
68, 113, 170, 172, 177, 178, 179, 322, 323, 327, Gestão do bar e de parte da loja de venda de
342, 343 livros e outros, nomeadamente as edições e pro-
duções da ASCR-CQ.
Atividades da ASCR-CQ Feira das Novidades: todos os meses, no 1.º
domingo de cada mês, exceto no dia 01 de Abril,
Reuniões dos corpos gerentes: reunião mensal que mudou para 25 de março (Dia de Ramos), e no
da direção; Março 06: reunião do conselho fiscal; dia 4 de novembro, que mudou para 11 (Feira de S.
idem, 14: assembleia geral ordinária no Solar Con- Martinho), esta última em colaboração com a Junta
des de Resende. de Freguesia de Canelas.
68
Oficina de Pintura: sob a direção da Prof.ª do Sameiro em Valadares»; quinta-feira 26: pales-
Pintora Paula Alves, uma vez por semana. tra por Paulo Costa sobre «Os forais medievais de
Eça Bem Dito: grupo coral que interpreta can- Vila Nova de Gaia»; Agosto, quinta-feira 30: pales-
ções do tempo de Eça de Queirós, com a pianista tra por Rui Ferreira sobre «A Coleção de Armas de
Maria João Ventura, contrabaixista João Santos, Fogo da Coleção Marciano Azuaga»; Setembro,
vozes de J. A. Gonçalves Guimarães e Valença Ca- quinta-feira 27: palestra por J. A. Gonçalves Gui-
bral; ensaios uma vez por semana e atuação na marães sobre «O Marechal Duque de Saldanha:
Feira de S. Martinho e no Capítulo. Ele poderia ter sido um rei»; Outubro, quinta-feira
25: palestra por António Manuel S. P. Silva sobre
Salon d`Automne queirosiano 2018, salão
«Os 150 anos do Torne: uma evocação histórica»;
de Artes Plásticas dos sócios e outros: inaugura-
Novembro, quinta-feira 29: palestra por J. A. Gon-
ção a 10 de novembro, aberto ao público até 31
çalves Guimarães sobre «Atravessamentos do rio
de dezembro.
Douro antes das pontes»; Dezembro, quinta-feira
Capítulo da Confraria Queirosiana (16.º), dia 27: palestra por Adrião Pereira da Cunha sobre
24 de novembro: comemoração do 173.º aniversá- «Humberto Delgado no Portugal de Salazar».
rio de Eça de Queirós e dos 130 anos da 1.ª edição
de Os Maias e insigniação de confrades de honra
e de número. Cursos livres organizados pela
Academia Eça de Queirós em
Jantar de Natal – sexta-feira 14 de dezembro,
colaboração com o Solar Condes
dos funcionários do Solar, dos dirigentes, funcio-
de Resende
nária e tarefeiros da ASCR-CQ, com a presença da
vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Vila
Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal; – Curso livre sobre «Património Cultural de
Gaia», certificado pelo Centro de Formação de As-
Colaboração na permuta de publicações do
sociação de Escolas Gaia Nascente do Ministério da
Centro de Documentação do Solar Condes de Re-
Educação, coordenado por J. A. Gonçalves Guima-
sende, com a oferta de publicações para tal.
rães, aos sábados entre as 15 e as 17 horas (conti-
nuação): Janeiro, sábado, dia 6: quinta aula por J. A.
Palestra das últimas quintas-feiras do mês, Gonçalves Guimarães, sobre «Património do Mundo
organizadas elo Gabinete de História, Arqueo- em Gaia»; sábado dia 27: sexta aula por Francisco
logia e Património em colaboração com o So- Barbosa da Costa, sobre «Património Institucional
lar Condes de Resende: Janeiro, quinta-feira, dia em Gaia»; Fevereiro, sábado 03: sétima aula sobre
25, palestra por J. A. Gonçalves Guimarães, sobre «Património Humano. Personalidades Gaienses»,
«Toponímia Gaiense: introdução ao seu estudo»; por Gonçalo de Vasconcelos e Sousa; sábado 17: oi-
Fevereiro, quinta-feira, dia 22, palestra por J. A. tava aula sobre «Património Edificado de Gaia» por
Gonçalves Guimarães sobre «Portucale entre os Nuno Resende; Março, sábado 03: nona aula sobre
Suevos e Visigodos»; Março, quinta-feira 29, pa- «Património Artístico», por José Manuel Tedim; sá-
lestra por J. A. Gonçalves Guimarães intitulada «A bado 17: décima aula do curso sobre «Património
propósito de “Feiras Medievais”: História e recria- Gaiense no Mundo» por Francisco Queiroz; Abril,
ção»; Abril, quinta-feira 26: palestra por Sérgio sábado 07: décima primeira sobre «Património Et-
Veludo Coelho sobre «As Fortificações do Cerco nográfico e Imaterial», por Teresa Soeiro; sábado 21:
do Porto em Gaia»; Maio, quinta-feira 24: palestra penúltima aula sobre «Património do Século XX»,
por J. A. Gonçalves Guimarães sobre «O Museu por José A. Rio Fernandes; Maio, sábado 05: ultima
da Universidade de Manchester e as Coleções aula do curso sobre «Legislação do Património», por
Oitocentistas»; Junho, quinta-feira 28: devido à Carlos Medeiros.
presença da direção nas comemorações do Dia – Ação de formação sobre «Genealogia e Histó-
do Município de Gaia, a palestra transitou para ria da Família – descubra os seus octavós» pelo Prof.
Julho; Julho, quinta-feira 05: palestra por André Doutor Francisco Queiroz, março, sexta-feira e sába-
Macedo sobre «A necrópole romana do Monte do, 16 e 17;
69
– Curso livre sobre «Música & Músicos: aspetos Ano Novo no Auditório Municipal de Gaia; sába-
do Património Musical Português», certificado pelo do, 20: presença na sessão solene das comemo-
Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia rações do Foral de Gaia de 1518 no Arquivo Mu-
Nascente do Ministério da Educação, coordenado nicipal de Gaia, com conferência pelo Professor
por J. A. Gonçalves Guimarães, aos sábados entre as Doutor Francisco Ribeiro da Silva; terça-feira 30:
15 e as 17 horas (1.ª parte): Outubro, sábado 27: aber- palestra por J. A. Gonçalves Guimarães no IEFP,
tura com uma lição sobre «Sociologia da Música» por Vila Nova de Gaia, sobre projeto turístico-cultu-
Eduardo Vítor Rodrigues; Novembro, sábado 10: se- ral sobre a Broa de Avintes para formandos desse
gunda sessão sobre «Os órgãos ibéricos: instrumen- Centro de Formação. Fevereiro, quinta-feira 01 e
tos, textos e contextos no Noroeste português» por sexta-feira 02: presença de vários confrades no
Elisa Lessa; sábado 17: terceira sessão sobre «Musica 14.º Encuentro Internacional de Cofradias Gas-
e ritual nas cerimónias fúnebres luso-brasileiras – Sé- tronomicas y Enófilas em Ourense (Galiza, Espa-
culos XVIII e XIX» por Rodrigo Teodoro; Dezembro, nha); visita à Exposição In Tempore Sueborum. El
sábado 15: quarta sessão sobre «Os Músicos Napo- tiempo de los Suevos en la Gallaecia onde estavam
leão» por J. A. Gonçalves Guimarães. expostas quatro peças depositadas no Solar Con-
des de Resende provenientes das escavações ar-
Outras atividades pontuais queológicas do Gabinete de História, Arqueolo-
realizadas pela ASCR-CQ no Solar gia e Património (GHAP, ASCR-CQ) no Castelo de
Condes de Resende Gaia (3) e do Castelo de Crestuma (1); visita ao
Museu Marítimo de Vigo; sábado 05: presença no
106.º aniversário do Centro Recreativo de Mafa-
Abril, sábado 14: acolhimento da assembleia
mude; sexta-feira 08: reunião com a vereadora
geral anual da Federação dos Amigos dos Museus
do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de
de Portugal (FAMP) na qual a ASCR-CQ está filiada
Vila Nova de Gaia para a organização do cortejo
e entrega do prémio Reynaldo dos Santos; quar-
comemorativo do Foral de Gaia de 1518 a realizar
ta-feira 18: colaboração no Dia Internacional dos
no dia 30 de junho; sexta-feira 16: participação
Monumentos e Sítios; Maio, sábado 19: 4.º Capí-
em visita à Companhia de Fiação de Crestuma
tulo Extraordinário de homenagem a J. Rentes de
com o Arq.to Daniel Couto da Gaiurb e com o Prof.
Carvalho, insigniação como confrades de honra de
Arq.to Domingos Tavares para conhecimento da
Francisco José Viegas e Hélder de Carvalho e des-
história do complexo e da sua reabilitação, tendo
cerramento do busto em bronze do escritor da au-
estado também presente o Prof. Dr. António Ma-
toria de Hélder de Carvalho; Setembro, sábado 29:
nuel S. P. Silva do GHAP-ASCR-CQ, para avaliação
colaboração no programa das Jornadas Europeias
do interesse arqueológico de edifício a ser recu-
do Património organizadas no Solar Condes de Re-
perado; sábado 20: presença na abertura da ex-
sende sob o tema «Partilhar memórias – memórias
posição de escultura e pintura «O meu Olhar» de
de Gaia e do Mundo», onde foram palestrantes J.
António Pinto e outro, na Biblioteca Municipal de
A. Gonçalves Guimarães sobre «As diversas mani-
Gaia; presença no Forum Avintense de J. A. Gon-
festações das memórias»; Susana Guimarães sobre
çalves Guimarães com a comunicação «Morado-
«Memória da água da Nascente de S. Mamede per-
res de Avintes no século XVI: a propósito do foral
tencente ao Solar Condes de Resende»; e Susana
de Gaia de 1518»; sexta-feira, 23: participação no
Moncóvio sobre «Partilhar Memórias: a Empresa
2.º Encontro INOVAR – «Roteiros da inovação pe-
Artística Teixeira Lopes».
dagógica: escolas e experiências de referência
em Portugal no século XX» na Faculdade de Le-
Presença da ASCR-CQ em atividades tras da Universidade do Porto, onde foram ora-
de outras instituições dores, entre outros, entre outros, Eva Baptista
sobre «O papel educativo da Associação de Cre-
Janeiro, terça-feira 02. Concerto de piano na ches de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia» e José
Casa da Música por Daniel Cunha com obras de António Afonso sobre «A presença do protestan-
Alfredo Napoleão; sexta-feira 05, concerto de tismo em Vila Nova de Gaia: das Escolas ao Asso-
70
ciativismo (1868-2015)»; segunda-feira 26: pales- prensa sobre o Dia da Gastronomia a promover
tra no Colégio da Bonança com uma palestra pela Federação Portuguesa das Confrarias Gas-
sobre «A linguagem do Foral Manuelino de Vila tronómicas e pela Câmara Municipal no cais de
Nova de Gaia (1518): 500 anos de História»; terça- Vila Nova de Gaia nos próximos dias 26 e 27 de
-feira 27: palestra no Agrupamento de Escolas de maio, realizada no Mosteiro de Corpus Christi;
Canelas sobre «Feiras Medievais: origens, finali- sexta-feira 04: presença na abertura da exposi-
dades e evolução». Março, quinta a sábado 01 a ção sobre o escritor J. Rentes de Carvalho na Bi-
03: presença em Manchester do mesário-mor J. blioteca Municipal de Gaia, tendo J. A. Gonçalves
A. Gonçalves Guimarães integrado numa missão Guimarães falado sobre a sua vida e obra; sexta-
cultural e comercial da Quinta da Boeira e de vá- -feira 11: presença de em reunião da APHVIN-
rias confrarias portuguesas, tendo feito uma pa- -GEHVID para acerto de colaboração sobre a His-
lestra sobre a Expansão Portuguesa e as embar- tória do Vinho em Vila Nova de Gaia; sábado 12:
cações históricas no Midland Hotel; sábado, 24: presença no capítulo da Ordem dos Companhei-
presença na abertura da exposição de artes plás- ros de S. Vicente, Confraria dos Vinhos de Portu-
ticas inspiradas no Foral de Gaia de 1518 organi- gal, na Quinta do Boeira, com a presença da Fe-
zada no Auditório Municipal pelos Artistas de deração Portuguesa das Confrarias Gastronómicas;
Gaia. Abril, terça 03: a ASCR-CQ integra uma de- sexta-feira 18: presença na homenagem da Câ-
legação da Câmara Municipal de Vila Nova de mara Municipal ao escritor J. Rentes de Carvalho
Gaia que se desloca a Estevais do Mogadouro na Casa Museu Teixeira Lopes e no Auditório Mu-
para convidar o escritor J. Rentes de Carvalho nicipal de Vila Nova de Gaia; sábado e domingo,
para ser homenageado pelos seus 50 anos de 26 e 27: presença nas comemorações do Dia da
vida literária nos próximos dias 18,19 e 20 de Gastronomia com pavilhão próprio para venda
maio na terra onde nasceu; sábado 14: presença de livros, vinho do porto e divulgação da Confra-
de vários sócios e confrades na Biblioteca Almei- ria no Cais de Vila Nova de Gaia; Junho, sábado
da Garrett no Porto na 65.ª edição de «Porto de 02, participação do presidente da direção José
Encontro» promovido pela Porto Editora, com a Manuel Tedim no capítulo da Confraria do Pão,
participação do escritor J. Rentes de Carvalho; da Regueifa e do Biscoito de Valongo; domingo
quarta-feira 18: palestra por J. A. Gonçalves Gui- 03: participação de vários elementos dos corpos
marães nas instalações da Stella Maris na Foz do gerentes da Confraria Queirosiana na comemo-
Douro, organizada pela União de Freguesias de ração do Dia Nacional de Itália que se realizou na
Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, com a colabo- Pousada do Freixo, organizada pelo Consulado
ração da Universidade Portucalense Infante D. Honorário do Porto e pela Associazione Socio-
Henrique e outras entidades, sobre o «Marechal -Culturale Italiana del Portogallo Dante Alighieri;
Duque de Saldanha: “Ele poderia ter sido um terça-feira 05: presença na homenagem a A.
rei”»; sexta-feira, 20: palestra idem sobre «Gaia? Campos Matos, coordenador do Dicionário de
Vila Nova? Vila Nova de Gaia? A história local con- Eça de Queiroz, na passagem do seu 90.º aniver-
tada através dos forais», na Escola Secundária Al- sário, a qual teve lugar na Biblioteca Nacional de
meida Garrett, a propósito dos 500 anos do foral Portugal, Lisboa; quinta-feira 07, presença na ho-
manuelino de Vila Nova de Gaia; sexta-feira, 27: menagem a Manuel de Novaes Cabral na Árvore
presença de J. A. Gonçalves Guimarães com Licí- – Cooperativa de Actividades Artísticas, C. R. L.
nio Santos e Olga Cavaleiro da FPCG na Escola de do Porto; sexta-feira 08: participação de J. A.
Hotelaria de Viana do Castelo onde o primeiro Gonçalves Guimarães no II.º Encontro Nacional
falou sobre «Gastronomia e Enofilia queirosia- sobre Literaturismo, na Fortaleza de S. João da
nas» para alunos e professores; sábado, 28: pre- Foz, Porto, organizado pela União de Freguesias
sença de vários dirigentes e sócios no Encontro de Aldoar, Foz e Nevogilde, com uma comunica-
Associativo de Gaia que se realizou no Parque ção sobre «O Roteiro queirosiano do Alentejo» e
Biológico de Gaia, organizado pela Câmara Mu- de Manuel Novais Cabral sobre «O Vinho do Por-
nicipal de Vila Nova de Gaia. Maio, quinta-feira to e a Literatura», além de outros confrades; sá-
03: presença da ASCR-CQ na conferência de im- bado 09: presença daquele mesmo dirigente na
71
Fortaleza de S. João da Foz no mesmo encontro (Eça de Queirós) realizada por Francisco Manso
num painel sobre Literatura, Turismo e Gastrono- para a RTP, sobre trajos, penteados e adereços da
mia; sábado 16: palestra por J. A. Gonçalves Gui- época, que está a ser filmada em Penafiel; sexta-
marães sobre «A Música e os Músicos na vida e -feira 05: presença de dirigentes da Confraria
obra de Teixeira Lopes» antes da atuação do Trio Queirosiana, coordenadores e autores no salão
Vermeer de Amsterdam na Casa Museu Teixeira nobre da Câmara Municipal de Gaia para o lança-
Lopes, integrada no «5.º festival Internacional de mento do primeiro volume do PACUG, Patrimó-
Música de Gaia», organizado pelo Conservatório nio Humano. Personalidades Gaienses, coordena-
Regional de Gaia; sexta-feira e sábado, 22 e 23: do por J. A. Gonçalves Guimarães e Gonçalo de
participação de vários sócios e confrades no II Vasconcelos e Sousa, organizado pelo Gabinete
World Heritage Congress – Steel Bridges of Large de História, Arqueologia e Património da Confra-
Arch, organizado pelas câmaras municipais de ria Queirosiana e editado pela autarquia em ses-
Gaia (Gaiurb) e do Porto, onde J. A. Gonçalves são presidida pelo presidente da Câmara Munici-
Guimarães apresentou uma comunicação sobre pal de Vila Nova de Gaia; às 18 horas presença no
«Atravessamentos antigos do Rio Douro antes lançamento do livro e do filme “Tongobriga” de
das pontes» e Hélder de Carvalho um busto de António Manuel de Carvalho Lima na Casa das
Edgar Cardoso; quinta-feira 28: presença de vá- Artes no Porto; sábado 06 visita guiada à igreja
rios sócios e confrades no salão nobre da Câmara de Vilar do Paraíso para a associação Amigos de
Municipal de Vila Nova de Gaia nas comemora- Gaia por José Manuel Tedim; domingo 07: pre-
ções do Dia do Município onde J. A. Gonçalves sença de membros da direção na homenagem a
Guimarães apresentou o livro comemorativo do A. Silva Fernandes, presidente da Associação dos
Foral de 1518 com colaboração de vários deles; Amigos de Pereiros, S. João da Pesqueira e lança-
sábado 30: delegação da Confraria Queirosiana mento do seu livro Singularidades da Aldeia; sex-
presente no Cortejo Comemorativo do Foral de ta-feira 12: presença de J. A. Gonçalves Guima-
1518 e respetiva recreação histórica na Praça do rães e Susana Moncóvio na assembleia geral da
Centro Cívico e Gaia; uma outra delegação pre- Federação Portuguesa das Confrarias Gastronó-
sente no aniversário do jornal As Artes Entre As micas em Mira; sábado 20: no encerramento da
Letras; sábado 30 e domingo 1 de Julho, visitas exposição sobre os 150 anos da Igreja e Escola do
guiadas ao edifício da Câmara Municipal de Gaia Torne no Arquivo Municipal; quinta-feira 29, no
integrado no Open House Porto 2018 por J. A. lançamento do livro Humberto Delgado no Portu-
Gonçalves Guimarães; terça-feira 03: uma dele- gal de Salazar, de Adrião Pereira da Cunha, na
gação da Confraria Queirosiana, juntamente com Fundação Engenheiro António de Almeida; No-
elementos do Pelouro da Cultura da Câmara Mu- vembro, sexta-feira 16: participação no Colóquio
nicipal de Gaia deslocou-se a Estevais do Moga- sobre o centenário da Grande Guerra no Arquivo
douro para agradecer ao escritor J. Rentes de Municipal de Gaia, organizado pelo CITCEM, com
Carvalho a sua participação no ciclo de ativida- as seguintes comunicações, além de outras: «A
des que lhe foram dedicadas em Vila Nova de participação de Portugal na Grande Guerra: a es-
Gaia no passado mês de Maio; quinta-feira 19: no calada através dos documentos oficiais», por Jor-
lançamento do n.º 6 da revista Douro Vinho, His- ge Fernandes Alves, e «A “Escola de Escultura de
tória & Património. Wine, History and Heritage, Gaia” e os Monumentos aos Mortos da Grande
editada pela APHVIN/GEHVID no Instituto do Vi- Guerra (1914-1918) em Portugal, França e Ango-
nho do Douro e Porto, no Porto; Agosto, sexta- la» por J. A. Gonçalves Guimarães; sexta e sábado
-feira 17: visita de delegação da Confraria à aber- 16 e 17, participação no Encontro Preservar a
tura da Feira de Gastromomia de Vila do Conde; Memória (i)material da Escola, na Escola Sá de
Setembro, segunda-feira 10: presença de uma Miranda, Braga, com a comunicação «O Patrimó-
delegação da Confraria Queirosiana no Port Wine nio Educativo Edificado Gaiense», por José Antó-
Day na LIT no Cais de Gaia; Outubro, terça-feira, nio Martin Moreno Afonso, Eva Baptista e outro;
02: apoio à equipa de aderecistas e caraterização terça-feira 20: presença de vários dirigentes na
da serie televisiva «O nosso cônsul em Havana» conferência sobre «A Vida e Obra do Escultor Ro-
72
dolfo Pinto do Couto (1888-1945)» proferida pelo Aquisição de obras de Arte pela
colaborador do PACUG, Doutor José Francisco Al- ASCR-CQ
ves, na Casa Museu Teixeira Lopes; quarta-feira
28: presença mesário-mor e do confrade Dias – Busto do escritor J. Rentes de Carvalho em
Costa no almoço queirosiano promovido pelo bronze, e respetivo plinto, da autoria do escultor
Agrupamento de Escolas Leonardo Coimbra Fi- Hélder de Carvalho, para ficar em exposição no
lho, do Porto, a propósito dos 130 anos da edição átrio do auditório do Solar Condes de Resende.
de Os Maias;
Exposições
Edições de textos da ASCR-CQ
em 2018 – em colaboração Maio, sábado 19: exposição “J. Rentes de Car-
valho. Vila Nova de Gala, 1930” no Solar Condes de
– FERNANDES, A. Silva (2018) – Singularidades Resende com o espólio do escritor depositado na
e Curiosidades da Aldeia (devidamente desordena- Confraria Queirosiana; Novembro, sábado 10: 13.º
das). S. João da Pesqueira: Associação dos Amigos Salon d’Automne Queirosiano, que apresenta pin-
de Pereiros; tura, desenho, escultura e cerâmica dos sócios e
– GUIMARÃES, J. A. Gonçalves, texto e coorde- do curso de Pintura da Confraria Queirosiana que
nação (2018) – página Eça & Outras, no jornal As decorre no Solar; sábado 24: apresentação da ex-
Artes Entre As Letras, direção de Nassalete Miran- posição Ephemera da mesa: menus e outros docu-
da, mensal; mentos em Portugal e na Europa 1850 – 2018 pelo
– GUIMARÃES, J. A. Gonçalves, coord. técnica Professor Doutor Gonçalo de Vasconcelos e Sousa,
(2018) – O Foral Manuelino de Vila Nova de Gaya no Solar Condes de Resende.
1518-2018, com a colaboração de GUIMARÃES,
Susana– The Charter of Vila Nova de Gaia 1518: sig- Projetos de investigação que
nificance and range, p. 12-15; SILVA, Francisco Ribei- decorrem no Solar Condes
ro da – O Foral Manuelino de Vila Nova de Gala e a de Resende com o apoio
complementaridade fiscal e económica das duas mar- da ASCR-CQ (GHAP e AEQ)
gens, p. 16-36; BARROS, Amândio J. M. – Vila Nova
de Gaia. Os forais, o rio e o mar, p. 38-60, Vila Nova de Associativismo, mutualismo e cooperativismo
Gaia: Câmara Municipal; em Vila Nova de Gaia; Barra do Douro e o Brasil;
– GUIMARÅES, J. A. Gonçalves; SOUSA, Gonça- Castelo de Crestuma; Castelos medievais segun-
lo de Vasconcelos e, coordenadores e co-autores do o Cartulário Baio-Ferrado; Centro Histórico de
(2018) – Património Humano. Personalidades Gaien- Gaia: História, Arqueologia e Patrimônio; Coleção
ses. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal/ ASCR – Marciano Azuaga; Eça de Queirós e o Caminho-
Confraria Queirosiana. -de-Ferro; Ensino em Vila Nova de Gaia; Espadas
e sabres militares da Coleção Marciano Azuaga;
Edições próprias de textos Fábrica de Cerâmica Pereira Valente; Fábrica de
Material de Guerra da Companhia Geral da Agri-
– ARAÚJO, Luís Manuel de; GUIMARÃES, J. A. cultura das Vinhas do Alto Douro, Lever; Grupo
Gonçalves; TEDIM, José Manuel, direção e co-dire- Musical Lealdade e Mérito dos Carvalhos, Vila
ção (2018) – Revista de Portugal, n.° 15. Nova de Gaia; História Naval do Noroeste de Por-
tugal; Hóquei em patins em Gaia e em Portugal;
– GUIMARAES, J. A. Gonçalves, editorial e coor-
Hotelaria em Sintra; Indústria Têxtil em Gaia; In-
denação (2018) – blogue Eça & Outras, ao dia 25 de
dustrialização de Gaia no século XVIII; J. Rentes
cada mês.
de Carvalho, vida e obra; Monumentos aos Mor-
– TEIXEIRA, Maria de Fátima, org. (2018) – Salon tos da Grande Guerra; Movimento Socialista no
d’ Automne Queirosiano 2018. Vila Nova de Gaia: Concelho de Gaia em finais do século XIX e inícios
ASCR– Confraria Queirosiana. do século XX (18931928); Museus e Coleções do
73
século XIX; Música e Músicos de Gaia; Necrópole seu arquivo pessoal sobre a associação Jovens
do Sameiro, Valadares; Núcleo de Arte Sacra cris- do Torne e bibliografia e documentos dos anos
tã do Solar; Patrimônio Cultural de Vila Nova de sessenta do século passado; Novembro: patrocí-
Gaia (PACUG): Património de Gaia no Mundo / Do nio da Revista de Portugal pelo escultor Hélder
Mundo em Gaia; Patrimônio de Gaia século XX; de Carvalho e pela Urbiface; patrocínio do catá-
Produção vinícola gaiense no século XIX; Profes- logo do Salon d’ Automne pela Disnoral; Dezem-
sora Dr.ª Júlia Castro, discípula de Teófilo Braga, bro: oferta pelo canteiro-ornatista Sr. António
vida e obra; Quinta de Mafamude; Rua Rei Ramiro Pinto de uma escultura em pedra de xisto sua
no Castelo de Gala; Ruinas paleocristãs do Bom autoria, 30x20x10, cujo preço considerado para
Jesus de Gaia; Sigillatas da estação arqueológica venda ao público foi de 650 €, intitulada Justiça.
de Ervamoira, Vale do Côa; Sigillatas tardias e ce-
râmicas cinzentas tardias da Igreja do Bom Jesus
Funcionários, tarefeiros
de Gaia; Travessias do Rio Douro antes da existên-
e voluntariado
cia de pontes; Visconde de Beire, biografia.
74
Cooperação direta com do, Vila Nova de Gaia; Faculdade de Ciências So-
outras entidades ciais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;
Academia das Coletividades do Distrito do Faculdade de Letras da Universidade do Porto;
Porto; Academia de Dança Gente Gira; Agrupa- Família de António de Azevedo Lima; Família de
mento de Escolas de Canelas, Vila Nova de Gaia; António Pereira da Costa, Amapá, Brasil; Famí-
Águas de Gaia; Arquivo Histórico Adriano Ramos lia de Avelino Monteiro; Família Eça de Queiroz
Pinto, Vila Nova de Gaia; Arquivo Histórico da Cabral; Família Löfgren Rodrigues; Família Ola-
Casa Ferreira/Sogrape, Vila Nova de Gaia; Arqui- zabal; Federação das Coletividades de Vila Nova
vo Histórico Militar, Lisboa; Arquivo Histórico Ul- de Gaia; Federação das Confrarias Báquicas de
tramarino, Lisboa; Arquivo Municipal Sophia de Portugal; Federação dos Amigos dos Museus de
Mello Breyner, Vila Nova de Gaia; Associação das Portugal (FAMP); Federação Portuguesa das Con-
Creches de Santa Marinha; Associação de Ami- frarias Gastronómicas (FPCG); Fundação Bibliote-
gos de Pereiros, S. João da Pesqueira; Associação ca Nacional, Rio de Janeiro; Fundação Campo Be-
de Amizade Portugal-Egipto; Associação Portu- llo; Fundação Instituto Marques da Silva, Porto;
guesa de História da Vinha e do Vinho APHVIN/ Fundação Padre Luís, Vila Nova de Gaia; GAIURB,
GEHVID; Associazione Socio-Culturale Italiana Vila Nova de Gaia; Gertal; Igreja Lusitana e Esco-
del Portogallo Dante Alighieri; Auditórios Muni- la do Torne; Instituto dos Vinhos do Douro e do
cipais de Gaia; BAD – Associação Portuguesa de Porto; Instituto Politécnico do Porto; Joana Sofia
Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas; Leal da Silva, Prof.a Engenheira; Jornal As Artes
Barão de Saavedra, 5.º, Rio de Janeiro; Biblioteca entre as Letras; Jornal O Gaiense; Jornal Terras de
Municipal de Vila Nova de Gaia; Biblioteca Nacio- Gaia; José Carvalhais, Arq.to; José Filipe Amaral; J.
nal de Portugal, Lisboa; Câmara Municipal de Vila Rentes de Carvalho; Junta de Freguesia de Avin-
do Conde; Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia; tes, Vila Nova de Gaia; Junta de Freguesia de Ca-
Casa da Companhia, Paço de Sousa, Penafiel; Ca- nelas, Vila Nova de Gaia; Junta de Freguesia de
sa-Museu Teixeira Lopes, Vila Nova de Gaia; Cen- Milheirós de Poiares, Santa Maria da Feira; Liga
tro de Formação de Associação de Escolas Gaia das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova
Nascente; Cerâmica do Douro, Vila Nova de Gaia; de Gaia; Mareantes do Rio Douro; Maria Filome-
CITCEM/FLUP; Colégio da Bonança, Vila Nova de na Alpendurada, D.; Maria Gabriela Oliveira, Dr.ª;
Gaia; Companhia de Fiação de Crestuma/Sudan- Maria Luísa de Castro de Mendia, D.; Mário M. J.
tax, Lever; Confrarias da Sopa do Vidreiro, Ma- Marques; Miguel Castro Silva, Chefe; Mosteiro de
rinha Grande; Confraria do Anho com Arroz de Corpus Christi; Museu de História da Medicina
Forno, Marco de Canaveses; Confraria dos Nabos “Maximiano Lemos” da Faculdade de Medicina
e Companhia, Mira; Confraria dos Ovos Moles de da Universidade do Porto; Museu Nacional de
Aveiro; Confraria dos Rojões da Bairrada, Oliveira Arte Antiga, Lisboa; Museu Nacional de Soares
do Bairro; Confraria dos Sabores de Sintra; Con- dos Reis, Porto; Pedro Davies de Castro e Silva,
servatório Regional de Música de Gaia; Damião Dr.; Omnisinal, Porto; Professor Doutor Gonçalo
Vellozo Ferreira, Dr.; Dionísio Alves Pereira, Dr.; de Vasconcelos e Sousa; Quinta de Villar d’Allen;
Direção Geral do Património Cultural; Divisão de Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia;
Turismo da C.M. Gaia; Divisão Municipal de Ar- Santa Casa da Misericórdia do Porto; Sociedade
quivo Histórico – Casa do Infante, Porto; Edições Eça de Queiroz, Recife, Brasil; Solar Condes de
Afrontamento; Escola Artística Soares dos Reis, Resende; União de Freguesias de Aldoar, Foz do
Porto; Escola de Hotelaria de Viana do Castelo; Douro e Nevogilde, Porto; Universidade do Por-
Escola de Música de Perosinho; Escola EB 2/3 de to, Reitoria; Universidade Portucalense Infante D.
Canelas; Escola Secundária Almeida Garrett, Vila Henrique; Venerável Ordem Terceira de S. Fran-
Nova de Gaia; Escola Secundária Diogo de Mace- cisco, Porto; Urbiface.
75
Protocolos para a realização Dr. J. Rentes de Carvalho, escritor, foi homenagea-
de trabalhos profissionais do com o seu busto em bronze para ficar presente
no Solar Condes de Resende.
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia – proje-
to dos tarefeiros do Solar e projeto PACUG; GAIURB, Algumas presenças
EM – acompanhamento arqueológico do Castelo na comunicação social
de Gaia.
Todos os meses, dia 25 – «Eça & Outras», blogue
Personalidades e instituições da Confraria Queirosiana, publicado no Jornal As
distinguidas pela ASCR-CQ em 2018 Artes Entre as Letras; Janeiro, quarta-feira 11 – As Ar-
tes Entre as Letras, p. 25, publicou uma notícia sobre
a Feira das Novidades e os cursos e palestras do So-
lar, situação que se repetiu ao longo dos restantes
Personalidades e instituições
números, sexta-feira 13, presença de J. A. Gonçal-
distinguidas pela ASCR-CQ em 2018
ves Guimarães num programa da RTP sobre a festa
de S. Gonçalo em Vila Nova de Gaia; Setembro – o
n.º 44 da revista Nona Arte, da FPCG publicou uma
entrevista com a Confraria Queirosiana com ilus-
trações sobre as suas atividades e publicações; No-
vembro, notícias sobre o capítulo da Confraria, dia
25: Jornal Terras de Gaia: «Preservação da memó-
ria gaiense está assegurada», por Joaquim Pedro
Santos, p. 5; Dezembro, sexta-feira 01 – «Confraria
Queirosiana celebrou Eça e apresentou dois livros»,
por Luiz Ferraz, O Gaiense, p. 16.
76
e preparação para edição de dois novos volumes;
edições: 1.º volume do PACUG, elaborado pelo Ga-
binete de História, Arqueologia e Património, com
o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de
Gaia, intitulado Património Humano. Personalida-
des Gaienses; página Eça & Outras (blogue) ao dia 3 – Salon d’ Automne queirosiano 2019;
25 de cada mês, também publicada no jornal As 4 – Organização do Salon du Printemps;
Artes Entre As Letras; n.º 15 da Revista de Portugal; 5 – Roteiro Queirosiano do Egito colaboração);
organização de curso livre sobre Musicologia Por-
6 – Dinamização da secção juvenil da ASCR-CQ.
tuguesa; comemoração dos 130 anos da edição de
Os Maias.
77
Atividades de alguns associados e homena- de um busto no Solar Condes de Resende, e capa e
gens públicas em 2018 textos no n.º 15 da Revista de Portugal.
Alfredo Campos Matos – Homenageado a 5 de Luís Manuel de Araújo – Guiou mais uma via-
junho pela Biblioteca Nacional de Portugal com um gem cultural ao Egito faraónico de um grupo de
colóquio com vários interventores e uma exposição alunos e outros interessados, em boa parte seguin-
antológica de objetos e documentos pessoais. do o trajeto percorrido em 1869 por Eça de Queirós
António Pinto – Exposição de esculturas em e o Conde de Resende.
mármore, granito e xisto (com a participação de Manuel de Novaes Cabral – Agraciado com a
uma pintora), intitulada “O Meu Olhar”, que abriu ao Medalha de Mérito Municipal de Vila Nova de Gaia
público no dia 17 de fevereiro na Biblioteca Pública no dia 28 de junho na celebração do Dia do Municí-
Municipal de Gaia. pio no Auditório Municipal.
Hélder de Carvalho – Autor do busto do escritor Manuel Hipólito Almeida dos Santos – À Obra
J. Rentes de Carvalho, inaugurado no Solar Condes de Vicentina de Auxílio aos Reclusos, de que é presi-
Resende a 19 de maio e de um busto de Alberto Ama- dente da direcção, foi atribuído o Prémio Direitos
ral, ex-reitor da Universidade do Porto, inaugurado na Humanos 2018 atribuído pelo júri constituído no
respetiva Faculdade de Ciências a 29 de junho. âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais,
Isabel Pires de Lima – Comissária científica e Direitos, Liberdades e Garantias, da Assembleia da
curadora da exposição «Tudo o que tenho no saco. República, pela sua atuação junto da população
Eça e Os Maias», inaugurada a 29 de novembro, na detida e do apoio a reclusos e suas famílias, contri-
Fundação Calouste Gulbenkian, alusiva aos 130 buindo dessa forma para a humanização do sistema
anos da publicação de Os Maias. prisional e a reinserção dos cooptados.
José Rentes de Carvalho – Homenageado Sebastião Feyo de Azevedo – Agraciado com a
pelo Município de Vila Nova de Gaia em Maio e pela Medalha de Mérito Municipal de Vila Nova de Gaia
Confraria Queirosiana com uma exposição do seu dia 28 de junho na celebração do Dia do Município
espólio, um capítulo extraordinário e inauguração no Auditório Municipal.
PUB
78
Joana Almeida
História e mes
Faculdade de L
do Porto, com
à história e aos
Nacional Ferro
interessou-se p
material dos ca
participado no
das antigas sec
da CP (2005-20
a descrição arq
qualitativo do a
companhias fe
(2007-2009) e c
e montagem d
sobre a históri
Nos últimos an
como professo
e, no ramo edi
de objetos edu
nomeadament
modelação trid
de outras ferra
na valorização
divulgação do
Em 2011, integ
gadores-tarefe
do Solar Conde
Queirosiana, o
a sua experiên
do caminho de
do legado escr
oitocentistas q
sobre comboio
Eça de Queirós
constitui, assim
historiográfica
que revolucion
influenciou o p
e a obra do esc
79
balho
s obras
onam
os permitem
omo a
va a inovação
de ferro
alguns
om as
governos
erroviária.
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a do escritor
as obras
com a ironia
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bra Eça de
o, de Joana
no âmbito
projeto dos
o Solar
ui decorre,
celebrado
na e a
ova de Gaia.
o, só agora
frade António
a sua edição.
também
as suas
iu entretanto
queirosiana
biografias,
os – não viu
obre a
tora aqui
azendo uma
cionante,
guês,
ça de
volver,
rsonagem
ópria vida».
80
81