Singularidades

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13 Singularidades

13.1 Singularidades isoladas


Para na pratica podermos aplicar o Teorema dos Res duos com e ci^encia, pre-
cisamos de conhecer tecnicas de calculo de res duos. Com esse objectivo vamos
enunciar algumas de nic~oes e proposic~oes elementares que nos permitir~ao posterior-
mente introduzir as referidas tecnicas de calculo de res duos.

De nic~ao 13.1 Seja f uma func~ ao complexa de variavel complexa e z0 2 C. Di-


zemos que f tem uma singularidade isolada em z0 se n~ ao e anal tica (ou n~
ao esta
de nida) em z0 , mas existe " > 0 tal que f e anal tica em fz 2 C : 0 < jz z0 j < "g32 .

De nic~ ao 13.2 Seja f uma func~ ao complexa de variavel complexa e z0 2 C. Se


existe " > 0 e m 2 Z tal que para qualquer z satisfazendo 0 < jz z0 j < ",
X
+1
f (z) = an (z z0 )n ;
n=m

com am 6= 0. Ou dito de outra forma, se f admite um desenvolvimento em serie de


Laurent em torno do ponto z0 e a sua parte singular e nita, sendo m a ordem da
primeira pot^encia do desenvolvimento. Ent~
ao:

1. se m > 0, ent~ao z0 e um zero de ordem m da func~


ao f .
2. se m > 0 e z0 e uma singularidade isolada, ent~
ao z0 e uma singularidade
remov vel da func~ao f .
3. se m < 0, ent~ao z0 e um polo de ordem m da func~
ao f .

De nic~ ao 13.3 Se f tem uma singularidade isolada em z0 que n~ao e nem uma sin-
ao z0 e uma singularidade
gularidade remov vel, nem um polo de certa ordem, ent~
essencial de f . Ou dito de outra forma f tem uma singularidade essencial em
z0 se e so se o seu desenvolvimento em serie de Laurent em torno do ponto z0 tem
uma parte singular in nita33 .

Portanto as singularidades isoladas classi cam-se (exclusivamente) em singu-


laridades remov veis, polos ou singularidades essenciais.
32
Quando f e anal tica num regi~
ao da forma fz 2 C : 0 < jz z0 j < "g, com " > 0, dizemos que
f e anal tica em torno do ponto z0 .
33
P
+1
n
Dizemos que uma serie de Laurent f (z) = an (z z0 ) tem uma parte singular in nita
n= 1
se o conjunto de inteiros fn 2 N : a n 6= 0g e in nito.
80 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

Exemplo 13.1
z3 z5
1. a) sen z = z + :::
3! 5!
z = 0 e um zero de primeira ordem (ou um zero simples) de sen z.
3 4 z6 z8
b) z sen z = z + :::
3! 5!
z = 0 e um zero de 4 ordem de z 3 sen z.
a

sen z z2 z4
2. a) =1 + :::
z 3! 5!
sen z
z = 0 e uma singularidade remov vel de .
z
sen z 3 z 8 z 14
b) = z2 + :::
z 3! 5!
sen z 3
z = 0 e uma singularidade remov vel e um zero de 2a ordem de .
z
sen z 1 z z3
3. a) = + :::
z2 z 3! 5!
sen z
z = 0 e um polo de 1a ordem (ou um polo simples) de ;
z2
sen z sen z
o res duo de 2
em z = 0 e 1. ( Res 2 = 1)
z z=0 z
sen z 1 1 1 1 1 3
b) = 5 + z + z :::
z6 z 3! z 3 5! z 7! 9!
a sen z
z = 0 e um polo de 5 ordem de ,
z6
sen z 1 sen z
o res duo de 6
em z = 0 e . ( Res 6 = 5!1 )
z 5! z=0 z
sen z 1 1 1 1 1 2
c) = 6 + + z :::
z7 z 3! z 4 5! z 2 7! 9!
sen z
z = 0 e um polo de 6a ordem de ,
z7
sen z sen z
o res duo de 7
em z = 0 e 0. ( Res 7 = 0)
z z=0 z
1 1 1 1
4. a) z 3 sen = z 2 + 2
:::
z 3! 5!z 7!z 4
1
z = 0 e uma singularidade essencial de z 3 sen ,
z
1 1
o res duo de z sen em z = 0 e 0. ( Res z 3 sen
3
= 0)
z z=0 z
1 1 1 1
b) z 5 sen 2 = z 3 + 5
:::
z 3! z 5! z 7!z 9
1
z = 0 e uma singularidade essencial de z 5 sen 2 ,
z
1 1 1 1
o res duo de z 5 sen 2 em z = 0 e . ( Res z 5 sen 2 = )
z 3! z=0 z 3!
13. Singularidades 81

13.2 Classi cac~


ao de singularidades isoladas
Quando n~ao e facil (ou poss vel) determinar o desenvolvimento de Laurent em
torno de um ponto, a seguinte proposic~ao e de grande utilidade na classi cac~ao de
singularidades isoladas.

ao 13.1 Se f e anal tica em torno do ponto z0 , ent~


Proposic~ ao

f (z)
1. f tem um zero de ordem m em z0 se e so se z!z
lim 2 Cn f0g :
0
z6=z0
(z z0 )m

2. f tem uma singularidade remov vel em z0 se e so se z!z


lim f (z) 2 C:
0
z6=z0

3. f tem um polo de ordem m em z0 se e so se z!z


lim (z z0 )m f (z) 2 Cn f0g :
0
z6=z0

Demonstrac~
ao:
1. Se f tem um zero de ordem m em z0 , ent~
ao
X
+1
n
X
+1
f (z) = an (z z0 ) = (z m
z0 ) an (z z0 )n m

n=m n=m

X
+1
= (z z0 )m an+m (z z0 )n ;
n=0

f (z)
pelo que lim = am 6= 0:
z!z0 (z z0 )m
f (z)
Reciprocamente se lim 2 Cn f0g ; ent~
ao por hipotese a func~
ao de -
z!z0 (z z0 )m
nida por 8
>
> f (z)
>
> se 0 < jz z0 j < "
< (z z0 )m
g (z) = ;
>
> f (z)
>
>
: lim se z = z0
z!z0 (z z0 )m
e anal tica em 0 < jz z0 j < " e cont nua em z0 . Pelo Corolario 12.2 conclu mos
que g (z) e anal tica em todo o c rculo jz z0 j < ". Ent~
ao pelo Teorema de Taylor
X
+1
f (z)
g (z) = a
~n (z z0 )n e g (z0 ) = a
~0 = lim 6= 0:
n=0
z!z0 (z z0 )m

P
+1
Portanto, f (z) = g (z) (z z0 )m = a
~n (z z0 )n+m tem um zero de ordem m
n=0
em z0 .
82 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

2. Se f tem uma singularidade remov vel em z0 , ent~


ao

X
+1
f (z) = an (z z0 )n ;
n=0

pelo que lim f (z) = a0 :


z!z0

Reciprocamente se lim f (z) 2 C; ent~


ao por hipotese a func~
ao de nida por
z!z0
8
>
< f (z) se 0 < jz z0 j < "
g (z) = ;
>
: lim f (z) se z = z0
z!z0

e anal tica em 0 < jz z0 j < " e cont nua em z0 . Pelo Corolario 12.2 conclu mos
que g (z) e anal tica em todo o c rculo jz z0 j < ". Ent~
ao pelo Teorema de Taylor
P
+1
f (z) = g (z) = an (z z0 )n :
n=0

3. Se f tem um polo de ordem m em z0 , ent~


ao

X
+1
n 1 X
+1
f (z) = an (z z0 ) = an (z z0 )n+m
n= m
(z z0 )m n= m

1 X
+1
= an m (z z0 )n
(z z0 )m n=0

pelo que lim (z z0 )m f (z) = a m 6= 0:


z!z0

Reciprocamente se lim (z z0 )m f (z) 2 Cn f0g ; ent~


ao por hipotese a func~
ao
z!z0
de nida por
8
>
< (z z0 )m f (z) se 0 < jz z0 j < "
g (z) = ;
>
: lim (z z0 )m f (z) se z = z0
z!z0

e anal tica em 0 < jz z0 j < " e cont nua em z0 . Pelo Corolario 12.2 conclu mos
que g (z) e anal tica em todo o c rculo jz z0 j < ". Ent~
ao pelo Teorema de Taylor

X
+1
g (z) = a
~n (z z0 )n e g (z0 ) = a
~0 = lim (z z0 )m f (z) 6= 0:
z!z0
n=0

g (z) P
+1
Portanto, f (z) = m = a
~n (z z0 )n m
tem um polo de ordem m em z0 .
(z z0 ) n=0
13. Singularidades 83

Por vezes, para obter enunciados mais sucintos para as propriedades de polos e
zeros de func~oes, s~ao convenientes, de acordo com a proposic~ao anterior, as seguintes
convenc~oes:

De nic~ao 13.4 Para m 2 Z (positivo, negativo ou nulo) e uma func~


ao f anal tica
em torno do ponto z0 ,

f (z)
1. f tem um zero de ordem m em z0 se e so se z!z
lim 2 Cn f0g :
0
z6=z0
(z z0 )m

2. f tem um polo de ordem m em z0 se e so se z!z


lim (z z0 )m f (z) 2 Cn f0g :
0
z6=z0

Portanto, de acordo com esta de nic~ao, f (z) tem um zero de ordem m se e


so se tem um polo de ordem m. Em particular uma func~ao tem um zero de
ordem zero em z0 (ou o que e o mesmo, um polo de ordem zero em z0 ) se e so se
f (z) e anal tica numa regi~ao da forma fz 2 C : 0 < jz z0 j < "g e e prolongavel por
continuidade a z0 por uma func~ao que n~ao se anula nesse ponto e portanto tambem
numa vizinhanca do ponto.
Como resultado imediato, mas importante do ponto de vista pratico, temos a
seguinte proposic~ao.

Proposic~ao 13.2 Se f (z) tem um zero de ordem m em z = z0 e g (z) um zero de


ordem n no mesmo ponto, ent~ao

1. A func~ao f (z) g (z) tem um zero de ordem m + n em z = z0 .


f (z)
2. A func~ao tem34 :
g (z)
(a) um zero de ordem m n, se m > n.
(b) uma singularidade remov vel, se m > n.
(c) um polo de ordem n m, se m < n.

sen2 z
Exemplo 13.2 Considere-se a func~
ao : Como z = e um zero simples de
(z )9
sen z
sen z (porque lim z
= 1), conclu mos, de acordo com a proposic~
ao anterior, que
z!
sen2 z
sen2 z tem um zero de segunda ordem em z = e um polo de ordem 7 no
(z )9
mesmo ponto.
34
Se g (z) (e anal tica e) tem um zero de ordem nita n (portanto n~ao e identicamente nula) em z0
g (z)
ent~ao existe uma vizinhanca de z0 onde z0 e o unico zero de g. Pois neste caso g1 (z) = n e
(z z0 )
uma func~ ao anal tica que n~ ao se anula em z0 ; por continuidade o mesmo acontece numa vizinhanca
n
deste ponto; ent~ ao g (z) = (z z0 ) g1 (z) tambem n~ao se anula numa vizinhanca de z0 excluindo
o ponto z0 .
84 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

Outro resultado de grande import^ancia pratica na classi cac~ao de singularida-


des e o seguinte que permite a concluir sobres a classi cac~ao dos zeros duma func~ao
composta.

Proposic~ao 13.3 Se f (z) tem um zero de ordem m em z = z1 e g (z) um zero de


ordem n > 0 no ponto z = z0 , ent~ao f (z1 + g (z)) tem um zero de ordem mn em
z = z0 .
Demonstrac~
ao: Uma vez que lim (z1 + g (z)) = z1 , temos
z!z0

m
f (z1 + g (z)) g (z) f (z1 + g (z))
lim = lim
z!z0 (z z0 )mn z!z0 (z z0 )n (z1 + g (z) z1 )m
m
g (z) f (z)
= lim lim 2 Cn f0g
z!z0 (z z0 )n z!z1 (z z1 )m

sen z 3
Exemplo 13.3 Considere-se a func~
ao : Como z = 0 e um zero sim-
sen (sen z 2 )3
ples de sen z, conclu mos, de acordo com a proposic~ ao anterior, que sen z 3 tem um
3
zero de terceira ordem e sen (sen z 2 ) tem um zero de sexta ordem no mesmo
sen z 3
ponto. Portanto tem um polo de terceira ordem em z = 0.
sen (sen z 2 )3
85

14 Calculo de res duos

14.1 Calculo de limites


Quer na classi cac~ao das singularidades isoladas quer na determinac~ao do res -
duos de polos (como veremos mais a frente) e essencial calcular limites de func~oes
anal ticas, obtendo-se frequentemente indeterminac~oes 00 . E pois importante saber
lidar com estas situac~oes. A proxima proposic~ao da-nos o resultado pratico frequen-
temente usado na resoluc~ao de tais di culdades. Pode ser visto como uma gene-
ralizac~ao da regra de Cauhy da analise real, contudo, embora agora se considerem
func~oes de variavel complexa, as condic~oes impostas as func~oes s~ao mais restrictivas:
as func~oes t^em de ser anal ticas. As conclus~oes tambem s~ao ligeiramente mais fortes:
n~ao e necessario, a priori, admitir a exist^encia de um limite.

Proposic~ ao identicamente nulas e anal ticas em jz


ao 14.1 Sejam f e g n~ z0 j < "
e tais que
f (z0 ) = g (z0 ) = 0:
Ent~ ao exist^encia do outro35 )
ao (onde a n~ao exist^encia de um dos limites implica a n~
0
1 1
f (z) f 0 (z) g (z) g (z)
lim = lim 0 e lim = lim 0
z!z0 g (z) z!z0 g (z) z!z0 1 z!z0 1
f (z) f (z)

Demonstrac~ ao: Como f e g n~ao s~ao identicamente nulas e s~ao anal ticas numa
vizinhanca de z0 , est~ao bem de nidas como numeros naturais as ordens dos zeros
de f e g . Sejam ent~ao m a ordem do zero de f e n a ordem do zero de g; por
hipotese m e n s~ao inteiros positivos. Ent~ao existem func~oes f1 e g1 anal ticas em
jz z0 j < " tais que

f (z) = (z z0 )m f1 (z) e f1 (z0 ) 6= 0;

g (z) = (z z0 )n g1 (z) e g1 (z0 ) 6= 0:


Portanto
f 0 (z) = m (z z0 )m 1
f1 (z) + (z z0 )m f10 (z) :
35
De facto, nestas condic~
oes, os limites em causa existem sempre em C[f1g (esfera de Riemann)
veri cando-se tambem a igualdade dos limites neste contexto generalizado, em que
1
lim f (z) = 1 signi ca por de nic~ao lim = 0:
z!z0 z!z0 f (z)
86 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

Daqui conclu mos

f 0 (z) (z z0 ) m (z z0 )m f1 (z) + (z z0 )m+1 f10 (z)


lim = lim
z!z0 mf (z) z!z0 m (z z0 )m f1 (z)
(z z0 ) f10 (z)
= lim 1+ = 1:
z!z0 mf1 (z)
Ent~ao, utilizando este resultado para a func~ao f e para a func~ao g,
f (z) mf (z) g 0 (z) (z z0 ) nf 0 (z) n f 0 (z)
lim = lim 0 = lim
z!z0 g (z) z!z0 f (z) (z z0 ) ng (z) mg 0 (z) m z!z0 g 0 (z)
e
0
1 g 0 (z) (z z0 ) 1
g (z) ng (z) n f (z) n f (z) n g (z)
lim 0 = lim 0 = lim = lim :
z!z0 1 z!z0 f (z) (z z0 ) m g (z) m z!z 0 g (z) m z!z 0 1
f (z) mf (z) f (z)

Estas igualdades mostram o resultado pretendido no caso m = n e para os


restantes casos basta agora veri car que no caso m > n, sem perca de generalidade36 ,
se tem
f (z)
lim = 0:
z!z0 g (z)

De facto, para m > n,

f (z) (z z0 )m f1 (z) f1 (z)


lim = lim = lim (z z0 )m n
z!z0 g (z) z!z0 (z z0 )n g1 (z) z!z0 g1 (z)
f1 (z0 )
= (z0 z0 )m n = 0;
g1 (z0 )
como quer amos veri car.

Exemplo 14.1 Vamos calcular o seguinte limite usando duas vezes o resultado pre-
cedente:
ez2 1 2z ez
2
ez2 z
lim = lim = lim z lim z
z!0 (ez 1)2 z!0 2 (ez 1) ez z!0 e z!0 (e 1)
1 1
= lim z = 1
1 z!0 e

36
O caso n > m reduz-se ao caso m > n trocando os papeis de f e g. Isto e, se n > m, ent~ao
vem lim fg(z)
(z)
= 1, o que signi ca por de nic~ao lim fg(z) 1
(z) = lim f (z) = 0.
z!z0 z!z0 z!z0 g(z)
14. Calculo de res duos 87

14.2 Calculo de res duos em polos de ordem m

Se f tem um polo de ordem m (m > 0) no ponto z0 ent~ao (para z tal que


0 6= jz z0 j < R ; para certo R > 0)

X
+1
f (z) = an (z z0 )n
n= m

com a m 6= 0. Considere-se ent~ao a func~ao

g (z) = f (z) (z z0 )m :

Vem

X
+1 X
+1 X
+1
g (z) = an (z z0 )n+m = an m (z z0 )n = e
an (z z0 )n ;
n= m n=0 n=0

onde e
an = an m . A func~ao g (z) e portanto anal tica em z0 se de nirmos g (z0 ) =
e
a0 = a m = lim g (z). Temos ent~ao
z!z0

1 (n) 1 dn g 1 dn
e
an = g (z0 ) = (z0 ) = lim (f (z) (z z0 )m )
n! n! dz n n! z!z0 dz n

Como o coe ciente eam 1 = a 1 e o res duo da func~ao f (z) em z0 , obtivemos assim
a seguinte formula para o calculo do res duo num polo de ordem m 37 :

Se z = z0 e um polo de ordem m da func~ao f (z) , ent~ao

1 dm 1 (14.1)
Res f (z) = lim 1
(f (z) (z z0 )m ) :
z=z0 (m 1)! z!z0 dz m

Exemplo 14.2 Vamos calcular o seguinte integral sobre a circunfer^encia de raio


3 centrada na origem percorrida no sentido positivo:
I
1
dz:
jzj=3 z (e
z 1)

1 2
Considere-se a func~ao f (z) = . Como ez 1 = z + z2! +: : : conclu mos
z (ez 1)
que ez ao z (ez 1) tem um zero de segunda
1 tem um zero simples em z = 0; ent~
37
Uma vez que n~
ao se usou que a m 6= 0, a formula e ainda valida se tivermos um polo de ordem
inferior a m.
88 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

ordem em z = 0, pelo que f (z) tem um polo de segunda ordem no mesmo ponto e
por aplicac~
ao da formula (14:1)

1 d 1 d z
Res f (z) = lim z2 = lim
z=0 1! z!0 dz z (e z 1) z!0 dz ez 1
ez 1 z ez
= lim
z!0 (ez 1)2
ez ez z ez 1 z
= lim = lim z
z!0 2 (ez 1) ez 2 z!0 (e 1)
1
= :
2

Note-e ainda que dentro da regi~ao delimitada pela circunfer^encia jzj = 3 exis-
tem mais duas singularidades isoladas de f (z), s~ ao elas z = 2 i e z = 2 i.
No proximo calculo vamos veri car que estas singularidades s~ ao polos simples (de
acordo com a Proposic~ao 13.1) e ao mesmo tempo calculamos os seus res duos por
aplicac~
ao da formula (14:1). Temos ent~ ao

(z 2 i)
lim (z 2 i) f (z) = lim
z! 2 i z! 2 i z (ez 1)
1 (z 2 i)
= lim
2 i z! 2 i (ez 1)
1 1 1
= lim z = 2 Cn f0g ;
2 i z! 2 i e 2 i
pelo que estas singularidades s~ao polos simples e
1
Res f (z) = :
z= 2 i 2 i

Finalmente obtemos:
I
1
dz = 2 i Res f (z) + Res f (z) + Res f (z) = i:
jzj=3 z (e
z 1) z=0 z=2 i z= 2 i
89

15 Aplicac~
oes do Teorema dos Res duos

15.1 Integrais de func~


oes trigonometricas
Considere-se o seguinte integral
Z 2
f ei d (15.1)
0

onde f e uma func~ao complexa de variavel complexa anal tica sobre a circunfer^encia
unitaria centrada na origem. Notando que z = ei com 2 [0; 2 ] e uma parame-
trizac~ao da circunfer^encia jzj = 1, percorrida no sentido positivo, podemos relacionar
o integral de variavel real (15.1) com o um integral caminho complexo:
Z 2 Z 2
i f ei
f e d = iei d
0 0 i ei

I
f (z)
= dz;
jzj=1 iz

onde a curva jzj = 1 e considerada com o sentido positivo.


Neste contexto convem referir que, com z = ei , se tem
ei + e i
z+z 1
ei e i
z z 1
cos ( ) = = e sen ( ) = = :
2 2 2i 2i

Exemplo 15.1
Z 2 I I
1 1 1 1 1
d = 1
dz = 2
dz
0 4 cos ( ) 5 jzj=1 2 (z + z ) 5 iz i jzj=1 2z 5z + 2
I
1 1 1 1
= 1
dz = 2 i Res1
2i jzj=1 (z 2) z 2 2i z= 2 (z 2) z 21
1 1 2
= 2 i 1 = :
2i 2
2 3

Exemplo 15.2
Z I I
1 1 1 1
d = 1 dz = 2
dz
4 sen ( ) 5 jzj=1 4z z
2i
5 iz jzj=1 2z i5z 2
I
1 1 1 1
= dz = 2 i
2 jzj=1 (z i2) z 2i 2 i
2
2i
2
= :
3
90 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

O resultado acima exposto pode ser aplicado a uma mir ade de outras situac~oes
semelhantes. E o que se pretende ilustrar nos seguintes exemplos.

Exemplo 15.3
Z Z Z
1 1 1 i3
cos (3 ) d = cos (3 ) d = e + e i3 d
0 2 2 2
I 3 3 I I
1 z +z 1 2 1
= dz = z dz + 4
dz
4 jzj=1 iz 4i jzj=1 jzj=1 z
= 0;
por aplicac~
ao trivial do Teorema dos Res duos.

Exemplo 15.4 Fazendo a substituic~


ao t = ,
Z 1 Z
i 1
f e d = f eit dt
1
I
1 f (z)
= dz:
jzj=1 iz

Exemplo 15.5 Vamos calcular o integral


Z 2
1
x
dx:
2 2 + cos 2
Fazendo a mudanca de variavel t = 2x ,
Z 2 Z
1 2 1
x
dx = dt:
2 2 + cos 2 2 + cos (t)
Ent~
ao
Z 2 I
1 2 1 dz
x
dx = 1
2 2 + cos 2 jzj=1 z+z iz
2+
I 2 I
4 1 4 1
= dz = dz
2
i jzj=1 4z + z + 1 i jzj=1 (z + 2)2 3
I
4 1
= p p dz:
i jzj=1 z + 2 + 3 z + 2 3
p p p p
Atendendo que 2 3 = 2+ 3 > 1 e 2+ 3 = 2 3 < 1, vem pelo
Teorema dos Res duos
Z 2
1 4 1
x
dx = 2 i Resp p p
2 2 + cos 2 i z= 2+ 3 z + 2 + 3 z+2 3
1
= 8 lim p p
z! 2+ 3 z + 2 + 3
p
4 3
= :
3
15. Aplicac~
oes do Teorema dos Res duos 91

15.2 Integrais de func~


oes racionais
Considerem-se os polinomios P e Q de grau m e n respectivamente. Iremos
supor que Q (x) 6= 0 para todo x 2 R e que n > m + 2, o que garante a exist^encia
do integral Z +1
P (x)
dx:
1 Q (x)
Vamos expor um racioc nio classico que permite calcular este integral atraves do
Teorema dos Res duos.
Comecemos por transformar o integral de uma func~ao real de variavel real num
integral de caminho complexo:
Z +1 Z R Z
P (x) P (x) P (z)
dx = lim dx = lim dz;
1 Q (x) R!+1 R Q (x) R!+1 I Q (z)
R

onde IR e o segmento recta sobre o eixo real que liga os pontos z = R com z = R.
Vamos agora transformar este integral num integral sobre um caminho fechado para
que se possa aplicar o Teorema dos Res duos:
Z I Z
P (z) P (z) P (z)
dz = dz dz;
IR Q (z) R
Q (z) CR Q (z)

onde CR e a semicircunfer^encia de raio R e centro na origem, situada no semiplano


Im z > 0 (orientada do ponto z = R para o ponto z = R); e R e a concatenac~ao
das curvas orientadas IR e CR (sendo portanto uma curva fechada simples orientada
no sentido positivo).

H P (z)
Note-se que, pelo Teorema dos Res duos, R Q(z) dz tem o mesmo valor para qual-
quer R su cientemente grande, ou seja
I I
e > R0 P (z) P (z)
8R; R dz = dz;
R
Q (z) Re
Q (z)

onde R0 e o maior dos modulos dos zeros de Q (z) (isto e R0 = max fjzj : Q (z) = 0g).
92 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

A possibilidade de continuar o calculo utilizando o Teorema dos Res duos baseia-


se na seguinte proposic~ao (Proposic~ao 15.1), obtendo-se
Z +1 I
P (x) P (z)
dx = dz;
1 Q (x) R
Q (z)
onde R e um real positivo qualquer tal que R > R0 .

Proposic~ao 15.1 Seja P (z) um polinomio de grau m, Q (z) um polinomio de grau


n, n > m + 2 e CR = fz 2 C : jzj = R e Im z > 0g. Ent~
ao
Z
P (z)
lim dz = 0
R!+1 C Q (z)
R

Demonstrac~
ao: Facilmente se reconhece que o seguinte limite existe
P (z) n m
lim z = w 2 C:
jzj!+1 Q (z)

Pelo que existe M (por exemplo M = 1 + jwj), para o qual se pode a rmar que existe
f0 tal que
R
f0 ) P (z) z n m < M:
jzj > R
Q (z)
Feita a escolha destes numeros M e R f0 , temos, para R > R f0 ,
Z Z
P (z) P (z)
dz 6 jdzj
CR Q (z) CR Q (z)
Z
M
6 n m jdzj =
CR jzj
Z
M
6 jdzj =
R n m CR
M
6 :
R m 1
n

Como n m 1 > 1, obtemos


Z
P (z) M
lim dz 6 lim =0
R!+1 CR Q (z) R!+1 R m 1
n

Exemplo 15.6 Com as notac~oes acima descritas, temos


Z +1 Z R
1 1
4
dx = lim 4
dx
1 1+x R!+1 R 1+x
Z
1
= lim dz
R!+1 I 1 + z 4
R
I Z
1 1
= lim 4
dz 4
dz ;
R!+1
R
1+z CR 1 + z
15. Aplicac~
oes do Teorema dos Res duos 93

ent~
ao, notando que estamos nas condic~ ao 15.1 ( m = 0 6 n
oes da Proposic~ 2=
4 2), obtemos
Z +1 I
1 1
dx = dz
1 1 + x4 2
1 + z4
!
1 1
= 2 i Res 4
+ Res3 4
z=ei 4 1 + z z=ei 4 1 + z

3
!
z ei 4 z ei 4
= 2 i lim 4
+ lim
z!ei 4 1 + z
3
z!ei 4 1 + z4
0 1
B 1 1 C
= 2 i@ 3 + 3A
4 ei 4 4 ei 4
3

p
i i 34 i4 2 i
= e +e = ( 1 i+1 i)
2 4
p
2
=
2

Exemplo 15.7 Com as notac~oes acima descritas, temos


Z +1 Z +1 Z R
x4 1 x4 1 x4
dx = dx = lim dx
0 1 + x6 2 1 1+x
6 2 R!+1 R 1 + x6
Z
1 z4
= lim dz
2 R!+1 IR 1 + z 6
I Z
1 z4 z4
= dz dz ;
2 R
1 + z6 CR 1 + z
6

ent~
ao, notando que estamos nas condic~ ao 15.1 ( m = 2 6 n
oes da Proposic~ 2=
6 2), obtemos
Z +1 I
x4 1 z4
6
dx = dz
0 1+x 2 2
1 + z6
!
z4 z4 z2
= i Res 6
+ Res 6
+ Res 6
:
z=ei 6 1 + z z=ei 2 1 + z z=ei 6 1 + z
5

5 7 3 11
Uma vez que 1 + z 6 tem as raizes ei 6 , ei 2 , ei 6 , ei 6 , ei 2 e ei 6 , mas apenas as
94 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

tr^es primeiras se encontram na regi~ao delimitada pela curva 2. Por outro lado

z4 z 4 z ei 6
Res = lim
z= ei 6 1 + z6 z! ei 6 1 + z6

4 z ei 6
= ei 6 lim
z! ei 6 1 + z6
4
i6 4 1 ei 6
= e lim 5
= 5
z!ei 6 6z 6ei 6
e i6
= :
6
Procedendo de forma analoga, vem
0 1
Z +1
x4 B 4 1 4 1 5 4 1 C
dx = i @ ei 6 5 + ei 2 + ei 6 5A
1+x 6 i2 5
0 6 ei 6 6 e 6 ei 6
5

p p !
i i6 i2 i 56 i 3 i 3 i
= e +e +e = i+
6 6 2 2

=
3

15.3 Lema de Jordan


De forma semelhante a Proposic~ao 15.1, o seguinte lema permite o calculo de
certos integrais de variavel real.

Lema 15.2 (de Jordan) Se f (z) e anal tica no semiplano Im z > 0, excepto pos-
sivelmente num numero nito de singularidades isoladas, e tal que

lim max jf (z)j = 0;


R!1 z2CR

e se e um numero real positivo, > 0, ent~


ao
Z
lim f (z) ei z
dz = 0;
R!1 CR

onde CR = fz 2 C : jzj = R e Im z > 0g.

Observac~ ao 15.1 Como > 0 e Im z > 0, temos jei z j = jeix e y j = e y


6 1;
( com z = x + iy), e este pequeno factor que permite a conclus~
ao do lema.
15. Aplicac~
oes do Teorema dos Res duos 95

Demonstrac~ao: Temos
Z Z Z
f (z) e dz 6
i z
jf (z)j e i z
jdzj 6 max jf (z)j e Im z
jdzj :
CR CR z2CR CR

Como por hipotese max jf (z)j converge para zero, basta agora veri car que o ultimo
z2CR
integral e limitado:
Z Z Z Z
2 2 2R
e Im z
jdzj = R e R sen
d = 2R e R sen
d 6 2R e d ;
CR 0 0 0

2
porque 6 sen se 2 0; 2
. Portanto
Z " 2R
#2
e
e Im z
jdzj 6 2R = 1 e R
6 :
CR 2R
0

Exemplo 15.8 Seja CR a semicircunfer^encia fz 2 C : jzj = R e Im z > 0g (ori-


entada do ponto z = R para o ponto z = R); IR = fz 2 C : jzj 6 R e Im z = 0g
o segmento de recta orientado de z = R para z = R; e R a concatenac~ ao das
curvas orientadas IR e CR (sendo portanto uma curva fechada simples orientada no
R R sen x
sentido positivo). Temos (usando neste caso R 1+x 2 dx = 0, por simetria)

Z +1 Z R Z R
cos x cos x eix
2
dx = lim 2
dx = Re lim 2
dx
1 1+x R!+1 R 1+x R!+1 R 1+x
Z
eiz
= lim dz
R!+1 I 1 + z 2
R
I Z
eiz eiz
= lim dz dz ;
R!+1
R
1 + z2 CR 1 + z
2

ent~
ao, notando que estamos nas condic~ oes do Lema de Jordan (Lema 15.2), uma
vez que
1
lim = 0 e eiz = ei z com = 1 > 0;
jzj!+1 1 + z 2

obtemos
Z +1 I
cos x eiz eiz ei(i)
2
dx = dz = 2 i Res = 2i
1 1+x 2
1 + z2 z=i 1 + z 2 2i

=
e
Enquanto em exemplos anteriores aplicamos o Teorema dos Res duos para calcu-
lar integrais que poderiam ser calculados por primitivac~ao elementar, neste ultimo
exemplo conseguimos calcular um integral de uma func~ ao que n~ao tem primitiva
elementar. No proximo exemplo esta situac~ ao repete-se.
96 Ricardo.Coutinho@math.ist.utl.pt

Exemplo 15.9
Z +1 Z R
sen x sen x
vp dx = lim dx
1 x R!+1 R x
Z R Z
sen x sen x
= lim lim+ dx + dx
R!+1 !0 x R x
I Z Z
eiz eiz eiz
= lim lim+ Im dz dz + dz
R!+1 !0
R
z CR z C z

onde C e a curva fz 2 C : jzj = e Im z > 0g percorrida do ponto para o


ponto , CR e de nida como em exemplos anteriores e R e a concatenac~ ao das
curvas CR e C com os segmentos de recta de nidos por Im z = 0 e 6 jRe zj 6 R.

Pelo Lema de Jordan (Lema 15.2) temos


Z
eiz
lim dz = 0
R!+1 C
R
z

e pelo Teorema de Cauchy ( z = 0 esta no exterior da regi~


ao delimitada pela curva
R ) I
eiz
dz = 0:
R
z

Por outro lado (usando o Teorema da converg^encia dominada de Lebesgue)


Z Z Z Z
ei e
i
eiz
e e d =i
i
lim+ dz = lim+ i ei d = i lim+ i
d =i :
!0 C z !0 0 ei !0 0 0

Pelo que Z +1
sen x
vp dx = Im (i ) = :
1 x

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