Benjamin Cowan - Securing Sex

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COWAN, Benjamin.

Securing sex: morality and repression in the making of Cold


War Brazil. University of North Carolina Press, 2016.

Introdução
 Com a derrota política e militar das guerrilhas, a figura do inimigo interno, um dos
pilares da ideologia de segurança nacional, se tornou mais difusa, transformando-se,
literalmente, em qualquer pessoa. O inimigo interno se “materializava” no desvio
moral e sexual, sobretudo quando relacionados com a juventude ou a esfera pública.
(p. 2)
 Conceito de tecnocracia moral: abrange as teorias de segurança, as reações contra a
modernidade e as preocupações com a dissolução moral da sociedade e a subversão
comunista; alinha-se com o setor da linha-dura. (p. 3)
 O autor considera que a Guerra Fria deve ser entendida em termos culturais, em
certa medida como uma reação contra os “adereços” da modernidade – liberalização
dos costumes, a chamada revolução sexual etc. (p. 8-9)
 Conceito de pânico moral: reação, das autoridades ou da imprensa, contra o
crescente desvio no comportamento social; desenvolvimentos nas tecnologias de
comunicação para acionar essa reação; ansiedade focada na juventude, considerada
o principal fator de mudança moral; relação entre essa ansiedade e noções de
degeneração sexual e risco corporal (bodily peril). (p. 10)
 O que os tecnocratas morais fizeram foi atualizar, tecnocratizar e patologizar
debates que anteriormente eram conduzidos na linguagem do pecado. A tecnocracia
moral integrou um quase de autoridades científicas e culturais, que criaram
conceitos e noções extremamente influentes sobre sexo e subversão. Eles ganharam
amplitude nacional – no público e no sigiloso – sobre modernidade, comunismo,
cultura e segurança. Ao tomar esse espaço do debate dentro do Estado, contribuíram
com o autoritarismo e a repressão. (p. 13) Isso é importante na medida em que
percebemos como essas concepções informaram práticas políticas e repressivas
dentro e fora do Estado.

Cap. 2: Sexual Revolution? Contexts of Countersubversive Moralism


A tese do capítulo é que a revolução sexual, tão proclamada como uma
transformação dos anos 60/70, foi muito mais falada e especulada do que experienciada.
As relações entre sexualidade, política e juventude estavam em transformação num
terreno complexo. No caso dos militares da linha-dura, eles experienciaram as
mudanças discursivas como um cataclisma, percebendo relações entre transgressões
contra as tradições moral e sexual, inconformidade geopolítica e uma exposição
prejudicial da juventude a esses fatores. (p. 50-51)
O pânico moral dos militares se divide em duas linhas: primeiro, a relação entre
juventude, cultura e ações do governo; segundo, as relações entre sexualidade,
revolução e resistência armada. (p. 52-53) Contudo, no discurso público (imprensa,
intelectuais etc.) não havia um pânico moral e contrainsurgente que o monopolizasse,
como tampouco se relacionava sexualidade, subversão e juventude. (p. 53)
Na verdade, o discurso que conecta esses três elementos – sexualidade,
subversão e juventude – foi produzido e reiterado pelos militares.
Diversas transformações dos costumes, na década de 70, foram impulsionadas
por conta das políticas econômicas do próprio governo militar – os anos do “milagre
econômico”. (p. 54)
O autor demonstra que no debate público havia bastante tolerância com as
posições favoráveis a mudanças progressistas nos costumes, no sentimento de maior
liberalização, defesa da educação sexual, do divórcio etc. Os estudantes, ao contrário do
o nosso imaginário coletivo reforça, eram vistos como sexualmente conservadores. (p.
59) Além disso, não havia proximidade entre liberdade sexual e radicalismo político. (p.
60)
Em seguida o autor analisar o posicionamento da esquerda em relação à
liberdade sexual – posição completamente contrária, conservadora e moralista (p. 64-
65) –, bem como a esquerda católica e os setores católicos progressistas, igualmente
conservadores. (p. 66-69)

Cap. 3: Sexual Revolution! Moral Panic and the Repressive Right


Nos anos 1960-1970, a direita anticomunista definiu seu inimigo em termos
moralistas. O governo militar e as elites não via a sociedade como um todo complexo,
mas como uma massa dividida entre bons e maus, nós e eles. A partir de 1960, a direita
atualizou o seu antigo moralismo e conservadorismo – herdeiro do início do século XX
– com agitações morais, culturais e sexuais como questões fundantes. Nos anos de
chumbo o senso de crise cultural de fortaleceu – ao qual o pânico moral seria uma
resposta –, devido às discussões sobre contracultura, revolução armada e transformações
políticas e sexuais, que ganharam visibilidade no Brasil e no mundo. Assim, a narrativa
do pânico moral uniu subversão comunista, resistência armada, radicalismo sexual,
delinquência e degenerescência. (p. 73)
O autor salienta que a produção discursiva da direita informou ações estatais e
de segurança. Não foram, portanto, apenas discursos que circularam na imprensa e entre
os intelectuais, mas tiveram efeitos reais na vida das pessoas.
O primeiro setor da direita que o autor analisa são os católicos anticomunistas:
ele analisa a atuação de organizações como a CAMDE – Campanha das Mulheres pela
Democracia, IPES – Instituto de Pesquisa, Estudos Sociais e o IBAD – Instituto
Brasileiro de Ação pela Democracia e o Ação Democrática. De maneira geral, os grupos
possuíam vínculos com o governo militar, além de produzirem periódicos e outros
materiais de circulação nacional. Esses grupos alertaram contra as mudanças morais e
sexuais da sociedade, o perigo de decadência de instituições como a igreja e a família
etc. (p. 76-83)
Chama a atenção o imediatismo do pânico moral propagado por essas
organizações: identificação de um grave problema que assola a sociedade no presente e
proposição de soluções imediatas. A preocupação desses grupos é com o presente, por
isso o constante alerta da crise moral e dissolução dos pilares da sociedade. (p. 78)
O segundo grupo analisado são os “heróis moralistas”: Gustavo Corção e
Antônio Pacheco e Silva. Esses indivíduos faziam parte de uma rede de conexões
ideológicas e políticas entre anticomunistas proeminentes que apoiaram a repressão e o
autoritarismo. Uma elite política e intelectual que estava criando as bases de sustentação
entre subversão política, moral sexual, corrupção da juventude etc. (p. 83-84)
O primeiro foi um influente jornalista anticomunista e conservador, cuja missão
foi denunciar a subversão nas Igrejas por meio da moral sexual, da juventude e do
catolicismo progressista. Corção se tornou um representante da direita, apesar de seu
conflito com a Igreja Católica (por conta das denúncias), e teve influência direta no
regime. (p. 90)
Pacheco e Silva, por sua vez, foi um proeminente psiquiatra, diretor do Hospital
do Juqueri e conhecido eugenista. Para ele, a crise moral devia-se a acontecimentos
recentes no campo dos costumes e dos papeis de gênero – a decadência moral e sexual
faz parte do complô comunista contra a família. Também teve reconhecimento e
cooperação do regime militar, sendo convidado a dar palestras no IPES em diversas
ocasiões. Também teve uma relação do proximidade com Alfredo Busaid. (p. 92-93)
O terceiro grupo são as organizações anticomunistas da direita: LDN. TFP,
MRA, AAB. O autor destaca a centralidade do gênero para o apelo anticomunista da
domesticidade, o medo ao desvio “de gênero” e a corrupção da juventude – aspectos
fundamentais do discurso. (p. 94)
Esses grupos anticomunistas responderam com violência ao processo de abertura
política do regime, pois identificavam que a ameaça comunista continuava existindo, ao
passo em que perdiam poder para poder combatê-la. (p. 102)
Finalmente, o autor sublinha as visões transnacionais da direita. As organizações
brasileiras se apoiavam em teóricos internacionais, com os quais havia diversas trocas
de informações. Esses intelectuais internacionais foram convidados a participar de
cursos e palestras em instituições brasileiras, de modo que essas conexões
transnacionais foram institucionais. A narrativa desses intelectual posicionava a ordem
sexual e de gênero como equivalentes à ordem política.
“Just as an Atlantic military Community had furnished the masculinist and
moralistic foundations of counterinsurgency theory, so na Atlantic cohort of
anticomunista ‘experts’ doggedly cropped up in the ideological bedrock of moral-
cultural rightism.” (p. 105)

Cap. 4: Drugs, Anarchism, and Eroticism. Moral Technocracy and the Military
Regime
A Escola Superior de Guerra foi o espaço onde a coalização civil-militar definiu
as bases de fundações do golpe de 64 e gerou recomendações políticas para os futuros
governantes. O autor argumenta que o senso geral de crise moral levou teóricos da
segurança e autoridades reconhecidas nacionalmente a defender que defesa da
segurança nacional passava por uma revitalização do moralismo tradicional sobre o
gênero e a sexualidade, tornando esta questão central para o regime. (p. 113)
Recuperando teóricos do séc. XX e início do XX sobre saúde pública, corpos,
civilização, os intelectuais da ESG substituíram a subversão comunista – anos 1960 –
pela degeneração e decadência que o eugenistas temeram. (p. 114)
Para o autor, houve quatro eixos de principal preocupação dentro da ESG, na sua
produção a respeito da crise moral, da guerra revolucionária/psicológica do comunismo:

1- A “questão da juventude”
2- A “desagregação da família”
3- Os “meios de comunicação social”
4- A “libertação da mulher”

A “questão da juventude” relaciona-se com o perigo de desagregação da


sociedade por conta do comunismo, parelho ao medo pela corrupção moral dos jovens.
A preocupação dos esguianos focava-se na juventude de classe média e alta, seus
padrões de consumo, sua fraqueza física e mora, a educação corruptora. (p. 118-122)
Os esguianos estavam informados pelas concepções dos eugenistas, sanitaristas
e higienistas de início do século XX
As telecomunicações foram uma grande preocupação dos teóricos da ESG,
particularmente a partir dos anos 1970. Os meios de comunicação aparem como
ameaças à juventude e parte de um complô comunista para atacar a moralidade sexual
(conservadora). (p. 123-124) Daí emerge a importância da censura como um medida de
extrema importância: compreensão de que ataques à moral e aos bons costumes
significavam ameaças à segurança nacional. Uma tática do MCI – a guerra psicológica
por meio do suposto bombardeamento de pornografia, permissividade,
homossexualismo etc. (p. 126)
A família foi uma preocupação central foi significar o adequado papel das
mulheres na sociedade e possibilidade de construção de um novo futuro, de acordo com
os esguianos. A destruição da família, para eles, fazia parte de um plano comunista de
ataque às instituições ocidentais e cristãs. A raiz, da desagregação da família era a crise
moral e cultural, que se refletia também na “liberação da mulher” e no trabalho
feminino extra-doméstico. (p. 128-129)
Sobre essa questão também houve uma produção dos esguianos informadas pela
patologização e pelas teorias higienistas e eugetistas. Alguns chegaram a falar que o
trabalho feminino extra-doméstico, junto com o adultério e o divórcio, e a aceitação
ampla das perversões sexual, consistiam em uma médico psicopolítico de lavagem
cerebral dos comunistas. (p. 130-132)
CITAÇÕES IMPORTANTES: p. 132, 135, 136

As justificativas morais e tecnocráticas das autoridades da ESG para a repressão


militar se fundamentavam nas ideais sobre Guerra Fria cultural, mas também se
sustentaram nos aportes da patologização. A moralização enquanto segurança nacional,
sendo Buzaid, relacionava-se à medida profissional e as neuroses facilitadas pela
revolução sexual. Psiquiatras e clérigos eram celebrados por sua perspectiva
medicalizante do comunismo enquanto enquanto uma subversão sexual, psicológia e
patologia psicossocial. (p. 135) Os psiquiatras que participavam do círculo da ESG
defendiam a psicoterapia para tratamento para a subversão. (p. 136)
O autor cita diversos psiquiatras renomados no Brasil, que parecem ter sido
figuras de autoridade na ESG.
Em seguida, o autor nomeia e analisa brevemente os referentes teóricos da ESG.

Cap. 5: Young Ladies Seduced and Carried Off by Terrorists

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