Voce e o Placebo - Joe Dispenza
Voce e o Placebo - Joe Dispenza
Voce e o Placebo - Joe Dispenza
PREFÁCIO
Tal como a maioria dos seus fãs, é com grande ansiedade e prazer que me lanço
na leitura das ideias provocadoras de Joe Dispenza. Aliando sólidas provas
científicas a estimulantes reflexões, Joe expande os horizontes do que é possível
alargando as fronteiras do que é conhecido. Ele leva a ciência mais a sério do
que muitos cientistas e, nesta obra fascinante, extrapola as mais recentes
descobertas nos domínios da epigenética, da plasticidade neural e da
psiconeuroimunologia até à sua conclusão lógica.
Trata-se de uma conclusão muito excitante: a de que todos nós, como seres
humanos, estamos a moldar o cérebro e o corpo, com os pensamentos que
formulamos, as emoções que sentimos, as intenções que geramos e os estados
transcendentais que alcançamos. Este livro convida-nos a aproveitar esse saber
para criarmos um novo corpo e uma nova vida.
não se trata de uma proposta metafísica. Joe explica cada elo na cadeia da
causalidade que começa com um pensamento e acaba com um facto biológico,
como, por exemplo, um aumento do número de células estaminais ou de
moléculas de proteínas com propriedades imunitárias a circular na corrente
sanguínea.
Como ponto de partida, Joe narra a história do acidente que lhe desfez seis
vértebras. Subitamente, viu-se confrontado com a necessidade de pôr em prática
aquilo em que teoricamente acreditava: que o nosso corpo possui uma
inteligência inata com um milagroso poder de cura. A disciplina com que se
dedicou a visualizar a medula espinal a reconstruir-se é um inspirador exemplo
de determinação.
As histórias de remissão espontânea e cura “milagrosa" são sempre muito
inspiradoras e, nesta obra, Joe demonstra-nos que esses “milagres” estão ao
alcance de todos. O nosso corpo integra o seu próprio sistema de regeneração e
tanto a degeneração como a doença são a exceção e não a regra.
Assim que percebermos que o nosso corpo se regenera, podemos começar a
tirar partido desses processos fisiológicos, influenciando a síntese de hormonas,
a produção de proteínas, de neurotransmissores e de canais neurais através dos
quais as células enviam sinais. A anatomia do corpo não é estática, muito pelo
contrário, muda constantemente. O nosso cérebro fervilha de atividade, criando e
destruindo continuamente e a cada segundo as ligações neurais. Joe mostranos
que podemos intervir premeditadamente nesse processo, assumindo a posição do
condutor, em vez de sermos passageiros passivos.
Nos anos 90, a biologia sofreu uma revolução, com a descoberta de que o
número de ligações num conjunto de neurônios pode duplicar através da
estimulação repetida. Foi essa conquista que valeu o Prêmio Nobel ao
neuropsiquiatra Eric Kandel. Posteriormente, Kandel ainda viria a descobrir que
basta passarmos três semanas sem utilizar uma ligação neural para ela começar a
regredir. É através dos sinais que transmitimos pela rede neural que podemos
remodelar o nosso cérebro.
Na mesma década em que investigadores como Kandel começaram a medir
a neuroplasticidade, outros cientistas descobriram que os genes, em geral, não
são estáticos. A maioria (calcula-se que entre 75 por cento e 85 por cento) é
ativada e desativada por sinais emitidos no nosso meio ambiente, sendo que este
engloba os pensamentos, crenças e emoções que cultivamos no cérebro. Uma
das classes desses genes, a dos genes de resposta imediata precisa de trés
(IEG1), SÓ
DAWSON CHURCH
Autor de lhe Genic in Your Genes
2. Despertar
Nunca pensei fazer nada disto. Foi como se o trabalho que faço atualmente como
orador, autor e investigador me tivesse escolhido. Há pessoas que só despertam
com um susto. Em 1986, tive esse susto. Num belo dia de abril, estava eu em
Palm Springs, no sul da Califórnia, a participar num triatlo, quando tive o
privilégio de ser atropelado. Esse acontecimento mudou a minha vida e levou-
me a encetar esta viagem. Tinha 23 anos, começara recentemente a minha
carreira de quiroprático em La Jolla, na Califórnia, e passara meses a treinar para
aquele triatlo.
Tinha terminado o segmento de natação e estava no de ciclismo, quando o
acidente aconteceu. Estava a chegar a uma curva traiçoeira e sabia que ia entrar
no trânsito. Um polícia, que se encontrava de costas voltadas para os carros que
circulavam em sentido contrário, fez-me sinal para virar à direita e seguir o
percurso. Como estava a esforçar-me ao máximo e concentrado na corrida, não
tirei os olhos dele. Ao ultrapassar dois ciclistas especificamente nessa esquina,
um Bronco de tração às quatro rodas, vermelho, que vinha a cerca de 90 km/h,
bateu na minha bicicleta por trás e fui projetado no ar, caindo estatelado de
costas. Devido ao excesso de velocidade e aos reflexos lentos da idosa que o
conduzia, o jipe continuou a avançar na minha direção. Com o para-choques à
frente, agarrei-me, para não ser atropelado e ficar entre o metal e o asfalto.
Assim, fui arrastado pela estrada, até a condutora se aperceber do que se estava a
passar. Quando finalmente fez uma travagem brusca, andei aos tombos por mais
uns 20 metros.
Ainda me lembro do som das bicicletas a passarem, e dos gritos de horror e
asneiras dos ciclistas, sem saber se deviam parar para me ajudar ou continuar a
corrida. Estendido no chão, só podia desistir. Viria a saber que tinha partido seis
vértebras: sofrerá fraturas de compressão nas vértebras torácicas 8, 9, 10, 11 e
12, e na lombar 1 (desde as omoplatas aos rins). As vértebras estão empilhadas
como blocos independentes na coluna vertebral e o impacto da queda partiu-as e
comprimiu-as. A oitava vértebra torácica, a mais acima que parti, ficou 60 por
cento desfeita e o arco circular que continha e protegia a medula espinal partiu-
se e comprimiu-se como um pretzel. Quando uma vértebra se comprime e
fratura, o osso tem de ir para algum lado. No meu caso, uma boa quantidade de
fragmentos penetrou na minha medula espinal. não era, de modo algum, uma
perspetiva animadora.
Como se estivesse a viver um pesadelo, na manhã seguinte, acordei com
uma série de sintomas neurológicos: vários tipos de dor; vários graus de
dormência, picadas e uma certa perda de sensação nas pernas; bem como alguma
dificuldade em controlar os movimentos.
Depois de fazer todas as análises ao sangue, radiografias, e ressonâncias
TAC
A minha aventura, porém, não ficou por aí. Como seria de esperar, já não era a
mesma pessoa. Tinha mudado em muitos aspetos. Iniciara-me numa realidade
que ninguém que conhecia conseguia realmente entender. não me identificava
com muitos dos meus amigos e de forma alguma seria capaz de retomar a
mesma vida que tinha antes do acidente. Tudo aquilo a que dava mais
importância deixara de me importar. E na minha cabeça surgiam grandes
questões, como: “Quem sou eu?”; “Qual é o sentido da vida?”; “O que faço
aqui?”; “Qual é o meu propósito?”; e “O que ou quem é Deus?” não tardei a
deixar San Diego e a mudar-me para o noroeste do Pacifico, onde acabei por
abrir uma clinica de quiroprática perto de Olympia, em Washington. Contudo, no
início, mantive-me bastante recolhido e estudei espiritualidade.
Com o tempo, também ganhei interesse pelas remissões espontâneas:
quando as pessoas se curavam de uma doença ou condição grave consideradas
terminais ou permanentes, sem recorrerem a intervenções da medicina
convencional, como cirurgias ou fármacos. Nas longas e solitárias noites do
período de recuperação em que não conseguia dormir, tinha feito um pacto com
a tal consciência: se voltasse a andar, passaria o resto da vida a investigar e a
estudar a ligação mente-corpo e o conceito de mente sobre a matéria. E é
praticamente só isso que tenho feito nas últimas três décadas.
Viajei por vários países à procura de pessoas que tivessem estado doentes e
que, após terem recebido tratamentos convencionais ou não convencionais sem
qualquer êxito, tendo ficado na mesma ou até piorado, de repente, melhoraram.
Comecei a entrevistá-las para descobrir o que tinham em comum, e tentar
perceber e registar o que as fizera melhorar, pois a minha paixão era unir a
ciência à espiritualidade. O que apurei foi que todos esses casos milagrosos se
apoiavam numa forte componente mental.
O cientista em mim começou a ficar muito ansioso e cada vez mais
inquisitivo. Regressei à universidade para estudar as mais recentes investigações
realizadas no campo da neurociência e estudei neuroimagiologia,
neuroplasticidade, epigenética e psiconeuroimunologia. Então, pensei para
comigo que, sabendo o que essas pessoas tinham feito para melhorar e sabendo
tudo o que já aprendera sobre a ciência de alterar a mente (ou que pelo menos
pensava saber), seria capaz de reproduzir esse fenômeno tanto em pessoas
doentes como em pessoas sãs que quisessem fazer mudanças para melhorar o
estado de saúde, das relações, das carreiras profissionais, das famílias e das suas
vidas em geral.
Nessa altura, fui convidado para fazer parte do grupo de 14 cientistas e
investigadores apresentados no documentário O Que Raio Sabemos Nós?, de
2004, que se tornou um êxito da noite para o dia. O filme convida-nos a
questionar a natureza da realidade e, depois, a verificar se as nossas observações
são ou não matéria de substância ou, melhor ainda, se as mesmas se
consubstanciam em matéria ou não. O filme e os conceitos que expunha
andavam na boca do mundo inteiro. Foi mais ou menos nesse contexto que, em
2007, publiquei o meu primeiro livro — Evolve Your Brain: The Science of
Changing Your Mind. Depois do lançamento, as pessoas começaram a perguntar-
me: “Como é que consegue? Como muda e como cria a vida que deseja?" Essas
não tardaram a ser as perguntas mais frequentes.
Assim, reuni uma equipa para começar a organizar workshops nos Estados
Unidos e noutros países sobre o funcionamento do cérebro e como podemos
reprogramar o pensamento, recorrendo aos princípios neurofisiológicos. A
princípio, esses workshops baseavam-se sobretudo na partilha de informações,
mas as pessoas queriam mais e acabei por acrescentar meditações para
complementar e consolidar a informação. Passei a ensinar um método prático e
passo a passo para mudar a mente e o corpo e, consequentemente, a vida das
pessoas. Depois de fazer os meus primeiros workshops em diferentes partes do
mundo, começaram a perguntar-me: “E a seguir?" Então, criei um segundo nível
de workshops. Depois desse, pediram-me para criar outro — um workshop ainda
mais avançado. E era isso que acontecia quase sempre, onde quer que fizesse as
minhas apresentações.
Quando julgava que já tinha acabado, que ensinara tudo quanto tinha a
ensinar, pediam-me mais, por isso, linha de aprender mais para criar mais
apresentações e meditações. Desenvolveu-se uma dinâmica e recebi feedback
muito positivo; as pessoas conseguiam eliminar alguns hábitos autodestrutivos
que as impediam de ser mais felizes.
Apesar de, até àquela data, eu e os meus sócios só termos assistido a
pequenas mudanças — nada de muito significativo as pessoas adoravam a
informação que lhes passávamos e queriam continuar a praticar. Por essa razão,
ia sempre onde me convidavam. Pensava para comigo que havia de chegar uma
altura em que deixariam de me convidar e em que ficaria a saber que já não tinha
mais nada a ensinar nessa área.
Cerca de um ano e meio depois do nosso primeiro workshop, eu e a minha
equipa começamos a receber vários e-mails dos nossos participantes sobre as
mudanças positivas que sentiam, por fazerem as meditações regularmente. Uma
onda de mudança começara a manifestar-se nas vidas das pessoas, fazendo-as
transbordar de alegria. O feedback que recebemos no ano seguinte chamou-nos a
atenção. Os participantes começavam a relatar não só mudanças subjetivas na
sua saúde física, mas também melhorias nas avaliações objetivas dos exames
clínicos. Nalguns casos, os exames até apresentavam resultados perfeitamente
normais! Essas pessoas tinham conseguido reproduzir exatamente as mudanças
físicas, mentais e emocionais que eu estudara, observara e descrevera na minha
obra Evolve Your Brain.
Era uma grande excitação para mim testemunhar tal fenômeno, porque
sabia que tudo o que se repete se pode tornar uma lei científica. Muitas pessoas
enviavam-nos e-mails a começar com a mesma expressão: “Nem vão
acreditar...” E essas mudanças deixavam de ser mera coincidência.
Foi então que, pouco depois, ainda nesse ano, no decorrer de dois eventos
em Seattle, começaram a acontecer coisas extraordinárias. No primeiro evento,
uma mulher com esclerose múltipla chegou ao workshop apoiada num
(EM)
andarilho e saiu a caminhar sem ele. No segundo evento desse ano em Seattle,
outra mulher que sofria de EM há dez anos começou a dançar, declarando que
deixara completamente de sentir a paralisia e a dormência que antes sentia no pé
esquerdo. (Lerá mais sobre essas mulheres e outras pessoas como elas nos
próximos capítulos.) Em 2010, pediram-me para dar um workshop mais
progressivo no Colorado, onde as pessoas começaram logo a sentir melhorias no
bem-estar, durante o próprio evento. Muitas levantaram-se e pediram o
microfone, para nos contarem histórias muito inspiradoras.
Por volta dessa altura, também me convidaram para falar com vários líderes
empresariais acerca da biologia da mudança, da neurociência da liderança e do
conceito de transformar as pessoas para transformar a cultura. Depois de um
discurso de apresentação a um grupo, vários executivos vieram ter comigo e
pediram-me para adaptar as minhas ideias a um modelo de transformação
empresarial. Então, criei um curso de oito horas adaptado às empresas e
organizações — tal foi o nosso êxito que criamos o programa empresarial 30
Days to Genius. Dei por mim a trabalhar com clientes do mundo dos negócios,
como a Sony Entertainment Network, a Gallo Family Vineyards, a companhia de
telecomunicações wow! (inicialmente chamada Wide Open West), entre muitos
outros, e, a partir dai, passei a oferecer sessões particulares de coaching aos
quadros superiores das empresas. A procura pelos nossos programas
empresariais era tanta que tive de começar a formar pessoal em coaching-, já
tenho mais de 30 formadores ativos, incluindo ex-CEO, consultores
empresariais, psicoterapeutas, advogados, físicos, engenheiros e médicos, que
trabalham por todo o lado, a ensinar esse modelo de transformação em diversas
empresas. (Já temos planos para começar a certificar coaches independentes para
utilizarem o modelo de mudança com os seus próprios clientes.) Jamais, em
tempo algum, imaginei este tipo de futuro para mim.
O meu segundo livro, Como Criar Um Novo Eu, foi publicado em 2012,
como complemento prático para o Evolve Your Brain. Nessa obra, não só explico
mais sobre a neurociência da mudança e a epigenética, como também incluo um
programa de quatro semanas baseado nos workshops que dava na época com
instruções passo a passo para implementar essas mudanças.
Quando organizei um evento mais avançado no Colorado, assistimos a sete
remissões espontâneas de diferentes condições. Nesse fim de semana, uma
mulher que se alimentava de alface por sofrer de várias alergias alimentares
graves curouse. Outras pessoas curaram-se de intolerância ao glúten, de doença
celíaca, de problemas na tiroide, de dores crônicas acentuadas e outros estados.
De repente, comecei a testemunhar mudanças realmente significativas na saúde e
na vida das pessoas, enquanto elas se recolhiam da sua realidade para criarem
outra. Estava a acontecer mesmo à minha frente.
3. Da informação à transformação
Esse evento no Colorado, em 2012, marcou o ponto de viragem na minha carreira, porque me permitiu
finalmente constatar que estava a ajudar as pessoas não só a mudar o modo como encaravam o seu bem-
estar, mas também a assinalar novos genes de novas formas ali mesmo, durante as meditações, em tempo
real e em grande. Se alguém que tinha passado anos doente com um problema de saúde como lúpus ficava
bem com uma hora de meditação, só podia ser porque alguma coisa importante tinha ocorrido na mente e no
corpo dessa pessoa.
Queria descobrir uma forma de medir essas mudanças enquanto elas
ocorriam nos workshops, para percebermos o que se estava a passar exatamente.
Foi por isso que, no início de 2013, comecei a oferecer um novo tipo de evento
que lançou os nossos workshops para um nível bastante superior. Para esse
workshop de quatro dias que se realizou no Arizona com mais de 200
participantes, convidei uma equipa de investigadores composta por
neurocientistas, técnicos e físicos quânticos com instrumentos especializados. Os
especialistas utilizaram o seu equipamento para medir o campo eletromagnético
do ambiente da sala para verificar se a energia se ia alterando à medida que o
workshop avançava. Além disso, mediam o campo de energia em torno de cada
participante e os centros de energia dos seus corpos (também denominados
chakras) para verificar se eles os conseguiam influenciar.
Para fazer essas medições, utilizaram instrumentos muito sofisticados, tais
como eletroencefalograma para controlar a atividade elétrica do cérebro,
(EEG)
campos bioenergéticos.
A experiência consistiu em analisar imagens cerebrais de vários
participantes: umas realizadas antes e depois do evento, para podermos entender
o que se passava no mundo interno do cérebro humano, e outras durante o
evento, para tentar medir eventuais mudanças nos padrões cerebrais em tempo
real, durante as três meditações que orientei todos os dias. Foi um grande evento.
Uma pessoa com a doença de Parkinson deixou de sofrer de tremores. Outra
curou a lesão cerebral resultante de um trauma. Pessoas com tumores no cérebro
e no corpo descobriram que estes tinham desaparecido. Muitas que padeciam de
artrite sentiram um alívio da dor pela primeira vez em vários anos. Todas essas
ocorrências foram só algumas das muitas mudanças profundas que ocorreram
nesse workshop.
Foi no decorrer desse evento fantástico que conseguimos finalmente captar
mudanças objetivas no domínio científico da medição e documentar mudanças
subjetivas que os participantes relatavam na sua saúde. não me parece ser
exagerado dizer que o que observamos e registramos fez história. Mais adiante,
nesta obra, demonstro o que somos capazes de fazer, através de algumas
histórias — histórias de pessoas vulgares a fazerem coisas extraordinárias.
Era esta a minha intenção ao desenvolver esse workshop: queria dar às
pessoas informação científica e ensiná-las a aplicar essa informação para
conseguirem realizar importantes transformações. Afinal, a ciência é a
linguagem contemporânea do misticismo. Aprendi que assim que começamos a
falar na linguagem da religião ou da cultura e que começamos a citar a tradição,
dividimos o público. Mas a ciência une as pessoas e desmistifica o místico.
Além disso, descobri que se conseguisse ensinar o modelo científico de
transformação (com um pouco de física quântica à mistura para ajudar
compreender a ciência da possibilidade), combinando-o com as mais recentes
descobertas da neurociência, da neuroendocrinologia, da epigenética e da
psiconeuroimunologia, as instruções mais adequadas e a oportunidade de aplicar
essa informação, as pessoas conseguiriam concretizá-la. É se o pudesse fazer
medindo a transformação enquanto esta estivesse a acontecer, poderia utilizar
essa medição como complemento para esclarecer os participantes sobre a
transformação que tinham acabado de sentir. Com essa informação, poderiam
fazer outra transformação e daí por diante, num processo cada vez mais fácil. As
pessoas iriam fechando o fosso entre quem pensam que são e quem realmente
são: divinos criadores. Chamo a esse conceito “da informação à transformação”
e tornou-se a minha nova paixão.
Agora, ofereço um curso online intensivo de sete horas e também dou
pessoalmente nove ou dez workshops progressivos de três dias por ano, por todo
o mundo, mais um ou dois workshops avançados de cinco dias, com a presença
dos cientistas que referi e o seu equipamento para medir as mudanças ocorridas
no cérebro, na função cardíaca, na expressão genética e na energia em tempo
real. Os resultados são espantosos e é neles que se baseia este livro.
3. INTRODUÇÃO
Dar importância à mente
Os incríveis resultados a que assisti nos workshops avançados que ofereço e que
verifiquei nos dados científicos que deles resultaram conduziram-me à ideia de
placebo: como as pessoas podem tomar um comprimido de açúcar ou levar uma
injeção de soro e, de seguida, melhorar apenas por acreditarem em algo exterior.
Comecei a perguntar-me: “E se as pessoas começarem a acreditar nelas
próprias e não em algo que lhes é exterior? E se acreditarem ser capazes de
mudar o interior e passar ao mesmo estado de ser de alguém que toma um
placebo? não é exatamente isso que têm feito os participantes dos nossos
workshops para melhorarem? Precisarão mesmo de um comprimido ou de uma
injeção para alterarem o seu estado de ser? Será que podemos ensinar as pessoas
a conseguirem o mesmo, explicando-lhes como funciona na realidade o
placebo?”
Afinal, o pregador manipulador de serpentes que bebe estricnina sem sofrer
efeitos biológicos só pode ter alterado o seu estado de ser, não é? (Lerá mais
acerca disto no primeiro capítulo.) Então, se pudermos passar a medir o que
ocorre no cérebro e analisar toda essa informação, será que podemos ensinar as
pessoas a fazê-lo sozinhas, sem precisarem de algo exterior — de um placebo?
Seremos capazes de lhes explicar que elas são o placebo? Por outras palavras,
seremos capazes de as convencer de que, em vez de acreditarem no conhecido,
como um comprimido de açúcar ou uma injeção de soro, poderão acreditar no
desconhecido e torná-lo conhecido?
Na verdade, é sobre isso que versa este livro: assimilar e aplicar a noção de
que tem em si as engrenagens biológicas e neurológicas para isso. O meu
objetivo é desmistificar esses conceitos da nova ciência que explica como as
coisas realmente são e colocá-los ao alcance de mais e mais pessoas que
precisem deles para alterar os seus estados, pela criação de mudanças positivas
na sua saúde e no seu mundo exterior. Se isso lhe parece demasiado espantoso
para ser verdade, então, como já referi, mais para o final do livro, encontra parte
dos resultados das investigações feitas nos nossos workshops, demonstrando
precisamente como é possível.
1. O que este livro não é
Quero dedicar algumas linhas ao que não é tratado neste livro, para esclarecer,
desde já, eventuais mal-entendidos. Para começar, não encontra nada aqui sobre
a ética da utilização de placebos nos tratamentos clínicos. Há um grande debate
sobre a moralidade de tratar um paciente que não participe num ensaio clinico
com uma substância inerte. Embora talvez fosse útil perceber se o fim justifica
tais meios num diálogo mais alargado sobre os placebos, essa questão nada tem
que ver com o âmbito da mensagem que aqui se pretende passar. Este livro visa
colocá-lo ao volante da criação da sua própria mudança e não saber se está certo
ou errado iludirem-no para o levarem a fazer isso.
Também não é sobre a negação. Nenhum dos métodos aqui expostos
implica negar eventuais estados de saúde que possa apresentar. Muito pelo
contrário, neste livro pretende-se transformar maleitas e doenças. Interessa-me
medir as mudanças que as pessoas fazem, ao passarem da doença para a saúde.
Em vez de se procurar rejeitar a realidade, pretende-se demonstrar o que é
possível fazer, quando se acede a uma nova realidade.
Constatará que o feedback dos ensaios clínicos lhe dirá se o método que
utiliza está a funcionar ou não. Assim que vir os efeitos que criou, poderá prestar
atenção ao que fez para chegar a esse fim e repeti-lo. E se o método que utiliza
não estiver a funcionar, altere-o até conseguir. Estará a combinar a ciência com a
espiritualidade. A negação, por sua vez, ocorre quando não vê a realidade do que
está a acontecer dentro e fora de si.
Este livro também não põe em causa a eficácia das diversas modalidades de
cura. são inúmeras e muitas funcionam bastante bem. Todas têm um efeito
benéfico mensurável pelo menos nalgumas pessoas, mas o meu objetivo não é
fazer um catálogo completo desses métodos. O que pretendo é apresentar-lhe
uma modalidade especifica que me chamou a atenção: a cura somente pelo
pensamento. não deixe de recorrer aos métodos de cura que resultem no seu
caso, sejam fármacos, cirurgias, acupunctura, quiroprática, biofeedback,
massagem terapêutica, suplementos nutricionais, yoga, reflexologia, medicina
energética, terapia sonora e daí por diante. Este livro não pretende rejeitar nada,
a não ser as limitações que impõe a si mesmo.
É com prazer que digo que, embora ainda não tenhamos todas as respostas sobre
o domínio do poder do placebo, todos os tipos de pessoas estão a utilizar agora
mesmo estas ideias para fazerem mudanças extraordinárias nas suas vidas —
mudanças que muita gente considera impossíveis. As técnicas que partilho neste
livro não têm de se limitar à cura de um problema físico; também podem ser
aplicadas à melhoria de qualquer aspeto da vida. Espero com esta obra motivá-lo
a experimentar também estas técnicas e a tornar possíveis na sua vida mudanças
aparentemente impossíveis.
Nota do autor: Embora as histórias dos participantes dos meus workshops sejam
reais, os seus nomes e alguns pormenores identificativos foram alterados para
proteger a sua privacidade.
4. PARTE 1
INFORMAÇÃO
5. CAPÍTULO 1
Será possível?
No final dos anos 50, dois grupos de investigadores realizaram estudos em que
compararam a cirurgia à angina de peito que era padrão na altura com um
placebo. Isso aconteceu bem antes da ponte de safena, a cirurgia que mais se
utiliza hoje. Na época, a maioria dos doentes cardíacos submetia-se a um
procedimento conhecido como ponte mamária interna, que implicava expor e
laquear intencionalmente as artérias danificadas. Assim, se os cirurgiões
bloqueassem o fluxo sanguíneo, o corpo seria forçado a criar novos canais
vasculares, aumentando o fluxo sanguíneo para o coração. A cirurgia foi muito
bem-sucedida para a maioria dos pacientes visados, embora os médicos não
tivessem provas concretas da criação de novos vasos sanguíneos — daí a
motivação para os dois estudos.
Esses grupos de investigadores, um de Kansas City e outro de Seattle,
seguiram o mesmo procedimento, dividindo os sujeitos do estudo em dois
grupos. Um recebia a laqueação mamária interna normal e o outro, uma cirurgia
fictícia, em que os cirurgiões fariam as mesmas incisões de uma cirurgia
verdadeira, expondo as artérias e suturando-as depois, sem realizarem mais
nenhum procedimento.
Os resultados de ambos os estudos foram muito semelhantes: 67 por cento
dos pacientes submetidos à verdadeira cirurgia e 83 por cento dos pacientes
submetidos à cirurgia fictícia sentiam menos dores e precisavam de menos
medicamentos. A cirurgia placebo obtivera melhores resultados do que a
verdadeira!
Seria possível que os pacientes submetidos à cirurgia fictícia acreditassem
tanto que se sentiriam melhor a ponto de melhorarem mesmo — apenas por
terem boas expectativas? E sendo possível, o que revela isso acerca dos efeitos
que os pensamentos, positivos ou negativos, têm sobre o corpo e a saúde?
5. A atitude é tudo
Segundo o National Cancer Institute, cerca de 29 por cento dos pacientes que
fazem quimioterapia sofrem de um problema chamado náusea antecipatória
quando são expostos a cheiros e imagens que lhes recordem os tratamentos.
Cerca de 11 por cento sentem-se tão mal antes dos tratamentos que chegam a
vomitar. Enquanto alguns pacientes de cancro começam a sentirse enjoados no
carro, a caminho dos tratamentos e ainda antes de entrarem no hospital, outros
vomitam na sala de espera.
Um estudo de 2001 do Cancer Center da Universidade de Rochester
publicado no Journal of Pain and Symptom Management concluiu que a
expectativa da náusea era o indicador mais forte de que os pacientes a sentiriam.
Os dados dos investigadores revelaram que 40 por cento dos pacientes de
quimioterapia que pensavam que se sentiriam mal — porque os médicos os
tinham alertado para a possibilidade de se sentirem mal depois do tratamento —
começaram a sentir náuseas antes da administração do tratamento. Mais 13 por
cento dos que diziam não saber bem o que esperar também se sentiram mal. Já
de entre os pacientes que não esperavam ter náuseas nenhum se sentiu mal.
Como é que algumas pessoas se convencem tanto de que se sentirão mal
com os fármacos da quimioterapia que acabam por se sentir mal ainda antes de
Ihos administrarem? Será possível que seja o poder dos seus pensamentos o que
as faz sentirse mal? E, sendo assim, esses 40 por cento dos pacientes de
quimioterapia não poderíam, pelo contrário, sentirse bem, alterando
simplesmente as expectativas que têm sobre o estado de saúde ou de como será o
seu dia? não poderia esse pensamento de que a pessoa aceita fazê-la sentirse
melhor?
Em 1938, um homem de 60 anos que vivia numa zona rural do Tennessee passou
quatro meses a adoecer cada vez mais, até que a mulher o levou a um pequeno
hospital da cidade. Nessa altura, Vance Vanders (nome fictício) já tinha perdido
mais de 22 kg e parecia estar a morrer. O médico, o Dr. Drayton Doherty,
desconfiava de que Vanders sofria de tuberculose ou, até, de cancro, mas os
vários exames e radiografias que mandou fazer não acusaram nada. não havia
qualquer indício do que poderia estar a provocar aqueles problemas. Como
Vanders se recusava a comer, tiveram de lhe introduzir um tubo para o alimentar,
mas ele teimava em vomitar tudo o que lhe dessem. Convencido de que ia
morrer, continuava a piorar e, a certa altura, já mal falava. O fim parecia estar
próximo e o Dr. Doherty não tinha ideia do que poderia estar a motivar aquele
estado.
Perturbada, a mulher de Vanders pediu para ter uma conversa em particular
com o Dr. Doherty e, pedindo-lhe discrição, informou-o de que o problema do
marido era ter sido vítima de “vudu”. Aparentemente, Vanders, que vivia numa
comunidade onde o vudu era uma prática corrente, tivera uma discussão com um
padre de vudu local. Ora, esse mesmo padre pedira a Vanders para ir ter com ele
ao cemitério a altas horas da noite e lançara-lhe um feitiço, agitando uma garrafa
com um líquido fétido diante da cara dele. Depois, disselhe que ele não tardaria a
morrer sem que ninguém o pudesse salvar. Era isso. Convencido de que tinha os
dias contados, Vanders passara a crer numa sombria realidade futura. Ao
regressar a casa, o homem, derrotado, continuava a não querer comer e a mulher
acabou por ter de o levar novamente ao hospital.
Depois de ouvir aquela história, o Dr. Doherty lembrou-se de uma
estratégia muito pouco ortodoxa para tratar o paciente. De manhã, reuniu a
família de Vanders à volta da cama dele e informou-a de que já sabia exatamente
como curar o homem doente. Todos escutaram com atenção a história que
inventara. O Dr. Doherty explicou que, na noite anterior, tinha encontrado um
estratagema para fazer com que o padre de vudu se encontrasse consigo no
cemitério e lhe revelasse o feitiço que lançara a Vanders. não fora fácil; como
seria de esperar, o padre não queria colaborar. Só tinha cedido porque o Dr.
Doherty o encostara a uma árvore e lhe apertara o pescoço.
O padre dissera ao médico que esfregara ovos de lagarto na pele de Vanders
e que esses ovos lhe tinham chegado ao estômago, onde tinham chocado. A
maioria dos lagartos tinha morrido, contudo, sobrevivera um enorme, que estava
a comer o corpo de Vanders de dentro para fora. Assim, o Dr. Doherty queria
anunciar-lhes que bastava retirar o lagarto do corpo de Vanders para o curar.
Em seguida, chamou a enfermeira, que lhe trouxe uma grande seringa com
o que o Dr. Doherty afirmava ser um potente medicamento. Na verdade, a
seringa continha um medicamento de indução do vômito. Depois de verificar
cuidadosamente a seringa para se certificar de que estava tudo em ordem, o
médico administrou cerimoniosamente a injeção. De seguida, para grande
espanto da família, saiu da sala em silêncio.
Pouco depois, o paciente começou a vomitar. Então, a enfermeira trouxe-
lhe uma bacia sobre a qual Vanders se curvou a gemer. Quando achou que ele já
estaria prestes a deixar de vomitar, o Dr. Doherty voltou a entrar confiantemente
no quarto. Aproximando-se da cama, retirou um lagarto verde da mala e
escondeu-o na palma da mão. Assim que Vanders vomitou outra vez, o médico
largou sub-repticiamente o réptil na bacia.
“Veja, Vance!” gritou ele no tom mais dramático que conseguia. “Veja só o
que saiu de dentro de si. Está curado. O feitiço do vudu foi-lhe retirado!”
O quarto estava num grande alarido. Alguns familiares caíram a gemer. O
próprio Vanders se afastou da bacia com os olhos arregalados. Minutos depois,
adormeceu profundamente e dormiu mais de 12 horas.
Quando finalmente acordou, Vanders tinha muita fome e comeu tanto que o
médico até tinha medo que lhe rebentasse o estômago. Uma semana depois, o
paciente já tinha recuperado o peso e as forças. Saiu do hospital de boa saúde e
ainda viveu mais dez anos.
Será possível que um homem se possa deixar morrer, simplesmente por se
julgar enfeitiçado? Poderá o curandeiro contemporâneo, de estetoscópio ao
pescoço e bloco de receitas em riste, falar conosco com a mesma convicção com
que o padre de vudu falara a Vanders — e poderemos nós ter a mesma crença? E
se uma pessoa pode, em certa medida, decidir simplesmente morrer, não poderá
também outra que sofra de uma doença terminal decidir viver? Poderá uma
pessoa alterar permanentemente o seu estado interior — descartando-se da sua
identidade de vítima de cancro ou artrite, de doença cardíaca ou de Parkinson —
e pura e simplesmente reentrar num corpo saudável, com a mesma facilidade
com que se despe uma roupa e se veste outra? Nos próximos capítulos,
exploramos o que é realmente possível e como isso se aplica ao seu caso.
6. CAPITULO 2
Breve história do placebo
Como se costuma dizer, “para grandes males, grandes remédios" Quando servia
na Segunda Guerra Mundial, Henry Beecher, cirurgião americano formado em
Harvard, ficou sem morfina. Perto do fim da guerra» era frequente isso acontecer
nos hospitais de campanha. Na altura, Beecher estava prestes a operar um
soldado gravemente ferido e receava que, sem analgésicos, ele pudesse entrar em
estado de choque. O que aconteceu a seguir surpreendeu-o.
Sem perder tempo, mandou uma das enfermeiras encher uma seringa com
soro fisiológico e injetá-la no soldado, como se fosse morfina. O soldado
acalmou-se logo, reagindo como se tivesse recebido morfina, apesar de só ter
recebido água salgada. Beecher procedeu à operação, cortando a pele do solado,
fazendo os devidos tratamentos e cosendo-o — tudo sem anestesia. O soldado
não sentiu muitas dores nem entrou em estado de choque. Como poderia água
salgada substituir morfina?, pensou Beecher.
Depois desse incrível êxito, sempre que o hospital de campanha ficava sem
morfina, Beecher fazia o mesmo: injetava soro, como se estivesse a injetar
morfina. Convencido do poder dos placebos, quando regressou aos Estados
Unidos, depois da guerra, começou a estudar o fenômeno.
Em 1955, Beecher tez história, ao fazer uma análise clinica de 15 estudos
publicados pelo Journal of the American Medical Association que não só
abordavam a enorme importância dos placebos, como também apelavam a um
novo modelo de investigação médica que nomeasse aleatoriamente voluntários
para receberem medicamentos ativos ou placebos — aquilo a que já chamava
ensaios clínicos controlados aleatórios evitando assim que o potente efeito
placebo distorcesse os resultados.
A noção de que podemos alterar a realidade física exclusivamente através
do pensamento, da crença e da expectativa (estejamos ou não conscientes disso)
certamente que não começou nesse hospital de campanha da Segunda Guerra
Mundial. A Bíblia está repleta de histórias de curas milagrosas e é frequente, nos
tempos modernos, as pessoas acorrerem em massa a locais como Lourdes no sul
de França (onde uma camponesa de 14 anos chamada Bernadette teve uma visão
da Virgem Maria em 1858), deixando para trás muletas, aparelhos e cadeiras de
rodas como prova da sua cura. Há relatos de milagres idênticos em Fátima,
Portugal (onde três crianças pastoras viram uma aparição da Virgem Maria em
1917), e associados a uma estátua itinerante de Maria, talhada para o 30.o
aniversário da aparição. A estátua foi baseada na descrição feita pela criança
mais velha que, na época, já se tornara freira, e foi abençoada pelo Papa Pio XII,
antes de ser enviada para o mundo.
A cura pela fé não se limita, de forma alguma, à tradição cristã. O falecido
guru indiano Sathya Sai Baba, considerado por muitos como um avatar — a
manifestação de uma divindade era famoso por manifestar uma cinza sagrada
chamada vibhuti nas palmas das mãos. Diz-se que, consumida ou aplicada como
unguento na pele, essa fina cinza curava muitos males físicos, mentais e
espirituais. Diz-se também que os lamas tibetanos têm poderes de cura, sendo
possível tratar os doentes com o hálito.
Até os reis franceses e ingleses que reinaram entre os séculos IV e IV
curavam os súbditos, encostando-lhes apenas as mãos. O Rei Carlos II de
Inglaterra era particularmente famoso por isso, tendo-o feito cerca de 100 mil
vezes.
O que é que provocará esses eventos chamados milagrosos,
independentemente de o instrumento de cura ser a fé numa divindade ou os
poderes extraordinários de uma pessoa, um objeto, ou, até, um local considerado
sagrado ou santo? Através de que processo podem a fé e a crença produzir esses
efeitos tão profundos? Poderá a forma como atribuímos significado a um ritual
— seja ele rezar o terço, esfregar um pouco de cinza sagrada na pele ou tomar
um novo fármaco milagroso receitado por um médico de confiança — contribuir
para o fenômeno do placebo? O que é que no estado mental interior das pessoas
que recebem essas curas foi influenciado ou alterado por determinadas condições
do ambiente exterior (uma pessoa, local ou coisa no momento certo), a ponto de
o novo estado mental daí resultante produzir mudanças físicas reais?
1. Do magnetismo à hipnose
Na década de 1770, o médico vienense Franz Anton Mesmer ganhou uma boa
reputação ao desenvolver e demonstrar o que na época se considerava ser um
modelo médico de cura milagrosa. A partir de uma ideia de Sir Isaac Newton
acerca do efeito da gravidade planetária sobre o corpo humano, Mesmer
começou a crer que o corpo continha um fluido invisível que poderia ser
manipulado para curar as pessoas, recorrendo a uma força a que chamava
“magnetismo animal”.
A sua técnica consistia em pedir aos pacientes que fixassem atentamente os
olhos dele, antes de passar ímanes sobre os seus corpos para dirigir e equilibrar
esse fluido magnético. Posteriormente, descobriu que podia produzir o mesmo
efeito só com as mãos (sem os ímanes). Pouco depois do início de cada sessão,
os pacientes começavam a tremer e a contorcer-se, com convulsões que Mesmer
considerava terapêuticas. O médico continuava a equilibrar-lhes os fluidos até
eles acalmarem. Utilizava essa técnica para curar diversas maleitas, desde
perturbações graves como paralisia e distúrbios convulsivos, a dificuldades
menores, como problemas menstruais e hemorroidas.
Muito embora cada um deles tivesse enfoques e técnicas diferentes, todos esses
primeiros exploradores do poder da sugestão ajudaram centenas e centenas de
pessoas a curar uma ampla variedade de problemas físicos e mentais, alterando o
que pensavam sobre as maleitas e as respetivas formas de expressão corporal.
Nas duas primeiras grandes guerras, os médicos militares e, nomeadamente,
o psiquiatra militar Benjamin Simon utilizaram o conceito de sugestão hipnótica
(de que falarei mais adiante) para ajudar os soldados retornados que sofriam do
trauma que começou por ser chamado de “neurose de guerra”, mas que passou a
ser conhecido como perturbação de stress pós-traumâtico Esses veteranos
(PTSP).
tinham vivido experiências de guerra tão horríveis que muitos se tinham deixado
entorpecer intencionalmente pelas emoções para se protegerem, desenvolvido
amnésia em relação aos acontecimentos mais horrendos ou, pior ainda, reviviam
constantemente essas experiências em flashbacks — condições que podem
provocar doenças físicas induzidas pelo stress. Simon e os seus colegas
consideravam a hipnose extremamente útil para ajudar os veteranos a enfrentar
os seus traumas e a lidar com eles, impedindo-os de se traduzirem em ansiedade
e problemas físicos (como náuseas, hipertensão e outros problemas
cardiovasculares ou, até, depressão imunitária). À semelhança dos médicos do
século anterior, os médicos militares que utilizavam a hipnose ajudaram os
pacientes a alterar os seus padrões de pensamento para se restabelecerem e
recuperarem a saúde mental e física.
Essas técnicas de hipnose tiveram tanto êxito que os médicos civis
começaram a interessar-se pelo poder da sugestão, embora muitos não
chegassem a induzir o estado de transe nos pacientes e optassem por lhes dar
ocasionalmente comprimidos de açúcar e outros placebos, assegurando-lhes que
esses “medicamentos” lhes fariam bem. Muitos pacientes melhoravam
efetivamente, reagindo à sugestão como os soldados feridos de Beecher haviam
reagido à crença de que estavam a receber injeções de morfina. Tratava-se, aliás,
da era de Beecher e, depois de este ter escrito o seu estudo revolucionário de
1955 apelando à utilização de ensaios clínicos controlados e aleatórios com
placebos para testar fármacos, o placebo passou a ser parte integrante da
investigação médica.
As ideias de Beecher ficaram bem assentes. Inicialmente, os investigadores
esperavam que o grupo de controlo de um ensaio (o grupo que tomava o
placebo) permanecesse neutro e que as comparações com o grupo que se
encontrava a tomar o tratamento ativo demonstrasse a eficácia deste. Porém, em
muitos ensaios. os participantes do grupo de controlo apresentava claras
melhorias — por si só e devido à expectativa e à crença de estarem a tomar um
fármaco ou a receber um tratamento que os ajudaria. O placebo em si poderia ser
inerte, mas o efeito não era de modo algum inerte e essas crenças e expectativas
revelavam-se extremamente poderosas! Desse modo, para que os dados
pudessem ser verdadeiramente significativos, esse efeito teria de ser comprovado
de alguma forma.
Para isso, e acedendo ao pedido de Beecher, os investigadores fizeram dos
ensaios duplo-cegos aleatórios a norma, nomeando aleatoriamente sujeitos dos
dois grupos para receberem tratamento ativo ou de placebo e certificando-se de
que nenhum dos intervenientes, sujeitos ou investigadores, soubesse quem
tomava o quê. Assim, os dois grupos poderiam ter sujeitos a receber o placebo e
nenhum dos investigadores teria a possibilidade de tratar os dois grupos
distintamente. (Atualmente, já se fazem ensaios triplo-cegos, o que significa que
a informação sobre quem toma o quê fica inacessível até ao fim do estudo não só
para os participantes e os investigadores, mas também para os estatísticos que
analisam os dados.)
2. Explorar o efeito nocebo
Um estudo pioneiro realizado no final dos anos 70 demonstrou pela primeira vez
que um placebo poderia desencadear a libertação de endorfinas (os analgésicos
naturais do corpo), da mesma maneira que o fazem algumas substâncias ativas.
No estudo, o Dr. Jon Levine, da Universidade da Califórnia, em são Francisco,
deu placebos, em vez de medicação analgésica, a 40 pacientes de estomatologia
a quem tinham acabado de extrair os dentes do sizo. Como seria de esperar, uma
vez que os pacientes julgavam estar a receber analgésicos, a maioria relatou
sentir alívio. Mas, em seguida, os investigadores deram-lhes um antídoto para a
morfina chamado naloxone, que bloqueia quimicamente os locais receptores
para a morfina e as endorfinas (a morfina endógena) no cérebro. Quando os
investigadores o administraram, os pacientes começaram a sentir novamente
dores! Isso provou que. ao tomarem os placebos, os pacientes criavam as suas
próprias endorfinas — os seus próprios analgésicos. Esta descoberta foi um
marco na investigação do placebo, porque mostrou que o alívio sentido pelos
sujeitos do estudo teve origem na mente e se refletiu no corpo — no estado de
ser.
A profusão de novos antidepressivos que surgiram por volta do final dos anos
80, princípios dos anos 90, originaria uma controvérsia que acabaria (embora
não imediatamente) por tornar os placebos mais dignos de respeito. Ao estudar
uma meta-análise de 1998 que reuniu estudos publicados sobre os fármacos
antidepressivos, o psicólogo Irving Kirsch, na altura da Universidade do
Connecticut, ficou chocado com a constatação de que, em 19 ensaios clínicos
duplo-cegos aleatórios com mais de 2300 pacientes, uma grande parte das
melhorias não se devia aos fármacos antidepressivos mas sim ao placebo.
Kirsch decidiu servir-se da legislação Freedom of Information Act4 para
aceder aos dados dos ensaios clínicos não publicados conduzidos pelos
fabricantes dos fármacos que, por lei, tinham de ser transmitidos à Food and
Drug Administration5. Kirsch e os colegas fizeram uma segunda meta-análise,
dessa vez dos 35 ensaios clínicos realizados para seis dos antidepressivos mais
receitados e aprovados entre 1987 e 1999. Analisando os dados de mais de 5000
pacientes, os investigadores concluíram novamente que, em 81 por cento dos
casos, os placebos funcionavam tão bem como os populares fármacos
antidepressivos Prozac, Etfexor, Serzone e Paxil. Na maioria dos casos em que o
fármaco tinha funcionado mesmo melhor, os benefícios eram tão insignificantes
que nem chegavam a ter relevância estatística. Os fármacos só se revelaram mais
eficazes do que o placebo nos casos de depressão grave.
Como seria de esperar, o estudo de Kirsch provocou bastante alarido,
embora muitos dos investigadores parecessem dispostos a rejeitar o placebo por
razões acessórias. Apesar de uma boa parte da discórdia se centrar no facto de
esses fármacos não serem muito melhores do que o placebo, a verdade é que os
pacientes que participaram nos ensaios melhoraram com os antidepressivos. Os
fármacos funcionaram. Mas os pacientes que tomaram placebos também
melhoraram. Em vez de entenderem o trabalho de Kirsch como prova de que os
antidepressivos falhavam, alguns investigadores preferiram ver o copo meio
cheio e entenderam os dados como prova de que os placebos funcionavam.
Afinal, os ensaios proporcionaram provas impressionantes de que o ato de
pensar que podemos melhorar de depressão pode realmente curá-la como um
fármaco. Na realidade, os participantes do estudo que melhoraram com placebos
estavam a produzir os seus próprios antidepressivos naturais, tal como, nos anos
70, os pacientes de Levine, a quem extraíram os sizos, tinham produzido os seus
próprios analgésicos. Kirsch limitara-se a trazer à luz do dia provas de que o
corpo possui uma inteligência inata que lhe permite produzir uma vasta gama de
complexos químicos naturais para se curar. É interessante constatar que a
percentagem de pessoas que melhoram a tomar placebos nos ensaios dos
tratamentos para a depressão foi aumentando com o tempo, tal como a resposta
aos fármacos ativos; alguns investigadores sugeriram que isso se deve ao facto
de o público ter maiores expectativas em relação à medicação antidepressiva, o
que, por sua vez, torna os placebos mais eficazes nos ensaios duplo-cegos.
5. A neurobiologia do placebo
Era só uma questão de tempo até que os neurocientistas começassem a utilizar
sofisticados exames imagiológicos ao cérebro para observar em pormenor o que
acontece a nível neuroquímico quando se administra um placebo. Um exemplo é
um estudo realizado em 2001 com pacientes de Parkinson que recuperaram
capacidades motoras depois de receberem uma injeção de soro fisiológico que
julgavam ser de medicação (descrito no Capítulo 1). O investigador italiano
Fabrizio Benedetti, pioneiro na investigação do placebo, realizou um estudo
idêntico da doença de Parkinson alguns anos depois, em que se conseguiu
demonstrar pela primeira vez o efeito do placebo em determinados neurônios.
Os seus estudos exploraram não só a neurobiologia da expectativa, como no
caso dos doentes de Parkinson, mas também a neurobiologia a funcionar com o
condicionamento clássico — o que Ader conseguira brevemente vislumbrar anos
antes com as suas cobaias indispostas. Numa experiência, Benedetti deu aos
sujeitos o fármaco sumatriptan para estimular a hormona de crescimento e inibir
a secreção de cortisol, mas, a certa altura, sem os pacientes saberem, começou a
substituí-lo por um placebo. O investigador concluiu que, nos exames de
imagiologia, o cérebro dos pacientes continuava a ativar-se nos mesmos locais
em que se ativava quando eles tomavam sumatriptan, o que provava que o
cérebro produzia efetivamente e por si só a mesma substância — neste caso, a
hormona de crescimento.
O mesmo se verificou com outras combinações de fármaco e placebo — as
substâncias químicas produzidas no cérebro eram praticamente iguais âs que os
sujeitos começaram por receber na medicação para tratamento de problemas
imunitários, distúrbios motores e depressão. Aliás, Benedetti até demonstrou que
os placebos provocavam os mesmos efeitos secundários que os fármacos. Por
exemplo, num estudo de placebo que utilizava narcóticos, os sujeitos que
tomaram o placebo sofreram os mesmos efeitos secundários de respiração lenta e
superficial, porque o efeito placebo imitou muito bem os efeitos fisiológicos do
fármaco.
Em bom rigor, o nosso corpo é efetivamente capaz de criar um vasto leque
de substâncias químicas que nos podem curar, proteger da dor, ajudar a dormir
profundamente, melhorar o sistema imunitário, fazer sentir prazer e, até,
encorajar a apaixonar-nos. Pense no seguinte: se um determinado gene que já se
tenha expressado, fazendo-nos produzir determinadas substâncias químicas em
dada altura da vida, entretanto tenha sido desativado, devido a um problema de
stress ou a uma doença, levando-nos a deixar de as produzir, talvez seja possível
ativar novamente esse gene, porque o corpo já sabe como fazer. (não saia daí,
para conhecer as investigações que o comprovam.)
Observemos esse processo. Os estudos neurológicos demonstram uma coisa
extraordinária: enquanto se tomar a mesma substância, o cérebro ativará os
mesmos circuitos da mesma forma — memorizando o que a substância faz. A
pessoa facilmente fica condicionada ao efeito de um comprimido ou de uma
injeção específicos, por os associar a uma mudança interna que lhe é familiar por
experiência. Em virtude desse tipo de condicionamento, o placebo ativa os
mesmos circuitos integrados que o fármaco ativaria. Uma memória associativa
suscita um programa subconsciente que estabelece uma ligação entre o
comprimido ou a injeção e a alteração hormonal no organismo; então, o
programa pede automaticamente ao corpo que produza as substâncias químicas
idênticas às do fármaco. não é espantoso?
As investigações de Benedetti esclarecem ainda outra questão: diferentes
tipos de tratamento com placebo funcionam melhor com diferentes objetivos.
Por exemplo, no estudo do sumatriptan, as sugestões verbais iniciais de que o
placebo funcionaria em nada afetaram a produção da hormona de crescimento.
Se utilizarmos os placebos para provocar respostas psicológicas inconscientes
pela memória associativa (como, por exemplo, a secreção de hormonas ou a
alteração do funcionamento do sistema imunitário), precisamos do
condicionamento, mas, se utilizarmos placebos para alterar respostas mais
conscientes (tais como o alívio da dor ou da depressão), basta uma simples
sugestão ou expectativa. Assim, Benedetti insistiu no facto de que não existe
uma só resposta de placebo, mas várias.
6. O domínio da mente sobre a matéria
dos negros e dos brancos com as mesmas classificações nos era igual — prova
SAT
Dois estudos recentes da Universidade de Toledo talvez sejam os que mais nos
ajudam a perceber a forma como a mente por si só pode determinar o que uma
pessoa sente e percepciona. Em cada estudo, os investigadores dividiram um
grupo de voluntários saudáveis em duas categorias — os otimistas e os
pessimistas de acordo com as respostas fornecidas num questionário de
diagnóstico. No primeiro dia, deram aos sujeitos um placebo, mas disseram-lhes
que se tratava de um fármaco que os faria sentirse mal. Os pessimistas tiveram
reações mais negativas do que os otimistas. No segundo estudo» os
investigadores também deram um placebo aos sujeitos, mas disseram-lhes que
este os ajudaria a dormir melhor. Os otimistas relataram dormir muito melhor do
que os pessimistas.
Desse modo, os otimistas tendiam mais a responder positivamente à
sugestão de que uma determinada coisa os faria sentirse melhor, porque eram
impulsionados a esperar o melhor cenário futuro possível, e os pessimistas
tendiam mais a responder negativamente à sugestão de que uma determinada
coisa os faria sentirse pior, por esperarem consciente ou inconscientemente o
pior resultado possível. Era como se os otimistas estivessem inconscientemente a
produzir as substâncias químicas necessárias para os ajudar a dormir e os
pessimistas estivessem inconscientemente a produzir uma autêntica farmácia de
substâncias que os faziam sentirse mal.
Por outras palavras, no mesmo ambiente, as pessoas com uma mentalidade
positiva tendem a gerar situações positivas, enquanto as pessoas com uma
mentalidade negativa tendem a gerar situações negativas. É o milagre da nossa
própria engenharia biológica deliberada e individual.
Muito embora possamos não saber exatamente de que maneira é que o
efeito placebo gera tantas curas médicas (o estudo de Beecher, de 1955, referido
anteriormente neste capítulo, aponta para 35 por cento, mas as investigações
modernas demonstram que podem ser de 10 por cento a 100 por cento), o
número total é, sem dúvida alguma, extremamente significativo. Sabendo isso,
devemos perguntar-nos: Que percentagem de doenças e maleitas se deverá aos
efeitos dos pensamentos negativos no nocebo? Tendo em conta que as mais
recentes investigações cientificas na área da psicologia calculam que cerca de 70
por cento dos nossos pensamentos são negativos e redundantes, o número de
doenças de tipo nocebo inconscientemente geradas poderá ser impressionante —
certamente muito superior ao que julgamos. Essa ideia faz muito sentido, dado
que tantos problemas mentais, físicos e emocionais parecem surgir do nada.
Por mais incrível que nos possa parecer o facto de a mente poder ser assim
tão poderosa, a verdade é que as investigações realizadas nas últimas décadas
apontam claramente para alguns pontos bem assentes: que o que pensamos é o
que sentimos e que, no que respeita à saúde, isso se deve à espantosa
farmacopeia que temos no organismo, automática e perfeitamente alinhada com
os nossos pensamentos. Esse milagroso dispensário ativa moléculas de cura
naturalmente produzidas e que já existem no corpo — fornecendo vários
complexos concebidos para suscitar diferentes efeitos nas mais diversas
circunstâncias. É claro que isto levanta a questão: Como é que fazemos isso?
Os próximos capítulos explicam como tudo isso acontece a nível biológico
e como pode aplicar essa capacidade inata na criação consciente e intencional da
saúde — e da vida — que deseja.
7. CAPÍTULO 3
Caso tenha lido o meu livro anterior. Como Criar Um Nov*o F verá que este
M.
recompensa.
A Figura 3.1B demonstra que se juntarmos o estimulo, a um estimulo
condicionado vezes e vezes, não deixaremos de obter uma resposta.
A Figura 3.1C mostra que se eliminarmos o estimulo e o substituirmos por um
estimulo condicionado, como um placebo, podemos obter a mesma resposta
fisiológica.
O terceiro elemento consiste em atribuir significado a um placebo e ajuda-o
a funcionar, porque quando damos um novo significado a uma ação, imbuímo-la
de intenção. Por outras palavras, quando aprendemos a compreender uma coisa
nova, aplicamos-lhe mais energia consciente e determinada. Assim sendo, por
exemplo, no estudo acerca das camareiras de hotel mencionado no capitulo
anterior, assim que perceberam que faziam muito exercício físico por dia no
cumprimento das suas funções e conheceram os benefícios associados, passaram
a atribuir mais sentido às suas ações. não se limitavam a aspirar, limpar e
arrumar; deram-se conta de que trabalhavam os músculos, aumentavam a força e
queimavam calorias. A partir do momento em que aspirar, limpar e arrumar
adquiriram outro significado depois de os investigadores lhes terem ensinado as
vantagens do exercício físico, a intenção ou o objetivo das camareiras no seu
trabalho deixou de ser apenas cumprir as suas tarefas — passou a ser também
uma forma de fazer exercício físico e de ser mais saudável.
E foi precisamente isso que aconteceu. Os membros do grupo de controlo
não atribuíram o mesmo significado às suas tarefas, porque não sabiam que o
que faziam lhes trazia benefícios para a saúde, portanto, também não os
obtiveram — apesar de fazerem exatamente o mesmo trabalho.
O placebo funciona assim. Quanto mais acreditar no êxito de uma
substância, um procedimento ou uma cirurgia em particular por lhe terem falado
nos seus benefícios, melhor serão as hipóteses de responder ao pensamento de
melhorar a saúde e de se restabelecer. Por outras palavras, se der mais sentido a
uma possível experiência com uma pessoa, um local ou uma coisa no ambiente
exterior, acreditando que isso pode mudar o ambiente interior, é provável que
consiga mudar intencionalmente o estado interior só com o pensamento. Além
disso, quanto mais aceitar um novo resultado relacionado com a sua saúde —
por ter aprendido as possíveis recompensas do que faz -, mais nítido será o
modelo que cria na mente, e melhor conseguirá preparar o cérebro e o corpo para
o reproduzir. Para simplificar, quanto mais acreditar na causa, melhor será o
efeito.
Se concorda comigo até aqui, podemos dizer que o sentimento familiar que
acabei de descrever é o seu “eu" — a sua identidade ou a sua personalidade. É o
seu estado de ser. É confortável, automático e não exige esforço. É o seu eu
conhecido que, muito sinceramente, está a viver no passado. Se mantiver esse
processo em andamento todos os dias (porque acorda de manhã, recordando e
contando com a sensação do seu “eu" todos os dias), com o tempo, esse estado
de ser conhecido só poderá motivar os mesmos pensamentos que o influenciam a
desejar o mesmo ciclo automático de escolhas, comportamentos e experiências
para voltar a esse sentimento familiar que considera ser o seu “eu” Assim sendo,
tudo em si permanece na mesma.
Se essa for a sua personalidade, então, a sua personalidade cria a sua
realidade pessoal. É tão simples como isso. E a sua personalidade consiste na
sua forma de pensar, de agir e de sentir. Desse modo, a personalidade presente
que está a ler esta página criou a realidade pessoal presente a que chama vida, e
isso também significa que se quiser criar uma nova realidade pessoal — uma
nova vida -, deve começar a analisar ou a refletir sobre os pensamentos que tem
formulado para os mudar. Deve ganhar consciência dos comportamentos
inconscientes que tem escolhido assumir e que o têm levado às mesmas
experiências, para, depois, fazer novas escolhas, agir de outra maneira e criar
novas experiências. A Figura 3.3 mostra como a personalidade influencia a
realidade pessoal
Deve observar e prestar atenção a todas as emoções que memorizou e segue
diariamente, para decidir se revivê-las vezes sem conta é ou não benéfico para si.
A maioria das pessoas tenta criar a nova realidade pessoal como a velha e isso
não funciona. Para mudar a sua vida, tem de se tornar literalmente outra pessoa.
não saia daí para ler mais factos científicos que comprovam esse processo.
Observe a Figura 3.4 e siga novamente a sequência.
FIGURA 3.3
A nossa personalidade consiste na nossa forma de pensar, agir e sentir. É o nosso
estado de ser. Assim, os mesmos pensamentos, ações e sentimentos mantém-nos
acorrentados à mesma realidade pessoal do passado. Quando, como
personalidade, assimilamos novos pensamentos, ações c sentimentos, coamos
inevitavelmente uma nova realidade pessoal no futuro.
Até aqui, apenas mencionei rapidamente termos como circuitos cerebrais, redes
neurais, química cerebral e expressão genética, sem dar grandes explicações
sobre o que significam. No resto do capítulo, defino conceitos científicos
simples para explicar o funcionamento conjunto do cérebro e do corpo na
construção de um modelo completo, para perceber como se pode tornar o seu
próprio placebo.
O cérebro, com pelo menos 75 por cento de água e a consistência de um
ovo mal cozido, é composto por cerca de 100 mil milhões de células nervosas,
chamadas neurônios, impercetivelmente organizadas e suspensas nesse ambiente
aquoso. Cada qual idêntica a um carvalho despido mas elástico, com ramos que
se contorcem e sistemas de raízes que se ligam e desligam de outras células
nervosas. O número de ligações possíveis de uma dada célula varia entre 1000 e
mais de 100 mil, consoante a sua localização no cérebro. Por exemplo, o
neocórtex — o cérebro pensante — tem cerca de 10 mil a 40 mil ligações por
neurônio.
Julgava-se que o cérebro era como um computador e, embora as
semelhanças sejam muitas, agora sabemos que é muito mais do que isso. Cada
neurônio constitui o seu próprio e único biocomputador, com mais de 60
megabytes de É capaz de processar enormes quantidades de dados — até
RAM.
tem nenhuma caixa a sério no cérebro. Mas podemos dizer com segurança que
pensar dentro da caixa significa que estruturamos fisicamente o cérebro num
padrào limitado, tal como ilustra a Figura 3.6. Ao reproduzir vezes sem conta o
mesmo nível mental, o conjunto de circuitos neurologicamente integrado que
mais foi ativado passou a determinar o que somos como resultado da nossa
própria evolução.
FIGURA 3.6
Figura 3.7
3. A neuroplasticidade
O nosso objetivo tem de ser pensar fora da caixa e levar o cérebro a fazer
ativações diferentes, tal como ilustra a Figura 3.7. É isso que significa ter unia
mente aberta, porque, sempre que põe o cérebro funcionar de um modo
diferente, está literal — mente a mudar a mente.
As investigações demonstram que, ao utilizarmos o cérebro, fazêmo-lo
crescer e mudar, graças à neuroplasticidade — a capacidade do cérebro para se
adaptar e mudar, quando recebemos novas informações. Por exemplo, quanto
mais os matemáticos estudam matemática, mais ramos neurais surgem na zona
do cérebro utilizada para a matemática. E, nos anos que passam a tocar em
orquestras sinfônicas, os músicos profissionais expandem a parte do cérebro
associada às línguas e às capacidades musicais.
Os termos científicos oficiais para designar o funcionamento da
neuroplasticidade são poda e germinação, e significam exatamente isso: a
eliminação de conexões, padrões e circuitos neurais antigos e a criação de novos.
Num cérebro em bom funcionamento, esse processo pode acontecer em
segundos. Os investigadores da Universidade da Califórnia em Berkeley
demonstraram esse facto num estudo realizado com cobaias, descobrindo que as
cobaias que viviam num ambiente rico (que partilhavam a gaiola com irmãos e
filhos, e que tinham acesso a muitos brinquedos) apresentavam cérebros
maiores, com mais neurônios e conexões neurais do que as cobaias em
ambientes menos ricos. Mais uma vez se prova que, quando aprendemos coisas
novas e vivemos experiências novas, alteramos literalmente o cérebro.
Para se libertar dos grilhões da programação fixa e do condicionamento que
o mantêm sempre igual, tem de fazer um grande esforço. Também precisa de
muito conhecimento, porque é ao aprender informações vitais sobre si próprio e
a sua vida que pode aplicar um novo padrão ao bordado tridimensional que
constitui a sua matéria cinzenta. Já tem mais matéria-prima para pôr o cérebro a
funcionar de outras formas. Começa a pensar e a observar distintamente a
realidade, porque passa a ver a vida pelo olhar de uma nova mente.
FIGURA 3.7
Quando aprendemos coisas novas e começamos a pensar de outra forma, o
cérebro ativa sequências, padrões e combinações diferentes. Ou seja, atiramos
distintamente diversas redes de neurônios. E sempre que fazemos com que o
cérebro trabalhe de outro modo, mudamos a mente. Ao começarmos a pensar
fora da caixa, os novos pensamentos criam novos comportamentos, escolhas,
experiências e emoções. Nessa altura. a identidade muda.
Nesta altura, já entende que, para mudar, tem de tomar consciência do seu eu
inconsciente (que não passa de um conjunto de programas fixos).
O mais difícil na mudança é não fazermos as mesmas escolhas que fizemos
na véspera. Se é tão difícil é porque deixar de formular os mesmos pensamentos
que levam às mesmas escolhas de sempre — que nos fazem agir
automaticamente, como é habitual, para vivermos as mesmas experiências que
nos confirmam as mesmas emoções da nossa identidade — nos incomoda. É um
novo estado de ser estranho; é desconhecido. não nos parece “normal”. Já não
nos sentimos nós próprios — porque já não somos nós próprios. E porque tudo
parece incerto já não conseguimos prever a sensação do eu familiar e o seu
reflexo na nossa vida.
Por mais incômodo que isso possa ser inicialmente, pelo menos é uma
indicação clara de que entramos no rio da mudança. Entramos no desconhecido.
Quando deixamos de ser o nosso velho eu, temos de atravessar o fosso que o
separa do novo eu e que a Figura 3.8 ilustra tão bem. Por outras palavras, não
assumimos a nova personalidade de um momento para o outro. É um processo
que leva o seu tempo.
Em geral, quando entram no rio da mudança, as pessoas sentem-se tão
incomodadas no vazio entre o velho e o novo eu que retomam imediatamente os
seus velhos eus. Inconscientemente, pensam: isto não me parece bem, sinto-me
mal, ou não me sinto muito bem. Assim que aceitam esse pensamento, ou
autossugestão (e se tornam suscetíveis aos próprios pensamentos), repetem
inconscientemente as mesmas velhas escolhas, que geram os mesmos
comportamentos habituais, que conduzem às mesmas experiências, que retorçam
automaticamente os mesmos sentimentos e emoções. Depois, dizem para si
próprias: Assim, já me sinto bem. Mas o que querem dizer é que se sentem
familiarizadas.
Se compreendermos que o incômodo que sentimos na travessia do rio da
mudança é a morte biológica, neurológica, química e, até, genética do velho eu,
ganhamos poder sobre a mudança e já podemos contemplar o outro lado do rio.
Se aceitarmos o facto de que a mudança é a desnaturação dos circuitos fixos de
anos a pensar inconscientemente da mesma maneira, já podemos persistir. Se
entendermos que o incômodo que sentimos se deve ao desmantelamento de
velhas atitudes, crenças e noções que fixamos repetidamente à nossa arquitetura
cerebral, conseguimos aguentar. Se conseguirmos perceber que os desejos com
que nos debatemos no processo da mudança são sintomas de privação das
adições emocionais e químicas do corpo, podemos avançar. Se formos capazes
de entender que os nossos hábitos e comportamentos subconscientes se estão a
transformar, num verdadeiro processo de variação biológica que nos permite
mudar o corpo a nível celular, conseguimos investir. E se conseguirmos recordar
que estamos a modificar os próprios genes desta vida e de incontáveis gerações
anteriores, podemos manter-nos inspirados e concentrados no nosso objetivo.
FIGURA 3.8
Para fazer a travessia do rio da mudança, tem de deixar para trás o mesmo eu
previsível de sempre — associado aos mesmos pensamentos, escolhas,
comportamentos e sentimentos — e entrar no vazio ou desconhecido. O tosso
entre o velho e o novo eu i a morte biológica da sua velha personalidade. Se o eu
de sempre morre, terá de criar um novo, com novos pensamentos, escolhas,
comportamentos e emoções. Entrar nesse rio i avançar para um novo eu
imprevisível e estranha O desconhecido é o único espaço onde pode criar * não
pode criar nada de novo a partir do que conhece
5. Superar o ambiente
Podemos dizer que o cérebro está organizado para refletir tudo o que sabemos e
experienciamos na vida. Já sabe que foram os acontecimentos das suas
interações com o mundo exterior que moldaram a sua personalidade. As redes
complexas de neurônios que se ativaram e fixaram em conjunto nos dias que já
passamos na Terra formaram milhares de milhões de conexões, porque
aprendemos e formamos memórias. Como cada conexão de um neurônio a outro
é uma “memória”, o cérebro é um registo vivo do nosso passado. As
experiências que viveu com todas as pessoas e coisas em diferentes alturas e
locais do seu ambiente exterior ficaram gravadas nos cantos recônditos da sua
massa cinzenta.
Assim, por natureza, a maioria das pessoas pensa no passado, porque utiliza
o mesmo hardware e software das memórias passadas. Se vivermos a mesma
vida, todos os dias, fazendo as mesmas coisas, às mesmas horas, vendo as
mesmas pessoas nos mesmos sítios e criando as mesmas experiências da
véspera, aprisionamo-nos num ciclo perpétuo de influência dos mundos
exteriores sobre os mundos interiores. É o ambiente que controla a nossa forma
de pensar, agir e sentir. Somos vitimas da nossa realidade pessoal, porque é ela
que cria a nossa personalidade — e isso tornou-se um processo inconsciente.
Depois, reforçamos as mesmas formas de pensar e sentir e, nos tangos que
dançam ou nas batalhas que travam, os mundos exteriores e interiores fundem-se
e formam um só.
Se o ambiente regula diariamente a nossa forma de pensar e sentir, para
mudar, alguma coisa de nós ou da nossa vida teria de superar as circunstâncias
presentes nesse ambiente.
6. Pensar e sentir, e sentir e pensar
8. CAPÍTULO 4
O efeito placebo no corpo
Imagine uma escada ou um fecho éclair numa espiral, para ter uma ideia de
como é o ácido desoxirribonucleico (mais conhecido como Armazenado no
ADN).
ou as instruções elementares que fazem de nós aquilo que somos (embora, como
não tardaremos a ver, essas instruções não sejam um mapa imutável que as
nossas células têm de seguir para sempre). Cada metade desse fecho de ADN
Sol 150 vezes. Mas, se retirássemos todo o dos quase sete mil milhões de
ADN
para produzir proteínas. A palavra proteína deriva do termo grego protas, que
significa “de importância primordial". As proteínas são a matéria-prima que o
corpo utiliza para construir não só estruturas tridimensionais coerentes (a nossa
anatomia física), mas também as funções intricadas e as interações complexas
que constituem a nossa fisiologia. Na verdade, o corpo é uma máquina de
proteínas. As células musculares produzem actina e miosina; as células dérmicas
produzem colagênio e elastina; as células imunitárias produzem anticorpos; as
células da tiroide produzem tiroxina; algumas células oculares produzem
queratina; as células da medula óssea produzem hemoglobina; e as células
pancreáticas produzem enzimas como a protéase, a lipase e a amílase.
Todos os elementos produzidos por essas células são proteínas que
controlam o sistema imunológico, digerem os alimentos, saram as feridas,
catalisam as reações químicas, apoiam a integridade estrutural do corpo,
proporcionam moléculas elegantes para a comunicação celular e fazem muito
mais. Em suma, as proteínas são a expressão da vida (e a saúde do corpo).
Observe a Figura 4.1, que apresenta uma noção simplificada dos genes.
Nos 60 anos que passaram desde que os Doutores James Watson e Francis
Crick descobriram a hélice dupla do mantém-se o “dogma central” de que os
ADN,
genes determinam tudo numa pessoa — tal como disse Watson numa edição da
Nature dos anos 70. Com o surgimento de evidências contraditórias, muitos
investigadores passaram a rejeitá-lo como mera anomalia num sistema
complexo.
FIGURA-4.1
Esta é uma representação muito simplista de uma célula com ADN conluio no
núcleo celular. Esticado em tiras individuais. o material genético parece um
fecho éclair ou uma escada e chama-se hélice de ADN. Os degraus da e$u<ta
são os pares de áddos nuclêicos. que funcionam como códigos para fazer
proteínas. Chama-se gene a uma sequência e a uma medida de comprimento da
tira de ADN. O gene expressa-se quando produz uma proteína. As várias células
do corpo produzem diferentes proteínas para a estrutura e a função.
A resposta a essa pergunta levou a uma nova teoria: os genes devem funcionar
em conjunto numa colaboração sistêmica uns com os outros, sendo que se
expressam (ativam) ou suprimem (desativam) em grupos, simultaneamente, na
célula; é a combinação desses genes ativados em determinada altura que produz
as diferentes proteínas de que dependemos para viver. Imagine um fio de luzes
intermitentes de Natal, em que um grupo se apaga quando o outro se acende. Ou
imagine o horizonte noturno de uma cidade — com as luzes das várias divisões
de cada edifício a acender e a apagar, pela noite fora.
É evidente que não se trata de um processo aleatório. O genoma, ou a tira
de na sua totalidade, sabe o que fazem todas as suas partes que, interligadas.
ADN
realmente de lixo — apesar de ainda não saberem como é utilizado todo esse
material, já sabem que pelo menos uma parte é responsável pela produção das
proteínas regulatórias.)
“Na verdade, os genes contribuem para a formação das características de
uma pessoa, mas não as determinam” escreve o Doutor Dawson Church no livro
The Genie in Your Genes (O Gênio dos Sous Genes). “As ferramentas da
consciência — incluindo crenças, orações, pensamentos, intenções e fé —
correlacionam-se amiúde muito mais com a saúde, a longevidade e a felicidade
do que os genes”. A verdade é que, da mesma maneira que o corpo é muito mais
do que um saco de ossos e carne, os genes são muito mais do que simples
informação armazenada.
nova proteína e o sinal que traz com ele traduz-se em informação já no interior
da célula. Depois, penetra no núcleo celular através de uma janelinha e,
dependendo do conteúdo da mensagem proteica, procura um cromossoma
específico (uma só componente de em espiral contendo inúmeros genes) no
ADN
manga de modo a que este se possa manifestar (tal como o livro retirado da
prateleira da biblioteca só pode ser lido se o abrirem). O código genético de ADN
contém informação à espera de ser lida e ativada para criar uma determinada
proteína. Enquanto essa informação não se manifestar no gene, depois de
removida a manga de proteínas, o fica latente. É um armazém de informação
ADN
codificada à espera de ser aberto ou destrancado. Pode ver o como uma lista
ADN
conjuntar numa nova proteína a partir do código que contém em si. Passou de
mapa de potencial latente a expressão ativa. O gene proteico já pode construir,
reunir, restaurar, manter, influenciar e interagir com vários aspetos diferentes da
vida, tanto na célula como fora dela. A Figura 4.2 apresenta um resumo do
processo.
Da mesma forma que um arquiteto obtém toda a informação necessária para
construir uma estrutura a partir de um plano, o corpo obtém todas as instruções
de que necessita para criar moléculas complexas que o mantêm vivo e a
funcionar a partir dos cromossomas no Mas antes de ler o plano, o arquiteto
ADN.
tem de o retirar do tubo de cartão e desenrolar. Antes disso, o plano não passa de
informação latente à espera de que a leiam. Com a célula é igual: o gene
permanece inerte até que a cobertura proteica seja extraída e a célula decida ler a
sequência genética.
Figura 4.2A
se espalhava mais depressa nos pacientes mais estressados. mas também que
HIV
Já sabe que todos os pensamentos que formula, todas as emoções que sente e
todos os acontecimentos que experiencia, sejam eles alegres ou estressantes, o
tornam engenheiro epigenético das suas próprias células. Somos nós que
controlamos o nosso destino. £ aqui que surge outra questão: se o seu ambiente
mudar e o levar a programar os genes de outra forma, será possível — com base
no que vê e naquilo em que acredita — programar o gene antes de a mudança no
ambiente ocorrer? Os sentimentos e emoções são normalmente os produtos
finais das experiências, mas será possível combinar uma intenção bem definida
com uma emoção para começar a dar ao corpo uma ideia da experiência futura,
antes da sua manifestação?
Quando se concentra a sério numa intenção para obter um resultado futuro,
se puder tornar o pensamento interior mais real do que o ambiente exterior nesse
processo, o cérebro não saberá diferenciar uma coisa da outra. Nessa altura,
como a mente inconsciente, o corpo começará a vivenciar o novo acontecimento
futuro no momento presente. Transmitirá informação a novos genes, de outra
forma, que se estão a preparar para esse acontecimento futuro imaginado.
Talvez tenha ouvido há algum tempo a história de um major que foi preso num
campo de concentração do Vietname e que jogava golfe mentalmente, num
determinado campo, para manter a sanidade mental — e que conseguiu uma
pontuação perfeita quando finalmente o libertaram e foi para casa. Ou talvez
tenha ouvido a história de Anatoly Shcharansky, ativista dos direitos humanos
soviético, posteriormente conhecido como Natan Sharansky, que passou mais de
nove anos preso na União Soviética, depois de o terem falsamente acusado de
espiar para os Estados Unidos nos anos 70. Sharansky — que passou 400 dias da
sua pena numa diminuta cela escura e gelada, de castigo — fazia um jogo mental
de xadrez contra si próprio todos os dias, memorizando as coordenadas do
tabuleiro e as posições de cada peça. Foi assim que Sharansky conseguiu manter
muitos dos mapas neurais (que normalmente requerem estímulos exteriores para
permanecerem intactos). Depois de o libertarem, imigrou para Israel e chegou a
ministro. Quando o campeão mundial de xadrez Gary Kasparov foi a Israel em
1996 participar num desafio da modalidade simultaneamente contra 25
israelitas» Sharansky venceu-o.
Aaron Rodgers, quarterback dos Green Bay Packers, também imagina
passes que depois executa com precisão no campo. Na Supertaça de 2011, num
jogo eliminatório, em que os Packers, que estavam em sexto lugar, ganharam 48
a 21 aos Atlanta Falcons, que estavam em primeiro, Rodgers completou 31 dos
36 passes (86,1 por cento), sendo essa a quinta melhor percentagem pós-época
de passes completos de todos os tempos.
"No sexto ano, um treinador explicou-nos a importância da visualização",
contou Rodgers a um repórter desportivo do USA Today. “Quando estou numa
reunião, a ver um filme, ou [deitado] na cama antes de adormecer, visualizo-me
sempre a fazer esses passes. Muitos dos que faço no jogo já tinham sido
pensados. [Deitado] no sofá, visualizei-me a fazê-los.” Rodgers também
conseguiu evitar três sacks nesse jogo, comentando mais tarde: “Visualizei a
maioria das situações.”
Inúmeros atletas profissionais também utilizaram o ensaio mental e
obtiveram resultados espantosos, entre os quais, o jogador de golfe Tiger Woods,
as estrelas de basquetebol Michael Jordan, Larry Bird e Jerry West, bem como o
lançador de basebol Roy Halladay. O campeão de golfe Jack Nicklaus escreveu o
seguinte no seu livro Golf My Way:
Nunca fiz uma jogada, nem nos treinos, sem formular uma imagem
bem clara na mente. É como um filme a cores. Primeiro, “vejo” a bola
onde quero acabar, direitinha, branca e bem acima da relva verde.
Depois, a cena muda e passo a “ver” a bola a chegar lá: o caminho, a
trajetória, o formato e, até, o comportamento quando aterra. Dá-se
então uma espécie de fadeout e, na cena seguinte, apareço eu a fazer a
tacada que concretiza as imagens anteriores. Só no fim desse curto
espetáculo privado é que seleciono um taco e me aproximo da bola.
Para perceber melhor porque é que o ensaio mental funciona, é preciso observar
alguns elementos da anatomia cerebral e, depois, entrar um pouco no domínio da
neuroquímica. Comecemos por explicar que o lóbulo frontal, que se situa mesmo
atrás da testa, é o nosso centro criativo. É a parte do cérebro que aprende coisas
novas, sonha com novas possibilidades, toma decisões conscientes, fixa
intenções e daí por diante. É o por assim dizer. Mais especificamente, o
CEO,
As células estaminais são a próxima camada que temos de entender para fazer
este puzzle. são, no mínimo, parcialmente responsáveis por tornar possível o que
é aparentemente impossível. Oficialmente, são células biológicas indiferenciadas
que se especializam. são potencial puro. Quando ativadas, estas tábuas rasas
transformam-se no tipo de células que o corpo precisar — musculares, ósseas,
dérmicas, imunitárias e, até, nervosas no cérebro — para substituir células
feridas ou danificadas nos tecidos, órgãos e sistemas do organismo. Pense nas
células estaminais como gelado num cone, antes de lhe deitarem o xarope com
sabor por cima; pedaços de argila na roda do oleiro à espera de se tornarem
pratos, tigelas, jarros ou canecas; ou talvez, até, um rolo de fita isolante prateada
que, num dia, serve para reparar um cano roto e, noutro» para fazer um elegante
acessório de moda.
Segue-se um exemplo do funcionamento das células estaminais. Quando
corta um dedo, o corpo precisa de reparar o golpe na pele. O trauma físico
localizado envia um sinal aos genes no exterior da célula. O gene ativa-se e
produz as proteínas necessárias que» depois, dão ordem às células estaminais
para se transformarem em células dérmicas saudáveis e em pleno
funcionamento. O sinal traumático é a informação de que a célula estaminal
precisa para se diferenciar numa célula dérmica. Milhões de processos destes
ocorrem constantemente no corpo. Tem sido documentadas curas atribuídas a
esse tipo de expressão genética no fígado, nos músculos, na pele, nos intestinos,
na medula óssea e, até, no cérebro e no coração.
4. De volta ao mosteiro
nas suas profundezas. Uma vez lá, criaram-se novas proteínas que, por sua vez,
procuraram novos genes em concordância com a informação que transportavam.
Ao encontrarem o que procuravam, as proteínas desembrulharam o acionandoADN,
1. Programar o subconsciente
Nos primeiros capítulos, pode ler sobre muitas pessoas diferentes que aceitaram
um possível cenário imaginado e, como por magia, os corpos responderam a essa
imagem mental: pessoas que passaram anos imobilizadas pelos tremores
involuntários da doença de Parkinson, aumentaram os níveis de dopamina só
com o pensamento e fizeram desaparecer a paralisia espasmódica; uma mulher
com depressão crônica que, com o tempo, alterou fisicamente o cérebro e
transmutou o estado emociona! debilitado para um estado de alegria e bem-estar;
asmáticos que sofreram um episódio de bronquite asmática desencadeado apenas
por vapor de água, mas reverteram a obstrução bronquial em segundos, inalando
exatamente o mesmo vapor de água; e, é claro, os homens com dores
incapacitantes nos joelhos e o movimento articular comprometido que
melhoraram milagrosamente, após uma cirurgia falsa ao joelho, permanecendo
assim durante anos.
Em todos estes casos e em muitos outros, podemos dizer que cada sujeito
começou por aceitar e, depois, passou a acreditar na sugestão de melhores
condições de saúde, acabando por se render ao resultado sem mais análise. Ao
aceitarem o potencial de recuperação, essas pessoas alinharam-se com uma
possível futura realidade — e mudaram a mente e o cérebro no processo.
Acreditando no resultado, assimilaram emocionalmente a ideia de melhores
condições de saúde e, em resultado, corpo e mente inconsciente passaram a viver
nessa futura realidade no momento presente.
Condicionaram o corpo a uma nova mente e, assim, passaram a emitir
sinais diferentes a novos genes e a expressar novas proteínas benéficas para a
saúde — e mudaram para um novo estado de ser. Quando se renderam a um
novo cenário possível, deixaram de analisar o como e o quando da manifestação;
confiaram simplesmente num estado de ser melhor e mantiveram esse novo
estado mental e corporal por um período de tempo alargado. Foi esse estado de
ser sustentado que ativou os genes certos e os programou para assim
permanecerem.
Quer tenham cumprido um regime diário de toma de comprimidos de
açúcar durante semanas, ou até meses, ou recebido uma única injeção de soro
fisiológico, quer se tenham submetido a uma falsa cirurgia, essas pessoas
mostraram aceitação, crença e entrega para com o estudo em que participaram.
Se tomaram um comprimido todos os dias para aliviar dor ou depressão, esse
comprimido foi um lembrete constante para que condicionassem, esperassem e
atribuíssem significado à atividade intencional que praticavam, consolidando
assim o processo interno vezes sem conta. Se se deslocaram semanalmente ao
hospital para os questionarem sobre as melhorias, a simples interação com
médicos, enfermeiras, equipamento e salas de espera num determinado
ambiente, por escolha própria, desencadeou uma série de respostas sensoriais
que, pela memória associativa, recordavam os sujeitos do possível futuro novo
ao seu alcance. As pessoas estavam condicionadas pelas experiências passadas a
considerar que o local a que chamavam “hospital” era onde se ia para melhorar a
saúde. Assim, começaram a contar com as futuras melhorias e, portanto, a fixar
uma intenção em todo o processo de cura. A partir do momento em que
ganharam significado, todos esses fatores passaram a contribuir para tornar os
pacientes do placebo mais sugestionáveis aos resultados que sentiam.
Passemos agora ao elefante na sala: nenhuma destas mudanças ocorreu
graças a um qualquer mecanismo físico, químico ou terapêutico. Nenhuma
destas pessoas fez uma verdadeira cirurgia, tomou medicação ativa, ou recebeu
qualquer tratamento real para criar alterações tão significativas de saúde. O
poder da mente influenciou de tal modo a fisiologia do corpo que se curaram.
Podemos dizer com segurança que a verdadeira transformação se deu à revelia
da mente consciente. A mente consciente talvez tenha iniciado o curso da ação,
mas o verdadeiro trabalho aconteceu ao nível do subconsciente, sendo a forma
como ocorreu totalmente desconhecida para os sujeitos.
O mesmo se aplica a Ivan Santiago. O poder da mente sob hipnose
influenciou de tal modo a sua fisiologia que nem sequer o facto de estar
mergulhado numa banheira de água gelada fez qualquer diferença. Esse feito,
porém, deveu-se à mente subconsciente alterada por uma simples sugestão e não
à mente consciente. Se ele não tivesse aceitado a sugestão, o resultado teria sido
muito diferente. Além disso, fez o que fez sem pensar em como seria capaz de o
fazer; aliás, mentalmente, não estava mergulhado em água gelada mas sim
sentado numa agradável banheira de água quente.
Desse modo, tal como acontece com a hipnose, o efeito placebo deve-se à
interação que, de alguma forma, ocorre entre a consciência de uma pessoa e o
seu sistema nervoso autônomo. O que acontece é, muito simplesmente, uma
fusão da mente consciente com a mente inconsciente. Assim que aceitam um
pensamento como sendo uma realidade, passando a crer e a confiar
emocionalmente no resultado final, os pacientes de placebo curam-se.
Os diversos acontecimentos fisiológicos levam automaticamente a cabo
todo o processo de mudança biológica — sem o envolvimento da mente
consciente.
Penetram no sistema operativo onde essas funções já ocorrem regularmente e, ao
fazê-lo, é como se plantassem uma semente em solo fértil. O sistema toma
automaticamente o controlo. Na verdade, ninguém tem de fazer nada. As coisas
simplesmente acontecem.
Nenhum dos sujeitos poderia fazer conscientemente disparar os níveis de
dopamina num aumento de 200 por cento e controlar tremores involuntários com
a mente, fabricar novos neurotransmissores para combater a depressão, emitir
sinais para que as células estaminais se transformassem em leucócitos para
reforçar a resposta imunitária, nem reparar a cartilagem do joelho para reduzir a
dor — tal como Santiago não poderia conscientemente controlar-se para não
hesitar ao mergulhar o corpo naquela banheira. Ninguém conseguiria fazer
nenhuma dessas coisas. Seria preciso o auxílio de uma mente que já soubesse
iniciar todos esses processos. Só seria possível, se as pessoas conseguissem
ativar o sistema nervoso autônomo e a mente subconsciente, para os levar a
produzir novas células e proteínas saudáveis.
3. Juntar a emoção
Recuemos à noção já abordada de que cada um de nós tem uma certa medida de
capacidade para aceitar uma sugestão que resulte num campo de sugestibilidade.
Temos o nosso próprio nível de suscetibilidade aos pensamentos, às sugestões e
às ordens — das realidades interior e exterior o que depende de muitas variáveis.
Pense na sugestibilidade como se esta estivesse inversamente relacionada com o
pensamento analítico (como ilustra a Figura 6.3): quanto mais forte for a mente
analítica (quanto mais analisarmos as coisas), menos sugestionáveis seremos; e
quanto menos analítica for a nossa mente, mais sugestionáveis seremos.
FIGURA 6.3
Relação inversa entre a mente analítica e a sugestibilidade.
Pense na mente analítica como uma parte isolada da mente consciente que a
separa da mente subconsciente. Uma vez que o placebo só funciona com a mente
analítica silenciada para que a consciência possa interagir antes com a mente
subconsciente — o domínio onde ocorre a verdadeira mudança a resposta do
placebo só é possível quando vamos para além do nosso eu e substituímos a
mente consciente pelo sistema nervoso autônomo.
Observe a Figura 6.4, que ilustra com simplicidade esta situação. Pense que
o círculo da figura representa a mente na sua totalidade. A mente consciente só
abrange cerca de 5 por cento do total da mente. Consiste não só na lógica e no
raciocínio, mas também nas nossas capacidades criativas. Esses são os aspetos
que constituem o livre-arbítrio. Os outros 95 por cento da mente total são
compostos pela mente subconsciente. Esta é o sistema operativo, onde todos os
hábitos, capacidades, reações emocionais, comportamentos de base, respostas
condicionadas, memórias associativas, bem como pensamentos e sentimentos de
rotina criam em nós as atitudes, crenças e noções.
FIGURA 6.4
Panorâmica geral da mente consciente, da mente analítica e da mente
subconsciente.
não se esqueça de que algumas pessoas têm mentes mais analíticas por
natureza e não por estarem sempre inundadas de hormonas do stress. Talvez
tenhamos estudado sujeitos diferentes na faculdade ou vivido com pais que nos
reforçaram os mecanismos do pensamento racional quando éramos pequenos, ou
talvez sejamos assim por natureza. (Pode até ter uma mente significativamente
analítica, mas conseguir aprender a contorná-la — foi o meu caso por isso, não
perca a esperança.)
FIGURA 6.7
Uma mente analítica mais desenvolvida (representada na ilustração pela camada
mais espessa) é menos sugestionável.
Como já referi, nenhum destes tipos é mais vantajoso do que o outro. Penso
que funciona muito bem ter um equilíbrio saudável entre os dois. Quem é
demasiado analítico tende menos a confiar na sua vida e a deixar-se ir. A pessoa
demasiado sugestionável pode ser excessivamente crédula e menos funcional. O
que quero dizer é que se estiver constantemente a analisar a vida, a julgar-se e
obcecado com todos os aspetos da sua realidade, jamais acederá ao sistema
operativo onde pode reprogramar esses programas velhos. A porta entre a mente
consciente e a mente subconsciente só se abre quando a pessoa aceita, acredita e
se entrega a uma sugestão. Quando consegue fazer isso, a informação emite
sinais ao sistema nervoso autônomo e — já está! — este assume o controlo.
Agora, observe a Figura 6.8. A seta representa a passagem da consciência,
da mente consciente para a mente subconsciente, onde a sugestão fica
biologicamente gravada no sistema de programação.
FIGURA 6.8
Esta figura ilustra a relação entre estados de ondas cerebrais e a passagem da
mente consciente para a mente subconsciente, contornando a mente analítica
durante a prática da meditação.
7. A meditação desmistificada
humanos têm várias frequências cerebrais mensuráveis e, quanto mais lento for o
nosso estado mental, mais profundamente penetramos no mundo interior da
mente subconsciente. Por ordem de rapidez, os estados de ondas cerebrais são o
delta (sono profundo restaurador — totalmente inconsciente), o teta (estado
entre o sono profundo e a vigília), o alfa (estado criativo e imaginativo), o beta
(pensamento consciente) e o gama (estados superiores de consciência).
O beta é o nosso estado de vigília diário. Em beta, o cérebro pensante, ou
neocórtex, processa todos os dados sensoriais que entram e cria significado entre
os nossos mundos exterior e interior. não é o melhor estado para a meditação,
porque, em beta, o mundo exterior parece mais real do que o interior. são três os
níveis de padrões de ondas cerebrais que constituem este espetro: beta de curto
alcance (descontraído e interessado, como quando lê um livro), beta de médio
alcance (atenção centrada num estímulo que está a decorrer fora do corpo, como
aprender e, depois, recordar) e beta de grande alcance (altamente concentrado,
com a atenção em modo de crise, quando se produzem as substâncias químicas
do stress). Quanto mais elevadas forem as ondas cerebrais beta, menos acesso
temos ao sistema operativo.
Em geral, estamos constantemente a sair e a entrar dos estados alfa. O
estado alfa é o do relaxamento, em que prestamos menos atenção ao mundo
exterior e começamos a prestar mais atenção ao mundo interior. Em alfa,
estamos num ligeiro estado meditativo; podemos dizer que é quando nos
perdemos nas nossas fantasias ou sonhamos acordados. Neste estado, o nosso
mundo interior torna-se mais real do que o exterior, porque é àquele que
prestamos mais atenção.
Quando passamos do beta de alta frequência para o alfa mais lento,
prestando atenção, concentrando-nos e permanecendo assim mais descontraídos,
ativamos automaticamente o lóbulo frontal. Tal como já se demonstrou, o lóbulo
frontal reduz o volume dos circuitos cerebrais que processam o tempo e o
espaço. Deixamos de estar no modo de sobrevivência e passamos a um estado
mais criativo, que faz com que fiquemos mais sugestionáveis do que quando
estávamos no estado beta.
Mais desafiante é aprender a mergulhar ainda mais fundo no teta, que é uma
espécie de estado de transição, em que estamos semidespertos e
semiadormecidos (frequentemente descrito como “mente desperta, corpo
adormecido"). É a esse estado que pretendemos chegar na meditação, porque é
nesse padrão de ondas cerebrais que somos mais sugestionáveis. Em teta,
acedemos ao subconsciente, porque a mente analítica não funciona — estamos
sobretudo imersos no nosso mundo interior.
Pense no teta como a chave para o seu próprio reino subconsciente.
Observe mais atentamente a Figura 6.8, que apresenta os estados de ondas
cerebrais, mostrando as suas correlações com a mente consciente e a mente
subconsciente. Depois, observe melhor a Figura 6.9, que ilustra as diferentes
frequências das ondas cerebrais.
Esta breve viagem pelos padrões das ondas cerebrais ser-lhe-á ainda mais
útil quando chegar à prática da meditação, mais adiante, no livro. É claro que
não deve estar à espera de conseguir mergulhar no teta quando lhe apetecer, mas
ajuda ter algum conhecimento do que são os vários estados cerebrais e dos
efeitos que cada um exerce no que respeita ao que está a tentar fazer.
FIGURA 6.9
Esta ilustração apresenta os vários estados de ondas cerebrais (durante um
intervalo de um segundo). Incluem-se os padrões de ondas cerebrais gama, por
representarem um nível de supraconsciência que reflete um estado superior de
consciência.
10. Anatomia de um “assassinato”
11. CAPÍTULO 7
Atitudes, crenças e percepções
As nossas crenças não são sempre tão conscientes como julgamos. Podemos
muito bem aceitar uma ideia superficialmente, sem acreditarmos interiormente
que seja mesmo possível. Nesse caso, a nossa aceitação não passa de um
processo intelectual. Uma vez que o efeito placebo exige uma verdadeira
mudança das crenças que temos sobre nós próprios e sobre o que é possível ou
não para o nosso corpo e a nossa saúde, temos de as identificar e perceber de
onde vêm.
Suponhamos que alguém vai ao médico com determinados sintomas e este
lhe diagnostica uma qualquer condição, com base nas suas próprias descobertas
objetivas. O médico apresenta um diagnóstico, um prognóstico e opções de
tratamento assentes num resultado normal. Ao ouvir o médico dizer “diabetes",
“cancro”, “hipotiroidismo” ou “síndrome de fadiga crônica”, a pessoa é invadida
por uma série de pensamentos, imagens e emoções baseadas na sua experiência
passada. Os pais podem ter sofrido desse problema, a pessoa pode ter visto um
programa de televisão em que uma das personagens tinha morrido com essa
doença, ou até ter lido algo na Internet que a assustou em relação ao diagnóstico.
Quando recebe a opinião de um profissional, o paciente aceita
automaticamente a condição, acredita nas palavras confiantes do médico e acaba
por se entregar ao tratamento e aos possíveis resultados — e fá-lo sem fazer uma
verdadeira análise. O paciente é sugestionável (e suscetível) em relação ao que o
médico lhe diz. Se assimilar as emoções do medo, da preocupação e da
ansiedade juntamente com a da tristeza, os únicos pensamentos (ou
autossugestões) possíveis terão de corresponder ao que sente.
O paciente pode tentar formular pensamentos positivos sobre vencer a
doença, mas o corpo dele ainda se sente mal, porque lhe deram o placebo errado,
o que faz com que esteja no estado de ser errado, emita sinais aos mesmos genes
e seja incapaz de ver ou percepcionar quaisquer possibilidades novas. Fica
bastante à mercê das crenças que tem (e das crenças que o médico tem) acerca
do diagnóstico.
Desse modo, o que fazem de diferente as pessoas que se curam com o efeito
placebo, que conhecerá nos próximos capítulos? Primeiro, não aceitam a
finalidade do diagnóstico, prognóstico ou tratamento. Também não acreditam no
resultado ou futuro destino mais provável que o médico define autoritariamente.
Por fim, não se entregam ao diagnóstico, ao prognóstico ou ao tratamento
sugerido. Com essa atitude, diferente da atitude de quem efetivamente aceita,
acredita e se entrega, acedem a um novo estado de ser.
não são sugestionáveis em relação aos conselhos e opiniões dos médicos,
porque não se sentem assustadas, vitimizadas ou tristes. O otimismo e o
entusiasmo que continuam a sentir conduzem a um novo conjunto de
pensamentos que lhes permite ver novas possibilidades. Tendo diferentes ideias e
crenças sobre o que é ou não possível, não condicionam o corpo ao pior cenário,
não esperam o mesmo resultado previsível como as outras que receberam o
mesmo diagnóstico e não atribuem o mesmo significado ao diagnóstico que
atribuem todas as outras pessoas nas mesmas condições. Atribuem outro
significado ao seu futuro e, portanto, fixam outra intenção. Uma vez que
compreendem a epigenética e a neuroplasticidade, em vez de se aceitarem
passivamente como vítimas da doença, utilizam esse conhecimento para serem
pró-ativas, motivadas por aquilo que aprendem nos meus workshops e eventos.
Consequentemente, também obtêm resultados diferentes e melhores do que os de
outras pessoas com o mesmo diagnóstico — tal como as camareiras de hotel
obtiveram melhores resultados depois de os investigadores lhes terem dado mais
informação.
Agora, pense na pessoa vulgar que recebe um diagnóstico e se apressa a
anunciar: “Vou vencer isto.” Pode não aceitar a condição e o resultado que o
médico lhe expõe, mas a diferença é que a maioria das pessoas não muda
verdadeiramente a crença sobre não estar doente. Para alterar uma crença é
preciso alterar um programa subconsciente — isto porque uma crença, tal como
irá constatar, é um estado de ser subconsciente.
As pessoas que utilizam a mente consciente para mudar nunca saem do
estado de repouso para reprogramar os genes, porque não o sabem fazer. É então
que a cura cessa. não conseguem entregar-se à possibilidade, porque não são
realmente capazes de se tornar sugestionáveis àquilo que possa contradizer o que
o médico lhes diz.
Será possível que pessoa não responda a um tratamento, ou que o seu
estado de saúde não se altere pelo facto de ela estar seguir o mesmo estado
emocional todos os dias, aceitando, acreditando e entregando-se ao modelo
médico sem grande análise, com base na consciência social de milhões de
pessoas que fizeram exatamente o mesmo? Pode o diagnóstico de um médico
tornar-se o equivalente moderno de uma maldição do vudu?
Vamos dissecar um pouco mais a crença, recuando ligeiramente e
começando com a seguinte ideia: quando encadeamos uma série de pensamentos
e sentimentos tornando-os habituais ou automáticos, estamos a formar uma
atitude. E, uma vez que o modo como pensamos e sentimos cria um estado de
ser, as atitudes acabam por não passar de estados de ser abreviados. Assim,
podem flutuar a cada momento, consoante alteramos o que pensamos e sentimos.
Qualquer atitude pode durar minutos, horas, dias ou, até, uma ou duas semanas.
Por exemplo, se tivermos uma série de bons pensamentos alinhada com uma
série de bons sentimentos, talvez digamos: “Hoje tenho uma boa atitude." E se
tivermos uma sequência de pensamentos negativos aliada a uma sequência de
sentimentos negativos, talvez digamos: “Hoje tenho uma má atitude.” Ao
repetirmos a mesma atitude vezes suficientes, tornamo-la automática.
Se repetirmos ou mantivermos determinadas atitudes tempo suficiente e as
encadearmos, geramos uma crença. A crença é apenas um estado de ser alargado
— as crenças são essencialmente pensamentos e sentimentos (atitudes) que
pensamos e sentimos vezes sem conta, a ponto de as integrarmos no cérebro e de
lhes condicionarmos emocionalmente o corpo. Poderíamos dizer que nos
viciamos nelas, sendo essa a razão pela qual é tão difícil alterá-las e por que não
nos sentimos bem no nosso âmago quando as desafiam. Uma vez que as
experiências estão neurologicamente talhadas no cérebro (fazendo-nos pensar) e
quimicamente incorporadas como emoções (fazendo-nos sentir), a maioria das
nossas crenças baseia-se nas memórias passadas.
Desse modo, quando reproduzimos repetitivamente os mesmos
pensamentos, pensando e analisando as memórias do passado, estes ativam-se e
fixam-se num programa inconsciente automático. E se cultivarmos os mesmos
sentimentos baseados nas experiências passadas e sentirmos o mesmo que
sentimos quando o acontecimento original ocorreu, condicionamos o corpo a
tornar-se subconscientemente a mente dessa emoção — e o corpo passará a viver
inconscientemente no passado.
E se, com o tempo, a redundância da nossa forma de pensar e sentir nos
condicionar o corpo a tornar-se mente, ficando esta subconscientemente
programada, então, as crenças são estados de ser subconscientes e também
inconscientes que derivam do passado. Além disso, as crenças são mais
permanentes do que as atitudes; podem durar meses ou, até, anos. E, uma vez
que duram mais, ficam mais programadas no nosso interior.
Um caso que ilustra bem esta questão é uma história da minha infância que
me ficou marcada na memória. Cresci numa família italiana e quando passei
para o quarto ano, mudamo-nos para outras cidade, que tinha italianos e judeus.
No primeiro dia de escola, a professora mandou*me sentar num grupo de seis
secretárias, ao lado de três meninas judias. Foi nesse dia que elas me deram a
notícia de que Jesus não era italiano. Foi um dos dias mais memoráveis da minha
vida.
Quando cheguei a casa, naquela tarde, a minha pequenina mãe italiana
começou a perguntar-me como tinha sido o meu dia na escola, mas, por mais que
insistisse, não conseguia que lhe contasse nada. Depois de a ter ignorado várias
vezes, ela lá me agarrou num braço e mandou-me dizer-lhe o que se passava.
- Pensava que Jesus era italiano! — respondi, zangado.
- O que dizes? — perguntou. — É judeu!
- Judeu? — inquiri rapidamente. — Como assim? Ele não parece italiano
naquelas imagens todas? A avó passa o dia a falar italiano com ele. Então e o
Império Romano? Roma não fica em Itália?
A crença que eu tinha — de que Jesus era italiano — baseava-se nas minhas
experiências passadas; o que pensava e sentia acerca de Jesus tornara-se o meu
estado de ser automático. Tive alguma dificuldade em livrar-me dessa crença,
porque não é nada fácil alterar crenças enraizadas. Desnecessário será dizer que
consegui
Elaboremos um pouco mais este conceito. Quando encadeamos um
conjunto de crenças relacionadas, formamos a percepção. Então, a nossa
percepção da realidade é um estado de ser sustentado que se baseia nas nossas
crenças, atitudes, pensamentos e sentimentos de longa data. E, uma vez que as
nossas crenças se tornam estados de ser subconscientes e inconscientes (ou seja,
nem sequer sabemos porque acreditamos em determinadas coisas, ou se estamos
conscientes das crenças que temos até as testarem), as nossas percepções — a
nossa visão subjetiva das coisas em geral, tornam-se a nossa perspetiva
subconsciente e inconsciente da realidade do passado.
Na verdade» as experiências científicas demonstram que não vemos a
realidade tal como ela é. Preenchemo-la inconscientemente com a nossa
realidade» baseada nas memórias do passado, neuroquimicamente preservadas
no cérebro. Quando se tornam implícitas ou não declarativas (tal como foi
referido no capítulo anterior), as percepções tornam-se automáticas ou
subconscientes, levando-nos a editar automática e subjetivamente a realidade.
Por exemplo, sabemos que o nosso carro é o nosso carro, porque o
conduzimos muitas vezes. Temos a mesma experiência do nosso carro
diariamente, porque nada muda. Pensamos e sentimos o mesmo acerca dele
quase todos os dias. A nossa atitude para com o carro criou uma crença acerca
dele que, por sua vez, formou uma determinada percepção dele — que é um bom
carro, digamos, porque raramente se avaria. E embora aceitemos
automaticamente essa percepção, ela não deixa de ser subjetiva, porque outra
pessoa pode ter um carro igualzinho ao nosso mas que está sempre a avariar,
levando-a a ter uma crença e uma percepção diferentes acerca do mesmo
veículo» com base numa experiência pessoal.
Na verdade, a maioria das pessoas só prestaria atenção a vários aspetos do
carro se alguma coisa corresse mal. Esperamos que funcione hoje como
funcionou ontem; esperamos naturalmente que a nossa futura experiência de
conduzir o carro seja igual à nossa experiência passada» de ontem e de
anteontem — essa é a nossa percepção. Quando, porém, o carro avaria, temos de
lhe prestar mais atenção (como ouvir melhor o som que o motor produz) e tomar
consciência da percepção inconsciente que temos dele.
A percepção que temos do nosso carro alterou-se devido a uma mudança no
seu funcionamento. O mesmo se aplica às relações que mantemos com cônjuges
e colegas, cultura e raça — até com o corpo e a dor. Na realidade» é assim que
funciona a maioria das percepções da realidade.
Agora, se quiser mudar uma percepção implícita ou subconsciente, tem de
ter mais consciência e menos inconsciência. Na verdade, teria de aumentar o
nível de atenção em todos os aspetos da sua personalidade e da sua vida a que já
deixou de prestar muita atenção. Melhor ainda, teria de despertar, alterar o seu
nível de consciência alerta e tornar-se consciente daquilo em relação ao qual era
inconsciente.
Mas raramente é assim tão fácil, porque se experiencia a mesma realidade
vezes sem conta, por isso, os pensamentos e sentimentos que tem em relação ao
mundo atual continuarão a desenvolver-se nas mesmas atitudes, que inspirarão
as mesmas crenças, que se manifestarão nas mesmas percepções (como mostra a
Figura 7.1).
Quando a sua percepção se torna tão natural e automática que deixa de
prestar atenção à realidade tal como ela é (porque espera automaticamente que
tudo seja igual), passa a aceitar inconscientemente essa realidade e a concordar
com ela — da mesma forma que a maioria das pessoas aceita e concorda
inconscientemente com o que o modelo médico diz a propósito de um
diagnóstico.
Assim sendo, só pode alterar as suas crenças e percepções para criar uma
resposta de placebo, se mudar o seu estado de ser. Tem de ver, por fim, as suas
velhas crenças limitadas, tal como elas são — registos do passado — e dispor-se
a libertar-se delas para assimilar novas crenças sobre si próprio que o possam
ajudar a criar um novo futuro.
FIGURA 7.1
Os seus pensamentos e sentimentos derivam dos memórias do passado. Se
pensar e sentir de determinada forma, começa a criar uma atitude. A atitude é um
ciclo de pensamentos e sentimentos de curto prazo que experiencia vezes sem
conta. As atitudes são estados de ser abreviados. Quando encadeia uma série de
atitudes, ena uma crença. As crenças são estados de ser mais alongados e tendem
a tornar-se subconscientes. Ao juntar crenças, cria uma percepção. As suas
percepções têm que vir com as escolhas que faz, os comportamentos que
assume, as relações que escolhe e as realidades que cria.
2. Mudar as crenças
não sou muito bom a matemática. Sou tímido. Tenho mau feitio. não
sou inteligente ou criativo. Sou bastante parecido com os meus pais.
Os homens não choram nem são vulneráveis. não encontro um
parceiro. As mulheres são inferiores nos homens. A minha raça ou
cultura é superior. A vida é séria. A vida é difícil c ninguém quer
saber. Nunca terei êxito. Tenho de trabalhar muito para vingar na
vida. Nunca me acontece nada de bom. não tenho sorte nenhuma. As
coisas nunca me correm de feição. Nunca tenho tempo para nada. É
outra pessoa que tem de me fazer feliz. Só serei feliz quando tiver
determinada coisa. Ê difícil mudar a realidade. A realidade é um
processo linear. Os micróbios põem-me doente. Ganho peso
facilmente. Preciso de dormir oito horas. A dor que sinto é normal e
nunca passará. O meu relógio biológico está a soar. A beleza é assim.
A diversão é uma frivolidade. Deus é-me exterior. Sou má pessoa, por
isso. Deus não me ama...
A lista pode continuar indefinidamente, mas creio que já percebeu aquilo a
que me refiro.
Uma vez que as crenças e percepções se baseiam nas experiências passadas,
qualquer uma das que por acaso possa ter acerca de si próprio vem do passado.
Nesse caso, serào verdadeiras, ou acaba de as inventar? Mesmo que tenham sido
verdadeiras algures no tempo, isso não significa necessariamente que o sejam
agora.
É evidente que vemos as coisas sob essa perspetiva, porque estamos
viciados nas nossas crenças; estamos viciados nas emoções do passado.
Consideramos que as nossas crenças são verdades e não ideias que podemos
mudar. Se tivermos crenças muito sólidas sobre qualquer coisa, até podemos ter
provas em contrário bem diante do nariz que não as veremos, porque a nossa
percepção é completamente diferente. Na realidade, condicionamo-nos a
acreditar em todo o tipo de coisas que não correspondem necessariamente à
verdade — e muitas exercem um impacto negativo na nossa saúde e na nossa
felicidade.
Algumas crenças culturais são um bom exemplo. Lembra-se da história
sobre a maldição de vudu apresentada no Capítulo 1? O paciente estava
convencido de que ia morrer, porque o padre de vudu lhe lançara um feitiço.
Esse feitiço só funcionava porque ele (e outros da sua cultura) acreditavam que o
vudu funcionava mesmo — o que o tinha enfeitiçado não fora o vudu, mas sim a
crença no vudu.
Há outras crenças culturais que podem provocar mortes prematuras. Por
exemplo, de acordo com os investigadores da Universidade de Califórnia em San
Diego que estudaram os registos dos óbitos de quase 30 mil sinoamericanos, as
pessoas desse grupo que sofrem de uma determinada doença morrem até cinco
anos mais cedo, se o ano em que nasceram for considerado nefasto pela
astrologia e a medicina chinesas. O efeito era tanto mais forte quanto maior fosse
a ligação da pessoa às tradições e crenças chinesas e os resultados foram
consistentes para quase todas as principais causas de morte estudadas. Por
exemplo, os sinoamericanos nascidos em anos associados a uma predisposição
para doenças que implicassem quistos e tumores morreram de cancro linfático,
quatro anos mais jovens do que os sinoamericanos nascidos noutros anos ou do
que os americanos com cancros semelhantes.
Tal como demonstram estes exemplos, só somos sugestionáveis àquilo em
que acreditamos como verdadeiro a nível consciente ou inconsciente. Um
esquimó que não acredita na astrologia chinesa não é mais sugestionável à ideia
de ser vulnerável a uma determinada doença por ter nascido no ano do tigre ou
no ano do dragão do que um episcopaliano à ideia de que um feitiço lançado por
um padre de vudu o poderia matar.
Mas qualquer pessoa que aceite, acredite e se entregue a um resultado sem
pensar conscientemente na questão e sem a analisar torna-se sugestionável a essa
realidade. Na maioria dos casos, essa crença fica implantada bem para lá da
mente consciente, no sistema subconsciente, que é o que cria a doença. Então,
deixe-me fazer-lhe outra pergunta: Quantas crenças pessoais baseadas em
experiências culturais tem que possam não corresponder à verdade?
Pode ser difícil mudar uma crença, mas não é impossível. Pense só o que
aconteceria se pudesse desafiar as suas crenças inconscientes. Se, em vez de
pensar e sentir Nunca tenho tempo suficiente para fazer tudo o que tenho para
fazer, pensasse e sentisse Vivo em "tempo nenhum" e consigo fazer tudo? E se
em vez de acreditar O universo conspira contra mim, passasse a acreditar que O
universo é simpático e funciona a meu favor? Que excelente crença! Como
pensaria, vivería e andaria pela rua se acreditasse que o universo funciona a seu
favor? Como é que isso lhe mudaria a vida?
Para mudar uma crença, temos de começar por aceitar que é possível e,
depois, mudar o nível energético com a emoção intensificada que já referi e, por
fim, permitir que a nossa biologia se reorganize. não é preciso pensar em como
essa reorganização biológica irá acontecer; isso é a mente analítica a funcionar,
fazendo-nos recuar para o estado de ondas cerebrais beta e tornando-nos menos
sugestionáveis. Pelo contrário, basta-nos tomar uma decisão com uma finalidade.
Assim que a amplitude ou a energia dessa decisão superar os programas
integrados no cérebro e o vício emocional do corpo, tornamo-nos superiores ao
nosso passado, o corpo responde a uma nova mente e já podemos fazer uma
mudança verdadeira.
Já sabe fazer isso. Pense numa altura do passado em que decidiu mudar
qualquer coisa em si próprio e na sua vida. Há de ter chegado um momento em
que disse a si próprio: não me importa o que sinto [corpo]/ não interessa o que
se passa na minha vida [ambiente]/ E não quero saber quanto demora [tempo]/
Vou fazê-lo!
Quando, nessas alturas, sentimos pele de galinha, é porque passamos a um
estado de ser alterado. Assim que sentimos essa energia, enviamos nova
informação ao corpo. Sentimo-nos inspirados e saímos do estado de repouso que
nos é tão familiar. Isso acontece porque o corpo deixou de viver no mesmo
passado e passou a viver num novo futuro, só com o pensamento. Na realidade,
o corpo já não é a mente; nós é que somos a mente. Estamos a mudar uma
crença.
3. O efeito da percepção
4. O poder do ambiente
5. Mudar a energia
Já sabemos que se queremos mudar as nossas crenças e criar um efeito placebo
para melhorar a saúde e a rida, temos de fazer exatamente o contrário do que
fizeram as mulheres cambojanas por defeito. Com uma intenção clara e firme, e
intensificando a energia emocional, temos de criar uma nova experiência interior
na mente e no corpo que supere a experiência exterior do passado. Por outras
palavras, quando decidimos criar uma nova crença, a amplitude ou energia dessa
escolha pode ser suficientemente elevada para superar os programas integrados e
o condicionamento emocional do corpo.
Para ver o que acontece quando fazemos precisamente isso, observe a
Figura 7.3. A energia da escolha nessa nova experiência é superior à energia do
trauma da experiência passada (tal como vimos na Figura 7.2) e é por isso que o
pico do gráfico é superior ao pico do primeiro gráfico. Por isso, os efeitos dessa
nova experiência sobrepõem-se ao resíduo da programação neural e do
condicionamento emocional da experiência passada.
Se o executarmos bem, este processo refaz os padrões cerebrais e muda a
biologia; a nova experiência reorganiza a velha programação e, ao fazê-lo,
remove as provas neurológicas da experiência passada. (Como uma onda maior
que, ao rebentar mais acima, na praia, apaga quaisquer vestígios de conchas,
algas, espuma, ou marcas na areia que lá pudessem ter estado.) As experiências
emocionais intensas criam novas memórias de longo prazo, que se sobrepõem às
antigas memórias de longo prazo, e a escolha passa a ser uma experiência
inesquecível.
FIGURA 7.3
Para mudar uma crença ou percepção acerca de si próprio e da sua vida, tem de
tomar uma decisão com uma intenção tão firme que a escolha contenha uma
amplitude de energia superior aos programas integrados no cérebro e A adição
emocional do corpo, e o corpo tem de responder a uma nova mente Quando ena
uma nova experiência interior que se toma superior à antiga experiência exterior,
a escolha reescreve os circuitos cerebrais e reenvia novos sinais emocionais ao
corpo. Uma vez que as experiências criam memórias de longo prazo, quando a
escolha se toma uma experiência inesquecível, mudamos. Biologicamente, o
passado deixou de existir. Podemos dizer que o corpo Desse momento presente
está num novo futuro.
para nada? Certamente que a Mãe Natureza não colocaria tanta informação
codificada nas nossas células, à espera de ser lida, sem nos dar a capacidade para
criar algum tipo de sinal para a desbloquear; afinal, a natureza não desperdiça
nada.
Será possível que a nossa própria energia e consciência sejam aquilo que
cria o tipo certo de sinal exterior às células para lhe permitir aceder a essa
enorme “lista de peças” de potenciais? E, sendo isso verdade, se alterasse a
energia, tal como leu mais atrás neste capítulo, poderia isso ajudá-lo a aceder à
sua verdadeira capacidade para curar verdadeiramente o corpo? Quando muda a
sua energia, muda o seu estado de ser. Além disso, a restruturação do cérebro e
as novas emoções químicas do corpo desencadeiam mudanças epigenéticas. Em
resultado, torna-se bastante literalmente uma pessoa nova. A pessoa que era
antes passou à história; uma parte dessa pessoa simplesmente desapareceu,
juntamente com os circuitos neurais, os vícios neuroquímicos e a expressão
genética que lhe sustentavam o antigo estado de ser.
12. CAPÍTULO 8
A mente quântica
Como é que se eleva a matéria a uma nova mente? Pense no pregador que passa
a um estado de êxtase religioso e bebe estricnina, sem sofrer quaisquer efeitos
biológicos. Como é que ele superou essa química que envenenaria a
generalidade das pessoas? Foi esse nível de energia que transcendeu os efeitos
da matéria. Ele tomou a decisão com uma intenção tão firme que a escolha
assumiu uma amplitude energética que transcendeu as leis do ambiente, os
efeitos no corpo e o tempo linear. Nesse momento, passou a ser mais energia e
menos matéria e uma nova energia reescreveu os circuitos cerebrais, a química
do organismo e a expressão genética. Nesse momento presente, não era a sua
identidade ligada ao ambiente familiar, não era o corpo físico, nem vivia no
tempo linear. A consciência e a energia elevadas eram o epifenômeno da matéria.
Por outras palavras, os planos da matéria surgem da informação e da frequência.
E quando demonstramos um nível elevado de consciência e energia, esses
elementos influenciam a matéria — porque a matéria é criada a partir de uma
redução da frequência e da informação.
É muito possível que os pontos receptores das células do pregador não
tivessem sido abertas para a estricnina; as portas das células fecharam-se ao
veneno e ficaram imunes aos seus efeitos. Movido pelo espírito — ou seja, pela
energia -, ele suprarregulou instantaneamente as células do corpo para ter
imunidade e infrarregulou as células do corpo para o veneno. O mesmo acontece
com as pessoas que caminham sobre brasas — ao alterarem o estado de ser, os
receptores celulares deixam de estar abertos aos efeitos do calor. Foi também
isso que permitiu que as adolescentes levantassem um trator com 1360 kg para
libertarem o pai, como leu no Capítulo 1. Quando viram o pai entalado e a correr
risco de vida, o estado energético intensificado desativou os receptores celulares
que diriam normalmente ao corpo que o trator é demasiado pesado para levantar
e ativou os recetores das células musculares, programando-os para aguentarem, e
para os músculos responderem e elas serem capazes de libertar o pai. não foi a
matéria (o corpo) que deslocou matéria (o trator); foi a energia que influenciou a
matéria.
Terá de concordar comigo: o corpo é composto por uma vasta gama de
átomos e moléculas, que produzem substâncias químicas. Essas substâncias
químicas, por sua vez, organizam-se em células, que formam tecidos, que se
organizam em órgàos, que criam vários sistemas no seu organismo. Por exemplo,
a célula muscular consiste em diferentes substâncias químicas (proteínas, iões,
citocinas, fatores de crescimento), que resultam de diferentes interações entre
moléculas compostas por vários elos atômicos, sendo que esses átomos
partilham um campo de informação invisível para formar moléculas.
As substâncias químicas que compõem as células também partilham um
campo de informação. É esse campo de informação invisível que orquestra as
centenas de milhares de funções da célula a cada segundo. Os cientistas
começam a aperceber-se de que existe um campo de informação responsável por
diversas funções celulares que existem para além dos limites da matéria.
É esse campo de consciência invisível que orquestra todas as funções das
células, dos tecidos, dos órgãos e dos sistemas do corpo. Como é que
determinadas substâncias químicas e moléculas celulares sabem o que fazer e
como interagir com essa precisão? A célula é rodeada por um campo energético,
que é a soma da energia dos átomos, moléculas e substâncias químicas, que
funcionam em conjunto e equilíbrio para gerar a matéria — a matéria advém
desse campo de informação vital.
As células musculares do exemplo anterior podem organizar-se mais e
especializar-se em tecidos musculares. Digamos que o tipo particular de músculo
neste exemplo se chama “músculo cardíaco”. Este forma um órgão que se chama
“coração". Compostos por células, os tecidos partilham um campo de
informação que permite ao coração funcionar coerentemente. O coração faz
parte do sistema cardiovascular do corpo. Ao partilhar esse campo de
informação, organiza a matéria, para que esta funcione de modo holístico e
harmonioso. Assim, o campo criado que gera a matéria é o que controla a
matéria. Quanto maior for o campo, mais depressa vibram os átomos — ou mais
depressa giram as pás da sua ventoinha subatômica.
O modelo newtoniano de biologia baseia-se em eventos lineares que sofrem
reações químicas numa sequência de passos. Mas não é realmente assim que
funciona a biologia; não é possível explicar algo tão simples como a cicatrização
de um golpe, sem compreender as vias interligadas de informação coerente sobre
as quais acabou de ler. As células partilham a intercomunicação da informação
de uma forma não linear. O universo e todos os sistemas biológicos nele contidos
partilham um conjunto integrado de campos energéticos independentes e
emaranhados que, por sua vez, partilham informação para além do espaço e do
tempo, a cada momento.
As investigações confirmam que a maioria das interações é mais veloz do
que a luz — e uma vez que o limite dessa realidade física é a velocidade da luz,
isso significa que as células têm de comunicar através do domínio quântico. As
interações entre os átomos e as moléculas formam uma intercomunicação que
une o mundo físico material e os campos energéticos que compõem o mundo. Na
quântica, as características lineares e previsíveis do mundo newtoniano não
existem. As coisas interagem de forma holística e num ambiente de cooperação.
Desse modo, de acordo com o modelo quântico da realidade, podemos dizer
que todas as doenças correspondem a uma redução das frequências. Pense nas
hormonas do stress. Quando o sistema nervoso está no modo de luta ou fuga, as
substâncias químicas da sobrevivência podem fazer com que sejamos mais
matéria e menos energia. Tornamo-nos materialistas, porque definimos a
realidade com os sentidos, utilizamos demasiado a energia vital que rodeia a
célula, mobilizando-a para uma emergência, e centramos a atenção no mundo
exterior do ambiente, do corpo e do tempo. Se mantivermos a resposta do stress
ativada por muito tempo, os efeitos de longo prazo abrandam a frequência do
corpo, tornando-o cada vez mais partícula e cada vez menos onda. Isso significa
que há menos consciência, energia e informação disponível para os átomos, as
moléculas e as substâncias químicas partilharem, o que leva a que nos tornemos
matéria a tentar mudar matéria em vão — somos um corpo a tentar inutilmente
alterar um corpo.
Todas as pás da ventoinha subatômica que é o seu corpo começam a girar
não só mais devagar, mas também a ritmos diferentes. Essa incoerência entre os
átomos e as moléculas do corpo enfraquece o sinal de comunicação e, em
consequência, leva ao colapso do corpo. Quanto mais o corpo for matéria e
quanto menos for energia, mais à mercê ficamos da segunda lei da
termodinâmica — a lei da entropia em que as coisas materiais do universo
tendem a avançar para a desordem e o colapso.
Pense no que aconteceria se tivesse centenas de pás de ventoinha numa sala
enorme, todas juntas, a girar em harmonia e total união. O som desse movimento
conjunto seria como música para os seus ouvidos, porque seria rítmico e
consistente. É o que se passa no corpo, quando os sinais entre os átomos, as
moléculas e as células são sólidos e coerentes.
Agora, imagine a diferença que seria se as pás da ventoinha não recebessem
eletricidade (energia) suficiente: cada uma giraria a uma velocidade ou
frequência diferente. A sala encher-se-ia de uma cacofonia de sons metálicos
incoerentes, traduzindo oscilação, paragem e arranque. É o que acontece quando
os sinais entre os átomos, as moléculas e as células do organismo enfraquecem e
se tornam incoerentes.
Sempre que troca energia, por tomar uma decisão com uma intenção firme,
aumenta a frequência da estrutura subatômica e cria uma assinatura
eletromagnética mais intencional e coerente (como representa a Figura 8.4).
Passa a afetar a matéria física do corpo. Aumentando a energia, aumenta a
eletricidade que flui para as pás da ventoinha atômica. A frequência elevada
começa a orientar ou a organizar as células do corpo, tornando-as menos
partícula (matéria) e mais onda (energia). Dito por outras palavras, toda a sua
matéria passa a ter mais energia — ou mais informação. Pense na coerência
como ritmo ou ordem e na incoerência como falta de ritmo, falta de ordem ou
falta de sincronia.
Imagine um grupo de cem percussionistas a bater nos tambores, todos ao
mesmo tempo e cada qual ao seu ritmo. Isso é incoerência. Agora, imagine que
um grupo de cinco percussionistas profissionais aparece no meio da multidão de
amadores, se espalha no meio deles e começa a criar uma batida cheia de ritmo.
Com o tempo, esses cinco profissionais acabariam por orientar os cem amadores
para que todos passassem a percutir os tambores num ritmo, numa ordem e numa
sincronia perfeitos.
É precisamente isso que acontece quando o corpo responde a uma nova
mente e sentimos o cabelo da nuca eriçar-se por sentirmos mais energia e menos
matéria. Nesse momento, elevamos a matéria a uma nova mente. Orientamos a
doença existente como frequência reduzida para frequência elevada. Ao mesmo
tempo, fazemos com que a informação incoerente entre os átomos e as
moléculas, as substâncias químicas e as células, os tecidos e os órgãos, bem
como os sistemas do corpo, passem a funcionar num domínio de informação
mais organizada.
FIGURA 8.4
Segundo a perspectiva química, uma frequência mais elevada e coerente traduz-
se em saúde, enquanto uma frequência mais baixa e incoerente se traduz cm
doença Todas as doenças revelam uma redução da frequência, bem como uma
expressão de informação incoerente.
FIGURA 8.5A
FIGURA 8.5B
FIGURA 8.5C
Controla conscientemente isso tudo? Ou não será algo com uma mente e
uma vontade muito superiores que o faz por si? Isso é amor! Na verdade, essa
inteligência ama-o tanto que até lhe dá vida. É a mesma mente universal que
anima todos os aspetos do universo material. Esse domínio de inteligência
invisível existe para além do espaço e do tempo e é a origem de todas as coisas
materiais.
Faz nascer supernovas em galáxias distantes e desabrochar rosas em
Versalhes. Faz o planeta girar em torno do Sol e as marés subir e descer em
Malibu. É por existir em todo o lado e a todo o momento, e por existir em nós e
à nossa volta, que essa inteligência só pode ser pessoal e universal. Dessa forma,
existe uma consciência subjetiva e livre (a consciência de cada um) chamada
“nós” e uma consciência objetiva (a consciência universal) responsável por toda
a vida.
Se tivesse de fechar os olhos e não pudesse prestar atenção ao seu corpo e a
todas as pessoas, coisas e acontecimentos que estivessem a surgir em momentos
e locais diferentes, no ambiente exterior, libertando-se momentaneamente dos
grilhões do tempo, como observador quântico, extrairia energia da sua rida
familiar e investiria a consciência alerta no domínio desconhecido das
possibilidades. Uma vez que centra a atenção onde centra a energia, se continuar
a orientar a consciência para a rida que conhece, é nessa rida familiar que investe
energia. Mas se a investisse no domínio desconhecido das possibilidades, para lá
do espaço e do tempo, e se se tornasse antes consciência (um pensamento no
potencial quântico), extrairia uma nova experiência para si próprio. Quando
acede a um estado meditativo, a consciência subjetiva e livre funde-se com a
consciência universal e objetiva, e planta uma semente num solo de
possibilidades.
O sistema nervoso autônomo, que se auto-organiza, é o elo de ligação com
essa inteligência inata, que executa todas as funções automáticas que já referi. O
neocórtex não é, de modo algum, o responsável por essas funções. são os centros
inferiores do cérebro abaixo do neocórtex que gerem tudo subconscientemente.
É com essa inteligência plena de amor que se funde, na meditação, quando
depõe o ego e passa do egoísmo para o altruísmo, tornando-se pura consciência
— deixa de ser um corpo no ambiente ou no tempo linear e passa a ser corpo
nenhum, pessoa nenhuma, coisa nenhuma, em lado nenhum e em tempo
nenhum. É quando se torna simplesmente consciência num campo infinito de
possibilidades.
Está no desconhecido. E é no desconhecido que se criam todas as coisas.
Encontra-se no domínio quântico. Já temos toda a maquinaria biológica de que
precisamos para conseguir esse feito de nos tornarmos pura consciência.
4. CAPÍTULO 9
Três histórias de transformação pessoal
5. A história de Laurie
Aos 19 anos. Laurie recebeu o diagnóstico de uma rara doença degenerativa dos
ossos chamada displasia fibrosa poliostótica, que faz com que o corpo substitua
osso normal por um tecido fibroso mais reles e que torna a estrutura proteica que
protege o esqueleto incaracteristicamente fina e irregular. O processo de
crescimento atípico associado â síndrome faz com que os ossos inchem,
enfraqueçam e, depois, fraturem. A displasia fibrosa pode ocorrer em qualquer
parte do esqueleto e, no corpo de Laurie, manifestou-se no fêmur direito, no
encaixe da anca direita, na tíbia direita e nalguns ossos do pé direito. Os médicos
disseram-lhe que não havia cura.
1. Medo do pai
Para Laurie, o pai sempre fora um homem violento. Mesmo depois de os filhos
crescerem, não havia quem escapasse à sua ira e aos seus punhos rápidos, nos
momentos mais inesperados. Todos se mantinham atentos, com medo das suas
explosões iminentes. Embora Laurie não o soubesse na altura, o comportamento
do pai estava intrinsecamente associado ao seu estado de saúde.
Os recém-nascidos passam grande parte do tempo no estado de ondas
cerebrais delta. Nos primeiros 12 anos, as crianças progridem gradualmente para
o estado teta e, depois, para o alfa, antes de alcançarem o beta, que será
dominante na vida adulta. Como já se referiu, os estados de ondas cerebrais teta
e alfa são altamente sugestionáveis. Como ainda não têm uma mente analítica
para editar ou entender o que lhes acontece, as crianças pequenas absorvem toda
a informação que recebem das experiências que vivem e codificam-na
diretamente na mente subconsciente. Com essa sugestibilidade acrescida, quando
se sentem emocionalmente alteradas com alguma experiência, passam a prestar
atenção à causa, seja ela uma pessoa ou uma coisa, e ficam condicionadas a
formar memórias associativas que ligam a causa à emoção da experiência em si.
Se a causa for um dos pais, com o tempo, a criança começará a associar as
emoções da experiência a essa pessoa e a considerá-las normais, pois ainda não é
capaz de analisar a situação. É assim que as experiências da infância precoce se
tornam estados de ser subconscientes.
Conheci a Laurie em 2009, depois de ela ter visto O Que Raio Sabemos Nós? e
ter ficado fascinada com a ideia de uma pessoa poder criar uma vida totalmente
nova. Estava a jantar antes de um workshop que ia fazer num centro de retiro
perto de Nova Iorque e começamos a falar sobre os cursos que eu organizava
sobre mudança pessoal. Ela inscreveu-se logo no próximo, que teria lugar em
agosto desse ano.
Quando foi pela primeira vez a um desses eventos, Laurie ouviu dizer que
era totalmente possível alterar o cérebro, os pensamentos, o corpo, o estado
emocional e a expressão genética. No workshop, falava sobre mudança física,
mas Laurie tinha fortes crenças sobre a sua doença e o seu corpo, e as emoções
bem ancoradas no passado. não tinha intenção de curar o corpo, sobretudo
porque nem sequer acreditava nessa possibilidade. Só estava ali para se sentir
melhor por dentro.
Laurie aplicou imediatamente os princípios que eu ensino o melhor que
podia, apesar de aparentemente não pode sentirse diferente por sua própria
escolha. A primeira coisa que fez, quase logo a seguir a esse primeiro curso de
fim de semana, foi deixar de partilhar o seu diagnóstico com as outras pessoas.
Muito embora não fosse capaz de controlar as emoções, percebeu que ainda
controlava o que dizia em voz alta. Desse modo, passou a só reconhecer o seu
estado em último caso, se tivesse de pedir uma cadeira numa festa ou de explicar
a um potencial namorado porque não podia ir passear com ele a pé. Laurie
preferiu centrar a atenção no seu futuro rumo: na direção de um eu interior feliz,
de uma profunda ligação a uma fonte divina que desconhecia, de um
maravilhoso emprego em que era eximia, de um parceiro para a vida e de
relações íntimas e saudáveis com amigos e familiares.
Em seguida, Laurie concentrou-se na tarefa de alterar simples
comportamentos. Estava atenta aos pensamentos e às palavras, fazendo por
rejeitar continuamente os padrões velhos e repetitivos que até então seguira.
Praticava as meditações e fazia os meus cursos. Para atribuir significado ao que
fazia, relia religiosamente os apontamentos que tomava nos cursos e mantinha o
contacto com o maior número de colegas possível. Com o tempo, Laurie
começou a sentirse melhor, mais firme, mais capaz e mais forte durante uma
pequena parte do dia. Dizia para si própria “muda” 20 vezes por dia, sempre que
começava a recuar ao passado. Embora ainda fosse assaltada centenas de vezes
por pensamentos negativos, durante o dia, aos poucos, Laurie foi criando novos
pensamentos que escrevia e em que tentava acreditar piamente.
Esforçou-se muito, mas foram precisos quase dois anos para realmente
sentir esses novos pensamentos. Em vez de se entregar à frustração inerente a
essa espera, Laurie recordava-se de que se tinha demorado tanto tempo a criar a
doença pelo estado emocional, certamente também demoraria algum tempo para
a descriar. Além disso, sabia que teria de passar pela morte biológica,
neurológica, química e genética do velho eu, antes de ver surgir o novo eu.
Antes de melhorarem, as circunstâncias do seu ambiente exterior pioraram.
Uma inundação em casa e outras situações que surgiram no prédio onde vivia
deram origem a novos problemas de saúde. Laurie contou-me que sempre que se
sentava para meditar e ensaiar a vida ideal, sentia que estava a mentir a si própria
— e, depois, ao abrir os olhos, sentia-se esbofeteada pelas circunstâncias em que
vivia. Aconselhei-a a deixar de definir a realidade com os sentidos e a persistir
na travessia do rio da mudança.
Laurie aparecia nos workshops ainda a coxear, umas vezes rabugenta,
outras grata, mas sempre esforçada. Além disso, reunia o máximo de colegas
possível para meditar com eles. Sem ter praticamente nada de agradável na rida,
Laurie pensava: não quero saber! não me custa nada passar uma hora por dia
refugiada por detrás das minhas pálpebras, onde a realidade é diferente, o meu
corpo não sente dores, tenho um lar seguro e tranquilo e mantenho uma relação
plena c de amor com o mundo exterior, os meus amigos e a minha família.
No início de 2012, durante um dos meus workshops progressivos, Laurie
sentiu um aprofundamento significativo na experiência de meditação. Sentiu um
abalo literal e figurativo no âmago. Fisicamente, começou por ser perturbador,
mas acabou por ser um alívio. Tentando manter-se sentada na cadeira, sentia o
corpo a estremecer, o rosto a contorcer-se e os braços a erguer-se.
Emocionalmente, sentiu-se percorrida por uma alegria inexplicável. Chorou, riu-
se e deu por si a emitir sons sem saber como. O medo e o controlo de que antes
se servia para manter a compostura estavam a desaparecer. Pela primeira vez,
sentiu uma presença divina e percebeu que já não estava sozinha.
Contou-me: “Senti uma coisa, uma pessoa, uma presença divina. Era uma
consciência que, ao contrário do que julgava, tinha pleno conhecimento da
minha existência e se preocupava com o meu bem-estar. Tinha estado sempre
atenta a mim. Essa noção representou uma mudança avassaladora.” Toda a
energia que antes mobilizava para controlar os movimentos físicos e a vida em
geral tinha finalmente começado a descontrair e a soltar-se, e a energia que antes
canalizava para manter o controlo começou a libertar-se.
No evento seguinte, reparei que Laurie já caminhava sem coxear e sem a
ajuda de uma bengala. Estava feliz, sorridente e bem-disposta, em vez de
irritada, carrancuda e a contorcer-se com dores. Transmutava o medo em
coragem, a frustração em paciência, a dor em alegria e a fraqueza em força.
Começava a mudar — por dentro e por fora. Livre do vício dessas emoções
limitadoras» o corpo já vivia menos no passado e permitia-lhe avançar para um
novo futuro.
No início da primavera de 2012, numa consulta de rotina, o ortopedista de
Laurie informou-a de que cerca de dois terços do comprimento de uma fratura
que ela tinha no fêmur desde os 19 anos (uma fratura que aparecia sempre nas
centenas de radiografias que já tinha feito) desaparecera. não tinha explicação
para esse fenômeno e aconselhou-a a começar a andar numa bicicleta fixa dez
minutos por dia, duas vezes por semana. Era música para os seus ouvidos;
Laurie assim fez.
3. Êxitos e reveses
Nos meses seguintes, Laurie começou simplesmente a sentirse mais feliz, alegre,
livre e saudável. Já pensava mais claramente sobre o futuro. Raramente sentia
dores no corpo e caminhava sem apoios.
Em maio de 2013, sentia-se apreensiva perante a possibilidade de repetir as
análises e adiou a consulta para junho. Ao conversar sobre as suas hesitações e
ansiedades com uma colega experiente dos workshops, esta pediu-lhe que
pensasse em coisas boas que pudesse imaginar relacionadas com a ida ao
hospital para fazer as análises. Nessa altura, Laurie apercebeu-se de que tinha
muitos recursos emocionais positivos e animadores em que se apoiar. Então,
começou a recitar uma longa lista em que referia coisas como a limpeza do
hospital, a amabilidade do pessoal e o facto de ser um local agradável para
receber cuidados. Era precisamente dessa mudança que estava a precisar.
No dia da consulta, a caminho do hospital, Laurie agradeceu a luz do sol, a
fluidez do trânsito, o carro, a perna que lhe permitia conduzir, a visão perfeita, a
facilidade com que encontrou lugar para estacionar, e daí por diante. Tal como
me descreveu posteriormente, “entrei, dei o meu nome, fechei os olhos e sentei-
me na sala de espera a meditar até me chamarem. Urinei para um boião, que
entreguei à enfermeira, e saí, dando graças pelo simples facto de caminhar. E
desapeguei-me do resultado — completamente. Sentia-me em paz, bem no fundo
de mim, em relação a qualquer resultado. O que me permitia esquecer-me
totalmente disso era o facto de não esperar nada. Sentia-me não só feliz, mas
sobretudo obsessivamente grata. Deixei de analisar e passei apenas a confiar.”
Lembrava-se de eu lhe ter dito que, se começasse a analisar como e quando
a cura ocorreria, retomaria o velho eu, porque o novo eu jamais teria essa
insegurança. Laurie continuou: “E, então, sem motivo algum, sentia-me
simplesmente grata no momento presente antes da experiência em si. não estava
à espera dos resultados para me sentir feliz ou grata; encontrava-me num estado
de autêntica gratidão e apaixonada pela vida como se isso já tivesse acontecido.
Já não precisava de uma coisa exterior a mim para me sentir feliz. Já me sentia
bem e feliz, porque qualquer coisa no meu interior estava melhor e mais
completa.”
Já não media o êxito, a satisfação ou a segurança por parâmetros externos
em “grande escala” — um rendimento, uma casa, um companheiro, um negócio,
um filho, nem sequer um trabalho voluntário de que se sentisse particularmente
orgulhosa. Mas contava com o amor dos amigos e familiares com quem tinha
afinidade. E sentia um amor renovado por si própria. Apercebera-se de que antes
não tinha autoestima — apenas autointeresse. Mais tarde, disseme que nunca
teria conseguido fazer essa distinção no anterior estado mental limitado. Sentia-
se bastante contente com ela própria e com a vida. “E pela primeira vez desde
que me lancei nesta viagem, não queria saber das análises. Sentia-me feliz
comigo própria.”
Duas alegres semanas depois, chegaram os resultados. O assistente do
médico informou Laurie: uOs seus resultados são perfeitamente normais. Obteve
um 40. Os valores estão abaixo do nível elevado e anormal de 68 de há cinco
meses.”
Laurie atravessara o rio e estava na margem de uma vida nova. Já não tinha
quaisquer vestígios do passado no corpo. Estava livre — renascida.
Muito embora não aceitasse a doença, Candace ainda tinha muito trabalho pela
frente. Sabia que para alterar a crença sobre o estado de saúde, teria de fazer uma
escolha com uma amplitude energética superior aos programas integrados no
cérebro e aos vícios emocionais do organismo, para que o corpo pudesse
responder a uma nova mente. Só então poderia sentir a mudança energética que
lhe permitiría reescrever os programas subconscientes e apagar o passado a nível
genético e neurológico — e foi precisamente isso que começou a acontecer.
Candace já me tinha ouvido dizer tudo isso e conhecia intelectualmente o
material, mas nunca assimilara a informação pela experiência pessoal. No
primeiro workshop que frequentou, depois de receber o diagnóstico, parecia
exausta e estava sempre a adormecer na cadeira. Percebia que estava com
dificuldade.
No workshop seguinte, há mais de um mês que já tomava medicação para
regular o desequilíbrio químico provocado pela disfunção da tiroide e mostrava-
se mais alerta e interessada. Ficou muito inspirada com as histórias que contei
nesse fim de semana. Quando me ouviu dizer que ninguém é vítima das
circunstâncias do mundo exterior e que efetivamente ocorrem curas invulgares,
decidiu tornar-se o sujeito do seu próprio projeto científico.
Candace embarcou nesta viagem. Com os conhecimentos de epigenética e
neuroplasticidade que adquiriu nos meus workshops, percebeu que não era
vítima da doença e decidiu ser pró-ativa. Atribuiu outro significado ao futuro e
fixou uma intenção diferente. Acordava todos os dias às 4h30 para meditar e
começou a condicionar emocionalmente o corpo a uma nova mente. Empenhou-
se na busca do momento presente, do qual sentiu falta.
Com vontade de ser feliz e saudável, Candace esforçou-se muito para
recuperar a vida. Debateu-se com algumas dificuldades iniciais, sentindo-se
muito frustrada por não conseguir permanecer muito tempo quieta. Treinado
para ser a mente da frustração, da revolta, da impaciência e da vitimização, é
evidente que o corpo se rebelava. Como se estivesse a domar um animal
indisciplinado, Candace insistia em mantê-lo ancorado no momento presente e,
ao fazê-lo, recondicionava-o a uma nova mente e libertava-se mais um pouco
dos grilhões do vício emocional.
Nas suas meditações diárias, Candace esforçava-se por superar o corpo, o
ambiente e o tempo. Quando terminava, recusava-se a ser a mesma pessoa que
era quando se sentara a meditar, porque a velha Candace era quimicamente
viciada nas circunstâncias exteriores, estava sempre revoltada e frustrada. Já não
queria ser essa pessoa. Ouvia as meditações, copiava um novo estado de ser e
não parava enquanto não se sentisse apaixonada pela vida — num verdadeiro
estado de gratidão sem um motivo específico.
Candace aplicava todo o conhecimento que tinha adquirido nos meus
workshops, ouvido nos meus lido nos meus livros (leu-os todos mais do que
CD,
uma vez) e estudado a partir dos apontamentos que tirara. Integrava novas
informações no cérebro em preparação para uma nova experiência de cura. A
certa altura, sentia que tinha cada vez mais capacidade não só para parar de
ativar e integrar as velhas ligações neurais de revolta, frustração, ressentimento,
arrogância e desconfiança, mas também para começar a ativar e a integrar novas
ligações neurais de amor, alegria, compaixão e bondade. Assim, sabia que
podava as velhas ligações e fazia crescer novas. E quanto mais força mental
aplicava, mais se transformava.
Com o tempo, começou a sentirse incrivelmente grata por estar viva,
apercebendo-se de que onde existisse harmonia, não poderia subsistir
incoerência. Dizia para si própria: não sou a velha Candace, nem confirmo mais
essa existência. Persistiu meses a fio. Se desse consigo a resvalar para esse
menor denominador comum, revoltada ou frustrada com as condições do mundo
exterior, doente ou infeliz, apressava-se a fazer uma mudança consciente. Com
essa célere mudança de estado de ser, encurtava os períodos em que essas
emoções se apoderavam dela, para se sentir menos temperamental, melancólica e
parecida com a velha personalidade.
Por vezes, Candace sentia-se tão mal que nem tinha vontade de sair da
cama, mas, mesmo assim, levantava-se e meditava. Convencia-se de que sempre
que transmutava essas emoções inferiores em emoções superiores» afastava-se
biologicamente do passado e preparava o cérebro e o corpo para um novo futuro.
A certa altura, apercebeu-se do valor do seu trabalho interior e passou a fazê-lo
com menos esforço, por o considerar uma dádiva.
Graças à sua persistência diária» Candace depressa verificou uma enorme
mudança e melhoria. Deixando de ver o mundo com uma mente cheia de medo e
frustração, para passar a vê-lo pelas lentes da compaixão, do amor e da gratidão,
começou a comunicar de outra forma com as pessoas. Além disso, começou a ter
mais energia e a pensar com mais clareza.
Candace apercebeu-se de que já não reagia do mesmo modo às condições
habituais da sua vida, porque já não tinha no corpo as velhas emoções baseadas
no medo. Superava as reações instintivas, porque já entendia que o que a
perturbava não eram as pessoas ou as condições, mas sim o que ela própria
sentia em relação às mesmas. Estava a libertar-se.
O processo de mudança implicou, em certa medida, uma tomada de
consciência dos pensamentos inconscientes que se esgueiravam sem ela se
aperceber, durante o dia. Nas meditações, tomou a firme decisão de não os
deixar mais passar despercebidos. Nunca mais se permitiria reassumir os
comportamentos e hábitos do seu velho eu. Apagou o quadro negro a nível
biológico, neurológico e genético, deixando-o limpo para receber um novo eu, e
o corpo começou a libertar energia. Por outras palavras, passava de partícula a
onda, libertando as emoções armazenadas como energia no organismo. O corpo
já não vivia no passado.
Com essa energia que libertara, Candace começou a ver a paisagem de um
novo futuro. E perguntou-se: Como me quero comportar? Como me quero
sentir? Como quero pensar? Levantando-se todos os dias, durante meses, num
estado de graça, dizia emocionalmente ao corpo que o novo futuro já tinha
chegado, emitindo sinais diferentes a novos genes e restabelecendo a
homeostase. No extremo oposto da revolta, Candace encontrou compaixão; no
extremo oposto da frustração» paciência e gratidão; e no extremo oposto da
vitimização» uma criadora, à espera de que lhe permitissem criar alegria e bem-
estar. Tinha a mesma energia intensa de ambos os lados, mas já era capaz de a
libertar, passando de partícula a onda e de sobrevivente a criadora.
Sete meses depois do diagnóstico, Candace foi a uma consulta e o médico ficou
espantado com a mudança que testemunhou. As análises ao sangue estavam
ótimas. Na fase inicial de exames que tinha feito em fevereiro de 2011, a
hormona estimulante da tiroide estava nos 3,61 (um valor elevado) e a
(HET)
450 (um valor saudável), apesar de ela já não tomar medicação. Candace curara-
se em menos de um ano.
O médico queria saber o que é que ela tinha feito para conseguir resultados
tão bons. Parecia demasiado bom para ser verdade. Candace explicou que sabia
que tinha sido ela quem criara o seu estado de saúde e que, por isso, decidira
fazer uma experiência em si própria para o descriar. Disse ao médico que,
meditando e mantendo um estado emocional elevado todos os dias, tinha emitido
epigeneticamente sinais a novos genes, em vez de deixar que as suas emoções
mórbidas continuassem a emitir sinais aos velhos genes. Explicou que trabalhara
regularmente na pessoa que queria ser e que deixara de responder a todos os
estímulos do ambiente exterior, como um animal no modo de sobrevivência: a
lutar, a fugir, aos murros e pontapés. À sua volta, tudo se mantinha
essencialmente igual; ela apenas tinha passado a responder de uma forma que lhe
era mais benéfica.
Abismado, o médico comentou: “Quem me dera que todos os meus
pacientes fossem assim, Candace. A sua história é absolutamente incrível.”
Candace não sabe realmente como se deu a cura. Nem precisa. Sabe apenas
que se tornou outra pessoa.
Pouco depois disso, jantei com Candace, já ela não tomava medicação nem
sentia quaisquer sintomas há meses. Tinha uma saúde fantástica, o cabelo
crescera novamente e sentia-se muito bem consigo própria. não parava de dizer o
quanto se sentia apaixonada pela vida presente.
Ri-me e observei: “Estás apaixonada pela rida e ela corresponde-te. Deves
estar apaixonada pela rida — foste tu que a criaste, para ser assim, todos os dias,
durante meses!”
Candace explicou-me que se tinha limitado a confiar num domínio infinito
de possibilidades, plenamente consciente de que qualquer coisa para além dela a
ajudava a curar-se. Bastava-lhe ir para além dela e aceder ao sistema nervoso
autônomo, para aí plantar insistentemente as sementes da sua nova vida. Sem
saber como, as coisas aconteceram — c quando aconteceram, passou a sentirse
melhor do que nunca.
A nova rida de Candace era completamente diferente da vida que tinha,
quando lhe haviam diagnosticado a doença de Hashimoto. É sócia num
programa de desenvolvimento pessoal que ensina as pessoas a desenvolverem-se
e trabalha numa empresa. Tem uma relação de amor, fez novas amizades e
conseguiu novas oportunidades profissionais. Uma nova personalidade acaba por
dar origem a uma nova realidade pessoal.
O estado de ser é uma força magnética que atrai eventos ao seu nível,
portanto, quando se apaixonou por si própria, Candace atraiu uma relação de
amor. Como se sentia cheia de valor, tinha respeito por si e pela vida na sua
totalidade, começaram a surgir as condições necessárias para poder contribuir,
ser respeitada e marcar uma diferença no mundo. E quando assumiu uma nova
personalidade, a velha passou à história. A nova fisiologia conduziu-a a níveis
superiores de alegria e inspiração — e a doença passou a pertencer à velha
personalidade. Candace era outra pessoa.
Ela não ficou viciada na alegria, deixou apenas de estar viciada na
infelicidade. Quando começou a sentir mais felicidade, percebeu que há sempre
mais beatitude, mais alegria e mais amor para viver, porque todas as experiências
geram uma mistura diferente de emoções. Candace passou a acolher os desafios
da vida de braços abertos, pois aplicava a informação que lhe transmitiam na sua
transformação.
A lição mais importante para Candace foi a de que a doença e os desafios
nunca poderiam vir de outra pessoa — eram sempre seus. No velho estado de
ser, acreditava piamente que era vítima da sua relação e das circunstâncias
externas; que a vida lhe estava sempre a acontecer. Ganhar consciência desse
trabalho e assumir a responsabilidade por si própria e pela sua vida — aperceber-
se de que o que lhe acontecera nunca tivera nada que ver com o que lhe era
exterior — tinha sido não só uma experiência de grande capacitação, mas
também uma das maiores dádivas que alguma vez poderia receber.
7. A história de Joann
Joann passou a maior parte da sua vida na via rápida. Com 59 anos, mãe de
cinco filhos, esposa dedicada e empresária de êxito, equilibrava o lar, a dinâmica
familiar, uma carreira em ascensão e um negócio próspero. Embora tivesse por
ambição manter-se lúcida, saudável e equilibrada, não imaginava uma vida que
não fosse intensa, acelerada e atarefada; vivia no limite e provava a todos que
tinha uma mente ativa e aguçada. Esforçava-se constantemente por fazer tudo e
mais alguma coisa com a máxima perfeição. Era uma líder, admirada e
procurada por muitos pelos seus conselhos. Os pares chamavam-lhe
“supermulher" e era verdade — ou julgava ela.
Tudo acabou abruptamente em janeiro de 2008, quando Joann estava a sair
do elevador do prédio e caiu no chão, a 15 metros da porta de casa. Como se
tinha sentido mal durante o dia, vinha de uma clínica onde tinha ido ver o que se
passava. Num curto espaço de tempo, o mundo mudara e Joann dava por si a
lutar pela vida.
Após oito meses de exames, os médicos tinham-lhe diagnosticado esclerose
múltipla secundária progressiva um estado avançado de esclerose múltipla
(EMSP),
incurável.
Alguns anos antes do diagnóstico, Joann fizera uma pausa no negócio de
família em Calgary e mudara de vida, mudando-se para Vancouver, na costa
ocidental do Canadá, cumprindo o desejo que a família sempre tivera. Depois da
mudança, Joann enfrentou uma série de desafios relacionados com as finanças e
os recursos da família, que se esgotavam e os deixavam numa situação muito
precária. A autoestima, a confiança e a saúde caíram a pique. Incapaz de superar
o ambiente, os estados mental e físico começaram a desmoronar. A par da falta
de dinheiro, aumentavam outros fatores de stress — a ponto de, a certa altura, a
família já nem conseguir suprir as necessidades básicas de alimentação e abrigo.
No início de 2007, a mulher que todas as pessoas consideravam uma
supermulher bateu no fundo e, antes de o ano acabar, a família regressou a
Calgary.
A é uma doença inflamatória em que a cobertura isolante e as próprias
EM
Joann muda de mente Se havia uma coisa que Joann sabia, sem sombra de
dúvida, era que os danos que estavam a tolher-lhe o cérebro e a medula espinal
apresentados nas ressonâncias magnéticas não tinham aparecido do dia para a
noite. O seu corpo tinha sido consumido lentamente no seu interior — o sistema
nervoso central. Ao fim de tantos anos a ignorar os sintomas, ficara desalentada
e tinha medo de ver o que se passava no seu interior. A dose diária de
substâncias tóxicas a bater repetidamente à porta das células fizera com que o
gene da doença acabasse por abrir a dele e se ativar.
Acamada, Joann estabeleceu o primeiro objetivo, que era abrandar a
progressão da EM no corpo. Depois de ler o meu primeiro livro, ficou a saber
que o corpo não faz a distinção entre aquilo que ela poderia tornar real
internamente com o poder do pensamento e a verdadeira experiência exterior.
Ciente de que a prática mental lhe poderia alterar o cérebro e o corpo, começou a
ensaiar mentalmente a prática do yoga e, passadas poucas semanas de prática
diária, já conseguia assumir fisicamente algumas posições — umas quantas de
pé. Esses resultados motivaram-na muito.
Joann preparava o cérebro e o corpo diariamente só com o poder do
pensamento. Tal como os pianistas do Capítulo 5, que ensaiaram mentalmente e
desenvolveram os mesmos circuitos neurológicos dos sujeitos que praticaram
fisicamente os exercícios, Joann instalava os circuitos cerebrais para parecer que
já se deslocava e movia fisicamente. Lembra-se dos sujeitos dos diversos estudos
de levantamento de pesos que aumentaram a força praticando mentalmente o
levantamento de pesos ou contraindo os bicípites? Tal como eles, Joann sabia
que podia fazer com que parecesse que a experiência da cura já tinha começado
a acontecer no corpo — mudando literalmente a mente.
Muito em breve, já se mantinha de pé por breves momentos e pouco depois
já caminhava sem apoio. Cambaleava bastante e ainda dependia da scooter de
mobilidade, mas, pelo menos, já não estava acamada nem sentia pena de si
própria. Dobrara uma esquina.
Quando começou a meditar com regularidade, simplesmente para acalmar o
incessante diálogo mental, Joann tomou consciência da tristeza e revolta que
realmente sentia. Abriu as comportas e apercebeu-se de que se sentia quase
sempre fraca, isolada, rejeitada e sem valor. Desequilibrada, desamparada e
desligada, sentia como se tivesse perdido uma parte vital de si. Via que se
negava a si própria, preferindo agradar aos outros, e que era incapaz de se
valorizar sem sentir culpa. Reconhecia que estava sempre a tentar controlar a
espiral de caos em que se via sem nunca conseguir. A um nível mais profundo,
sempre soubera todas essas coisas, mas tinha preferido ignorá-las, esforçando-se
incansavelmente e fingindo que estava tudo bem.
Apesar de ser doloroso, Joann compreendeu que tinha sido ela a criar a sua
doença e decidiu tomar consciência de todos os pensamentos, ações e emoções
subconscientes que a definiam como a personalidade que lhe criara aquela
realidade pessoal em concreto. Sabia que se conseguisse encarar a pessoa que
era, seria capaz de mudar esses aspetos. Quanto mais consciente ficava do seu eu
inconsciente e do seu estado de ser, mais domínio ganhava sobre aquilo que
escondia.
No início de 2010, Joann já sentia um abrandamento na progressão da EM.
Nessa altura, fixou o objetivo de a travar completamente. Em maio, quando
referiu essa ideia a um neurologista que lhe perguntou que objetivos tinha em
relação à doença, este pós imediatamente fim à consulta. Em vez de se deixar
desanimar com o incidente, Joann tornou-se ainda mais decidida.
7. Mais milagres
Quando Joann voltou para casa trés dias depois, sem se aperceber, o milagre
continuou a acontecer. Ao praticar yoga, o que já começara a fazer fisicamente
— e não apenas mentalmente — depois de participar no segundo workshop,
reparou que já conseguia levantar um pé do chão. Tentou levantar o outro — e
conseguiu! Depois, reparou que conseguia fletir os pés pela primeira vez em
anos. E era capaz de mexer os dedos dos pés, o que já não fazia há muito tempo.
Estava espantada e completamente estupefata, lavada em lágrima de
alegria. Soube imediatamente que tudo era possível, não graças a um qualquer
medicamento ou procedimento externo, mas graças às mudanças internas que
fizera. Joann sabia que podia ser o seu próprio placebo.
Em muito pouco tempo. Joann ensinou-se a caminhar novamente. Dois
anos depois, ainda caminha sem apoios e é uma pessoa mais viva e bem-
disposta. A força corporal melhorou e já lhe permite fazer muitas coisas que
julgava nunca mais poder fazer. Acima de tudo, sente-se viva e cheia de alegria.
Sente-se plena e, uma vez que já consegue receber, continua a receber cura.
Recentemente, disseme: “A minha vida é mágica, cheia de sinergias
incríveis, abundância e lodo o gênero de dádivas inesperadas. Borbulha, agita-se
e pisca com um novo reflexo mais leve de mim própria. Ê o novo eu — na
verdade, o eu verdadeiro, que tentei subjugar e esconder uma boa parte da minha
vida!"
Agora, Joann vive quase diariamente em estado de graça. Ainda arranja
tempo para ganhar consciência dos pensamentos e sentimentos; ou seja, cultiva o
estado de ser todos os dias, prestando atenção ao que diz a si própria e, também,
ao que pensa dos outros. Nas meditações, observa-se e familiariza-se com a sua
forma de agir. É muito raro deixar um pensamento indesejado atravessar-lhe a
mente consciente.
A atual neurologista de Joann apoia as suas escolhas e sente-se abismada
com o que observa. A médica viu-se obrigada a reconhecer o poder da mente,
pois Joann demonstrou-o nos vários relatórios e análises que não acusam
quaisquer sinais de EM.
8. CAPÍTULO 10
Da informação à transformação: a prova de que somos mesmo o placebo
Este livro ensina-o a tornar a mente matéria. Já sabe que o placebo funciona
porque alguém aceita e acredita num remédio conhecido — comprimidos,
injeções ou intervenções falsos a substituir os verdadeiros -, entregando-se ao
resultado sem analisar excessivamente o que irá acontecer. Podemos dizer que há
uma associação de uma experiência futura de uma pessoa específica conhecida
(um médico, por exemplo) ou de uma coisa (um medicamento ou uma
intervenção), num momento e num local específicos do ambiente exterior, a uma
mudança no ambiente interior — e isso altera o estado de ser. Após algumas
experiências consistentes, espera-se que o futuro seja exatamente igual ao
passado. Uma vez estabelecido o elo, o processo torna-se altamente eficaz, um É
FIGURA 10.1
A maioria das mudanças começa com o simples processo de algo que nos é
exterior a alterar algo que nos é interior. Sc iniciarmos a nossa viagem interior e
começarmos a mudar o mundo interior dos pensamentos c sentimentos,
deveremos criar um estado de ser elaborado. Se insistirmos em repetir o
processo durante a meditação, com o tempo, a nossa apresentação exterior
deverá começar a sofrer mudanças epigenéticas — e nós tornamo-nos o nosso
próprio placebo.
Neste momento, já deve ter percebido que não precisa de comprimidos
falsos, santuários, símbolos antigos, curandeiros (sejam eles modernos ou
tradicionais), cirurgias falsas, ou terra santa para se curar. Este capítulo apresenta
as provas científicas de como os nossos alunos o fizeram. Mudaram a biologia só
com o poder do pensamento. O processo não se deu apenas na mente — também
ocorreu no cérebro.
Todas as provas apresentadas neste capítulo servem, desde logo, para o
levar a constatar o poder da meditação. Gostaria que, vendo provas do que é
possível fazer, aplicasse os mesmos princípios à sua própria transformação
pessoal e colhesse os benefícios em todas as áreas da sua vida. Depois de ler
estas histórias, quando chegar à Parte II, realizará a sua viagem interior com uma
maior intenção, porque atribuirá mais significado ao que faz — e, portanto,
obterá melhores resultados.
9. Do conhecimento à experiência
Por fim, enquanto observava uma aluna a quem se estava a fazer o mapa cerebral
em tempo real durante uma meditação do primeiro evento, percebi algo
espantoso. Ao analisar o cérebro dela, percebi o quanto se estava a esforçar e o
quanto o cérebro se afastava cada vez mais do equilíbrio e dos estados
meditativos mais profundos alfa e teta. A emoção que sentia naquele momento
permitia-me ver o quanto estava a analisar e a julgar-se a si própria e à sua vida
— tal como evidenciavam as ondas cerebrais mais elevadas e incoerentes
associadas a um estado beta de alto alcance (revelador de muito stress, muita
ansiedade, muita excitação, emergência e desequilíbrio generalizado).
Vi-a tentar futilmente usar o cérebro para mudar o cérebro — sem
conseguir. Sabia que estava igualmente a usar o ego para tentar mudar o ego e
que também não estava a conseguir nada. Ao usar um programa para tentar
mudar outro, promovia-o em vez de o reescrever. Ainda estava na mente
consciente, a tentar mudar a mente subconsciente, pelo que se mantinha afastada
do sistema operativo, onde reside a verdadeira mudança. Quando a abordei mais
tarde e conversámos durante alguns minutos, confessou-me que estava a passar
por um período difícil. Naquele momento, percebi logo o que tinha de lhe
ensinar a seguir.
Para mudar o corpo, teria de se destacar dele e de o superar; para mudar o
ego, teria de o superar; para mudar o programa, teria de o superar; e para mudar
a mente consciente, teria de a superar. Para criar o desconhecido, teria de se
tornar o desconhecido. Para criar materialmente uma nova experiência, teria de
se tornar um novo pensamento imaterial sobre coisa nenhuma material. Para
mudar o tempo e o espaço, teria de os superar.
Ela teria de se tornar pura consciência. Teria de superar as associações que
fazia a uma identidade que se associava ao ambiente conhecido (a casa, o
emprego. o cônjuge, os filhos e os problemas), superar o corpo (o rosto, o
gênero, a idade, o peso e a aparência) e superar o tempo (o previsível hábito de
viver no passado ou no futuro, sempre a perder o momento presente). Para criar
um novo eu, teria de superar o eu atual. Teria de desobstruir o próprio caminho,
para deixar passar qualquer coisa nova.
Nunca funciona se formos matéria a tentar mudar matéria. Nada acontecerá
se formos partícula a tentar mudar partícula, porque se vibramos à mesma
velocidade a que vibra a matéria, não podemos exercer um efeito significativo
sobre ela. É a nossa consciência (o pensamento interior) e a nossa energia (a
emoção elevada) que influenciam a matéria. Só podemos alterar o cérebro, o
corpo e a vida para criar um novo futuro no tempo, se estivermos conscientes.
E uma vez que é a consciência que dá forma a todas as coisas e que utiliza o
cérebro e o corpo para produzir diferentes níveis mentais, se nos tornarmos pura
consciência, lornamo-nos livres. Então, comecei a deixar os meus alunos
meditarem mais tempo, tornando-se pessoa nenhuma, corpo nenhum, coisa
nenhuma, em tempo nenhum e lado nenhum, até se sentirem bem no domínio
infinito das possibilidades.
Queria que a consciência subjetiva dos alunos passasse mais tempo fundida
com a consciência objetiva do domínio. Tinham de encontrar o melhor ponto do
momento presente e investir a energia e a consciência num vazio que não é
realmente um espaço oco, mas sim um espaço preenchido de um número infinito
de possibilidades, até se sentirem bem no desconhecido. Só podiam começar a
criar quando estivessem verdadeiramente presentes nesse local poderoso para lá
do tempo e do espaço — de onde vêm materialmente todas as coisas. Foi então
que começaram a dar-se mudanças reais nos workshops.
Quero apresentar-lhe dois tipos de leitura das imagens do cérebro para que possa
ver e compreender as mudanças que estou prestes a mostrar. Simplifiquemos. O
primeiro tipo de exame que utilizamos mede os graus de atividade entre as áreas
cerebrais (observe a Figura 10.2, junto das restantes figuras deste capítulo, nas
páginas a cores). As imagens apresentam os mapas de dois tipos relativos dessa
atividade. A hiperatividade (ou suprarregulação) é representada por linhas
vermelhas, que ligam diferentes pontos do cérebro. Imagine linhas telefônicas a
ligar dois locais, para estabelecer a comunicação entre essas duas áreas.
Demasiadas linhas vermelhas numa determinada altura indicam demasiada ação
a ocorrer no cérebro. A hipoatividade (falta de regulação) é representada por
linhas azuis, que indicam a comunicação mínima de informação entre duas áreas
diferentes do cérebro.
A espessura das linhas representa o desvio-padrão, ou a quantidade de
desregulação ou regulação anômala) existente entre os dois pontos que a linha
une. Por exemplo, as linhas vermelhas finas indicam que o nível de atividade
entre esses pontos é 1,96 desvios-padrões acima do normal. As linhas azuis
(DP)
finas indicam que o nível de atividade entre esses dois pontos é de 1,96 abaixo
DP
se relatório de Z-Scorc. A Z-Score é uma medida estatística que nos diz não só se
um ponto está acima ou abaixo da média, mas também a que distância se
encontra dos valores normais. A escala deste relatório varia entre -3 e +3 O
DP. S
Figura 10.3.)
O relatório Z-Score que utilizamos foi o do poder relativo, que apresenta
informação acerca da quantidade de energia no cérebro em diferentes
frequências. Uma vez que o verde indica a amplitude normal, quanto mais verde
for uma imagem, mais a pessoa está em conformidade com a atividade normal
das ondas cerebrais. Cada círculo colorido (semelhante a uma cabeça vista de
cima) representa o que o cérebro faz em cada frequência de ondas cerebrais. O
círculo na região superior esquerda da imagem apresenta a frequência mais baixa
de ondas cerebrais (em ondas cerebrais delta) e cada círculo que se segue
representa um estado de ondas cerebrais cada vez mais elevado, avançando
progressivamente até às ondas cerebrais beta mais elevadas na região inferior
direita. Os ciclos por segundo na frequência de ondas cerebrais são conhecidos
como hertz, ou Hz. Da esquerda para a direita e de cima para baixo, a progressão
é de 1 a 4 ciclos por segundo (delta) para 4 a 8 ciclos por segundo (teta), para 8 a
13 ciclos por segundo (alfa), e para 13 a 30 e muitos ciclos por segundo (beta de
alcance baixo-médio a elevado). Podemos dividir a atividade beta em diferentes
bandas de frequência, tais como 12 a 15 Hz, 15 a 18 Hz, 18 a 25 Hze 25 a 30 Hz.
Assim, as cores relativas de cada área demonstram o que está a ocorrer nos
diferentes estados de ondas cerebrais. Por exemplo, predominância de azul no
cérebro durante o ciclo delta de um por segundo sugere pouca atividade no
cérebro nessa amplitude deita. E muito vermelho em alfa 14 Hz no lóbulo frontal
significa atividade alfa acrescida nessa zona do cérebro.
Ê necessário compreender também que estas medições podem ter outras
interpretações, consoante o que o sujeito esteja a fazer quando é realizado o
exame de imagiologia. Por exemplo, se a delta 1 Hz estivesse representada pela
cor azul, isso poderia sugerir que a energia do cérebro nessa frequência é 3
DP
leve.) Essa mudança ocorreu num dos alunos depois de uma só sessão de
meditação.
Analisemos agora mais estudos de caso de alunos dos workshops. Começo
por apresentar um pouco do historiai de cada um para perceber qual era o seu
estado de ser no inicio do workshop. Em seguida, explico o que revelaram as
imagens e, por fim, descrevo o novo estado de ser que cada aluno criou.
do meio da segunda fila até à última — as imagens a azul -, verá que o cérebro
de Michelle não revela quaisquer ondas cerebrais alfa ou beta em
funcionamento.
Lembre-se de que o azul representa uma atividade cerebral serenada. A
doença de Parkinson caracteriza-se tipicamente por uma redução da atividade
cognitiva, interferências na capacidade de aprendizagem e perda de
funcionamento. Neste caso, notamos que Michelle não consolida nova
informação. não consegue manter uma imagem interna, porque não produz
ondas cerebrais alfa. Os padrões beta de muito curto alcance também revelam
que tem dificuldade na manutenção de certos níveis de consciência. Toda a
energia do cérebro é canalizada para a gestão da hiperincoerência, sendo por isso
como uma lâmpada que passa dos 50 watts para os 10 watts. O volume de
energia do cérebro é reduzido.
Se observar a parte que corresponde a “depois da meditação", verá o que
parece ser um cérebro muito melhorado e equilibrado. Todas essas áreas verdes,
na maioria das imagens indicadas com setas, representam uma atividade cerebral
normal e equilibrada. O cérebro dela já pode funcionar em alfa e permitir-lhe
passar para estados interiores com maior facilidade, lidar melhor com o stress e
aceder ao sistema operativo subconsciente para influenciar as funções
autônomas. Até a atividade beta normalizou (verde), o que indica que ela está
mais consciente, alerta e atenta. A atividade equilibrada resultou em muito
poucos problemas motores.
As áreas vermelhas circundadas na base em beta de alto alcance significam
ansiedade. É a atitude com que Michelle se debate e que tenta mudar a partir de
uma perspetiva interna. Por coincidência, foi precisamente a ansiedade que lhe
agravou os sintomas de Parkinson. Ao reduzir a ansiedade, reduz os sintomas da
doença. Para ela, os tremores representam desequilíbrio na sua vida. Quando
regula os estados interiores, produz mudanças na realidade exterior.
Três meses depois, Michelle repetiu o exame de imagiologia cerebral no
consultório do Doutor Fannin. O exame de 9 de maio de 2013, representado na
Figura 10.6B, apresenta o cérebro em processo de melhoria e foi precisamente
isso que Michelle relatou sentir. Ela continua a melhorar, apesar de todos os
fatores de stress da sua vida. Fazendo as meditações diárias (considere que é a
sua toma diária de placebo), Michelle está constantemente a mudar o cérebro e o
corpo para superar as condições do seu ambiente. O exame mostra que caiu
quase outro desvio-padrão em relação ao anterior, apresentado na base do
gráfico. Vê-se claramente que a ansiedade ainda está a melhorar e,
consequentemente, o estado de saúde. Menos ansiedade traduz-se em menos
tremores. Ao manter e memorizar esse estado de ser por um período de tempo
mais alargado, o cérebro apresenta as mudanças.
Se observarmos o exame que Michelle fez no workshop de 3 de junho de
2013, na Figura 10.6C, notamos uma ligeira regressão no progresso — embora
ainda esteja melhor do que quando começou. Aqui, como tinha parado de fazer a
meditação (e, portanto, de tomar o placebo), o cérebro regrediu ligeiramente para
o estado anterior. O cérebro com a seta na área azul de 13 Hz significa que ela
está hipoativa na região sensorial e motora, e que, por isso, tem menos
capacidade para controlar os tremores involuntários. Neste padrão de ondas
cerebrais, Michelle tem menos energia para dominar o corpo. A ansiedade está
patente nas áreas vermelhas novamente circundadas na base da imagem em beta
de alto alcance.
No exame de 27 de junho de 2013, representado na Figura 10.6D, Michelle
retomara a prática da meditação no inicio do mês e as melhorias eram visíveis.
Sentia menos ansiedade generalizada, tal como demonstra o vermelho na fila de
baixo, entre 17 e 20 Hz. Comparemos agora esse exame com o seguinte, de 13
de julho de 2013, depois do nosso workshop, representado na Figura 10.6E.
Ainda se nota menos vermelho e o azul do primeiro exame de fevereiro em alfa
(indicador de hipoatividade) desapareceu completamente. Michelle continua a
melhorar e as mudanças tornam-se mais consistentes.
O novo eu de Michelle: hoje em dia, Michelle quase não tem sintomas motores
involuntários associados à doença de Parkinson. Sente efetivamente pequenas
contrações quando está estressada ou cansada, mas, em geral, encontra-se num
estado normal e funcional. Quando está equilibrada e alegre nas meditações
diárias, o cérebro funciona bem — e ela também. De acordo com os nossos
exames e os seus próprios relatos, Michelle não se limita a manter a condição;
continua a melhorar cada vez mais. Persiste na meditação, porque sabe que tem
de ser o seu próprio placebo todos os dias.
real tem uma seta a apontar para 1 Hz nas ondas cerebrais delta, ilustrando a
ligação dela ao domínio quântico (a azul). Bonnie também apresentava mais
energia no lóbulo frontal nas ondas cerebrais teta (a vermelho), correspondendo
exatamente ao que acontecia no Repare no círculo vermelho a assinalar os
EEG.
lóbulos frontais e na seta a apontar para a vista de cima do lóbulo frontal mesmo
abaixo. A imagem que vê retrata a atividade cerebral de Bonnie durante toda a
meditação. Dado que uma das funções do lóbulo frontal é tornar os pensamentos
reais, o que ela experienciou em teta com os olhos fechados pareceu-lhe muito
real. Podemos dizer que a experiência interior de Bonnie se assemelhou à de um
sonho muito nítido e lúcido. A seta vermelha a 12 Hz em alfa — isolando a zona
vermelha no centro do cérebro — revela a tentativa de Bonnie de entender a
experiência interior e processar o que via com a visão mental. O resto do cérebro
estava saudável e equilibrado (a verde).
linhas roxas, onde se encontra a seta, verá que essa parte do cérebro está a
processar dez vezes mais energia do que o normal. A zona circundada a
vermelho diz-nos que a experiência é tão profunda a nível emocional que ficará
armazenada na memória de longo prazo de Genevieve. Ao mesmo tempo, ela
também tenta compreender verbalmente o que lhe está a acontecer nesse
momento. Poderá dizer qualquer coisa para si própria, como: Oh, meu Deus! Ê
espantoso. Sinto-me tão bem! O que estou a sentir? A experiência interior é tão
real como um acontecimento exterior e ela não está a tentar fazê-la acontecer —
está simplesmente a acontecer-lhe. não está a visualizar; está a viver uma
experiência muito intensa.
Em julho, no evento que realizamos no Colorado, fizemos outro exame a
Genevieve e foi muito interessante constatar que ela continuava a apresentar as
mesmas mudanças energéticas. Quando lhe passamos o microfone nos dois
eventos, a única coisa que conseguia dizer era que se sentia tão apaixonada pela
vida que tinha o coração escancarado e se sentia ligada a algo que a transcendia.
Encontrava-se num estado de graça e sentia-se tão bem, que queria ficar no
presente. Se observar a Figura 10.20, verá que, em julho, o cérebro dela
demonstrava os mesmos padrões e efeitos que apresentara em fevereiro. A
experiência ainda persistia meses depois. Ficara realmente alterada com a sua
transformação pessoal.
O novo eu de Genevieve: quando falei com ela, várias semanas depois do evento
de julho, Genevieve disseme que não era a mesma pessoa que tinha sido no
início do ano. Tinha uma mente mais profunda, estava mais presente e sentia-se
muito mais criativa. Estava profundamente apaixonada por todas as coisas e,
acima de tudo, sentia-se tão elevada que já não sentia necessidade ou vontade de
nada. Sentia-se plena.
TRANSFORMAÇÃO
13. CAPÍTULO 11
Preparação para a meditação
Agora que leu e assimilou toda a informação da Parte I, já está pronto para a
transformação. Neste capítulo, explico o que precisa de saber para se preparar
para a meditação guiada do capítulo seguinte. Todos os participantes deste livro
que mudaram qualquer coisa neles próprios tiveram de começar por mergulhar
no seu interior e mudar o estado de ser. Pense na prática da meditação como a
toma diária do placebo. Mas, em vez de tomar um comprimido, mergulha no seu
interior. Com o tempo, a meditação terá a força da sua crença na medicação.
1. Quando meditar
2. Onde meditar
5. Dominar a vontade
Quero alertá-lo para um obstáculo muito vulgar com que lidam as pessoas que
começam a prática da meditação. Sempre que começar a mudar qualquer coisa
na sua rida, o corpo, como mente, emitirá sinais ao cérebro para recuperar o
controlo. Quando der por si, já está a ouvir vozes negativas na cabeça, do
gênero: Porque não começas amanhã? És muito parecido com a tua mãe! O que
se passa contigo? Nunca mudarás. Isto não me parece bem. É o corpo a tentar
desestabilizá-lo, para poder ser outra vez a mente. Talvez o tenha
inconscientemente condicionado a ser impaciente, frustrado, infeliz, vitimizado
ou pessimista, para dar apenas alguns exemplos. E é assim que ele se quer
comportar subconscientemente.
Se respondermos a essa voz como se o que ela nos diz fosse verdade, a
consciência mergulha no programa automático e voltamos a formular os mesmos
pensamentos, a realizar as mesmas ações e a seguir as mesmas emoções — mas
sempre à espera de mudar a vida. Se utilizarmos esses sentimentos e emoções
como barômetro para a mudança, acabaremos sempre por nos desconvencer da
possibilidade. Se, pelo contrário, libertarmos o corpo dos grilhões dessas
emoções, não só nos descontraímos e nos estabelecemos no presente (falarei
sobre isso mais adiante), como também libertamos energia do corpo — passando
de partícula a onda — para que ela nos possa criar um novo destino. Para aí
chegarmos, para ensinarmos uma nova forma de ser ao corpo, temos de nos
sentar para lhe mostrar quem manda.
Tenho um rancho com 18 cavalos e dominar a vontade para me focar na
meditação lembra-me de como é montar o meu garanhão preferido depois de
uma longa temporada sem o fazer. Quando me sento na sela, ele parece estar-se
nas tintas para mim. Cheira as éguas que estão do outro lado da propriedade e é a
isso que presta atenção. É como se me dissesse: “Onde estiveste nos últimos oito
meses? Ganhei maus hábitos na tua ausência, as miúdas estão ali e não me
interessa o que queres fazer, por isso, vou-te atirar ao chão. Quem manda aqui
sou eu." Temperamental e controlador, revolta-se e tenta atirar-me para a arena.
Mas presto-lhe atenção e quando o vejo voltar a cabeça na direção das éguas,
controlo-o.
Assim que o vejo começar a desviar a atenção de mim, agarro lenta mas
firmemente as rédeas, puxo-as e espero. Ele não tarda a parar e a resfolegar.
Nessa altura, afago-o de lado e digo-lhe: “É isso." Damos dois passos e, quando
vejo que a cabeça dele começa a virar-se lentamente, travo-o — e espero. Ele
resfolega outra vez e, quando der sinal de que me reconhece a autoridade,
retomamos a marcha. Faço sempre isto até ele acabar por se render.
É precisamente esse o tipo de redirecionamento suave mas firme que
utilizamos com o corpo, quando nos sentamos para meditar. Pense no corpo
como o animal que nós, como consciência, estamos a domar. Sempre que
tomarmos consciência de que a atenção se desviou e a trouxermos de volta dessa
forma, recondicionamos o corpo a uma nova mente. Dominamo-nos a nós
próprios e ao nosso passado.
Digamos que acordamos de manhã e temos uma lista de pessoas a quem
ligar e uma lista de tarefas a cumprir, bem como 35 mensagens escritas e não sei
quantos e-mails a que responder. Se começarmos a pensar em todas as coisas que
temos de fazer assim que nos levantamos, projetamos o corpo no futuro. Quando
nos sentamos a meditar, a mente talvez queria naturalmente seguir nessa direção.
Se permitirmos, o cérebro e o corpo passam para esse futuro previsível, porque
estamos à espera de um determinado resultado com base na experiência do dia
anterior.
Desse modo, assim que perceber que a mente quer seguir nessa direção, só
tem de puxar as rédeas, estabilizar o corpo e trazê-lo para o momento presente
— tal como eu faço com o meu garanhão. Então, em seguida, se começar a
pensar Pois, mas tens de fazer isto, esqueceste-te daquilo e precisas de fazer
aquela coisa que não conseguiste fazer ontem, limite-se a trazer a mente
novamente para o momento presente. Caso persista e isso lhe cause frustração,
impaciência, preocupação e daí por diante, lembre-se de que qualquer emoção
que sinta pertence simplesmente ao passado. Limite-se a reparar nela; torne-se
consciente: Ah, o meu corpo-mente quer que volte ao passado. Está bem. Vamos
deixar-nos estar descontraidamente no presente.
não é só a mente que o quer distrair; o corpo também. Talvez queira ficar
enjoado, criar dor ou fazer surgir comichão bem no meio das costas. Se isso
acontecer, lembre-se de que é só o corpo a tentar ser a mente. Ao dominá-lo,
supera-o. Se o dominar sempre na meditação, retomará a vida mais presente,
alerta e consciente — e menos inconsciente.
Mais cedo ou mais tarde, tal como o meu garanhão se rende e passa a seguir
as minhas ordens sem se deixar distrair pelas éguas ou pelo que quer que seja, o
corpo acatará a mente durante a meditação, sem se deixar desviar por
pensamentos perdidos. não há nada melhor do que o momento em que o cavalo e
o cavaleiro se tornam um só e em que a mente e o corpo passam a funcionar em
conjunto — quando passa a um novo estado de ser. É uma extraordinária
sensação de poder.
A meditação pela qual o vou guiar no próximo capitulo começa com uma técnica
a que os budistas chamam enfoque aberto. É muito útil para aceder ao estado
alterado que queremos alcançar, porque na nossa existência quotidiana, ao
vivermos no modo de sobrevivência, a marinar em hormonas do stress,
estreitamos naturalmente o enfoque. Concentramos toda a atenção em coisas,
pessoas e problemas (centrando-nos na partícula ou na matéria e não na onda ou
na energia) e definimos a realidade pelos sentidos. Chamamos a esse tipo de
atenção enfoque no objeto.
Com toda a atenção no mundo exterior, que, neste estado, nos parece mais
real do que o mundo interior, o cérebro permanece praticamente no estado de
ondas cerebrais beta de alto alcance — o padrão de ondas cerebrais mais reativo,
instável e volátil de todos. Em alerta máximo, não podemos criar, fantasiar,
resolver problemas, aprender coisas novas nem curar. não é de modo algum um
estado que propicie a meditação. A atividade elétrica no cérebro aumenta e,
graças à resposta de luta ou fuga, os ritmos cardíaco e respiratório aumentam
naturalmente. O corpo não pode mobilizar muitos ou mesmo nenhuns —
recursos para o crescimento e a saúde, porque está sempre na defensiva, a tentar
proteger-nos e a ajudar-nos a sobreviver mais um dia.
Nessas condições menos favoráveis, o cérebro tende a compartimentar-se, o
que significa que algumas regiões começam a funcionar isoladamente ou por
oposição a outras — é como pisar no travão e no acelerador ao mesmo tempo. É
uma casa dividida contra si própria.
Além do facto de algumas partes do cérebro deixarem de comunicar bem, o
cérebro deixa de comunicar de forma eficiente e ordenada com o resto do corpo.
Uma vez que o cérebro e o sistema nervoso central controlam e coordenam todos
os outros sistemas do corpo — mantendo o coração a bater e os pulmões a
respirar, digerindo os alimentos e eliminando os dejetos, controlando o
metabolismo, regulando o sistema imunitário, equilibrando as hormonas e
mantendo inúmeras funções -, ficamos em desequilíbrio. O cérebro envia
mensagens muito desordenadas e “desintegradas” pela medula espinal para o
resto do corpo. Em consequência, nenhum dos sistemas do organismo recebe
uma mensagem clara — todos recebem mensagens incoerentes.
Imagine o sistema imunitário a responder: “não sei fazer um linfócito com
essas instruções.” E o sistema digestivo: “não sei se devo segregar ácido
primeiro no estômago ou no intestino delgado. Estas ordens são bastante
confusas.”
Ao mesmo tempo, o sistema cardiovascular queixa-se: “não sei se o meu
coração deve manter o ritmo ou não, porque o sinal que recebo está bastante fora
de ritmo. não me digam que anda aí outra vez um leão ao dobrar da esquina?”
Esse estado de desequilíbrio mantém-nos fora da homeostase ou do
equilíbrio, gerando facilmente doenças, produzindo arritmias ou hipertensão
(sistema cardiovascular desequilibrado), indigestão e refluxo ácido (sistema
digestivo desequilibrado), bem como constipações, alergias, cancro, artrite
reumatoide e outras condições (função imunitária desequilibrada) — para dar
apenas alguns exemplos.
É a esse estado — com as ondas cerebrais baralhadas e cheias de estática —
que chamo estado de incoerência no capítulo anterior. As ondas cerebrais e as
mensagens que o cérebro envia ao corpo não seguem qualquer ritmo ou ordem
— é uma perfeita cacofonia.
Na técnica do enfoque aberto, por outro lado, fechamos os olhos, desviamos
a atenção do mundo exterior e das suas atrações, e expandimos o enfoque para
prestar atenção ao espaço que nos rodeia (na onda e não na partícula). Se
funciona é porque quando sentimos esse espaço, não prestamos atenção a nada
de material e não pensamos. Os padrões de ondas cerebrais passam para um
estado alfa mais repousante e criativo (e acabam por chegar ao teta). Nesse
estado, o mundo interior torna-se mais real do que o exterior, o que significa que
temos mais facilidade em fazer as mudanças que desejarmos.
Segundo as investigações, quando utilizamos bem a técnica do enfoque
aberto, o cérebro começa a organizar-se e a sincronizar-se, e os diferentes
compartimentos funcionam conjuntamente de um modo mais ordenado. E o que
se sincroniza une-se. Nesse nível de coerência, o cérebro já pode enviar mais
sinais coerentes por todo o sistema nervoso para o resto do corpo, levando a que
tudo comece a funcionar dentro do ritmo e em conjunto. Em vez de cacofonia, o
cérebro e o corpo tocam uma bela sinfonia. O resultado final é sentirmo-nos
mais plenos, integrados e equilibrados. Eu e os meus colegas assistimos a esse
tipo de mudanças consistentes no cérebro da maioria dos alunos a quem fizemos
exames de imagiologia cerebral nos nossos workshops, por isso, sabemos que
esta técnica funciona.
7. O seu lugar no momento presente
FIGURA 11.1
Cada ponto na linha temporal representa o mesmo pensamento, a mesma
escolha, o mesmo comportamento, a mesma experiência e a mesma emoção de
há dias, semanas, meses e, até. anos. Assim, u passado torna-se o futura Como
um hábito é um conjunto redundante de pensamentos. ações e sentimentos
automáticos adquiridos por repetição frequente — ou seja, quando o corpo se
torna a mente -. então, na maioria dos casos, o corpo já está programado para
estar no mesmo futuro previsível, com base no estado de ser passado da pessoa
F. se memorizarmos as emoções que nos ligam ao passado e esses sentimentos
motivarem os nossos pensamentos, o corpo fica literalmente a viver no passado.
Raramente estamos no momento presente.
Digamos, pois, que há dez anos que segue essa mesma sequência. O corpo
já está programado por hábito a estar no futuro, com base no passado, porque,
quando começa a antever emocionalmente cada um desses acontecimentos na
linha temporal, o corpo (como mente inconsciente) acredita que se encontra
nessa mesma realidade previsível. E a mesma emoção faz os mesmos sinais aos
mesmos genes, deixando-o nessa linha temporal do futuro previsível. Na
verdade, podia pegar nessa linha temporal do passado e colocá-la simplesmente
no futuro, porque, neste cenário, o seu passado é o seu futuro. É como os
pianistas que instalaram os circuitos no cérebro, pensando apenas em tocar a
mesma sequência de teclas, vezes sem conta, e como as pessoas que faziam
exercício com os dedos e mudaram o corpo só com o poder do pensamento; ao
ensaiar mentalmente o mesmo cenário diário previsível de ontem na sua cabeça,
está a preparar o cérebro e a condicionar o corpo para o mesmo futuro.
não podemos encontrar o momento presente, porque o cérebro e o corpo já
vivem numa futura realidade conhecida baseada no passado. Agora, observe
todos os pontos da sua linha temporal que representam escolhas, hábitos, ações e
experiências que criam as mesmas emoções para o lembrar da sensação de si
mesmo. não há espaço para que o novo ou o desconhecido, o invulgar ou o
milagroso, surjam na sua vida, porque esses pontos estão intimamente ligados.
Seria demasiado inconveniente e, muito sinceramente, perturbador para a sua
rotina. Que transtorno seria ver aparecer algo novo na vida de uma personalidade
que espera inconscientemente um futuro baseado no passado!
Devo desde já avisá-lo de que, quando começar a praticar, se inserir a
meditação como mais uma experiência na sua linha temporal, corre o risco de só
estar a acrescentar mais um item à sua lista de afazeres. E se for essa a sua
abordagem, não encontrará o momento presente. Para conseguir o que pretende
— cura e mudanças duradoras -, tem de estar com os pés bem assentes no
momento presente, sem estar preocupado com qual será o próximo
acontecimento previsível da sua linha temporal.
É verdade, porque direciona a energia para onde direcionar a atenção. Basta
prestar um pouco de atenção a uma coisa, a uma pessoa, a um local ou a um
acontecimento no ambiente exterior para confirmar essa realidade. E se
habitualmente estiver obcecado com o tempo — a pensar apenas no passado (o
conhecido) ou no futuro que se baseia no passado (sendo por isso igualmente
conhecido) está a perder o momento presente, onde existem todas as
possibilidades. Ao centrar-se no conhecido, como observador quântico, só pode
obter mais do mesmo. Faz com que todas as possibilidades do domínio quântico
desapareçam perante os mesmos padrões de informação que constituem a sua
vida.
Para aceder ao potencial ilimitado que o espera no domínio quântico, tem
de esquecer o conhecido (o corpo, a cara, o gênero, a raça, a profissão e, até, o
conceito daquilo que tem de fazer hoje), para permanecer algum tempo no
desconhecido — onde é corpo nenhum, pessoa nenhuma, coisa nenhuma, em
tempo e lado nenhum. Tem de se tornar pura consciência (nada mais do que um
pensamento ou a consciência de que se reconhece num vazio de potenciais) para
que o cérebro se possa calibrar.
E quando o corpo quiser distrai-lo, se continuar a dominá-lo e a estabilizá-
lo no momento presente, vezes sem conta, até ele acatar as suas ordens, tal como
já lhe expliquei, essa linha que avança para o futuro deixa de existir, porque o
corpo já não vive nesse destino previsível. Destaca-se dele ou desliga os seus
circuitos energéticos.
Da mesma forma, quando o corpo está condicionado e viciado nas emoções
que memorizou e que o mantêm ligado ao passado, se conseguir trazê-lo de volta
e estabilizá-lo sempre que se sentir revoltado e frustrado, até o corpo se render
ao momento presente, essa linha que recua ao passado também deixa de existir.
Também se desliga dessa linha. E quando as linhas do passado e do futuro
desaparecem, o seu destino genético previsível desaparece com elas.
Doravante, deixa de haver passado para motivar o futuro, e deixa de existir
um futuro previsível baseado no passado. Está apenas no presente, onde tem
acesso a todos os potenciais e possibilidades. E quanto mais tempo apostar no
desconhecido, desligando-se dessas linhas temporais e permanecendo junto
dessas possibilidades, mais energia liberta do corpo e disponibiliza para criar
algo novo. A Figura 11.2 demonstra como o passado e o futuro deixam de existir
quando o cérebro e o corpo se encontram totalmente assentes no momento
presente. A realidade previsível dos factos conhecidos não existe, portanto,
encontra-se no domínio desconhecido das possibilidades.
A meditação descrita no próximo capítulo inclui um período em que
permanece nesse poderoso desconhecido, na penumbra da possibilidade, e
investe a energia no vazio de potenciais que existe no momento presente.
Lembre-se de que por mais que lhe pareça que não há lá nada, não é realmente
um vazio escuro; é o domínio quântico a fervilhar de energia e possibilidade.
FIGURA 11.2
Quando encontra o seu lugar no momento presente e se esquece de si próprio,
pode aceder a outras possibilidades que existem no domínio quântico Uso
acontece porque deixa de estar ligado ao mesmo corpo-mente. à mesma
identificação com o ambiente e à mesma linha temporal previsível. No
momento, o passado e o futuro que lhe são familiares deixam de existir
literalmente e torna-se pura consciência — um só pensamento E então que pode
mudar o corpo, alterar algo no ambiente e criar uma nova linha temporal
Quando eu e os meus colegas examinamos os alunos do nosso workshop
avançado que eram capazes de se tornar pura consciência — um pensamento
isolado desta realidade conhecida —, vimo-los fazer grandes progressos na
capacidade para mudar o cérebro, o corpo e a vida. Se o placebo consiste em
mudar o corpo só com o poder do pensamento, então, é extremamente
importante que nos tornemos um pensamento — um só pensamento.
Segue-se um dos meus exemplos favoritos do que pode acontecer quando nos
centramos no desconhecido na meditação. Recentemente, estava a fazer um
workshop em Sydney, na Austrália, em que orientava uma meditação e pedia aos
participantes para serem corpo nenhum, pessoa nenhuma, coisa nenhuma, em
tempo e lado nenhum — para se tornarem pura consciência, permanecendo no
desconhecido (tal como está prestes a fazer no próximo capítulo).
Enquanto observava o grupo a meditar, reparei numa mulher, chamada
Sophia, sentada na terceira fila, a meditar com os olhos fechados como todas as
outras pessoas. De repente, vi a energia dela mudar. Alguma coisa me disse para
lhe acenar e foi o que fiz. Ainda com os olhos fechados, Sophia acenou-me de
volta! Fiz sinal a dois dos meus formadores que estavam do outro lado da sala
para que viessem ter comigo. Chegaram ao pé de mim, apontei diretamente para
Sophia e ela acenou-me outra vez — sem nunca abrir os olhos.
“O que se passa?” perguntaram os formadores, sussurrando.
atrás dela, a uns dois metros de distância, para analisar os dados no monitor. De
repente, a parte de trás do cérebro de Sophia, que é o córtex visual, iluminou-se
no ecrã.
“ Olha!”, sussurrou-me o Doutor Fannin. “Está a visualizar!"
“não", respondi em voz baixa, abanando a cabeça, “não está."
“O que queres dizer?" perguntou.
“Está a ver", expliquei.
“Como assim?” insistiu, confuso.
Então, acenei a Sophia, que» ainda de costas voltadas para nós, levantou o
braço acima da cabeça, voltou a mão para trás e também me acenou. Foi
espantoso. A prova estava marcada no exame: Sophia via sem os olhos. O córtex
visual processava informação, tal como se ela estivesse a ver, mas era o cérebro
que via — e não os olhos.
Como já referi, se nos centrarmos no desconhecido, obtemo-lo. Está pronto
para o ver por si próprio?
14. CAPÍTULO 12
Meditação para mudar crenças e percepções
Neste capítulo, vou guiá-lo por uma meditação concebida para o ajudar a mudar
algumas crenças ou percepções acerca de si e da sua vida. Aconselho-o a meditar
enquanto escuta uma gravação desta meditação (que o ajuda a mudar duas
crenças ou percepções e dura cerca de uma hora) ou de uma versão ligeiramente
mais breve (que o ajuda a mudar uma crença ou percepção e dura 45 minutos).
Encontrará ambas as meditações à venda em co ou MP3 no meu site . A versão de
uma hora intitula-se You Are the Placebo Book Meditation: Changing Two
Beliefs and Perceptions, e a versão de 45 minutos, You Are the Placebo Book
Meditation: Changing One Belief and Perception. Ou pode fazer a sua própria
gravação, lendo o texto de qualquer uma das versões (que encontra no apêndice).
Lembre-se de que as crenças e as percepções são estados de ser
subconscientes. Começam com pensamentos e sentimentos que pensa e sente
vezes sem conta e tornam-se habituais ou automáticos — formando uma atitude.
Conjuntos de atitudes relacionadas tornam-se crenças e conjuntos de crenças
relacionadas tornam-se percepções. Com o tempo, esta redundância cria uma
visão do mundo e de si próprio predominantemente subconsciente, o que afeta as
suas relações, os seus comportamentos e tudo na sua vida.
Para mudar uma crença ou percepção, tem de começar por mudar o estado
de ser. £ para mudar o estado de ser, tem de mudar a energia, porque para
influenciar a matéria, tem de se tornar mais energia e menos matéria, mais onda
e menos partícula. Para isso, tem de combinar uma intenção clara com uma
emoção elevada — esses são os dois ingredientes.
Como já leu, esse processo implica tomar uma decisão com energia
suficiente para tornar o seu pensamento acerca da nova crença uma experiência
com uma forte assinatura emocional capaz de o alterar, em certa medida, nesse
momento. É assim que altera a biologia, se torna o seu próprio placebo e faz da
sua mente matéria. Todos tivemos experiências que nos afetaram, de uma forma
ou de outra, a biologia. Lembra-se das mulheres cambojanas do Capítulo 7, que
desenvolveram problemas de visão por causa dos horrores que foram obrigadas a
testemunhar, quando os Khmer Vermelhos estavam no poder? É evidente que
esse é um exemplo radical, mas pode aplicar o mesmo princípio para fazer uma
mudança positiva.
Para que isso funcione, a nova experiência tem de ser superior à experiência
passada. Por outras palavras, a amplitude — a energia — da experiência interior
na meditação tem de ser superior à experiência exterior passada que gerou a
crença e a percepção que deseja mudar. O corpo tem de responder a uma nova
mente. Tal significa que tem de investir o coração nessa emoção elevada; precisa
efetivamente de sentir pele de galinha. Tem de se sentir elevado, inspirado,
invencível e cheio de poder.
Dou-lhe a oportunidade de mudar duas crenças e percepções acerca de si
próprio, nesta meditação. Assim, antes de começar, tem de decidir o que deseja
mudar. Pode selecionar uma das crenças limitadoras mais vulgares listadas no
Capítulo 7, ou pode identificar outra — por exemplo: Terei sempre esta dor ou
este problema de saúde; A vida c demasiado difícil; As pessoas são hostis; O
êxito dá muito trabalho; ou Nunca serei capaz de mudar.
Quando decidir, pegue numa folha e trace uma linha vertical no meio. Do
lado esquerdo, escreva duas crenças c percepções que deseja mudar, em linhas
separadas.
Pare um pouco para pensar: se não quer continuar a ter essas crenças e
percepções, que crenças e percepções deseja então efetivamente ter acerca de si e
da sua vida? E como se sentiria se efetivamente tivesse essas crenças e
percepções novas? Escreva as novas crenças e percepções que deseja ter na
coluna da direita.
Como constatará muito em breve, esta meditação divide-se em três partes:
Para lhe explicar melhor o que deve fazer quando estiver sentado a meditar,
dou-lhe algumas orientações para o início de cada parte, seguindo-se o texto da
meditação, em itálico.
Se já é experiente na meditação, sinta-se à vontade para realizar a
meditação completa, até ao fim. logo à primeira. Se ainda é principiante, talvez
lhe convenha mais praticar só a primeira parte todos os dias durante uma
semana, passar às duas partes na semana seguinte e avançar para as três na
terceira semana. Seja como for, deve fazer a meditação todos os dias, sem
interrupções, até começar a identificar mudanças na sua vida.
Se já pratica a meditação que ensino em Como criar um novo eu, aviso-o de
que a deste livro é completamente diferente, ainda que possa identificar algumas
semelhanças na forma como ambas iniciam (na fase de indução). Sc só
conseguir fazer uma meditação por dia, aconselho-o a praticar esta que aqui lhe
apresento durante alguns meses, para que possa aproveitar plenamente os seus
benefícios. Depois, pode optar pela outra, ou alternar as duas, conforme desejar.
Se não quer... fome uma decisão... com uma intenção tão firme... que leve a que
a amplitude dessa decisão... tenha uma energia superior aos programas
integrados no cérebro... e aos vícios emocionais do corpo... e permita que o
corpo responda a uma nova mente...
E permita que a escolha se torne uma experiência inesquecível... e deixe que a
experiência... produza uma emoção com uma energia... capaz de reescrever os
programas... e de mudar a biologia.... Deixe o estado de repouso e mude a
energia... para que a sua própria energia possa alterar a sua biologia...
Está na altura de devolver o passado a possibilidade... e de permitir que o
domínio infinito das possibilidades o resolva da melhor forma para si....
Abdique dele.
Agora... que crença e percepção deseja ter sobre si e a sua vida... e como
passaria a sentirse?
Vamos... está na altura de passar para um novo estado de ser... e de permitir que
o corpo responda a uma nova mente... mude a energia, combinando uma
intenção clara com uma emoção elevada, para que a matéria se deve a uma
nova mente...
E deixe a escolha... ter uma amplitude energética... superior a qualquer
experiência do passado... e permita que a consciência e a sua própria energia
alterem o seu corpo... e passe para um novo estado de ser... e faça-se definir por
este momento... e deixe esse pensamento intencional tomar-se uma intensa
experiência interior... com uma energia emocional elevada que se torna uma
memória inesquecível... substituindo a memória passada por uma nova memória
no cérebro e no corpo.... Vamos! Ganhe poder.... Inspire-se.... Faça da escolha
uma decisão que Jamais possa esquecer...
Agora... dê ao corpo um sabor do futuro, mostrando-lhe o que sentirá com essa
crença... e deixe o corpo responder a uma nova mente...
E como viverá nesse estado de ser?... Que escolhas fará?... Como se
comportará?... Que experiências terá no futuro?... Como viverá?... Como se
sentirá?... Como amará?... e permita que ondas infinitas de possibilidade se
transformem numa experiência na sua vida...
E pode ensinar emocionalmente ao corpo como ê estar nesse novo futuro?...
Vamos... abra o coração... e acredite na possibilidade... Eleve-se... apaixone-se
pelo momento... e vivencie esse futuro agora...
E, agora, entregue a sua criação a uma mente superior... porque o que pensa e
vivência neste domínio da possibilidade... se for realmente sentido... manifesta-
se num qualquer tempo futuro... de ondas de possibilidades para partículas na
realidade... do imaterial para o material... do pensamento na energia para a
matéria...
Agora... entregue-se à nova crença num campo de consciência que já sabe
organizar o resultado perfeito para si... plante uma semente na possibilidade.
Agora... qual era a segunda crença ou percepção que queria mudar em si e na
sua vida?... E vale a pena manter essa crença ou percepção... dessa forma?
Senão vale a pena, está na altura de tomar uma decisão com uma intenção
firme... cuja amplitude... tenha uma energia capaz de levar o corpo a responder
a nova mente... e que a escolha que faça seja final... e que n decisão se tome
WM
Torne-se sobrenatural
Alguns críticos podem categorizar este corpo de trabalho como cura pela fé.
Nesta fase da vida, não me choca essa acusação, porque o que é a fé senão
acreditar no pensamento acima de tudo? Afinal, ter fé não é aceitar um
pensamento — independentemente das condições do nosso ambiente — e
entregarmo-nos ao resultado de tal forma que vivemos como se as nossas preces
já tivessem sido atendidas? Parece-me a fórmula do placebo. Sempre fomos o
placebo.
Talvez mais importante do que rezar todos os dias, sem falta, para que as
nossas preces sejam atendidas, seja levantarmo-nos das meditações como se as
nossas preces já tivessem sido atendidas. Se conseguirmos fazer isso todos os
dias, alcançamos um nível mental em que estamos a viver realmente no
desconhecido, sempre a contar com o inesperado. E é então que o misterioso nos
vem bater à porta.
A resposta do placebo é a cura pelo poder do pensamento. O pensamento
por si só, contudo, é emoção não manifestada. Se o assimilarmos
emocionalmente, esse pensamento começa a tornar-se real — ou seja, a tornar-se
realidade. Sem uma assinatura emocional, o pensamento é desprovido de
experiência, estando, por isso, latente e à espera de se tornar conhecido a partir
do desconhecido. Fazer de um pensamento uma experiência e. depois, torná-lo
sabedoria, é evoluir como ser humano.
Quando se olha ao espelho, vê o seu reflexo e sabe que o que está a ver é o
seu eu físico. Mas como é que o verdadeiro eu, o ego e a alma se veem a eles
próprios? A nossa vida é a imagem espelhada da nossa mente, da nossa
consciência e de quem realmente somos.
não há escolas de sabedoria espiritual antiga no cume dos Himalaias que
façam de nós místicos e santos. As nossas vidas é que nos dão a grandeza.
Talvez devêssemos ver a vida como uma oportunidade para alcançar níveis cada
vez mais elevados do eu e para superarmos as nossas próprias limitações com
níveis mais alargados de consciência. Em vez de sermos vítimas, devemos ser
pragmáticos e assumir essa perspetiva.
não é nada fácil abandonar a forma familiar e habitual de pensar na vida,
para adotar novos paradigmas. Na verdade, custa muito — e é desagradável.
Porquê? Porque, quando mudamos, deixamos de nos sentir nós próprios. A
minha definição de gênio é, pois, aguentar o desagradável e aceitá-lo.
Quantos indivíduos admiráveis na história não lutaram contra crenças
ultrapassadas, vivendo fora das suas zonas de conforto e sendo considerados
hereges e loucos, para, mais tarde, surgirem como gênios, santos ou mestres?
Com o tempo, tornaram-se sobrenaturais.
Mas como é que nos tornamos sobrenaturais? Temos de começar por fazer
o que ê contranatura — ou seja, dar no meio das crises, quando todos sentem
carência e pobreza; amar quando todos se revoltam e julgam os outros;
demonstrar coragem e paz, quando todas as outras pessoas têm medo; mostrar
bondade, quando os outros mostram hostilidade e agressividade; ceder à
possibilidade, quando o resto do mundo se acotovela para chegar em primeiro
lugar, tentando controlar resultados, e compete ferozmente numa luta sem fim
para chegar ao topo; sorrir com confiança, face à adversidade; e cultivar a
sensação de plenitude, quando nos diagnosticam uma doença.
Parece contranatura fazer essas escolhas em condições tão adversas, mas se
persistirmos, com o tempo, transcendemos a norma — e também nos tornamos
sobrenaturais. Acima de tudo, ao sermos sobrenaturais, damos aos outros
autorização para fazer o mesmo. Os neurônios-espelho ativam-se sempre que
observamos alguém em ação. Os nossos neurônios espelham os neurônios dessa
outra pessoa, como se estivéssemos a fazer o mesmo que ela. Por exemplo,
quando vê um bailarino profissional a dançar salsa, passa a dançar melhor salsa.
Se vir a Serena Williams a bater uma bola de tênis, passará a bater melhor a
bola. Se observa alguém a liderar uma comunidade com amor e compaixão,
passará a liderar a sua vida da mesma forma. E se vir alguém curar-se de uma
doença, mudando os seus processos de pensamento, tenderá a fazer o mesmo.
Espero que, depois de ler este livro, se aperceba de que a maior crença de
todas é a crença que tem em si próprio e no campo das infinitas possibilidades
— e ao fundir a crença em si próprio como consciência subjetiva com a crença
numa consciência objetiva, equilibra intenção com entrega. Mas é complicado.
Se a intenção for excessiva (chama-se a isso “tentar"), obstrui o seu próprio
caminho e nunca alcançará a sua visão. Se a entrega for excessiva, torna-se
demasiado preguiçoso, apático e pouco inspirado. Mas se combinar uma
intenção clara com uma confiança inabalável na possibilidade, penetrará no
desconhecido e deixará o sobrenatural acontecer. Penso que é nesse estado de ser
que somos o nosso melhor.
Na fusão desses dois estados, bebemos de um poço mais profundo. E
quando a plenitude, a autossatisfação e a autoestima vêm realmente do interior,
porque nos aventuramos para lá do que acreditávamos ser possível e superamos
as nossas próprias limitações autoimpostas, o invulgar acontece. A melhor
receita para a manifestação consiste em sentirse feliz consigo próprio no
momento presente, alimentando o sonho de um futuro.
Quando nos sentimos tão plenos a ponto de não nos interessarmos se “isso”
irá ou não acontecer, materializam-se diante de nós coisas fantásticas. Percebi
que o estado perfeito da criação é o da plenitude. Comprovei-o vezes sem conta,
ao assistir à verdadeira cura de muitas pessoas por todo o mundo. Sentem-se tão
completas que já não querem, já não sentem carência e já não tentam fazer nada.
Deixam-se levar e, para seu espanto, recebem a resposta de algo que lhes é
superior — e a simplicidade do processo é tal que até lhes dá vontade de rir.
Espero que este livro e a minha investigação sejam um princípio e não um
fim. Serei certamente o primeiro a confessar que não sei tudo. A minha maior
alegria, no entanto, é poder contribuir de alguma forma para o crescimento de
outra pessoa. Vi a transformação ocorrer em muitos rostos e posso dizer que,
independentemente da cultura, da raça, ou do gênero, somos semelhantes quando
nos libertamos do elo que nos prende às nossas próprias crenças autolimitadoras.
Caso queira fazer a sua própria gravação com a meditação guiada, em vez de
comprar as versões em CD ou MP3 no meu site» siga um dos guiões que
apresentarei de seguida. O primeiro é para uma meditação de uma hora, que visa
alterar duas crenças ou percepções. O segundo é para uma meditação de 45
minutos, que visa mudar apenas uma crença ou percepção.
Se pretender fazer a sua própria meditação, faça uma pausa de um ou dois
segundos nas reticências e de, pelo menos, cinco segundos entre cada frase.
Como constatará, adicionei uma nota depois da segunda parte de cada
meditação, para considerar um período de silêncio na gravação, para que possa
permanecer no desconhecido, antes de começar a última parte da meditação, em
que mudará uma ou duas crenças, ou percepções.
16. Agradecimentos
Quando acabei o meu segundo livro, tinha a certeza de que já não escreveria
mais nenhum. O enorme esforço que é necessário para conciliar a escrita e a
investigação com uma clínica de saúde integrada muito concorrida e viagens
quase semanais — para não falar na família, nas reuniões e, até, em dormir ou
comer mal me permite fazer uma simples pausa para olhar descontraidamente
pela janela, para contemplar a natureza e refletir sobre o próximo pensamento
que estou prestes a escrever.
Percebi que trazer uma ideia imaterial para a realidade material requer
persistência, determinação, enfoque, resistência, energia, tempo, criatividade e
— acima de tudo — apoio. Pessoalmente, só o consegui fazer com o amor
incondicional, o encorajamento, a ajuda e a cooperação das minhas relações
profissionais, do meu pessoal, dos meus amigos e da minha família. Estou-lhes
eternamente grato.
Gostaria de expressar a minha gratidão para com a equipa da Hay House,
por acreditarem outra vez em mim. É uma honra e uma bênção fazer parte de
uma família assim. Obrigado, Reid Tracy. Stacey Smith, Shannon Littrell, Alex
Freemon, Christy Salinas e restantes membros da equipa. Espero, de alguma
forma, ter-vos beneficiado.
Ocasionalmente, somos abençoados por um anjo. Esses anjos são
geralmente humildes, altruístas, poderosos e muito dedicados. Tive a sorte de
conhecer um verdadeiro anjo, quando escrevia este livro. A minha querida
editora, e agora amiga, Katy Koontz, é a própria encarnação da excelência, da
magia, da graça e da humildade. Katy, sinto-me muito honrado por ter trabalhado
contigo neste projeto. Agradeço-te por teres sido tão incansável, sensata e
sincera — por me teres dado tanto.
Sally Carr, valorizo muito a tua ajuda com o meu manuscrito. Abençoaste-
me com o tempo que me cedeste para me ajudar, quando precisei e em cima da
hora. Foste muito generosa.
Quero também agradecer a Paula Meyer, a minha assistente executiva e
gestora, que se tornou uma verdadeira líder e a voz da razão na minha vida.
Obrigado pelo teu empenho nesta causa. Tens uma luz fulgurante. Fiquei
impressionado com a pessoa em que te tornaste.
Dana Reichel é a gerente administrativa da nossa clínica e a minha
assistente pessoal. Dana, aprecio muito o teu esforço para gerir o pessoal e
garantir amor e cuidados a todos. não há palavras que descrevam a tua enorme
inteligência emocional, a tua sabedoria simples, a tua coragem e a alegria que
proporcionas a tantas pessoas — incluindo a mim. não pares, por favor.
Agradeço a Trina Greenbury. Nunca conheci uma pessoa tão organizada,
profissional, honesta e nobre. Obrigado por continuares a acompanhar-me nesta
viagem. És incrível.
A minha cunhada, Katina Dispenza, foi fundamental, com a sua
criatividade. Katina, tenho imensa sorte por te preocupares tanto e trabalhares
para mim. A forma tão especial como me representas no mundo não me passa
despercebida. És uma estrela.
Agradeço também a Rhadell Hovda, Adam Boyce, Katie Horning, Elaina
Clauson, Tobi Perkins, Bruce Armstrong, Amy Schefer, Kathy Lund, Keren
Retter, Dr. Mark Bingel e Dr. Marvin Kunikiyo. Dou graças pelos vossos
contributos maravilhosos.
John Dispenza, meu irmão e melhor amigo, a tua mente criativa nunca
deixa de me comover. Obrigado pelo design da capa e pelos gráficos, mas, acima
de tudo, obrigado pelo amor e pela orientação que sempre me deste.
Jeffrey Fannin é o nosso neurocientista quàntico, que tanto me ajudou a
medir a mudança. Jeffrey, é por tua causa que fazemos história. Tenho um
respeito ilimitado por tudo o que fizeste por mim.
O Doutor Dawson Church é um gênio e um nobre amigo tão apaixonado
pela ciência e pelo misticismo como eu. Dawson, sinto-me honrado com as tuas
palavras no preâmbulo deste livro. Espero trabalhar mais contigo no futuro.
Beth Wolfson é a responsável pelos meus formadores e uma dedicada líder
empresarial. Obrigado, Beth, por criares o modelo de negócio comigo e pela
paixão que demonstras por esta mensagem.
Sinto-me inspirado pelo empenho dos restantes formadores da minha
equipa espalhados pelo mundo, que trabalham com tanta diligência para se
tornarem exemplos vivos de mudança e liderança.
Agradeço igualmente a John Collinsworth e Jonathan Swartz, que tanto me
orientaram nas engrenagens dos negócios.
Aos meus filhos, Jace, Gianna e Shen, que se estão a tornar jovens adultos
de respeito. Obrigado por me deixarem ser tão cromo.
E à minha querida Roberta Brittingham: és o meu placebo.
Notas
[←1]
1 Sigla de immediate early genes. (N. da T)
[←2]
2 Sigla de self-directed neuroplasticity. (N. da T.)
[←3]
O termo original em inglês é prime e significa, neste caso, preparar no
sentido de predispor, O autor explica o conceito mais adiante. (N. da T)
[←4]
Lei da Liberdade de Informarão. (N da T)
[←5]
Órgão do governo dos EUA que controla todos os produtos alimentares e
fármacos. (N. da T)
[←6]
Exame nacional do ensino secundário dos EUA considerado um dos
critérios para o acesso ao ensino superior. (N. da T.)
Table of Contents
PREFÁCIO
Despertar
Uma decisão radical
A investigação começa a sério
Da informação à transformação
INTRODUÇÃO
O que este livro não é
O que contém este livro
PARTE 1
CAPÍTULO 1
É possível ter uma overdose de placebo?
Desaparecimento mágico da depressão crônica
Uma cura “milagrosa”: Agora vê, agora não vê
A cirurgia ao joelho que nunca aconteceu
A cirurgia ao coração que não aconteceu
A atitude é tudo
Enjoo antes da agulha
Desaparecimento dos problemas digestivos
Parkinson versus placebo
Das serpentes mortíferas e da estricnina
Vitória sobre o vudu
CAPITULO 2
Do magnetismo à hipnose
Explorar o efeito nocebo
As primeiras grandes conquistas
Os placebos superam os antidepressivos
A neurobiologia do placebo
O domínio da mente sobre a matéria
Será que podemos ser os nossos próprios placebos?
CAPÍTULO 3
O placebo: anatomia de um pensamento
Um breve olhar sobre o funcionamento do cérebro
A neuroplasticidade
A travessia do rio da mudança
Superar o ambiente
Pensar e sentir, e sentir e pensar
O que precisa de fazer para ser o seu próprio placebo
CAPÍTULO 4
Desmistificar o ADN
O gênio dos genes
A biologia da expressão do gene
Epigenética: como nós, meros mortais, podemos armar-nos em Deus
O stress faz-nos viver em modo de sobrevivência
O legado das emoções negativas
CAPÍTULO 5
Algumas histórias de ensaios mentais bem-sucedidos
Emitir sinais a novos genes do corpo com uma nova mente
Células estaminais: o nosso potente reservatório de potenciais
De volta ao mosteiro
CAPÍTULO 6
Programar o subconsciente
Aceitação, crença e entrega
Juntar a emoção
As duas facetas da mente analítica
O funcionamento interno da mente
Abrir a porta para a mente subconsciente
A meditação desmistificada
Porque pode a meditação ser um desafio
Porque pode a meditação ser um desafio
Anatomia de um “assassinato”
CAPÍTULO 7
A origem das nossas crenças
Mudar as crenças
O efeito da percepção
O poder do ambiente
Mudar a energia
CAPÍTULO 8
A energia a nível quântico
Receber o tipo certo de sinal energético
Do lado de lá da porta quântica
CAPÍTULO 9
A história de Laurie
Medo do pai
Uma identidade cimentada na doença
Laurie descobre o que é possível
Êxitos e reveses
Mente nova, corpo novo
A história de Candace
Candace paga o preço
Candace arregaça as mangas
Êxito, doce êxito
A história de Joann
Levar a cura para o nível seguinte
Mais milagres
CAPÍTULO 10
Do conhecimento à experiência
Medir a mudança
Tenho uma tempestade cerebral
Breve panorâmica dos aparelhos de imagiologia cerebral utilizados
Coerência versus incoerência
Curar a doença de Parkinson sem placebos ou medicamentos
Alterar a lesão cerebral e espinal só com o poder do pensamento
Curar quistos fibrosos mudando a energia
Sentir êxtase
Beatitude: fazer a mente sair do corpo
Chegou a sua vez
CAPÍTULO 11
Quando meditar
Onde meditar
Conforto
Quanto tempo
Dominar a vontade
Passar para um estado alterado
O seu lugar no momento presente
Ver sem os olhos
CAPÍTULO 12
Indução: criar coerência cerebral e ondas cerebrais mais lentas através
do enfoque aberto
Tornar-se possibilidade: encontrar o momento presente e permanecer
no vazio
Mudar crenças e percepções sobre si e a sua vida
POSFÁCIO
APÊNDICE
45 minutos de meditação (mudar uma crença ou percepção)
Agradecimentos