Modulo 2 A 9 Historia A

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MÓDULO 2 - Dinamismo civilizacional da Europa Ocidental nos

séculos XIII a XIV - espaços, poderes e vivências


1. A identidade civilizacional da Europa Ocidental
1-REFERIR, EM TERMOS GENÉRICOS, OS ELEMENTOS DE UNIDADE E DE DIVERSIDADE NA

EUROPA DO SÉCULO XIII

A multiplicidade de poderes e crenças no espaço europeu teve origem particularmente nas profundas

mutações políticas, sociais e económicas que deram origem a trás grandes conjuntos civilizacionais.

Depois da queda do império Romano do ocidente (476), a anterior unidade imperial mediterrânea foi sendo

substituída por uma multiplicidade de novos estados, sobretudo de origem germânica, muitos dos quais estão na

origem de estados europeus da Europa contemporânea.

Da inserção desses povos no mundo romano nasceu uma sociedade original. Nos reinos que se firam

formando os conquistadores, (cerca de 5% da população), acabaram por se misturar com as populações romanas

e romanizadas, operando-se uma síntese entre elementos romanos e germânicos. Sob a acção evangelizadora de

bispos e monges, o Cristianismo e o legado da cultura greco-romana penetraram nos reinos bárbaros, emergindo

uma nova civilização europeia cristã. Esta foi sendo construída com uma identidade própria face a outros dois

conjuntos civilizacionais que rodeavam a bacia mediterrânea:

No mediterrâneo oriental, herdeiro do Império Romano do Ocidente, o rico e próspero Império Bizantino

permanecera uma importante referência política e cultural para a cristandade ocidental.

Quanto ao Islão, os Árabes, sob a direcção de Maomé, que pregara uma nova religião, o Islamismo.

Apesar do cristianismo ser a religião comum á Igreja ocidental e oriental, no século XI operou-se uma

cisão entre a Igreja ortodoxa (de tradição grega) e a Igreja católica (de tradição latina).

Esta divisão consagrou a separação entre uma Europa oriental de cultura grega e forte presença eslava e

uma Europa ocidental de cultura latina e forte presença germânica. A separação ficou ainda mais marcada depois

do século XIII, quando o Império Bizantino começou a sofrer a concorrência das cidades italianas.

Assim, os contributos greco-romano, germano e cristão, fundindo-se em graus diversos, constituíram o

fundo comum da civilização da Europa Ocidental.

2-DISTINGUIR, COMO UNIDADES POLÍTICAS, REINOS, SENHORIOS E COMUNAS

 Uma geografia política diversificada

 Impérios e reinos:

No início do século IX houve uma primeira tentativa de restauração do Império Romano do Ocidente. A

unificação territorial partiu de um dos mais fortes reinos da Europa Ocidental – o Império Carolíngio.

As disputas territoriais entre os herdeiros das zonas do antigo Império Carolíngio e novas investidas

sobre a Europa (Normandos, Árabes, Húngaros) tornaram evidentes as dificuldades do poder central, entrando-

se num período de instabilidade.

O enfraquecimento do poder central permitiu que os poderes públicos fossem transferidos para os grandes

senhores locais, passando a haver uma fragmentação do poder.


No entanto, o Império Romano e a tentativa carolíngia de construir uma unidade cristã permaneceram

como referência no imaginário medieval. Na Germânia, no século X, teve lugar uma nova tentativa d restaurar o

Império do Ocidente, que foi designado Sacro Império Romano-Germânico.

Em meados do século XIII, o prestígio do título imperial era grande, embora pouco eficaz.

A Europa cristã era constituída sobretudo por um conjunto de reinos autónomos, em que as relações de

poder entre os reis, os grandes senhores nobres e o clero variavam conforme as circunstâncias históricas de

cada região.

 Senhorios

A monarquia ou o império eram os modos como o poder se exercia a nível dos estados. A nível local, o

poder sobre as populações era exercido por grandes senhores, nobres ou eclesiásticos, nos senhorios, em nome

do poder soberano.

Este modo de organizar o poder provinha das necessidades de uma sociedade que se construíra em

tempo de guerra e sem instituições que fizessem a ligação entre o poder soberano e as populações. Para obter

exércitos de cavaleiros bem equipados com armas e cavalos, vitais num tempo de guerra, os reis tinham cedido

partes do território – os senhorios – a grandes senhores nobres ou eclesiásticos, a fim de que estes os

administrassem e mantivessem exércitos prontos a combater. Esta pratica era igualmente utilizada pelos

grandes senhores, que usavam o mesmo sistema com outros membros da nobreza menos poderosos, que lhes

ficavam sujeitos. Estas concessões eram acompanhadas pela exigência de fidelidade e criavam laços de

solidariedade entre a camada dirigente.

Como o poder central estava distante e muitas vezes enfraquecido, os grandes senhores passaram a

exercer em nome próprio as prerrogativas da autoridade pública que anteriormente pertenciam ao rei.

Este poder de mando do senhor – o poder de ban – traduzia-se essencialmente no poder militar e no de

julgar e punir. Exercia-se não só sobre camponeses, mas também sobre pequenos nobres e era acompanhado pelo

dever de proteção daqueles a que a ele estavam sujeitos.

Em troca das funções governativas e judiciais, o senhor recebia variadas taxas sobre a circulação de

mercadorias e portagens, bem como variadas prestações – os direitos banais ou banalidades.

o O senhorio enquadrava, assim, politicamente as populações que nele viviam.

 Comunas:

Após o século X verificou-se um desenvolvimento económico assinalável na

Europa. Esse desenvolvimento foi acompanhado pelo crescimento das cidades, numa altura em que a autoridade

pública central estava ainda muito enfraquecida.

O poder pertencia aos grandes senhores que, muitas vezes, viviam nos seus castelos em zonas rurais, e

era daí que exerciam a sua administração e proteção sobre as populações. O centro do poder estava longe da

cidade e, além disso, os interesses dos mercadores e artesãos muitas vezes colidiam com os dos senhores. A sua

atividade exigia maior segurança e autonomia relativamente às obrigações que as produções camponesas tinham

para com os grandes senhores. Os habitantes das cidades procuraram obter dos senhores ou dos reis mais

liberdade e os poderes necessários ao exercício das suas atividades.

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Verificou-se assim um movimento urbano através do qual os habitantes das cidades procuraram adquirir

o direito de se autogovernarem, o que deu origem a novas formas de exercício do poder, mais adequadas ás

populações urbanas. As condições de governação das cidades estavam expressas num documento – a carta de

comuna – onde estavam consignados os direitos e deveres dos habitantes das cidades.

No início, nas comunas prevalecia um ideal igualitário. Muitas vezes, este ideal foi quebrado por alguns

burgueses ricos que formaram uma oligarquia mercantil e financeira que se apoderou do poder da cidade, o que

levou á revolta dos pequenos e médios mercadores e artífices.

No Ocidente medieval do século XII havia, assim, uma multiplicidade e diversidade de poderes que se

entrecruzavam. O império, os reinos, os senhorios e as comunas constituíam uma Europa politicamente

diversificada onde, de diferentes modos, se exerciam os poderes que organizavam a vida das populações.

No século XIII, em toda a Europa, desenvolvimento económico tornou possível o lançamento de impostos

que permitiram manter uma administração e um exército, garantes da segurança e viabilizadores da criação do

Estado. Esta ação foi sustentada pelo renascimento do direito romano, em que os reis se apoiaram na luta contra

os interesses senhoriais.

Afirmou-se uma nova noção de autoridade pública, independente do seu titular, inalienável e indivisível,

cujo limite é a utilidade geral (bem comum). Face á distinção entre o soberano e soberania, a realeza não era

passível de ser confundida com o poder pessoal do rei, constituindo-se, assim, a noção de Estado. Com novos

meios, dispondo de cortes ou parlamentos, os reis procuraram reforçar o poder real, consolidando o direito e a

justiça e fazendo dos seus reinos entidades independentes, lançando as bases dos estados modernos.

3-RECONHECER, NO SACRO IMPÉRIO ROMANO-GERMÂNICO, A PERSISTÊNCIA DA IDEIA DE UM

IMPÉRIO ROMANO E CRISTÃO

4-MOSTRAR O PAPEL DESEMPENHADO PELA RELIGIÃO NA COESÃO INTERNA DO MUNDO

OCIDENTAL

A Igreja desempenhara um papel extremamente importante junto das populações desde os primeiros

tempos das migrações bárbaras.

Estas populações foram convertidas pela Acão de bispos e monges a um cristianismo comum, o que tornou

possível a fusão entre esses povos e os romanos: o Cristianismo iniciava um papel unificador da Europa Ocidental.

Roma, a cidade de onde irradiava o poder do imperador, passou a ser o lugar de onde irradiava a

missionação. Foi a partir dela que o bispo Roma levou a efeito uma politica de fortalecimento do seu poder,

procurando impor-se como chefe da Cristandade.

No entanto, essa Acão não foi pacificamente aceite nem pela Cristandade Romana oriental nem pelo

imperador do Sacro Império. Em 1054, UM CISMA DIVIDIU A CRISTANDADE, isto é, houve a separação entre

a Igreja Católica, sob o papa de Roma, e a igreja Ortodoxa Grega, sob o patriarca de Constantinopla.

O papado encontrou também dificuldades em impor-se na chefia da Cristandade ocidental, pois desde a

criação do Império Carolíngio, a salvação do povo cristão era atribuída quer ao Papa, na ordem espiritual, quer ao

imperador, na ordem temporal. Mas havia divergências no modo de encarar as relações entre o poder espiritual

(da Igreja)e o poder temporal(dos reis e imperadores).

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Por um lado, os imperadores germânicos tentaram controlar as eleições pontificais e o clero. O hábito de

escolher os candidatos que pretendiam para os cargos eclesiásticos generalizou-se (simonia).

Passou a haver uma imbricação das funções religiosas na hierarquia feudal, pois bispos e abades

tornaram-se grandes senhores feudais, possuidores de grandes terras.

Por outro lado, os papas tentaram fortalecer o seu poder. O papa Gregório VII continuando uma politica

de reforma iniciada pelo seu antecessor, procurou redefinir as relações entre a dimensão espiritual e a

temporal.

Na continuidade de medidas que estabeleciam que a eleição do Papa competia a um colégio de cardeais,

determinou que a designação de bispos, abades e clérigos pertence apenas a membros do clero. Afirmou também

que apenas o Papa, em nome de Cristo, tinha um poder absoluto e universal, estando acima dos príncipes, que

podia depor sempre que não respeitassem os direitos de Deus e da Igreja. O poder espiritual era assim superior

ao poder temporal.

A estes princípios opuseram-se muitos reis e príncipes e, sobretudo, os imperadores do Sacro Império

Romano – Germânico.

No século XIII, o papa Inocêncio III reafirmou a primazia romana, de origem divina. Como tal, todas as

igrejas nacionais estavam submetidas á Santa Sé. Iniciou a centralização romana com o desenvolvimento da

administração eclesiástica e da fiscalidade. Afirmava-se a teocracia, em que o papado seria o guia da sociedade

cristã, una, sob a direção do Papa.

5-CARACTERIZAR, EM TERMOS RELIGIOSOS, CULTURAIS E GEOGRÁFICOS, OS OUTROS MUNDOS:

BIZÂNCIO E O ISLÃO

Juntamente com o crescimento da influência do papado, houve um conjunto de fatores que originou a

afirmação da Cristandade ocidental, tanto perante o mundo bizantino como perante o mundo muçulmano.

O desenvolvimento económico e o aumento da população, as ambições de prestigio de alguns reis e

senhores, o gosto e a necessidade da guerra dosa cavaleiros, criaram condições propicias para um movimento

expansionista, religioso e militar, da Cristandade ocidental, que foi designado por cruzada.

As cruzadas permitiam que os Ocidentais conhecessem melhor a cultura bizantina e desenvolvessem as

trocas comerciais.

6-INDICAR OS FACTORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A PROSPERIDADE EUROPEIA DOS SÉCULOS

XI A XIII

Depois de longos séculos de crise e instabilidade a Europa reencontro, de novo, a força e o seu espírito

empreendedor.

Entre o século XI e o século XIII, o Ocidente viveu um período de desenvolvimento económico e um contínuo

crescimento demográfico. Os fatores que contribuíram para a prosperidade foram a expansão agrária e o

crescimento demográfico.

 Expansão agrária e crescimento demográfico

O desenvolvimento que esteve na base do crescimento económico europeu teve início no mundo rural.

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Houve um aumento de produtividade, resultante do progresso dos utensílios e das técnicas de exploração

da terra:

 Substituição da madeira pelo ferro nas alfaias agrícolas (que deu maior rentabilidade ao trabalho)

 Melhor aproveitamento da força animal (que facilitaram o trabalho nos campos e os transportes)

 Rotação trienal de culturas (que deixava apenas um terço da terra em pousio contra a metade do

afolhamento bienal)

 Fertilização dos campos (com marga, cinza e estrume animal, permitindo uma maior rentabilidade

dos solos)

Estes progressos associados a uma melhoria do clima permitiram o aumento do rendimento das terras e

uma melhoria da alimentação. As épocas de crises agrícolas e de fome tornaram-se menos frequentes,

favorecendo o aumento da população. A população europeia praticamente duplicou. Por seu lado, o aumento

demográfico permitiu e exigiu a expansão agrária: era necessário alimentar a população que crescia, o que

conseguiu com uma melhor e mais extensa exploração da terra.

O aumento da superfície cultivada proveio do arroteamento (expansão da área cultivada) ou

desbravamento de novas terras, pela ação conjunta de camponeses, monarcas, senhores nobres e ordens

monásticas – a floresta, que cobria grande parte do ocidente europeu, foi reduzida em favor dos campos arados.

7-EXPLICAR O SURTO URBANO

O dinamismo do mundo rural foi acompanhado pelo ressurgimento das cidades:

 Crescimento dos velhos centros burgos – a população das cidades herdadas da época romana

aumentara de tal forma que a área urbana deixara de a comportar, obrigando á formação, fora das muralhas, de

novos bairros. Estes novos bairros – “burgos de fora” – foram crescendo na zona do arrabalde (exterior das

muralhas).

 Aparecimento de novas cidades – que surgiram em redor dos castelos e mosteiros.

As cidades onde decorriam os mercados e as feiras, cativaram e provocaram a vinda de muitos

camponeses, que pretendiam a libertação das imposições senhoriais e novas vias de ascensão social.

O crescimento das cidades foi rápido e intenso. Porém, as cidades conservavam uma estreita relação

económica com o mundo rural. Especializadas na produção artesanal e na atividade comercial, as populações

urbanas não poderiam subsistir sem os produtos fornecidos pelos campos.

A procura de produtos exercida pela cidade funcionou como um poderoso incentivo ao desenvolvimento da

economia rural. A comercialização dos excedentes agrícolas integrou o mundo rural nos circuitos comerciais.

O mundo rural permitiu a redução de parte das atividades artesanais que, geralmente, se destinavam ás

necessidades domésticas, passando a depender dos produtos que a cidade fornecia.

No entanto, estas trocas complementares revertiam a favor da burguesia urbana e mercantil.

Embora minoritária no mundo medieval, a cidade foi núcleo dinamizador das mudanças sociais e do

desenvolvimento económico baseado no comércio e nas atividades artesanais.

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8-ENQUADRAR AS RELAÇÕES CIDADE-CAMPO NO RENASCIMENTO DE UMA ECONOMIA DE

MERCADO

O maior rendimento agrícola permitiu a existência de excedentes que podiam ser vendidos, favorecendo

as trocas a nível local e regional.

Com o desenvolvimento económico, os locais e os circuitos de troca tornaram-se essenciais.

 Mercados – surgiam espontaneamente ou eram estimulados pelos senhores da localidade, interessados

em aumentar os seus rendimentos através das taxas cobradas pela circulação e venda de produtos. Eram

periódicos (semanais ou mensais) e neles se comercializavam os excedentes da produção agrícola e os produtos

artesanais da região. Eram frequentados por produtores e consumidores locais podendo ocasionalmente receber

a visita de pequenos mercadores itinerantes.

 Feiras – nos locais onde os negócios se mostraram mais propícios, alcançaram importantes volumes de

vendas e tenderam tornar-se periódicas (frequentemente anuais), associando-se muitas vezes a festividades

religiosas. Pela sua dimensão, realizavam-se muitas vezes fora das cidades, sob autorização das autoridades da

região e duravam uma ou várias semanas.

Os reis e senhores incentivaram a sua realização concedendo cartas de feira. Estas estipulavam os

tributos a pagar pelos feirantes, atribuíam privilégios e garantias especiais, que iam desde a concessão da

guarda própria e de salvo-condutos á “paz de feira” e isenção de impostos (feiras francas).

Percorrer as feiras obrigou ao desenvolvimento dos circuitos de comunicação terrestre e dos meios de

transporte para pessoas e mercadorias.

9-DESCREVER A CONFIGURAÇÃO DA CIDADE-MEDIEVAL

As cidades medievais - de entre os séculos XI e XV - dividem-se em diversas categorias:

-as cidades de génese romana, que podem ter sido abandonadas em determinada época e depois reocupadas ou

ainda, no declínio do Império Romano do Ocidente, ter decrescido; 

-as cidades que evoluíram a partir de aldeias;

-as que têm na sua base um núcleo militar e que foram aceitando e implementando o comércio, chamadas

normalmente de burgos;

-as cidades novas;

-e as denominadas cidades bastide, que surgiram no País de Gales, em Inglaterra e em França e se desenvolvem à

volta de um castelo.

Somente a partir do século X a Europa começou a atingir uma certa estabilidade económica, comercial e política

que permitiu o crescimento das cidades que tinham entrado em declínio após a queda do Império e o

desenvolvimento dos burgos, sendo que o século XIII é usualmente considerado como aquele que mais propiciou a

vida e a evolução da cidade.

As tipologias variam de cidade para cidade, pois algumas, sobretudo as que datam do período romano,

correspondem a um planeamento urbano em forma de retícula, enquanto que outras, resultantes de adaptações e

evoluções, apresentam uma estrutura muito mais caótica, de crescimento orgânico e descontrolado. Existem,

contudo, estruturas coincidentes em quase todas elas, como, por exemplo, as muralhas, os edifícios e jardins, os

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circuitos viários, o mercado e a igreja. As muralhas, para além de servirem de defesa, funcionavam também como

portagem ao comércio, e, como eram barreiras físicas ao crescimento urbano, tinham de ser sucessivamente

criadas novas cinturas, como aconteceu, por exemplo, na cidade de Florença. As ruas, que começaram a ser

pavimentadas e por onde circulavam bestas de carga e pessoas, revestiam-se de importância especial por ligarem

todos os sítios onde se comerciava, que era praticamente em toda a cidade. Ao lado das ruas cresciam os

edifícios, sobretudo em altura e muito juntos, uma vez que o espaço confinante com a via era social e

comercialmente valorizado. A praça do mercado situava-se normalmente no centro da urbe ou junto à rua

principal, e encontrava-se rodeada de edifícios de cota mais ou menos igual, com galerias por baixo. Esta praça

podia ter diversas formas, desde a triangular à oval e à quadrada. Em frente à igreja situava-se igualmente uma

praça (por vezes confinante com a do mercado), que se revestia de importância particular por ser lá que se

reuniam, em convívio, os fiéis antes e depois da missa, e onde eram também deixados os cavalos dos não

residentes.

10-LOCALIZAR OS PÓLOS MAIS DINÂMICOS DA ECONOMIA EUROPEIA

11-TRAÇAR UM QUADRO GENÉRICO DE ROTAS E PRODUTOS

As atividades comerciais foram tendo uma importância crescente na Europa Ocidental. Nos séculos XII e

XIII, o comércio externo desenvolveu-se com maior dinamismo em algumas regiões europeias:

 Flandres – as cidades de Gand, Ypres, Bruges e Donai eram grandes centros manufatureiros

especializados na produção de lanifícios. Graças á sua posição geográfica estratégica bem como á força da sua

industria, a Flandres não só exportava os seus panos mas também atraía comerciantes oriundos das mais

diversas partes da Europa.

À flandres chegavam produtos do Báltico e da Rússia (cera e peles), produtos mediterrâneos e especiarias

orientais trazidas pelos italianos, produtos espanhóis (amêndoas, figos, uvas), portugueses (mel, couro, azeite,

uvas), ingleses (lãs, chumbo, estanho, queijo).

 Hansa – era a maior força económica e comercial do Báltico e as suas principais cidades eram

Hamburgo, Dantzig, Riga. Colónia e Lubeque. Os comerciantes comercializavam produtos agrícolas, madeiras,

peles, etc.

 Cidades italianas – os italianos desenvolviam o comércio em Génova e Veneza. Comercializando

tecidos de seda, pedras preciosas, pérolas, alúmen, peles, madeira, peixe e arenque salgado.

 Feiras da Champagne – realizadas nas cidades de Lagny, bas-sur-Aube, Provins e Troyes, foram as

mais importantes de todas as feiras medievais. A sua localização geográfica e as regalias que os reis e senhores

ofereciam aos viajantes atraíram mercadores de toda a Europa.

Aí se trocavam lanifícios, sedas, artigos de couro, peles, linhos, cereais, vinhos e corantes.

12-EXPLICAR O DESENVOLVIMENTO DAS NOVAS PRÁTICAS FINANCEIRAS

A economia monetária sobrepunha-se lentamente á economia natural.

Esta era um sistema económico em que toda a produção excedentária se destinava ao mercado, tornando as

trocas essenciais e indispensáveis.

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O intenso desenvolvimento comercial obrigava a uma maior utilização da moeda e a inovações nas técnicas

dos negócios.

 Cheques e letras de câmbio – funcionavam como um papel-moeda que evitava o uso do numerário.

Assim, permitiam substituir o transporte de dinheiro vivo, sempre mais arriscado e volumoso, fazendo operações

de pagamento em papel.

 Sociedades comerciais – permitiam reunir capital a uma escala a que os particulares dificilmente

poderiam ter acesso e, da mesma forma, repartir os lucros do negócio proporcionalmente a esse investimento

inicial.

 Câmbios – eram uma necessidade constante numa economia de mercado que manuseava moedas tão

díspares como o florim (Florença), o ducado (Veneza) ou o tari (moeda muçulmana).

 Bolsas de mercadores – companhias de seguros que mediante o pagamento de certas quantias por

frete realizado para um fundo comum, cobriam os riscos das viagens, na proporção dos capitais investidos.

13-EVIDENCIAR A FRAGILIDADE DO EQUILÍBRIO DEMOGRÁFICO

Ao período de enormes progressos da demografia e da economia demográficas europeias dos séculos XII

e XIII sucedeu um período de recessão.

Um conjunto de circunstâncias adversas, por vezes atuando em simultâneo, provocou uma recessão

demográfica e económica, tendo a Europa passado por uma fase de instabilidade social e política.

Nos finais do século XIII, a população europeia atingira um nível difícil de manter com o

desenvolvimento técnico existente.

Os maus anos agrícolas pioraram a situação. Com efeito, devido a uma série de condicionalismos climáticos,

ocorreram maus anos agrícolas por toda a Europa, provocando quebras na produção. A carência de alimentos e a

carestia de vida por ela provocada trouxeram a fome a muitas regiões. Os organismos depauperados tornavam-

se mais susceptíveis a contrair doenças e menos resistentes a epidemias e a conjunção destes factores levava á

tendência para a diminuição da população europeia.

Depois de 1348, esta tendência para o recuo demográfico foi agravada pelos efeitos de uma terrível

epidemia: a Peste Negra.

Originária do Oriente, esta epidemia, muito contagiosa, espalhou-se por toda a Europa. Apesar de algumas

regiões europeias terem sido menos atingidas, em muitas regiões houve quebras entre 30 e 50% da população.

Em algumas zonas, as aldeias ficaram desertas devido á morte ou abandono dos seus habitantes.

Com a queda demográfica que provocou, a Peste Negra agravou a depressão económica que se vinha a

sentir. A diminuição do consumo e a falta de mão-de-obra desestabilizaram o mercado, verificando-se alterações

nos preços, nos salários e no valor da moeda.

Esta situação foi agudizada pelos conflitos militares, pois o século XIX foi também um século de

conflitualidade.
2.1 A fixação do território – do termo da Reconquista ao estabelecimento e fortalecimento das fronteiras

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1-MAPAS DA RECONQUIST

Fronteiras de
Portugal em 1185

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2-SUBLINHAR A ACÇÃO DO CONDE D-HENRIQUE E DE D. AFONSO HENRIQUES PARA A

DEFINIÇÃO DO ESPAÇO PORTUGUÊS

O condado foi concedido a D. Henrique a título de dote hereditário, pelo seu casamento com D. Teresa,

filha de D. Afonso VI, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o conceder ao conde D.

Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os Mouros. Pode-se mesmo afirmar

que Portugal é um produto da reconquista cristã. Quer a autonomização politica e o alargamento territorial do

reino de Portugal, resultaram da luta contra os muçulmanos que dominavam a Península.

Com efeito, foram as vitórias no campo de batalha contra o Islão, que deram a D. Afonso Henriques o

prestígio e a autoridade necessários para reivindicar, junto das autoridades castelhana e papal, o direito de

usar o título de rei e ser aceite como soberano pelos seus súbditos.

Foi ainda o sucesso militar que lhe permitiu obter um território suficientemente amplo para viabilizar a

existência de Portugal como reino independente. Alargando a sua fronteira para sul até à linha do Tejo -Sado,

Afonso Henriques conquista a cidade de Santarém em 1147. A sua posse abriu-lhe caminho à tomada de Lisboa,

feito alcançado com a ajuda dos cruzados, em 14 de Outubro desse mesmo ano. Seguiram-se-lhes as conquistas

de Sintra, Almada e Palmela, fortalezas importantes para a defesa de Lisboa, e mais tarde de Alcácer do Sal

(1158-1160).

Ao mesmo tempo que se ia processando o alargamento territorial para Sul, D. Afonso Henriques e os

seus sucessores dividiam os seus esforços no povoamento e na organização administrativa, e económica e social

das áreas conquistadas, elementos fundamentais para a consolidação das fronteiras e para a própria

sobrevivência do Reino.

Para realizar estes objetivos, foram concedidos inúmeras cartas de Foral, criaram-se os primeiros órgãos da

administração central e fizeram-se importantes doações de terras e privilégios às ordens religiosas e às ordens

militares.

A conquista ou a tomada de posse por D. Afonso III, em 1249, das cidades e castelos do Algarve que ainda se

encontravam nas mãos dos mouros concretizaram o grande objetivo de estenderas fronteiras de Portugal até ao

limite Sul do território até ao mar.

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3-SITUAR A DEFINIÇÃO DO ESPAÇO PORTUGUÊS NO CONTEXTO DA RECONQUISTA

A definição do território de Portugal e a sua existência como entidade politica independente no Oeste

peninsular, está intimamente ligada ao processo da Reconquista (Séculos VIII-XV). A Reconquista Cristã deu-se

com a formação do condado Portucalense em 1096, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o

conceder ao conde D. Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os mouros.

4-MOSTRAR OS AVANÇOS DA RECONQUISTA E DO SEU TERMO

Portugal nasceu e consolidou-se como reino independente e definiu as suas fronteiras em estreita

ligação com o processo da Reconquista cristã peninsular.

Por isso podemos dizer que o nosso País é um produto da Reconquista.

Ao longo do tempo Portugal foi-se definindo e consolidando o território e a autonomia politica.

Na Reconquista já é feita uma distinção entre concelhos rurais e concelhos urbanos, sendo os primeiros

constituídos por pequenos grupos de povoadores, enquanto os segundos se dividiam em burgos, onde as pessoas

viviam dependentes do poder senhorial e onde uma carta de foral concedia aos seus moradores igualdade de

direitos.

Os concelhos criados ou legalizados pelos forais, dispunham de graus variáveis de autonomia. Esta

exprimia-se nomeadamente, através da existência de uma assembleia e de magistrados locais eleitos, na

garantia das liberdades individuais e na exclusão do exercício dos direitos senhoriais na área municipal e era

simbolizada pelo uso de um selo próprio e pela existência do pelourinho.

O rei era o maior e mais poderoso dos senhores, reservando para si, em exclusivo, certos direitos, como

o de justiça maior, o comando militar e a cunhagem da moeda.

A partir do século XIII, a reestruturação central e local e a abertura das Cortes à participação dos

representantes dos concelhos vieram dar mais força e autoridade à realeza para combater a expansão

senhorial.

5-EXPLICAR AS CONDIÇÕES DO ESTABELECIMENTO DEFINITIVO DAS FRONTEIRAS DE PORTUGAL

A definição do espaço territorial português ficou concluída em 1297 com a celebração do Tratado de

Alcanices entre D. Dinis, de Portugal e D. Francisco IV de Castela. Fixou-se assim de forma praticamente

definitiva, a fronteira Leste do País: O rei de Portugal assegurou a posse das praças tomadas na terra de Riba-

Côa, juntamente com Olivença, Campo Maior, Ouguela e São Feliz de Galegos, assim como Moura e Serpa, já

cedidas em 1295 mas não entregues em contrapartida, desistiu das suas pretensões relativamente a Aracena,

Aroche, Ferreira, Esparregal e Aiamonte. Portugal estabelecia assim, ainda no século XIII, as fronteiras do seu

território, que com pequenas alterações posteriores, haveriam de permanecer até aos nossos dias.

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A origem e evolução da maioria das famílias nobres portuguesas na Idade Média, estão relacionadas com

a emigração de além-fronteiras (Leão, Castela, França, Norte da Europa) e a promoção social como recompensa

por serviços prestados nas lutas da Reconquista, ao longo dos séculos XI e XII.

Esta realidade histórica permite compreender a predominância do regime senhorial no Noroeste

português na região entre Douro e Minho, e no litoral até ao Mondego, onde um grande número de senhores

sujeitou pela posse das armas e pelo exercício de poderes públicos uma numerosa massa de camponeses. O

regime senhorial avançou depois para Sul do Tejo, através das concessões às ordens militares, encontrando os

maiores obstáculos na política de centralização régia e nas instituições concelhias, criadas ou preservadas pela

concessão de cartas de foral.

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Como nos demais reinos europeus, em Portugal a nobreza era uma categoria social privilegiada,

distinguindo-se pelo exercício de funções politicas e militares, que faziam dela um auxiliar imprescindível da

Realeza. Os reis governavam através dos nobres, que aparecem muitas vezes na documentação qualificados como

fideles, os fiéis, e faziam a guerra com o apoio das suas armas e dos seus homens. O uso das armas e do cavalo,

a posse de terras e a sua familiaridade com o poder davam-lhes uma enorme superioridade sobre o conjunto da

população.

A nobreza como as restantes ordens sociais, não constituía uma categoria social semelhante. Na realidade

integravam-na grupos ou classes com níveis de rendimento e até de estatuto muito diferenciados. Os ricos-

homens, magnates conhecidos como nobres de pendão e caldeira – tinham o poder e a autoridade para

arregimentar sob o seu estandarte cavaleiros e peões e os meios para os sustentar no decurso de uma campanha

militar, aproveitaram as ações militares da luta contra os mouros para conquistar os favores dos reis. A quem se

encontravam ligados pelo sistema de vassalidade, para obter imunidades, enriquecer e transformar-se no grupo

mais importante de entre os nobres. Abaixo destes homens-ricos situava-se um grupo muito mais numeroso de

aristocratas terratenentes que, na sua maioria, descendiam das antigas famílias de homens livres dos períodos

romano, suevo e visigodo, os infanções (nobres de nascimento) e ainda uma nobreza que vivia fundamentalmente

do serviço militar e que era constituída por cavaleiros e escudeiros.

10-DESCREVER A EXPLORAÇÃO ECONÓMICA DO SENHORIO

A nobreza senhorial vivia da terra e das rendas dominiais, conjunto de bens em espécie, dinheiro ou

serviço, que cobrava aos camponeses que cultivavam as suas propriedades (as honras) e sobre os quais exercia

uma jurisdição limitada. As honras beneficiavam de um conjunto de privilégios e imunidades muito favoráveis

para os seus titulares, como o direito de proibição de entrada a funcionários régios, a isenção do pagamento de

impostos e a autonomia judicial e administrativa. No entanto, a Realeza manteve sempre o controlo sobre o

poder senhorial, reservando para si determinados direitos, como a justiça maior (pena de morte ou corte de

membros), ou mesmo combatendo-o abertamente. 

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O país urbano e concelhio – multiplicação de vilas e cidades concelhias
O país rural e senhorial, nascido no Entre Douro e Minho, cedo se complementou com um país de cidades e vilas
concelhias. Trata-se do país urbano e a sua pujança e protagonismo verificam-se do século XII em diante. Mas
em que contexto as cidades e vilas irromperam e se desenvolveram em território português? Recuemos no
tempo. Em 1064, Coimbra é definitivamente conquistada aos muçulmanos. Em 1075, a construção da catedral de
Santiago de Compostela, onde se abrigava o túmulo do apóstolo, faz deste local um dos centros de devoção mais
concorridos da Cristandade medieval. Tal significa que o espaço a norte do Mondego, que em breve fará parte do
reino de Portugal, se vê sulcado de peregrinos e caminhos que demandam a cidade do noroeste da Galiza. Com tal
movimento, é natural que os núcleos urbanos se revitalizem, readquirindo um dinamismo desconhecido há séculos,
pelo estado de guerra então vivido. O Porto e Guimarães, por exemplo, saem beneficiados. Entretanto, a
Reconquista prosseguia e, com ela, territórios de forte presença urbana, que o domínio muçulmano além de
preservar soubera estimular, acrescentavam-se ao Norte tradicionalmente rural e senhorial. Referimos já a
conquista de Coimbra; à cidade do Mondego juntavam-se, na segunda metade do século XII, Lisboa, Santarém e
Évora como polos estruturadores da futura evolução económica e política do reino de Portugal. Doravante, o
Entre Douro e Minho ficará secundarizado face a um Centro e Sul que dele recebe excedentes demográficos,
que herda os saberes artesanais e os contactos comerciais do mundo muçulmano, que valoriza as transações
monetárias e onde comunidades de homens livres, e não exclusivamente os senhores, tomam nas mãos o exercício
do poder local. Eis um dos motivos por que Afonso Henriques transfere a capital de Guimarães para Coimbra.
Libertava-se das exigências da fidalguia nortenha, que o pusera no trono e angariava apoios de estirpes menos
nobres, é certo, mas, nem por isso menos gratas e ousadas.

A presença da corte, então verdadeiramente itinerante, nas cidades do Centro (Coimbra, Leiria) e Sul
(Santarém, Lisboa, Évora) contribuiu, por seu turno, para a consolidação das estruturas urbanas do reino nos
seus primeiros séculos de existência. Com o seu séquito de funcionários e letrados, a proliferação de serviços
burocráticos e de forças militares, cada vez mais se distanciavam aqueles centros urbanos do país rural, face ao

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qual se sentiam mais poderosos e esclarecidos. Se a presença régia prestigiava uma urbe, não menor
engrandecimento derivava das suas funções eclesiásticas. Referimo-nos, concretamente, às sedes de bispado, as
únicas a merecerem a designação de cidades. Remontavam aos primeiros tempos de organização do Cristianismo
na Península e, certamente, a sua reconquista e posterior restauro foram motivo de desmedido orgulho. 
A urbanidade de uma povoação media-se, em grande parte, pelo seu grau de superintendência jurídica. A cidade
e a vila concelhia dispunham, na verdade, de uma capacidade auto-administrativa, maior ou menor, que os
monarcas e, às vezes, um senhor lhe concederam através de uma carta de foral. Num país que nasceu à sombra
de castelos e igrejas, compreende-se o privilégio que representava a vida num concelho, onde as amarras
senhoriais eram mais ténues ou praticamente inexistentes. Ele explica-se, especialmente, pela necessidade de
atrair moradores a zonas que urgia defender e povoar: a Beira interior, a Estremadura, o Alentejo. Nestas
regiões se situaram, predominantemente, os concelhos perfeitos ou urbanos, cuja organização analisaremos mais
adiante. 
O desenvolvimento urbano dependeu da proximidade dos eixos de comunicação, da facilidade dos transportes
terrestres, do estabelecimento e dinamismo de uma rede comercial. Para alimentar a sua população e, em
simultâneo, exportar as suas produções rurais e artesanais, a cidade deve inserir-se numa vasta rede de trocas.
Ao surto urbano português não é, por conseguinte, estranho o ressurgimento comercial que o Ocidente medieval
viveu a partir do século XII. Não é por acaso que as urbes de maior dimensão, como Guimarães, Porto, Coimbra,
Santarém, Lisboa e Évora, se localizavam num eixo norte-sul paralelo à costa atlântica, com a qual facilmente
comunicavam. Ao dinamismo dos seus mercadores se deve a concessão das respectivas cartas de foral. 

* Concluindo:
Beneficiando das peregrinações a Santiago de Compostela, do avanço da Reconquista, da estância da corte régia,
do restauro das sés episcopais, da criação de concelhos e do dinamismo comercial, Portugal recuperou, desde o
século XII, uma fisionomia urbana.

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO CITADINO


* Urbanismo cristão e urbanismo muçulmano 
Embora os Romanos, com o seu espírito prático e organizador, nos tivessem legado cidades regulares construídas
segundo o sistema em quadrícula, a verdade é que as urbes medievais portuguesas já nada revelavam do
urbanismo latino. Sucessivas invasões e contributos civilizacionais de Godos e Muçulmanos, a construção
desorganizada e os acidentes de terreno somaram-se, durante séculos, para conferir um fácies à cidade
portuguesa que não a afastava muito das suas congéneres peninsulares. Assim, quer no nosso território quer na
restante Ibéria, distinguia-se, em princípio, um urbanismo cristão, a norte, de um urbanismo muçulmano, mais
nítido à medida que caminhamos para sul. Apesar de não faltarem no primeiro as ruas tortuosas e os becos sem
saída, como em qualquer cidade medieval que se prezava, o facto é que a urbe cristã sempre dispunha de uma ou
mais praças (um luxo nas densas e labirínticas cidades do sul!) e, de um modo geral, irradiava a partir de um
centro, enquanto a cidade muçulmana se distribuía pela alcáçova, reservada aos dirigentes, e pela almedina, a
zona popular. De fundação cristã ou de influência muçulmana, há, no entanto, traços comuns no urbanismo
medieval, tanto mais quanto os contactos económicos e culturais não escasseavam, mesmo quando os dois mundos
ferozmente se digladiavam; e tanto mais também quanto, à medida que a Reconquista progredia, a integração das
diferenças se processava.

* O espaço amuralhado
Antes de mais, a cidade medieval portuguesa, como as suas irmãs peninsulares ou os burgos europeus, destacava-
se na paisagem por estar envolta numa cintura de muralhas. De maior ou menor perímetro, com as suas ameias e
os seus cubelos, a muralha delimitava o espaço urbano, dava-lhe segurança e proventos (pelas inúmeras taxas
pagas nas suas portas e postigos), além de embelezá-la! Com indisfarçável orgulho, os citadinos gravavam, nos
seus selos concelhios, as muralhas, qual símbolo do poder e autonomia. 
Desde o século XIII, o crescimento demográfico do reino e as movimentações populacionais estiveram na origem
de reestruturações urbanísticas de vulto. As obras iniciaram-se ainda com D. Dinis, prosseguiram com D. Afonso
V e terminaram no reinado de D. Fernando, que passou à História como o monarca construtor de cercas por
excelência. Muitos dos antigos arrabaldes (bairros extra-muros) bem como zonas rurais ficaram, então, incluídos
nas novas cinturas de muralhas e não tardaram a encher-se de construções e habitantes.

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Toda a cidade medieval comportava uma zona nobre, um centro, que se distinguia do restante espaço. E dizemos
nobre, não porque nele habitassem os aristocratas de sangue — que, aliás, sofriam de várias limitações para
construir casas na cidade —, mas porque nele se situavam os edifícios do poder e moravam as elites locais.
Referimo-nos ao castelo ou à torre de menagem do alcaide, à Sé ou igreja principal, ao paço episcopal, aos paços
do concelho, às moradias dos mercadores e mesteirais abastados. São edifícios altivos, de robusta pedra que
desafia os tempos. Não longe deles estava o mercado principal numa praça ou rossio, se bem que muitos outros
mercados proliferassem no interior da cidade medieval. Fora daquele centro, que hoje nos chocaria pelo
amontoado das construções e pela falta de espaço que, por certo, impediria uma boa panorâmica da catedral, a
cidade espraiava-se numa desordem total. Só no reinado de D. Dinis se abriram ruas para servirem de eixo
ordenador do espaço urbano. Mais largas que o habitual iam directamente de um ponto ao outro da cidade,
ligando duas das suas portas. Chamavam-se ruas direitas e, tal como as ruas novas surgidas desde o século XII,
enchiam de satisfação os citadinos, que aí abriam as suas melhores oficinas, lojas e estalagens. Tudo o mais eram
ruas secundárias, autênticas vielas para os nossos padrões, fétidas, escuras e poeirentas, raramente calcetadas,
onde os despejos se faziam a céu aberto, cães e porcos focinhavam e mil perigos espreitavam. Nelas se
distribuíam as habitações populares, as oficinas dos mesteirais, as tendas para a venda dos produtos e, até,
albergarias e hospitais, que acolhiam peregrinos, pobres e doentes. Uma curiosa compartimentação sócio-
profissional levava a que os ofícios se agrupassem em ruas específicas, que a toponímia viria a perpetuar. Donde
os curiosos nomes das ruas dos Sapateiros, Correeiros, Pelames, Caldeireiros, do Ouro, da Bainharia ou dos
Mercadores. Facilitava-se, desse modo, a aquisição da matérias-primas, a aprendizagem das técnicas, a
comercialização de bens. Não faltavam, na cidade medieval portuguesa, as minorias étnico-religiosas: os judeus e
claro, por razões históricas, os mouros submetidos. Muitos dos judeus eram mesteirais (ourives, alfaiates,
sapateiros), mas houve-os também médicos, astrónomos, cobradores de rendas. Mais letrados que o comum dos
cristãos (as discussões teológicas, na sinagoga que também era escola, a tal os predispunha), mais abastados,
dados à usura e ao negócio, embora os humildes não faltassem, os judeus viviam em bairros próprios, as
judiarias, com os seus funcionários, juízes e hierarquia religiosa. Durante séculos, e apesar do antagonismo
religioso e de pontuais invejas motivadas pela sua superioridade económica e intelectual, a sociedade portuguesa
tolerou os judeus e as cidades, como vimos, albergaram-nos dentro de muros. Um grupo numeroso de judeus era,
aliás, entendido como símbolo de dinamismo económico do burgo.

Em finais do século XV, a convivência entre os dois credos romper-se-ia Referimo-nos ao momento em que um
edicto de D. Manuel obrigou os judeus à conversão, sob pena de expulsão. Quanto à comunidade mourisca, não foi
senhora de uma abastança comparável à dos judeus. A opinião pública fixou a máxima do «trabalhar que nem um
mouro» sinal da condição inferior dos islâmicos. Mas nem por isso os cristãos deixaram de os recear: relegaram-
nos, também, para bairros próprios — as mourarias—, que fizeram situar no arrabalde.

*O arrabalde
Localizado fora de muros, o arrabalde acabou por se transformar num prolongamento da cidade. Nele se
encontravam as hortas, tantas vezes designadas de almuinhas (palavra de origem árabe), que, juntamente com os
ofícios poluentes (pelames ou curtumes), estavam próximos de cursos de água. Os ferreiros eram outro grupo de
mesteirais que, frequentemente, se fixava nos arrabaldes. A fuligem e o barulho ensurdecedor que saía dos seus
martelos e bigornas tornava-os tão indesejáveis, no espaço intra-muros, quanto os surradores e os carniceiros.
Outros, como os carpinteiros e calafates navais do Porto, desceram as escarpas da sua acidentada cidade, vindo
fixar-se à beira-rio onde deram origem ao próspero arrabalde de Miragaia. Para muitos mesteirais e
mercadores, o arrabalde constituía um local privilegiado. Instalando as suas oficinas e lojas nas vias que
conduziam às portas da cidade, eram naturalmente os primeiros a abastecerem os que dela saíam e os que nela
entravam. No arrabalde semanalmente, tinha lugar um bem fornecido mercado, onde citadinos e aldeãos se
cruzavam. Nem sequer animação lá faltava: aos habituais malabaristas e saltimbancos vinham juntar-se, por
vezes, as touradas. Contudo, um certo ar de marginalidade rodeava o arrabalde. Não só as actividades menos
limpas para ele eram remetidas. Os pedintes e os leprosos, esses párias que a sociedade medieval hostilizava,
confinavam-se ao seu espaço. Eis o motivo por que as ordens mendicantes se instalaram nos arrabaldes desde o
século XIII. Atraídos pelo mundo da pobreza e da exclusão, Franciscanos e Dominicanos desempenharam com
êxito a sua missão de assistência e protecção aos humildes e desenraizados.

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* O termo
Para além do arrabalde, espraiava-se o termo, espaço circundante de olivais, vinhas ou searas e aldeias várias
incluídas. Sem o termo a cidade medieval não poderia viver. Nele exercia a jurisdição e o domínio fiscal; nele
impunha obrigações militares. A tal dava direito a autonomia das cidades e vilas concelhias... Semanalmente, os
aldeões do termo acorriam ao mercado que se realizava junto às portas da cidade. Traziam os indispensáveis
produtos da terra; no fim das vendas, não partiriam, certamente, sem antes transporem a muralha e adquirirem
nas lojas uma peça de pano, calçado ou as alfaias agrícolas de que estavam necessitados. Tal era o prestígio e a
abastança oriundos da posse do termo que os monarcas o alargavam ou encurtavam se desejassem agraciar ou
castigar as cidades! Foi o que aconteceu na Revolução de 1383-85, em que vilas como Santarém, por seguirem o
partido de D. Beatriz, viram o seu termo reduzido. Já o Porto, que tudo dera à causa do Mestre de Avis,
receberia de presente Gaia, Vila Nova, Azurara e Mindelo.

O EXERCÍCIO COMUNITÁRIO DE PODERES CONCELHIOS; A AFIRMAÇÃO POLÍTICA DAS ELITES


URBANAS
Já referimos como a necessidade de repovoar o interior e o sul do país, obtendo simultaneamente a ajuda militar
das populações, levou monarcas e senhores a reconhecerem a autonomia político-administrativa de parcelas do
território. Trata-se dos concelhos, comunidades de homens livres, cujos privilégios e obrigações ficaram
consignados nas cartas de foral. Durante os séculos XII e XIII concederam-se forais à maior parte das cidades
e grandes aldeias; frequentemente, limitavam-se a sancionar formas embrionárias de organização local e
tradições de autonomia existentes no Sul muçulmano. Referimo-nos, concretamente, às liberdades que, nas
cidades islâmicas, costumavam ser concedidas às comunidades cristã (moçárabe e judaica). O número mais
significativo de concelhos, sobretudo daqueles que lograram maiores capacidades de gestão governativa, situava-
se nas regiões fronteiriças das Beiras, na Estremadura e no Alentejo. Eram os chamados concelhos urbanos ou
perfeitos. Compreendiam a cidade propriamente dita, ou vila, sedes do concelho, cuja área de influência
jurisdicional — o termo — incluía aldeias e uma vasta população rural. Chamavam-se vizinhos a todos os homens
livres, maiores de idade, que habitavam a área concelhia há um certo tempo e que nela trabalhavam ou eram
proprietários. Deles estavam excluídos os nobres e os clérigos, a não ser que se submetessem às leis comuns e
abdicassem dos seus privilégios. O mesmo acontecia com as mulheres — exceção feita às viúvas —, os judeus, os
mouros, os estrangeiros e, naturalmente, os servos e escravos. Aos vizinhos competia a administração do
concelho. Revestia o carácter de uma administração comunitária, distinta da do senhorio que pertencia a um
único titular. Para o efeito, os vizinhos integravam a assembleia (concilium), que era o grande órgão deliberativo
do concelho. Conhecidas por posturas municipais, as decisões da assembleia dos vizinhos regulamentavam
questões económicas relacionadas com a distribuição de terras, o aproveitamento dos pastos e dos bosques, o
exercício dos mesteres, o abastecimento dos preços, não descurando, também, os preceitos de higiene, a
manutenção da concórdia e dos bons costumes entre os habitantes. Mas as competências mais significativas do
concelho, precisamente aquelas que distinguiam um município perfeito de outro imperfeito, eram as que se
relacionavam com a administração da justiça e a eleição dos magistrados. Fixemos seus nomes e funções. Os
alcaides ou juízes (dois ou quatro), também chamados de alvazis, eram os supremos dirigentes da comunidade.
Os almotacés (doze no século XIII) estavam encarregados da vigilância das atividades económicas (mercados,
preços e medidas), da sanidade e das obras públicas. O procurador exercia o cargo de tesoureiro e representava
externamente o concelho. Quanto ao chanceler, competia-lhe guardar o selo e a bandeira do concelho. A estes
magistrados acrescentavam-se, desde 1340, os vereadores (dois a seis), nomeados pelo rei de entre os vizinhos.
Possuíam vastas competências legislativas e executivas, vindo a sobrepor-se, inclusivamente, à assembleia dos
vizinhos e aos restantes magistrados. Alcaides, almotacés, procuradores ou vereadores, todos os magistrados
pertenciam à elite social do concelho, sendo comummente chamados de homens-bons. Eram proprietários rurais
e donos de razoáveis cabeças de gado nas terras do interior; já nas cidades do litoral, as suas fortunas
provinham, maioritariamente, do comércio. Até ao século XIII desempenharam um papel fundamental na
Reconquista e defesa do território a sul do Mondego. Por isso, a realeza os agraciara ao fazê-los cavaleiros-
vilãos. Serviam na guerra a cavalo, com as suas armas de ferro e os seus séquitos de peões. Mereciam um
tratamento judicial reservado aos infanções, não podendo receber açoites. Do ponto de vista fiscal, estavam
isentos do pagamento da jugada e dispensados de fornecer a pousadia. Ao protagonismo social, derivado das suas
riquezas e dos privilégios alcançados, os homens-bons somavam a preeminência política, já que monopolizavam os
cargos e as magistraturas do concelho. Evitavam a todo o custo a participação dos nobres e dos próprios
mesteirais nas vereações camarárias. Até na composição da assembleia dos vizinhos, os homens-bons se

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impuseram, excluindo os peões, menos favorecidos economicamente. É verdade que estes não possuíam a
abastança e a disponibilidade necessárias para se deslocarem às reuniões na cidade ou vila. Mas, é verdade
também, os homens-bons invocavam o pretexto de um elevado número de pessoas tornarem as reuniões
conflituosas e inoperantes.

O PODER RÉGIO, FACTOR ESTRUTURANTE DA COESÃO INTERNA DO REINO


Monarquia feudal – Monarquia na qual o rei se assume como o maior e mais poderoso dos senhores feudais; em
troca de doações e da concessão de proteção faz convergir para a sua figura os laços de dependência pessoal de
vassalos e súbditos. Seguindo as tendências então vigentes na França dos sécs. XII e XIII, a monarquia feudal
portuguesa, que também fundamentava o poder real no direito divino, caminhou para a centralização, em virtude
de o rei nunca abdicar da chefia militar e da justiça suprema. Dotada de funcionários e de órgãos do governo
especializados, a monarquia portuguesa foi capaz, desde 1211, de criar Leis Gerais.

Analisar o funcionamento da monarquia feudal.


Na monarquia feudal, cabia á figura régia e à instituição monárquica o difícil e importante papel de unificar os
particularismo, dotando o espaço territorial de coesão interna e conferindo às suas gentes uma identidade
nacional. Esta monarquia pode ser caracterizada como tocada pelas vivências e relações de dependência feudal,
que o rei habilmente manejava para se afirmar e impor.
Na monarquia feudal portuguesa o rei era o “dominus rex” (rei senhor). Isto é, o rei assumia-se como um senhor
feudal na sua corte de vassalos.
Tal como no resto da Europa o reino era considerado um bem pessoal do rei, que ele transmitia aos seus
descendentes (primogénito varão – primeiro filho homem) tal como podia doar parcelas do território nacional
(coutos, honras) a senhores nobres e eclesiásticos, como recompensa de serviços prestados nos primórdios da
monarquia que, em troca de tal cedência de bens e poderes (fundiários, militares, judiciais e fiscais), criou a
realeza uma corte de vassalos, que lhe devia fidelidade e apoio nas tarefas de defesa, expansão e administração
do reino. Ao rei era lhe permitido cobrar rendas ou exercer o poder público nos seus domínios pessoais, os
reguengos, mas também nos alódios e nos concelhos, que exigia prestações públicas de natureza judicial, militar
ou fiscal.
Também o governo do reino era considerado património pessoal, neste caso, de uma família ou dinastia.

Sublinhar a passagem da monarquia feudal à monarquia centralizada.


(Fatores que contribuíram para a centralização do poder régio)
1. O monarca é considerado um representante de Deus na Terra (monarquia de direito divino)
2. O monarca (=rei) concentra cada vez mais as funções de rei:
 poder militar (chefia do exército e convocação direta dos homens para a guerra);
 poder judicial (o rei possui a justiça maior: aplica pena de morte, talhamento de membros e
direito de apelação);
 poder fiscal (criação das Sisas Gerais, impostos por todos os súbditos; e cunhagem exclusiva de
moeda);
 poder legislativo (em 1211 Afonso II publica as primeiras Leis Gerais: destinavam-se a combater
os privilégios senhoriais; regulamentarem questões monetárias; tabelarem dos preços e ainda
para impor os bons costumes e a moral)
3. Reestruturação da administração central:
 Criação de um corpo de altos funcionários:
 Alferes-mor: posto mais alto da hierarquia militar
 Mordomo-mar: chefiava na administração civil do reino
 Chanceler (auxiliado por notários e escrivães) : guarda os selos régios e redacção dos
diplomas régios)
 Escrivão da Puridade : secretário pessoal do rei
 O concelho consultivo do rei ou CÚRIA RÉGIA passa a estar dividido em três órgãos:
 Concelho régio – correspondendo às antigas reuniões ordinárias (normais) da Cúria Régia, este
concelho funciona como um órgão permanente de apoio ao rei (passa a ser composto
maioritariamente por legistas);
 Tribunais superiores – trata das questões da justiça maior e são compostos também por
legistas.

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 Cortes – as primeiras cortes reuniram em 1254, no reinado de D.Afonso II, em Leiria.
Correspondem ás antigas reuniões extraordinárias da Cúria Régia. Eram compostas por
representantes do Clero, da nobreza e dos Concelhos (povo). Tratavam das questões mais
importantes como: aclamação de novos reis, lançamento de novos impostos, quebra da moeda.
4. Reforço do poder do rei ao nível da administração local:
 O país foi dividido em comarcas (divisão administrativa dirigida por um meirinho), julgados
(divisões judiciais dirigidas por corregedores e juízos de fora), almoxarifados (divisões fiscais dirigidas por
almoxarifes).
5. Reforço do poder do rei face aos grandes senhores:
 leis de Desamortificação
 inquirições
 confirmações

A partir do séc. XIII Progressiva Centralização do Poder Régio

Monarquia Centralizada (séc. XIV)

Como era composta a reestruturação da administração central.


A administração central era marcada pela itinerância da corte que com ela acompanha o governo central
compostos por um corpo de funcionários e assembleias (pgt acima).
Como órgão consultivo de apoio á administração, dispunham os monarcas de uma Cúria Régia. Nela se debatiam
todos os problemas relativos à administração do reino, desde os assuntos da governação quotidiana às
questões económicas e desde a confirmação das doações régias ás questões da paz e da guerra.
Acrescentavam ainda importantes funções judiciais como, o julgamento dos conflitos da nobreza e, cabia
ainda o papel de supremo tribunal do reino, decidindo da aplicação da justiça maior e dos casos que apelavam
para o rei.
Quando os assuntos revestiam uma dimensão nacional, o monarca convocava uma Cúria extraordinária em que
todos os elementos da Cúria ordinária entre outros de importantes cargos eram chamados para a sua
resolução.
Este divide-se em três órgãos … (pgt acima)

Evidenciar a intervenção do rei na administração local.


Nas áreas concelhias, para além da organização da administração dividida das regiões (2ºpgt), o rei intervinha
ao longo dos séculos XIII e XIV nestes concelhos representado :
 pelo alcaide-mor, que comandava as tropas ao serviço da Coroa e vigiava as atividades judiciais
locais;
 pelos almoxarifes e mordomo, que cobravam os direitos e as rendas devidos ao rei;
 pelo corregedor e juízes de fora, que inspecionavam os magistrados e a administração municipal;
 pelos vereadores, os novos magistrados concelhios.
Com esta intervenção, o rei não pretendia anular a autonomia dos concelhos mas zelar pelos seus direitos; mas,
sobretudo, estava interessado em promover o bem público, eliminando abusos e arbitrariedades do poder local.
Discriminar as medidas régias de combate à expansão senhorial.
Criação nas Leis Gerais no reinado de D.Afonso II as:
 Leis de Desamortização (proibição de os mosteiros e igrejas adquirirem bens de raiz)
 Confirmações (representaram o reconhecimento, pelo rei, dos títulos de posse de terras e direitos
da nobreza e do alto clero, doados pelos predecessores);
 Inquirições (averiguações feitas nos bens reguengos sobre os direitos e rendas devidos ao rei,
permitiram descobrir que os fidalgos, as ordens militares, os bispos e os abades haviam cometido
inúmeras usurpações, tendo o monarca determinado que as propriedades régias usurpadas
deveriam voltar á posse da Coroa)

Exemplificar a afirmação de Portugal no quadro político Ibérico.

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O prestígio da monarquia portuguesa atravessou fronteiras, em que no contexto político ibérica, o rei de
Portugal, D.Dinis, foi um interlocutor apreciado que interveio nas decisões internas do reino de Castela. Uma
dessas intervenções suscitou o Tratado de Alcanices e, com ele, a resolução do problema da fronteira terrestre
entre os dois reinos.
Para a sua afirmação contribui também a Coroa de Aragão onde se estreitaram os laços – o monarca português
casou com a princesa Isabel de Castela; a intervenção, no reinado de Afonso IV, cujo apoio militar é solicitado
pelo seu genro, Afonso XI, em que os Merínidas de Marrocos ameaçavam restaurar o domínio muçulmano na
Península.; e ainda quando as forças portuguesas e castelhanas travaram a Batalha do Salado com as hostes
muçulmanas, a vitória cristã foi total. Portugal afirmava-se assim, entre os grandes, ombreando com os monarcas
peninsulares.

3. Valores, vivências e quotidiano


Linha Conceptual
No século XIII, a cidade fervilha de inovações: abre as suas portas às novas formas de arte, erguendo, em
estilo gótico, catedrais altíssimas; acolhe os estudantes que acorrem às suas escolas e universidades; desenvolve
novos laços de solidariedade, dando um novo sentido à caridade cristã.
Partilhando estes tempos de mudança, a velha nobreza guerreira deixa-se imbuir (convencer) dos nobres ideias
da cavalaria, que as histórias romanceadas de heróis reais e lendários propagam pela Europa. Assim se adopta,
nas cortes régias e senhoriais, outra forma de estar e de conviver, mais refinada, em que o amor passa a assumir
um lugar destacado.
Nesta época, abrem-se também novos horizontes geográficos. O gosto pelas viagens, adormecido desde o fim do
mundo romano, desperta nos Europeus. Cruzam-se os caminhos do comércio, percorrem-se os caminhos de
peregrinação, encetam-se longas travessias rumo a um Oriente fabuloso e desconhecido. A vastidão do mundo
começa a entrever-se. Aos Portugueses caberá, mais tarde, precisar os seus contornos.

Caracterizar a época medieval


A época medieval é um período muito extenso da vida da humanidade (cerca de 1000 anos) que se convencionou
balizar entre as datas 476 (queda do Império Romano do Ocidente) e 1453 (queda do Império Romano do
Oriente). Naturalmente, um período tão alargado no tempo corresponde a muitas transformações ao nível do
tempo curto (dos eventos ou acontecimentos) e do tempo médio (das conjunturas). No entanto, é possível
destacar algumas características perenes, isto é, duradouras, que se mantiveram praticamente inalteradas ao
longe de todo esse período: estamos a falar das estruturas correspondentes ao tempo longo. Assim, na Euro pa
Ocidental, podemos destacar as seguintes:
Estrutura económica - era centrada, essencialmente na agricultura, sector pouco desenvolvido porque estava
dependente dos fatores climáticos e da mão-de-obra. É de salientar, no entanto, a crescimento agrícola
registado a partir do século XI, possibilitado por um conjunto de inovações na forma tradicional de cultivar . A
acompanhar o progresso agrícola, assinala-se o progresso comercial, através da criação de uma rede de rotas
comerciais dominada pela Flandres, pela Liga Hanseática e pelas cidades italianas.
Estrutura demográfica - uma elevada taxa de mortalidade, sobretudo infantil, impedia que a população
aumentasse significativamente, apesar da também elevada natalidade. Uma vez que a evolução da população
era consequência direta do sistema económico, os progressos na agricultura e no comércio dos séculos XI a
XIII constituíram um fator importante para o crescimento demográfico e para o surto urbano desses séculos.
Noutras épocas, nomeadamente no século XIV, a fraca produtividade agrícola (fomes) aliava-se às doenças
(pestes) e aos conflitos políticos (guerras) para produzir um recuo demográfico.
Estrutura social - era assente em estratos ou ordens - clero, nobreza e Terceiro Estado categorias sociais
rigidamente separadas consoante os seus deveres e privilégios. Dentro do Terceiro Estado deve ser destacada
a singularidade da burguesia, grupo em ascensão no século XIII devido ao enriquecimento pelo comércio e à
ascensão a cargos de chefia na administração dos burgos.
Estrutura política - depois de um período muito conturbado politicamente, devido às invasões de diversos
povos no espaço do antigo Império Romano, a Europa cristalizou-se politicamente em reinos, senhorios e
comunas, sobressaindo, no centro da Europa, o Sacro Império Romano-Germânico coma tentativa de unificação
europeia. Nos campos, a palavra-chave é dependência: relações de dependência entre senhores nobres, por um
lado, e entre estes e os membros do povo, par outro. 0 Rei, neste contexto, fez esforços, sobretudo a partir
do século XIII, para impor a seu estatuto de Líder. Servia-se, muitas vezes, do apoio da elite citadina para

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obter a centralização do seu poder.
aspeto arquitetural – inicialmente o românico, com monumentos relativamente baixos, pouca luz e poucas
janelas, com o arco redondo e fraca decoração. Existia uma arquitetura religiosa (conventos / mosteiros,
igrejas e catedrais → Sé Velha de Coimbra) outro civil (casas → Domus Municipalis de Bragança) e uma outra
militar (castelos e muralhas).
Aspetos culturais – Reter sobretudo o papel relevante do clero na transmissão dos saberes antigos, através
do trabalho realizado nos conventos e mosteiros pelos monges copistas, tradutores, iluministas, etc. Sendo o
clero também a única classe que sabia ler e escrever.
Havia além disso, embora de modo mais restrito, uma cultura profana cultivada por jograis e trovadores
(cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer), por cronistas (caso das crónicas de Fernão Lopes ou de
Gomes Eanes de Zurara) e romancistas (Amádis de Gaula e toda a literatura em torno do rei Artur e dos
cavaleiros da Távola redonda ) . Pintura e escultura tiveram proporções menos relevantes.

Reconhecer os elementos característicos do estilo gótico.


A Arte gótica é característica da Europa entre os séculos XII e XIV, caracterizada pela abundância decorativa
ao nível da escultura e da pintura, pela utilização de arcos quebrados e abóbadas em ogiva que facilitaram a
verticalidade das construções, sobretudo catedrais, pelos arcobotantes que lhes conferiu elegância e leveza, e
pelas janelas e rosáceas com vitrais que lhes criou luminosidade interior. A decoração das igrejas preocupava-se
com a evangelização dos fiéis e com a doutrinação. Era também comum encontrar-se arcos em ogiva, apoiados em
colunas altas, bem como abóbadas ogivais ou de cruzamento de ogivas, evoluindo para a abóbada de arestas, já
utilizada no românico, e que confere aos portais e às arcaturas interiores um aspeto de verticalidade e elevação.
Como soluções típicas da arquitetura gótica surgem igualmente os contrafortes e os arcobotantes, com o fim de
reforçar os pontos de pressão. No fundo, a arte gótica introduziu o pensamento filosófico da época, realçando o
equilíbrio matemático, a ordem racional do mundo criado por Deus, sendo por isso valioso por si e o ideal Realista
e Naturalista, proporcionado, individualizado e expressiva, refletindo assim a cultura urbana.
Todos estes elementos conferiam à catedral gótica a sua imponência e grande identidade No caso português, este
estilo apareceu tardiamente em comparação com o resto da Europa, dado o tardio surto Urbano de Portugal.

Principais elementos construtivos:


 Arco quebrado – veio substituir o arco de volta inteira, este arco também chamado de «arco gótico»
confere aos portais e às arcaturas interiores um aspeto de verticalidade e elevação.
 Abóbada de cruzamentos de ogivas – esta identifica-se pelos arcos diagonais de suporte (ogivas) que
são compostas por secções independentes (tramos) justapostas. Os arcos de cada tramo desempenham o
papel de uma armação, suportando o peso da abóbada e descarregando-o nos quatro ângulos onde se
encontram os pilares, permitindo assim fragilizar as paredes, introduzindo-lhes grandes aberturas
preenchidas por vitrais.
 Arcobantes – servem para reforçar, no exterior, os pontos de pressão. O arcobante é composto pelo
estribo que é reforçado por um pináculo e por um ou mais arcos que, partindo do estribo, vêm apoiar as
paredes da nave central. Arcobantes, pináculos e elementos decorativos conferem á catedral gótica grande
parte da sua imponência e identidade.
 As torres altas com agulhas, que pretendiam aproximar-se do céu , conferiam também um aspeto de
verticalidade, muito tradicional do gótico

Ligar o estilo gótico à afirmação do mundo urbano.


Com o objetivo de embelezar e engrandecer, os burgueses contribuíam com quantias avultadas para as grandes
construções urbanas, daí que surge um novo estilo artístico, o Gótico, que dá expressão ao orgulho citadino. As
suas construções eram elevadas a grandes alturas como meio de competir com a cidade vizinha quem era a mais
poderosa, quanto mais alta fosse maior seria a importância do burgo e das suas gentes.
Coincidindo com este espírito construtivo, um novo estilo artístico, o Gótico, dá expressão ao orgulho citadino,
portanto o importante papel de embelezar e mostrar o orgulho que o burguês tinha na sua cidade.
Podemos assim concluir que o gótico apoiou a renovação das cidades ao longo dos séculos XI e XIII, com a
construção de edifícios de cariz religiosos, como catedrais, entre outros.
O gótico exprime por isso uma elite social urbana a Burguesia empenhada na demonstração do seu poder
financeiro, nem que para isso tivesse de competir com as elites das cidades vizinhas, rivalizando a construção de

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catedrais, o expoente máximo do gótico, cada vez mais altas e exuberantes.

Identificar construções góticas portuguesas.


Mosteiro de Alcobaça e da Batalha e a Sé de Évora

Justificar o nascimento nas cidades de novas formas de solidariedade


Durante o século XIII, a cidade foi um lugar de prosperidade, atraindo muitos
Camponeses que abandonavam o campo e que se instalavam nos arrabaldes das cidades. Porém, estas nem sempre
lhes ofereceram trabalho e os migrantes experimentavam a miséria e a solidão por falta das redes tradicionais
de apoio, como os vizinhos, as famílias, as paróquias. Neste contexto surgiram novas estruturas de apoio aos
desfavorecidos, entre elas, as confrarias.
As confrarias eram associações de entreajuda de cariz religioso, que se organizavam em torno de um Santo. Estas
destinavam-se a proteger os associados nos momentos difíceis da vida, como a pobreza, doença ou morte. Reuniam
habitualmente certas categorias profissionais ou sociais, para defenderem os seus interesses. Além da protecção
dos seus membros, visavam a formação profissional e qualidade do trabalho, e evitavam a concorrência mútua,
tabelando preços e salários. Deste modo, estas associações de carácter solidário, juntavam-se a associações de
carácter profissional, as corporações, que uniam os profissionais do mesmo ofício, promovendo a solidariedade
social. Cada confraria tinha os seus estatutos, aos quais estavam os confrades obrigados a respeitar. Os fundos
para estas associações provinham não só de uma pequena quotização anual, obrigatória para todos os irmãos, como
também de generosas ofertas dos confrades mais ricos.

Sublinhar o papel das ordens mendicantes na renovação da religiosidade cristã


Os progressos registados ao nível económico, na Idade Média, tiveram os seus efeitos sobre a sociedade,
diferenciando os mais ricos, que procuravam cada vez mais ostentar o seu poder, dos mais pobres, que viam a sua
miséria cada vez mais evidenciada pelo constante cortejo de riqueza.
Para amenizar estas desigualdades desenvolveram-se novos laços de união e cooperação que, com o tempo, se
estruturaram em organismos de solidariedade destinados à ajuda mútua e à prática da caridade. Embora nascidos
quase espontaneamente, muito do seu êxito ficou a dever-se à renovação espiritual trazida pelas ordens
mendicantes, bem como à propagação de uma religião de misericórdia, à defesa do princípio da providência Divina,
à responsabilização do crente pelos seus hábitos e à participação de uma comunhão entre o crente e Deus,
originando uma mentalidade mais fraterna e preocupada com o sofrimento alheio.
Na Idade Média a Igreja Católica, contrariando os seus ideais, identificava-se com o grupo dos ricos, levando uma
vida luxuosa, valendo-lhe assim o repúdio de muitos crentes, que se afastaram do catolicismo. Para contestar e
contrariar o luxo do clero surgiram movimentos de retorno à humildade e pobreza originais do cristianismo dentro
da própria Igreja. De todos, o que mais contribuiu para mudar comportamentos e mentalidades foi o das ordens
mendicantes, criadas por S. Francisco e S. Domingos.
S. Francisco fundou a Ordem Franciscana, a dos Frades Menores (no sentido de humildes), que viviam numa
pobreza absoluta, trabalhando e esmolando para garantir o sustento diário (daí o termo mendicantes). Dedicava-
se à pregação e à ajuda dos mais infelizes e necessitados.
S. Domingos fundou uma ordem que partilhava os mesmos ideais os Dominicanos -, que porém davam maior ênfase
à pregação como forma de combate às heresias, pelo que os seus membros se dedicavam afincadamente ao estudo
da Teologia, atingindo alguns deles, como S. Tomás de Aquino, grande fama como professores universitários. As
ordens mendicantes contribuíram grandemente para a renovação da vida religiosa e das vivências comunitárias
medievais, desenvolvendo os sentimentos de solidariedade e amor ao próximo que inspiraram a criação das
confrarias e outras associações de socorro mútuos.

Enquadrar a expansão do ensino nas transformações económicas e políticas dos últimos séculos da Idade
Média.
No séc. XI, organizaram-se as primeiras escolas urbanas, onde a multiplicidade destas deveram-se ás novas
necessidades da administração e da economia. As cidades precisavam de pessoas com estudos para os seus mais
altos cargos nos tribunais, nas repartições públicas, ou seja, de homens de letra que constituíssem o novo
funcionalismo público, necessários à centralização do poder pelos monarcas. Assim contribuíram para o
desenvolvimento económico do país e para preencher cargos na política.

Sublinhar o papel desempenhado pelas universidades na renovação cultural da Europa.

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No decurso do séc. XII, algumas escolas catedralícias obtiveram, pela qualidade dos seus mestres, fama
internacional que atraíam assim, numerosos estudantes estrangeiros e especializaram-se em áreas como o
Direito, a Teologia ou a Medicina.
Consoante a estrutura da escola se foi dificultando, houve a necessidade de criar uma estrutura rígida, que
definisse claramente as matérias a estudar e a forma de obtenção dos graus académicos, podendo também
defender os seus membros, docentes e alunos. Foi então que surgiram as universidades. Estudar numa
universidade passou a ser, desde então, uma forma de adquirir prestígio e subir na escala social. Foi assim que
começaram importantes e prestigiadas Universidades pela Europa, como as duas escolas catedrais a de Notre-
Dame, em Paris, e a de Bolonha e, mais tarde em 1290 a primeira universidade portuguesa de nome, o Estudo
Geral de Lisboa.

Caracterizar o ideal cavaleiresco.


A nobreza identificava-se, por volta de 1300, com um ideal mais elevado: o do perfeito cavaleiro.
A primeira condição exigida ao cavaleiro é o seu bom nascimento, pois para entrar na cavalaria tinha de ser
nobre. Este deveria seguir uma série de virtudes militares herdadas dos séculos anteriores: a honra, a coragem,
a lealdade para com o se senhor. A estas somam-se a virtude e a piedade, pois a cavalaria é, simultaneamente, um
ideal profano e religioso, que por isso deveriam também seguir um ideal de cruzadas.
Estes ainda deveriam seguir um código de amor que existia entre os cavaleiros: o cavaleiro é o herói que serve
por amor.

Descrever a educação do jovem cavaleiro.


A concretização dos ideais cavaleirescos só poderia ser feita através de uma educação rigorosa. Só depois de
ter transporto todas as suas etapas e de ter dado provas da sua habilidade e valentia, o jovem tinha a suprema
honra de ser «armado cavaleiro».
A educação do jovem cavaleiro nos seus primeiros anos de vida era feita sob os cuidados da sua mãe e depois, já
rapaz, era enviado para o paço de um senhor de maior estatuto, onde permanecia até a idade adulta. Aí servia,
primeiro, como pajem (cerca de 7 anos), iniciando-se na equitação e no manejo de armas. Em adolescente este
tornava-se escudeiro onde, durante 7 anos, este servia um cavaleiro, a quem tratava do cavalo e das armas,
acompanhando-o nas suas expedições e assistindo-o em tudo o que respeitasse às lides de cavalaria. Durante
este período o jovem desenvolvia um treino intenso onde praticava uma série de desportos, onde se destacavam
a caça, os torneios e as justas.
Depois de cerca de 14 anos de aprendizagem, o jovem escudeiro proferia os votos de cavalaria que eram
enquadrados por um ritual solene. Por fim, era investido numa ordem de cavalaria, recebendo as esporas de
cavaleiro e a tão desejada espada.

Relacionar o código de cavalaria com as regras do amor cortês


Tal como existia um ideal de cavaleiro, também as relações entre nobres e damas, nas cortes, obedeciam a um
ideal de amor, pautado pelo refinamento e pela espiritualidade. Para conquistar a sua amada, o cavaleiro
nobre deveria ser virtuoso, paciente, elegante no vestir, bem-humorado, respeitoso perante as mulheres,
enquanto a dama, bela e púdica, deveria alimentar o seu amor com gestos comedidos.
Ideal de amor cortês - a homenagem do cavaleiro à sua dama era cultivada através da poesia trovadoresca.
Nas festas cortesãs, era habitual que, após o banquete, os jograis recitassem poesia e tocassem música; depois,
os convidados dançavam, já não em grupos, como antes do século XII, mas em pares. Embora nascida no sul da
França (Provença), a poesia trovadoresca conheceu um extraordinário acolhimento na Península Ibérica sob o
impulso de Afonso X, rei de Castela, e graças à criatividade dos poetas portugueses (entre os quais 0 próprio
neto de Afonso X, 0 rei D. Dinis) nos géneros das Cantigas de Amigo , das Cantigas de Amor e nas de Escárnio e
maldizer.
- Ideal de amor cortês
- Definido nas relações entre os homens e mulheres segundo:
. Respeito pelas damas.
. Elegância no vestuário.
. Educação refinada.
. A mulher como símbolo de veneração.
. Os conceitos de moda
. A submissão ao homem.

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. A homenagem do cavaleiro à dama.
. A reputação.
.Visão idílica do amor

Sublinhar a importância assumida pela literatura na difusão de novas formas de sociabilidade.


O florescimento das cortes régias e senhoriais proporcionaram o convívio entre os dois sexos que, a partir do
séc. XII, revestiu uma forma específica, conhecida por amor cortês. O amor cortês é essencialmente espiritual
em que a sua dama corresponde ao tipo idealizado de mulher.
Esta propagação do ideal de amor cortês teve importância nas poesias trovadorescas.
O amor foi, pois uma componente essencial da sociabilidade cortesã, e da cultura erudita da Idade Média. Sobre
ele, a sua essência e a sua valia travaram-se longos debates e escreveram-se algumas das obras mais belas deste
período. Ele foi, para muitos, um código de vida, senão mesmo um ideal de vida.
O ideal de cavalaria e o Ideal de amor cortês são indissociáveis das formas literárias que os sustentaram e
difundiram:
Ideal de cavalaria - os preceitos a que devia obedecer o cavaleiro foram tratados literariamente na narrativa
de cavalaria, destacando-se as novelas sobre o rei Artur, os cavaleiros da Távola Redonda e a sua busca do
Santo Graal (novelas arturianas). Na Península Ibérica é de salientar, pelo impacto que teve sobre varias
gerações de o romance Amadis de Gaula. Já no que concerne aos aspetos práticos da formação do cavaleiro, é
uma fonte importante 0 Livra da Ensinança da Arte de Bem Cavalgar em toda a Sela, verdadeiro manual de
equitação dos jovens cavaleiros, da autoria do rei português D. Duarte.

Justificar o culto prestado pela Nobreza aos seus antepassados


A memória dos antepassados é característica das famílias nobres que assim trazem ao presente feitos valorosos
da sua ascendência. A história dos antepassados servia para valorizara categoria social da Nobreza, afastando-a
do anonimato. Por outro lado, servia também para legitimar os direitos a bens fundiários e patrimónios, como
recompensas pelas conquistas aos Mouros. Este culto era revestido também de uma função pedagógica, que
inspirava os herdeiros a seguir o exemplo dado pelos seus antepassados.
Desta forma nasceu a literatura genealógica, onde os senhores faziam escrever as suas memórias ancestrais, que
se difundiu largamente entre a Nobreza europeia dos séculos XIII e XIV.

Explicar o renascimento do gosto e da prática das viagens.


O renascimento do gosto dá-se nos sécs. XIII e XIV quando, sob o impulso do comércio, as velhas barreiras
geográficas, que tinham fechado a Europa entre si mesma e isolado as suas regiões, começaram a ceder. O
desenvolvimento do grande comércio criou laços entre os mercadores e os governantes. Assim muitas viagens
aliaram-se ao negócio missões político-diplomáticas e muitos comerciantes começaram a desempenhar o papel de
embaixadores das cortes da Europa.

Reconhecer nas romarias e peregrinações uma forma típica de religiosidade medieval.


Na Idade Média, a religião assumia contornos muito concretos exprimindo-se pela prática dos atos rituais: a
oração nas horas canónicas, a assistência aos ofícios religiosos, a confissão, a penitência, os jejuns e as
peregrinações eram obrigações de todos os que aspiravam à vida eterna.
Em toda a Cristandade abundavam igrejas, capelas e ermidas que eram objeto de devoção especial. A elas
acorriam grande número de pessoas em busca de alívio para as suas doenças, em pagamento de promessas feitas
ou, simplesmente, para satisfação da fé.
Estas deslocações incluíam as romarias, celebrações organizadas em honra de um santo, numa data fixa do ano,
estas atraíam numerosos fiéis e assumia muitas vezes um carácter lúdico e folgazão. Pela sua constante
repetição e pela estreita aliança entre a componente religiosa e profana, as romarias foram uma das expressões
mais notáveis da cultura popular medieval.
O componente maior da tradição judaico-cristã era os hábitos das grandes peregrinações. Estas eram feitas
principalmente para três locais distintos de peregrinação da Cristandade Ocidental: Jerusalém, Roma e Santiago
de Compostela.
Distinguir as expressões da cultura erudita das da cultura popular.

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A cultura erudita é a cultura própria dos grupos mais elevados da sociedade, intimamente ligada à leitura e ao
estudo. É uma cultura intelectualizada, não acessível à maior parte da população. Na Idade Média, são focos de
cultura erudita os conventos, com as suas livrarias, as universidades e as cortes régias e senhoriais.

MÓDULO 6 - A CIVILIZAÇÃO INDUSTRIAL – ECONOMIA E SOCIEDADE;


NACIONALISMOS E CHOQUES IMPERIALISTAS

1-A CIVILIZAÇÃO INDUSTRIAL – ECONOMIA E SOCIEDADE; NACIONALISMOS E


CHOQUES IMPERIALISTAS
1-1-AS TRANSFORMAÇÕES ECONÓMICAS NA EUROPA E NO MUNDO
Situar, no tempo e no espaço, a expansão da Revolução Industrial
A expansão da Revolução Industrial, também designada por segunda revolução
industrial, aconteceu na segunda metade do século XIX, na Europa, nos EUA e no Japão.
No entanto, é necessário atender aos diferentes ritmos de industrialização de cada
região ou país.

Justificar a ligação entre a ciência e a técnica


A ciência e a técnica influenciaram-se mutuamente.
Por um lado, os conhecimentos teóricos (a ciência) permitiram a criação de novos
inventos (desenvolvimento técnico), pois as empresas criaram laboratórios e convidaram
engenheiros para trabalhar, em equipa, nas novas descobertas.
Foi o caso das indústrias de corantes sintéticos, que investiram grandes quantias em
pesquisa laboratorial e obtiveram lucros ainda maiores da aplicação prática das pesquisas.
Por outro lado, a indústria (técnica), ao criar produtos e máquinas cada vez mais
complexos, exigiu da ciência uma constante pesquisa (progresso cientifico).
Desta interação entre a ciência e a técnica resultou uma série de inovações que se
foram acumulando (em quantidade) e sobrepondo (em qualidade) – (progressos cumulativos).

Caracterizar a segunda revolução industrial


Em sentido restrito, a segunda revolução industrial corresponde a um conjunto de
transformações rápidas que beneficiaram o sector industrial, de que se destacam as novas
fontes de energia (petróleo e eletricidade), novos sectores de ponta (siderurgia, química) e
novos inventos (por exemplo, o motor de explosão e a lâmpada).
Num sentido mais amplo, a segunda revolução industrial ultrapassa os aspetos técnico e
produtivo para abranger a expansão do capitalismo industrial com consequências ao nível de
toda a vida em sociedade.

Referir os principais progressos técnicos


Relembremos: o século XVIII (primeira revolução industrial) foi marcado pela
revolução industrial do ferro, graças aos seguintes progressos:
1. A utilização do carvão de coque (obtido a partir de carvão mineral) como
combustível.
2. O aperfeiçoamento dos foles.

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3. A técnica da pudlagem (que permitia transformar o ferro de primeira
fundição, não purificado, em ferro ou em aço).

Já a segunda metade do século XIX (segunda revolução industrial) é o período de afirmação


do aço:
1. Em 1856, Bessemer inventou um conversor que transformava o ferro em aço segundo
um processo muito mais rápido que o da pudlagem.
2.Em 1867, o processo Siemens-Martin recuperava ferragens, permitindo produzir
grandes quantidades de aço.
3. Em 1878, o método de Thomas e Gilchrist permitia eliminar o fósforo, aproveitando
maiores quantidades de minério.

A partir de 1880, o aço, mais moldável e resistente, substitui o ferro na construção de


máquinas para a indústria, de meios e vias de transporte e na construção civil, conferindo à
siderurgia o papel de sector de ponta da segunda revolução industrial.
Outro sector que registou um grande avanço foi o da indústria química:
1.Os corantes artificiais foram utilizados na indústria têxtil graças aos trabalhos de
Perkin, em 1856.
2.Criaram-se novos medicamentos, por exemplo, a aspirina, criada pela empresa Bayer,
em 1899.
3. Os insecticidas e os fertilizantes foram produtos de sucesso deste ramo da
indústria.
4.O processo de vulcanização da borracha (Goodyear, 1884) deu origem à indústria de
pneus para automóveis e bicicletas.
Enquanto a primeira revolução industrial é indissociável da energia a vapor, alimentada
pela hulha (carvão mineral), a segunda revolução industrial introduziu novas fontes de energia
que produziram uma ruptura tecnológica: o petróleo e a electricidade.
A indústria petroquímica (relativa aos derivados do petróleo) beneficiou dos seguintes
progressos técnicos:
1. 1859: exploração do primeiro poço de petróleo (Pensilvânia, EUA).
2. 1886: invenção do motor de explosão (por Daimler) que funcionava a petróleo;
3. 1897: invenção do motor movido a óleo pesado (gás oil).

Na mesma época, a energia elétrica foi aplicada a uma serie de progressos técnicos que
deslumbraram os seus contemporâneos:
1. A lâmpada elétrica (grande invento de Edison) substituiu a iluminação a gás nas ruas e
casas, com franca vantagem: ao contrário do sistema anterior, a lâmpada não libertava calor,
não sofria explosões nem intermitências e o consumo era de fácil contagem;
2. A eletricidade, aplicada aos mais diversos maquinismos, revolucionou a vida do
cidadão comum.
Surgiram, nomeadamente:
- o comboio elétrico (criado por Siemens em 1879, embora continuassem
plenamente ativos os comboios a vapor);
- o telefone (invenção de Bell, em 1876);
- o cinema (com origem no cinematógrafo de Lumière, em 1895);

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- a radiofonia (fruto da aplicação da teoria das ondas hertzianas, em 1887);
- os metropolitanos e os carros elétricos.

Nos transportes, registaram-se os seguintes progressos:


1. A aplicação da energia a vapor ao comboio (por Stephenson que, em 1830, inaugurou a
linha Liverpool - Manchester) e ao navio (a partir de 1860) ditou uma nova era nos
transportes, facilitando a circulação das matérias-primas, dos produtos industriais e das
pessoas.
2. A utilização do motor de explosão nos automóveis e aviões alterou, para sempre, as
noções de distância.
3. A bicicleta tornou-se, não só, um meio de transporte bem acolhido por todas as
classes sociais, mas também uma modalidade desportiva de grande êxito.

Justificar a concentração monopolista


A partir de cerca de 1870, a pequena oficina cede lugar à empresa concentrada, ou
seja, a produção é realizada em grandes fábricas (concentração geográfica) que reúnem
avultados capitais por ações (concentração financeira), onde trabalham numerosos operários
(concentração da mãode-obra) os quais vigiam numerosas máquinas (concentração técnica).
Este gigantismo explica-se, por um lado, pela própria natureza de alguns sectores
económicos (como, por exemplo, o da siderurgia) que exigiam máquinas volumosas e um grande
número de operários e, por outro lado, por imperativos económicos que tornavam mais
rentável a grande fábrica, abolindo, assim, a concorrência das pequenas empresas através da
criação de monopólios de produção (por exemplo, a empresa alemã Krupp detinha um
verdadeiro monopólio da produção de aço).
Em suma, a tentativa de criação de monopólios justifica-se pelo sistema económico do
capitalismo industrial que caracterizou a segunda metade do século XIX.

Distinguir concentrações verticais e horizontais


Concentrações verticais – consistem no controlo, por uma empresa, das várias etapas
de fabrico de um produto industrial (por exemplo, da exploração da borracha à sua
transformação em pneus de automóvel e, por último, à comercialização do produto acabado).
Controlando todo o processo de produção, a empresa consegue diminuir o grau de
imprevisibilidade do negócio e obter as melhores condições financeiras em cada uma das
fases de produção. Assim se formaram alguns dos monopólios do século XIX.
Concentrações horizontais – consistem no agrupamento de empresas de um mesmo ramo
(por exemplo, têxtil) que combinam, entre si, as condições de produção que consideram
melhores, de maneira a vencer a concorrência (quer interna, por parte de empresas que não
integram essa concentração, quer externa, de outros países produtores).
Também os bancos se envolveram no processo de concentração: os bancos mais
pequenos foram sendo absorvidos pelos mais poderosos (por exemplo, os bancos da família
Rockefeller) os quais se expandiram em número de sucursais e em volume de operações
financeiras.
Os bancos alimentaram a expansão industrial, oferecendo os seus serviços às
operações comerciais e o crédito à indústria e, por sua vez, lucraram com o desenvolvimento

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industrial, muitas das vezes investindo diretamente em companhias industriais (eram, por
isso, chamados “bancos de negócios”).
Explicar os métodos de racionalização do trabalho
O engenheiro Frederick Taylor expôs o método de transformar a produção num
processo racional, isto é, pensado de maneira a tornar-se o mais rentável possível.
A racionalização, descrita na sua obra Princípios de Direção Cientifica da Empresa, foi
chamada de taylorismo e assentava nos seguintes procedimentos:
1. Dividir a produção de um objeto numa série de “movimentos essenciais que
cada um dos operários tem de executar”.
2. Pré-definir o tempo mínimo necessário para a realização de cada um desses
gestos simples.
3. Produção de objetos todos iguais – estandardização.

Henry Ford aplicou o taylorismo à produção de automóveis, introduzindo a linha de


montagem nas suas fábricas para (nas palavras do próprio Ford) “levar o trabalho ao operário,
em vez de levar o operário ao trabalho”.
Desta maneira poupavam-se todos os gestos inúteis ou lentos, o que resultou num
extraordinário aumento da produtividade.
Ainda de acordo com as ideias de Taylor, Ford aumentou os salários dos seus operários,
conseguindo com essa medida motivá-los para o trabalho e até vender-lhes automóveis.
A racionalização aplicada às fábricas tomou o nome de fordismo. Embora eficaz do
ponto de vista do patrão, o fordismo foi considerado desumano para os operários: o
capitalismo industrial transformou o antigo artesão, orgulhoso do seu trabalho criativo, que
desenvolvia do início ao fim, num proletário, elemento substituível de uma cadeia de montagem
que, de seu, apenas tinha um salário e a sua prole.
Estava, assim, consumada a divisão entre o capital (patrão) e o trabalho (operário).

1-2-A GEOGRAFIA DA INDUSTRIALIZAÇÃO


Evidenciar a hegemonia britânica
Em meados do século XIX, a Inglaterra detinha a hegemonia sobre os restantes países.
Tendo sido pioneira da primeira revolução industrial, mantinha a preponderância que
adquirira no século XVIII, o qual era evidente em vários fatores:
- era a primeira potência na produção têxtil (algodão) e metalúrgica (ferro);
- utilizava a energia a vapor em larga escala;
- possuía a maior extensão de caminhos-de-ferro;
- controlava o comércio internacional graças à vasta frota mercante e ao sistema
financeiro avançado;
- registava o maior crescimento demográfico e urbano;
- exibia, perante todo o Mundo, que estava “à frente do pelotão”, nomeadamente
através da realização da Exposição Universal de 1851.
A Inglaterra apenas perdeu a posição de comando no final do século XIX, quando foi
ultrapassada pelos Estados Unidos da América por não ter acompanhado a modernização
tecnológica.

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Referir, em traços gerais, a geografia industrial no século XIX
No século XIX, para além do caso particular da Inglaterra, os países mais
industrializados da Europa eram: a França, a Alemanha, a Suíça e a Bélgica.
A nível mundial salientavam-se: os Estados Unidos da América e o Japão.
Certos países tiveram uma industrialização mais lenta, tais como; a Rússia, a Áustria-
Hungria, a Itália, Portugal e Espanha.

Mostrar os particularismos do processo de industrialização das principais potências


industriais.
A industrialização de cada país obedeceu a condicionantes próprias:

França – Apesar de ter sido o segundo país (após a Inglaterra) a industrializar-se,


apenas alcançou a etapa da maturidade (segundo a teoria do economista Rostow) na primeira
década do século XX, pois carecia de matéria-prima – carvão – e a sua economia dependia
ainda, largamente, de uma agricultura de subsistência.
A industrialização da França assentou, nomeadamente, na eletricidade e na produção
automóvel.

Alemanha – a etapa de arranque industrial (take-off) deu-se em meados do


século XX, nomeadamente com a construção dos caminhos-de-ferro pela fábrica Krupp (a
Alemanha ocupava o segundo lugar, a seguir à Inglaterra, em extensão de rede ferroviária).
No final do século XIX, a Alemanha, então já unificada, conseguiu competir com a
industria inglesa, suplantando-a na produção de aço a partir de inícios do século XX.
Ao contrário da França, a Alemanha dispunha de carvão em abundância; aumentou as
suas reservas de minério após ter conquistado à França a região de Alsácia-Lorena, na guerra
franco-prussiana de 1870-1871.

EUA – a abundância de matérias-primas (algodão, lã, carvão, petróleo, entre


outras), juntamente com a concentração empresarial (por exemplo, de empresas siderúrgicas,
dando origem à United States Steel Corporation – U.S.S.) e a energia elétrica fornecida pelas
quedas de água deram um forte impulso à industrialização dos EUA, país que, arrancando
industrialmente cerca de 1830, veio destronar a hegemonia inglesa a partir de finais do
século XIX.
Basta lembrar, por exemplo, o sucesso na indústria automóvel, com a marca Ford.

Japão – caso único no continente asiático, o Japão industrializou-se na segunda metade


do século XIX devido a intervenção do imperador Mutsu-Hito, o qual apoiou a produção
industrial (construção naval, seda, siderurgia) seguindo os modelos ocidentais e abriu o país ao
comércio com o exterior.
Na mesma época, o Japão beneficiou de um crescimento demográfico intenso, o qual
forneceu mão-de-obra e consumidores à indústria.

Reconhecer, no mundo industrializado, a persistência de formas de economia tradicional

29
Um dos aspetos que mais fortemente marcou o século XIX (a partir de cerca de 1840)
foi o triunfo do capitalismo industrial.
Ao contrário do que previa Thomas Malthus no século XVIII, a produção de bens de
consumo conseguiu acompanhar o crescimento demográfico e, no mundo industrializado, uma
franja crescente da população beneficiava de uma melhor qualidade de vida.
Porém, a par deste mundo industrializado, que os historiadores colocam em relevo pela
novidade que apresenta em relação ao passado, não devemos esquecer que a maior parte do
planeta era, ainda, um mundo “atrasado” (na expressão de Pierre Léon), onde o tempo parecia
“imóvel”.
Alguns países tiveram o seu arranque industrial tardiamente: foi o caso do Império
Austro-Húngaro, do Império Russo, da Europa meridional (Portugal, Espanha, Itália, Grécia).
Outros não puderam desenvolver-se porque eram colónias, dependentes das estratégias de
mercado impostas pelas respetivas metrópoles: neste caso temos, por exemplo, os países da
América Latina e do continente Africano.
Por último, temos de salientar, no interior dos países desenvolvidos, os redutos de
tradicionalismo, onde uma agricultura de subsistência, avessa ao campo fechado, coexistia, no
mesmo país, com a agricultura mecanizada e o artesão trabalhava, em casa, perto de uma
grande fábrica.
Concluímos, assim, que a industrialização se processou a diferentes “ritmos”, como se o
tempo passasse mais depressa ou mais lentamente conforme as condicionantes ditadas por
cada região.

1.3 A AGUDIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS


Contrapor protecionismo e livre-cambismo
Nos séculos XVI, XVII e XVIII, vários países europeus adotaram um sistema
económico protecionista, o qual servia de apoio ao mercantilismo vigente.
O protecionismo baseava-se na proteção à indústria e ao comércio nacionais: para
conseguir uma balança comercial positiva, o Estado intervinha na economia, decidindo quais as
manufaturas a implementar, o montante das tarifas aduaneiras a aplicar aos produtos
importados, o preço dos produtos internos, as regras a impor ao comércio com o exterior.
Em contraposição, no século XIX, a expansão da Revolução Industrial foi sustentada
por um sistema económico livre-cambista que substituiu o anterior protecionismo.
Ao contrário do protecionismo, o livre-cambismo opunha-se à intervenção do Estado na
economia; reunia defensores desde o século XVIII, em especial Adam Smith, economista
escocês que advogava a total liberdade da iniciativa privada (liberalismo económico), uma vez
que a economia se auto-regularia pela lei da oferta e da procura e pela livre concorrência.
As ideias de Adam Smith foram desenvolvidas, ainda no século XVIII, por Thomas
Malthus, David Ricardo e Jean Baptiste Saly e foram aplicadas no século XIX, um pouco por
toda a Europa industrial que se revia no exemplo da Inglaterra e do seu primeiro-ministro
Robert Peel.
Este aboliu as chamadas Corn Laws, leis que protegiam a produção de pão nacional
através de taxas aplicadas sobre a importação de trigo.

Caracterizar as crises do capitalismo

30
Apesar de ser um sistema económico favorável ao capitalismo industrial, o livre-
cambismo padecia de um problema intrínseco: de tempos a tempos (em intervalos de tempo de
6 a 10 anos), o sistema de livre concorrência (livre procura de lucro) originava crises
económicas para se autorregular.
Estes ciclos de curta duração, estudados por Clément Juglar (e por isso denominados,
correntemente, por ciclos de Juglar) caracterizam-se por três etapas:
1. Uma fase de crescimento económico, durante a qual a produção aumenta e as
atividades financeiras (banca, bolsa) se expandem, de modo a corresponder à procura dos
consumidores.
2. Uma etapa de crise, isto é, de rápida diminuição da produção e descida dos
preços, numa tentativa de escoar o excesso de produção acumulada (crise de superprodução).
A tendência de baixa da economia conduz rapidamente a falência de empresas e de
bancos e à quebra de investimento na bolsa (crash); a população desempregada não tem meios
para consumir em abundância, o que retira o estímulo à produção.
Em virtude do livre-cambismo, a crise expande-se, a breve trecho, pelo mundo
industrializado e respetivas áreas coloniais, originando uma contração do comércio
internacional.
3. Uma etapa de recuperação, em que a oferta e a procura se reajustam e as
atividades económicas são relançadas (até que uma nova crise venha abalar a economia).

Estas crises – que se distinguem das crises do Antigo Regime por serem crises de
superprodução industrial e não crises de escassez devido a maus anos agrícolas – eram
inerentes ao próprio sistema capitalista, em que o Estado não intervinha na economia; porém,
os elevados custos, não só económicos mas também (e sobretudo) sociais, levaram os governos
a admitir, no final do século XIX, medidas de retorno ao protecionismo.
No século XX, devido à Grande Depressão dos anos 30, espoletada pela crise de 1929
nos EUA, tornou-se evidente que o liberalismo económico puro tinha de ser refreado pela
intervenção do Estado.

Explicar os fundamentos da divisão internacional do trabalho


Entende-se por divisão internacional do trabalho a parte de produção e de
comercialização que cabe a cada país: na linha da frente, e com o maior número de
investimentos no Mundo e a respetiva compensação em lucros, encontravam-se a Inglaterra, a
França, a Alemanha e os EUA.
Este protagonismo fundamenta-se na rápida industrialização que estes quatro países
tiveram, a qual lhes permitiu explorarem economicamente os países mais atrasados e as
colónias.
O capitalismo industrial contribuiu para criar um mundo económico desigual, no qual um
punhado de países detém o controlo das correntes de comércio internacional.

2-A SOCIEDADE INDUSTRIAL E URBANA

31
2-1-A EXPLOSÃO POPULACIONAL; A EXPANSÃO URBANA E O NOVO URBANISMO; MIGRAÇÕES
INTERNAS E IMIGRAÇÃO

Interpretar a explosão populacional do século XIX


No século XIX, verificou-se um crescimento muito rápido e acentuado da população
mundial e, em especial, da Europa industrializada, falando-se, por isso, de uma explosão
demográfica.
No entanto, o fenómeno de crescimento populacional não era novo: a ruptura com o
modelo demográfico antigo data de meados do século XVIII.
No século XIX impôs-se o modelo demográfico moderno, cujas características eram:
1. O recuo da mortalidade (geral e, em especial infantil);
2. O declínio da elevada natalidade (a partir de cerca de 1870);
3. A descida da idade do casamento (invertendo a tendência para o casamento tardio,
típica do modelo demográfico do Antigo Regime);
4. O aumento da esperança média de vida para ambos os sexos.
5. O aumento da densidade populacional.

Estas características revelaram-se mais precocemente nos países industrializados da


Europa (Inglaterra, Alemanha, França) e mais tardiamente na Europa do leste e do sul, pois a
expansão da Revolução Industrial correspondeu a uma expansão da população.
Assim, os demógrafos e historiadores, na tentativa de interpretar a explosão
populacional do século XIX, apontam um conjunto de fatores:
- os melhores cuidados médicos (difusão da vacina contra a varíola, inventada no
século XVIII por Jenner e criação de novas vacinas; prática de desinfeção);
- a maior abundância de bens alimentares (produzidos em larga escala pela
agricultura mecanizada e fornecidos pela revolução dos transportes);
- o investimento social e afetivo da criança, tornada o centro da família
burguesa;
- os progressos na higiene (uso do sabão e do vestuário de algodão; substituição
da madeira pelo tijolo nos edifícios; construção de redes de esgotos e de abastecimento de
água potável).
No século XVIII, Thomas Malthus havia alertado, no seu Ensaio sobre o Principio da
População, para a necessidade de “um controlo forte e constantemente ativo da população, em
virtude da dificuldade de subsistência”.
Por isso, no século XIX e inícios do século XX, face à explosão populacional, os neo-
mathulsianos lutaram pela contenção da natalidade, em especial juntos dos proletários.
Porém, foi nos meios mais abastados, onde a satisfação das necessidades básicas
permitia o surgimento do sentimento de paternidade, que começou a difundir-se a limitação
voluntária dos nascimentos.

Justificar a expansão urbana


O crescimento das cidades oitocentistas explica-se pela atracão que estas exercem
sobre uma população em franco crescimento.

32
Entre os principais fatores de expansão urbana, contam-se:
- o êxodo rural: as alterações na produção agrícola, ao dispensarem parte da
mão-de-obra, levam a que o habitante da província procure a cidade (sobretudo a partir de
1850, a população urbana da Grã-Bretanha, da França e da Alemanha regista um crescimento
substancial, enquanto a população rural desses países estagna ou decresce);
- a emigração: a população europeia foi responsável por diversas vagas de partida
para as colónias dos continentes africano, americano e oceânico, destacando-se, em especial,
o crescimento urbano nos EUA (em consonância com a sua supremacia económica, Nova Iorque
tornou-se a segunda cidade mundial, em 1900);
- o crescimento dos sectores secundário e terciário: a indústria, o comércio, as
profissões liberais concentram-se nas cidades e requerem cada vez mais efetivos; é o caso,
por exemplo, da cidade de Essen, onde estava sediada a fábrica Krupp e que passou de 2000
habitantes, em 1800, para 443 mil habitantes em 1900.

Simultaneamente, a população ativa dedicada ao sector primário (agricultura, pesca,


silvicultura) diminui acentuadamente (por exemplo, na Alemanha passou de 42,5% em 1882
para 28,6% em 1907).

Caracterizar o novo urbanismo oitocentista


O crescimento muito rápido de algumas cidades (por exemplo, Londres, Paris, Nova
Iorque) originou novos problemas que se tornaram um desafio para as chefias municipais e
para arquitetos, urbanistas e filantropos.
O novo urbanismo tinha, essencialmente, duas preocupações:
- criar espaços para a burguesia, “entregando” a cidade àqueles que a tinham criado;
- proporcionar condições de vida mais dignas para os proletários, em geral provincianos
desenraizados, cujos filhos trabalhavam arduamente para aumentar o rendimento doméstico:
1. No âmbito da afirmação burguesa, destacam-se as grandes intervenções urbanas nas
principais cidades europeias: as antigas muralhas são destruídas, rasgam-se avenidas, criam-
se infraestruturas (abastecimento de água e iluminação, rede de esgotos), projetam-se
espaços para o lazer (óperas, teatros, jardins…), criam-se redes de transportes públicos
(elétricos, metropolitanos…).
Neste processo, a cidade expande-se em extensão (ou em altura, como nos EUA, com os
primeiros arranha-céus), relegando as “classes perigosas” para a periferia.
Os “grands travaux” (grandes obras públicas), encomendados ao barão Haussmann por
Napoleão III em meados de Oitocentos, alteraram profundamente a fisionomia de Paris e
serviram de exemplo a outras cidades em renovação nos séculos XIX e XX. A “Paris de
Haussmann” celebra as conquistas da burguesia.

2. No século XIX, vários urbanistas, preocupados com os problemas sociais que


atribuíam à deficiente habitação operária (alcoolismo, criminalidade, promiscuidade,
epidemias, prostituição, mendicidade), procuraram soluções ideais para integrar
harmoniosamente o operário no espaço industrial.
Ficaram conhecidos por urbanistas utópicos: Charles Fourier lançou a ideia de um
falanstério – edifício para a habitação e o trabalho dos operários – e Godin criou o
familistério ou palácio social, onde as famílias operárias dispunham de alojamento cómodo.

33
Distinguir a origem e o destino das migrações internas
O fenómeno urbano esta intimamente ligado ao das correntes migratórias:
no século XIX, a principal origem das migrações internas (dentro do mesmo país) era o
campo - fosse porque uma agricultura mecanizada dispensava mão-de-obra para as fábricas,
fosse porque uma agricultura de subsistência fornecia insuficientes rendimentos – e o
principal destino era a cidade.
A partir de 1850, o êxodo rural foi responsável pelo acentuado crescimento da
população urbana da Europa (sobretudo da Grã-Bretanha e Alemanha).
Para as raparigas do campo, o destino profissional era, na maioria das vezes, o serviço
doméstico.
Porém, um outro tipo de migrações internas era frequente: as deslocações sazonais
(realizadas apenas em certas alturas do ano) para locais onde era necessário, pontualmente,
um acréscimo de mão-de-obra.

Explicar o fenómeno emigratório


A partir de 1840, os Europeus espalharam-se pelo Mundo em sucessivas vagas de
emigração. Na origem deste fluxo emigratório terão estado os seguintes fatores:
1. A pressão populacional: os governos e sindicatos apoiavam políticas migratórias
no intuito de contornar os problemas decorrentes da explosão populacional europeia
(necessidade de mais empregos, contestação social).
2. Os problemas do mundo rural: enquanto nos países desenvolvidos as
transformações na agricultura libertavam mão-de-obra, nas regiões menos industrializadas
persistiam as fomes provocadas por maus anos agrícolas (foi o caso da vaga de emigrantes
irlandeses, durante a “potatoe famine” – fome de batatas - da década de 1840).
3. Os problemas ligados à industrialização: uma industrialização muita rápida (por
exemplo, na Grã-Bretanha) produzia desemprego tecnológico (os homens eram substituídos
por máquinas), e uma industrialização lenta (caso de Portugal), não oferecia empregos
suficientes para a população em crescimento. Ambas as situações podiam, portanto, levar à
emigração para países com carência de mão-de-obra.
4. A revolução dos transportes, que embarateceu o preço das passagens,
nomeadamente de barco a vapor. A idealização dos países de destino (nomeadamente os EUA,
que receberam metade da imigração europeia, e o Brasil, principal destino da emigração
portuguesa no século XIX), os quais eram vistos como terra das oportunidades, da promoção
social e da tolerância moral.
5. Os EUA receberam perto de 34 milhões de pessoas entre 1821 e 1920, sendo
a forte imigração apontada como um dos fatores que explicam a sua pujança económica.
6. A fuga a perseguições politicas e religiosas (por exemplo, aquando da
instauração da 2ª república, em 1848, em França).

2-2-UNIDADE E DIVERSIDADE DA SOCIEDADE OITOCENTISTA


Evidenciar a unidade e a diversidade da nova sociedade de classes
A sociedade de ordens do Antigo Regime, na qual o nascimento era o principal factor de
distinção social, deu lugar à sociedade de classes da Época Contemporânea, em que os

34
cidadãos, embora iguais perante a lei, se distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens
que este permite conquistar (instrução, profissão prestigiada, lazer).
Deste modo, a unidade do corpo social, conferida pelo igual estatuto jurídico dos
cidadãos (fruto das conquistas do Liberalismo), é fragmentada em dois grandes grupos:
1. a burguesia: é o grupo dominante porque detém os meios de produção, muito embora
ela própria se divida numa hierarquia de diferentes estatutos.
2. O proletariado: é a classe mais baixa que fornece o trabalho à organização industrial.

Na sociedade de classes a mobilidade ascensional é um fenómeno mais frequente do que


na sociedade de ordem e os casos de sucesso de alguns indivíduos de origem humilde – self-
made men – fazem crer a todos que os lugares cimeiros da sociedade podem ser conquistados
apenas pelo mérito individual.
Uma vez atingido o topo da escala social, cabe à família burguesa o papel fundamental
de assegurar a continuidade do estatuto e, se possível, reforçá-lo por meio de estratégias
diversas (aquisição de propriedades; fusão, através do casamento, com membros da
aristocracia; nobilitação por serviços prestados à Nação; exercício de cargos na política).
Criam-se, assim, as chamadas dinastias burguesas.

Distinguir as classes burguesas quanto ao estatuto económico e aos valores e


comportamentos assumidos
1.Alta Burguesia
No século XIX, a alta burguesia conquistou, finalmente, um poder equiparável ao seu
estatuto económico: além de controlar os pontos-chave da economia (bancos, transportes,
indústrias), exercia cargos na política (de deputado, de ministro). Porém, ao nível dos
comportamentos, a nobreza continuava a ser o modelo: para afirmar o seu poder, os
burgueses de negócios tentavam aproximar se da aristocracia (compravam castelos e
mansões, casavam os herdeiros com membros da velha nobreza, organizavam bailes e
caçadas).
No entanto, pouco a pouco a burguesia foi definindo e impondo os seus próprios valores
– tais como o apreço pelo trabalho, o sentido de poupança, a perseverança e a solidariedade
familiar. Passou, então, a demonstrar orgulho pelo estilo de vida burguês (surgimento da
consciência de classe).

2.Classes Médias
As classes médias constituem o grupo mais heterogéneo e socialmente flutuante da
sociedade industrial.
Englobam o conjunto das profissões que não dependem do trabalho físico, isto é, o
chamado sector dos serviços.
A sua composição integrava:
a)Pequenos empresários da indústria – embora vulneráveis às crises e aos
consequentes fenómenos de concentração empresarial, foram-se expandindo em número ao
longo do século XIX.

b)Empregados comerciais – a expansão da revolução industrial criou novos


empregos para fazer chegar o produto ao consumidor do mercado interno (por exemplo, os
empregados de grandes armazéns ou os transportadores)

35
c)Profissionais liberais – eram todos aqueles que, em vez de terem um patrão,
trabalhavam por conta própria.
Estavam ligados à ideia de promoção social: tornar-se médico, advogado, empregado de
escritório (colarinho branco) ou professor primário era uma maneira segura de perspectivar
um futuro desafogado, longe da dureza do trabalho manual da imprevisibilidade do mundo dos
pequenos negócios.
O seu estatuto valorizou-se na medida em que serviam as necessidades (de cuidados
médicos, de conhecimentos jurídicos, de instrução) da sociedade industrial.

As classes médias eram acérrimas defensoras dos valores da burguesia, no intuito de


permanecerem (e, se possível, promoverem-se) dentro dessa classe social.
Tornaram-se, assim, as classes mais conservadoras.

Caracterizar a condição operária


A aplicação do liberalismo económico nos países industrializados, ao estabelecer a não
intervenção do Estado, deixou os operários à mercê das regras do mercado.
O proletário é aquele que não tem qualquer poder sobre a produção, pois as minas, os
caminhos-de-ferro, as fábricas pertencem à classe burguesa que detém o capital.
Ele apenas tem os seus filhos e um salário pelo seu trabalho, o qual aumenta ou diminui
conforme a prosperidade da empresa, sem que um salário mínimo esteja assegurado.
Neste contexto, os operários da segunda revolução industrial enfrentavam graves
problemas dentro e fora do seu local de trabalho:
- ausência de rede de solidariedade (em grande parte oriundos do campesinato,
os operários tinha de sobreviver na cidade sem o apoio da família alargada);
- elevado risco de acidentes de trabalho e de doenças profissionais (que, a
ocorrerem, podiam levar ao despedimento do operário, o qual se via, subitamente,
incapacitado e sem salário);
- ausência de medidas de apoio social (não existia o direito a férias ou a descanso
semanal, o horário de trabalho rondava as 16 horas por dia, não se contemplava o direito a
subsídios por desemprego, velhice ou doença);
- proibição e repressão de todo o tipo de reivindicação social (pois as leis e as
instituições de autoridade defendiam a classe dominante);
- contratação de mão-de-obra infantil, por ser mais barata (cerca de um terço
do salário de um adulto), menos reivindicativa e mais ágil (por exemplo, nos espaços exíguos
das minas); daqui resultava uma elevada taxa de mortalidade infantil entre os filhos da
população operária;
- espaços de trabalho pouco saudáveis (ruído, calor ou frio extremos, iluminação
deficiente, ausência de cantinas e de vestuário apropriado);
- espaços de habitação sobrelotados e insalubres;
- pobreza extrema e todos os valores a esta associados (desnutrição, doenças,
crimes, prostituição, consumo elevado de bebidas alcoólicas, mendicidade.).

Mostrar como se caracterizou o movimento operário

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As primeiras reacções dos operários contra a sua condição miserável foram
espontâneas, pouco organizadas e dirigidas, sobretudo, contra as máquinas que lhes roubavam
o trabalho (nomeadamente o movimento de Ned Ludd, na Inglaterra – luddismo – era
mecanoclasta, isto é, destruía as máquinas de produção).
Com o passar do tempo, o movimento operário (acções de luta dos proletários por
melhores condições de vida e por uma maior intervenção política) organizou-se para se tornar
mais eficaz, revestindo, no essencial, duas formas:
1. O associativismo – na falta das redes de solidariedade tradicionais (família,
paróquia) as associações de socorros mútuos apoiavam os operários em caso de vicissitude
(doenças, desemprego, acidentes) mediante o pagamento de uma quota.
2. O sindicalismo – no início actuando clandestinamente, os sindicatos utilizavam
como principais meios de pressão sobre o patronato as manifestações (por exemplo, a de 1 de
Maio de 1886, em Chicago, pela jornada de 8 horas, actualmente comemorada como Dia do
Trabalhador) e as greves.
Estas constituíam uma forte arma de reivindicação, pois prejudicavam a produção e,
consequentemente, os lucros da indústria e do comércio, além de evidenciarem a importância
fundamental da classe trabalhadora (Proudhon dizia que, se o proletariado desaparecesse, a
produção “pararia para sempre e era uma vez os proprietários”).
Graças às greves, o enorme desfasamento entre o salário real dos operários e o custo
de vida foi-se esbatendo pelo que, no final do século XIX, a classe trabalhadora havia
conquistado um maior poder de compra. Foi na Grã-Bretanha que o movimento operário se
revelou mais precoce, com a autorização dos sindicatos (trade unions) e das greves em 1824-
25.
Os progressos da legislação social (por exemplo, a regulamentação do horário de
trabalho, o repouso semanal, a criação de pensões para as situações de acidente, doença,
velhice) tornaram-se mais notórios, na Europa industrializada, no terceiro quartel do século
XIX, por efeito da pressão dos sindicatos, entretanto legalizados, e pela difusão das ideias
socialistas.

Relacionar a condição operária com as doutrinas socialistas


As condições de miséria em que viviam os proletários despertaram a vontade de
intervenção social de pensadores da época.
No século XIX, a doutrina socialista emergente criticava a desumanidade do sistema
capitalista e propunha uma sociedade mais igualitária.
Porém, podemos distinguir duas abordagens diferentes do socialismo:
1. Socialismo utópico – propunha alternativas ao capitalismo no intuito de criar
uma sociedade mais justa. A principal referência é Pierre-Joseph Proudhon, o qual defendia
que os operários trabalhassem “uns para os outros” em vez de trabalharem para um patrão.
Entregando a propriedade privada a produtores associados e abolindo o Estado pôr-se-ia fim
à “exploração do homem pelo homem”.
2.Marxismo (socialismo científico) – o filósofo alemão Karl Marx analisou
historicamente os modos de produção, tendo concluído que a luta de classes é um fio condutor
que atravessa todas as épocas.

Baseado neste pressuposto, expôs um plano de acão para atingir uma sociedade sem classes e
sem Estado – o comunismo.

37
Expor os princípios do marxismo
Karl Marx e Friedrich Engels expuseram, no Manifesto do Partido Comunista (1848),
uma proposta de explicação do processo histórico que tomou o nome de marxismo ou
materialismo histórico:
- a luta de classes entre “opressores e oprimidos” é um traço fundamental de
toda a História;
- a sociedade burguesa, dividida entre a burguesia e o proletário, será destruída
quando este, “organizado em classe dominante” instaurar a ditadura do proletariado;
- depois de conquistar o poder político, o proletariado retirará o capital à
burguesia e o capitalismo será destruído pois estarão “todos os instrumento de produção nas
mãos do Estado” assim se construirá o comunismo;
- os operários devem unir-se internacionalmente para fazer a revolução
comunista, por isso o Manifesto institui o lema “Proletários de todos os países, uni-vos”.
Indicar os seus efeitos no movimento operário Marx e Engels viveram uma parte da sua vida
na Inglaterra no século XIX, tendo contactado com a miséria da condição operária.

A teorização marxista revestiu um carácter prático que faltava ao socialismo


proudhoniano e teve um impacto visível na sociedade do seu tempo:
- de acordo com a ideia do internacionalismo operário, Karl Marx redigiu os
estatutos da I Internacional (Associação Internacional de Trabalhadores), criada em Londres
(1864);
- Marx deu o seu apoio à Comuna de Paris, de 1871 (o primeiro governo operário
da História);
- Engels foi um dos fundadores da II Internacional, criada em Paris (1889);
- a realização das Internacionais Operárias promoveu a fundação de partidos
socialistas na Europa.
Apesar de ter chocado ideologicamente com outras propostas de remodelação da
sociedade (nomeadamente, o proudhonismo, o anarquismo e o revisionismo), as quais viriam a
contribuir para o fim das duas Internacionais, a doutrina marxista prevaleceu viva e serviria
de base teórica à revolução de 1917, na Rússia.

3-EVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA, NACIONALISMO E IMPERIALISMO


3-1-AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS

Evidenciar o aperfeiçoamento do sistema liberal no mundo ocidental, desde as últimas


décadas do século XIX
Desde o século XVIII, foi implantado um sistema liberal moderado em vários países da
Europa nomeadamente em Portugal, na Grã-Bretanha, na França e na Bélgica.
Tratava-se, nesses, países, da eliminação dos regimes absolutistas e da sua
substituição por monarquias constitucionais.

38
Instaurava-se a soberania nacional, pois os cidadãos activos eram apresentados em
assembleias legislativas.
A partir do terceiro quartel do século XIX, surgiu um novo entendimento do sistema
liberal que daria origem às democracias representativas (demoliberalismo):
1. Alguns países substituíram o sistema monárquico por um regime político
republicano, no qual o chefe de Estado e representante do poder executivo é eleito
periodicamente (por exemplo, Portugal em 1910).
2. O sufrágio censitário (voto reservado apenas aos detentores de um patamar
mínimo de rendimentos) foi substituído por sufrágio universal, que abarcava os cidadãos
maiores de idade. A soberania nacional dava lugar à soberania popular.
No entanto, o voto das mulheres, dos negros e dos alfabetos foi, em geral, uma
conquista difícil.
3. Para aperfeiçoar o sistema representativo, a idade de voto foi antecipada
(para os 21 anos, habitualmente), o voto passou a ser secreto e os cargos políticos passaram a
ser remunerados (abrindo caminho à entrada das classes médias e do operariado na vida
política).

Caracterizar os Estados autoritários da Europa Central e Oriental


Enquanto a Europa Ocidental e os EUA aprofundavam os regimes liberais, na Europa
Central e Oriental a estagnação económica prevalecente era acompanhada pelo imobilismo
político.
Durante o século XIX, e até o desmembramento dos impérios resultante do final da I
Guerra Mundial existiam quatro grandes estados autoritários na Europa:
1. O império Alemão (II Reich, desde 1871), governado por Kaiser Guilherme II.
2. O império Austro-húngaro, governado pelo imperador Francisco José.
3. O império Russo, governado pelo czar Nicolau II.
4. O império Otomano, governado pelos sultões da dinastia otomana.

Estes impérios tinham características comuns: eram Estados autocráticos (o imperador


detinha o poder absoluto ainda que, por vezes, camuflado pela existência de Constituições e
do sufrágio), conservadores (mantinham intocados os privilégios da nobreza e do clero) e
repressivos (reprimiam a oposição política e as revoltas nacionalistas que ocorriam dentro do
território).

Mostrar a submissão das nacionalidades nos Estados autoritários


Sob a aparente unidade conferida por um imperador, um governo, um exército e uma
religião oficial, estava a sujeição das minorias étnicas.
O império Alemão dominava, por exemplo, os polacos; o império Russo, na sua enorme
extensão, abarcava, nomeadamente, os Finlandeses e os Ucranianos; o império Austro-húngaro
era composto por povos eslavos que não reconheciam a supremacia de Francisco José.

Concluir aspirações de liberdade nos referidos Estados

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Por várias razões – de ordem linguística, histórica, religiosa – vários povos não se
sentiam integrados no Estado imperial a que pertenciam e, como tal, desencadearam
movimentos de libertação.
Umas vezes vitoriosas (independência da Grécia, em 1830), outras vezes fracassadas
(rebelião polaca de 1830-31), as lutas pela emancipação prosseguiram ao longo do século XIX.
No início do século XX, a repressão do princípio das nacionalidades e a luta por áreas
de influência por parte dos impérios acabaria por gerar focos de tensão que conduziriam à 1ª
Guerra Mundial.

Descrever sucintamente o processo de unificação nacional levado a cabo por italianos e


alemães na 2ª metade do século XIX
Unificação italiana (1861) – meados do século XIX, a Itália era um conjunto de sete
Estados. Embora as correntes nacionalistas se viessem a expandir desde o século XVIII, a
ideia de um Estado único enfrentava a oposição dos Austríacos, que dominavam os Estados do
Norte e Centro, e a desconfiança do Papa, detentor de vastos Estados da Igreja.
A unificação partiu da iniciativa do Reino do Piemonte-Sardenha, porque era o Estado
onde o Liberalismo se encontrava em expansão, quer a nível económico (era o mais
industrializado do território italiano), quer a nível político (vigorava a monarquia
constitucional do rei Vítor Manuel II, favorável às ideias liberais).
As figuras-chave da unificação foram o primeiro-ministro Cavour, que defendeu a
integração de Roma na Itália unificada (mas salvaguardando a independência do Papa) e
Garibaldi, conquistador do Reino das Duas Sicílias.
Graças ao apoio da França de Napoleão III, os Austríacos foram vencidos em batalha e
Vítor Manuel II tornou-se rei de Itália.
Unificação alemã (1871) – em 1850, o território alemão era composto por 39 Estados
autónomos, embora ligados pela Confederação Germânica, criada pelo Congresso de Viana
(1815).
A unificação foi impulsionada pela Prússia (o Estado mais industrializado) que já havia
derrubado as barreiras alfandegárias entre alguns dos Estados em 1828 (aliança que tomou o
nome de Zollverein).
Os principais obreiros da unificação foram o rei Guilherme I da Prússia e o chanceler
do rei Otto von Bismark.
A unidade alemã foi conseguida pelas armas, primeiramente contra a Áustria, na Guerra
dos Ducados, para integrar os territórios do Norte e Centro, e depois contra a França de
Napoleão III, em 1870-71, para dominar os Estados do Sul.
A unificação, sob a forma de um Império com 25 Estados – o II Reich – consumou-se
em 1871, sob o reinado do kaiser Guilherme I.
A unificação de Itália e a da Alemanha exprime claramente o nacionalismo oitocentista,
pois cumpriu, simultaneamente, dois objetivos: ligar povos com uma tradição comum e
satisfazer interesses económicos.
A integração de territórios ricos em matéria-prima para a indústria (caso da Alsácia e
Lorena, anexadas pelo Império Alemão) e a conquista de colónias para escoar os produtos
industriais não foram alheios aos anseios nacionalistas do século XIX.

3-2-OS AFRONTAMENTOS IMPERIALISTAS: O DOMÍNIO DA EUROPA SOBRE O MUNDO

40
Distinguir as zonas de expansão europeia entre fins do século XIX / início do século XX
Grã-Bretanha – acalentava o projecto de dominar o território africano do Cairo ao
Cabo; ocupava os territórios da Índia, da Austrália, do Canadá; exercia influência sobre a
China e recebera, como concessão, Hong-Kong, em 1842. França – ocupou territórios no Norte
e Centro africanos (por exemplo, Marrocos, a Argélia, a Tunísia), na Ásia (Indochina) e na
América (Antilhas Francesas, nomeadamente).
Império Alemão – possuía territórios em África (por exemplo, SE e SO alemão) e
exercia influência na Ásia Menor e na Península Arábica. Rússia - o Império Russo expandiu-se
por províncias como a Geórgia, e o Azerbeijão e procurou estender a sua influência ao
Extremo Oriente.

Aplicar a essa expansão os conceitos de imperialismo e colonialismo


A expansão europeia inscreve-se numa estratégia de controlo de uma vasta extensão
territorial com vista à satisfação das necessidades económicas das metrópoles e à afirmação
de uma pretensa superioridade cultural.
O caso mais evidente de imperialismo e de colonialismo ocorreu relativamente à
ocupação do continente africano.
Na Conferência de Berlim (1884-85), os chefes de Estado europeus repartiram, entre
si, o território africano sem atender às fronteiras definidas pelos povos autóctones e
impuseram o seu domínio a todos os níveis (económico, cultural, político, militar).
Definiram que a colonização só poderia assentar no princípio de ocupação efectiva, isto
é, já não bastava ter descoberto ou conquistado determinado território para ter direito a
possuí-lo (direito histórico), era preciso que os países europeus mostrassem que eram capazes
de “assegurar, nos territórios ocupados por eles no continente africano, a existência de uma
autoridade suficiente para fazer respeitar os direitos adquiridos”.

Contextualizar o imperialismo
A formação de impérios pelas potências europeias explica-se, em primeiro lugar, no
contexto da expansão industrial, que necessitava de matérias-primas para a produção
manufaturada e de mercados para escoar os excedentes.
Em segundo lugar, o continente europeu, em fase de explosão populacional, precisava de
colónias para aliviar a pressão demográfica.
Por último, os anseios nacionalistas que acompanharam a criação das democracias
europeias tinham uma vertente imperialista.
O nacionalismo carregava a ideia de conquista: pangermanismos, pan-eslavismo eram
vocábulos correntes na época, utilizados para transmitir o desejo de expansão imperialista de
um povo traduzida no prefixo pan (vocábulo de origem grega que significa tudo ou todo).

Discriminar algumas rivalidades imperialistas


França / Império Alemão – A oposição da França à Alemanha explica-se, por um lado,
pela disputa da Alsácia e Lorena, território perdido para a Alemanha em 1871, e, por outro
lado, pelo desenvolvimento do novo império Alemão que retirou à França parte da
preponderância económica que esta detinha sobre a Europa. Em contrapartida, a França
conseguiu dominar grande parte do Norte de África.

41
Império Russo / Império Austro-húngaro – a rivalidade entre os dois impérios
justifica-se, nomeadamente, pela disputa da influência nos Balcãs.
Império Russo / Japão – As ambições do Império Russo no Extremo Oriente colidiam
com o imperialismo japonês, o que acabou por provocar, em 1904-1905, a guerra russo-
japonesa, de que saiu vitorioso o Japão (o regime político autocrático russo sofria o primeiro
grande abalo, não por coincidência, com a revolta de 1905, reprimida pelas tropas czaristas).

Relacioná-las com o clima de “paz armada”


A tensão gerada pelas rivalidades económicas levou os Estados europeus a procurarem
aliados:
1879 – Dupla Aliança (Alemanha e Áustria-Hungria);
1882 – Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália);
1907 – Tríplice Entende (França, Rússia, Grã-Bretanha). A política de alianças
era complementada por uma corrida aos armamentos.
Em 1908, a Áustria-Hungria anexou a Bósnia-Herzegovina, gerando protestos da
Sérvia, a qual pretendia desempenhar um papel influente nos Balcãs (panservismo).
Em 1914, quando o herdeiro ao trono austro-húngaro foi assassinado na Bósnia, a
suspeita de que a Sérvia pudesse estar envolvida nesse ato levou o imperador Francisco José
da Áustria-Hungria a declarar guerra à Sérvia. Era o fim da paz armada e o início da Primeira
Guerra Mundial.

4-PORTUGAL, UMA SOCIEDADE CAPITALISTA DEPENDENTE


4-1-A REGENERAÇÃO ENTRE O LIVRE-CAMBISMO E O PROTECIONISMO
Interpretar o significado político da Regeneração
Em 1851, o golpe de Estado do Marechal Saldanha instaurou uma nova etapa política em
Portugal, designada por Regeneração.
Este movimento, que se estendeu, cronologicamente, até à implantação da República
(1910) teve um duplo significado:
- pretendia-se o progresso material do país, com o fomento do capitalismo
aplicado às atividades económicas:
- encerrava-se uma longa fase de conflitos entre as facões liberais (a paz social
foi conseguida através da Carta Constitucional com a revisão que lhe foi introduzida pelo Ato
Adicional de 1852
– e da promoção do rotativismo entre os partidos no poder).
Explicar o empenho do fontismo na política de obras públicas
A política de Obras Públicas do período da Regeneração foi designada por fontismo
devido à ação do ministro Fontes Pereira de Melo.
Preocupado em recuperar o país do atraso económico, Fontes encetou uma política de
instalação de infraestruturas e equipamentos, tais como estradas, caminhos-de-ferro, carros
elétricos, pontes, portos, telégrafo e telefones.
Vislumbravam-se três grandes vantagens decorrentes do investimento em transportes
e meios de comunicação:
- a criação, pela primeira vez na história portuguesa, de um mercado nacional,
fazendo chegar os produtos a zonas isoladas e estimulando o consumo;
- o incremento agrícola e industrial;

42
- o alargamento das relações entre Portugal e a Europa evoluída. Porém, como
alertava, então, Oliveira Martins, embora o caminho-de-ferro fosse um meio de
desenvolvimento económico
– o “silvo aguda da locomotiva” que nos despertou “do nosso sono histórico”
- também criou “condições de concorrência para que não estávamos preparados”.

Caracterizar as linhas de força do fomento económico da Regeneração


1. Revolução dos transportes – esperava-se que a política de instalação de meios de
transporte e de comunicação levasse a todo o país um progresso geral.
Assim, apostou-se na construção rodoviária e na expansão da rede ferroviária (em
cerca de 50 anos, desde a ligação de Lisboa ao Carregado, em 1856, as vias férreas cobriram
o território nacional).
Construíram-se pontes (por exemplo, a ponte D. Luís no Porto) e portos
(nomeadamente, o porto de Leixões).

2. Livre-Cambismo
– o fomento económico assentou na doutrina livre-cambista, expressa na pauta
alfandegária de 1852. Fontes Pereira de Melo (o qual, além de ministro das Obras Públicas,
foi, também, ministro da Fazenda) era um acérrimo defensor da redução das tarifas
aduaneiras, argumentado que:
- só a entrada de matérias-primas a baixo preço poderia favorecer a
produção portuguesa;
- a entrada de certos produtos industriais estrangeiros (que Portugal não
produzia) a preços mais baixos beneficiava o consumidor;
- a diminuição das tarifas contribuía para a redução do contrabando. 3.
Exploração da agricultura orientada para a exportação
– a aplicação do liberalismo económico favoreceu a especialização em
certos produtos agrícolas de boa aceitação no estrangeiro como, por exemplo, os vinhos e a
cortiça.
A aplicação do capitalismo ao sector agrícola passou por uma série de inovações,
nomeadamente:
- o desbravamento de terras (arroteamentos);
- a redução do pousio;
- a abolição de pastos comuns;
- a introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas (sobretudo no Centro e Sul
do país, pois no Norte a terra é mais fragmentada e irregular);
- o uso de adubos químicos (produzidos nacionalmente, devido ao desenvolvimento
da indústria química).

4. Arranques industriais
– apesar do atraso económico de Portugal em relação aos países desenvolvidos da
Europa, registaram-se alguns progressos a nível industrial:
- difusão da máquina a vapor;
- desenvolvimento de diversos sectores da indústria (nomeadamente
cortiças, conservas de peixe e tabacos);

43
- criação de unidades industriais e concentração empresarial em alguns
sectores (por exemplo, no têxtil);
- aumento da população operária, sobretudo no Norte do país (apesar de se
tratar maioritariamente de mão-de-obra não qualificada);
- criação de sociedades anónimas;
- aplicação da energia elétrica à indústria (já no século XX). No entanto, a
economia portuguesa padecia de alguns problemas de base que impediram o crescimento
industrial:
- a falta de certas matérias-primas no território nacional (por
exemplo, o algodão);
- a carência de população ativa no sector secundário (totalizava
apenas cerca de 20%, em 1890);
- a falta de formação do operariado e do patronato;
- a orientação dos investimentos particulares para as atividades
especulativas e para o sector imobiliário, em detrimento das atividades produtivas; - a
dependência do capital estrangeiro.

4-2-ENTRE A DEPRESSÃO E A EXPANSÃO (1880-1914)


Relacionar a crise financeira de 1880-1890 com os mecanismos de dependência criados
Apesar da revolução dos transportes e dos progressos na agricultura e na indústria, a
Regeneração assentou o fomento económico sobre bases instáveis: Livre-cambismo – abriu
caminho à entrada de produtos industriais a baixo preço.
Portugal não tinha condições de competitividade, dado que a sua industrialização teve
início cerca de meio século mais tarde que os países desenvolvidos da Europa.
Simultaneamente, a exportação de produtos agrícolas decaiu (devido à doença das
vinhas – filoxera – e à concorrência de outros países também produtores de laranjas e
carnes).
Em resultado, a balança comercial portuguesa era negativa ou deficitária (as
importações sobrepunham-se às exportações), em especial cerca de 1890.

Investimentos externos – grande parte do desenvolvimento português (vias férreas,


transportes urbanos, banca, indústria) fez-se à custa de investidores estrangeiros, logo, as
receitas originadas por esses investimentos não revertiam a favor de Portugal.
O ramo dos tabacos, nomeadamente, registou um desenvolvimento assinalável, porém,
ficou na posse do capital estrangeiros a partir de 1891.

Empréstimos – O défice das finanças públicas agravou-se ao longo do século XIX


(chegando aos 10 000 contos de reis entre 1885 e 1889).
Os recursos utilizados para aumentar as receitas passavam, geralmente, pelas
remessas dos emigrantes (que diminuíram devido à conjuntura política brasileira) pelo
aumento dos impostos (medida antipopular) e por pedidos de empréstimo ao estrangeiro, em
particular ao banco inglês Baring & Brothers (empréstimos que eram utilizados, muitas das
vezes, para pagar os juros de empréstimos anteriores).
Por isso, quando o banco londrino abriu falência, em 1890, Portugal deixou de ter meios
de lidar com a divida.

44
O culminar da crise ocorreu em 1892, quando o Estado português declarou a bancarrota
(ruína financeira).

Justificar o surto industrial de final do século


No final do século XIX, a crise obrigou a uma reorientação da economia portuguesa,
que apostou nos seguintes vetores:
- retorno à doutrina protecionista (com a pauta alfandegária de 1892), que
permitiu à agricultura enfrentar os preços dos cereais estrangeiros e à indústria colocar a
produção no mercado em condições vantajosas;
- concentração industrial – através da criação de grandes companhias, melhor
preparadas para enfrentar as flutuações do mercado (por exemplo, a CUF – Companhia União
Fabril, de Alfredo da Silva, produtora de adubos);
- valorização do mercado colonial, suprindo a perda de mercados europeus;
- expansão tecnológica, com a difusão dos sectores ligados à 2ª revolução
industrial (eletricidade, indústria química, metalurgia pesada) e da mecanização.
nosso sono histórico” -, também criou “condições de concorrência para que não
estávamos preparados”.

4-2 ENTRE A DEPRESSÃO E A EXPANSÃO (1880-1914)


Relacionar a crise financeira de 1880-1890 com os mecanismos de dependência criados
Apesar da revolução dos transportes e dos progressos na agricultura e na indústria, a
Regeneração assentou o fomento económico sobre bases instáveis:
Livre-cambismo – abriu caminho à entrada de produtos industriais a baixo preço. Portugal não
tinha condições de competitividade, dado que a sua industrialização teve início cerca de meio
século mais tarde que os países desenvolvidos da Europa.
Simultaneamente, a exportação de produtos agrícolas decaiu (devido à doença das
vinhas – filoxera – e à concorrência de outros países também produtores de laranjas e
carnes).
Em resultado, a balança comercial portuguesa era negativa ou deficitária (as
importações sobrepunham-se às exportações), em especial cerca de 1890.
Investimentos externos – grande parte do desenvolvimento português (vias férreas,
transportes urbanos, banca, indústria) fez-se à custa de investidores estrangeiros, logo, as
receitas originadas por esses investimentos não revertiam a favor de Portugal. O ramo dos
tabacos, nomeadamente, registou um desenvolvimento assinalável, porém, ficou na posse do
capital estrangeiro a partir de 1891.
Empréstimos – O défice das finanças públicas agravou-se ao longo do século XIX (chegando
aos 10 000 contos de reis entre 1885 e 1889). Os recursos utilizados para aumentar as
receitas passavam, geralmente, pelas remessas dos emigrantes (que diminuíram devido à
conjuntura política brasileira) pelo aumento dos impostos (medida anti-popular) e por pedidos
de empréstimo ao estrangeiro, em particular ao banco inglês Baring & Brothers (empréstimos
que eram utilizados, muitas das vezes, para pagar os juros de empréstimos anteriores). Por
isso, quando o banco londrino abriu falência, em 1890, Portugal deixou de ter meios de lidar
com a divida. O culminar da crise ocorreu em 1892, quando o Estado português declarou a
bancarrota (ruína financeira).
Justificar o surto industrial de final do século

45
No final do século XIX, a crise obrigou a uma reorientação da economia portuguesa,
que apostou nos seguintes sectores:
- retorno à doutrina protecionista (com a pauta alfandegária de 1892), que permitiu à
agricultura enfrentar os preços dos cereais estrangeiros e à indústria colocar a produção no
mercado em condições vantajosas;
- concentração industrial – através da criação de grandes companhias, melhor preparadas
para enfrentar as flutuações do mercado (por exemplo, a CUF – Companhia União Fabril, de
Alfredo da Silva, produtora de adubos);
- valorização do mercado colonial, suprindo a perda de mercados europeus;
- expansão tecnológica, com a difusão dos sectores ligados à 2ª revolução industrial
(eletricidade, indústria química, metalurgia pesada) e da mecanização.

4-3 AS TRANSFORMAÇÕES DO REGIME POLÍTICO NA VIRAGEM DO SÉCULO


Equacionar os fatores que contribuíram para o descrédito da monarquia portuguesa
Entre as principais causas de crise da monarquia, contam-se:
1. A crise do rotativismo partidário – o modelo político de alternância, no poder, entre dois
partidos (Progressistas e Regenerador) que caracterizara a estabilidade da segunda metade
do século XIX, encontrava-se esgotado, pois os políticos não haviam conseguido resolver os
principais problemas do país. Nos finais do século XIX, a incapacidade do rei em pôr cobro às
querelas políticas constituiu um dos fatores da descrença dos cidadãos no sistema
monárquico.
2. A “questão do Ultimato inglês” – em tempos de nacionalismo imperialista, opuseram-se
dois projetos de ocupação em África: o inglês, que pretendia unir os territórios numa faixa de
Norte a Sul, ligando o Cairo ao Cabo, e o “Mapa cor-de-rosa” português, proposta da
Sociedade de Geografia de Lisboa (1881) de ocupar os territórios entre as colónias
portuguesas de Angola e Moçambique. A Inglaterra dirigiu um Ultimatum (última ordem) a
Portugal em 1890, no sentido de impor, se necessário, pela força, as ambições inglesas. O
governo português cedeu. A questão do Ultimatum foi considerada um insulto ao orgulho
nacional e contribuiu para criar, entre a opinião pública, a ideia de que a monarquia era
incapaz de defender os interesses do país. Deste incidente nasceu “A Portuguesa”, atual hino
nacional que então exortava os portugueses a marchar “contra os Bretões”!
3. A crise económica – a década de 1880-1890 foi marcada por uma crise económica aguda.
No final do século XIX, apesar do fomento industrial baseado no protecionismo económico, os
problemas estruturais mantinham-se (nomeadamente, a falta de investimento em atividades
produtivas, o atraso agrícola, a dependência externa, a emigração de parte da população ativa
para o Brasil em busca de melhores condições de vida). Na primeira década do século XX, o
descrédito na política económica do Governo e da monarquia agravou-se devido à descoberta
de irregularidades financeiras (ligadas ao favorecimento do capitalista Conde de Burnay nos
tabacos e às despesas com a família real).
4. A difusão da ideologia republicana – em 1876 foi fundada, em Portugal, o Partido
Republicano. Rapidamente conquistou a adesão das classes médias, vítimas da crise económica
e descrentes da política. Em 1880, as comemorações do tricentenário da morte de Camões
foram aproveitadas politicamente para reforçar o sentimento de desconfiança face ao regime
monárquico.

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5. A revolta de “31 de Janeiro” – em 1891, em contexto de profunda crise económica e de
rescaldo do ultimato inglês, um grupo de militares de baixa patente protagonizou uma
tentativa de implantação da Republica, no Porto (na antiga Rua de Santo António, atual Rua 31
de Janeiro). Apesar de fracassada (foi violentamente reprimida), a revolta exprimiu os
anseios de derrube da monarquia partilhados por grande parte da população.
6. A ditadura de João Franco – em 1907, o rei D. Carlos dissolveu o Parlamento, permitindo
ao ministro João Franco que governasse com plenos poderes. A ditadura apenas veio a
reforçar o descontentamento com a monarquia.
7. O regicídio – o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, em 1908,
mostrou, em evidência, o total descrédito em que havia caído a monarquia. Depois de um golpe
tão violento, tornou-se impossível ao filho mais novo do rei – D. Manuel II – assegurar a
continuidade da dinastia de Bragança no poder. Foi o último rei de Portugal.

Enunciar os princípios fundamentais do ideário republicano


As principais ideias sobre as quais assentou a atuação dos governos da Primeira República
foram:
- a laicização do Estado (total separação entre a Igreja e o Estado)
- porém, as medidas anticlericais do ministro Afonso Costa (por exemplo, a expulsão dos
jesuítas do país) fizeram com que a primeira república perdesse uma grande parte do apoio
popular;
- a abolição da sociedade de ordens (pela aniquilação definitiva dos privilégios do Clero e da
Nobreza);
- a defesa dos direitos dos trabalhadores (nomeadamente, instituindo o direito à greve e o
descanso obrigatório aos domingos para os assalariados);
- o direito à instrução (através da reforma do ensino público)
– a Primeira República conseguiu resultados assinaláveis no domínio do ensino, porém, afastou
os analfabetos da intervenção política.
8-Descrever a Revolução de 5 de Outubro de 1910
A revolução foi preparada para ter início no dia 4 de Outubro, em Lisboa. Com efeito,
desde a madrugada, foram-se organizando os oficiais revoltosos, os quais puderam contar o
auxílio da Marinha. Seguiram-se recontros entre os republicanos e as tropas fiéis à
monarquia. A República foi proclamada às 9 horas do dia 5 de Outubro de 1910, da varanda
dos Paços do Concelho. Consumava-se o fim de um sistema político que, na prática, já ruíra.
Logo após a revolução, formou-se um Governo Provisório presidido por Teófilo Braga.

9-Caracterizar o regime político instaurado pela Constituição de 1911


A Assembleia Nacional Constituinte elaborou a Constituição de 1911 e elegeu o primeiro
presidente da República (Manuel de Arriaga). As linhas de fundo do regime político
republicano eram:
- superioridade do poder legislativo, pois o Congresso da República, composto pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado, era dotado de amplos poderes: controlava o Governo e podia
destituir o presidente da República. Esta característica pode, aliás, explicar a instabilidade
governativa da Primeira República;
- o carácter simbólico da figura do presidente da República, o qual era eleito pelo Congresso e
não podia exercer o direito de veto sobre as leis emanadas do Congresso;

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- o sufrágio direto e universal para os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou
fossem chefes de família.

5-OS CAMINHOS DA CULTURA


5-1-A CONFIANÇA NO PROGRESSO CIENTÍFICO
Relacionar o cientismo com os progressos da ciência e da técnica na segunda metade de
Oitocentos
Na segunda metade do século XIX, os extraordinários avanços da técnica e da ciência
(proporcionados, por um lado, pela expansão da Revolução Industrial e, por outro, pela difusão
dos laboratórios de pesquisa) foram responsáveis pela propagação da crença no poder da
ciência.
O Racionalismo parecia ser o único meio para explicar todos os fenómenos e a principal
via para atingir a felicidade e o progresso.
A esta fé nas verdades transmitidas pelo conhecimento científico dá-se o nome de
cientismo.

Referir os principais avanços científicos


No século XIX foram feitos estudos que marcaram o conhecimento até à atualidade,
nomeadamente:
- o casal de físico Pierre e Marie Curie dedicou a sua vida à ciência – Física -, em
particular ao conhecimento da radioatividade;
- o biólogo Charles Darwin concluiu que os animais – Homem incluído – sofreram
alterações morfológicas ao longo de períodos de tempo muito longos, as quais resultaram de
uma bem-sucedida adaptação ao meio ambiente (teoria evolucionista)
- o químico Mendeleiev elaborou a primeira tabela periódica dos elementos;
- Pasteur demonstrou a existência de microrganismos – bactérias - no ambiente;
- Koch, no seguimento dos estudos de Pasteur, isolou a bactéria – também
chamada de bacilo Koch – que provoca a tuberculose (doença de elevadíssima morbilidade no
século XIX).
As ciências sociais, à imitação das ciências exatas, procuraram estabelecer leis gerais
e definir métodos rigorosos de pesquisa:
- Augusto Comte foi a figura fundamental na definição do pensamento científico da
segunda metade de Oitocentos. Criou o Positivismo, sistema filosófico que leva o cientismo ao
seu expoente máximo, ao estabelecer que a Humanidade alcançará o estado positivo quando o
conhecimento se basear apenas em factos comprovados pela ciência;
- Émile Durkheim sistematizou as regras da nova disciplina das Ciências Sociais: a
sociologia; -Karl Marx analisou os modos de produção ao longo da História, transformando o
socialismo num sistema científico de análise da sociedade (o materialismo histórico ou
socialismo científico).

Explicar o investimento público na área do ensino


No século XIX, a questão da educação tornou-se um tema prioritário para vários
governos da Europa ocidental, pelos seguintes motivos:
- o aprofundamento dos sistemas representativos (demoliberalismo) fez com que o
direito de voto se estendesse à maioria da população, pelo que a classe política viu interesse

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na difusão do ensino público como meio de esclarecer os cidadãos e de influir na sua tomada
de decisões;
- o espírito positivista do século XIX, ao considerar unicamente como verdadeiro o
conhecimento obtido através da observação e da experimentação, contribuiu para a
valorização de instituições ligadas à ciência (universidades, laboratórios, museus de História
natural);
- a laicização dos Estados, ao retirar da alçada da Igreja a tradicional função
educadora, levou a uma maior responsabilização dos Estados na alfabetização;
- as classes médias, ligadas à vida urbana, procuraram cursos que promovessem a sua
ascensão social, nomeadamente aqueles que os preparassem para exercer profissões liberais.

5-2-O INTERESSE PELA REALIDADE SOCIAL NA LITERATURA E NAS ARTES – AS NOVAS


CORRENTES ESTÉTICAS NA VIRAGEM DO SÉCULO
Evidenciar a modernidade das correntes estéticas do fim do século: Realismo,
Impressionismo, Simbolismo e Arte Nova
A segunda metade do século XIX foi extremamente rica em propostas artísticas;
importa contextualizá-las historicamente:
Realismo – esta corrente afirma uma reação clara aos pressupostos românticos:
em vez do culto do eu, propõe a análise da sociedade; contrariando a nostalgia do passado,
analisa criticamente a contemporaneidade; por oposição às paisagens dramáticas, representa
cenas banais, e as suas personagens não são heróis, mas pessoas simples.
O desejo de objetividade na arte reflete a aceitação da corrente filosófica
positivista. O gosto pelo concreto levou a que, na pintura, os artistas Courbet, Millet e Manet
representassem cenas do quotidiano; porém, a tentativa de representar exclusivamente o real
chocou a sociedade burguesa de então.
Impressionismo – foi da tela de Monet Impressão: Sol Nascente que nasceu o termo
impressionistas, utilizado por um crítico, desdenhosamente, para designar o grupo de pintores
(de que se salientam Monet, Renoir, Degas e Cézanne) que desafiaram as convenções
artísticas da época.
O Impressionismo procurava captar, em tela, a fugacidade do real. Aproximava-se da
pintura realista no tratamento de temas vulgares e urbanos, mas aceitava a subjetividade do
olhar, transmitida pelos efeitos de luz e pelas cores inesperadas. Graças à expansão das vias-
férreas e à novidade dos tubos de estanho com as cores já preparadas, os pintores
impressionistas puderam trocar os ateliers pelo ar livre.

Simbolismo – em reação ao Realismo e ao Positivismo, a corrente simbolista acentua a


impossibilidade de existência de uma só realidade e propõe como alternativa a representação
simbólica das ideias, razão por que os seus autores foram denominados simbolistas.
Gustave Moreau e Puvis de Chavannes souberam criar nas suas telas um ambiente de
mistério e de sonho, enquanto Paul Gauguin procurou afastar-se da civilização industrial
europeia para procurar, na arte e na vida, um ideal de primitivismo.
Em Inglaterra, a pintura de Rossetti ou de Burne-Jones (chamada pré-Rafaelita por
recusar os cânones do Renascimento) pode ser integrada na corrente simbolista pela
aproximação ao sobrenatural e pela valorização de ambientes de evasão.

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Arte Nova – assumindo-se, sobretudo, como um estilo decorativo, a Arte Nova resulta
da vontade de imprimir colorido e graciosidade a uma Europa descaracterizada pela
industrialização.
Os artistas da Arte Nova elaboram joias refinadas (Lalique), adornavam a entrada para
o metropolitano parisiense, ilustravam painéis publicitários com gravuras de mulheres
idealizadas entre flores e folhagens (Mucha).
O requinte e a elegância permitem identificar, rapidamente, todas as facetas da Arte
Nova. Enquanto corrente arquitetónica, a forma ondulada, a aplicação do ferro e a valorização
da estrutura como decoração marcaram as obras de Arte Nova, salientando-se as do
arquiteto Gaudí, em Barcelona.

Estabelecer um paralelo entre as artes plásticas e a literatura


As artes plásticas e a literatura seguiram caminhos comuns na revolução artística da
segunda metade do século XIX, em particular nas correntes realistas e simbolista.
Na literatura, as descrições minuciosas e a crítica social caracterizavam as obras
literárias dos autores realistas, como Flaubert, enquanto Émile Zola denunciava as condições
de vida do operariado.
O simbolismo literário caracterizou-se pela expressão do sobrenatural e pela
valorização das ideias subjectivas, nomeadamente na obra de Baudelaire, cujo soneto
Correspondances é o ponto de partida para o cânone formal do Simbolismo, e em Edgar Allan
Poe, autor inglês cujas obras são carregadas de mistério.

5-3 PORTUGAL: O DINAMISMO CULTURAL DO ÚLTIMO TERÇO DO SÉCULO


Enquadrar a cultura portuguesa nos caminhos da cultura europeia
A Regeneração (através do fomento das vias de transporte e da modernização geral)
aproximou Portugal, em termos culturais, da Europa desenvolvida.
O grupo que encetou a revolução artística, chamado Geração de 70 (por serem os anos
70 do século XIX), era composto por autores que se opuseram aos cânones literários da
época, nomeadamente Antero de Quental e Eça de Queirós.
Em 1865, ainda estes estudavam em Coimbra, a ruptura efectuou-se com a Questão do
Bom Senso e do Bom Gosto, polémica motivada por uma carta de crítica de Antero dirigida ao
celebrado poeta Castilho.
Mais tarde, em 1871, o programa das Conferências Democráticas, de Antero de
Quental, previa “ligar Portugal com o movimento moderno” e “procurar adquirir a consciência
dos factos que nos rodeiam na Europa”.

Realçar o papel da geração de 70


Os elementos da Geração de 70, constituindo o Cenáculo, renovaram os cânones
estéticos e intervieram na sociedade, em especial através do ciclo de conferências no Casino
Lisbonense.

50
As Conferências do Casino eram uma lufada de ar fresco no marasmo da cultura
nacional; porém, foram interrompidas pela proibição do Governo que se sentia ameaçado pela
polémica.
A Geração de 70, embora muito profícua em obras literárias e ensaios, dar-se-ia por
derrotada nos seus objectivos revolucionários, intitulando-se o grupo dos “Vencidos da Vida”
nos anos 80 do século XIX.
O grande mentor da geração de 70, Antero de Quental, suicidou-se em 1891.

Caracterizar a pintura portuguesa nos caminhos da cultura europeia


Em Portugal, o século XIX é fortemente marcado pela corrente naturalista na pintura.
O contacto dos artistas nacionais – nomeadamente, Marques de Oliveira e Silva Porto –
com a pintura francesa, graças à atribuição de bolsas aos mais talentosos, permitiu-lhes
praticarem com mestres de novos estilos.
Começaram a privilegiar a pintura ao ar livre, paisagista, dentro da linha da Escola de
Barbizon.
Dedicaram-se ao tratamento de temas banais do quotidiano e à representação de
elementos anónimos do povo.
Um pouco tardio em relação ao Naturalismo francês, este “realismo na pintura” foi
muito bem acolhido, não suscitando a polémica que recebera em Franca.
Prolongou-se até ao século XX, altura em que surgem, também, pintores com
aproximação ao Simbolismo, como António Carneiro, influenciado pela corrente simbolista
francesa de Puvis de Chavannes.

Referir os principais vultos da literatura e das artes


Nas artes plásticas: Silva Porto e Marques de Oliveira (fundadores do Grupo do Leão),
Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Aurélia de Sousa, Henrique Pousão, António Carneiro.
Na literatura: Eça de Queirós, Cesário Verde, Antero de Quental (realistas), Eugénio
de Castro, Camilo Pessanha, António Nobre (simbolistas).
Na historiografia: Oliveira Martins (autor, nomeadamente, de Portugal Contemporâneo
e da História de Portugal).

MÓDULO 7: CRISES, EMBATES IDEOLÓGICOS E MUTAÇÕES CULTURAIS NA PRIMEIRA


METADE DO SÉCULO XX
1. AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX
1.1. UM NOVO EQUITÍBRIO GLOBAL

1918 – Fim da 1ª Guerra Mundial


1919 – Conferência de Paz (Paris)
Presença das 3 potências vencedoras:
 França (Clemenceau)
 Grã-Bretanha (Lloyd George)
 E.U.A (Wilson) Apresenta “14 pontos” (base às negociações), que defendiam:
▬ Diplomacia transparente
▬ Liberdade de navegação e de trocas
Surgem os acordos de paz, concretizados ▬ Redução dos armamentos
em tratados (destaca-se o Tratado de ▬ Respeito para com as nacionalidades
Versalhes) , que implicaram uma nova ▬ Criação de uma liga de nações
politica e uma nova ordem internacional.

51
1.1.1 A geografia política após a Primeira Guerra Mundial. A sociedade das Nações

Tratados levam a uma profunda transformação do mapa da Europa e do Médio Oriente.


▬ Russo Outros estados:
▬ Alemão Perdas pesadas e violentas (França, Itália,
Bélgica…) ampliam
Queda dos Impérios ▬ Austro Húngaro (grande perdedora: Alemanha)
as suas fronteiras.
▬ Otomano

 Povos que viviam oprimidos no território dos impérios alcançam a independência politica: Estados Nação
 Com os impérios autocráticos abatidos e a emancipação de muitas nações por eles subjugadas, acreditou-se no
triunfo da justiça e da igualdade
 Extensão dos regimes republicanos e das democracias parlamentares
 Criação de um organismo para salvaguardar a paz e a segurança internacionais – a Sociedade das Nações

 A Sociedade das Nações: esperança e desencanto


Sede em Genebra onde se reuniam regularmente os estados-membros em assembleia-geral.
Objectivos da SDN:
Porém:
▬ Cooperação entre povos ▬ Povos vencidos não aceitam tratados que não assinaram
▬ Promoção do desarmamento ▬ Povos vencedores nem todos satisfeitos (Ex: Itália)
▬ Regulamentação de fronteiras nada pacifica
▬ Solução dos litígios pela via da arbitragem ▬ Minorias nacionais insatisfeitas
pacifica ▬ E.U.A não ratificam o tratado de Versalhes e não chegam a
entrar

 SDN impossibilitada de desempenhar o seu papel de organizadora de paz

1.1.2 A difícil recuperação económica da Europa e a dependência em relação aos Estados


Unidos

A primeira guerra mundial afectou de modo desigual as economias nacionais e as trocas


internacionais:
 Declínio da Europa
 Ascensões dos países extra-europeus – destacam-se os E.U.A que se tornaram primeira
potência mundial

 O declínio da Europa

Após a primeira guerra: Europa arruinada, no plano humano e material


 Campos destruídos  Dificuldades de reconversão
 Extremamente dependente dos  Desvalorização Monetária (mais
E.U.A (principal fornecedor) grave na Itália e na Alemanha)
 Acumulação de dívidas  Inflação
 A ascensão dos Estados Unidos e a recuperação europeia
Créditos Americanos

Empréstimos avultados à Europa


52
 Europa em condições de reembolsar os E.U.A das
▬ Possuidores de metade do ouro mundial
▬ Prosperidade da sua balança de pagamentos
▬ Prodigiosa capacidade de produção
▬ Métodos de racionalização do trabalho (Taylorismo)
▬ Concentração capitalista de empresas

1.2. A IMPLANTAÇÃO DO MARXISMO-LENINISMO NA RÚSSIA: A CONSTRUÇÃO DO MODELO


SOVIÉTICO

1.1.3 1917: O ano das Revoluções

 Uma situação explosiva

1917 – Império Russo à beira do abismo

Situação Política Situação Social


 Czar tem poder autocrático privilegiando Contestação protagonizada por:
a Alta Nobreza e o Clero  Socialistas – revolucionários: reclamavam a
 Guerra com Japão (1904-05) - Derrota – partilha de terras
Descrédito da Dinastia Romonov  Sociais-democratas:
 Descontentamento Popular – Domingo ▬ Bolcheviques (mais radicais)
Sangrento ▬ Mencheviques (menos radicais)
 Prisão/exílio dos opositores políticos  Constitucionais-democratas: adeptos do
 85% da sociedade – camponeses parlamentarismo à maneira ocidental

 Rússia na cauda da industrialização


 Burguesia pouco expressiva Insatisfação – Anseios
Democráticos
 Riqueza nas mãos de uma elite anacrónica
 Operariado minoritário

 Da revolução de Fevereiro à Revolução de Outubro

Revolução de Fevereiro
Reunidos numa assembleia popular denominada Soviete, os operários incitavam ao derrube de
czar. A adesão dos soldados ao Soviete resultou no assalto ao Palácio de Inverno:
 Fim do Czarismo – República (Governo Provisório)

Dualidade de Poderes

Governo Provisório Soviets


(Kerensky e Lvov)  Querem o fim da guerra
 Continuam a guerra  Querem uma nova ordem social e
 Querem liberalizar a economia económica

53
Desejo de uma nova Revolução

Revolução de Outubro
Bolcheviques (Guardas Vermelhos) assaltam o palácio de Inverno e derrubam o Governo
Provisório nele sediado.
 Poder entregue ao Conselho dos Comissários do Povo (só bolcheviques). Líderes: Lenine
e Trotsky.

1.1.2. Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático

 A democracia dos sovietes; dificuldades e guerra civil (1918-1920)

O novo governo iniciou funções com a publicação de decretos revolucionários que procuraram
responder às aspirações das massas populares e às reivindicações dos sovietes:
 Decreto sobre a paz
Proprietários e empresários criam obstáculos à aplicação
 Decreto sobre a Terra destes decretos
 Decreto sobre o Controlo Operário
 Decreto sobre as nacionalidades
▬ Negociações em Brest-Litovsk (sob a direção de Trotsky) – Rússia assina paz separada
com a Alemanha – perde população, terras cultivadas e minas de ferro e de carvão

▬ Débil adesão da população russa ao projeto bolchevique

Brancos Vermelhos
Opositores ao Bolcheviquismo (apoio de Bolcheviques – dispuseram de um coeso e
Inglaterra, França E.U.A e Japão) desejosos de disciplinado exército vermelho organizado por
evitar a expansão do bolcheviquismo Trotsky

Guerra Civil
Vencedores: Vermelhos

 O comunismo de guerra, face da ditadura do proletariado (1918-1921)

Ditadura do proletariado:
Etapa transitória no processo de construção da sociedade socialista.
Detendo a “supremacia politica” o proletariado retiraria “todo o capital à burguesia” e
centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, que enquanto

54
instrumento de domínio de uma classe sobre a outra deixaria de fazer sentido e se
extinguiria. Dando assim lugar ao Comunismo.
▬ Dada a situação da Rússia (Guerra Civil…) e longe de ceder, Lenine tomou medidas
energéticas que conferiram à ditadura do proletariado um carácter violento e implacável:
 Fim da democracia dos Sovietes  Partidos políticos proibidos (exceto
 Nacionalização Económica o comunista) bem como os jornais
 Trabalho obrigatório (dos 16 aos 50 “burgueses”
anos)  Terror – Policia Tcheca (policia
 Assembleia constituinte dissolvida politica) – prendia, julgava e
executava rapidamente

Comunismo de Guerra
 O centralismo democrático

Desde 1922 a Rússia converteu-se na União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS).
A conciliação da disciplina e da democracia do Estado Soviético conseguiu-se com a fórmula
do Centralismo Democrático:
 Todos os corpos dirigentes são eleitos “de baixo para cima”, enquanto as suas decisões
são de cumprimento obrigatório das bases. Assim todo o poder emana da base
(sovietes) que é controlada por duas forças: o Estado e o Partido Comunista. (doc.19,
p.35)

1.3. A REGRESSÃO DO DEMOLIBERATISMO


 A Nova Política Económica

Após a Guerra Civil a economia da Rússia estava na ruína:


▬ Produção de cereais descera para metade
▬ Camponeses (obrigados à requisição de géneros) não produziam
▬ Inverno difícil e seca do verão – mortes de fome
▬ Produção industrial diminuíra
Comunismo de Guerra cede lugar à Nova Política Económica (NEP), um recuo estratégico que
recorreu ao capitalismo. Medidas:
o Camponeses podem ficar com excedências a troco de impostos – podem vendê-los nos
mercados
o Desvalorizam-se as pequenas empresas – devolvem-se aos seus proprietários
o Aceitam ajuda estrangeira
o Eliminam trabalho obrigatório
 Aumento dos níveis de produção

1-4 MUTAÇÕES NOS COMPORTAMENTOS E NA CULTURA


1.4.1. As transformações da vida urbana

55
O século XX foi o século das grandes cidades. A população urbana superou a das zonas rurais.
Esta urbanização maciça, levou a transformações profundas na vida e nos valores da
civilização ocidental.

 A nova sociabilidade

▬ Massificação
▬ Nos tempos livres: lugares públicos (cafés, esplanadas, cinemas…)
▬ Crescimento da classe média
Aceleração do ritmo de vida;
▬ Melhoria do nível de vida Ruptura da rígida moral oitocentista
▬ Nova cultura do ócio (cidade oferece inúmeras distracções)
▬ Prazer do consumo e ânsia de divertimento
▬ Prática desportiva
▬ Convivência entre sexos mais livre e ousada
▬ Surgimento do automóvel

 A crise dos valores tradicionais

A brutalidade da primeira guerra mundial pôs em causa as instituições, os valores espirituais


e morais:
 Tinham morrido 9 milhões de homens
 A miséria tomara conta das ruas das grandes cidades europeias, outrora prósperas e
activas

 Sentimento de descrença e pessimismo


Relatividade de Valores
 Vaga de contestação a todos os níveis
 Clima de anomia

Acelera as mudanças já em curso, de todas elas a emancipação feminina foi a que mais
perturbou os contemporâneos.

 A emancipação feminina

 Direito das mulheres casadas à propriedade dos seus bens, à tutela dos seus filhos, ao
acesso à educação e a um trabalho socialmente valorizado
 Direito de participação na vida política (direito de voto)
▬ Organizam-se associações sufragistas (querem assegurar igualdade politica)
 Homens nas trincheiras – mulheres viram-se libertas das suas tradicionais limitações como
donas de casa – assumindo a autoridade do lar e o sustento da família
 Moda: não ao espartilho; saia acima do tornozelo; cabelo à garçonne

1.4.2. A descrença no pensamento positivista e as novas concepções científicas

O positivismo estabelecera uma confiança absoluta no poder do raciocínio e da ciência.


Acreditava-se num mundo regido por leis claras e objectivas.

56
▬ Inicio do séc. XX – valorização de outras dimensões do conhecimento.
→ Intuição (Henri Bergson) – para compreender certas realidades é preciso para além da
razão intuição. O intuicionismo teve um grande impacto na comunidade intelectual, que
viu nele uma libertação das normas rígidas do conhecimento.
 Descrença no pensamento positivista

 O relativismo

O relativismo é uma nova concepção de ciência que admite a impossibilidade do conhecimento


absoluto e acredita que o conhecimento depende das condições do tempo, do meio e do
sujeito que conhece.

Teoria Quântica (Max Planck):


▬ As trocas de energia fazem-se em pequeníssimas unidades separadas (quantum) que se
movimentam a velocidades inimagináveis, em saltos bruscos e descontínuos
Teoria da Relatividade (Albert Einstein):
▬ O espaço e o tempo são relativos

 As concepções psicanalíticas

Segundo a psicanálise, o psiquismo humano estrutura-se em 3 níveis distintos: o consciente, o


subconsciente e o inconsciente. Por influência das normas morais o indivíduo tem tendência
para bloquear desejos ou factos indecorosos e culpabilizantes, remetendo-os para o
inconsciente onde ficam aprisionados num aparente esquecimento. No entanto, os impulsos e
sentimentos assim recalcados persistem em afluir à consciência.
▬ A psicanálise permite trazer à lembrança os traumas
▬ Neuroses: doença mental que deriva da luta entre o consciente e o inconsciente
▬ A psicanálise estendeu-se também ao mundo da arte dando origem ao movimento
surrealista

1.4.3. As vanguardas: Rupturas com os cânones das artes e da literatura

Nas primeiras décadas do séc. XX uma autêntica explosão de experiências inovadoras


revoluciona as artes, dando origem a uma estética inteiramente nova
→ Modernismo: assume a liberdade de criação estética repudiando todos os
constrangimentos, em especial os princípios académicos. Este movimento cultural surgiu
em Paris, que era então o centro da vanguarda cultural Europeia.

Vanguarda Cultural: movimento inovador no campo cultural/artístico que rejeita os cânones
estabelecidos e antecipa tendências posteriores.
 O fauvismo
(Paris)
Características:
▬ Primado da cor sobre a forma (cor como forma de expressão)

57
▬ Cores primárias, muito intensas, brilhantes e agressivas
▬ Pinceladas soltas, violentas e grossos empastes
▬ O colorido autonomiza-se completamente do real
▬ Influência da arte primitiva (destituída de temas perturbadores ou deprimentes)
Pintores:
 Henri Matisse
 André Derain

 O Expressionismo
(Alemanha – Berlim, Dresden, Munique)
Grito de revolta individual contra uma sociedade excessivamente moralista e hierarquizada
onde as inquietações da alma raramente se podiam expressar, abafadas por normas e
preconceitos
Características:
▬ Representação de emoções – temática pesada (angustia, desespero, morte, sexo, miséria
social…)
▬ Figuras humanas intencionalmente deformadas
▬ Ridicularização de grupos como a Burguesia e os Militares
▬ Formas primitivas, simples e distorcidas (que deformavam a realidade para causar
assombro, repulsa angustia)
▬ Grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas livremente
Pintores:
 Edvard Munch
 Ernst Kirchner

 O cubismo
(Paris)
Utiliza como linguagem a geometria, decompondo o objecto. Assim a visão parcelar é
substituída por uma visão total dos objectos que passam a ser representados de várias
perspectivas. Revela também a influência da arte africana (máscaras rituais).
Cubismo Analítico Cubismo Sintético
 Geometrizam e simplificam  Elementos fundamentais
formas reagrupados de uma maneira
 Destruição completa das leis da mais coerente e lógica
perspectiva  Juntam aos materiais da pintura
 Visão total dos objectos objectos comuns (papeis, cartão,
representados (estilhaçando a tecido, corda…)
imagem em vários planos que se  Cor regressa
sobrepõem
 Cores restringem-se: azuis,
cinzas, castanhos
→ Destruiu as leis tradicionais da perspectiva e da representação
→ Abre caminho à arte abstrata
→ Alargou os horizontes plásticos introduzindo neles materiais comuns
Pintores:

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 Pablo Picasso
 Georges Braque

 O Abstracionismo
(Paris)
Formas abstractas que despertam em cada pessoa reacções diferentes, rejeitando uma
realidade concreta.
Abstraccionismo Sensível ou Lírico:
▬ Cores fortes e vibrantes
▬ Abstracções de forma e de cor ▬ Supressão de toda a emotividade
pessoal
Abstraccionismo Geométrico ▬ Linhas rectas e figuras geométricas
▬ Expressa a verdade essencial e preenchidas por manchas de cor
inalterável das coisas
Pintores:
 Vassily Kandinsky (Lírico)
 Piet Mandrion (Geométrico)
 O Futurismo

(Milão)
▬ Rejeição total da estética do passado e ▬ Representação do mundo industrial: a
exaltação da sociedade industrial cidade, a máquina, a velocidade, o ruído
▬ Admiração pela tecnologia moderna e ▬ Ideia de ritmo
pela velocidade ▬ Movimento criado a partir da repetição
▬ Exaltação da guerra de formas e de cores
Pintores:
 Umberto Boccioni
 Luigi Russolo

 O Dadaismo
(Zurich – Suiça)
▬ Desprezo pelo mundo violento, pela ▬ Negar a arte e o seu valor
sociedade e pelas suas regras ▬ Anti-arte: troça, insulta, critica
▬ “Fome de absurdo” (destruir os ▬ Manifestação do enorme movimento de
fundamentos da arte) revolta intelectual e artística
Pintores:
 Marcel Duchamp
 Francis Picabia

 O surrealismo
(França)
▬ Influência de Freud e da Psicanálise
▬ Mundo de interioridade era procurado no inconsciente do artista
▬ Fundir a realidade e o sonho numa surrealidade
▬ Autonomia da imaginação e a capacidade do inconsciente de se exprimir sem limitações

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▬ Universos absurdos, cenas grotescas e estranhas, sonhos e alucinações, cor usada
arbitrariamente
Pintores:
 Salvador Dali e René Magritte (surrealistas figurativos)
 Joan Miró (surrealista abstracto)

 Os caminhos da literatura
Tal como no campo das artes a literatura sofreu uma verdadeira revolução, que pôs em causa
os valores e as tradições literária. Destacam-se então algumas novas características:
▬ Libertação da obra literária face à realidade concreta
▬ Obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens
▬ Novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica

1.5. PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS-GUERRA


1.5.1 As Dificuldades Económicas e a Instabilidade Política e Social; A Falência da Primeira
República
Primeira República Portuguesa:
▬ Parlamentarismo – Elevados poderes do Congresso e da República – Instabilidade
Governativa
▬ Laicismo da República – separação da Igreja do Estado e violento Anticlericalismo

 Dificuldades Económicas e Instabilidade Social

1916 – Portugal entra na Guerra


 Acentuo dos desequilíbrios económicos e do descontentamento social.
 Falta de bens de consumo  Aumento do custo de vida
 Racionamento e Especulação  Poder de compra das classes médias
 Produção industrial em queda reduzido a metade
 Crescimento do défice da balança
comercial
 Divida publica disparou
 Diminuição das receitas orçamentais
 Aumento das despesas
 Multiplicação da massa monetária -
Desvalorização da Moeda – Inflação

60
 Agitação Social – Contornos violentos nas grandes cidades

 O agravamento da Instabilidade política


Guerra traz o agravamento da instabilidade política.
1915 - Pimenta Castro dissolve o Parlamento e instala a ditadura militar
1917 - Sidónio Pais destitui o Presidente da República, dissolve o Congresso e faz-se eleger
presidente por eleições directas
▬ Dizia-se fundador de uma “República Nova”, era visto por muitos como um “Salvador da
Pátria”
▬ Vai suscitar devoções fervorosas – Acaba por ser assassinado em 1918
Fim do Sidonismo - País no Caos:
 Guerra civil em Lisboa e no Norte
 Regresso ao funcionamento democrático das instituições
 Divisão dos republicanos agravou-se
 Antigos políticos eram incompreendidos e retiravam-se
 Novos lideres não tinham capacidade nem carisma para impor os seus projectos
 Instabilidade governativa e Actos de Violência

 A Falência da Primeira República


Fraquezas da República – Oposição aproveita para se reorganizar:
▬ Igreja cerrou fileiras em torno do Centro Católico Português
▬ Grandes proprietários e capitalistas criam a União dos Interesses Económicos
▬ Classes médias apoiavam um governo forte que restaurasse a ordem e a tranquilidade e
lhes devolvesse o desafogo económico.
 Portugal, sem sólidas raízes democráticas tornou-se presa fácil das soluções
autoritárias
1.5.2 Tendências Culturais: Entre o Naturalismo e as Vanguardas

 Pintura

Europa – Novas soluções pictóricas

Portugal – Acomodado aos padrões estéticos herdados do século anterior


▬ Premiavam o Naturalismo – Grandes Mestres: Malhoa e Columbano
▬ Pintura apresentava cenas de costumes e as minúcias realistas da vida popular
▬ Sociedade rural, povo analfabeto e rude, mas autêntico expressava a mais pura
essência do portuguesismo.

República propicia os primeiros sinais de mudança nos gostos e padrões estéticos.


 Agitação política fomenta o debate ideológico, o livre exame e a crítica.

Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa… Artistas e escritores mais


carismáticos do modernismo Português. (Muitos deles tinham estudado em Paris)
Modernistas
 Muitos revelam-se cosmopolitas Estes foram: cubistas, impressionistas,
futuristas, abstraccionistas, expressionistas,
surrealistas…
(de tudo um pouco)
 Substituem a iconografia rústica pelo Mundanismo boémio
 Esquematizam em vez de pormenorizar
 Utilizam apenas um plano e não uma sucessão de planos
 Procuram a originalidade

▬ Ao atacarem alicerces da sociedade burguesa (como os seus gostos e valores culturais) – Colheram a indignação e o
sarcasmo
▬ Afastados dos certames e publicações oficiais que os marginalizavam
▬ Veículos de afirmação: exposições independentes, publicações periódicas e espaços públicos que decoravam

 O primeiro modernismo (1911-1918)

 Exposições livres independentes e humoristas


 Desenhos apresentados (muitos deles caricaturas) tinham como objectivo a sátira politica, social e até anticlerical
 Enquadramentos boémios e urbanos (cenas elegantes de café bem como cenas populares)
 Estilização formal dos motivos, esbatia-se a perspectiva, e usavam cores claras e contrastes

Impulso notável com a Primeira Guerra Mundial (principalmente em Portugal):


Regresso do núcleo mais talentoso dos pintores portugueses que estudavam, em Paris, e com eles o casal Delaunay.
Dois pólos activos e inovadores:
 Norte: casal Delaunay, Eduardo Viana e Amadeu.
 Lisboa: liderado por Almada Negreiros e Santa Rita aos quais se juntaram Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro
fazendo nascer a revista Orpheu, na qual o modernismo português revelou a sua faceta mais inovadora, polémica e
emblemática: o futurismo. Excêntricos e provocadores, os jovens de Orpheu deixaram o país escandalizado, repudiando o
homem contemplativo e exaltando o homem de acção. Incitando ao orgulho, à acção, à aventura e à gloria.

▬ Criticas indignadas do escritor Júlio Dantas – Manifesto Anti-Dantas pelos futuristas, associando-o a uma cultura
retrógrada que urgia abater.
▬ Amadeu de Souza-Cardoso (também influenciado pelo futurismo) realiza duas exposições individuais que o vão aproximar
ao grupo de Orpheu, resultando num terceiro numero do mesmo, que não chegou a publicar-se.
▬ Agitação futurista culminou no Ultimatum futurista às gerações portuguesas do séc. XX, por Almada Negreiros.
▬ Logo a seguir, numero único da revista Portugal Futurista considerada “peça fundamental do movimento futurista
português”, porem sendo apreendida pela policia no momento da saída da tipografia.

 O segundo modernismo (anos 20 e 30)

 Continuou a conciliar as letras com as artes plásticas


 Mais uma vez as revistas assumiram a dinamização literária e artística – destacam-se a Contemporânea e a Presença
 Mais uma vez a rejeição pelos organismos oficiais
 Exposições independentes realizavam-se em cafés e clubes que decoravam e periódicos que ilustravam – sendo estes os
seus grandes espaços de afirmação

2. O AGUDIZAR DAS TENSÕES POLÍTICAS E SOCIAIS A PARTIR DOS ANOS 30


2.1. A GRANDE DEPRESSÃO E O SEU IMPACTO SOCIAL
Objetivo 1. Explicar o crash bolsista de 1929
O crash de 1929 foi uma típica crise de tipo capitalista, do género das que afectaram os EUA,
ciclicamente, desde 1810. Porém, a crise de 1929 foi tão grave que fez repensar os próprios
fundamentos da livre-concorrência.
Depois de uma fase de alta na economia (entre 1925 e 1929), que tomou o nome de "loucos anos
20" ("the roaring twenties"), relacionada com a dependência dos capitais e dos empréstimos
americanos no pós-guerra e com a aplicação do taylorismo, seguiu-se uma tendência depressionária.
A crise teve origem em dois factores: por um lado, na superprodução de bens de consumo; por
outro, na especulação bolsista - as cotações das acções da Bolsa, cada vez mais altas, não
correspondiam à situação real das empresas. A facilidade de recurso ao crédito mantinha os cidadãos
na ilusão da prosperidade.
Perante os rumores de crise, a partir do dia 22 de Outubro as tentativas de vender as acções
aumentaram. Em 24 de Outubro (a "quinta-feira negra") foi posta à venda uma enorme quantidade de
acções. Ora, de acordo com a lei capitalista da oferta e da procura, quanto mais acções estavam
à venda, menos valiam, pelo que, rapidamente, as acções, dias antes valiosíssimas, não passavam de
bocados de papel que ninguém queria comprar: estava instalado o crash (descida rápida do valor das
acções).

Objectivo 2. Relacionar o crash com a depressão económica e o desemprego que afectaram os


anos 30
O crash não teve apenas efeitos sobre os accionistas, mas também se repercutiu sobre todos
os sectores da economia:
-os bancos, sem hipótese de reaverem o crédito concedido, foram à falência;
-as empresas, sem o apoio do crédito bancário e com os stocks a acumularem,
diminuíram os preços e o volume da produção
-muitas empresas faliram e despediram os seus trabalhadores:
-os cidadãos, desempregados retraíram as suas compras;
-por falta de consumidores e excesso de produção os agricultores baixaram os preços
ou destruíram as produções.
Em termos sociais, a crise teve efeitos desastrosos: as populações, arruinadas, percorriam
extensões inimagináveis em busca de emprego: construíam-se bairros-de-lata, faziam-se lon gas
filas de espera para uma sopa.
Em suma, a gravidade da crise evidenciou a falência do liberalismo puro, exigindo medidas de
intervenção do Estado na economia.

Objectivo 3. Justificar a persistência da conjuntura deflacionista


No intuito de debelar a crise, o presidente dos EUA Hoover, tomou medidas no sentido de
reduzir as despesas.
Porém, essas medidas apenas vieram agravar a crise, pois os países da Europa que dependiam
dos empréstimos e do crédito dos EUA para a recuperação do pós-guerra viram-se, subitamente, sem
apoios, o que degenerou numa crise a nível mundial. Por seu turno, os países que exportavam matérias-
primas também entraram em crise. Os EUA, habitualmente grandes compradores, haviam reduzido as
trocas internacionais para regularizar a economia interna.
Deste modo, praticamente todo o mundo (excepção feita, quando muito, à URSS, que não
seguia o modelo económico capitalista) foi atingido pela crise de 1929, a qual se estendeu pelos
anos 30, na chamada "Grande Depressão".

▬ 2.2. AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS


▬ Século XX – Demoliberalismo – Direitos individuais garantidos pelo Estado – Neutro e
assente na divisão de poderes
▬ Passar dos anos 20 – Movimentos ideológicos e políticos subordinam o indivíduo a um
Estado omnipotente, totalitário e esmagador – Totalitarismo
▬ Anos 30 – Depressão económica acentua a crise da democracia liberal – Vaga autoritária e
ditatorial

2.2.1. Os fascismos, teoria e práticas

 Uma nova ordem nacionalista, antiliberal e anti-socialista


Estado
Liberalismo Totalitarismo
Democracia Parlamentar Estado sobre o indivíduo
(população representada no governo) (acima do indivíduo esta o interesse da
Divisão dos poderes colectividade, a grandeza da Nação e a
Socialismo supremacia do estado)
(defende a propriedade publica e a çita de Reforço do poder executivo
classes) Corporativismo
(aceita a propriedade privada mas tendo como
necessária a intervenção do estado, e cria
coorporações que procuram solucionar entre si
os problemas laborais)

Totalitário Fascista Oposição firme ao Liberalismo, à Democracia parlamentar e ao


Socialismo

 Oposição política – Aniquilada


 atividades económicas – Rigorosa regulamentação
 Sociedade (estimulada pela propaganda) – Enquadra-se em organizações afetas ao
regime, que a controlam
 Estado impede a liberdade de pensamento e de expressão

 Elites e enquadramento das massas

Fascismo Homens não são iguais Elites

Homens providenciais, chefes, promovidos à categoria de heróis.


▬ Simbolizavam o Estado Totalitário
▬ Encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos
▬ Deviam ser seguidos sem hesitação
▬ Prestando-se-lhes um verdadeiro culto que raiava a idolatria

Faziam parte das Elites:


 Raça dominante (ariana)
 Soldados e forças militarizadas
 Filiados no partido
▬ Mulheres Nazis destinadas ao lar e à subordinação ao marido

o Sociedade profundamente hierarquizada e rígida


o Respeito das massas pelas Elites
o Nação submissa

Itália:

Aprendiam o culto do Estado e


4 anos – ingressavam nos “Filhos da Loba” do Chefe, o amor pelo desporto e
pela guerra e o desprezo pelos
Juventude Fascista 8 aos 14 – faziam parte das “Balilas” valores intelectuais
14 – eram vanguardistas
18 – entravam nas Juventudes fascistas

Organizações de enquadramento de massas:

 Partido Único (Nacional-Fascista na Itália, Nacional-Socialista na Alemanha)


 A frente do trabalho Nacional-Socialista e as corporações Italianas
 A Dopolavoro na Itália E A Kraft Durch Freude na Alemanha

Enquadramento Itália Alemanha Portugal


Itália Alemanha Portugal Em
de Massas
Secções de Itália:
Organizações de Juventudes Juventudes Mocidade
Juventude Fascistas Assalto
Hitelarianas Portuguesa
Legião
Milícia Voluntária de (S.A)
Milícias Partido Único P.Nacional Fascista P.Nacional União
Portugues
Segurança Nacional Secções
Socialista de
a Nacional
Organizações do Corporações Segurança
Frente de trabalho Corporaçõe
trabalho (S.S)
Nacional Fascista s
Política Política
Tempos livres e OVRA
Dopolavoro Gestapo
Kraft Durch Freud PVIDE
FNAT
Cultura Campos de (Federação
Concentraçã Nacional
o Alegria no
Trabalho)
Ministério da Imprensa e da propaganda controlou as publicações, a rádio, e a partir dos anos
30 o cinema.

Alemanha:

Ministério da cultura e da propaganda exerceu uma ditadura intelectual:


▬ Suprimindo Jornais
▬ Obras de autores proibidos queimadas (Voltaire, Marx, Einstein)
▬ Intelectuais Judeus perseguidos

 Rádio e cinema – Armas indiscutíveis para o totalitarismo nazi (1938 - 10 milhões


de aparelhos radiofónicos estavam espalhados por toda a Alemanha)

 O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos

 A Autarcia como Modelo Económico

Estado Totalitário Fascista serve-se do corporativismo para:


▬ Evitar a luta de classes
▬ Bons desempenhos Económicos
Adopta-se a Política Económica Intervencionista e Nacionalista Autarcia
▬ Propôs-se a auto-suficiência económica
▬ Apelou-se ao empenho do povo trabalhador
▬ Prometeu-se fim do desemprego e da Nação

Itália:

 Estado reforçou a intervenção na economia


 Corporações facilitaram planificação económica
 Batalhas de produção (exaltadas pela propaganda)
 Aumentou a produção de cereais – diminuíram as importações
 Recuperação de terras e criação de novas povoações
 Comércio subiu os direitos alfandegários e controlou o volume das importações e
exportações
 Estado financiou as empresas em dificuldade e interveio fortemente no sector industrial

Alemanha:

 Política de grandes trabalhos – arroteamentos, construção de auto-estradas,


pontes, linhas férreas Recuperação Económica
Diminuição do Desemprego
 Estado reforçou a autarcia e o dirigismo económico
 Fixaram-se os preços
 Programa de rearmamento

▬ Política económica Intervencionista


▬ Política económica Nacionalista
▬ Política económica procurando a auto-suficiência
▬ Apelo ao Heroísmo; Ao empenho do povo; À glória da Nação

Autarci
a
2.2.2 O Estalinismo

Lenine falece – Sucessão de Estaline – Chefe incontestado da União Soviética


▬ Construção da sociedade Socialista
▬ Transformação da Rússia em Potência mundial

 Colectivização dos campos e planificação económica

Colectivização dos Campos - Imprescindível ao avanço da Industria:


 Liberta mão-de-obra para as Fábricas
 Fornece alimentos para os operários
▬ Terras e gados confiscados aos Kulaks (camponeses relativamente ricos)
▬ Novas quintas colectivas – Kolkhozes
▬ Parte da produção p/ o Estado e restante para os camponeses (distribuída de acordo com
o trabalho efectuado)
▬ P.Comunista cria as Estações de Máquinas e Tractores (alugavam maquinas e técnicos a
grupos de kolkhozes)
▬ Controlo político dos campos

Planificação Económica:

Primeiro Plano Quinquenal (1928-1932)

 Incremento da indústria pesada


 Quase desaparecimento do sector privado Contribui para fixar os operários e
aumentar a produtividade
 Conjunto de medidas coercivas

Segundo Plano Quinquenal (1933-1937)

 Incidiu no sector da indústria ligeira e dos bens de consumo (vestuário e calçado)

Terceiro Plano Quinquenal (1938-1945)

 Industrias pesada, hidroelétrica e química

 O Totalitarismo repressivo do Estado

Estado Estalinista Omnipotente e Totalitário

▬ Culto ao chefe (Estaline)


▬ Cidadãos privados das liberdades fundamentais
▬ Sociedade enquadrada em organizações
▬ Partido Comunista (profundamente burocratizado e disciplinado):
 Monopoliza poder político
 Superintende economia (coletivização e planificação)
▬ Reforço dos poderes do Estado
▬ Estado totalitário – Ditadura do Partido Comunista
▬ Repressão (purgas e processos políticos)

2.3 A Resistência das Democracias Liberais

2.3.1. O Intervencionismo do Estado

A depressão dos anos 30 revelou as fragilidades do capitalismo liberal. Verificou-se então


necessário o intervencionismo do Estado. Este consistiu no papel ativo desempenhado pelo
Estado no conjunto das atividades económicas a fim de corrigir os danos ou os inconvenientes
sociais derivados da aplicação rigorosa do liberalismo económico. Concretizou-se:
▬ No controlo dos preços
▬ Nas leis sobre os salários
▬ Na legislação do trabalho e social.
▬ Na origem da participação do estado como empresário e produtor de serviços públicos

 As ideias do economista britânico John Keynes revelaram-se, então, fundamentais ao atribuírem


ao Estado o papel intervencionista. Insurgindo-se contra as medidas deflacionistas que os Estados
aplicaram de imediato (diminuição de gastos, limitação da produção, protecionismo), Keynes
advogou uma política “expansiva” que fomentasse a produção e o consumo, através do investimento,
do aumento dos salários e da dinamização das trocas.

 O New Deal

Novo presidente dos EUA: Franklin Roosevelt - influenciado por Keynes Intervenção do Estado
federal

Põe em prática um conjunto de medidas: New Deal


Primeira fase (1933-1934)

 Encerramento temporário de instituições bancárias


 Sanções contra os especuladores
 Dólar desvinculado do padrão-ouro e desvalorizado
 Política de grandes trabalhos
 Dinheiro para os mais necessitados e campos de trabalho para os desempregados mais
jovens
 Proteção à agricultura – empréstimos aos agricultores e indemnizações pela redução
das áreas cultivadas
 Proteção à industria e ao trabalho Industrial – fixação de preços, salário mínimo

Metas: Relançamento da economia e luta contra o desemprego e a miséria – Superar os efeitos da Grande Depressão

Segunda fase (1935-1938)

▬ Cunho vinculadamente social


 Liberdade Sindical e direito de greve
▬ Estado-Providência – promove a segurança social
 Reforma por velhice e invalidez de modo a garantir a felicidade o bem-estar e o
aumento do poder de compra
 Fundo de desemprego e auxilio aos pobres
 Redução da duração semanal do trabalho

2.3.2 Os governos de frente popular e a mobilização dos cidadãos


A crise de 1929 teve vastas consequências em todo o mundo. O intervencionismo do Estado
permitiu às democracias liberais, como a americana, resistirem à crise económica e
recuperarem a credibilidade política. O mesmo não ocorreu em França, onde a conjuntura
recessiva quase pôs em causa o regime parlamentar. Esta parecia eternizar-se devido à
insistência dos governos em políticas deflacionistas que nada remediavam.
Os governos, desacreditados perante a opinião pública, encontravam-se no centro das críticas
de esquerda e da contestação da direita. Enquanto que os primeiros reivindicavam medidas
inspiradas em Keynes e no "New Deal", os partidos de direita, que formavam ligas
nacionalistas de pendor fascista, acusavam a ineficácia dos governos democráticos,
reclamando uma solução autoritária.
Perante a força de extrema-direita, a esquerda formou uma associação que integrava
comunistas, socialistas, socialistas e radicais.

Governos de Frente Popular


França - Liderado por Léon Blum, sem o Partido Comunista (1936-1938) - Movimento
Grevista
Intervenção do governo na mediação do conflito – “Acordos de Matignon”

▬ Contractos colectivos de trabalho


▬ Liberdade Sindical
▬ Semana de 40 horas de trabalho
▬ Férias pagas (15 dias por ano)
▬ Escolaridade obrigatória até aos 14 anos
▬ Massificação do desporto e da cultura
▬ Controlo do Estado sobre o Banco de França
▬ Nacionalização das fábricas de armamentos
▬ Controlo do preço dos cereais pelo Estado

Em 1936 também em Espanha triunfara uma Frente Popular:

▬ Separação da Igreja do Estado


▬ Direito à greve Reacção da Frente Popular contra a República Democrática
▬ Promoção da ocupação de terras não cultivadas  Guerra Civil de Espanha
▬ Aumento de salários em 15%

2.5. Portugal: o Estado Novo


2.5.1 O triunfo das forças conservadoras; a progressiva adoção do modelo italiano nas
instituições e no imaginário político
 Da ditadura ao Estado Novo
1926 – golpe de Estado promovido pelos militares pôs fim à Primeira República parlamentar
Portuguesa
Instalou-se uma ditadura militar, porém:
 Impreparação dos chefes ditatoriais
 Agravamento do défice orçamental
 Adesão diminuiu
 Fracasso da ditadura militar

1928 – António de Oliveira Salazar entrou no Governo e sobraçou a pasta das Finanças, com a
condição de superintender nas despesas de todos os ministérios. Consegue saldo positivo no
Orçamento, ganhando assim prestígio e sendo nomeado para a chefia do Governo
Não escondendo o seu propósito de instaurar uma nova ordem política, Salazar empenhou-se
na criação das necessárias estruturas institucionais.
1930 – Lançaram-se as bases orgânicas da União Nacional e promulgou-se o Ato Colonial.
1933 – Publicação do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933

Ficou então consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo, no qual
sobressai:
 o forte autoritarismo
 o condicionamento das liberdades individuais aos interesses da Nação

Salazar
Repudiou Proclamou (carácter)
 Liberalismo  Autoritário
 Democracia  Corporativo
 Parlamentarismo  Conservador
 Nacionalista

O Estado Novo abraçou um projeto totalizante, que se socorreu de fórmulas e estruturas


político-institucionais decalcadas dos modelos fascistas (particularmente do Italiano). Porém,
Salazar condenou o carácter violento e pagão dos totalitarismos.

 Conservadorismo e tradição

Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora que sempre repudiou os exageros
republicanos. Assim sendo, o Estado Novo distinguiu-se entre os demais fascismos pelo seu
carácter conservador e tradicionalista. Este:
→ Repousou em valores e conceitos morais que jamais alguém deveria questionar: Deus, a
Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia, a Moralidade, a Austeridade.
→ Respeitou as tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse genuinamente
português
→ Enalteceu o mundo rural
→ Protegeu a religião católica
→ Reduziu a mulher ao papel passivo
→ Protegeu as manifestações culturais de influências estrangeiras
 Nacionalismo

O Estado Novo adotou um nacionalismo exacerbado.


▬ Fez dos portugueses um povo de heróis, dotados de qualidades civilizacionais sem igual
▬ Diferença das suas instituições – demarcadas do cariz agressivo e violento das
experiencias totalitárias europeias
“Tudo pela Nação, nada contra a Nação”

 A recusa do liberalismo, da democracia e do parlamentarismo

À semelhança do fascismo Italiano o Estado Novo afirmou-se antiliberal, antidemocrático e


antiparlamentar.
 A nação representava um todo orgânico e não um conjunto de indivíduos isolados
 O interesse da Nação sobrepunha-se aos direitos individuais
 Os partidos políticos constituíam um elemento desagregador da unidade da Nação
 A valorização do poder executivo era o único garante de um Estado forte e autoritário

Por isso, a Constituição de 1933 reconheceu a autoridade do Presidente da Republica como o


primeiro poder dentro do Estado, completamente independente do Parlamente e atribuiu
vastas competências ao Presidente do Conselho (atualmente equivale ao primeiro-ministro),
havendo uma partilha de poderes entre as presidências da Republica e do Conselho.
A Assembleia Nacional limitava-se à discussão das propostas de lei que o Governo lhe enviava
para aprovação.
→ Inferiorizado o poder legislativo
→ Salazar – chefe providencial
→ Culto ao chefe – Salazar o “Salvador da Pátria”

 Corporativismo

O Estado Novo, empenhado na unidade da Nação e no fortalecimento do Estado, propõe o


Corporativismo como modelo da organização económica, social e politica.
O corporativismo concebia a Nação representada pelas famílias e por organismos onde os
indivíduos se agrupavam pelas funções que desempenhavam e os seus interesses se
harmonizavam para a consecução do bem comum. A estes organismos dava-se o nome de
Corporações (universidades, casas do povo, agremiações desportivas, literárias…). Porém,
embora a constituição de 1933 programasse uma diversidade de corporações, na prática só
funcionavam as de natureza económica (que compreendiam a agricultura, a industria, o
comercio, os transportes e o turismo, a banca e os seguros…). Acabando as corporações por
se transformar num meio de o Estado Novo controlar a economia e as relações laborais.

 O enquadramento de Massas

A longevidade do Estado Novo pode explicar-se pelo conjunto de instituições e processos que
conseguiram enquadrar as massas e obter a sua adesão ao projeto do regime.
 1933 – Secretariado da Propaganda Nacional (SPN): papel ativo na divulgação do ideário do
regime e na padronização da cultura e das artes
 1930 – União Nacional (chefiada por Salazar): não partidária, tinha o papel de congregar
“todos os Portugueses de boa vontade” e apoiar incondicionalmente as atividades políticas
do Governo.
Porém, a unanimidade pretendida só foi possível com a extinção dos partidos políticos e a
limitação severa da liberdade de expressão.
→ União Nacional transformada em partido único
→ Recorreu-se a organizações milicianas

Legião portuguesa Defender “o património espiritual da Nação”, o Estado


Corporativo e conter a ameaça Bolchevista
Inscrição obrigatória para os estudantes do ensino
Mocidade Portuguesa primário e secundário, destinava-se a incutir valores
nacionalistas e patrióticos do Estado Novo
Obra das Mães para a Educação Formação das “futuras mulheres e mães”
Nacional
Controlar os tempos livres dos trabalhadores,
Fundação Nacional para a Alegria no providenciando atividades recreativas e “educativas”
Trabalho (FNAT) orientadas pela moral oficial.

→ Controlou-se o ensino (expulsavam-se professores oposicionistas e adotavam-se “livros


únicos” oficiais, que veiculavam os valores do Estado Novo”
→ Impregnou-se a vida familiar com os valores conservadores e nacionalistas

 O aparelho repressivo do Estado

 Ditadura intelectual – Censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e, mais


tarde à televisão
 “Lápis Azul” – proibição da difusão de palavras ou imagens “subversivas” para a ideologia
do Estado Novo
 Polícia Política: Policia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE), em 1945 designada por
Policia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) – prender, torturar e matar opositores
ao regime

2.5.2. Uma economia submetida aos imperativos políticos

O autoritarismo do Estado Novo levou ao abandono das políticas económicas liberais e à


adoção de um modelo económico fortemente intervencionista e autárcico. Assim sendo, o
fomento económico deveria ser orientado e dinamizado pelo Estado, sujeitando-se todas as
atividades aos interesses da Nação.
 Dirigismo económico do Estado Novo

 A estabilidade financeira

A estabilidade financeira converteu-se na prioridade de Oliveira Salazar e do Estado Novo.


Os gastos públicos foram submetidos a um apertado controlo por parte de Salazar, que sob o
lema de diminuir despesas e aumentar receitas conseguiu o tão desejado equilíbrio
orçamental.
o Administraram-se melhor os dinheiros públicos
o Criaram-se novos impostos
o Aumentaram-se as tarifas alfandegárias sobre as importações – redução das dependências
externas
o Criaram-se mais receitas com as exportações
o As reservas de ouro atingiram um nível significativo – estabilidade monetária

Estabilização Financeira
Dá ao Estado Novo uma imagem de credibilidade e de competência governativa

 Defesa da Ruralidade

O Estado Novo privilegiava o mundo rural, porque nele se preservava tudo o que de melhor
tinha o povo português. Assim sendo, o Portugal dos anos 30 viveu um exacerbado ruralismo:
→ Destinaram-se verbas para a construção de numerosas barragens – resultou numa melhor
irrigação do solo
→ Junta de Colonização Interna (1936) – fixar a população em algumas áreas do interior
→ Politica de Arborização
→ Fomentou-se a politica da vinha – crescimento da produção vinícola
→ Alargaram-se a produção do arroz, batata, azeite, cortiça e frutas
→ Campanha do trigo (1929-37) – alargar a área de cultura deste cereal – crescimento
significativo da produção cerealífera – conseguiu a autossuficiência do país
→ Estado concedeu grande proteção aos proprietários adquirindo-lhes produções e
estabelecendo o protecionismo alfandegário

 Obras públicas
O Estado Novo levou a cabo a politica de obras públicas, que recebeu um impulso notável com
a Lei de Reconstituição Económica (1930). Procurou-se combater o desemprego e dotar o país
das infraestruturas necessárias ao desenvolvimento económico.

 Rede viária duplicou até 1950


 Unificação do mercado nacional
→ Maior acessibilidade aos mercados externos
→ Edificação de pontes
 Expansão das redes telegráfica e telefónica
 Obras de alargamento e de beneficiação de portos e aeroportos
 Construção de barragens
 Expansão da eletrificação
 Construção de hospitais, escolas, edifícios universitários…

 O condicionamento industrial
Num país de exacerbado ruralismo a industria não constituiu a prioridade do Estado. O débil
crescimento verificado deveu-se à política de condicionamento industrial concretizada pelo
Estado entre 1931 e 1937. Este modelo determinava que qualquer indústria necessitava da
prévia autorização do Estado para se instalar, reabrir, efetuar ampliações, mudar de local,
ser vendida a estrangeiros ou até para comprar máquinas.
Suspendeu-se ainda a autorização de grandes novas indústrias ou de novos processos
produtivos.
Frisou-se que o condicionamento se orientava fundamentalmente para as indústrias que
exigissem grandes despesas e produção ou que produzissem bens de exportação.
O condicionamento industrial (que reflete o dirigismo económico do Estado Novo) fez assim
parte de uma política conjuntural anticrise, destinada a garantir o controlo da indústria por
nacionais e a regulação da atividade produtiva e da concorrência. Procurava evitar-se a sobre
produção, a queda dos preços, o desemprego e a agitação social. Contudo, o condicionamento
industrial acabou por se converter em definitivo, moldando a estrutura da indústria durante o
Estado Novo, e passando assim a criar um obstáculo à modernização.

 A corporativização dos sindicatos


As iniciativas empresariais dependiam de um conjunto de condições fornecidas pelo Estado.
Em 1933, o Estado Novo publicou o Estatuto do Trabalho Nacional, que estipulava que nas
várias profissões da indústria e dos serviços (exceto função publica), os trabalhadores se
deveriam reunir em sindicatos nacionais e os patrões em grémios, depois agrupados em
federações, uniões e finalmente em corporações económicas, que negociariam entre si os
contratos coletivos de trabalho, estabeleceriam normas e cotas de produção e fixariam
preços e salários. Ao estado competiria então superintender tais negociações.
Porém, considerados um instrumento da política governamental autoritária e da submissão dos
trabalhadores ao capitalismo, os sindicatos nacionais nunca contaram com a adesão
entusiástica dos trabalhadores, enfrentado algumas resistências.

 A política colonial
O Ato Colonial de 1930 imprimiu um cunho permanente à política colonial do Estado Novo.
Nele se afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios ultramarinos.
Em consequência daquele pressuposto, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as colónias e
insistiu-se na fiscalização da metrópole sobre os governadores coloniais e no estabelecimento
de um regime económico em que as colónias seriam um mero fornecedor de matérias-primas
para a indústria metropolitana.
Proclamando a sua vocação colonial, incutia-se no povo português uma mística imperial.

2.5.3. O projeto cultural do regime


O Estado Novo deteve uma produção cultural submetida ao regime.
→ Promoveu a censura e o controlo da produção cultural
→ Concebeu um projeto totalizante, que fez de artistas e escritores instrumentos
privilegiados da inculcação e da propaganda do seu ideário
→ Apercebeu-se da importância das manifestações culturais para o regime se revelar às
massas. As impregnar e cultivar
→ As artes e letras deveriam inculcar no povo o amor da pátria, o culto dos heróis, as
virtudes familiares… ou seja, o ideário do Estado Novo (porém, a adesão dos escritores foi
escassa)
→ Através de exposições nacionais e internacionais (das obras publicas do regime, de festas
populares, do teatro, do cinema, do bailado…) patrocinaram-se artistas e produções que
divulgassem sobretudo as tradições nacionais e populares e enaltecessem a grandeza
histórica do país e a dimensão civilizadora dos Portugueses.

Modulo 8: [1] Nascimento e Afirmação de um novo quadro geopolítico

1.1. A reconstrução do pós-guerra

1.1.1. A definição de áreas de influência

Quando o mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial, era já clara a alteração de forças nas relações
internacionais. Antigas potências como a Alemanha e o Japão, que tinham sonhado com grandes domínios
territoriais, saíam da guerra vencidas e humilhadas. Outras, como o Reino Unido e a França, Contudo, viam-
se empobrecidos e dependentes da ajuda externa. No quadro da ruína e desolação do pós-guerra, só duas
potências se agitavam: a URSS e os E.U.A.

 A construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz

Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt, Estaline e Churchill reúnem-se nas termas de Ialta, com o
objetivo de estabelecer as regras que devem sustentar a nova ordem internacional do pós-guerra.

o Definiram-se as fronteiras da Polónia;


o Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em 4 áreas de ocupação dirigidas pelo Reino Unido,
pelos EUA, pela URSS e pela França;
o Decidiu-se a reunião da conferência preparatória da Organização das Nações Unidas;
o Estipulou-se o supervisionamento dos "três grandes" na futura constituição dos governos dos países de
leste com base no respeito pela vontade política das populações;
o Estabeleceu-se a quantia de 20 000 milhões de dólares pelas reparações de guerra a pagar pela
Alemanha.

Estabeleceu-se um acordo quanto às zonas de influência dos regimes comunista e capitalista e, embora sem
qualquer documento formal, o certo é que esta hipotética partilha da Europa foi sempre respeitada.

Alguns meses mais tarde, em finais de julho, reuniu-se em Potsdam uma nova conferência com o fim de
consolidar os alicerces da paz.
A conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de Ialta. A conferência
encerrou sem alcançar uma solução definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e
pormenorizar os aspetos já concordados em Ialta:

o A perda provisória da soberania da Alemanha e a sua divisão em 4 áreas de ocupação;


o A administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em 4 setores de ocupação;
o O montante e o tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
o O julgamento dos criminosos de guerra nazis por um tribunal internacional;
o A divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes semelhantes aos estabelecidos para a
Alemanha.

O novo quadro geopolítico

Para além de consideráveis ganhos territoriais, a guerra dera à União Soviética um enorme
protagonismo internacional. Estaline participava agora, como parceiro de primeira grandeza, na definição
das novas coordenadas geopolíticas.

A URSS detinha, assim, vantagem estratégica no Leste Europeu. Embora os acordos de Ialta
previssem o respeito pela vontade dos povos, na prática tornava-se impossível contrariar a hegemonia
soviética, que não tardou a impor-se: Entre 1946 e 1948, todos os países libertados pelo exército vermelho
resvalaram para o socialismo. Em pouco tempo, a vida social, política e económica dos países de Leste foi
reorganizada em moldes semelhantes aos da União Soviética.

Em 1946, Churchill pronunciou um discurso onde utilizou a célebre expressão: "cortina de ferro"
para qualificar o isolamento a que estavam votados os países da Europa de Leste colocados "sob a esfera
soviética" e, por isso, fechados ao diálogo com as democracias ocidentais.

Em 1947, o presidente Truman (E.U.A) descreveu-se a divisão política do mundo em dois:

o O modo de vida do bloco ocidental, caracterizado "pelas instituições livres"


o O modo de vida do bloco de leste, que "assenta no terror e na opressão"

Declarou a sua intenção de auxiliar económica e financeiramente os países da Europa de maneira a conter a
expansão do comunismo [política de contenção]

No mesmo ano, Andrej Jdanov retorquiu designando:

o Os E.U.A, a Inglaterra e a França como "campo imperialista e antidemocrático";


o A URSS e as "novas democracias" "forças anti-imperialistas e democráticas".

 1.1.2. A organização das Nações Unidas

O projeto ficou acordado na Conferência de Teerão e foi depois ratificado em Ialta, onde se decidiu a
convocação de uma conferência com o fim de redigir e aprovar a Carta fundadora das Nações
Unidas.
Iniciada no dia 25-Abril-1945, a Conferência contou com os delegados de 51 nações que afirmara, na
Carta das Nações Unidas, a sua vontade conjunta de promover a paz e a cooperação internacionais.
Segundo a Carta, a Organização foi criada com os propósitos fundamentais de:

· Manter a paz e reprimir os atos de agressão;


· Desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseados na igualdade e no seu direito à
autodeterminação;
· Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e promover a defesa dos
direitos humanos;
· Funcionar como centro harmonizador.

 A defesa dos Direitos do Homem

Sob o impacto do holocausto e disposta a impedir as atrocidades cometidas durante a 2ª guerra mundial, a ONU
tomou uma função profundamente humanista que foi reforçada pela aprovação da Declaração Universal dos Direitos
do Homem.
Esta Declaração não se limita a definir os direitos e liberdades fundamentais (direito à vida, liberdade de reunião,
associação, expressão, etc.). Os seus redatores atribuíram um importante espaço às questões económico-sociais
(direito ao trabalho, ao descanso, ao ensino...), por as considerarem imprescindíveis a uma vida digna e
verdadeiramente livre.

 Órgãos de Funcionamento

· Assembleia Geral: Reúne um representante de cada país do mundo. A Assembleia Geral debate, à


semelhança de um parlamento, os assuntos de interesse da organização.

· Conselho de Segurança: é composto por 15 membros, 5 permanentes e 10 flutuantes, eleitos pela


Assembleia geral por 2 anos. É o Conselho de Segurança que tem poderes para agir + diretamente na
preservação da paz, podendo decidir sanções económicas e a intervenção militar da ONU.

· Secretariado Geral: O secretariado-geral das Nações Unidas exerce funções diplomáticas cruciais na
resolução dos conflitos do mundo. É eleito pela Assembleia Geral para um mandado de 5 anos.

· Conselho Económico e Social: destina-se a cumprir o objetivo da cooperação económica, social e cultural


previsto na Carta das Nações Unidas. Atua por meio de agências especializadas e outros órgãos específicos
que se encontram sobre a sua tutela.

· Tribunal Internacional de Justiça: destina-se a resolver, por via pacífica, as quezílias entre os povos,
fazendo com que estes respeitem as leis do direito internacional.

· Conselho de Tutela: este organismo administrava os territórios entregues à ONU, porém, desde 1994
reúne, apenas, ocasionalmente, pois já não tem territórios à sua guarda.

A ONU, que desde 1952 tem sede permanente em Nova Iorque, agrega hoje todos os povos do mundo (191
países). Embora tenha desenvolvido um importante papel no que toca à cooperação internacional, a sua
atuação ficou aquém das expectativas no que concerne à concertação da paz mundial.

 1.1.3 As novas regras da economia internacional

 O ideal de cooperação económica

O planeamento do pós-guerra não se processou apenas a nível político. Em julho de 1944, um grupo de
conceituados economistas de 44 países reuniu-se em Bretton Woods (EUA) com o fim de prever e estruturar
a situação monetária e financeira do período de paz.

Convictos de que o nacionalismo económico dos anos 30 prejudicara seriamente o crescimento


económico, os Estados Unidos preparam-se para liderar uma nova ordem económica baseada na cooperação
internacional.
Como estrutura de fundo, procedeu-se à criação de um novo sistema monetário internacional que
garantisse a estabilidade das moedas indispensável ao incremento das trocas. O sistema assentou no dólar
como moeda-chave.

Na mesma conferência, e com o objetivo de operacionalizar o sistema, criaram-se 2 importantes


organismos:

o O Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual recorreriam os bancos centrais dos países com
dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos;
o O Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como
Banco Mundial, destinado a financiar projetos de fomento económico a longo prazo.

Só em 1947, na Confência Internacional de Genebra, se assinou um Acordo Geral de Tarifas e


Comércio (GATT), em que 23 países signatários se comprometeram a negociar a redução dos direitos
alfandegários e outras restrições comerciais.

 1.1.4. A primeira vaga de descolonizações

 Uma conjuntura favorável à descolonização

As 2 décadas q se seguiram à 2ª Guerra Mundial viram desaparecer extensos impérios coloniais, com
séculos de existência.

A guerra abalou o prestígio dos europeus. Na Ásia, deixa bem patente a sua superioridade do
Japão, potência local. Nem mesmo a sua posterior derrota frente ao poderio americano foi capaz de
restabelecer o prestígio da Europa na região.

A guerra “acordou” os dominados. A incorporação de contingentes das colónias nos exércitos


aliados contribuiu para a tomada de consciência da injustiça colonial.

A guerra exigiu dos territórios coloniais pesados sacrifícios, contribuindo para aumentar o
descontentamento contra o dominador estrangeiro.

Finalmente, a guerra fragilizou, em termos económicos e políticos, os Estados Europeus que se


veem a braços com uma onde de contestação anticolonialista que não conseguem contrariar.

Aos efeitos demolidores da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas superpotências, que
apoiam os esforços de libertação dos povos colonizados. Os Estados Unidos sempre se mostraram
adversos à manutenção do sistema colonial. A URSS atua em nome da ideologia marxista e não desperdiça a
possibilidade de entender, nos países recém-formados, o modelo soviético.

Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se constituirá
como um baluarte internacional da descolonização.

 1.2 O tempo da guerra fria - a consolidação de um mundo bipolar


 1.2.1 Um mundo dividido

 A Rutura

Quando, em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de
sovietização dos países de Leste era já irreversível. Sob a tutela diplomática e militar da URSS, os partidos
comunistas ganhavam forças e, progressivamente, tomavam o poder. Para coordenar a sua atuação,
tornando-a mais eficiente, criou-se, em 1947, o kominform – organismo criado com o objetivo de
coordenar a ação dos partidos comunistas europeus na luta contra o “imperialismo capitalista”. O
dinamismo da extensão soviética constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal, ameaça essa que
era preciso conter.

Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem, frontalmente, a liderança da oposição
aos avanços do socialismo.

O presidente Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas antagónicos: um,
baseado na liberdade; o outro, na opressão. Aos Americanos competiria, perante o enfraquecimento da
Europa, liderar o mundo livre e auxiliá-lo na contenção do comunismo – é a célebre doutrina Truman.

Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava
também clara a necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.

As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e as ajudas de emergência, prestadas pelos
Estados Unidos nos primeiros 2 anos do pós-guerra, só tinham acudido às necessidades mais prementes. O
rigoroso inverno de 1946-47 agravara ainda mais as situações de miséria do Velho Continente, criando um
clima político instável, em tudo propício à difusão das ideias de igualdade e justiça social do marxismo.

É neste contexto que George Marshall anuncia, em junho de 1947, um plano de ajuda económica à
Europa. Conhecido como Plano Marshall, este auxílio foi acolhido com entusiasmo pela generalidade dos
países europeus que, assim, viram reforçados os laços que os uniam aos Estados Unidos da América.

Pouco depois, um alto dirigente soviético, Andrei Jdanov, formaliza a rutura entre as duas potências: o
mundo, afirma Jdanov, divide-se em dois sistemas contrários: um imperialista e antidemocrático, é
liderado pelos Estados Unidos; o outro, em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos,
corresponde ao mundo socialista. Lidera-o a União Soviética.

Em janeiro de 1949, Moscovo “responde” ao plano Marshall lançando o Plano Molotov, que estabelece
as estruturas de cooperação económica da Europa Oriental. Foi no âmbito deste plano que se criou o
COMECON, instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a
égide da União Soviética.

Os países abrangidos pelo Plano Marshall (OECE) e os países do COMECON funcionaram como áreas
transnacionais, coesas e distintas uma da outra. Deste modo, a divisão do mundo em dois blocos
antagónicos consolidou-se, tal como se consolidou a liderança das duas superpotências.

 O primeiro conflito: A questão alemã

Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se de imediato na gestão conjunta do território


alemão que, na sequência da Conferencia de Potsdam, se encontrava dividido e ocupado pelas quatro
potências vencedoras.

A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses e americanos olhassem a
Alemanha, não já como inimigo vencido, mas como um aliado imprescindível à contenção do avanço
soviético. O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os americanos, que intensificaram os
esforços para a criação de uma república federal constituída pelos territórios sob ocupação das três
potências ocidentais, a República Federal Alemã (RFA).

A União Soviética protestou contra aquilo que considerava uma violação dos acordos estabelecidos
mas, perante a marcha dos acontecimentos, acabou por desenvolver uma atuação semelhante na sua
própria zona, que conduziu à criação de um Estado paralelo, sob a alçada soviética, a República
Democrática Alemã (RDA).
Este processo de divisão trouxe para o centro da discórdia a situação de Berlim já que na capital,
situada no coração da área soviéticas, continuavam estacionadas as forças militares das três potências
ocidentais. Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os
acessos terrestres à cidade.

O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de Junho de 1948 a maio de 1949, foi o primeiro medir de
forças entre as duas superpotências. Esta rivalidade punha em risco os esforços de paz. Nas décadas que se
seguiram, as relações internacionais refletiram esta instabilidade e impregnaram-se de um clima de forte
tensão e desconfiança: foi o tempo da Guerra Fria.

 A Guerra Fria

O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80,
altura em que o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza. Durante este longo período, os
EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o
Mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos por Guerra
Fria.

A Guerra Fria foi uma autêntica “guerra dos nervos” em que cada bloco se procurou superiorizar ao
outro, quer em armamento, quer na ampliação das suas áreas de influência.

Eram duas conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social que se
confrontavam: de um lado, o liberalismo, assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o
marxismo, que subordina o indivíduo ao interessa da coletividade.

Nos anos da Guerra Fria, o fosso entre o mundo capitalista e o mundo comunista pareceu a todos
maior do que nunca. Os dois sistemas evoluíram separadamente, mas, de olhos postos um no outro,
acabaram inevitavelmente por se influenciar.

 1.2.2 o mundo capitalista

 A política de alianças dos Estados Unidos

Os Estados Unidos empenharam-se por todos os meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall
foi o primeiro grande passo nesse sentido, uma vez que não só permitiu a reconstrução da economia
europeia em moldes capitalistas como estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus “benfeitores”
americanos.

Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou a oficializar-se. A tensão


provocada pelo Bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do
Atlântico Norte, firmado entre os EUA, o Canadá e dez nações europeias. A operacionalização deste
tratado deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (NATO), talvez a mais importante
organização militar do pós-guerra, que se tornou um símbolo do bloco ocidental.

A sensação de ameaça e o afã em consolidar a sua área de influência lançaram os EUA numa autêntica
“pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças, um pouco por todo o Mundo. Em 1959,
três quartas partes do Mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.

 A política económica e social das democracias ocidentais

No fim da Segunda Grande Guerra, o conceito de democracia adquiriu, no Ocidente, um novo


significado. Para além do respeito pelas liberdades individuais, do sufrágio universal e do
multipartidarismo, considerou-se que o regime democrático deveria assegurar o bem-estar dos cidadãos e
a justiça social.

Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-cristãos saíram da guerra


prestigiados. Ambos tinham lutado contra os regimes autoritários vencidos e se apresentavam como uma
alternativa credível aos velhos partidos liberais.

Partidos de orientação idêntica viram elevar-se os seus resultados eleitorais, tendo, em alguns casos,
tomado também as rédeas do poder. Estes partidos conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos
princípios da livre-concorrência económica como o intervencionismo do Estado, cujo objetivo é o de
regular a economia e promover o bem-estar dos cidadãos.

A democracia cristã tem a sua origem na doutrina social da Igreja, que condena os excessos do
liberalismo capitalista, atribuindo igualmente aos estados a missão de zelar pelo bem comum. Os
princípios do cristianismo devem enformar todas as ações dos cristãos, incluindo a sua vivência política.
Propõem uma orientação profundamente humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na
solidariedade.

Sociais-democratas e democratas cristãos promoveram :

o Reformas económicas e sociais profundas;


o Lançam um programa de nacionalizações;
o Intervenção do Estado na economia com o objetivo de a regular.

Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a conceção liberal de Estado dando origem ao
Estado-Providência que, desde então até aos nossos dias, marcou fortemente a vida das democracias
ocidentais.

 A afirmação do Estado-Providência

Ainda durante a guerra, o empenhamento do Estado nas questões sociais foi ativamente defendido por
lorde Beveridge, cujo Relatório de 1942 influenciou decisivamente a política trabalhista. Beveridge confiava
que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência,
doença, miséria, ignorância e ociosidade.

A abrangência das medidas adotadas em Inglaterra e, sobretudo, a ousadia do estabelecimento de um


sistema nacional de saúde, assente na gratuitidade total dos serviços médicos e extensivo a todos os
cidadãos, serviram de modelo à maioria dos países europeus.

A estruturação do Estado-Providência na Europa do pós-guerra, ampliam-se as responsabilidades do


Estado no que respeita à habitação, ao ensino e à assistência médica.

Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo: por um lado, reduz a miséria e o mal-estar social
contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza; por outro, assegura uma certa estabilidade à
economia, já que evita descidas drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.

O Estado-Providência foi um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três
décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.

 A prosperidade Económica

O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas. Os governos não só assumiram


grandes responsabilidades económicas, como delinearam planos de desenvolvimento coerentes, que
permitiram estabelecer prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir diretrizes futuras. Externamente,
os acordos de Bretton Woods e a criação de espaços económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel
semelhante, harmonizando e fomentando as relações económicas internacionais.

O capitalismo emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e 1973, a produção
mundial mais do que triplicou. As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas
de crescimento especialmente altas de certos países, como a RFA, a França, o Japão, surpreenderam os
analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”. Estes cerca de 30 anos de uma
prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta Gloriosos”.

A expansão económica dos 30 Gloriosos conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspetos
completamente novos. Podemos destacar:

o A aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores;


o O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão;
o O aumento da concentração industrial e do número de multinacionais;
o A modernização da agricultura;
o O aumento significativo da população ativa. Para além de mais numerosa, a mão de obra tornou-se
também mais qualificada;
o O crescimento do setor terciário.

 A sociedade de consumo

O efeito mais evidente dos Trinta Gloriosos foi a generalização do conforto material. A sociedade de
consumo transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.

Nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é permanentemente estimulado a despender mais do


que o necessário. Multiplicam-se os grandes espaços comerciais, verdadeiros santuários do consumo, onde
os objetos, estrategicamente dispostos, se encontram ao alcance da mão do potencial comprador. Uma
publicidade bem orquestrada lembra as pequenas e grandes maravilhas a que todos “têm direito” e que as
vendas a crédito permitem adquirir.

O consumismo instala-se duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda


metade do século XX.

 1.2.2 O Mundo Comunista

Quando o 2º conflito mundial terminou a URSS foi responsável pela implantação de regimes comunistas,
inspirados no modelo soviético, por todo o mundo.

Após a 2ª Guerra Mundial, o reforço da posição militar soviética e o desencadear do processo de


descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do comunismo, quer ao estreitamento dos
laços de amizade e cooperação entre Moscovo e os países recentemente independentes. A URSS saiu, assim,
do isolamento a que estivera votada desde a Revolução de outubro, alargando a sua influência nos 4
continentes.

 O expansionismo soviético:

A expansão do comunismo fez-se, em grande parte, sob a égide da URSS. O reforço da oposição militar
soviética e o desencadear do processo de descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do
comunismo, quer ao estreitamento de laços de amizade e cooperação entre Moscovo e os países
recentemente emancipados.
o EUROPA

A primeira vaga da extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental e fez-se sob a pressão direta da
URSS. Entre julho de 1947 e julho de 1948, as coligações governamentais desfizeram-se: o partido
comunista tornou-se partido único.

Os novos países socialistas receberam a designação de democracias populares.

Defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes trabalhadoras. Estas, que
constituem a esmagadora maioria da população, “exercem o poder” do Partido Comunista.

Depois da implantação do comunismo, a URSS exerceu um apertado controlo sobre os seus novos
aliados.

Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com a constituição do Pacto de
Varsóvia, aliança militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto Varsóvia
constituiu uma organização completamente oposta à OTAN. A união soviética impôs um modelo único, do
qual não admitiu desvios.

Em 1956, na Hungria, e em 1968, em Praga (Checoslováquia), a URSS reprimiu, com os tanques


militares do Pacto de Varsóvia, os levantamentos sociais que contestavam o poder soviético.

Em 1961, a fim de evitar a passagem de cidadãos de Berlim Leste para Berlim Oeste, de onde
fugiram para a RFA e para outros países ocidentais, a RDA ordenou a construção do muro de Berlim.

o ÁSIA

Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista se ficou a dever à intervenção
direta da URSS foi a Coreia. Entre 1950 e 1953 desenrolou-se, na Coreia, uma guerra civil entre o norte, a
República Popular da Coreia, comunista, apoiada pela URSS e o sul, a República Democrática da Coreia,
capitalista, sustentada pelos Estados Unidos. O final da guerra não unificou o país, tornando-se mais uma
das questões por resolver da Guerra Fria.

Nos restantes casos, o triunfo do partido comunista ficou a dever-se a movimentos revolucionários nacionais
que contaram, no entanto, com o incentivo ou o apoio declarado da URSS.

Tal é o caso da China, onde, em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma
República Popular. Apesar de, posteriormente, se ter afastado da URSS, a China seguiu, nos primeiros anos
do regime comunista, o modelo político e económico do socialismo russo.

o América Latina

O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba, onde, um grupo de revolucionários,
sob o comando de Fidel Castro e do Che Guevara. A influência soviética em Cuba confirma-se quando, em
1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação, na ilha, de mísseis russos de médio
alcance, capazes de atingir o território americano.

A exigência firme de retirada dos mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o mundo perante a
eminência de uma guerra nuclear entre as duas superpotências. Fruto do seu alinhamento com o bloco
soviético, Cuba desempenhará também um papel ativo na proliferação do comunismo.

o África
A adoção de regimes sociais coincidiu com a 2ª vaga de descolonizações.

 Opções e Realizações da economia de direção central

Após a 2ª Guerra Mundial, a planificação da economia nos regimes socialistas propiciou uma
recuperação rápida dos prejuízos causados pelo esforço de guerra. Os planos quinquenais apostavam,
sobretudo, na indústria pesada (siderurgia) e nas infraestruturas. A URSS e os países de modelo soviético
registaram um crescimento industrial tão significativo que ascenderam à 2ª posição da indústria mundial.

No entanto, a par destas realizações, as economias da direção central (dirigidas pelo Estado o qual
abolia a iniciativa privada) evidenciavam fraquezas estruturais que comprometiam a longo prazo o seu
sucesso:

O nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica.


o As jornadas de trabalho matem-se excessivas;
o Os salários sobem a um ritmo muito lento e as carências de bens de toda a espécie mantêm-se;
o A agricultura, a construção habitacional, as indústrias de consumo e o setor terciário avançam
lentamente.

Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo muito rápido, a população amontoa-se em
bairros periféricos. As longas filas de espera para adquirir os bens essenciais tornam-se uma rotina diária.

 Os bloqueios Económicos

Passando o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começam a mostrar, de forma


mais evidente, as suas debilidades:

o A planificação excessiva entorpece as empresas, que não gozam de autonomia na seleção das
produções, do equipamento e dos trabalhadores, na fixação de salários e preços, ou na escolha de
fornecedores e clientes;
o Uma gestão burocrática limita-se a procurar cumprir as quantidades previstas no plano, sem atender à
qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos equipamentos e da numerosíssima mão-
de-obra;
o Nas unidades agrícolas, a falta de investimento, a má organização e o desalento dos camponeses
refletem-se de forma severa na produtividade.

Implementou-se, nos anos 60, um conjunto vasto de reformas em praticamente todos os países da Europa
Socialista. O exemplo é dado pela União Soviética.

 1.2.2 A escala armamentista e o início da era espacial

 A escala armamentista

Para além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os 2 blocos procuravam
preparar-se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico de armamento cada
vez mais sofisticado.

Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos tinham o segredo da bomba atómica, que
consideravam a sua melhor defesa. Quando, em Setembro de 1949, os Russos fizeram explodir a sua
primeira bomba atómica, a confiança dos Americanos desmoronou-se.

Em 1952 os americanos testavam, no Pacífico, a 1ª bomba de hidrogénio, com uma potência 1000 vezes
superior à bomba de Hiroxima.
A corrida ao armamento tinha começado. No ano seguinte, os Russos possuíam também a bomba de
hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as duas superpotências à produção maciça de armamento nuclear.
O mundo viu também multiplicarem-se as armas ditas convencionais. No fim de 1950, os americanos
consideravam obrigatório aumentar, tão depressa quanto possível, a força aérea, terrestre e naval em geral e
a dos aliados num ponto em que não estivessem tão fortemente dependentes de armas nucleares.

O investimento ocidental nas armas convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual
estratégia por parte da URSS.

Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico
em caso de violação das respetivas áreas de influência. O mundo tinha resvalado, nas palavras de Churchill,
para o equilíbrio instável do terror.

 O início da era espacial

Durante a 2ª Guerra Mundial a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos foguetes e
criados os primeiros mísseis. Em 1945, os cientistas envolvidos neste projeto emigraram para a URSS e para
os Estados Unidos, onde desempenharam um papel relevante nos respetivos programas espaciais.

A URSS colocou-se à cabeça da conquista do espaço. A desolação dos Americanos, que até aí tinham
considerado a URSS tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa,
anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o impulsionava explodiu e a
experiencia foi um fracasso.

Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações.

 1.3. A afirmação de novas potências


 1.3.1. O rápido crescimento do Japão

 Os fatores de desenvolvimento / O “milagre Japonês”

O “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. A ocupação americana modernizou as


estruturas políticas e sociais do país. Os Estados Unidos disponibilizaram importantes ajudas financeiras e
técnicas que permitiram uma rápida reconstrução económica (através do Plano Dodge); fizeram aprovar a
Constituição de 1945; incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino. Após a vitória de Mao
Tsé-Tung na China, em 1949, o Japão passou a ser visto como um precioso aliado do bloco ocidental no
Oriente.

Estabilidade política, assegurada pelo Partido Liberal-Democrata no poder desde 1955.

A mentalidade japonesa foi também um importante fator de crescimento. Os lucros foram reinvestidos
continuamente e os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus pequenos aumentos de salário para
promover a renovação tecnológica.

Esta ligação afectiva entronca na tradição japonesa do trabalho vitalício que transforma o patrão no
protector dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa.

Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente


competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de se transformar na 1ª sociedade de consumo da Ásia. O primeiro
desenvolvimento da economia japonesa decorreu entre 1955 e 1961. Neste curto período, a produção
industrial praticamente triplicou.

Os setores que, neste período, adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de
consumo duradouros. O comércio externo acompanha esta expansão: as exportações duplicam, assim como
as importações.
Depois de um período de estagnação, no início dos anos 60, a economia japonesa conheceu um 2º surto
de crescimento tão possante quanto o anterior.

Entre 1966 e 1971, a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3 milhões de novos postos de trabalho.
Além do desenvolvimento dos setores clássicos este surto de crescimento assenta, sobretudo, em novos
setores.

 1.3.2. O Afastamento da China do bloco soviético

Maoísmo: Regime instalado na China pelo Partido Comunista Chinês,

chefiado por Mao Tsé-Tung,

diferenciado do marxismo-leninismo,

sua principal fonte de inspiração,

pela substituição do proletariado pelo campesinato enquanto classe revolucionária,

e pela Revolução Cultural, no sentido de acelerar a construção do comunismo.

O comunismo chinês foi marcado pela personalidade carismática do seu líder Mao Tsé-Tung.

Ao contrário do marxismo tradicional, Mao enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a
liderança revolucionária -> maoísmo.

O maoísmo assumiu como objetivo a revolução total protagonizada pelas massas e não pelas estruturas
de Poder, para isso, recorreu a grandes campanhas de natureza ideológica. Mao lança, em 1957, uma
campanha de “retificação” dos erros cometidos pelo Partido, cuja atuação parecia afastar-se das massas.

Esta política foi complementada, em 1958, com o “grande salto em frente”: que tinha por base o fomento
da agricultura e a integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo Partido Comunista
Chinês. A prioridade à indústria pesada foi então posta de lado e a ênfase passou para os campos, onde se
deviam desenvolver tanto as produções agrícolas como pequenas industrias locais. No entanto, esta reforma
redundou em fracasso (1960), pois os meios técnicos eram reduzidos e os métodos de trabalho utilizados nas
oficinas eram antiquados.

Em vez da subserviência a Moscovo, Mao estabeleceu, ele mesmo, os fundamentos doutrinários de um


socialismo nacionalista. Criticou o comunismo de Kruchtchev, acusando-o de não “escutar a opinião das
massas”.

Em 1964 o culto a Mao e ao maoísmo foi estimulado através da chamada Revolução Cultural,
movimento que pretendia aniquilar todas as manifestações culturais que se afastassem do modelo socialista
de Mao. A propaganda ideológica tinha por base o “livro vermelho” que reunia citações de Mao e que era
venerado como detentor da verdade absoluta. A revolução cultural deu origem a excessos de agitação social
que resultaram na humilhação, perseguição e assassínio de muitos cidadãos considerados
contrarrevolucionários. Os esforços de Mao foram coroados de êxito quando, em 1971, o país entra para a
ONU.

 1.3.3. A ascensão da Europa

A Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir para reencontrar a
prosperidade económica e, se possível, a sua influência política.
 Da CECA à CEE

O Primeiro passo consistente para a cooperação europeia resultou da Declaração Shumam, que pretendia
a cooperação entre a França e a Alemanha no domínio da produção do carvão e do aço. Desta iniciativa
resultou a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda
e Luxemburgo). A CECA estabeleceria uma zona conjunta minero-siderúrgica sob a orientação de uma Alta
Autoridade supranacional.

Em 1957, surge, finalmente, a Comunidade Económica Europeia – CEE, constituída pelos 6 países
referidos. A CEE, cujos fundamentos foram expressos no Tratado de Roma (1957) tinha objetivos
predominantemente económicos:

o Estabelecimento de um mercado comum;


o Aproximação progressiva das políticas económicas;
o Expansão económica contínua e equilibrada;
o Livre prestação de serviços;
o Estabelecimento de uma política comum na área da agricultura, dos transportes e da produção
energética – é criada a EURATOM [Comissão Europeia de Energia Atómica – com um
funcionamento independente da CEE]

 1.3.3. A segunda vaga de descolonizações


 A política de Não-Alinhamento

 A descolonização Africana

O processo de descolonização em África seguiu o sentido norte-sul: primeiramente tornaram-se


independentes os países do norte de África e, progressivamente, os países da África Negra foram
reclamando autonomia, onde se organizam também movimentos nacionalistas que encabeçam a luta contra o
estado colonizador.

Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o orgulho perdido, os
líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum,
difundindo a ideia de que ela é tão válida como a civilização dos europeus civilizadores.

A luta pela independência assume, assim, a dupla vertente de uma luta política e de uma luta contra a
pobreza e o atraso económico

O processo independentista contou com o apoio da ONU, que, honrando os ideais de igualdade e
justiça, se colocou inequivocamente ao lado dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia Geral aprovou a
Resolução de 1514 que consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e
condena qualquer ação armada das metrópoles.

 Um Terceiro Mundo

Nas 3 décadas que se seguiram ao conflito mundial constituíram-se cerca de 70 novos países na Ásia e
na África -> são estes que constituem o Terceiro Mundo.

Um “país de Terceiro Mundo” é aquele onde a população, muito numerosa, é maioritariamente pobre, a
tecnologia é atrasada, os cidadãos têm difícil acesso a bens essenciais, a TMI é elevada e a EMV é mais
baixa do que no mundo desenvolvido.

Nascido da descolonização, o Terceiro Mundo permaneceu sob a dependência económica dos países
ricos.
Estes países continuaram a explorar, através de grandes companhias, as matérias-primas, minerais e
agrícolas do mundo subdesenvolvido, fornecendo-lhe, como no passado, produtos manufaturados.

Tal situação tem perpetuado o atraso destas regiões: por um lado, os lucros das companhias não são
reinvestidos no local; por outro, enquanto o preço dos produtos industriais têm vindo a subir, o valor das
matérias-primas, tem decaído

Considerado um verdadeiro neocolonialismo, tal situação foi, desde logo, denunciada pelas nações do
Terceiro Estado, que reivindicaram, sem sucesso, a criação de uma “nova ordem económica internacional”.

 A política de não-alinhamento

Para além da sua ação económica, social, a expressão do Terceiro Mundo reveste também uma
conotação política: os novos países representam a possibilidade de uma terceira via, uma alternativa
relativamente aos blocos capitalista e comunista.

Os países saídos da descolonização cedo se esforçaram por estreitar os laços que os unem e por marcar
posição na política internacional. Em 1955 convoca-se uma conferência para definir as linhas gerais de
atuação dos países recém-formados. A conferência, em Bandung, na Indonésia, reuniu 29 delegações afro-
asiáticas.

Foi possível adotar um conjunto de princípios que definem as posições políticas do Terceiro Mundo:
condenação do colonialismo, rejeição da política dos blocos, apelo à resolução pacífica dos diferendos
internacionais.

A conferência da Bandung teve um efeito notável no processo de descolonização

A mensagem da Bandung foi tomando corpo através de sucessivos encontros internacionais que
desembocaram no Movimento dos Não-Alinhados, criado oficialmente na conferência de Belgrado,
empenhando-se no estabelecimento de uma via política alternativa à bipolarização mundial.

 1.4. O termo da prosperidade económica: origens e efeitos

Os “trinta gloriosos” anos de abundância e crescimento económico do mundo capitalista cessaram


bruscamente, em 1973

A crise afetou essencialmente os setores siderúrgico, a construção naval e automóvel bem como o
têxtil. Muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o desemprego subiu em flecha.

Paralelamente a inflação tornou-se galopante. Este fenómeno inédito recebeu o nome de estagflação,
termo que aglutina as palavras estagnação e inflação.

Os fatores da crise

A interrupção do crescimento económico nos anos 70 deveu-se, sobretudo, à conjugação de 2 fatores: a


crise energética e a instabilidade monetária.

Nos finais da década de 60, o petróleo era a fonte de energia básica de que dependiam os países
industrializados.

Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP, decidiram subir o preço de venda do petróleo
para o quádruplo, numa tentativa de pressionar o Ocidente a desistir de auxiliar Israel na guerra israelo-
palestiniana.
Um outro fator determinante desta depressão económica foi a instabilidade monetária. A excessiva
quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos levou o presidente Nixon a suspender a
convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional. Segundo alguns
analistas, foi esta instabilidade monetária, mais do que a crise energética, a responsável pelo
enfraquecimento económico dos anos 70.

 Uma crise relativa

A crise dos anos 70 introduziu um novo ciclo económico que intercala períodos de crescimento e
estagnação. Ainda que a um ritmo mais lento, o crescimento económico manteve-se, alguns setores
industriais reconverteram-se, enquanto outros, ligados às novas tecnologias conheceram um forte impulso.

Também no aspeto social esta crise não atingiu a dimensão estratégica da Grande Depressão. As
estruturas do Estado Providência, reforçadas após o 2º conflito mundial, cumpriram cabalmente o seu papel,
amparando o desemprego e evitando situações de miséria extrema e generalizada.

Modulo 8: [2] Portugal: do autoritarismo à democracia

 2.1. Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a 1974

A posição de neutralidade que Portugal assumiu na 2ªGuerra Mundial permitiu a sobrevivência do regime
salazarista.

Desfasado politicamente em relação à Europa democrática, o nosso país não soube também acompanhar o
ritmo económico das nações mais desenvolvidas, o atraso português persistiu e, em certos sectores, como o
agrícola, agravou-se.

 2.1.1. Coordenadas económicas e demográficas

 A estagnação do mundo rural

O país agrário continuava um mundo sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que, em geral,
não atingiam sequer a metade da média europeia.

Os estudos sobre a situação da agricultura portuguesa apontavam como essencial o redimensionamento da


propriedade, que apresentava uma profunda assimetria Norte-Sul: no Norte predominava o minifúndio, que
não possibilitava mecanização; no Sul estendiam-se propriedades imensas, que se encontravam
subaproveitadas. Havia também que rever a situação dos rendeiros.

Face a esta situação, a partir de 1953, foram elaborados Planos de Fomento para o desenvolvimento
industrial. O I Plano (1953-1958) e o II Plano (1959-1964) davam continuidade ao modelo de autarcia e à
substituição de importações. É só a partir de meados dos anos 60, com o Plano Intercalar de Fomento (1965-
1967) e o III Plano (1968-1973), que o Estado Novo delineia uma nova política económica:

o Defende-se a produção industrial orientada para a exportação;


o Dá-se prioridade à industrialização em relação à agricultura;
o Estimula-se a concentração industrial;
o Admite-se a necessidade de rever a lei do condicionamento industrial (que colocava entraves à livre
concorrência).

A década ficou marcada por um decréscimo brutal da taxa de crescimento do Produto Agrícola Nacional e
por um êxodo rural maciço.
 A emigração

Década de 60 -> período de emigração mais intenso de toda a nossa história.

Nesta década, para além da atração pelos altos salários do mundo industrializado, há que ter em conta os
efeitos da guerra colonial.

O contingente migratório português era constituído maioritariamente por trabalhadores em atividade,


predominantemente, entre os 15 e os 19 anos. Os principais países de destino eram França e RFA, seguidos
da Venezuela, Canadá e os EUA.

Mais de metade desta emigração fez-se clandestinamente. A legislação portuguesa subordinava o direito de
emigrar colocando-lhe várias restrições, como a exigência de um certificado de habilitações mínimas. Com o
deflagrar da guerra colonial, juntou-se a estes requisitos a exigência do serviço militar cumprido, obrigação
a que muitos pretendiam escapar. Sair “a salto” tornou-se a opção de muitos portugueses.

O Estado procurou salvaguardar os interesses dos nossos emigrantes, celebrando acordos com os principais
países de acolhimento. O País passou, por esta via, a receber um montante muito considerável de divisas: as
remessas dos emigrantes.

Tal facto, que muito contribuiu para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e para o aumento do
consumo interno, induziu o Governo a despenalizar a emigração clandestina e a suprimir alguns entraves.

A emigração desfalcou o País de trabalhadores, contribuiu para o envelhecimento da população e privou do


normal convívio com as famílias um grande nº de portugueses.

 O surto industrial

A política de autarcia empreendida pelo Estado Novo não atingiu os seus objetivos. Quanto os países que
tradicionalmente nos forneciam se envolveram na guerra, os abastecimentos tornaram-se precários e
espalhou-se a penúria e a carência.

Assim, logo em 1945, a Lei do Fomento e Reorganização Industrial estabelece as linhas mestras da política
industrializadora dos anos seguintes, considerando que o seu objetivo final é a substituição das importações.

O nosso país assinou, em 1948, o pacto fundador da OECE e, embora tenhamos beneficiado em pouco, a
participação na OECE reforçou a necessidade de um planeamento económico, conduzindo à elaboração dos
Planos de Fomento que, a partir de 1953, caracterizam a política de desenvolvimento do Estado Novo.

O I Plano de Fomento prevê um conjunto de investimentos públicos de cerca de 7,5 milhões de contos a
distribuiu por vários sectores, com prioridade para a criação de infraestruturas .

No II Plano alarga-se o montante investido para 21 milhões de contos e elege-se a indústria transformadora
de base como sector a privilegiar.

Os anos 60 trouxeram, porém, alterações significativas à política económica portuguesa. No decurso do II


Plano, o nosso país viria a integrar-se na economia europeia e mundial: em Janeiro de 1960, Portugal torna-
se um dos países fundadores da EFTA – associação europeia de comércio livre -, ainda no mesmo ano, 2
decretos de lei aprovam o acordo do BIRD e do FMI; em 1962 assina-se, em Genebra, o protocolo do
GATT.

A adesão a estas organizações marca a inversão na política da autarcia do Estado Novo. O Plano Intercalar
de Fomento enfatiza já as exigências da concorrência externa inerente aos acordos assinados, e a
necessidade de rever o condicionamento industrial. O grande ciclo salazarista aproximava-se do fim.
O plano de fomento II, conduziu à consolidação dos grandes grupos económico-financeiros e ao acelerar do
crescimento nacional, que atingiu, então, o seu pico. No entanto, o País continuou a sentir as exigências da
guerra colonial e o seu enorme atraso face à Europa desenvolvida.

 A urbanização

Nos anos 50 e 60, Portugal conheceu uma urbanização intensa que absorveu, em parte, o êxodo rural.
Crescem, sobretudo, as cidades do litoral oeste, entre Braga e Setúbal, onde se concentram as indústrias e os
serviços. Em Lisboa e Porto, as maiores cidades portuguesas, propagam-se subúrbios, onde se fixam os que
não podem pagar o custo crescente das habitações do centro. Nestes arredores concentra-se a maior parte da
sua população ativa.

Esta expansão urbana não foi acompanhada da construção das infraestruturas necessárias ao acolhimento de
uma população de poucos recursos. Fruto destes desajustamentos, aumentam as construções clandestinas,
proliferam os bairros de lata, degradam-se as condições de vida . As longas esperas pelos meios de
transporte e a viagem em condições de sobrelotação tornam-se a rotina quotidiana de quem vive nos
subúrbios.

No entanto, o crescimento urbano teve também efeitos positivos, contribuindo para a expansão do sector dos
serviços e para um maior acesso ao ensino e aos meios de comunicação.

 O fomento económico nas colónias

Até aos anos 40, o Estado Novo desenvolvera um colonialismo típico. As décadas seguintes seriam
marcadas por um reforço da colonização branca, pela escalada dos investimentos públicos e privados e pela
maior abertura ao capital estrangeiro. Angola e Moçambique receberam uma atenção privilegiada.

Os investimentos do Estado nas colónias, a partir de 1953, foram incluídos nos Planos de Fomento. O
Estado procedeu, primeiro, à criação de infraestruturas: caminhos-de-ferro, estradas, pontes, aeroportos,
portos, centrais hidroeléctricas. Ao mesmo tempo, desenvolveram-se os sectores agrícolas e extrativos,
virados para o mercado externo.

No que se refere ao sector industrial, as duas colónias conhecem um acentuado crescimento, propiciado pela
progressiva liberalização da iniciativa privada, pela extensão do mercado interno e pelo reforço dos
investimentos nacionais e estrangeiros.

O fomento económico das colónias recebeu um forte impulso após o início da guerra colonial.

A ideia da coesão entre a metrópole e as colónias viu-se reforçada (em 1961) com a criação do Espaço
Económico Português (EEP) que previa a constituição de uma área económica unificada, sem quaisquer
entraves alfandegários. No entanto, a subordinação das economias ultramarinas aos interesses de Portugal,
bem como os diferentes graus de desenvolvimento dos territórios coloniais, acabaram por inviabilizar a
efetivação deste “mercado único”.

 2.1.2 A radicalização das oposições e o sobressalto político de 1958

O final da 2ª Guerra Mundial trouxe o desmantelamento das estruturas do fascismo na Europa. Porém, em
Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista, de tipo fascista. Salazar encenou, então, uma viragem
política, aparentando uma maior abertura, a fim de preservar o poder.

Neste contexto, o governo toma a iniciativa de antecipar a revisão constitucional, dissolver a Assembleia
Nacional e convocar eleições antecipadas, que Salazar anuncia “tão livres como na livre Inglaterra”.
Em 1945, os portugueses foram convidados a apresentar listas de candidatura às eleições legislativas. A
oposição democrática concentrou-se em torno do MUD, criado no mesmo ano. O impacto deste movimento,
que dá início à chamada oposição democrática, ultrapassou todas as previsões.

Oposição Democrática:

Expressão que designa o conjunto de forças políticas heterodoxas (monárquicos, republica nos, socialistas e
comunistas) que, de forma legal ou semi - legal, se opunham ao Estado Novo, adquirindo visibilidade, face
aos constrangimentos impostos às liberdades pelo regime, em épocas eleitorais. Para garantir a legitimidade
no acto eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que considera fundamentais:

o O adiamento das eleições por 6 meses (a fim de se instituírem partidos políticos);


o A reformulação dos cadernos eleitorais;
o Liberdade de opinião, reunião e de informação.

As esperanças fracassaram. Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu por
considerar que o acto eleitoral não passaria de uma farsa. A apreensão das listas pela PIDE permitiu
perseguir a oposição democrática.

Em 1949 o nosso país tornou-se membro fundador da NATO, o que equivalia a uma aceitação clara do
regime pelos parceiros desta organização. Também em 1949, assiste-se à candidatura de Norton de Matos às
eleições presidenciais. No entanto, face a uma severa repressão Norton de Matos apresentou também a sua
desistência pouco antes das eleições.

Nos anos que se seguiram, a oposição democrática dividiu-se e enfraqueceu. O Governo pensou ter
controlado a situação até que, em 1958, a candidatura de Humberto Delgado a novas eleições presidenciais
desencadeou um terramoto político.

O anúncio de Humberto delgado, com o seu propósito de não desistir das eleições e a forma destemida como
anunciou a sua intenção de demitir Salazar caso viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um
acontecimento único no que respeita à mobilização popular.

 2.1.3. A Questão Colonial

As potências coloniais europeias começaram a aceitar a ideia de abrir mão dos seus impérios e a nossa velha
aliada britânica preparava-se para encetar a vida da negociação e da transferência pacífica de poderes. O
Estado Novo viu-se obrigado a rever a sua política colonial e a procurar soluções para o futuro do nosso
império.

 Soluções preconizadas

Em termos ideológicos, a “mística do império” é substituída pela ideia da “singularidade da colonização


portuguesa”. Os portugueses haviam demonstrado uma surpreendente capacidade de adaptação à vida nas
regiões tropicais onde, por ausência de convicções racistas, se tinham entregue à miscigenação e à fusão de
culturas. Esta teoria, conhecida como luso-tropicalismo, serviu para individualizar a colonização portuguesa,
retirando-lhe o carácter opressivo que assumia no caso de outras nações.

No campo jurídico, a partir de 1951, em vez de colónias, passava a falar-se de “Províncias Ultramarinas” e
em vez de Império Português falava-se em “Ultramar Português”.

A nível interno, a presença portuguesa em África não sofreu praticamente contestação até ao início da
guerra colonial. Exceção feita ao Partido Comunista Português que no seu congresso de 1957 (ilegal),
reconheceu o direito à independência dos povos colonizados.
 A luta armada

A recusa do Governo português em encarar a possibilidade de autonomia das colónias africanas fez extremar
as posições dos movimentos de libertação que, nos anos 50 e 60, se foram formando na África portuguesa.

o Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola) que, 7 anos mais tarde, se
transforma na FNLA (Frente de Libertação de Angola); o MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola) forma-se em 1956; e a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge em 1966.
o Em Moçambique, a luta é encabeçada pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) criada
em 1962.
o Na Guiné, distingue-se o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956.

Os confrontos iniciaram-se no Norte de Angola, em Março de 1961, com ataques da UPA a várias fazendas
e postos administrativos portugueses.

Em 1963, o conflito alastrou à Guiné e, no ano seguinte, a Moçambique. Abriram-se assim 3 frentes de
combate, que exigiram dos Portugueses um sacrifício desproporcionado: o país mobilizou 7% da sua
população ativa e despendeu, na Defesa, 40% do Orçamento Geral do Estado.

A resistência portuguesa ultrapassou, em muito, os prognósticos da comunidade internacional, que previam


a capitulação rápida desta nação pequena e economicamente atrasada

 O isolamento internacional

No pós-guerra, Portugal e outras potências procuraram travar a marcha dos movimentos independentistas
mas pouco a pouco, todos reconheceram a inevitabilidade do processo descolonizador. Ao contrário,
Portugal pareceu irredutível nas posições inicialmente assumidas.

A questão das colónias ganhou dimensão aquando da entrada do nosso país na ONU, em 1955. Portugal
recusou-se de imediato a admitir que as disposições da Carta relativas à administração de “territórios não-
autónomos” lhe fossem aplicadas, argumentando que as províncias ultramarinas eram parte integrante do
território português.

Seria esta a primeira de uma série de derrotas que, progressivamente, foram isolando os Portugueses e que
se intensificaram.

Em 1961 Portugal esteve particularmente em foco nas Nações Unidas, acabando esta organização por
condenar o nosso país devido ao persistente não cumprimento dos princípios da Carta e das resoluções
aprovadas. Estas disposições repetiram-se insistentemente, com apelos claros a Portugal para que
reconhecesse o direito à autodeterminação das colónias africanas.

 2.1.4. A Primavera Marcelista

 Reformismo político não sustentado

Em Setembro de 1968, António de Oliveira Salazar é operado de urgência a um hematoma cerebral. Pouco
depois, dado o agravamento do seu estado de saúde, é substituído por Marcello Caetano. Este, apresentava-
se como um político mais liberal, capaz de alargar a base de apoio do regime.

Logo no discurso da tomada de posse, Marcello Caetano define as linhas orientadoras do seu governo:
continuar a obra de Salazar sem por isso prescindir da necessária renovação política. Pretendia-se “evoluir
na continuidade”, concedendo aos Portugueses a “liberdade possível”.

Nos primeiros meses de mandado, o novo Governo dá sinais de abertura:


o Faz regressar do exílio algumas personalidades;
o Modera a atuação da PIDE (que passará a chamar-se Direcção-Geral de Segurança – DGS);
o Ordena o abrandamento da censura;
o Abre a União Nacional
o Alargou o sufrágio feminino (a todas as mulheres escolarizadas) – permitiu maior liberdade de
campanha à oposição;
o Consulta dos cadernos eleitorais;
o Fiscalização das mesas de voto.

No entanto, o ato eleitoral saldou-se por uma série de atropelos aos princípios democráticos e o mesmo
resultado de sempre: 100% para a União Nacional; 0% para a oposição.

Frustradas as esperanças de uma real democratização do regime, Marcello Caetano viu-se sem o apoio dos
liberais e alvo da hostilidade dos núcleos mais conservadores.

 O impacto da guerra colonial

Aquando da escolha de Marcello Caetano, as altas patentes das Forças Armadas puseram, como única
condição, que o novo chefe do executivo mantivesse a guerra em África.

Paralelamente, o chefe do governo redigiu um minucioso projecto de revisão do estatuto das colónias, no
sentido de as encaminhar para a “autonomia progressiva”.

Em tais circunstâncias, a luta armada foi endurecendo e, embora controlada em Angola e Moçambique, a
situação militar deteriorou-se na Guiné, onde o PAIGC adquiriu controlo sobre uma parte significativa do
território.

Externamente, cresceu o isolamento português:

o Em 1970 o papa Paulo VI recebe os líderes dos movimentos do MPLA, FRELIMO e PAIGC;
o Na ONU, agrava-se a luta diplomática, sofrendo o país a maior de todas as humilhações quando, em
1973, a Assembleia Geral reconhece a independência da Guiné-Bissau, à rebelia do Estado português.

Internamente, a pressão aumenta e o regime desmorona-se. Os deputados liberais começam, em sinal de


protesto, a abandonar a Assembleia Nacional.

 2.2. Da revolução à estabilização da democracia


 2.2.1. O movimento das forças armadas e a eclosão da revolução

No início dos anos 70, o impasse em que se encontrava a guerra colonial começou também a pesar sobre o exército.
Foi este sentimento que induziu o general Spínola a publicar Portugal e o Futuro e foi igualmente este sentimento
que transformou um movimento de oficiais no movimento revolucionário que derrubou o Estado Novo.

O Movimento dos Capitães nasceu em Julho de 1973, como forma de protesto contra dois diplomas legais que
facilitavam o acesso dos oficiais milicianos ao quadro permanente do exército. Os oficiais de carreira, sobretudo
capitães, rapidamente viram satisfeitas as suas reivindicações mas, nem por isso, o Movimento esmoreceu.

O Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e Spínola.
Face a estas posições e ao impacto do livro de Spínola, Marcello Caetano faz ratificar a orientação da política colonial
e convoca os oficiais generais das Forças Armadas para uma sessão solene. Costa Gomes e Spínola não
compareceram à reunião sendo, no mesmo dia, dispensados dos seus cargos.

Estes acontecimentos deram força àqueles que, dentro do Movimento (agora designado MFA – Movimento das
Forças Armadas), acreditavam na urgência de um golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas, permitisse a
tão desejada solução para o problema colonial.

Depois de uma tentativa precipitada, em Março, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, na
madrugada do dia 25 de Abril de 1974 pôs fim ao Estado Novo.

 Operação “Fim-Regime”

A operação “Fim-Regime” do Movimento das Forças Armadas decorreu sob a coordenação do major Otelo Saraiva
de Carvalho, de acordo com o plano previamente definido: depois da transmissão, pela rádio, das canções-senha, as
unidades militares saem dos quartéis para cumprirem as missões que lhes estavam destinadas.

A única falha no plano previsto – a prévia neutralização dos comandos do Regimento de Cavalaria 7, que não aderira
ao golpe – originou a única situação verdadeiramente difícil com que o MFA se deparou.

Coube também a Salgueiro Maia dirigir o cerco ao Quartel do Carmo, onde se tinham refugiado o presidente do
Conselho e outros membros do Governo. A resistência do quartel terminou cerca das 18h, quando Marcello Caetano
se rendeu ao general Spínola.

No fim do dia, o “Movimento dos Capitães” sagrava-se já vitorioso. Apesar dos insistentes pedidos para que, por
razões de segurança, a população civil se recolhesse em casa, a multidão acorrera às ruas em apoio dos militares a
quem distribuía cravos vermelhos.

 2.2.2. A Caminho da Democracia

Em 1976 o País viveu um período de grande instabilidade e conheceu também grandes tensões sociais e fortes
afrontamentos políticos.

 O desmantelamento das estruturas do Estado Novo

No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, que tomou de
imediato medidas:

o O presidente da República e o presidente do Conselho foram destituídos, bem como todos os governadores
civis e outros quadros administrativos;
o A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações da Juventude foram extintas, bem como a Censura
(Exame Prévio) e a Acão Nacional Popular;
o Os presos políticos foram perdoados e libertados e as personalidades no exílio puderam regressar a Portugal.

A Junta de Salvação Nacional anunciou a realização de eleições democráticas, no prazo de um ano, para a formação
de uma Assembleia Constituinte, com o objetivo de elaborar uma nova constituição, e decretou de imediato a
liberdade de expressão e de formação de partidos políticos.

Para assegurar o funcionamento das instituições governativas até à sua normalização democrática, a Junta de
Salvação Nacional nomeou presidente da República o general António de Spínola.

 Tensões político-ideológicas na sociedade e no interior do movimento revolucionário


No dia 1º de Maio de 1974, gigantescas manifestações de rua celebraram, em unidade, o regresso da democracia.
No entanto, os anos 74 e 75 ficaram marcados por uma enorme agitação social, pela multiplicação dos centros de
poder e por violentos confrontos políticos.

 O “período Spínola”

O caminho para a instalação e a consolidação da democracia não foi rápido e pacífico, mas caracterizado por
profunda conflitualidade política e social. Por um lado, o povo e o movimento operário aproveitaram o
estabelecimento de liberdade para exigir melhores condições de vida e aumentos salariais, estalando manifestações
e greves pelo país.

Carente de autoridade e incapaz de assumir uma efetiva liderança do País. O I Governo provisório demitiu-se menos
de 2 meses após a tomada de posse, deixando o presidente Spínola isolado na quase impossível tarefa de conter as
forças revolucionárias.

De facto, o poder político fracionara-se já em dois polos opostos: de um lado, o grupo afecto ao general Spínola; do
outro, a comissão coordenadora do MFA e os seus apoiantes.

O desfecho destas tensões culminou com a demissão do próprio general Spínola, após o falhanço da convocação de
uma manifestação nacional em seu apoio, e a nomeação de outro militar, o general Costa Gomes, como Presidente
da República.

 A radicalização do processo revolucionário

A revolução tende a radicalizar-se. Para chefiar o II Governo Provisório foi nomeado um militar próximo do PCP, o
general Vasco Gonçalves, enquanto era criado o Comando Operacional do Continente (COPCON) para intervir
militarmente em defesa da revolução, tendo o seu comando sido confiado a Otelo Saraiva de Carvalho, cada vez
mais próximo das posições de extrema-esquerda. Reagindo a este processo, as forças conservadoras tentaram um
derradeiro golpe, em 11 de Março de 1975, que fracassou, obrigando o general Spínola e alguns oficiais a procurar
refúgio em Espanha.

O 11 de Março acentuou o radicalismo na revolução portuguesa e provocou o aumento da conflitualidade política e


social. Ao nível das forças armadas, foi constituído o Conselho da Revolução, em substituição da anterior Junta de
Salvação Nacional, com o propósito de orientar o Processo Revolucionário em Curso (PREC), que deveria encaminhar
Portugal para uma sociedade socialista. Além disso, as forças de extrema-esquerda enveredaram por uma estratégia
de poder popular.

 As eleições de 1975 e a inversão do processo revolucionário

A inversão do processo deveu-se ao forte impulso dado pelo Partido Socialista à efectiva realização, no prazo
marcado, das eleições constituintes prometidas pelo programa do MFA.

Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente universal, realizaram-se no dia 25 de Abril
de 1975, marcando a vida cívica e política portuguesa. Tanto a campanha como o ato eleitoral decorreram dentro
das normas de respeito e de pluralidade democrática.

A vitória do Partido Socialista, seguido do Partido Popular Democrático, nas eleições para a Assembleia Constituinte,
veio criar condições para travar a direção e o rumo que a revolução portuguesa tomara.

Neste Verão de 1975 (conhecido como “Verão Quente”), a oposição entre as forças políticas atinge o rubro,
expressando-se em gigantescas manifestações de rua, assaltos a sedes partidárias e pela multiplicação de
organizações armadas revolucionárias de direita e de esquerda.
É em pleno “Verão Quente” que um grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major
Melo Antunes, crítica abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o clima de anarquia instalado, a
desagregação económica e social e a decomposição das estruturas do Estado.

 Política Económica antimonopolista e intervenção do Estado no domínio económico-financeiro

A onde de agitação social que se desencadeou após o 25 de Abril foi acompanhada de um conjunto de medidas que
alargou a intervenção do Estado na esfera económica e financeira. Estas medidas tiveram como objetivo a destruição
dos grandes grupos económicos, considerados monopolistas, a apropriação, pelo Estado, dos sectores-chave da
economia e o reforço dos direitos dos trabalhadores.

A intervenção do Estado em matéria económico-financeira encontrava-se já prevista no Programa do I Governo


Provisório, que referia a nacionalização.

Nacionalização:

Apropriação pelo Estado de uma unidade de produção privada ou de um sector produtivo. Na sequência do 25 de
Abril, foram nacionalizadas, num curto espaço de tempo, as instituições financeiras, as empresas ligadas aos sectores
económicos mais importantes, bem como grandes extensões de terra agrícola.

Simultaneamente, foi publicada legislação que permitia ao Estado gerir e fiscalizar todas as instituições de crédito.

Em Novembro, o Estado apropria-se do direito de intervir nas empresas cujo funcionamento não contribuísse
“normalmente para o desenvolvimento económico do país”.

Logo no rescaldo do golpe, aprova-se a nacionalização de todas as instituições financeiras. No mês seguinte, um
novo decreto-lei determina a nacionalização das grandes empresas ligadas aos sectores económicos base.

Estas nacionalizações determinam o fim dos grupos económicos “monopolistas”, considerado o expoente do
capitalismo, e permitem ao Estado um maior controlo sobre a economia.

Entretanto, no Sul do País, o mundo rural vive uma situação explosiva.

Em Janeiro de 1975 registam-se as primeiras ocupações de terras pelos trabalhadores e rapidamente esse
movimento se estende a uma vasta zona do Sul.

O processo da reforma agrária recebeu cobertura legal. O governo avança com a expropriação das grandes
herdades, com vista á constituição de Unidades Coletivas de Produção (UCP).

Reforma agrária:

Processo de coletivização dos latifúndios do Sul do País (1975 - 1977). São traços característicos da reforma agrária a
ocupação de terras pelos trabalhadores, a sua expropriação e nacionalização pelo Estado e a constituição de
Unidades Coletivas de Produção (UCP)

Em complemento desta política socializante, foi aprovada legislação com vista à proteção dos trabalhadores e dos
grupos economicamente desfavorecidos:

o Destacam-se novas leis laborais, que dificultavam os despedimentos;


o A instituição do “salário mínimo nacional”;
o Aumento das pensões sociais e da reforma.

Numa tentativa de controlar o surto inflacionista, foram tabelados artigos de primeira necessidade, o que, em
conjugação com uma forte subida dos salários permitiu elevar o nível de vida das classes trabalhadoras.

 A opção constitucional de 1976


Depois de um ano de trabalho, a Assembleia Constituinte terminou a Constituição, aprovada em 25 de Abril de 1976.
A constituição consagrou um regime democrático e pluralista, garantindo as liberdades individuais e a participação
dos cidadãos na vida política através da votação em eleições para os diferentes órgãos. Além disso, confirmou a
transição para o socialismo como opção da sociedade portuguesa. Mantém, igualmente, como órgão de soberania, o
Conselho da Revolução considerado o garante do processo revolucionário. Este órgão continuará a funcionar em
estreita ligação com o presidente da República, que o encabeça.

A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, exatamente dois anos após a “Revolta dos Cravos”.
A Constituição de 1976 foi, sem dúvida, o documento fundador da democracia portuguesa.

 2.2.3. O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo de descolonização

 O processo descolonizador

A nível interno, a “independência pura e simples” das colónias colhia o apoio da maioria dos partidos que se
legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse sentido se orientavam os apelos das manifestações que enchiam
as ruas do país.

É nesta conjuntura que o Conselho de Estado reconhece às colónias o direito à independência.

Intensificam-se, então, as negociações com o PAIGC, a FRELIMO e o MPLA, a FNLA e a UNITA, únicos movimentos aos
quais Portugal reconhece legitimidade para representarem o povo dos respetivos territórios.

Com exceção da Guiné, cuja independência foi efetivada logo em 10 de Setembro de 1974, os acordos
institucionalizavam um período de transição, bastante curto, em que se efetuaria a transferência de poderes.

No entanto, Portugal encontrava-se num a posição muito frágil, quer para impor condições quer para fazer respeitar
os acordos. Desta forma, não foi possível assegurar, como previsto, os interesses dos Portugueses residentes no
Ultramar.

O caso mais grave foi o de Angola. Em Março de 1975, a guerra civil em Angola era já um facto. As forças
portuguesas, carentes de um comando decidido e de meios militares, limitavam-se a controlar os principais centros
urbanos.

Em Setembro e Outubro, uma autêntica ponte aérea evacua de Angola os cidadãos portugueses que pretendem
regressar. Em 10 de Novembro o presidente da República decide transferir o poder para o povo angolano.

Fruto de uma descolonização tardia e apressada e vítimas dos interesses de potências estrangeiras, os territórios
africanos não tiveram um destino feliz.

 2.2.4. A revisão constitucional de 1982 e o funcionamento das instituições democráticas

Seis anos após a entrada em vigor, foi efetuada a primeira revisão constitucional. As principais alterações ocorreram
na organização do poder político, uma vez que se conservaram as disposições de carácter económico
(nacionalizações, intervencionismo do Estado, planificação, reforma agrária).

Foi abolido o Conselho da Revolução como órgão coadjuvante da Presidência da República. Na mesma linha,
limitaram-se os poderes do presidente e aumentaram-se os da instituição parlamentar.

O regime viu, assim, reforçado o seu cariz democrático-liberal, assente no sufrágio popular e no equilíbrio entre
órgãos de soberania:
o O presidente da República – eleito por sufrágio direto e por maioria absoluta. É assistido por um Conselho
de Estado. O mandato presidencial é de 5 anos, sendo interdito ao mesmo presidente mais do que dois
mandatos consecutivos.

Funções:

o Comanda as Forças Armadas;


o Dissolve a Assembleia da República;
o Nomeia e exonera o Primeiro-ministro;
o Ratifica os tratados internacionais
o Manda promulgar leis;
o Exerce o direito de veto.

Assembleia da República – constituída por deputados eleitos por círculos eleitorais. Cada legislatura tem a duração
de 4 anos e os deputados organizam-se por grupos parlamentares.

Funções:

o Faz leis;
o Aprova alterações à constituição, os estatutos das regiões autónomas, a lei do plano e do orçamento
de Estado;
o Concede ao Governo autorizações legislativas.

O Governo – é o órgão executivo ao qual compete a condução da política geral do País. Manda a constituição que o
primeiro-ministro seja designado pelo presidente da República, de acordo com os resultados das eleições
legislativas.

Funções:

o Faz os regulamentos necessários à execução das leis;


o Dirige a administração pública;
o Elabora leis em matérias não reservadas à Assembleia da República.

Os Tribunais – cuja independência a Constituição de 1976 consagrou. A Constituição tornou o poder judicial
verdadeiramente autónomo, proporcionando as condições para a sua imparcialidade. A Revisão de 1982 criou,
ainda, o Tribunal Constitucional.

Funções:

o Verifica previamente a constitucionalidade das leis. Aos tribunais fica cometida a administração da
justiça em nome do povo.

 2.3. O significado internacional da revolução portuguesa

A revolução de Abril contribuiu para quebrar o isolamento e a hostilidade de que Portugal tinha sido alvo,
recuperando o País a sua dignidade e a aceitação nas instâncias internacionais.

Para além deste reencontro de Portugal com o mundo, o fim do Governo marcelista teve uma influência apreciável
na evolução política espanhola. Em Espanha, a morte do General Franco, em 1975, criou condições para uma rápida
transição para a democracia.

A influência da revolução portuguesa estendeu-se também a África, onde a independência das nossas colónias
contribuiu para o enfraquecimento dos últimos bastiões brancos da região, como a Rodésia (que mais tarde viria a
ser o Zimbábue) e a África do Sul.
No Zimbábue, a vitória de Mugabe e a constituição de um governo de maioria negra que aboliu as
discriminações raciais estiveram, em parte, ligadas à independência de Moçambique.

Módulo 9 – ALTERAÇÕES GEOESTRATÉGICAS, TENSÕES POLÍTICAS E


TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS NO MUNDO ACTUAL

1. O fim do sistema internacional da Guerra Fria e a persistência da dicotomia Norte-Sul

1.1. O colapso do bloco soviético e a reorganização do mapa político da Europa de Leste. Os


problemas da transição para a economia de mercado.

No inicio dos anos 80, a URSS encontrava-se numa situação preocupante, o sistema vinha a degradar-se
desde os tempos de Brejnev. Enquanto o nível de vida da população baixava, o atraso económico e
tecnológico, relativamente aos EUA, crescia a olhos vistos, e só com muitas dificuldades o país conseguia
suportar os pesados encargos decorrentes da sua vasta influência no mundo
Em Março de 1985, Mikhail Gorbatchev é eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e
inicia uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente, propondo aos Americanos o reinício das
conversações sobre o desarmamento para permitir à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação
interna. O líder soviético procura assim criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao
armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna.
Neste contexto, Gorbatchev anunciou o seu programa de reformas designado Perestroika. Este programa
previa a alteração do modelo de planificação económica em vigor desde Estaline, [descentralizar a
economia], através da concessão de mais autonomia às empresas, criação de um sector privado com maior
grau de flexibilidade para responder às solicitações do mercado e uma abertura social e política (glasnost,
transparência), de modo a incentivar a participação dos cidadãos e na viabilização da realização de eleições
livres e pluripartidárias – abertura democrática.

Glasnost
Perestroika Conceito:
Conceito: - Vertente política da Perestroika que procurou
- Reestruturação profunda do modelo conciliar o socialismo e a democracia.
soviético empreendida por Gorbatchev a Propostas:
partir de 1958. - Apela à denúncia da corrupção.
- Plano de renovação económica. - Abolição da censura.
Propostas: - Abertura democrática – eleições pluralistas e livres.
- Descentralização da economia (gestão
autónoma das empresas que se vêm privadas Consequências:
dos planos quinquenais, bem como dos - Abalo das estruturas do poder.
avultados subsídios que suportavam a sua - Fim das Democracias Populares.
falta de rentabilidade. - Vaga democratizadora – varre o leste (1989)
- Formação de um sector privado.
Consequências:
- Deteorização da economia – falências,
desemprego, descontrolo económico,
pobreza, inflação.
O colapso do bloco soviético

As reformas liberais empreendidas por Gorbatchev tiveram grande impacto nos pais do Leste Europeu.
A inflexão da política soviética e as duras críticas tecidas aos tempos de Brejnev debilitaram a autoridade
dos líderes comunistas dos países do Leste. Ao contrário do que acontecera anteriormente, os partidos
comunistas de leste não contaram com a intervenção militar russa, para normalizar a situação. Confiante no
clima de concórdia que estabelecera com o Ocidente, Gorbatchev passou a olhar para as democracias
populares como uma obrigação pesada, da qual a URSS só ganhava em libertar-se.
A doutrina da soberania limitada foi, assim, posta de lado, e os países satélites da URSS puderam, escolher o
seu regime político. No ano de 1989, uma vaga democratizadora varre o Leste, assistindo se a uma
subversão completa do sistema comunista. Na Polónia, Checoslováquia, Bulgária, Roménia, etc., os partidos
comunistas perdem o seu lugar de “partido único” e realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra.
Desta forma, a cortina de ferro, de dividia a Europa, começa a dissipar-se, as fronteiras com o Ocidente são
abertas e nesse
Neste processo, a “cortina de ferro” que separava a Europa levanta-se, as fronteiras com o Ocidente são
abertas e, em 9 de Novembro, cai o Muro de Berlim e depois das negociações entre os dois Estados alemães
e os quatro países que ainda detinham direitos de ocupação, a Alemanha reunifica-se (Tratado 2+4).
No mês seguinte é anunciado, sem surpresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do
COMECON.
Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já incontrolável, conduzindo,
também, ao fim da própria URSS. O extenso território das Repúblicas Soviéticas desmembra-se, sacudido
por uma explosão de reivindicações nacionalistas e confrontos étnicos.
O processo começa nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline durante a 2ª Guerra Mundial.
Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição da URSS ou do socialismo, tenta parar o processo pela
força, intervindo militarmente nos Estados Bálticos (1991). Esta situação faz com que o apoio da população
se concentre em Boris Ieltsin, que é eleito presidente da República da Rússia, em Junho de 1991.
O novo presidente toma a medida extrema de proibir as atividades do partido comunista.
No Outono de 1991, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência. Em 21 de Dezembro,
nasce oficialmente a CEI – Comunidade de Estados Independentes, à qual aderem 12 das 15 repúblicas que
integravam a União Soviética. Ultrapassado pelos acontecimentos e vencido no seu propósito de manter
unido o pais, Mikhail Gorbatchev abandona a presidência da URSS.

Os problemas de transição para a economia de mercado.

A Perestroika tinha prometido aos soviéticos uma melhoria acentuada e rápida do nível de vida. Mas, ao
contrário do previsto, a reconversão económica foi um fracasso e a economia deteriorou-se rapidamente.
O fim da economia planificada significou o fim dos subsídios estatais às empresas. Assim, muitas unidades
desapareceram e outras extinguiram numerosos postos de trabalho, considerados excedentários.
Simultaneamente, o descontrolo económico e a liberalização dos preços desencadearam uma inflação
galopante que a subida de salários não acompanhou.
O desemprego, o atraso nos pagamentos das pensões e dos salários dos funcionários públicos, bem como a
rápida perda de valor da moeda significaram o fim das poupanças de muitas famílias, que rapidamente se
viram sem meios de subsistência.
Em contrapartida, a liberalização económica enriqueceu um pequeno grupo que, em pouco tempo, acumulou
fortunas fabulosas. De uma forma geral, a riqueza passou para as mãos de antigos altos funcionários que
aproveitaram as posições chave em que se encontravam. Em meados dos anos 90, 455 do rendimento
nacional encontrava-se nas mãos de menos de 5% da população.
Os países de Leste viveram, também, de forma dolorosa, a transição para a economia de mercado. Privados
dos subsídios que recebiam da União Soviética, a braços com uma redução das trocas na área do antigo
COMECON e com as produções nacionais alicerçadas em indústrias e equipamentos obsoletos os antigos
satélites da URSS sofreram uma brusca regressão económica. Tal como a Rússia, o caos económico
instalou-se, as desigualdades sociais agravaram-se, e a taxa de pobreza aumentou num ritmo elevado.
1.2 Os polos do desenvolvimento económico

• Hegemonia dos Estados Unidos: supremacia militar, prosperidade económica, dinamismo científico e
tecnológico. Consolidação da comunidade europeia; integração das novas democracias da Europa do Sul; a
União Europeia e as dificuldades na constituição de uma Europa política.

• Afirmação do espaço económico da Ásia-Pacífico; a questão de Timor.

• Modernização e abertura da China à economia de mercado; a integração de Hong-Kong e de Macau.

Os polos do desenvolvimento económico

Profundamente desigualitário, o mundo atual concentra a maior parte da sua riqueza e da sua capacidade
tecnológica em 3 polos de intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a União Europeia e a zona da Ásia-
Pacífico. A este poder económico concentrado, põe-se a hegemonia político-militar de um único país: os
Estados Unidos.

Os Estados Unidos da América

Os EUA são o quarto maior país do mundo e o terceiro mais populoso. Um PNB de mais de 10.2 biliões de
dólares faz deles a primeira potência económica mundial. Terra das oportunidades desde o seu nascimento, a
América do Norte glorifica, ainda hoje, o espírito de iniciativa individual e a imagem do multimilionário
bem sucedido. A “livre empresa” contínua no centro da filosofia económica do país e o estado incentiva-a,
assegurando-lhe as condições de uma elevada competitividade. Pátria de gigantescas multinacionais, os
EUA, vivem também de uma densa rede de pequenas empresas.

Os sectores de atividade
Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do sector terciário. A
América é, hoje, o maior exportador de serviços do mundo, sobretudo, na área de seguros, transportes,
restauração, cinema e música. Altamente mecanizadas, as unidades agrícolas e pecuárias americanas têm
uma elevadíssima produtividade. Assim, e apesar de algumas dificuldades geradas pela concorrência, os
EUA mantêm-se como maior exportador de produtos agrícolas. Pelo seu dinamismo, a agricultura americana
alimenta ainda um conjunto de vastas indústrias. Este verdadeiro complexo agroindustrial envolve mais de
20 milhões de trabalhadores e representa cerca de 18% do PIB americano. Responsável por um quarto da
produção mundial, a indústria dos EUA sofreu, nos últimos 30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores
tradicionais, entraram em declínio e, com eles, decaiu também a importância económica da zona nordeste.

Novos laços comerciais.

O partido que os Estados Unidos retiram da sua implantação na América e na área do Pacífico reforçou-se
durante a presidência de Bill Clinton. Numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da UE, Clinton
procurou estimular as relações económicas com a região do Sudeste Asiático, revitalizando a APEC. No
mesmo sentido, o presidente impulsionou a criação da NAFTA, que estipula a livre circulação de capitais e
mercadorias (não de pessoas) entre os EUA, Canadá e México.

Dinamismo científico-tecnológico.

Liderando a corrida tecnológica, os EUA asseguram na viragem para o séc. XXI, a sua supremacia
económica e militar. Os EUA são, hoje, a nação que mais gasta em investigação científica. Para além dos
centros que dele diretamente dependem, o Estado Federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa
privada. O avanço americano fica, também, a dever-se à criação precoce de parques tecnológicos – os
tecnopolos –, que associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas, que trabalham de
forma articulada.

A hegemonia político-militar

A libertação do Kuwait (conhecida como Guerra do Golfo) iniciou-se em Janeiro de 1991 e exibiu, perante o
mundo que a seguiu “em direto” pela televisão, a superioridade militar dos Estados Unidos. O exército
iraquiano, o 4º maior do Mundo, com quase um milhão de homens, nada pôde fazer contra as sofisticadas
tecnologias de guerra americanas.
Este 1º conflito pós-Guerra Fria inaugurou oficialmente a época da hegemonia mundial americana.
Assim, o poder americano afirmou-se apoiado pelo gigantismo económico e pelo investimento maciço no
complexo industrial militar. Os E.U.A. têm sido considerados os “polícias do Mundo”, devido ao papel
preponderante e ativo que têm desempenhado na geopolítica do Globo.
 Multiplicaram a imposição de sanções económicas como recurso para punir os infratores.
 Reforçaram o papel da OTAN – função de velar pela segurança da Europa, recorrendo, sempre que
necessário, à intervenção militar armada.
 Assumiram um papel militar ativo, encabeçando numerosas intervenções armadas pelos motivos
mais díspares.

A prosperidade económica americana

Nos anos 90 a economia americana parecia imparável, apesar dos sinais de aviso - défice comercial e
enorme dívida externa.
A prosperidade americana, assente nos princípios do comércio livre, é fortemente abalada pelo 11 de
Setembro de 2001, e em especial pelas medidas de segurança tomadas após esse acontecimento (medidas de
segurança - maior controlo sobre os capitais e as pessoas que entram no país).
O sucesso da administração Clinton no controlo do défice orçamental, assim como as medidas sociais e
ambientais, são, em larga medida, apagadas pela administração Bush (filho), com uma política neoliberal
recusando aplicar medidas sociais e ambientais importantes, mas, no entanto, continuando a gastar enormes
somas na guerra contra o terror e na Guerra do Iraque.
O furacão Katrina, veio mostrar as fragilidades sociais dos EUA, levantando-se a questão entre os
americanos, sobre o que vale mostrar poderio militar se não se conseguem resolver os problemas internos?
Cresce o descontentamento com Bush, agravado pela crise que estala em meados de 2008, que leva à sua
queda e dos republicanos.
Barack Obama e os Democratas
Dá-se uma mudança de fundo na Casa Branca - entram os democratas com a vitória de Barack Obama que
coloca a tónica na resolução dos problemas sociais dos EUA, implicando uma maior intervenção do Estado.
Reconhece que o domínio americano sobre o mundo está em declínio e que as medidas adotadas em
questões de segurança estavam a contribuir para o desprestígio do país.
A União Europeia

A construção europeia foi uma história de altos e baixos. Com períodos de grande entusiasmo e outros de
grande ceticismo, unir um velho continente, formado por tantas nações orgulhosas e independentes, parece
um projeto assaz ambicioso. Etapa a etapa, no entanto, o projeto tem progredido, orientando-se por 2 vetores
principais: o aprofundamento das relações entre os Estados e o alargamento geográfico da União.

Consolidação da comunidade: do ato único à moeda única.

Embora o tratado de Roma abrisse perspetivas para uma completa integração económica e, até, de uma
futura união política, o 1.º grande objetivo da CEE foi a união aduaneira. Os estados membros acordaram o
estabelecimento de uma política agrícola comum, de ações concertadas de combate ao desemprego, de
ajudas às regiões menos favorecidas, de um sistema monetário europeu, entre outras medidas. Apesar destes
avanços, a comunidade enfrentava no início dos anos 80, um período de marasmo e descrença nas suas
potencialidades e no seu futuro. Os esforços do novo presidente conduziram, em 1986 à assinatura do Ato
Único Europeu, que previa, para 1993, o estabelecimento do mercado único onde, para além de mercadorias,
circulassem, livremente, pessoas, capitais e serviços. Em 1990, começam as negociações com vista ao
aumento das competências da comunidade.
Estas negociações desembocam no célebre tratado da união europeia, assinado na cidade holandesa de
Maastricht. O tratado, que entra em vigor em 1993, ao mesmo tempo que o mercado único, estabelece uma
união europeia fundada em três pilares: o comunitário, de cariz económico e de longe, o mais desenvolvido;
o da politica externa e da segurança comum; e o da cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos
internos.
Maastricht representou um largo passo em frente no caminho da união, quer pelo reforço dos laços políticos,
quer, sobretudo, por ter definido o objetivo da adoção de uma moeda única, de acordo com um calendário
rigoroso e predeterminado. A 1 de Janeiro de 1999, 11 países, aos quais viera juntar-se a Grécia, inauguram
oficialmente o euro, que entra, então nos mercados de capitais. O euro completou a integração das
economias europeias. A CEE tornou-se a maior potência comercial do mundo, com um PIB conjunto
semelhante ao dos EUA; o seu mercado interno, com mais de 355 milhões de consumidores (Europa dos
15), apresenta um elevado nível de consumo e uma mão-de-obra muito qualificada; possui, também, uma
densa rede de transportes e comunicações.

Da Europa dos 6 à Europa dos 27

Anos 50 – Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos


Anos 70 – Inglaterra, Irlanda e Dinamarca – Europa dos 9
Anos 80 – Grécia, Portugal e Espanha – Europa dos 12
Anos 90 – Áustria, Suécia, Finlândia – Europa dos 15
2004 – Chipre. Rep. Checa, Eslovénia, Eslováquia, Hungria, Polónia, Letónia, Lituânia, Malta – Europa
dos 25
2007 – Bulgária e Roménia – Europa dos 27

Em 1981, a Grécia torna-se membro efetivo da comunidade; a adesão de Portugal e Espanha formaliza-se
em 1985, com efeitos a partir do ano seguinte. A entrada destes três novos membros colocou à CEE o seu
primeiro grande desafio, já que se trava de um grupo de países bastante atrasados relativamente aos restantes
membros.
Em 1992, o Conselho Europeu de Lisboa recebeu, com agrado, as candidaturas da Áustria, Finlândia, Suécia
e Noruega, países cuja solidez económica contribuiria para o reforço da comunidade. A Europa passa a
funcionar a 15.
Entretanto, os desejos de adesão dos países de Leste eram olhados com apreensão, limitando-se a
comunidade, no início, a implementar planos de ajuda às economias em transição.
Em 1 de Maio de 2004, a Europa enfrentou o desafio imenso, impensável, de unir o Leste e o Oeste, o Norte
e o Sul. Em 2007 entram a Roménia e Bulgária.

As dificuldades de construção de uma Europa política.

Nos últimos 50 anos, os europeus têm-se dividido no que toca ao futuro do seu continente. O euroceticismo
e a resistência a todas as medidas que impliquem transferências de soberania são comuns a vários estados-
membros. O Tratado de Maastricht para além de ter introduzido o poderoso elemento de coesão que é a
moeda única, criou, também, a cidadania europeia e alargou a ação comunitária a questões como o direito de
asilo, a política de imigração e a cooperação de assuntos internos.
Cidadania europeia: Criada pelo tratado da União Europeia (Maastricht), a cidadania europeia coexiste com
a cidadania nacional tradicional, conferindo aos cidadãos da União, designadamente, o direito de circular e
de residir em qualquer território da União, ter proteção diplomática, apresentar petições ao Parlamento
Europeu e votar (e ser eleito) em eleições para o Parlamento Europeu e em eleições autárquicas na sua área
de residência.
Todos estes assuntos interferem com as políticas nacionais, logo, a polémica instalou-se. Alguns países
(Reino Unido, Dinamarca, Suécia) recusaram adotar a moeda única (euro).
A forma relutante como muitos europeus veem a união, resulta em parte, da fraca implantação popular do
sentimento europeísta.
A vontade de que os cidadãos dos estados-membros da União Europeia se identifiquem com o projeto
europeu nem sempre tem sido bem-sucedida. O resultado da união política europeia seria um Governo
europeu comum e um presidente europeu, porém, este projeto transnacional colide com a figura do Estado-
Nação que, embora esteja em crise, ainda é válido para os europeus contemporâneos.

Novas perspetivas.

As dificuldades de uma união política viram-se substancialmente acrescidas pelos sucessivos alargamentos
da comunidade, que obrigam a conjugar os interesses de países muito diferentes e a rever o funcionamento
das instituições.
O Conselho Europeu de Laeken convocou em 2002, uma Convenção para o Futuro da Europa. Desta
convenção resultou um projeto de Constituição Europeia que prevê, entre outras soluções inovadoras, a
criação de um ministro dos Negócios
O Japão

O designado “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. As ajudas financeiras e técnicas,
por parte dos EUA, permitiram uma rápida reconstrução económica do Japão. Apesar disto, os japoneses
também criaram condições necessárias à sua prosperidade: um sistema político estável permitiu a atuação
concertada entre o Governo e os grandes grupos económicos. O Estado interveio ativamente na regulação do
investimento, na concessão de créditos, na proteção das empresas e o mercado nacional. Também canalizou
a maior parte dos investimentos públicos para o sector produtivo e absteve-se em matéria de legislação
social.
A mentalidade japonesa foi também um importante fator de crescimento. Dinâmicos e austeros,
completamente devotados à causa da reconstrução nacional e ao seu trabalho em particular, empresários e
trabalhadores cooperaram estreitamente na realização de objetivos comuns.
Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente
competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de transformar na primeira sociedade de consumo da Ásia.
O primeiro grande surto de crescimento ocorreu entre 1955 e 1961 quando a produção industrial
praticamente triplicou. Os sectores que adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de
consumo duradouros. O comércio externo acompanha também esta expansão.
O segundo surto foi entre 1961 e 1971, período durante o qual a produção industrial duplicou e criaram-se
2,3 milhões de postos de trabalho. Este crescimento também assenta em novos sectores, como a produção de
automóveis, e televisões.
Tudo isto fez do Japão a terceira maior potência do mundo.

O espaço económico da Ásia – Pacífico

Nos anos 90 tornou-se um polo de desenvolvimento intenso, capaz de concorrer com os EUA e a UE. A
economia desta região desenvolveu-se em três fases consecutivas: em 1.º lugar emergiu o Japão; depois os
quatro dragões (ou tigres) asiáticos: Hong Kong, Coreia do sul, Singapura e Taiwan; os países do sudoeste,
Tailândia, Malásia e Indonésia, seguidos pela República Popular da China.

Os quatro dragões.

O sucesso do Japão serviu de incentivo e de modelo à 1.ª geração de países industriais do Leste asiático. Não
faltava vontade política, determinação e capacidade de trabalho. Tomando como objetivo o crescimento
económico, os governos procuraram atrair capitais estrangeiros. A industrialização asiática explorou mão-
de-obra abundante e disciplinada, capaz de trabalhar longas horas diárias por muito pouco dinheiro. Esta
mão-de-obra esforçada e barata permitiu produzir, a preços imbatíveis, têxteis e produtos de consumo
corrente, que inundaram os mercados ocidentais. Os “quatro dragões” constituíram um tremendo sucesso
económico.

Da concorrência à cooperação.
Apesar do seu enorme êxito, os novos países industrializados (NPI) da Ásia confrontavam-se com dois
problemas graves: o 1.º era a excessiva dependência face às economias estrangeiras; o 2.º era a intensa
rivalidade que os separava. Quando a economia ocidental abrandou, nos anos 70, os países asiáticos foram
induzidos a procurar mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica. Voltaram-se então,
para os membros da ASEAN, organização económica que aglutinava alguns países do Sudeste Asiático.

Nascida em 1967, a ASEAN, agrupava a Tailândia, a Malásia, a Indonésia e Filipinas, países cujas
economias se encaixavam perfeitamente na do Japão e nas das quatro novas potências: eram ricos em
matérias-primas, nos recursos energéticos e nos bens alimentares de que os cinco necessitavam. Agarrando a
oportunidade, as duas partes deram início a uma cooperação regional estreita: o Japão, a Coreia do Sul e o
Taiwan iniciaram a exportação de bens manufaturados e tecnologia para os países do Sudeste e, obtiveram,
em troca, os produtos primários que pretendiam. Este intercâmbio permitiu a emergência de uma 2.ª geração
de países industriais na Ásia: a Tailândia, a Malásia e a Indonésia, desenvolveram a sua produção. A região
começou, assim, a crescer de forma mais integrada. O Japão e os “quatro dragões” produzem mercadorias de
maior qualidade e preço; a ASEAN dedica-se a bens de consumo, de preço e qualidade inferior. Os estados
do “arco do pacífico” tornaram-se, um polo económico articulado, com elevado volume de trocas inter-
regionais.
O crescimento asiático alterou a balança da economia mundial, ate aí concentrada na tríade EUA, Europa e
Japão. Em 1997, Hong kong e Singapura colocaram-se entre os 10 países mais ricos do mundo. O
crescimento teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito altos, a Ásia tornou-se a região mais poluída
do mundo e a sua mão-de-obra permaneceu, pobre e explorada.

A questão de Timor

A ilha de Timor era desde o séc. XVI, um território administrado pelos portugueses. Em 1974 a “revolução
dos cravos” agitou também Timor-leste, que se preparou para encarar o futuro sem Portugal. Na ilha,
nasceram três partidos políticos: UDT, APODETI e FRETILIN.
O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os três países, cuja violência Portugal não conseguiu conter.
O nosso país acabou por se retirar de Timor, sem reconhecer, a legitimidade de um novo governo. Em 7 de
Dezembro de 1975, reagindo contra a tomada de poder pela FRETILIN, o líder indonésio Suharto ordena, a
invasão do território. Assim, Portugal corta relações diplomáticas com Jacarta e apela às Nações Unidas, que
condenam a ocupação e continuam a considerar Timor um território não autónomo. Os factos, porém,
contrariavam estas decisões.
Os indonésios anexaram formalmente Timor, que, em 1976, se tornou a sua 27.ª província. Apesar de
consumada, a anexação de Timor permaneceu ilegítima. Refugiados nas montanhas, os guerrilheiros da
FRETILIN encabeçaram a resistência contra o invasor. Quis o acaso que uma das muitas ações de repressão
sobre os timorenses fosse filmada: as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão desarmada que
homenageava, no cemitério de santa cruz, um independentista assassinado. O massacre faz 271 mortos. As
imagens, correram o mundo e despertam-no para a questão timorense. Com a ajuda dos media, Timor
mobiliza a opinião pública mundial e, em 1996, a causa ganha ainda mais força com a atribuição do prémio
Nobel da Paz ao bispo de Díli.
No fim da década, a Indonésia aceita, que o povo timorense decida o seu destino através de um referendo.
Entretanto, dá o seu apoio à organização de milícias armadas que iniciam ações de violência e de
intimidação no território. O referendo deu uma inequívoca vitória à independência, mas desencadeou uma
escalada de terror por parte das milícias pró-indonésias.
Uma onda de indignação e de solidariedade percorreu então o mundo e conduziu ao envio de uma força de
paz multinacional, patrocinada pelas Nações Unidas. Sob a proteção dessa força, o território encaminhou-se,
para a independência.
A 20 de Maio de 2002 nasce oficialmente a República Democrática de Timor Leste.
A China

O arranque da China para o processo de modernização e abertura à economia de mercado teve inicio nos fins
da década de 70, altura em que Deng assumiu o poder. O líder chinês iniciou um processo de grandes
reformas económicas, lançando as bases do desenvolvimento agrícola, industrial e técnico da China.
Seguindo uma política pragmática, Deng dividiu a China em duas áreas geográficas distintas: o interior,
essencialmente rural, permanecia resguardado da influência externa; o litoral abrir-se-ia ao capital
estrangeiro, integrando-se plenamente no mercado internacional.
A China camponesa não acompanhará o surto de desenvolvimento do país. O sistema agrário foi, no entanto,
profundamente reestruturado. Em cerca de 4 anos as terras foram descolectivizadas e entregues aos
camponeses, que puderam comercializar os excedentes, num mercado livre.
Quanto à indústria, sofreu uma modificação radical. A prioridade à indústria pesada foi abandonada em
favor dos produtos de consumo e a autarcia em favor da exportação.
Em 1980, as cidades de Shenzhen, Zuhai, Shantou, Xiamen, foram dotadas de uma legislação ultraliberal, as
“Zonas Económicas Especiais” foram favoráveis aos negócios pois o investimento Estatal estava ai
concentrado, empresas de todo o Mundo foram convidadas a estabelecer-se nestas áreas.
Desde 1981 que o crescimento económico da China tem sido impressionante.
Recém-chegada ao grupo dos países industrializados da Ásia, a China detém um potencial muito superior ao
dos seus parceiros, quer em recursos naturais, quer, sobretudo, em mão-de-obra. Com mais de um milhar de
milhão de habitantes, a competitividade do país alicerça-se numa massa inesgotável de trabalhadores mal
pagos e sem regalias sociais.
Neste país socialista, as desigualdades entre o litoral e o interior e entre os ricos e os pobres cresceram
exponencialmente.
A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha e
Portugal no sentido da transferência da soberania de Hong-Kong e de Macau, a partir de 1997 e de 1999,
respetivamente.

A Integração de Hong Kong e Macau

A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha no
sentido da transferência da soberania de Hong-Kong, a partir de 1997, enquanto, em relação a Macau, a data
acordada com Portugal foi o fim do ano de 1999. Os dois territórios foram integrados na China como regiões
administrativas especiais, com um grau de autonomia que lhes permite a manutenção dos seus sistemas
político e económico durante um período de 50 anos, segundo o princípio “um país, dois sistemas”.
Hong-Kong tem-se mantido como um importante centro comercial e financeiro, desempenhando um papel
ativo na atração de capitais, enquanto Macau continuou a destacar-se como um dinâmico centro de jogo, de
turismo e de produção industrial ligeira (têxteis e brinquedos).

1.2. Permanência de focos de tensão em regiões periféricas

Degradação das condições de existência na África subsaariana; etnias e Estados.


Descolagem contida e endividamento externo na América latina; ditaduras e movimentos de guerrilha; a
expansão das democracias.
Nacionalismo e confrontos políticos e religiosos no Médio Oriente e nos Balcãs.

Degradação das condições de existência na África subsaariana; etnias e Estados.

“Continente de todos os males”, a África tem sido atormentada pela fome, pelas epidemias, por ódios
étnicos, por ditaduras ferozes.
Desde sempre muito débeis, as condições de existência dos Africanos degradaram-se pela combinação de
um complexo de fatores:
O crescimento acelerado da população, que abafa as pequenas melhorias na escolaridade e nos cuidados de
saúde;
A deterioração do valor dos produtos africanos. O progressivo abaixamento dos preços das m matérias-
primas reduziu a entrada de divisas e tornou ainda mais pesada a disparidade entre as importações e as
exportações;
As enormes dívidas externas dos Estados africanos.
A dificuldade em canalizar investimentos externos e a diminuição das ajudas internacionais. Os programas
de ajuda diminuíram, em parte sob o pretexto de que os fundos eram desviados para a compra de armas e
para as contas particulares de governantes corruptos.
Imagens chocantes de uma fome extrema não cessam de atormentar as consciências dos Ocidentais. O atraso
tecnológico, a desertificação de vastas zonas agrícolas e, sobretudo, a guerra são responsáveis pela
subnutrição crónica dos Africanos.
A peste chegou sobre a forma da sida, que tem devastado o continente.
À fome e à “peste” junta-se a guerra. Nos anos 90, os conflitos proliferaram e, apesar dos esforços
internacionais, mantêm-se acesos ou latentes.
A instabilidade política: etnias e Estados

O sentimento nacional não teve, em muitos casos, outras raízes que não fosse a luta contra o domínio
estrangeiro. Era uma base muito frágil, que conduziu, desde logo, a tentativas de secessão e a terríveis
guerras civis.
O fim da Guerra Fria trouxe ao subcontinente alguma esperança de democratização, já que os soviéticos e
americanos deixaram de apoiar os regimes totalitários que consideravam seus aliados. Abandonados à sua
sorte, muitos não tardaram a cair.
Em muitas regiões, as grandes dificuldades económicas, as rivalidades étnicas e religiosas, bem como a
ânsia de apropriação de riquezas, fizeram aumentar a instabilidade.
A persistência de uma sociedade em que os laços tribais se mantêm vivos e fortes tem facilitado as
explosões de violência. Embora o tribalismo concorra para estas explosões de ódio, a verdade é que poucos
são os casos em que, por trás, não se escondem ambições políticas ou interesses económicos.
Descolagem contida e endividamento externo na América latina;
Os países latino-americanos procuraram libertar-se da sua extrema dependência face aos produtos
manufaturados estrangeiros. Encetaram, então, uma política industrial protecionista com vista à substituição
das importações. Orientado pelo Estado este fomento económico realizou-se com recurso a avultados
empréstimos.
Nas décadas seguintes, estes empréstimos, mal geridos, tornaram-se um fardo difícil de suportar.
Esta situação fez-se sentir com mais força nas nações latino-americanas, as mais endividadas do Mundo.
A divida externa refletiu-se no agudizar da situação económica das populações latino-americanas, pois foi
necessário tomar medidas de contenção económica como despedimentos e redução dos subsídios e dos
salários.
Face a tão maus resultados, a salvação económica procurou-se numa política neoliberal. Procederam à
privatização do sector estatal, sujeitando-o à lei da concorrência e procuraram integrar as suas economias
nos fluxos do comércio regional e mundial.
O comércio registou um crescimento notável e as economias revitalizaram-se. No entanto, em 2001, 214
milhões de latino-americanos viviam ainda mergulhados na pobreza

Ditaduras e movimentos de guerrilha expansão das democracias


Em 1975, só a Colômbia, a Venezuela e a Costa Rica tinham governos eleitos. Os restantes países
encontravam-se sob regimes repressivos.
Nas décadas de 60 e 70, a América Latina conheceu um enfraquecimento dos movimentos de guerrilha. Este
fenómeno lançou-a num clima de guerra civil e contribuiu para o atraso da região.
Nos anos 80 registou-se uma inclinação para a democracia. Concomitantemente, as guerrilhas esmoreceram
e algumas transformaram-se mesmo em partidos legais que se integraram no sistema político institucional.
Embora firme, o caminho da América Latina rumo à democracia não está ainda isento de dificuldades. As
graves clivagens sociais, o aumento do narcotráfico, bem como a corrupção e a violência herdadas do
passado, continuam a comprometer a estabilidade política e o futuro económico da região.

Nacionalismo e confrontos políticos e religiosos no Médio Oriente


A região do Médio Oriente é uma zona instável que tem assumido um protagonismo crescente no panorama
mundial. A riqueza petrolífera dos países do Golfo Pérsico e o avanço da luta fundamentalista alteraram
profundamente as coordenadas políticas internacionais.
O fundamentalismo emergiu no mundo islâmico como uma afirmação da identidade cultural e de fervor
religioso. Revalorizando o ideal de “Guerra Santa”, os fundamentalistas procuram no Corão as regras da
vida política e social para além da religiosa. Assim, rejeitam a autoridade laica, transformando a sharia (lei
corânica) na base de todo o direito, e contestavam os valores ocidentais que consideram degenerados e
malignos.

A questão israelo-palestiniana

Apoiados pelos Estados Unidos e pelos judeus de todo o mundo mobilizados pelo sionismo internacional, os
israelitas têm demonstrado uma vontade inflexível em construir a pátria que sentem pertencer-lhes.
No campo oposto, os árabes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. A sua determinação em
não reconhecer o Estado de Israel desembocou em conflitos repetidos que deixaram patente a superioridade
militar judaica. Tal situação induziu os Israelitas a ocuparem os territórios reservados aos Palestinianos onde
instalaram numerosos colonatos.
Neste contexto, a revolta palestiniana cresceu e encontrou expressão política na OLP – Organização de
Libertação da Palestina.
Na sequência de uma violenta revolta juvenil nos territórios ocupados - a intifada -, os Estados Unidos
pressionaram Israel para abrir negociações com a OLP que, conduzidas secretamente desembocam no
primeiro acordo israelo-palestiniano.
Assinado em 1993, em Washington, o acordo estabeleceu o reconhecimento mútuo das duas partes, a
renúncia da OLP à luta armada, a constituição de uma Autoridade Nacional Palestiniana e a passagem
progressiva do controlo dos territórios ocupados para a administração palestiniana.
Uma escalada de violência tem martirizado a região. Aos atentados suicidas, cada vez mais frequentes, sobre
alvos civis israelitas, o exército judaico responde com intervenções destruidoras, nos últimos redutos
palestinianos.

Nacionalismos e confrontos político-religiosos nos Balcãs

Criada após a 1ª Guerra Mundial, a Jugoslávia correspondeu ao sonho sérvio de unir os “Eslavos do Sul”,
mas foi sempre uma entidade artificial que aglutinava diferentes nacionalidades, línguas e religiões.
Em Junho de 1991, a Eslovénia e a Croácia declaram a independência. Recusando a fragmentação do país, o
presidente sérvio Slobodan Milosevic desencadeia a guerra que só cessa, no inicio do ano seguinte, após a
intervenção da ONU.
Pouco depois, a Bósnia-Herzegovina proclama, por sua vez, a independência e a guerra reacende-se.
Com a Guerra da Bósnia, a Europa revive episódios de violência e atrocidades que julgava ter enterrado no
fim da 2ª Guerra Mundial. Em nome da construção de uma “Grande Sérvia” levam-se a cabo operações de
“limpeza étnica”.
Finalmente, após muitos impasses e hesitações, uma força da OTAN sob comando americano impôs o fim
das hostilidades na Bósnia e conduziu aos Acordos de Dayton (1995), que dividiram o território bósnio em 2
comunidades autónomas, uma sérvia e outra croato-muçulmana.

No fim da década, o pesadelo regressa aos Balcãs, desta feita à região do Kosovo, à qual, em 1989, o
Governo sérvio tinha retirado autonomia. Face à revolta eminente, desenrola-se uma nova operação de
“limpeza étnica” que a pressão internacional não conseguiu travar. A OTAN decidiu, então, intervir de
novo, mesmo sem mandato da ONU.

2. A viragem para uma outra era

Perante uns que temem o desenvolvimento desenfreado que conduza ao fim do mundo, contrapõem outros
com uma fé inabalável no ser humano e na esperança que todo o desenvolvimento traga consigo o aumento
da qualidade de vida num planeta mais habitável.
No entanto, todos sabemos que, positiva ou negativamente, no centro da discussão está o fenómeno da
GLOBALIZAÇÃO, que acaba e acabará sempre por afetar os comportamentos humanos.

Com o desmembramento do mundo comunista, consagra-se a democracia e a economia de mercado. Esta


joga-se já não por decisão dos governantes dos diferentes países, cujo poder é cada vez menor, mas com
base em determinações de entidades supranacionais que parecem colocar em causa a existência do Estado-
Nação.

O debate sobre a relação entre Globalização e desenvolvimento está na ordem do dia. Neste debate surge a
questão "A globalização diminui ou aprofunda as desigualdades?". Se hoje as pessoas têm facilidade no
acesso às novas tecnologias da informação e da comunicação, também constatamos que este mundo global
radicaliza os conflitos étnico-religiosos e cria novas exigências ao nível da segurança.

2.1. Mutações sociopolíticas e novo modelo económico

O debate do Estado-Nação;

O Estado-Nação surge como um dos principais legados do liberalismo no século XIX.


No século XX, os Estados-Nação registam uma expansão planetária, tornando-se o elemento estruturador da
ordem política internacional.
Reconhecem, todavia, os especialistas que a fórmula do Estado-Nação, considerada modelo de organização
política mais coerente do ponto de vista jurídico e mais justo, se revela hoje ineficaz, face aos desafios que a
nova ordem internacional provoca.
Um conjunto de fatores determina a crise do Estado-Nação. São forças desintegradoras a nível local e
regional:
 Imensos conflitos étnicos;
 Nacionalismos separatistas basco e catalão;
 Crescente valorização das diferenças e especificidades de grupos e indivíduos;
 No plano supranacional, os processos de integração económica e política afetam a confiança dos
cidadãos nas capacidades dos estado-nação para assumir as suas responsabilidades;
 Os mecanismos de funcionamento de uma economia globalizada criaram fluxos financeiros a nível
global que escaparam ao controlo e à fiscalidade dos estado-nação;
 Questões transnacionais como a emergência do terrorismo e da criminalidade internacional também
contribuíram para a crise dos estado-nação.
Mais do que nunca, mostram-se necessários os esforços concertados de autoridades supra e
transnacionais para responder aos complexos desafios do novo mundo que nos rodeia.

A explosão das realidades étnicas

As identidades agitam-se no mundo com uma intensidade acrescida desde as últimas décadas do séc. XX.
Quase sempre, as tensões étnicas e separatistas são despoletadas pela pobreza e pela marginalidade em que
vivem os seus protagonistas, contribuindo para múltiplos conflitos que, desde os anos 80, têm
ensanguentado a África, os Balcãs e o Médio Oriente, o Cáucaso, a Ásia Central e Oriental.
Ao contrário dos conflitos interestáticos do período da Guerra Fria, as novas guerras são maioritariamente
Intra estáticas.
 Na região do Cáucaso, as tensões étnicas mostram-se particularmente violentas em território da ex-
União Soviética;
 No Afeganistão, as últimas décadas têm assistido a um crescendo de violência e desentendimento;
 No Indostão, a Índia vê-se a braços com a etnia sikh, que professa um sincretismo hindu e
muçulmano e que se disputa com a maioria hindu;
 No Sri Lanka, a etnia tâmil, de religião hindu, enfrenta os budistas cingaleses;
 E no Sudeste Asiático, só bem recentemente (em 2002) Timor Leste conseguiu libertar-se da
Indonésia, depois de massacres cruéis da sua população.

Na verdade, o genocídio tem sido a marca mais terrível dos conflitos étnicos. Multidões de refugiados
cruzam fronteiras, chamando o direito à vida que as vicissitudes da História e os erros dos homens lhes
parecem negar. Os Estados mostram-se impotentes para controlar as redes mafiosas e terroristas que se
refugiam nos seus territórios e atuam impunemente.

As questões transnacionais: migrações, segurança, ambiente.

Dificilmente vivemos imunes aos acontecimentos que nos chegam pelos media.
As questões transnacionais cruzam as fronteiras do Mundo, afetam sociedades distantes e lembram-nos que
a Terra e a humanidade, apesar das divisões e da diversidade, são unas. Resolvê-las, minorá-las, ultrapassa o
controlo de qualquer Estado-Nação, exigindo a colaboração da ONU, de organizações supranacionais,
regionais e não governamentais.

Migrações

Em 2000 existiam no Mundo cerca de 150 milhões de pessoas a viver num país que não aquele onde tinham
nascido. Tal como há 100 anos os motivos económicos continuam determinantes nas mais recentes nas
migrações.
Mas os motivos políticos também pesam, especialmente se nos lembrarmos dos múltiplos conflitos regionais
das últimas décadas.
A este estado de tensão e guerra se devem os cerca de 20 milhões de refugiados que o Mundo contabiliza no
início do séc. XXI. O Sul surge-nos como um local de vastos fluxos migratórios.
Os países com maior número de imigrantes encontram-se, no entanto, no Norte.
Sem que possamos falar num aumento de imigrantes relativamente à população total do Globo, registam-se,
no entanto, mudanças na sua composição. Há mais mulheres e mais pessoas com maior formação académica
e profissional que outrora.

Se, nos locais de partida, os migrantes significam uma fonte apreciável de divisas e de alívio de problemas,
já nos países de acolhimento provocam reações complexas e problemáticas – resulta em tensões e conflitos
étnicos. Até em países ocidentais de tradicional acolhimento os imigrantes defrontam-se com inesperadas
rejeições. Desde os choques petrolíferos, as dificuldades económicas e a progressão do desemprego, os
imigrantes são considerados como concorrentes aos postos de trabalho que restam – o que origina reações
xenófobas.
É neste contexto de hostilidade, inesperada e indesejada em países democráticos, que apreciáveis esforços se
encetam para promover a interculturalidade.

Interculturalidade

Perspetiva que se caracteriza pela valorização do contacto entre culturas diferentes no sentido de promover
mecanismos de interpretação, de compreensão e de interação entre elas. Distingue-se do etnocentrismo e do
multiculturalismo: o 1º obstaculiza o contacto entre culturas a partir do pressuposto de superioridade de uma
cultura dominante e da interpretação da outra à luz dos próprios valores; a 2ª limita-se a constatar a
diversidade de culturas, sem se preocupar em promover formas de diálogo entre elas.

Segurança

Concertação, vigilância e cooperação.


Na aurora do séc. XXI, tais palavras revelam-se especialmente pertinentes, sobretudo se tivermos em conta
os problemas de segurança com que a Humanidade se debate. Desde o 11 de Setembro de 2001 tornou-se
impossível ignorar essa ameaça internacional que é o terrorismo.
Embora o terrorismo não constitua um fenómeno novo, o terceiro quartel do séc. XX assistiu a uma escalada
terrorista que assumiu proporções inesperadas.
De facto, nas duas últimas décadas, o terrorismo transformou-se numa ameaça à escala planetária. A Europa
defronta-se com o terrorismo basco, irlandês, tchetcheno, albanês, bósnio. A América Latina vê-se a braços
com os atos terroristas ocorridos na Colômbia. A América do Norte, como já o referimos, conheceu o
atentado mais violento de que há memória. A Ásia defronta-se com o terrorismo religioso e político. Nem
África escapa.
As redes terroristas são difíceis de combater, ajudam-se mutuamente, trocando entre si informações,
técnicas, pessoal, dinheiro e armas.
Associada ao terrorismo, encontra-se essa outra questão vital para a segurança mundial que é a da
proliferação de armas e da falta de controlo sobre a sua existência. Já não bastam os países que se recusam a
assinar tratados para a limitação do armamento nuclear. Às temidas armas nucleares acrescentam-se outros
meios de destruição maciça: as armas químicas e biológicas. Por todo o mundo, espalha-se um mercado
negro de armamento, controlado por redes mafiosas, que abastece os grupos terroristas. A moeda de troca é,
frequentemente, a droga, fomentando-se, assim, um outro perigoso tráfico para a segurança da Humanidade.

Ambiente

O ambientalismo constitui uma questão incontornável do nosso tempo e um desafio a ter em conta no futuro.
A degradação do planeta acelerou-se no último século, devido ao crescimento demográfico e das
transformações económicas experimentadas pela Humanidade. A população mundial, que cerca de 1950
atingia os 2,5 mil milhões de seres humanos, mais do que duplicou até ao fim do séc.XX. Ora, mais
população significa um acréscimo do consumo de recursos naturais, seja de solos, de água ou de matérias-
primas destinadas ao fabrico de bens essenciais…e supérfluos.
A destruição de florestas tropicais é um dos efeitos do crescimento demográfico e da busca de recursos.
A busca desenfreada de terras e a sua exploração intensiva, acompanhada da destruição de ecossistemas,
tornam os solos mais vulneráveis à seca e à erosão.
Os atentados à Natureza prosseguem num rol infindável de exemplos. O progresso industrial e tecnológico
provoca avultados gastos energéticos e poluição.
Entretanto, misturados com a precipitação, os gases poluentes provocam as chamadas chuvas ácidas, que
corroem os bosques e acidificam milhares de lagos, exterminando plantas e peixes.
Desde a década de 70, os cientistas revelam também grande preocupação com a destruição da camada do
ozono, essa estreita parte da atmosfera que nos protege contra as radiações ultravioletas.
O “efeito de estufa”, ou aquecimento global, é outra das perigosas ameaças que pairam sobre a Terra.
Resulta das elevadas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, proveniente do crescimento
populacional, do desenvolvimento industrial e da proliferação de veículos.
Por causa da camada de vida da Terra ser contínua e interligada e atendendo às múltiplas agressões que
sobre ela pairam, os cientistas lançam sistemáticos alertas para o estado de perigo e de catástrofe iminente
em que o ecossistema mundial entrou.
Em 1992, a Cimeira da Terra avançou com um conjunto de propostas tendentes à gestão dos recursos da
Terra, para que a qualidade de vida das gerações futuras não fique hipotecada. A tal se chamou um
“desenvolvimento sustentável”.
E se os países desenvolvidos gastam fortunas com a limpeza de rios e edifícios, o controlo de gases tóxicos,
o tratamento de desperdícios e a reciclagem de materiais, tais esforços de preservação do ambiente mostram-
se terrivelmente comprometidos, no superpovoado e pobre mundo em desenvolvimento.
De um desenvolvimento económico equilibrado e sustentável espera-se a saúde do planeta e o bem-estar da
humanidade.

Afirmação do neoliberalismo e globalização da economia. Rarefação da classe operária; declínio da


militância política e do sindicalismo

A afirmação do neoliberalismo e globalização da economia

Os choques petrolíferos dos anos 70, a inflação, o abrandamento das atividades económicas e o desemprego,
testemunhavam uma poderosa crise.
Denominada de neoliberalismo, uma nova doutrina económica propõe-se reerguer o capitalismo tendo como
grandes laboratórios a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Atento ao equilíbrio orçamental e à redução da inflação, o neoliberalismo, que defende o respeito pelo livre
jogo da oferta e da procura, envereda por medidas de rigor. O Estado neoliberal diminui fortemente a sua
intervenção económica e social. Pelo contrário, valoriza a iniciativa privada, incentiva a livre concorrência e
a competitividade.
No mundo dos anos 80, caminhava-se a passos largos para a globalização da economia.
A globalização apresenta-se como um fenómeno incontornável. Apoiadas nas modernas tecnologias da
informação e da comunicação (TIC), a conceção, a produção e a comercialização de bens e serviços, bem
como os influxos dos imprescindíveis capitais, ultrapassam as fronteiras nacionais e organizam-se à escala
planetária

Os mecanismos da globalização

A liberalização das trocas

Os Estados recuam nas medidas protecionistas e enveredam pelo livre-câmbio. Desde finais dos anos 80 que
o comércio internacional acusa um crescimento excecional, mercê de progressos técnicos nos transportes e
da criação de mercados comuns.
Em 1995, a Organização Mundial do Comércio entra em vigor. Tendo em vista a liberalização das trocas,
incentiva a redução dos direitos alfandegários e propõe-se arbitrar os diferendos comerciais entre os
Estados-membros.
Deparamo-nos, consequentemente, na aurora do século XXI, com um fluxo comercial prodigioso, num
mundo que quase parece um mercado único.
Às zonas da Europa Ocidental, da Ásia-Pacífico e da América do Norte, a chamada Tríade, cabe o papel de
polos dinamizadores das trocas mundiais.

Um novo conceito de empresa

Possuindo uma tendência para a internacionalização, as grandes empresas sofrem mudanças estruturais e
adotam estratégias planetárias.
Desde os anos 90, aumenta o número de empresas em que a conceção do produto ou do bem a oferecer, as
respetivas fases de fabrico e o sector da comercialização se encontram dispersos à escala mundial.
Eis-nos perante as firmas da era da globalização, as chamadas multinacionais ou transnacionais. É essa
lógica de rendibilidade das condições locais que conduz, em momentos de crise ou de diminuição de lucros,
as multinacionais a abandonarem certos países. Encerram aí as suas fábricas e/ou estabelecimentos
comerciais, para os reabrirem noutros locais. A este fenómeno chama-se deslocalização, sendo-lhe atribuída
a principal razão do desemprego crónico que grassa no Mundo.

A crítica à globalização

O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em
finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista
dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e
serviços.
Já os detratores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e
exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projeto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos
entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “ um outro mundo
é possível”.
A rarefação da classe operária, o declínio da militância política e do sindicalismo
Fatores que determinaram o desenvolvimento industrial e a rarefação operária:
• Modernização do sector produtivo (novidades tecnológicas e automatização dispensam operário)

• Declínio dos tradicionais sectores empregadores (desaparecem empresas com muitos empregados
que optam pela inovação tecnológica)

• Politicas neoliberais (para os empresários é mais fácil despedir e contratar empregados)

• Terciarização da indústria (dispensam a mão-de-obra, principalmente a não - qualificada)

• Deslocalizações aumentam desemprego.

Fatores da crise sindicalista:


• Rarefação proletária

• Surto de individualismo e materialismo das sociedades modernas (muitos esperam usufruir de


conquistas e direitos reivindicados por outros sem prejuízos salariais)
Declínio da militância política
Nas atuais democracias grande parte dos partidos funcionam como empresas que tentam a conquista do
poder político a ideologia política deu lugar ao (utilitarismo), Militância politica passa a carreira politica
Fatores do declínio da militância politica:
• Descrença nos partidos políticos

• Descrença nas propostas políticas

• Poder dos mídia

2.2 Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização

Primado da ciência e da inovação tecnológica;

O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em
finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista
dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e
serviços.
Já os detratores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e
exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projeto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos
entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “um outro mundo
é possível”.
A ciência e a inovação tecnológica continuam a ter uma predominância no sector do investimento público,
sobretudo naqueles países que não querem perder o “comboio” do progresso e desenvolvimento.

Globalização
Estimula investigação cientifica e inovação tecnológica pelos governos e empresas privadas para melhorar
desempenhos na:
 Educação,
 No exercício profissional e Produção de bens e serviços
Objetivos do capitalismo neoliberalista:
 Rentabilizar recursos humanos e materiais;
 Gerir empresas
 Dominar mercados
 Controlar informação
 Melhorar qualidade de vida das populações

Nas últimas décadas surgiram grandes inovações na área da eletrónica da informática (suporte físico da
informática), nomeadamente:
 Invenção do microprocessador
 Inovação das indústrias de eletrodomésticos
 Inovação da indústria aeroespacial

Revolução da informação e da comunicação:

Revolução da Informação

A evolução das diversas formas de transmitir informação, como a televisão, o rádio e o computador, fez com
que se despoletassem uma série de alterações sociais, económicas e políticas que alteraram profundamente a
face do mundo antes desta era, resultando como fator dominante a globalização ou a criação da chamada
"aldeia global".
O advento da Internet em 1969 marcou o contexto da globalização, tendo permitido que uma base de dados
gigantesca fosse partilhada em todo o mundo, com possibilidade de acesso por qualquer utilizador, tendo o
World Wide Web tornado possível a partilha de informação em multimédia e hipertexto. Os Estados Unidos
da América passaram a dominar quase tudo ao que à informação diz respeito, seja através de empresas como
a Apple, a Intel, a Microsoft ou a IBM, seja por possuir alguns dos bancos de dados de diversas áreas mais
completos a nível mundial, seja pela emissão e possessão dos meios de difusão informativa, como satélites
(sendo o primeiro satélite intercontinental americano o Telstar I, de 1962) e outros. A partir de 1980 e com o
aparecimento da CNN (Cable News Network) iniciou-se um novo período em que o espectador tem acesso à
informação em primeira mão, sem filtros de qualquer género e que cria uma situação de igualdade entre
todos os públicos, tornando muitas vezes urgentes as reações políticas, sociais e económicas em
determinadas ocasiões e face a certos acontecimentos (conflitos, desastres, crimes…). Por outro lado, a
informação transmitida pode pecar pela imparcialidade e pelo sensacionalismo, uma vez que a manutenção
das audiências passa pela renovação de notícias estrondosas que o espectador busca incessante e
sequencialmente. A difusão da informação ganhou uma dimensão política, uma vez que, face ao impacto e
monopólio que atingiram as associações ocidentais de multimédia, interveio inclusivamente nas correntes de
capitais e na orientação muitas vezes decisiva da opinião pública. Tendo-se entretanto e progressivamente
criado códigos éticos no âmbito jornalístico, manifestaram-se contudo fortes oposições a esta manipulação,
como o processo instaurado por alguns países, através da UNESCO, contra os meios de comunicação de
cariz imperialista (que provocou a saída em 1985 da Inglaterra e dos EUA desta instituição), os ataques
muçulmanos às antenas parabólicas e a "Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação" praticada
pelos Países Não Alinhados, que combateu difusoras como a Reuters e a Associated Press. A era da
informação eliminou muitos hábitos humanos, como as brincadeiras de crianças ao ar livre (que preferem
desenhos animados e jogos de vídeo e computador), as visitas a museus, a frequência de bibliotecas e as idas
ao teatro e ao cinema, uma vez que a tudo se pode aceder por meios informáticos. Estimulou igualmente o
sedentarismo e a sensação de inutilidade de cada ser para o Mundo ao proporcionar a receção de produtos
em casa (alimentos, objetos), o trabalho a partir de casa, as comunicações de qualquer género efetuadas
sempre em e a partir de casa... Por outro lado, o mais comum dos cidadãos pode tornar-se meio de
informação, com filmagens caseiras de acontecimentos fortuitos, formato adotado por muitos jornalistas e
que, ao denunciar muitas vezes incompetências de personagens e instituições, tornou, por um lado, estas
filmagens provas aceites pela lei, e por outro criou um tipo de jornalismo pseudo-justiceiro. Todos estes
fatores induziram à difusão de um processamento de informação imediato e simplista, em detrimento de
análises mais profundas e contextualizadas, formatando muitas vezes uma forma de pensar que não inclui a
reflexão. Da mesma maneira, assistiu-se a uma instrumentalização dos "media", por parte de determinados
governos, para a solidificação da ideologia e do poder, percetível ou impercetivelmente.
Revolução de telecomunicações

 Apoia estratégias empresariais das multinacionais (instrumento de globalização e uniformização


cultural pelos países ricos)
 Atinge de formas diferentes o mundo (países mais ricos com mais investimentos e acabam por
dominar os mais pobres – agravamento das desigualdades)
 Biotecnologia (inovação da ciência da vida):

Questões éticas da biotecnologia:


Ate onde podem ir os avanços da ciência quando a vida humana é o objeto da investigação muita gente se
interroga dos limites da ciência a dignidade humana pode ser posta em causa se as experiências forem
aplicadas para fins imorais e perversos.

Vantagens da biotecnologia:
 Produção de alimentos transgénicos (numa altura em que se morre de fome no mundo)
 Clonagem de animais e plantas (proporciona o aumento da produção agropecuária)
 Uso de células estaminais na investigação médica (para produção de tecidos e órgãos humanos para
transplante e na medicina regenerativa
 Descodificação genética incluindo genoma humano.

O que vai proporcionar:


 Melhor qualidade de vida
 Maior longevidade dos seres humanos

Declínio das Vanguardas e Pós-modernismo

Nos anos 80 surgem novas conceções intelectuais e artísticas a que se deu o nome de Pós-modernismo

Pintura:
Pintura mais autêntica e mais intensa liberta de convenções e de seguidismos vanguardistas
Propõe-se a revitalizar a arte incorporando diferentes contributos e estilos do passado (expressionismo,
abstracionismo, futurismo, dadaísmo ou surrealismo) e a pop-art (1ª forma de arte pós-modernista)

Pintura Neo-expressionista
O expressionismo foi renascido na Alemanha caracterizando-se pela pintura figurativa com formas
distorcidas e com cores dissonantes

Pintura transvanguardista:
Surgiu na Itália com as preocupações pós-modernistas na pintura em que as figuras deformadas e grotescas
se revelam fortemente perturbadoras

Arte-vídeo:
 Tecnologias de informação como objecto de expressão criativa
 Utilização de tv e pc’s para manipulação de imagens e sons

Arte Graffiti:
Surge nos anos 80, em Nova York, nos corredores do metro e nos bairros degradados, sem intenção artística,
mas passando de poluição visual a embelezamento de cidades.

Dinamismos socioculturais: revivescência do fervor religioso e perda de autoridade das Igrejas;


individualismo moral e novas formas de associativismo; hegemonia da cultura urbana.
Desde as últimas décadas do séc. XX há uma revivescência do fervor religioso no ocidente e no mundo
Na Igreja católica com João Paulo II que galvanizou populações por onde passava
Nos EUA incentivou a consolidação do fundamentalismo cristão, multiplicação de seitas, sucesso dos
videntes e da astrologia (ascensão do sentimento religioso, busca do divino e da espiritualidade)

Individualismo moral e novas formas de associativismo


Novos ritmos de trabalho e de vida – favoreceram a desagregação das antigas solidariedades e a crescente
afirmação do individualismo moral

Motivos para existência de novas formas de associativismo:


Conturbações do mundo contemporâneo:
 Pobreza crónica
 Catástrofes naturais
 Violência dos conflitos armados

Novas formas de associativismo:


Associações de apoio a:
 Refugiados
 Emigrantes
 Marginalizados
 Idosos
 Toxicodependentes
 Vítimas de agressões
 Discriminados pelo racismo e xenofobia
Não há uma área social que não tenha uma organização governamental, ou não, para colaboração no seu
apoio e resolução

Hegemonia da cultura urbana


A cultura urbana, antes associada apenas às grandes cidades, é hoje estendida a outras zonas geográficas e a
toda a população, revolucionando hábitos e costumes tradicionais.
Sofreu alterações com as migrações de outras zonas geográficas, noutras áreas periféricas desenvolveram
novas práticas culturais caracterizadas pela multi-culturalidade das populações (ex. cultura hip-hop: nasceu
nos anos 80, nos bairros de NY, hoje esta espalhada um pouco por todo o mundo).

3 Portugal no novo quadro internacional

A integração europeia e as suas implicações. As relações com os países lusófonos e com a área ibero-
americana.

Portugal: a integração europeia e as suas implicações

Perdido o Império Portugal vira-se de forma determinada para a Europa, fazendo claramente uma opção
europeia, apesar de haver aqueles que continuavam a preferir a opção atlântica tendo por base as nossas
antigas colónias.
A verdade é que, aquando da instituição do poder democrático em Portugal nos anos 70, a ideia que
prevalecia às políticas de desenvolvimento territorial (regional ou local) assentava principalmente num
paradigma redistributivo, muito característico do objetivo “coesão”: dar mais aos territórios pobres do que
aos ricos, de forma que aqueles pudessem, aos poucos, ir-se aproximando destes. Este paradigma
redistributivo continua, claramente, a ser importante em termos europeus.
O nível local da administração portuguesa é, assim, chamado a dinamizar a iniciativa produtiva e inovativa,
apoiando as empresas e outras organizações produtivas por processos que vão do abaixamento dos custos de
instalação, à promoção de instituições formais ou informais de concertação e cooperação entre as unidades
económicas, passando pela função de amplificação da voz das empresas e empresários da região ou de
investimento ativo na imagem externa do território.
A nível das iniciativas do poder central refira-se a modernização das vias rodoviárias portuguesas
(empreendimentos cofinanciados pelos fundos comunitários), que fazem equiparar Portugal, neste aspecto,
aos países mais avançados da Europa.

 A opção atlântica

A opção atlântica, no entanto, não ficou esquecida como prova a fundação da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), que é uma organização assinada entre países lusófonos, que consolida a aliança
e a amizade entre os signatários. A sua sede fica em Lisboa.
A CPLP foi criada em 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal e São Tomé e Príncipe. No ano de 2002, após conquistar a independência, Timor-Leste foi acolhido
como país integrante. Na atualidade, são oito os países membros da CPLP.
Apesar da iniciativa, a CPLP é uma organização jovem buscando pôr em prática os objetivos de integração
dos territórios Lusófonos. Em 2005, numa reunião em Luanda, Angola, a CPLP decidiu que no dia 5 de
Maio seria comemorado o Dia da Cultura Lusófona pelo mundo.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa abriga uma população superior a 230 milhões de
habitantes, e tem uma área total de 10.742.000 km² - maior que o Canadá, segundo maior país do mundo. O
PIB de todos os países, somados, supera US$ 1.700 trilião. A CPLP já foi decisiva para alguns de seus
países (na Guiné-Bissau, por exemplo, a CPLP ajudou a controlar golpes de estado).

Relações com os PALOP:

Privilegiaram a vertente económica

 Para países africanos: poderia levar a mais investimentos externos


 Para PT: poderia aproveitar a promissora prosperidade dos novos países para
internacionalizar com sucesso sectores fundamentais da sua economia e intermediar as
relações da união europeia com países lusófonos

Foram assinados acordos de cooperação económica e financeira no:

 Turismo  Construção Civil  Telecomunicações  Cimentos

 Energia  Banca  Desenvolvimento de infra-estruturas


Paralelamente à cooperação económica foram concedidos importantes apoios

 Educação  Cultura  Ciência

 Tecnologia  Saúde  Combate à pobreza


Para consolidar a identidade cultural lusófona dos novos países.

Comunidade de países de língua portuguesa (CPLP)

Foi constituída em 1996 por Portugal, Brasil e PALOP e foi alargada em 2002 com a entrada de Timor
A comunidade traduz-se, pela concertação político-diplomática entre os seus membros em matéria de
relações internacionais como:

 Cooperação económica  Cooperação cultural

 Cooperação técnico-científica  Cooperação jurídica

Contexto das relações externas portuguesas:

Brasil
O Brasil é um caso que merece destaque, devido à sua dimensão e à importância económica que tem
para Portugal, as relações económicas entre estes dois países intensificam-se nos anos 90. O nosso
país encontra no mercado brasileiro boas condições no investimento na metalomecânica, no têxtil, em
energias alternativas, no turismo e nas telecomunicações. A EDP, o grupo SONAE, a CIMPOR e a
Portugal Telecom são algumas das empresas portuguesas que têm beneficiado destes laços entre os
países. Estes laços também se intensificam no contexto dos fluxos migratórios.

Relações com países ibero-americanos

Portugal membro de:


- UE (união europeia)
- PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa)
- CPLP (comunidade de países de língua portuguesa)
- CIA (comunidade ibero-americana)

Propósitos da CIA (comunidade ibero-americana):


 Intercâmbio educativo, cultural, económico, empresarial, cientifica, técnico (=CPLP)
 Constitui mais uma alternativa, em termos de história, língua e cultura, às áreas anglófonas e
francófonas
 Para a UE, o facto de PT e Espanha estar simultaneamente na CIA e na UE é uma mais-valia

Objectivos de Portugal na CIA:


 Reforço da internacionalização da economia portuguesa para novos mercados emergentes
 Benefício de intercâmbios estabelecidos no âmbito da cultura, educação, desenvolvimento técnico-
científico

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