LIVRO TODA POESIA AO CORPO Alexandre Lucas

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1ª EDIÇÃO

CRATO, 2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
S580t Silva, Alexandre Lucas.
Toda poesia ao corpo /Alexandre Lucas Silva. – Crato: edição do autor, 2020.
103 p.

Disponível em:
https://drive.google.com/open?id=1V5F414r1wiVHEP1IKHLVrUwuVsinUZU
a

1. Poesia, Corpo, Literatura. I. Alexandre Lucas Silva. II. Cida Pedrosa.

CDD: 869.1
Para as mulheres que me deram palavras,
imagens e me ensinaram a escrever na cama e na
luta.
Cida Pedrosa
Um livro escrito em ritmo de blog, em que os sons vem da pele da
palavra. Li duas vezes e me encontro em muitos versos. É prosa ou
poesia? Não importa. É literatura em narrativas curtas, entrelaçadas
por doses de lirismo e encantamento. É literatura regada a chá, café e
vinho. É literatura com cheiro de hortelã verdinha e raminho de
alecrim. É literatura livre e que geme na praça, no quarto, na cama ou
nos grandes lábios do desejo.

É muito bom ler uma ode ao prazer, sem métricas e rimas, alegre e
celebrativa, moderna em seus 90 cantos. É muito bom espantar os
males, em tempos de quarentena, onde as pessoas entristecidas se
esmaecem em memórias, afazeres domésticos e cuidados meticulosos
com o novo coronavírus, com doses cavalares de desejos, arrepios e
gemidos sem espera.

O tom juvenil dessa literatura nos traz a vontade de usar de novo a


velha calça desbotada, de acender o incenso da paz, de fazer da
almofada a cama posta. Juvenil, no sentido mais gostoso desta
palavra, a simbolizar frescor, arrebatamento, coragem e um despudor
delicioso.

Tenho muitas aproximações com este poeta. Seja no que ele escreve
de denúncia, como fez na plaquete Toda poesia ao povo, seja no que
ele apresenta de erotismo neste livro Toda poesia ao corpo. Para mim,
o pessoal é político e o político é pessoal. Estas questões não se
separam. É o processo dialético e dinâmico do existir, onde o que está
dentro se entrelaça com o que está fora.

Conheci Alexandre Lucas na internet, pois militamos juntos no mesmo


partido e depois nos encontramos na cidade do Crato/CE, onde ele
mora e pela qual nutro muito afeto. Meu pai é de lá e nasci na cidade
de Bodocó/PE, bem próxima desta região. Ouso dizer que se fôssemos
obedecer às construções culturais, existiria o Estado do Cariri e nossas
cidades fariam parte da mesma unidade federativa.

Ele, como eu, é um militante da poesia, da política e do prazer. No


Crato, vi um pedacinho da sua luta ao conhecer o Coletivo Camaradas.
É de chorar! Crianças e adolescentes ligados e misturados no caldeirão
mágico da palavra, na forja estruturadora da literatura. Saí de lá
acreditando um pouco mais no mundo e nas sabenças do Sertão.

Voltando ao livro Toda a poesia ao corpo, farei aqui um exercício, talvez


desnecessário, que é o de citar alguns dos versos que amei, mas,
mesmo sujeita a repetição, lá vai:
- A mesa era forte e aguentava o beijo doce e os trovões que nos
residiam.
- No cinema do quarto disse mentiras verdadeiras no teu ouvido
- Depois você desapareceu
Como as águas do rio
Que sempre estão de passagem.
- No outro dia escreveremos sobre nossos segredos
Em cartas sem destinatários
- Normalmente o tempo esquenta e as roupas não fazem sentido
- Debulha-me e volta quente
Faz frio
Volta.
- e me faço dança entre teus braços.
- O girassol de Van Gogh na parede
E o amém do amor nas cartas da memória.
- Político é o corpo que quebra os diamantes de pudores
- A palavra é sempre uma entrega
Para uma floresta descoberta.
- O verso até rebola
Quando a carne se esquenta na brasa da palavra.
- dia após dia, verso após língua
Respiro
O sol se instalou e derreto a cada vontade.
- Quantas noites fizemos amor sem se ver?
- E no poema em construção
Deitado, revirando o amor até chegar em Roma dentro de ti.
- Fora do quarto escondo as asas e deixo aparente só os versos.
- Quero um poema
Silencioso, para uma noite de gritos
- O tempo dos afetos tem um relógio inquieto
Os seus ponteiros apontam imagens
Agora
Falta-me água e sobram palavras presas
- Pecado é não descobrir o teu poema
- O texto escrito a dois se dissolve
Como um poema de açúcar.
- Borboletas vão surgindo
Como arte e gratidão
No poema da epiderme.
- Um verso contorcido
Nós tecidos
Escreveríamos um livro.
A palavra é a pele e a pele é a palavra. Aqui, neste livro, homem e
poeta se pertencem. Corpo é sinônimo de poesia e poesia é o exercício
de celebração da vida. Verbo e carne que se retroalimentam em uma
construção una de prazer, escrita e sedução, afinal o poema atreve a
mente / Sem pontos, pontilha o infinito / Em canto e grito.

Cida, Pedrosa, Recife, 15 de maio de 2020, tempos difíceis de crise


sanitária, econômica e política em que estes versos me animaram e
me disseram, mais uma vez: a poesia salva!
1
Era uma mesa antiga, continuava firme, madeira de lei
Fazia-se de tudo naquela mesa
Escrevia-se o poema, tomava vinho, reunia pessoas para o café
Resolvia-se as contas do mês
A mesa aguentava a tempestade e os corações de pedra
O tempo furioso e amargo
Mas aquela mesa também era sustentáculo do amor
Nos cabia deitado e sentado
Com o fogo e a ternura das nossas pernas
Com verso ardente dos olhos
Com a língua sambando na pontualidade dos teus sussurros
A mesa era forte e aguentava o beijo doce e os trovões que nos residiam.
2
Um dia atípico, saia e batom vermelho
Você estava no jardim e fazia florir desejos
Sentia a brisa e queria que ela nos levasse para outro caminho
Onde o orvalho escorresse sobre os nossos corpos
E que pudesse colher dos teus grandes lábios uma música gemida
Espalhar a primavera sobre teus sentidos
Sentir brotar teu gozo
Mas não foi naquele jardim
Haverá outros jardins, saias e batons vermelhos.
3
No cinema do quarto disse mentiras verdadeiras no teu ouvido
Escuto, a cada encontro com corpos singulares frases similares
O amor preparado na cama tem dessa trama
De intensidade, verdade e mentira
Tem a palavra repetida
Como comida do dia a dia
Mas em cada casa
Os contornos não se repetem.
4
Escutava o som da floresta
Fazia sol, tinha sombra próximo as águas
As folhas dançavam de vez em quando
Brincávamos na água, tua roupa, um vestido azul
Molhado, transparecia teu corpo
Tua pele acordada e teus lábios salientes
Fizeram mel, durante a tarde inteira
Depois você desapareceu
Como as águas do rio
Que sempre estão de passagem.
5
Quase que nos enroscamos na escada
Estava escuro e o ambiente cheio de dúvidas
Adiamos, por alguns instantes demorados
Mas o ar tinha intensidade
A roupa leve se debulhava
Sentia o relevo da tua tatuagem entre os seios
Tão singelos que cabiam na palma da mão
O arrepio se anunciava
Já estávamos tomados pela liberdade e o sussurro
O espelho do nosso tamanho duplicava o nosso prazer
Cavalgamos na rede, num galope a beira da loucura
Nossas bocas flácidas se visgavam
Nossos olhares de mordiam de prazer
E a paixão vai se enrocando em cada escada.
6
Nos desencontros estamos tentando nos encontrar
Ainda não sabemos quando será a trilha ou próximo chá
Se nos encontraremos novamente no samba ou no banco da praça
Ainda é cedo, tem pouca luz e o caminho é incerto
Vamos fazer acontecer a hora
A gente junta essa amizade coloca em tigelas de carinho
Acende um incenso da paz, deixa a roupa cair
Vamos brincando com a flor e os lábios
Com os cachos e os sonhos
No outro dia escreveremos sobre nossos segredos
Em cartas sem destinatários
Combinaremos em linhas embutidas a nossa costura
Para que o nosso amor seja livre e sem escrituras
Assim como a nossa amizade.
7
Deixamos a louça esperando para outro momento
O celular tocava um blues de morder os lábios
O chão cheio de almofadas acomodava nossas conversas
Entre poemas e goles de café, orquestramos nosso olhar
A geleia ainda gelada foi passada como tinta no teu e meu corpo
Nossas bocas como pincéis deslizavam em nossas telas corpóreas
Pintura de arrepio
Conflito saboroso, em que duelam sem vencedores os desejos
Inexiste foto desse momento ou notícia em jornal
A verdade é que registramos tudo, até o que não foi realizado.
8
Comprei vinhos e flores
Esperei até a meia noite
Dormi embriagado com cheiro de flores
No outro dia chá forte de boldo
Na rua de caminhos embriagados
Já não espero
Desisto fácil dos amores impossíveis
E dos incompatíveis
Guardo flores ressecadas e garrafas vazias
Mas hora e outra, encontro copos cheios de felicidade
E pescoços cheios de cheiros.
9
Que seja para iludir uma tarde ou uma madrugada
Iluda,
Deixe-me passarinho, passeando e voando
Sentindo o suspiro profundo
Cantarolando palavras da cama
Euforias, teu mar salgado
Inunda minha sensatez
Tua voz suave
Quebra as pedras que ainda me restam
Longe das vestes falo sem pontos
E me embaralho nas tuas coxas
Iludo-me e como grão de areia se espalho
Iluda-me, apenas por um instante.
10
Deixou uma poesia escrita
No quarto daquela cidade de mar
Meio dia e meia noite nos encontramos
Atravessamos a madrugada
Enquanto nos alinhava
Com fome, sede, verso e sexo
Parecia que tinha tomado um litro de vinho e algo mais
Eu que não bebi nada
Embriaguei-me
Apenas com o teu sabor salgado e muito molhado
Logo cedo você saiu
Com olhos de quem escreveria outros poemas
Como os daquela noite,
Em cima da cama
Ficou seu cheiro e uma calcinha branca.
11
Tem horas que os teus olhos têm o brilho de vênus
Talvez seja na hora da curiosidade
Quando o desejo ancestral, pré-histórico do entrelaço se acha
Quando a boca e o ventre se encontram em beijos
Aceso os teus olhos tem mais encantamento
Fico pensando, são tantas histórias e posições
Acho que não teria um arquétipo que narrasse a pulsão
O intervalo entre um respiro e outro é mais veloz
Quando toca fogo nos sentidos
Em chamas teus olhos tem um sabor delirante
Certamente, pela proximidade com o sol profano
Em que o espanto se condensa em tramas de prazer.
12
Na vermelhidão da noite
A luz do pecado ganha forma
Rabiscos na ponta dos dedos, deslizam em cada curvatura
Na mesa uma taça de vinho para banhar teu corpo, gole a gole
Insano o traço da tua boca, deformada de beleza
A noite segue com um movimento intenso
Molhamos nossos lábios de vinho e de beijos
E a noite vai ficando cada vez mais vermelha.
13
Como será teu corpo e tua pulsão?
O que esconde por trás da máscara?
Convido-te para um chá de alecrim com folhas verdes de hortelã
Venha com roupas leves, o chá poderá está muito quente
Normalmente o tempo esquenta e as roupas não fazem sentido
Quero ouvir de perto, sentir a ponta da tua língua no ouvido
Enquanto descreve com os olhos o que esconde
Deixa cair tua roupa leve e a pele se transpor
O ar toma outra dimensão
Quando a alma é atravessada
Por uma espada de afagos
Deixa fluir o cheiro da rosa, a mente faminta
E nossos encontros para o romper o silêncio dos chás.
14
Acendi o último incenso, ainda restava um palito de fósforo
Apenas um
Meu nariz sentia o cheiro suave e intenso daquela noite
Um charuto cubano continuava intacto
A boina preta estava junta da bolsa e dos livros
Uma composição de juventude e revolução
Teus olhos pequeninhos se abriam de pecado
O chão coube a nossa dança
Uma esteira improvisada
Acariciou nossos corpos
Teu rosto continua visitando minhas lembranças
Tomaremos vinho e chá
Porque o nosso encontro é sempre profano e sagrado.
15
O lençol de chita vermelho tinha flores grandes, amarelas e azuis
Cobria a cama, um baú onde guardava algumas pinturas e lembranças
A casa era cheia de livros, quase sempre estava fechada
Mas sempre abria para um poema sem roupa
Num desses poemas, você tirava os óculos
Como descrevesse uma cena de Sharon Stone
Teu olhar carregado de sexo
Tomava o lençol vermelho
Plena, tocava as estrelas e rabiscava o céu com as unhas
Já era manhã, acordava com os carros poluindo a cidade
Parei alguns minutos para lembrar de cada cena
Ainda bem que a vida é feita de sonhos também.
16
Um olhar de segredos que flutua
As vezes dança como uma bailarina
O que dizem? Nunca sei
Tem a profundidade do mistério
Tem a missão de inquietar
Parece que solta versos, como canto de sereia
Tem uma beleza que renasce
Com singela doçura
Tem também pétalas de dor e solidão
Esse olhar que voa para dentro e para o além-mar
Que se esbugalha de esperança
E que tempera a vida.
17
Era para ser um encontro singelo
Um aperto de mão rápido, sem beijos no rosto e nem abraços
Esperava apenas um envelope e uma saudação de despedida
Ela chega, estende a mão para entregar o envelope
Mas parece que a carta estava no seu olhar, aberta e sem segredos
Já não sei mais o que tinha no envelope, pouco importa
A realidade já era outra
Já queria o abraço, o beijo e o aperto de extremo carinho
Saturado até mesmo do peso dos envelopes
Precisava sentir naquele instante
Apenas o peso dos lábios, o volume dos seios
O tempo esquentava,
A carta já se fazia corpo
E escrevemos com poucos pontos e muitas palavras
Tudo que tinha para dizer naquele momento.
18
Fizemos amor ali mesmo
Era madrugada
Foi dentro do carro que tinha o tamanho dos nossos corpos
Chovia
Estávamos quentes e suados
A chuva não parava
Nem a nossa vontade
O sol começava a se espreguiçar
Tínhamos que voltar,
Depois desse dia
Já eram outros carnavais.
19
Manda-me um verso
Entra com olhos e lábios
Tira-me do tédio
Sequestra-me para tua noite
Pode ser qualquer hora, não precisar ser a noite
Balança sentada nos meus braços
Debulha-me e volta quente
Faz frio
Volta.
20
Aquela luz do pôr-do-sol
Lembrar o teu sorrir
Despojada na cama
Fazendo renascer os melhores sonhos
Lembro de cada estrada
Do caminho que fiz pelo teu corpo
E dos nossos cabelos assanhados
Entre mordidas e o calor que não vinha do sol.
21
Estou procurando mãos
Anunciei na porta do meu olhar
E descrevi
Dessas que que dão volume a textura da pele
Que escrevem versos quentes descritos com a língua
Quero mãos atrevidas, que viajem da boca aos pés
Mãos que segurem, brinquem e tragam purpurina
Que possam volta a cada quatro poesias
Dez vezes na quarentena
Ou quando quiserem.
22
No interior das minhas lembranças
Trago algumas fogueiras
O desejo de viver intensamente
A saudade dos braços quentes e acolhedores
Na mudança fui deixando ou fui deixado em outras casas
Pedaços que se espalham,
Vontade de saciar, de beber na boca e de ler nos olhos
O verso contado na cama.
23
Recomeço a cada manhã a desenhar teu corpo
Na tranquilidade da noite, rompo o silêncio
Com fé toco tua pele
Canta em gemidos a tua liberdade
Faz casa, samba e amor
Amanhece, guardo a gratidão
E o sabor enviesado dos teus grandes lábios.
24
Meia-luz, um jazz de fundo
Teus seios desenham xícaras
Tomemos o café dos desejos
Retira o girassol dos teus cabelos
Para assanhar o teu olhar
Luz e alegria no teu rosto
Sinto na ponta dos dedos
A tua chuva, molhada de prazer
Passo hortelã verde pelo teu corpo
Contorno teus lábios
Sinto o gosto do teu ventre
e me faço dança entre teus braços.
25
O estado de desejo não tem ordem
Chegar de qualquer jeito, sem governo
Faz caminhos que os olhos viram
Sobrevoam a imaginação
Em dias frios e quentes,
A satisfação se borda
Numa trama que não se tece só.
26
Amargo deixa só o prazer de tuas entranhas
Vamos induzir o fogo
Desvestir a curiosidade
Espalhar a língua e desmedir o pudor
Faz calor e já estou nu
Áspero de desejo
Descrevo retalhos
Peles costuradas com suor
Horas dedicadas a transgressão da palavra
E da calmaria.
27
Tinha que ser rápido
Naquele instante
Meia roupa, bocas coladas,
Trovões dentro e fora
Calor e sussurros tomando o quarto
Sonhos em volúpia
Antes do gozo, uma batida na porta
O caos indesejado se instalava
Rostos desconcertados
Daquela manhã guardo
As palavras, o sabor e a súplica de prazer.
28
Entre inúmeras palavras
Trago bordados de encontros
Linhas de beijos, pontos de abraço
Um picolé derretido nos lábios
O batom vermelho, o fogo
A agua na boca
O verso das línguas
O carinho do olhar
O girassol de Van Gogh na parede
E o amém do amor nas cartas da memória.
29
Estávamos no quarto da natureza
Tocava e banhava teus pés
As borboletas e os pássaros faziam a melhor composição
A conversa parecia ter braços e tocava por dentro
Queria jogar com nossas línguas
Brincar de atravessar
Penetrar nos teus olhos e sentir teus suspiros
Fazer chuva de brilho
E deixar viver
A poesia no poste
O mar que nos carrega
E vento leve que nos faz sorrir.
30
Toca uma música incompleta
Busco as palavras e encontro labirintos
Os números espalhados nas estatísticas dos afetos
Deixa-me órfã
Estou correndo, as vezes não percebo os livros no caminho
Esqueço de tomar água e a comida se estraga no esquecimento
Enquanto derreto o chocolate doce na boca
Imagino a flacidez dos lábios mordidos
As colinas aladas dos braços, seios.
Dançando nas mãos, num malabar de prazer
O cachorro late, quebrou o ritmo, e por acaso entrou nesta história
Volto para o espaço onde se tece o desejo
Fico entre a palavra e a imaginação
Enquanto teu corpo desfila na minha língua.
31
Sequestra esse tédio
Joga tua língua, num jogo de vem e vai
Bebe o vinho espalhado no corpo
Solta nos ouvidos a palavra delícia
Teus cabelos assanhados
A boca voraz que vasculha
O canto do corpo
As mãos deslizam
Enquanto adentramos no céu.
32
Hoje tirei minhas roupas
Fiquei-me olhando
E vir que minhas expectativas não são pequenas
Fiquei nu
Dançando na cassa, enquanto escrevia
Tomei alguns goles de café
Olhei pelo espelho e comparei com algumas fotos
Continuei nu
E ouvir uma voz estranha
Insistentemente dizendo:
Veste a roupa a esconde tuas verdades
Teimoso
Quero ficar é nu
Só para saberem das minhas expectativas.
33
Conversa o corpo e o poema
Na nudez do vento
Olhos cintilantes e ventre envolvente
Contrair, ondular e vibrar
Ousar, ocupar e afirmar
Ventania que retira véus que encobre dores
Corpo em movimento, sedução de si
Político é o corpo que quebra os diamantes de pudores
O vai-e-vem é apenas um ensaio para outro mundo,
Com dança, corpo e poesia.
34
Vamos beber do nosso sabor
Virar os olhos e rebolar a noite
Liquidar o ventre e nadar nos sonhos
Fazer um verso carnívoro após cada verso
Amolecer a carne, transitando de prazer
Sejamos o poema descascado na língua
Poema nu,
É palavra que se espalha, é letra que enrosca
É sumo que se explode
É canto de calmaria
O poema nu é tanta coisa que nunca bebemos por completo.
35
O sutiã preto desenhava com clareza
A delicadeza dos teus seios
Que façamos a ligação da voz, da boca e do sonho
Da noite e do dia
Ainda brincam as palavras e as crianças no meio de nós
E o sutiã? Ele já não existe mais.
36
O chá era apenas uma desculpa
Como tantas outras desculpas
Para se encontrar com o sorriso
Entre as duas xícaras
Estava quente o desejo,
Fazia sol no meu intimo lugar
Para alimentar a flor de Frida
As mãos ainda trêmulas
Buscavam encontrar a casa
Para se fazer lar
A boca parecia ser um caminho incerto
Os olhos arregalados
Pronunciavam inúmeras profanidades e reticências
Enquanto isso a vida transbordava
E o amor cheio de carne e sorrisos
Passeava deixando lembranças
Já é hora de inventar outra desculpa
Dessa vez para sentir o gosto do chá
Nos teus lábios.
37
Gotas de limão para salivar o desejo
Num tempo árido de afetos
Azedo é a solidão companheira da melancolia
Entre mil redemoinhos, força
Para espremer os limões secos
Ainda quero falar de amor
E fiar a língua entre pontos
E vielas de sonhos
Para assassinar a carência.
38
Ler nos teus grandes lábios
Pelas linhas tortas
A intensidade das tuas palavras gemidas
Língua que avança para o infinito
Onde fica o desejo
Onde o ponto se faz reticência
E a saudade brinca com a imaginação
Tuas pernas se abrem
Como livro cheio histórias e um caldeirão quente
Que molha nossas bocas
Para um banquete
De palavras escritas com o corpo
Leitura condensada com o cuidado de não deixar esfriar
As linhas tortas e a escrita profana.
39
Existe uma floresta que esconde o verso e o corpo
E a passagem de Capitu
Na silhueta vejo teus seios
Pontiagudos e cheios de palavras
Um caminho de reticências se faz
Mesmo assim
Brota dos teus lábios uma carta de amor profano
Como operária abelhinha adocica os pensamentos
E como felina é ligeira
Tua língua é capaz de voar ao infinito
A palavra é sempre uma entrega
Para uma floresta descoberta.
40
Teus olhos acesos tem um universo
De um mundo inquieto,
Colchas de línguas e de deserto
Humano desejo trafega
Com poder e delírio
No corpo que verseja o amor
Sem damares e pastores.
41
Nossas bocas que nunca se cruzaram
Fizeram amor com afinco
Molhou o infinito das beiras
Dos grandes lábios
Movidos pelo vapor da palavra, sua o verso
No exercício do prazer
Nem sempre o corpo transita no amor.
42
A palavra e a carne
Parece fazer samba
Na nossa conversa
Esquenta o fogo e o afeto
Nos coloca pelo avesso
E faz sambar a imaginação
O verso até rebola
Quando a carne se esquenta na brasa da palavra.
43
Passei a manhã toda tentando escrever sobre tua boca,
Teu toque, teu olhar
Tentei escrever de várias formas
Apaguei palavras, acrescentei outras
Modifiquei a ordem
Só conseguia lembrar do teu gemido e do teu rebolado
Acho que a poesia estava ali indescritível.
44
O vento traz um trem de palavras
Afiadas de afeto
Talham a alma
Numa fé tecida de versos
Que vão
E nem sempre voltam
A palavra e o corpo se tecem com fome e esperança
E o teu rosto se faz ventre
Onde germina a febre dos desejos e a faca para partilhar a vida.
45
Olhando o livro
Li nosso último e único encontro
Costurado com conversas
Traçado entre línguas e dedos
Um verso de desejo
Transbordado na tua boca
Tumulto em corpos de serenidade
O ser na coletividade roga por amor
Como a árvore frutífera
Roga pela água
Resta a memória
A compreensão de que existe despedida
Que lê a macieira mordida
Sorrindo de pecado.
46
Espero que o tempo frio passe logo
Que venham as férias
Tingida de beijos e com grandes lábios e que eles sintam o terremoto de
prazer que é um corpo em verão
De dezembro a dezembro,
Dia após dia, verso após língua
Respiro
O sol se instalou e derreto a cada vontade.
47
Faz sol durante a noite
A lua se faz rede
E o pecado parece nublado
Ainda talho a esperança
Para me fazer parte do teu corpo
Conforto quente
Nos meus olhos descrevo
A dança pulsante da lua e do sol.
48
Teu sorriso se abriu
Enquanto tuas pernas se molhavam
As mãos passeavam pelo teu rosto procurando a sabedoria da lua
Nutrir um céu azul calmo
Cheio de aconchego
Teus olhos fechados
Regava o sertão e o fervor
Enquanto desejava nascer dentro do ventre
Molhado, quente e companheiro.
49
Quantas noites fizemos amor, sem se ver?
O desejo é assim surpreendente
Parece até artista, não é adepto de regras
É irreverente
Da vontade, fico debulhando a imaginação
Deve ser amoroso seu encaixe, como a noite se encaixa nas estrelas
No fluxo das lembranças
Vem corpo nu, sem ser ponderado
Eu que desconheço as tuas formas e teus suspiros
Apenas flutuo
Tuas palavras são incessantes quanto tua boca
Que mesmo calada profana sabores.
50
Tua boca esbanjada
E o filme passando
É uma viagem nua
Onde a dança se embola com as palavras e o olhar
Unir o verso na paciência e na loucura
Maturar o desejo
Quente como setembro
Para sentir o gosto da tua boca
Esbanjada na minha.
51
Diante da saia colorida e do vestido florido na boca,
A esperança fez foco
Era a vida passando
Cheia de imaginação
A persistência se fez família
Algo próximo e indissociável
Assim como o desejo que anda alado da imagem
E os amigos também amam
Com versos, corpos despidos e paz
Afinal não fazemos amor com os inimigos.
52
Queria me inquietar nos teus crespos prazeres
Atravessar tua carne para florear nossa alma
Acender a luz do abajur dos olhos
Acreditar no verso carnívoro
Aquele que verseja a esperança
Sinto o vento quente, deve ser o calor cheio de lua
Posso escutar o canto gemido que renasce a cada encontro
Que o porto não seja caixote
E que viver, lutar e amar sejam como grãos de areia
Que passam pelas cercas e que se encontram em qualquer lugar.
53
Se o desejo fosse monocromático
Harmonioso, de uma só cor
A alegria e a amizade poderia ser intensamente colorida
Para a gente sentir a respiração junta aos lábios
Receber a brisa e se fazer teia na alvorada
Sentir a plenitude do fogo
E a trepidação do gozo
Até as estrelas ficarem próximas e se vestirem de alucinação.
54
Eu quase que entrava dentro do teu sorriso
Só pela aproximação do verso feito pelo olhar
Trocaria os lençóis frios
Para acolher teu corpo
E desenhar sobre teus mamilos a presença do pecado
Desejo conjugado
Na sala do suco
E no poema em construção
Deitado, revirando o amor até chega em Roma dentro de ti.
55
Acordei com uma vontade de debulhar palavras
Soprando nos teus ouvidos lentamente
Como se fosse acender o fogo
A gente sopra devagarzinho para não se apagar de uma vez
Fogo acesso,
As palavras se devoram,
O corpo se trança no outro
Entre entranhas, braços, penas e bocas
Fazendo chamas
Ainda com vontade, continuo acordado.
56
Eu que não sei da escrita dos teus lábios e nem dos cachos da tua língua
Sinto o vento que me joga
A luz apagada atiça os desejos
O verso vem na palma da mão como carinho
Faz calor, não é tempo de espera
A nudez da pele faz empatia com a poesia que nos cerca
O corpo nu e a palavra sem arrodeio tem tom ruivo
Como a carência que pede a presença da carne e do verso.
57
A noite poderá ser nossa
Talvez o corpo seja bordado de carinho
Sem culpa, os pudores poderão ser rasgados
O afeto costurado com o som da vontade e os toques eriçados da pele
A música trans-pirar nos lábios mordidos
Num molotov de esperança
Surgirá brilhos de alegria
A paz pede a dança dos olhos e o corpo quente
Num bombardeio de desejos.
58
Encaixe-me dentro dos meus gemidos
A noite recortava pedaços de momentos
Refazendo uma colagem de carne e olhares
Um corpo de mil faces se fez
A palavra tingida de saliva e suor escreveu um poema profano sobre a
pele
E os gemidos apenas anunciaram que o prazer é canção que não se canta
só.
59
Era um corpo vermelho onde sobressaia um corpo nu
Tinha um salto de quatro dedos, apesar de não gostar de saltos
Eles deixaram nossas bocas rentes
Dois palmos e um sorriso
E saiu
Olhei o desfile querendo outro desfecho.
60
Publiquei nos jornais
Preciso de uma massagem de língua
Sem troca de valores
E tempos pré-estabelecidos
Dessas que retiram tensões
Alongam a imaginação
E que até fazem nascer dos sorrisos, flores
Massagem de língua que contorcem as páginas de jornais
Enquanto leio tuas pernas.
61
Gosto de acordar com o canto dos pássaros
Roçar os pés e sentir a trama das pernas
O desejo latejando
E o corpo fiando em outro corpo
Uma costura sem ponto
Entre o falo e a língua
Costurar os lábios
Fazendo das manhãs
Um poema cheio de gozo.
62
Escondi-me no quarto para voar
Sobre teu corpo fui às estrelas e rastejei como serpente
Envolvido no fruto santifiquei o pecado
Fora do quarto escondo as asas e deixo aparente, só os versos.
63
Amolo o tesão com a língua
E a faca deixo cega
Fagulhas dos olhos
Se afinam as estrelas
E nós em terremotos
Nos lavamos de prazer.
64
Quero um poema
Silencioso, para uma noite de gritos
Durante a noite
Quero mesmo é gemido e gingado
Corpo entrançado
Boca sendo ouvido da boca
Um poema socado de prazer
Socado, socado e socado
Sem nenhuma porrada
Olhos revirados
Corpos quentes
E um desejo queimando os lençóis
65
A solidão da cozinha temperava uma canção
Escutava a lua, que mesmo silenciosa
Fazia-me suar,
O violão entoava tua boca cheia de mãos
E o teu sexo fervia
Enquanto me deslizava pelos teus lábios.
66
O vento presente sopra dúvidas
Poderia soprar tua roupa
Descobriria teus sinais
E deles faria uma constelação
Construiria uma história de verdade
Para o tempo efêmero
Entra a bússola e a busca
Ainda não temos respostas
O vento parece ser forte
E no cotidiano vamos sendo levados
Pelos redemoinhos das relações.
67
No campo do quarto estão os nossos corpos
Jogando entranhados
Sem juízes, jogamos no meu time
Acertamos nas estrelas e na abstração da linguagem
Realidade
Teu copo cheio de leveza faz flutuar teus olhos
Um toque de carrossel na alma
Deixa tudo em harmonia.
68
No carro apertado, que cabia apenas nossas bocas
Um verso gostoso se escreveu entre as línguas
O despertador tocou
Nem sempre o sonho dura muito.
69
Enquanto bebia o café
A sensação quente
Do primeiro abraço
A pele e o cheiro desconhecido
Uns goles de paz,
O gato se distrai
O tempo é curto
Mas o copo, apesar de vazio
Aguarda o próximo café
Que seja demorado
E entrelaçado de carinho.
70
O tempo dos afetos tem um relógio inquieto
Os seus ponteiros apontam imagens
Agora
Falta-me água e sobram palavras presas
Vejo uma cachoeira de cachos que bordam risos
O sol fica azul e a noite amarela
Os céus cheios de flores se acariciam com as estrelas
O vento sopra uma fala mansa e um par de olhos pequeninos
Cheiro de mato, alecrim
Suor, chá de amor desconhecido
Penso na textura e no sabor dos teus movimentos
O relógio gira
A cada passo, as palavras ainda tímidas, fazem cachos.
71
Eu que queria amar a noite toda
Fico apenas com as palavras
E com a vontade
A noite anuncia que será longa
De companhia, além das palavras
Apenas o corpo molhado da chuva
E as luzes dos trovões
Eu que tenho pouco tempo,
Talvez não possa amar a noite inteira
Mas quando ela deixa
Amo por uma noite inteira.
72
Qual o sabor da tua boca?
Esbugalhada,
Ela textualiza um verso profano
Vejo delicias escritas
Entre língua e lábios
A carne se faz escrita delirante
A tua boca é um livro desses que desejamos ler.
73
Já não tenho lembranças do sabor do teu beijo
Que se fez verso como a primavera, passageira
Tua boca fez silêncio, mas teus olhos escreveram tantos poemas
Que cheguei a pensar que Paraty
Estava bem aqui, nos toques das mãos.
74
Vejo versos vermelhos
Na tua boca maçã
Poema carnaval
Escrito no tecido erógeno da imaginação
Teus lábios tem uma escrita profana
Leio com gosto
Com o prazer que Eva teve ao comer o fruto
Pecado, é não descobrir o teu poema
Tão exposto, na primeira página
Abaixo dos teus olhos.
75
O beijo suave bordava a tarde
Nós quentes fazíamos versos de suspiros e delicadeza
Branca, macia e avermelhada pele
Lençol de encontro
A noite chega e o desejo madruga
Teu riso tatua lembranças
Cada tarde se renova afogueada de nós e cheia de cetim
76
Eu que não escrevo cartas de amor
Arrumo o quarto, sempre fica algo bagunçado
Prefiro apenas meu cabelo bagunçado
Pelas tuas mãos
Essas que escrevem poesia
Sim, poesia, sem texto
Com língua e tudo
Eu que não preciso escrever cartas de amor
Assanho-me todo, só para dizer que o quarto está ficando organizado.
77
Gosto mesmo é de café com mãos
Um sopro para esfriar o pé do ouvido
Nós sendo xícara e nos bebendo
Corpos quentes, como um café no ponto.
78
Quero te riscar toda
Com a ponta da língua
Escrever rabiscos na tua boca
E na beira dos grandes lábios
Fazer as mais importantes anotações
Escrevo em linhas onduladas
Um texto sentido
Na trepidação entre a pele e a língua
A gramática do corpo
Vai se compondo no momento
Descomportadamente culta
O texto escrito a dois se dissolve
Como um poema de açúcar.
79
A boca é um cinema de tesão
Em pé sinto a cena
Entre uma volta e outra
Um recomeço de harmonia
Calma e apressada
A boca
Vai compondo a chegada
Que se espalha de vida
Pelos lábios
Entre gemidos agudos
A paz se instala
E o amor se faz uma cena sem fim.
80
Visita-me com calma
Desata a correria
Compõe a lira do companheirismo
Podemos sentar e sentir o gosto do olho, do café e do alecrim
O cheiro, da alegria e do corpo tocado
A música canta carinho
E os lábios voam, num intervalo de mordidas.
81
Gostaria de ler lábios
E sentir cada palavra
Quente e molhada
Entre um livro e um banho
Receber as mãos
Tateando o viver
O cansaço consome a cabeça
Preciso de um chá
Que me afaste do sono e que venha com lábios e sonhos.
82
Para cada intervalo frio da vida
Uma xícara quente de café
Acompanhada de uma língua em brasa de doçura
Tricotada com beijos e mordidas deliciosas
As mãos escritas nas costas
Apontando o código forte do desejo incontido.
83
Qual seria a desenvoltura de dois corpos vestidos de pudores?
Eu gosto do verso nu
Da delicadeza sem arrodeio, da palavra forte e do beijo molhado
Da esperança do reencontro
Do carisma feito de lenço de paz
Gosto do despudor
Cheio de afeto e sacanagem
Das pernas entrelaçadas e voz da liberdade.
84
Rabisco desejos
Enquanto escuto a imagem do teu riso
Poesia que escorre como história
Livro de pele e de arrepios, de amor
Aguardo o teu café quente
Com todo o teu sabor
Tempero refinado de delicadeza e despudor
Borboletas vão surgindo
Como arte e gratidão
No poema da epiderme.
85
Na ponta da língua vira poesia
A língua que escreve com amor
Nas pontas dos dedos mais sabor
Teu corpo dedilhado com ternura
Tua pele, página de guardar histórias
Canções de liberdade
No verso composto do cuidar.
86
Perdido no mar e nas nádegas
Deixaria tuas ondas me navegar
Forte e devagar,
Molhado com o orvalho do teu prazer
Faço-me anjo de cachos e sexo
Sagradamente provo teus lábios e o gosto da tua sucção
O céu azul fica estrelado
Enquanto fico derretido sobre o seu olhar.
87
Escreveria com fidelidade na tua boca
Um poema provocante
Teus lábios como fitas
Estimula uma escrita temperada com fogo e paciência,
Quando as peles se cativam, é como uma amizade que se cuida
Fazendo uma escrita sedutora.
88
Em dias frios
Suspiros e boca quente
A consciência flutua
Falta ar
O coração dispara
Enquanto escorro
Entre os teus olhos e lábios arregalados.
89
Escreveria nos teus lábios
Com língua e dedos
Um poema gemido
De cada sim e de parte a parte
Um verso contorcido
Nós tecidos
Escreveríamos um livro.
90
Escrevo um poema de imagens
Nele vejo a boca com os lábios enviesados
A ponta dos seios em forma de seta
As pernas despidas
E uma carta para abraçar a alma
De fogo e afeto
No poema cabe tudo,
O desejo, a esperança, o objeto, o dejeto
O verso, a alma e o incerto
O poema atreve a mente
Sem pontos, pontilha o infinito
Em canto e grito.
91
A cama continua cheia, alguns livros que me levam a lugares que nunca fui
O celular repleto de fotos e de estradas
A preguiça espalhada
Mas a vontade era deixar a cama semivazia
Ocupada, apenas pela cumplicidade dos nossos corpos
Poderíamos viajar, conhecer cada ponto de felicidade
Conquistar em intervalos tremulações
Teu corpo suado poderia fazer o distanciamento do tédio
A reciprocidade da pele e a temperatura quente
A cama cheia de nós, enclausurados de gratidão
Nos beberíamos pelo meio, até desfalecer de amor.
92
Após um dia pintando, subindo, descendo, agachando
Sentindo o cheiro e as cores da tinta
Observando cada detalhe
A serenidade e a harmonia dos espaços e das formas
O quarto já está pronto, lavado e com cheiro de rosas
É hora de refrescar, eu e você e nossas vontades
Um banho meio quente e meio gelado
Nós, nos deslizando de afetos
Na cama, a cânfora e a arnica nos espera
Em camadas leves vamos aquecendo
Ardidos de prazer
Vamos nos provando,
Por dentro, por fora e pelos avessos
Na ousadia da carne, o amor é uma guerra
Em que queremos morrer.
Alexandre Lucas – gestado no Crato, estado espiritual
do Cariri, no Ceará, filho de Dona Lia, costureira e Seu
Raimundo, sapateiro. Na infância começou a gostar de
ler a partir dos livros sobre artes marciais. A palavra é
algo presente na sua militância política, idealizador de
projetos na área de democratização e construção de
uma cultura leitora. Crítico da elitização e da exclusão
literária e artística. Defensor da interação e
socialização da arte e da literatura como instrumentos de emancipação
humana. Comunista, pedagogo, artista-educador, servidor público,
performer, militante dos movimentos sociais e integrante do Coletivo
Camaradas.

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