Aula 06 - Literatura - ITA 2024
Aula 06 - Literatura - ITA 2024
Aula 06 - Literatura - ITA 2024
AULA 06
Modernismo de 45 e Literatura Contemporânea
Sumário
1 - Modernismo de 45 3
2- Literatura Contemporânea 13
3 – Música 21
4 – Exercícios 25
4.1 - Exercícios 25
4.2 – Gabarito 71
5 – Referências 134
Apresentação
Olá!
Vamos falar hoje sobre alguns assuntos que caem bastante no vestibular do ITA:
Essas escolas literárias historicamente são bem exploradas por essa banca. Na prova de 2024, por
exemplo, todas as obras pedidas são de literatura contemporânea.
Vamos lá?
1 - Modernismo de 45
1.1 – O Brasil da época
A terceira geração modernista se inicia junto com o fim da Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo
tempo, também vê o início da Guerra Fria, não conseguindo, portanto, se desvencilhar por completo do
sentimento de conflito. A discussão política entre o capitalismo e o comunismo atinge seu ponto mais
alto: o mundo está dividido entre dois sistemas políticos de governo. E eles disputarão silenciosamente
para decidir quem será o forte.
No Brasil, o período é marcado pelo fim da Era Vargas. Getúlio voltaria ao poder em 1951, mas
dessa vez, eleito pelo povo. Após um governo autoritário, marcado por perseguições políticas e censura,
Getúlio seria eleito democraticamente.
Convenciona-se que a terceira fase do modernismo dura até os anos 1960. Após esse período,
entra em vigor a chamada literatura contemporânea. As principais características do Modernismo de 45
são:
Características
Poesia
Prosa
Experimentações
Linguagem formal
Em 1959, retorna ao Rio de Janeiro após a separação do marido. A partir dessa época, se torna
colaboradora de jornais e revistas, assinando colunas semanais. Clarice Lispector viveu até 1977, quando
morreu devido a um câncer no útero.
Dramas existenciais;
Emprego de metáforas;
Fluxo de consciência;
Engajamento social;
Existencialismo;
Personagens principalmente femininas, marcadas tanto por reflexão quanto por fragilidades;
Traços de ironia.
As Meninas (1973);
Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna (1927 – 2014) nasceu em Nossa Senhora
das Neves, cidade que hoje se chama João Pessoa (PB). Logo após seu
nascimento, a família se muda para o interior do estado, no sertão
nordestino, para viver na fazenda.
É em Recife que faz seu curso de Direito e inicia sua carreira teatral, fundando o Teatro Estudante
de Pernambuco. Apesar de dedicar-se à advocacia por um tempo, Ariano não deixava o teatro de lado.
Ariano só abandonaria a advocacia após a estreia de sua peça de maior projeção: O Auto da Compadecida,
em 1955. Após o grande sucesso da peça, Ariano deixa a carreira de direito e passa a se dedicar à docência
em Estética na Universidade Federal de Pernambuco. Nessa época, ele também fundaria o Teatro Popular
do Nordeste. Sua carreira no teatro, porém, ficaria interrompida por algum tempo devido à sua dedicação
à universidade.
Religiosidade popular;
Teatro popular;
funcionário público até 1946, quando passa no concurso do Ministério de Relações Exteriores e se torna
diplomata.
Seu trabalho na diplomacia possibilita que ele integre uma série de iniciativas para divulgar o Brasil
no exterior. Isso também o tornará um poeta muito conhecido em todo o mundo, sendo frequentemente
cotado em vida para ganhar o prêmio Nobel de literatura.
João Cabral é considerado o maior poeta brasileiro da 3ª fase do Modernismo. Sua obra, herdeira
de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, também sofre influência de alguns poetas
estrangeiros como Mallarmé e Paul Valéry. Ele foi também membro da Academia Brasileira de Letras.
Inspiração surrealista;
Temas nacionais; e
O engenheiro, 1945;
Ferreira Gullar
Ferreira Gullar (1930 – 2016) é o pseudônimo de José Ribamar Ferreira,
menino nascido em São Luís, Maranhão, e uma família de 10 irmãos. Ele
escolhe seu nome artístico a partir do sobrenome de solteira de sua mãe,
Goulart. Aos 19 anos de idade, Ferreira Gullar publicaria seu primeiro livro,
ainda pouco próximo do estilo que viria a desenvolver posteriormente.
Ele ingressa na militância política através do CPC (Centro Popular de Cultura), grupo fundado em
1961, ligado a artistas e intelectuais de esquerda, cujo objetivo era criar uma arte engajada, capaz de
conscientizar a população. Essa atuação o levará a ser exilado do país durante o Regime Militar. É no exílio
que escreve uma das suas obras mais famosas, Poema Sujo.
Exploração das palavras, tanto a partir de seu som quanto a partir de seus recursos gráficos;
Barulhos (1987)
Ritmo da fala na escrita - Guimarães Rosa reproduz o modo da fala na prosa. Há o uso
frequente de travessões, exclamações, vírgulas mal colocadas, reticências, interrogações,
fluxo de ideias e outros. Dá-se menos importância aos padrões gramaticais, buscando
representar a fala e a oralidade.
Prosa poética - Os textos em prosa poética são aqueles que utilizam muitos recursos
poéticos, porém sem se apegar a métrica ou rima, como nos textos poéticos
tradicionalmente. Utiliza muitas figuras de linguagem, principalmente as figuras de som,
como onomatopeias, aliterações e assonâncias, trazendo uma sonoridade próxima da
poesia.
2- Literatura Contemporânea
Chegamos agora em um dos assuntos mais difíceis de sistematizar: a literatura contemporânea. A
verdade, é que não há consenso ainda sobre o que seria essa literatura contemporânea brasileira. O que
vamos fazer aqui é destacar algumas impressões acerca da produção literária brasileira a partir dos anos
1970.
Alguns dados devem ser levados em consideração quando se pensa no Brasil contemporâneo:
O Brasil passa por uma ditadura militar entre os anos de 1964 e 1985. Isso impacta o modo de
produção das artes, pois era preciso lidar com a censura, tanto imposta pelo governo quanto a
chamada autocensura, ou seja, os próprios artistas limitavam suas ideias para não sofrer represálias.
Essa censura era muito mais moral do que política.
Enquanto representação política, o homem chega na segunda metade do século XX ainda sem
respostas. A desigualdade e exploração pelo trabalho da sociedade capitalista não foi eliminada; as
tentativas de implantação de estados socialistas ou comunistas falharam, criando Estados com
desigualdades sociais tão profundas quanto, além de um sistema burocrático que imobilizava os
homens.
A cultura de massa alcança fortemente o Brasil, impactando o modo como os artistas dialogam com
as referências estrangeiras. O cinema e a televisão, principalmente americanos, passam a fazer parte
do cotidiano dos brasileiros.
Tendo em mente que não seria uma tarefa fácil tentar analisar o contexto histórico e seus impactos
no pensamento e produção artística contemporânea, optamos por pensar em tendências e processos de
produção da literatura do contemporâneo. Vamos ver como tem sido essa produção da segunda metade
do século XX até hoje.
Cultura de massa
A literatura contemporânea é fortemente
influenciada pela chamada cultura de massa. Chama-se
de cultura de massa os produtos da indústria cultural, ou
Fonte: Pixabay
No Brasil, o diálogo com a cultura de massa mais popular é a Tropicália, movimento musical que
surge nos contextos dos festivais de música do fim dos anos 1960. Os principais integrantes foram Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Os mutantes e Tom Zé. Até hoje, porém, os escritores trabalham com referências a
elementos da cultura pop.
Os diálogos com a cultura de massa têm como uma de suas principais características a referência
à linguagem cinematográfica, principalmente no aspecto da fragmentação, dos flashes de imagens e das
sequências montadas a partir de ideias distintas sobrepostas. Além disso, fazem uso frequente do humor
e da ironia. Veja um trecho do poema “Geleia Geral”, de Torquato Neto, que traz exemplos de referência
à cultura de massa:
Cotidiano e simplicidade
Alguns autores do contemporâneo voltam seu olhar para o cotidiano e a simplicidade. Isso pode
aparecer de diversas maneiras: nas crônicas de assuntos corriqueiros ou nos textos em prosa sobre
situações banais. Na poesia, o principal aparecimento está no olhar para as coisas simples. Duas poetas
que se dedicam sobre esses temas têm aparecido nos vestibulares:
Cora Coralina (1889 - 1985): Poetisa que só ingressa na vida literária aos 76
anos. Sua poética se baseia nos detalhes, escrevendo sobre o cotidiano com
delicadeza. Seus poemas são muito atentos às miudezas do dia a dia. Veja
um trecho do seu poema “Saber viver”:
“Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas. (...)”
Forma breve
Há um aparecimento significativo de formas literárias breves. Na prosa, isso fica demonstrado na
preferência pelo conto e pela crônica; na poesia, pelos poemas curtos de poucos versos e pelo haicai.
O haicai é um poema de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabas poéticas, o 2º verso possui 7 sílabas
poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas poéticas.
Ainda que os poetas desse período tenham subvertido um pouco a contagem das sílabas, convencionou-
se chamar haicai os poemas de três versos produzidos no período.
Dentre os poetas que trabalham com o haicai, Alice Ruiz é a que tende a aparecer com
mais frequência nos vestibulares.
Contos: Caio Fernando Abreu, Dalton Trevisan, Hilda Hilst e Rubem Fonseca.
Crônica: Fernando Sabino, Lya Luft, Luís Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes e Moacyr Scliar.
Intertextualidade
Os autores contemporâneos frequentemente fazem referência a outros autores. Muitas vezes,
essas referências são bastante explícitas. Noutras, nem tanto. Tem sido muito comum em vestibulares
questões que comparem poemas contemporâneos com outros que os inspiraram. Veremos melhor esse
assunto na aula 10 de nosso curso.
Veja abaixo um exemplo de intertextualidade. Um dos poemas mais conhecidos de Adélia Prado
é este em que ela faz uma referência explícita a um poema de Carlos Drummond de Andrade:
Além disso, há uma tendência a misturar diferentes linguagens nos textos em prosa. Há misturas
entre romance e texto jornalístico, poemas em prosa, textos em prosa poética, biografias com aspectos
ficcionais, contos misturados com crônicas. A não fixação de uma forma é bastante característica da
literatura contemporânea.
Meios digitais
Mais recentemente, um elemento que tem sido importante para a escrita literária é a internet e
os meios digitais. Além das referências temáticas – obras cujos assuntos se debrucem sobre o tema da
vida digital – a internet modificou a relação da literatura com o público e com a divulgação da obra
literária.
A primeira década dos anos 2000 foi especialmente profícua para os blogs. Atualmente um pouco
em desuso, os blogs eram uma espécie de diário aberto. Ali se podia produzir conteúdo escrito tanto
pessoal quanto ficcional, literário. Muito autores que hoje se dedicam à escrita de livros físicos começaram
suas carreiras escrevendo em blogs nesse período.
INSTAPOETAS
Instapoetas é o nome dado a uma geração de autores que utilizam plataformas como o Instagram
e o Facebook para publicarem seus conteúdos. Ao invés de procurarem uma editora que aposte em seu
trabalho, esses escritores publicam conteúdo online e formam público leitor. E aí, o contrário acontece:
as editoras é que buscam os autores para publicar livros com suas poesias.
A maioria dos instapoetas produzem textos curtos, com versos livres e brancos. As temáticas
favoritas são o amor e os relacionamentos. Há também o aparecimento de temas sociais, como
preconceito, por exemplo. As poesias costumam aparecer em imagens com design bem pensado,
acompanhadas de ilustrações ou com fontes diferentes. Eu aposto que você já viu vários desses perfis
pela internet!
Memorialismo
Uma outra tendência importante do contemporâneo é a vontade de se debruçar sobre a questão
da memória. São comuns os livros que misturam elementos ficcionais com relatos autobiográficos. Alguns
autores que tinham sido exilados durante o regime militar, ao retornar para o Brasil, produziram
autobiografias com traços reflexivos, revendo a sua própria história.
Outro traço do memorialismo na literatura brasileira é o interesse em publicar diários. Por muito
tempo, entendeu-se literatura como obras de ficção. No contemporâneo, os relatos pessoais, não fictícios,
começam a ser vistos dessa forma também. Dois diários se tornaram muito conhecidos na literatura
contemporânea:
Poesia Marginal
A produção literária com viés social fica
prejudicada com a censura. Foi preciso se valer de mimeógrafo: é a avó da impressora. Consistia em uma
máquina que copiava os textos a partir de uma matriz.
meios que driblassem a censura, então a
Escrevia-se numa folha especial (matriz) e colocava-se
linguagem mais metafórica e as referências essa folha num cilindro de feltro embebido em álcool.
indiretas acabavam sendo muito acessadas. Quando em contato com uma folha em branco, o
Alguns poetas driblaram a censura de outro álcool transferia o conteúdo da matriz. As cópias
modo, porém: publicando e distribuindo eles tinham cheiro muito forte de álcool e possuíam cor
próprios sua poesia. Esses são os poetas azul-arroxeada.
marginais.
Os poetas marginais encontraram outros meios de distribuir sua poesia que não precisasse passar
pelo crivo da censura. Assim, os autores produziam e vendiam a valores baixos revistas, folhetos, cartazes
etc., sempre em pequenas tiragens. As obras eram impressas em mimeógrafo. Por isso, eram também
chamados de Geração Mimeógrafo. Os poemas eram em sua maioria curtos, com referências visuais e
linguagem coloquial. Muitas das temáticas eram ligadas ao erotismo e ao cotidiano – principalmente da
vida das cidades. Há também a presença de gírias, palavrões e palavras de baixo calão. Os autores mais
populares da poesia marginal nos vestibulares são:
noite carioca
Vozes dissonantes
Outra característica importante da literatura contemporânea é a presença das vozes dissonantes,
ou seja, da abertura de espaço para autores com perfis que normalmente não estavam na literatura.
Você deve ter percebido que há escritores com perfis bastante diferentes nessa aula: homes e
mulheres, negros e brancos, pessoas de origem pobre ou não... isso é um traço do contemporâneo. Há
interesse em ouvir vozes diferentes. Se durante boa parte da história, a literatura era feita por homens
de classe alta, no contemporâneo há uma maior abertura para pessoas com outras vivências.
Isso se deve também, em parte, às mudanças no modo de produção e divulgação das obras. Com
o maior acesso que a internet permitiu, mais pessoas puderam produzir textos. Além disso, a internet
facilita a criação de comunidades, espaço de interesse comum. Nas redes sociais, é possível encontrar
grupos que incentivam a leitura de obras de determinados estratos sociais, o que ajuda na circulação de
obras que, por vezes, não ganhavam atenção das editoras.
Ainda assim, fora do meio da internet, o perfil do escritor brasileiro é parecido ao longo de todo o
período contemporâneo. Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Contemporânea a UnB
revelou que ainda hoje, cerca de 70% dos autores são homens e 97% são brancos¹. Isso indica que ainda
que tenha havido diversificação aparente nos autores, a realidade é que as vozes dissonantes ainda estão
em grande minoria.
Preparamos uma lista de filmes em que as questões sobra a contemporaneidade levantadas aqui
aparecem. São todos filmes bem recentes. Quantos você já viu?
Ex_Machina: Instinto Artificial Clube da Luta (Dir.: David Fincher, Babel (Dir.: Alejandro González
(Dir.: Alex Garland, 2015) 1999) Iñárittu, 2007)
Programador ganha concurso Jovem executivo insatisfeito que Três histórias correm em paralelo,
cujo prêmio é testar uma dribla sua mediocridade como pequenos contos que se
inteligência artificial criada por consumindo sem parar. Ele conhece misturam: um casal no Marrocos,
um bilionário excêntrico. Ele um estranho misterioso e fundam atingido por um tiro; uma babá
acaba se envolvendo com a um clube secreto em que mexicana cuidando de duas crianças; e
criatura e já não sabe em quem extravasam suas frustrações em um homem no Japão com sua filha
confiar. lutas violentas. surda.
Aos treze (Dir.: Catherine O amor não tira férias (Dir.: Nancy Atlanta (Dir.: Donald Glover, 2016)
Hardwicke, 2003) Meyers, 2006)
Poesia marginal
Memorialismo Cotidiano/simplicidade
Alguns dos herdeiros das experiências
Drama autobiográfico. O roteiro Duas mulheres trocam de casa para marginais foram as batalhas de rap. A
conta a história da própria suas férias. Elas mudam série Atlanta mostra o cotidiano de um
diretora que, no início da completamente de vida: uma, vai rapper e um pretenso empresário
adolescência, faz amizade com para uma pequena cidade inglesa e musical tentando crescer de maneira
uma garota popular da escola a outra para uma mansão em Los independente.
que a leva para um mundo de Angeles. Elas passam a encontrar
drogas, criminalidade, entre beleza no cotidiano.
outros.
3 – Música
Por fim, vamos pensar em um último tipo de texto literário que tem aparecido no vestibular do
ITA: a música. Daqui de onde estou, eu consigo escutar todas as dúvidas de vocês:
Calma! Vamos pensar tudo isso por partes. E vamos começar do mais básico: o que é música?
O que é música?
A palavra “música” vem do grego (mousiké). Significa “a arte das
musas”. As musas são figuras da mitologia greco-latina que se acreditava
serem capazes de inspirar os homens na criação artística – e por vezes
científica. A arte que misturava diversos traços das musas ficou conhecida
pela palavra música.
Ritmo: tem a ver com velocidade e tempo. O ritmo organiza o som num Alphonse Mucha, Music. From the arts series
espaço de tempo: dita se uma música será mais rápida ou mais lenta, (1898).
por exemplo.
Para a análise literária, o mais importante são as canções. Uma canção é uma forma musical
composta por um texto poético e uma música. A maioria dos vestibulares apresentará as letras de
canções para que você interprete. A canção, portanto, é um texto com elementos verbais e não verbais
a serem interpretados, principalmente quando aparecem canções que conhecemos, pois se torna mais
difícil não ler o texto já na melodia em que ele é cantado.
Música e literatura
É muito importante que você lembre dessa diferença. Interpretar uma canção nada tem a ver
com seu gosto pessoal. Você pode encontrar letras de músicas que você não gosta na prova. É preciso
que você deixe sua opinião pessoal de lado para interpretar uma canção. Você deve fazer uma análise,
não uma crítica.
Interpretar uma letra de música é como interpretar um poema. Preste atenção à estrutura (forma)
e ao conteúdo, buscando relacioná-los. Lembre-se do que compõe a forma poética:
Estrutura do poema
Quando o texto poético for uma letra de música, eis alguns tópicos para prestar a atenção:
Artista: Ter algum conhecimento sobre o artista que escreveu a canção e o período em que se encontra
pode ser um trunfo na hora de interpretar letras de músicas.
Figuras de linguagem: canções costumam contar com um bom uso de figuras de linguagem. Metáforas e
antíteses são algumas das mais comuns, mas não são as únicas.
Sonoridade: o som das palavras e a melodia da canção podem ser aliados na hora de interpretar. Se você
conhece a canção, tem grandes chances de perceber quais as partes mais importantes, indicadas pelo
refrão ou por alguma mudança na melodia, por exemplo.
Título da canção: costuma sintetizar o conteúdo da letra ou os elementos mais importantes do texto.
Ícones: Freepik, de
Infográfico: Showeet
www.flaticon.com
4 – Exercícios
Você encontra aqui tanto exercícios do ITA quanto de outros vestibulares. Não deixe de praticar.
Esse conhecimento pode ajudar você a interpretar as obras literárias cobradas.
Vamos lá?
4.1 - Exercícios
1. (ITA - 2015)
O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o livro A escola das facas.
A voz do canavial
Voz sem saliva da cigarra,
do papel seco que se amassa,
2. (ITA - 2010)
Na obra Quaderna (1960), João Cabral de Melo Neto incluiu um conjunto de textos, intitulado “Poemas
da cabra”, cujo tema é o papel desse animal no universo social e cultural nordestino. Um desses poemas
é reproduzido abaixo:
3. (UNICAMP – 2020)
Texto I
Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo
Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores.
dezembro te desemprega;
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.)
Texto II
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019.
4. (UFPR - 2019)
Em Morte e vida severina, Severino é um retirante que sai do interior com a intenção de chegar ao
litoral, à cidade do Recife. Quando atinge a Zona da Mata, última região antes da chegada ao Recife,
diz ele:
derradeira ave-maria
do rosário, derradeira
invocação da ladainha,
Recife, onde o rio some
e esta minha viagem se finda.
(MELLO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 186-187.)
Considerando o trecho acima e a leitura integral do auto de João Cabral de Melo Neto, assinale a
alternativa correta.
a) O auto de João Cabral foi concluído em 1955, tempo em que ainda se iluminavam as casas com
lamparinas, e, nessa situação, a percepção que Severino tem dos lugares que conhece é prejudicada
pelas limitações da época e por sua própria ignorância.
b) A comparação de Recife com a “derradeira ave-maria/ do rosário”, assim como as várias rezas
que Severino testemunha ao longo da viagem, mostra a presença constante da religiosidade como
um fator de atraso na vida dos nordestinos.
c) Ao final, fica claro para o leitor que a vida no Recife também seria semelhante à das regiões menos
desenvolvidas da Caatinga, do Agreste e da Zona da Mata, porque a pobreza não é causada pelas
condições naturais, mas por uma estrutura social excludente.
d) O empenho social de João Cabral de Melo Neto é o de sugerir aos retirantes que não saiam de
sua terra, visto que, sem preparo, eles enfrentam dificuldades enormes no Recife, valendo mais a
pena procurar desenvolver sua própria região.
e) Ao chegar ao Recife, Severino ouve uma longa conversa entre dois coveiros e, percebendo que
sua viagem havia sido inútil, entende a conversa como uma sugestão e se suicida, atirando-se no rio
Capibaribe.
5. (IFAL - 2019)
01
Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam
tontos, 02 era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
03 04
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a
verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar?
05
Ele foi simples:
06
- Sim, já beijei antes uma mulher.
07
- Quem era ela? – perguntou com dor.
08
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
09 10
O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em
algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos,
finos e 11 sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir
– era tão bom. 12 A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
13
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor,
14
rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! Como deixava a garganta seca.
15
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca 16
ardente engolia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, não tirava a sede.
Uma 17 sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
18
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio-dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo
19
nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
20
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por 21
instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, talvez
horas, 22 enquanto sua sede era de anos.
23
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e
24
seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos,
espreitando, 25 farejando. [...]
Como se pode perceber, o conto literário, de Clarice Lispector, contém passagens dialogais. Numa
delas, o interlocutor 2 utiliza a seguinte estrutura sintática para responder a uma pergunta: “- Sim,
já beijei antes uma mulher” (Ref. 6). Assim, há uma inversão de termos, o que pode se configurar
como a figura de sintaxe.
a) silepse
b) hipérbato
c) eufemismo
d) elipse
e) anáfora
6. (ENEM - 2019)
Uma ouriça
MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é
capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma
coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.".
1
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio
da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão
atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples
pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez.
No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um Dostoievski.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem
menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase:
"Até tu, Brutus?".
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto
não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma
criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por
bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. 5Bem-
aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que
saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo,
com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em
Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar o
excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz
o bobo.
7. (IME - 2018)
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que
saibam que eles sabem (referência 6).
A autora discorre sobre a posse de um saber. A respeito desse saber, podemos afirmar que
a) os bobos que se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria que os espertos
deveriam ter.
b) os bobos que aparentemente se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria dos
espertos.
c) os bobos, por serem naturalmente criativos, comprovam possuir a sabedoria necessária para
vencer.
d) os bobos, por serem naturalmente criativos, não permitem que ninguém desconfie de sua
dissimulada esperteza, que nada mais é do que produto de sua criatividade; assim definimos sua
estratégia para vencer na vida.
e) os bobos acabam por se tornar espertos e, por isso, ganham as lutas da vida, já que não se
importam que “saibam que eles sabem”.
8. (IME - 2018)
Sobre as considerações a respeito de ser esperto vs. ser bobo encontradas no texto, assinale o par
de análises que destoa das considerações feitas pela autora.
a) Os espertos pretendem conquistar o mundo pela sagacidade; o bobo ganha o mundo por sua
espontaneidade.
b) Os espertos muitas vezes atingem seus objetivos; os bobos podem ser facilmente ludibriados.
c) O esperto preocupa-se todo o tempo em entender o mundo para tirar proveito desse
entendimento; ser bobo é sentir o mundo e tomar parte nele.
d) Os sentimentos do esperto são mais intensos que os do bobo; o coração do bobo é pouco
acessível.
e) O esperto é prevenido; o bobo muitas vezes precisa lidar com complicações em que se mete por
ser bobo.
Sarapalha
– É... passa... passa... passa... Passam umas mulheres vestidas de cor de água, sem olhos na cara,
para não terem de olhar a gente... Só ela é que não passa, Primo Argemiro!... E eu já estou cansado
de procurar, no meio das outras... Não vem!... Foi, rio abaixo, com o outro... Foram p’r’os infernos!...
– Não foi, Primo Ribeiro. Não foram pelo rio... Foi trem-de-ferro que levou...
– Não foi no rio, eu sei... No rio ninguém não anda... Só a maleita* é quem sobe e desce, olhando
seus mosquitinhos e pondo neles a benção... Mas, na estória... Como é mesmo a estória, Primo?
Como é?...
– O senhor bem que sabe, Primo... Tem paciência, que não é bom variar...
– O senhor já sabe as palavras todas de cabeça... “Foi o moço-bonito que apareceu, vestido com
roupa de dia-de-domingo e com a viola enfeitada de fitas... E chamou a moça p’ra ir se fugir com
ele”...
– Espera, Primo, elas estão passando... Vão umas atrás das outras... Cada qual mais bonita... Mas
eu não quero, nenhuma!... Quero só ela... Luísa...
– Prima Luísa...
– Pois então?!
– Conta o resto da estória!...
– ...“Então, a moça, que não sabia que o moço-bonito era o capeta, ajuntou suas roupinhas melhores
numa trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio...”
*maleita: malária
Tendo como base o trecho “só a maleita é quem sobe e desce, olhando seus mosquitinhos e pondo
neles a benção...”, o termo em destaque foi empregado ironicamente por aludir ao inseto
a) causador da malária.
d) transmissor da malária.
– Famigerado? [...]
– Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É
caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
– Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos ...
Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete
ao
Almira continuava a querer saber por que Alice viera atrasada e de olhos vermelhos. Abatida, Alice mal
respondia. Almira comia com avidez e insistia com os olhos cheios de lágrimas.
– Sua gorda! disse Alice de repente, branca de raiva. Você não pode me deixar em paz?!
Almira engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar. Dos lábios macios de Alice haviam
saído palavras que não conseguiam descer com a comida pela garganta de Almira G. de Almeida.
– Você é uma chata e uma intrometida, rebentou de novo Alice. Quer saber o que houve, não é? Pois
vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto Alegre e não vai mais voltar! Agora
está contente, sua gorda?
Na verdade Almira parecia ter engordado mais nos últimos momentos, e com comida ainda parada na
boca.
Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou o garfo e enfiou-o no
pescoço de Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal, levantou-se como uma só pessoa. Mas a
gorda, mesmo depois de ter feito o gesto, continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar
o sangue da outra.
Alice foi ao pronto-socorro, de onde saiu com curativos e os olhos ainda regalados de espanto. Almira
foi presa em flagrante.
Na prisão, Almira comportou-se com delicadeza e alegria, talvez melancólica, mas alegria mesmo. Fazia
graças para as companheiras. Finalmente tinha companheiras. Ficou encarregada da roupa suja, e dava-
se muito bem com as guardiãs, que vez por outra lhe arranjavam uma barra de chocolate.
Assinale a alternativa em que a preposição “de” forma uma expressão indicativa de causa.
A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria
Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos.
A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido
na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a
um certo ponto – e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-
se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir
no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs
em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e
sentara-se de costas para o caminho.
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo.
Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no
peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).
Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice Lispector (1925-1977), publicada na revista Senhor
em 1962.
É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que
está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que
mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o
assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se
sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos
irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na
própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais;
e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a
justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria:
“O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho
certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que
não matou”.
Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não
matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim
não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio
de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem
de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo
minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo
chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero
ser o outro.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo
e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como
primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se
eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno,
o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que
Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu
erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos
salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que
em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me
espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu
modo de viver.
facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada.
Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela
polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
a) consequência.
b) conclusão.
c) alternância.
d) causa.
e) finalidade.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele
dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me
traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento,
atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um
urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha
pobreza e minha devoção.
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião,
fiquei furiosa. [...]
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano
se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha
feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela
queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-
lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida
fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima,
mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
Redundâncias
Em relação à oração – é coisa dos vivos –, os enunciados – Ter medo da morte – (1.ª estrofe) e – Ter
apego ao mundo – (2.ª estrofe) exercem a função sintática de
a) sujeito.
b) predicativo do sujeito.
c) objeto direto.
d) adjunto adnominal.
e) complemento nominal.
5
Importante era o quintal da minha meninice com seus verdes canudos de mamoeiro, quando
cortava os mais tenros que sopravam as bolas maiores, mais perfeitas.
A “estrutura” da bolha de sabão é consequência das propriedades físicas e químicas dos seus
componentes. As cores observadas nas bolhas resultam da interferência que ocorre entre os raios
luminosos refletidos em suas superfícies interna e externa.
Considere as afirmações abaixo sobre o início do conto de Lygia Fagundes Telles e sobre a bolha de
sabão:
I. O excerto recorre, logo em suas primeiras linhas, a um procedimento de coesão textual em que
pronomes pessoais são utilizados antes da apresentação de seus referentes, gerando expectativa
na leitura.
II. Os principais fatores que permitem a existência da bolha são a força de tensão superficial do
líquido e a presença do sabão, que reage com as impurezas da água, formando a sua película visível.
III. A ótica geométrica pode explicar o aparecimento de cores na bolha de sabão, já que esse
fenômeno não é consequência da natureza ondulatória da luz.
a) I.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.
e) III.
Comentários
I: correta. Os pronomes “ele” e “eu” são mencionados antes dos referentes. Ou seja, “ele” se liga
à pessoa que explicava as propriedades físicas e químicas da estrutura da bolha de sabão e o
próprio narrador se exprime na primeira pessoa, com expressões como “Eu ficava olhando (...)”
(L. 2) e “minha meninice” (L. 5).
II: incorreta. Sem entrar no mérito da explicação científica, pode-se inferir que, se a reação das
impurezas da água com o sabão fosse a responsável pela formação da bolha, esta não aconteceria
com água limpa.
III: incorreta. Não é a ótica geométrica que estuda a interferência da luz sobre os objetos, mas sim
a ótica física. Atenção: trata-se de uma questão interdisciplinar.
Gabarito: A
19. (FUVEST - 2001)
1
Só os roçados da morte
e cultivá-los é fácil:
as estiagens e as pragas
Nos versos acima, a personagem da “rezadora” fala das vantagens de sua profissão e de outras
semelhantes. A sequência de imagens neles presente tem como pressuposto imediato a ideia de:
1
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar
também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... – ruge o rio, como
chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com
os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... 5Nenhuma pressa.
Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e
uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os
olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem
com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um
arranco, fora de hora. Assim.
a) procurar adaptar-se o melhor possível às forças adversas, que busca utilizar em benefício próprio.
b) firmar um pacto com as potências mágicas que se ocultam atrás das aparências do mundo natural.
c) combater frontalmente e sem concessões as atitudes dos homens, que considera confusas e
desarrazoadas.
d) ignorar os perigos que o mundo apresenta, agindo como se eles não existissem.
e) escolher a inação e a inércia, confiando inteiramente seu destino às forças do puro acaso e da
sorte.
⎯ Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.
⎯ Macabéa.
⎯ Maca ⎯ o quê?
⎯ Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte
se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia
continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo
⎯ parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor ⎯ pois
como o senhor vê eu vinguei... pois é...
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma
loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E
Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem
ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas
escorrendo.
a) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam a oposição cultural entre a mulher
nordestina e o homem do sul do País.
b) demonstram a incapacidade de expressão verbal das personagens, reflexo da privação econômica
de que são vítimas.
c) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido de humor e sátira
social.
d) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que opõe os princípios antagônicos do Bem e
do Mal.
e) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do desamparo social e existencial das
personagens.
Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada
felicidade que era inexplicável: no cais do porto viu um arco-íris. Experimentando o leve êxtase,
ambicionou logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió, espocarem mudos fogos de artifício.
Ela quis mais porque é mesmo uma verdade que quando se dá a mão, essa gentinha quer todo o
resto, o zé-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois não é?
Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de
artifício.
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua
superação.
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da
ironia.
Catar Feijão
1.
Catar feijão se limita com escrever:
2.
23. (INÉDITA)
a) a materialidade da pedra não se verifica na palavra, que deveria ser “cozinhada” antes de escrita.
b) palavras estão numa relação de antonímia com pedras, embora ambas sejam concretas.
c) escrever é superior ao trabalho de cozinhar e catar feijão, pois neste pode haver pedras.
d) fazer poesia é relativamente mais seguro do que trabalhar na cozinha, com risco de queimadura.
e) o trabalho poético pode ser comparado com o braçal, sendo que em ambos há riscos.
24. (INÉDITA)
a) constitui num obstáculo intransponível a não ser que o leitor seja alfabetizado.
b) um grão indigesto é inexoravelmente negativo, podendo inclusive mesmo causar a morte.
c) aquilo que não é mastigável está na mesma qualidade da pedra e de uma palavra qualquer.
e) o fato de o leitor precisar atenção redobrada a um texto faz ele se sentir mal do estômago.
Irene no céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Velha chácara
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
passeio no Ibirapuera
uma cerejeira florida
interrompe a conversa
No texto, NÃO há
a) sentimento de amor pela natureza, exacerbado e de raiz romântica.
b) emoção estética despertada pela vegetação naquele que passeia.
c) descrição de parte da flora que integra o parque do Ibirapuera.
d) surpresa, durante o passeio pelo parque, causada por uma beleza inesperada.
e) referência a um local específico, o parque situado na cidade de São Paulo.
Esse texto
I. explora a organização visual das palavras sobre a página.
II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.
IV. não apresenta preocupação social.
Estão corretas
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) todas.
e) há no poema uma aproximação entre a cabra e o homem nordestino, pois ambos são fortes e
resistentes.
Os sabiás divinam.
João
I
De barro
o operário
e a casa
(de barro
o nome
e a obra).
II
O pássaro-operário
madruga:
construir a
casa
construir
o canto
ganhar – construir –
o dia.
III
O pássaro
faz o seu
trabalho
e o trabalho faz
o pássaro.
IV
O duro
impuro
labor: construir-se.
V
O canto é anterior
ao pássaro
a casa é anterior
ao barro
O nome é anterior
à vida.
I. nem a parte I nem a II indicam que o pássaro “joão-de-barro” pode ser visto como metáfora de
um determinado tipo social.
II. apenas a parte III sugere que o trabalho feito pelo joão-de-barro aproxima-se daquele feito por
um operário.
III. o poema, em seu todo, aproxima metaforicamente o “joão-de-barro” de um trabalhador
brasileiro (um “João”, como o título indica).
IV. como no caso do pássaro, também para o operário vale a ideia de que o homem faz o trabalho
e o trabalho faz o homem.
Está(ão) correta(s)
a) apenas a I.
b) apenas I e II.
c) apenas I, II e III.
d) apenas III e IV.
e) todas.
(...)
Numa festa imodesta como esta
Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua testa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
(...)
(...)
GILBERTO GIL, letras.com.br
O tempo, além de relacionado aos fenômenos naturais, é também condicionador das vidas
humanas.
Na letra da canção de Gilberto Gil, a dimensão do tempo histórico destacada é denominada:
a) evolução
b) aceleração
c) linearidade
d) descontinuidade
a) a superação das diferenças, que semearam conflitos pelo mundo, faz com que as sociedades de
hoje se protejam delas.
b) a segregação, que deixou muitas marcas no planeta, ainda tem presença expressiva em várias
sociedades nos dias de hoje.
c) a sociedade contemporânea vive diuturnamente a combater as formas de segregação, na
esperança de um mundo mais justo.
d) a existência dos conflitos ainda perturba a sociedade, mas hoje eles estão praticamente
superados na maior parte do planeta.
e) a permanência de problemas e conflitos tão antigos mostra a falta de interesse das pessoas pela
busca de um mundo melhor.
a aliança a gente encontrou aqui, num corpo. É. Vem parar muito bicho morto. Muito homem, muito
criminoso. A gente já tá acostumado. Até o camburão da polícia deixa seu lixo aqui, depositado.
Balas, revólver 38. A gente não tem medo, moço. A gente é só ficar calado. Agora, o que deu na
cabeça desse povo? A gente nunca deu trabalho. A gente não quer nada deles que não esteja aqui
jogado, rasgado, atirado. A gente não quer outra coisa senão esse lixão pra viver. Esse lixão para
morrer, ser enterrado. Pra criar os nossos filhos, ensinar o nosso ofício, dar de comer. Pra continuar
na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não faltar brinquedo, comida, trabalho. Não, eles nunca vão
tirar a gente deste lixão. Tenho fé em Deus, com a ajuda de Deus eles nunca vão tirar a gente deste
lixo. Eles dizem que sim, que vão. Mas não acredito. Eles nunca vão conseguir tirar a gente deste
paraíso.
FREIRE, Marcelino. Muribeca. In:_____. Angu de sangue. São Paulo: Ateliê, 2000. p. 23-25.
Texto II
Nem luxo, nem lixo
A partir de sempre
Toda cura pertence a nós.
Toda resposta e dúvida.
Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser,
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto.
Nenhum predicado será prejudicado,
Nem tampouco a frase, nem a crase, nem a vírgula e ponto final!
Afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas,
E estar entre vírgulas pode ser aposto,
E eu aposto o oposto: que vou cativar a todos,
Sendo apenas um sujeito simples.
Um sujeito e sua oração,
Sua pressa, e sua verdade, sua fé,
(O Teatro Mágico)
À semelhança dos manifestos literários do início do século XX, que propunham inovações no campo
artístico, essa canção defende um determinado posicionamento a respeito da linguagem. Em
“Sintaxe à vontade”, defende-se que
a) o desmazelo à norma culta acarreta frequentes ruídos de comunicação.
b) os falantes da língua portuguesa são escravizados pela norma culta.
c) a inventividade para criar a própria língua é fruto da liberdade de expressão.
d) a obediência à gramática normativa cerceia a criatividade do falante.
e) a impossibilidade do domínio da norma culta causa angústia aos falantes.
Paulinho conta que cresceu comendo o trivial. Seu pai viveu 88 anos à base de arroz, feijão,
bife e batata frita. De vez em quando, feijoada. Massa, também. "Mas nada muito sofisticado."
Com exceção de algumas dores de coluna, aos 70 anos, goza de plena saúde. O músico credita
sua boa forma ao estilo de vida, como se sabe, não dado a exageros e grandes ansiedades.
T. Cardoso, Valor, 28/06/2013. Adaptado.
Sem preconceito
Ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
De quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar.
Se a expressão “mania de passado”, usada na letra da canção, for comparada à frase do primeiro
texto “é o passado que vive nele, não o contrário”, quanto ao sentido que assumem no contexto, é
correto afirmar que a referida expressão
a) é uma crítica a um comportamento, o qual está sugerido no trecho “não o contrário”.
b) contradiz o que a frase pretende transmitir a respeito do modo de pensar do compositor.
c) deve ser entendida de forma positiva assim como o trecho “é o passado que vive nele”.
d) refere-se a maneiras de pensar coletivas, ao contrário da frase, que considera apenas o aspecto
individual.
e) atribui à palavra “passado” um sentido diverso do que esse termo assume na frase citada.
Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorrem
uns restos de treva
(Ferreira Gullar. Muitas vozes, 2013.)
45. (UNIFESP - 2015)
A leitura do poema permite inferir que
a) o despertar do eu lírico apaga as más lembranças da madrugada.
b) a noite é problema para o eu lírico, perturbado mais física que mentalmente.
c) o eu lírico atribui o seu mau despertar a uma noite de difícil sono.
d) o eu lírico encontra na noite difícil uma forma de enfrentar seus medos.
e) o mau despertar acentua as feridas e as dores que perturbam o eu lírico.
De Connecticut acessar
O chefe da Macmilícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas no Japão
(José Paulo Paes, A poesia está morta, mas juro que não fui eu. São Paulo: Duas Cidades, 1998)
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que
testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me
alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só
quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão
e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da
popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada
em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra
a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas?
Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto
de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver
a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
ROSA, Guimarães. A terceira margem do rio. In: ROSA, Guimarães. Ficção completa: volume II. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1994 (p. 409-413).
4.2 – Gabarito
1. E 18. A 35. B
2. B 19. C 36. A
3. A 20. A 37. E
4. C 21. C 38. C
5. B 22. E 39. D
6. A 23. E 40. B
7. C 24. D 41. D
8. D 25. D 42. A
9. B 26. A 43. C
10. D 27. B 44. A
11. C 28. A 45. C
12. C 29. A 46. B
13. E 30. C 47. B
14. D 31. B 48. D
15. B 32. C 49. E
16. C 33. E 50. D
17. A 34. E
O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o livro A escola das facas.
A voz do canavial
Voz sem saliva da cigarra,
do papel seco que se amassa,
Na obra Quaderna (1960), João Cabral de Melo Neto incluiu um conjunto de textos, intitulado “Poemas
da cabra”, cujo tema é o papel desse animal no universo social e cultural nordestino. Um desses poemas
é reproduzido abaixo:
3. (UNICAMP – 2020)
Texto I
Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo
Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores.
dezembro te desemprega;
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio
Texto II
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019.
Em Morte e vida severina, Severino é um retirante que sai do interior com a intenção de chegar ao
litoral, à cidade do Recife. Quando atinge a Zona da Mata, última região antes da chegada ao Recife,
diz ele:
– Nunca esperei muita coisa,
digo a Vossas Senhorias.
(MELLO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 186-187.)
Considerando o trecho acima e a leitura integral do auto de João Cabral de Melo Neto, assinale a
alternativa correta.
a) O auto de João Cabral foi concluído em 1955, tempo em que ainda se iluminavam as casas com
lamparinas, e, nessa situação, a percepção que Severino tem dos lugares que conhece é prejudicada
pelas limitações da época e por sua própria ignorância.
b) A comparação de Recife com a “derradeira ave-maria/ do rosário”, assim como as várias rezas
que Severino testemunha ao longo da viagem, mostra a presença constante da religiosidade como
um fator de atraso na vida dos nordestinos.
c) Ao final, fica claro para o leitor que a vida no Recife também seria semelhante à das regiões menos
desenvolvidas da Caatinga, do Agreste e da Zona da Mata, porque a pobreza não é causada pelas
condições naturais, mas por uma estrutura social excludente.
d) O empenho social de João Cabral de Melo Neto é o de sugerir aos retirantes que não saiam de
sua terra, visto que, sem preparo, eles enfrentam dificuldades enormes no Recife, valendo mais a
pena procurar desenvolver sua própria região.
e) Ao chegar ao Recife, Severino ouve uma longa conversa entre dois coveiros e, percebendo que
sua viagem havia sido inútil, entende a conversa como uma sugestão e se suicida, atirando-se no rio
Capibaribe.
Comentários
Alternativa “a”: incorreta. Na verdade, no fragmento dado, o eu lírico usa a metáfora dolamparina
na qual o querosene que alimenta a chama é sempre o mesmo, ou seja, a exploração que queima
a vida dos retirantes é sempre igual. A comparação não denota limitação de análise, o eu lírico
manifesta tomada de consciência da própria realidade.
Alternativa “b”: incorreta. A comparação com o rosário de fato remete à religiosidade, mas isso
não está ligado ao “atraso na vida dos nordestinos”.
Alternativa “c”: correta. O eu lírico chega ao Recife e faz uma constatação parecida com a que fez
nesse fragmento, ele encontra a mesma “vida severina”, devido às condições sociais de existência.
Alternativa “d”: incorreta. Morte e Vida Severina expõe as condições extremas de quem vive na
miséria, e, na obra, não existe diferença entre sertão e Recife, ou seja, não há sugestão de que
os miseráveis não deveriam ir para Recife e muito menos algum tipo de conselho de que devam
se preparar para o tipo de trabalho da capital pernambucana.
Alternativa “e”: incorreta. Ele não se suicida. No momento em que manifestou essa intenção,
alguém o chama para ver nascer a criança que representa o novo.
Gabarito: C
5. (IFAL - 2019)
01
Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam
tontos, 02 era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
03 04
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a
verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar?
05
Ele foi simples:
06
- Sim, já beijei antes uma mulher.
07
- Quem era ela? – perguntou com dor.
08
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
09
O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em 10
algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos,
finos e 11 sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir
– era tão bom. 12 A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
13
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor,
14
rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! Como deixava a garganta seca.
15
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca 16
ardente engolia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, não tirava a sede.
Uma 17 sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
18
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio-dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo
19
nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
20 21
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por
instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, talvez
horas, 22 enquanto sua sede era de anos.
23
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e
24
seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos,
espreitando, 25 farejando. [...]
Como se pode perceber, o conto literário, de Clarice Lispector, contém passagens dialogais. Numa
delas, o interlocutor 2 utiliza a seguinte estrutura sintática para responder a uma pergunta: “- Sim,
já beijei antes uma mulher” (Ref. 6). Assim, há uma inversão de termos, o que pode se configurar
como a figura de sintaxe.
a) silepse
b) hipérbato
c) eufemismo
d) elipse
e) anáfora
Comentários: A figura de sintaxe que pode ser definida pela inversão de termos é o hipérbato.
Assim, a alternativa correta é alternativa B.
A alternativa A está incorreta, pois a silepse acontece quando a concordância entre os termos se
dá pelo sentido, pelas ideias, e não pela gramática, e não há problemas de concordância na oração
destacada.
A alternativa C está incorreta, pois eufemismo ocorre quando se utilizam palavras ou expressões
no lugar de outras a fim de suavizar seu significado, e o interlocutor não suaviza nenhuma
informação nessa frase.
A alternativa D está incorreta, pois elipse ocorre quando há omissão de um termo ou palavra sem
prejuízo de sentido e o autor apenas mudou a ordem dos termos da oração, sem suprimir.
A alternativa E está incorreta, pois a anáfora ocorre quando há repetição de termos no início das
orações ou períodos, e aqui há apenas uma oração em questão.
Gabarito: B
6. (ENEM - 2019)
Uma ouriça
MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é
capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma
coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.".
1
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio
da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão
atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples
pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez.
No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um Dostoievski.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem
menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase:
"Até tu, Brutus?".
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto
não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma
criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por
bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. 5Bem-
aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que
saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo,
com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em
Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar o
excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz
o bobo.
7. (IME - 2018)
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que
saibam que eles sabem (referência 6).
A autora discorre sobre a posse de um saber. A respeito desse saber, podemos afirmar que
a) os bobos que se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria que os espertos
deveriam ter.
b) os bobos que aparentemente se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria dos
espertos.
c) os bobos, por serem naturalmente criativos, comprovam possuir a sabedoria necessária para
vencer.
d) os bobos, por serem naturalmente criativos, não permitem que ninguém desconfie de sua
dissimulada esperteza, que nada mais é do que produto de sua criatividade; assim definimos sua
estratégia para vencer na vida.
e) os bobos acabam por se tornar espertos e, por isso, ganham as lutas da vida, já que não se
importam que “saibam que eles sabem”.
Comentários: A autora afirma que os bobos não agem pensando na opinião dos outros ou em
comparar-se com os ditos “espertos”. Eles vivem o cotidiano de forma criativa e espontânea. A
alternativa que melhor se adequa a essa ideia é alternativa C.
A alternativa A está incorreta, pois os bobos não “se fazem de bobos”, ou seja, seu
comportamento não é fingido, mas sim espontâneo.
A alternativa B está incorreta, pois, assim como em A, não há no texto a ideia de que o bobo
dissimule seu comportamento.
A alternativa D está incorreta, pois os bobos apenas vivem, sem planejar ou dissimular seus
sentimentos e ações.
A alternativa E está incorreta, pois os bobos não se tornam espertos a partir desse
comportamento. A autora não tenta aproximar os comportamentos no texto, como se um
pudesse virar o outro.
Gabarito: C
8. (IME - 2018)
Sobre as considerações a respeito de ser esperto vs. ser bobo encontradas no texto, assinale o par
de análises que destoa das considerações feitas pela autora.
a) Os espertos pretendem conquistar o mundo pela sagacidade; o bobo ganha o mundo por sua
espontaneidade.
b) Os espertos muitas vezes atingem seus objetivos; os bobos podem ser facilmente ludibriados.
c) O esperto preocupa-se todo o tempo em entender o mundo para tirar proveito desse
entendimento; ser bobo é sentir o mundo e tomar parte nele.
d) Os sentimentos do esperto são mais intensos que os do bobo; o coração do bobo é pouco
acessível.
e) O esperto é prevenido; o bobo muitas vezes precisa lidar com complicações em que se mete por
ser bobo.
Comentários: No último parágrafo do texto, a autora faz referência à relação que o bobo tem com
o amor em “o amor faz o bobo”. Por isso, não é possível dizer que o coração do bobo é pouco
acessível. A alternativa que apresenta par de análises que destoa é alternativa D.
A alternativa A não apresenta incorreções, pois essa é a relação estabelecida ao longo do texto: o
esperto se esforça para vencer enquanto o bobo só age naturalmente.
A alternativa B não apresenta incorreções, pois o texto afirma que os espertos tendem a conseguir
o que querem pela audácia, enquanto os bobos, por confiarem demais, podem ser enganados.
A alternativa C não apresenta incorreções, pois o texto afirma que o esperto está sempre
elaborando esquemas, enquanto o bobo apenas vive no mundo.
A alternativa E não apresenta incorreções, pois o texto afirma que os espertos planejam seus
passos, enquanto o bobo faz as coisas espontaneamente.
Gabarito: D
9. (FUVEST – 2018 adaptada)
Sarapalha
– É... passa... passa... passa... Passam umas mulheres vestidas de cor de água, sem olhos na cara,
para não terem de olhar a gente... Só ela é que não passa, Primo Argemiro!... E eu já estou cansado
de procurar, no meio das outras... Não vem!... Foi, rio abaixo, com o outro... Foram p’r’os infernos!...
– Não foi, Primo Ribeiro. Não foram pelo rio... Foi trem-de-ferro que levou...
– Não foi no rio, eu sei... No rio ninguém não anda... Só a maleita* é quem sobe e desce, olhando
seus mosquitinhos e pondo neles a benção... Mas, na estória... Como é mesmo a estória, Primo?
Como é?...
– O senhor bem que sabe, Primo... Tem paciência, que não é bom variar...
– O senhor já sabe as palavras todas de cabeça... “Foi o moço-bonito que apareceu, vestido com
roupa de dia-de-domingo e com a viola enfeitada de fitas... E chamou a moça p’ra ir se fugir com
ele”...
– Espera, Primo, elas estão passando... Vão umas atrás das outras... Cada qual mais bonita... Mas
eu não quero, nenhuma!... Quero só ela... Luísa...
– Prima Luísa...
– Pois então?!
– ...“Então, a moça, que não sabia que o moço-bonito era o capeta, ajuntou suas roupinhas melhores
numa trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio...”
Tendo como base o trecho “só a maleita é quem sobe e desce, olhando seus mosquitinhos e pondo
neles a benção...”, o termo em destaque foi empregado ironicamente por aludir ao inseto
a) causador da malária.
d) transmissor da malária.
– Famigerado? [...]
– Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É
caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
– Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos ...
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete
ao
Almira continuava a querer saber por que Alice viera atrasada e de olhos vermelhos. Abatida, Alice mal
respondia. Almira comia com avidez e insistia com os olhos cheios de lágrimas.
– Sua gorda! disse Alice de repente, branca de raiva. Você não pode me deixar em paz?!
Almira engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar. Dos lábios macios de Alice haviam
saído palavras que não conseguiam descer com a comida pela garganta de Almira G. de Almeida.
– Você é uma chata e uma intrometida, rebentou de novo Alice. Quer saber o que houve, não é? Pois
vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto Alegre e não vai mais voltar! Agora
está contente, sua gorda?
Na verdade Almira parecia ter engordado mais nos últimos momentos, e com comida ainda parada na
boca.
Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou o garfo e enfiou-o no
pescoço de Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal, levantou-se como uma só pessoa. Mas a
gorda, mesmo depois de ter feito o gesto, continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar
o sangue da outra.
Alice foi ao pronto-socorro, de onde saiu com curativos e os olhos ainda regalados de espanto. Almira
foi presa em flagrante.
Na prisão, Almira comportou-se com delicadeza e alegria, talvez melancólica, mas alegria mesmo. Fazia
graças para as companheiras. Finalmente tinha companheiras. Ficou encarregada da roupa suja, e dava-
se muito bem com as guardiãs, que vez por outra lhe arranjavam uma barra de chocolate.
(Clarice Lispector. A Legião Estrangeira, 1964. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a preposição “de” forma uma expressão indicativa de causa.
A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria
Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos.
A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido
na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a
um certo ponto – e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-
se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir
no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs
em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e
sentara-se de costas para o caminho.
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo.
Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no
peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).
Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice Lispector (1925-1977), publicada na revista Senhor
em 1962.
É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que
está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que
mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o
assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se
sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos
irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na
própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais;
e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a
justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria:
“O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho
certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que
não matou”.
Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não
matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim
não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio
de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem
de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo
minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo
chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero
ser o outro.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo
e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como
primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se
eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno,
o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que
Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu
erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos
salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que
em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me
espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu
modo de viver.
facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada.
Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela
polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
a) consequência.
b) conclusão.
c) alternância.
d) causa.
e) finalidade.
Comentários: O conectivo “porque” é majoritariamente de causa. Nesse caso, a relação de causa
estabelecida é bastante clara: a causa do tiro me assassinar é que “eu sou o outro”. Logo, a
alternativa correta é alternativa D.
A alternativa A está incorreta, pois não há relação de consequência. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de consequência: “O décimo terceiro tiro me assassina — de modo
que eu sou o outro.”
A alternativa B está incorreta, pois não há relação de conclusão. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de conclusão: “O décimo terceiro tiro me assassina — logo, eu sou o
outro.”
A alternativa C está incorreta, pois não há relação de alternância. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de alternância: “Ora décimo terceiro tiro me assassina, ora eu sou o
outro.”
A alternativa E está incorreta, pois não há relação de finalidade. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de finalidade: O décimo terceiro tiro me assassina —a fim de que eu
seja o outro.”
Gabarito: D
15. (ENEM- 2016)
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele
dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me
traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento,
atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um
urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha
pobreza e minha devoção.
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião,
fiquei furiosa. [...]
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano
se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha
feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela
queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-
lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida
fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima,
mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
Redundâncias
Em relação à oração – é coisa dos vivos –, os enunciados – Ter medo da morte – (1.ª estrofe) e – Ter
apego ao mundo – (2.ª estrofe) exercem a função sintática de
a) sujeito.
b) predicativo do sujeito.
c) objeto direto.
d) adjunto adnominal.
e) complemento nominal.
Comentários: Os períodos a serem analisados são:
Ter medo da morte é coisa dos vivos
Oração principal: é coisa dos vivos
Oração subordinada: ter medo da morte
Essa oração é uma oração subordinada substantiva subjetiva, ou seja, exerce a função de
sujeito em relação à principal. Se substituirmos a oração por um “isso”, teremos: Isso é
coisa dos vivos.
Classificando-se todos os termos:
Sujeito: Ter medo da morte
Verbo: é (verbo de ligação)
Predicativo do sujeito (coisa dos vivos)
A “estrutura” da bolha de sabão é consequência das propriedades físicas e químicas dos seus
componentes. As cores observadas nas bolhas resultam da interferência que ocorre entre os raios
luminosos refletidos em suas superfícies interna e externa.
Considere as afirmações abaixo sobre o início do conto de Lygia Fagundes Telles e sobre a bolha de
sabão:
I. O excerto recorre, logo em suas primeiras linhas, a um procedimento de coesão textual em que
pronomes pessoais são utilizados antes da apresentação de seus referentes, gerando expectativa
na leitura.
II. Os principais fatores que permitem a existência da bolha são a força de tensão superficial do
líquido e a presença do sabão, que reage com as impurezas da água, formando a sua película visível.
III. A ótica geométrica pode explicar o aparecimento de cores na bolha de sabão, já que esse
fenômeno não é consequência da natureza ondulatória da luz.
a) I.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.
e) III.
Comentários
I: correta. Os pronomes “ele” e “eu” são mencionados antes dos referentes. Ou seja, “ele” se liga
à pessoa que explicava as propriedades físicas e químicas da estrutura da bolha de sabão e o
próprio narrador se exprime na primeira pessoa, com expressões como “Eu ficava olhando (...)”
(L. 2) e “minha meninice” (L. 5).
II: incorreta. Sem entrar no mérito da explicação científica, pode-se inferir que, se a reação das
impurezas da água com o sabão fosse a responsável pela formação da bolha, esta não aconteceria
com água limpa.
III: incorreta. Não é a ótica geométrica que estuda a interferência da luz sobre os objetos, mas sim
a ótica física. Atenção: trata-se de uma questão interdisciplinar.
Gabarito: A
19. (FUVEST - 2001)
1
Só os roçados da morte
e cultivá-los é fácil:
as estiagens e as pragas
Nos versos acima, a personagem da “rezadora” fala das vantagens de sua profissão e de outras
semelhantes. A sequência de imagens neles presente tem como pressuposto imediato a ideia de:
Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e
uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os
olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem
com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um
arranco, fora de hora. Assim.
a) procurar adaptar-se o melhor possível às forças adversas, que busca utilizar em benefício próprio.
b) firmar um pacto com as potências mágicas que se ocultam atrás das aparências do mundo natural.
c) combater frontalmente e sem concessões as atitudes dos homens, que considera confusas e
desarrazoadas.
d) ignorar os perigos que o mundo apresenta, agindo como se eles não existissem.
e) escolher a inação e a inércia, confiando inteiramente seu destino às forças do puro acaso e da
sorte.
Comentários
A personagem do burrinho pedrês atravessa o sertão durante um período de chuvas. A
serenidade de Sete-Ouros é aperfeiçoada durante anos. Isso lhe confere sabedoria, até mesmo
vantagem em relação às adversidades enfrentadas na vida.
Alternativa “a”: correta – gabarito. O conhecimento mais sábio ao qual ele chega é que ele não
deve lutar contra a correnteza, mas sim usá-la a seu favor para conseguir a travessia. Dessa forma,
ele é capaz de salvar Badu, personagem que representa o vaqueiro bêbado que levava em seu
dorso, e Francolim.
Alternativa “b”: incorreta. Cuidado: o livro no qual há um pacto entre o protagonista, Riobaldo, e
potências mágicas ocultas – no caso, o diabo – é Grande sertão: veredas, do mesmo autor.
Alternativa “c”: incorreta. “Desarrazoada” significa sem razão, sem sentido. O burrinho pedrês
não combate as atitudes dos homens, nem as julga confusas – ele aprende com elas.
Alternativa “d”: incorreta. Ele aprende com os perigos do mundo, não os despreza.
Alternativa “e”: incorreta. Ele não é uma personagem levada pelo acaso; ele está em constante
movimento, em sua travessia, e sua ação é movida pelo seu aprendizado.
Gabarito: A
21. (FUVEST - 2006)
⎯ Macabéa.
⎯ Maca ⎯ o quê?
⎯ Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte
se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia
continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo
⎯ parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor ⎯ pois
como o senhor vê eu vinguei... pois é...
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma
loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E
Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem
ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas
escorrendo.
a) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam a oposição cultural entre a mulher
nordestina e o homem do sul do País.
c) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido de humor e sátira
social.
d) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que opõe os princípios antagônicos do Bem e
do Mal.
e) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do desamparo social e existencial das
personagens.
Comentários
Alternativa “a”: incorreta. Não saber o que falar nem se expressar, dizer que gosta de parafuso e
prego, é uma situação humana trágica, e não cômica, se bem que nesta obra há vários veios
tragicômicos e a junção dos dois, como poderia ser considerado esse trecho. Porém, não há
oposição, pois Olímpio não é homem do sul, mas nordestino como Macabéa.
Alternativa “b”: incorreta. A incapacidade verbal não é exatamente reflexo do meio econômico,
mas todo um meio maior, social, cultural, geográfico.
Alternativa “c”: correta – gabarito. Eis a definição do tragicômico, o melodrama que a autora
destaca no livro.
Alternativa “d”: incorreta. A obra é filosófica, mas o antagonismo entre Bem e Mal não é o seu
foco. A obra não é sentimentalista, pois é moderna, e essa é uma característica do movimento
literário do Romantismo.
Alternativa “e”: incorreta. O desamparo e a crise existencial são profundos no livro, em nenhum
momento são suprimidos.
Gabarito: C
22. (FUVEST - 2005)
Devo registrar aqui uma alegria. É que a moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma inesperada
felicidade que era inexplicável: no cais do porto viu um arco-íris. Experimentando o leve êxtase,
ambicionou logo outro: queria ver, como uma vez em Maceió, espocarem mudos fogos de artifício.
Ela quis mais porque é mesmo uma verdade que quando se dá a mão, essa gentinha quer todo o
resto, o zé-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois não é?
Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de
artifício.
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua
superação.
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da
ironia.
Comentários
O trecho sublinhado trata-se de uma pergunta retórica, isto é, um questionamento sem resposta
lançado ao público, o que quer dizer que a autora não responde, mas sim direciona a resposta ao
público. Atenção: mesmo que seja cobrado só um trecho, comandos que mencionam “contexto
da obra” pressupõem a leitura dela inteira.
Alternativa “a”: incorreta. Não é momentaneamente, pois o narrador o livro inteiro marca a sua
postura de distanciamento e refinamento em relação à sua protagonista, a criatura Macabéa.
Alternativa “b”: incorreta. No caso, não há a técnica estilística do discurso indireto livre, pois não
há apropriação da voz da personagem Macabéa.
Alternativa “c”: incorreta. Apesar de haver uma pergunta retórica, o narrador não hesita. A
pergunta retórica ao final pode ser meramente uma função fática da linguagem, isto é, testando
o canal, meio que pedindo para o leitor concordar com ele.
Alternativa “d”: incorreta. Não chega a ser partidário ou panfletário, mas apenas um recurso
estilístico e literário, um jogo de distanciamento, mas, em alguns momentos, aproximação.
Alternativa “e”: correta – gabarito. O narrador retoma o provérbio: “quando se dá a mão, quer-
se todo o resto” (frase feita) e depois expressa preconceito por meio da expressão pejorativa,
marcada ainda pelo diminutivo como recurso de rebaixamento, “zé-povinho”. A ironia é porque
transmite uma ideia contrário: em oposição a esse nojo elitista, Macabéa só quer viver e ser feliz.
Gabarito: E
Catar Feijão
1.
2.
23. (INÉDITA)
a) a materialidade da pedra não se verifica na palavra, que deveria ser “cozinhada” antes de escrita.
b) palavras estão numa relação de antonímia com pedras, embora ambas sejam concretas.
c) escrever é superior ao trabalho de cozinhar e catar feijão, pois neste pode haver pedras.
d) fazer poesia é relativamente mais seguro do que trabalhar na cozinha, com risco de queimadura.
e) o trabalho poético pode ser comparado com o braçal, sendo que em ambos há riscos.
Comentários
Alternativa “a”: incorreta. Pelo contrário, a associação de uma palavra à pedra se dá justamente
pela sua materialidade. Inclusive, o motivo da pedra é bem famoso na poesia cabralina, tendo
modernista escrito livros como A educação pela pedra.
Alternativa “b”: incorreta. Pelo contrário, a relação é de sinonímia. Na realidade, recorre-se a uma
figura de linguagem, a metáfora.
Alternativa “c”: incorreta. Não é superior, pois a relação não é de hierarquia.
Alternativa “d”: incorreta. Queimaduras não são mencionadas e, além disso, na poesia também
há riscos.
Alternativa “e”: correta – gabarito. No caso, o trabalho braçal seria o de cozinhar, sendo que
ambos têm os seus riscos, os seus perigos.
Gabarito: E
24. (INÉDITA)
Em relação ao risco mencionado pelo eu lírico,
a) constitui num obstáculo intransponível a não ser que o leitor seja alfabetizado.
c) aquilo que não é mastigável está na mesma qualidade da pedra e de uma palavra qualquer.
e) o fato de o leitor precisar atenção redobrada a um texto faz ele se sentir mal do estômago.
Comentários
Alternativa “a”: incorreta. A questão da alfabetização não é mencionada no poema.
Alternativa “b”: incorreta. O risco não é tamanho quanto seria o de morte; de qualquer forma,
“inexoravelmente” significa “que não cede ou se abala diante de súplicas e rogos; inflexível,
implacável” (dicionário Houaiss). No caso, é o contrário: um grão imastigável é um risco, mas que
é positivo, pois consiste no grão mais vivo.
Alternativa “c”: incorreta. Não seria uma palavra qualquer, mas uma palavra mais difícil,
intragável tal qual uma pedra.
Alternativa “d”: correta – gabarito. O que pode ser constatado no verso: “a pedra dá à frase seu
grão mais vivo”.
Alternativa “e”: incorreta. A dificuldade do risco não diz respeito a males alimentícios, mas a
alimentos que são mais difíceis de tragar, mas que no fundo acabamos ingerindo, como pedras e
impurezas que sempre estarão em meio ao feijão. Há palavras mais difíceis que outras, mas elas
seriam positivas, pois demandam do leitor mais atenção, concentração.
Gabarito: D
25. (ITA - 2017)
Sobre o poema de Manuel Bandeira,
Irene no céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
A alternativa B não apresenta incorreção, pois o uso do imperativo “entra”, ao invés de “entre”,
como seria correto na norma culta, denota proximidade com a oralidade.
A alternativa C não apresenta incorreção, pois a personagem Irene se dirige ao santo com
intimidade afetuosa, referindo-se a ele como “meu branco”.
A alternativa E não apresenta incorreção, pois São Pedro afirma que Irene pode entrar sem pedir
licença, o que denota intimidade e afetuosidade entre os dois.
Gabarito: D
26. (ITA - 2015)
O poema abaixo, de Manuel Bandeira, pertence ao livro Lira dos cinquentanos.
Velha chácara
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Comentários:
O item I está correto, pois há uma oposição clara entre passado e presente. Isso fica claro em
expressões como “A casa era por aqui” e “Ah quanto tempo passou”.
O item II está correto, pois o “riacho”, elemento natural, ainda é o mesmo, enquanto a “casa”,
elemento sociofamiliar, já não existe mais.
O item III está correto, pois há oposição entre aquilo que era material, como a casa, e se acabou,
e o que é abstrato, como a memória, e permanece, driblando a ação do tempo.
O item IV está incorreto, pois não há no poema nenhuma referência ao espaço urbano, tornando
essa oposição impossível.
Gabarito: A
27. (ITA - 2015)
O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o livro A escola das facas.
passeio no Ibirapuera
uma cerejeira florida
interrompe a conversa
No texto, NÃO há
a) sentimento de amor pela natureza, exacerbado e de raiz romântica.
b) emoção estética despertada pela vegetação naquele que passeia.
c) descrição de parte da flora que integra o parque do Ibirapuera.
d) surpresa, durante o passeio pelo parque, causada por uma beleza inesperada.
e) referência a um local específico, o parque situado na cidade de São Paulo.
Comentários: Pelo que está escrito no texto, não é possível afirmar que a autora tenha um
sentimento amoroso em relação à natureza, tampouco que esse sentimento seja de raiz
romântica, já que não há idealização da natureza. Por isso, a alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois o ato de interromper a conversa ao ver a cerejeira indica que
a natureza gera uma emoção no eu lírico, que interrompe o passeio para visualizar o que está
ocorrendo.
A alternativa C está incorreta, pois é possível saber que há cerejeiras no parque do Ibirapuera,
portanto, há descrição de parte da flora do parque.
A alternativa D está incorreta, pois há surpresa no fato da conversa ser interrompida para
observar a beleza da natureza.
A alternativa E está incorreta, pois há de fato referência a um local específico, que é o parque do
Ibirapuera em São Paulo.
Gabarito: A
29. (ITA - 2011)
Considere o poema abaixo, “A cantiga”, de Adélia Prado:
Esse texto
Estão corretas
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) todas.
Comentários:
O item I. está correto, pois a palavra “velocidade” vai se materializando aos poucos, como se
estivesse entrando na folha. Assim, a organização visual das letras é importante para a
compreensão do poema.
O item II. está incorreto, pois a ideia de velocidade tem a ver com os conceitos do futurismo,
movimento que inspira a poesia concreta.
LEMBRE-SE: A organização visual chamativa é uma característica da poesia concreta.
O item III. está correto, pois é possível ler o poema na vertical também, de cima para baixo, sem
prejuízo de seu significado.
O item IV. está incorreto, pois a denúncia do tema da “velocidade” é comum aos escritores
modernistas, que se preocupam com o aceleramento da vida no século XX.
Gabarito: C
31. (ITA - 2010)
Na obra Quaderna (1960), João Cabral de Melo Neto incluiu um conjunto de textos, intitulado
“Poemas da cabra”, cujo tema é o papel desse animal no universo social e cultural nordestino. Um
desses poemas é reproduzido abaixo:
O poema abaixo faz parte da obra Livro sobre nada (1996), de Manoel de Barros:
Os sabiás divinam.
João
I
De barro
o operário
e a casa
(de barro
o nome
e a obra).
II
O pássaro-operário
madruga:
construir a
casa
construir
o canto
ganhar – construir –
o dia.
III
O pássaro
faz o seu
trabalho
e o trabalho faz
o pássaro.
IV
O duro
impuro
labor: construir-se.
V
O canto é anterior
ao pássaro
a casa é anterior
ao barro
O nome é anterior
à vida.
Está(ão) correta(s)
a) apenas a I.
b) apenas I e II.
c) apenas I, II e III.
d) apenas III e IV.
e) todas.
Comentários:
O item I. está correto, pois a brevidade das formas é de fato um traço da poesia contemporânea.
O item II. está correto, pois há traços de linguagem coloquial no poema, como na expressão “na
mão”.
O item III. está correto, pois o contemporâneo de fato é um momento de dificuldade na expressão
dos sentimentos nas relações interpessoais.
O item IV. está correto, pois o desencontro amoroso nesse poema fica evidente em “ela ali” e “eu
aqui”, na oposição dos pronomes demonstrativos.
Gabarito: E
35. (IME - 2016)
SOLUÇÃO
João Paiva
Eu quero uma solução
homogênea, preparada,
coisa certa, controlada
para ter tudo na mão.
Solução para questão
que não ouso resolver.
Diluída num balão
elixir pra me entreter.
Faço centrifugação
para ter ar uniforme
Poesia Matemática
Millôr Fernandes
1 Às folhas tantas
2 do livro matemático
3 um Quociente apaixonou-se
4 um dia
5 doidamente
6 por uma Incógnita.
7 Olhou-a com seu olhar inumerável
8 e viu-a do ápice __ base
9 uma figura ímpar;
10 olhos romboides, boca trapezoide,
11 corpo retangular, seios esferoides.
12 Fez de sua uma vida
13 paralela à dela
14 até que se encontraram
15 no infinito.
16 "Quem és tu?", indagou ele
17 em ânsia radical.
18 "Sou a soma do quadrado dos catetos.
19 Mas pode me chamar de Hipotenusa."
20 E de falarem descobriram que eram
21 (o que em aritmética corresponde
22 a almas irmãs)
23 primos entre si.
24 E assim se amaram
25 ao quadrado da velocidade da luz
26 numa sexta potenciação
27 traçando
28 ao sabor do momento
29 e da paixão
30 retas, curvas, círculos e linhas senoidais
31 nos jardins da quarta dimensão.
32 Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
33 e os exegetas do Universo Finito.
34 Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
35 E enfim resolveram se casar
36 constituir um lar,
A afirmação I. está correta, pois essa é de fato a descrição do texto, o que pode-se comprovar
pela observação de trechos do poema:
Conceitos matemáticos: “quociente”, “incógnita”, “ímpar”, “paralela”, “infinito” etc.
Narrativa em 3ª pessoa: "Quem és tu?", indagou ele / em ânsia radical.
Traição numa relação amorosa: “Ele, Quociente, percebeu / que com ela não formava mais um
todo, / uma unidade. / Era o triângulo, / tanto chamado amoroso.”
A afirmação II. está correta, pois há uma brincadeira com a polissemia de “ordinária”: como fração
ordinária (aquela em que o numerador da fração é um número inteiro) e pessoa ordinária (pessoa
de comportamento reprovável moralmente).
A afirmação III. está correta, pois o poeta brinca com o som de “quociente” e “consciente”. Então
o “quociente” é aquele que detém a razão, a consciência.
A afirmação IV. está correta, pois o poeta faz uso do conceito comum de “relatividade”, em que
“tudo é relativo”. Assim, aquilo que era um conceito moral sólido, já não é mais, pois agora tudo
é relativo.
Gabarito: E
38. (UNICAMP - 2019)
Para driblar a censura imposta pela ditadura militar, compositores de música popular brasileira
(MPB) valiam-se do que Gilberto Vasconcelos chamou de “linguagem da fresta”, expressão inspirada
na canção “Festa imodesta”, de Caetano Veloso.
(...)
Numa festa imodesta como esta
Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua testa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E que o otário silencia
Toda festa que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida.
(...)
(...)
GILBERTO GIL, letras.com.br
O tempo, além de relacionado aos fenômenos naturais, é também condicionador das vidas
humanas.
Na letra da canção de Gilberto Gil, a dimensão do tempo histórico destacada é denominada:
a) evolução
b) aceleração
c) linearidade
d) descontinuidade
Comentários: A passagem do tempo, para a música, causa transformações na vida humana. A
principal questão levantada é a descontinuidade, pois como diz o verso “Vejam como as águas de
repente ficam sujas”, aquilo que uma hora se mostrava de um jeito, logo pode se modificar. A
alternativa correta é alternativa D.
A alternativa A está incorreta, pois não aparece a noção de evolução, ou seja, de mudança gradual
e permanente, vista popularmente como uma mudança de um estado para outro melhor, no
poema.
A alternativa B está incorreta, pois a noção de mudança que o tempo promove não está
necessariamente ligada à rapidez. Algumas coisas, segundo o poema, vão se “transformando”, o
que indica uma ação que transcorre em determinado tempo.
A alternativa C está incorreta, pois o tempo não obedece a uma ordem linear, podendo ocorrer
fatos inesperados que modifiquem a direção que se seguia até então.
Gabarito: D
40. (FGV - 2018)
O século 20, com suas guerras mundiais e os conflitos que semearam, deixou muitas cicatrizes
sobre a face da Terra. Entre elas, o famigerado Muro de Berlim, cuja demolição marcou o fim da
Guerra Fria e o suposto final da história.
A história não termina, contudo. Novos e gigantescos muros continuam a ser erguidos, com
alturas e extensões suficientes para deixar na sombra a barreira à liberdade erguida na capital
alemã, que existiu por 28 anos.
A proliferação desses obstáculos a apartar pessoas e comunidades motivou a série de
reportagens da Folha “Um Mundo de Muros”.
O Brasil tem os seus, desde sempre para manter a distância entre ricos e pobres – como o que
impede a visão da miséria e do esgoto a céu aberto da Vila Esperança, em Cubatão/SP, a quem
trafega pela via Imigrantes.
Nada diverso dos 10 km do Muro da Vergonha que apartam, na capital peruana, a esquálida
comunidade de Pamplona Alta do afluente bairro Casuarinas, outro retrato desolador.
São situações, problemas e conflitos muito díspares, contra os quais se erguem barreiras que
evocam o pior do século passado.
(Folha de S.Paulo, 10.09.2017. Adaptado)
Texto II
Nem luxo, nem lixo
A alternativa E está incorreta, pois a ideia central da letra da canção é a sobrepujança do bem-
estar sobre “luxo ou lixo”. A necessidade de lutar contra as adversidades aparece em “Nessa
canoa furada / Remando contra a maré”, mas não é o centro do texto.
Gabarito: D
42. (UFJF - 2015)
A oposição existente entre os sentidos de “luxo” e “lixo”, presente na canção de Rita Lee e Roberto
de Carvalho (Texto II), é invertida na seguinte ideia, depreendida do conto de Marcelino Freire
(Texto I):
a) o lixo tem valor econômico.
b) o lixo sem tratamento é vetor de doenças.
c) na pobreza deve sempre haver alegria.
d) o luxo não é privilégio dos ricos.
e) o luxo pode ser um lixo.
Comentários: ao opor “luxo” e “lixo”, o eu lírico da canção deixa implícito que são elementos de
valor oposto. Enquanto o luxo seria associado ao valor econômico, o lixo seria a ausência de valor.
No texto I há a ideia de que o lixo deve ter valor econômico para ser gerado em tamanhas
quantidades , o que se comprova no trecho “Vai ver que é isso, descobriram que lixo dá lucro, que
pode dar sorte, que é luxo, que lixo tem valor.”. Por isso, a alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois não há na letra da canção de Rita Lee a referência a doenças
causadas pelo lixo, portanto, essa ideia não poderia ter sido invertida no conto,
A alternativa C está incorreta, pois os textos não entram no mérito da alegria ou tristeza ligada à
condição financeira.
A alternativa D está incorreta, pois a ideia de luxo é popularmente ligada à ideia de riqueza e,
portanto, às camadas mais ricas.
A alternativa E está incorreta, pois tal afirmação é proferida ironicamente no texto I, não no texto
II. Não há na música essa ideia presente.
Gabarito: A
43. (Insper - 2015)
Sintaxe à vontade
Sem horas e sem dores,
Respeitável público pagão,
Bem-vindos ao teatro mágico.
A partir de sempre
Toda cura pertence a nós.
Toda resposta e dúvida.
Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser,
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto.
(O Teatro Mágico)
À semelhança dos manifestos literários do início do século XX, que propunham inovações no campo
artístico, essa canção defende um determinado posicionamento a respeito da linguagem. Em
“Sintaxe à vontade”, defende-se que
a) o desmazelo à norma culta acarreta frequentes ruídos de comunicação.
Ou de um tamborim.
Sem preconceito
Ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
De quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar.
Se a expressão “mania de passado”, usada na letra da canção, for comparada à frase do primeiro
texto “é o passado que vive nele, não o contrário”, quanto ao sentido que assumem no contexto, é
correto afirmar que a referida expressão
a) é uma crítica a um comportamento, o qual está sugerido no trecho “não o contrário”.
b) contradiz o que a frase pretende transmitir a respeito do modo de pensar do compositor.
c) deve ser entendida de forma positiva assim como o trecho “é o passado que vive nele”.
d) refere-se a maneiras de pensar coletivas, ao contrário da frase, que considera apenas o aspecto
individual.
e) atribui à palavra “passado” um sentido diverso do que esse termo assume na frase citada.
Comentários: A oração “é o passado que vive nele, não o contrário” significa que as referências
ao passado estão dentro de Paulinho da Viola. O contrário seria “Paulinho da Viola vive no
passado”, o que não é verdade. A expressão “mania de passado” denota um comportamento
negativo, um hábito de ficar sempre pensando no passado. O comportamento que “mania de
passado” critica é justamente a ideia de que se viva no passado, elemento representado pela
oração “não o contrário”. Por isso, a alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois o fato de Paulinho da Viola não viver no passado corrobora sua
crítica à “mania de passado”.
A alternativa C está incorreta, pois “mania de passado” possui conotação negativa: é alguém que
não consegue se desprender do passado.
A alternativa D está incorreta, pois o comportamento de viver no passado não precisa caracterizar
necessariamente apenas um comportamento individual, mas também de um grupo.
A alternativa E está incorreta, pois a palavra “passado” possui a mesma conotação (momento
temporal anterior ao presente) em ambas as referências.
Gabarito: A
Texto para as próximas questões
Mau despertar
Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum
Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorrem
uns restos de treva
(Ferreira Gullar. Muitas vozes, 2013.)
45. (UNIFESP - 2015)
A leitura do poema permite inferir que
a) o despertar do eu lírico apaga as más lembranças da madrugada.
b) a noite é problema para o eu lírico, perturbado mais física que mentalmente.
c) o eu lírico atribui o seu mau despertar a uma noite de difícil sono.
d) o eu lírico encontra na noite difícil uma forma de enfrentar seus medos.
e) o mau despertar acentua as feridas e as dores que perturbam o eu lírico.
Comentários: Palavras como “batalha” e “hematomas”, somadas ao despertar difícil descrito pelo
eu lírico, denotam que ele teve uma noite de sono conturbado. Por isso, a alternativa correta é
alternativa C.
A alternativa A está incorreta, pois não se pode afirmar, pelo que está escrito no poema, que o
despertar apague más lembranças da madrugada. Só o que está dito é que ao lavar o rosto, o eu
lírico se livra dos restos de treva dos olhos.
A alternativa B está incorreta, pois ainda que haja a menção de muitos elementos físicos no
poema, fica claro que também há o aspecto psicológico envolvido, como, por exemplo, o fato de
acordar sem saber bem qual a “batalha travada” na noite anterior.
A alternativa D está incorreta, pois o poema apenas descreve o acordar do eu lírico, sem indicar
se a noite que passou o ajudou ou não em alguma medida.
A alternativa E está incorreta, pois o mau despertar não acentua as feridas e dores. Elas são
causadas pela má noite de sono.
Gabarito: C
46. (UNIFESP - 2015)
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
Vinicius de Moraes, Antologia poética.
Neste poema,
a) a referência a um acontecimento histórico, ao privilegiar a objetividade, suprime o teor lírico do
texto.
b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem tradicionalmente positiva da
rosa a atributos negativos, ligados à ideia de destruição.
c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua despreocupação com a
elaboração formal.
d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito originalmente como letra de
canção popular.
e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em boa medida, pelo caráter
concreto do texto e pelo vigor de sua mensagem.
Comentários: A rosa é uma das flores mais populares que existem. Ganhar rosas é comumente
associado a bons momentos ou a situações boas. Ao atribuir características como “radioativa” e
“com cirrose” à rosa, o poeta inverte o modo como ela é comumente vista, ligando-a à destruição.
Por isso, a alternativa correta é alternativa B.
A alternativa A está incorreta, pois o autor não investe na objetividade. A linguagem é poética e
subjetiva, ainda que tratando de um tema histórico.
A alternativa C está incorreta, pois há preocupação na escolha de palavras e na métrica do poema.
Repare que os versos todos contêm cinco sílabas poéticas.
A alternativa D está incorreta, pois o paralelismo é um recurso que cria frases semelhantes,
criando padrão equivalente. Isso ocorre no início do poema, mas isso não significa que seja um
recurso das canções. Esse poema não foi escrito para ser musicado. Ele foi transformado em
canção apenas 30 anos depois de sua escrita.
A alternativa E está incorreta, pois o predomínio é das metáforas, principalmente descrevendo a
“rosa”.
Gabarito: B
48. (Insper - 2008)
Pela Internet
Gilberto Gil
Criar meu web site
Fazer minha home-page
De Connecticut acessar
O chefe da Macmilícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus pra atacar programas no Japão
Cinco estrelas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Coleção Literatura em Minha Casa.
(José Paulo Paes, A poesia está morta, mas juro que não fui eu. São Paulo: Duas Cidades, 1998)
A alternativa B está incorreta, pois não há ideia de unificação da língua portuguesa no poema de
Gonçalves Dias.
A alternativa C está incorreta, pois o sentimento do poema de José Paulo Paes é uma ironia com
as diferenças do português, não uma afirmação nacionalista.
A alternativa D está incorreta, pois não há indicativo de diálogo no poema de José Paulo Paes,
mas sim de comentários do eu lírico com ele próprio.
Gabarito: E
50. (Estratégia Militares 2020 – Profa. Luana Signorelli)
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que
testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me
alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só
quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão
e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da
popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada
em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra
a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas?
Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto
de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver
a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
ROSA, Guimarães. A terceira margem do rio. In: ROSA, Guimarães. Ficção completa: volume II. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1994 (p. 409-413).
Comentários: É uma questão que mistura Semântica e Interpretação de Texto com Literatura. Isso envolve
a linguagem inovadora trabalhada pelo modernista Guimarães Rosa.
Alternativa “a”: incorreta. Nesse caso, “artes” não é necessariamente sinônimo de “artesanato” (técnicas,
trabalhos manuais). “Artes” significa assuntos, matérias.
Alternativa “b”: incorreta. Cuidado: no contexto do conto, “vadiar” não significa ser preguiçoso.
Alternativa “c”: incorreta. Pelo contrário: era algo no qual ele não era versado, que ele não entendia.
Alternativa “d”: correta – gabarito. Atenção: todo o trecho “Seria que, ele, que nessas artes não vadiava,
se ia propor agora para pescarias e caçadas?” corresponde ao discurso indireto livre, isto é, representa
um questionamento, um pensamento da mãe. E por meio do advérbio de tempo “agora” pode-se inferir
que agora ele irá trabalhar com algo que ele não domina, não conhece.
Alternativa “e”: incorreta. “Ignorar” até pode ser sinônimo de “desconhecer”, mas o advérbio de modo
“simplesmente” não se aplica.
Gabarito: D
5 – Referências
BARBOSA, Pe. A. Lemos. Pequeno Vocabulário Tupi-Português. Rio de Janeiro: Livraria São José,
1951.
BENEDETTI, Nildo Maximo. Sagarana: o Brasil de Guimarães Rosa. São Paulo: Hedra, 2010.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexicon,
2010.
ROSA, Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das letras, 1982.
COELHO, Nelly Novaes. O ensino da literatura. São Paulo: José Olympio, 1973.
COSTA, Angela Marques e SCHWARCZ, Lilia. 1890 – 1914: No tempo das certezas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
PASCOALIN & SPADOTO. Gramática: teoria e exercícios. São Paulo, FTD, 1996.
Considerações Finais
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou nas redes sociais.
Prof.ª Celina Gil