SILVA Edson. XUKURU. Memórias e História
SILVA Edson. XUKURU. Memórias e História
SILVA Edson. XUKURU. Memórias e História
2ª edição
Recife, 2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Reitor: Prof. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Vice-Reitor: Prof. Sílvio Romero Marques
Diretora da Editora: Profa. Maria José de Matos Luna
COMISSÃO EDITORIAL
Presidente: Profa. Maria José de Matos Luna
Titulares: Ana Maria de Barros, Alberto Galvão de Moura Filho, Alice Mirian Happ Botler, Antonio Motta,
Helena Lúcia Augusto Chaves, Liana Cristina da Costa Cirne Lins, Ricardo Bastos Cavalcante Prudêncio, Rogélia
Herculano Pinto, Rogério Luiz Covaleski, Sônia Souza Melo Cavalcanti de Albuquerque, Vera Lúcia Menezes Lima.
Suplentes: Alexsandro da Silva, Arnaldo Manoel Pereira Carneiro, Edigleide Maria Figueiroa Barretto, Eduardo
Antônio Guimarães Tavares, Ester Calland de Souza Rosa, Geraldo Antônio Simões Galindo, Maria do Carmo de
Barros Pimentel, Marlos de Barros Pessoa, Raul da Mota Silveira Neto, Silvia Helena Lima Schwamborn, Suzana
Cavani Rosas.
Editores Executivos: Afonso Henrique Sobreira de Oliveira e Suzana Cavani Rosas.
CONSELHO CIENTÍFICO
Albanita Gomes da Costa de Ceballos - Medicina Social - CCS, Allene Carvalho Lage - Núcleo de Formação Docente
- CAA, Ana Emília Gonçalves de Castro - Design - CAC, Ana Lúcia Fontes S. Vasconcelos – Ciências Contábeis
- CCSA, Antônio Carlos Gomes do Espírito Santos - Medicina Social - CCS, Aurino Lima Ferreira - DPOE - CE,
Djanyse Barros Mendonça Villarroel - PROEXT, Edístia Maria Abath Pereira de Oliveira – Serviço Social - CCSA,
Eliete Santiago - Departamento de Administração Escolar - CE, Heloisa Maria Mendonça de Morais - Medicina
Social - CCS, José Luís Portugal - Engenharia Cartográfica - CTG, José Zanon de Oliveira Passavante - Oceanografia
- CTG, Jowânia Rosas - Coordenação de Gestão da Produção Multimídia e Audiovisual - PROEXT, Jerônymo José
Libonatti - Departamento de Ciências Econômicas - CCSA, Lucila Ester Prado Borges - Engenharia Química -
CTG, Luís De La Mora - Arquitetura - CAC, Marco Antônio Mondaini de Souza - Serviço Social - CCSA, Maria
Christina de Medeiros Nunes - Diretoria de Extensão Acadêmica - PROEXT, Maria de Fátima Galdino da Silveira
- Departamento de Anatomia - CCB, Maria de los Angeles Perez Fernandez Palha - Engenharia Química - CCEN,
Maria do Socorro de Abreu e Lima - Departamento de História - CFCH, Mauro Maibrada - Departamento de Música
- CAC, Oscar Bandeira Coutinho Neto - Medicina Social - CCS, Sandro Sayão - Filosofia - CFCH, Vanice Santiago
Selva - Geografia - CFCH,Wellington Pinheiro dos Santos - Coordenação de Gestão da Informação - PROEXT.
CÂMARA DE EXTENSÃO
Edilson Fernandes de Souza - Presidente - Pró-Reitor de Extensão, Aneide Rabelo - CCS, Oliane Magalhães - CCB,
Maria José Luna - CAC, Nélio Vieira de Melo - CAA, Osmar Veras - CAA, Rogélia Herculano - CAV, Zailde Carvalho
dos Santos – CAV.
Capa Índios na Vila de Cimbres - 1934 (fotos de Curt Nimuendajú - Museu Nacional/RJ)
Revisão O autor
Design gráfico Elvira de Paula
980.41 CDD (23.ed.) UFPE
(BC2017-084)
Esse texto originalmente intitulado Xukuru: memórias e história
dos índios da Serra do Ororubá (Pesqueira/PE), 1959-1988, foi
apresentado como Tese de Doutorado em História Social na UNICAMP
em março/2008. Compôs a Banca Examinadora além do orientador o
Prof. Dr. John Manuel Monteiro/UNICAMP, a Prof.ª Drª. Maria Cristina
Pompa/USP, o Prof. Dr. João Pacheco de Oliveira Filho/UFRJ-MN, o Prof.
Dr. Marcus Joaquim Maciel de Carvalho/UFPE e o Prof. Dr. Robert Wayne
Andrew Slenes/UNICAMP, aos quais sou muito grato pelos comentários,
observações e questionamentos. Para publicação desta 2ª edição, além de
pouquíssimas alterações no texto original, foi incluido um pós-escrito.
A publicação em forma de livro, após dezenas de fotocopias
encadernadas em espiral para atender as várias solicitações, possibilitará o
maior acesso, a circulação e favorecendo a leitura do texto pelas pessoas
que tem manifestado interesses.
Agradecimentos
6
Oliveira, favoreceu também a pesquisa no acervo do SPI no Museu do
Índio, de grande importância para a elaboração da Tese;
Ao Prof. Marcus Carvalho, do PPGH/UFPE, pelo permanente
incentivo e pela amizade. Quero lembrá-lo que em grande parte, é o
responsável por essa difícil, mas recompensadora aventura chamada
Doutorado;
Ao Prof. João Pacheco de Oliveira (MN/UFRJ), pelas conversas,
orientações e indicações sempre valiosas no Rio de Janeiro durante o
período da Bolsa Doutorado Sanduíche no Museu Nacional em 2005,
e durante o tempo em que esteve no Recife, em 2006/2007, para as
discussões e montagem da exposição Índios: os primeiros brasileiros;
Ao Prof. John Monteiro, pela acolhida bastante amigável e sempre
incentivadora, as observações e comentários valiosos nas apresentações
de comunicações, embriões de capítulos da Tese, durante os GTs que
organizou e coordenou por ocasião dos Simpósios Anuais da ANPUH.
Meu reconhecimento pela orientação, confiança e credibilidade que me
foi dispensada;
A Mariana Françozo, pela gentileza, disponibilidade, solidariedade
e empenho em resolver as questões burocráticas junto à Secretaria da
Pós-Graduação em História no IFCH/UNICAMP.
A Cristina Malta, pela atenção, gentileza e disponibilidade com
que aceitou o meu pedido de correção da Tese.
Agradeço e muito ao Prof. Edilson Fernandes de Souza, Pró-
Reitor de Extensão (Proext/UFPE), pelo apoio, acolhida e viabilização
junto a EDUFPE para publicação da Tese em formato de livro.
Aos Encantados Xukuru, que me acompanharam o tempo todo
e durante todo o tempo na escrita dessa história, que é deles.
7
Dedicatória
16
que celebrava a conquista e minimizava ou omitia os atos de genocídio,
a tudo perdoando em nome do avanço da Civilização.
Importantes processos políticos ocorridos no pós 2ª Guerra
Mundial, com a partição de poderes entre o mundo capitalista e o
socialista, o fenômeno da descolonização, o internacionalismo terceiro-
mundista favoreceram o surgimento de novos espaços, sem questionar,
porém a divisão de domínios entre os saberes universitários. Em alguns
países surgiram linhas de investigação focadas especificamente sobre
as populações autóctones, para as quais foi reservada um pequeno e
circunscrito escaninho, em geral chamado de Etnohistória.
Tais estudos - ainda que em aparência com objetivos dirigidos e
modestos, sem questionar o estado de coisas na disciplina e abordando
de forma privilegiada fatos numa dimensão local e circunscritos em geral
aos primeiros séculos da conquista – foram reexaminando arquivos e
encontrando uma enormidade de documentos raramente explorados nas
grandes sínteses e interpretações históricas precedentes. Criaram assim
as bases empíricas para novas hipóteses e para a transformação das
anteriores práticas e prioridades de trabalho.
A ampliação no Brasil ao longo das últimas três décadas dos
estudos sobre história indígena (ou melhor, sobre as múltiplas e variadas
histórias indígenas) foi algo muito importante e que teve repercussões
profundas nos departamentos universitárias e na agenda das pesquisas
históricas. A publicação em 1994 do estudo de John Monteiro2, bem
como a sua intensa e fecunda atividade na formação de graduandos
e pós-graduandos na UNICAMP, foi um marca importante para essa
transformação da disciplina.
Num evento organizado pelo próprio Edson Silva e outros
pesquisadores, na conferência de abertura do 1º. Encontro de
Etnohistória dos Índios no Nordeste, realizado em Penedo (AL), em
30-05-1996, eu já perguntava: “Uma imagem muito popularizada e quase
arquetípica do tempo é a do lento, permanente e irrefreável fluxo das
2
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de
São Paulo, São Paulo, Companhia das Letras, 1994.
17
águas de um rio. Instalados ao longo de seu curso, escribas de diferentes
épocas, registraram os objetos que singravam as suas águas, descrevendo
formas, cores, ruídos e posições relativas. Será que para fazer etnohistória
bastaria comparar estes relatos, construindo uma trajetória imaginária
entre esses pontos? (...) Ou seja, com base nessas observações (...) o
trabalho do analista seria apenas de transformar o descontínuo em
contínuo, e o concebido em verossímil?”3
A resposta que se impunha era outra: “O que cabe esperar do
etnohistoriador (...) é resgatar a plena historicidade dos sujeitos históricos,
descrever como eles estão imersos em cada ambiente (as épocas e os
ecúmenos)”4. Mas isto exige que o pesquisador não se restrinja aos limites
atuais de uma dada coletividade e não pratique o anacronismo de buscar
encontrá-la tal e qual no passado. Nesse sentido é fundamental que os
pesquisadores e estudiosos desenvolvam uma consciência de que não se
trata de buscar encontrar no passado o rebatimento das coletividades
etnificadas de hoje em dia – uma vez que estas já são fruto de longos
e violentos séculos de dominação. A relevância que, constatava-se pela
documentação compulsada, os indígenas assumiam na configuração da
vida, das instituições e do próprio imaginário nacional, exigia uma nova
postura5.
A pesquisa de Edson Silva com os Xukuru nesse sentido é exemplar.
Ao empreender uma história ao revés não vamos encontrar o regime
tutelar e uma genérica “indianidade”, mas sim outros parâmetros políticos
e identitários, onde os sujeitos históricos precisam colocar em operação
jogos políticos bem distintos, que lhes permitam ter melhores chances
dentro de uma situação histórica e de um cenário de subalternidade em
3
OLIVEIRA, João Pacheco de. “A problemática dos índios misturados e os limites dos
estudos americanistas: um encontro entre antropologia e história” In: Ensaios em Antro-
pologia Histórica. Rio de Janeiro, Editora da UFRJ, 1999, p.. 99-123.
4
Idem.
5
Em 1988 em um estudo sobre os Tikuna do Alto Solimões (Amazonas) eu propunha
como imprescindível a articulação entre trabalho etnográfico e contextualização histórica,
inclusive apresentando uma ferramenta que operacionalizava a análise, a noção de situa-
ção histórica. OLIVEIRA, João Pacheco de “O nosso governo”: os Tikuna e o regime
tutelar, São Paulo/Brasília, Marco Zero/CNPq, 1988.
18
que estão em cada momento inseridos. A autoatribuição da identidade
de “caboclo” não pode ser lida como um “abandono da condição de
indígena”, mas simplesmente como produto de um regime político que
não oferece espaços nem reconhece direitos aos que venham a explicitar
sua condição étnica.
O avanço da pesquisa levou a romper com as rígidas linhas de
separação entre a história nacional (ou regional) e uma história indígena.
É o que vemos na análise de Edson Silva sobre a história Xukuru. Ao lado
de narrativas sobre algumas de suas principais famílias e de suas práticas
econômicas logo vemos surgir preciosas memórias sobre a participação
desses indígenas na Guerra do Paraguai. Longe de ser apenas um fato
episódico ou exótico, isso propiciou aos Xukuru ocasião para reafirmar
a e sua condição de cidadãos brasileiros e tornar reconhecidos os seus
direitos sobre a terra que habitavam.
Mais adiante podemos verificar que o mesmo raciocínio que se
aplicou ao passado deve ser estendido aos contextos contemporâneos.
Assim o estabelecimento de um campo político onde a utilização da
identidade de indígena tornou-se um fato essencial e corriqueiro, com a
implantação de um Posto Indígena e a imposição de um regime tutelar,
não aboliu de modo algum outras ações e articulações econômicas e
políticas realizadas pelos indígenas, e que não podem ser unicamente
vinculadas a estratégias étnicas. Isso repercutiu tanto no estabelecimento
de redes clientelísticas locais (patronagem) quanto, inversamente, na
importante participação de líderes Xucuru nas Ligas Camponesas e em
outras mobilizações de trabalhadores rurais.
Á medida que as suas investigações ganham maior profundidade,
logo se pode perceber que no estudo de Edson Silva (assim como outros
estudiosos da história indígena no Nordeste ou em outras regiões) os
limites entre o étnico e o não étnico, entre os povos indígenas e a sociedade
nacional, deixam de ser um a priori para serem permanentemente
reconstruídos dentro de cada situação histórica.
Longe de estarmos, à semelhança da Biologia, lidando com
um processo de filogênese, o que a História (e também a Antropologia)
estudam são pessoas e famílias que se integram em coletividades maiores
19
(etnias e nações) e que implicam diferentes escalas analíticas. Que elas
modificam continuamente suas formas e estratégias dentro de um regime
de distribuição de poder, cujas escolhas e potencialidades decorrem
de sua própria singularidade histórica. Que transmitem e atualizam
seletivamente a sua cultura bem como reconstroem de forma permanente
o seu passado6.
Quais serão as novas vertentes teóricas e linhas de pesquisa em
que estes novos esforços investigativos poderão florescer? Ao invés de
buscar isolar as duas ciências em escaninhos universitários separados
tratam-se a meu ver de seguir um movimento de repensar as temáticas
e as práticas das nossas disciplinas a partir do reconhecimento de
novos sujeitos de direito. Ou seja, recontar a história das regiões, nações
e do próprio mundo a partir das coletividades que foram oprimidas e
violentadas, subalternizadas e silenciadas. Os povos indígenas no Brasil
fazem parte desse amplo arco daqueles a que Frantz Fanon chamou de “les
damnés de la terre”, os amaldiçoados pela expansão do colonialismo e do
imperialismo, daqueles que em nome do progresso e da civilização foram
destituídos de seus territórios, de suas culturas e de seu protagonismo
político. Esforços como os empreendidos por Paul Thompson, Peter
Burke, Eric Wolf, Michel Foucault, Edward Said e tantos outros permitem
repensar as disciplinas em novas bases.
Uma mudança de perspectiva teórica não está nunca dissociada
de uma efetiva transformação na postura política e no compromisso ético
dos pesquisadores. É sem dúvida a rigorosa e competente investigação
empreendida por Edson Silva que vem neste livro a propiciar ao leitor
6
A clivagem estabelecida por Lévi-Strauss entre História e Etnologia (vide Antropolo-
gia Estrutural, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967, pg. 33/34), longe de contribuir
para a ampliação desses diálogos e colaborações entre estas duas ciências, as aprisiona
dentro de uma esquemática e perigosa dicotomia entre estruturas conscientes e inconsci-
entes. Tal postura de fato impõe uma visão bastante distorcida da História, impedindo-
a de operar com múltiplas escalas e temporalidades, enquanto exclui inteiramente do
domínio da Antropologia o estudo da dimensão consciente, dialógica e argumentativa
das ações sociais. Para uma crítica disso ver OLIVEIRA, João Pacheco de. “Uma etnolo-
gia dos índios misturados? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais”, Mana
4 (1), p. 66-69. (Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0104-93131998000100003).
20
acompanhar a luta dos líderes e famílias Xukuru para recuperar as
terras habitadas por seus antepassados e atualizar as tradições em que
eles mesmos se reconhecem. Mas esse movimento intelectual não seria
possível sem uma atitude não apenas de respeito e empatia para com as
diferenças, dentro de um marco do relativismo como valor acadêmico e
do multiculturalismo como princípio de política pública, mas também de
comprometimento com as estratégias, projetos políticos e utopias dos
próprios indígenas.
Longe de ser um “xucurulógo”, Edson Silva e seus colegas
de geração (historiadores e antropólogos), bem como seus muitos
discípulos, foram parceiros de um movimento social e do exercício
de um protagonismo indígena, produzindo sobre aquele coletivo uma
compreensão de natureza dialógica e participativa. Nesse movimento
intelectual e político, para os estudos históricos do nordeste, eu diria
que Edson Silva por seu compromisso com as lutas indígenas, por
sua erudita e generosa partilha de fontes bem como pelo permanente
estímulo à formação de novos pesquisadores e de incentivo ao debate
crítico, é uma daquelas figuras a que Brecht reservaria o qualificativo de
“imprescindíveis”.
A saga do Cacique Xicão7 e de muitos outros líderes que o
precederam, aqui narrada e analisada, não é de maneira alguma uma
simples reiteração de trajetórias já descritas em nossos livros de História
do Brasil. As dissertações e teses que ora vão se acumulando sobre
diferentes povos, períodos e eventos, que se expressam com muita pujança
nos congressos científicos, em redes de pesquisadores e em coletâneas
recentes8, não estão de maneira alguma apenas aportando mais dados às
interpretações históricas estabelecidas, mas apontam erros, preconceitos
7
Vide, entre outros, FIALHO, Vânia; NEVES, R. C. M; FIGUEIROA, M. (Orgs.). “Planta-
ram” Xicão: os Xukuru do Ororubá e a criminalização do direito ao território. Manaus/
AM: PNCSA/UEA/UEA Edições, 2011.
8
OLIVEIRA, João Pacheco de. (Org.). A presença indígena no Nordeste: processos de
territorialização, modos de reconhecimento e regimes de memória. Rio de Janeiro,
Contra Capa, 2012.
21
e incongruências que logo tornarão necessários novos esforços de síntese
e compreensão da história da região e do próprio país.
22
SIGLAS
23
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E FOTOGRAFIAS
26
Sumário
INTRODUÇÃO
“Seu” Gercino, uma trajetória de vida expressão da história
contemporânea Xukuru. Pelas estradas, nos caminhos e nas
veredas na Serra do Ororubá: as trilhas da pesquisa ....................................... 33
Capítulo I
OS “CABOCLOS” DA SERRA DO ORORUBÁ
A construção do caboclo: a fala oficial, intelectuais e
olhares literários .................................................................................................................................. 47
“Remanescentes”, “caboclos mesclados” e “restos dos
índios Sukurú de Cimbres” ........................................................................................................ 55
Os curibocas, os mamelucos e os “descendentes de índios”:
o olhar do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) ................................................... 82
A população misturada: caboclos, mestiços e afro- índios ............... 87
Os caboclos que são índios: a reflexão contemporânea
sobre o Nordeste indígena ......................................................................................................... 100
Capítulo II
HISTÓRIA E MEMÓRIAS DE MEDIAÇÕES E GUERRAS
Conflitos, alianças e milícias armadas na Serra do
Ororubá ........................................................................................................................................................ 105
Os Xukuru e a Guerra do Paraguai ........................................................................ 111
Os “bravos Voluntários da Pátria” do Ororubá ................................... 114
Guerras, história e memórias ....................................................................................... 118
Memórias Xukuru sobre a Guerra do Paraguai .......................................... 124
27
Capítulo III
VIVÊNCIAS, LUGARES E MEMÓRIAS
“Meu pai falava que aqui não tinha branco” ................................................................ 137
“Morador tinha em todo canto aqui em cima da Serra” .................................. 149
O sítio como espaço de sociabilidades .............................................................................. 164
Cimbres, um espaço de identidade e memórias ....................................................... 176
Capítulo IV
VIAGENS DE IDAS E VOLTAS: A CIDADE, “O SUL” E “O SERTÃO”
Sua majestade, o boi ................................................................................................................ 195
De agricultores a operários nas fábricas .............................................................. 208
Viagens para “o Sul” e para “o Sertão” .................................................................. 218
Capítulo V
QUEM SÃO ESSES ÍNDIOS? O PERÍODO DO SPI
Entre o selvagem, o pitoresco, o moderno e o oficial .............................. 235
A visita do sertanista Cícero Cavalcanti: memórias e
leituras indígenas .................................................................................................................................... 240
Os primeiros contatos com o SPI ............................................................................... 252
A conquista do Posto: a viagem a pé ao Rio de Janeiro
para falar com o Marechal Rondon ...................................................................................... 259
A instalação e o funcionamento do Posto Xukuru:
insatisfação e conflitos indígenas pela assistência oficial ................................ 276
Saberes e rotinas administrativas: retratos do Posto e
dos Xukuru .................................................................................................................................................... 292
Capítulo VI
“ISSO AQUI É NOSSO! ISSO É DA GENTE!”: A PARTICIPAÇÃO
DOS XUKURU NAS LIGAS CAMPONESAS
As Ligas Camponesas em Pesqueira: contra os tatuíras
integralistas ................................................................................................................................................... 303
O perigo comunista e os índios “ignorantes” ................................................... 308
28
As memórias indígenas sobre a Liga Camponesa e a
ocupação de Pedra D’Água ........................................................................................................... 316
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O vivido, o concebido e o expressado: a história a partir
das memórias .............................................................................................................................................. 327
ANEXO
Carta de Agnaldo Xukuru da Prisão ........................................................................ 341
FONTES
Impressas ............................................................................................................................................. 344
Manuscritas ....................................................................................................................................... 344
Entrevistas .......................................................................................................................................... 345
PÓS-ESCRITO:
Xukuru do Ororubá: história indígena e História Ambiental no
Semiárido pernambucano ........................................................................................ 385
Introdução .............................................................................................................................. 385
As invasões coloniais no Semiárido pernambucano ............................. 388
Os brejos como lugares de fertilidade no Semiárido: os conflitos com
os índios ................................................................................................................................... 390
Os impactos socioambientais da ferrovia ....................................................... 393
Fertilidade em terras indígenas: diversidade da produção no Semiárido
pernambucano .................................................................................................................... 396
A produção agroindustrial e os impactos socioambientais .............. 398
Considerações finais: os indígenas refazendo a vida, reescrevendo a
História no Semiárido ................................................................................................... 400
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 402
FONTES ................................................................................................................................... 403
29
Quando eu morrer não tem mais o que contar?!
Cada um vai contando suas histórias...
34 Edson Silva
dançam o Toré. Exerceu essa função com maestria, desenvoltura e beleza
até ser impedido pela doença. Pois, mesmo com o peso dos anos de
idade, estava lá firme como o “Bacurau”, durante o Toré, após as reuniões
e nas festas realizadas na Vila.
“Seu” Gercino esteve ao lado do Cacique Xicão, de quem recebia
publicamente expressas manifestações de muita estima e consideração,
nas mobilizações contemporâneas dos Xukuru do Ororubá em busca
de seus direitos. Acompanhou Xicão nas muitas viagens dos xukurus ao
Recife e a Brasília, onde foram pressionar a Funai e os demais órgãos
públicos, bem como realizar articulações com aliados, parceiros da
sociedade civil, nas denúncias das perseguições, violências e assassinatos
de lideranças Xukuru, nas reivindicações pela demarcação das terras
indígenas.
Era morador na Aldeia Pedra d’Água, local considerado sagrado,
onde, no início dos anos 1960 ocorreu, com a participação Xukuru, uma
ocupação promovida pela Liga Camponesa, violentamente reprimida
pelas forças golpistas de 1964. Nas mobilizações dos Xukuru do Ororubá
pelas suas terras, no início dos anos 1990, com a participação de “Seu”
Gercino, Pedra d’Água foi a primeira área a ser retomada de posseiros
que estavam desmatando a localidade. E, por isso, o local se tornou um
marco na organização e mobilização indígena nas retomadas de terras
em poder dos fazendeiros e na reivindicação pela demarcação oficial do
território. Com a demarcação das terras, em 2001, “Seu” Gercino viu a
concretização do sonho tão esperado, que vem possibilitando a fartura, o
vicejar da vida, a dignidade e uma nova etapa na história do povo Xukuru.
A trajetória de vida de “Seu” Gercino é a expressão da história
contemporânea Xukuru! A história de um octogenário, bastante doente,
mas lúcido e muito ativo, que rememorava com sabedoria e vivacidade a
história do povo Xukuru por meio das histórias de seus antepassados, da
sua própria história de vida. Ele partiu. Encantou-se... Foi se encontrar,
como diz um dos cantos do Toré Xukuru do Ororubá, “na aldeia sagrada”,
com tantos outros, mortos ou matados: “Seu” Cícero Pereira, Zé Cioba,
“Seu” Herculano, Dona Du, Xicão, Xico Quelé... idosos e idosas, sábios e
sábias Xukuru do Ororubá, que nos últimos cem anos marcaram a história
“Seu” Gercino.
Arquivo CIMI-NE, s/d.
36 Edson Silva
Pelas estradas, nos caminhos e nas veredas da Serra do Ororubá:
as trilhas da pesquisa
38 Edson Silva
Imperial, como recompensa pela participação dos seus antepassados na
Guerra do Paraguai.
O estudo, portanto, procurou a partir das memórias orais
Xukuru e registros escritos, compreender as conexões temporais entre
as mobilizações indígenas pelas terras, nos anos 1980, e as ocorridas
na década de 1950, quando os Xukuru conquistaram o reconhecimento
oficial, com a implantação de um Posto do SPI na Serra do Ororubá.
Em ambos os períodos, os Xukuru afirmaram seus direitos baseados nas
memórias que seus antepassados receberam as terras como recompensa
pela participação na Guerra do Paraguai, em um contexto de disputas
pelas terras do oficialmente extinto Aldeamento de Cimbres/Ororubá, em
fins do século XIX. Procuramos então evidenciar os nexos estabelecidos
pelos índios, por meio de suas memórias orais, com o século XIX e os
anos 1950/1960, e ainda em fins da década de 1980, quando ocorreu o
acirramento dos conflitos nas disputas entre índios e fazendeiros pelas
terras na Serra do Ororubá, após a participação dos índios nas discussões
para a elaboração da Constituição de 1988, que garantiu os direitos
indígenas. A partir da pesquisa dessas memórias e em fontes escritas,
buscamos demonstrar como os Xukuru vivenciaram diferentes situações
e elaboraram estratégias para afirmação da identidade e reivindicação
dos direitos sobre as terras.
Para a elaboração do estudo foram realizadas diversas
entrevistas e registrados relatos orais das memórias Xukuru. Utilizamos
também, em alguns momentos, além de uma coletânea de depoimentos
Xukuru publicados, as informações coletadas por outros estudiosos que
pesquisaram aquele povo com diferentes abordagens. Realizamos uma
pesquisa documental em diferentes fontes manuscritas e impressas dos
séculos XIX e XX, somando-se a consulta em jornais publicados em
Pesqueira e no Recife, entre os anos 1940-1980, disponíveis no Arquivo
Público de Pernambuco e microfilmados na Fundação Joaquim Nabuco,
no Recife. Além disso, buscamos fontes em outros arquivos, como os
documentos produzidos por Curt Nimuendajú, disponíveis no Museu do
Estado de Pernambuco (MEPE) e no Museu Nacional/RJ, com informações
40 Edson Silva
Na elaboração do primeiro capítulo a finalidade foi apresentar e
analisar como, desde os fins do século XIX, após a extinção dos aldeamentos
e até os anos 1960, as autoridades oficiais e diferentes pesquisadores, em
artigos e livros publicados, sistematicamente questionaram ou negaram
a existência de uma população indígena na Serra do Ororubá, onde
atualmente habitam os Xukuru. Encerramos esse capítulo retomando
brevemente, baseados a partir das análises de João Pacheco de Oliveira,
a discussão sobre os índios Nordeste contemporâneo.
Procuramos demonstrar, no segundo capítulo, como os Xukuru
recorrem às memórias sobre a Guerra do Paraguai, para afirmar a
legitimidade de suas reivindicações do território disputado com os
fazendeiros. A opção foi fazer uma discussão fundamentada na pesquisa
documental e nas falas dos entrevistados. A pesquisa documental
procurou situar o quadro histórico a que se remetiam as narrativas das
memórias indígenas.
No capitulo terceiro buscamos descrever a Serra do Ororubá
enquanto espaço de disputas entre índios, pequenos agricultores e
fazendeiros. A partir de relatos orais que os indígenas ouviram de seus
antepassados sobre a posse e o uso da terra, e de uma bibliografia em
que foram citados relatos e esboçadas imagens do final do século XIX e
início do século XX, sobre as condições ambientais na Serra, invadida
pelos grandes criadores de gado, e nas áreas úmidas, por engenhos de
cana produtores de rapadura, com o trabalho da mão-de-obra indígena.
Foram utilizadas as informações sobre a produção industrial de doces
e conservas, em fábricas de propriedade dos fazendeiros, instaladas em
Pesqueira nos anos 1950, com plantios de frutas em partes consideráveis
das terras indígenas, bem como os indicadores de pobreza, fome,
mortalidade e desnutrição infantil ocorridas na Serra e nas periferias
urbanas do município, à margem do progresso industrial, principalmente
durante as secas periódicas na região. Foram evidenciados ainda os
sítios enquanto espaços de sociabilidades por meio das festas, novenas,
o trabalho em mutirão e as relações do cotidiano. Por fim, Cimbres foi
tratada como espaço de identidade e de memórias, expressas nas festas
religiosas e rituais anuais e, principalmente, na dança do Toré.
42 Edson Silva
1981, no qual os Xukuru são descritos como remanescentes de caboclos
“totalmente aculturados”, confrontando as afirmações do texto oficial
com a abordagem histórica das situações evidenciadas em nosso estudo.
Evidenciamos principalmente a mobilização Xukuru que apoiados pelo Cimi-
NE, após participarem do processo da Assembléia Nacional Constituinte, em
fins da década de 1980, passaram a reivindicar os direitos às suas terras,
garantidos na Constituição aprovada em 1988. Liderados pelo Cacique
“Xicão” posteriormente os Xukuru iniciaram as retomadas das terras sob o
domínio dos fazendeiros, justificando seus direitos baseados nas memórias,
pois as terras foram recompensas pela participação de seus antepassados
como voluntários na Guerra do Paraguai. As memórias Xukuru se situam
na dinâmica das experiências históricas, a partir do vivido, o concebido e o
expressado.
As análises em nossa pesquisa foram alicerçadas pelas reflexões de
estudos sobre as memórias e as suas relações com a História, em autores
clássicos como Maurice Halbwachs, como também nas idéias recentes de
Michael Pollak e Verena Alberti, sobre o assunto. Permeia a abordagem ainda
uma visão em uma abertura para o diálogo multidisciplinar com as recentes
discussões antropológicas sobre os índios no Nordeste, que favorecem o
estudo proposto.
A bibliografia utilizada em função da documentação primária e
das obras datadas analisadas, bem como das abordagens que adotamos, se
baseia na produção mais recente a respeito dos temas presentes no estudo
e sobre os povos indígenas. Nesse sentido, além das produções atuais e os
vários artigos publicados em periódicos que de alguma forma trataram de
assuntos relacionados à nossa pesquisa, recorremos também a dissertações e
teses acadêmicas. No caso específico sobre os Xukuru, foram de grande valia
o estudo de Vânia Fialho (SOUZA, 1989) e o de Kelly Oliveira (OLIVEIRA,
2006).
No primeiro estudo originalmente uma pesquisa para o Mestrado
em Antropologia, foi baseado na observação participante e em entrevistas,
além de fontes documentais dos séculos XIX e XX. A partir do conceito de
“campo intersocietário” elaborado por João Pacheco de Oliveira e na idéia
de “drama social” proposta por Victor Turner, foi analisada a afirmação
44 Edson Silva
Paraguai, o período da tutela do SPI, as migrações indígenas e as Ligas
Camponesas, que não foram aprofundados em razão da natureza e das
propostas dos objetos daqueles dois citados estudos. Em nossa pesquisa
retomamos e procuramos então discutir a partir de uma abordagem
histórica esses temas.
48 Edson Silva
Os habitantes dos lugares onde existiram antigos aldeamentos
passaram a ser chamados de caboclos, condição muitas vezes assumida
por eles para esconder a identidade indígena diante das inúmeras
perseguições. A essas populações foram dedicados estudos sobre seus
hábitos e costumes, considerados exóticos, suas danças e manifestações
folclóricas, consideradas em vias de extinção, como também aparecerem
nas publicações de escritores regionais, cronistas e memorialistas
municipais que exaltam de forma idílica a contribuição indígena nas
origens e formação social de cidades do interior do Nordeste.
Escritores e vários estudiosos, como Gilberto Freyre, Estevão
Pinto, Câmara Cascudo, dentre outros, reafirmaram o desaparecimento
dos indígenas no processo de miscigenação racial, integração cultural e
dispersão no conjunto da população regional. Discutiremos, a seguir,
alguns desses textos que, a partir dessa perspectiva, se referiram aos
Xukuru, na ordem cronológica em que eles foram publicados, desde as
primeiras décadas do século XX até os anos 1960, período contemporâneo
ao recortado para o início do nosso estudo.
A imagem do caboclo aparece em obras literárias sobre
fatos pitorescos, recordações, “estórias” das regiões Agreste e Sertão
pernambucano. Como personagens “típicos” e curiosos que buscavam se
adaptar às novas situações de sem-terras, vagando em busca de trabalho
para sobrevivência, a exemplo João Mundu, no conto “O caboclo”,
publicado por Estevão Pinto no livro Pernambuco no século XIX. Esse
livro, de 1922, é uma coletânea de crítica de costumes e descrições de
tipos populares. No referido conto, o autor respondeu a sua própria
pergunta: “Quem era João Mundu? O caboclo pernambucano, o cruzado
de elementos dispares e formadores, a soldagem que se diluía na fluidez
dos termos — cariboca, mamaluco, ‘tapanhuma’, carijó...”. (PINTO, 1922,
p.105).
No texto, lemos ainda:
Seus avós, cariris ou sucurus, occupavam-se em fazer os ar-
cos e tacapes, fabricavam partazanas da branca ‘ubiritanga’
e cortavam, donde lhes parecia melhor, da sapucaia ou do
genipapeiro, os eixos de moer e o remos de canoa...João
11
Citando o geólogo norte-americano John C. Branner que estivera entre os índios em
Águas Belas no último quartel do século XIX, Estevão Pinto escreveu; “segundo Branner,
a tribo nativa de Águas Belas, denominada pelos alienígenas de Carnijó, chamava-se a si
própria de Fulniô, usando ainda uma espécie de designativo para distinguir-se dos demais
grupos de silvícolas do Brasil” (PINTO, 1956, P.61).
50 Edson Silva
“João Mundu”, o caboclo pernambucano do
século XIX.
52 Edson Silva
E continuou caçando, já agora por tudo que fosse sítio dos cabo-
clos xucurus, que plantavam roças nas quebradas da Serra do
Ororubá e bebiam aguardente, depois das novenas de maio e
da Senhora Sant’Águeda, resadas na capelinha de “Pai Simplício”.
(SANTOS, 1970, p.47) (Grifamos).
54 Edson Silva
“Remanescentes”, “caboclos mesclados” e “restos dos
índios Sukurú de Cimbres”
Para o verbete “caboclo” contido no Vocabulário de
Pernambucano, Pereira da Costa fez uma pesquisa do uso da palavra
desde os primeiros tempos da colonização do Brasil e seu emprego
por administradores, missionários e viajantes, pelos séculos seguintes,
concluindo que,
O vocábulo, porém, que out’ora tinha uma expressão depre-
ciativa, injuriosa mesmo ao infeliz aborígene como vimos,
constitue hoje, e vinda naturalmente já de longe, uma dicção
familiar de affecto, intima, carinhosa mesmo: Meu caboclo;
caboclo velho; que bonita cabocla! Phrase e ditados popu-
lares: Somos caboclos na mesma aldeia; Espingarda em mão
de caboclo; Caboclo não quer mingáo; mingáo no caboclo;
Caboclo gato põe ovo? (PEREIRA DA COSTA, 1976, p.145).
(Grifos do autor).
56 Edson Silva
uma grande canna de assucar nos hombros. Assim passam
uma noite com uma dansa monótona, repetindo a mesma
cantiga, acompanhada ao som de 2 ou 3 pifanos.
58 Edson Silva
“Aldeia do Ararobá”, afirmou que as investigações de Nimuendajú eram
de primeira importância, em razão da “identificação dos remanescentes
indígenas”, criando um neologismo para expressar sua visão sobre a
situação: ocorria uma “defamiliarização”. (Grifamos).
Após registrar a produção de esteiras e de “grosseira” cerâmica,
Melo afirmou a não filiação dos “xucurus” com outra família indígena.
Mário Melo teceu considerações sobre o processo de fabricação dos
utensílios de cerâmica, concluindo: “não andaram em contacto com
outras tribus mais adiantadas”. O autor pernambucano terminou seu
artigo reiterando a necessidade de meios públicos que favorecessem
“estudar e identificar os remanescentes indígenas”, encontrados em
“pequenos grupos” na Serra Negra, na Serra de Tacaratu, em Rodelas, no
Sertão, pois se tratava de um “material precioso que vai desaparecendo
sem deixar vestígios”. (1935, p.45) (Grifamos).
O conhecido Secretário Perpétuo do IAGHP, editor da sua Revista
e assim também um “homem de ciência”, Mário Melo, além de professor,
foi um jornalista muito atuante na imprensa. Bacharel em Direito,
deputado estadual, notabilizou-se ainda como filólogo, escritor, folclorista,
pesquisador da historia e geografia de Pernambuco. Escreveu dezenas de
artigos sobre diversos temas e publicou livros em sua maioria exaltando
o heroísmo pernambucano nas revoltas liberais de 1817 e 1824. Além do
citado artigo sobre os Xukuru, publicou outros a respeito dos Fulni-ô, em
jornais do Recife e na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. Já em
1928, no Congresso Brasileiro de Geografia, realizado no Espírito Santo,
ele sensibilizara os presentes para a defesa dos Carnijós, por se tratarem
de “uma relíquia histórica”.12
Quando afirmou, ao longo do texto e nas conclusões de seu artigo
sobre os “xucurus”, a necessidade de estudar “os remanescentes indígenas”
que, nas citadas localidades do Agreste e Sertão pernambucano estavam
“desaparecendo sem deixar vestígios”, Mário Melo fez comparações entre
o primitivo/degenerado, o bárbaro/moderno. O autor expressou, nesse
e em seus demais artigos publicados, uma perspectiva que via os índios
12
Diário de Pernambuco, Recife, 20/06/1928, p.1.
60 Edson Silva
Ainda em 1948, Maciel foi o responsável por responder ao
questionário enviado pelo IBGE aos municípios brasileiros, em que
algumas das questões eram relacionadas às populações índígenas. José
Maciel publicou suas respostas e comentários em uma série de artigos no
jornal “A voz de Pesqueira”. Respondendo a questão sobre a existência de
tribos indígenas no município, afirmou o pesquisador: “Não mais existem
tribos indígenas no município. Há remanescentes, em grande número
que habitam a serra do Ororubá, chamados ‘caboclos da serra’ e que
falam o idioma português, mesclados ligeiramente de termos da língua
nativa”. (Grifamos). Em resposta a uma outra questão, escreveu que: “Não
consta ter havido deslocamentos de tribos neste município: o que se vem
operando como correr dos tempos, é o cruzamento e consequentemente
a assimilação.” 15 (Grifamos).
Em relação às festividades cívicas e religiosas ocorridas no âmbito
municipal, escreveu Maciel: “Em Cimbres os caboclos remanescentes dos
Xucurus, em indumentária semelhante a primitiva, dançam o ‘toré’ nas
tradicionais festas da padroeira e de S. Miguel”.16 (Grifamos). E sobre
as crenças religiosas: “Nenhuma crença antiga de origem indígena ou
africana, existe no município a não ser a secular devoção dos caboclos,
remanescentes dos Xucurus a N. S. das Montanhas de Cimbres”.17
(Grifamos).
O então renomado pesquisador municipal não reconhecia a
existência de índios na Serra do Ororubá, tampouco em Cimbres, antigo
centro da implantação administrativa colonial na região do Agreste, onde
fora fundada a Missão do Ararobá entre os índios Paratíó e Xukuru, em
meados do século XVII. Para ele, os índios estavam vinculados a um
passado distante, heróico, como o da Guerra do Paraguai. O que existia
em Pesqueira eram os descendentes, remanescentes dos Xukuru.
A pedido do Bispo de Pesqueira, em 1951, o então exaltado
pesquisador José de Almeida Maciel realizou, em um clube social daquela
cidade, a rememorada e longa palestra “Vila de Cimbres”, na qual esteve
15
A voz de Pesqueira. Pesqueira, 21/11/1948, p.2.
16
A voz de Pesqueira. Pesqueira, 28/11/1948, p.4.
17
A voz de Pesqueira. Pesqueira, 05/12/1948, p.1.
18
A voz de Pesqueira. Pesqueira, 22/07/1951, p.4
19
A voz de Pesqueira. Pesqueira, 19/08/1951, p.3.
62 Edson Silva
da nossa serra de Ororubá e da aldeia de Comunati, de Águas Belas”20
(Grifamos).
Pesquisador notável e reconhecido como historiador do
município, nascido em Pesqueira, em 1884, José de Almeida Maciel foi
um tradicional comerciante, professor municipal e Major da Guarda
Nacional. Como político, foi vereador, Vice-Prefeito e Prefeito de
Pesqueira e Presidente do Conselho Municipal. Foi cassado em 1930
e reeleito vereador em 1947. Era integralista, um conservador católico
romano praticante e devoto. Em reconhecimento por suas pesquisas, foi
eleito Sócio Correspondente do IAHGP, a partir de 1951. Cronista que
publicou muitos artigos em jornais locais e da Capital, era um autodidata
que se dedicou incansavelmente à pesquisa sobre a história de Cimbres e
Pesqueira, méritos exaltados em comentário necrológico de Mário Melo.21
O pesquisador pesqueirense foi aclamado pela sua vasta produção,
conhecimentos históricos e geográficos do município e da região em seu
entorno. Por essa razão, ele detinha um considerável capital simbólico,
uma vez que “o campo de produção erudita” deve ser compreendido
“enquanto sistema que produz bens culturais” (BOURDIEU, 1992, p. 105).
Sua autoridade de “historiador” foi reconhecida pelas elites intelectuais
e sociais locais, como comprovou sua palestra sobre Cimbres a convite
do Bispo de Pesqueira, também uma autoridade municipal. Assim, ele
participava do “sistema das relações constitutivas do campo de produção,
de reprodução e de circulação de bens simbólicos”. (BOURDIEU, 1992,
p. 105).
Seu reconhecimento como um especialista na história municipal
resultava dos seus conhecimentos e favoreceu as suas relações com
as autoridades e instituições como a Igreja Católica Romana local e o
IAHGP. Isso por que:
Todas as relações que os agentes de produção, de reprodução
e de difusão, podem estabelecer entre eles ou com institu-
ições específicas (bem como a relação que mantém com a
20
A voz de Pesqueira. Pesqueira, em 04/06/1950, p.4
21
Grande perda para Pesqueira. Jornal do Commercio, Recife, 18/05/1957, Crônica
da Cidade, p.6
22
Aniversário de José de Almeida Maciel, A voz de Pesqueira. Pesqueira 20/7/1952, p.1.
23
Homenagem ao Professor José de Almeida Maciel. A voz de Pesqueira. Pesqueira,
23/03/1953, p.1.
64 Edson Silva
seus escritos, nos quais ele privilegiou extensas genealogias e biografias
dos considerados grandes homens fundadores e civilizadores municipais.
Enfatizando os grandes feitos dessas figuras eleitas como personalidades
históricas marcantes de Pesqueira e da região circunvizinha do Agreste
pernambucano. Enfim, uma perspectiva histórica em que os índios, e
mais especificamente, os antigos habitantes da Serra do Ororubá,
ocuparam uma posição marginal e marginalizada, em seus textos.
Escrevendo e publicando sobre a história municipal, na mesma época
em que os Xukuru iniciavam os contatos com o SPI e eram logo depois
oficialmente reconhecidos, com a instalação de um Posto do órgão
indigenista na Serra do Ororubá, José de Almeida Maciel ignorou esse fato
e as mobilizações indígenas naquele período. Os índios, nos escritos de
Maciel, foram relegados a um passado idílico. E, uma vez desaparecidos,
no presente restavam seus descendentes em degeneração, os caboclos.
Outros pesquisadores da época expressaram idéias semelhantes.
Acompanhando a trajetória intelectual de Estevão Pinto,
constatamos que ela alcançou o auge entre as décadas de 1930 e 1950,
período no qual o autor publicou um grande número de artigos e os
livros sobre os indígenas. Nascido em Maceió, em 1895, Pinto veio para
o Recife cursar Direito e nesta cidade constituiu família. Sócio do IAHGP,
a partir de1922 começou a publicar seus primeiros artigos históricos
em jornais recifenses. Trabalhava, assim como outros intelectuais da
época, como professor, nos tradicionais ginásios da capital, nos quais
conviveu, por exemplo, com Gilberto Freyre, Manuel Correia de Andrade,
Waldemar Valente, Costa Porto, Amaro Quintas, dentre outros. Em sua
casa trabalhou Nãna, índia fulni-ô que esteve com a família de Estevão
Pinto por mais de quarenta anos (ROCHA, 1992, p.8). Possivelmente essa
presença indígena nos limites domésticos tenha motivado, influenciado
e colaborado em muito para os estudos do autor sobre os índios,
particularmente os Fulni-ô.
O primeiro volume de Os indígenas do Nordeste, com o subtítulo
“Introdução ao estudo da vida social dos indígenas do Nordeste brasileiro”,
é uma minuciosa pesquisa bibliográfica e documental ilustrada com
mapas, quadros e fotografias. Foi publicado por Estevão Pinto, em 1935.
66 Edson Silva
As afirmações do autor expressam explicitamente a idéia
do desaparecimento do índio, fundamentada na mistura de raças
iniciada com a colonização portuguesa no Nordeste; assim, o caboclo
“xantodermo”, ou seja, aquele com a pele de cor amarelada ou ocre,
resultante dessa miscigenação, ainda que carregasse traços físicos do seu
antepassado indígena, significava o fim deste. Isso explica porque o autor
não considerou a existência contemporânea ao seu estudo de índios em
Cimbres, referindo-se aos “sucurús” no passado.
A obra Os indígenas do Nordeste recebeu efusivas acolhidas de
estudiosos da época, dentre os quais elogios de Gilberto Freyre e Pedro
Calmon, que saudaram a erudição, a capacidade de interpretação e
síntese do autor. O antropólogo Herbert Baldus fez também uma resenha
crítica favorável, publicada na Revista do Arquivo Municipal de São
Paulo, em 1938. (ROCHA, 1992, p.193-196; 280). Com Os indígenas do
Nordeste Estevão Pinto passou a ser conhecido no Brasil e no exterior,
realizando conferências, participando de congressos, publicando artigos.
Naquele mesmo ano, o autor realizou uma viagem de pesquisa para o
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, resultando em um
artigo intitulado “As máscaras de dança dos Pankararu”, com o subtítulo
“remanescentes indígenas dos sertões de Pernambuco”. O artigo foi
publicado no Recife e republicado em revistas na Argentina, em Lisboa e
no Journal de la Société des Americanistes. (ROCHA, 1992, p.196).
Nos anos seguintes, Estevão Pinto publicou outros artigos em
periódicos nacionais e na imprensa pernambucana e, em 1952, foi a Paris,
onde fez uma conferência sobre a Antropologia no Brasil, na Sorbonne.
Entre 1953 e 1955, Pinto publicou, em jornais do Recife, artigos sobre os
Fulni-ô, ora defendendo que eles vivenciavam uma “cultura em transição”
ou que estavam ameaçados de extinção. Encontramos na documentação
do SPI um telegrama da 4ª Inspetoria Regional, informando que Estevão
Pinto, em 1953, estava realizando pesquisas sobre o vocabulário Fulni-ô16.
No artigo “Remanescentes indígenas”24, assinado por “Z” e
publicado no jornal Diário de Pernambuco, em 1955, foi enfatizada
24
Diário de Pernambuco, Recife, 16/06/1955, p.4.
68 Edson Silva
europeus e norte-americanos (ROCHA, 1992, p.69; 206). Estevão Pinto
enfatizou as péssimas condições de vida em que se encontravam os
chamados “caboclos”, pelo autor, dependentes dos arrendatários e sem
quase assistência do SPI.
Ao tratar da “mudança cultural entre os índios de Águas Belas”,
o autor apresentou um levantamento minucioso de elementos da
cultura material de origem alienígena, a dos “remanescentes indígenas”.
Concluindo que a cultura indígena se achava em vias de desaparecimento,
daí porque ele acreditava e afirmava serem os Fulni-ô “os últimos tapuias”,
pela aculturação e assimilação.
Nesse estudo sobre os Fulni-ô, ao citar os postos do SPI então
instalados no Nordeste, Estevão Pinto reconheceu a existência dos Xukuru,
citando-os também em Palmeira dos Índios (AL), quando escreveu: “Na
Fazenda Canto vivem perto de 80 descendentes dos Shucurus; outros,
mais numerosos estão espalhados pela serra de Ararobá ou Ororobá”.
O autor repetiu o que escrevera no primeiro volume do livro em que se
propôs tratar dos índios no Nordeste, ao citar as localidades da Paraíba
onde habitavam os Xukuru, no Período Colonial.
Em seu novo estudo, Pinto citou ainda o sertanista do SPI Cícero
Cavalcanti e o antropólogo norte-americano Hohenthal, que visitara os
Xukuru entre 1951 e 1952, e concluiu afirmando que: “No momento, os
Shucuru vivem nos ‘sítios’ de Canabrava, Brejinho, Caldeirão, Machado,
Lagoa e alguns mais”, voltando a afirmar a presença de Xukuru em
Palmeira dos Índios, vivendo em “íntima relação” com os Wakona, que se
autodenominavam “Shucuru-Cariri” (PINTO, 1956, p.26-27). Observemos
que, nas afirmações do autor, não há nenhuma informação mais precisa
sobre as condições em que, na época, viviam os chamados “Shucuru”, o
que pode dar ao leitor uma idéia vaga a respeito desse grupo indígena,
além da impressão de tratar-se de indivíduos em sua maioria dispersos.
Ainda nesse mesmo livro, quando discorreu sobre as aldeias,
as missões religiosas em Pernambuco e os hábitos culturais dos grupos
indígenas, Estevão Pinto chamou os Xukuru de “caboclos” já muito
misturados, quando escreveu:
70 Edson Silva
1934, chegou ao Recife, onde, por recomendações antecipadas de Carlos
Estevão, foi bem recebido por Mário Melo que escreveu posteriormente
sobre a satisfação do encontro, que “aguçara a sua vaidade”, ao saber
que Curt conhecera os seus artigos sobre os “Carnijó”, publicados na
imprensa pernambucana. Em uma pesquisa mais recente, encontramos
que Nimuendajú viera conhecer os Fulni-ô e os Xukuru a serviço do Museu
Nacional/RJ (WELPER, 2002, p.60), embora o que lemos em um estudo
anterior nos leva a crer que os custos dessa viagem a Pernambuco tenha
sido favorecidos pelo Carnegie Institution de origem norte-americana.
(GRUPIONI, 1998, p.184).
25
Carta de Curt Nimuendajú, Recife 12/10/1034, para Heloísa Alberto Torres. Museu
Nacional/RJ, Setor de Linguística Arquivo CN/MN.
72 Edson Silva
espanadores, para Nimuendajú apenas tinham de “original somente o
material. Tanto a técnica como os tipos são modernos”. Diferentemente,
se comparados com os índios de Cimbres, que fabricavam “mais umas
coisinhas”, além dos utensílios adquiridos por Nimuendajú. 26
A visão de uma cultura indígena primitiva congelada, da perda
cultural pela assimilação frente a uma modernização, com a degeneração
dos índios, aparece expressa no relato que Curt Nimuendajú fez da sua
estada entre os habitantes dos extintos aldeamentos de Cimbres e Panema
(Águas Belas). Essas impressões e critérios usados por Nimuendajú para
uma suposta classificação etnológica sobre a ausência de uma identidade
“Sukurú” foram reproduzidos no anteriormente citado artigo publicado
por Mário Melo, em 1935, na Revista do IAHGP.
As concepções de Nimuendajú sobre os índios de Cimbres e
Águas Belas em muito se aproximavam da idéia de mestiçagem como base
da formação do povo brasileiro, defendida por Gilberto Freyre. Talvez por
esse motivo Freyre se mostrou interessado no relato de Curt Nimuendajú.
É o que afirmou Heloísa Torres, em carta endereçada a Nimuendajú: “O
Dr. Gilberto Freyre, a quem falei dos seus trabalhos em Pernambuco, ficou
muitíssimo interessado”. Heloísa solicitava autorização a Nimuendajú
para repassar a Freyre as “notas” contidas na carta que ele lhe enviara,
relatando sua visita aos índios em Pernambuco. Heloísa afirmava ainda
para Nimuendajú que acreditava ser de muita importância, “do máximo
interesse”, a publicação “das suas notas sobre os seus trabalhos recentes
em Pernambuco”, e perguntava: “Porque importância quer ceder ao
Museu a sua pequena coleção feita em Cimbres?”.27
Respondendo de Belém/PA, dois anos depois, Nimuendajú
autorizou Heloísa a cessão, a Freyre, do relato da sua visita a Pernambuco,
acrescentando,
Os meus conhecimentos neste ponto são tão fragmentários
26
Carta de Curt Nimuendajú, Recife 12/10/1034, para Heloísa Alberto Torres. Museu
Nacional/RJ, Setor de Linguística Arquivo CN/MN.
27
Carta de Heloísa Alberto Torres, Rio de Janeiro 25/09/1936, a Curt Nimuendajú. Museu
Nacional/RJ, Setor de Linguística Arquivo CN/MN, Correspondências 1936/1938, CVO
fotograma 1/3, p.25.
74 Edson Silva
“Sukurú” lemos, entre parênteses, “Levantado com os índios José Romão,
Chico Rodrigues, Romão da Hora e José Pereira, na Villa de Cimbres e
na Serra de Ororobá, 21-26 de setembro de 1934”30. Nas entrevistas que
realizamos, esses nomes foram citados por diversas vezes. Os Romão
foram também considerados quase todas às vezes, pelos/as entrevistados/
as, como líderes Xukuru daquele período. As palavras que aparecem na
lista, em sua maioria, são as que nomeiam partes do corpo humano,
animais, alimentação, objetos e situações do cotidiano. Alguns desses
vocábulos foram reproduzidos por Mário Melo, no seu já citado artigo
publicado na Revista do IAHGP.
É surpreendente que Curt Nimuendajú tenha afirmado que o
seu relato possuía um caráter “fragmentário” e, por que não dizermos
superficial, no entanto, com ênfases conclusivas definitivas. Localizamos
o que pode ser uma cópia da carta de 1934 de Curt Nimuendajú, no
acervo das correspondências passivas de Gilberto Freyre, no Recife. O
documento contém uma anotação a lápis grafite: um convite a Freyre
para ida ao Rio de Janeiro assinado por “Heloísa”31. Segundo Estevão
Pinto, a referida carta foi publicada no Handbook of South Indians Vol. I
p.382-383. (PINTO, 1956, p.32).
Em uma correspondência de 1937 à Direção do Museu
Nacional, três anos depois da visita de Curt Nimuendajú a Pernambuco,
lê-se uma lista de “material ethno-geographico” que o pesquisador
“offerece ao Museu Nacional”. A carta descreve, dentre outros itens,
“peças” dos “índios Cherente/Tocantis”, e mais “Uma série de 17 peças
colhidas entre os remanescentes da tribu Chucurú Cimbres, Estado de
Pernambuco. Acompanhará o material uma colleção de 25 photos”.32
30
MEPE, Coleção Carlos Estevão, (Acervo Curt Nimuendajú), pasta 1. (em organização).
31
Fundação Gilberto Freyre, Correspondências GF/CR 140.
32
Carta de Curt Nimuendajú, Belém/PA, 20/09/1937, ao Diretor do Museu Nacional no
Rio de Janeiro. Museu Nacional/RJ, Setor de Linguística Arquivo CN/MN, Correspondên-
cias 1936/1938, CVO fotograma1/3, p.26
76 Edson Silva
No acervo das correspondências microfilmadas de Nimuendajú,
encontramos também um pequeno “bilhete”33, datado de Cimbres, 1934,
dirigido a Curt Nimuendajú, por José Romão Siqueira. O “bilhete” foi
redigido com letras bem desenhadas, em um papel que traz no canto
superior esquerdo a imagem de uma santa católica romana (N. Sra. das
Montanhas, Padroeira de Cimbres?!), acusava o recebimento de uma
carta com “retratos” enviados por Curt e que foram distribuídos aos
fotografados. José Romão Siqueira cobra de Nimuendajú outras fotos,
“inclusive os meus fardados”, afirmando esperar receber o solicitado,
como fora prometido de ser enviado.
Do pequeno texto do “bilhete”, podemos inferir, dentre outras
coisas, que, além da relação próxima estabelecida entre Nimuendajú e
os índios em Cimbres, ocasionada pela permissão para tirar as fotos e
o envio delas, pela troca de correspondências, Romão era alfabetizado
e, tomando a iniciativa de escrever a Nimuendajú, ao que tudo indica
exercia um papel local de liderança. Outros aspectos a serem levados em
consideração foi o papel com a imagem usado no “bilhete”, o que pode
significar as estreitas relações dos índios com a Paróquia de Cimbres.
E ainda, que foram tiradas fotos de índios “fardados”, ou seja, com as
vestimentas de palha ainda hoje usadas pelos Xukuru nas cerimônias
religiosas que ocorrem anualmente em Cimbres.
Localizamos além de fotos de casas dos “Carijós”, uma foto de
uma mulher fabricando utensílios cerâmicos, que pode ser (já que não
existe legenda,) uma índia Xukuru fabricando as panelas que Nimuendajú
enviou para o Museu Nacional/RJ, hoje encontrado no acervo daquela
instituição.
33
Carta (“bilhete”?) de José Romão Siqueira, em 30/10/1934, a Curt Nimuendajú.
Arquivo CN/MN, Correspondências 1930/1934, CVO fotograma 2/3, p.23.
78 Edson Silva
esporádicos com grupos indígenas, nos mais variados lugares, cuja
observação das peculiaridades da aparência visual étnica, motivou o seu
registro imagético”. (MELANIAS, 2006, p.36).
80 Edson Silva
(Grifamos). Nimuendajú reafirmava sua crença no desaparecimento dos
“Sukurú”, assimilados pela população envolvente, ou seja, ele continuou
pensando que a aculturação dos índios de Cimbres era um caminho
natural e progressivo e por esse motivo sequer valeria a pena escrever
sobre eles.
82 Edson Silva
específicas. A idéia de impureza étnica caracterizadora daquele grupo
indígena ficou mais clara quando ele os chamou de caboclos, “os caboclos
mais velhos reuniam-se algumas vezes por ano para realizar seus ritos”.
(CAVALCANTI, apud, ANTUNES, 1973, p.41). (Grifamos). As concepções
de Cavalcanti provinham de sua própria história anterior de contato
com os índios, em outras regiões. Ele viajara por postos indígenas do
Mato Grosso, organizados logo após as frentes de instalações das linhas
telegráficas, sob o comando de Rondon, conhecendo os impactos dessas
frentes para os grupos indígenas naquelas regiões. Depois da apresentação
a Rondon de suas pesquisas sobre “línguas e costumes indígenas”, ele foi
convidado pelo militar para trabalhar no SPI, inicialmente como auxiliar
de sertão (FREIRE, 2005, p. 328).
O sertanista descreveu ainda as perseguições aos “Xucurus”,
impedidos de realizar seus rituais religiosos:
Os brancos denunciaram-lhes de catimbozeiros a polícia. Os
chefes de culto, José Romão Jubêgo e Luiz Romão Nure foram
intimidados a comparecer a delegacia. Eles estão vedados de
praticar o “Seu” segredo, ou seja, o “Seu” Ouricuri pela polícia.
Romão e Luiz conhecem bastante de ervas medicinais. Eles
têm feitos inúmeras curas que tem causado admiração aos
próprios médicos. ‘Os civilizados’ deram também denúncias
contra os dois caboclos, tendo a polícia os proibido de cu-
ratórias (Antunes, 1973, p. 41).
84 Edson Silva
conservavam alguns vocábulos e frazes com os quais se exprimem nos
assuntos que lhes são peculiares com auxílio de palavras em português”
(ANTUNES, 1973, p. 42). Ora, a partir de qual parâmetro Cavalcanti
poderia fazer tal afirmação sobre a fala correta dos “xucurús”? O que ele
escreveu revela mais uma vez não somente as suas concepções de pureza
cultural, como também sua visão das relações dos índios no quadro social
em que estavam inseridos.
Em sua reunião de novembro de 194436, o Conselho Nacional de
Proteção aos Índios (CNPI) ouviu o relato de José Maria de Paula, Diretor
do SPI que, acompanhado do Chefe da Inspetoria Regional IR4, viajara
recentemente aos Estados de Pernambuco e Paraíba. O Diretor afirmou
ter percorrido a Serra do Ororubá e verificado “que se trata de terreno
que há anos e anos vem sendo parcelado e vendido ou transferido, por
herança, pelos descendentes dos índios Urubú”. (Grifamos).
Dizia ainda José Maria:
Desses antigos descendentes existem muito poucos, mas in-
teiramente ligados à população rural que trabalha nos en-
genhos, mas sem hábitos tribais. Já não falam a língua, já
não conservam a tradição – são enfim o que se chamam
trabalhadores nacionais. Alguns não têm sequer vestígios de
índios. Falei por exemplo com um que estava sendo aureo-
lado como índio legítimo e que me disse que era remotíssima
a sua origem indígena. Por motivo independente do espírito
do SPI não podemos dar assistência a todos esses descen-
dentes. (Grifamos).
Museu do Índio/RJ
86 Edson Silva
em todo o Brasil. Congregar todos aqueles que se interessam
pela matéria, a fim de coordenar gente ao núcleo central, em
benefício da etnografia.37
Não foi, portanto, sem motivos que, findo seu relato, José Maria
recebeu as felicitações do General Rondon, pelo cumprimento da missão
de que fora encarregado.
37
Relatório Anual do CNPI, 1944/Ata da 14ª Sessão (versão não microfilmada). SEDOC/
Museu do Índio/RJ
38
Ofício de José Maria da Gama Malcher, Diretor do SPI, Rio de Janeiro em 7/08/1951,
para Chefe da 4ª Inspetoria Regional do Serviço de Proteção aos Índios. Museu do Índio/
Sedoc, microfilme 182, fotograma 265.
39
Ofício de Raimundo Dantas Carneiro, Chefe da IR4 SPI, em 06/05/1952, para o Diretor
de Carteira de Expedição do Banco do Brasil Recife. Museu do Índio/Sedoc, mic. 182,
fotog. 292.
40
Relatório de viagem aos índios da I.R.4, pelo Dr. William D. Hohenthal Jr. no ano de
1952, p.2. Museu do Índio/Sedoc, mic. 379, fotog. 798-821.
88 Edson Silva
um Relatório que viesse justificar, apesar dos argumentos contrários
apresentados anteriormente por José Maria de Paula, junto à Diretoria no
Rio de Janeiro, a necessidade da instalação de um posto do SPI naquela
localidade. Isso fica claro quando Hohenthal afirmou, na introdução da
sua brevíssima descrição sobre os “Shucurú”, que a cópia de um relatório
por ele elaborado em 1951 e entregue “a pedido do Dr. Raimundo
Dantas Carneiro, chefe da 4ª IR”, fora remetido à Diretoria do SPI/RJ. Não
conseguimos localizar a cópia do referido relatório, que possivelmente
serviu de base para a elaboração de um texto ou talvez tenha sido o
mesmo publicado sob o título “Notes on the Shucurú indians of Serra
Ararobá, Pernambuco, Brasil”, na Revista do Museu Paulista, em 1954. 41
Lendo o que escreveu o etnólogo norte-americano sobre os
“Shucurú”, percebemos de pronto sua determinação em classificar
os índios na Serra do Ororubá como mestiçados. Os critérios para
essa classificação foram a suposta ausência de uma cultura material
originária e a inexistência de uma língua nativa. Hohenthal também
utilizou comparações, como fizeram outros pesquisadores sobre o
grupo, para explicar os vocábulos indígenas coletados. Suspeitava serem
originalmente “Tupi”, muito embora na introdução geral do seu Relatório
tenha afirmado que os grupos indígenas visitados deviam ser classificados
como “Tapuias”, que estes grupos não eram nem Gê nem Tupi. Diante
de uma vaga memória cultural, da falta de uma língua nativa corrente e
da enfatizada mestiçagem dos “remanescentes dos Shucurú”, o etnólogo
propôs classificá-los na categoria “Afro-índos”, o que, além de negar a
identidade indígena diluída na mistura com os negros, significava afirmar
também o desaparecimento dos índios.
No texto publicado pelo Museu Paulista, Hohenthal escreveu
que viajou à Serra do Ororubá tendo como guia um índio “Shucurú”,
empregado da Inspetoria .Regional do SPI no Recife.42 Possivelmente
se tratava de Jardelino Pereira de Araújo, ex-morador em Cana Brava
(“Cana Braba”), citado em vários depoimentos que colhemos como um
41
Revista do Museu Paulista (Nova Série). São Paulo, vol. VIII, p.93-166, 1954..
42
“Notes...”, op. cit., p. 95.
90 Edson Silva
integrantes foram aculturados ao ponto deles serem quase indistinguíveis
de seus vizinhos neo-brasileiros”.43 Por diversas vezes ele se referiu aos
índios em uma situação de continuidade aculturadora na convivência
circunvizinha com os “neo-brasileiros”, termo utilizado de forma ufanista
por Darcy Ribeiro (1982) para descrever, a partir de sua análise, a nova
configuração uniétnica do Brasil, constituído pelos novos brasileiros.
Na visão do antropólogo, cabia aos pesquisadores reconstituir
historicamente o passado indígena e salvar o possível do que restava,
fossem vocábulos, vestígios da cultura material, por meio da investigação
da organização social pretérita, das expressões culturais e míticas
desses povos em adiantado estado de aculturação e miscigenação. Em
seu texto sobre os “Shucurú”, o antropólogo além dos relatos oficiais
de administradores coloniais, missionários e cronistas, retomou as
informações contemporâneas de Estevão Pinto, Curt Nimuendajú, Mário
Melo e Cícero Cavalcanti, inclusive transcrevendo os vocábulos indígenas
coletados por esses últimos. Porém, ao realizar seu levantamento de
informações, Hohenthal desconsiderou os diversos contextos e situações,
bem como as origens da produção das fontes históricas por ele citadas,
quais interesses e perspectivas sobre os índios permeavam essas fontes.
Para esses autores contemporâneos a Hohenthal e citados pelo
antropólogo norte-americano, a ausência de uma pureza étnica dos
índios, em razão das misturas, resultava das relações de convivência, dos
casamentos entre indivíduos de supostos grupos originários (africanos,
lusos, índios) na região. Essa mistura, se por um lado provocava a perda
de uma essência cultural indígena, por outro lado, por meio do amálgama,
gerava uma população brasileira. Nessa perspectiva, os “Shucurú” viviam
um processo de desintegração social. Os índios, portanto, desprovidos de
sua pureza física e cultural originária, desapareciam rapidamente com o
surgimento do caboclo.
Nessa mesma perspectiva, em 1970 Darcy Ribeiro publicou a
primeira edição do livro Os índios e a civilização, com o subtítulo “a
integração das populações indígenas no Brasil moderno”. Em nota na
43
“Notes...”, op. cit., p.94.
92 Edson Silva
religioso entre os Xukuru e os Fulni-ô. Sendo que, para Ribeiro, ainda
baseado em Hohenthal Jr. e também em Estevão Pinto, os índios de Águas
Belas, apesar de “altamente mestiçados, a ponto de não poderem ser
distinguidos, pelo tipo físico da população sertaneja”, viviam separados e
conservavam sua língua originária. Além desses aspectos, para Darcy eram
nas práticas cerimoniais longe dos não-índios circunvizinhos, quando os
“Fulniô” podiam “reviver as tradições tribais e aprofundar o sentimento
de sua especificidade étnica e religiosa”. (1982, p. 54-55). Ou seja, eles
afirmavam assim, diferentemente dos “Xukuru”, uma autenticidade
indígena.
Observemos que Darcy Ribeiro classificou os índios utilizando os
mesmos critérios da permanência ou não de aspectos de uma suposta
cultura originária, em função da maior ou menor convivência e relações
com as populações não indígenas locais, e também da continuidade
do falar uma língua e a prática de rituais indígenas próprios. Assim
como fizeram os outros pesquisadores do período que já analisamos. A
concepção do antropólogo fica mais clara no texto em que ele analisou
o processo histórico de esbulhos das terras indígenas no Sertão do
Nordeste. Ele afirmou que, em função da expulsão dos seus territórios,
os índios se dispersaram, vivendo, no início do século XX, “aos bandos
que perambulavam pelas fazendas, à procura de comida” e de forma
pejorativa e talvez sarcástica, completou afirmando que “vários magotes
desses índios desajustados eram vistos nas margens do São Francisco”
(1982, p.56).
Na continuidade do seu texto, quando tratou das relações dos
grupos indígenas com os núcleos urbanos próximos aos seus lugares de
moradia, citando, dentre outros exemplos, os Fulni-ô com Águas Belas, e
os Xukuru em Cimbres, Darcy Ribeiro afirmou:
Assim viviam os seus últimos dias os remanescentes dos ín-
dios não litorâneos do Nordeste que alcançaram o século XX.
Estavam quase todos assimilados linguisticamente, mas con-
servavam alguns costumes tribais. Viviam ao lado de cidades
que crescera em seus aldeamentos, sem fundir-se com eles.
(1982, p.56). (Grifamos).
94 Edson Silva
têm de revelador, primeiro, a importância que os índios lhes
atribuem e sua função explícita de mecanismo de intensifi-
cação da solidariedade grupal e de afirmação da identidade
étnica. Segundo, o fato de que não guardam, provavelmente,
quase nada da antiga tradição, tendo sido “elaborados” no
processo de aculturação, apesar dos índios concebê-los
como expressões de suas tradições ancestrais. (RIBEIRO,
1982, p.407) (Grifamos).
96 Edson Silva
perspectiva, os grupos indígenas, mesmo aqueles considerados “isolados”,
enquanto microetnias em nada influenciariam a configuração do país, muito
menos os “integrados”!
Os méritos de Darcy Ribeiro decorrem de ter sido o primeiro autor
que discutiu o “problema indígena” de uma forma ampla e por sua explícita
posição política diante do tema; malgrado suas concepções, tornou as idéias
do antropólogo bastante conhecidas. Os índios e a civilização, livro com
várias edições, por sua quantidade de informações e sistematização de
dados “continua a ser uma peça insubstituível, referência obrigatória para
qualquer apreciação global da população indígena brasileira” (OLIVEIRA,
2001, p.421). Além de ter sido traduzido para outras línguas, adotado nos
cursos de Ciências Sociais no Brasil, formando uma geração de estudantes,
foi também lido por profissionais de outras áreas e pelo público em geral. As
idéias desse livro sobre os índios no Nordeste, no caso aqui sobre os Xukuru,
influenciaram a visão de outros estudiosos na Região, como demonstraremos
a seguir.
Analisando, em 1962, o “dialeto Xucuru”, Geraldo Lapenda
professor e lingüista da UFPE, retomou as informações do sertanista Cícero
Cavalcanti e afirmou que também pesquisara junto aos índios Luis Romão de
Siqueira (Peteregwe) e Jardelino Pereira de Araújo (Mãnojé). Após repetir as
informações colhidas por Cavalcanti sobre os lugares onde os Xukuru viviam,
“em malocas, espalhados pela Serra do Ororubá”, o lingüista escreveu: “A
população é hoje misturada com brancos e negros. Incluindo os mestiços, são
aproximadamente 2.200 caboclos. Em 1749, havia somente 642 indivíduos
puros; em 1951, cerca de 1.500 puros e mestiços.” (LAPENDA, 1962, p.11).
Assim, as idéias de Darcy Ribeiro, que resultaram de suas pesquisas
na década de 1950, influenciaram e, até certo ponto, cristalizaram as
representações sobre os índios para muitos leitores. Quando Ribeiro afirmou
que os grupos indígenas no Nordeste somente tinham “significado como
acontecimentos locais, imponderáveis”, ou seja, sem grande importância, o
antropólogo estava contribuindo para, no mínimo, apagar dos índios dessa
Região da História. O que de fato ocorreu, como é facilmente constatável ao
verificarmos a produção acadêmica sobre o assunto, até o início da década
de 1980.
98 Edson Silva
dos índios da grande floresta. ‘Índio sem penas não é índio’
e os Pankararu, Atikum e Xukuru, por citar alguns exemplos,
cada vez menos índios porque cada vez mais abandonados,
têm seus dias contados como nação. (MARTIN, 1999, p.335).
(Grifamos).
44
Esses dados são questionados pelos Xukuru do Ororubá que afirmaram existir, em
2007, uma população indígena com cerca de 10.000 indivíduos.
HISTÓRIA E MEMÓRIAS DE
MEDIAÇÕES E GUERRAS
45
Ofício do Diretor da Aldeia de Barreiros, em 9/4/1865, ao Presidente da Província de
Pernambuco. Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano/APE, Códice DII-19, folha
86.
46
Ofício do Presidente. da Província de PE, Francisco Antônio Ribeiro, em 2/10/1852,
para o Diretor Geral dos Índios da Província, José Pedro Velloso da Silveira. APE, Cód.
RO, fl. 35.
47
Idem, fl. 36-36v.
48
Of. do Diretor Geral dos Índios de Pernambuco, em 04/01/1853, ao Diretor Parcial de
Cimbres. APE, Cód. DII-10, fl. 15.
49
Of. do Diretor Geral dos Índios, em 07/05/1853, ao Presidente da Província de Pernam-
buco. APE, Cód. DII-10, fl. 20.
58
Xucurus dominam a Serra de Ororubá. Diário de Pernambuco, Recife, 20/04/92,
p.b3.
59
Caboclo, xucuru pode virar sem-terra. Folha de São Paulo, São Paulo, 07/04/1996,
p.11.
60
Quadro com a relação dos Índios do Urubá /Voluntários da Pátria, em 2/4/1865. APE,
Códice DII, v.19, fl. 83.
61
Jornal do Recife. Recife, 22/06/1865. In, BARBALHO, 1977, p. 69-70. (Foi mantida a
grafia da época).
para Capitão do Quartel de Engenho das Anhumas. Transcrito in, SOUZA, 2002 (Anexos).
71
Of. do Diretor dos Índios da Missão Pacatuba, 18/03/1846, ao Presidente da Província
de Sergipe. Transcrito in, SOUZA, 2002 (Anexos).
72
Of. do Comandante da Guarda Nacional de Boa Vista, 15/7/1867, para o Presidente da
Província de PE. APE, Cód. GN-59, p.353-354.
73
Relatório do Pres. da Prov. de Pernambuco à Assembléia Provincial em 1866, p.2-3. APE.
principalmente pelos/as anciãos/ãs, para se referir aos seus antepassados. A palavra “xe-
nupre” foi registrada entre aqueles vocábulos coletados por Curt Nimuendajú quando
esteve na Serra do Ororubá, em 1934.
75
Transcrito in: SILVA, 2005, p.4.
76
Idem, ibidem.
81
Abaixo-assinado de índios da extinta Aldeia de Cimbres, em Pesqueira 25 de fevereiro
de 1885, para o Presidente da Província. APE, Cód. Petições, fls.18-23v.
85
Id., ibidem.
86
A voz de Pesqueira, Pesqueira, 14/06/1953, p.1.
89
“Ainda a Serra”. A voz de Pesqueira, Pesqueira, 21/06/1953, p.1.
Aqui passava muita fome, nessas épocas! Que não tinha aju-
92
Raiz tóxica, mas comestível se devidamente preparada.
93
“Notas soltas”. A voz de Pesqueira, Pesqueira, 21/06/1953, p.1.
100
“Mesa-redonda do Secretário da Agricultura com criadores e agricultores deste muni-
cípio”. A voz de Pesqueira, Pesqueira, 17/01/1954, p.1.
Toré
I II
Os dois maracás, — É o Caracará
um fino outro grosso, que está na floresta,
fazem alvoroço, vai ver minha besta
nas mãos do Pajé: de pau cotolé...
— Toré! — Toré!
— Toré! — Toré!
Bambus enfeitados, Cabocla bonita,
compridos e ocos, do passo quebrado,
produzem sons roucos teu beiço encarnado
de querequexé! parece um café!
— Toré! — Toré!
Lá vem a asa-branca, Pra te ver, cabocla,
no espaço voando, na minha maloca,
vem alto, gritando... fiando na roca,
— Meu Deus, o que é? torrando pipoca,
— Toré! eu entro na toca
— Toré! e mato onça a quicé!
— Toré!
— Toré!
A viagem de ida era feita a pé, pois não tinham sequer recursos
para a passagem de trem, só na volta. Trabalhavam na colheita e na
moagem da cana:
Ia a pé até lá mesmo. Não pegava trem não. Com quê? Pas-
sava três dias ou quatro para chegar lá. A volta melhorou
uma coisinha, porque a gente ganhou um trocadinho, a gen-
te peguemos, viemos até Caruaru de pé. De lá nos peguemos
o trem e cheguemos até aqui. Uma vida dura. Lá era para
plantar cana, para cortar cana, era para moer cana. (Idem)
105
“Caboclos da Ororubá dansaram na capital do Estado”. A voz de Pesqueira, Pes-
queira, 29/3/1953, p.1.
106
Relatório Anual do CNPI, 1944. Ata da 14ª Sessão, p.1, em 16/11/1944. Museu do
Índio/Sedoc, documentos impressos.
107
Ofício nº 6 da IR4, em 23/01/1950, para a IR/SPI Belém-PA. Museu do Índio/Sedoc,
mic. 179, fotog. 0013.
Relação de despesas miúdas nos meses de julho a dezembro de 1946. Museu do Índio/
108
118
Telegrama da IR4, em 16/7/1953, para o SPI/RJ. Museu do Índio/Sedoc, mic. 182,
fot. 116.
119
Ofício de Raimundo Dantas Carneiro, Chefe da IR4/SPI, em 23/09/1953, para Direto-
ria do SPI/RJ. Museu do Índio/Sedoc, mic. 182, fot. 150.
120
Idem.
121
Telegrama de Raimundo Dantas Carneiro, Chefe da IR4, em 26/03/1954, para Direto-
ria do SPI/RJ. Museu do Índio/Sedoc, mic. 182, fot. 186.
122
Telegrama de Raimundo Dantas Carneiro, Chefe da IR4, em 26/03/1954, para Direto-
ria do SPI/RJ. Museu do Índio/Sedoc, mic. 182, fot. 187.
do SPI Vital Pereira da Silva Melo. Museu do Índio/Sedoc, mic. 181, fot. 308.
128
Memorando de Raimundo Dantas Carneiro, em 16/02/1955, para o Auxiliar de Ensino
do SPI Vital Pereira da Silva Melo. Museu do Índio/Sedoc, mic. 181, fot. 309.
129
Ofício de Raimundo Dantas Carneiro, em 17/02/1955, para Diretoria SPI/RJ. Museu
do Índio/Sedoc, mic. 182, fot. 237.
130
Ofício de Raimundo Dantas Carneiro, Diretor da IR4, em 04/02/1954, para o Diretor
do SPI/RJ. Museu do Índio/Sedoc, mic. 182, fot. 209.
O Padre Alfredo Dâmaso em visita a Ororubá: ato reparativo que urge providências. A
137
138
MACIEL, José de Almeida. O Padre Alfredo Dâmaso em visita..., op. cit.
139
In, CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE. 1997, p.31
141
Carta de Antonio Caetano, Estanislau Caetano e Felix Caetano, em Brejinho,
18/01/1958, para o Senhor Coronel José Luiz Guedes. Museu do Índio/Sedoc, mic. 179,
fot. 160.
142
Ofício de Coriolano Mendonça, Encarregado do Posto Indígena Xucuru, em 10/02/1958,
ao Diretor da IR4 Raimundo Dantas Carneiro. Museu do Índio/Sedoc, mic. 179, fot. 163.
156
Relatório de Estágio. Op. cit.
158
Em atas de reuniões do Comitê Municipal de Pesqueira do PCB, datada de 18/2/1947,
encontram-se as discussões sobre a atuação dos militantes na organização de células
comunistas entre trabalhadores da construção civil e ferroviários.
159
Ofício do Cap. Manoel de Souza Ferraz, 23/05/1947, ao Secretário de Segurança Pú-
blica de Pernambuco. Arquivo Público Estadual (APE), Fundo SSP 1083. (Documentação
do Dops).
As Fábricas ‘Peixe’ de Pesqueira executam com sucesso seu plano de Reforma Agrária.
163
Diário de Pernambuco, Recife, 09/11/ 1962. APE, Fundo SSP 1083. (Documentação
do Dops).
164
Sindicalista faz apelo por mais de 600 famílias. Diário de Pernambuco (?), Recife (?),
06/08/1981. APE, Fundo SSP 30930. (Documentação do Dops).
165
Usurpados os índios Xigurús Folha do povo, Recife, 2//2/1950.
166
Bispo de Pesqueira: comunistas agem no interior do Nordeste. Diário de Pernambu-
co, Recife, 7/04/1959.
167
“Parte”. De Eliel T. Vasconcelos, Recife 8/12/1959, para o Comissário Auxiliar (Secretaria
de Segurança Pública/SSP). APE, Fundo SSP 1083. (Documentação do Dops).
172
Relatório de Paulo Rufino..., op.cit.
173
Idem.
174
Memorando Circular nº. 84/60 que remete cópias das Ordens de Serviço internas nº.
29, 30 e 31. Do Chefe da IR4 Raimundo Dantas Carneiro, 29/03/1960, para o Encarrega-
do do PI Xukuru Coriolano de Mendonça. Museu do Índio/Sedoc, microf. 181, fotog. 339.
175
Ofício do Subchefe do Gabinete do Ministério da Agricultura, 04/12/1963, para o
Presidente da Supra. Relatório sobre o município de Pesqueira, 23/12/1963. APE, Fundo
Introdução
É possível afirmar a existência de uma história indígena ou
uma história dos índios? Os índios estão fora da História, enquanto
história da humanidade? Algum grupo humano vive totalmente
isolado, sem estabelecer relações com outros grupos humanos? E
ainda, é possível analisar a experiências históricas de um grupo
humano desvinculadas de suas relações com o ambiente onde habita?
Apesar de usarmos grosso modo a expressão história indígena, não é
possível pensar, discutir e escrever uma história dos povos indígenas
enquanto uma história étnica, uma história específica. Tal empreitada
estaria fadada ao fracasso, pois existem diferentes povos indígenas.
Seria uma história de cada povo ou uma história de todos os povos
indígenas, correndo-se os riscos de generalizações e ignorando,
omitindo, desconsiderando as singularidades socioculturais de cada
povo indígena?
Ao invés de uma história dos povos indígenas, pensamos que
1 Uma versão desse texto com o título “História indígena e história socio-
ambiental no Semiárido pernambucano: os Xukuru do Ororubá”, foi publicada
em SILVA et ali, 2017, p.13-33.
2 Professor Titular de História do Colégio de Aplicação da UFPE. Doutor
em História pela UNICAMP. Realizou o Pós-Doutorado na UFRJ. É professor
no curso de Mestrado Profissional em História(PROFHISTÓRIA) na UFPE e no
curso de Mestrado em História na UFCG (Campina Grande/PB).
178
Condepe. Op. cit, p.65.
179
Relatório da Equipe Xukuru. Recife, Cimi-NE, p.3, dig.
180
Em pé de guerra, índios Xukurus exigem devolução de terras. Folha de Pernambu-
co, Recife, 22/10/1988, p.1.
181
Xucurus querem terras de seus antepassados. Jornal do Comercio, Recife,
22/10/1988, p.5.
182
Idem
183
Os Xukuru retomam área invadida. Porantim, Brasília, nº. 133/134, nov./dez. 1990,
p.9.
184
Caboclo, xucuru pode virar sem-terra. Folha de São Paulo, São Paulo, 7/12/1996,
p.11.
Caruaru, 06/01/08
Impressas
Relatório do Presidente da Província de Pernambuco a Assembléia
Provincial em 1866.
Carta Testamento do Padre Alfredo Pinto Dâmaso Pároco de Bom Conselho
– Diocese de Garanhuns. Recife, 30/05/1964.
Relatório sobre os aldeamentos de índios na Província de Pernambuco. In,
MELLO, José A. G. de. (Org.). O Diário de Pernambuco e a História Social
do Nordeste (1840-1889). Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1975, v. 1, p. 339-351.
Jornais
Folha de Pernambuco, Recife, 1981-990.
Diário de Pernambuco, Recife, 1950-1965.
Jornal do Commercio, Recife, 1981-990.
Folha de São Paulo, São Paulo, 1980.
A voz de Pesqueira. Pesqueira, 1940 a 1970.
O monitor. Garanhuns/PE, 26/07/1964.
Jornal Folha do Povo, Recife, 1950.
Jornal Porantim, Brasília/DF, 1980;1990.
Relatório da Equipe Xukuru. Recife: Cimi-NE, 4p. dig.
Considerações sobre a etnicidade: os Xukuru do Ororubá. Recife: Cimi-NE,
6p. dig.
Manuscritas
— Arquivo Público Estadual de Pernambuco (APE):
Diretoria de Índios, códices: DII-10; DII-19; DII-29.
Documentos Avulsos, códice: Petições: Índios.
Guarda Nacional, códice: GN-59.
Juízes Municipais, códice: JM-10.
Ministério da Agricultura, códices: MA-3, MA-6, MA-8,
Portarias, códice: P-41.
Registros de Ordens, códice RO.
Registros de Terras Públicas, códice: RTP-17.
Entrevistas
Antônio Feliciano da Silva, “Seu” Brainha 79 anos. Bairro José Jerônimo,
Pesqueira/PE, 07/07/2004.
Antonio Ferreira, “Pirrila”, 48 anos. Aldeia Caípe, Serra do Ororubá,
Pesqueira/PE, em 16/12/05.
Elpídio de Matos, 88 anos. (Falecido). Aldeia Fulni-ô, Águas Belas/PE, em
08/07/97.
Brivaldo Pereira de Araújo, “Seu” Zé Grande, 82 anos. (Falecido). Aldeia
Cana Brava, Serra do Ororubá, Pesqueira/PE, em 15/12/05.
Cassiano Dias de Souza, 75 anos. (Falecido). Aldeia Cana Brava, Serra do
Ororubá, Pesqueira/PE, em 13/12/05.
Cícero Pereira de Araújo, “Seu” Ciço Pereira, 81 anos. (Falecido). Bairro
Xucurus, Pesqueira/PE, em 05/01/2002.
Floriano Marcolino da Silva, 90 anos. Aldeia Cana Brava, Serra do Ororubá,
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Manuel Correia de. Pereira da Costa: o homem e a obra. Recife,
CEPE, 2002.
______. Usinas e destilarias das Alagoas: contribuição ao estudo da produção
do espaço. Maceió, Edufal, 1997
______. História das usinas de açúcar de Pernambuco. Recife, Fundação
Joaquim Nabuco/Massangana, 1989.
______. A terra e o homem no Nordeste. 4ª ed. São Paulo, LECH, 1980.
ALBERTI, V. Ouvir contar: textos em História Oral. Rio de Janeiro, FGV, 2004.
ALBUQUERQUE, Ulysses Lins de. Um sertanejo e o Sertão. Moxotó brabo.
Três ribeiras. Reminiscência e episódios do quotidiano no interior de
Pernambuco. Belo Horizonte, Itatiaia, 1989.
ALCÀZAR I GARRIDO, Joan Del. As fontes orais na pesquisa histórica: uma
contribuição ao debate. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.13, n.º
25/26, p.33-54, set.1992/ago, 1993
AMADO, Jorge. Seara vermelha. 30ª ed. Rio, Record, 1977.
AMORIM, Fabio Lima. Uma cidade germanófila em trinta: o integralismo
em Pesqueira (1934-1939). 2002. Dissertação (Mestrado em História) Recife,
UFPE, 2002.
ANTUNES, Clóvis. Wakona-Kariri-Xukuru: aspectos sócio-antropológicos
dos remanescentes indígenas de Alagoas. Maceió, Universidade Federal de
Alagoas, 1973.
Introdução
É possível afirmar a existência de uma história indígena ou uma
história dos índios? Os índios estão fora da História, enquanto história
da humanidade? Algum grupo humano vive totalmente isolado, sem
estabelecer relações com outros grupos humanos? E ainda, é possível
analisar a experiências históricas de um grupo humano desvinculadas de
suas relações com o ambiente onde habita? Apesar de usarmos grosso modo
a expressão história indígena, não é possível pensar, discutir e escrever uma
história dos povos indígenas enquanto uma história étnica, uma história
específica. Tal empreitada estaria fadada ao fracasso, pois existem diferentes
povos indígenas. Seria uma história de cada povo ou uma história de todos
os povos indígenas, correndo-se os riscos de generalizações e ignorando,
omitindo, desconsiderando as singularidades socioculturais de cada povo
indígena?
Ao invés de uma história dos povos indígenas, pensamos que o
mais preciso é discutir os índios na História, observando como cada povo
indígena participa, enquanto campo de relações, em diversos e diferentes
espaços, e, com diferentes grupos sociais e atores sociohistóricos: os índios
e a colonização; os índios e os povos negros, ciganos, os diferentes povos
europeus; os índios e os Estados nacionais; os índios e as mobilizações
sociopolíticas, dentre outras temáticas. Afirmamos, portanto, a compreensão
dos povos indígenas como atores históricos ao lado de outros sujeitos
1
Uma versão desse texto com o título “História indígena e história socioambiental no
Semiárido pernambucano: os Xukuru do Ororubá”, foi publicada em SILVA et ali, 2017,
p.13-33.
2
Professor Titular de História do Colégio de Aplicação da UFPE. Doutor em História
pela UNICAMP. Realizou o Pós-Doutorado na UFRJ. É professor no curso de Mestrado
Profissional em História(PROFHISTÓRIA) na UFPE e no curso de Mestrado em História
na UFCG (Campina Grande/PB).
São nos brejos que nasce a maioria dos rios. Em Pernambuco, por
exemplo, os rios Capibaribe, Una e Ipojuca tem suas nascentes em brejos
no Semiárido, correm para o litoral e desaguam no Oceano Atlântico. Com
cerca de 250 km de extensão, tendo um terço do seu curso intermitente, o
rio Ipojuca foi um dos caminhos da colonização portuguesa para o interior,
concentrando, ao longo do seu percurso, a maior densidade populacional
urbana do Agreste pernambucano, abrangendo vários munícipios, dentre os
quais a conhecida cidade de Caruaru.
A sobrevivência humana nessa região do Semiárido está
intimamente relacionada a alguns poucos rios perenes que nascem nas
serras e correm em direção ao litoral, bem como aos chamados “brejos
de altitudes”, espaços de clima ameno nos quais uma elevada densidade
populacional coexiste com as atividades agrícolas e a pecuária. A região
montanhosa favoreceu a formação desses brejos constituídos de espaços
subsumidos (manchas ou bolsões) diante da aridez acentuada do clima
predominante.
Historicamente, o Agreste vem desempenhando as funções de
fornecedor de gêneros alimentícios e de mão de obra para a Zona da Mata
canavieira e para o litoral, por meio das migrações sazonais. O Agreste
recebe pequena quantidade de chuvas, é caracterizado pelas “formas
ásperas, os solos rasos e não raro pedregosos, a flora dominante da caatinga
e a hidrografia intermitente” (MELO, 1980, p. 173), onde ocorrem secas
periódicas, muitas vezes calamitosas, agravando a qualidade dos solos e o
aproveitamento dos recursos naturais disponíveis. Nas cercanias do Vale do
Ipojuca estão localizados os brejos de São José e Ororubá, ambos situados
na Serra do Ororubá, em Pesqueira, e o de Poção, no município vizinho
do mesmo nome, além do brejo da Serra do Bituri, localizado entre os
municípios de Sanharó, Belo Jardim e Brejo da Madre de Deus.
A fertilidade das terras nos brejos na Serra do Ororubá, onde
habita o povo Xukuru do Ororubá, foi sempre evidenciada. No Diccionario
Chorographico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, publicado em
REFERÊNCIAS
FONTES
ARQUIVO PÚBLICO DE PERNAMBUCO. Ofício de Henrique Milet ao
Ministro da Agricultura. Códice Diversos, D38, Recife, 18 mar. 1882.
INFORMAÇÕES GRÁFICAS
FORMATO 15,5 x 22 cm
TIPOLOGIA ClearlyRoman, ClearlyGothic, ClearlyGothicLight
PAPEL
Miolo: Off set 75g/m2
Capa: Triplex 250g/m2