Livro Termodinamica

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Termodinâmica

Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro


Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; MONTEIRO, Cláudio Vinícius Barbosa; FERRAREZI, Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Luís Fernando Calciori. Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Termodinâmica. Cláudio Vinícius Barbosa Monteiro; Luís Fer-
nando Calciori Ferrarezi.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2021. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
248 p.
“Graduação - Híbridos”. Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
1. Termodinâmica 2. EaD. I. Título. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
ISBN 978-65-5615-371-1 Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
CDD - 22 ed. 621.402 Design Educacional Débora Leite; Head de
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
Impresso por: Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina
Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo
de Produção de Materiais Nádila de Almeida
Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e
Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock.

Coordenador de Conteúdo Fabio Gentilin.


NEAD - Núcleo de Educação a Distância Designer Educacional Raquel B. M. Frata e Jociane
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Benedett.
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Revisão Textual Meyre A. P. Barbosa.
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Editoração Isabela M. Belido.
Ilustração Welington Vainer.
Realidade Aumentada Maicon Curriel, Matheus
Guandalini e Cesar Seidel.
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
dos celulares.
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Olá, futuros(as) engenheiros(as)! Sejam bem-vindos(a) ao nosso livro so-


bre uma das bases da engenharia moderna, em especial quando se trata
de projetos e controles de processos. A Termodinâmica. Nesta matéria,
utilizamos conceitos e abordagens matemáticas para descrever sistemas
reais, como modelos matemáticos, capazes de prever o comportamento
de substâncias como gases, líquidos e sólidos.
Em Termodinâmica, busca-se explicar como as energias e as quantidades
mássicas de substâncias interagem com o meio ao seu redor para transpor-
tar e transformar energias na forma de calor e trabalho em modificações
efetivas, nos sistemas do cotidiano da engenharia. Quando conhecemos
a fundo qual o comportamento das substâncias e como elas transportam
quantidades energéticas, podemos estimar, com precisão maior ou menor,
variáveis importantes, como temperatura e pressão para projetos de máqui-
nas e equipamentos. Além de propor melhores ajustes a sistemas integrados,
visando buscar maiores rendimentos e eficiências.
Neste livro, nossa abordagem busca relembrar conceitos matemáticos, fí-
sicos e químicos para que o futuro engenheiro perceba que eles trabalham
de forma integrada no processo de transformação das substâncias, em sis-
temas capazes de transformar vários tipos de energia. Para que isso ocorra,
iniciamos definindo modelos mais simplificados, como os de gases ideais,
e, ao longo dos capítulos, vamos nos aprofundando até propor sistemas
entrópicos a partir de diferenciais capazes de descrever os sistemas reais.
Convidamos você a conhecer mais a fundo este mundo de transformações
energéticas e compreender como a engenharia e esses processos atuam em
parceria para melhorar o mundo em que vivemos.
CURRÍCULO DOS PROFESSORES

Me. Claudio Vinícius Barbosa Monteiro


Graduado em Engenharia Química, pela Universidade Estadual de Maringá (2008). Atuou
como Engenheiro Químico em Indústria Sucroalcooleira, no período de 2009 a 2012. Espe-
cialista em Gestão Ambiental pela UEM (2011). Mestre em Engenharia Química na área de
Catálise, pela UEM (2016). Lecionou na FEITEP - Faculdade de Engenharia e Inovação Técnico
Profissional - Maringá / PR, no curso de Engenharia Química e prestou serviço no Ensino Pro-
fissionalizante no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI MARINGÁ. Também,
atua como professor formador/mediador, nos cursos de engenharia do UniCesumar – EAD.
Link lattes: http://lattes.cnpq.br/2268520626160453

Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi


Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2018).
Mestrando em Engenharia Mecânica, pela Universidade Estadual de Maringá (2020) com linha
de pesquisa em Análise Energética de Equipamentos e Sistemas Térmicos. Especialista em
Gestão de Custos e Planejamento Estratégico, com MBA em Gerenciamento de Cadeia de
Suprimentos. Atuou no Planejamento e Controle de Manutenção em Indústria Sucroalcooleira
e como professor mediador, nos cursos de Engenharia do UniCesumar – EAD.
Link lattes: http://lattes.cnpq.br/1154095950497601
Conceitos
Fundamentais

13

Propriedades das
Substâncias Puras

35

Trabalho
e Calor

63
Primeira Lei da Ciclo de potência
Termodinâmica a gás

87 173

Segunda Lei da Ciclo de potência


Termodinâmica a vapor

121 201

Refrigeração
E Relações de
Entropia
Propriedades
Termodinâmicas

147 225
24 Movimento do sistema compressível simples
153 Exemplo de processo reversível e irreversível
181 Ciclo de um motor alternativo

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Conceitos Fundamentais

PLANO DE ESTUDOS

Unidades e conversões Temperatura e pressão

Sistema termodinâmico e Propriedades e estado


volume de controle termodinâmico

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Explicar as diferentes regiões de estudo da termodinâmi- • Compreender as propriedades e sua importância em um


ca, massa de controle e volume de controle. sistema termodinâmico, bem como definir estado termo-
• Apresentar os diferentes sistemas de unidades utilizados dinâmico, processos e ciclos.
em Engenharia e os fatores de conversão. • Descrever os conceitos de escalas de temperatura e as
pressões absoluta, de vácuo e manométrica.
Sistema Termodinâmico
e Volume de Controle

Parabéns, aluno(a)! Você já está caminhando para


disciplinas específicas do seu curso de Engenharia
Mecânica, espero que esteja tirando proveito do
vasto conhecimento que esse curso oferece. Agora,
será o momento de se aperfeiçoar na ciência da
energia, a termodinâmica.
Antes mesmo de iniciar uma análise termodi-
nâmica, explorar a energia e suas transformações,
é necessário definir onde será realizada essa aná-
lise. Você poderá observar a energia envolvida
em uma usina termoelétrica, em um avião, uma
geladeira ou, até mesmo, no corpo humano. Mas,
caso faça isso tentando compreender, diretamente,
o todo, não estará fazendo uma análise de maneira
eficiente.
Sistema
Termodinâmico Vizinhança
Um primeiro passo é determi-
nar uma região, a parte na qual
focará o estudo para, posterior-
mente, compreender o todo. Na Sistema
termodinâmica, essa região é
chamada sistema. Apesar de um
sistema ser a base do que será
analisado, ele pode, ou não, in-
teragir com o que está fora deste
espaço de estudo, essa região é
denominada vizinhança. O que
separa o sistema da vizinhança é Fronteira
a fronteira, uma superfície que
Figura 1 - Representação de um sistema
pode ser móvel ou fixa. Na Fi- Fonte: os autores.
gura 1, você pode observar um
esquema representativo destes
três novos conceitos.

Quando um sistema contém


Sistema Fechado
uma quantidade constante de
massa e não for capaz de intera- Fronteira Móvel Fronteira Fixa Isolado
gir com a vizinhança, de forma
que atravesse massa pela fron-
teira, ele é um sistema fecha-
do, também chamado massa
de controle. Nesse caso, ape-
nas energia consegue atraves-
sar a fronteira como forma de
interação entre o sistema e a
vizinhança. Um caso singular
pode ocorrer, não sendo pos-
sível que nem mesmo energia
cruze a fronteira, tornando o
sistema isolado.
Figura 2 - Sistema fechado
Fonte: os autores.

UNIDADE 1 15
Como você pode observar na Figura 2, um sistema fechado de fron-
teira móvel pode ser exemplificado por uma bexiga de festa. Para
representar um sistema fechado de fronteira fixa, pode ser uma sim-
ples garrafa d’água, já no caso de ele ser isolado, uma garrafa térmica.

Volume de controle

Uma diferente abordagem para determinar sua região de estudo,


ocorrerá caso envolva fluxo de massa entre o sistema e a vizinhança.
Isso é possível quando analisar um sistema aberto, por sua fron-
teira poder cruzar energia e, também, massa. Esse tipo de sistema,
também chamado volume de controle, sua fronteira é conhecida
como superfície de controle, pois, diferentemente do sistema fecha-
do, ela não necessita ser real, pode ser imaginária.
Eb

Ea

Fronteira
Imaginária Sa

Fronteira Real
Sb
Figura 3 - Trocador de calor
Fonte: os autores.

A Figura 3 representa um exemplo de sistema aberto, trata-se de


um trocador de calor, em que é possível observar duas entradas
( Ea e Eb ) e duas saídas ( Sa e Sb ), por onde ocorre fluxo de massa.
Observe que não há superfícies físicas nas regiões de entrada e saída,
portanto, estes trechos da fronteira formam a parte imaginária.

Determinar o volume de controle para que seja compatível com o


objetivo da análise que será realizada é uma etapa importante. Em um
sistema complexo, a escolha adequada permitirá simplificar a região
estudada, tornando mais fácil compreender e resolver o problema.

16 Conceitos Fundamentais
Unidades e
Conversões

Para que você inicie focado nesta aula, vale ressal-


tar a importância de realizar os cálculos com as
unidades adequadas e, quando necessário, realizar
as conversões, corretamente. Como você pode
imaginar, a perda da sonda Mars Climate Orbiter
foi um prejuízo enorme, não apenas financeiro,
causado por um pequeno problema de concor-
dância entre unidades.

Projetado para estudar Marte a partir da órbita e


servir como um canal de comunicações para as
sondas Mars Polar Lander e Deep Space, o Mars
Climate Orbiter não teve sucesso, devido a um
erro de navegação, causado por uma falha em
traduzir unidades inglesas para métricas.
Fonte: Nasa (1999, tradução nossa).

UNIDADE 1 17
Unidades A dimensão que pode ser expressa em fun-
ção das dimensões primárias será classificada
As unidades são as magnitudes atribuídas às di- como dimensão secundária. Por exemplo,
mensões das grandezas físicas. Como grandezas fí- velocidade (v ) pode ser expressa pela divisão
sicas, você já deve ter familiaridade com, por exem- das dimensões primárias comprimento ( L )
plo, velocidade ( v ), massa ( m ), tempo ( t ), entre e tempo ( t ), sendo assim, uma dimensão se-
tantas outras. Essas grandezas são caracterizadas cundária.
por suas dimensões, podendo ser designadas como Para cada dimensão, a forma como você a
primária/fundamental as sete dimensões básicas, quantificará será uma unidade. Por exemplo,
conforme você pode observar no Quadro 1. segundo, hora, dia e ano são unidades de tempo,
enquanto milímetro, centímetro e metro são
Dimensão Símbolo
unidades de comprimento. Pela possibilidade
Comprimento L
de atribuir a uma mesma grandeza física di-
Massa m ferentes unidades, tornou-se necessário esta-
Tempo t belecer alguns padrões. Os dois conjuntos de
Corrente elétrica i unidades mais utilizados, atualmente, são:
Temperatura T
• Sistema Internacional de Unidades,
também conhecido como S.I. ou siste-
Quantidade de matéria N
ma métrico.
Intensidade luminosa Iv • Sistema Usual dos Estados Unidos,
Quadro 1 - Dimensões primárias / Fonte: os autores. usualmente, chamado sistema inglês.

S.I. Sistema Inglês


Dimensão Unidade Símbolo Unidade Símbolo
Massa quilograma kg libra-massa lbm
Comprimento metro m pé ft
Tempo segundo s segundo s
Temperatura kelvin K fahrenheit ºF
Energia joule J British thermal unit Btu
Força newton n libra-força lbf
Quadro 2 - Unidades em S.I. e Sistema inglês / Fonte: os autores.

Observe, no Quadro 2, algumas diferenças entre os sistemas de unidades. A origem para cada uma
dessas unidades é o que as torna tão diferente. A unidade joule, por exemplo, corresponde à energia que
2
acelera uma massa de um quilograma, a uma aceleração de 1 m s por uma distância de 1 metro. Já o
Btu é definido como a energia necessária para, em uma amostra de 1 lbm de água a 68 F, elevar 1 F .
 

Outra forma de energia, o trabalho (W ), pode ser definido como sendo a força aplicada em um
corpo vezes a distância que este percorre, tendo, também, joule como unidade.
W = F ⋅d
[ J] = [N]⋅ [m]

18 Conceitos Fundamentais
Quando o trabalho é dividido pelo tempo que Conversão
demandou, em outras palavras, a taxa de energia
em relação ao tempo ( J s ) é denominada po- Quando você realiza operações matemáticas, utilizar
tência, expressa na unidade watt [ W ] . Aparelhos apenas os números pode até parecer fazer sentido,
elétricos são caracterizados por sua potência, e mas tratando dos conceitos físicos, não é possível
quando utilizados por um período, é expresso o somar um quilograma com uma libra-massa e dizer
seu consumo em quilowatt-hora [kWh] . Estas que o resultado é dois. Seriam dois o quê?
diferentes dimensões e suas respectivas unidades Para casos assim, você precisa realizar a conver-
são, frequentemente, confundidas, causando um são, podendo converter o valor de quilograma para
uso indevido dos termos e equívocos quando uti- libra-massa antes de realizar a soma, ou vice-versa.
lizadas em cálculos. Até mesmo se os dados forem quilograma e grama,
por mais que sejam unidades mais próximas, ainda
é preciso converter para que tenha sentido físico
a soma.
Outro momento importante em se atentar às
• [kW ] ou [kJ s ] é unidade de potência. unidades e realizar as conversões necessárias, cor-
retamente, é ao utilizar fórmulas. Por exemplo, em
• [kWh] é unidade de energia. F = m ⋅ a as unidades no S.I. são [N] = [kg] m s2 
, portanto, caso utilize a massa em toneladas, o valor
encontrado não corresponderá mais a newtons [N]
. Por esses fatores, há uma necessidade de transfor-
mar a unidade, usualmente, medida, para a unidade
Apesar de toda esta diversidade, quando se trata utilizada na fórmula uma vez que as fórmulas, geral-
de mesma grandeza física, é possível encontrar as mente, levam em conta as unidades do S.I.
equivalências entre as diferentes unidades, para Na Tabela 1, você poderá observar alguns exem-
isso, você deve utilizar a conversão. plos de conversões separadas por categorias.

Conversões

Comprimento Massa Tempo Outras

1 m = 3,28 ft 1 kg = 2,205 lbm 1 h = 60 min 1 Btu = 1055,1 J

1 ft = 12 in 1 lbm = 453,6 g 1 dia = 86400 s 1 m³ = 1000 L

1 in = 2,54 cm 1 kg = 1000 g 1 s = 1000 ms 1 cm² = 0,0001 m²

1 dm = 0,1 m 1 slug = 14,6 kg 1 min = 0,0167 h 1 m/s = 3,6 Km/h

Tabela 1 - Conversões em categorias / Fonte: os autores.

É importante denotar que muitas conversões são números irracionais. Ao converter muitas vezes um
dado, estará reduzindo a precisão, portanto, dependendo da precisão necessária em seus cálculos, é
necessário utilizar um maior número de casas decimais no fator de conversão.

UNIDADE 1 19
Fator de conversão

Para facilitar a conversão, pode ser utilizado o


fator de conversão de unidades, que consiste em
uma divisão de diferentes unidades, tendo como
resultado o valor 1, ou seja, o denominador e o
numerador são equivalentes. Este recurso é muito
utilizado para converter dimensões secundárias.
1 kWh 1Pa
6
= 1, = 1,
3, 6 ×10 J 1N m2

9, 8 N 1 Btu
= 1, =1
1 kgf 1055,1 J

Figura 4 - Exemplos de fatores de conversão / Fonte: os


autores.

Exemplo:

Utilize fatores de conversão para demonstrar que


7000 Btu é equivalente a 2,05 kWh.
1055,1 J  1 kWh 
(7000 Btu)   = 2, 05 kWh
 1 Btu  3, 6 ×106 J 

20 Conceitos Fundamentais
Propriedades e Estado
Termodinâmico

Para você estudar um sistema termodinâmico, é


necessário ter conhecimento das características
que o sistema e a substância presentes em sua
análise possuem. Por sua vez, para que seja pos-
sível descrever o sistema, compreender e prever
seu comportamento, necessita-se conhecer suas
características, isto é, as propriedades. Citamos
como exemplo de propriedades: temperatura,
pressão, massa, viscosidade, volume e resistivi-
dade elétrica.
Há duas formas principais de classificar as
propriedades termodinâmicas. Quando uma
propriedade independe da massa do sistema, ou
seja, o seu valor não pode ser encontrado pela
soma das partes em um sistema dividido, ela é
uma propriedade intensiva. Caso a proprie-
dade do sistema como um todo for a soma das
partes do sistema subdividido, ou seja, depender
da extensão do sistema, essa é uma propriedade
extensiva.

UNIDADE 1 21
Propriedades Talvez, você tenha notado que, geralmente, se
Intensiva Extensiva
utilizam letras minúsculas para propriedades in-
tensivas (sendo temperatura e pressão exceções
Temperatura (T) Massa (m)
óbvias) e letras maiúsculas para propriedades
Pressão (P) Volume (V) extensivas (com a massa sendo uma evidente
Densidade (d) Energia (E) exceção). Uma maneira de melhor visualizar a
Viscosidade ( ρ ) Entropia (S) diferença entre as propriedades é:
Volume específico (v) Entalpia (H) • Partir de um sistema com propriedades
T, P, V e m.
Tabela 2 - Exemplo de propriedades intensivas e extensivas • Realizar uma divisão desse sistema em
Fonte: os autores.
duas partes iguais.
Uma propriedade extensiva dividida pela massa pas- • Avaliar o que acontece com o valor de cada
sa a ser uma propriedade intensiva, ou ainda, também propriedade.
pode ser chamada de propriedade específica. Este é
o caso do volume específico (v = V m), da entropia Este processo está representado na Figura 5.
específica(s), do calor específico (c), entre outras.

Propriedades

T V T T Intensivas
P P
V m V m
P m —— —— Extensivas
2 2 2 2
Figura 5 - Propriedades intensivas e extensivas em um sistema
Fonte: os autores.

Observe que, após a divisão do sistema, as propriedades intensivas (temperatura e pressão) não se
alteraram, não podendo ser somado o valor das partes para retornar ao sistema completo. Entretanto
o valor das propriedades extensivas (volume e massa) caíram pela metade, com a soma das partes
encontrará o valor total do sistema.

Estado

Em um sistema, quando não estiver ocorrendo transformações, será possível calcular ou coletar os
valores das propriedades. Com o conhecimento de valores de algumas propriedades, é possível en-
contrar todas as outras propriedades do sistema, isto é, consegue-se descrever a condição do sistema,
ou seja, seu estado.

22 Conceitos Fundamentais
Para determinado estado, os valores são fixos
para todas as propriedades do sistema, se apenas
o valor de uma propriedade mudar, o sistema terá
passado para outro estado. O subconjunto de pro- A quantidade de propriedades intensivas indepen-
priedades que determina um estado é composto dentes necessárias para determinar o estado de um
por uma quantidade de valores que depende da sistema pode ser determinada pelo número de mo-
complexidade do sistema. dos de interações de trabalho acrescentado de um.

Postulado de estado Processos

Um sistema no qual os efeitos gravitacionais, Ao ser realizada alteração em, ao menos, uma
magnéticos, elétricos influenciam de forma ir- propriedade de um sistema, ocorrerá a mudança
relevante, podem ser ignorados. Caso o único de estado, isso é, ele passará de um estado 1 para
modo de interação de trabalho seja mecânico, o estado 2. De forma idealizada, é considerado
esse sistema é chamado de sistema compressível que a mudança de estado ocorreu lentamente, de
simples (Figura 6). modo a permitir que o sistema se mantenha em
quase-equilíbrio. Essa mudança entre um estado
Trabalho e outro é chamada de processo.
O caminho percorrido entre o estado 1 e o esta-
do 2 é chamado de percurso do processo. Na Figura
7, você pode observar um processo de expansão,
sendo representado pelo diagrama que correlacio-
na a pressão e o volume do sistema. Inicialmente
definido pelo estado 1 ( P1 e V1 ), ao ser realizado
um trabalho pelo sistema, o processo de expansão
Figura 6 - Sistema compressível simples / Fonte: os autores. ocorre, levando o sistema ao estado 2 ( P2 e V2 ).

O postulado de estado garante que são necessárias


duas propriedades intensivas independentes para
definir o estado de um sistema compressível sim- Tenha sua dose extra de
ples. Duas propriedades são dadas como indepen- conhecimento assistindo ao
dentes quando é possível alterar o valor de uma e, vídeo. Para acessar, use seu
ainda assim, manter a outra constante. Por exem- leitor de QR Code.

plo, no sistema compressível simples contendo um


gás, é possível expandi-lo (aumentar seu volume,
por consequência, diminuir o volume específi-
co) e, com adição de calor ao sistema, manter sua
pressão constante. Portanto, nesse sistema, pressão
e volume específico são propriedades intensivas
independentes que definem seu estado.

UNIDADE 1 23
P Estado 1
1
P1
Percurso
do processo

Estado 2
P2
2

V1 V2 V

Trabalho

Figura 7 - Processo de expansão


Fonte: os autores.
São dadas denominações próprias para alguns tipos específicos de
processos, nos quais alguma propriedade permanece constante no
percurso do processo. Portanto, essa propriedade terá o mesmo
valor no estado 1 e no estado 2. Esses processos contêm o prefixo
iso-, o qual representa igualdade. Confira no Quadro 3.
Processo Propriedade constante
Isotérmico Temperatura (T)
Isobárico Pressão (P)
Isocórico Volume (V)

Quadro 3 - Processos com propriedades constantes


Fonte: os autores.

Outra particularidade dos pro-


cessos ocorre quando, após o
sistema passar por alguns pro-
cessos, ele retornar ao seu esta-
do inicial. Nesse caso, o sistema
executa um ciclo, e, no final dos
processos, todas as proprieda-
des estarão com o valor igual ao
Movimento do sistema compressível- inicial.
simples

24 Conceitos Fundamentais
Temperatura
e Pressão

Apesar de a temperatura ser uma propriedade


familiar, é difícil encontrar sua exata definição. O
corpo humano está, constantemente, expressando
temperatura de modo qualitativo. Um exemplo é
quando você toca em dois objetos de materiais
diferentes, um de metal e outro de madeira, e con-
clui que o de metal parece estar mais frio que o de
madeira, por mais que ambos estejam em mesma
temperatura.
Um conhecimento que você, provavelmente, já
adquiriu, por experiência, é que, se deixar sobre a
mesa a comida quente e o suco gelado, após um
tempo, perceberá que a comida esfriou e o suco es-
quentou. Reconhecendo, então, que quando dois
corpos em diferentes temperaturas entram em
contato, o calor passa do corpo de maior tempe-
ratura para aquele com a temperatura mais baixa.
Esta transferência deve ocorrer até que ambos
estejam com a mesma temperatura, ou seja, em
equilíbrio térmico.

UNIDADE 1 25
Lei zero da Essas são conhecidas como escalas de dois pontos.
termodinâmica Ainda assim, na termodinâmica, é necessário fazer uso das
temperaturas no que se chama escala termodinâmica de tem-
Quando é comparada a tempe- peratura. Sua necessidade surge quando se deseja uma escala que
ratura adquirida por um termô- não seja dependente da propriedade específica de uma substância.
metro em dois corpos diferentes Assim, foram desenvolvidas escalas que consideram como menor
para dizer que eles estão com a temperatura o zero absoluto.
mesma temperatura, faz-se uso Celsius Kelvin Fahrenheit Rankine
da lei zero da termodinâmica. 100°C 373,15K 212°F 671,67R
Ponto de Ebulição
Essa lei afirma que, se dois cor-
0°C 273,15K 32°F 491,67R
pos se encontram em equilíbrio Ponto de Fusão

térmico com um terceiro corpo,


eles também apresentam equi- -273,15°C 0K -459,67°F 0R
Zero Absoluto
líbrio térmico entre si. Por isso,
Figura 8 - Escalas de temperatura
pode ser determinado equilí- Fonte: os autores.
brio térmico entre dois corpos,
sem a necessidade de colocá-los
em contato e observar se suas
propriedades não mudam com
o tempo. Usualmente, o termô- “[...] pode-se imaginar que a temperatura mais baixa que pode
metro será o terceiro corpo, per- existir é um estado térmico em que a agitação térmica, isto é, as
mitindo verificar os dois corpos, moléculas, estão em repouso. A esse limite inferior de temperatura
individualmente. dá-se o nome de zero absoluto”.
Fonte: Pires, Afonso e Chaves (2006, p. 101).

Escalas de
temperaturas A escala termodinâmica de temperatura ou escala absoluta em rela-
ção à escala Celsius é a escala Kelvin. Sua relação pode ser dada por
Para medir e comparar tem-
peraturas, é necessário utilizar T (K ) = T (°C) + 273,15
as escalas de temperaturas. Em
unidades S.I. para temperaturas, Como escala absoluta em relação à escala Fahrenheit foi definida a
é utilizada a escala Celsius, ela escala Rankine, sendo relacionadas por meio da equação
foi baseada no ponto de fusão
e no ponto de ebulição da água T (R) = T (°F) + 459, 67
a 1 atm de pressão, sendo, res-
pectivamente, 0°C e 100°C . De mesmo modo que as unidades possuem conversão entre o S.I. e o
No sistema inglês, é utilizada a sistema inglês, também há correlação entre as escalas de temperaturas.
escala Fahrenheit, a qual es- T (R) = 1, 8 T (K )
tabelece os valores de 32°F e
212°F para a mesma condição. T (°F) = 1, 8 T (°C) + 32

26 Conceitos Fundamentais
A pressão pode ser determinada
com diferentes pontos de refe-
Observe que a variação de temperatura é a mes- rência. A real pressão, a qual é
ma quando se trata das escalas Celsius e Kelvin com relação ao vácuo absoluto,
ou, então, entre Fahrenheit e Rankine. é chamada pressão absoluta.
∆ T (K ) =∆ T (°C) Os dispositivos de medição
de pressão, geralmente, são ca-
∆ T (R) =∆ T (°F) librados como zero a pressão
atmosférica, portanto, seu valor
entregue é uma diferença entre
a pressão absoluta e a pressão
Pressão atmosférica. Se a medida for
acima da pressão atmosférica,
Você já deve estar habituado com o termo pres- será chamada de pressão ma-
são, mas saiba que pressão é definida como sen- nométrica, caso contrário, será
do a força normal exercida por um fluido por chamada de pressão de vácuo.
unidade de área. A restrição de ser exercida por Matematicamente, pode ser ex-
um fluido é relevante. Por um fluido não possuir presso como Pman = Pabs − Patm
forma, a pressão é aplicada em todas as direções. e Pvac = Patm − Pabs .
Quando se trata de um sólido, o equivalente à No geral, os dados de ta-
pressão passa a ser a tensão normal. belas termodinâmicas e equa-
A equação de pressão pode ser escrita como ções, consideram P, diretamente,
sendo P = F A , logo, a unidade de pressão, no S.I. como a pressão absoluta, apenas
é dada por N m , que é equivalente à pascal [Pa ] .
2
utiliza outra notação para casos
A unidade pascal acaba sendo pequena para específicos.
quantificar certas pressões, por isso é comum uti- Você acaba de avançar a pri-
lizar os múltiplos: meira etapa no universo da ter-
• 1000 Pa = 1 quilopascal = 1 kPa modinâmica. Os conceitos base
• 1000000 Pa = 1 megapascal = 1 Mpa aqui aprendidos serão resgatados
durante toda a disciplina e avan-
Outras unidades utilizadas para pressão e suas res- çará até mesmo a outras.
pectivas conversões você pode observar na Tabela 3. Nesta unidade, foram apre-
sentados, isoladamente, a defini-
Conversão de pressão (P)
ção e os tipos de sistemas, as dife-
1 bar = 100 kPa rentes unidades, as características
1 psi = 6,895 kPa de um sistema e os conceitos de
temperatura e pressão. No decor-
1 atm = 101,325 kPa
rer de nossa disciplina, você fará
1 kgf/cm² = 98,066 kPa uso deste conhecimento de for-
Tabela 3 - Equivalência entre diferentes pressões
ma conjunta, interligando todo o
Fonte: os autores.
conteúdo aqui adquirido.

UNIDADE 1 27
1. Para realizar uma análise termodinâmica, inicialmente, é preciso definir qual
será a região de estudo, e tal região é chamada sistema. Em relação aos sistemas
termodinâmicos, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) nas afirmativas a seguir:
( ) Um sistema aberto não pode ter fronteira móvel.
( ) Um sistema aberto possui algum trecho de fronteira imaginária.
( ) O sistema pode ser uma massa de controle ou um volume de controle.
( ) Um sistema fechado não permite atravessar energia nem calor por sua fronteira.

Com base nas respostas das afirmativas, assinale a alternativa correta.


a) F, F, V, F.
b) F, V, V, F.
c) V, F, V, F.
d) V, V, F, V.
e) F, F, F, V.

2. Em um experimento, observado o valor de 77°C no termômetro utilizado, será


necessário conhecer a temperatura também nas escalas Kelvin, Fahrenheit e
Rankine. Assinale a alternativa que apresenta os valores corretos da temperatura
observada, nas diferentes escalas.
a) 630, 27 K, 170, 6 °F, 350,15 R.
b) 350,15 K, 109, 0 °F, 536, 67 R.
c) 536, 67 K, 109, 0 °F, 630, 27 R.
d) 536,37 K, 170, 6 °F, 459,67 R.
e) 350,15 K, 170, 6 °F, 630, 27 R.

28
3. Compreender as propriedades termodinâmicas é importante no estudo da
termodinâmica, e, de acordo com o conteúdo visto, um aluno elaborou as se-
guintes afirmações:
I) Energia específica (e), entropia específica (s) e pressão (P) são propriedades
intensivas.
II) As propriedades temperatura e pressão são suficientes para determinar o
estado de qualquer sistema.
III) Temperatura (T) e pressão (P) são propriedades dependentes quando o
sistema apresenta duas fases.
IV) O estado de um sistema compressível simples, com adição de calor, é definido
por apenas duas propriedades intensivas independentes.

Das afirmações apresentadas, estão corretas:


a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) I, III e IV.
d) II, III e IV.
e) III e IV.

29
LIVRO

Princípios de termodinâmica para engenharia


Autor: Michael J. Moran, Howard N. Shapiro, Daisie D. Boettner, Margaret B. Bailey
Editora: LTC
Sinopse: com uma abordagem pedagógica consagrada e explicações claras,
concisas e fundamentadas, Princípios de Termodinâmica para Engenharia reúne
os recursos necessários para a formação de estudantes de Química, Física e de
diversas áreas de Engenharia, tanto na graduação quanto na pós-graduação.
Estruturado de maneira lógica, este livro relaciona a termodinâmica a questões
prementes, como produção de energia, meio ambiente, biomedicina, bioenge-
nharia e tecnologias emergentes.

LIVRO

Three Laws of Nature: A Little Book on Thermodynamics


Autor: R. Stephen Berry
Editora: Yale University Press
Sinopse: começando com uma visão geral das três leis da termodinâmica, Ma-
cArthur, vencedor da “Genius Grant”, R. Stephen Berry explica, neste pequeno
livro, os fundamentos de uma ciência fundamental. Os leitores aprendem tanto a
história da termodinâmica, que começou com tentativas de resolver problemas
diários de engenharia, como a controvérsia contínua e quebra-cabeças não
resolvidos. A exposição, adequada tanto para estudantes como para físicos de
poltronas, não requer nenhum conhecimento prévio do assunto e apenas a
matemática mais simples, ensinada conforme necessário.

30
NASA. Mission to Mars - Mars Climate Orbiter. NASA – Jet Propulsion Laboratory, 1999. Disponível em:
https://www.jpl.nasa.gov/missions/mars-climate-orbiter/. Acesso em: 2 fev. 2021.

PIRES, D. P. L.; AFONSO, J. C.; CHAVES, F. A. B. A termometria nos séculos XIX e XX. Revista Brasileira de
Ensino de Física, v. 28, n. 1, p. 101-114, 2006.

31
1. B.

2. E.

T (K ) = 77 + 273,15 = 350,15K
T (F) = 1, 8 ⋅ 77 + 32 = 170, 6F
T (R) = 170, 6 + 459, 67 = 630, 27R
3. C.

32
33
34
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Propriedades das
Substâncias Puras

PLANO DE ESTUDOS

Equações de estado Diagrama


e comportamento de Fases
PVT dos gases

Definição de Fator de
Substância Pura Compressibilidade

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Avaliar as características e as propriedades de substân- • Aplicar o fator de compressibilidade nas equações de


cias puras. estado para avaliar o comportamento de gases.
• Analisar, quantitativamente, os modelos matemáticos • Compreender o mecanismo de equilíbrio entre fases.
para os gases ideais.
Definição de
Substância Pura

Olá, futuro(a) engenheiro(a), tudo bem? Na pri-


meira unidade, você relembrou alguns conceitos
sobre dimensões e modelos termodinâmicos que
serão cruciais em nossa caminhada. A partir dessa
unidade, vamos aplicá-los de forma direta sobre
os sistemas termodinâmicos. Como estamos ini-
ciando nossos estudos nesta área ampla, esse ca-
pítulo servirá para tratarmos de sistemas de mais
simples modelagem compreensão.
Trataremos de definir como se comportam as
substâncias e suas moléculas quando possuem
mais ou menos energia. Além disso, veremos, aqui,
o que ocorre com algumas das substâncias mais
comuns para sistemas térmicos. Para facilitar o
nosso estudo e as nossas definições, começamos
tratando das interações em sistemas com apenas
um tipo de fluido e considerando esse fluido com
uma substância pura.
Veremos, no decorrer de nosso estudo, que,
quando esta substância recebe ou cede energia,
temos aumento ou diminuição da agitação de suas
moléculas, e que, para cada um desses casos, seja
proposta uma forma diferente de modelar e resol- dois ou mais entes químicos, por exemplo o sal de
ver o problema. O sistema dos gases é o mais sim- cozinha, ou Cloreto de Sódio, NaCl, que pode ser
ples de se compreender, pois, nele, as moléculas se decomposto em Na+ e Cl- , resultando dois entes
comportam de forma mais individual. Ao final do químicos diferentes.
capítulo, proporemos uma equação que aproxime Uma das principais diferenças entre as subs-
e traduza, fisicamente, o comportamento dessas tâncias elementares e substâncias compostas
moléculas para as substâncias puras. está no fato de que as substâncias elementares
Quando nos deparamos com sistemas termo- são aquelas que não podem ser subdividas por
dinâmicos e suas particularidades, percebemos meio de reação química, ou seja, seus elementos
que eles são formados por substâncias químicas. primordiais possuem peso molecular igual ao
De modo geral, as moléculas dessas substâncias descrito na Tabela Periódica, e seus núcleos são
interagem entre si e, dessa interação, resultam as preservados nas reações. No caso de substâncias
condições de temperatura e pressão para o sis- compostas, também chamadas moléculas, os
tema. A termodinâmica se fundamenta em rela- entes químicos podem sofrer modificações em
cionar o comportamento das substâncias com as sua estrutura conforme as condições do sistema
condições alcançadas por elas, nos mais diferentes termodinâmico.
sistemas, para isso, ela une os conceitos físicos e Para Castellan (2008), uma substância sem-
matemáticos de modelagem com as características pre apresenta as mesmas propriedades físicas e
químicas da matéria de tal forma que o sistema químicas, independentemente da forma que foi
seja, completamente, descrito. obtida, desde que esteja purificada. Quando nos
Entendemos, então, que as substâncias quími- deparamos com sistemas formados por duas ou
cas podem ser classificadas conforme o sistema mais substâncias simples e compostas, dizemos
em que se encontram. Quando estamos tratando que temos uma mistura. Uma mistura é compos-
de sistemas em que as moléculas ou átomos par- ta por substâncias que em contato podem, ou não,
ticipantes são todos de um mesmo ente químico, reagir, e essas interações refletem-se na forma de
dizemos se tratar de uma substância. As subs- condições termodinâmicas diferentes do que se
tâncias podem, ainda, ser subdivididas em duas obteria se tivéssemos apenas uma das substâncias
categorias: substâncias elementares e substân- no sistema.
cias compostas. Esta abordagem permite prever sistemas inde-
As substâncias elementares são formadas pendentemente do fator de escala envolvido, o que
pelo elemento mais simples do ente químico e garante que a modelagem proposta corresponderá
mantém seu núcleo indivisível, durante as intera- ao que ocorre na realidade. Por exemplo, em um
ções que ocorrem nos sistemas termodinâmicos. sistema composto por duas substâncias elemen-
Um exemplo de substância elementar é o Íon Clo- tares A e B, alcançaremos condições diferentes do
ro (Cl-), que não sofre decomposição química que que se estivesse presente apenas um desses ele-
o subdividia a um elemento com massa atômica mentos, essas condições dependeriam das quan-
menor que aquela descrita na Tabela Periódica. As tidades de A e B. Quanto maior a quantidade de
substâncias elementares são compostas, apenas, A mais próximo será o resultado de temperatura
por um tipo de elemento químico. e pressão desta mistura, dos resultados encontra-
Já as substâncias compostas são formadas dos para um sistema similar com o componente
por reações químicas e podem se decompor em A puro.

UNIDADE 2 37
Para exemplificar melhor essas diferenças veja a Figura 1. ponente. Entretanto existem
sistemas em que não ocorre
essa mistura, como a água e o
Elementares óleo, nesse caso, dizemos se tra-
Substâncias tar de um sistema bifásico, em
Tipos de que cada uma das fases possui
Compostas
matéria comportamento similar ao do
Misturas componente puro.
Vale lembrar, aqui, que algu-
Figura 1 - Classificações dos tipos de matéria mas substâncias, ao serem sub-
Fonte: o Autor metidas a determinadas con-
dições, modificam a distância
Para Moran (2002) uma substância pura ou elementar é aquela entre seus átomos e suas mo-
em que a composição química é uniforme e invariável. Essa de- léculas, o que resulta em fases
finição amplia nossos horizontes para o estudo termodinâmico, diferentes, ou seja, continuam
pois de acordo com Castellan, um sistema cheio de ar, formado sendo o mesmo elemento quí-
basicamente por nitrogênio e oxigênio, é considerado uma mis- mico, mas com distância maior
tura, mas para Moran, se esta mistura estiver em determinadas entre as moléculas.
condições de temperatura, volume e pressão, ela pode ser mo- O vapor d´agua é formado
delada matematicamente como uma substância pura, desde que da mesma água líquida presen-
essa mistura se comporte de modo uniforme e invariável. Caso te no balão de uma caldeira, po-
isso não ocorra, devemos tratar os componentes e suas parcelas rém, ao adquirir calor por meio
de modo individualizado para o estado em que se encontram. de aquecimento, este aumenta
Então, se tivermos um sistema em que as condições variem, mas seu nível de energia que resulta
a mistura se mantenha uniforme, ou seja, não ocorra a passagem em um afastamento entre essas
de substância para um estado de maior energia, podemos tratá-lo moléculas, a isso damos o nome
como um único componente, facilitando a abordagem. de fases. As principais fases da
Ao tratarmos de misturas para manter a homogeneidade, é matéria são sólido, líquido e
necessário que a parcela de A, presente em uma das fases, esteja gasoso, que também ocorrem
também presente na outra fase. Quando o componente A não tem quando tratamos de misturas,
fronteira definida dentro de sua mistura com B, dizemos que se mas a diferença é que, nelas, as
trata de um sistema homogêneo e definimos a concentração do concentrações das substâncias
componente A na mistura como sendo: nas fases variarão conforme a
condição final alcançada pelo
mA
C= A �
A r= sistema. O nível de agitação das
V
moléculas define duas regiões
Veja que a concentração de A numa mistura (CA) nada mais é do principais de interesse, onde
que uma densidade aparente de A na mistura com outro com- temos:

38 Propriedades das Substâncias Puras


Sólido Líquido Gasoso

Estado condensado Estado fluido


da matéria da matéria
Figura 2 - Regiões de estado da matéria
Fonte: o autor.

Para definir de qual estado estamos tratando, devemos lidar com


propriedades como a massa, que define a quantidade de matéria,
o volume, que define o espaço ocupado por essa matéria, ou o nú-
mero de mols, que indica quantas são as moléculas do sistema. Mas
uma das principais variáveis de estudo é a densidade, que, de forma
microscópica, pode ser entendida como a distância média entre as
moléculas de um sistema.
Sistemas formados por sólidos são os que possuem densidade
mais constante, os chamados sistemas incompressíveis. Para os
líquidos ocorre um estado de baixa variação de densidade ou se-
mi-compressibilidade, e, devido à distância molecular ser maior
nos gases, temos para esses a maior variação de pressão e, por con-
sequência, um estado de compressibilidade.
Dessa forma, os engenheiros pensaram em definir uma mode-
lagem que atendesse a todos os sistemas de substâncias puras ou
misturas que se comportem como substâncias puras. A esta abor-
dagem deram o nome de fator de compressibilidade.

Tenha sua dose extra de conhecimento


assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.

UNIDADE 2 39
Equações de
Estado e Comportamento
PVT dos Gases

Muitas são as influências sofridas por sistemas


em que as moléculas se encontram próximas, e
esta proximidade dificulta a proposição de uma
modelagem que permita representar a realidade
física. Por este motivo, escolheu-se o estado mais
fluido da matéria, no qual essas moléculas se en-
contram o mais distante possível, isso foi feito para
equalizar as forças externas e obter um modelo em
que apenas o sistema influenciasse nas condições
da substância.
Veja, a seguir, que as moléculas no gás estão
mais distantes entre si, facilitando a proposição
de um modelo.

40 Propriedades das Substâncias Puras


P

Sólido Líquido

0 V
Gasoso
Figura 3 - Distância entre as moléculas conforme a fase Lei de Boyle
Fonte: o autor. Figura 4 - Gráfico pxv com t constante, Lei de Boyle
Fonte: o autor.
No sistema gasoso, as interações entre massa, volu-
me, temperatura e pressão são menores, o que leva a Umas das principais relações que podemos obser-
uma condição de equilíbrio, mais rapidamente, que var para o experimento de Boyle é que:
é quando todas estas propriedades são constantes.
Um dos primeiros cientistas a estudar a relação dos PV
1 1 = C e P2V2 = C
gases e seu comportamento foi Boyle, que em suas
experiências, percebeu que, ao aumentar a pressão então:
em um sistema fechado, o volume aumentava, pro-
porcionalmente, da mesma forma, em um sistema PV
1 1 = P2V2
com pressão constante ao de aumentar o volume,
ocorria a diminuição da pressão. Destes resultados Buscando entender, ainda, o comportamento de
ele concluiu que o produto entre pressão e volume sistemas gasosos, em especial como esses varia-
era descrito como uma constante C, ou seja: vam com a temperatura, podemos indicar os tra-
balhos de Charles e Gay Lussac. Charles baseou-
PV = C -se nos estudos feitos por Boyle e percebeu que,
ao aumentar a temperatura do sistema, a relação
Quando Boyle fez um gráfico de suas observações, proporcional entre P e V se mantém, entretanto
a resposta obtida foi a seguinte curva, indicando os valores de C aumentam, o que indica que se
que, em um sistema fechado para altas pressões, trata de várias famílias de curvas, uma para cada
teremos pequenos volumes, já para pressões baixas, temperatura, as chamadas isotermas, conforme
os volumes serão altos. indicado no gráfico a seguir.

UNIDADE 2 41
P V p3
p2

p1

T3
T (K)
T2
T1 ISOVOLUMÉTRICAS ISO
V 0 p3Lei de Charles V V V3
p2isotermas de Charles
Figura 5 - Gráfico P x V das V2
Fonte: o autor.

Esta abordagem de Charles permitiu que a equação


p1
do Boyle fosse ampliada para uma relação do tipo:
V1

PV = cT
T (K) T (K)
PV PV PV
= c ou ainda 1 1 = 2 2
T T1 T2
ISOVOLUMÉTRICAS ISOBÁRICAS
Esta relação permite que abordemos dois casos
Figura 6 - Linhas Isovolumétricas (Volume constante) e
especiais, o primeiro ocorre quando plotamos Isobáricas (Pressão Constante)
um gráfico de V x T, em que observamos que, Fonte: o autor.
com o aumento da temperatura, a agitação das
moléculas promove o aumento do volume para Retornando à equação de Boyle e Charles, temos
sistema com a pressão constante, e a linha forma- que “c” é uma constante que deve ser função da
da por esse gráfico recebe o nome de isocórica massa do sistema, já que as variáveis, como pres-
ou isobárica. Já, se compararmos esse sistema são, volume e temperatura já estão descritas. En-
fixando o volume e construindo um gráfico de P tretanto essa massa deve participar da equação
x T, percebemos também, da mesma forma, que o como uma variável intensiva da matéria. Uma
aumento da temperatura promove um aumento forma de solucionar este problema para gases
dos choques das moléculas com as fronteiras do simples a baixas temperaturas e pressões é des-
sistema, o que resulta num aumento da pressão, crever a constante “c” como sendo dependente da
e as linhas formadas por esse gráfico recebem o quantidade de mols presente na mistura, já que:
nome de isométricas ou isovolumétricas. Ou
seja, a conclusão final é que o volume e a pressão
m
de um sistema são, diretamente, proporcionais à n=
MM
temperatura. Veja na figura que segue.

42 Propriedades das Substâncias Puras


Onde MM é a massa molar da substância pura, definida na tabela periódica, e o valor de “c” pode ser
descrito como: c = n.R
Segundo Cengel (2007), quando Boyle propôs seu modelo, ele chamou o valor de C de uma cons-
tante que era dependente da massa molar da substância, entretanto essa dependência foi inserida na
variável n, ou seja, o valor de R passou a ser uma constante independente para os gases ideais cujo
valor é: R = 8,314 J. K-1.mol-1.

Você sabia que a constante R da equação dos gases ideais é obtida por meio das condições normais
de temperatura e pressão (CNTP)? Essas condições garantem que um mol de gás de comportamento
ideal, quando submetido à pressão de 1 atm e temperatura de 273,15 K, ocupa um volume de 22,4
L. Substitua os valores com as unidades convertidas e verifique.

Dessa forma, obtemos a equação de estado, que representa o comportamento de um gás ideal, ou a
equação de Clayperon:

P.V
= n.R P.V = n.R.T
T

Exemplo 1 Exemplo 2

Um cilindro de nitrogênio (N2) a uma temperatu- Um Balão meteorológico com 5 g de gás Hélio
ra constante de 300 K dobra seu volume atingindo encontra-se com 30 m3 no nível do mar (pressão
a pressão de 200 kPa. Calcule, para esta situação, de 1 atm). Considerando que o Hélio se comporta
qual seria sua pressão inicial. como gás ideal, calcule a temperatura no dia do
PV lançamento. Considere MMHe= 4 g/mol; R =
T= 1 300 � K
2 T= 1 1 = P2V2
T1 T2 8,314 J.K-1.mol-1.
V2 = 2.V1
T = ? P  1 atm  101 325 KPa V =� 30
� m3
P2 = 200 � kPa PV
1 1 200 kPa 2.V1
 m 5
P1  ? 300 K 300 K =n = = 1, 25� mols
MM 4
P1 = 400 � kPa P.V = n.R.T

101 325 KPa 30 m3 1 25 mols . 8, 314 J K 1.mol 1


.T

101 325 30
T 292 5 K
1, 25. 8, 314

UNIDADE 2 43
A equação de Clayperon trouxe a representa-
ção de vasta gama de modelos gasosos a baixas
pressões e volumes. Ela representa muito bem o
comportamento de gases monoatômicos e molé-
culas simples, entretanto existe uma lacuna mate-
mática nesta dedução. Se isolarmos V na equação
de Clayperon e fizermos a pressão ser muito gran-
de, ou seja, levar seus valores ao infinito, encon-
traremos que o volume será negativo, o que não
concorda com o mundo físico, pois, se existe ma-
téria dentro do sistema, o menor volume ocupado
deveria ser o volume molar do gás presente ali.
Buscando solucionar esta incompatibilidade
matemática, Gay Lussac propôs um sistema de
volume variável com massa e pressão constante,
onde se variava a temperatura. Neste experimento,
ele utilizou valores de temperatura na escala de
Celsius. Assim, ele obteve uma equação linear que
descrevia o volume:

V  a  b T

0 T
Figura 7 - Ajuste linear do Volume com a temperatura, ex-
perimento de Gay-Lussac
Fonte: o autor.

O significado físico dos Coeficientes a e b da equa-


ção encontrada por Gay Lussac será discutido em
nossa próxima aula. Também veremos que, devido
a esses coeficientes, conseguimos descrever siste-
mas que não obedecem à lei dos gases ideais.

44 Propriedades das Substâncias Puras


Fator de
Compressibilidade

Os Coeficientes da equação Gay Lussac eram cons-


tantes e indicaram que, quando a temperatura era
igual a 0 oC, o sistema alcançava um volume Vo, ou
seja, o valor da constante a (CASTELLAN, 2007).
Para o coeficiente b, ele percebeu que se trata-
va de uma variação do volume com a temperatura,
ou seja, b =  VT  , dessa forma a equação de Gay
P

Lussac é entendida como:


V
V Vo .T
T P

V 1 V
1 .T
Vo Vo T P

A equação apresentada compara, proporcional-


mente, o volume ocupado com o volume inicial.
Essa variação pode ser compreendida como se
todo o gás se comportasse de modo a distribuir
suas forças, igualmente, na forma de um coeficiente
constante –o , que pode ser descrito como sendo:

1  V 
� ao   
Vo  T  P

UNIDADE 2 45
Este coeficiente recebeu o nome de coeficiente de Exemplo 3
expansão térmica, dada a sua similaridade com
sistemas de substâncias sólidas e líquidas. Calcule a pressão de um mol de oxigênio à tempe-
ratura constante de 300 K e volume de 0,022 m3.
V Vo 1 αoT . a) Calcule, considerando o sistema como gás
ideal (R = 8,314 J.K-1.mol-1)
A forma proposta por Gay Lussac indicou que, n = 1� mol
independentemente do gás estudado, o valor de
–o , quando V tendia a 0 , era sempre o mesmo e T = 300� K
igual ao inverso de 273,15 oC. A esse valor ele deu
o nome de zero absoluto. V = 0, 022 � m3
Esta abordagem permitiu que outros propu- P.V = n.R.T
sessem equações de estado para representar o
comportamento de gases, uma das mais conhe- P.0, 022  1.  8, 314  .300
cidas é a equação de Van der Walls, que é repre-
sentada como: P = 133, 37 � KPa

a
P V b RT b) Calcule, considerando o sistema como
V2
gás de Van der Walls (considere a=0,138
RT a Pa.m6. mol-2 e b =31,8.10-6 m3.mol-1).
P
V b V2 RT a
P
V V b V2
onde: V =
n
8, 314. 300 0, 138
Os coeficientes a e b representam, respectivamen- P 6
0, 022 31, 8.10 0, 0222
te, o volume molar da substância e a interação
molecular. Os valores de a e b variam conforme
a substância e são tabelados. Para efeito de com- P = 113, 25� KPa
paração, vejamos o seguinte exercício:

46 Propriedades das Substâncias Puras


Perceba como as diferenças são pequenas, mas que existem desvios, desvios entendidos, principalmen-
te, como a diferença entre o Volume ocupado pelo gás ideal quando comparado ao volume ocupado
pelo gás real. Na tabela que segue, temos algumas outras equações apresentadas por Cengel (2007) e
os pesquisadores que propuseram os modelos.

RT c A
Beattie – Bridgeman P 1 V B
V2 VT 3 V2

RT a b c d
P
Equação do Virial V V2 V3 V4 V2

a
RTe VRT
Equação de Dieterici P
V b

RT a
Equação de Berthelot P
V b TV 2

Quadro 1 - Equações de estado para os gases reais


Fonte: o autor.

Os valores das constantes a, b, c são tabelados e variam conforme o modelo proposto. Mas a forma mais
comum de corrigir desvios do comportamento de sistemas não ideais é a utilização dos coeficientes
dos fatores de compressibilidade, que comparam o desvio do gás com o modelo ideal e propõem para
ele um valor Z de correção, onde:

V PV
Z
= =
Vid RT
Que pode ser rearranjada para a equação:

PV = ZRT

O valores de z variam conforme o tipo de interação molecular, por exemplo, se Z=1, temos a equação
de Clayperon, ou seja, os efeitos de interação não são contabilizados; já, se Z < 1, significa Vid > V , e
as forças de atração reduzem o volume do gás; já, se Z > 1, então, não Vid < V , indicando uma inte-
ração repulsiva entre as moléculas.
Então, caro(a) aluno(a), ao apresentarmos estes modelos, é possível concluir que as substâncias
gasosas são bem descritas pelas mais diferentes equações para os gases. Resta-nos, agora, compreender
como é descrito o processo onde estas substâncias assumem outra fase, o líquido ou o sólido, e este
estudo é feito por meio do diagrama de fases, assunto de nossa próxima aula.

UNIDADE 2 47
Diagrama
de Fases

Entre as principais substâncias de interesse na


termodinâmica, podemos dizer que o vapor de
água é uma das principais, pois carrega e transfere
energia de modo muito eficiente. Quando aquece-
mos a água ou qualquer substância em um sistema
fechado, ela vai modificando suas condições de
temperatura e pressão em um sistema fechado, até
chegar em um estágio em que moléculas da fase
líquida passam à fase gasosa. Neste ponto, em que
temos as primeiras moléculas mudando de fase,
temos definidas as condições de saturação, as cha-
madas pressão de saturação (Psat) e temperatura
de saturação (Tsat). Nesse ponto, se o processo se
mantiver, aqueceremos o líquido, até que todas as
moléculas passem ao estado gasoso.

48 Propriedades das Substâncias Puras


Vapor d’água Vapor d’água

Água líquida Água líquida

Líquido sub-resfriado Líquido saturado Vapor superaquecido


P < Psat Equilíbrio P > Psat
T < Tsat Líquido-vapor T > Tsat
Vapor saturado
P = Psat
T = Tsat

Figura 8 - Estados e condições da água, conforme sua Psat e Tsat


Fonte: o autor.

O calor cedido ao sistema é utilizado para mudar se encontram abaixo, indicam condições de
a fase da substância, o que mantém a temperatura menor pressão, ou seja, para uma temperatura
constante, enquanto o volume da mistura vai au- constante, ocorre, nesses pontos, a existência da
mentando, já que os gases ocupam todo o espaço substância na forma de líquido, já para pressões
disponível num sistema. Durante este processo de para maiores, ou seja, acima da linha, encontra-
aquecimento, esta substância passa por vários es- mos substâncias todas na fase vapor, sob a linha
tados, e todos eles se relacionam com sua pressão coexistem ambas as fases.
de saturação e temperatura de saturação. No estudo da mudança de fase para sólido
Em um gráfico de T x V, mantendo uma líquido, ocorrem os mesmos efeitos, resultando
pressão constante, a água entrará em ebulição em uma linha chamada linha de fusão, e, nela,
à determinada temperatura, a chamada tem- coexistem as duas fases da substância: à direita da
peratura de saturação. Ao modificar a pressão linha teremos temperaturas maiores, portanto, o
e repetir o experimento, essa temperatura se líquido, e à esquerda da linha, temperaturas me-
modifica, indicando haver uma estreita relação nores, logo, será a região do sólido. Esta análise
entre pressão e temperatura, no processo de mu- é feita mantendo-se uma pressão de referência.
dança de fases. Uma das formas mais claras de Por fim, o comportamento da curva de subli-
se perceber essa relação é plotar um gráfico P mação segue a mesma abordagem, encontram-se
x T, onde inserimos os valores de temperatura os pontos onde coexistem sólido e vapor para
e pressão cuja mistura inicia sua mudança de temperaturas menores, ou seja, acima da linha
fase. Esse gráfico resulta numa linha chamada temos, a região do sólido, e, para temperaturas
curva de vaporização. Nessa curva, pontos que maiores e abaixo da curva, temos o vapor.

UNIDADE 2 49
A inclinação da linha de fusão depende, praticamente, da variação do volume da substância na pas-
sagem para o estado sólido. Se o volume ocupado pelo sólido for maior que o ocupado pelo líquido,
a linha terá inclinação negativa, já, para a maioria das substâncias, onde o sólido possui volume
menor que o líquido, a inclinação é positiva.

Em determinado ponto do gráfico, as três linhas se encontram, nesse Esta abordagem leva-nos a
ponto, ocorre um efeito em que coexistem as três fases da substância, um gráfico em que podemos,
e a ele damos o nome ponto triplo. Vejamos, agora, como ficaria facilmente, visualizar todas as
representado este diagrama em um gráfico de P x T: fases da substância em função
de sua pressão ou temperatura,
entretanto não nos indica como
Ponto
Líquido Crítico ela se comporta com relação à
quantidade volumétrica que
a” b” c” se encontra no equilíbrio, para
Vaporização tanto, devemos desmembrar em
outros dois gráficos em que P e
Fusão
T serão função do volume.
a b c
Pressão

Para um mesmo sistema, po-


Sólido demos plotar um gráfico de P x
Vapor V ou T x V e obtermos linhas e
Ponto Triplo regiões onde ocorrerão o sur-
gimento de diferentes fases da
Sublimação
substância, com comportamen-
a’ b’ c’ tos distintos. Observe:

Temperatura
Figura 9 - Diagrama de fases
Fonte: adaptada de Moran (2009).

Onde:

Ponto a e a’- sólido. Ponto b – sólido/líquido


Ponto a” e c – líquido Ponto b’ – sólido/vapor
Ponto c’ e c” – vapor Ponto b” – líquido/vapor

50 Propriedades das Substâncias Puras


P T

1 5

o
cid
raq r
Com

pe po
ue
Líqu imido

Su Va
pr

Mistura
ido

2 3 Su V 2 Saturada 3
pe ap
Mistura 4 raq or 4
ue

o
Saturada cid

id
Comquido
o

prim
5


1

v v
Figura 10 - a) Mudança de fases nos diagramas PxV com (T=cte) e b) TxV com (P=cte) / Fonte: adaptada de Cengel (2007).

Na Figura 10a, a linha foi construída para uma Transformando esta relação de propriedade ex-
pressão constante, enquanto, no segundo, quem tensiva (v) para propriedade intensiva (v/m), onde
se mantinha constante era a temperatura. Observe m é a massa da mistura, teremos:
que, quando ocorre a mudança de fase do líquido
para o vapor, a pressão na Figura 10a e a tempera-
V  Vliq  Vgas
tura na Figura 10b também se tornam constantes,
indicando que se trata apenas de uma variação
volumétrica. Nesta região, encontramos o deno-  mliq   mgas 
v  vliq    vgas
minado equilíbrio líquido-vapor, onde temos  m   m 
a existência de líquido saturado e vapor saturado.
Quanto mais próximo do ponto 2 a substância Definindo x como a fração mássica de vapor pre-
estiver, mais próximo de se comportar como líqui- sente na mistura, ou título de vapor da mistura,
do saturado ela está; já no ponto 3, temos uma ra- teremos:
zão chamada regra da alavanca, onde os tamanhos
 mgas   mliq 
do segmento indicam as frações dos componentes x  e 1 x   
na fase vapor e na fase líquida; no ponto 4, toda a  m   m 
substância se comporta, praticamente, como vapor
saturado. Este conceito indica-nos que existe uma v  1  x  vliq   x  vgas
relação entre a concentração de vapor saturado e
líquido quando estamos no ponto de mudança
de fase onde P é constante, e T é constante. A essa 
v  vliq  x vgas  vliq 
relação damos o nome título de vapor, que nada
mais é do que a proporção da mistura que se en- Os valores dos volumes podem ser, facilmente,
contra na fase líquida e na fase vapor, e ela pode lidos nos diagramas ou em tabelas termodinâ-
ser calculada, conforme a equação que segue: micas disponíveis na forma de apêndice. Dessa
forma, podemos encontrar a proporção de vapor
v  vliq  vgas
e líquido na mistura saturada.

UNIDADE 2 51
Se forem feitas várias curvas na Figura 10a, utilizando outras temperaturas como referência, ob-
teremos uma região em que as isotermas deixarão de indicar esta linha de pressão constante, a esse
ponto damos o nome ponto crítico, pois, para temperaturas acima dessa, a substância passa, instan-
taneamente, do estado de líquido saturado para o estado de vapor saturado.
P T Ponto

P1
Ponto crítico

>
crítico

t.
ns
co

t.
Região de

ns
P2
Líquido

co
Região de Vapor Comprimido

=
Superaquecido

P1
Região de
Líquido
Comprimido Região de Vapor
T2 = Superaquecido
con
Região de st. > Região de
T1
Líquido-Vapor Líquido-Vapor
e
o

T1 =
líquido

Saturados Saturados
Linha d
saturad

va L con
po inh st. va L

e
po inh

o
rs ad

líquido
Linha d
saturad
at e rs ad
ur at e
ad ur
o ad
o

v v
Figura 11 - a) Linhas isotérmicas e isobáricas nos diagramas de fases PxV com (T=cte) e b) TxV com (P=cte)
Fonte: adaptado de Cengel (2007).

Observe, ainda, que, à esquerda da curva, temos Temos definidos para esta condição os valores
uma linha mais próxima da região do líquido de Pc, Tc e Vc, ou seja, pressão crítica, temperatu-
comprimido, o que nos indica que nessa linha ra crítica e volume crítico. Como esse ponto do
à esquerda o líquido se transforma em líquido diagrama é fixo, na maior parte das vezes, serve
saturado. À direita do ponto triplo, temos uma como referência para as substâncias, sendo assim,
linha onde o estado de saturação se comporta de definiram-se as chamadas variáveis reduzidas de
forma mais similar ao vapor superaquecido, ou estados, como sendo:
seja, à direta, temos a linha de vapor saturado;
o ponto triplo indica-nos um ponto de inflexão P T V
p =� t =� f =� �
para uma linha isoterma no diagrama T x V, e Pc Tc Vc
uma linha isobárica no diagrama P x V. Utilizando
os conceitos de cálculo, podemos concluir que o Ao unirmos os gráficos de P x V, T x V e P x T,
ponto crítico trata-se de um ponto de inflexão da temos uma superfície que indica todos os pon-
mistura, onde: tos de uma substância pura. Além das regiões em
que ocorrem estas mudanças, a superfície P-V-T
P T
= =0 mostra-nos os dados das condições possíveis para
V2 V2 determinadas substâncias.

52 Propriedades das Substâncias Puras


cou-se que elas podem assumir
características homogêneas ou
heterogêneas, mas apenas em
relação à sua composição de
fases, definimos como fases os
estados sólido, líquido e gasoso
Sólido-Líquido
e os correlacionamos ao nível
energético das moléculas.
Verificamos, ainda, que fo-
Sólido ram produzidos vários mode-
Ponto
Pressão

Crítico
los matemáticos que descrevem
as condições dos sistemas e de
Líq seus níveis de energia. Os mo-


uid

s
o-V
apo delos basearam-se na forma
r
Lin
ha
Trip Va
p
mais simples de modelagem,
la or
o estado gasoso, mas foram se
Sól modificando para atender a ou-
ido
-Va
po
r tura tros estados de energia, como o
Vol
u pera líquido e o sólido.
me m
Te Por fim, tratamos das mistu-
ras de fases, por meio de análi-
Figura 12 - Superfície P-V-T se das relações existentes entre
Fonte: adaptada de Cengel (2007). essas fases, finalizando com a
definição da superfície P-V-T
Estas superfícies foram traduzidas na forma de tabelas termodi- e indicando que essa superfície
nâmicas, em que o usuário entra com duas variáveis e a fase desejada foi amplamente estudada para
e encontra os outros dados para a mistura. Essas tabelas são ampla- as substâncias mais comuns,
mente utilizadas nas resoluções de exercícios de termodinâmica. o que resultou em tabelas ter-
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, discutimos sobre as substân- modinâmicas com os dados de
cias simples e como elas são descritas na termodinâmica, verifi- cada uma dessas substâncias.

UNIDADE 2 53
1. Um cilindro com nitrogênio gasoso (N2) na temperatura inicial de 450 K sofre
expansão isotérmica atingindo o triplo do volume inicial. A partir deste estado,
reduz sua temperatura a volume constante atingindo a temperatura 300 K, e daí
sofre compressão isotérmica até o volume inicial. Considerando que se trata de
sistema fechado, a relação entre a pressão inicial e as pressões para cada um
dos três momentos será:
P1
a) = .P2 4.P3 = P4
2=

P1
b) = .P2 4, 5.P3 = 1, 5.P4
3=

c) P=
1 P=
2 4, 5.P3 = 4, 5.P4

d) P1 1,,
= = 5.P2 3.P3 = 4, 5.P4

P1
e) = .P2 3.P3 = P4
3=

2. 500 kg de uma mistura de vapor e água na temperatura de 498 K tem o título


da mistura igual a 0,22. Ao realizar a leitura dos valores de volume específico na
Tabela termodinâmica, encontra-se que, nestas condições, o volume específico
ocupado pelo líquido saturado é de 0,0012 m³/Kg, e que o volume específico
ocupado vapor saturado é de 0,0785 m³/Kg. Logo, o volume ocupado pela mis-
tura é igual a:
a) Vmist 10 12 m

b) Vmist  5 32 m³

c) Vmist  2 26 m³

d) Vmist 1 03 m³

e) Vmist  4 52 m

54
3. O ponto crítico de uma substância indica a posição a partir de onde não há
mais a região de equilíbrio líquido vapor, ele é definido como sendo o ponto de
inflexão de uma função de P ou de T, onde os valores de:

P T V
p =� t =� f =� �
Pc Tc Vc
São igual a 1. Com base nestes dados, correlacione a 1ª coluna com a 2ª coluna:
)  0, 5 1 φ  1, 2 ( ) Equilíbrio líquido-vapor

II)  1 1 φ 1 ( ) Vapor superaquecido

III)  0, 5  0, 7 φ  0, 2 ( ) Líquido sub-resfriado

IV )  1, 5  2 φ  1, 5 ( ) Ponto triplo

a) I - III - II - IV.
b) III - I - IV - II.
c) I - III - IV - II.
d) II - IV - III - I.
e) I - IV - III - II.

55
FILME

Las leyes de la termodinámica


Ano: 2018
Sinopse: já imaginou descobrir sobre Leis da Física de forma simples e diver-
tida aplicada a relacionamentos? Imagino que não. Mas é o que Las Leys de la
termodinámica propõe. Isso mesmo. O protagonista Manel é um astrofísico que
está escrevendo uma tese e aplica os conceitos de Termodinâmica aos relaciona-
mentos amorosos dele. E acredite: funciona muito bem como recurso narrativo.
Com Las leys de la termodinámica, Mateo Gil ganhou como melhor diretor a
premiação Knight Competition Grand.  Também dirigiu Mar a dentro (2004), um
dos filmes mais famosos sobre o dilema da eutanásia.
Aqui, temos um enredo original, divertido, nada piegas, nada clichê. Os diálogos
são verdadeiros e pés no chão, permitindo, rápida e facilmente, a nossa imer-
são naquele universo. A velocidade com quem passamos a nos importar com
o protagonista é, diretamente, proporcional à preocupação em relação à sorte
dele nos casos amorosos em tela.
A cada episódio amoroso de Manel, temos uma explicação de um conceito da
Física. A mistura de emoção e razão é equilibrada, divertida, sincera e nos faz
caminhar por um quebra-cabeças cujas peças montam uma trama de uma
perspectiva inovadora, peculiar.

56
CASTELLAN, G. Fundamentos de Físico-Química. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

CENGEL, Y.; BOLES, M. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N. Princípios de termodinâmica para engenharia. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2009.

57
1. B
PV
1 1 P2V2 P3V3 P4V4
= = =
T1 T2 T3 T4
Substituindo os valores dados no exercício na igualdade, teremos:

PV
1 1 P2 3.V1 P3 3.V1 P4 (V1 )
450 K 450 K 300 K 300 K

Resolvendo as igualdades para P1 , encontramos as seguintes relações:

de 1 para 2:
PV P2 3.V1
1 1  P2  3.V1 
1 1 PV
450 K 450 K
P1 = 3.P2

de 1 para 3:

PV
1 1 P3 3.V1 3.450
P1 = P3 P1 = 4, 5.P3
450 K 300 K 300

de 1 para 4:

1 1  P4 V1 
PV 450

P1 = P4 P1 = 1, 5.P4
450 � K 300
� K 300

Dessa forma, obtemos as seguintes relações entre as pressões:

P1 3=
= .P2 4, 5.P3 = 1, 5.P4
2. C

Para T = 498� K , temos os seguintes volumes específicos:


m3 m3
Vliq = 0, 0012 Vgas = 0, 0785�
Kg Kg
Para m = 500� Kg e x = 0,22


 mgas   mgas 
x  0, 22   
 m   500 

=mgas 110
= � Kg
� � � � e � � � mliq 390
� Kg

58
Utilizando os volumes específicos, encontramos qual seria o volume ocupado pela substância em se tra-
tando de sistema formado apenas pela fase líquida saturada ou vapor saturado:

m3 m3
Vliq = 0, 0012 Vgas = 0, 0785�
Kg Kg

m3 m3
vl  0 0012 110 Kg vg  0 0785 390 Kg
Kg Kg

vl = 0, 465� m3 vg = 8, 635� m3
Para descobrir o volume do sistema com interação, utilizamos a seguinte equação:


v  vliq  x vgas  vliq 
v 0 465 m³ 0, 22 8 635 m3 0 465 m³

v  2 26 m³
3. E

No ponto triplo, as condições de variáveis reduzidas são iguais a 1, para o vapor superaquecido, os valores
das variáveis estão acima deste ponto de inflexão, já para os líquidos subresfriados, esses valores estão
muito abaixo do ponto, restando apenas a opção I para descrever o equilíbrio líquido-vapor.

59
60
61
62
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Trabalho e Calor

PLANO DE ESTUDOS

Calor

Definição de Trabalho Aplicações de Calor e


Trabalho na Engenharia

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Conceituar os fundamentos de trabalho e relacionar tal • Elucidar as diferentes aplicações de transferência e ge-
grandeza com as propriedades de um sistema. ração de calor e trabalho em máquinas e geradores de
• Analisar os diferentes modelos de transferência de calor energia.
e investigar os mecanismos de trocas térmicas entre sis-
tema e vizinhança.
Definição de
Trabalho

Olá, caro(a) aluno(a), iniciamos, nesta unidade, o


estudo sobre duas das principais formas de trân-
sito de energias em sistemas termodinâmicos, o
trabalho e o calor. Nós utilizamos, algumas ve-
zes, estes termos em nosso cotidiano, entretanto,
para nossa abordagem, vamos contextualizá-los
de forma diferente. Quando aprendemos sobre
trabalho de uma força em Física, temos sempre
que essa força imprimia sobre corpos uma ace-
leração cedendo a eles certa energia, mas, na ter-
modinâmica, o conceito de trabalho não funciona
dessa forma, pois os sistemas são fixos e não se
movimentam com velocidade proveniente de
uma força externa.
Da mesma forma, quando se pede para que se
conceitue calor, normalmente, a primeira imagem
que vem à mente é a de corpos metálicos com
elevada temperatura, no entanto não é esta a defi-
nição mais acertada para esse tipo de energia. Por
este motivo, nessa unidade, nós conceituaremos
essas grandezas físicas sobre a lente da termo-
dinâmica e como os sistemas termodinâmicos
se modificam para realizar ou sofrer trabalho e
receber ou ceder calor.
Segundo a Física Clássica, o trabalho de uma força é definido
como sendo o produto de uma força por um espaço de tempo, ou,
em termos matemáticos, a área abaixo da curva de uma função F(t),
que representa a força ao longo do tempo, ou seja:

W   F  t  .dx

Já para a termodinâmica, a definição precisa estar embasada no


fato de que o trabalho que nos interessa é aquele resultante das
interações moleculares do sistema, ou seja, o trabalho que pode
ser produzido ou recebido pelo átomo ou molécula do sistema.
Assim como na Física, o trabalho termodinâmico é medido em
J ou N.m.
Segundo Castellan (2008), o trabalho é definido como qualquer
quantidade de energia que escoa por meio da fronteira de um sis-
tema, durante a mudança de estado, causando modificação em sua
vizinhança. Dessa definição podemos concluir pontos importantes,
que se seguem:
1. O trabalho termodinâmico é uma energia em trânsito
entre as fronteiras de sistemas vizinhos: as mudanças que
ocorrem de fatores internos do sistema resultam em energias
que são expressas, externamente, a esse sistema.
2. O trabalho aparece apenas durante uma mudança de
estado: para que ocorra modificações das fronteiras do sis-
tema, e por consequência transmissão de energia para fora
dessas fronteiras, faz-se necessário que o sistema expanda
ou comprima suas paredes. Em se tratando de substâncias
químicas, este efeito só é possível com a mudança de fase,
já que, nos processos sem mudança de fase, o volume de
controle do fluido é constante.
3. O trabalho manifesta-se na vizinhança: a resposta para
esta variação do sistema é refletida na forma de alguma mo-
dificação na vizinhança, por exemplo a elevação de um peso
num pistão cedendo a um corpo maior energia potencial.
4. O trabalho realizado pelo sistema na vizinhança tem
valor positivo, enquanto que o trabalho sofrido por
esse sistema assume valor negativo: ou seja, o trabalho
que é perdido pelo sistema possui valor positivo, pois quem
o recebe é a vizinhança. Agora, quando essa vizinhança age
de modo a ceder trabalho ao sistema, o seu valor passa a
ser negativo.

UNIDADE 3 65
Utilizando essas definições, podemos concluir que o trabalho Sabemos, no entanto, que o pro-
está, intimamente, ligado à variação de volume em um sistema. Mas duto da área pela altura resul-
como descrever essa variação de forma algébrica? Quem seria a ta em volume, que, no caso de
força envolvida no gás para esse processo? um sistema termodinâmico, é
Para descobrir quem seria esta força, foi proposto o seguinte sis- o volume que esse expandiu ou
tema de embolo móvel com um corpo de massa M sobre um pistão, comprimiu no processo, então, a
onde, inicialmente, se tenha uma temperatura T, uma pressão P1 e equação apresentada resulta em:
um volume V1, após liberada as presilhas, ele alcança uma condição W   Pop .V
de mesma temperatura T, mas com uma pressão P2 menor que P1
W   Pop . V2  V1 
e V2 maior que V1, assim como apresentado na figura que segue:
Pop afinal, V  A.h
Note que a pressão para manter
P1 , V1 , P2 , P2 ,
Pistão a massa na posição desejada é
T T
diferente da pressão do gás den-
tro do sistema, entretanto ela
variará entre 0 ≤ Pop ≤ P2
Quando esta variação de vo-
Cilindro lume eleva a massa a uma posi-
Fluido ção mais alta, temos o chamado
Fluido trabalho de expansão. Já se a va-
riação for para menor, teremos
o trabalho de compressão.
Figura 1 - Expansão de um gás
Fonte: o autor. Uma das formas para estimar
este trabalho, é fazendo com que
O trabalho que ocorreu nesta transformação é definido como a o valor da pressão seja prove-
energia potencial adquirida pelo peso de massa M: niente da massa M Pop =� P2 . As-
sim, podemos calcular o quanto
W  Mg  h 
de trabalho será realizado para
elevar essa massa até a posição
O sinal negativo se explica, pois a altura final é menor que a inicial em questão. Da mesma forma,
quando o sistema sofre trabalho. Mas esta força peso pode ser, facil- esse valor pode ser substituído
mente, descrita como a força que foi aplicada pelo gás para levantar para os casos de trabalho de
a massa e é proveniente da pressão exercida pelo gás, nas paredes compressão pela pressão final
do pistão, para manter a massa na posição desejada, ou seja: do sistema, obtendo o trabalho
cedido pelo sistema para supor-
F Mg tar o peso de massa M. Como os
Pop=
=
A A processos são realizados a uma
Logo, o trabalho realizado neste processo será descrito como sendo: temperatura constante, grafi-
camente, teríamos os seguintes
W   Pop . A.h
diagramas que representam as
transformações:

66 Trabalho e Calor
Estado inicial
p2 , V2
p1 , V1 Pop
p

Estado final
p2 , V2 p1 , V1
Pop

V1 V2 V2 V1
V V
Figura 2 - Diagramas de compressão e expansão em um único estágio
Fonte: adaptada de Castellan (2008).

Ao observar o resultado exposto pelos diagramas, percebemos que, para a compressão ocorrer, calcu-
lamos parte do trabalho que o sistema possui para nos dispor, ou seja, o valor calculado é subestimado.
Já para a expansão, esse valor está acima do que o sistema dispõe, isto é, está superestimado, então, para
aproximarmos o valor desses trabalhos ao trabalho disponível no sistema, modificamos o processo
dividindo-o em dois estágios de modo que primeiro ele ceda ou receba trabalho, isotermicamente, para
duas pressões de referência, a saber, Pop´ e Pop", obtendo o seguinte diagrama como resposta:

p2 , V2
p1 , V1 P’op
p p

P’op P”op

p2 , V2 p1 , V1
P”op

V1 V’ V2 V2 V’ V1
V V
Figura 3 - Diagramas de compressão e expansão em 2 estágios
Fonte: adaptada de Castellan (2008).

UNIDADE 3 67
Observa-se que, nesta aproximação, o valor do
trabalho disponível e do trabalho calculado
aproxima-se mais, e podemos concluir, ainda, p1 , V1
que, assim como ocorria na Física, a área abaixo
p
da curva da função P(V), onde T é constante,
representa o trabalho disponível para o sistema
termodinâmico. Além disso, podemos ver que
o volume intermediário das transformações de Pop = p (V)
dois estágios V’ criou dois retângulos que dimi-
nuem a diferença entre os dois trabalhos. Logo, p2 , V2
se tomássemos intervalos mínimos entre V´s e
resultassem em infinitas transformações, tería-
mos o trabalho total que o sistema poderia ceder
para a vizinhança, ou seja, se fizermos a integral V1 V2
da função, teríamos esse valor que, algebrica- V
mente falando, é: Figura 4 - Diagrama do trabalho disponível em um sistema
termodinâmico
Fonte: adaptada de Castellan (2008).
 dW    Pop . V2  V1 
Dessa forma, torna-se possível conhecer qual é o
máximo que pode ser produzido por uma expan-
 dW    Pop .dV
são de determinado sistema e qual o trabalho mí-
Assumindo P como uma função do tipo P(V): nimo necessário para a compressão desse mesmo
sistema. Vemos que o trabalho realizado depende
Wsis    P V  .dV do caminho a ser seguido, se será realizado por
compressão ou por expansão e quantos serão os es-
Para o caso específico do gás ideal P , é descrita tágios, dessa forma, o trabalho é classificado como
como sendo: sendo diferencial não - exata de funções de linha.
Aprendemos, nesta aula, um pouco sobre as
PV = nRT
definições de trabalho, entretanto o sistema termo-
dinâmico não é descrito, exclusivamente, por esta
nRT dV
P= logo: Wsis  nRT  grandeza, devemos, ainda, estudar qual é a energia
V V
que se expressa por meio da variação da tempera-
E o diagrama obtido é: tura, e sobre ela discutiremos na aula a seguir.

68 Trabalho e Calor
Calor

Na termodinâmica, esta é, talvez, a grandeza mais


incompreendida de todas, pois os que estudam
tendem a confundi-la com a temperatura, por
exemplo, quando se diz “faz calor na minha ci-
dade”, na realidade, deseja-se exprimir a ideia de
que as temperaturas médias desta localidade são
elevadas, afinal de contas, não há como criar, ou
seja, fazer calor, pois essa grandeza, assim como o
trabalho, é uma energia que escoa entre os corpos
participantes dos processos termodinâmicos.
Podemos dizer que o calor é a energia necessá-
ria proporcional à massa para elevar a temperatura
de um sistema termodinâmico com pressão cons-
tante em 1oC. Essa energia, também, é medida em J.
Segundo Van Wylen, Sonntag e Borgnakke (2008),
o calor é a energia transferida por meio de um
sistema A, em uma dada temperatura, para outro
sistema B ou vizinhança, em uma temperatura in-
ferior. Ou seja, se estivermos tratando de sistemas
isotérmicos, não há como se falar em transferência
de Calor, pois essa grandeza só ocorre quando
existem dois corpos de temperaturas diferentes,
e podemos verificar que, em suas fronteiras, as
temperaturas vão sendo modificadas com o passar
do tempo, indicando a transferência de energia de
um corpo para o outro, ou seja, o calor.

UNIDADE 3 69
Esta constante de transferên-
cia de calor também é subdividi-
da em outras para indicar que a
distância entre as moléculas mu-
T1 calor T2 dou, logo, a capacidade de trans-
mitir essa energia mudou. Quan-
do estamos transferindo calor em
sistemas, essa energia aumentará
T1 > T2 a agitação das moléculas. Pense
no caso da expansão, que, inicial-
Figura 5 - Definição gráfica de Calor mente, discutimos neste capítulo.
Fonte: o autor. Nesse sistema, o peso ao qual o
embolo está submetido não varia
Também é incorreto afirmar que corpos possuem calor, já que, para tampouco a área desse embolo,
definirmos esta grandeza, precisamos, pelo menos, de dois sistemas dessa forma, o sistema sofre da
com diferenças de temperaturas entre si. vizinhança uma pressão constan-
Quando um sistema termodinâmico recebe calor, a agitação de te. Nesses sistemas onde a Pop é
suas moléculas aumenta, o que, por consequência, leva a um aumen- constante, temos a capacidade
to da temperatura. Logo, esse aumento indica que o calor recebido calorífica à pressão constante
por um sistema tem sinal positivo, da mesma forma, quando um (Cp), que pode ser descrita para
sistema cede calor a outro, o primeiro assume temperatura menor, as fases sólidas, líquidas e gasosas
devido ao menor estado de agitação das moléculas, logo, o calor das substâncias.
cedido por um sistema termodinâmico tem sinal negativo. Caso fixemos o volume, esse
calor agitará estas moléculas até
um ponto em que essas passarão
de um estado para o outro. Nesse
processo, diferentemente do que
Um sistema termodinâmico no qual não ocorre transferência de ocorre nos êmbolos, a pressão
calor com a vizinhança recebe o nome de sistema adiabático. varia modificando, também, a
temperatura do sistema. Nessas
condições, temos a Capacidade
calorífica a volume constante
No processo de transferência de calor, são muitas as variáveis que (Cv), também descrito paras as
influenciam, mas, para sistemas termodinâmicos, uma das prin- três fases das substâncias.
cipais é a Capacidade calorífica (C), dada em J/mol.K e, de modo Perceba que, em ambos os
geral, ela é constante, mas pode, em alguns casos, ser descrita como casos, podemos descrever este
um polinômio em função da temperatura e agrega em si particula- calor trocado em função destas
ridades das substâncias presentes no sistema, afinal, é de se esperar condições. Para facilitar nossa
que seja mais fácil agitar moléculas de peso menor, como as de gás abordagem, tomaremos um ca-
hidrogênio, do que agitar moléculas de maior peso molecular, como lor específico que é proporcio-
as de polímeros. nal à massa do sistema, ou seja :

70 Trabalho e Calor
acaba por se transformar em energia vibracional
Qp Q
Cp = � e Cv = v das moléculas. A essa energia damos o nome de
m m
energia interna do sistema (U) cuja grandeza tem
Onde os valores de Q p� � eQv são, respectivamente, as mesmas dimensões e características do traba-
os calores trocados à pressão constante e a volume lho e do calor e, matematicamente, é descrita em
constante. termos Qv , onde para cada mudança infinitesimal
dUV no sistema, teremos uma mínima variação
dT , dessa forma:
dUV
m.Cv =
dT
Você verá que o calor recebido por um corpo
a volume constante é absorvido por suas mo- Que, após integrada, resulta em:
léculas e, como não é expresso nem na forma
de trabalho nem na forma de calor, aumenta a
UV  m.� Cv � T
agitação interna das ligações de suas moléculas.
A essa energia dá-se o nome de energia interna.

UV  m.� Cv � T f  Ti 
Descrevendo, dessa forma, o comportamento dos
Tomemos o caso de C p . Em um sistema onde a sistemas termodinâmicos.
pressão é sempre constante ao ceder energia na É a partir desta observação das variações das
forma de calor, o sistema termodinâmico atinge energias e considerando que elas possuem simila-
um volume maior e uma temperatura maior, e ridades que se propõe a correlação entre elas, onde
podemos perceber, então, que, para cada acrés- a energia, em um sistema termodinâmico que pas-
cimo dQ p � ao sistema, temos um acréscimo de sa por transformações isocóricas (P=constante)
dT � , logo: e isovolumétricas (V=constante) está submetida.
dQ p Nessa correlação chamada de 2ª Lei da Termodi-
m.� C p = nâmica, temos que a soma do calor e o trabalho
dT
de um sistema termodinâmico é igual à energia
Que, após integrada, resulta em: interna nesse sistema, resultando em:

Q p  m.� C p � T U  Q W


Q p  m.� C p � T f  Ti  Segundo Castellan (2008), um gás monoatômi-
co possui uma energia interna em cada uma das
A equação apresentada auxilia-nos, e muito, na direções tridimensionais x, y e z igual a U = 1 R
2
compreensão de sistemas onde ocorre a troca e é, diretamente, dependente da temperatura. Se
térmica e o recebimento de calor e onde esse ca- considerarmos as três direções, obtemos para um
lor é transformado em outra forma de energia, a gás ideal o volume constante na seguinte equação:
saber, o trabalho. Já para sistemas onde o volume
1 1 1
é constante, ou seja, não há produção de trabalho, Cv  � R  R  R
2 2 2
toda essa energia recebe a nomenclatura de Qv e

UNIDADE 3 71
3 Quando o volume é variável, a energia transmi-
Cv =� R tida na forma de calor não é total. O Calor pode
2
ser transmitido à vizinhança do sistema por três
Esta equação denota que a capacidade calorífica formas principais, a saber: a condução de calor, a
de um gás ideal monoatômico depende, apenas, convecção e a radiação.
de suas energias nas direções de x, y e z. Para en- A condução é o processo em que a fronteira do
contrar uma relação para C p , utilizamos as cor- sistema está em contato direto com a da vizinhança,
relações da 2ª lei, unidas com as igualdades para mas a sua massa encontra-se restrita por essa fron-
Cv e Cp, onde: teira. Neste processo, moléculas com maior tempe-
dU dQ p ratura transmitem a fronteira do sistema calor, por
Cv =� C p =� dW =� PdV meio de contato direto, e essa fronteira retransmite
dT dT
essa energia à vizinhança. Por exemplo, se colocás-
dU  � dQ p  dW semos a ponta de uma barra de ferro numa fogueira
e aguardássemos alguns minutos, a extremidade
Como se trata de trabalho de compressão, na fora da fogueira estaria a uma temperatura maior,
equação do trabalho, o termo de dV torna-se ne- pois o contato com a chama promoveu o aque-
gativo, então, dividindo tudo por dT temos: cimento da barra. Esse processo é extremamente
dependente da área de condução da fronteira do
dU dQ p dV
� P sistema e da distância por meio da qual se deseja
dT dt dT
transferir o calor. Aqui, faz-se necessário um corpo
Para o gás ideal, � � � � � dV = R , logo: ou meio que estará fixo, e suas moléculas serão agi-
dT P tadas e atingirão as vizinhas até transmitir o calor e
R criar um gradiente de temperatura. Esta forma de
Cv  � C p  P
P transferência é bem descrita pela Lei de Fourrier:
Simplificando P, encontramos que: dT
Q k m. A.
C p  Cv � R dx
Substituindo Cv, encontramos que: Esta lei estabelece que a transferência de calor
é proporcional à condutibilidade térmica (k), à
 3
C p �1   R massa do corpo (m), à área (A) e ao gradiente
 2
de temperatura dT , e o valor negativo serve para
dx
5 indicar que o calor flui da região de maior tem-
C p �  R
2 peratura para a de menor temperatura.
Em sistemas termodinâmicos que envolvem No caso da condução, o meio é estático já
trocas térmicas e transformações de energia em para fluidos que se movimentam com o aqueci-
trabalho, é comum utilizar-se da razão entre as mento, como é o caso de um tanque aquecido, te-
capacidades caloríficas, definida pela letra (k) e, mos a convecção. Para manter a analogia, numa
algebricamente, da forma que segue: fogueira, a convecção seria o ar que se aproxima
 Cp  frio e, após passar pela chama, sobe quente. Esse
k �  método é um dos mais efetivos e rápidos para
 Cv 
  realização de trocas térmicas, por esse motivo é,

72 Trabalho e Calor
amplamente, utilizado em dimensionamento de ra. Essa energia é transmitida, por meio de ondas
trocadores de calor e caldeiras. eletromagnéticas e pode ser transmitida no vácuo.
Na convecção, também, há a necessidade de Em resumo, um sistema termodinâmico emite ra-
que haja um meio físico, líquido ou gasoso para diação a uma distância qualquer de um corpo, e
que ocorra a transferência de calor, por meio do este absorve essa radiação, aumentando sua tem-
movimento das massas das substâncias. Assim peratura, ou seja, recebendo calor. No Cálculo do
como na equação de Fourier, aqui, o meio que está calor emitido, utiliza-se a taxa de emissão de calor
se movimentando influenciado por meio de uma ou emissividade do corpo, além dela, também en-
constante de convecção (h), além disso, a área ou tram no cálculo a temperatura da superfície que
a superfície de aquecimento à qual o meio con- está emitindo e a constante de Stefan- Bolztmann,
vectivo está integrado, também, é importante. O o equacionamento é apresentado a seguir:
responsável por propor um equacionamento para
a convecção foi Newton, e esse equacionamento . S4
Q = e.m. AT
encontra-se descrito a seguir:
Caro(a) aluno(a), agora que estamos munidos
Q  h.m. A.T dos conceitos físicos para trabalho e calor e co-
nhecemos o significado da energia interna, es-
Por fim, temos, ainda, a radiação, que é a forma com tamos aptos a buscar simplificações da 2ª Lei da
que a energia solar chega ao nosso planeta, e, para Termodinâmica para casos específicos de siste-
manter a analogia da fogueira, é como sentimos mas, que farão parte do seu cotidiano enquanto
o calor quando sentamos próximo a uma foguei- engenheiro.

UNIDADE 3 73
Aplicações de Calor e
Trabalho na Engenharia

Conforme tratado na aula anterior, nós descobri-


mos como se correlacionam as grandezas físicas
energéticas em sistemas termodinâmicos e perce-
bemos que elas podem ser descritas como funções
de estados representativas das energias envolvidas
no processo. Veremos a seguir os principais casos
de simplificação de sistemas termodinâmicos.

Funções de estado são duas ou mais variáveis


que não mudam durante o processo de trans-
formação termodinâmica de um sistema. Estas
possuem diferencial exato- e podem ser inte-
gradas de um estado inicial até um estado final.

74 Trabalho e Calor
Sistema isotérmico Sistema adiabático

Em casos de sistema isotérmico, as condições do No sistema adiabático, as fronteiras possuem um


sistema caminham sempre sobre uma linha de isolamento térmico que impede que ocorram tro-
temperatura constante, em que o produto PV é cas de calor com o meio externo, dessa forma, se
sempre um valor constante. Em outras palavras, ocorrer a produção de trabalho, ela será prove-
todo calor recebido por esse sistema transforma- niente apenas da diminuição da energia interna,
-se em trabalho realizado na vizinhança sem que e, nesse caso, o calor é igual a 0, resultando em:
se acumule energia na forma de energia interna.
U  Q  W
Sua representação em um diagrama P x V é a linha
que segue: Por se tratar de processo adiabático, temos que
Q = 0 logo:
P A � v T  pV
mC

Graficamente, no diagrama P x V, temos a seguinte


Isotérmica linha adiabática:
B
P A

Adiabática
v

Figura 6 - Transformação Isotérmica – Energia Interna U = 0 B


Fonte: o autor.

Por se tratar de mudança em uma mesma tem-


peratura, não é possível calcular o valor do calor v
cedido pela igualdade Q p  m.� C p � T , dessa for- Figura 7 - Transformação Adiabática – Calor Q = 0
ma, calculamos esta transformação a partir do Fonte: o autor.
equacionamento da 2ª Lei da Termodinâmica:
Atente-se para o fato de que, apesar de serem
U  Q  W muito parecidas, as transformações isotérmicas
e adiabáticas são diferentes. As curvas isotérmi-
� v T  Q  pV
mC cas de um diagrama tendem a ter uma inclinação
menor do que as curvas adiabáticas, além disso,
Como se trata de processo isotérmico, então, dentro de uma curva isotérmica, a temperatura é
T  0 e : constante, enquanto no processo adiabático ocor-
re a diferença de temperatura, tal qual apresentado
Q   pV no diagrama a seguir:

UNIDADE 3 75
P A Matematicamente, esta linha vertical é represen-
tada fazendo a simplificação do termo do traba-
lho W na equação da 2ª Lei da Termodinâmica,
Isotérmica
conforme apresentado a seguir:
B U  Q  W
C
Adiabática � v T  Q  pV
mC

Como se trata de processo isovolumétrico, então,


v
V  0 e :
Figura 8 - Comparação entre as curvas adiabática e isotérmica
Fonte: o autor
Q  mCv T

Sistema Isovolumétrico
Sistema isobárico
Nos processos isovolumétricos, independente-
mente da quantidade de calor recebido ou cedi- Por fim, trataremos, agora, de sistemas onde a
do, não ocorrerá movimento do embolo, e a isso pressão é constante, em que, diferentemente dos
chamamos sistemas de pistão fixo. Nesses casos, que foram, anteriormente, apresentados, o cál-
o volume é constante e, portanto, não há como culo de trabalho realizado é simplificado, pois
o sistema receber ou produzir trabalho, fazendo não precisamos definir uma função para o Pop
com que todo o calor recebido seja convertido já que ele é igual à pressão constante do sistema.
em energia interna. O diagrama referente a essa No diagrama, esta situação é descrita como sendo
situação é o que se segue: uma linha horizontal.

P A P A B

Isobárica
Isovolumétrica

v v
Figura 9 - Transformação Isovolumétrica – Trabalho W = 0 Figura 10 - Transformação Isobárica – P=Pop
Fonte: o autor. Fonte: o autor.

76 Trabalho e Calor
Em transformações isobáricas, nenhum dos ter-
m3
mos da equação da 2ª Lei será anulado, entretanto 0, 15
8, 314 J kg
podemos, facilmente, encontrar uma relação entre Q 1 mol 723 15 K ln
K .mol m3
esses termos, tal qual como indicado: 1, 05
kg
U  Q  W
Q  6012, 26 � J �  , 2 3026 
� v T  �mC p T  pV
mC
Q  13843, 85� J
A partir de agora, utilizaremos os conceitos tra-
balhados para resolver exemplos propostos para Exemplo 2
sistemas gasosos simples que sofrem várias dessas Um cilindro à temperatura de 20 o C e 30.105 Pa,
transformações. cheio de nitrogênio (N2) (MM = 28 g/mol e Cv =
20,6 J/mol.K) comporta-se de modo adiabático.
Exemplo 1 Em certo momento, ele expande 67,2 L, submeti-
Na fornalha de uma caldeira, a temperatura in- do a uma pressão contrária e constante de 105 Pa,
terna do compartimento é constante e igual a fazendo-o atingir a temperatura de 16 o C. Calcule
3
450 oC, e a água é alimentada com (Vesp  1 05 m )) o volume do total cilindro. Considere que o gás se
3 kg
para produzir vapor a ( Vesp = 0,1512 m ).) Sabendo que comporta, idealmente. Dado R = 8,314 J/K.mol.
kg
esse vapor se comporta como gás ideal, calcule a Para o modelo adiabático temos que:
quantidade de calor transferida a ele em um mol
� v dT = W
mC
de vapor. Considere R = 8,314 J/K.mol.
Para processos isotérmicos, temos:
� v dT   pdV
mC
dQ   pdV
Substituindo os valores dados, teremos:
Considerando o modelo do gás ideal, teremos J N
nRT , que, após substituição, resulta em: m 20 6 4K 105 0 0672 m3
p= mol.K m 2
V
nRT
dQ   dV m  815 53 Kg
V
Integrando os termos, temos que: Calculando o número de mols dentro do cilindro:

V  815530 � g
Q  Qo  nRTln   =n� = 29126 � mols
28 � g
 Vo 
V  Aplicando a lei dos Gases ideais, teremos:
Q  nRTln  
 Vo  J
30 105 Pa V 29126 mols 8 314 293 15 K
mol.K
Substituindo os valores: n 1 T 450 273 15 723 15 K
n 1 T 450 273 15 723 15 K , chegamos ao se- V  23 66 m
guinte resultado:

UNIDADE 3 77
Exemplo 3 No sistema isobárico temos:
Um reservatório de ar comprimido com 40 kg
de ar e 3 m³ de volume encontra-se, inicialmen- � v T  �mC p T  pV
mC
te, a uma pressão de 1,5 Mpa. Esse reservatório Utilizando a consideração para o gás ideal, obtemos:
sofre aquecimento até atingir a temperatura de
3  5 
450 K, considerando um sistema isovolumétrico. m  R  T  m �  R  T  pV
2  2 
Calcule a quantidade de calor absorvida pelo ar
neste processo. Considere o ar como gás ideal. V1 V2 T2 V2
 result em   1 214
Dados: (Cv = 24,72 J/mol.K, MMar = 29 g/mol) T1 T2 T1 V1
R = 8,314 J/mol.K. � 2  V1 , 0 214 V
logo,� V � 1
Em processos isovolumétricos, temos:
Dessa forma:
Q  mCv T
3 5 V2  V1 
   m.R  p
2 2 T2  T1 
40000 g
n 1379 31 mols
g 0, 214.V1
29  m.R  p
mol T2  T1 
Calculando a temperatura inicial do sistema: Substituindo os valores, teremos:
3
P.V 1, 5.106 Pa 3 m3 2 106 Pa 0, 214. 6 m
T m
n.R J J 60 K
1379 31 mol 8, 134 8, 314
mol.K mol.K
T = 392, 41� K
m = 5147, 94 � kg
Para descobrir a quantidade de calor recebida nes- Conforme podemos ver nos exemplos resolvidos,
te processo, substituímos os valores da equação do percebe-se que, para cada tipo de transformação,
sistema isovolumétrico: a abordagem de resolução é diferente, levando
a uma condição em que engenheiros precisam
J conhecer bem as relações entre calor e trabalho
Q 1379 31 mol. 24, 72 450 392, 41 K
mol.K para atuarem de forma satisfatória em sua área.
Q = 1963, 61� kJ Quando, no entanto, os processos não se res-
tringem a um tipo de transformação no sistema,
Exemplo 4 como devemos solucionar este problema? Esta
Um sistema de resfriamento utiliza amônia resolução está em enxergar os diagramas das pas-
num volume inicial de 6 m³ para realizar suas sagens, que sofrem a substância no processo de
atividades, trabalha sob pressão constante de 2 transferência de energia e estudá-las, de modo
MPa e retira calor de um sistema a 340 K para separado, para, no fim, juntá-las em um único
280 K. Calcule a massa necessária de amônia ciclo, o chamado ciclo termodinâmico, que vere-
para realizar este serviço. Considere o sistema mos em breve, no decorrer de nossos capítulos.
como gás ideal. Aguardo você no próximo!

78 Trabalho e Calor
1. Um pistão encontra-se preenchido com 4 mols de um gás ideal e, inicialmente,
a uma temperatura de 320 K, este sistema recebe 4600 J de calor e alcança a
temperatura de 400 K. Calcule para esse sistema o trabalho realizado. Considere
(R = 8,314 J/mol.K):
a) -1523,07 J.
b) - 812,37 J.
c) - 609,23 J.
d) 609,23 J.
e) 812,37 J.

1200
2. Um sistema têm sua pressão variando conforme a função P V , sabendo
V2
que ele sofre um trabalho reversível, variando seu volume de 9 m³ até 1,2 m³,
calcule qual será o valor do trabalho para esta transformação.
a) 256 J.
b) 835 J.
c) 1273 J.
d) 1782 J.
e) 7834 J.

3. Em um tanque, existem 12 kg de metano (Cp = 35,94 J/mol.K). Considerando


que ele se encontra, inicialmente, a 300 K, calcule qual será sua temperatura
final se receber 3200 J de calor.
a) 307,42 K.
b) 352,16 K.
c) 406,23 K.
d) 428,97 K.
e) 483,22 K.

79
LIVRO

Fundamentos de Físico-Química
Autor: Gilbert Castellan
Editora: LTC
Sinopse: um curso introdutório de Físico-Química deve apresentar os princípios
básicos aplicáveis a todos os tipos de sistemas físico-químicos. Além da exposi-
ção dos fundamentos, o primeiro curso em Físico-Química toma tantas direções
quantos sejam os professores. Nesta obra, o autor tenta cobrir os fundamentos
e algumas aplicações em profundidade. Todo o material é apresentado de forma,
matematicamente, rigorosa. Todavia não se exigem conhecimentos matemáticos
além do cálculo elementar. Ao longo do livro, utilizou-se quase que, exclusiva-
mente, o Sistema SI. Dessa forma, os resultados dos cálculos físico-químicos
são, enormemente, simplificados.

80
CENGEL, Y.; BOLES, M. Termodinâmica. 5. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

VAN WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmica clássica. 4. ed.
São Paulo: E. Blücher, 2008.

81
1. C.

n = 4� mols
T1 = 320 � K
T2 = 400 � K
Q = 4600� J
J
R = 8, 314
mol.K

Para medirmos o trabalho, utilizamos as relações de Cv para o gás ideal que diz que:

3
Cv = R �
2
Temos, ainda, que:
3 3 J
U nR T2 T1 4 mols 8 314 80 K 3990 72 J
2 2 mol.K
U  Q  W
Substituindo:

3990, 72  4600 W
W  3990, 72  4600
W  609, 23� J

2. D. Dada a equação para o cálculo do trabalho, temos:


V2
W  �   P V  dV
V1

Substituindo, temos:
1,2 120
W dV
9 V²
Integrando, temos:

3
W 1200
3
(9 1, 2)3

82
1
W 3600
729 1, 728

1
W 3600
727, 27
� J
W =�1782
3. A.

m = 12� kg
J
C p = 35, 94
mol.K
T1 = 300 � K
Q = 3200� J
Para o cálculo do calor, temos que:

Q  m.C p .T

Q  m.C p . T2  T1 

Substituindo os valores, teremos:

J
3200 J 12 kg .35, 94 T2 300
mol.K
Calculando o valor de T2, encontramos:

12  35, 94  T2  3200  3600  35, 94 

3200  129384
T2 
431, 28

T2 = 307, 42 � K

83
84
85
86
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Primeira Lei da
Termodinâmica

PLANO DE ESTUDOS

Aplicações da primeira
Balanço de energia para
Lei da Termodinâmica em
sistema aberto.
regime estacionário.

Balanço de energia para Balanço de energia para


sistema fechado. sistema transiente.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Exemplificar as diferentes formas de energia envolvidas • Exemplificar as diferentes formas de energia envolvidas
em problemas termodinâmicos e definir a primeira Lei da em problemas termodinâmicos e definir a primeira Lei da
Termodinâmica para um sistema fechado. Termodinâmica para um sistema transiente.
• Exemplificar as diferentes formas de energia envolvidas • Aplicar equações de balanço de energia em equipamentos
em problemas termodinâmicos e definir a primeira Lei da e processos industriais.
Termodinâmica para um sistema aberto.
Balanço de Energia
para Sistema Fechado

Olá, caríssimo(a) futuro(a) engenheiro(a)! Vi-


mos, até o momento, que, assim como ocorre na
mecânica clássica, em que as energias cinéticas,
potenciais, elásticas e de outras características se
conservam e se transformam para corpos de gran-
des dimensões, em sistemas com moléculas é vá-
lida a mesma regra. Dessas definições, podemos,
por analogia, deduzir uma importante equação
muito utilizada na termodinâmica, a chamada
primeira lei.
Nesta unidade, abordaremos situações de apli-
cação desta lei, em especial, para os casos mais
comuns, na indústria de produção e mecânica:
os sistemas fechados, abertos e transientes. No
decorrer da unidade, partiremos de conceitos de
cálculo diferencial para encontrar equacionamen-
tos que representem estas situações, desde concei-
tos mais simples até a compreensão de sistemas
mais complexos.
Conforme já discutido, anteriormente, o siste-
ma fechado é aquele em que as quantidades más-
sicas são constantes e não ultrapassam a fronteira
do sistema termodinâmico. Observe que, aqui,
tratamos de elementos químicos que possuem
massa, por exemplo, numa usina nuclear ter-
moelétrica, o vapor utilizado nos geradores encontra-se em sistema fechado, pois não
é reposto nem retirado do sistema. Entretanto grandezas energéticas transitam entre
as fronteiras, na forma de calor e trabalho. Isso permite que repensemos a equação
da primeira lei como uma taxa que é dependente do tempo, logo:

U  Q  W

Aplicando a variação dessas grandezas em um tempo infinitesimal, para uma quan-


tidade mássica constante teremos:
dU dQ dW
dt dt dt
dU
Q W
dt
Esta aproximação permite-nos concluir que, para sistemas fechados, as variações de energia
interna dependem apenas das quantidades de calor e trabalho que transitam pela fronteira
termodinâmica. Isso é de grande valia, pois garante que, se nossa massa é constante, as
transformações energéticas são, mais facilmente, mensuráveis a partir do controle e do
dimensionamento das quantidades presentes na equação. Considerando os processos
pelos quais a corrente da substância é submetida, por exemplo, em sistemas fechados e
isolados, adiabaticamente (Q = 0), temos que a variação da energia interna é igual ao tra-
balho sofrido/realizado. Isso vale para sistemas fechados onde todo calor é convertido em
trabalho. Nesses casos, podemos dizer que todo calor adicionado é convertido em trabalho,
ou, de modo matemático, a integral do trabalho realizado corresponde a integral do calor.

Em um sistema fechado, a massa de controle se conserva, entretanto ela pode


passar por vários processos até retornar ao seu estado inicial. A esses processos
termodinâmicos organizados damos o nome de ciclo termodinâmico.

Para que este conceito esteja melhor esclarecido, juntos resolveremos um problema
em regime fechado, utilizando as considerações das transformações termodinâmicas
estudadas anteriormente:

01 EXEMPLO Em determinado sistema fechado, 3 mols de um gás ideal a 2 atm sofre expansão
exotérmica a 400 K até atingir o dobro de seu volume inicial. A partir deste ponto,
o gás perde calor de forma isobárica, atingindo um volume V3= 1,2 V1, retornando,
então, para seu estado inicial de forma adiabática. Calcule para estas condições as
quantidades U, Q e W trocadas. Considere R= 8,314J/mol.K.

UNIDADE 4 89
P
V2 V3
=
T2 T3
2V1 1, 2V1
1 =
400 T3
T3 = 240 K

Preenchendo, dessa forma, a Tabela 3 com as con-


2 dições das variáveis termodinâmicas:
3 P(atm) V(m³) T(K)

V 1 2 V1 400
2 1 2V1 400
Figura 1 - Ciclo termodinâmico (exemplo 1)
Fonte: os autores. 3 1 1,2 V1 240

ΔU Q W Tabela 3 - Condições das variáveis termodinâmicas corre-


lacionadas para o exemplo
1-2 Fonte: os autores.
2–3
Para calcular V1 e obter seu valor numérico, basta
3–1
substituir os valores das variáveis em qualquer um
ciclo dos pontos na equação do gás ideal. Utilizando a
Tabela1 - Energias envolvidas no ciclo
Fonte: os autores.
relação de 1 atm = 1,01.105 Pa, temos:

P1  V1  n  R  T1
Primeiro, calculamos as condições para o gás ideal
nos pontos 1, 2 e 3, segundo o exercício, temos as 2, 02 105  V1  3  (8,134)  400
seguintes características de P, V e T: 3  (8,134)  400
V1 
P(atm) V(m³) T(K) 2, 02 105
1 2 V1 400
V1  0, 049m3

2 2V1 400 P(atm) V(m³) T(K)


3 1,2 V1
1 2 0,049 400
Tabela 2 - Condições de pressão, volume e Temperatura no
ciclo termodinâmico dadas pelo exemplo
2 1 0,098 400
Fonte: os autores.

Para 3 mols de gás ideal, a relação <<Eqn003.


3 1 0,059 240
eps>> e T1=T2 = 400 K, logo:
P 1V1  PV
2 2
Tabela 4 - Valores calculados de pressão, volume e tempe-
ratura para o ciclo termodinâmico do exemplo
2  V1  P2 (2V1 ) Fonte: os autores.
P2  2atm
Agora, podemos preencher a Tabela 4 com as
PV PV
Para a temperatura T3 , temos que 2 2 = 3 3 transformações energéticas no sistema fechado.
com P2=P3 = 2 atm, logo: T2 T3 Perceba que, na Tabela 5, estamos interessados

90 Primeira Lei da Termodinâmica


nas transformações termodinâmicas. De 1 para ΔU Q W
2, por exemplo, diferente da anterior, onde cal- 1-2 0J 6915,39 J - 6915,39 J
culamos condições nos pontos de mudança no 2-3
sistema, e, ao observarmos a passagem do ponto 1 3-1 0J
para 2, verificamos que a temperatura manteve-se
ciclo
constante, indicando que a variação da energia
interna da substância foi nula, ou seja, U1,2  0 . Tabela 6 - Valores das energias envolvidas no processo 1-2
Fonte: os autores.
Também, observa-se que, na mudança de 3 para 1,
ocorre processo adiabático, e, conforme verificado Calculando o processo de 2-3, temos uma pressão
nos capítulos anteriores, essa mudança indica que constante e, nesse caso, o trabalho é dado por:
não há transferência de calor entre as fronteiras
do sistema, ou seja, Q3,1 = 0 . Substituindo estes W   PdV
valores na Tabela 5, obtemos um prévio preen-
W   P V3  V1 
chimento que se finalizará aplicando a primeira
Lei da Termodinâmica: Substituindo os valores, teremos:
ΔU Q W
W  1, 01 105   0, 059  0, 098 
1-2 0J
W  3959, 2 J
2-3
Da mesma forma, ocorre para o cálculo da energia
3-1 0J
Interna:
ciclo
3nR T3  T2 
Tabela 5 - Transformações termodinâmicas do ciclo onde
U 
2
a energia interna é nula
3  3  (8, 314)(240  400)
Fonte: os autores. U 
2
Calculando o processo de 1-2, temos que Q = -W U  5986, 08 J
e W    PdV
Por se tratar de gás ideal e processo isotérmico, Para o cálculo do calor trocado, utilizamos a pri-
podemos descrever a função P(V) como sendo: meira lei:

nRT U  Q  W
P=
V 5986, 08 J  Q  3959, 2 J
E, ao integrá-la para obter o trabalho realizado, Q  9945, 28 J
chegamos em: ΔU Q W
1-2 0J 6915,39 J - 6915,39 J
V 
W  nRT ln  2  2-3 - 5986,08 J - 9945,28 J 3959,2 J
 V1 
3-1 0J
 2V 
W  3   8, 314   400  ln  1  ciclo
 V1 
W  6915, 39JJ Tabela 7 - Valores das energias envolvidas no processo 2-3
Fonte: os autores.
Q  6915, 39 J

UNIDADE 4 91
Calculando o processo de 3-1, temos da primeira ΔU Q W
lei que U  W . E, calculando ∆U 3,1 encontramos: 1-2 0J 6915,39 J - 6915,39 J
2-3 - 5986,08 J -9945,28 J 3959,2 J
3nR(T1  T3 )
U  3-1 5986,08 J 0J 5986,08 J
2
3  3  (8, 314)(400  240) ciclo 0J -3029,89 J 3029,89 J
U 
2 Tabela 9 - Energias envolvidas no ciclo termodinâmico em
U  5986, 08 J sistemas fechados
Fonte: os autores.
Logo:
O exemplo mostra que a variação da energia in-
W = 5986, 08 � J
terna em sistemas fechados depende apenas da
ΔU Q W quantidade de energia vibracional descrita na
forma de temperatura, como ele sempre retor-
1-2 0J 6915,39 J - 6915,39 J
na ao mesmo ponto referencial, a variação da
2-3 - 5986,08 J - 9945,28 J 3959,2 J
energia interna no ciclo sempre será nula para
3-1 5986,08 J 0J 5986,08 J sistemas fechados.
ciclo Durante esse ciclo, o sistema sofreu trabalho e
Tabela 8 - Valores das energias envolvidas no processo 3-1 perdeu calor, pois escolhemos realizá-lo no sen-
Fonte: os autores. tido horário, caso os processos termodinâmicos
tivessem ocorrido no sentido anti-horário (1-
Para o ciclo, basta que somemos os valores das 3,3-2 e 2-1), obteríamos um sistema que reali-
colunas da Tabela 9. zaria trabalho recebendo calor.

SISTEMAS TERMODINÂMICOS

Sistema Aberto Sistema Fechado Sistema Isolado


Transferência de Calor Transferência de Calor Sem Transferência de Calor
Transferência de massa Sem Transferência de Massa Sem Transferência de Massa

92 Primeira Lei da Termodinâmica


Em processos cíclicos e fechados, podemos utilizar sempre as mesmas considerações para facilitar
nossa abordagem. Segue a Tabela 10 onde concatenamos as condições termodinâmicas e suas peculiari-
dades para o gás ideal:
∆U Q W

Vf
Processo W nRT ln
0 Q=-W
isotérmico Vi

Processo 3 n R Tf Ti
Adiabático U 0 W U
2

Processo 3 n R Tf Ti
U Q U 0
isovolumétrico
2

Processo 3 n R Tf Ti
U Q U W W P Vf Vi
isobárico 2

Processo Qciclo Wciclo Wciclo Qciclo


0
cíclico

Tabela 10 - Resumo de Equações para os casos mais comuns em ciclos termodinâmicos Fonte: os autores.

É preciso atenção, caro(a) futuro(a) engenheiro(a), nem todos os processos são fechados, na reali-
dade, a maior parte dos processos do cotidiano são processos em que existe uma grandeza mássica
que circula pela fronteira. Nesses casos, temos os chamados sistemas abertos, neles as quantidades de
energia não dependem apenas de condições P, V e T, mas também das energias potencial, cinética e
interna das moléculas, que transitam no volume de controle, e é sobre esse sistema que trataremos em
nossa próxima aula.

Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
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UNIDADE 4 93
Balanço de Energia
para Sistema Aberto

Nossa abordagem para sistemas fechados inicia-se


com a premissa da 1ª Lei, em que temos:

U 2  U1  Q1,2  W1,2

Digamos que a massa que entra em um volume de


controle varie com tempo, esta situação poderá le-
var a variações tanto no calor quanto no trabalho
realizado no sistema. Por exemplo, um pistão com
entrada e saída de ar à temperatura constante terá
seu volume interno aumentado, ou seja, realizará
trabalho se a massa da entrada for maior que a da
saída. Da mesma forma que o enchimento de um
tanque (volume de controle com fronteira fixa)
com gás à temperatura constante resultará em
aumento de pressão e consequente incremento
no termo de calor do tanque, pois o gás que está
entrando possui energia interna U, que é função
da massa e momento que ele carrega. Matemati-
camente, podemos descrever, em termos mássicos,
a primeira Lei da seguinte forma:
dE
Qsist W sist
dt

94 Primeira Lei da Termodinâmica


Onde E é a soma das energias que o gás carrega para Dentro do termo de energia “E”, temos o acrés-
dentro do sistema, menos as que ele retira, ou seja: cimo ou decréscimo de calor Q, que vêm com a
E 1 2 corrente. Se a energia interna pode ser descrita
i
 U  V  gZ por meio da variação de outras energias, é de ima-
m 2
ginar que podemos extrapolar condições para o
Os termos somados após a parcela de U são re- trabalho no sistema aberto e qual seria a energia
ferentes à energia cinética do gás e sua energia na forma de trabalho que ela carregaria consigo.
potencial nos pontos na entrada e na saída do Se partirmos da definição de trabalho em sistemas
volume de controle. Vale lembrar que o equacio- fechados, temos que:
namento acima foi feito para determinada vazão
W P dV
mássica, portanto, as energias obtidas destes casos
terão sempre um termo mássico realizando a di-
visão, por exemplo (J/Kg). Mas podemos escrever em termos
 de vazão volu-
métrica obtendo W com dV = VdA
i 
W    PVdA

Para o cálculo da velocidade alcançada pelo gás, Integrando a P constante, teremos que o trabalho
é muito útil relembrar as relações entre as va- será descrito por:
zões mássicas e vazões volumétricas, conforme
m
equações a seguir: W PV P
Densidade:
m
V Estas aproximações permitem-nos estimar os va-
Vazão volumétrica: V V A
V lores de calor e trabalho resultantes da corrente
t que podem acumular no processo, dessa forma,
m
Vazão mássica: m V A nossa equação ficará:
t
Vazão mássica/volumétrica: m V Ecorrente 1 i

i
 U    gZ  P  V
m 2V 2

Ao termo U P V damos o nome de entalpia específica (H) dada em J/Kg e facilmente extraída das
tabelas termodinâmicas desde que se tenha condições de temperatura e pressão, logo H esp U P V .
Dessa forma, a energia da corrente passa a ser descrita em função de sua massa, pois a quantidade que
entra no sistema aberto pode ser diferente daquela que sai, da mesma forma que a variação de suas con-
dições de temperatura e pressão garantem outras parcelas de entalpia, energia cinética e potencial, então:
i
 1  
Ecorrente  m  H esp  V 2  gZ 
 2 
i
 1 
  i
 1  
Ecorrente  msai  H esp.2  V2 2  gZ 2   mentra  H esp.1  V12  gZ1 
 2   2 

UNIDADE 4 95
Logo, aplicando este termo à nossa diferencial inicial, teremos:

dE i i
 Q sist  W sist  Ecorrente
dt
dE i i
 1 2  i
 1 2 
 Q sist  W sist  mentra  H esp.1  V1  gZ1   msai  H esp.2  V2  gZ 2 
dt  2   2 

que corresponde ao modelo matemático geral para o balanço de energia em um


sistema aberto. Por mais assustadora que esta equação pareça, ela, comumente, é
simplificada, por meio de considerações iniciais, que são aplicadas aos casos especí-
ficos com o qual nos deparamos na engenharia. Veja o próximo exemplo e entenda:

02 EXEMPLO Numa turbina de condensação, 1500 Kg de vapor superaquecido a 600 K chegam a


cada segundo, por uma entrada de 0,35 m² de diâmetro. Esse vapor é descarregado
em um bocal com 0,8 m² com 80% da vazão mássica de entrada, na forma de líquido
saturado a 450 K. Considerando que este equipamento têm um Q sist  530000 KJ / s e
gera um trabalho de eixo igual a - 3640000 KJ/s, calcule:
A2 = 0,8 m²
T2 = 450 K
1,2 m

A1 = 0,35 m²
T1 = 600 K

Figura 2 - Turbina de Condensação – exemplo 2


Fonte: os autores.

a) O acúmulo de energia neste sistema:


b) Refaça seus cálculos, desprezando as energias potenciais e cinéticas dos va-
pores.

96 Primeira Lei da Termodinâmica


Resolução
a)
mentra 1500kg / s

m sai 0, 8 1500kg / s 1200kg / s


g 9, 81m / s 2
Z1 0m
Z2 1, 2m

Q sist 530000 KJ / s

W sist 36400000 KJ / s
Para calcular as velocidades nos bocais, utilizamos a densidade disponível nas tabelas de vapor para
as condições iniciais:

1  643, 67 kg / m3
 2  973, 24kg / m3

O mesmo foi feito para obter as entalpias específicas:

H esp.1 = 3027, 5 KJ / Kg e H esp.2 = 763, 05 KJ / Kg

Calculando as velocidades, temos:

 m 
 m
V1  entra e V2
sai

1  A1  2  A2

 

V1 = 6, 66 m e V2 = 1, 54 m
s s

Agora basta substituir os valores na equação geral:

dE i i
 1   i
 1  
 Q sist  W sist  mentra  H esp.1  V12  gZ1   msai  H esp.2  V2 2  gZ 2 
dt  2   2 
dE 
 530000 KJ  3640000 KJ  1500 Kg  3027, 5 KJ  6, 66 m
1
   9, 81 m

 0m   1200 Kg
 KJ 
 1, 54   9, 81 m 2 1, 2m  
1
Kg 2 
2 2
s s s Kg 2 s s2 s  763, 05 s
dt   
dE
dt
 530000 KJ  3640000 KJ  1500 Kg 3027, 5 KJ
s s s Kg 
 0, 02218 KJ
Kg
 0  1200 Kg 763, 05 KJ
s Kg 
 0, 00118 KJ
Kg 
 0, 01177 KJ
Kg 
dE
 3110000 KJ  4541283, 27 KJ  915675,554 KJ
dt s s s
dE
 515607, 73 KJ
dt s

Partindo da equação, substituindo os valores e desprezando os termos da energia cinética e potencial,


temos:

UNIDADE 4 97
dE
dt s s s 
 530000 KJ  3640000 KJ  1500 Kg 3027, 5 KJ
Kg
 0, 02218 KJ
Kg  s 
 0  1200 Kg 763, 05 KJ
Kg
 0, 00118 KJ
Kg
 0, 01177 KJ
Kg 
dE
 530000 KJ  3640000 KJ  4541250 KJ  915660 KJ
dt s s s s
dE
 515590 KJ
dt s

Indicando uma diferença percentual de:

515607, 73 KJ  515590 KJ
% s s  0, 0034%
515607, 73 KJ
s
Por este motivo, uma das principais considerações feitas para este modelo é desprezar as grandezas de
energias cinéticas e potenciais. Discutiremos como a equação geral apresentada ficaria para o caso de
sistemas transientes, onde a massa de sistemas abertos é variável, mas este é um assunto para a nossa
próxima aula.

98 Primeira Lei da Termodinâmica


Balanço de Energia
para Sistema Transiente

O regime transiente, termodinamicamente falan-


do, é aquele que ocorre quando temos o enchi-
mento ou esvaziamento de um reservatório, com
um fluido qualquer de condições de entrada ou
saída conhecidas. Nesse modelo, é comum utilizar
algumas considerações para facilitar a aborda-
gem dentre as quais destacamos, em especial, a
consideração de que a massa dentro do sistema
mantém suas condições iniciais para entrada ou
saída, ou seja, possui condições uniformes.
Embora as vazões possam variar no processo,
as condições na saída da fronteira do sistema são
constantes para qualquer intervalo de tempo t,
dessa forma:

dE i i
 1   i
 1  
 Q sist  W sist  mentra  H entra  V12  gZ1   msai  H sai  V2 2  gZ 2 
dt  2   2 

Para os casos de enchimento ou esvaziamento de


tanques, o regime transiente resulta no cancela-
mento de um dos termos, no caso de enchimento
msai  0 e, portanto:

dE i i
 1  
 Q sist  W sist  mentra  H entra  V12  gZ1 
dt  2 

UNIDADE 4 99
Além disso, desprezam-se os termos de energia cinética e potencial, devido às suas
grandezas. O termo de acúmulo, após a integração, é descrito como:
dE
  mentra  msai U entra
dt
dE
  mentra U entra
dt

Logo:
mentra U entra Q sist W sist mentra H entra

Outra aproximação que facilita a abordagem são considerações de que o tanque, em


processo de enchimento, está com fronteiras fixas e sob vácuo, garantindo, dessa for-
ma, que W sist  0, e que o tanque, durante o processo de enchimento e esvaziamento,
comporte-se como um sistema adiabático, logo, Q sist  0. Dessa forma, chegamos à
igualdade apresentada onde:
mentra U entra mentra H entra

U entra H entra

Vejamos o exemplo de esvaziamento de um tanque.

03 EXEMPLO Um tanque com 3 m³ contém amônia saturada a 40 o C, metade do volume desse


tanque está com amônia líquida, e a outra metade com amônia gasosa, abre-se uma
válvula de descarga, no topo do tanque, fazendo o sistema atingir a temperatura de 10
o
C. Considerando o processo adiabático, calcule a massa de amônia que foi retirada
desse tanque na forma de vapor.

ρ V1 ; V V1 ; UV1
ρ V2 ; V V2 ; UV2

ρ L1 ; V L1 ; UL1
ρ L2 ; V L2 ; UL2

Figura 3 - Tanque de Amônia – exemplo 3


Fonte: os autores.

100 Primeira Lei da Termodinâmica


Primeiro, verificamos, nas Tabelas de vapor, quais as condições de entalpia para o
vapor de amônia nas condições iniciais e finais do processo, ou seja:

H 40C V  1470, 20 KJ U 40C V  1341 KJ


Kg Kg

H10C V  1452 KJ U10C V  1099, 7 KJ


Kg Kg

Da mesma forma, temos para o líquido:

U 40C  L  368, 7 KJ U10C  L  226 KJ


Kg Kg
Nas condições iniciais de 40o C

1kg
 40C vap   12, 03 kg 3  12, 03 kg 3 (0, 5)  3m3  18, 04kg
0, 08313m 3
m m
1kg
 40C liq   579, 71 kg 3  579, 71 kg 3 (0, 5)  3m3  869, 56kg
0, 001725m 3
m m

Logo, a massa inicial do sistema é igual a 887,60 Kg.


Em processos transientes de enchimento ou esvaziamento, uma das considerações
feitas é que, durante o processo, a taxa de entalpia envolvida é constante, o que resulta
numa entalpia média entre as condições final e inicial. Calculando a entalpia média
envolvida no processo de esvaziamento, encontramos o seguinte valor:

1470, 2  1452 KJ KJ
H proc   1461,1
2 Kg Kg
Conforme visualizado nos processos transientes, temos que:
U proc  H proc
U10C m2  U 40C m1  H proc  m2  m1 

Como temos a massa inicial, podemos calcular a energia interna e entalpia inicial
do sistema:

U 40C m1  18, 04  (1341)  869, 56  (368, 7)


U 40C m1  344798, 41KJ
H procm1  1461,1 KJ  887, 60 Kg
Kg
H procm1  1296872, 36 KJ

UNIDADE 4 101
A complexidade desse sistema reside em m2, pois ela modifica o volume e as condições
finais do tanque. Para calcular quem é essa massa a 10o C, consideramos a massa e
a energia interna envolvidas na parcela x do líquido, na condição final que se trans-
forma em gás, ou seja, a energia interna e a densidade do equilíbrio líquido-vapor,
que, segundo as tabelas termodinâmicas, é:

1Kg
10C vap   4, 91 Kg 3
0, 20381m 3
m
1Kg
10C liq   625 Kg 3
0, 0016m3 m

 mist10C 
1 Kg
 0, 0016  x  0, 20381 m
3

 mist10C 
1 Kg
0, 20381(0, 00785  x) m3

Portanto, m2 é obtido multiplicando a equação pelo volume total ocupado pela mistura:

m2 
1 Kg (3m3 )
0, 20381(0, 00785  x) m3
 14, 72 
m2    Kg
 0, 00785  x 

De forma análoga, calculamos U10⋅C

U10C  U10C  L  U10C  L /V  x


U mist10C  226  1099, 7  x

Substituindo estes valores nos equacionamentos, teremos:

U10C m2  U 40C m1  H proc  m2  m1 


m2 (U mist10C  H proc )  m1 (U 40C  H proc )
m2 (U mist10C  H proc )  344798, 41  1296872, 36
14, 72
(226  1099, 7  x  1461,1)  952073, 95
0, 00785  x
14, 72(226  1099, 7  x  1461,1)  952073, 95 x  7473, 78
226  1099, 7 x  1461,1  6458, 83 x  507, 73
6458, 83 x  1099, 7 x  507, 73  226  1461,1
727, 37
x  0, 096
7558, 53

102 Primeira Lei da Termodinâmica


Encontramos, então, a massa m2 igual a:

 14, 72 
m2     141, 74 Kg
 0, 00785  0, 096 

Logo, a massa que gás que escoou do tanque é igual a:

msai  m1  m2  887, 60  141, 74  745, 86 Kg

O equilíbrio líquido vapor é uma condição em que coexistem vapor e líquido, nesta
condição, a diferença entre a energia contida em um vapor saturado e num líquido
saturado vezes o título, ou percentual volumétrico, das grandezas de energia e
massa é utilizada para descrever o sistema termodinâmico.

Assim como estudado, para o regime transiente, podemos aplicar o balanço termo-
dinâmico em processos em que a massa de entrada e saída sejam iguais, mas tragam
consigo energia na forma de calor, e a esses regimes damos o nome estacionário. O
regime estacionário é um dos mais comuns em processos químicos e, por este motivo,
muitos dos equipamentos mecânicos industriais foram modelados com considerações
que veremos a seguir, na próxima aula.

UNIDADE 4 103
Aplicações da Primeira
Lei da Termodinâmica
em Regime Estacionário

Conforme visto na aula anterior, a energia que


fluiu em um sistema pode ser contabilizada, por
meio da utilização da Primeira Lei da Termodinâ-
mica, e, levando em consideração a energia que a
corrente de processo carrega consigo, vimos, nes-
tes capítulos, que são dois os principais modelos
de transferência de energias. O primeiro estudado
foi que a massa varia ao longo do tempo, o chama-
do regime transiente, entretanto, nos equipamen-
tos mecânicos, o processo mais comum de ocorrer
é o estacionário, ou permanente, cuja vazão de
entrada é igual à de saída, mas suas condições
iniciais e finais de quantidades de energia variam
com as condições das correntes.
Com base nos modelos termodinâmicos, os
equipamentos mecânicos foram projetados e po-
dem ser modelados, matematicamente, levando
em consideração algumas variáveis e desprezando
outras. Nessa aula, veremos os principais equipa-
mentos modelados para o estado estacionário e
como o balanço se ajusta em cada um dos casos.

104 Primeira Lei da Termodinâmica


• Trocador de Calor: um dos principais equipamentos mecânicos, amplamente utilizados em
processos químicos e físicos, pois permite o trânsito de energia térmica se valendo de conceitos
de condução de calor entre metais e diferença de entalpias entre correntes. O principal tipo de
trocador de calor é o de contra-corrente cuja diferença de temperatura das correntes por todo
o equipamento é mais uniforme.

A seguir, vemos um exemplo clássico de trocador de calor, em que o calor latente de condensação é
transferido a um fluído, por meio de condução dos metais na forma de tubos.
SAÍDA DO FLUIDO
Termodinamicamente, o equi- DE PROCESSO Vapor CONDENSADOR
pamento é entendido como Cabeçote
Casco de entrada
um sistema estacionário onde
as vazões de entrada e saída são
iguais, e suas temperaturas tam-
Quente Frio
bém, dessa forma, consideramos
que a entalpia das correntes na
entrada é igual à entalpia das Cabeçote Tubos do
de saída feixe tubular CONDENSADO
correntes na saída. Logo, consi-
dera-se não haver trabalho no ENTRADA DO FLUIDO
DE PROCESSO
sistema e desprezar as energias Figura 4 - Croqui básico de um trocador de calor casco-tubo e suas correntes
cinética e potencial dos líquidos: Fonte: Consulteq (2020, on-line)¹.

dE i i
 1   i
 1  
 Q sist  W sist  mentra  H esp.1  V12  gZ1   msai  H esp.2  V2 2  gZ 2 
dt  2   2 
i i
 Q sist  mentra  H esp.1   msai  H esp.2 

No estado estacionário, mentra = msai , então:

mentra ( H 2  H1 )  Qsist

Se consideramos que todo este calor foi absorvido pelo outro fluido, teremos a corrente dos fluidos 1
igualada com a do fluido 2:
mI ( H I  2  H I 1 )  Qsist  mII ( H II 1  H II  2 )
mI ( H I  2  H I 1 )  mII ( H II 1  H II  2 )
Vejamos o exemplo aplicado para esclarecer as ideias.

UNIDADE 4 105
04 EXEMPLO Um gás proveniente de queima flui em um casco numa vazão de 350 kg/s e com
entalpia inicial de 3780 KJ/kg. Dentro dos tubos, temos água de alimentação numa
vazão de 1400 kg/s e entalpia inicial de 500 KJ/kg. Sabendo que o gás sai com ental-
pia final igual a 360 KJ/kg, calcule a entalpia da corrente de água de alimentação na
saída do equipamento. H I 1  3780 KJ
Kg
mI = 350 Kg H II 1  500 KJ
s Kg
mII = 1400 Kg H II  2  ?
s
H I  2  360 KJ
Kg

350(360  3780)  1400(500  H II  2 )


 H II  2  0, 25(360  3780)  500
H II  2  1355 KJ
Kg
Estas entalpias podem, ainda, ser obtidas das tabelas de vapor desde que se conheçam
as condições de pressão e temperatura do fluido bem como em que fase se encontra.
Há, ainda, a possibilidade de aproximar esse valor utilizando as relações para Calor
Latente e Sensível, por meio das variações de temperatura de conhecendo os Cps e Cvs.
• Acidentes de linha - Bocal (redução): é uma construção mecânica em que
o gás, ou vapor, sofre aceleração quando passa por ela. A equação geral do
balanço, nestes casos, é simplificada, considerando não ocorrer trabalho no
sistema e garantindo que o bocal é isolado, isto é, não troca calor. Também é
comum considerar nula a energia potencial e a variação de trabalho, e, como
a intenção das reduções é transformar a energia do fluido em velocidade con-
sidera-se apenas essas grandezas no balanço, logo, a equação obtida é:
 
V 2
V2
H1  1  H 2  2
2 2
Lembrando que, se conhecemos as condições do vapor (P e T) na entrada
e na saída, pela tabela termodinâmica encontramos H1 e H2, com isso, basta
saber a vazão do fluido e do diâmetro na entrada ou na saída para descobrir
o valor da velocidade.
• Acidentes de linha - Bocal (difusor): tem a mesma construção de um bo-
cal, mas, dessa vez, o fluido passa em sentido oposto, ou seja, diminuindo sua
velocidade, logo, seu equacionamento é similar ao do bocal.
• Acidentes de linha – Válvula (estrangulamento): numa válvula de estrangu-
lamento, assumimos condição diferente dos casos apresentados. Nos modelos
anteriores, as entalpias foram transferidas na forma de energia cinética, em
uma válvula de estrangulamento, e essas condições resultam em mudança de

106 Primeira Lei da Termodinâmica


fase (líquido – vapor) ou (vapor-líquido). Estes tipos de válvulas são muito
utilizados em processos de refrigeração, e, como a velocidade em válvulas de
estrangulamento é, praticamente, igual, resta ao balanço definir a igualdade
entre as entalpias, do vapor superaquecido a montante da válvula e do vapor
saturado a jusante dela. Isso é feito, igualando suas entalpias:
H1 = H 2

Vejamos o exemplo a seguir para elucidar as ideias discutidas.

05 EXEMPLO Num sistema de refrigeração com fluido refrigerante, temos a montante da válvula
líquido comprimido com 49,92 psia e 40 oF. Ao passar por uma válvula de estran-
gulamento, verifica-se que sua pressão foi reduzida a 21,31 psia. Utilizando a tabela
termodinâmica para encontrar as entalpias nessas condições, calcule o título de vapor
na saída da válvula.
De acordo com as condições dadas, temos:
Para o líquido comprimido (49,92 psia e 40º F):

H1L  88, 56 Btu lbm

Para o vapor saturado (21,31 psia):

H 2L 75, 92 Btu lbm

H 2L V 90, 66 Btu lbm


H2 H 2L x H 2L V

Dessa forma, nossa equação será:

H1  H 2
H1L  H 2 L  x  H 2 L V
88, 56 Btu lbm  75, 92 Btu lbm  x  90, 66 Btu lbm
(88, 56  75, 92)
x
90, 66
x  0,1394ou13, 94%

• Turbina: um dos principais equipamentos nas plantas termoelétricas de


produção de energia, a turbina tem como função transformar a entalpia da
corrente de vapor em trabalho de eixo, que servirá como força motriz para
manter um campo eletromagnético e gerar energia.

UNIDADE 4 107
VOLUME DE CONTROLE
TURBINA A VAPOR

GERADOR

Figura 5 - Esboço de um Turbo-gerador, conjunto de turbina e gerador elétrico


Fonte: Zanardo (2018, on-line)².

Em uma turbina, as variações de energia cinética do vapor e de energia potencial


podem ser, facilmente, desprezadas, bem como o calor perdido para a vizinhança,
pois se trata de equipamento isolado e adiabático, restando, portanto, nesta análise,
apenas a relação em que o trabalho gerado é igual à diferença de entalpias na entrada
e na saída do equipamento, ou seja:

0 Wsist mentra ( H esp.1 H esp.2 )

Wsist mentra ( H esp.2 H esp.1 )

06 EXEMPLO Certa Turbina recebe vapor superaquecido a 30000 kPa e 400 o C, a vazão mássica
deste equipamento é constante e igual a 1000 Kg/s. Na saída da turbina, temos vapor
saturado a 100% de título de vapor e 1500 kPa. Calcule o trabalho gerado por essa
turbina, desconsiderando as energias potenciais e cinéticas e considerando o equi-
pamento adiabático.
Nas condições dadas, temos:

Wsist m( H 2 sat H1sup )

Para o vapor superaquecido (30000 kPa e 400 o C):

H1sup  2125, 04 KJ Kg

108 Primeira Lei da Termodinâmica


Para o vapor saturado (1500 kPa):

H 2 s at  2792,15 KJ Kg

Substituindo e calculando, temos:


Wsist 1000 Kg s (2792,15 2151, 04) KJ Kg

Wsist 641110 KJ s

• Compressor (bomba): são elementos que adicionam ao fluido trabalho, vi-


sando aumentar sua pressão para que alcancem posições favoráveis a manter
um ciclo de transformações numa central de potência, os tipos mais comuns
são os compressores para os gases e as bombas para condensados e líquidos.
A aplicação é similar à verificada para a turbina, nestes equipamentos, o tra-
balho transferido ao fluido é igual à diferença de entalpia das correntes antes
e depois do equipamento. Desprezando suas energias potenciais e cinéticas e
considerando o equipamento adiabático, teremos:
Wsist mentra ( H esp.2 H esp.1 )

que é similar ao que ocorre na turbina, a diferença deverá ser expressa no


valor do trabalho que é cedido ao fluido, já que a turbina retira esse trabalho
do referido fluido.

07 EXEMPLO Vapor saturado a 100% de título de vapor e 1500 kPa, expelido por uma turbina é to-
talmente condensado em um trocador de calor e se transforma em líquido saturado na
mesma condição de pressão. Se um compressor recebe 1000 kg/s desse líquido e cede
a ele 250000 kJ/s de trabalho, calcule a condição do líquido na saída do compressor:
Para o vapor saturado (1500 kPa):

H 2 LSAT  844, 87 KJ Kg

Substituindo e calculando, temos:

250000 KJ s  1000 Kg s (844, 87  H 2 LSAT ) KJ Kg


250 KJ Kg  (844, 87  H 2 LSAT ) KJ Kg
H 2 LSAT  (844, 87  250) KJ Kg
H 2 LSAT  1094, 87 KJ Kg

Observando a tabela termodinâmica, para o líquido saturado, a entalpia mais próxima


é a de 4000 kPa, que equivale a 1087,29 kJ/kg. Também se pode utilizar técnicas de
interpolação de valores para estimar estas condições.

UNIDADE 4 109
• Central de potência (Caldeira): rias no processo, utilizando essas técnicas,
Todos os equipamentos estudados até o por exemplo: é melhor trabalhar com duas
momento nos revelam que as necessidades ou uma turbina? As correntes de pré-aque-
energéticas dependem, exclusivamente, de cimento em trocadores de calor diminuirão
uma fonte onde se possa transferir a energia meu gasto com combustível em caldeiras?
da queima de um combustível ao líquido. Perguntas como estas são particulares de
Para manter este ciclo, é importante que processos térmicos e só serão respondidas
se calcule equipamento por equipamento, caso a caso, conforme as considerações que
acidente de linha por acidente de linha, (bo- o engenheiro mecânico levar em conta no
cais, difusores e válvulas) bem como turbi- seu balanço. Da mesma forma a eficiência
nas, trocadores e compressores, pois eles do processo de transformação de energia
revelarão o quanto nossa caldeira deverá em trabalho, que será o tema da nossa pró-
queimar. Também é possível propor melho- xima unidade. Aguardo você lá!

110 Primeira Lei da Termodinâmica


1. Em certo sistema de produção de energia, uma caldeira cede calor, isobaricamen-
te, a 180 kPa para 100 mols de um vapor, aumentando o volume ocupado pelo
vapor em três vezes. Esse vapor passa por uma turbina, onde gera trabalho de
forma adiabática, entregando, na saída do equipamento, uma corrente com 300
K de temperatura. Essa corrente da saída da turbina passa por um trocador de
calor que opera, isotermicamente, e a condensa para que ela retorne à caldeira.
A pressão na saída do trocador é igual a 45 kPa, conforme as imagens a seguir.
Calcule as energias envolvidas nesses processos ∆U, Q e W, considerando que
o sistema encontra-se em regime fechado. Considere o modelo do gás ideal e
R = 8,314 J/mol.K.

1
Q

Fonte: os autores.

111
P

1
2

V
ΔU(kJ) Q(kJ) W(kJ)
P(kPa) V(m³) T(K)
1-2
1 180 V1 300
2-3 0
2 180 3V1
3 -1 0
3 45 300
ciclo

Fonte: os autores.

a) ∆U = 0 kJ Q = -901,5 kJ W = 901,5 kJ.


b) ∆U = 0 kJ Q = 901,5 kJ W = -901,5 kJ.
c) ∆U = 0 kJ Q = 748,26 kJ W = -748,26 kJ.
d) ∆U = 748,26 kJ Q = 1247,22 kJ W = -1247,22 kJ.
e) ∆U = 0 kJ Q = 1246, 26 kJ W = -1247,26 kJ.

112
2. Um tanque de 50 m³ encontra-se, completamente, vazio, e, em determinado
instante, ele passa a ser cheio com uma corrente de metano (CH4), após a entrada
deste gás, o tanque atinge a temperatura de 160 o C. Sabendo que a entalpia do
processo é igual ao calor sensível envolvido de 362000 kJ, calcule a temperatura
inicial do sistema, considerando que:

kg
CH 4  0, 65
m3
kJ
CpCH 4  35  0, 04T
kmol.K
a) 160 oC.
b) 112 oC.
c) 8 oC.
d) – 106 oC.
e) – 154 oC.

3. Uma corrente de 1,4 kg/s de leite à temperatura de 49ºC entra em um trocador


de calor, onde é aquecido por uma corrente com 0,6 kg/s de calda de açúcar a
90 ºC, e, neste processo, todo calor trocado se transfere da calda para o leite.
Desconsiderando as perdas no processo de condução, calcule a temperatura
que o leite alcançará na saída do trocador de calor. (Cleite= é 3,89 KJ/kgºC) e
(Ccalda = 0,71 KJ/KgºC).
a) 43,21 oC.
b) 52,35 oC.
c) 87,02 oC.
d) 93,26 oC.
e) 102,08 oC.

113
WEB

Uma das principais dificuldades dos engenheiros que simulam os balanços em


equipamentos térmicos é encontrar dados sobre as condições do vapor e do
líquido do processo. Esses dados estão disponíveis, por meio da utilização das
condições de contorno do sistema no site TLV, e você pode acessar por meio
do QRcode. Nele, também, é possível calcular vazões para estimar velocidades
em sistemas mais complexos.

114
REFERÊNCIAS ON-LINE

¹ Em: https://consulteq.com.br/trocadores-de-calor/. Acesso em: 15 fev. 2021.

² Em: http://www.zanardo.com.br/conteudo/protecao-adicional-para-turbinas-a-vapor.html. Acesso em: 15


fev. 2021.

115
1. B.

Calculando as condições para os pontos termodinâmicos:

Ponto 1 (como T1  T3  300 K ), teremos:


P.V = n.R.T
180 kPa V1 831 4 300
180.V1  831, 4 300
249 42 kJ
V1   1 386 m³
180 kPa

Ponto 2 (como P1 = P2 ), teremos:


V1 T1
=
V2 T2
V1 300
=
3V1 T2
T2  900 K
Encontramos as condições em 3, a partir da seguinte equação:

PV
3 3 = n.R.T3

45 V3   100.  8, 314  .300

100.  8, 314  .300


V3 
45
249 42 kJ
V3   4 157 m³
45 kPa

Dessa forma, nossa tabela ficará:

P(kPa) V(m³) T(K)

1 180 1,386 300


2 180 4,158 1200
3 45 5,543 300

116
Para o cálculo das energias envolvidas no processo, temos:

de 1 - 2 (pressão constante), então:

3nR T 3 100 8, 314 900 300


U1 2 748 26 kJ
2 2

W1 2 P V 180 4,158 1, 386 498 96 kJ

U1 2 Q1 2 W1 2

Q1 2 U1 2 W1 2

Q1 2 748 26 kJ 498 96 kJ

Q1 2 1247 22 kJ

de 2 - 3 ( processo adiabático onde Q = 0), então:

3nR T 3 100 8, 314 300 900


U2 3 748 26 kJ
2 2
W23  U 23

W2 3 748 26 kJ

de 3 - 1 ( processo é isotérmico, então, ΔU = 0), então:

U1 2 Q1 2 W1 2

Q3 1 W3 1

V 
W31  n.R.T .ln  1 
 V3 

 1, 386 
W31  100.8, 314.300.ln  
 5, 543 
W3 1 345 72 kJ
Q3 1 345 72 kJ

117
Dessa forma, a tabela das energias ficará:

ΔU(kJ) Q(kJ) W(kJ)

1-2 748,26 1247,22 -498,96


2-3 -748,26 0 -748,26
3 -1 0 -345,72 345,72
ciclo 0 901,5 -901,5
2. D.
Tf Tf
Q   mCpdT Q  V .CH 4  CpdT
Ti Ti

433
362000 kJ 50 0, 65 35 0, 04T dT
Ti

0, 04T f 2 0, 04Ti 2
362000 kJ 32 5 35T f 35Ti
2 2

 0, 04  433 ²  
11138, 46   35  433  
  35Ti  0, 02Ti
2

 2  


11138, 46  15155  3749, 78   35Ti  0, 02Ti 2  

11138, 46  11405, 22   35Ti  0, 02Ti 2 

266, 76   35Ti  0, 02Ti 2 
0, 02Ti 2  35Ti  266, 76  0
Ao resolver o polinômio, encontramos as seguintes raízes:

Ti  167 K ouTi  8 K
Como a segunda opção encontra-se próximo do zero absoluto, desprezamos essa resposta assumindo
como verdadeira a temperatura de:

Ti ' 167 273 106 o C

118
3. C

0  mleite .Cleite T f  Ti   mcalda .Ccalda T f  Ti 

mleite .Cleite T f  Ti   mcalda .Ccalda T f  Ti 

Substituindo os valores, teremos:

kg kJ kg kJ
1, 4 .3, 89 0 T f 90 0, 6 .0, 71 0 T f 49
s kg C s kg C

5, 446 T f  90   0, 426 T f  49 

5, 446T f  0, 426T f  490,14  20, 874

5, 872T f = 511, 014

T f  87 02 0 C

119
120
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Segunda Lei da
Termodinâmica

PLANO DE ESTUDOS

Processo O Ciclo
Reversível de Carnot

Definição da Segunda Lei Processo


da Termodinâmica Irreversível

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Conceituar e analisar os fenômenos relacionados à taxa • Introduzir os conceitos de eficiência, energia disponível
de variação de entropia para volumes de controle. e irreversibilidade de processos, a partir de balanços de
• Apresentar as considerações impostas em processos ter- energia e entropia para sistemas abertos e fechados.
modinâmicos que permitam deduzir expressões matemá- • Expor o Ciclo de Carnot e examinar seus princípios.
ticas para processos reversíveis em regime permanente
para escoamentos simples.
Definição da Segunda
Lei da Termodinâmica

Olá, caro(a) aluno(a), até esse momento, aprende-


mos muito sobre os processos termodinâmicos,
em especial, na unidade anterior, vimos que, de
acordo com a Primeira Lei da Termodinâmica
e as considerações corretas, vários equipamen-
tos podem ser descritos como sistemas em que
certas grandezas físicas podem ser consideradas
constantes ou nulas. Entretanto, ao aprofundar-
mos nossos conhecimentos nesta unidade que
se inicia, veremos que, nos processos reais, essas
condições e considerações não são válidas, mas
são utilizadas como forma de obtenção de equa-
ções que representam uma realidade.
Aqui, veremos que os sistemas termodinâmi-
cos são classificados, conforme nossas considera-
ções iniciais, em ciclos reversíveis e irreversíveis,
e esta consideração está embasada numa variável
nova que será estudada: a entropia.
É com base nos conceitos e nas definições de
entropia que o estudo e o desenvolvimento de
máquinas térmicas reais foram desenvolvidos na
termodinâmica, daí a relevância do estudo sobre
transferência de calor para a engenharia. Nesta uni-
dade, definiremos as principais diferenças entre os
ciclos chamados reversíveis e irreversíveis, tratando
desta nova variável, a entropia dos sistemas.
Na Primeira Lei da Termodinâmica, vimos Outra restrição que a 2ª Lei apresenta é a de
que os sistemas de transformação energética das que, apesar das grandezas de calor e trabalho
substâncias sofrem modificações que são, direta- possuírem as mesmas unidades, elas não são,
mente, relacionadas à energia disponível em suas totalmente, conversíveis em outras formas de
moléculas, a energia interna. Essa energia pode energias. Por mais controlados que sejam os
ser transformada em calor que flui para dentro sistemas, a qualidade da energia do trabalho é
ou para fora de um sistema, ou em trabalho, que maior que a do calor, já que ele pode ser con-
resulta em uma expansão ou contração das fron- vertido, quase que em sua totalidade, na forma
teiras do sistema termodinâmico. de energias potenciais e cinéticas e, mesmo em
Esta abordagem, no entanto, não define um sen- calor, conforme demonstrado por experiências
tido para que essas transformações ocorram, pois, como as de Joule-Thompson. Já o calor sofre
de acordo com a mecânica do movimento, nem um efeito que inviabiliza sua total conversão
sempre as transferências energéticas ocorrem no em trabalho, e, segundo Smith et al. (2007), por
sentido proposto para o ciclo. Segundo Van Wylen mais ajustadas que sejam as máquinas térmicas,
(2008), são possíveis ciclos termodinâmicos em que aproximadamente, 40% do calor cedido pode
calor e trabalho ocorrem no mesmo sentido e em ser convertido em trabalho. Reconhecendo es-
sentidos opostos, ambos obedecem à 1ª Lei, mas tas considerações resultantes da observação de
não obedecem à 2ª Lei, e, para que um ciclo seja processos termodinâmicos reais é que os autores
real, ele deve obedecer à primeira e à segunda lei. propuseram o seguinte enunciado para descre-
A 2ª Lei da termodinâmica diz que o calor flui ver a 2ª Lei:



sempre do corpo de maior temperatura (Tq) para o
de menor temperatura (Tf), ou seja, não é possível I – Nenhum equipamento pode operar
que uma máquina térmica funcione retirando calor de tal forma que seu único efeito do sis-
de uma fonte de temperatura menor e desprezando tema sobre a vizinhança seja a conver-
esse calor para uma fonte de temperatura maior, são completa de calor em trabalho. (é
pois, dessa forma, ela estaria violando a 2ª Lei. impossível converter todo calor cedido
em trabalho realizado num ciclo termo-
dinâmico real)
II – Nenhum processo termodinâmico
A Entropia está, intimamente, ligada à ideia de natural é possível se este se propõe a re-
tempo e irreversibilidade dos processos, assim tirar calor de um reservatório mais frio
como podemos estudar a teoria da viagem no para rejeitá-lo em uma fonte de tempera-
tempo, observando conceitos da cinética e mo- tura superior (SMITH et al., 2007, p. 118).
vimento, podemos correlacionar a entropia dos
processos termodinâmicos com essa área. Saiba Para compreender melhor esta dinâmica da con-
mais acessando o vídeo disponível no link a seguir: versão de trabalho e calor, utilizaremos o exem-
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/6351 plo descrito por Van Wylen (2008). Imagine um
sistema conforme a figura a seguir:

UNIDADE 5 123
Gás Gás

W Q
Figura 1- Elevação de peso em um sistema com temperatura T
Fonte: Van Wylen (2008, p. 116).

Neste processo, temos um gás, inicialmente, a uma Imagine agora que para processos perfeitamente
temperatura Ti e um peso acoplado a um eixo com reversíveis a temperatura seja constante, portanto
uma pá giratória dentro do sistema termodinâmi- T=2 T=1 T e Q2  Q1  Qrev dessa forma a nossa
co. Esse peso possui energia potencial e, no tempo variável de entropia seria definida para processos
t=0, ele é abandonado, transferindo sua energia reversíveis como sendo:
potencial para a pá, na forma de trabalho con-
Qrev
vertido em calor, no gás que se encontra dentro DS =
T
do sistema. Agora, imagine o processo seguindo
na direção contrária. Se aquecermos o sistema, O estudo dos ciclos baseado nesta propriedade
ou seja, transferirmos calor para o gás, o sistema permite-nos considerar que, para ciclos irreversí-
atingirá uma temperatura Tf que é diferente da veis, o trabalho gerado é igual ao calor reversível,
inicial, mas não elevará o peso à posição inicial, enquanto que, em ciclos irreversíveis, surgirá neste
indicando que, apesar de obedecer à 1ª Lei, ele não desenvolvimento uma parcela de calor irreversível
cumpre os requisitos da 2ª Lei. indicando o rendimento ou a eficiência do ciclo
Este aumento de temperatura indica que a termodinâmico. Ao sabermos as condições pon-
energia térmica foi convertida em uma energia tuais e as transformações do ciclo termodinâmico,
que ficou contida nas moléculas do sistema, como podemos calcular sua entropia e, por consequên-
para o sistema a energia interna é nula, conforme cia, a eficiência do processo.
a 1ª Lei. Definimos essa energia para processos Vejamos, agora, como funciona uma máquina
irreversíveis como sendo a entropia (S) essa en- térmica que cumpre com as leis termodinâmicas.
tropia é definida como: Considere a seguinte ilustração em que a máquina
absorve calor de uma fonte numa temperatura T2,
Q2 Q1
S2  S1   transforma parte desse calor em trabalho W e des-
T2 T1
preza o restante numa fonte fria de temperatura T1.

124 Segunda Lei da Termodinâmica


Fronteira do sistema
Da mesma forma, é impossí-
Reservatório de alta temperatura vel construir uma máquina que
retire calor de uma fonte fria e o
QH QH despreze para uma fonte quen-
te, sem que realize trabalho neste
WIRR = QH – Q’L
Máquina Máquina
Wlíq. = QL – Q’L
irreversível reversível meio, a esse enunciado, damos o
nome de enunciado de Clausius:
WREV = QH – QL
“É impossível construir um dis-
Q’L QL positivo que opere em um ciclo
termodinâmico e não produza
Reservatório de baixa temperatura
ouros efeitos além da transferên-
Figura 2- Representação de uma máquina térmica cia de calor de um corpo mais
Fonte: Van Wylen (2008, p. 122). frio para um corpo mais quente”.
Estes enunciados definem as
Veja que a máquina em questão obedece às leis termodinâmicas, pois duas máquinas impossíveis tanto
converte parte da energia disponível na forma de calor em trabalho para os refrigeradores (Enuncia-
útil e despreza parte dessa energia em uma fonte fria para manter o do de Clausius) quanto para os
sistema otimizado trabalhando de modo a produzir sempre a mesma motores térmicos (enunciado
quantidade de trabalho. A observação da figura apresentada permite de Kelvin-Planck). Elas dizem,
definir o rendimento de uma máquina térmica como sendo a razão de modo simplificado, que sem-
entre o calor transformado em trabalho e o calor disponível na fonte pre que se adicionar energia na
quente. Esse calor transformado em trabalho nada mais é do que a forma de calor ou trabalho em
diferença entre os calores da fonte quente e fria, que resulta em: uma máquina térmica, ela não se
converterá totalmente na outra
W Q2 Q1 Q1
µtérmico 1 forma, assim, uma parcela dessa
Q2 Q2 Q2
energia será direcionada para
As principais máquinas térmicas que podem ser avaliadas nestes outra fonte diferente da que veio.
processos termodinâmicos são os motores térmicos (sistemas que Sabendo disso, devemos reor-
retiram energia de fontes de maior temperatura e transformam parte ganizar nossa equação de rendi-
dessa energia em trabalho) e os refrigeradores cujo interesse é realizar mento para os refrigeradores,
o ciclo em sentido oposto, ou seja, retirar calor de uma fonte fria e o pois, se observarmos o que está
transferir a uma fonte quente. Esse processo se dá de forma forçada, apresentado, podemos retirar
por meio da adição trabalho ao sistema. mais calor de uma fonte quen-
Dessas considerações é que se definiram os enunciados de Kelvin- te apenas adicionando menores
-Planck, que unem e contextualizam as duas leis da termodinâmica, quantidades de trabalho, o que
descrevendo situações em que não é possível a transferência de calor não corresponde à realidade. De
e muito menos seu total aproveitamento na forma de trabalho. Na forma análoga ao que foi pensa-
sequência, descrevemos a lei para que fique mais claro: “É impossível do para os motores térmicos,
construir um dispositivo que opere num ciclo termodinâmico e que definimos a eficiência de um re-
produza outros efeitos além do levantamento de um peso (trabalho), frigerador como sendo o inverso
e a troca de calor com um único reservatório térmico”. do motor térmico:

UNIDADE 5 125
Q2 Q2 Q2
µrefrigerador 1
W Q1 Q2 Q1

01 EXEMPLO Certo sistema termodinâmico atua de forma a retirar de certa fonte de calor a energia
de 34500 kJ para a produção de trabalho, após passar por essa máquina, o residual
de 12500 kJ é dispensado numa fonte fria, sabendo disso calcule:
b) O rendimento térmico dessa máquina e a quantidade de trabalho, em kJ,
realizado por ela.
c) Para um mol gás fluindo por esse equipamento, qual será a temperatura da
fonte fria, sabendo que a fonte quente se encontra a 425 K? (Considere R=
143 kJ/mol.K).

Resolução
a) Calculamos o rendimento dividindo o trabalho (W) realizado pela máquina
pelo calor cedido a ela. Como esse trabalho é igual à diferença entre os calores
cedido e recebido pelas fontes, temos:
W Q2 Q1 Q1
µtérmico 1
Q2 Q2 Q2
W Q2 Q1 34500 12500 22000 KJ

Portanto o rendimento dessa máquina térmica será de:


| W | 22000
µtérmico    0, 6377 ou 63, 77%
Q2 34500

b) O calor cedido e recebido pelas fontes pode ser considerado como sendo:
Q  n  C p T1  T  e Q2  n  C p T2  T 
Q2  Q1  n  C p T2  T   n  C p T1  T 
22000  n  C p (T2  T  T1  T )
22000  (1)(143)(425  T1 )
153, 84  (425  T1 )
T1  425  153, 84
T1  271, 16 K

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126 Segunda Lei da Termodinâmica


Processo
Reversível

Segundo Smith et al. (2007), um processo é con-


siderado como reversível quando a direção das
energias envolvidas num processo de transfor-
mação calor/trabalho pode ser revertida para
qualquer ponto por uma variação infinitesimal.
Imagine um pistão onde um cilindro realiza
trabalho por meio da expansão de um gás, so-
bre esse pistão temos vários corpos de massa m,
conforme indica a Figura 3, o processo será re-
versível se, ao retiramos uma massa m, o sistema
expandir, realizando trabalho até o ponto 2, sem
sofrer atrito, ou perder energia de qualquer forma
para a vizinhança. Em se tratando de processo
reversível, ao adicionarmos o corpo de massa m
novamente sobre o pistão, ele deverá retornar ao
seu estado inicial 1, indicando que toda força peso
foi absorvida na forma de energia interna pelo gás.

UNIDADE 5 127
Gás
Figura 3 - Processo de Expansão de um gás perfeito
Fonte: Van Wylen (2008, p. 120).

Em muitos dos sistemas reais, consideramos intervalos em que ocorrem mudanças na forma de
processo reversível, isso é feito para facilitar as abordagens e os cálculos a serem realizados.

Conforme visto em nossa aula Dado o diagrama a seguir para um mol de gás ideal, encontre as
anterior, não existe trabalho condições de pressão e temperatura bem como os valores de ΔU, Q
reversível na natureza, pois, e W para os processos, sabendo que o processo de 4-5 é adiabático
quando modificamos o siste- (Considere R = 8,314 J/Mol.K):
ma para que este retorne à sua a) Calcule o ciclo, seguindo a direção horária (1-2-3-4-5-6-7-1).
condição inicial, ele deverá re- b) Calcule o ciclo, seguindo a direção anti-horário (1-7-6-5-
ceber quantidades diferentes de 4-3-2-1).
calor e trabalho. Ocorre que, em P(Pa)

determinadas transformações 2 3
para sistemas termodinâmicos, 10000
consideramos como processos 4
reversíveis. Resolveremos, ago- 8500 T = 800 K

ra, a título de exemplo, um exer-


T = 300 K 1 5
cício de ciclo termodinâmico, 4988,4
T = 500 K
por dois caminhos diferentes, 7
considerando processo rever- 6

sível e veremos quais conside- 5 7 10


V (m³)
rações podem ser feitas desse Figura 4 - Diagrama de transformações termodinâmicas de um gás ideal
processo: Fonte: os autores.

128 Segunda Lei da Termodinâmica


Para iniciar o cálculo, precisamos saber as condi- Ponto P(Pa) V(m³) T(K)
ções em cada estado termodinâmico. Conforme a 1 4988,4 5 300
Tabela 1 a seguir, podemos preencher alguns des- 2 10000 5 601,39
tes valores, fazendo a leitura gráfica do diagrama: 3 10000 6,65 800
Ponto P(Pa) V(m³) T(K) 4 8500 7,82 800
1 4988,4 5 300 5 10 500
2 10000 5 6 10
3 10000 800 7 7 300
4 8500 800
Tabela 2 - Valores calculados de pressão, volume e tempe-
5 10 500 ratura para o gás ideal em cada ponto do diagrama antes
6 10 da isoterma entre 7 e 1
Fonte: os autores.
7 7 300
Olhando o diagrama, percebe-se que, entre 7 e
Tabela 1- Valores dados de pressão, volume e temperatura 1, ocorre uma isoterma em 300 K, desta forma,
para o gás ideal em cada ponto do diagrama a condição de pressão para o ponto 7 pode ser
Fonte: os autores.
calculada segundo a relação:
Os outros valores podem ser, facilmente, calcu-
1 1 = P7V7
PV
lados, aplicando a equação de Clayperon dentro
T1 T7
dos intervalos. Por exemplo:
PV
1 1 = P7V7
PV
1 1 = P2V2 4988, 4(5) = P7 (7)
T1 T2
P7 = 3563, 14 Pa
No estado de 1 para 2 temos, volume constante,
o que resulta em: Substituindo os valores da mesma forma que foi
feita para a primeira parte da tabela, preenchemos
P1 P2
= o restante dos valores.
T1 T2
Ponto P(Pa) V(m³) T(K)
ou seja: 1 4988,4 5 300
2 10000 5 601,39
4988, 4 10000
= 3 10000 6,65 800
300 T2
4 8500 7,82 800
3000000
=T2 = 601, 39 K 5 4157 10 500
4988, 4
6 3563,14 10 428,57
Realizando cálculos similares para os outros 7 3563,14 7 300
processos, teríamos a Tabela 2 preenchida como
sendo: Tabela 3 - Valores dados de pressão, volume e temperatura
para o gás ideal em cada ponto do diagrama após a isoterma
entre 7 e 1
Fonte: os autores.

UNIDADE 5 129
Conhecendo estas condições, podemos completar a Tabela 4, utilizando como base os conceitos apren-
didos na Unidade 3 e teremos as seguintes situações, onde T é constante ΔU=0, onde ocorre processo
adiabático Q=0, e onde V é constante teremos W=0, ou seja:
Sentido horário Sentido anti-horário
Processo ΔU Q W Processo ΔU Q W
1-2 0 1-7 0
2-3 7-6
3-4 0 6-5 0
4-5 0 5-4 0
5-6 0 4-3 0
6-7 3-2
7-1 0 2-1 0
Ciclo Ciclo

Tabela 4 - Energias termodinâmicas envolvidas no ciclo termodinâmico para o gás ideal no sentido horário e anti-horário
Fonte: os autores.

Para o cálculo da Energia Interna, utilizamos a equação para o gás ideal em que:
3nR(T f  Ti )
DU 
2
Vejamos, no exemplo: na mudança entre 1 e 2 no sentido horário, o sistema termodinâmico chega à
temperatura final de 601,39, partindo da inicial de 300 K, logo, sofre variação de energia interna de:

3(1)(8, 314)  601, 39  300 


DU12   3758, 63 J
2
Calculando para os outros pontos teremos:
Sentido horário Sentido anti-horário
Processo ΔU ( J ) Q(J) W(J) Processo ΔU ( J ) Q(J) W(J)
1-2 3758,63 0 1-7 0
2-3 2476,86 7-6 1603,39
3-4 0 6-5 890,8 0
4-5 -3741,3 0 5-4 3741,3 0
5-6 -890,8 0 4-3 0
6-7 -1603,39 3-2 -2476,86
7-1 0 2-1 -3758,63 0
Ciclo 0 Ciclo 0

Tabela 5 - Energias termodinâmicas envolvidas no ciclo termodinâmico para o gás ideal no sentido horário e anti-horário,
após o cálculo das energias internas
Fonte: os autores.

130 Segunda Lei da Termodinâmica


Veja que, em ambos os casos, temos valores iguais que indicam a variação da energia interna, en-
tretanto seus sinais mudam indicando que, no sentido horário, primeiro o ciclo absorve energia para
depois convertê-la em trabalho e calor, e, no sentido anti-horário, ele libera calor e trabalho para a
vizinhança e, para retornar ao estado inicial, necessita aumentar novamente sua energia. Mas é inte-
ressante observar que independentemente do caminho, em ambos os casos, a soma destas variações
num ciclo reversível sempre resultará 0.
Os valores de calor e trabalho podem ser substituídos utilizando a 1ª Lei da Termodinâmica como
referência.
Sentido horário Sentido anti-horário
Processo ΔU ( J ) Q(J) W(J) Processo ΔU ( J ) Q(J) W(J)
1-2 3758,63 3758,63 0 1-7 0
2-3 2476,86 7-6 1603,39
3-4 0 6-5 890,8 890,8 0
4-5 -3741,3 0 3741,3 5-4 3741,3 0 -3741,3
5-6 -890,8 -890,8 0 4-3 0
6-7 -1603,39 3-2 -2476,86
7-1 0 2-1 -3758,63 -3758,63 0
Ciclo 0 Ciclo 0

Tabela 6 - Energias termodinâmicas envolvidas no ciclo termodinâmico para o gás ideal no sentido horário e anti-horário,
com valores de calor e trabalho nos processos 1-2, 4-5 e 5-6
Fonte: os autores.

Nos locais onde a pressão é constante, podemos calcular o trabalho como sendo:

W   p (V f  Vi )

Por exemplo, na transformação de 2-3, calculamos o trabalho como sendo:


W23  10000(6, 65  5)
W23  10000(1, 65)  16500 J
Nas mudanças isotérmicas, como ocorre no processo de 3 para 4, o trabalho é descrito como:
Vf 
W23  nRT ln  
 Vi 
 7, 82 
W23  (1)(8, 314)(800) ln  
 6, 65 
W23  1077, 94 J

Calculando os trabalhos por meio das equações apresentadas, substituindo esses valores na Tabela 6
e calculando o calor a partir da 1 Lei temos:

UNIDADE 5 131
Sentido horário Sentido anti-horário
Processo ΔU ( J ) Q(J) W(J) Processo ΔU ( J ) Q(J) W(J)
1-2 3758,63 3758,63 0 1-7 0 839,23 839,23
2-3 2476,86 -14023,14 -16500 7-6 1603,39 -9086,03 -10689,42
3-4 0 1077,94 1077,94 6-5 890,8 890,8 0
4-5 -3741,3 0 3741,3 5-4 3741,3 0 -3741,3
5-6 -890,8 -890,8 0 4-3 0 -1077,94 -1077,94
6-7 -1603,39 9086,03 10689,42 3-2 -2476,86 14023,14 16500
7-1 0 -839,23 -839,23 2-1 -3758,63 -3758,63 0
Ciclo 0 -1830,57 -1830,57 Ciclo 0 1830,57 1830,57

Tabela 7 - Energias termodinâmicas envolvidas no ciclo termodinâmico para o gás ideal no sentido horário e anti-horário,
para todos os processos
Fonte: os autores.

Veja, caro(a) futuro(a) engenheiro(a), que, como consideramos o trabalho reversível, no ciclo em sentido
horário, todo o calor absorvido foi transformado em trabalho de expansão, já no sentido anti-horário,
todo o calor perdido transformou-se em trabalho de compressão. Independentemente das transfor-
mações que fizermos no caminho, em ciclos reversíveis, teremos sempre esta igualdade para trabalho
e calor, mas, como vimos anteriormente, esses ciclos são apenas aproximações para uma realidade em
que existem apenas os ciclos irreversíveis. Veremos, agora, as particularidades e os motivos pelos quais
os ciclos são irreversíveis no mundo real.

132 Segunda Lei da Termodinâmica


Processo
Irreversível

Buscar por todos os motivos pelos quais os ciclos


são irreversíveis é, praticamente, uma tarefa im-
possível, pois são muitos os efeitos que podem
dissipar esta energia em outras formas de energias
não conservativas. Entretanto apresentaremos,
aqui, alguns dos principais motivos físicos pelos
quais os ciclos não podem conservar suas energias:
Atrito: uma das principais condições para
dissipação de energias, na Física Clássica, atua,
aqui, na Termodinâmica, como fator responsá-
vel pela irreversibilidade dos ciclos. Imagine a
seguinte situação: um bloco situado na base de
um plano inclinado encontra-se preso a um fio
inextensível e a um conjunto de pesos com certa
energia potencial. Quando esses pesos são aban-
donados de uma altura h, essa energia potencial
é transferida ao bloco, por meio da realização de
trabalho. O atrito entre o bloco e o plano dissipa
parte dessa energia na forma de calor, resultando
em uma quantidade de trabalho útil que é utiliza-
da no processo de elevação do bloco pela rampa.
Para retornar à posição inicial, devemos retirar
os pesos do fio, de forma que o bloco retorne à
sua posição original, entretanto, o calor dissipado
nesse processo não conduz ele a mesma condição

UNIDADE 5 133
inicial. Veja a Figura 5a, que exemplifica. Perce- téria. Quando rompemos essa membrana, o gás
bemos, dessa forma, que independentemente da de um dos lados ocupa todo o espaço disponível
direção do bloco, subindo ou descendo, o calor no vácuo, atingindo nova condição de pressão e
gerado sempre estará saindo do sistema, o que temperatura, indicando que diminuiu sua ener-
indica que se trata de uma energia dissipativa gia interna. Como não houve variação de volume
do trabalho e, por consequência, irreversível no nesta passagem, ocorreu que, para alcançar a nova
processo. condição, ele perdeu calor.
Expansão não- resistida (vácuo em um Ao comprimir novamente o gás, adicionando
gás): para compreender este efeito, devemos trabalho ao sistema, deveríamos obter um gás na
considerar uma câmara com uma membrana mesma condição inicial, entretanto não é isso que
em que de um lado temos um gás a certa condi- ocorre. Em casos como esse, temos a irreversibi-
ção de temperatura e pressão, e, do outro lado da lidade do processo. Veja a Figura 5.b que ilustra
membrana, temos o vácuo, ou seja, o vazio de ma- o processo).

-Q
-Q

a -) Perda por atrito

Fronteira
do sistema -W

Gás Vácuo Gás

-Q

Estado inicial Processo reverso

b -) Expansão não resistida


Figura 5 - a) e b) Processos dissipativos de energia no ciclo termodinâmico
Fonte: Van Wylen (2008, p. 118).

134 Segunda Lei da Termodinâmica


Mistura de substâncias diferentes: nossa Umas das formas para perceber a irreversibilidade
abordagem para este caso de dissipação é similar dos processos é considerar o processo adiabático,
ao discutido anteriormente, a diferença é que, em no ciclo termodinâmico, pois, nele, as três gran-
vez do vácuo, temos outro fluido com condições dezas variam. Mas podemos avaliar o calor em
de temperatura e pressões. Ao misturarmos os trânsito como função de duas constantes, uma
dois fluidos, ocorrem interações moleculares que para processos com volume constante e outra
dissipam parte da energia envolvida no processo, para processos com pressão constante. Vejamos
de tal forma que, mesmo que o sistema seja com- o descrito a partir da 1ª Lei da termodinâmica:
primido, não retornamos ao seu estado inicial.
DU  Q  W
Transferência de calor (diferença finita de
temperatura): este elemento se utiliza da ideia do Em termos diferenciais:
ciclo termodinâmico, em que temos uma fonte
quente e uma fonte fria para a geração de traba- dU  dQ  dW
lho. Digamos que uma fonte quente se encontra,
inicialmente, a Tq, e a fonte fria a uma temperatura A volume constante (dV=0), dizemos, então, que
Tf, assim que trabalho passa a ser gerado, a fonte o Cv de um gás é definido como:
fria recebe esse calor e aumenta sua temperatura, dU  Cv dT  pdV
indicando que não está mais na condição origi-
 U 
nal, ou seja, tornando o processo irreversível. De    Cv
acordo com o que vimos na aula sobre reversi-  T V
bilidade, quanto menor este diferencial de tem- À pressão constante, dizemos, então, que o Cv de
peratura mais próximo da reversibilidade ele se um gás é definido como:
encontra, entretanto, conforme indicado pela 2ª
dU  Cv dT  pdV
Lei, quando isso ocorre, não há transferência de
calor, e, portanto, não temos o ciclo.  U   U 
   Cp  p  
Sendo assim, todas as máquinas térmicas co-  T  p  T  p
nhecidas e reais são processos irreversíveis, cabe
a nós, engenheiros, encontrar qual delas é a mais Considerando que as variações da energia interna
eficiente para sua função. são iguais, teremos, então:

 U   U 
   
 T  p  T v
 U 
Cp  p    Cv
 T  p
 U 
Nos processos reversíveis, tratamos sempre de C p  Cv  p  
 T  p
diferenças finitas, ou seja, pequenos intervalos de
temperatura ou volume, e esses intervalos são en- A equação encontrada reflete a relação energética
tendidos como derivados das funções que repre- para as transformações de qualquer tipo de subs-
sentam o sistema termodinâmico nos processos. tância. Para o gás ideal,  VT   nRP e substituindo,
p

temos:

UNIDADE 5 135
Enquanto que o calor da fonte quente é:
 nR 
C p  Cv  p   V 
 p  Q1  RT1 ln  2 
 V1 
C p  Cv  nR ou CP  CV  R
Dessa forma, nosso rendimento será descrito
Se dividirmos a equação por Cv, teremos: como:

CP  CV  R
V2
R (T1 T2 ) ln
CP R W V1 T1 T2 T2
1  µ térmico 1
CV CV Q1 V2 T1 T1
RT1 ln
V1
C
Chamando CVP = k , que é a razão entre as capacida-
des caloríficas desses fluidos, ou seja: De forma similar, teremos para os refrigeradores
a seguinte forma:
R
k 1 
CV T2
µrefrigerador 1
Partindo desta igualdade, podemos definir que, T1
para qualquer gás, o trabalho irreversível pode
ser descrito como sendo: Indicando que o rendimento é função apenas das
k 1 k 1 temperaturas das fontes, esta equação permite que
V  V 
W  RT1 ln  2   RT1 ln  3  possamos definir três condições:
 V1   V4  Para T2 <T1 , temos um ciclo real e possível, um
Mas, como nesses casos: ciclo irreversível; para , temos um ciclo totalmente
reversível, e, para , temos um ciclo impossível.
k 1 k 1
 V2   V3  Ou seja, facilitando, assim, a forma de calcular
   
 V1   V4  o rendimento de um ciclo termodinâmico, pois:
 V2   V3  W Q2 T2
   µ térmico 1 1
 V1   V4  Q1 Q1 T1

Então:
Entre os ciclos, o que mais se aproxima da idea-
V 
W  R(T1  T2 ) ln  2  lidade é o ciclo de Carnot, assunto da nossa pró-
 V1  xima aula.

136 Segunda Lei da Termodinâmica


O Ciclo
de Carnot

Conforme descrito por Castelan (2015), em 1824, o


engenheiro francês Sadi Carnot estudava sobre os
processos de transformação de calor em trabalho
quando percebeu que suas máquinas melhoravam
a eficiência se passassem por quatro processos até
retornar ao ponto inicial do ciclo, eram eles:
1. Uma expansão isotérmica: nesse pro-
cesso, a máquina receberia o calor pro-
veniente da fonte quente e converteria a
maior parte dele em trabalho.
2. Uma expansão adiabática: o restante do
calor que estava disponível no gás seria
transformado, então, em trabalho, nesse
processo até alcançar a temperatura da
fonte fria.
3. Uma compressão isotérmica: ao chegar
nesta etapa, o gás sofreria compressão até
atingir um ponto no diagrama onde o vo-
lume fosse, ligeiramente, maior que o do
início do ciclo.
4. Uma compressão adiabática: a partir
desse ponto, ele receberia trabalho para
elevar sua temperatura e sua energia in-
terna até o ponto inicial do ciclo.

Observe na Figura 6.

UNIDADE 5 137
P

1
Compressão
adiabatica Expansão
isotérmica

4 TH

Expansão
3 adiabatica
TL
Compressão v
isotérmica

Gás ideal

Figura 6 - Transformações em um ciclo de Carnot


Fonte: Castellan (2015, p. 108).

Segundo o modelo do ciclo de Carnot, os processos são entendidos como reversíveis dentro do ciclo, ou
seja, basta que tenhamos as fontes quentes e frias como fontes infinitas onde não há variação de tem-
peratura, ou que ela seja mínima, de tal forma a manter a temperatura constante e teremos o ciclo real,
com o maior rendimento possível.
Ainda neste ciclo, deve-se garantir que o sistema retorne sempre à condição inicial, mantendo a
igualdade dentro do ciclo como sendo:
DU ciclo  Qciclo  Wciclo
0  Qciclo  Wciclo
Qciclo  Wciclo

Garantidas as condições apresentadas, podemos afirmar que, num ciclo de Carnot, as transferências
de calor que ocorrem do sistema para as fontes frias e quente são, internamente, reversíveis, bem como
a transformação de calor em trabalho no processo adiabático. É por este motivo que o rendimento
desse ciclo se aproxima tanto do valor ideal. Nossa busca, no ciclo de Carnot, é utilizar a condição do
processo adiabático para minimizar as perdas para a vizinhança e transformar o máximo de calor da
fonte quente em trabalho útil. Vejamos um exemplo de processo no ciclo de Carnot:

138 Segunda Lei da Termodinâmica


02 EXEMPLO Um ar condicionado trabalhando no modo de ciclo de Carnot opera resfriando
uma sala até 21 oC, e a temperatura externa da sala é de 35 oC. Calcule a energia ne-
cessária, na forma de trabalho, para manter a sala a essas condições sabendo que se
trata de 200 kg de ar com Cp= 287 J/kg oC.

Resolução:
Calculando o calor da sala, teremos:

Q  m  C p  (T f  Tq )
Q  200 Kg  287 J Kg º C  (35  21)º C
Q  344, 4 KJ

Em se tratando de ciclo de Carnot, seu rendimento será descrito por:

Tq 273  35
µ 1   1  1, 047  0, 047
Tf 273  21

Mas o rendimento também pode ser descrito como:

Q W
log o 0,047=
µ=
W 344, 4 KJ
344, 4 KJ
=W = 7327, 66 KJ ou 6945,28BTU
0, 047

Nesta unidade, compreendemos melhor as transformações que ocorrem na matéria


quando elas se processam de forma repetitiva, como um ciclo termodinâmico. Vimos
que esses ciclos permitem o dimensionamento e a verificação das condições para
cada um dos processos e que, mesmo para situações reais, existe a possibilidade de
analogias para obtenção de respostas condizentes com a realidade.
Discutimos, aqui, sobre um dos principais motivos pelo qual não existe a possibi-
lidade de transformação total de calor em trabalho, demos a essa grandeza o nome
de entropia e a definimos como sendo uma variável que aumenta a desordem dos
sistemas termodinâmicos e de suas vizinhanças. Aprendemos que ela sempre aumenta,
tornando os ciclos térmicos reais em irreversíveis.
Vimos, entretanto, que existe a possiblidade de se considerar processos irrever-
síveis como reversíveis e, por analogia, chegar a boas aproximações do que ocorre
na realidade. Dessa forma, verificamos que Carnot chegou à construção de uma
máquina térmica, que realiza processos cíclicos isotérmicos e adiabáticos e obtém
a melhor de todas as relações para a conversão de calor e trabalho. Utilizando estes
conceitos vistos nesta unidade é que nos aprofundaremos no estudo dessas máquinas
nas unidades seguintes.

UNIDADE 5 139
1. 5 mols de um certo gás ideal é comprimido de 300 K até 700 K à pressão cons-
tante. Calcule, nesta transformação, os valores de ∆U, Q e W. (Considere R=8,314
J/mol.K).
a) ∆U = 24,94 kJ, Q = 41,56 kJ, W = -16,62 kJ.
b) ∆U = 123,12 kJ, Q = 83,14 kJ, W = 39,98 kJ.
c) ∆U = 56,33 kJ, Q = 24,66 kJ, W = 31,67 kJ.
d) ∆U = -24,94 kJ, Q = 41,56 kJ, W = -16,62 kJ.
e) ∆U = 123,12 kJ, Q = - 83,14 kJ, W = 39,98 kJ.

2. Qual o rendimento térmico máximo que pode ser obtido de uma máquina
térmica que trabalha com uma fonte quente a 600 K e uma fonte fria a 380 K?
Calcule também qual deve ser a temperatura da fonte fria, considerando que
essa máquina possui rendimento de 50% do rendimento térmico máximo.
a) 36,7 % e T = 380 K
b) 18,3 % e T = 490,2 K
c) 36,7 % e T = 490,2 K
d) 18,3 % e T = 380 K
e) 50 % e T = 300 K

3. O motor de uma câmara fria trabalha, segundo o ciclo de Carnot, consumindo


200 J/s de trabalho para manter a câmara em temperatura de 260 K, e esse mo-
tor está instalado em um ambiente cuja temperatura é de 310 K. Calcule o calor
da fonte quente, considerando que sua eficiência é de 80% de uma máquina,
perfeitamente, reversível.
a) 15,40 J/s.
b) 23,08 J/s.
c) 30,77 J/s.
d) 38,46 J/s
e) 46,15 J/s.

140
LIVRO

Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química


Autor: J. M. Smith, H.C. Van Ness e M. M. Abbott
Editora: LTC
Sinopse: Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química é uma apre-
sentação completa dos assuntos da termodinâmica vistos pela perspectiva da
engenharia química. O texto fornece uma cobertura completa dos princípios da
termodinâmica e detalha as suas aplicações nos processos químicos. Os capítulos
estão organizados em uma ordem lógica e incluem numerosas ilustrações reais
e exemplos, além de problemas, no final do texto. Para um bom entendimento
do texto, o leitor necessitará de diligência e de uma razoável motivação, mas
foi feito todo o esforço para facilitar seu processo de aprendizagem. Apesar de
ter sido escrito, basicamente, para alunos de graduação, o conteúdo faz deste
livro um recurso também para cursos de pós-graduação e uma referência para
profissionais.

141
SMITH, J. M. et al. Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

VAN WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmica clássica. 4. ed.
São Paulo: E. Blücher, 2008.

CASTELLAN, G. Fundamentos de Físico-Química. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

142
Calculando, o valor de ∆U para o gás ideal, teremos:

3nRT
U 
2
3 5 R 700 300
U 15 200 8, 314 24, 94 kJ
2
Calculando a pressão no ponto 1:

1 1  nRT1  5  8, 314  300  12471


PV

PV
1 1 = 12471
Calculando os valores de volume ocupado para esta transformação à pressão constante:

V1 T1 300
= = = 0, 428
V2 T2 700

V2 = 2, 333V1
Calculando o trabalho realizado, teremos:

W   P1 V2  V1    P1  2, 333V1  V1 

W  1, 333.PV
1 1

W  1, 333. 12471

W  16, 62 � kJ
Utilizando a 2ª Lei, encontramos o Calor trocado como sendo:

U  Q  W

24, 94  Q  16, 62

Q  24, 94  16, 62

Q = 41, 56 � kJ

143
1. A. Caso estivéssemos tratando de uma máquina com um máximo rendimento, teríamos:

Tf 380
rendimento máximo 1 1 0 367 ou 36, 7%
Tq 600

rendimento real 0 367 0, 5 0, 183

Tf
0, 183  1  � � � � 0, 183  600   600  T f �
� � � � � �
600

109 8 600 Tf Tf 490 2 K


2. B. Caso estivéssemos tratando de uma máquina com um máximo rendimento, teríamos:

Tq
rendimento � máximo
� de � refrigerador  1
Tf

310
1 0 1923 ou 19 2%
260

rendimento real de refrigerador 0 1923 0, 80 0, 1538


Mas temos, ainda, que o rendimento real pode ser descrito como:

Q
rendimento � real
� de � refrigerador =
W

Q
0, 1538 =
200 �

J
Q = 30, 77 �
s
3. C.

144
145
146
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Entropia

PLANO DE ESTUDOS

Compreendendo Eficiências
a entropia isentrópicas

Desigualdade Variação da
de Clausius entropia

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Estabelecer os princípios teóricos de Clausius para a for- • Compreender a variação da entropia para substâncias
mulação dos conceitos fundamentais de entropia. puras, substâncias incompressíveis e gases ideais em sis-
• Definir o significado físico de entropia como uma proprie- temas fechados.
dade de estado do sistema termodinâmico. • Determinar as eficiências isentrópicas dos dispositivos es-
senciais na engenharia: turbina, compressor, bomba e bocal.
Desigualdade
de Clausius

Provavelmente, você já deve ter pensado sobre a


origem de muitas coisas. Quem sabe, até mesmo
no decorrer desta disciplina, você parou para re-
fletir sobre a origem de certos conceitos, como das
propriedades termodinâmicas. Talvez, você con-
cluiu que nós criamos as propriedades e demos
fórmulas e regras matemáticas a elas, ou, então,
que, no universo, tudo já existe e apenas encon-
tramos uma linguagem para descrever, podendo,
até mesmo, estender-se para pensamentos mais
filosóficos, geralmente, com objetivo de ampliar
o conhecimento.
Em 1865, o físico Rudolf Julius Emanuel Clau-
sius (1822-1888), expandindo o conhecimento
trazido pela Segunda Lei da Termodinâmica, des-
cobriu, descreveu ou definiu uma propriedade
termodinâmica. Para melhor compreender essa
propriedade, vamos considerar um sistema com-
binado, representado na Figura 1.
dWSC  dWrev  dWsist
TR
Uma vez que o dispositivo cíclico foi considerado
δQR reversível, podemos fazer uso da equação obtida
com a Segunda Lei da Termodinâmica:
 QH  TH
  
 QL rev TL
Rev. δWrev
Substituindo os termos pelo do sistema combi-
nado, obteremos:
dQR TR
δQ =
dQ T

T Portanto, podemos determinar o calor recebido


δWsist no ciclo por:
Sistema
dQ
dQR = TR
T
Sistema
combinado Realizando um balanço de energia no sistema
combinado, obtemos dWSC  dQR  d ESC , sendo
Figura 1 - Dispositivo cíclico reversível e sistema
Fonte: adaptada de Boles e Çengel (2013). dESC a variação de energia total desse sistema.
Podemos, agora, utilizar a igualdade que foi obtida
O sistema combinado será composto por um para dQR em uma substituição no balanço de
dispositivo cíclico reversível, portanto, necessi- energia realizado.
ta de uma fonte de energia e um sumidouro de
energia. Nesse caso, a fonte de energia será um dQ
dWSC  TR  d ESC
reservatório de alta temperatura, a qual apresenta T
uma temperatura TR constante. Já o sumidouro
de energia será um sistema, sendo sua tempera- Com objetivo de encontrar o trabalho líquido do
tura T variável. ciclo combinado WSC , será necessário que o siste-
O ciclo reversível receberá calor do reserva- ma realize um ciclo enquanto o dispositivo rever-
tório dQR , denotado como parcela de calor, ao sível execute alguns ciclos. Matematicamente, este
longo do ciclo, pois serão quantidades de calor in- procedimento pode ser encontrado fazendo uso
finitesimais. Ele também realizará trabalho dWrev da integral cíclica, a qual indica que a integração
e, então, fornecerá calor dQ ao sistema. Ao rece- deverá ocorrer ao longo de todo o ciclo.
ber esse calor, o sistema, por ser de fronteira móvel
(pistão-cilindro), produzirá trabalho dWsist .
Sendo assim, poderá ser encontrado o trabalho  dQ  dQ
 dWSC    TR T
 d ESC   WSC  TR 
 T
total do sistema combinado como sendo:

UNIDADE 6 149
Esta é a desigualdade de Clausius, a qual é vá-
lida para qualquer ciclo termodinâmico, seja ele
reversível ou irreversível. Caso não ocorra irrever-
Você deve lembrar que não é possível criar ou sibilidade no sistema, como o dispositivo cíclico
destruir energia, apenas convertê-la, por conta é reversível, isso resultará no sistema combinado
disso, a variação líquida da energia ao longo do ser, internamente, reversível. Sendo assim, pode
ciclo será zero. funcionar no processo inverso. Analisando o
processo invertido, toda quantidade manterá sua
 dESC 0
magnitude, invertendo o seu sinal (OLIVEIRA,
2019). Anteriormente, você notou que o trabalho
WSC não poderia assumir valores positivos, com
esta inversão, ele não poderá assumir, também,
TR valores negativos. Portanto, se o ciclo for, ao me-
nos, internamente reversível, um caso particular
ocorre, obtendo a igualdade na desigualdade de
QR
Clausius.

 dQ 
  T
int rev
0
Sistema WSC
combinado
Esta característica da integral cíclica ser nula pode
ser observada, também, ao realizar uma análise
nas propriedades termodinâmicas, como o vo-
lume:

Figura 2 - Sistema combinado


Fonte: os autores.
 dV  DVciclo  0
Observando o sistema combinado, conforme ilus- Isso ocorre porque a grandeza volume é
trado na Figura 2, ele parece violar o enunciado independente do percurso do processo, apenas
de Kelvin-Planck que diz ser impossível o sistema depende dos estados inicial e final, portanto, é
operar em ciclo termodinâmico e fornecer traba- uma propriedade. Consequentemente, a grande-
lho líquido, trocando calor com um único reser- za da desigualdade de Clausius representa uma
vatório. Para que isso não ocorra, não poderá sair propriedade, a qual foi denominada entropia (S).
trabalho desse sistema combinado, o que faz com
que WSC não assuma valor positivo, ou seja,
WSC ≤ 0 . Com isso, conclui-se que:  dQ 
dS   
 T int rev
dQ
 T
0

150 Entropia
Compreendendo
a Entropia

Conhecendo sobre a existência desta nova pro-


priedade, você pode ter algumas perguntas em
mente. É uma propriedade intensiva ou extensiva?
Qual seria a unidade? Será possível saber o valor
de entropia ou apenas sua variação? Como mu-
dar a entropia de um sistema? Ao longo dessa
unidade, espero esclarecer estes e outros pontos
para que você entenda melhor sobre entropia,
uma propriedade relevante para os estudos de
engenharia.

A PROPRIEDADE

Conforme visto na aula anterior, a entropia foi


definida em termo de sua derivada, consideran-
do parcelas de calor infinitesimais. Para aplicar
a definição de entropia em um sistema que, ini-
cialmente, se encontra no estado 1 e, após um
processo, chega ao estado 2, é necessário realizar
a integração.
2  dQ 
DS  S2  S1   
1  T  int rev
Para realizar a integral apresentada, faz-se ne-

UNIDADE 6 151
Sendo uma propriedade, a variação da entropia Podemos resumir a entropia como uma medida
entre o estado inicial e final ∆S independente- da desordem molecular de uma substância. Nesse
mente da trajetória, seu valor será o mesmo, momento, você já tem o conhecimento de que o
sendo o processo reversível ou irreversível. aumento da temperatura de uma substância é re-
flexo do aumento da movimentação de suas molé-
culas. Portanto, substância em maior temperatura
cessário saber a correlação entre o calor Q e a apresentará uma desordem maior, enquanto em
temperatura T , durante o processo. Porém tal temperaturas mais baixas a movimentação de
informação não é facilmente disponibilizada, suas moléculas é menor, sendo assim, uma subs-
com isso, a consulta em tabelas de propriedades tância em seu estado gasoso apresentará maior
termodinâmicas é uma forma prática de obter a entropia do que no estado sólido.
entropia em determinado estado. Matematicamente falando, a entropia é uma pro-
Como você talvez tenha observado, a entropia babilidade dos possíveis estados microscópicos
é definida por uma letra maiúscula, caso tenha da substância, demonstrando a incerteza em de-
arriscado que ela é uma propriedade extensiva, terminá-lo. No zero absoluto, as moléculas de
acertou, Chamada, também, entropia total (S), uma substância cristalina pura, supostamente,
sendo sua unidade  kJ K  no S.I. Assim como estarão imóveis, não existindo mais a incerteza,
as outras propriedades extensivas, também pode portanto, a entropia apresenta seu valor mínimo
ser por unidade de massa, tornando-se uma pro- (entropia absoluta). Esse conceito é conhecido
priedade específica, ou seja, entropia específica como a Terceira Lei da Termodinâmica, a qual
(s), com unidade  kJ kg  K  . oferece um ponto de referência à entropia.

ESTADO REFERENCIAL UM PROCESSO ESPECÍFICO

Observe que, mesmo que a correlação entre ca- Para um caso restrito, a variação de entropia pode
lor e temperatura seja conhecida e o cálculo da ser calculada de uma forma bem simplificada. Em
integral seja realizado, o valor obtido será uma um processo de transferência de calor isotérmico
variação de entropia  DS  . Na engenharia, no não temos irreversibilidades, logo, trata-se de um
geral, a informação importante para os estudos processo internamente reversível com uma tem-
será, realmente, a variação da entropia, mas, para peratura T0 constante.
encontrar os valores de entropia das substâncias 2 δQ 1 2
e produzir as tabelas, foi necessário estabelecer ∆S δQ int rev
1 T0 T0 1
um estado de referência, um S = 0. Como você int rev
pode imaginar, essa referência, no meio científico,
Q12
é a temperatura teórica de 0K , o zero absoluto. DS 
T0
Ainda assim, para análises de engenharia, as ta-
belas utilizam temperaturas mais próximas da Sendo Q1→2 o calor transferido no processo in-
temperatura de trabalho da substância. ternamente reversível.

152 Entropia
O processo 1 → 2 é conhecido,
sendo S2 − S1 . Substituindo na
inequação, temos:
Essa variação de entropia poderá ser positiva ou negativa, isso de- 1 dQ 1 dQ
S2  S1    0  S1  S2  
pende se o calor foi transferido ao sistema ou retirado do sistema. 2 T 2 T

Entretanto isso é válido para a variação de entropia do sistema Passando para a forma dife-
apenas. Se analisarmos a variação no sistema e na vizinhança, rencial:
sempre teremos um valor nulo ou maior que zero. dQ
dS ≥
T
Com esta expressão, é possível
PRINCÍPIO DO AUMENTO concluir que, em um processo
DE ENTROPIA irreversível, a variação da entro-
pia será maior que a integral de
Utilizando a desigualdade de Clausius, encontraremos a variação dQ T , e este termo representa
de entropia em um ciclo, ilustrado pela Figura 3, composto de dois a entropia transferida, por meio
estados, sendo a ida reversível, e a volta desconhecemos se é rever- de calor. Uma vez que a varia-
sível ou irreversível. ção da entropia seja maior que a
T transferência, podemos concluir
Processo 2 1: que entropia foi gerada, durante
reversível ou irreversível
o processo irreversível. Repre-
sentada por S ger , a geração de
2 entropia é dada pela diferença
entre a variação da entropia e a
transferência de entropia duran-
Processo 1 2: te o estado inicial para o final.
1 reversível

s
Figura 3 - Processo reversível e processo reversível ou irreversível
Fonte: os autores.
2 dQ
Processo 1 → 2 : 1   0
 T int rev
1 dQ
Processo 2 → 1 :  0
2 T

Realizando a soma dos termos, obtemos:


2  dQ  1 dQ
1  T  
int rev 2 T
0
Exemplo de processo reversível e ir-
reversível

UNIDADE 6 153
f dQ A geração de entropia é um importante critério
S ger  DS  
i T para verificar o desempenho de dispositivos na
engenharia. Quanto maior for a geração de entro-
Note que a entropia gerada será sempre maior ou pia, maiores serão as irreversibilidades presentes
igual a zero. Ela se origina das irreversibilidades no processo. Caso seu valor seja negativo, trata-se
presentes no sistema. A equação anterior pode ser de um processo definido como impossível.
representada como:
f dQ
DS    S ger
i T
Quando associado o fato de a entropia não dimi-
Observe que, para um sistema isolado (adiabáti- nuir ao infinito tempo que o universo venha ter,
co), a transferência de calor será zero, logo: deduz-se um possível fim do universo, momento
em que atingirá uma entropia máxima. Assim,
DSisolado  S ger  0  DSisolado  0 nenhum processo irreversível ocorrerá, não ha-
verá variação de temperatura, sendo conhecido
Neste momento, chegamos ao princípio do au- como morte térmica do universo.
mento de entropia, concluindo que a entropia
em um sistema isolado sempre aumentará ou se
manterá constante, jamais diminuirá. PROCESSO ISENTRÓPICO

Um processo livre de irreversibilidades apresen-


tará uma geração de entropia nula, ainda assim,
poderá apresentar variação de entropia, devido à
Expandindo a visão de um sistema isolado, pode- entropia transferida por calor. Em um processo
mos imaginar um subsistema, sua fronteira vizi- adiabático, além de internamente reversível, sua
nhança e, então, outra fronteira, sendo essa, isola- entropia permanecerá constante entre o estado
da. A equação da geração de entropia passa a ser: inicial e o final, o chamado processo isentrópico.
S ger ∆Ssistema ∆Ssubsistema ∆Svizinhanç 0
s2  s1  Ds  0
Este conjunto ainda forma um sistema isolado,
o qual pode ser considerado nosso universo. A importância deste conceito na engenharia está
Tendo visto que a entropia é proveniente da em analisar dispositivos, como turbinas, com-
desordem molecular e que apenas pode au- pressores, bombas e bocais, os quais são, essen-
mentar, conclui-se que o universo somente se cialmente, adiabáticos. Por mais que um proces-
desorganiza, tenderia ao caos. Porém, como, na so seja reversível, é uma idealização, o processo
natureza, a tendência é o equilíbrio, a entropia isentrópico serve de parâmetro para avaliar se
deverá aumentar até um valor máximo, nesse o desempenho real do dispositivo está próximo
momento, sem poder aumentar ou diminuir, suficiente do modelo ideal. Faremos esta com-
terá atingido um equilíbrio uma vez que não paração, posteriormente, antes disso, preciso que
ocorrerão mais mudanças. você compreenda as relações entre a variação de
entropia com a mudança de outras propriedades.

154 Entropia
Variação
da Entropia

O termo entropia é, geralmente, utilizado tanto para


designar a entropia total de um sistema ( S ), como
também para a entropia específica ( s ). Os valores
das tabelas de propriedades são fundamentados nas
propriedades específicas, sendo mais conveniente
partir das análises de estado e processos, conside-
rando entropia específica.
Dado que, em um sistema compressível sim-
ples, é possível determinar suas propriedades a
partir de um estado definido (duas propriedades
intensivas independentes), nesta aula, você apren-
derá relacionar as propriedades dos estados com
a variação da entropia.

UNIDADE 6 155
VARIAÇÃO DA ENTROPIA EM SUBSTÂNCIAS PURAS

Determinar a entropia de uma substância pura s  sl  x( sv  sl )  s  sl  xslv


por meio dos valores tabelados torna esta etapa
menos trabalhosa. Mesmo assim há informações em que sl é a entropia do líquido saturado, sv
importantes a serem consideradas ao consultar as a entropia do vapor saturado e x o título dessa
tabelas. Sendo elaboradas para maior praticidade mistura.
em seu uso, as tabelas termodinâmicas apresen- No caso de o estado encontrar-se na região de
tadas no final deste livro contam com um valor vapor superaquecido ou líquido comprimido, os
referencial de entropia diferente do zero absoluto. valores para a entropia são encontrados, direta-
Na tabela de água, a referência é tomada como mente, nas respectivas tabelas. Vale ressaltar que,
0, 01°C , e, para a substância R-134a, seu valor de para um líquido comprimido, o valor da entropia
zero entropia é em 40C . Ao calcular a entropia dadas temperatura e pressão pode ser aproximado
para temperaturas abaixo desta referência, serão pela entropia de líquido saturado com a mesma
obtidos valores negativos. temperatura.
Assim como as outras propriedades, a entro- De forma resumida, estas informações es-
pia para uma mistura líquido-vapor saturada tão representadas na Tabela 1, sendo com-
poderá ser encontrada utilizando o título do plementada pela Figura 4, apresentando o
determinado estado. diagrama T-s.

Líquido Comprimido Mistura Saturada Vapor Superaquecido

T T T
s@T,P sl @ T s sl xslv s
P x P
Tabela 1 - Entropia de substância pura
Fonte: os autores.

T P2 > P1 Região:
1 - Líquido comprimido
Ponto 2 - Mistura saturada
P2

crítico
3 - Vapor superaquecido
P1

3
1

s
Figura 4 - Diagrama T-s e suas regiões
Fonte: adaptada de Çengel (2013).

156 Entropia
EQUAÇÕES DE GIBBS anteriormente, que, para líquido comprimido,
s@ T,P ≅ sl @ T .
As equações de Gibbs relacionam a variação da Você poderá notar uma particularidade caso
entropia com a de outras propriedades. Vale lem- analisar um processo isentrópico em uma subs-
brar que a variação de uma propriedade é inde- tância incompressível, observe pela equação:
pendente do percurso do processo, sendo assim,
T2
as equações são válidas para processos reversíveis 0  cmed ln  T2  T1
T1
e irreversíveis.
T d s  du  P d v Isso nos mostra que uma substância incompressí-
vel que passa por um processo isentrópico mante-
T d s  dh  v d P rá sua temperatura constante, ou seja, o processo
também será isotérmico.

VARIAÇÃO DA ENTROPIA
DE SUBSTÂNCIAS VARIAÇÃO DA ENTROPIA
INCOMPRESSÍVEIS DOS GASES IDEAIS

Uma substância que não apresenta variação de Citando os gases ideais, talvez, você tenha lem-
volume, durante um processo, é considerada uma brado da equação Pv = RT , isso é bom, pois
substância incompressível. O líquido e o sólido ela será necessária nesse momento. Dessa vez,
são aproximados para substância incompressíveis, diferente das substâncias incompressíveis, nos
uma vez que sua variação de volume pode ser gases ideais, não é possível aproximar os calores
expressa por dv ≅ 0 . Para uma substância incom- específicos. Portanto, devemos usar du = cv dT
pressível, os calores específicos cv e c p são iguais, e d h = c p dT . Utilizando novamente as equa-
portanto, a variação de entalpia pode ser dada por ções de Gibbs, podemos substituir os termos pelas
du = c dT , e, ao substituir essas informações na equações citadas de gases ideais, obtendo:
equação de Gibbs, obteremos:
dT R
d s  cv  dv
c dT 2 dT T v
ds   s2  s1   c(T )
T 1 T
dT R
Como forma de realizar uma análise aproximada, ds  c p  dP
T P
é comum considerar a variação do calor específico
em relação à temperatura ao longo do processo Novamente, para realizar a integração destas
como cmed , sendo o valor do calor específico para equações, em vez de considerar o calor específi-
a temperatura média. Calculando a integral com co em função da temperatura, podemos assumir
esta consideração, temos que: como aproximação cv, med e c p, med como sendo
calor específico médio na faixa de temperatura
T2
s2  s1  cmed ln considerada.
T1
T v
s2  s1  cv,med ln 2  R ln 2
Note que a variação da entropia nessas condições T1 v1
é independente da pressão, por isso, foi citado,

UNIDADE 6 157
T2 P
s2  s1  c p ,med ln  R ln 2
T1 P1

Observe que, para os gases ideais, a variação da entropia terá rela-


ção com volume ou com pressão, além de temperatura. Podemos
analisar as relações de temperatura, pressão e volume quando o
processo no gás ideal for isentrópico, para isso, é necessário utilizar
outras duas equações já vistas R  c p  cv e k = c p cv .
k 1
 T2   v1 
  
 T1   v2 

 k 1 k
 T2   P2 
  
 T1   P1 

Com as substituições e manipulações matemáticas, foi possível obter


uma relação isentrópica entre temperatura e pressão e uma relação
entre temperatura e volume. Uma terceira equação, relacionando
pressão e volume, pode ser obtida por meio das duas anteriores.
k
 P2   v1 
  
 P1   v2 

PRESSÃO E VOLUME
ESPECÍFICO RELATIVOS

Originadas de considerações para calores específicos variáveis, duas


relações importantes para realizar comparações e, consequentemen-
te, buscar otimizações podem ser utilizadas de modo a encurtar
diversos cálculos. Em um processo isentrópico com a consideração
de gás ideal, pode ser feito uso da relação entre pressões ou entre
volumes específicos.
 P2  P
   r2
 P1 isentrópico Pr1

 v2  v
   r2
 v1 isentrópico vr1

Estas equações acrescentam duas novas grandezas, pressão relativa


e volume específico relativo, estas são adimensionais e fornecidas
por meio das tabelas termodinâmicas.

158 Entropia
Eficiências
Isentrópicas

Provavelmente, você já viu sobre eficiências ao


longo do curso. Uma forma de calcular a eficiência
de algo é pela razão do quanto teve de retorno
pelo quanto foi fornecido. Para os dispositivos
com escoamento em regime permanente, utiliza-
remos uma divisão do trabalho real e o trabalho
para o caso de não ocorrer irreversibilidades, ou
seja, isentrópico (ideal). Uma vez que a irrever-
sibilidade resulta no aumento da entropia, esta
propriedade é essencial para comparar o real e o
ideal. Nesta aula, será possível observar aplicações
para o conhecimento em entropia adquirido até
o momento.

UNIDADE 6 159
TURBINAS

Considerando uma turbina em regime perma-


As análises que faremos será realizada com a con- nente, haverá uma pressão ( P1 ) e uma tempera-
sideração de que a variação de energia potencial tura ( T1 ) de entrada, uma pressão ( P2 r ) e uma
dos dispositivos é desprezível (∆ep  0) e o pro- temperatura ( T2 r ) reais de saída, e esperamos que,
cesso adiabático. Outra consideração é que a va- neste processo, produza trabalho, logo, P1 > P2 r .
riação de energia cinética também será despre- O trabalho real ( wr ) desta turbina pode ser dado
zada, exceto para bocal. Apesar de a turbina pela diferença de entalpia da entrada ( h1 ) pela
trabalhar com velocidade de escoamento muito entalpia real da saída ( h2 r ), ou seja, wr  h1  h2 r .
alta, a variação de energia cinética é insignifican- Para determinar qual seria o trabalho isentró-
te quando comparada com a variação de entalpia pico da turbina, é necessário assumir que a segun-
(∆ec  ∆h ). Compressor e bomba apresentam da propriedade independente para definirmos
velocidades muito baixas, portanto,∆ec  0. Ape- nosso estado será a entropia do estado inicial.
nas bocal, único que não envolve trabalho, au- Com isso, será possível encontrar a entalpia de
menta a velocidade do fluido mediante redução saída ( h2 s ), a qual desconsidera as irreversibili-
de temperatura e pressão, logo, ∆ec  0. dades, sendo obtido o trabalho ideal da turbina
por meio de ws  h1  h2 s .

Entrada Saída real Saída ideal

P1 h1 P2 r P2 s P2 r
h2 r h2 s
T1 s1 T2 r s2 s s1
Tabela 2 - Entalpia real e isentrópica da turbina
Fonte: os autores.

A Tabela 2 representa as propriedades que definem cada estado e o que devemos tirar de informação
de cada um. Para encontrar a eficiência isentrópica da turbina ( hT ), resta realizar a razão entre o tra-
balho real pelo isentrópico.
w h h
hT  r  1 2 r
ws h1  h2 s

Note que o propósito de uma turbina é realizar trabalho, sendo assim, o processo ideal obtém um
trabalho maior que o real, isto é, ws > wr .

COMPRESSORES

Utilize um raciocínio similar ao apresentado para turbinas, porém, nesse dispositivo teremos um con-
sumo de trabalho com o intuito de que o gás seja comprimido, ou seja, elevar sua pressão ( P2 > P1 ).
Esse processo resultará em um aumento da entalpia ( h2 > h1 ).

160 Entropia
Para encontrar o trabalho consumido no pro- BOCAL
cesso de compressão adiabática, será utilizado
w  h2  h1 . Considerando o processo isentrópi- Utilizado para acelerar um fluido, este dispositivo
co, ele terá um consumo menor de trabalho não envolve trabalho e apresenta uma velocidade
( ws < wr ), logo, a eficiência isentrópica de com- final ( V2 ) muito maior que a velocidade inicial
pressores ( hC ) será dada por: ( V1 ). Como V1  V2 , a variação da energia cinética
( Dec  12 V22  V12 ) se resume em Dec = 12 V2 , por-
2
ws h2 s  h1
hC   tanto, sua eficiência fica em função da velocidade
wr h2 r  h1
de saída do fluido.
Uma vez que um processo reversível resulta
BOMBAS em energia cinética maior que um processo real,
a eficiência isentrópica do bocal ( h Bocal ) é ex-
Este dispositivo executa um processo semelhante pressa por:
ao compressor, utiliza trabalho para realizar um 2
h Bocal
Ec V 
 r  2r 2
aumento de pressão. Sua diferença é que esse pro-
Ecs V2 s 
cesso ocorre para um líquido, em vez de um gás.
O trabalho utilizado pela bomba durante um pro-
cesso isentrópico será dado pelo produto do vo- Do balanço de energia deste dispositivo, temos que:
lume e a variação de pressão ( ws  v( P2  P1 ) ), 2
0  Dh  Dec  h1  h2 
V2 
sendo assim, a eficiência isentrópica da bomba
2
( h Bomba ) torna-se:
Sendo assim, podemos reescrever a eficiência
w v( P2  P1 )
h Bomba  s  isentrópica em função da entalpia:
wr h2 r  h1
h1  h2 r
h Bocal 
h1  h2 s
De modo a contribuir para compreensão de nosso
Tenha sua dose extra de
universo, a determinação desta nova propriedade,
conhecimento assistindo ao entropia, continua sendo uma enorme contribui-
vídeo. Para acessar, use seu ção para melhorias em sistemas termodinâmicos.
leitor de QR Code. Essa propriedade originou-se de uma necessida-
de de expressar, matematicamente, alguns limites
termodinâmicos, juntamente com os conceitos da
segunda lei. Além de compreender seus funda-
mentos, passamos, também, pelas interpretações
que podemos obter com essa nova propriedade
e por uma de suas principais utilizações, analisar
a eficiência isentrópica dos dispositivos.

UNIDADE 6 161
1. Uma máquina térmica reversível recebe calor de um reservatório de alta tem-
peratura que se encontra a 875 K e transfere calor para um sumidouro a 325 K.
Sabendo que a entropia do sumidouro aumenta em 70 kJ/K, calcule a entropia
gerada neste sistema, o calor cedido pela fonte quente e o calor recebido pela
fonte fria.

2. Um compressor adiabático tem como entrada ar com uma pressão de 250 kPa
e temperatura de 14°C . Considerando que a variação de entropia no processo
de compressão será de 0, 25 kJ kg  K . Assumindo o ar como um gás ideal
e sabendo que a temperatura de saída deve ser de 40°C , a pressão após o
processo de compressão deve ser, aproximadamente:
a) 65 kPa.
b) 530 kPa.
c) 750 kPa.
d) 810 kPa.
e) 1400 kPa.

3. Uma turbina adiabática recebe vapor de água vinda de uma caldeira a 400°C e
7 MPa. Esse vapor, ao passar pelas pás da turbina, perde 14,34% de sua entalpia
para realizar trabalho, saindo vapor saturado. Determine qual a temperatura e
pressão na saída da turbina e qual a sua eficiência isentrópica.

4. É fornecido ar com pressão de 130 kPa e temperatura de 300 K para um com-


pressor adiabático, e, em sua saída, está disponível apenas um sensor de tem-
peratura, o qual registra 650K. Sabendo que em processo isentrópico esse com-
pressor duplica o valor da entalpia, assinale a alternativa que mais se aproxima
da pressão de saída e a eficiência isentrópica do compressor.
a) 875 kPa e 87,5%.
b) 1120 kPa e 78,2%.
c) 1292 kPa e 81,7%.
d) 1340 kPa e 79,3%.
e) 1485 kPa e 83,5%.

162
5. Um bocal adiabático apresenta uma eficiência isentrópica de 94% sendo for-
necido em sua entrada ar a 150 kPa e 117°C . Sabendo que sua pressão reduz
para 75 kPa, encontre qual a velocidade, em m/s, que o ar apresenta na saída
do bocal e veja as seguintes afirmações:
I) A temperatura real de saída do bocal é menor que 320 K.
II) A velocidade de saída é menor que 320 m/s.
III) Durante o processo, o ar transforma mais do que 65 kJ kg de sua entropia
em energia cinética.
IV) Considerando o processo isentrópico, a velocidade de saída é maior que
370 m/s.

Das afirmações apresentadas, estão corretas:


a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) I, III e IV.
d) II, III e IV.
e) III e IV.

163
FILME

Ordem e desordem – Episódio 1: energia


Ano: 2012
Sinopse: a energia é vital para todos nós, mas o que é exatamente a energia? Ao
tentar responder a esta pergunta, Jim Al-Khalili investiga um estranho conjunto
de leis que ligam tudo, desde motores a humanos e estrelas. Acontece que essa
energia, tão crítica para a existência diária, realmente nos ajuda a fazer sentido
de todo o universo.

WEB

Há um conceito fundamental para a química e a física, ele ajuda a explicar por


que processos físicos acontecem de um jeito, e não de outro: por que o gelo
derrete, por que o creme se espalha no café, por que o ar vaza no pneu furado.
É, notavelmente, difícil compreender esse conceito de entropia. Jeff Phillips dá
um curso rápido de entropia.

164
OLIVEIRA, M. J. de. The two parts of the second law of thermodynamics. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo,
v. 41, n. 1, e20180174, ago./2019.

BOLES, M. A.; ÇENGEL, Y. A. Termodinâmica. 7. edição. São Paulo: AMGH Editora, 2013.

165
1. Dados:

Temperatura da fonte quente: TH = 875 K


Temperatura da fonte fria: TL = 325 K
Variação de entropia na fonte fria: DS L = 70 kJ K
Resolução:

Pelo princípio do aumento de entropia, temos que:

DS H  DS L  70 kJ K
A entropia gerada será dada por:

S ger  DS H  DS L  70 kJ K  70 kJ K  0 kJ K
Sendo o processo isotérmico e, internamente, reversível para calcular a transferência de calor da fonte
Q
quente e do sumidouro, podemos utilizar: DS = . Portanto QH  TH DS H  61250kJ e
QL T= T
= L DS L 22750kJ .

2. D.

Dados: c p

Fluido: ar

Temperatura e pressão de entrada: T1  14C , P1 = 250 kPa


Variação de entropia no processo: Ds  0, 25 kJ kg  K
Temperatura de saída: T2  40C
Resolução:

Partindo da equação de variação de entropia em gases ideais e isolando as pressões, obtemos:

T2 P P  T  1
Ds  c p ,med ln  Rar ln 2  ln 2   c p ,med ln 2  Ds 
T1 P1 P1  T1  Rar

Isolando P2, ficamos com:

 T2  1
 c p ,med ln Ds 
T  Rar
P2  P1  e 1

Resta encontrar o valor de e Rar por meio das tabelas termodinâmicas:


T1  T2
Tmed   27C  300K
2

166
c p ,med  c p @ Tmed  1, 005 kJ kg  K

Rar  0, 287 kJ kg  K

Substituindo os valores, obteremos que P2 = 809, 34 kPa .


3. Dados:

Fluido: água

Temperatura de entrada: T1  400C


Pressão de entrada: P1 = 7000 kPa
Redução na entalpia: h2 r = 0, 8566h1
Título na saída: x2 r = 1
Resolução

Com os dados passados do exercício, devemos determinar a entalpia e entropia do estado de entrada com
auxílio da tabela de vapor superaquecido:

T1  h1  3159, 2 kJ kg

P1  s1  6, 4502 kJ kg  K
A entalpia real de saída será dada por:

= , 8566h1 2706, 17 kJ kg
h2 r 0=
Sabendo a entropia do estado de saída, e que o vapor se encontra saturado, podemos encontrar a tem-
peratura e a pressão reais de saída:

h2 r  T2 r  120C

x2 r  P2 r  200kPa

Para determinar a eficiência isentrópica, é necessário considerar o processo isentrópico e encontrar a


entalpia na saída:

 
P2 s  P2 r  x2 s  s2 s  sl @ P2 s slv @ P2 s  0, 879

s2 s  s1  h2 s  hl @ P  x2 s  hlv @ P  2440, 08 kJ kg
2s 2s

Sendo assim, a eficiência isentrópica será dada por:

h1  h2 r
hT   0, 62997  hT  63%
h1  h2 s

167
4. E.

Dados:

Fluido: ar

Pressão de entrada: P1 = 130 kPa


Temperatura de entrada: T1 = 300 K
Temperatura de saída: T2 = 650 K
Entalpia no processo isentrópico: h2 s = 2h1
Resolução:

Sabendo a temperatura de entrada do ar, é possível determinar a entalpia e a pressão reduzida por meio
da tabela termodinâmica:

 h  300, 19 kJ kg
T1  1
 Pr1  1, 386
Como a entalpia no processo isentrópico é duplicada, temos que:

h= h1 600, 38 kJ kg
2 s 2=

Da tabela termodinâmica, encontramos que, para essa entalpia, a pressão reduzida do ar será:

Pr2 = 15, 83
Sendo fornecido o valor da temperatura na saída, obtemos a entalpia real na saída:

T2 r  h2 r  659, 84 kJ kg
A eficiência isentrópica desse compressor pode ser encontrada por:

h2 s  h1
hC   0, 835  hC  83, 5%
h2 r  h1

Por meio da relação de pressões podemos determinar a pressão de saída:

Pr 2 P2 P 
  P2  P1  r 2   1486, 6 kPa
Pr1 P1  Pr1 
5. E.

Dados:

Fluido: ar  c p  1, 005 kJ kg  K k  1, 4

168
h Bocal = 0, 94
T1  117C  390 K
P1 = 150 kPa
P2 = 75 kPa
Resolução:

Sendo gás ideal, no processo isentrópico, a temperatura de saída será dada por:

 k 1 k  k 1 k
 T2 s   P2  P 
    T2 s  T1  2   T2 s  319, 93 K
 T1   P1   P1 
A variação de entalpia neste processo isentrópico será dada por:

Dhs  h2 s  h1  c p T2 s  T1 

Dhs  70, 42 kJ kg

Tendo a eficiência isentrópica do bocal e a variação de entalpia ideal, podemos encontrar a variação de
entalpia real:

Dhr
h Bocal   Dhr  Dhs  h Bocal
Dhs

Dhr  66, 19 kJ kg
Pelo balanço de energia do bocal, obtemos que:

V2 2  V1 2  Dh


2

Sendo V1 ≈ 0 , resulta em:


2
Dhr  h1  h2 r 
V2 r 
V  2Dhr  363, 85 m s
2r
2

169
170
171
172
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Ciclo de potência a gás

PLANO DE ESTUDOS

Ciclo Otto: ignição Ciclo Brayton:


por centelha turbinas a gás

Motores à Ciclo Diesel: ignição


combustão por compressão

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Introduzir a hipótese do padrão a ar e desenvolver con- • Apresentar o ciclo ideal dos motores de ignição por com-
ceitos do sistema pistão-cilindro presentes nos motores pressão, seus processos e diagramas.
alternativos. • Apresentar o ciclo ideal utilizado em turbinas a gás, seus
• Apresentar o ciclo ideal dos motores de ignição por cen- processos e diagramas.
telha, seus processos e diagramas.
Motores à
Combustão

Nas unidades anteriores, principalmente ao longo


do conteúdo de entropia, você deve ter notado
que muitas análises foram realizadas em ciclos.
Um motivo para esse uso é que, geralmente, os
dispositivos operam em ciclo, inclusive, quando
seu objetivo é produzir potência. Além disso, em
determinadas análises, é possível aproximar uma
sequência de processos não exatamente cíclica
para um ciclo.
Mesmo com diversas simplificações para redu-
zir a complexidade do estudo, o ciclo idealizado
apresentará as características do ciclo real. Sendo
assim, é possível um estudo qualitativo, analisando
a relação dos parâmetros com o comportamento
dos dispositivos reais.
P

Tenha sua dose extra de


Ciclo real conhecimento assistindo ao
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
Ciclo
ideal
Para nos possibilitar uma análise mais didática,
é necessário definir algumas simplificações base:
• A energia potencial e a cinética são des-
prezíveis nos dispositivos utilizados, assim
v como a perda de energia por calor ao longo
Figura 1 - Ciclo real e ideal
Fonte: os autores. das conexões entre um dispositivo e outro.
• Deve ser considerado que os processos de
SISTEMA DE POTÊNCIA A GÁS compressão e expansão ocorrem de modo
quase-equilíbrio, ou seja, não sofrem mu-
O objetivo dos ciclos que verá nesta unidade e na danças repentinas, não deixando uma par-
seguinte é produzir potência, em outras palavras, te do sistema em um estado diferente de
obter trabalho por meio de um clico pelo qual outra parte.
um fluido, conhecido como fluido de trabalho, • Atrito de partes móveis e, até mesmo, entre
passa por diferentes processos, tendo como fun- as camadas do fluido de trabalho não são
damentais a compressão, a expansão, a adição e considerados.
a rejeição de calor. Analisaremos, também, três • O ciclo ideal é definido como sendo, ao
ciclos de potência, nos quais o fluido de trabalho menos, internamente reversível, portanto, a
mantém-se na fase gasosa por todo o ciclo, sendo variação de entropia, nesse ciclo, será dada
assim, classificados como ciclo de potência a gás. apenas pela transferência de calor com di-
ferença finita de temperatura.
Calor

RENDIMENTO TÉRMICO
Trabalho
No ciclo ideal de potência, por não ser, necessaria-
Trabalho mente, na forma externa, reversível, sua eficiência
térmica, no geral, será menor do que a de um ciclo
totalmente reversível (Carnot), operando com os
mesmos limites de temperatura. Em termos mate-
Calor
máticos, temos a eficiência térmica expressa por:
Figura 2 - Representação de ciclo de potência a gás wliq
Fonte: os autores. ht =
qent

UNIDADE 7 175
01 EXEMPLO Considere que o motor de um automóvel fabricado com certa liga, em que seus
componentes suportam temperaturas de incríveis 600°C , é colocado para funcionar
em uma região onde a temperatura ambiente é de 25°C . Analisando apenas pela
limitação imposta pelos componentes e meio, qual seria a máxima eficiência térmica
desse motor?

Resolução:
qsai
wliq  qent  qsai  ht  1 
qent

Conforme visto na unidade de entropia q = T Ds , portanto:


qent  TH  s2  s1   TL
 ht ,Carnot  1 
qsai  TL  s3  s4   TH

25  273
ht ,Carnot  1   ht ,Carnot  0, 6586
600  273
Logo, temos que o limite da eficiência térmica será de 65,86%, operando nesses limites
de temperatura.

T
q ent Observe as equações utilizadas
1 2 no exemplo anterior de modo
TH
a visualizá-las no diagrama T-s
apresentado na Figura 3. Note
que qent é, numericamente,
igual à área abaixo da curva do
TL processo 1 → 2 e qsai do pro-
4 3
q sai cesso 3 → 4 . Uma vez que o tra-
balho líquido é dado pela dife-
rença desses valores, temos que
s1 = s4 s2 = s3 s a área delimitada pelos percur-
Figura 3 - Diagrama T-s do ciclo de Carnot sos dos processos é equivalente
Fonte: os autores. ao trabalho líquido do ciclo.
wliq  qent  qsai

qent  TH  s2  s1 
qsai  TL  s3  s4 

Portanto, a única forma de aumentar o rendimento, nesta situação, é pelo aumento da di-
ferença entre as temperaturas que acaba sendo limitada pela temperatura suportada pelos
componentes do motor e pela temperatura do meio com que será possível rejeitar calor.

176 Ciclo de potência a gás


COMPONENTE BASE DE MOTOR ALTERNATIVO

Dois dos ciclos de potência a gás que veremos têm como elemento crucial o sistema pistão-cilindro.
Devido à importância deste componente nos ciclos, faz-se necessário um detalhamento prévio desse
elemento. O princípio do sistema pistão-cilindro é a produção de movimento retilíneo pela combustão
interna. Por meio de mecanismos, como bielas e virabrequim, o movimento retilíneo é convertido em
movimento circular sobre um eixo, produzindo potência.
O objetivo, neste momento, será compreender algumas nomenclaturas desse sistema, local onde
ocorre a combustão e todos os outros processos do ciclo.
Válvula de Válvula de
admissão descarga

Parede
do cilindro
PMS VZ

Vdu Curso
Movimento Pistão
linear
Biela PMI

Mecanismo
de manivela
Movimento
a) de rotação b) c)
Figura 4 - (a) Componentes sistema pistão-cilindro; (b) Volume máximo; (c) Volume mínimo
Fonte: adaptada de Borgnakke (2013).

Na Figura 4a, está representado o sistema pistão-


-cilindro. Pela válvula de admissão é fornecido ar
ou uma mistura ar com combustível, e, pela válvula
de descarga, são dispensados os gases resultados
da combustão. O pistão se movimenta, linearmen- Note que, mesmo no PMS, ainda há uma dis-
te, entre o ponto morto inferior (PMI, volume tância entre o pistão e o final do cilindro. Além
máximo, Figura 4b) e o ponto morto superior de necessário para manter o fluido de trabalho
(PMS, volume mínimo, Figura 4c), a distância per- comprimido no volume desejado, este também
corrida, neste movimento, é chamada de curso (S). conhecido por volume morto (Vz), evita o conta-
A diferença entre o volume máximo e mínimo, ou to mecânico entre o pistão e as válvulas. Quando
ainda, a área do pistão vezes seu curso é conside- estas ficam descompassadas, os componentes
rado volume deslocado unitário ( Vdu). Multi- colidem, um problema conhecido por batimento
plicar o volume deslocado unitário pelo número do motor.
de cilindros (Z) presente em um motor resulta na
cilindrada ( Vd ).

UNIDADE 7 177
Com estas dimensões são estabelecidas duas relações:
• O volume máximo dividido pelo volume mínimo é a razão de compressão
do motor:
Vmax Vdu  Vz
r 
Vmin Vz

• Uma pressão teórica aplicada durante todo o curso do pistão produziria o


mesmo trabalho líquido do ciclo, esta é chamada pressão média efetiva,
parâmetro que possibilita uma análise na potência e no torque do motor:
Wliq
Wliq  PME  Vdu  PME 
Vmax  Vmin

02 EXEMPLO Determinado automóvel apresenta, em sua ficha técnica, as especificações, conforme


apresentadas no Quadro 1:
Motor
Cilindros 8 em V
Válvulas por cilindro 4
Razão de compressão 10,1:1
Cilindrada 3996 cm³
Variação do comando Admissão e escape
Diâmetro dos cilindros 86 mm
Curso dos pistões 86 mm

Quadro 1 - Ficha técnica do automóvel


Fonte: adaptado de Carrosnaweb ([2021], on-line)1.
Certifique-se de que a cilindrada apresentada está correta e encontre qual a distância
disponível entre o pistão no PMS e as válvulas.

Resolução:
Dados:
Z = 8 cilindros
r = 10,1
Vd = 3996 cm3
D = 86 mm = 8,6 cm
S = 86 mm = 8,6 cm
Para verificar o valor da cilindrada, é necessário encontrar o volume deslocado
unitário e multiplicar pelo número de cilindros:
p D2
Vdu
= = S 499, 557 cm3
4

178 Ciclo de potência a gás


Vd  Z  Vdu  3996, 5 cm3 Pode-se dizer, portanto, que o motor de com-
bustão interna funciona em um ciclo aberto. En-
Sendo assim, a cilindrada informada está correta. tretanto vale ressaltar que desse fluido de traba-
Antes de encontrar a distância disponível, pre- lho (ar + combustível) sua maior composição é
cisamos conhecer o volume morto desse motor: nitrogênio (cerca de 78% do ar é nitrogênio), o
qual, dificilmente, passará por reação química
Vdu  Vz V
r  Vz  du  54, 8964 cm3 durante a combustão. Sendo assim, o fluido de
Vz r 1
trabalho, antes e após a combustão, é muito si-
O volume morto é a área do pistão multiplicada milar ao ar.
pela distância que desejamos encontrar, logo: De modo a viabilizar a análise do ciclo de po-
tência a gás, é utilizada a aproximação do fluido
p D2 4Vz
Vz  hh  0, 945 cm de trabalho para ar, nesse caso, temos as seguintes
4 p D2
considerações:
Portanto, a distância disponível entre o pistão no • O comportamento do ar é visto como de
PMS e as válvulas é de 9,45 mm. um gás ideal.
• Um processo de adição de calor é realizado
para simular o processo da combustão.
ANÁLISE DE AR PADRÃO • Um processo de rejeição de calor é utiliza-
do de modo a ser equivalente ao processo
Como visto no funcionamento do sistema pistão- de exaustão.
-cilindro, o fluido de trabalho entra no cilindro
pela válvula de admissão, ocorre a explosão, ou Utilizando as considerações descritas, torna-se
seja, o gás libera energia e o produto desta reação é possível que o fluido de trabalho retorne ao estado
liberado pela válvula de descarga. Note que, neste inicial. Dessa forma, a análise reduz sua comple-
momento, não temos um ciclo para o fluido de xidade e, ainda, se mantém, significativamente,
trabalho, pois este se modificou pela reação quí- próxima da situação real. Um estudo em que se
mica e não retornará ao seu estado inicial para, aplica essas considerações é, geralmente, chamado
novamente, iniciar a sequência de processos. ciclo padrão a ar.

Real Padrão a ar

Ar
Ar Ar
Combustível Produto da
combustão

Wliq Wliq
Figura 5 - Ciclo real e modelo padrão a ar
Fonte: os autores.

UNIDADE 7 179
Ciclo Otto:
Ignição Por Centelha

O primeiro ciclo de potência a gás no qual nos


aprofundaremos é o ciclo cuja combustão se inicia
por conta de uma faísca, em termos mais técnicos,
ele ocorre nos motores de ignição por centelha.
Possivelmente, já ouviu estes termos, até mesmo,
porque é algo próximo a todos, este tipo de motor
é utilizado na maioria dos carros. Em nosso estu-
do, utilizaremos a análise idealizada desse ciclo, e
esta modelagem é chamada ciclo Otto.

CICLO REAL DE IGNIÇÃO


POR CENTELHA

Antes mesmo de idealizar o ciclo, vale conhecer


o modelo real que há por trás do ciclo Otto. No
motor que vamos considerar, o pistão percorre
seu curso quatro vezes para cada ciclo termodi-
nâmica, por isso, é conhecido por motor de quatro
tempos. Devido ao mecanismo de converter o
movimento linear em rotação, a cada subida e
descida do pistão, ou seja, dois movimentos de
curso completo, resultam em apenas uma revolu-
ção no eixo de saída. Sendo assim, para um ciclo
termodinâmico, temos dois ciclos mecânicos.

180 Ciclo de potência a gás


Ar Vela
+ 4. Quando o pistão atin-
Combustível
ge o PMI, todo o volu-
me do cilindro estará
preenchido pelo produ-
to da combustão, e este
Produto necessita ser descartado
da combustão 1 para recomeçar o ciclo.
Admissão Portanto, a válvula de
exaustão é aberta e,
novamente, o pistão
move-se ao longo do
curso, indo ao PMS (se-
gundo ciclo mecânico),
4 2 empurrando o resultado
Exaustão Compressão da queima para fora da
câmara de combustão.

3
Expansão
Figura 6 - Ciclo real de ignição por centelha
Fonte: adaptada de Çengel (2013).

As quatro etapas do ciclo real estão representadas na Figura 6 e


podem ser descritas da seguinte forma:
1. O pistão que estava no ponto morto superior (PMS) começa
a descer, nesse momento, a câmara de combustão passa a
ser ocupada por uma mistura de ar e combustível (gasolina/
etanol). Portanto, nesse momento a válvula de admissão
encontra-se aberta, e a válvula de exaustão fechada.
2. Ao atingir o ponto morto inferior (PMI), todo o volume do
cilindro está preenchido com a mistura, a válvula de admis- Ciclo de um motor alternativo

são se fecha, então, o pistão move-se para cima, comprimin-


do a mistura no volume morto. Nesse momento, o curso foi Vimos, anteriormente, uma for-
percorrido duas vezes, sendo um primeiro ciclo mecânico. ma de calcular o trabalho líqui-
3. Com a pressão e a temperatura elevadas, a mistura de ar e do nesse sistema:
combustível necessita apenas de uma faísca para iniciar a
combustão, nesse momento, o mecanismo de ignição (nos Wliq  PME  Vdu
carros, conhecido como vela de ignição) é ativado. Este pro-
cesso faz com que a pressão e a temperatura aumentem, Multiplicando este resulta-
excessivamente, de modo que empurrem o pistão ao PMI, do pelo número de cilindros
fazendo-o rotacionar o eixo, assim, produz trabalho útil. (Z), pela frequência de giro

UNIDADE 7 181
do motor (que é a rotação (n) do eixo de saída, em rpm, dividida Os processos deste ciclo, inter-
por 60) e por um fator ½ , pois o ciclo termodinâmico é metade namente, reversível podem ser
da quantidade de ciclo mecânico, será obtida a potência líquida descritos da seguinte forma:
( Wliq ) produzida por este ciclo, em kW. • 1 → 2 Compressão isentró-
pica: o cilindro é considera-
n 1
Wliq = Wliq Z do isolado, enquanto o pistão
60 2
vai do PMI ao PMS o ar pre-
sente no interior da câmara é
CICLO OTTO, O IDEAL DE IGNIÇÃO comprimido de modo isen-
POR CENTELHA trópico, com isso, a pressão
e a temperatura do sistema
Agora que já compreendeu o funcionamento do ciclo real e as etapas aumentam levemente.
que o compõem, torna-se mais fácil visualizar as considerações que • 2 → 3 Calor fornecido a
são aplicadas para obter o ciclo ideal, o qual pode ser melhor anali- volume constante: quando
sado, mesmo sendo de modo qualitativo. Utilizando a análise de ar o pistão chega no PMS, o
padrão, o ciclo apresentará condições similares ao real, essa versão é cilindro não é mais con-
chamada ciclo Otto, e suas etapas estão representadas na Figura 7. siderado isolado e passa
Q a receber calor de forma
que o pistão não se mova,
mantendo-se em volume
constante, resultando em
um aumento considerável
4 1
de pressão e temperatura.
• 3 → 4 Expansão isentrópi-
ca: o cilindro é novamente
isolado, o pistão não mais
3 2
impossibilitado de se mo-
ver, então, ele é empurrado
4 1
ao PMI por conta da pres-
Q são elevada do ar, rotacio-
nando o eixo, logo, produz
trabalho útil.
2 3 • 4 → 1 Calor removido a
volume constante: ao che-
gar no PMI, o ar ainda apre-
Figura 7 - Etapas do ciclo Otto senta pressão e temperatura
Fonte: os autores. maiores que seu estado 1,
então, é rejeitado calor com
o pistão imóvel, de modo
que o fluido de trabalho
retorne a seu estado inicial.

182 Ciclo de potência a gás


Vale ressaltar que, neste modelo idealizado, o ciclo termodinâmico apresenta apenas um ciclo mecânico.
Os diagramas P-v e T-s desse ciclo podem ser observados na Figura 8.
P T 3
qent
3

t.
ns
Isentrópico 4

co
v=
qent qsai
2 2 t.
4 ons
qsai
v =c
Isentrópico
1 1

PMS PMI v s

Figura 8 - Diagramas do ciclo Otto


Fonte: Çengel (2013).

Realizando um balanço de energia no ciclo, este pode ser descrito como:


Du  ( went  wsai )  (qent  qsai )

Observe que, nos processos 1 → 2 e 3 → 4 , o sistema encontra-se isolado, logo:


 w12  u2  u1  went
q0
 w34  u4  u3   wsai
E, nos processos 2 → 3 e 4 → 1 , o volume se mantém constante, logo:
q23  u3  u2  qent
w0
q41  u1  u4   qsai
Podemos expressar o calor transferido como também sendo
qent  cv (T3  T2 )
qsai  cv (T4  T1 )

Com isso, podemos encontrar a eficiência térmica do ciclo Otto como sendo:
qsai T T
ht ,Otto  1   1 4 1
qent T3  T2
Sendo os processos 1 → 2 e 3 → 4 isentrópicos, os volumes v1 = v4 , v2 = v3 e a razão de compressão
dada por r = v1 v2 , torna-se possível utilizar as relações de temperatura e volume, apresentadas na
unidade anterior, para substituir as temperaturas da expressão anterior, obtendo a eficiência apenas
em função da razão de compressão e da razão dos calores específicos.
ht ,Otto  1  r1k

UNIDADE 7 183
.6 67
0.8 k=1
(ar)
k = 1.4
0.6
k = 1.3
η t,Otto

0.4

0.2

2 4 6 8 10 12 r
Figura 9 - Relação da razão de compressão e da razão dos calores específicos na
eficiência do ciclo Otto
Fonte: Çengel (2013).

Na Figura 9, é possível observar a influência da razão de compressão


e da razão dos calores específicos na curva de eficiência térmica
para o ciclo Otto. O aumento de r ou k faz com que a eficiência
desse ciclo aumente, essa análise também é válida para o ciclo real.
Os motores à gasolina trabalham com uma razão de compressão
na faixa de 8 a 11. O fluido de trabalho contém moléculas maiores
quando comparadas com as do ar, o que faz com que a razão dos
calores específicos seja menor que a do ar. Por conta destes fatores e
das irreversibilidades (queima incompleta, atrito, dissipação de calor
etc.), a eficiência térmica do ciclo real fica por volta de 25 a 30%.

Nos motores de ignição por centelha, a razão de compressão é


limitada em um valor baixo, devido ao risco de autoignição. Isto é,
se comprimir demais, a mistura ar e combustível atingirá a tem-
peratura de ignição, ocorrendo a combustão fora do momento
adequado, sem o auxílio da centelha, perdendo eficiência e dani-
ficando os componentes.

184 Ciclo de potência a gás


Ciclo Diesel:
Ignição por Compressão

O ciclo diesel consiste em explorar o limitante


apresentado no ciclo Otto, com objetivo de rea-
lizar a ignição, devido à elevada razão de com-
pressão projetada para seu funcionamento. A vela
de ignição, presente no ciclo real de ignição por
centelha, é trocada por um injetor de combustí-
vel no ciclo real de ignição por compressão. No
momento que o pistão atinge o PMS, a câmara de
combustão estará preenchida com ar, o qual foi
comprimido a uma temperatura acima da tem-
peratura de autoignição do combustível (diesel).
A combustão inicia-se assim que o combustível
começa a ser injetado e entra em contato com
esse ar quente.
Esta modificação faz com que não haja o risco
de ocorrer uma autoignição, ou seja, o combustí-
vel não entra em combustão, indevidamente, no
momento da compressão, pois ele não está pre-
sente durante este processo. Isso tudo permite que
o motor de funcionamento a diesel seja projetado
para operar com razão de compressão por volta
de 12 a 24.

UNIDADE 7 185
Assim como no ciclo de ignição por centelha, considerar a hipótese de ar padrão permite-nos mo-
delar o ciclo ideal para ignição por compressão, conhecido como ciclo Diesel. Os processos desse ciclo
muito se assemelham ao anterior, há, apenas, uma modificação. No momento em que o combustível é
injetado, a explosão inicia, movendo o pistão do PMS ao PMI, e, no percurso inicial dessa expansão, o
combustível ainda está sendo adicionado. Portanto, ao analisar esse processo, em seu modelo idealizado,
podemos considerar uma expansão à pressão constante, na qual ocorre a adição de calor.
P T

qent
qent
2 3 e 3
constant
P =
Ise

4
nt

2

pi

qsai
co

Ise tante
4 s
nt
ró con
pic v =
o qsai 1
1
v s
Figura 10 - Diagramas do ciclo Diesel
Fonte: Çengel (2013).

Observe, na Figura 10, que a principal diferença


 w12  u2  u1  went
está no processo 2 → 3 . Apesar de o diagrama P-v q0
 w34  u4  u3   wsai
torná-la mais visível, note, em T-s, que a diferen- Já no processo 2 → 3 , a pressão se mantém cons-
ça de temperatura entre os estados 3 e 4 fica me- tante, portanto,
nor do que entre 1 e 2, ao contrário do ciclo Otto. qent  h3  h2  c p (T3  T2 )
Sendo os demais processos iguais ao ciclo Otto, Du23  qent  wsai 
 wsai  PDv  P2 (v3  v2 )
resumidamente, os processos do ciclo Diesel po-
dem ser descritos como: A rejeição de calor ocorre em 4 → 1 , com volume
• 1 → 2 Compressão isentrópica. constante, então,
• 2 → 3 Calor fornecido à pressão constante.
w  0  q41  u1  u4  qsai
• 3 → 4 Expansão isentrópica.
• 4 → 1 Calor removido a volume constante. qsai  cv (T4  T1 )

Realizando um balanço de energia no ciclo Diesel, A eficiência térmica desse ciclo é dada por:
teremos que, novamente, nos processos 1 → 2 e
qsai c T  T 
3 → 4 , o sistema encontra-se isolado, logo, ht , Diesel  1   1 v 4 1
qent c p T3  T2 

186 Ciclo de potência a gás


Como forma de simplificar a expressão da eficiência térmica do
ciclo Diesel, além de utilizar as relações isentrópicas, é definida
uma grandeza chamada razão de corte ( rc ), sendo a razão entre os
volumes, no decorrer da combustão.
v3
rc ≡
v2

Assim, a eficiência térmica pode se resumir em:


1 k  rc k  1 
ht , Diesel  1  r  
 k  rc  1 

Considerando que rc > 1 , o termo que difere a eficiência térmica do


ciclo Diesel para o ciclo Otto também será maior que 1, portanto,
a eficiência do ciclo Diesel será maior, comparando-os para uma
mesma razão de compressão. Observe o caso limite, onde rc = 1 :
 r k 1   krc k 1 
lim  c  lim   1
rc 1  k  rc  1  rc 1  k 
   
O termo assume valor 1, observando os processos teremos que
v3 = v2 , logo, a eficiência térmica dos ciclos Otto e Diesel passa a
ser a mesma, conforme representado na Figura 11. Devido às irre-
versibilidades nos motores de ignição por compressão, sua eficiência
térmica real, geralmente, encontra-se entre de 35 a 40%.

)
(Otto
0.7 rc = 1
2
0.6 3
4
0.5
η t,Diesel

0.4

0.3

0.2

0.1

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 r
Figura 11 - Relação da razão de compressão e razão de corte na eficiência
do ciclo Diesel
Fonte: os autores.

UNIDADE 7 187
Ciclo Brayton:
Turbinas a Gás

Caso, durante seu estudo dos dispositivos com


escoamento em regime permanente, você tenha
se perguntado: O que acontece se acoplarmos
um compressor a uma turbina? Teremos moto-
-contínuo? Certamente, você notou, ao longo da
Segunda Lei da Termodinâmica e do conteúdo de
entropia, que o moto-contínuo não seria possível.
Mesmo assim, nada impede de realizar esta união
para ter mais aproveitamento em um ciclo.
O uso de um compressor e uma turbina aco-
plados no mesmo eixo ocorre nas turbinas a gás.
Operando em um ciclo aberto, ar frio é admitido
pelo compressor e, após comprimido, ele segue
para uma câmara de combustão, onde é adicio-
nado combustível, sendo queimado à alta pressão,
então, os gases resultantes são expandidos na tur-
bina, gerando trabalho. Na Figura 12, podemos
observar uma turbina a gás sendo utilizada em
um ciclo combinado para gerar energia.

188 Ciclo de potência a gás


Para transmissão Ciclo combinado de turbina a gás
Entrada
de ar Esquema do sistema da central elétrica
Caldeira
a vapor
Combustível
Para subestação Câmara de Exaustor
Caixa de Compressor combustão
transmissão

Gerador

Turbina Alta Gerador de vapor


Caixa de a vapor temperatura de recuperação
transmissão de calor
Alta pressão
Gerador
Tratamento de água

Torre de Água de
refrigeração refrigeração Central de
cogeração térmica
Bomba de água

Condensador
de vapor
Rio
Água do mar
Figura 12 - Ciclo combinado de turbina a gás

Assim como os casos anteriores, podemos modelar este dispositivo como um ciclo fechado, utilizando
a análise de ar padrão. Novamente, o processo de combustão será representado pelo fornecimento de
calor com pressão constante. Os gases de exaustão são substituídos por um processo de rejeição de calor
à pressão constante, assim, retornando ao seu estado inicial. Observe o esquemático do ciclo aberto
representado na Figura 13a e seu modelo idealizado, conhecido como ciclo Brayton, na Figura 13b.

Q
Combustível 2 Trocador
Compressor de calor

3 Wliq
Wliq
Eixo Turbina
Eixo Turbina

Compressor 1
Trocador
de calor 4
Gases de
exaustão Q
Ar
a) b)
Figura 13 - Representações da turbina a gás: (a) aberta e (b) fechada
Fonte: os autores.

UNIDADE 7 189
Os processos que compõem este ciclo não diferem muito do que vimos anteriormente, e podemos
descrevê-los como sendo:
• 1 → 2 Compressão isentrópica: o ar, em baixa temperatura, é admitido por um compressor,
consumindo trabalho; este dispositivo eleva a pressão e a temperatura do ar.
• 2 → 3 Calor fornecido à pressão constante: após sair do compressor, o ar vai para um trocador
de calor, onde recebe calor sem mudança de pressão.
• 3 → 4 Expansão isentrópica: o ar que se encontra em alta temperatura e pressão (elevada ental-
pia) se expande, passa pelas pás da turbina, fazendo-as rotacionarem, alimentando o compressor
e produzindo trabalho líquido, enquanto sua entalpia reduz.
• 4 → 1 Calor removido à pressão constante: novamente, em um trocador de calor, porém, neste
momento, é rejeitado calor sem mudança de pressão.

Os diagramas P-v e T-s dos processos descritos podem ser observados na Figura 14.
P T
e 3
qent ant
t
ons
2 3 c
P=
s= qent
co 4
s=

ns
ta
con

nt 2
e
sta

te qsai
tan
nte

ns
1 4
1 P = co
qsai

v s
Figura 14 - Diagramas ciclo Brayton
Fonte: os autores.

Realizando o balanço de energia para este ciclo, c p T4  T1 


qsai
obtemos: ht , Brayton  1   1
qent c p T3  T2 
 qent  qsai    went  wsai   hsai  hent
Sendo a adição e a rejeição de calor processos Utilizando as relações para processos isentrópicos
cuja pressão se mantém constante, podem ser e definindo que a razão entre a pressão de saída
expressas por: e entrada do compressor é uma nova grandeza,
qent  h3  h2  c p (T3  T2 ) razão de pressão
P
rP ≡ 2
qsai  h4  h1  c p (T4  T1 ) P1
podemos realizar as simplificações na equação da
Assim, podemos expressar a eficiência térmica eficiência, obtendo a eficiência térmica do ciclo
deste ciclo como sendo: Brayton calculada por:

190 Ciclo de potência a gás


(1 k ) deração do padrão a ar, tornou possível modelar
ht , Brayton  1  rP k ciclos complexos e abertos de uma forma mais
simples, porém preservando a influência dos pa-
Outro fator importante para ser observado, no râmetros. Este tipo de análise nos permite uma
ciclo de turbina a gás, é a razão entre o trabalho análise qualitativa, de modo a compreender o
consumido pelo compressor e o trabalho pro- que deve ser feito em determinado ciclo para que
duzido pela turbina, conhecida como razão de seja melhorada sua eficiência térmica.
consumo de trabalho.

wcomp ,ent
rct =
wturb,sai

Sabendo que o trabalho líquido é dado pela dife-


rença entre o trabalho que sai da turbina e o traba- O ciclo Brayton pode sofrer algumas modifica-
lho que entra no compressor, podemos substituir ções de projeto para obter maior aproveitamen-
a razão de consumo de trabalho de forma a obter to do fluido de trabalho. Uma dessas é a regene-
a seguinte expressão: ração, a qual utiliza o ar que sai da turbina para
pré-aquecer o ar que sai do compressor, com
wliq  (1  rct ) wsai isso, é possível reduzir a energia que será forne-
cida entre 2  3 pela fonte quente, melhorando
Pudemos explorar os conceitos essenciais pre- a eficiência do ciclo.
sentes nos ciclos de potência a gás. Com a consi-

UNIDADE 7 191
1. Um motor de ignição por centelha, projetado de modo que sua razão de com-
pressão seja 11, está operando em uma rotação de 3500 rpm no padrão a ar.
Calcule a taxa de calor fornecido para que este ciclo produza 110 kW de potência
e assinale a alternativa correta.
a) 34,78 kW.
b) 83,25 kW.
c) 111,35 kW.
d) 178,34 kW.
e) 210,00 kW.

2. Um motor de ignição por compressão, projetado de modo que sua razão de


compressão seja 22 e utilizando o padrão a ar, tem ar admitido a 90 kPa e
27 °C. Devido às limitações físicas, temos a informação de que a temperatura no
ciclo não pode exceder 1800 K. Calcule qual a eficiência térmica máxima deste
ciclo e, para esta situação, qual seria sua pressão média efetiva.

3. Considere um ciclo Brayton operando entre os limites de temperatura de 27


a 1000 °C e suas pressões entre 150 e 1300 kPa. No modelo padrão a ar, este
ciclo apresenta um trabalho líquido de aproximadamente:
a) 231 kJ/kg.
b) 276 kJ/kg.
c) 332 kJ/kg.
d) 475 kJ/kg.
e) 619 kJ/kg.

192
LIVRO

Plantas de geração térmica a gás


Autor: Zulcy de Souza
Editora: Editora Interciência
Sinopse: refere-se à sistematização do cálculo e dimensionamento dos quatros
principais componentes da Planta: Turbina a Gás Turbocompressor Câmara de
Combustão e Recuperador de Calor. O Livro foi estruturado e desenvolvido,
de modo que, em seu último capítulo, pudesse ser feito o esboço cotado, em
planta e elevação da ocupação do sítio previsto para a implantação, partindo
do arranjo de seus componentes. Para Turbocompressor e as Turbinas a Gás,
foram desenvolvidos e aplicados estudos que permitiram estabelecer número
de estágios, dimensionamento estágio por estágio e número de aletas e pás em
cada um dos respectivos estágios. Inclui complementos para tornar sua implan-
tação e operação segura e confiável sob todos os aspectos, com destaque para
os ambientais, de segurança, confiabilidade e conforto.

193
BORGNAKKE, C.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da termodinâmica. São Paulo: Editora Blücher, 2013.

ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

REFERÊNCIA ON-LINE

Em: https://www.carrosnaweb.com.br/fichadetalhe.asp?codigo=16417. Acesso em: 18 fev. 2021.


1

194
1. D.

Dados:

r = 11

k = 1,4

n = 3500 rpm

Resolução:

Inicialmente, devemos encontrar a eficiência térmica do ciclo por meio de:

ht ,Otto  1  r1k  1  1111,4  0, 6168


ht ,Otto  61, 68%

Sabendo que a eficiência térmica é a razão entre o trabalho líquido e o calor fornecido, podemos utilizá-la,
também, para determinar a taxa de calor:

wliq W W
ht   ht    Q 
qent Q ht

110
=Q = 178, 34 kW
0, 6168

2. Dados:

r = 22

P1 = 90 kPa

T1 = 300 K

T3 = 1800 K

R  0, 287 kJ kg  K

c p  1, 005 kJ kg  K

cv  0, 718 kJ kg  K

195
Resolução:

Devemos, inicialmente, encontrar a T2 , para isso, podemos utilizar as relações isentrópicas apresentadas
na unidade anterior:

1 → 2 : compressão isentrópica

k 1 k 1
 T2   v1  v 
    T2  T1  1   T1r k 1
 T1   v2   v2 

T2  300  221,4 1  1033 K

2 → 3 : adição de calor com pressão constante ( P2 = P3 )

P2 v2 P3v3 T 
  v3   3  v2
T2 T3  T2 
v3 = 1, 7425v2

3 → 4 : expansão isentrópica
k 1 k 1 k 1
v   1, 7425v2   1, 7425 
T4  T3  3   T3    T4  T3  
 v4   v1   r 

T4 = 652, 79 K

Com as temperaturas encontradas, podemos calcular o calor que entra e calor que sai:

qent  c p T3  T2   770, 84 kJ kg


qsai  cv T4  T1   253, 30 kJ kg
wliq  qent  qsai  517, 54 kJ kg
wliq
Assim, temos que a eficiência é ht   0, 6714  ht  67, 40%
qent

Para calcular a pressão média efetiva, precisamos determinar a diferença entre o volume inicial e final
( v1 − v2 ):

196
RT1
v1
= = 0, 9566 m3 kg
P1

v1
v=
2 = 0, 04348 m3 kg
r

Sendo assim, a pressão média efetiva será:

wliq
PME   566, 8 kPa
v1  v2

3. Dados:

T1 = 300 K

T3 = 1273 K

P1 = 150 kPa

R  0, 287 kJ kg  K

c p  1, 005 kJ kg  K

cv  0, 718 kJ kg  K

P2 = 1300 kPa
Resolução:

Inicialmente, podemos encontrar a razão de pressão:

P2
r=
P = 8, 667
P1

No processo 1 → 2 , ocorre uma compressão isentrópica, logo, podemos utilizar as relações isentrópicas:

 k 1 k
 T2   P2   k 1 k
    T2  T1rP
 T1   P1 

197
T2 = 556, 01 K
O próximo passo será calcular o calor fornecido no processo 2 → 3:

qent  c p T3  T2   720, 57 kJ kg

Para encontrar o trabalho líquido, resta calcular a eficiência deste ciclo:

(1 k )
ht , Brayton  1  rP k  0, 4604

ht , Brayton = 46, 04%

Sendo assim, o trabalho líquido será dado por:

wliq  ht  qent  331, 75 kJ kg

198
199
200
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Ciclo de potência a vapor

PLANO DE ESTUDOS

Diferença entre Ciclo de Rankine


ciclos ideais e reais com reaquecimento

Ciclo de Melhorias no
Rankine ideal ciclo de Rankine

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Analisar o ciclo de potência no qual o fluido de trabalho • Explorar modificações no ciclo de Rankine para aumentar
alterna entre vaporizar e condensar. a eficiência térmica do ciclo.
• Compreender os desvios existentes entre o ciclo ideali- • Apresentar um modelo que faz uso das melhorias para
zado e o ciclo real. o ciclo.
Ciclo de
Rankine Ideal

Você já deve estar habituado com o que é um ci-


clo de potência, devido aos estudos, na unidade
anterior, em que vimos, particularmente, os ciclos
de potência em que o fluido de trabalho perma-
nece como gás, durante todos os processos. Nesta
unidade, trabalharemos, ainda, com ciclos de po-
tência, no entanto o fluido de trabalho altera entre
os estados de vapor e líquido, ao longo do ciclo,
sendo, portanto, um ciclo de potência a vapor.

DE CARNOT PARA RANKINE

Inicialmente, podemos esboçar como seria um ci-


clo de potência a vapor operando com os proces-
sos descritos pelo ciclo de Carnot. Como fluido de
trabalho, podemos considerar vapor de água. Vale
lembrar que o ciclo de Carnot opera entre dois
limites de temperatura, conta com dois processos
isentrópicos e, conhecendo o domo de saturação
da água, é possível representar seu diagrama, con-
forme a Figura 1.
T fio estaria em finalizar
o processo de rejeição
de calor no específico
título desejado.

Conforme você pode ter no-


3 P tado, utilizar os processos de
2 um ciclo de Carnot como
parâmetro para um ciclo de
potência a vapor não é o mais
adequado. Entretanto, obser-
vando os estados 1, 2, 3 e 4 e
1 4 analisando os motivos que
dificultam utilizar esse ciclo,
pode ser que você encontre as
possíveis alternativas:
s • Condensar o fluido de
Figura 1- Potência a vapor com Carnot
Fonte: os autores. modo que o título seja
zero, além de facilitar o
Detalhando os processos: processo de rejeição de
• 1 → 2 Compressão isentrópica: projetar um compressor calor permitirá compri-
que opere com fluido bifásico não é uma tarefa fácil, uma mir um líquido saturado.
vez que lidaria com parte líquido (fluido considerado in- • Superaquecer o vapor,
compressível) e parte vapor (fluido compressível). controlando apenas
• 2 → 3 Calor fornecido de forma isotérmica: este proces- para que mantenha
so fica limitado no interior do domo de saturação, pois, pressão constante (pro-
enquanto o sistema apresentar líquido e vapor, é simples cesso, relativamente,
realizar esse processo. Se prolongar a transferência de calor simples de executar)
para a região de, apenas, uma fase, torna difícil manter a em vez de controlar
temperatura constante, devido às faixas de pressão em que para obter temperatura
percorrerá. constante. Por conse-
• 3 → 4 Expansão isentrópica: ocorrendo, completamente, quência, após a expan-
no interior do domo, essa expansão apresentaria um título são isentrópica na tur-
baixo, ou seja, em meio ao vapor, estaria presente muitas bina, o título, no estado
partículas de água. Ao passar este fluido por uma turbina, 4, será maior.
ocorreria um enorme desgaste, devido ao atrito das gotas
com as pás do dispositivo. Recomenda-se título acima de Estas modificações resultam
90% para operar as turbinas. no ciclo de Rankine, conhe-
• 4 → 1 Calor removido de forma isotérmica: um simples cido como o ciclo ideal para
condensador realizaria o processo desejado, mas o desa- ciclos de potência a vapor.

UNIDADE 8 203
O CICLO DE RANKINE

Um esquemático dos dispositivos que compõe o ciclo de Rankine


pode ser observado na Figura 2.
qent

Caldeira
2 3

Went Bomba Turbina Wsai

1 4
Condensador

qsai
Figura 2 - Dispositivos do Ciclo de Rankine
Fonte: adaptada de Borgnakke (2018).

Os dispositivos presentes neste ciclo não são novidades, conforme ob-


servamos, o ciclo é composto por bomba, caldeira, turbina e condensa-
dor. Considerando os dispositivos internamente reversíveis, podemos
descrever os quatro processos que constituem o ciclo de Rankine ideal:
• 1 → 2 Compressão isentrópica: o fluido de trabalho, no estado
líquido saturado, é admitido pela bomba, onde é elevada sua
pressão, chegando ao estado líquido comprimido.
• 2 → 3 Calor fornecido de modo isobárico: na caldeira, é
fornecido calor ao líquido comprimido, o qual recebe calor sufi-
ciente para atingir o estado de vapor superaquecido. A tempera-
tura é elevada, significativamente, e a pressão mantida constante.
• 3 → 4 Expansão isentrópica: no estado 3, o fluido de trabalho
apresenta elevada entalpia, então, é expandido na turbina. Parte
de sua entalpia é convertida em trabalho, com isso, sua tempera-
tura e pressão caem. Na saída da turbina (estado 4), apresentará
as mesmas temperatura e pressão do estado inicial, porém com
um elevado título (líquido-vapor saturado).
• 4 → 1 Calor removido de modo isobárico: com objetivo de
retornar ao estado inicial, o fluido de trabalho passa pelo con-
densador, local onde trocará calor com um fluido de menor
temperatura, portanto, perderá calor mantendo a pressão e a
temperatura constantes, retornando a líquido saturado.

204 Ciclo de potência a vapor


T

P caldeira
3

2 P condensador

1 4

S
Figura 3 - Diagrama T-s do ciclo de Rankine ideal
Fonte: os autores.

A EFICIÊNCIA DO CICLO

Analisando as energias presentes no ciclo, podemos equacionar o


balanço de energia, partindo de:
 qent  qsai    went  wsai   Dh
Na bomba, considerando-a isentrópica, não há transferência de calor, e
a variação do volume do estado de líquido saturado para líquido com-
primido é desprezível. Portanto, a energia desse dispositivo é dada por:
wbomba,ent  h2  h1
wbomba,ent  vDP  v  P2  P1 

Observando a turbina, também isentrópica, a expressão do trabalho


que sai fica: w  h h
turb, sai 3 4

Resta analisar os dois trocadores de calor, a caldeira e o condensador,


onde não há trabalho envolvido, logo, a variação da energia é igual
à variação de entalpia:
qent  h3  h2
qsai  h4  h1
Com isso, a eficiência térmica do ciclo pode ser encontrada por meio de:
wliq wturb,sai  wbomba,ent
ht  
qent qent

ht  1 
qsai h  h 
 1 4 1
qent  h3  h2 

UNIDADE 8 205
01 EXEMPLO Utilizando água como fluido de trabalho, um ciclo de Rankine está operando entre
40 °C e 300 °C . A caldeira não atua em sua capacidade máxima, por conta disso,
está limitada a entregar vapor saturado à turbina. Determine qual o título da água,
na saída da turbina, e qual a eficiência térmica desse ciclo.

Resolução:
Conhecemos a temperatura no condensador, a temperatura e título na saída da caldeira:
T1  40C  T4
T3  300C
x3  1

Na entrada da bomba, teremos:

 P1  Psat @ 40C  7, 3851 kPa


 3
v1  vsat @ 40C  0, 001008 m kg

h1  hsat @ 40C  167, 53 kJ kg

Na saída da bomba, a pressão será P2  Psat @ 300C  8587, 9 kPa


Estado 2:
went ,bomba  vDP  h2  h1

h2  v  P2  P1   h1  176, 18 kJ kg

Estado 3:
T3  300C  h3  2749, 6 kJ kg

x3  1  s3  5, 7059 kJ kg  K
Estado 4:

 
T4  40C  x4  s4  sl @ T4 slv @ T4  0, 6681

s4  s3  h4  hl @ T  x4 hlv @ T  1775, 1 kJ kg
4 4

Neste ponto, já sabemos que o título do fluido, na saída da turbina, é de 66,81%.


Resta calcular a eficiência térmica do ciclo:

ht  1 
 h4  h1   1  1775,1  167, 53 
 h3  h2   2749, 6  176,18 
ht  0, 3753  ht  37, 53%

Resposta: A água apresenta título de 66,81%, na saída da turbina, e o ciclo possui


uma eficiência térmica ideal de 37,53%.

206 Ciclo de potência a vapor


Diferença Entre
Ciclos Ideais e Reais

Provavelmente, você se lembrará de que, em nos-


sos estudos de entropia, vimos as eficiências isen-
trópicas. Agora, já conhecendo ciclos idealizados,
em que os dispositivos são considerados, ideal-
mente, isentrópicos, podemos agregar os concei-
tos. A utilização das eficiências isentrópicas dos
dispositivos como uma nova variável nos modelos
idealizados acarretará melhor aproximação para
o comportamento do ciclo real.

TURBINA A GÁS

Vimos o ciclo ideal de turbinas a gás, o ciclo Bray-


ton, composto por dois trocadores de calor, um
compressor e uma turbina. Analisando o funcio-
namento desses componentes, podemos citar al-
guns fatores que, no uso real, ocorreriam devido
às irreversibilidades:
• Ao realizar a compressão do gás, o com-
pressor necessita de um trabalho maior.
• Durante as trocas de calor, ocorre uma
queda de pressão.
• A expansão do gás na turbina resulta em
um trabalho obtido menor.

UNIDADE 8 207
T

3
O subscrito s é utilizado para representar o
cte estado caso o processo seja isentrópico. A apli-
P= cação do subscrito r é para o estado real. Os
2r
4r valores reais de trabalho são obtidos por meio
2s e
P = ct 4s das eficiências isentrópicas dos dispositivos
ou, ainda, as eficiências isentrópicas podem
ser calculadas caso conheça o valor real de
1
trabalho.

s
s1 = s2 s s3 = s4 s
Figura 4 - Ciclo Brayton real e ideal
Fonte: adaptada de Çengel (2013).

Compressor Turbina

ws ,comp h2 s h1 wr ,turb h3 h4 r
ηC ηT
wr ,comp h2 r h1 ws ,turb h3 h4 s

02 EXEMPLO Considere o ciclo Brayton, já apresentado, que opera entre os limites de temperatura
de 27 a 1000 °C . A temperatura na saída do compressor, considerando-o isentrópi-
co, é de 283 °C . De modo ideal, o calor removido no trocador de calor deve ser de
388,82 kJ kg . O compressor apresenta uma eficiência de 85% e a turbina fornece
um trabalho real de 620,9 kJ kg . Calcule qual o trabalho fornecido ao compressor
e a eficiência da turbina. Utilize o padrão a ar.
Dados:
T1 = 300 K
T2 s = 556 K
T3 = 1273 K

qsai = 388, 82 kJ kg

hC = 0, 85

wr ,turb = 620, 9 kJ kg

Resolução:
Com as temperaturas conhecidas, podemos encontrar a entalpia na tabela de pro-
priedades de gás ideal do ar.

208 Ciclo de potência a vapor


T1  h1  300, 19 kJ kg considerações ideal, é possível observar as seguin-
tes irreversibilidades:
T2 s  h2 s  561, 4 kJ kg • O fluido percorrendo as tubulações e os
dispositivos sofrerão com atrito, resultan-
T3  h3  1363, 95 kJ kg do em uma perda de pressão.
• Inevitavelmente, calor será perdido no es-
Conhecendo o calor rejeitado e a entalpia do es- coamento entre os componentes, acarre-
tado 1, calculamos a entalpia na saída da turbina tando, também, perda de pressão.
isentrópica: • A bomba consumirá um trabalho maior,
para, além de compensar as irreversibili-
qsai  h4 s  h1  h4 s  qsai  h1  689, 01 kJ kg dades internas do dispositivo, restituir a
pressão perdida anteriormente.
Agora, temos as informações necessárias para • A turbina produzirá menos trabalho, de-
calcular o que o exercício pede: vido às irreversibilidades e por receber o
fluido da caldeira em menor pressão do
h2 s  h1 h h
hC   wr ,comp  2 s 1  307, 31 kJ kg que o idealizado.
wr ,comp hC
T
wr ,turb
hT   0, 92
h3  h4 s 3

Resposta: O trabalho fornecido ao compressor


é 307, 31 kJ kg , e a eficiência da turbina 92%. 2r
2s

POTÊNCIA A VAPOR 4s 4r

Retomando ao ciclo de Rankine, inevitavelmente,


esse ciclo também apresentará irreversibilidades s1 = s2 s s3 = s4 s s
em seu modelo real. Ao analisar seu ciclo real e Figura 5 - Ciclo de Rankine real e ideal
o comparar com os dados obtidos por meio das Fonte: adaptada de Çengel (2013).

Bomba Turbina

ws ,bomba h2 s  h1 wr ,turb h3  h4 r
hB   hT  
wr ,bomba h2 r  h1 ws ,turb h3  h4 s

UNIDADE 8 209
04 EXEMPLO Utilize os dados encontrados no primeiro exemplo dessa unidade para calcular a
eficiência térmica real do ciclo, sabendo que a bomba apresenta uma eficiência de
90% e a turbina 98%. Comente sobre a diferença entre as eficiências ideal e real.

Dados:
Do exemplo já realizado, podemos obter Novas informações passadas

h1  167, 53 kJ kg h B = 0, 90
h  176, 18 kJ kg hT = 0, 98
 2s

h3  2749, 6 kJ kg
h4 s  1775, 1 kJ kg

Resolução:
Inicialmente, precisamos utilizar as novas eficiências fornecidas para determinar as
entalpias reais no estado 2 e 4:

h2 s  h1 h h
hB   h2 r  2 s 1  h1  177, 14
h2 r  h1 hB

h3  h4 r
hT   h4 r  h3  hT  h3  h4 s   1794, 6
h3  h4 s

Com isso, podemos calcular a eficiência térmica real do ciclo por:

ht ,real  1 
 h4 r  h1   0, 3675  h
t ,real  36, 75%
 h3  h2r 
Resposta: A eficiência térmica real deste ciclo é 36,75%, levemente inferior à efi-
ciência ideal (37,53%), por conta das elevadas eficiências dos dispositivos (90 e 98%).

210 Ciclo de potência a vapor


Melhorias no
Ciclo de Rankine

Projetos de engenharia sempre buscam melhores


eficiências. Uma eficiência alta significa um des-
perdício reduzido, maior aproveitamento do que
estiver sendo consumido. Seja seu tempo, seu di-
nheiro, sua matéria-prima, seus insumos, é sempre
importante fazer render, empenhar-se para obter
o melhor rendimento. Na termodinâmica, mesmo
com as limitações físicas e as leis que impeçam
um 100% de aproveitamento, sempre há busca
por melhorias. No ciclo de Rankine, um ciclo
muito utilizado para geração de energia elétrica,
qualquer melhora é muito significativa, pois são
projetos de larga escala.
Ao longo de seus estudos nesta unidade e com
os conhecimentos anteriormente obtidos, você já
chegou a pensar em possibilidades de melhoria
neste ciclo? Bem, vou lhe mostrar pontos interes-
santes dele, por consequência, expandirá sua visão
para outros problemas de engenharia.

UNIDADE 8 211
MENOR PRESSÃO receberá calor para tornar o fluido de trabalho líquido sa-
NO CONDENSADOR turado deve estar em temperatura menor. Nas usinas, geral-
mente, utiliza-se o fluxo de rios no resfriamento.
Uma redução na pressão do • Umidade na turbina: uma consequência indesejada é a re-
condensador fará com que a dução do título da mistura saturada, o que representa maior
temperatura do líquido-vapor umidade passando pelas pás da turbina. O atrito causa erosão
saturado fique menor. A turbi- na turbina, reduzindo sua vida-útil.
na aproveitará mais da entalpia T
presente no fluido de trabalho
em seu processo de expansão, maior calor
produzindo maior trabalho. Por adicionado
3
outro lado, com a pressão me-
nor quando o líquido saturado
chega à bomba, ela consumirá
2
maior trabalho para elevar a
2’
pressão novamente. A caldeira 1
também fornecerá maior calor, 4
pois a temperatura em sua en- maior
1’ 4’ aproveitamento
trada estará menor. maior
Wliq título do calor
Avaliando estes pontos, ain- menor
da assim, a eficiência térmica
s
do ciclo aumentará, o trabalho
Figura 6 - Diagrama T-s com menor pressão no condensador
e calor consumido são poucos,
Fonte: adaptada de Çengel (2013).
comparados com o trabalho
adicional obtido. MAIOR TEMPERATURA NA
Observe o quão baixa a pres- ENTRADA DA TURBINA
são no condensador pode ser é
limitada por alguns aspectos O vapor deve ser superaquecido, na caldeira, de modo a atingir
físicos: temperatura maior, mantendo a pressão constante. Para isso, é ne-
• Resistência da estrutura: cessário temperatura média mais elevada neste dispositivo. Neste
uma pressão abaixo da processo, a quantidade de calor fornecida ao fluido de trabalho será
atmosférica exige resis- maior, por consequência, o fluido apresentará mais capacidade de
tência estrutural maior, realizar trabalho ao ser expandido pela turbina.
de modo a impossibilitar Nestas condições, a turbina apresentará aumento no trabalho
infiltração e implosão. líquido e, mesmo com a necessidade de fornecer maior quantidade
• Temperatura da fonte de calor ao sistema, o ciclo apresentará aumento em sua eficiência
fria: a temperatura da térmica. Diferente do caso anterior, esta modificação torna o título
mistura saturada é me- na saída da turbina maior, evitando o problema de elevada umidade
nor. conforme a redução colidindo com as pás da turbina.
da pressão no condensa- A maior limitação ocorre, devido às máximas temperaturas de
dor. A fonte fria, a qual trabalho suportadas pela caldeira, pelas tubulações e pela turbina.

212 Ciclo de potência a vapor


T T

3’ Maior 3’ 3
3 Tmáx
Wliq

2’
1 4 4’ Diminuição
2 no Wliq

1 4’ 4
s
Figura 7 - Diagrama T-s com maior temperatura na entrada s
da turbina
Fonte: adaptada de Çengel (2013). Figura 8 - Diagrama T-s com maior pressão na caldeira /
Fonte: adaptada de Çengel (2013).

MAIOR PRESSÃO
NA CALDEIRA

Um aumento na pressão da caldeira elevará a De modo geral, ao realizar o aumento da pres-


curva do processo de fornecimento de calor são na caldeira, no ciclo de Rankine, o efeito global
( 2 → 3 ). A temperatura de saturação do fluido de é de uma melhora na eficiência. Como agravante,
trabalho também aumenta, isso quer dizer que a temos que a expansão em menor entropia resulta
temperatura média da transferência de calor na em mistura saturada com menor título, como já
caldeira será maior. Para isso, torna necessário visto, uma situação não desejada.
que a bomba consuma mais trabalho para elevar Vimos algumas possibilidades de melhorias,
a pressão até a desejada. isoladamente. Apesar de cada melhoria indica-
Como já sabemos, desde os estudos iniciais de da apresentar suas desvantagens, o praticado,
máquinas térmicas, a eficiência térmica do ciclo realmente, é a utilização de combinações destas
melhora, conforme a temperatura média da trans- modificações. Como menor pressão no conden-
ferência de calor aumenta. Entretanto, consideran- sador resulta em menor título na saída da tur-
do a temperatura de entrada na turbina como um bina, maior temperatura na entrada da turbina
limitante, a expansão isentrópica ocorrerá em uma resulta em maior título, logo, com os dois ajustes
entropia menor, reduzindo uma parcela de trabalho em simultâneo, será minimizado o problema de
líquido que foi, anteriormente, obtido com o ciclo. elevada umidade nas pás da turbina.

UNIDADE 8 213
Ciclo de Rankine
com Reaquecimento

Uma forma de contornar os problemas na busca


por mais eficiência térmica no ciclo, como co-
mentado anteriormente, é aplicar duas ou mais
modificações no ciclo. Observando isso, pode ter
pensado em elevar a pressão nas caldeiras e elevar
a temperatura com que o fluido de trabalho entra
na turbina. Uma ótima melhoria, caso não tivés-
semos a limitação das temperaturas suportadas
pelos dispositivos. Para contornar este problema, é
utilizado um processo de expansão na turbina em
dois estágios, ocorrendo entre esses um reaque-
cimento do fluido de trabalho, conhecido como
ciclo de Rankine com reaquecimento.

Além do reaquecimento no ciclo Rankine, tam-


bém, há uma variação onde se utiliza calor do
vapor expandido, parcialmente, na turbina para
pré-aquecer a água que ainda passará pela caldei-
ra, conhecido como ciclo de Rankine regenerativo.

214 Ciclo de potência a vapor


5
Conforme mostra a Figura
2 3 9, o fluido de trabalho que sai
Caldeira da caldeira com pressão P3
é expandido em uma turbi-
na, conhecida como turbina
Turbina Turbina de alta pressão. Esta primeira
Bomba alta baixa
pressão pressão expansão não levará o fluido
até a pressão do condensador,
ocorrendo apenas uma queda
4
parcial da pressão, chegando
Condensador em P4 . O vapor retorna à cal-
1 6 deira para receber mais calor,
s
sendo reaquecido de forma
Figura 9 - Esquemático dos dispositivos no ciclo de Rankine com reaquecimento isobárica. Ao atingir a tempe-
Fonte: adaptada de Moran (2009). ratura máxima do ciclo, é ex-
T Reaquecimento pandido pela turbina de baixa
Turbina de
alta pressão 3 5 pressão, chegando à pressão
do condensador.
Turbina de Realizar o balanço nesse ci-
baixa pressão clo é similar ao ciclo padrão,
porém deve realizar a conside-
4
ração de que o calor transfe-
rido ao fluido ocorre em duas
etapas, assim como o trabalho
2 produzido pelas turbinas.

1 6

s
Figura 10 - Diagrama T-s do ciclo de Rankine com reaquecimento
Fonte: adaptada de Çengel (2013).

qent h3 h2 h5 h4
Tenha sua dose extra de conhecimento
assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code. wturb,sai h3 h4 (h5 h6 )

UNIDADE 8 215
01 EXEMPLO A Figura 11 apresenta as pressões obtidas em determinados processos de um ciclo de
Rankine ideal com reaquecimento. Sabe-se que o fluido de trabalho é água com uma
vazão mássica de 3 kg/s, e a temperatura limite dos dispositivos é de 600°C. Determine
o consumo da bomba, a energia produzida nas turbinas e a eficiência térmica do ciclo.
4 MPa

10 MPa 10 MPa
Caldeira

Turbina Turbina
Bomba alta baixa
pressão pressão

4 MPa

Condensador
75 kPa 75 kPa
Figura 11 - Dados do ciclo de Rankine com reaquecimento
Fonte: adaptada de Moran (2009).

Dados: m = 3 kg s
P=
1 P=
6 75 kPa

P=
2 P=
3 10000 kPa

P=
4 P=
5 4000 kPa
T3  T5  600C

Resolução:
Com os dados apresentados, necessitamos buscar, primeiramente, as entalpias em
cada estado do ciclo.
Estado 1: líquido saturado

P1  h1  hl @ P1  384, 44 kJ kg

x1  0  v1  vl @ P  0, 001037 m3 kg
1

Estado 2: líquido comprimido


Calculando o trabalho que a bomba exerce na água para elevar sua pressão, con-
seguimos determinar a entalpia no estado 2.
wbomba,ent  v1  P2  P1   10, 29 kJ kg

h2  wbomba,ent  h1  394, 73 kJ kg

216 Ciclo de potência a vapor


Estado 3: vapor superaquecido, na entrada da turbina de alta pressão.
P3  h3  3625, 8 kJ kg

T3  s3  6, 9045 kJ kg  K

Estado 4: vapor superaquecido, após turbina de alta pressão.


P4 
 h  3307, 4 kJ kg
s4  s3  4

Estado 5: vapor superaquecido, na entrada da turbina de baixa pressão.


P5  h5  3674, 9 kJ kg

T5  s5  7, 3706 kJ kg  K

Estado 6: líquido-vapor saturado, na saída da turbina de baixa pressão.

 
P6  x6  s6  sl @ P6 slv @ P6  0, 9864

s6  s5  h6  hl @ P  x6 hlv @ P  2631, 46 kJ kg
6 6

Tendo conhecimento da entalpia em todos os pontos do ciclo, pode-se calcular,


facilmente, calor e trabalho envolvido no ciclo.
qent   h3  h2    h5  h4   3598, 57 kJ kg

qsai  h6  h1  2247, 02 kJ kg
qsai
ht  1   0, 3756  37, 56%
qent

wturb,sai   h3  h4   (h5  h6 )  1361, 84 kJ kg

Wturb,sai  m  wturb,sai  4085, 52 kW

Wbomba,ent  m  wbomba,ent  30, 87 kW

Resposta: Para a vazão mássica de 3 kg/s, o consumo da bomba é de 30,87 Kw, e a


energia produzida nas turbinas é 4085,52 kW. O ciclo apresenta eficiência térmica
de 37,56%, independentemente da vazão mássica.

Nesta unidade, o conteúdo teve um foco especial no ciclo de Rankine, muito utilizado
quando se fala em ciclo de potência a vapor. Além disso, trouxe um olhar crítico de en-
genharia, buscando expandir a visão dos ciclos, dos modelos e dos problemas estudados.
Ao longo dos estudos, deve-se desenvolver o pensamento de melhorias e aprimorar
a forma de interligar os assuntos. Muito da matemática utilizada nessa unidade já foi
vista ao longo da disciplina, sendo assim, o ponto forte foi explorar as possibilidades
que os dispositivos já estudados possam apresentar.

UNIDADE 8 217
1. Após estudar o conteúdo sobre ciclo de potência a vapor, um estudante chegou
às seguintes conclusões:
I) O desejável é que a umidade na saída da turbina não exceda 10%.
II) Para potência a vapor, o ciclo de Carnot apresenta os mesmos processos
que o ciclo de Rankine.
III) O ciclo de Carnot como um ciclo de potência a vapor é simples de ser cons-
truído, porém sua eficiência térmica é baixa.
IV) As principais irreversibilidades consideradas no modelo de ciclo real estão
presentes na bomba, compressor e turbina.

Das conclusões feitas pelo estudante, estão corretas, apenas:


a) I e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.

2. Você é o engenheiro responsável por otimizar o projeto de um ciclo de Rankine.


A instalação será próxima a um rio, o qual será usado como fonte fria para rejei-
ção de calor do fluido de trabalho, água. A temperatura média do rio é de 20°C,
para uma troca eficiente de calor, deseja-se a diferença mínima de temperatura
de 25°C. Para cumprir seu papel de otimizar o projeto, que pressão deve ser
atribuída ao condensador?
a) 2,3 kPa.
b) 9,6 kPa.
c) 25,1 kPa.
d) 45,0 kPa.
e) 65,0 kPa.

218
3. Em um ciclo de Rankine ideal, com vazão mássica constante, serão aplicadas,
individualmente, as melhorias descritas na tabela a seguir. Utilizando aumenta,
diminui e constante, complete a tabela com o efeito que cada melhoria causa
em determinada grandeza do ciclo.
Melhoria

Menor pressão Maior temperatura na Maior pressão


condensador entrada da turbina na caldeira

wbomba,ent

wturb,sai

qent
Efeito

qsai

ηt
x ítulo

219
LIVRO

Introdução à engenharia de sistemas térmicos


Autor: Michael J. Moran, Howard N. Shapiro, Bruce R. Munson, David P. DeWitt
Editora: LTC
Sinopse: os autores Michael Moran, Howard Shapiro, Bruce Munson e David
DeWitt pesquisaram os campos da termodinâmica, da mecânica dos fluidos e da
transferência de calor e identificaram os temas críticos de cada área, necessá-
rios para analisar sistemas térmicos. O texto contém todo o material referente
ao núcleo de conhecimentos de que o leitor precisa nos sistemas térmicos de
engenharia, enquanto o material suplementar que acompanha o livro oferece
conteúdo adicional e uma gama razoável de recursos destinados a ampliar o
entendimento desse núcleo para ajudar a aprimorar suas habilidades de reso-
lução dos problemas.

220
BORGNAKKE, C.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da termodinâmica. Editora São Paulo: Blücher, 2018.

ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013

MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N. Princípios de termodinâmica para engenharia. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2009.

221
4. B.

5. B.

A água do ciclo deve chegar, no mínimo, à temperatura de 45°C, logo, a pressão de saturação da água,
nessa temperatura, é a pressão mínima para ser aplicada no ciclo.

6.

Melhoria

Menor pressão Maior temperatura na Maior pressão


condensador entrada da turbina na caldeira

wbomba,ent Aumenta Constante Aumenta

wturb,sai Aumenta Aumenta Aumenta

qent Aumenta Aumenta Aumenta


Efeito

qsai Diminui Aumenta Diminui

ηt Aumenta Aumenta Aumenta

x ítulo Diminui Aumenta Diminui

222
223
224
Me. Cláudio Vinicius Barbosa Monteiro
Esp. Luis Fernando Calciolari Ferrarezi

Refrigeração e Relações
de Propriedades
Termodinâmicas

PLANO DE ESTUDOS

Sistema de Relações
refrigeração a vapor gerais

Refrigerador e Equações de
bomba de calor propriedades

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Definir o ciclo reverso de Carnot e o seu coeficiente de • Desenvolver as relações de Maxwell e utilizar o gás ideal
performance; como referência;
• Analisar o ciclo ideal de refrigeração por compressão a • Desenvolver as relações gerais de propriedades para to-
vapor; das substâncias puras.
Refrigerador
e Bomba de Calor

Você já está na reta final de nosso estudo em ter-


modinâmica. Observe como as unidades foram se
interligando e complementando, por conta disso,
é sempre importante solidificar o conteúdo base,
ele serve para expandir suas análises em proble-
mas futuros.
Durante as abordagens envolvendo transfe-
rência de calor, sempre constatamos que, natural-
mente, a energia térmica flui do corpo em maior
temperatura para compor o de menor tempera-
tura, buscando, assim, o equilíbrio térmico entre
os corpos. De forma não espontânea, podemos
usufruir de ciclos termodinâmicos para forçar
uma transferência de calor no processo inverso
ao natural.
Para ambos os casos, o ciclo, geralmente, trabalhará com tempe-
Ambiente ratura mínima inferior a 0 °C , tornando inviável o uso de água
frio como fluido de trabalho. Nesses ciclos, são utilizados os chamados
fluidos refrigerantes. Inicialmente, utilizava-se o CFC (clorofluor-
carbonetos), altamente nocivo à camada de ozônio. Atualmente,
foram desenvolvidos fluidos refrigerantes menos agressivos ao meio
QL ambiente, sendo o mais popular o R-134a.

Wliq, ent

Os CFC’s destroem a camada de ozônio. [...] Para converter, ou


substituir um equipamento operado com CFC, foram criados dois
tipos de refrigerantes alternativos: HCFC’s e HFC’s. No HFC, todos
os átomos de cloro são substituídos por hidrogênio, e um exemplo
QH
é o R-134a (Tetrafluoretano).
Fonte: adaptado de Ferraz (2008).

Ambiente
quente O desempenho dos ciclos de refrigeração é chamado de COP, coe-
ficiente de performance, que envolve o trabalho líquido fornecido
Figura 1 - Esquemático para refrige-
rador e bomba de calor ao ciclo e a saída desejada, sendo o efeito de resfriamento aos refri-
Fonte: os autores. geradores ou o efeito de aquecimento às bombas de calor.
QL QH
COPR = COPBC =
CONCEITO E Wliq ,ent Wliq ,ent
PERFORMANCE

Talvez você tenha se questiona-


do sobre como executarmos o
processo inverso, resultado ob-
tido pelo ar condicionado ou ge- Diferente de outros parâmetros, como o rendimento, o COP apre-
ladeira, por exemplo. Estes dis- senta valores acima de 1. Observe a equação que pode ser obtida
positivos são conhecidos como por meio dos dois coeficientes.
refrigeradores uma vez que o Wliq ,ent QL QH
objetivo de seu ciclo é refrige-
Wliq ,ent QL QL
rar um espaço, e, para que esse COPBC 1
ciclo ocorra, é necessário rejeitar Wliq ,ent Wliq ,ent
calor em um de seus processos. COPBC 1 COPR
Caso o objetivo do dispositivo
seja utilizar esse processo para Como o COP de refrigerador é um valor positivo, concluímos que
aquecer um ambiente, ele é cha- o COP da bomba de calor será maior que 1.
mado bomba de calor.

UNIDADE 9 227
CICLO REVERSO DE CARNOT • 3 → 4 Calor removido de forma isotér-
mica. Dispositivo: condensador.
Logo no primeiro momento, quando foi abordado • 4 → 1 Expansão isentrópica. Dispositivo:
o conteúdo do ciclo de Carnot, foi apresentada uma turbina.
de suas características, que é ser um ciclo reversível.
Nesse momento, exploraremos esta particularidade. Estes apresentam, também, as dificuldades em
reproduzir tais percursos em ciclos reais, neces-
sitando que o compressor trabalhe com a mistura
líquido-vapor, e que a turbina realize a expansão
O ciclo reverso de Carnot apresentará os mes- com elevado percentual de umidade na mistura.
mos processos vistos no ciclo de potência a vapor Isso torna o ciclo reverso de Carnot inviável de
com Carnot, entretanto o sentido do fluido de ser utilizado nos dispositivos reais.
trabalho é invertido. A relevância do ciclo reverso de Carnot (Figura
3) está no fato de este apresentar, novamente, a maior
eficiência para um ciclo de refrigeração operando
Observe a Figura 2, onde o ciclo apresentado está, entre dois limites de temperatura. O coeficiente de
internamente, no domo de saturação de um fluido performance para esse ciclo passa a ser expresso pe-
refrigerante. las máxima e mínima temperaturas( TH e TL ) de
operação, dado pelas seguintes equações:
T 1
COPR,Carnot 
TH TL  1
1
COPBC,Carnot 
QH 1  TH TL
4 3
Ambiente
quente
QH

Condensador
1 QL 2 3
4

s
Turbina Compressor
Figura 2 - Diagrama T-s para ciclo reverso de Carnot
Fonte: os autores.

Evaporador
Os processos são similares aos analisados na uni- 1 2
dade anterior: QL
• 1 → 2 Calor fornecido de forma isotérmi- Ambiente
frio
ca. Dispositivo: evaporador.
Figura 3 - Esquemático dos dispositivos do ciclo reverso
• 2 → 3 Compressão isentrópica. Disposi- de Carnot
tivo: compressor. Fonte: adaptada de Van Wylen (2008).

228 Refrigeração e Relações de Propriedades Termodinâmicas


Sistema de
Refrigeração a Vapor

Novamente, conforme realizamos para o ciclo de


Rankine, a forma de viabilizar o ciclo de refrigera-
ção, visto no modelo de Carnot, será extrapolando
para a região de vapor superaquecido no domo
de saturação. Para obtermos um ciclo que não en-
frente os problemas apresentados anteriormente,
no compressor e na turbina, fazem-se necessárias
duas modificações cruciais:
• O fluido de trabalho deve ser admitido
pelo compressor, apenas, quando já apre-
sentar título 1, ou seja, quando estiver no
estado de vapor saturado.
• A turbina deve ser substituída por uma
válvula de expansão, a qual é um disposi-
tivo de estrangulamento, possibilitando o
processo do estado de líquido saturado em
alta pressão para uma mistura líquido-va-
por em baixa pressão.

Sendo assim, como resultado obtém-se o ciclo


ideal de refrigeração a vapor, muito utilizado
em geladeira, ar condicionado e bomba de calor.
Seu esquemático está apresentado na Figura 4.

UNIDADE 9 229
QH

Condensador
4 3

Went
Válvula de
expansão Compressor

QL
1 2
Evaporador

Figura 4 - Esquemático do ciclo ideal de refrigeração a vapor


Fonte: adaptada de Van Wylen (2008).

Os quatro processos presentes neste ciclo podem ser descritos da


seguinte forma:
• 1 → 2 Calor fornecido de forma isobárica: o fluido refrige-
rante chega ao evaporador como mistura líquido-vapor de
baixo título, neste processo, ele absorve calor do ambiente
frio, saindo do dispositivo como líquido saturado.
• 2 → 3 Compressão isentrópica: o compressor recebe o flui-
do de trabalho no estado de líquido saturado, comprimindo-
-o, de modo isentrópico, até que atinja a pressão de trabalho
do condensador.
• 3 → 4 Calor removido de forma isobárica: no estado de
vapor superaquecido, o refrigerante passa no condensador,
onde rejeita calor ao ambiente aquecido; mantendo a pressão
constante, ele sairá do condensador no estado de líquido
saturado.
• 4 → 1 Estrangulamento em dispositivo de expansão: neste
dispositivo, o refrigerante entra como líquido saturado na
pressão do condensador e sai como mistura líquido-vapor
na pressão do evaporador; nesse processo, a entalpia man-
têm-se constante.

O diagrama T-s dos processos, presentes neste ciclo, está represen-


tado na Figura 5.

230 Refrigeração e Relações de Propriedades Termodinâmicas


T Aproximando o compressor
para adiabático e sabendo que o
evaporador e o condensador não
envolvem trabalho, temos que:
3
qent  qL  h2  h1
qsai  qH  h3  h4
QH
wliq ,ent  h3  h2
4
Went Podendo determinar os coe-
ficientes de performance por
meio das seguintes equações:

qL h2  h1
2 COPR  
1 wliq ,ent h3  h2
QL
qH h3  h4
COPBC  
s wliq ,ent h3  h2
Figura 5 - Diagrama T-s do ciclo ideal de refrigeração a vapor
Fonte: Çengel (2013). E com as equações dos coefi-
Para que ocorra a troca de calor nos dispositivos com este fim, a cientes de performance para
temperatura no evaporador (processo 1 → 2 ) deve ser inferior à o ciclo ideal de refrigeração a
temperatura do ambiente frio ( TL,viz ). Já a temperatura de saída vapor encerramos nosso estu-
do condensador ( T4 ) deve ser superior à temperatura do ambiente do de refrigeração e bomba de
quente ( TH ,viz ). calor. Na sequência desta unida-
Diferentemente dos ciclos ideais estudados anteriormente, este de, veremos sobre as relações de
apresenta irreversibilidade interna, devido ao dispositivo de ex- propriedades termodinâmicas.
pansão realizar um processo de estrangulamento, o qual não é re-
versível. Porém este é necessário para substituir a turbina, devido
ao elevado teor de umidade presente no processo. Considerando
o funcionamento do ciclo em regime permanente, ao realizar um
balanço de energia, obtemos:

 qent  qsai    went  wsai   hsai  hent

UNIDADE 9 231
Equações de
Propriedades

Da mesma forma como foi abordado na aula an-


terior, podemos descrever os sistemas termodinâ-
micos e os processos por modelos matemáticos
infinitesimais. Esses modelos permitem descrever,
de forma mais geral, as substâncias e suas pro-
priedades. Para representar suas transformações,
nossa disciplina se apoia nos conceitos de deri-
vada parcial e equações diferenciais trabalhados
em outras disciplinas, como o Cálculo I e II. Caso
sinta que esses conceitos precisem ser revisitados
ou revisados, fique à vontade para consultá-los.
Acreditamos que, desta forma, a compreensão
do assunto estará mais embasada, formando um
conceito sólido sobre as equações diferenciais das
propriedades termodinâmicas.
Para iniciar nossa discussão, relembraremos
o conceito de derivada parcial, estudada na dis-
ciplina de Cálculo. Digamos que certa função f
seja representada por duas variáveis, isto é, f(x,
y) varia com a mudança de x e y, caso queiramos
conhecer a variação desta função em determinado
ponto, devemos calcular df como sendo:

f f
df  � dx  dy
x y
Podemos, ainda, afirmar que, se a função f é uma Pode, ainda, ser interessante que conheçamos rela-
diferencial exata, a igualdade entre as funções res- ções diferenciais para casos específicos, como para
posta de suas diferenciais, ou seja: situações em que o calor a ser estudado é o rever-
f f sível proveniente da equação da entropia, ou seja:
M  x, y   � � � � � e � � � � N , x y  
x y dQrev
=dS = � � � logo
� � dQrev TdS
T
Logo:
Ao substituir, na equação da primeira lei, teremos:
df  M  x, y  dx  N  x, y  dy
dU  S , V   TdS  pdV
Desta equação, surgem as seguintes igualdades:
E, de modo similar:
2 f M  x, y  2 f N  x, y 
 e 
xy y yx y  U   U 
dU  S , V     dS    dV
Temos que, para este tipo de equação, suas deri-  S V  V  S
vadas mistas são iguais, permitindo, desta forma,
ainda, a seguinte igualdade:  U   U 
   T � � � e �   p
M  x, y  N  x, y   S V  V  S
2 f 2 f
  
xy yx y x
Podemos, ainda, aplicar a igualdade das diferen-
As equações das propriedades termodinâmicas ciais exatas em que:
são representadas como funções contínuas e que M N
obedecem às relações e às condições para as dife- 
y x
renciais exatas. Isso permite que utilizemos essas
relações para propor equações diferenciais que re- Ou seja:
presentam os sistemas termodinâmicos. Vejamos,
 T   p 
por exemplo, o caso adiabático, em que temos,     
de acordo com a primeira lei, a seguinte relação:  V  S  S V
Permitindo, dessa forma, que possamos calcular
U T , V   Q  W
quem é a Energia Interna, tanto quanto ela é fun-
Aplicando a diferencial em U(T,V), obtemos: ção da temperatura e do volume quanto quando
ela é função da entropia e do volume. Estas asso-
 U   U 
dU T , V     dT    dV ciações de derivadas parciais são chamadas de de-
 T V  V T
rivadas de Maxwell, segundo ele, além deste tipo
Se compararmos esta equação com a diferencial de igualdade, podemos, ainda, sempre considerar
obtida em nossas discussões no capítulo 5: que, num sistema de três variáveis (x, y e z) ou (P,
dU  Cv dT  pdV V e T), o produto de suas derivadas parciais será
sempre -1, conforme indicado a seguir:
 U   U 
dU T , V     dT    dV
 T V  V T
 z   x   y 
 U   U         1
   Cv � � � e �    p  x  y  y  z  z  x
 T V  V T

UNIDADE 9 233
Ou, no sistema PVT: nRT
P=
V
 P   V   T   P  nRT
       1    2
 V T  T  P  P V  V T V
 V 
Esta propriedade recebe o nome de derivada cí- Calculando   :
 T  P
clica de Maxwell, vamos comprová-la nos dois
sistemas, verificando as seguintes equações: nRT
V=
P
z  2x  3 y
 V  nR
 z    
Calculando   :  T  P P
 x  y
z  2x  3 y  T 
Calculando   :
 P V
 z 
  2 PV
 x  y T=
 x  nR
Calculando   :
 y  z
 T  V
  
z  3y  P V nR
x
2
Substituindo:
 x  3
  
 y  z 2  P   V   T   nRT   nR   V   nRT 
        2   P   nR     PV 
 y   V T  T  P  P V  V     
Calculando   :
 z  x
 nRT   nRT 
z  2x Se 1   PV  , então, 1    PV  , comprovando a
y
3 validade da relação de Maxwell.

 y  1  P   V   T   nRT 
             1
 z  x 3  V T  T  P  P V  PV 
 z   x   y   3  1 
        2        1 Outras relações podem ser obtidas seguindo estes
 x  y  y  z  z  x  2  3 
mesmos métodos de cálculo, e todas elas obser-
No sistema PVT, tomaremos como exemplo a lei vando as relações de Maxwell para os sistemas
dos gases ideais, ou seja, PV=nRT termodinâmicos. Funções, como a Entalpia (H),
PV = nRT é definida como H = U + pV, ou a energia de
Gibbs (G), que é a energia livre disponível em
 P 
Calculando   : substâncias para produzir trabalho, é definida
 V T
como G = H – TS.

234 Refrigeração e Relações de Propriedades Termodinâmicas


Todas estas propriedades podem ser descritas, por meio de diferenciais exatos, mas, para dimen-
sionamento, controle e operação de processos, é muito importante que se tenham relações diferenciais
para um único tipo de variável, pois isso facilitará a abordagem e a correlação de seus dados. De todas
as variáveis que estudamos, a que circula por todos os tipos de transformações energéticas é a entropia
(S). Sendo assim, os engenheiros desenvolveram modelos matemáticos a partir de diferenciais exatos,
obtendo relações em que a entropia é função das variáveis de estado mais comuns, a saber a temperatura,
a pressão e o volume. Estes equacionamentos podem ser obtidos aplicando os diferenciais estudados
nesta aula e se encontram apresentados na Tabela seguinte:
Sistema Equação

Cv T , V
Entropia como função da temperatura e do Volume S TV dT
T

Cp V
Entropia como função da temperatura e da pressão dS T , V dT dp
T T P

Cp S Cv S
Entropia como função exclusiva da temperatura ou
T T P T T v

T2 p2
Entropia para um gás ideal S Cp n nRln
T1 p1

Tabela 1 - Relações Diferenciais e suas integrais em função da Entropia / Fonte: os autores.

Em nossa próxima aula, veremos, ainda, outras relações importantíssimas no desenvolvimento de


sistemas que representem as variações termodinâmicas, pois, em muitos casos, interessa-nos descrever
as grandezas energéticas em outros termos, que não a entropia.

UNIDADE 9 235
Relações
Gerais

Da mesma forma que discutimos, anterior-


mente, é possível, a partir das diferenciais pri-
mordiais, obter muitas relações matemáticas so-
bre como se comporta uma substância, no ciclo
termodinâmico. Os tipos de energia envolvidos
no ciclo são a energia interna e a entalpia, que
já conhecemos, entretanto, essas energias parti-
cipam, ativamente, do processo de transferência
de calor nos ciclos, mas os fluidos possuem em si
uma capacidade além de ceder, o que se propõem
nos ciclos termodinâmicos.
Este valor está, intrinsecamente, ligado ao nível
de desordem do sistema, ou seja, a sua entropia,
ele recebe o nome de Energia Livre de Gibbs (G)
e energia livre de Helmoltz (A), junto com a en-
talpia e a energia interna perfazem as equações
fundamentais da termodinâmica, são elas:
U  Q W

H  U  pV

G  H  TS

A  U  TS
Enquanto a energia de Gibbs correlaciona a entalpia com a
entropia do sistema, a energia de Helmoltz correlaciona essa en-
tropia com a energia interna, ou seja, de posse destas equações,
podemos correlacionar qualquer tipo de energia de um sistema
termodinâmico de modo a encontrar seus valores a partir das
condições de P, V e T.
Estas mesmas equações podem ser descritas como diferenciais
parciais, que, após algumas manipulações matemáticas, resultam
nas expressões que se seguem:
dU  TdS  pdV

dH  TdS  Vdp

dG   SdT  Vdp

dA   SdT  pdV

Caro(a) engenheiro(a), observe, por exemplo, que, para descobrirmos


qual é a energia interna de um sistema, basta que tenhamos variações
de entropia e volume mensuráveis. O problema é que não existe um
entropiômetro, logo, é mais fácil medir outras grandezas, como
Gibbs, que é função de temperatura e pressão, ou Helmholtz, que é
função de temperatura e Volume. Isso é feito utilizando a igualdade
das diferenciais exatas, e, a partir dela, nossas equações tornam-se:

 T   p 
    
 V  S  S V

 T   V 
   
 p  S  S  p

 S   p 
   
 V T  T V

 S   V 
    
 p T  T  p

Estas relações podem ser utilizadas na descrição e na obtenção de


equações que exprimem o comportamento de fluidos em siste-
mas termodinâmicos, além de poder expressar valores, por meio
dessas equações:

UNIDADE 9 237
01 EXEMPLO Utilizando as derivadas parciais e as equações fundamentais, demonstre, matemati-
camente, que a variação da energia interna de um gás ideal é igual a 0:

Resolução: Partindo da equação para a energia interna temos:

dU  TdS  pdV
Dividindo por dV, pois, se T é constante, e U varia com a entropia e o volume, a
variação proveniente desta grandeza deverá ser resultado da variação de volume do
sistema, logo:
 U   S 
  T   p
 V T  V T

Mas, ainda, da igualdade das diferenciais parciais sabemos que:

 S   p 
   
 V T  T V

Portanto:

 U   p 
  T   p
 V T  T V

Ou seja, temos uma função para a energia interna que pode ser representada, ape-
nas, pelas variáveis mensuráveis de P e T. Como para o gás ideal a derivada de p em
relação a V com T constante vale:

 p  nR p
   
 T V V T

Então:
 U   p
  T   p
 V T T 

 U 
   p p 0
 V T

Comprovando, dessa forma, que esta variação é nula para o gás ideal.

238 Refrigeração e Relações de Propriedades Termodinâmicas


ção de energia térmica presentes em sistemas
de vapor em trabalho, foram analisadas pro-
Tenha sua dose extra de
postas para modelos reais em que valores das
conhecimento assistindo ao substâncias mais usuais podem ser utilizados
vídeo. Para acessar, use seu na estimativa das energias trocadas, e esses va-
leitor de QR Code. lores são expressos, por meio de tabelas ter-
modinâmicas.
Para finalizar nossa discussão, tratamos
Vimos, nesta unidade, que os ciclos reais po- de utilizar os conceitos de cálculo diferencial,
dem ser descritos como um ciclo próximo da apresentando as equações de Maxwell e sua
idealidade, e que isso é alcançado quando uti- aplicação nos conceitos termodinâmicos. Es-
lizamos como referencial o ciclo de Carnot. sas aplicações permitiram que fossem desen-
Aprendemos que manipulações nas mudanças volvidos vários modelos que representem as
de estado dos processos permitem alcançar va- variações reais dos sistemas, permitindo que
lores diferentes de trabalho realizado. os engenheiros mecânicos consigam exprimir
Na sequência, abordamos as aplicações em os processos de modo matemático, por meio
processos reais de refrigeração e transforma- de uma modelagem da realidade.

UNIDADE 9 239
1. Um equipamento está sendo projetado para ter seu funcionamento com base
no ciclo reverso de Carnot. Este trabalhará entre os limites de temperatura de
10 C e 70 °C . Idealizando a possibilidade da construção deste projeto, qual
é, aproximadamente, o máximo coeficiente de performance obtido pelo dispo-
sitivo, sabendo que seu objetivo será refrigerar um ambiente?
a) 0,7.
b) 1,2.
c) 3,3.
d) 4,7.
e) 7,1.

2. Usando a equação de Van der Walls conjuntamente com as equações de estado


termodinâmico, avalie para este gás o valor de  U  , sendo que suas constantes
 
 V T
valem a=1,39 L² atm/mol² e b = 0,04 L/mol :

 U  1, 39
a)    2 .
 V T V

 U  R
b)    .
 V T V  0, 04

 U  1, 35
c)    2 .
 V T V

 U  R 1, 39
d)     2 .
 V T V  0, 04 V

 U  1, 43
e)    2 .
 V T V

240
3. Calcule a variação da entropia em um sistema cujo volume é representado pela
equação V T   T 2  80T , nos estados de P1 = 2 � atm até P2 = 3� atm e
T = 500� K .
a) 1840 J.
b) 920 J.
c) 460 J.
d) -920 J.
e) -1840 J.

241
LIVRO

Refrigeração I Fundamentos
Autor: António José da Anunciada Santos
Editora: Publindústria
Sinopse: a refrigeração, normalmente, conhecida como a arte de produzir frio,
artificialmente, é um “vetor” da ciência termodinâmica, que trata do transporte
do calor entre meios a temperaturas distintas. Apesar de os processos básicos
associados às máquinas de produção de frio não terem sofrido grandes alte-
rações ao longo dos tempos, as questões climáticas e energéticas têm vindo,
ultimamente, a influenciar a indústria da refrigeração. A alteração dos fluidos
frigoríficos, destruidores da camada de ozônio e com elevado efeito de estufa,
bem como a redução energética associada à maquinaria usada nas instalações de
frio, são dois aspetos que têm marcado este setor, o que obriga a uma constante
atualização técnica. Com aplicações em toda a indústria, a refrigeração tem o seu
forte uso no setor alimentar, na congelação e na conservação dos alimentos e
no ar condicionado, para satisfazer as necessidades de conforto térmico do ser
humano. Direcionado para o frio alimentar, este documento estruturado em doze
capítulos, segue temas que abrangem os conteúdos programáticos do ensino
profissional, universitário e regulamentos comunitários para cursos de gases
fluorados destinados a profissionais que manuseiam as instalações frigoríficas.

242
ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

FERRAZ, F.; GOMES, M. O histórico da Refrigeração. Fluídos Refrigerantes Ozônio/Destruição Sistemas


de Refrigeração Componentes de um Sistema de Refrigeração. Bahia: CEFET, 2008.

VAN WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmica clássica. 4. ed.
São Paulo: E. Blücher, 2008.

243
1. C.

Dados:
TH  70 C  343 K

TL  10 C  263 K
Resolução:

1 1
COPR,Carnot  
TH TL  1 343 263  1

COPR,Carnot = 3, 2875  3, 3

2. A.

Sabemos que:
 U   p 
  T   p
 V T  T V
E que o comportamento de um gás de Van der Walls é dado por:
RT a
p  2�
V b V
Derivando:

 p  R
   �
 T V V  b
 U 
Substituindo em   :
 V T
 U   p 
  T   p
 V T  T V
 U   R   RT a 
  T    2 �� 
 V T V b  V b V 
 U   a 
    2 �� 
 V T  V 

Portanto:

 U  1, 39
   2
 V T V

244
3. D.

Utilizando as equações e Maxwell, temos que:

 S   V 
    
 p T  T  p
Ou seja:

V T   T 2  80T

Derivando:

 V 
   2T  80
 T  p

 S   V 
      2T  80
 p T  T  p

 S 
   80  2T
 p T
Separando as variáveis e integrando, teremos:

S   80  2T  dp

3
S    80  2T  dp
2

S   80  3   2T  3 )  (80  2   2T  2  

S   80  3   2.  500  .  3 )  (80  2   2.  500  .  2  

S  2760  1840
S  920� J

245
246
247
CONCLUSÃO

Chegamos ao final de uma breve introdução sobre o que é esta arte que
busca traduzir em números o que ocorre com as substâncias e os equipa-
mentos quando submetidos a diversas condições de trabalho.
Vimos que a Termodinâmica é essencial à compreensão dos fenômenos
de transferência de calor e de massa e que, sem estas abordagens, não seria
possível trabalhar com otimizações para sistemas reais de transformações
energéticas.
Você aprendeu que uma máquina térmica, seja ela um refrigerador seja
um motor, obedece a relações físicas que exprimem, matematicamente,
condições de vizinhanças e fronteiras de máquina, e que grandezas, como
o calor e o trabalho são essenciais para conhecer sobre a eficiência e o
rendimento de máquinas.
Em nosso estudo, percebemos, ainda, que todas as grandezas aqui dis-
cutidas podem ser descritas como função de uma única variável mais
abrangente entre todas, a entropia. Por meio dela, são propostas equações
diferenciais que traduzem variáveis, como pressão, volume e temperatura
em quantidades de energia em trânsito, e permitem ao engenheiro mecâ-
nico movimentá-las e aplicá-las de forma mais eficiente que as propostas.
Então, cabe a nós, enquanto engenheiros, conhecer e compreender quais
os limites de nossos projetos e como os manipular utilizando a termodi-
nâmica para buscar melhores eficiências e rendimentos. O caminho foi
indicado, cabe, agora, a você que o trilhe sem deixar que a chama da inves-
tigação se apague.

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