Poesia e Ideologia - Otto Maria Carpeaux PDF
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1O que significa que a coisa mais estúpida do mundo é, talvez, uma pintura de
museu. (Tradução livre)
profunda como o mar. Ele é professor do famoso Magdalene
College, da Universidade inglesa de Cambridge, e as experiências
que sofreu com a leitura e interpretação de poemas ingleses pelos
estudantes eram horríveis. Não resolvido a resignar-se, como
muitos outros professores que começam entusiastas e acabam
charlatães, estudou os obstáculos que se opõem à compreensão da
poesia, para poder combatê-los, e chegou a um sistema
rigorosamente estabelecido de dez “dificuldades principais”: 1)
Incapacidade de compreender o sentido; a maioria dos homens lê
poemas só “com o sentimento”; é mostra-se incapaz de “construir
as frases”, de traduzir as frases dum poema em frases razoáveis de
prosa. – 2) Falta de “compreensão sentimental”, acolhimento do
poema como se procurassem uma notícia, um fato. – 3)
Incapacidade de compreender metáforas, de traduzir a linguagem
figurativa. – 4) Faltas mnemônicas: intromissão de lembranças e
associações pessoais do leitor, que se substituem ilegitimamente
ao trabalho do poeta. – 5) “Stock responses”, certas ideias, por
assim dizer arquivadas no espírito do leitor, frutos da educação, de
leituras anteriores, do “espírito dominante” do meio nacional e
social; o leitor responde ao poema por “stock responses”, em vez
de responder por compreensão espontânea. – 6) e 7)
Sentimentalismo e o seu contrário, a “inibição”, facilidade excessiva
de reação sentimental ou endurecimento grosseiro do coração. – 8)
Preconceitos doutrinários, que se opõem à “mensagem” real ou
pressuposta, que o poema exprime. – 9) Preconceitos técnicos, que
julgam a forma sem consideração da relação indissolúvel entre
forma e sentido; nesses preconceitos encontram-se os
“acadêmicos”, idólatras da forma metrificada, com os “modernos”,
fanáticos intolerantes das formas livres. – 10) Preconceitos
críticos: sedimentos de teorias críticas que prescrevem à poesia um
papel determinado e condenam um poema em que está
desempenhado outro papel da poesia. Esta “décima dificuldade” é
talvez a mais profunda de todas, reconduzindo à primeira, a
“incapacidade de construir”. "EI Cosmos" – diz uma pessoa no
romance Belarmino y Apolonio, de Ramón Pérez de Ayala – “el
Cosmos está en el diccionario de Ia lengua castellana”. Na verdade,
é assim; é apenas preciso pôr em ordem as palavras, e esta é a
tarefa do poeta; mas o mundo quer prescrever-lhe as suas leis de
desordem prosaica, e se o poeta não obedece, o mundo responde
pela incapacidade de construir o poema, de ler no dicionário, de
compreender o Universo. Em suma, os homens não sabem ler.