Teste Diagnóstico 7.º Ano
Teste Diagnóstico 7.º Ano
Teste Diagnóstico 7.º Ano
de PORTUGUÊS
7.º ANO DE ESCOLARIDADE
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MÉRTOLA Ano letivo: 2020/2021
ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE S. SEBASTIÃO, MÉRTOLA 22 de setembro de 2020
Nome: N.º:
Lê o texto.
Os donos da língua
A estória que vos vou contar aconteceu no tempo em que os animais falavam, ou melhor, em que falavam
todos o mesmo idioma. O Senhor Cão, o animal mais velho da Floresta, era uma espécie de guardião 1 do verbo.
Na verdade, via-se a si próprio como o legítimo proprietário da fala.
– A palavra foi criada pelos cães, os quais, por gentileza, a emprestaram aos outros animais – explicava aos
5 filhos. – O vosso avô, o Velho Cão, andou por esta Floresta, descobrindo e nomeando as coisas: rios, lagos,
rochedos, montes e vales, árvores, ervas, flores, frutos, os pequenos insetos, nevoeiros, chuvas, o lodo e a lama.
Enfim, tudo. O que nós, cães, não conhecemos, não existe. Assim, a existência da Floresta deve-se a nós. Este é
um Mundo Cão.
A Senhora Sucuri2 não gostava de ouvir aquele discurso. Era o animal maior da Floresta, falava tão bem como
10 o Senhor Cão, e, como ele, usava chapéu. “A língua pertence a todos”, dizia, “da mesma forma que um rio constrói
o seu caminho e depois é ele esse caminho, assim nós fazemos uma língua e a seguir ela nos refaz.” A Senhora
Palanca3 achava o mesmo, mas era mais dramática: “A língua sou eu!”; e o Senhor Papagaio repetia: “A língua sou
eu, a língua sou eu!” Tímida, a corça propunha uma outra formulação: “A minha Pátria é a minha língua”; e o
Senhor Papagaio repetia: “A minha Pátria é a minha língua, a minha Pátria é a minha língua”.
15 Um dia o Senhor Cão foi passear para a zona mais remota da floresta, como costumava fazer, empurrado
pelo desejo de descobrir coisas novas às quais pudesse dar nome (e existência). A luz era escassa, húmida e
verde, naqueles deslimites. Uma lama espessa escondia o chão. As próprias árvores pareciam perigosas. Algumas
tinham os troncos cobertos de picos, outras de resina ácida, flores de uma melodia crepuscular 4 devoraram tudo
em seu redor.
20 Ali, meio imerso na lama, o Senhor Cão descobriu o esqueleto de um animal desconhecido. Aproximou-se
para o estudar melhor, ansioso por lhe dar um nome, agregando-o dessa forma à floresta, ao universo, à
imensidão das coisas existentes, mas não lhe ocorreu nada. Ficou assim muito tempo, rondando aquela morte
que lhe desorganizava o pensamento. “Como te chamas?”, perguntou, já desesperado, e então, para seu grande
espanto, o esqueleto ergueu-se e respondeu: “O meu nome? Nunca tive nome.”
30 Naquela tarde os outros animais viram o Senhor Cão regressar a casa de cabeça baixa. Achava-se um
falhado. Descobrira algo de novo na Floresta e não fora capaz de lhe dar um nome. Adoeceu de desgosto. Alguns
dias depois, preocupada, a Senhora Corça foi saber o que se passava e encontrou o Cão às portas da morte.
“Morro”, disse-lhe este, “sem ter cumprido o meu papel nesta Floresta.” E morreu.
Durante uma semana os animais choraram, dançaram e beberam o morto, conforme a tradição, e depois
35 lançaram o seu cadáver ao rio, e o rio arrastou-o até à zona mais remota da floresta. Anos depois, ou séculos
depois, não importa, o Cão foi parar junto às ossadas do animal desconhecido.
– Estou a conhecer-te – disse o esqueleto. Tu és o cão. Aquele que se julgava o dono da língua. Mas morreste
e a língua continua. Os outros animais servem-se dela, agora, como se fosse um perpétuo domingo.
– Já alguém te deu um nome? – quis saber o cão – Só isso me interessa.
40 O outro riu:
– Sim – disse –, chamam-me Escuridão.
José Eduardo Agualusa, Este e outros texto estão acessíveis em
http://cvc:instituto-camoes.pt (consultado a 1 de setembro de 2020)
1. Aquele que protege. 2. Cobra do Brasil que atinge dez metros de comprimento. 3. Espécie de antílope. 4. Próprio do fim
do dia. 5. Atribuísse um nome.
Responde ao que te é pedido sobre o texto que acabaste de ler, seguindo as orientações.
1. Assinala, de 1.1. a 1.3., a opção que permite completar cada afirmação, de acordo com o sentido do texto.
1.1. A história que acabaste de ler passou-se no tempo em que os animais
a. estudavam a língua.
b. governavam o mundo.
c. falavam a mesma língua.
2.1. O narrador define o Cão como o dono da língua por direito próprio. Transcreve uma expressão que confirme
esta afirmação.
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2.2. O Senhor Cão afirma que “Este é um Mundo Cão.” Que argumentos apresenta para justificar esta ideia?
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2.3. Os outros animais discordavam do Cão. Associa os pontos de vista apresentados ao respetivo animal.
2.4. Um dia, o Senhor Cão encontrou um esqueleto de um animal desconhecido e sem nome. Que consequências
resultaram desse encontro?
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1. Considera a frase.
“O vosso avô, o Velho Cão, andou por esta Floresta, descobrindo e nomeando as coisas: rios, lagos, rochedos,
montes e vales, árvores, ervas, flores, frutos, os pequenos insetos, nevoeiros, chuvas, o lodo e a lama.”
1.1. Transcreve cada palavra sublinhada para a coluna que corresponde à classe de palavras a que pertence.
NOMES ADJETIVOS VERBOS DETERMINANTES PREPOSIÇÕES
2. Lê a seguinte frase.
“A corça propunha aos animais outra formulação.”
2.1. Completa as seguintes informações, associando as expressões da frase às funções sintáticas indicadas.
a. Sujeito →
b. Predicado →
c. Complemento direto →
d. Complemento indireto →
2.2. Reescreve a frase, substituindo a expressão que desempenha a função sintática de complemento direto por
um pronome pessoal.
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3.1. Identifica o grau em que se encontram os adjetivos em cada uma das frases.
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4. Considera a frase.
“Descobrira algo de novo na Floresta e não fora capaz de lhe dar um nome.”
O Esperanto
Em 1887, o médico polaco Zamenhof publicou, sob o pseudónimo de Dr. Esperanto, um manual de língua
universal. Esta língua foi criada, não para substituir as línguas nacionais, mas para facilitar a comunicação entre
os povos e estabelecer uma ponta entre duas culturas: seria a segunda língua de cada povo. A ideia foi tão bem
aceite que a língua, que, no início, não tinha nome, rapidamente passou a ser conhecida pelo pseudónimo do
seu criador, Esperanto – aquele que tem esperança, em Esperanto. Após 1995, com a disseminação da Internet, o
movimento esperantista ganhou uma nova força propulsora, com mais artigos escritos do que os de muitas
línguas étnicas.
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