PACOTE - Pacote Anticrime - Aury Lopes Junior
PACOTE - Pacote Anticrime - Aury Lopes Junior
PACOTE - Pacote Anticrime - Aury Lopes Junior
Sobre os autores
APRESENTAÇÃO
ISBN 9788553618453
L864p Lopes Jr., Aury Pacote Anticrime [recurso eletrônico] : um ano depois / Aury Lopes Jr.,
Ana Claudia Bastos de Pinho, Alexandre Morais da Rosa. - São Paulo, SP : Saraiva Educação,
2020.
99 p. ; ePUB.
1. Direito. Direito penal. 3. Pacote anticrime. 4. Lei anticrime. 5. Lei n. 13.964/19. I. Pinho,
Ana Claudia Bastos de. II. Rosa, Alexandre Morais da. III. Título.
CDD 345
CDU 343
2020-3181
EQUIPE EXPRESSA
Editores Aline Darcy Flor de Souza, Sebastião Leandro de Lima Neto Preparação Camilla
Felix Cianelli Chaves Aquisições e Produto Dalila Costa de Oliveira, Rosana Aparecida Alves
dos Santos, Sergio Lopes de Carvalho Produção editorial Daniele Debora de Souza Produção
do e-pub Guilherme Henrique Martins Salvador Capa Deborah Mattos, Tiago Dela Rosa
Projetos Laura Paraíso Buldrini Filogônio Marketing Anderson Portela Comercial Daniel da
Silva Junior
Dúvidas?
Acesse sac.sets@somoseducacao.com.br
AURY LOPES JR.
ANA CLAUDIA BASTOS DE PINHO
ALEXANDRE MORAIS DA ROSA
Tudo começa com as Ordenações Filipinas, que por aqui causaram estragos
por mais de 200 anos (de 1603 a 1830), reproduzindo o modelo inquisitório
da Coroa, propondo o controle do corpo do acusado, por meio de suplícios e
execuções públicas (espetáculos), com o fim de incutir o temor ao poder
central. Interessante notar que essa legislação seguiu a plenos pulmões,
mesmo depois do grito de independência e conviveu, ainda que por pouco
tempo, com a Constituição liberal de 1824 (que, é bom que se diga, silenciou
por completo sobre o tema “escravidão”).
Em 1830, vem o Código Criminal do Império, acompanhado, na sequência,
pelo Código de Processo Penal de 1832. Clientela desses diplomas
repressivos: os escravizados. Objetivo: afirmar o poderio econômico dos
senhores de terra, por meio da manutenção da estrutura escravocrata. Uma
perfeita simbiose entre as leis penais e processuais penais, exatamente na
esteira do que – recorrendo a Ferrajoli – mencionamos no início dessa
introdução. O CPP do Império conservou a natureza inquisitória das
Ordenações, valendo destacar que, em 1871 (por meio da Lei n. 2.033), cria-
se uma figura que marca fortemente a estrutura autoritária do nosso Processo
Penal e que permanece até hoje: o inquérito policial.
Abolida formalmente a escravidão no Brasil, algo precisaria ser feito para
conter a massa de negros, cuja suposta liberdade em nada interessava ao
andar de cima. Solução? Direito Penal! Vem, então, o Código Penal de 1890,
um ano depois da proclamação da República e um ano antes da Constituição
republicana. Clientela: os ex escravizados (daí a criminalização da capoeira,
por exemplo). Em 1932, a chamada Consolidação das leis penais amplia
ainda mais a malha repressiva, dentro da mesma lógica de punir os
indesejáveis.
Eis que chegamos ao Código Penal de 1940 e seu par perfeito, o Código de
Processo Penal de 1941. Numa combinação melhor que goiabada com queijo,
esses dois diplomas, pelas mãos (e cabeça) de Francisco Campos (cuja
simpatia pelo nazi-fasciscmo era decantada aos quatro ventos), vêm
consolidar séculos de práticas inquisitoriais, autoritárias, racistas, classistas,
elitistas. Clientela: pessoas de baixa renda que, de alguma forma, colocassem
em risco a propriedade privada.
Cópias (mal feitas) do Código Rocco italiano, que serviu aos auspícios de
Mussolini, nossos CP e CPP são frutos do Estado Novo varguista, o que por
si só, dispensa maiores comentários. Mas, algo grita nisso tudo: eles estão em
vigor até hoje! Atravessaram três Constituições (ou seja, no Brasil, é mais
fácil mudar uma Constituição do que um Código Penal e de Processo Penal!)
e seguem por aí, desafiando a Constituição democrática de 1988 e fazendo
troça dos modelos de Direito Penal mínimo e Processo Penal acusatório por
ela desenhados4.
Esse breve (porém, necessário) panorama é fundamental para compreender
como se constituiu o nosso sistema de justiça criminal: uma estratégia estatal
muito bem montada para rodar a máquina apenas contra certas pessoas (os
indesejáveis da vez), sob o sedutor discurso da contenção da violência e da
“criminalidade”, apostando na prisão e na punição como formas
insubstituíveis de controle.
2. O pretexto: a “luta contra o crime” (sobretudo, a corrupção)