Modulo 2 A 9 Historia A
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A multiplicidade de poderes e crenças no espaço europeu teve origem particularmente nas profundas
mutações políticas, sociais e económicas que deram origem a trás grandes conjuntos civilizacionais.
Depois da queda do império Romano do ocidente (476), a anterior unidade imperial mediterrânea foi sendo
substituída por uma multiplicidade de novos estados, sobretudo de origem germânica, muitos dos quais estão na
Da inserção desses povos no mundo romano nasceu uma sociedade original. Nos reinos que se firam
formando os conquistadores, (cerca de 5% da população), acabaram por se misturar com as populações romanas
e romanizadas, operando-se uma síntese entre elementos romanos e germânicos. Sob a acção evangelizadora de
bispos e monges, o Cristianismo e o legado da cultura greco-romana penetraram nos reinos bárbaros, emergindo
uma nova civilização europeia cristã. Esta foi sendo construída com uma identidade própria face a outros dois
No mediterrâneo oriental, herdeiro do Império Romano do Ocidente, o rico e próspero Império Bizantino
Quanto ao Islão, os Árabes, sob a direcção de Maomé, que pregara uma nova religião, o Islamismo.
Apesar do cristianismo ser a religião comum á Igreja ocidental e oriental, no século XI operou-se uma
cisão entre a Igreja ortodoxa (de tradição grega) e a Igreja católica (de tradição latina).
Esta divisão consagrou a separação entre uma Europa oriental de cultura grega e forte presença eslava e
uma Europa ocidental de cultura latina e forte presença germânica. A separação ficou ainda mais marcada depois
do século XIII, quando o Império Bizantino começou a sofrer a concorrência das cidades italianas.
Impérios e reinos:
No início do século IX houve uma primeira tentativa de restauração do Império Romano do Ocidente. A
unificação territorial partiu de um dos mais fortes reinos da Europa Ocidental – o Império Carolíngio.
As disputas territoriais entre os herdeiros das zonas do antigo Império Carolíngio e novas investidas
sobre a Europa (Normandos, Árabes, Húngaros) tornaram evidentes as dificuldades do poder central, entrando-
O enfraquecimento do poder central permitiu que os poderes públicos fossem transferidos para os grandes
como referência no imaginário medieval. Na Germânia, no século X, teve lugar uma nova tentativa d restaurar o
Em meados do século XIII, o prestígio do título imperial era grande, embora pouco eficaz.
A Europa cristã era constituída sobretudo por um conjunto de reinos autónomos, em que as relações de
poder entre os reis, os grandes senhores nobres e o clero variavam conforme as circunstâncias históricas de
cada região.
Senhorios
A monarquia ou o império eram os modos como o poder se exercia a nível dos estados. A nível local, o
poder sobre as populações era exercido por grandes senhores, nobres ou eclesiásticos, nos senhorios, em nome
do poder soberano.
Este modo de organizar o poder provinha das necessidades de uma sociedade que se construíra em
tempo de guerra e sem instituições que fizessem a ligação entre o poder soberano e as populações. Para obter
exércitos de cavaleiros bem equipados com armas e cavalos, vitais num tempo de guerra, os reis tinham cedido
partes do território – os senhorios – a grandes senhores nobres ou eclesiásticos, a fim de que estes os
administrassem e mantivessem exércitos prontos a combater. Esta pratica era igualmente utilizada pelos
grandes senhores, que usavam o mesmo sistema com outros membros da nobreza menos poderosos, que lhes
ficavam sujeitos. Estas concessões eram acompanhadas pela exigência de fidelidade e criavam laços de
Como o poder central estava distante e muitas vezes enfraquecido, os grandes senhores passaram a
exercer em nome próprio as prerrogativas da autoridade pública que anteriormente pertenciam ao rei.
Este poder de mando do senhor – o poder de ban – traduzia-se essencialmente no poder militar e no de
julgar e punir. Exercia-se não só sobre camponeses, mas também sobre pequenos nobres e era acompanhado pelo
Em troca das funções governativas e judiciais, o senhor recebia variadas taxas sobre a circulação de
Comunas:
Europa. Esse desenvolvimento foi acompanhado pelo crescimento das cidades, numa altura em que a autoridade
O poder pertencia aos grandes senhores que, muitas vezes, viviam nos seus castelos em zonas rurais, e
era daí que exerciam a sua administração e proteção sobre as populações. O centro do poder estava longe da
cidade e, além disso, os interesses dos mercadores e artesãos muitas vezes colidiam com os dos senhores. A sua
atividade exigia maior segurança e autonomia relativamente às obrigações que as produções camponesas tinham
para com os grandes senhores. Os habitantes das cidades procuraram obter dos senhores ou dos reis mais
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Verificou-se assim um movimento urbano através do qual os habitantes das cidades procuraram adquirir
o direito de se autogovernarem, o que deu origem a novas formas de exercício do poder, mais adequadas ás
populações urbanas. As condições de governação das cidades estavam expressas num documento – a carta de
comuna – onde estavam consignados os direitos e deveres dos habitantes das cidades.
No início, nas comunas prevalecia um ideal igualitário. Muitas vezes, este ideal foi quebrado por alguns
burgueses ricos que formaram uma oligarquia mercantil e financeira que se apoderou do poder da cidade, o que
No Ocidente medieval do século XII havia, assim, uma multiplicidade e diversidade de poderes que se
diversificada onde, de diferentes modos, se exerciam os poderes que organizavam a vida das populações.
No século XIII, em toda a Europa, desenvolvimento económico tornou possível o lançamento de impostos
que permitiram manter uma administração e um exército, garantes da segurança e viabilizadores da criação do
Estado. Esta ação foi sustentada pelo renascimento do direito romano, em que os reis se apoiaram na luta contra
os interesses senhoriais.
Afirmou-se uma nova noção de autoridade pública, independente do seu titular, inalienável e indivisível,
cujo limite é a utilidade geral (bem comum). Face á distinção entre o soberano e soberania, a realeza não era
passível de ser confundida com o poder pessoal do rei, constituindo-se, assim, a noção de Estado. Com novos
meios, dispondo de cortes ou parlamentos, os reis procuraram reforçar o poder real, consolidando o direito e a
justiça e fazendo dos seus reinos entidades independentes, lançando as bases dos estados modernos.
OCIDENTAL
A Igreja desempenhara um papel extremamente importante junto das populações desde os primeiros
Estas populações foram convertidas pela Acão de bispos e monges a um cristianismo comum, o que tornou
possível a fusão entre esses povos e os romanos: o Cristianismo iniciava um papel unificador da Europa Ocidental.
Roma, a cidade de onde irradiava o poder do imperador, passou a ser o lugar de onde irradiava a
missionação. Foi a partir dela que o bispo Roma levou a efeito uma politica de fortalecimento do seu poder,
No entanto, essa Acão não foi pacificamente aceite nem pela Cristandade Romana oriental nem pelo
imperador do Sacro Império. Em 1054, UM CISMA DIVIDIU A CRISTANDADE, isto é, houve a separação entre
a Igreja Católica, sob o papa de Roma, e a igreja Ortodoxa Grega, sob o patriarca de Constantinopla.
O papado encontrou também dificuldades em impor-se na chefia da Cristandade ocidental, pois desde a
criação do Império Carolíngio, a salvação do povo cristão era atribuída quer ao Papa, na ordem espiritual, quer ao
imperador, na ordem temporal. Mas havia divergências no modo de encarar as relações entre o poder espiritual
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Por um lado, os imperadores germânicos tentaram controlar as eleições pontificais e o clero. O hábito de
Passou a haver uma imbricação das funções religiosas na hierarquia feudal, pois bispos e abades
Por outro lado, os papas tentaram fortalecer o seu poder. O papa Gregório VII continuando uma politica
de reforma iniciada pelo seu antecessor, procurou redefinir as relações entre a dimensão espiritual e a
temporal.
Na continuidade de medidas que estabeleciam que a eleição do Papa competia a um colégio de cardeais,
determinou que a designação de bispos, abades e clérigos pertence apenas a membros do clero. Afirmou também
que apenas o Papa, em nome de Cristo, tinha um poder absoluto e universal, estando acima dos príncipes, que
podia depor sempre que não respeitassem os direitos de Deus e da Igreja. O poder espiritual era assim superior
ao poder temporal.
A estes princípios opuseram-se muitos reis e príncipes e, sobretudo, os imperadores do Sacro Império
Romano – Germânico.
No século XIII, o papa Inocêncio III reafirmou a primazia romana, de origem divina. Como tal, todas as
igrejas nacionais estavam submetidas á Santa Sé. Iniciou a centralização romana com o desenvolvimento da
administração eclesiástica e da fiscalidade. Afirmava-se a teocracia, em que o papado seria o guia da sociedade
BIZÂNCIO E O ISLÃO
Juntamente com o crescimento da influência do papado, houve um conjunto de fatores que originou a
afirmação da Cristandade ocidental, tanto perante o mundo bizantino como perante o mundo muçulmano.
senhores, o gosto e a necessidade da guerra dosa cavaleiros, criaram condições propicias para um movimento
expansionista, religioso e militar, da Cristandade ocidental, que foi designado por cruzada.
trocas comerciais.
XI A XIII
Depois de longos séculos de crise e instabilidade a Europa reencontro, de novo, a força e o seu espírito
empreendedor.
Entre o século XI e o século XIII, o Ocidente viveu um período de desenvolvimento económico e um contínuo
crescimento demográfico. Os fatores que contribuíram para a prosperidade foram a expansão agrária e o
crescimento demográfico.
O desenvolvimento que esteve na base do crescimento económico europeu teve início no mundo rural.
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Houve um aumento de produtividade, resultante do progresso dos utensílios e das técnicas de exploração
da terra:
Substituição da madeira pelo ferro nas alfaias agrícolas (que deu maior rentabilidade ao trabalho)
Melhor aproveitamento da força animal (que facilitaram o trabalho nos campos e os transportes)
Rotação trienal de culturas (que deixava apenas um terço da terra em pousio contra a metade do
afolhamento bienal)
Fertilização dos campos (com marga, cinza e estrume animal, permitindo uma maior rentabilidade
dos solos)
Estes progressos associados a uma melhoria do clima permitiram o aumento do rendimento das terras e
uma melhoria da alimentação. As épocas de crises agrícolas e de fome tornaram-se menos frequentes,
favorecendo o aumento da população. A população europeia praticamente duplicou. Por seu lado, o aumento
demográfico permitiu e exigiu a expansão agrária: era necessário alimentar a população que crescia, o que
desbravamento de novas terras, pela ação conjunta de camponeses, monarcas, senhores nobres e ordens
monásticas – a floresta, que cobria grande parte do ocidente europeu, foi reduzida em favor dos campos arados.
Crescimento dos velhos centros burgos – a população das cidades herdadas da época romana
aumentara de tal forma que a área urbana deixara de a comportar, obrigando á formação, fora das muralhas, de
novos bairros. Estes novos bairros – “burgos de fora” – foram crescendo na zona do arrabalde (exterior das
muralhas).
camponeses, que pretendiam a libertação das imposições senhoriais e novas vias de ascensão social.
O crescimento das cidades foi rápido e intenso. Porém, as cidades conservavam uma estreita relação
económica com o mundo rural. Especializadas na produção artesanal e na atividade comercial, as populações
A procura de produtos exercida pela cidade funcionou como um poderoso incentivo ao desenvolvimento da
economia rural. A comercialização dos excedentes agrícolas integrou o mundo rural nos circuitos comerciais.
O mundo rural permitiu a redução de parte das atividades artesanais que, geralmente, se destinavam ás
Embora minoritária no mundo medieval, a cidade foi núcleo dinamizador das mudanças sociais e do
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8-ENQUADRAR AS RELAÇÕES CIDADE-CAMPO NO RENASCIMENTO DE UMA ECONOMIA DE
MERCADO
O maior rendimento agrícola permitiu a existência de excedentes que podiam ser vendidos, favorecendo
em aumentar os seus rendimentos através das taxas cobradas pela circulação e venda de produtos. Eram
artesanais da região. Eram frequentados por produtores e consumidores locais podendo ocasionalmente receber
Feiras – nos locais onde os negócios se mostraram mais propícios, alcançaram importantes volumes de
vendas e tenderam tornar-se periódicas (frequentemente anuais), associando-se muitas vezes a festividades
religiosas. Pela sua dimensão, realizavam-se muitas vezes fora das cidades, sob autorização das autoridades da
Os reis e senhores incentivaram a sua realização concedendo cartas de feira. Estas estipulavam os
tributos a pagar pelos feirantes, atribuíam privilégios e garantias especiais, que iam desde a concessão da
Percorrer as feiras obrigou ao desenvolvimento dos circuitos de comunicação terrestre e dos meios de
-as cidades de génese romana, que podem ter sido abandonadas em determinada época e depois reocupadas ou
-as que têm na sua base um núcleo militar e que foram aceitando e implementando o comércio, chamadas
normalmente de burgos;
-e as denominadas cidades bastide, que surgiram no País de Gales, em Inglaterra e em França e se desenvolvem à
volta de um castelo.
Somente a partir do século X a Europa começou a atingir uma certa estabilidade económica, comercial e política
que permitiu o crescimento das cidades que tinham entrado em declínio após a queda do Império e o
desenvolvimento dos burgos, sendo que o século XIII é usualmente considerado como aquele que mais propiciou a
As tipologias variam de cidade para cidade, pois algumas, sobretudo as que datam do período romano,
correspondem a um planeamento urbano em forma de retícula, enquanto que outras, resultantes de adaptações e
evoluções, apresentam uma estrutura muito mais caótica, de crescimento orgânico e descontrolado. Existem,
contudo, estruturas coincidentes em quase todas elas, como, por exemplo, as muralhas, os edifícios e jardins, os
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circuitos viários, o mercado e a igreja. As muralhas, para além de servirem de defesa, funcionavam também como
portagem ao comércio, e, como eram barreiras físicas ao crescimento urbano, tinham de ser sucessivamente
criadas novas cinturas, como aconteceu, por exemplo, na cidade de Florença. As ruas, que começaram a ser
pavimentadas e por onde circulavam bestas de carga e pessoas, revestiam-se de importância especial por ligarem
todos os sítios onde se comerciava, que era praticamente em toda a cidade. Ao lado das ruas cresciam os
edifícios, sobretudo em altura e muito juntos, uma vez que o espaço confinante com a via era social e
comercialmente valorizado. A praça do mercado situava-se normalmente no centro da urbe ou junto à rua
principal, e encontrava-se rodeada de edifícios de cota mais ou menos igual, com galerias por baixo. Esta praça
podia ter diversas formas, desde a triangular à oval e à quadrada. Em frente à igreja situava-se igualmente uma
praça (por vezes confinante com a do mercado), que se revestia de importância particular por ser lá que se
reuniam, em convívio, os fiéis antes e depois da missa, e onde eram também deixados os cavalos dos não
residentes.
As atividades comerciais foram tendo uma importância crescente na Europa Ocidental. Nos séculos XII e
XIII, o comércio externo desenvolveu-se com maior dinamismo em algumas regiões europeias:
Flandres – as cidades de Gand, Ypres, Bruges e Donai eram grandes centros manufatureiros
especializados na produção de lanifícios. Graças á sua posição geográfica estratégica bem como á força da sua
industria, a Flandres não só exportava os seus panos mas também atraía comerciantes oriundos das mais
À flandres chegavam produtos do Báltico e da Rússia (cera e peles), produtos mediterrâneos e especiarias
orientais trazidas pelos italianos, produtos espanhóis (amêndoas, figos, uvas), portugueses (mel, couro, azeite,
Hansa – era a maior força económica e comercial do Báltico e as suas principais cidades eram
Hamburgo, Dantzig, Riga. Colónia e Lubeque. Os comerciantes comercializavam produtos agrícolas, madeiras,
peles, etc.
tecidos de seda, pedras preciosas, pérolas, alúmen, peles, madeira, peixe e arenque salgado.
Feiras da Champagne – realizadas nas cidades de Lagny, bas-sur-Aube, Provins e Troyes, foram as
mais importantes de todas as feiras medievais. A sua localização geográfica e as regalias que os reis e senhores
Aí se trocavam lanifícios, sedas, artigos de couro, peles, linhos, cereais, vinhos e corantes.
Esta era um sistema económico em que toda a produção excedentária se destinava ao mercado, tornando as
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O intenso desenvolvimento comercial obrigava a uma maior utilização da moeda e a inovações nas técnicas
dos negócios.
Cheques e letras de câmbio – funcionavam como um papel-moeda que evitava o uso do numerário.
Assim, permitiam substituir o transporte de dinheiro vivo, sempre mais arriscado e volumoso, fazendo operações
de pagamento em papel.
Sociedades comerciais – permitiam reunir capital a uma escala a que os particulares dificilmente
poderiam ter acesso e, da mesma forma, repartir os lucros do negócio proporcionalmente a esse investimento
inicial.
Câmbios – eram uma necessidade constante numa economia de mercado que manuseava moedas tão
Bolsas de mercadores – companhias de seguros que mediante o pagamento de certas quantias por
frete realizado para um fundo comum, cobriam os riscos das viagens, na proporção dos capitais investidos.
Ao período de enormes progressos da demografia e da economia demográficas europeias dos séculos XII
Um conjunto de circunstâncias adversas, por vezes atuando em simultâneo, provocou uma recessão
demográfica e económica, tendo a Europa passado por uma fase de instabilidade social e política.
Nos finais do século XIII, a população europeia atingira um nível difícil de manter com o
Os maus anos agrícolas pioraram a situação. Com efeito, devido a uma série de condicionalismos climáticos,
ocorreram maus anos agrícolas por toda a Europa, provocando quebras na produção. A carência de alimentos e a
carestia de vida por ela provocada trouxeram a fome a muitas regiões. Os organismos depauperados tornavam-
se mais susceptíveis a contrair doenças e menos resistentes a epidemias e a conjunção destes factores levava á
Depois de 1348, esta tendência para o recuo demográfico foi agravada pelos efeitos de uma terrível
Originária do Oriente, esta epidemia, muito contagiosa, espalhou-se por toda a Europa. Apesar de algumas
regiões europeias terem sido menos atingidas, em muitas regiões houve quebras entre 30 e 50% da população.
Em algumas zonas, as aldeias ficaram desertas devido á morte ou abandono dos seus habitantes.
Com a queda demográfica que provocou, a Peste Negra agravou a depressão económica que se vinha a
Esta situação foi agudizada pelos conflitos militares, pois o século XIX foi também um século de
conflitualidade.
2.1 A fixação do território – do termo da Reconquista ao estabelecimento e fortalecimento das fronteiras
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1-MAPAS DA RECONQUIST
Fronteiras de
Portugal em 1185
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2-SUBLINHAR A ACÇÃO DO CONDE D-HENRIQUE E DE D. AFONSO HENRIQUES PARA A
O condado foi concedido a D. Henrique a título de dote hereditário, pelo seu casamento com D. Teresa,
filha de D. Afonso VI, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o conceder ao conde D.
Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os Mouros. Pode-se mesmo afirmar
que Portugal é um produto da reconquista cristã. Quer a autonomização politica e o alargamento territorial do
Com efeito, foram as vitórias no campo de batalha contra o Islão, que deram a D. Afonso Henriques o
prestígio e a autoridade necessários para reivindicar, junto das autoridades castelhana e papal, o direito de
usar o título de rei e ser aceite como soberano pelos seus súbditos.
Foi ainda o sucesso militar que lhe permitiu obter um território suficientemente amplo para viabilizar a
existência de Portugal como reino independente. Alargando a sua fronteira para sul até à linha do Tejo -Sado,
Afonso Henriques conquista a cidade de Santarém em 1147. A sua posse abriu-lhe caminho à tomada de Lisboa,
feito alcançado com a ajuda dos cruzados, em 14 de Outubro desse mesmo ano. Seguiram-se-lhes as conquistas
de Sintra, Almada e Palmela, fortalezas importantes para a defesa de Lisboa, e mais tarde de Alcácer do Sal
(1158-1160).
Ao mesmo tempo que se ia processando o alargamento territorial para Sul, D. Afonso Henriques e os
seus sucessores dividiam os seus esforços no povoamento e na organização administrativa, e económica e social
das áreas conquistadas, elementos fundamentais para a consolidação das fronteiras e para a própria
sobrevivência do Reino.
Para realizar estes objetivos, foram concedidos inúmeras cartas de Foral, criaram-se os primeiros órgãos da
administração central e fizeram-se importantes doações de terras e privilégios às ordens religiosas e às ordens
militares.
A conquista ou a tomada de posse por D. Afonso III, em 1249, das cidades e castelos do Algarve que ainda se
encontravam nas mãos dos mouros concretizaram o grande objetivo de estenderas fronteiras de Portugal até ao
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3-SITUAR A DEFINIÇÃO DO ESPAÇO PORTUGUÊS NO CONTEXTO DA RECONQUISTA
A definição do território de Portugal e a sua existência como entidade politica independente no Oeste
peninsular, está intimamente ligada ao processo da Reconquista (Séculos VIII-XV). A Reconquista Cristã deu-se
com a formação do condado Portucalense em 1096, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o
conceder ao conde D. Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os mouros.
Portugal nasceu e consolidou-se como reino independente e definiu as suas fronteiras em estreita
Na Reconquista já é feita uma distinção entre concelhos rurais e concelhos urbanos, sendo os primeiros
constituídos por pequenos grupos de povoadores, enquanto os segundos se dividiam em burgos, onde as pessoas
viviam dependentes do poder senhorial e onde uma carta de foral concedia aos seus moradores igualdade de
direitos.
Os concelhos criados ou legalizados pelos forais, dispunham de graus variáveis de autonomia. Esta
garantia das liberdades individuais e na exclusão do exercício dos direitos senhoriais na área municipal e era
O rei era o maior e mais poderoso dos senhores, reservando para si, em exclusivo, certos direitos, como
A partir do século XIII, a reestruturação central e local e a abertura das Cortes à participação dos
representantes dos concelhos vieram dar mais força e autoridade à realeza para combater a expansão
senhorial.
A definição do espaço territorial português ficou concluída em 1297 com a celebração do Tratado de
Alcanices entre D. Dinis, de Portugal e D. Francisco IV de Castela. Fixou-se assim de forma praticamente
definitiva, a fronteira Leste do País: O rei de Portugal assegurou a posse das praças tomadas na terra de Riba-
Côa, juntamente com Olivença, Campo Maior, Ouguela e São Feliz de Galegos, assim como Moura e Serpa, já
cedidas em 1295 mas não entregues em contrapartida, desistiu das suas pretensões relativamente a Aracena,
Aroche, Ferreira, Esparregal e Aiamonte. Portugal estabelecia assim, ainda no século XIII, as fronteiras do seu
território, que com pequenas alterações posteriores, haveriam de permanecer até aos nossos dias.
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A origem e evolução da maioria das famílias nobres portuguesas na Idade Média, estão relacionadas com
a emigração de além-fronteiras (Leão, Castela, França, Norte da Europa) e a promoção social como recompensa
por serviços prestados nas lutas da Reconquista, ao longo dos séculos XI e XII.
português na região entre Douro e Minho, e no litoral até ao Mondego, onde um grande número de senhores
sujeitou pela posse das armas e pelo exercício de poderes públicos uma numerosa massa de camponeses. O
regime senhorial avançou depois para Sul do Tejo, através das concessões às ordens militares, encontrando os
maiores obstáculos na política de centralização régia e nas instituições concelhias, criadas ou preservadas pela
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Como nos demais reinos europeus, em Portugal a nobreza era uma categoria social privilegiada,
distinguindo-se pelo exercício de funções politicas e militares, que faziam dela um auxiliar imprescindível da
Realeza. Os reis governavam através dos nobres, que aparecem muitas vezes na documentação qualificados como
fideles, os fiéis, e faziam a guerra com o apoio das suas armas e dos seus homens. O uso das armas e do cavalo,
a posse de terras e a sua familiaridade com o poder davam-lhes uma enorme superioridade sobre o conjunto da
população.
A nobreza como as restantes ordens sociais, não constituía uma categoria social semelhante. Na realidade
integravam-na grupos ou classes com níveis de rendimento e até de estatuto muito diferenciados. Os ricos-
homens, magnates conhecidos como nobres de pendão e caldeira – tinham o poder e a autoridade para
arregimentar sob o seu estandarte cavaleiros e peões e os meios para os sustentar no decurso de uma campanha
militar, aproveitaram as ações militares da luta contra os mouros para conquistar os favores dos reis. A quem se
encontravam ligados pelo sistema de vassalidade, para obter imunidades, enriquecer e transformar-se no grupo
mais importante de entre os nobres. Abaixo destes homens-ricos situava-se um grupo muito mais numeroso de
aristocratas terratenentes que, na sua maioria, descendiam das antigas famílias de homens livres dos períodos
romano, suevo e visigodo, os infanções (nobres de nascimento) e ainda uma nobreza que vivia fundamentalmente
A nobreza senhorial vivia da terra e das rendas dominiais, conjunto de bens em espécie, dinheiro ou
serviço, que cobrava aos camponeses que cultivavam as suas propriedades (as honras) e sobre os quais exercia
uma jurisdição limitada. As honras beneficiavam de um conjunto de privilégios e imunidades muito favoráveis
para os seus titulares, como o direito de proibição de entrada a funcionários régios, a isenção do pagamento de
impostos e a autonomia judicial e administrativa. No entanto, a Realeza manteve sempre o controlo sobre o
poder senhorial, reservando para si determinados direitos, como a justiça maior (pena de morte ou corte de
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O país urbano e concelhio – multiplicação de vilas e cidades concelhias
O país rural e senhorial, nascido no Entre Douro e Minho, cedo se complementou com um país de cidades e vilas
concelhias. Trata-se do país urbano e a sua pujança e protagonismo verificam-se do século XII em diante. Mas
em que contexto as cidades e vilas irromperam e se desenvolveram em território português? Recuemos no
tempo. Em 1064, Coimbra é definitivamente conquistada aos muçulmanos. Em 1075, a construção da catedral de
Santiago de Compostela, onde se abrigava o túmulo do apóstolo, faz deste local um dos centros de devoção mais
concorridos da Cristandade medieval. Tal significa que o espaço a norte do Mondego, que em breve fará parte do
reino de Portugal, se vê sulcado de peregrinos e caminhos que demandam a cidade do noroeste da Galiza. Com tal
movimento, é natural que os núcleos urbanos se revitalizem, readquirindo um dinamismo desconhecido há séculos,
pelo estado de guerra então vivido. O Porto e Guimarães, por exemplo, saem beneficiados. Entretanto, a
Reconquista prosseguia e, com ela, territórios de forte presença urbana, que o domínio muçulmano além de
preservar soubera estimular, acrescentavam-se ao Norte tradicionalmente rural e senhorial. Referimos já a
conquista de Coimbra; à cidade do Mondego juntavam-se, na segunda metade do século XII, Lisboa, Santarém e
Évora como polos estruturadores da futura evolução económica e política do reino de Portugal. Doravante, o
Entre Douro e Minho ficará secundarizado face a um Centro e Sul que dele recebe excedentes demográficos,
que herda os saberes artesanais e os contactos comerciais do mundo muçulmano, que valoriza as transações
monetárias e onde comunidades de homens livres, e não exclusivamente os senhores, tomam nas mãos o exercício
do poder local. Eis um dos motivos por que Afonso Henriques transfere a capital de Guimarães para Coimbra.
Libertava-se das exigências da fidalguia nortenha, que o pusera no trono e angariava apoios de estirpes menos
nobres, é certo, mas, nem por isso menos gratas e ousadas.
A presença da corte, então verdadeiramente itinerante, nas cidades do Centro (Coimbra, Leiria) e Sul
(Santarém, Lisboa, Évora) contribuiu, por seu turno, para a consolidação das estruturas urbanas do reino nos
seus primeiros séculos de existência. Com o seu séquito de funcionários e letrados, a proliferação de serviços
burocráticos e de forças militares, cada vez mais se distanciavam aqueles centros urbanos do país rural, face ao
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qual se sentiam mais poderosos e esclarecidos. Se a presença régia prestigiava uma urbe, não menor
engrandecimento derivava das suas funções eclesiásticas. Referimo-nos, concretamente, às sedes de bispado, as
únicas a merecerem a designação de cidades. Remontavam aos primeiros tempos de organização do Cristianismo
na Península e, certamente, a sua reconquista e posterior restauro foram motivo de desmedido orgulho.
A urbanidade de uma povoação media-se, em grande parte, pelo seu grau de superintendência jurídica. A cidade
e a vila concelhia dispunham, na verdade, de uma capacidade auto-administrativa, maior ou menor, que os
monarcas e, às vezes, um senhor lhe concederam através de uma carta de foral. Num país que nasceu à sombra
de castelos e igrejas, compreende-se o privilégio que representava a vida num concelho, onde as amarras
senhoriais eram mais ténues ou praticamente inexistentes. Ele explica-se, especialmente, pela necessidade de
atrair moradores a zonas que urgia defender e povoar: a Beira interior, a Estremadura, o Alentejo. Nestas
regiões se situaram, predominantemente, os concelhos perfeitos ou urbanos, cuja organização analisaremos mais
adiante.
O desenvolvimento urbano dependeu da proximidade dos eixos de comunicação, da facilidade dos transportes
terrestres, do estabelecimento e dinamismo de uma rede comercial. Para alimentar a sua população e, em
simultâneo, exportar as suas produções rurais e artesanais, a cidade deve inserir-se numa vasta rede de trocas.
Ao surto urbano português não é, por conseguinte, estranho o ressurgimento comercial que o Ocidente medieval
viveu a partir do século XII. Não é por acaso que as urbes de maior dimensão, como Guimarães, Porto, Coimbra,
Santarém, Lisboa e Évora, se localizavam num eixo norte-sul paralelo à costa atlântica, com a qual facilmente
comunicavam. Ao dinamismo dos seus mercadores se deve a concessão das respectivas cartas de foral.
* Concluindo:
Beneficiando das peregrinações a Santiago de Compostela, do avanço da Reconquista, da estância da corte régia,
do restauro das sés episcopais, da criação de concelhos e do dinamismo comercial, Portugal recuperou, desde o
século XII, uma fisionomia urbana.
* O espaço amuralhado
Antes de mais, a cidade medieval portuguesa, como as suas irmãs peninsulares ou os burgos europeus, destacava-
se na paisagem por estar envolta numa cintura de muralhas. De maior ou menor perímetro, com as suas ameias e
os seus cubelos, a muralha delimitava o espaço urbano, dava-lhe segurança e proventos (pelas inúmeras taxas
pagas nas suas portas e postigos), além de embelezá-la! Com indisfarçável orgulho, os citadinos gravavam, nos
seus selos concelhios, as muralhas, qual símbolo do poder e autonomia.
Desde o século XIII, o crescimento demográfico do reino e as movimentações populacionais estiveram na origem
de reestruturações urbanísticas de vulto. As obras iniciaram-se ainda com D. Dinis, prosseguiram com D. Afonso
V e terminaram no reinado de D. Fernando, que passou à História como o monarca construtor de cercas por
excelência. Muitos dos antigos arrabaldes (bairros extra-muros) bem como zonas rurais ficaram, então, incluídos
nas novas cinturas de muralhas e não tardaram a encher-se de construções e habitantes.
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Toda a cidade medieval comportava uma zona nobre, um centro, que se distinguia do restante espaço. E dizemos
nobre, não porque nele habitassem os aristocratas de sangue — que, aliás, sofriam de várias limitações para
construir casas na cidade —, mas porque nele se situavam os edifícios do poder e moravam as elites locais.
Referimo-nos ao castelo ou à torre de menagem do alcaide, à Sé ou igreja principal, ao paço episcopal, aos paços
do concelho, às moradias dos mercadores e mesteirais abastados. São edifícios altivos, de robusta pedra que
desafia os tempos. Não longe deles estava o mercado principal numa praça ou rossio, se bem que muitos outros
mercados proliferassem no interior da cidade medieval. Fora daquele centro, que hoje nos chocaria pelo
amontoado das construções e pela falta de espaço que, por certo, impediria uma boa panorâmica da catedral, a
cidade espraiava-se numa desordem total. Só no reinado de D. Dinis se abriram ruas para servirem de eixo
ordenador do espaço urbano. Mais largas que o habitual iam directamente de um ponto ao outro da cidade,
ligando duas das suas portas. Chamavam-se ruas direitas e, tal como as ruas novas surgidas desde o século XII,
enchiam de satisfação os citadinos, que aí abriam as suas melhores oficinas, lojas e estalagens. Tudo o mais eram
ruas secundárias, autênticas vielas para os nossos padrões, fétidas, escuras e poeirentas, raramente calcetadas,
onde os despejos se faziam a céu aberto, cães e porcos focinhavam e mil perigos espreitavam. Nelas se
distribuíam as habitações populares, as oficinas dos mesteirais, as tendas para a venda dos produtos e, até,
albergarias e hospitais, que acolhiam peregrinos, pobres e doentes. Uma curiosa compartimentação sócio-
profissional levava a que os ofícios se agrupassem em ruas específicas, que a toponímia viria a perpetuar. Donde
os curiosos nomes das ruas dos Sapateiros, Correeiros, Pelames, Caldeireiros, do Ouro, da Bainharia ou dos
Mercadores. Facilitava-se, desse modo, a aquisição da matérias-primas, a aprendizagem das técnicas, a
comercialização de bens. Não faltavam, na cidade medieval portuguesa, as minorias étnico-religiosas: os judeus e
claro, por razões históricas, os mouros submetidos. Muitos dos judeus eram mesteirais (ourives, alfaiates,
sapateiros), mas houve-os também médicos, astrónomos, cobradores de rendas. Mais letrados que o comum dos
cristãos (as discussões teológicas, na sinagoga que também era escola, a tal os predispunha), mais abastados,
dados à usura e ao negócio, embora os humildes não faltassem, os judeus viviam em bairros próprios, as
judiarias, com os seus funcionários, juízes e hierarquia religiosa. Durante séculos, e apesar do antagonismo
religioso e de pontuais invejas motivadas pela sua superioridade económica e intelectual, a sociedade portuguesa
tolerou os judeus e as cidades, como vimos, albergaram-nos dentro de muros. Um grupo numeroso de judeus era,
aliás, entendido como símbolo de dinamismo económico do burgo.
Em finais do século XV, a convivência entre os dois credos romper-se-ia Referimo-nos ao momento em que um
edicto de D. Manuel obrigou os judeus à conversão, sob pena de expulsão. Quanto à comunidade mourisca, não foi
senhora de uma abastança comparável à dos judeus. A opinião pública fixou a máxima do «trabalhar que nem um
mouro» sinal da condição inferior dos islâmicos. Mas nem por isso os cristãos deixaram de os recear: relegaram-
nos, também, para bairros próprios — as mourarias—, que fizeram situar no arrabalde.
*O arrabalde
Localizado fora de muros, o arrabalde acabou por se transformar num prolongamento da cidade. Nele se
encontravam as hortas, tantas vezes designadas de almuinhas (palavra de origem árabe), que, juntamente com os
ofícios poluentes (pelames ou curtumes), estavam próximos de cursos de água. Os ferreiros eram outro grupo de
mesteirais que, frequentemente, se fixava nos arrabaldes. A fuligem e o barulho ensurdecedor que saía dos seus
martelos e bigornas tornava-os tão indesejáveis, no espaço intra-muros, quanto os surradores e os carniceiros.
Outros, como os carpinteiros e calafates navais do Porto, desceram as escarpas da sua acidentada cidade, vindo
fixar-se à beira-rio onde deram origem ao próspero arrabalde de Miragaia. Para muitos mesteirais e
mercadores, o arrabalde constituía um local privilegiado. Instalando as suas oficinas e lojas nas vias que
conduziam às portas da cidade, eram naturalmente os primeiros a abastecerem os que dela saíam e os que nela
entravam. No arrabalde semanalmente, tinha lugar um bem fornecido mercado, onde citadinos e aldeãos se
cruzavam. Nem sequer animação lá faltava: aos habituais malabaristas e saltimbancos vinham juntar-se, por
vezes, as touradas. Contudo, um certo ar de marginalidade rodeava o arrabalde. Não só as actividades menos
limpas para ele eram remetidas. Os pedintes e os leprosos, esses párias que a sociedade medieval hostilizava,
confinavam-se ao seu espaço. Eis o motivo por que as ordens mendicantes se instalaram nos arrabaldes desde o
século XIII. Atraídos pelo mundo da pobreza e da exclusão, Franciscanos e Dominicanos desempenharam com
êxito a sua missão de assistência e protecção aos humildes e desenraizados.
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* O termo
Para além do arrabalde, espraiava-se o termo, espaço circundante de olivais, vinhas ou searas e aldeias várias
incluídas. Sem o termo a cidade medieval não poderia viver. Nele exercia a jurisdição e o domínio fiscal; nele
impunha obrigações militares. A tal dava direito a autonomia das cidades e vilas concelhias... Semanalmente, os
aldeões do termo acorriam ao mercado que se realizava junto às portas da cidade. Traziam os indispensáveis
produtos da terra; no fim das vendas, não partiriam, certamente, sem antes transporem a muralha e adquirirem
nas lojas uma peça de pano, calçado ou as alfaias agrícolas de que estavam necessitados. Tal era o prestígio e a
abastança oriundos da posse do termo que os monarcas o alargavam ou encurtavam se desejassem agraciar ou
castigar as cidades! Foi o que aconteceu na Revolução de 1383-85, em que vilas como Santarém, por seguirem o
partido de D. Beatriz, viram o seu termo reduzido. Já o Porto, que tudo dera à causa do Mestre de Avis,
receberia de presente Gaia, Vila Nova, Azurara e Mindelo.
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impuseram, excluindo os peões, menos favorecidos economicamente. É verdade que estes não possuíam a
abastança e a disponibilidade necessárias para se deslocarem às reuniões na cidade ou vila. Mas, é verdade
também, os homens-bons invocavam o pretexto de um elevado número de pessoas tornarem as reuniões
conflituosas e inoperantes.
18
Cortes – as primeiras cortes reuniram em 1254, no reinado de D.Afonso II, em Leiria.
Correspondem ás antigas reuniões extraordinárias da Cúria Régia. Eram compostas por
representantes do Clero, da nobreza e dos Concelhos (povo). Tratavam das questões mais
importantes como: aclamação de novos reis, lançamento de novos impostos, quebra da moeda.
4. Reforço do poder do rei ao nível da administração local:
O país foi dividido em comarcas (divisão administrativa dirigida por um meirinho), julgados
(divisões judiciais dirigidas por corregedores e juízos de fora), almoxarifados (divisões fiscais dirigidas por
almoxarifes).
5. Reforço do poder do rei face aos grandes senhores:
leis de Desamortificação
inquirições
confirmações
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O prestígio da monarquia portuguesa atravessou fronteiras, em que no contexto político ibérica, o rei de
Portugal, D.Dinis, foi um interlocutor apreciado que interveio nas decisões internas do reino de Castela. Uma
dessas intervenções suscitou o Tratado de Alcanices e, com ele, a resolução do problema da fronteira terrestre
entre os dois reinos.
Para a sua afirmação contribui também a Coroa de Aragão onde se estreitaram os laços – o monarca português
casou com a princesa Isabel de Castela; a intervenção, no reinado de Afonso IV, cujo apoio militar é solicitado
pelo seu genro, Afonso XI, em que os Merínidas de Marrocos ameaçavam restaurar o domínio muçulmano na
Península.; e ainda quando as forças portuguesas e castelhanas travaram a Batalha do Salado com as hostes
muçulmanas, a vitória cristã foi total. Portugal afirmava-se assim, entre os grandes, ombreando com os monarcas
peninsulares.
20
obter a centralização do seu poder.
aspeto arquitetural – inicialmente o românico, com monumentos relativamente baixos, pouca luz e poucas
janelas, com o arco redondo e fraca decoração. Existia uma arquitetura religiosa (conventos / mosteiros,
igrejas e catedrais → Sé Velha de Coimbra) outro civil (casas → Domus Municipalis de Bragança) e uma outra
militar (castelos e muralhas).
Aspetos culturais – Reter sobretudo o papel relevante do clero na transmissão dos saberes antigos, através
do trabalho realizado nos conventos e mosteiros pelos monges copistas, tradutores, iluministas, etc. Sendo o
clero também a única classe que sabia ler e escrever.
Havia além disso, embora de modo mais restrito, uma cultura profana cultivada por jograis e trovadores
(cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer), por cronistas (caso das crónicas de Fernão Lopes ou de
Gomes Eanes de Zurara) e romancistas (Amádis de Gaula e toda a literatura em torno do rei Artur e dos
cavaleiros da Távola redonda ) . Pintura e escultura tiveram proporções menos relevantes.
21
catedrais, o expoente máximo do gótico, cada vez mais altas e exuberantes.
Enquadrar a expansão do ensino nas transformações económicas e políticas dos últimos séculos da Idade
Média.
No séc. XI, organizaram-se as primeiras escolas urbanas, onde a multiplicidade destas deveram-se ás novas
necessidades da administração e da economia. As cidades precisavam de pessoas com estudos para os seus mais
altos cargos nos tribunais, nas repartições públicas, ou seja, de homens de letra que constituíssem o novo
funcionalismo público, necessários à centralização do poder pelos monarcas. Assim contribuíram para o
desenvolvimento económico do país e para preencher cargos na política.
22
No decurso do séc. XII, algumas escolas catedralícias obtiveram, pela qualidade dos seus mestres, fama
internacional que atraíam assim, numerosos estudantes estrangeiros e especializaram-se em áreas como o
Direito, a Teologia ou a Medicina.
Consoante a estrutura da escola se foi dificultando, houve a necessidade de criar uma estrutura rígida, que
definisse claramente as matérias a estudar e a forma de obtenção dos graus académicos, podendo também
defender os seus membros, docentes e alunos. Foi então que surgiram as universidades. Estudar numa
universidade passou a ser, desde então, uma forma de adquirir prestígio e subir na escala social. Foi assim que
começaram importantes e prestigiadas Universidades pela Europa, como as duas escolas catedrais a de Notre-
Dame, em Paris, e a de Bolonha e, mais tarde em 1290 a primeira universidade portuguesa de nome, o Estudo
Geral de Lisboa.
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. A homenagem do cavaleiro à dama.
. A reputação.
.Visão idílica do amor
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A cultura erudita é a cultura própria dos grupos mais elevados da sociedade, intimamente ligada à leitura e ao
estudo. É uma cultura intelectualizada, não acessível à maior parte da população. Na Idade Média, são focos de
cultura erudita os conventos, com as suas livrarias, as universidades e as cortes régias e senhoriais.
25
3. A técnica da pudlagem (que permitia transformar o ferro de primeira
fundição, não purificado, em ferro ou em aço).
Na mesma época, a energia elétrica foi aplicada a uma serie de progressos técnicos que
deslumbraram os seus contemporâneos:
1. A lâmpada elétrica (grande invento de Edison) substituiu a iluminação a gás nas ruas e
casas, com franca vantagem: ao contrário do sistema anterior, a lâmpada não libertava calor,
não sofria explosões nem intermitências e o consumo era de fácil contagem;
2. A eletricidade, aplicada aos mais diversos maquinismos, revolucionou a vida do
cidadão comum.
Surgiram, nomeadamente:
- o comboio elétrico (criado por Siemens em 1879, embora continuassem
plenamente ativos os comboios a vapor);
- o telefone (invenção de Bell, em 1876);
- o cinema (com origem no cinematógrafo de Lumière, em 1895);
26
- a radiofonia (fruto da aplicação da teoria das ondas hertzianas, em 1887);
- os metropolitanos e os carros elétricos.
27
industrial, muitas das vezes investindo diretamente em companhias industriais (eram, por
isso, chamados “bancos de negócios”).
Explicar os métodos de racionalização do trabalho
O engenheiro Frederick Taylor expôs o método de transformar a produção num
processo racional, isto é, pensado de maneira a tornar-se o mais rentável possível.
A racionalização, descrita na sua obra Princípios de Direção Cientifica da Empresa, foi
chamada de taylorismo e assentava nos seguintes procedimentos:
1. Dividir a produção de um objeto numa série de “movimentos essenciais que
cada um dos operários tem de executar”.
2. Pré-definir o tempo mínimo necessário para a realização de cada um desses
gestos simples.
3. Produção de objetos todos iguais – estandardização.
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Referir, em traços gerais, a geografia industrial no século XIX
No século XIX, para além do caso particular da Inglaterra, os países mais
industrializados da Europa eram: a França, a Alemanha, a Suíça e a Bélgica.
A nível mundial salientavam-se: os Estados Unidos da América e o Japão.
Certos países tiveram uma industrialização mais lenta, tais como; a Rússia, a Áustria-
Hungria, a Itália, Portugal e Espanha.
29
Um dos aspetos que mais fortemente marcou o século XIX (a partir de cerca de 1840)
foi o triunfo do capitalismo industrial.
Ao contrário do que previa Thomas Malthus no século XVIII, a produção de bens de
consumo conseguiu acompanhar o crescimento demográfico e, no mundo industrializado, uma
franja crescente da população beneficiava de uma melhor qualidade de vida.
Porém, a par deste mundo industrializado, que os historiadores colocam em relevo pela
novidade que apresenta em relação ao passado, não devemos esquecer que a maior parte do
planeta era, ainda, um mundo “atrasado” (na expressão de Pierre Léon), onde o tempo parecia
“imóvel”.
Alguns países tiveram o seu arranque industrial tardiamente: foi o caso do Império
Austro-Húngaro, do Império Russo, da Europa meridional (Portugal, Espanha, Itália, Grécia).
Outros não puderam desenvolver-se porque eram colónias, dependentes das estratégias de
mercado impostas pelas respetivas metrópoles: neste caso temos, por exemplo, os países da
América Latina e do continente Africano.
Por último, temos de salientar, no interior dos países desenvolvidos, os redutos de
tradicionalismo, onde uma agricultura de subsistência, avessa ao campo fechado, coexistia, no
mesmo país, com a agricultura mecanizada e o artesão trabalhava, em casa, perto de uma
grande fábrica.
Concluímos, assim, que a industrialização se processou a diferentes “ritmos”, como se o
tempo passasse mais depressa ou mais lentamente conforme as condicionantes ditadas por
cada região.
30
Apesar de ser um sistema económico favorável ao capitalismo industrial, o livre-
cambismo padecia de um problema intrínseco: de tempos a tempos (em intervalos de tempo de
6 a 10 anos), o sistema de livre concorrência (livre procura de lucro) originava crises
económicas para se autorregular.
Estes ciclos de curta duração, estudados por Clément Juglar (e por isso denominados,
correntemente, por ciclos de Juglar) caracterizam-se por três etapas:
1. Uma fase de crescimento económico, durante a qual a produção aumenta e as
atividades financeiras (banca, bolsa) se expandem, de modo a corresponder à procura dos
consumidores.
2. Uma etapa de crise, isto é, de rápida diminuição da produção e descida dos
preços, numa tentativa de escoar o excesso de produção acumulada (crise de superprodução).
A tendência de baixa da economia conduz rapidamente a falência de empresas e de
bancos e à quebra de investimento na bolsa (crash); a população desempregada não tem meios
para consumir em abundância, o que retira o estímulo à produção.
Em virtude do livre-cambismo, a crise expande-se, a breve trecho, pelo mundo
industrializado e respetivas áreas coloniais, originando uma contração do comércio
internacional.
3. Uma etapa de recuperação, em que a oferta e a procura se reajustam e as
atividades económicas são relançadas (até que uma nova crise venha abalar a economia).
Estas crises – que se distinguem das crises do Antigo Regime por serem crises de
superprodução industrial e não crises de escassez devido a maus anos agrícolas – eram
inerentes ao próprio sistema capitalista, em que o Estado não intervinha na economia; porém,
os elevados custos, não só económicos mas também (e sobretudo) sociais, levaram os governos
a admitir, no final do século XIX, medidas de retorno ao protecionismo.
No século XX, devido à Grande Depressão dos anos 30, espoletada pela crise de 1929
nos EUA, tornou-se evidente que o liberalismo económico puro tinha de ser refreado pela
intervenção do Estado.
31
2-1-A EXPLOSÃO POPULACIONAL; A EXPANSÃO URBANA E O NOVO URBANISMO; MIGRAÇÕES
INTERNAS E IMIGRAÇÃO
32
Entre os principais fatores de expansão urbana, contam-se:
- o êxodo rural: as alterações na produção agrícola, ao dispensarem parte da
mão-de-obra, levam a que o habitante da província procure a cidade (sobretudo a partir de
1850, a população urbana da Grã-Bretanha, da França e da Alemanha regista um crescimento
substancial, enquanto a população rural desses países estagna ou decresce);
- a emigração: a população europeia foi responsável por diversas vagas de partida
para as colónias dos continentes africano, americano e oceânico, destacando-se, em especial,
o crescimento urbano nos EUA (em consonância com a sua supremacia económica, Nova Iorque
tornou-se a segunda cidade mundial, em 1900);
- o crescimento dos sectores secundário e terciário: a indústria, o comércio, as
profissões liberais concentram-se nas cidades e requerem cada vez mais efetivos; é o caso,
por exemplo, da cidade de Essen, onde estava sediada a fábrica Krupp e que passou de 2000
habitantes, em 1800, para 443 mil habitantes em 1900.
33
Distinguir a origem e o destino das migrações internas
O fenómeno urbano esta intimamente ligado ao das correntes migratórias:
no século XIX, a principal origem das migrações internas (dentro do mesmo país) era o
campo - fosse porque uma agricultura mecanizada dispensava mão-de-obra para as fábricas,
fosse porque uma agricultura de subsistência fornecia insuficientes rendimentos – e o
principal destino era a cidade.
A partir de 1850, o êxodo rural foi responsável pelo acentuado crescimento da
população urbana da Europa (sobretudo da Grã-Bretanha e Alemanha).
Para as raparigas do campo, o destino profissional era, na maioria das vezes, o serviço
doméstico.
Porém, um outro tipo de migrações internas era frequente: as deslocações sazonais
(realizadas apenas em certas alturas do ano) para locais onde era necessário, pontualmente,
um acréscimo de mão-de-obra.
34
cidadãos, embora iguais perante a lei, se distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens
que este permite conquistar (instrução, profissão prestigiada, lazer).
Deste modo, a unidade do corpo social, conferida pelo igual estatuto jurídico dos
cidadãos (fruto das conquistas do Liberalismo), é fragmentada em dois grandes grupos:
1. a burguesia: é o grupo dominante porque detém os meios de produção, muito embora
ela própria se divida numa hierarquia de diferentes estatutos.
2. O proletariado: é a classe mais baixa que fornece o trabalho à organização industrial.
2.Classes Médias
As classes médias constituem o grupo mais heterogéneo e socialmente flutuante da
sociedade industrial.
Englobam o conjunto das profissões que não dependem do trabalho físico, isto é, o
chamado sector dos serviços.
A sua composição integrava:
a)Pequenos empresários da indústria – embora vulneráveis às crises e aos
consequentes fenómenos de concentração empresarial, foram-se expandindo em número ao
longo do século XIX.
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c)Profissionais liberais – eram todos aqueles que, em vez de terem um patrão,
trabalhavam por conta própria.
Estavam ligados à ideia de promoção social: tornar-se médico, advogado, empregado de
escritório (colarinho branco) ou professor primário era uma maneira segura de perspectivar
um futuro desafogado, longe da dureza do trabalho manual da imprevisibilidade do mundo dos
pequenos negócios.
O seu estatuto valorizou-se na medida em que serviam as necessidades (de cuidados
médicos, de conhecimentos jurídicos, de instrução) da sociedade industrial.
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As primeiras reacções dos operários contra a sua condição miserável foram
espontâneas, pouco organizadas e dirigidas, sobretudo, contra as máquinas que lhes roubavam
o trabalho (nomeadamente o movimento de Ned Ludd, na Inglaterra – luddismo – era
mecanoclasta, isto é, destruía as máquinas de produção).
Com o passar do tempo, o movimento operário (acções de luta dos proletários por
melhores condições de vida e por uma maior intervenção política) organizou-se para se tornar
mais eficaz, revestindo, no essencial, duas formas:
1. O associativismo – na falta das redes de solidariedade tradicionais (família,
paróquia) as associações de socorros mútuos apoiavam os operários em caso de vicissitude
(doenças, desemprego, acidentes) mediante o pagamento de uma quota.
2. O sindicalismo – no início actuando clandestinamente, os sindicatos utilizavam
como principais meios de pressão sobre o patronato as manifestações (por exemplo, a de 1 de
Maio de 1886, em Chicago, pela jornada de 8 horas, actualmente comemorada como Dia do
Trabalhador) e as greves.
Estas constituíam uma forte arma de reivindicação, pois prejudicavam a produção e,
consequentemente, os lucros da indústria e do comércio, além de evidenciarem a importância
fundamental da classe trabalhadora (Proudhon dizia que, se o proletariado desaparecesse, a
produção “pararia para sempre e era uma vez os proprietários”).
Graças às greves, o enorme desfasamento entre o salário real dos operários e o custo
de vida foi-se esbatendo pelo que, no final do século XIX, a classe trabalhadora havia
conquistado um maior poder de compra. Foi na Grã-Bretanha que o movimento operário se
revelou mais precoce, com a autorização dos sindicatos (trade unions) e das greves em 1824-
25.
Os progressos da legislação social (por exemplo, a regulamentação do horário de
trabalho, o repouso semanal, a criação de pensões para as situações de acidente, doença,
velhice) tornaram-se mais notórios, na Europa industrializada, no terceiro quartel do século
XIX, por efeito da pressão dos sindicatos, entretanto legalizados, e pela difusão das ideias
socialistas.
Baseado neste pressuposto, expôs um plano de acão para atingir uma sociedade sem classes e
sem Estado – o comunismo.
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Expor os princípios do marxismo
Karl Marx e Friedrich Engels expuseram, no Manifesto do Partido Comunista (1848),
uma proposta de explicação do processo histórico que tomou o nome de marxismo ou
materialismo histórico:
- a luta de classes entre “opressores e oprimidos” é um traço fundamental de
toda a História;
- a sociedade burguesa, dividida entre a burguesia e o proletário, será destruída
quando este, “organizado em classe dominante” instaurar a ditadura do proletariado;
- depois de conquistar o poder político, o proletariado retirará o capital à
burguesia e o capitalismo será destruído pois estarão “todos os instrumento de produção nas
mãos do Estado” assim se construirá o comunismo;
- os operários devem unir-se internacionalmente para fazer a revolução
comunista, por isso o Manifesto institui o lema “Proletários de todos os países, uni-vos”.
Indicar os seus efeitos no movimento operário Marx e Engels viveram uma parte da sua vida
na Inglaterra no século XIX, tendo contactado com a miséria da condição operária.
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Instaurava-se a soberania nacional, pois os cidadãos activos eram apresentados em
assembleias legislativas.
A partir do terceiro quartel do século XIX, surgiu um novo entendimento do sistema
liberal que daria origem às democracias representativas (demoliberalismo):
1. Alguns países substituíram o sistema monárquico por um regime político
republicano, no qual o chefe de Estado e representante do poder executivo é eleito
periodicamente (por exemplo, Portugal em 1910).
2. O sufrágio censitário (voto reservado apenas aos detentores de um patamar
mínimo de rendimentos) foi substituído por sufrágio universal, que abarcava os cidadãos
maiores de idade. A soberania nacional dava lugar à soberania popular.
No entanto, o voto das mulheres, dos negros e dos alfabetos foi, em geral, uma
conquista difícil.
3. Para aperfeiçoar o sistema representativo, a idade de voto foi antecipada
(para os 21 anos, habitualmente), o voto passou a ser secreto e os cargos políticos passaram a
ser remunerados (abrindo caminho à entrada das classes médias e do operariado na vida
política).
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Por várias razões – de ordem linguística, histórica, religiosa – vários povos não se
sentiam integrados no Estado imperial a que pertenciam e, como tal, desencadearam
movimentos de libertação.
Umas vezes vitoriosas (independência da Grécia, em 1830), outras vezes fracassadas
(rebelião polaca de 1830-31), as lutas pela emancipação prosseguiram ao longo do século XIX.
No início do século XX, a repressão do princípio das nacionalidades e a luta por áreas
de influência por parte dos impérios acabaria por gerar focos de tensão que conduziriam à 1ª
Guerra Mundial.
40
Distinguir as zonas de expansão europeia entre fins do século XIX / início do século XX
Grã-Bretanha – acalentava o projecto de dominar o território africano do Cairo ao
Cabo; ocupava os territórios da Índia, da Austrália, do Canadá; exercia influência sobre a
China e recebera, como concessão, Hong-Kong, em 1842. França – ocupou territórios no Norte
e Centro africanos (por exemplo, Marrocos, a Argélia, a Tunísia), na Ásia (Indochina) e na
América (Antilhas Francesas, nomeadamente).
Império Alemão – possuía territórios em África (por exemplo, SE e SO alemão) e
exercia influência na Ásia Menor e na Península Arábica. Rússia - o Império Russo expandiu-se
por províncias como a Geórgia, e o Azerbeijão e procurou estender a sua influência ao
Extremo Oriente.
Contextualizar o imperialismo
A formação de impérios pelas potências europeias explica-se, em primeiro lugar, no
contexto da expansão industrial, que necessitava de matérias-primas para a produção
manufaturada e de mercados para escoar os excedentes.
Em segundo lugar, o continente europeu, em fase de explosão populacional, precisava de
colónias para aliviar a pressão demográfica.
Por último, os anseios nacionalistas que acompanharam a criação das democracias
europeias tinham uma vertente imperialista.
O nacionalismo carregava a ideia de conquista: pangermanismos, pan-eslavismo eram
vocábulos correntes na época, utilizados para transmitir o desejo de expansão imperialista de
um povo traduzida no prefixo pan (vocábulo de origem grega que significa tudo ou todo).
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Império Russo / Império Austro-húngaro – a rivalidade entre os dois impérios
justifica-se, nomeadamente, pela disputa da influência nos Balcãs.
Império Russo / Japão – As ambições do Império Russo no Extremo Oriente colidiam
com o imperialismo japonês, o que acabou por provocar, em 1904-1905, a guerra russo-
japonesa, de que saiu vitorioso o Japão (o regime político autocrático russo sofria o primeiro
grande abalo, não por coincidência, com a revolta de 1905, reprimida pelas tropas czaristas).
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- o alargamento das relações entre Portugal e a Europa evoluída. Porém, como
alertava, então, Oliveira Martins, embora o caminho-de-ferro fosse um meio de
desenvolvimento económico
– o “silvo aguda da locomotiva” que nos despertou “do nosso sono histórico”
- também criou “condições de concorrência para que não estávamos preparados”.
2. Livre-Cambismo
– o fomento económico assentou na doutrina livre-cambista, expressa na pauta
alfandegária de 1852. Fontes Pereira de Melo (o qual, além de ministro das Obras Públicas,
foi, também, ministro da Fazenda) era um acérrimo defensor da redução das tarifas
aduaneiras, argumentado que:
- só a entrada de matérias-primas a baixo preço poderia favorecer a
produção portuguesa;
- a entrada de certos produtos industriais estrangeiros (que Portugal não
produzia) a preços mais baixos beneficiava o consumidor;
- a diminuição das tarifas contribuía para a redução do contrabando. 3.
Exploração da agricultura orientada para a exportação
– a aplicação do liberalismo económico favoreceu a especialização em
certos produtos agrícolas de boa aceitação no estrangeiro como, por exemplo, os vinhos e a
cortiça.
A aplicação do capitalismo ao sector agrícola passou por uma série de inovações,
nomeadamente:
- o desbravamento de terras (arroteamentos);
- a redução do pousio;
- a abolição de pastos comuns;
- a introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas (sobretudo no Centro e Sul
do país, pois no Norte a terra é mais fragmentada e irregular);
- o uso de adubos químicos (produzidos nacionalmente, devido ao desenvolvimento
da indústria química).
4. Arranques industriais
– apesar do atraso económico de Portugal em relação aos países desenvolvidos da
Europa, registaram-se alguns progressos a nível industrial:
- difusão da máquina a vapor;
- desenvolvimento de diversos sectores da indústria (nomeadamente
cortiças, conservas de peixe e tabacos);
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- criação de unidades industriais e concentração empresarial em alguns
sectores (por exemplo, no têxtil);
- aumento da população operária, sobretudo no Norte do país (apesar de se
tratar maioritariamente de mão-de-obra não qualificada);
- criação de sociedades anónimas;
- aplicação da energia elétrica à indústria (já no século XX). No entanto, a
economia portuguesa padecia de alguns problemas de base que impediram o crescimento
industrial:
- a falta de certas matérias-primas no território nacional (por
exemplo, o algodão);
- a carência de população ativa no sector secundário (totalizava
apenas cerca de 20%, em 1890);
- a falta de formação do operariado e do patronato;
- a orientação dos investimentos particulares para as atividades
especulativas e para o sector imobiliário, em detrimento das atividades produtivas; - a
dependência do capital estrangeiro.
44
O culminar da crise ocorreu em 1892, quando o Estado português declarou a bancarrota
(ruína financeira).
45
No final do século XIX, a crise obrigou a uma reorientação da economia portuguesa,
que apostou nos seguintes sectores:
- retorno à doutrina protecionista (com a pauta alfandegária de 1892), que permitiu à
agricultura enfrentar os preços dos cereais estrangeiros e à indústria colocar a produção no
mercado em condições vantajosas;
- concentração industrial – através da criação de grandes companhias, melhor preparadas
para enfrentar as flutuações do mercado (por exemplo, a CUF – Companhia União Fabril, de
Alfredo da Silva, produtora de adubos);
- valorização do mercado colonial, suprindo a perda de mercados europeus;
- expansão tecnológica, com a difusão dos sectores ligados à 2ª revolução industrial
(eletricidade, indústria química, metalurgia pesada) e da mecanização.
46
5. A revolta de “31 de Janeiro” – em 1891, em contexto de profunda crise económica e de
rescaldo do ultimato inglês, um grupo de militares de baixa patente protagonizou uma
tentativa de implantação da Republica, no Porto (na antiga Rua de Santo António, atual Rua 31
de Janeiro). Apesar de fracassada (foi violentamente reprimida), a revolta exprimiu os
anseios de derrube da monarquia partilhados por grande parte da população.
6. A ditadura de João Franco – em 1907, o rei D. Carlos dissolveu o Parlamento, permitindo
ao ministro João Franco que governasse com plenos poderes. A ditadura apenas veio a
reforçar o descontentamento com a monarquia.
7. O regicídio – o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, em 1908,
mostrou, em evidência, o total descrédito em que havia caído a monarquia. Depois de um golpe
tão violento, tornou-se impossível ao filho mais novo do rei – D. Manuel II – assegurar a
continuidade da dinastia de Bragança no poder. Foi o último rei de Portugal.
47
- o sufrágio direto e universal para os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou
fossem chefes de família.
48
na difusão do ensino público como meio de esclarecer os cidadãos e de influir na sua tomada
de decisões;
- o espírito positivista do século XIX, ao considerar unicamente como verdadeiro o
conhecimento obtido através da observação e da experimentação, contribuiu para a
valorização de instituições ligadas à ciência (universidades, laboratórios, museus de História
natural);
- a laicização dos Estados, ao retirar da alçada da Igreja a tradicional função
educadora, levou a uma maior responsabilização dos Estados na alfabetização;
- as classes médias, ligadas à vida urbana, procuraram cursos que promovessem a sua
ascensão social, nomeadamente aqueles que os preparassem para exercer profissões liberais.
49
Arte Nova – assumindo-se, sobretudo, como um estilo decorativo, a Arte Nova resulta
da vontade de imprimir colorido e graciosidade a uma Europa descaracterizada pela
industrialização.
Os artistas da Arte Nova elaboram joias refinadas (Lalique), adornavam a entrada para
o metropolitano parisiense, ilustravam painéis publicitários com gravuras de mulheres
idealizadas entre flores e folhagens (Mucha).
O requinte e a elegância permitem identificar, rapidamente, todas as facetas da Arte
Nova. Enquanto corrente arquitetónica, a forma ondulada, a aplicação do ferro e a valorização
da estrutura como decoração marcaram as obras de Arte Nova, salientando-se as do
arquiteto Gaudí, em Barcelona.
50
As Conferências do Casino eram uma lufada de ar fresco no marasmo da cultura
nacional; porém, foram interrompidas pela proibição do Governo que se sentia ameaçado pela
polémica.
A Geração de 70, embora muito profícua em obras literárias e ensaios, dar-se-ia por
derrotada nos seus objectivos revolucionários, intitulando-se o grupo dos “Vencidos da Vida”
nos anos 80 do século XIX.
O grande mentor da geração de 70, Antero de Quental, suicidou-se em 1891.
51
1.1.1 A geografia política após a Primeira Guerra Mundial. A sociedade das Nações
Povos que viviam oprimidos no território dos impérios alcançam a independência politica: Estados Nação
Com os impérios autocráticos abatidos e a emancipação de muitas nações por eles subjugadas, acreditou-se no
triunfo da justiça e da igualdade
Extensão dos regimes republicanos e das democracias parlamentares
Criação de um organismo para salvaguardar a paz e a segurança internacionais – a Sociedade das Nações
O declínio da Europa
Revolução de Fevereiro
Reunidos numa assembleia popular denominada Soviete, os operários incitavam ao derrube de
czar. A adesão dos soldados ao Soviete resultou no assalto ao Palácio de Inverno:
Fim do Czarismo – República (Governo Provisório)
Dualidade de Poderes
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Desejo de uma nova Revolução
Revolução de Outubro
Bolcheviques (Guardas Vermelhos) assaltam o palácio de Inverno e derrubam o Governo
Provisório nele sediado.
Poder entregue ao Conselho dos Comissários do Povo (só bolcheviques). Líderes: Lenine
e Trotsky.
O novo governo iniciou funções com a publicação de decretos revolucionários que procuraram
responder às aspirações das massas populares e às reivindicações dos sovietes:
Decreto sobre a paz
Proprietários e empresários criam obstáculos à aplicação
Decreto sobre a Terra destes decretos
Decreto sobre o Controlo Operário
Decreto sobre as nacionalidades
▬ Negociações em Brest-Litovsk (sob a direção de Trotsky) – Rússia assina paz separada
com a Alemanha – perde população, terras cultivadas e minas de ferro e de carvão
Brancos Vermelhos
Opositores ao Bolcheviquismo (apoio de Bolcheviques – dispuseram de um coeso e
Inglaterra, França E.U.A e Japão) desejosos de disciplinado exército vermelho organizado por
evitar a expansão do bolcheviquismo Trotsky
Guerra Civil
Vencedores: Vermelhos
Ditadura do proletariado:
Etapa transitória no processo de construção da sociedade socialista.
Detendo a “supremacia politica” o proletariado retiraria “todo o capital à burguesia” e
centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, que enquanto
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instrumento de domínio de uma classe sobre a outra deixaria de fazer sentido e se
extinguiria. Dando assim lugar ao Comunismo.
▬ Dada a situação da Rússia (Guerra Civil…) e longe de ceder, Lenine tomou medidas
energéticas que conferiram à ditadura do proletariado um carácter violento e implacável:
Fim da democracia dos Sovietes Partidos políticos proibidos (exceto
Nacionalização Económica o comunista) bem como os jornais
Trabalho obrigatório (dos 16 aos 50 “burgueses”
anos) Terror – Policia Tcheca (policia
Assembleia constituinte dissolvida politica) – prendia, julgava e
executava rapidamente
Comunismo de Guerra
O centralismo democrático
Desde 1922 a Rússia converteu-se na União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS).
A conciliação da disciplina e da democracia do Estado Soviético conseguiu-se com a fórmula
do Centralismo Democrático:
Todos os corpos dirigentes são eleitos “de baixo para cima”, enquanto as suas decisões
são de cumprimento obrigatório das bases. Assim todo o poder emana da base
(sovietes) que é controlada por duas forças: o Estado e o Partido Comunista. (doc.19,
p.35)
55
O século XX foi o século das grandes cidades. A população urbana superou a das zonas rurais.
Esta urbanização maciça, levou a transformações profundas na vida e nos valores da
civilização ocidental.
A nova sociabilidade
▬ Massificação
▬ Nos tempos livres: lugares públicos (cafés, esplanadas, cinemas…)
▬ Crescimento da classe média
Aceleração do ritmo de vida;
▬ Melhoria do nível de vida Ruptura da rígida moral oitocentista
▬ Nova cultura do ócio (cidade oferece inúmeras distracções)
▬ Prazer do consumo e ânsia de divertimento
▬ Prática desportiva
▬ Convivência entre sexos mais livre e ousada
▬ Surgimento do automóvel
Acelera as mudanças já em curso, de todas elas a emancipação feminina foi a que mais
perturbou os contemporâneos.
A emancipação feminina
Direito das mulheres casadas à propriedade dos seus bens, à tutela dos seus filhos, ao
acesso à educação e a um trabalho socialmente valorizado
Direito de participação na vida política (direito de voto)
▬ Organizam-se associações sufragistas (querem assegurar igualdade politica)
Homens nas trincheiras – mulheres viram-se libertas das suas tradicionais limitações como
donas de casa – assumindo a autoridade do lar e o sustento da família
Moda: não ao espartilho; saia acima do tornozelo; cabelo à garçonne
56
▬ Inicio do séc. XX – valorização de outras dimensões do conhecimento.
→ Intuição (Henri Bergson) – para compreender certas realidades é preciso para além da
razão intuição. O intuicionismo teve um grande impacto na comunidade intelectual, que
viu nele uma libertação das normas rígidas do conhecimento.
Descrença no pensamento positivista
O relativismo
As concepções psicanalíticas
57
▬ Cores primárias, muito intensas, brilhantes e agressivas
▬ Pinceladas soltas, violentas e grossos empastes
▬ O colorido autonomiza-se completamente do real
▬ Influência da arte primitiva (destituída de temas perturbadores ou deprimentes)
Pintores:
Henri Matisse
André Derain
O Expressionismo
(Alemanha – Berlim, Dresden, Munique)
Grito de revolta individual contra uma sociedade excessivamente moralista e hierarquizada
onde as inquietações da alma raramente se podiam expressar, abafadas por normas e
preconceitos
Características:
▬ Representação de emoções – temática pesada (angustia, desespero, morte, sexo, miséria
social…)
▬ Figuras humanas intencionalmente deformadas
▬ Ridicularização de grupos como a Burguesia e os Militares
▬ Formas primitivas, simples e distorcidas (que deformavam a realidade para causar
assombro, repulsa angustia)
▬ Grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas livremente
Pintores:
Edvard Munch
Ernst Kirchner
O cubismo
(Paris)
Utiliza como linguagem a geometria, decompondo o objecto. Assim a visão parcelar é
substituída por uma visão total dos objectos que passam a ser representados de várias
perspectivas. Revela também a influência da arte africana (máscaras rituais).
Cubismo Analítico Cubismo Sintético
Geometrizam e simplificam Elementos fundamentais
formas reagrupados de uma maneira
Destruição completa das leis da mais coerente e lógica
perspectiva Juntam aos materiais da pintura
Visão total dos objectos objectos comuns (papeis, cartão,
representados (estilhaçando a tecido, corda…)
imagem em vários planos que se Cor regressa
sobrepõem
Cores restringem-se: azuis,
cinzas, castanhos
→ Destruiu as leis tradicionais da perspectiva e da representação
→ Abre caminho à arte abstrata
→ Alargou os horizontes plásticos introduzindo neles materiais comuns
Pintores:
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Pablo Picasso
Georges Braque
O Abstracionismo
(Paris)
Formas abstractas que despertam em cada pessoa reacções diferentes, rejeitando uma
realidade concreta.
Abstraccionismo Sensível ou Lírico:
▬ Cores fortes e vibrantes
▬ Abstracções de forma e de cor ▬ Supressão de toda a emotividade
pessoal
Abstraccionismo Geométrico ▬ Linhas rectas e figuras geométricas
▬ Expressa a verdade essencial e preenchidas por manchas de cor
inalterável das coisas
Pintores:
Vassily Kandinsky (Lírico)
Piet Mandrion (Geométrico)
O Futurismo
(Milão)
▬ Rejeição total da estética do passado e ▬ Representação do mundo industrial: a
exaltação da sociedade industrial cidade, a máquina, a velocidade, o ruído
▬ Admiração pela tecnologia moderna e ▬ Ideia de ritmo
pela velocidade ▬ Movimento criado a partir da repetição
▬ Exaltação da guerra de formas e de cores
Pintores:
Umberto Boccioni
Luigi Russolo
O Dadaismo
(Zurich – Suiça)
▬ Desprezo pelo mundo violento, pela ▬ Negar a arte e o seu valor
sociedade e pelas suas regras ▬ Anti-arte: troça, insulta, critica
▬ “Fome de absurdo” (destruir os ▬ Manifestação do enorme movimento de
fundamentos da arte) revolta intelectual e artística
Pintores:
Marcel Duchamp
Francis Picabia
O surrealismo
(França)
▬ Influência de Freud e da Psicanálise
▬ Mundo de interioridade era procurado no inconsciente do artista
▬ Fundir a realidade e o sonho numa surrealidade
▬ Autonomia da imaginação e a capacidade do inconsciente de se exprimir sem limitações
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▬ Universos absurdos, cenas grotescas e estranhas, sonhos e alucinações, cor usada
arbitrariamente
Pintores:
Salvador Dali e René Magritte (surrealistas figurativos)
Joan Miró (surrealista abstracto)
Os caminhos da literatura
Tal como no campo das artes a literatura sofreu uma verdadeira revolução, que pôs em causa
os valores e as tradições literária. Destacam-se então algumas novas características:
▬ Libertação da obra literária face à realidade concreta
▬ Obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens
▬ Novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica
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Agitação Social – Contornos violentos nas grandes cidades
Pintura
▬ Ao atacarem alicerces da sociedade burguesa (como os seus gostos e valores culturais) – Colheram a indignação e o
sarcasmo
▬ Afastados dos certames e publicações oficiais que os marginalizavam
▬ Veículos de afirmação: exposições independentes, publicações periódicas e espaços públicos que decoravam
▬ Criticas indignadas do escritor Júlio Dantas – Manifesto Anti-Dantas pelos futuristas, associando-o a uma cultura
retrógrada que urgia abater.
▬ Amadeu de Souza-Cardoso (também influenciado pelo futurismo) realiza duas exposições individuais que o vão aproximar
ao grupo de Orpheu, resultando num terceiro numero do mesmo, que não chegou a publicar-se.
▬ Agitação futurista culminou no Ultimatum futurista às gerações portuguesas do séc. XX, por Almada Negreiros.
▬ Logo a seguir, numero único da revista Portugal Futurista considerada “peça fundamental do movimento futurista
português”, porem sendo apreendida pela policia no momento da saída da tipografia.
Itália:
Alemanha:
Itália:
Alemanha:
Autarci
a
2.2.2 O Estalinismo
Planificação Económica:
O New Deal
Novo presidente dos EUA: Franklin Roosevelt - influenciado por Keynes Intervenção do Estado
federal
Metas: Relançamento da economia e luta contra o desemprego e a miséria – Superar os efeitos da Grande Depressão
1928 – António de Oliveira Salazar entrou no Governo e sobraçou a pasta das Finanças, com a
condição de superintender nas despesas de todos os ministérios. Consegue saldo positivo no
Orçamento, ganhando assim prestígio e sendo nomeado para a chefia do Governo
Não escondendo o seu propósito de instaurar uma nova ordem política, Salazar empenhou-se
na criação das necessárias estruturas institucionais.
1930 – Lançaram-se as bases orgânicas da União Nacional e promulgou-se o Ato Colonial.
1933 – Publicação do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933
Ficou então consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo, no qual
sobressai:
o forte autoritarismo
o condicionamento das liberdades individuais aos interesses da Nação
Salazar
Repudiou Proclamou (carácter)
Liberalismo Autoritário
Democracia Corporativo
Parlamentarismo Conservador
Nacionalista
Conservadorismo e tradição
Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora que sempre repudiou os exageros
republicanos. Assim sendo, o Estado Novo distinguiu-se entre os demais fascismos pelo seu
carácter conservador e tradicionalista. Este:
→ Repousou em valores e conceitos morais que jamais alguém deveria questionar: Deus, a
Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia, a Moralidade, a Austeridade.
→ Respeitou as tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse genuinamente
português
→ Enalteceu o mundo rural
→ Protegeu a religião católica
→ Reduziu a mulher ao papel passivo
→ Protegeu as manifestações culturais de influências estrangeiras
Nacionalismo
Corporativismo
O enquadramento de Massas
A longevidade do Estado Novo pode explicar-se pelo conjunto de instituições e processos que
conseguiram enquadrar as massas e obter a sua adesão ao projeto do regime.
1933 – Secretariado da Propaganda Nacional (SPN): papel ativo na divulgação do ideário do
regime e na padronização da cultura e das artes
1930 – União Nacional (chefiada por Salazar): não partidária, tinha o papel de congregar
“todos os Portugueses de boa vontade” e apoiar incondicionalmente as atividades políticas
do Governo.
Porém, a unanimidade pretendida só foi possível com a extinção dos partidos políticos e a
limitação severa da liberdade de expressão.
→ União Nacional transformada em partido único
→ Recorreu-se a organizações milicianas
A estabilidade financeira
Estabilização Financeira
Dá ao Estado Novo uma imagem de credibilidade e de competência governativa
Defesa da Ruralidade
O Estado Novo privilegiava o mundo rural, porque nele se preservava tudo o que de melhor
tinha o povo português. Assim sendo, o Portugal dos anos 30 viveu um exacerbado ruralismo:
→ Destinaram-se verbas para a construção de numerosas barragens – resultou numa melhor
irrigação do solo
→ Junta de Colonização Interna (1936) – fixar a população em algumas áreas do interior
→ Politica de Arborização
→ Fomentou-se a politica da vinha – crescimento da produção vinícola
→ Alargaram-se a produção do arroz, batata, azeite, cortiça e frutas
→ Campanha do trigo (1929-37) – alargar a área de cultura deste cereal – crescimento
significativo da produção cerealífera – conseguiu a autossuficiência do país
→ Estado concedeu grande proteção aos proprietários adquirindo-lhes produções e
estabelecendo o protecionismo alfandegário
Obras públicas
O Estado Novo levou a cabo a politica de obras públicas, que recebeu um impulso notável com
a Lei de Reconstituição Económica (1930). Procurou-se combater o desemprego e dotar o país
das infraestruturas necessárias ao desenvolvimento económico.
O condicionamento industrial
Num país de exacerbado ruralismo a industria não constituiu a prioridade do Estado. O débil
crescimento verificado deveu-se à política de condicionamento industrial concretizada pelo
Estado entre 1931 e 1937. Este modelo determinava que qualquer indústria necessitava da
prévia autorização do Estado para se instalar, reabrir, efetuar ampliações, mudar de local,
ser vendida a estrangeiros ou até para comprar máquinas.
Suspendeu-se ainda a autorização de grandes novas indústrias ou de novos processos
produtivos.
Frisou-se que o condicionamento se orientava fundamentalmente para as indústrias que
exigissem grandes despesas e produção ou que produzissem bens de exportação.
O condicionamento industrial (que reflete o dirigismo económico do Estado Novo) fez assim
parte de uma política conjuntural anticrise, destinada a garantir o controlo da indústria por
nacionais e a regulação da atividade produtiva e da concorrência. Procurava evitar-se a sobre
produção, a queda dos preços, o desemprego e a agitação social. Contudo, o condicionamento
industrial acabou por se converter em definitivo, moldando a estrutura da indústria durante o
Estado Novo, e passando assim a criar um obstáculo à modernização.
A política colonial
O Ato Colonial de 1930 imprimiu um cunho permanente à política colonial do Estado Novo.
Nele se afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios ultramarinos.
Em consequência daquele pressuposto, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as colónias e
insistiu-se na fiscalização da metrópole sobre os governadores coloniais e no estabelecimento
de um regime económico em que as colónias seriam um mero fornecedor de matérias-primas
para a indústria metropolitana.
Proclamando a sua vocação colonial, incutia-se no povo português uma mística imperial.
Quando o mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial, era já clara a alteração de forças nas relações
internacionais. Antigas potências como a Alemanha e o Japão, que tinham sonhado com grandes domínios
territoriais, saíam da guerra vencidas e humilhadas. Outras, como o Reino Unido e a França, Contudo, viam-
se empobrecidos e dependentes da ajuda externa. No quadro da ruína e desolação do pós-guerra, só duas
potências se agitavam: a URSS e os E.U.A.
Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt, Estaline e Churchill reúnem-se nas termas de Ialta, com o
objetivo de estabelecer as regras que devem sustentar a nova ordem internacional do pós-guerra.
Estabeleceu-se um acordo quanto às zonas de influência dos regimes comunista e capitalista e, embora sem
qualquer documento formal, o certo é que esta hipotética partilha da Europa foi sempre respeitada.
Alguns meses mais tarde, em finais de julho, reuniu-se em Potsdam uma nova conferência com o fim de
consolidar os alicerces da paz.
A conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de Ialta. A conferência
encerrou sem alcançar uma solução definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e
pormenorizar os aspetos já concordados em Ialta:
Para além de consideráveis ganhos territoriais, a guerra dera à União Soviética um enorme
protagonismo internacional. Estaline participava agora, como parceiro de primeira grandeza, na definição
das novas coordenadas geopolíticas.
A URSS detinha, assim, vantagem estratégica no Leste Europeu. Embora os acordos de Ialta
previssem o respeito pela vontade dos povos, na prática tornava-se impossível contrariar a hegemonia
soviética, que não tardou a impor-se: Entre 1946 e 1948, todos os países libertados pelo exército vermelho
resvalaram para o socialismo. Em pouco tempo, a vida social, política e económica dos países de Leste foi
reorganizada em moldes semelhantes aos da União Soviética.
Em 1946, Churchill pronunciou um discurso onde utilizou a célebre expressão: "cortina de ferro"
para qualificar o isolamento a que estavam votados os países da Europa de Leste colocados "sob a esfera
soviética" e, por isso, fechados ao diálogo com as democracias ocidentais.
Declarou a sua intenção de auxiliar económica e financeiramente os países da Europa de maneira a conter a
expansão do comunismo [política de contenção]
O projeto ficou acordado na Conferência de Teerão e foi depois ratificado em Ialta, onde se decidiu a
convocação de uma conferência com o fim de redigir e aprovar a Carta fundadora das Nações
Unidas.
Iniciada no dia 25-Abril-1945, a Conferência contou com os delegados de 51 nações que afirmara, na
Carta das Nações Unidas, a sua vontade conjunta de promover a paz e a cooperação internacionais.
Segundo a Carta, a Organização foi criada com os propósitos fundamentais de:
Sob o impacto do holocausto e disposta a impedir as atrocidades cometidas durante a 2ª guerra mundial, a ONU
tomou uma função profundamente humanista que foi reforçada pela aprovação da Declaração Universal dos Direitos
do Homem.
Esta Declaração não se limita a definir os direitos e liberdades fundamentais (direito à vida, liberdade de reunião,
associação, expressão, etc.). Os seus redatores atribuíram um importante espaço às questões económico-sociais
(direito ao trabalho, ao descanso, ao ensino...), por as considerarem imprescindíveis a uma vida digna e
verdadeiramente livre.
Órgãos de Funcionamento
· Secretariado Geral: O secretariado-geral das Nações Unidas exerce funções diplomáticas cruciais na
resolução dos conflitos do mundo. É eleito pela Assembleia Geral para um mandado de 5 anos.
· Tribunal Internacional de Justiça: destina-se a resolver, por via pacífica, as quezílias entre os povos,
fazendo com que estes respeitem as leis do direito internacional.
· Conselho de Tutela: este organismo administrava os territórios entregues à ONU, porém, desde 1994
reúne, apenas, ocasionalmente, pois já não tem territórios à sua guarda.
A ONU, que desde 1952 tem sede permanente em Nova Iorque, agrega hoje todos os povos do mundo (191
países). Embora tenha desenvolvido um importante papel no que toca à cooperação internacional, a sua
atuação ficou aquém das expectativas no que concerne à concertação da paz mundial.
O planeamento do pós-guerra não se processou apenas a nível político. Em julho de 1944, um grupo de
conceituados economistas de 44 países reuniu-se em Bretton Woods (EUA) com o fim de prever e estruturar
a situação monetária e financeira do período de paz.
o O Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual recorreriam os bancos centrais dos países com
dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos;
o O Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como
Banco Mundial, destinado a financiar projetos de fomento económico a longo prazo.
As 2 décadas q se seguiram à 2ª Guerra Mundial viram desaparecer extensos impérios coloniais, com
séculos de existência.
A guerra abalou o prestígio dos europeus. Na Ásia, deixa bem patente a sua superioridade do
Japão, potência local. Nem mesmo a sua posterior derrota frente ao poderio americano foi capaz de
restabelecer o prestígio da Europa na região.
A guerra exigiu dos territórios coloniais pesados sacrifícios, contribuindo para aumentar o
descontentamento contra o dominador estrangeiro.
Aos efeitos demolidores da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas superpotências, que
apoiam os esforços de libertação dos povos colonizados. Os Estados Unidos sempre se mostraram
adversos à manutenção do sistema colonial. A URSS atua em nome da ideologia marxista e não desperdiça a
possibilidade de entender, nos países recém-formados, o modelo soviético.
Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se constituirá
como um baluarte internacional da descolonização.
A Rutura
Quando, em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de
sovietização dos países de Leste era já irreversível. Sob a tutela diplomática e militar da URSS, os partidos
comunistas ganhavam forças e, progressivamente, tomavam o poder. Para coordenar a sua atuação,
tornando-a mais eficiente, criou-se, em 1947, o kominform – organismo criado com o objetivo de
coordenar a ação dos partidos comunistas europeus na luta contra o “imperialismo capitalista”. O
dinamismo da extensão soviética constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal, ameaça essa que
era preciso conter.
Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem, frontalmente, a liderança da oposição
aos avanços do socialismo.
O presidente Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas antagónicos: um,
baseado na liberdade; o outro, na opressão. Aos Americanos competiria, perante o enfraquecimento da
Europa, liderar o mundo livre e auxiliá-lo na contenção do comunismo – é a célebre doutrina Truman.
Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava
também clara a necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.
As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e as ajudas de emergência, prestadas pelos
Estados Unidos nos primeiros 2 anos do pós-guerra, só tinham acudido às necessidades mais prementes. O
rigoroso inverno de 1946-47 agravara ainda mais as situações de miséria do Velho Continente, criando um
clima político instável, em tudo propício à difusão das ideias de igualdade e justiça social do marxismo.
É neste contexto que George Marshall anuncia, em junho de 1947, um plano de ajuda económica à
Europa. Conhecido como Plano Marshall, este auxílio foi acolhido com entusiasmo pela generalidade dos
países europeus que, assim, viram reforçados os laços que os uniam aos Estados Unidos da América.
Pouco depois, um alto dirigente soviético, Andrei Jdanov, formaliza a rutura entre as duas potências: o
mundo, afirma Jdanov, divide-se em dois sistemas contrários: um imperialista e antidemocrático, é
liderado pelos Estados Unidos; o outro, em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos,
corresponde ao mundo socialista. Lidera-o a União Soviética.
Em janeiro de 1949, Moscovo “responde” ao plano Marshall lançando o Plano Molotov, que estabelece
as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental. Foi no âmbito deste plano que se criou o
COMECON, instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a
égide da União Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall (OECE) e os países do COMECON funcionaram como áreas
transnacionais, coesas e distintas uma da outra. Deste modo, a divisão do mundo em dois blocos
antagónicos consolidou-se, tal como se consolidou a liderança das duas superpotências.
A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses e americanos olhassem a
Alemanha, não já como inimigo vencido, mas como um aliado imprescindível à contenção do avanço
soviético. O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os americanos, que intensificaram os
esforços para a criação de uma república federal constituída pelos territórios sob ocupação das três
potências ocidentais, a República Federal Alemã (RFA).
A União Soviética protestou contra aquilo que considerava uma violação dos acordos estabelecidos
mas, perante a marcha dos acontecimentos, acabou por desenvolver uma atuação semelhante na sua
própria zona, que conduziu à criação de um Estado paralelo, sob a alçada soviética, a República
Democrática Alemã (RDA).
Este processo de divisão trouxe para o centro da discórdia a situação de Berlim já que na capital,
situada no coração da área soviéticas, continuavam estacionadas as forças militares das três potências
ocidentais. Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os
acessos terrestres à cidade.
O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de Junho de 1948 a maio de 1949, foi o primeiro medir de
forças entre as duas superpotências. Esta rivalidade punha em risco os esforços de paz. Nas décadas que se
seguiram, as relações internacionais refletiram esta instabilidade e impregnaram-se de um clima de forte
tensão e desconfiança: foi o tempo da Guerra Fria.
A Guerra Fria
O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80,
altura em que o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza. Durante este longo período, os
EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o
Mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos por Guerra
Fria.
A Guerra Fria foi uma autêntica “guerra dos nervos” em que cada bloco se procurou superiorizar ao
outro, quer em armamento, quer na ampliação das suas áreas de influência.
Eram duas conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social que se
confrontavam: de um lado, o liberalismo, assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o
marxismo, que subordina o indivíduo ao interessa da coletividade.
Nos anos da Guerra Fria, o fosso entre o mundo capitalista e o mundo comunista pareceu a todos
maior do que nunca. Os dois sistemas evoluíram separadamente, mas, de olhos postos um no outro,
acabaram inevitavelmente por se influenciar.
Os Estados Unidos empenharam-se por todos os meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall
foi o primeiro grande passo nesse sentido, uma vez que não só permitiu a reconstrução da economia
europeia em moldes capitalistas como estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus “benfeitores”
americanos.
A sensação de ameaça e o afã em consolidar a sua área de influência lançaram os EUA numa autêntica
“pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças, um pouco por todo o Mundo. Em 1959,
três quartas partes do Mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.
Partidos de orientação idêntica viram elevar-se os seus resultados eleitorais, tendo, em alguns casos,
tomado também as rédeas do poder. Estes partidos conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos
princípios da livre-concorrência económica como o intervencionismo do Estado, cujo objetivo é o de
regular a economia e promover o bem-estar dos cidadãos.
A democracia cristã tem a sua origem na doutrina social da Igreja, que condena os excessos do
liberalismo capitalista, atribuindo igualmente aos estados a missão de zelar pelo bem comum. Os
princípios do cristianismo devem enformar todas as ações dos cristãos, incluindo a sua vivência política.
Propõem uma orientação profundamente humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na
solidariedade.
Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a conceção liberal de Estado dando origem ao
Estado-Providência que, desde então até aos nossos dias, marcou fortemente a vida das democracias
ocidentais.
A afirmação do Estado-Providência
Ainda durante a guerra, o empenhamento do Estado nas questões sociais foi ativamente defendido por
lorde Beveridge, cujo Relatório de 1942 influenciou decisivamente a política trabalhista. Beveridge confiava
que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência,
doença, miséria, ignorância e ociosidade.
Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo: por um lado, reduz a miséria e o mal-estar social
contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza; por outro, assegura uma certa estabilidade à
economia, já que evita descidas drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.
O Estado-Providência foi um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três
décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.
A prosperidade Económica
O capitalismo emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e 1973, a produção
mundial mais do que triplicou. As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas
de crescimento especialmente altas de certos países, como a RFA, a França, o Japão, surpreenderam os
analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”. Estes cerca de 30 anos de uma
prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta Gloriosos”.
A expansão económica dos 30 Gloriosos conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspetos
completamente novos. Podemos destacar:
A sociedade de consumo
O efeito mais evidente dos Trinta Gloriosos foi a generalização do conforto material. A sociedade de
consumo transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.
Quando o 2º conflito mundial terminou a URSS foi responsável pela implantação de regimes comunistas,
inspirados no modelo soviético, por todo o mundo.
O expansionismo soviético:
A expansão do comunismo fez-se, em grande parte, sob a égide da URSS. O reforço da oposição militar
soviética e o desencadear do processo de descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do
comunismo, quer ao estreitamento de laços de amizade e cooperação entre Moscovo e os países
recentemente emancipados.
o EUROPA
A primeira vaga da extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental e fez-se sob a pressão direta da
URSS. Entre julho de 1947 e julho de 1948, as coligações governamentais desfizeram-se: o partido
comunista tornou-se partido único.
Defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes trabalhadoras. Estas, que
constituem a esmagadora maioria da população, “exercem o poder” do Partido Comunista.
Depois da implantação do comunismo, a URSS exerceu um apertado controlo sobre os seus novos
aliados.
Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com a constituição do Pacto de
Varsóvia, aliança militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto Varsóvia
constituiu uma organização completamente oposta à OTAN. A união soviética impôs um modelo único, do
qual não admitiu desvios.
Em 1961, a fim de evitar a passagem de cidadãos de Berlim Leste para Berlim Oeste, de onde
fugiram para a RFA e para outros países ocidentais, a RDA ordenou a construção do muro de Berlim.
o ÁSIA
Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista se ficou a dever à intervenção
direta da URSS foi a Coreia. Entre 1950 e 1953 desenrolou-se, na Coreia, uma guerra civil entre o norte, a
República Popular da Coreia, comunista, apoiada pela URSS e o sul, a República Democrática da Coreia,
capitalista, sustentada pelos Estados Unidos. O final da guerra não unificou o país, tornando-se mais uma
das questões por resolver da Guerra Fria.
Nos restantes casos, o triunfo do partido comunista ficou a dever-se a movimentos revolucionários nacionais
que contaram, no entanto, com o incentivo ou o apoio declarado da URSS.
Tal é o caso da China, onde, em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma
República Popular. Apesar de, posteriormente, se ter afastado da URSS, a China seguiu, nos primeiros anos
do regime comunista, o modelo político e económico do socialismo russo.
o América Latina
O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba, onde, um grupo de revolucionários,
sob o comando de Fidel Castro e do Che Guevara. A influência soviética em Cuba confirma-se quando, em
1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação, na ilha, de mísseis russos de médio
alcance, capazes de atingir o território americano.
A exigência firme de retirada dos mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o mundo perante a
eminência de uma guerra nuclear entre as duas superpotências. Fruto do seu alinhamento com o bloco
soviético, Cuba desempenhará também um papel ativo na proliferação do comunismo.
o África
A adoção de regimes sociais coincidiu com a 2ª vaga de descolonizações.
Após a 2ª Guerra Mundial, a planificação da economia nos regimes socialistas propiciou uma
recuperação rápida dos prejuízos causados pelo esforço de guerra. Os planos quinquenais apostavam,
sobretudo, na indústria pesada (siderurgia) e nas infraestruturas. A URSS e os países de modelo soviético
registaram um crescimento industrial tão significativo que ascenderam à 2ª posição da indústria mundial.
No entanto, a par destas realizações, as economias da direção central (dirigidas pelo Estado o qual
abolia a iniciativa privada) evidenciavam fraquezas estruturais que comprometiam a longo prazo o seu
sucesso:
Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo muito rápido, a população amontoa-se em
bairros periféricos. As longas filas de espera para adquirir os bens essenciais tornam-se uma rotina diária.
Os bloqueios Económicos
o A planificação excessiva entorpece as empresas, que não gozam de autonomia na seleção das
produções, do equipamento e dos trabalhadores, na fixação de salários e preços, ou na escolha de
fornecedores e clientes;
o Uma gestão burocrática limita-se a procurar cumprir as quantidades previstas no plano, sem atender à
qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos equipamentos e da numerosíssima mão-
de-obra;
o Nas unidades agrícolas, a falta de investimento, a má organização e o desalento dos camponeses
refletem-se de forma severa na produtividade.
Implementou-se, nos anos 60, um conjunto vasto de reformas em praticamente todos os países da Europa
Socialista. O exemplo é dado pela União Soviética.
A escala armamentista
Para além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os 2 blocos procuravam
preparar-se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico de armamento cada
vez mais sofisticado.
Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos tinham o segredo da bomba atómica, que
consideravam a sua melhor defesa. Quando, em Setembro de 1949, os Russos fizeram explodir a sua
primeira bomba atómica, a confiança dos Americanos desmoronou-se.
Em 1952 os americanos testavam, no Pacífico, a 1ª bomba de hidrogénio, com uma potência 1000 vezes
superior à bomba de Hiroxima.
A corrida ao armamento tinha começado. No ano seguinte, os Russos possuíam também a bomba de
hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as duas superpotências à produção maciça de armamento nuclear.
O mundo viu também multiplicarem-se as armas ditas convencionais. No fim de 1950, os americanos
consideravam obrigatório aumentar, tão depressa quanto possível, a força aérea, terrestre e naval em geral e
a dos aliados num ponto em que não estivessem tão fortemente dependentes de armas nucleares.
O investimento ocidental nas armas convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual
estratégia por parte da URSS.
Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico
em caso de violação das respetivas áreas de influência. O mundo tinha resvalado, nas palavras de Churchill,
para o equilíbrio instável do terror.
Durante a 2ª Guerra Mundial a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos foguetes e
criados os primeiros mísseis. Em 1945, os cientistas envolvidos neste projeto emigraram para a URSS e para
os Estados Unidos, onde desempenharam um papel relevante nos respetivos programas espaciais.
A URSS colocou-se à cabeça da conquista do espaço. A desolação dos Americanos, que até aí tinham
considerado a URSS tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa,
anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o impulsionava explodiu e a
experiencia foi um fracasso.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações.
A mentalidade japonesa foi também um importante fator de crescimento. Os lucros foram reinvestidos
continuamente e os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus pequenos aumentos de salário para
promover a renovação tecnológica.
Esta ligação afectiva entronca na tradição japonesa do trabalho vitalício que transforma o patrão no
protector dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa.
Os setores que, neste período, adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de
consumo duradouros. O comércio externo acompanha esta expansão: as exportações duplicam, assim como
as importações.
Depois de um período de estagnação, no início dos anos 60, a economia japonesa conheceu um 2º surto
de crescimento tão possante quanto o anterior.
Entre 1966 e 1971, a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3 milhões de novos postos de trabalho.
Além do desenvolvimento dos setores clássicos este surto de crescimento assenta, sobretudo, em novos
setores.
diferenciado do marxismo-leninismo,
O comunismo chinês foi marcado pela personalidade carismática do seu líder Mao Tsé-Tung.
Ao contrário do marxismo tradicional, Mao enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a
liderança revolucionária -> maoísmo.
O maoísmo assumiu como objetivo a revolução total protagonizada pelas massas e não pelas estruturas
de Poder, para isso, recorreu a grandes campanhas de natureza ideológica. Mao lança, em 1957, uma
campanha de “retificação” dos erros cometidos pelo Partido, cuja atuação parecia afastar-se das massas.
Esta política foi complementada, em 1958, com o “grande salto em frente”: que tinha por base o fomento
da agricultura e a integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo Partido Comunista
Chinês. A prioridade à indústria pesada foi então posta de lado e a ênfase passou para os campos, onde se
deviam desenvolver tanto as produções agrícolas como pequenas industrias locais. No entanto, esta reforma
redundou em fracasso (1960), pois os meios técnicos eram reduzidos e os métodos de trabalho utilizados nas
oficinas eram antiquados.
Em 1964 o culto a Mao e ao maoísmo foi estimulado através da chamada Revolução Cultural,
movimento que pretendia aniquilar todas as manifestações culturais que se afastassem do modelo socialista
de Mao. A propaganda ideológica tinha por base o “livro vermelho” que reunia citações de Mao e que era
venerado como detentor da verdade absoluta. A revolução cultural deu origem a excessos de agitação social
que resultaram na humilhação, perseguição e assassínio de muitos cidadãos considerados
contrarrevolucionários. Os esforços de Mao foram coroados de êxito quando, em 1971, o país entra para a
ONU.
A Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir para reencontrar a
prosperidade económica e, se possível, a sua influência política.
Da CECA à CEE
O Primeiro passo consistente para a cooperação europeia resultou da Declaração Shumam, que pretendia
a cooperação entre a França e a Alemanha no domínio da produção do carvão e do aço. Desta iniciativa
resultou a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda
e Luxemburgo). A CECA estabeleceria uma zona conjunta minero-siderúrgica sob a orientação de uma Alta
Autoridade supranacional.
Em 1957, surge, finalmente, a Comunidade Económica Europeia – CEE, constituída pelos 6 países
referidos. A CEE, cujos fundamentos foram expressos no Tratado de Roma (1957) tinha objetivos
predominantemente económicos:
A descolonização Africana
Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o orgulho perdido, os
líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum,
difundindo a ideia de que ela é tão válida como a civilização dos europeus civilizadores.
A luta pela independência assume, assim, a dupla vertente de uma luta política e de uma luta contra a
pobreza e o atraso económico
O processo independentista contou com o apoio da ONU, que, honrando os ideais de igualdade e
justiça, se colocou inequivocamente ao lado dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia Geral aprovou a
Resolução de 1514 que consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e
condena qualquer ação armada das metrópoles.
Um Terceiro Mundo
Nas 3 décadas que se seguiram ao conflito mundial constituíram-se cerca de 70 novos países na Ásia e
na África -> são estes que constituem o Terceiro Mundo.
Um “país de Terceiro Mundo” é aquele onde a população, muito numerosa, é maioritariamente pobre, a
tecnologia é atrasada, os cidadãos têm difícil acesso a bens essenciais, a TMI é elevada e a EMV é mais
baixa do que no mundo desenvolvido.
Nascido da descolonização, o Terceiro Mundo permaneceu sob a dependência económica dos países
ricos.
Estes países continuaram a explorar, através de grandes companhias, as matérias-primas, minerais e
agrícolas do mundo subdesenvolvido, fornecendo-lhe, como no passado, produtos manufaturados.
Tal situação tem perpetuado o atraso destas regiões: por um lado, os lucros das companhias não são
reinvestidos no local; por outro, enquanto o preço dos produtos industriais têm vindo a subir, o valor das
matérias-primas, tem decaído
Considerado um verdadeiro neocolonialismo, tal situação foi, desde logo, denunciada pelas nações do
Terceiro Estado, que reivindicaram, sem sucesso, a criação de uma “nova ordem económica internacional”.
A política de não-alinhamento
Para além da sua ação económica, social, a expressão do Terceiro Mundo reveste também uma
conotação política: os novos países representam a possibilidade de uma terceira via, uma alternativa
relativamente aos blocos capitalista e comunista.
Os países saídos da descolonização cedo se esforçaram por estreitar os laços que os unem e por marcar
posição na política internacional. Em 1955 convoca-se uma conferência para definir as linhas gerais de
atuação dos países recém-formados. A conferência, em Bandung, na Indonésia, reuniu 29 delegações afro-
asiáticas.
Foi possível adotar um conjunto de princípios que definem as posições políticas do Terceiro Mundo:
condenação do colonialismo, rejeição da política dos blocos, apelo à resolução pacífica dos diferendos
internacionais.
A mensagem da Bandung foi tomando corpo através de sucessivos encontros internacionais que
desembocaram no Movimento dos Não-Alinhados, criado oficialmente na conferência de Belgrado,
empenhando-se no estabelecimento de uma via política alternativa à bipolarização mundial.
A crise afetou essencialmente os setores siderúrgico, a construção naval e automóvel bem como o
têxtil. Muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o desemprego subiu em flecha.
Paralelamente a inflação tornou-se galopante. Este fenómeno inédito recebeu o nome de estagflação,
termo que aglutina as palavras estagnação e inflação.
Os fatores da crise
Nos finais da década de 60, o petróleo era a fonte de energia básica de que dependiam os países
industrializados.
Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP, decidiram subir o preço de venda do petróleo
para o quádruplo, numa tentativa de pressionar o Ocidente a desistir de auxiliar Israel na guerra israelo-
palestiniana.
Um outro fator determinante desta depressão económica foi a instabilidade monetária. A excessiva
quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos levou o presidente Nixon a suspender a
convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional. Segundo alguns
analistas, foi esta instabilidade monetária, mais do que a crise energética, a responsável pelo
enfraquecimento económico dos anos 70.
A crise dos anos 70 introduziu um novo ciclo económico que intercala períodos de crescimento e
estagnação. Ainda que a um ritmo mais lento, o crescimento económico manteve-se, alguns setores
industriais reconverteram-se, enquanto outros, ligados às novas tecnologias conheceram um forte impulso.
Também no aspeto social esta crise não atingiu a dimensão estratégica da Grande Depressão. As
estruturas do Estado Providência, reforçadas após o 2º conflito mundial, cumpriram cabalmente o seu papel,
amparando o desemprego e evitando situações de miséria extrema e generalizada.
A posição de neutralidade que Portugal assumiu na 2ªGuerra Mundial permitiu a sobrevivência do regime
salazarista.
Desfasado politicamente em relação à Europa democrática, o nosso país não soube também acompanhar o
ritmo económico das nações mais desenvolvidas, o atraso português persistiu e, em certos sectores, como o
agrícola, agravou-se.
O país agrário continuava um mundo sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que, em geral,
não atingiam sequer a metade da média europeia.
Face a esta situação, a partir de 1953, foram elaborados Planos de Fomento para o desenvolvimento
industrial. O I Plano (1953-1958) e o II Plano (1959-1964) davam continuidade ao modelo de autarcia e à
substituição de importações. É só a partir de meados dos anos 60, com o Plano Intercalar de Fomento (1965-
1967) e o III Plano (1968-1973), que o Estado Novo delineia uma nova política económica:
A década ficou marcada por um decréscimo brutal da taxa de crescimento do Produto Agrícola Nacional e
por um êxodo rural maciço.
A emigração
Nesta década, para além da atração pelos altos salários do mundo industrializado, há que ter em conta os
efeitos da guerra colonial.
Mais de metade desta emigração fez-se clandestinamente. A legislação portuguesa subordinava o direito de
emigrar colocando-lhe várias restrições, como a exigência de um certificado de habilitações mínimas. Com o
deflagrar da guerra colonial, juntou-se a estes requisitos a exigência do serviço militar cumprido, obrigação
a que muitos pretendiam escapar. Sair “a salto” tornou-se a opção de muitos portugueses.
O Estado procurou salvaguardar os interesses dos nossos emigrantes, celebrando acordos com os principais
países de acolhimento. O País passou, por esta via, a receber um montante muito considerável de divisas: as
remessas dos emigrantes.
Tal facto, que muito contribuiu para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e para o aumento do
consumo interno, induziu o Governo a despenalizar a emigração clandestina e a suprimir alguns entraves.
O surto industrial
A política de autarcia empreendida pelo Estado Novo não atingiu os seus objetivos. Quanto os países que
tradicionalmente nos forneciam se envolveram na guerra, os abastecimentos tornaram-se precários e
espalhou-se a penúria e a carência.
Assim, logo em 1945, a Lei do Fomento e Reorganização Industrial estabelece as linhas mestras da política
industrializadora dos anos seguintes, considerando que o seu objetivo final é a substituição das importações.
O nosso país assinou, em 1948, o pacto fundador da OECE e, embora tenhamos beneficiado em pouco, a
participação na OECE reforçou a necessidade de um planeamento económico, conduzindo à elaboração dos
Planos de Fomento que, a partir de 1953, caracterizam a política de desenvolvimento do Estado Novo.
O I Plano de Fomento prevê um conjunto de investimentos públicos de cerca de 7,5 milhões de contos a
distribuiu por vários sectores, com prioridade para a criação de infraestruturas .
No II Plano alarga-se o montante investido para 21 milhões de contos e elege-se a indústria transformadora
de base como sector a privilegiar.
A adesão a estas organizações marca a inversão na política da autarcia do Estado Novo. O Plano Intercalar
de Fomento enfatiza já as exigências da concorrência externa inerente aos acordos assinados, e a
necessidade de rever o condicionamento industrial. O grande ciclo salazarista aproximava-se do fim.
O plano de fomento II, conduziu à consolidação dos grandes grupos económico-financeiros e ao acelerar do
crescimento nacional, que atingiu, então, o seu pico. No entanto, o País continuou a sentir as exigências da
guerra colonial e o seu enorme atraso face à Europa desenvolvida.
A urbanização
Nos anos 50 e 60, Portugal conheceu uma urbanização intensa que absorveu, em parte, o êxodo rural.
Crescem, sobretudo, as cidades do litoral oeste, entre Braga e Setúbal, onde se concentram as indústrias e os
serviços. Em Lisboa e Porto, as maiores cidades portuguesas, propagam-se subúrbios, onde se fixam os que
não podem pagar o custo crescente das habitações do centro. Nestes arredores concentra-se a maior parte da
sua população ativa.
Esta expansão urbana não foi acompanhada da construção das infraestruturas necessárias ao acolhimento de
uma população de poucos recursos. Fruto destes desajustamentos, aumentam as construções clandestinas,
proliferam os bairros de lata, degradam-se as condições de vida . As longas esperas pelos meios de
transporte e a viagem em condições de sobrelotação tornam-se a rotina quotidiana de quem vive nos
subúrbios.
No entanto, o crescimento urbano teve também efeitos positivos, contribuindo para a expansão do sector dos
serviços e para um maior acesso ao ensino e aos meios de comunicação.
Até aos anos 40, o Estado Novo desenvolvera um colonialismo típico. As décadas seguintes seriam
marcadas por um reforço da colonização branca, pela escalada dos investimentos públicos e privados e pela
maior abertura ao capital estrangeiro. Angola e Moçambique receberam uma atenção privilegiada.
Os investimentos do Estado nas colónias, a partir de 1953, foram incluídos nos Planos de Fomento. O
Estado procedeu, primeiro, à criação de infraestruturas: caminhos-de-ferro, estradas, pontes, aeroportos,
portos, centrais hidroeléctricas. Ao mesmo tempo, desenvolveram-se os sectores agrícolas e extrativos,
virados para o mercado externo.
No que se refere ao sector industrial, as duas colónias conhecem um acentuado crescimento, propiciado pela
progressiva liberalização da iniciativa privada, pela extensão do mercado interno e pelo reforço dos
investimentos nacionais e estrangeiros.
O fomento económico das colónias recebeu um forte impulso após o início da guerra colonial.
A ideia da coesão entre a metrópole e as colónias viu-se reforçada (em 1961) com a criação do Espaço
Económico Português (EEP) que previa a constituição de uma área económica unificada, sem quaisquer
entraves alfandegários. No entanto, a subordinação das economias ultramarinas aos interesses de Portugal,
bem como os diferentes graus de desenvolvimento dos territórios coloniais, acabaram por inviabilizar a
efetivação deste “mercado único”.
O final da 2ª Guerra Mundial trouxe o desmantelamento das estruturas do fascismo na Europa. Porém, em
Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista, de tipo fascista. Salazar encenou, então, uma viragem
política, aparentando uma maior abertura, a fim de preservar o poder.
Neste contexto, o governo toma a iniciativa de antecipar a revisão constitucional, dissolver a Assembleia
Nacional e convocar eleições antecipadas, que Salazar anuncia “tão livres como na livre Inglaterra”.
Em 1945, os portugueses foram convidados a apresentar listas de candidatura às eleições legislativas. A
oposição democrática concentrou-se em torno do MUD, criado no mesmo ano. O impacto deste movimento,
que dá início à chamada oposição democrática, ultrapassou todas as previsões.
Oposição Democrática:
Expressão que designa o conjunto de forças políticas heterodoxas (monárquicos, republica nos, socialistas e
comunistas) que, de forma legal ou semi - legal, se opunham ao Estado Novo, adquirindo visibilidade, face
aos constrangimentos impostos às liberdades pelo regime, em épocas eleitorais. Para garantir a legitimidade
no acto eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que considera fundamentais:
As esperanças fracassaram. Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu por
considerar que o acto eleitoral não passaria de uma farsa. A apreensão das listas pela PIDE permitiu
perseguir a oposição democrática.
Em 1949 o nosso país tornou-se membro fundador da NATO, o que equivalia a uma aceitação clara do
regime pelos parceiros desta organização. Também em 1949, assiste-se à candidatura de Norton de Matos às
eleições presidenciais. No entanto, face a uma severa repressão Norton de Matos apresentou também a sua
desistência pouco antes das eleições.
Nos anos que se seguiram, a oposição democrática dividiu-se e enfraqueceu. O Governo pensou ter
controlado a situação até que, em 1958, a candidatura de Humberto Delgado a novas eleições presidenciais
desencadeou um terramoto político.
O anúncio de Humberto delgado, com o seu propósito de não desistir das eleições e a forma destemida como
anunciou a sua intenção de demitir Salazar caso viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um
acontecimento único no que respeita à mobilização popular.
As potências coloniais europeias começaram a aceitar a ideia de abrir mão dos seus impérios e a nossa velha
aliada britânica preparava-se para encetar a vida da negociação e da transferência pacífica de poderes. O
Estado Novo viu-se obrigado a rever a sua política colonial e a procurar soluções para o futuro do nosso
império.
Soluções preconizadas
No campo jurídico, a partir de 1951, em vez de colónias, passava a falar-se de “Províncias Ultramarinas” e
em vez de Império Português falava-se em “Ultramar Português”.
A nível interno, a presença portuguesa em África não sofreu praticamente contestação até ao início da
guerra colonial. Exceção feita ao Partido Comunista Português que no seu congresso de 1957 (ilegal),
reconheceu o direito à independência dos povos colonizados.
A luta armada
A recusa do Governo português em encarar a possibilidade de autonomia das colónias africanas fez extremar
as posições dos movimentos de libertação que, nos anos 50 e 60, se foram formando na África portuguesa.
o Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola) que, 7 anos mais tarde, se
transforma na FNLA (Frente de Libertação de Angola); o MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola) forma-se em 1956; e a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge em 1966.
o Em Moçambique, a luta é encabeçada pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) criada
em 1962.
o Na Guiné, distingue-se o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956.
Os confrontos iniciaram-se no Norte de Angola, em Março de 1961, com ataques da UPA a várias fazendas
e postos administrativos portugueses.
Em 1963, o conflito alastrou à Guiné e, no ano seguinte, a Moçambique. Abriram-se assim 3 frentes de
combate, que exigiram dos Portugueses um sacrifício desproporcionado: o país mobilizou 7% da sua
população ativa e despendeu, na Defesa, 40% do Orçamento Geral do Estado.
O isolamento internacional
No pós-guerra, Portugal e outras potências procuraram travar a marcha dos movimentos independentistas
mas pouco a pouco, todos reconheceram a inevitabilidade do processo descolonizador. Ao contrário,
Portugal pareceu irredutível nas posições inicialmente assumidas.
A questão das colónias ganhou dimensão aquando da entrada do nosso país na ONU, em 1955. Portugal
recusou-se de imediato a admitir que as disposições da Carta relativas à administração de “territórios não-
autónomos” lhe fossem aplicadas, argumentando que as províncias ultramarinas eram parte integrante do
território português.
Seria esta a primeira de uma série de derrotas que, progressivamente, foram isolando os Portugueses e que
se intensificaram.
Em 1961 Portugal esteve particularmente em foco nas Nações Unidas, acabando esta organização por
condenar o nosso país devido ao persistente não cumprimento dos princípios da Carta e das resoluções
aprovadas. Estas disposições repetiram-se insistentemente, com apelos claros a Portugal para que
reconhecesse o direito à autodeterminação das colónias africanas.
Em Setembro de 1968, António de Oliveira Salazar é operado de urgência a um hematoma cerebral. Pouco
depois, dado o agravamento do seu estado de saúde, é substituído por Marcello Caetano. Este, apresentava-
se como um político mais liberal, capaz de alargar a base de apoio do regime.
Logo no discurso da tomada de posse, Marcello Caetano define as linhas orientadoras do seu governo:
continuar a obra de Salazar sem por isso prescindir da necessária renovação política. Pretendia-se “evoluir
na continuidade”, concedendo aos Portugueses a “liberdade possível”.
No entanto, o ato eleitoral saldou-se por uma série de atropelos aos princípios democráticos e o mesmo
resultado de sempre: 100% para a União Nacional; 0% para a oposição.
Frustradas as esperanças de uma real democratização do regime, Marcello Caetano viu-se sem o apoio dos
liberais e alvo da hostilidade dos núcleos mais conservadores.
Aquando da escolha de Marcello Caetano, as altas patentes das Forças Armadas puseram, como única
condição, que o novo chefe do executivo mantivesse a guerra em África.
Paralelamente, o chefe do governo redigiu um minucioso projecto de revisão do estatuto das colónias, no
sentido de as encaminhar para a “autonomia progressiva”.
Em tais circunstâncias, a luta armada foi endurecendo e, embora controlada em Angola e Moçambique, a
situação militar deteriorou-se na Guiné, onde o PAIGC adquiriu controlo sobre uma parte significativa do
território.
o Em 1970 o papa Paulo VI recebe os líderes dos movimentos do MPLA, FRELIMO e PAIGC;
o Na ONU, agrava-se a luta diplomática, sofrendo o país a maior de todas as humilhações quando, em
1973, a Assembleia Geral reconhece a independência da Guiné-Bissau, à rebelia do Estado português.
No início dos anos 70, o impasse em que se encontrava a guerra colonial começou também a pesar sobre o exército.
Foi este sentimento que induziu o general Spínola a publicar Portugal e o Futuro e foi igualmente este sentimento
que transformou um movimento de oficiais no movimento revolucionário que derrubou o Estado Novo.
O Movimento dos Capitães nasceu em Julho de 1973, como forma de protesto contra dois diplomas legais que
facilitavam o acesso dos oficiais milicianos ao quadro permanente do exército. Os oficiais de carreira, sobretudo
capitães, rapidamente viram satisfeitas as suas reivindicações mas, nem por isso, o Movimento esmoreceu.
O Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e Spínola.
Face a estas posições e ao impacto do livro de Spínola, Marcello Caetano faz ratificar a orientação da política colonial
e convoca os oficiais generais das Forças Armadas para uma sessão solene. Costa Gomes e Spínola não
compareceram à reunião sendo, no mesmo dia, dispensados dos seus cargos.
Estes acontecimentos deram força àqueles que, dentro do Movimento (agora designado MFA – Movimento das
Forças Armadas), acreditavam na urgência de um golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas, permitisse a
tão desejada solução para o problema colonial.
Depois de uma tentativa precipitada, em Março, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, na
madrugada do dia 25 de Abril de 1974 pôs fim ao Estado Novo.
Operação “Fim-Regime”
A operação “Fim-Regime” do Movimento das Forças Armadas decorreu sob a coordenação do major Otelo Saraiva
de Carvalho, de acordo com o plano previamente definido: depois da transmissão, pela rádio, das canções-senha, as
unidades militares saem dos quartéis para cumprirem as missões que lhes estavam destinadas.
A única falha no plano previsto – a prévia neutralização dos comandos do Regimento de Cavalaria 7, que não aderira
ao golpe – originou a única situação verdadeiramente difícil com que o MFA se deparou.
Coube também a Salgueiro Maia dirigir o cerco ao Quartel do Carmo, onde se tinham refugiado o presidente do
Conselho e outros membros do Governo. A resistência do quartel terminou cerca das 18h, quando Marcello Caetano
se rendeu ao general Spínola.
No fim do dia, o “Movimento dos Capitães” sagrava-se já vitorioso. Apesar dos insistentes pedidos para que, por
razões de segurança, a população civil se recolhesse em casa, a multidão acorrera às ruas em apoio dos militares a
quem distribuía cravos vermelhos.
Em 1976 o País viveu um período de grande instabilidade e conheceu também grandes tensões sociais e fortes
afrontamentos políticos.
No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, que tomou de
imediato medidas:
o O presidente da República e o presidente do Conselho foram destituídos, bem como todos os governadores
civis e outros quadros administrativos;
o A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações da Juventude foram extintas, bem como a Censura
(Exame Prévio) e a Acão Nacional Popular;
o Os presos políticos foram perdoados e libertados e as personalidades no exílio puderam regressar a Portugal.
A Junta de Salvação Nacional anunciou a realização de eleições democráticas, no prazo de um ano, para a formação
de uma Assembleia Constituinte, com o objetivo de elaborar uma nova constituição, e decretou de imediato a
liberdade de expressão e de formação de partidos políticos.
Para assegurar o funcionamento das instituições governativas até à sua normalização democrática, a Junta de
Salvação Nacional nomeou presidente da República o general António de Spínola.
O “período Spínola”
O caminho para a instalação e a consolidação da democracia não foi rápido e pacífico, mas caracterizado por
profunda conflitualidade política e social. Por um lado, o povo e o movimento operário aproveitaram o
estabelecimento de liberdade para exigir melhores condições de vida e aumentos salariais, estalando manifestações
e greves pelo país.
Carente de autoridade e incapaz de assumir uma efetiva liderança do País. O I Governo provisório demitiu-se menos
de 2 meses após a tomada de posse, deixando o presidente Spínola isolado na quase impossível tarefa de conter as
forças revolucionárias.
De facto, o poder político fracionara-se já em dois polos opostos: de um lado, o grupo afecto ao general Spínola; do
outro, a comissão coordenadora do MFA e os seus apoiantes.
O desfecho destas tensões culminou com a demissão do próprio general Spínola, após o falhanço da convocação de
uma manifestação nacional em seu apoio, e a nomeação de outro militar, o general Costa Gomes, como Presidente
da República.
A revolução tende a radicalizar-se. Para chefiar o II Governo Provisório foi nomeado um militar próximo do PCP, o
general Vasco Gonçalves, enquanto era criado o Comando Operacional do Continente (COPCON) para intervir
militarmente em defesa da revolução, tendo o seu comando sido confiado a Otelo Saraiva de Carvalho, cada vez
mais próximo das posições de extrema-esquerda. Reagindo a este processo, as forças conservadoras tentaram um
derradeiro golpe, em 11 de Março de 1975, que fracassou, obrigando o general Spínola e alguns oficiais a procurar
refúgio em Espanha.
A inversão do processo deveu-se ao forte impulso dado pelo Partido Socialista à efectiva realização, no prazo
marcado, das eleições constituintes prometidas pelo programa do MFA.
Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente universal, realizaram-se no dia 25 de Abril
de 1975, marcando a vida cívica e política portuguesa. Tanto a campanha como o ato eleitoral decorreram dentro
das normas de respeito e de pluralidade democrática.
A vitória do Partido Socialista, seguido do Partido Popular Democrático, nas eleições para a Assembleia Constituinte,
veio criar condições para travar a direção e o rumo que a revolução portuguesa tomara.
Neste Verão de 1975 (conhecido como “Verão Quente”), a oposição entre as forças políticas atinge o rubro,
expressando-se em gigantescas manifestações de rua, assaltos a sedes partidárias e pela multiplicação de
organizações armadas revolucionárias de direita e de esquerda.
É em pleno “Verão Quente” que um grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major
Melo Antunes, crítica abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o clima de anarquia instalado, a
desagregação económica e social e a decomposição das estruturas do Estado.
A onde de agitação social que se desencadeou após o 25 de Abril foi acompanhada de um conjunto de medidas que
alargou a intervenção do Estado na esfera económica e financeira. Estas medidas tiveram como objetivo a destruição
dos grandes grupos económicos, considerados monopolistas, a apropriação, pelo Estado, dos sectores-chave da
economia e o reforço dos direitos dos trabalhadores.
Nacionalização:
Apropriação pelo Estado de uma unidade de produção privada ou de um sector produtivo. Na sequência do 25 de
Abril, foram nacionalizadas, num curto espaço de tempo, as instituições financeiras, as empresas ligadas aos sectores
económicos mais importantes, bem como grandes extensões de terra agrícola.
Simultaneamente, foi publicada legislação que permitia ao Estado gerir e fiscalizar todas as instituições de crédito.
Em Novembro, o Estado apropria-se do direito de intervir nas empresas cujo funcionamento não contribuísse
“normalmente para o desenvolvimento económico do país”.
Logo no rescaldo do golpe, aprova-se a nacionalização de todas as instituições financeiras. No mês seguinte, um
novo decreto-lei determina a nacionalização das grandes empresas ligadas aos sectores económicos base.
Estas nacionalizações determinam o fim dos grupos económicos “monopolistas”, considerado o expoente do
capitalismo, e permitem ao Estado um maior controlo sobre a economia.
Em Janeiro de 1975 registam-se as primeiras ocupações de terras pelos trabalhadores e rapidamente esse
movimento se estende a uma vasta zona do Sul.
O processo da reforma agrária recebeu cobertura legal. O governo avança com a expropriação das grandes
herdades, com vista á constituição de Unidades Coletivas de Produção (UCP).
Reforma agrária:
Processo de coletivização dos latifúndios do Sul do País (1975 - 1977). São traços característicos da reforma agrária a
ocupação de terras pelos trabalhadores, a sua expropriação e nacionalização pelo Estado e a constituição de
Unidades Coletivas de Produção (UCP)
Em complemento desta política socializante, foi aprovada legislação com vista à proteção dos trabalhadores e dos
grupos economicamente desfavorecidos:
Numa tentativa de controlar o surto inflacionista, foram tabelados artigos de primeira necessidade, o que, em
conjugação com uma forte subida dos salários permitiu elevar o nível de vida das classes trabalhadoras.
A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, exatamente dois anos após a “Revolta dos Cravos”.
A Constituição de 1976 foi, sem dúvida, o documento fundador da democracia portuguesa.
O processo descolonizador
A nível interno, a “independência pura e simples” das colónias colhia o apoio da maioria dos partidos que se
legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse sentido se orientavam os apelos das manifestações que enchiam
as ruas do país.
Intensificam-se, então, as negociações com o PAIGC, a FRELIMO e o MPLA, a FNLA e a UNITA, únicos movimentos aos
quais Portugal reconhece legitimidade para representarem o povo dos respetivos territórios.
Com exceção da Guiné, cuja independência foi efetivada logo em 10 de Setembro de 1974, os acordos
institucionalizavam um período de transição, bastante curto, em que se efetuaria a transferência de poderes.
No entanto, Portugal encontrava-se num a posição muito frágil, quer para impor condições quer para fazer respeitar
os acordos. Desta forma, não foi possível assegurar, como previsto, os interesses dos Portugueses residentes no
Ultramar.
O caso mais grave foi o de Angola. Em Março de 1975, a guerra civil em Angola era já um facto. As forças
portuguesas, carentes de um comando decidido e de meios militares, limitavam-se a controlar os principais centros
urbanos.
Em Setembro e Outubro, uma autêntica ponte aérea evacua de Angola os cidadãos portugueses que pretendem
regressar. Em 10 de Novembro o presidente da República decide transferir o poder para o povo angolano.
Fruto de uma descolonização tardia e apressada e vítimas dos interesses de potências estrangeiras, os territórios
africanos não tiveram um destino feliz.
Seis anos após a entrada em vigor, foi efetuada a primeira revisão constitucional. As principais alterações ocorreram
na organização do poder político, uma vez que se conservaram as disposições de carácter económico
(nacionalizações, intervencionismo do Estado, planificação, reforma agrária).
Foi abolido o Conselho da Revolução como órgão coadjuvante da Presidência da República. Na mesma linha,
limitaram-se os poderes do presidente e aumentaram-se os da instituição parlamentar.
O regime viu, assim, reforçado o seu cariz democrático-liberal, assente no sufrágio popular e no equilíbrio entre
órgãos de soberania:
o O presidente da República – eleito por sufrágio direto e por maioria absoluta. É assistido por um Conselho
de Estado. O mandato presidencial é de 5 anos, sendo interdito ao mesmo presidente mais do que dois
mandatos consecutivos.
Funções:
Assembleia da República – constituída por deputados eleitos por círculos eleitorais. Cada legislatura tem a duração
de 4 anos e os deputados organizam-se por grupos parlamentares.
Funções:
o Faz leis;
o Aprova alterações à constituição, os estatutos das regiões autónomas, a lei do plano e do orçamento
de Estado;
o Concede ao Governo autorizações legislativas.
O Governo – é o órgão executivo ao qual compete a condução da política geral do País. Manda a constituição que o
primeiro-ministro seja designado pelo presidente da República, de acordo com os resultados das eleições
legislativas.
Funções:
Os Tribunais – cuja independência a Constituição de 1976 consagrou. A Constituição tornou o poder judicial
verdadeiramente autónomo, proporcionando as condições para a sua imparcialidade. A Revisão de 1982 criou,
ainda, o Tribunal Constitucional.
Funções:
o Verifica previamente a constitucionalidade das leis. Aos tribunais fica cometida a administração da
justiça em nome do povo.
A revolução de Abril contribuiu para quebrar o isolamento e a hostilidade de que Portugal tinha sido alvo,
recuperando o País a sua dignidade e a aceitação nas instâncias internacionais.
Para além deste reencontro de Portugal com o mundo, o fim do Governo marcelista teve uma influência apreciável
na evolução política espanhola. Em Espanha, a morte do General Franco, em 1975, criou condições para uma rápida
transição para a democracia.
A influência da revolução portuguesa estendeu-se também a África, onde a independência das nossas colónias
contribuiu para o enfraquecimento dos últimos bastiões brancos da região, como a Rodésia (que mais tarde viria a
ser o Zimbábue) e a África do Sul.
No Zimbábue, a vitória de Mugabe e a constituição de um governo de maioria negra que aboliu as
discriminações raciais estiveram, em parte, ligadas à independência de Moçambique.
No inicio dos anos 80, a URSS encontrava-se numa situação preocupante, o sistema vinha a degradar-se
desde os tempos de Brejnev. Enquanto o nível de vida da população baixava, o atraso económico e
tecnológico, relativamente aos EUA, crescia a olhos vistos, e só com muitas dificuldades o país conseguia
suportar os pesados encargos decorrentes da sua vasta influência no mundo
Em Março de 1985, Mikhail Gorbatchev é eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e
inicia uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente, propondo aos Americanos o reinício das
conversações sobre o desarmamento para permitir à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação
interna. O líder soviético procura assim criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao
armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna.
Neste contexto, Gorbatchev anunciou o seu programa de reformas designado Perestroika. Este programa
previa a alteração do modelo de planificação económica em vigor desde Estaline, [descentralizar a
economia], através da concessão de mais autonomia às empresas, criação de um sector privado com maior
grau de flexibilidade para responder às solicitações do mercado e uma abertura social e política (glasnost,
transparência), de modo a incentivar a participação dos cidadãos e na viabilização da realização de eleições
livres e pluripartidárias – abertura democrática.
Glasnost
Perestroika Conceito:
Conceito: - Vertente política da Perestroika que procurou
- Reestruturação profunda do modelo conciliar o socialismo e a democracia.
soviético empreendida por Gorbatchev a Propostas:
partir de 1958. - Apela à denúncia da corrupção.
- Plano de renovação económica. - Abolição da censura.
Propostas: - Abertura democrática – eleições pluralistas e livres.
- Descentralização da economia (gestão
autónoma das empresas que se vêm privadas Consequências:
dos planos quinquenais, bem como dos - Abalo das estruturas do poder.
avultados subsídios que suportavam a sua - Fim das Democracias Populares.
falta de rentabilidade. - Vaga democratizadora – varre o leste (1989)
- Formação de um sector privado.
Consequências:
- Deteorização da economia – falências,
desemprego, descontrolo económico,
pobreza, inflação.
O colapso do bloco soviético
As reformas liberais empreendidas por Gorbatchev tiveram grande impacto nos pais do Leste Europeu.
A inflexão da política soviética e as duras críticas tecidas aos tempos de Brejnev debilitaram a autoridade
dos líderes comunistas dos países do Leste. Ao contrário do que acontecera anteriormente, os partidos
comunistas de leste não contaram com a intervenção militar russa, para normalizar a situação. Confiante no
clima de concórdia que estabelecera com o Ocidente, Gorbatchev passou a olhar para as democracias
populares como uma obrigação pesada, da qual a URSS só ganhava em libertar-se.
A doutrina da soberania limitada foi, assim, posta de lado, e os países satélites da URSS puderam, escolher o
seu regime político. No ano de 1989, uma vaga democratizadora varre o Leste, assistindo se a uma
subversão completa do sistema comunista. Na Polónia, Checoslováquia, Bulgária, Roménia, etc., os partidos
comunistas perdem o seu lugar de “partido único” e realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra.
Desta forma, a cortina de ferro, de dividia a Europa, começa a dissipar-se, as fronteiras com o Ocidente são
abertas e nesse
Neste processo, a “cortina de ferro” que separava a Europa levanta-se, as fronteiras com o Ocidente são
abertas e, em 9 de Novembro, cai o Muro de Berlim e depois das negociações entre os dois Estados alemães
e os quatro países que ainda detinham direitos de ocupação, a Alemanha reunifica-se (Tratado 2+4).
No mês seguinte é anunciado, sem surpresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do
COMECON.
Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já incontrolável, conduzindo,
também, ao fim da própria URSS. O extenso território das Repúblicas Soviéticas desmembra-se, sacudido
por uma explosão de reivindicações nacionalistas e confrontos étnicos.
O processo começa nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline durante a 2ª Guerra Mundial.
Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição da URSS ou do socialismo, tenta parar o processo pela
força, intervindo militarmente nos Estados Bálticos (1991). Esta situação faz com que o apoio da população
se concentre em Boris Ieltsin, que é eleito presidente da República da Rússia, em Junho de 1991.
O novo presidente toma a medida extrema de proibir as atividades do partido comunista.
No Outono de 1991, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência. Em 21 de Dezembro,
nasce oficialmente a CEI – Comunidade de Estados Independentes, à qual aderem 12 das 15 repúblicas que
integravam a União Soviética. Ultrapassado pelos acontecimentos e vencido no seu propósito de manter
unido o pais, Mikhail Gorbatchev abandona a presidência da URSS.
A Perestroika tinha prometido aos soviéticos uma melhoria acentuada e rápida do nível de vida. Mas, ao
contrário do previsto, a reconversão económica foi um fracasso e a economia deteriorou-se rapidamente.
O fim da economia planificada significou o fim dos subsídios estatais às empresas. Assim, muitas unidades
desapareceram e outras extinguiram numerosos postos de trabalho, considerados excedentários.
Simultaneamente, o descontrolo económico e a liberalização dos preços desencadearam uma inflação
galopante que a subida de salários não acompanhou.
O desemprego, o atraso nos pagamentos das pensões e dos salários dos funcionários públicos, bem como a
rápida perda de valor da moeda significaram o fim das poupanças de muitas famílias, que rapidamente se
viram sem meios de subsistência.
Em contrapartida, a liberalização económica enriqueceu um pequeno grupo que, em pouco tempo, acumulou
fortunas fabulosas. De uma forma geral, a riqueza passou para as mãos de antigos altos funcionários que
aproveitaram as posições chave em que se encontravam. Em meados dos anos 90, 455 do rendimento
nacional encontrava-se nas mãos de menos de 5% da população.
Os países de Leste viveram, também, de forma dolorosa, a transição para a economia de mercado. Privados
dos subsídios que recebiam da União Soviética, a braços com uma redução das trocas na área do antigo
COMECON e com as produções nacionais alicerçadas em indústrias e equipamentos obsoletos os antigos
satélites da URSS sofreram uma brusca regressão económica. Tal como a Rússia, o caos económico
instalou-se, as desigualdades sociais agravaram-se, e a taxa de pobreza aumentou num ritmo elevado.
1.2 Os polos do desenvolvimento económico
• Hegemonia dos Estados Unidos: supremacia militar, prosperidade económica, dinamismo científico e
tecnológico. Consolidação da comunidade europeia; integração das novas democracias da Europa do Sul; a
União Europeia e as dificuldades na constituição de uma Europa política.
Profundamente desigualitário, o mundo atual concentra a maior parte da sua riqueza e da sua capacidade
tecnológica em 3 polos de intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a União Europeia e a zona da Ásia-
Pacífico. A este poder económico concentrado, põe-se a hegemonia político-militar de um único país: os
Estados Unidos.
Os EUA são o quarto maior país do mundo e o terceiro mais populoso. Um PNB de mais de 10.2 biliões de
dólares faz deles a primeira potência económica mundial. Terra das oportunidades desde o seu nascimento, a
América do Norte glorifica, ainda hoje, o espírito de iniciativa individual e a imagem do multimilionário
bem sucedido. A “livre empresa” contínua no centro da filosofia económica do país e o estado incentiva-a,
assegurando-lhe as condições de uma elevada competitividade. Pátria de gigantescas multinacionais, os
EUA, vivem também de uma densa rede de pequenas empresas.
Os sectores de atividade
Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do sector terciário. A
América é, hoje, o maior exportador de serviços do mundo, sobretudo, na área de seguros, transportes,
restauração, cinema e música. Altamente mecanizadas, as unidades agrícolas e pecuárias americanas têm
uma elevadíssima produtividade. Assim, e apesar de algumas dificuldades geradas pela concorrência, os
EUA mantêm-se como maior exportador de produtos agrícolas. Pelo seu dinamismo, a agricultura americana
alimenta ainda um conjunto de vastas indústrias. Este verdadeiro complexo agroindustrial envolve mais de
20 milhões de trabalhadores e representa cerca de 18% do PIB americano. Responsável por um quarto da
produção mundial, a indústria dos EUA sofreu, nos últimos 30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores
tradicionais, entraram em declínio e, com eles, decaiu também a importância económica da zona nordeste.
O partido que os Estados Unidos retiram da sua implantação na América e na área do Pacífico reforçou-se
durante a presidência de Bill Clinton. Numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da UE, Clinton
procurou estimular as relações económicas com a região do Sudeste Asiático, revitalizando a APEC. No
mesmo sentido, o presidente impulsionou a criação da NAFTA, que estipula a livre circulação de capitais e
mercadorias (não de pessoas) entre os EUA, Canadá e México.
Dinamismo científico-tecnológico.
Liderando a corrida tecnológica, os EUA asseguram na viragem para o séc. XXI, a sua supremacia
económica e militar. Os EUA são, hoje, a nação que mais gasta em investigação científica. Para além dos
centros que dele diretamente dependem, o Estado Federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa
privada. O avanço americano fica, também, a dever-se à criação precoce de parques tecnológicos – os
tecnopolos –, que associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas, que trabalham de
forma articulada.
A hegemonia político-militar
A libertação do Kuwait (conhecida como Guerra do Golfo) iniciou-se em Janeiro de 1991 e exibiu, perante o
mundo que a seguiu “em direto” pela televisão, a superioridade militar dos Estados Unidos. O exército
iraquiano, o 4º maior do Mundo, com quase um milhão de homens, nada pôde fazer contra as sofisticadas
tecnologias de guerra americanas.
Este 1º conflito pós-Guerra Fria inaugurou oficialmente a época da hegemonia mundial americana.
Assim, o poder americano afirmou-se apoiado pelo gigantismo económico e pelo investimento maciço no
complexo industrial militar. Os E.U.A. têm sido considerados os “polícias do Mundo”, devido ao papel
preponderante e ativo que têm desempenhado na geopolítica do Globo.
Multiplicaram a imposição de sanções económicas como recurso para punir os infratores.
Reforçaram o papel da OTAN – função de velar pela segurança da Europa, recorrendo, sempre que
necessário, à intervenção militar armada.
Assumiram um papel militar ativo, encabeçando numerosas intervenções armadas pelos motivos
mais díspares.
Nos anos 90 a economia americana parecia imparável, apesar dos sinais de aviso - défice comercial e
enorme dívida externa.
A prosperidade americana, assente nos princípios do comércio livre, é fortemente abalada pelo 11 de
Setembro de 2001, e em especial pelas medidas de segurança tomadas após esse acontecimento (medidas de
segurança - maior controlo sobre os capitais e as pessoas que entram no país).
O sucesso da administração Clinton no controlo do défice orçamental, assim como as medidas sociais e
ambientais, são, em larga medida, apagadas pela administração Bush (filho), com uma política neoliberal
recusando aplicar medidas sociais e ambientais importantes, mas, no entanto, continuando a gastar enormes
somas na guerra contra o terror e na Guerra do Iraque.
O furacão Katrina, veio mostrar as fragilidades sociais dos EUA, levantando-se a questão entre os
americanos, sobre o que vale mostrar poderio militar se não se conseguem resolver os problemas internos?
Cresce o descontentamento com Bush, agravado pela crise que estala em meados de 2008, que leva à sua
queda e dos republicanos.
Barack Obama e os Democratas
Dá-se uma mudança de fundo na Casa Branca - entram os democratas com a vitória de Barack Obama que
coloca a tónica na resolução dos problemas sociais dos EUA, implicando uma maior intervenção do Estado.
Reconhece que o domínio americano sobre o mundo está em declínio e que as medidas adotadas em
questões de segurança estavam a contribuir para o desprestígio do país.
A União Europeia
A construção europeia foi uma história de altos e baixos. Com períodos de grande entusiasmo e outros de
grande ceticismo, unir um velho continente, formado por tantas nações orgulhosas e independentes, parece
um projeto assaz ambicioso. Etapa a etapa, no entanto, o projeto tem progredido, orientando-se por 2 vetores
principais: o aprofundamento das relações entre os Estados e o alargamento geográfico da União.
Embora o tratado de Roma abrisse perspetivas para uma completa integração económica e, até, de uma
futura união política, o 1.º grande objetivo da CEE foi a união aduaneira. Os estados membros acordaram o
estabelecimento de uma política agrícola comum, de ações concertadas de combate ao desemprego, de
ajudas às regiões menos favorecidas, de um sistema monetário europeu, entre outras medidas. Apesar destes
avanços, a comunidade enfrentava no início dos anos 80, um período de marasmo e descrença nas suas
potencialidades e no seu futuro. Os esforços do novo presidente conduziram, em 1986 à assinatura do Ato
Único Europeu, que previa, para 1993, o estabelecimento do mercado único onde, para além de mercadorias,
circulassem, livremente, pessoas, capitais e serviços. Em 1990, começam as negociações com vista ao
aumento das competências da comunidade.
Estas negociações desembocam no célebre tratado da união europeia, assinado na cidade holandesa de
Maastricht. O tratado, que entra em vigor em 1993, ao mesmo tempo que o mercado único, estabelece uma
união europeia fundada em três pilares: o comunitário, de cariz económico e de longe, o mais desenvolvido;
o da politica externa e da segurança comum; e o da cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos
internos.
Maastricht representou um largo passo em frente no caminho da união, quer pelo reforço dos laços políticos,
quer, sobretudo, por ter definido o objetivo da adoção de uma moeda única, de acordo com um calendário
rigoroso e predeterminado. A 1 de Janeiro de 1999, 11 países, aos quais viera juntar-se a Grécia, inauguram
oficialmente o euro, que entra, então nos mercados de capitais. O euro completou a integração das
economias europeias. A CEE tornou-se a maior potência comercial do mundo, com um PIB conjunto
semelhante ao dos EUA; o seu mercado interno, com mais de 355 milhões de consumidores (Europa dos
15), apresenta um elevado nível de consumo e uma mão-de-obra muito qualificada; possui, também, uma
densa rede de transportes e comunicações.
Em 1981, a Grécia torna-se membro efetivo da comunidade; a adesão de Portugal e Espanha formaliza-se
em 1985, com efeitos a partir do ano seguinte. A entrada destes três novos membros colocou à CEE o seu
primeiro grande desafio, já que se trava de um grupo de países bastante atrasados relativamente aos restantes
membros.
Em 1992, o Conselho Europeu de Lisboa recebeu, com agrado, as candidaturas da Áustria, Finlândia, Suécia
e Noruega, países cuja solidez económica contribuiria para o reforço da comunidade. A Europa passa a
funcionar a 15.
Entretanto, os desejos de adesão dos países de Leste eram olhados com apreensão, limitando-se a
comunidade, no início, a implementar planos de ajuda às economias em transição.
Em 1 de Maio de 2004, a Europa enfrentou o desafio imenso, impensável, de unir o Leste e o Oeste, o Norte
e o Sul. Em 2007 entram a Roménia e Bulgária.
Nos últimos 50 anos, os europeus têm-se dividido no que toca ao futuro do seu continente. O euroceticismo
e a resistência a todas as medidas que impliquem transferências de soberania são comuns a vários estados-
membros. O Tratado de Maastricht para além de ter introduzido o poderoso elemento de coesão que é a
moeda única, criou, também, a cidadania europeia e alargou a ação comunitária a questões como o direito de
asilo, a política de imigração e a cooperação de assuntos internos.
Cidadania europeia: Criada pelo tratado da União Europeia (Maastricht), a cidadania europeia coexiste com
a cidadania nacional tradicional, conferindo aos cidadãos da União, designadamente, o direito de circular e
de residir em qualquer território da União, ter proteção diplomática, apresentar petições ao Parlamento
Europeu e votar (e ser eleito) em eleições para o Parlamento Europeu e em eleições autárquicas na sua área
de residência.
Todos estes assuntos interferem com as políticas nacionais, logo, a polémica instalou-se. Alguns países
(Reino Unido, Dinamarca, Suécia) recusaram adotar a moeda única (euro).
A forma relutante como muitos europeus veem a união, resulta em parte, da fraca implantação popular do
sentimento europeísta.
A vontade de que os cidadãos dos estados-membros da União Europeia se identifiquem com o projeto
europeu nem sempre tem sido bem-sucedida. O resultado da união política europeia seria um Governo
europeu comum e um presidente europeu, porém, este projeto transnacional colide com a figura do Estado-
Nação que, embora esteja em crise, ainda é válido para os europeus contemporâneos.
Novas perspetivas.
As dificuldades de uma união política viram-se substancialmente acrescidas pelos sucessivos alargamentos
da comunidade, que obrigam a conjugar os interesses de países muito diferentes e a rever o funcionamento
das instituições.
O Conselho Europeu de Laeken convocou em 2002, uma Convenção para o Futuro da Europa. Desta
convenção resultou um projeto de Constituição Europeia que prevê, entre outras soluções inovadoras, a
criação de um ministro dos Negócios
O Japão
O designado “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. As ajudas financeiras e técnicas,
por parte dos EUA, permitiram uma rápida reconstrução económica do Japão. Apesar disto, os japoneses
também criaram condições necessárias à sua prosperidade: um sistema político estável permitiu a atuação
concertada entre o Governo e os grandes grupos económicos. O Estado interveio ativamente na regulação do
investimento, na concessão de créditos, na proteção das empresas e o mercado nacional. Também canalizou
a maior parte dos investimentos públicos para o sector produtivo e absteve-se em matéria de legislação
social.
A mentalidade japonesa foi também um importante fator de crescimento. Dinâmicos e austeros,
completamente devotados à causa da reconstrução nacional e ao seu trabalho em particular, empresários e
trabalhadores cooperaram estreitamente na realização de objetivos comuns.
Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente
competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de transformar na primeira sociedade de consumo da Ásia.
O primeiro grande surto de crescimento ocorreu entre 1955 e 1961 quando a produção industrial
praticamente triplicou. Os sectores que adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de
consumo duradouros. O comércio externo acompanha também esta expansão.
O segundo surto foi entre 1961 e 1971, período durante o qual a produção industrial duplicou e criaram-se
2,3 milhões de postos de trabalho. Este crescimento também assenta em novos sectores, como a produção de
automóveis, e televisões.
Tudo isto fez do Japão a terceira maior potência do mundo.
Nos anos 90 tornou-se um polo de desenvolvimento intenso, capaz de concorrer com os EUA e a UE. A
economia desta região desenvolveu-se em três fases consecutivas: em 1.º lugar emergiu o Japão; depois os
quatro dragões (ou tigres) asiáticos: Hong Kong, Coreia do sul, Singapura e Taiwan; os países do sudoeste,
Tailândia, Malásia e Indonésia, seguidos pela República Popular da China.
Os quatro dragões.
O sucesso do Japão serviu de incentivo e de modelo à 1.ª geração de países industriais do Leste asiático. Não
faltava vontade política, determinação e capacidade de trabalho. Tomando como objetivo o crescimento
económico, os governos procuraram atrair capitais estrangeiros. A industrialização asiática explorou mão-
de-obra abundante e disciplinada, capaz de trabalhar longas horas diárias por muito pouco dinheiro. Esta
mão-de-obra esforçada e barata permitiu produzir, a preços imbatíveis, têxteis e produtos de consumo
corrente, que inundaram os mercados ocidentais. Os “quatro dragões” constituíram um tremendo sucesso
económico.
Da concorrência à cooperação.
Apesar do seu enorme êxito, os novos países industrializados (NPI) da Ásia confrontavam-se com dois
problemas graves: o 1.º era a excessiva dependência face às economias estrangeiras; o 2.º era a intensa
rivalidade que os separava. Quando a economia ocidental abrandou, nos anos 70, os países asiáticos foram
induzidos a procurar mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica. Voltaram-se então,
para os membros da ASEAN, organização económica que aglutinava alguns países do Sudeste Asiático.
Nascida em 1967, a ASEAN, agrupava a Tailândia, a Malásia, a Indonésia e Filipinas, países cujas
economias se encaixavam perfeitamente na do Japão e nas das quatro novas potências: eram ricos em
matérias-primas, nos recursos energéticos e nos bens alimentares de que os cinco necessitavam. Agarrando a
oportunidade, as duas partes deram início a uma cooperação regional estreita: o Japão, a Coreia do Sul e o
Taiwan iniciaram a exportação de bens manufaturados e tecnologia para os países do Sudeste e, obtiveram,
em troca, os produtos primários que pretendiam. Este intercâmbio permitiu a emergência de uma 2.ª geração
de países industriais na Ásia: a Tailândia, a Malásia e a Indonésia, desenvolveram a sua produção. A região
começou, assim, a crescer de forma mais integrada. O Japão e os “quatro dragões” produzem mercadorias de
maior qualidade e preço; a ASEAN dedica-se a bens de consumo, de preço e qualidade inferior. Os estados
do “arco do pacífico” tornaram-se, um polo económico articulado, com elevado volume de trocas inter-
regionais.
O crescimento asiático alterou a balança da economia mundial, ate aí concentrada na tríade EUA, Europa e
Japão. Em 1997, Hong kong e Singapura colocaram-se entre os 10 países mais ricos do mundo. O
crescimento teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito altos, a Ásia tornou-se a região mais poluída
do mundo e a sua mão-de-obra permaneceu, pobre e explorada.
A questão de Timor
A ilha de Timor era desde o séc. XVI, um território administrado pelos portugueses. Em 1974 a “revolução
dos cravos” agitou também Timor-leste, que se preparou para encarar o futuro sem Portugal. Na ilha,
nasceram três partidos políticos: UDT, APODETI e FRETILIN.
O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os três países, cuja violência Portugal não conseguiu conter.
O nosso país acabou por se retirar de Timor, sem reconhecer, a legitimidade de um novo governo. Em 7 de
Dezembro de 1975, reagindo contra a tomada de poder pela FRETILIN, o líder indonésio Suharto ordena, a
invasão do território. Assim, Portugal corta relações diplomáticas com Jacarta e apela às Nações Unidas, que
condenam a ocupação e continuam a considerar Timor um território não autónomo. Os factos, porém,
contrariavam estas decisões.
Os indonésios anexaram formalmente Timor, que, em 1976, se tornou a sua 27.ª província. Apesar de
consumada, a anexação de Timor permaneceu ilegítima. Refugiados nas montanhas, os guerrilheiros da
FRETILIN encabeçaram a resistência contra o invasor. Quis o acaso que uma das muitas ações de repressão
sobre os timorenses fosse filmada: as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão desarmada que
homenageava, no cemitério de santa cruz, um independentista assassinado. O massacre faz 271 mortos. As
imagens, correram o mundo e despertam-no para a questão timorense. Com a ajuda dos media, Timor
mobiliza a opinião pública mundial e, em 1996, a causa ganha ainda mais força com a atribuição do prémio
Nobel da Paz ao bispo de Díli.
No fim da década, a Indonésia aceita, que o povo timorense decida o seu destino através de um referendo.
Entretanto, dá o seu apoio à organização de milícias armadas que iniciam ações de violência e de
intimidação no território. O referendo deu uma inequívoca vitória à independência, mas desencadeou uma
escalada de terror por parte das milícias pró-indonésias.
Uma onda de indignação e de solidariedade percorreu então o mundo e conduziu ao envio de uma força de
paz multinacional, patrocinada pelas Nações Unidas. Sob a proteção dessa força, o território encaminhou-se,
para a independência.
A 20 de Maio de 2002 nasce oficialmente a República Democrática de Timor Leste.
A China
O arranque da China para o processo de modernização e abertura à economia de mercado teve inicio nos fins
da década de 70, altura em que Deng assumiu o poder. O líder chinês iniciou um processo de grandes
reformas económicas, lançando as bases do desenvolvimento agrícola, industrial e técnico da China.
Seguindo uma política pragmática, Deng dividiu a China em duas áreas geográficas distintas: o interior,
essencialmente rural, permanecia resguardado da influência externa; o litoral abrir-se-ia ao capital
estrangeiro, integrando-se plenamente no mercado internacional.
A China camponesa não acompanhará o surto de desenvolvimento do país. O sistema agrário foi, no entanto,
profundamente reestruturado. Em cerca de 4 anos as terras foram descolectivizadas e entregues aos
camponeses, que puderam comercializar os excedentes, num mercado livre.
Quanto à indústria, sofreu uma modificação radical. A prioridade à indústria pesada foi abandonada em
favor dos produtos de consumo e a autarcia em favor da exportação.
Em 1980, as cidades de Shenzhen, Zuhai, Shantou, Xiamen, foram dotadas de uma legislação ultraliberal, as
“Zonas Económicas Especiais” foram favoráveis aos negócios pois o investimento Estatal estava ai
concentrado, empresas de todo o Mundo foram convidadas a estabelecer-se nestas áreas.
Desde 1981 que o crescimento económico da China tem sido impressionante.
Recém-chegada ao grupo dos países industrializados da Ásia, a China detém um potencial muito superior ao
dos seus parceiros, quer em recursos naturais, quer, sobretudo, em mão-de-obra. Com mais de um milhar de
milhão de habitantes, a competitividade do país alicerça-se numa massa inesgotável de trabalhadores mal
pagos e sem regalias sociais.
Neste país socialista, as desigualdades entre o litoral e o interior e entre os ricos e os pobres cresceram
exponencialmente.
A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha e
Portugal no sentido da transferência da soberania de Hong-Kong e de Macau, a partir de 1997 e de 1999,
respetivamente.
A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha no
sentido da transferência da soberania de Hong-Kong, a partir de 1997, enquanto, em relação a Macau, a data
acordada com Portugal foi o fim do ano de 1999. Os dois territórios foram integrados na China como regiões
administrativas especiais, com um grau de autonomia que lhes permite a manutenção dos seus sistemas
político e económico durante um período de 50 anos, segundo o princípio “um país, dois sistemas”.
Hong-Kong tem-se mantido como um importante centro comercial e financeiro, desempenhando um papel
ativo na atração de capitais, enquanto Macau continuou a destacar-se como um dinâmico centro de jogo, de
turismo e de produção industrial ligeira (têxteis e brinquedos).
“Continente de todos os males”, a África tem sido atormentada pela fome, pelas epidemias, por ódios
étnicos, por ditaduras ferozes.
Desde sempre muito débeis, as condições de existência dos Africanos degradaram-se pela combinação de
um complexo de fatores:
O crescimento acelerado da população, que abafa as pequenas melhorias na escolaridade e nos cuidados de
saúde;
A deterioração do valor dos produtos africanos. O progressivo abaixamento dos preços das m matérias-
primas reduziu a entrada de divisas e tornou ainda mais pesada a disparidade entre as importações e as
exportações;
As enormes dívidas externas dos Estados africanos.
A dificuldade em canalizar investimentos externos e a diminuição das ajudas internacionais. Os programas
de ajuda diminuíram, em parte sob o pretexto de que os fundos eram desviados para a compra de armas e
para as contas particulares de governantes corruptos.
Imagens chocantes de uma fome extrema não cessam de atormentar as consciências dos Ocidentais. O atraso
tecnológico, a desertificação de vastas zonas agrícolas e, sobretudo, a guerra são responsáveis pela
subnutrição crónica dos Africanos.
A peste chegou sobre a forma da sida, que tem devastado o continente.
À fome e à “peste” junta-se a guerra. Nos anos 90, os conflitos proliferaram e, apesar dos esforços
internacionais, mantêm-se acesos ou latentes.
A instabilidade política: etnias e Estados
O sentimento nacional não teve, em muitos casos, outras raízes que não fosse a luta contra o domínio
estrangeiro. Era uma base muito frágil, que conduziu, desde logo, a tentativas de secessão e a terríveis
guerras civis.
O fim da Guerra Fria trouxe ao subcontinente alguma esperança de democratização, já que os soviéticos e
americanos deixaram de apoiar os regimes totalitários que consideravam seus aliados. Abandonados à sua
sorte, muitos não tardaram a cair.
Em muitas regiões, as grandes dificuldades económicas, as rivalidades étnicas e religiosas, bem como a
ânsia de apropriação de riquezas, fizeram aumentar a instabilidade.
A persistência de uma sociedade em que os laços tribais se mantêm vivos e fortes tem facilitado as
explosões de violência. Embora o tribalismo concorra para estas explosões de ódio, a verdade é que poucos
são os casos em que, por trás, não se escondem ambições políticas ou interesses económicos.
Descolagem contida e endividamento externo na América latina;
Os países latino-americanos procuraram libertar-se da sua extrema dependência face aos produtos
manufaturados estrangeiros. Encetaram, então, uma política industrial protecionista com vista à substituição
das importações. Orientado pelo Estado este fomento económico realizou-se com recurso a avultados
empréstimos.
Nas décadas seguintes, estes empréstimos, mal geridos, tornaram-se um fardo difícil de suportar.
Esta situação fez-se sentir com mais força nas nações latino-americanas, as mais endividadas do Mundo.
A divida externa refletiu-se no agudizar da situação económica das populações latino-americanas, pois foi
necessário tomar medidas de contenção económica como despedimentos e redução dos subsídios e dos
salários.
Face a tão maus resultados, a salvação económica procurou-se numa política neoliberal. Procederam à
privatização do sector estatal, sujeitando-o à lei da concorrência e procuraram integrar as suas economias
nos fluxos do comércio regional e mundial.
O comércio registou um crescimento notável e as economias revitalizaram-se. No entanto, em 2001, 214
milhões de latino-americanos viviam ainda mergulhados na pobreza
A questão israelo-palestiniana
Apoiados pelos Estados Unidos e pelos judeus de todo o mundo mobilizados pelo sionismo internacional, os
israelitas têm demonstrado uma vontade inflexível em construir a pátria que sentem pertencer-lhes.
No campo oposto, os árabes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. A sua determinação em
não reconhecer o Estado de Israel desembocou em conflitos repetidos que deixaram patente a superioridade
militar judaica. Tal situação induziu os Israelitas a ocuparem os territórios reservados aos Palestinianos onde
instalaram numerosos colonatos.
Neste contexto, a revolta palestiniana cresceu e encontrou expressão política na OLP – Organização de
Libertação da Palestina.
Na sequência de uma violenta revolta juvenil nos territórios ocupados - a intifada -, os Estados Unidos
pressionaram Israel para abrir negociações com a OLP que, conduzidas secretamente desembocam no
primeiro acordo israelo-palestiniano.
Assinado em 1993, em Washington, o acordo estabeleceu o reconhecimento mútuo das duas partes, a
renúncia da OLP à luta armada, a constituição de uma Autoridade Nacional Palestiniana e a passagem
progressiva do controlo dos territórios ocupados para a administração palestiniana.
Uma escalada de violência tem martirizado a região. Aos atentados suicidas, cada vez mais frequentes, sobre
alvos civis israelitas, o exército judaico responde com intervenções destruidoras, nos últimos redutos
palestinianos.
Criada após a 1ª Guerra Mundial, a Jugoslávia correspondeu ao sonho sérvio de unir os “Eslavos do Sul”,
mas foi sempre uma entidade artificial que aglutinava diferentes nacionalidades, línguas e religiões.
Em Junho de 1991, a Eslovénia e a Croácia declaram a independência. Recusando a fragmentação do país, o
presidente sérvio Slobodan Milosevic desencadeia a guerra que só cessa, no inicio do ano seguinte, após a
intervenção da ONU.
Pouco depois, a Bósnia-Herzegovina proclama, por sua vez, a independência e a guerra reacende-se.
Com a Guerra da Bósnia, a Europa revive episódios de violência e atrocidades que julgava ter enterrado no
fim da 2ª Guerra Mundial. Em nome da construção de uma “Grande Sérvia” levam-se a cabo operações de
“limpeza étnica”.
Finalmente, após muitos impasses e hesitações, uma força da OTAN sob comando americano impôs o fim
das hostilidades na Bósnia e conduziu aos Acordos de Dayton (1995), que dividiram o território bósnio em 2
comunidades autónomas, uma sérvia e outra croato-muçulmana.
No fim da década, o pesadelo regressa aos Balcãs, desta feita à região do Kosovo, à qual, em 1989, o
Governo sérvio tinha retirado autonomia. Face à revolta eminente, desenrola-se uma nova operação de
“limpeza étnica” que a pressão internacional não conseguiu travar. A OTAN decidiu, então, intervir de
novo, mesmo sem mandato da ONU.
Perante uns que temem o desenvolvimento desenfreado que conduza ao fim do mundo, contrapõem outros
com uma fé inabalável no ser humano e na esperança que todo o desenvolvimento traga consigo o aumento
da qualidade de vida num planeta mais habitável.
No entanto, todos sabemos que, positiva ou negativamente, no centro da discussão está o fenómeno da
GLOBALIZAÇÃO, que acaba e acabará sempre por afetar os comportamentos humanos.
O debate sobre a relação entre Globalização e desenvolvimento está na ordem do dia. Neste debate surge a
questão "A globalização diminui ou aprofunda as desigualdades?". Se hoje as pessoas têm facilidade no
acesso às novas tecnologias da informação e da comunicação, também constatamos que este mundo global
radicaliza os conflitos étnico-religiosos e cria novas exigências ao nível da segurança.
O debate do Estado-Nação;
As identidades agitam-se no mundo com uma intensidade acrescida desde as últimas décadas do séc. XX.
Quase sempre, as tensões étnicas e separatistas são despoletadas pela pobreza e pela marginalidade em que
vivem os seus protagonistas, contribuindo para múltiplos conflitos que, desde os anos 80, têm
ensanguentado a África, os Balcãs e o Médio Oriente, o Cáucaso, a Ásia Central e Oriental.
Ao contrário dos conflitos interestáticos do período da Guerra Fria, as novas guerras são maioritariamente
Intra estáticas.
Na região do Cáucaso, as tensões étnicas mostram-se particularmente violentas em território da ex-
União Soviética;
No Afeganistão, as últimas décadas têm assistido a um crescendo de violência e desentendimento;
No Indostão, a Índia vê-se a braços com a etnia sikh, que professa um sincretismo hindu e
muçulmano e que se disputa com a maioria hindu;
No Sri Lanka, a etnia tâmil, de religião hindu, enfrenta os budistas cingaleses;
E no Sudeste Asiático, só bem recentemente (em 2002) Timor Leste conseguiu libertar-se da
Indonésia, depois de massacres cruéis da sua população.
Na verdade, o genocídio tem sido a marca mais terrível dos conflitos étnicos. Multidões de refugiados
cruzam fronteiras, chamando o direito à vida que as vicissitudes da História e os erros dos homens lhes
parecem negar. Os Estados mostram-se impotentes para controlar as redes mafiosas e terroristas que se
refugiam nos seus territórios e atuam impunemente.
Dificilmente vivemos imunes aos acontecimentos que nos chegam pelos media.
As questões transnacionais cruzam as fronteiras do Mundo, afetam sociedades distantes e lembram-nos que
a Terra e a humanidade, apesar das divisões e da diversidade, são unas. Resolvê-las, minorá-las, ultrapassa o
controlo de qualquer Estado-Nação, exigindo a colaboração da ONU, de organizações supranacionais,
regionais e não governamentais.
Migrações
Em 2000 existiam no Mundo cerca de 150 milhões de pessoas a viver num país que não aquele onde tinham
nascido. Tal como há 100 anos os motivos económicos continuam determinantes nas mais recentes nas
migrações.
Mas os motivos políticos também pesam, especialmente se nos lembrarmos dos múltiplos conflitos regionais
das últimas décadas.
A este estado de tensão e guerra se devem os cerca de 20 milhões de refugiados que o Mundo contabiliza no
início do séc. XXI. O Sul surge-nos como um local de vastos fluxos migratórios.
Os países com maior número de imigrantes encontram-se, no entanto, no Norte.
Sem que possamos falar num aumento de imigrantes relativamente à população total do Globo, registam-se,
no entanto, mudanças na sua composição. Há mais mulheres e mais pessoas com maior formação académica
e profissional que outrora.
Se, nos locais de partida, os migrantes significam uma fonte apreciável de divisas e de alívio de problemas,
já nos países de acolhimento provocam reações complexas e problemáticas – resulta em tensões e conflitos
étnicos. Até em países ocidentais de tradicional acolhimento os imigrantes defrontam-se com inesperadas
rejeições. Desde os choques petrolíferos, as dificuldades económicas e a progressão do desemprego, os
imigrantes são considerados como concorrentes aos postos de trabalho que restam – o que origina reações
xenófobas.
É neste contexto de hostilidade, inesperada e indesejada em países democráticos, que apreciáveis esforços se
encetam para promover a interculturalidade.
Interculturalidade
Perspetiva que se caracteriza pela valorização do contacto entre culturas diferentes no sentido de promover
mecanismos de interpretação, de compreensão e de interação entre elas. Distingue-se do etnocentrismo e do
multiculturalismo: o 1º obstaculiza o contacto entre culturas a partir do pressuposto de superioridade de uma
cultura dominante e da interpretação da outra à luz dos próprios valores; a 2ª limita-se a constatar a
diversidade de culturas, sem se preocupar em promover formas de diálogo entre elas.
Segurança
Ambiente
O ambientalismo constitui uma questão incontornável do nosso tempo e um desafio a ter em conta no futuro.
A degradação do planeta acelerou-se no último século, devido ao crescimento demográfico e das
transformações económicas experimentadas pela Humanidade. A população mundial, que cerca de 1950
atingia os 2,5 mil milhões de seres humanos, mais do que duplicou até ao fim do séc.XX. Ora, mais
população significa um acréscimo do consumo de recursos naturais, seja de solos, de água ou de matérias-
primas destinadas ao fabrico de bens essenciais…e supérfluos.
A destruição de florestas tropicais é um dos efeitos do crescimento demográfico e da busca de recursos.
A busca desenfreada de terras e a sua exploração intensiva, acompanhada da destruição de ecossistemas,
tornam os solos mais vulneráveis à seca e à erosão.
Os atentados à Natureza prosseguem num rol infindável de exemplos. O progresso industrial e tecnológico
provoca avultados gastos energéticos e poluição.
Entretanto, misturados com a precipitação, os gases poluentes provocam as chamadas chuvas ácidas, que
corroem os bosques e acidificam milhares de lagos, exterminando plantas e peixes.
Desde a década de 70, os cientistas revelam também grande preocupação com a destruição da camada do
ozono, essa estreita parte da atmosfera que nos protege contra as radiações ultravioletas.
O “efeito de estufa”, ou aquecimento global, é outra das perigosas ameaças que pairam sobre a Terra.
Resulta das elevadas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, proveniente do crescimento
populacional, do desenvolvimento industrial e da proliferação de veículos.
Por causa da camada de vida da Terra ser contínua e interligada e atendendo às múltiplas agressões que
sobre ela pairam, os cientistas lançam sistemáticos alertas para o estado de perigo e de catástrofe iminente
em que o ecossistema mundial entrou.
Em 1992, a Cimeira da Terra avançou com um conjunto de propostas tendentes à gestão dos recursos da
Terra, para que a qualidade de vida das gerações futuras não fique hipotecada. A tal se chamou um
“desenvolvimento sustentável”.
E se os países desenvolvidos gastam fortunas com a limpeza de rios e edifícios, o controlo de gases tóxicos,
o tratamento de desperdícios e a reciclagem de materiais, tais esforços de preservação do ambiente mostram-
se terrivelmente comprometidos, no superpovoado e pobre mundo em desenvolvimento.
De um desenvolvimento económico equilibrado e sustentável espera-se a saúde do planeta e o bem-estar da
humanidade.
Os choques petrolíferos dos anos 70, a inflação, o abrandamento das atividades económicas e o desemprego,
testemunhavam uma poderosa crise.
Denominada de neoliberalismo, uma nova doutrina económica propõe-se reerguer o capitalismo tendo como
grandes laboratórios a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Atento ao equilíbrio orçamental e à redução da inflação, o neoliberalismo, que defende o respeito pelo livre
jogo da oferta e da procura, envereda por medidas de rigor. O Estado neoliberal diminui fortemente a sua
intervenção económica e social. Pelo contrário, valoriza a iniciativa privada, incentiva a livre concorrência e
a competitividade.
No mundo dos anos 80, caminhava-se a passos largos para a globalização da economia.
A globalização apresenta-se como um fenómeno incontornável. Apoiadas nas modernas tecnologias da
informação e da comunicação (TIC), a conceção, a produção e a comercialização de bens e serviços, bem
como os influxos dos imprescindíveis capitais, ultrapassam as fronteiras nacionais e organizam-se à escala
planetária
Os mecanismos da globalização
Os Estados recuam nas medidas protecionistas e enveredam pelo livre-câmbio. Desde finais dos anos 80 que
o comércio internacional acusa um crescimento excecional, mercê de progressos técnicos nos transportes e
da criação de mercados comuns.
Em 1995, a Organização Mundial do Comércio entra em vigor. Tendo em vista a liberalização das trocas,
incentiva a redução dos direitos alfandegários e propõe-se arbitrar os diferendos comerciais entre os
Estados-membros.
Deparamo-nos, consequentemente, na aurora do século XXI, com um fluxo comercial prodigioso, num
mundo que quase parece um mercado único.
Às zonas da Europa Ocidental, da Ásia-Pacífico e da América do Norte, a chamada Tríade, cabe o papel de
polos dinamizadores das trocas mundiais.
Possuindo uma tendência para a internacionalização, as grandes empresas sofrem mudanças estruturais e
adotam estratégias planetárias.
Desde os anos 90, aumenta o número de empresas em que a conceção do produto ou do bem a oferecer, as
respetivas fases de fabrico e o sector da comercialização se encontram dispersos à escala mundial.
Eis-nos perante as firmas da era da globalização, as chamadas multinacionais ou transnacionais. É essa
lógica de rendibilidade das condições locais que conduz, em momentos de crise ou de diminuição de lucros,
as multinacionais a abandonarem certos países. Encerram aí as suas fábricas e/ou estabelecimentos
comerciais, para os reabrirem noutros locais. A este fenómeno chama-se deslocalização, sendo-lhe atribuída
a principal razão do desemprego crónico que grassa no Mundo.
A crítica à globalização
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em
finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista
dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e
serviços.
Já os detratores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e
exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projeto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos
entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “ um outro mundo
é possível”.
A rarefação da classe operária, o declínio da militância política e do sindicalismo
Fatores que determinaram o desenvolvimento industrial e a rarefação operária:
• Modernização do sector produtivo (novidades tecnológicas e automatização dispensam operário)
• Declínio dos tradicionais sectores empregadores (desaparecem empresas com muitos empregados
que optam pela inovação tecnológica)
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em
finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista
dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e
serviços.
Já os detratores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e
exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projeto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos
entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “um outro mundo
é possível”.
A ciência e a inovação tecnológica continuam a ter uma predominância no sector do investimento público,
sobretudo naqueles países que não querem perder o “comboio” do progresso e desenvolvimento.
Globalização
Estimula investigação cientifica e inovação tecnológica pelos governos e empresas privadas para melhorar
desempenhos na:
Educação,
No exercício profissional e Produção de bens e serviços
Objetivos do capitalismo neoliberalista:
Rentabilizar recursos humanos e materiais;
Gerir empresas
Dominar mercados
Controlar informação
Melhorar qualidade de vida das populações
Nas últimas décadas surgiram grandes inovações na área da eletrónica da informática (suporte físico da
informática), nomeadamente:
Invenção do microprocessador
Inovação das indústrias de eletrodomésticos
Inovação da indústria aeroespacial
Revolução da Informação
A evolução das diversas formas de transmitir informação, como a televisão, o rádio e o computador, fez com
que se despoletassem uma série de alterações sociais, económicas e políticas que alteraram profundamente a
face do mundo antes desta era, resultando como fator dominante a globalização ou a criação da chamada
"aldeia global".
O advento da Internet em 1969 marcou o contexto da globalização, tendo permitido que uma base de dados
gigantesca fosse partilhada em todo o mundo, com possibilidade de acesso por qualquer utilizador, tendo o
World Wide Web tornado possível a partilha de informação em multimédia e hipertexto. Os Estados Unidos
da América passaram a dominar quase tudo ao que à informação diz respeito, seja através de empresas como
a Apple, a Intel, a Microsoft ou a IBM, seja por possuir alguns dos bancos de dados de diversas áreas mais
completos a nível mundial, seja pela emissão e possessão dos meios de difusão informativa, como satélites
(sendo o primeiro satélite intercontinental americano o Telstar I, de 1962) e outros. A partir de 1980 e com o
aparecimento da CNN (Cable News Network) iniciou-se um novo período em que o espectador tem acesso à
informação em primeira mão, sem filtros de qualquer género e que cria uma situação de igualdade entre
todos os públicos, tornando muitas vezes urgentes as reações políticas, sociais e económicas em
determinadas ocasiões e face a certos acontecimentos (conflitos, desastres, crimes…). Por outro lado, a
informação transmitida pode pecar pela imparcialidade e pelo sensacionalismo, uma vez que a manutenção
das audiências passa pela renovação de notícias estrondosas que o espectador busca incessante e
sequencialmente. A difusão da informação ganhou uma dimensão política, uma vez que, face ao impacto e
monopólio que atingiram as associações ocidentais de multimédia, interveio inclusivamente nas correntes de
capitais e na orientação muitas vezes decisiva da opinião pública. Tendo-se entretanto e progressivamente
criado códigos éticos no âmbito jornalístico, manifestaram-se contudo fortes oposições a esta manipulação,
como o processo instaurado por alguns países, através da UNESCO, contra os meios de comunicação de
cariz imperialista (que provocou a saída em 1985 da Inglaterra e dos EUA desta instituição), os ataques
muçulmanos às antenas parabólicas e a "Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação" praticada
pelos Países Não Alinhados, que combateu difusoras como a Reuters e a Associated Press. A era da
informação eliminou muitos hábitos humanos, como as brincadeiras de crianças ao ar livre (que preferem
desenhos animados e jogos de vídeo e computador), as visitas a museus, a frequência de bibliotecas e as idas
ao teatro e ao cinema, uma vez que a tudo se pode aceder por meios informáticos. Estimulou igualmente o
sedentarismo e a sensação de inutilidade de cada ser para o Mundo ao proporcionar a receção de produtos
em casa (alimentos, objetos), o trabalho a partir de casa, as comunicações de qualquer género efetuadas
sempre em e a partir de casa... Por outro lado, o mais comum dos cidadãos pode tornar-se meio de
informação, com filmagens caseiras de acontecimentos fortuitos, formato adotado por muitos jornalistas e
que, ao denunciar muitas vezes incompetências de personagens e instituições, tornou, por um lado, estas
filmagens provas aceites pela lei, e por outro criou um tipo de jornalismo pseudo-justiceiro. Todos estes
fatores induziram à difusão de um processamento de informação imediato e simplista, em detrimento de
análises mais profundas e contextualizadas, formatando muitas vezes uma forma de pensar que não inclui a
reflexão. Da mesma maneira, assistiu-se a uma instrumentalização dos "media", por parte de determinados
governos, para a solidificação da ideologia e do poder, percetível ou impercetivelmente.
Revolução de telecomunicações
Vantagens da biotecnologia:
Produção de alimentos transgénicos (numa altura em que se morre de fome no mundo)
Clonagem de animais e plantas (proporciona o aumento da produção agropecuária)
Uso de células estaminais na investigação médica (para produção de tecidos e órgãos humanos para
transplante e na medicina regenerativa
Descodificação genética incluindo genoma humano.
Nos anos 80 surgem novas conceções intelectuais e artísticas a que se deu o nome de Pós-modernismo
Pintura:
Pintura mais autêntica e mais intensa liberta de convenções e de seguidismos vanguardistas
Propõe-se a revitalizar a arte incorporando diferentes contributos e estilos do passado (expressionismo,
abstracionismo, futurismo, dadaísmo ou surrealismo) e a pop-art (1ª forma de arte pós-modernista)
Pintura Neo-expressionista
O expressionismo foi renascido na Alemanha caracterizando-se pela pintura figurativa com formas
distorcidas e com cores dissonantes
Pintura transvanguardista:
Surgiu na Itália com as preocupações pós-modernistas na pintura em que as figuras deformadas e grotescas
se revelam fortemente perturbadoras
Arte-vídeo:
Tecnologias de informação como objecto de expressão criativa
Utilização de tv e pc’s para manipulação de imagens e sons
Arte Graffiti:
Surge nos anos 80, em Nova York, nos corredores do metro e nos bairros degradados, sem intenção artística,
mas passando de poluição visual a embelezamento de cidades.
A integração europeia e as suas implicações. As relações com os países lusófonos e com a área ibero-
americana.
Perdido o Império Portugal vira-se de forma determinada para a Europa, fazendo claramente uma opção
europeia, apesar de haver aqueles que continuavam a preferir a opção atlântica tendo por base as nossas
antigas colónias.
A verdade é que, aquando da instituição do poder democrático em Portugal nos anos 70, a ideia que
prevalecia às políticas de desenvolvimento territorial (regional ou local) assentava principalmente num
paradigma redistributivo, muito característico do objetivo “coesão”: dar mais aos territórios pobres do que
aos ricos, de forma que aqueles pudessem, aos poucos, ir-se aproximando destes. Este paradigma
redistributivo continua, claramente, a ser importante em termos europeus.
O nível local da administração portuguesa é, assim, chamado a dinamizar a iniciativa produtiva e inovativa,
apoiando as empresas e outras organizações produtivas por processos que vão do abaixamento dos custos de
instalação, à promoção de instituições formais ou informais de concertação e cooperação entre as unidades
económicas, passando pela função de amplificação da voz das empresas e empresários da região ou de
investimento ativo na imagem externa do território.
A nível das iniciativas do poder central refira-se a modernização das vias rodoviárias portuguesas
(empreendimentos cofinanciados pelos fundos comunitários), que fazem equiparar Portugal, neste aspecto,
aos países mais avançados da Europa.
A opção atlântica
A opção atlântica, no entanto, não ficou esquecida como prova a fundação da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), que é uma organização assinada entre países lusófonos, que consolida a aliança
e a amizade entre os signatários. A sua sede fica em Lisboa.
A CPLP foi criada em 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal e São Tomé e Príncipe. No ano de 2002, após conquistar a independência, Timor-Leste foi acolhido
como país integrante. Na atualidade, são oito os países membros da CPLP.
Apesar da iniciativa, a CPLP é uma organização jovem buscando pôr em prática os objetivos de integração
dos territórios Lusófonos. Em 2005, numa reunião em Luanda, Angola, a CPLP decidiu que no dia 5 de
Maio seria comemorado o Dia da Cultura Lusófona pelo mundo.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa abriga uma população superior a 230 milhões de
habitantes, e tem uma área total de 10.742.000 km² - maior que o Canadá, segundo maior país do mundo. O
PIB de todos os países, somados, supera US$ 1.700 trilião. A CPLP já foi decisiva para alguns de seus
países (na Guiné-Bissau, por exemplo, a CPLP ajudou a controlar golpes de estado).
Foi constituída em 1996 por Portugal, Brasil e PALOP e foi alargada em 2002 com a entrada de Timor
A comunidade traduz-se, pela concertação político-diplomática entre os seus membros em matéria de
relações internacionais como:
Brasil
O Brasil é um caso que merece destaque, devido à sua dimensão e à importância económica que tem
para Portugal, as relações económicas entre estes dois países intensificam-se nos anos 90. O nosso
país encontra no mercado brasileiro boas condições no investimento na metalomecânica, no têxtil, em
energias alternativas, no turismo e nas telecomunicações. A EDP, o grupo SONAE, a CIMPOR e a
Portugal Telecom são algumas das empresas portuguesas que têm beneficiado destes laços entre os
países. Estes laços também se intensificam no contexto dos fluxos migratórios.