Advogada/OAB-BA, Mediadora, Membro Da Comissão de Mediação OAB/BA Professora Do Curso de

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A INCLUSÃO DO ALUNO COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NO


AMBIENTE EDUCACIONAL: AVANÇOS E DESAFIOS

THE INCLUSION OF STUDENTS WITH AUTISM SPECTRUM DISORDER IN THE


EDUCATIONAL ENVIRONMENT: ADVANCES AND CHALLENGES

Thaís de Assunção Vinagre Nascimento 1


Teresa Cristina Oliveira2

RESUMO: O presente trabalho apresenta o tema “a inclusão escolar do aluno com


Transtorno do Espectro Autista no ambiente educacional: avanços e desafios”,
demonstrando a importância da inclusão de crianças autistas no âmbito escolar e os
desafios da família para lidar com esse transtorno. Diante disso, a pesquisa foi
realizada com o objetivo de identificar a participação da família no processo de
inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista, visando investigar a
concepção dos pais com relação à participação da sociedade e deles mesmos no
processo de inclusão de seu filhos, sendo necessário a presença, o envolvimento e
comprometimento dos pais na vida escolar dos filhos para o êxito da inclusão. Dessa
forma, buscando um maior entendimento a respeito do tema, é necessário um estudo
qualitativo e quantitativo sobre a eficiência e necessidade da inclusão educacional das
crianças com transtorno do espectro autista.

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista. Inclusão. Família. Ambiente


educacional.

ABSTRACT: This paper presents the theme The School Inclusion of the Student with
Autism Spectrum Disorder in the Educational Environment: Advances and Challenges,
demonstrating the importance of including autistic children in the school setting and
the family challenges while dealing with this disorder. Faced with this, the research
was carried out with the objective of identifying the participation of the family in the

1
Bacharelanda do curso de Direito da Universidade Católica do Salvador. Artigo científico, apresentado
como requisito para obtenção de aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, ano
de 2020.1.
2
Advogada/OAB-BA, Mediadora, Membro da Comissão de Mediação OAB/BA;Professora do curso de
Direito da Faculdade Ruy Barbosa, especialista em Direito Civil (UFBA) e especialista em Família:
Relações Familiares e Contextos Sociais (UCSal). Mestra em Família na Sociedade Contemporânea
(UCSAL), Doutoranda em família. Orientadora do PICT; Membro do grupo de pesquisa Família e
Desenvolvimento Humano da Ucsal e membro do Grupo de Gestão de Políticas Públicas/Uefs;
pesquisasadora, escritora e organizadora de livros científicos.
2

process of inclusion of students with Autism Spectrum Disorder, aiming the


investigaton of the parents’ opinion towards the participation of themselves and the
society in the inclusion process of their child. The presence, involvement and
commitment of the parents in the school life of their children are necessary for the
success of the inclusion. Thus, for seeking a better understanding of the subject, it is
necessary a qualitative and quantitative study about the efficiency and necessity of
educational inclusion of children with autistic spectrum disorder.
Key-words: Autism Spectrum Disorder. Inclusion. Family. Educational environment.

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 2. O CONCEITO DE AUTISMO; 3. BREVE


HISTÓRICO SOBRE O AUTISMO; 4. FAMÍLIAS COM FILHOS AUTISTAS; 5.
LEGISLAÇÃO; 6. INCLUSÃO ESCOLAR; 6.1 A CAPACITAÇÃO DE
PROFISISONAIS; 6.2 O PAPEL DAS ESCOLAS; 7. REDES DE APOIO; 8.
AVANÇOS E DESAFIOS; 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS; 10. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS.

1. INTRODUÇÃO

O diagnóstico médico de que seu filho é uma criança com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) provoca um misto de sensações, desde a preocupação inicial até o
sentimento de culpa. As dúvidas sobre como será a inclusão social em níveis
educacionais e profissionais e os questionamentos sobre a própria responsabilidade
pela condição do filho são os dois vieses que aparecem com maior frequência nessas
famílias, já que os pais ou responsáveis são os guias que irão transmitir segurança à
criança.

A criança depende dos familiares, enquanto membros sociais mais


competentes e provedores de cuidados básicos necessários à satisfação de
suas necessidades, exercendo uma enorme influência no desenvolvimento e
crescimento dessa criança. (CUNHA, 2010)

Entre os muitos desafios enfrentados pelas famílias para garantir às crianças


com o transtorno uma melhor qualidade de vida, é imprescindível destacar a inclusão
educacional. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 define a educação como um
direito de todos e um dever do Estado e da família. Apesar disso, é notável que
existem dificuldades operacionais nesse processo quando se trata de crianças com
TEA, tornando necessária a criação de leis específicas.
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Conforme o artigo 3º, inciso IV, da Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana,
Brasil) é direito da pessoa com transtorno do espectro autista o acesso à educação e
ao ensino profissionalizante. O artigo 7º da mesma lei completa que proíbe a recusa
de matrícula de criança com TEA ou qualquer outro tipo de deficiência, sendo punido
com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos. Ainda assim, sabe-se que a prática
está distante da teoria, já que o sistema de educação brasileiro, seja rede pública ou
privado, é muito falho quando se trata de autismo.

A inclusão escolar implica em redimensionamento de estruturas físicas da


escola, de atitudes e percepções dos educadores, adaptações curriculares,
dentre outros. A inclusão num sentido mais amplo significa o direito ao
exercício da cidadania (SERRA, 2004, p.27).

A inclusão educacional da criança com TEA é uma atividade coletiva que não
depende apenas da família e dos educadores para que ocorra da melhor maneira no
âmbito escolar. Faz-se necessário uma maior aceitação da deficiência mental por toda
sociedade, e sendo fator primordial que as autoridades responsáveis busquem
trabalhar com projetos de leis que visam assegurar os direitos das pessoas com
autismo, fazendo com que esses projetos sejam colocados de fato em prática no dia
a dia social.

Ao tratar da inclusão educacional de crianças em geral, é papel da família a


função de assegurar a elas a qualidade do estudo; o fato de se tratar de crianças
autistas não modifica esse dever. É nesse sentido que a dedicação e
acompanhamento precisa ser maior, já que as dificuldades a serem enfrentadas são
mais delicadas em relação aos outros casos.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e


ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
BRASIL, 1988)

As crianças com autismo possuem uma maior dependência dos seus pais pela
sensação de incapacidade causada pelo transtorno, logo, torna-se papel dos pais o
encorajamento dos seus filhos para a inclusão social. Não é válido retrair os seus
filhos apenas para o âmbito familiar, visto que essa atitude pode provocar um maior
retrocesso da doença, já que a inclusão será um meio de grande valia para o
desenvolvimento deles. A convivência escolar possibilitará um maior avanço nas
4

dificuldades enfrentadas por eles, como a fala retrógrada e a atitude de viver recuado
da sociedade, que são características corriqueiras na vida dos autistas.

A família, existente em todas as sociedades, é um dos primeiros meios de


socialização do indivíduo, operando como mediadora principal dos padrões,
modelos e influências culturais (AMAZONAS, et al, 2003).

O estudo sobre qual escola matricular a criança, a forma de acompanhamento


do planejamento pedagógico e a análise da existência de profissionais capacitados
especificamente para o acompanhamento de crianças com deficiência mental são
requisitos importantes que devem ser levados em consideração pelos pais quando
começarem a pensar na inclusão escolar do seu filho autista. Ainda que seja difícil
encontrar escolas que se aperfeiçoem no trabalho com crianças deficientes mentais,
é fundamental não perder o estímulo e manter os esforços para garantir à criança a
inserção no contexto educacional.

Uma vez que os pais conseguem ingressar os seus filhos em escolas, seja ela
pública ou privada, é importante manter um trabalho alinhado com a instituição para
que consiga ajudar o seu filho a ter um maior desenvolvimento escolar e atribuir
confiança ao mesmo para despertar vontade e prazer de dar continuidade aos
estudos.

2. O CONCEITO DE AUTISMO

Ao tratar do Transtorno do Espectro Autista, é importante destacar que as


pessoas diagnosticadas possuem características muito específicas que podem, em
alguns momentos, causar um distanciamento das pessoas que desconhecem a
existência do transtorno.

Art. 1° § 1º Para os efeitos desta Lei, é considerada pessoa com transtorno


do espectro autista aquela portadora de síndrome clínica caracterizada na
forma dos seguintes incisos I ou II:

I -deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da


interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação
verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade
social; falência em desenvolver e manter relações apropriada s ao seu nível
de desenvolvimento;

II -padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e


atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais
estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva
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aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses


restritos e fixos. (LEI BERENICE PIANA, BRASIL, 2012).

De acordo com a psiquiatra Erika Mendonça (2018), não existe uma idade
específica para diagnosticar o autismo em uma criança, visto que, por ser reconhecido
pela sociedade como um transtorno há pouco tempo, as atitudes dessas crianças
podem ser consideradas comportamentos comuns da idade. Mas, ao decorrer do
tempo, as alterações tornam-se mais evidentes, podendo ser diagnosticadas como
um quadro de autismo.

Para Mello (2012), pode-se compreender o autismo como um distúrbio do


desenvolvimento, o qual se caracteriza pelas mudanças comportamentais desde a
infância, em que normalmente ocorre antes dos três anos de idade, afetando
principalmente a comunicação, a interação social, capacidade de aprendizado e de
adaptação.

É possível afirmar que o TEA é um transtorno mental e, por isso, não pode ser
desenvolvido ao longo da vida. No entanto, o indivíduo já nasce sendo autista, não
sendo obrigatório possuir todas as características ditas como requisitos de uma
pessoa com TEA. Já que pode variar de pessoa para pessoa, mas que dentre os
comportamentos pode ser diagnosticado como autista.

O autismo é configurado como uma síndrome presente desde o nascimento


ou que começa quase sempre durante os trinta primeiros meses.
Caracterizando-se por respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais,
e por problemas graves quanto à compreensão da linguagem falada. A fala
custa aparecer e, quando isto acontece, nota-se ecolalia, uso inadequado dos
pronomes, estrutura gramatical, uma incapacidade na utilização social, tanto
da linguagem verbal quanto corpórea (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 1998).

O psicólogo Daniel Messinger (2019) defende que é possível identificar uma


pessoa com autismo através das suas atitudes, que se configuram como distintas das
atitudes comuns vistas no dia a dia. A pessoa com autismo evita o contato exacerbado
com as outras pessoas, buscando ficar mais no seu contexto individual.

O autismo não chega a ser considerado uma doença, mas um distúrbio que
atrapalha o desenvolvimento da pessoa diagnosticada com TEA. Os psicanalistas,
principalmente, acreditam que o trasntorno é originado por uma imaturidade afetiva
que pode acontecer quando o amadurecimento da criança é interrompido de alguma
forma, pela inadequação ou insuficiência do ambiente perante suas necessidades.
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Os níveis do transtorno podem ser leves ou severos, considerando que existem


fatores agravantes do distúrbio ou que possam torna-lo mais flexível para um possível
tratamento. De acordo com a Associação de Amigos do Autista (AMA), o autismo é
um distúrbio do comportamento que consiste em uma tríade de dificuldades:
dificuldade de comunicação; de sociabilização; e de uso da imaginação. Será possível
avaliar o nível do autismo através dessas dificuldades, já que existirá a criança que
não consegue emitir nenhuma linguagem verbal e a criança que possui a linguagem
verbal, mesmo que seja de forma repetitiva e não comunicativa.

Através dos conceitos de Abinader (2019) é possível entender que as atitudes


familiares não causam o autismo ou qualquer outro distúrbio de desenvolvimento. No
entanto, a adequação familiar para a recepção de uma criança autista é de importante
valia, já que todo desenvolvimento dependerá do local e convivência em que ele
estará inserido. Quanto mais acolhido ele se sentir, mais fácil será seu
desenvolvimento no âmbito social.

3. BREVE HISTÓRICO SOBRE O AUTISMO

Pode-se compreender que o autismo se faz presente na humanidade desde os


primórdios da Idade Média, época em que os povos considerados anormais eram
submetidos a eutanásia3 pela não aceitação da sociedade grega. Só em 1908 o
psiquiatra Eugen Bleuler definiu autismo como o termo correto para conceituar as
pessoas que viviam fora da normalidade e dentro dos seus próprios mundos tratados
como esquizofrênicos.

Um pouco mais a frente, em 1943, o psiquiatra Leo Kanner, através dos seus
estudos e análises, publicou uma obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo’’, na
qual relata a respeito de onze casos em que crianças apresentavam comportamentos
de isolamento desde os primórdios de sua vida. As características do autismo se
faziam presentes desde a primeira infância dessas crianças, deste modo o psiquiatra
se referia como autismo infantil precoce. (SEJAS, 2017).

Um ano depois, no período de guerra, Hans Asperger relatou, através do artigo


“A psicopatia autista na infância”, os ocorridos mais provenientes nos meninos que
apresentam características específicas do transtorno, como a falta de empatia, a

3
Em sentido literal, a “eutanásia” significa “Boa Morte”, a morte calma, a morte piedosa e humanitária.
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incapacidade de fazer amizades, a grande inteligência a respeito de temas que


dominam e facilidade de entendimento. Por ter sido publicado em meio à segunda
guerra mundial, o artigo não teve muito sucesso, já que as pessoas, focadas nos
desdobramentos do conflito, não davam atenção aos outros assuntos. Foi em 1980
que o seu trabalho começou a ser reconhecido, quando foi traduzido para o inglês
pela médica inglesa Lorna Winge, tornando Asperger um pioneiro no assunto autismo
e identificando a síndrome de Asperger. (RODRIGUES, 2016).

Por volta de 1950 a origem do autismo se tornou um assunto bastante discutido,


principalmente com base na teoria de Kanner, que tratava o autismo como um
distúrbio originado pelos pais, tratando as mulheres como “mães geladeira”, que era
o termo designado as mães de crianças autistas.

Em 1952, a Associação Americana e Psiquiatria trabalhou com a primeira


edição do Manual Diagnóstico Estatístico de Doenças Mentais, o qual destaca os
critérios estabelecidos para um diagnóstico mais específico para transtornos mentais
como o autismo.

Com a chegada dos anos 60, o autismo passou a ser evidenciado como de fato
um transtorno mental com ocorrência ainda na infância e que já aparecia em vários
países. Ao passar dos anos em 1965, Temple Grandin criou a Máquina do Abraço,
um aparelho que possibilitava a sensação de calmaria às pessoas com autismo
através da simulação de um abraço.

Já na década de 70, de acordo com Michael Rutter, poderia ser considerado


um quadro de autismo o paciente que apresentassem quatro critérios: atraso e o
desvio social; a dificuldade na comunicação; comportamentos diferentes dos normais;
e quando ocorresse antes dos 30 meses de idade.

Na década seguinte, os estudos sobre o autismo continuaram e foram


adaptados pela psiquiatra Lorna Wing, que é também mãe de uma criança autista, e
denominou o autismo como a síndrome de Asperger, fazendo referência a Hans
Asperger. As suas pesquisas e determinações fizeram com que o autismo fosse mais
respeitado e discutido, tornando-a uma grande referência no tema. A mesma por ter
domínio na área por conviver diariamente com seu filho autista, pôde defender e
aplicar serviços para pessoas com TEA e o melhor amparo para os seus familiares,
fundando a National Autistic Society.
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No final dos anos 90, um artigo científico publicado na época apontava que
algumas vacinas poderiam causar o transtorno, mas a obra não chegou a ter alguma
relevância social, já que a maioria dos cientistas não acreditaram nessa teoria. Nos
anos seguintes, a própria revista responsável pela publicação do artigo se retratou a
respeito da afirmativa.

Anos depois, em 2 de abril de 2007 a ONU decretou aquela data como o Dia
Mundial da Conscientização do Autismo, com o objetivo de trazer para a população
uma maior conscientização a respeito do transtorno ou e despertar nas pessoas
despertar nas pessoas a vontade de conhecer mais sobre o assunto.

Em 2012 foi sancionada a Lei nº 12.764/12, denominada Lei Berenice Piana,


que trouxe políticas nacionais para a devida proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista. A sanção dessa lei marcou a história do autismo, já
que tratou da garantia dos direitos das pessoas com TEA.

A criação de Estatuto da Pessoa com Deficiência na Lei nº 13.145/15 (Lei


Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência) veio em 2015 e proporcionou um
maior amparo para os portadores de autismo, criando garantias para a defesa da
igualdade das pessoas com deficiência.

Por fim, no ano de 2019, foi aprovado o projeto de Lei nº 1712/19 para alterar
a Lei nº 12.764/12 e a Lei nº 13.145/ 15, com o objetivo de prever direitos mais
específicos aos autistas, como a previsão da educação inclusiva para os portadores
e outras políticas que possibilitem a sua inclusão social.

4. FAMÍLIAS COM FILHOS AUTISTAS

Ao tratarmos de família, estamos falando do núcleo básico de toda e qualquer


sociedade, sendo esse meio importante para o desenvolvimento da criança, seja qual
for a configuração de família. A chegada de um novo membro à família é um momento
esperado por todos que poderá trazer uma variedade de sensações, como a
ansiedade para saber o sexo do bebê, quando a gravidez não é esperada e a
insegurança quando, durante o período gestacional, se descobre alguma doença no
bebê.
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Essa ansiedade gera novas preocupações como o desenvolvimento da criança,


os esforços pelas condições de saúde etc. E por falar em desenvolvimento, a
sociedade emprega padrões a serem seguidos ao longo da vida de uma criança, como
a idade ideal para falar, para dar os primeiros passos, experimentar novos alimentos
e outras mudanças. Por isso, quando a mãe se depara com a falta do desenvolvimento
e a dificuldade da interação social do seu filho, novos problemas começam a surgir.

Para Silva e Silva (2013), quando se torna perceptível as diferenças


comportamentais da criança, o desespero pela cura e a indagação sobre a origem do
transtorno são colocadas prioridade, já que a família quer entender quais os motivos
tornaram aquela criança “diferente”. Assim começa a busca por profissionais da saúde
para encontrar um resposta.

O medo sobre o futuro da criança é tomado por toda família e é quando se


desenvolvem níveis de insegurança, angústia, sobrecarga e outros sentimentos
desencadeados por essa nova realidade. Passados os momentos de não aceitação e
dificuldade de compreensão daquele quadro, as famílias então começam a buscar
maneiras de garantir a qualidade de vida da criança.

Diante disso, as adaptações em relação ao o que esperar do futuro da criança


passarão a ser analisadas pelas famílias, com consciência de que o desenvolvimento
será mais tardio do que o esperado e as limitações irão chegar com o decorrer dos
anos. Dessa forma, os responsáveis assumirão um papel de total dedicação e amparo
para as necessidades e inseguranças do portador de TEA.

Para a psicóloga Sabrina Bandini Ribeiro (2014) as famílias, ao longo dos anos,
irão passar por momentos de aceitação do transtorno com maior facilidade, mas
haverá momentos conflitantes. Nesse sentido, o tratamento é a forma mais indicada
para lidar com a situação da forma mais harmoniosa possível. O acompanhamento
terapêutico desenvolverá, junto às famílias, a melhor forma de lidar com o transtorno.

Através dos fatos vivenciados, as famílias sentem a necessidade de possuírem


mais informações cobre os meios de inclusão e tratamento para crianças com TEA, já
que nos deparamos com um sistema que ainda segue falho a esse respeito. Pois é
inevitável para uma mãe e um pai que não se preocupe como será o tratamento do
filho na escola, ou até mesmo se terão escolas que aceitem os seus filhos por
possuírem um transtorno mental.
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As dificuldades enfrentadas pelos familiares são diárias e corriqueiras, já que


não se trata de um transtorno passageiro nem mesmo fácil de lidar, e que dependerá
ainda do grau de autismo da criança. Dessa maneira, a família vai superando os
medos e desafios para que comecem a perceber os avanços dos seus filhos
portadores de TEA.

5. LEGISLAÇÃO

Desde o decreto da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, o dia 2


de abril é considerado dia Mundial do Autismo com o intuito de conscientizar a
sociedade a respeito do transtorno. A partir disso, a legislação se tornou mais
especifica sobre o autismo, trazendo mudanças positivas para essa comunidade.

Por sua vez, a Lei nº 12.764/12 (Lei Berenice Piana), sancionada por Dilma
Rousseff ainda em exercício no cargo da presidência do Brasil, aplicou a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista,
sendo a primeira a tratar as pessoas portadoras de autismo como deficientes mentais.
Nos seus incisos I e II, do Art. 1º, buscou definir o conceito de autismo e suas
características para definição, em que uma dessas é a deficiência significativa na
comunicação.

O texto dessa lei aponta diversas garantias dispostas aos portadores, como a
proteção contra qualquer forma de abuso e exploração e o acesso a ações e serviços
de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, sendo
assegurado o direito a proteção dos mesmos, buscando uma maior igualdade social.

No que compete à área da educação, fica especificado que o gestor escolar


que recusar a entrada de um portador de transtorno do espectro autista, ou qualquer
outro tipo de deficiência, será penalizado com uma multa de três a vinte salários-
mínimos.

Atualmente, a Lei 13.145/15 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com


Deficiência) foi editada e ficou decretado que o autista é uma pessoa com deficiência
e provém dos meus direitos previstos no presente Estatuto da Pessoa com
Deficiência.
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Em 2019 foi apresentado o projeto de Lei 1712/19, que visa a alteração da Lei
nº 12.764/12 e a Lei nº 13.145/15, para que possa prever uma educação inclusiva e
outras políticas que almejem a plena inclusão social. Sendo modificado o marco legal
da Primeira Infância, para incluir as famílias que têm crianças com transtorno do
espectro autista entre os grupos prioritários das políticas sociais com vistas ao
desenvolvimento integral da criança.

Através das leis existentes, é possível notar que é assegurado ao autista o


atendimento prioritário; a inclusão escolar e social; a educação profissionalizante;
inserção no mercado de trabalho; isenção de impostos para adquirir veículos; vaga
especial em estacionamento; gratuidade em passagens de ônibus; atenção integral à
saúde; benefício da prestação continuada nos casos em que ele ou a família não
tem condições financeiras para prover o seu sustento; dedução e restituição do
imposto de renda; tomada de decisão apoiada e curatela.

6. INCLUSÃO ESCOLAR

As dificuldades enfrentadas por famílias e portadores de transtorno do espectro


autista fazem parte de toda a trajetória de vida deles. A inclusão escolar é uma das
maiores preocupações dos familiares, já que envolve a necessidade de condições
especiais da rede escolar e profissionais capacitados para lidar com crianças
portadores de autismo, seja qual foi o grau.

Assim como para as famílias, esse também é um grande desafio para as


escolas. Atender a grande demanda educacional inclusiva para o pouco atendimento
especifico aos profissionais é algo delicado de ser revolvido e, por isso, a matrícula
de uma criança portadora de TEA provoca mudanças na escola, sendo necessário um
acompanhamento especifico e um tratamento mais adequado para as limitações
daquele aluno.

Dessa forma, os professores e auxiliares deverão ter uma maior orientação do


tratamento e cuidado adequado para os portadores de deficiências mentais, devendo
saber a forma de tratar as suas limitações e desenvolver atividades que poderão ser
designadas a eles.
12

É importante que a escola e seus profissionais tenham como prioridade a


progressão da criança, respeitando os seus limites e sem desrespeitar o seu ritmo.
Ou seja, será a escola que deverá se adaptar ao aluno, e não o portador que deverá
se reformular para entrar na escola.

6.1 A CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS

Professores que trabalham com crianças portadoras de transtornos mentais


vivenciarão grandes desafios, mas acima de tudo uma grande responsabilidade
profissional e pessoal. Esse profissional tem a responsabilidade de zelar pela criança
como a família, de forma que deverá manter os esforços para que o aluno esteja
devidamente incluído na sala de aula.

A paciência e dedicação dos professores deverão acompanhá-los a todo


momento de forma a respeitar as dificuldades dos seus alunos e ter equidade no
tratamento para que se sintam acolhidos e respeitados. O contato direto do professor
com a família é importante para que os orientadores consigam compreender a
gravidade do transtorno e as dificuldades que a serem enfrentadas pelos portadores
para que assim tenha uma melhor forma de adaptação.

A qualificação dos professores na área é de importante valia, mas que


dependerá muito do querer do profissional e da disponibilidade da escola em ajudar
ao profissional a se especializar. Essa qualificação é vantajosa tanto para aluno como
para o profissional, pois a conversação e entendimento se tornará mais fácil e hábil
na relação dos dois com um profissional que saiba a forma adequada de tratar o aluno.

6.2 O PAPEL DAS ESCOLAS

Com o aumento do número de alunos exclusivos nas escola de todo o país, se


faz necessário que as instituições repensem a forma de lidar e até mesmo o ambiente
que irá proporcionar aos alunos portadores de deficiências mentais. Dessa forma, é
de grande valia que venham a adaptar os ambientes para poder incluir o aluno de
forma mais adequada na escola.
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A falta dos materiais adequados, dos profissionais qualificados e do ambiente


não apropriado tornam as escolas se tornem despreparadas para receber alunos com
TEA, já que a criança autista sentirá dificuldades em se inserir em ambientes que lhe
causem desconforto – o que pode ainda complicar o seu quadro clínico.

Quando as escolas que possuem o ambiente adequado e profissionais


qualificados, essas serão as instituições que irão proporcionar aos alunos inclusivos
(e não inclusivos) um melhor acolhimento e um desenvolvimento avançado, fazendo
com que as crianças superem suas limitações e que possam despertar habilidades
que eram esquecidas por causa da doença.

Para garantir ao alunos inclusivos a inclusão social, que é um direito de todos,


depende de profissionais dedicados a ajudar e qualificados no assunto. Junto à família
e à escola, os professores precisarão promover atividades diversas que possibilitem
o aprendizado de todos. De acordo com Oliveira, pode-se entender que, na educação
inclusiva, todas as pessoas terão direito a uma educação com qualidade e estadia
comum no espaço em que todos frequentam, para que assim possa ser aceito mesmo
com as suas diferenças, e que, havendo as dificuldades escolares, a própria escola
deverá realizar mudanças para reaproximar os alunos com dificuldades mentais.

A vivência na escola possibilitará aos portadores de TEA um maior


desenvolvimento, já que os mesmos terão convívio direto com outras crianças,
podendo se descobrir e ver que possuem pessoas que os aceitam mesmo com todas
as diferenças. Dessa forma, poderão aplicar práticas de desenvolvimento a respeito
da socialização com outras pessoas, melhorando as suas limitações dia a dia e
trazendo aos seus familiares um maior conforto sobre o futuro, já que verão que eles
são capazes de interagir com outras pessoas.

Diante disso, a inclusão das pessoas com transtornos no âmbito escolar e


social dependerá da interação dos professores, familiares, os alunos com TEA e os
outros alunos. Havendo essa relação entre os atores sociais, o desenvolvimento dos
portadores será mais evoluído, pois terá a contribuição de todos para o maior
entendimento do que é a doença e de como saber lidar. (SOARES, 2019).

É importante destacar que o âmbito escolar possibilitará melhores avanços aos


portadores de TEA, já que o aluno poderá se redescobrir nesse espaço vendo surgir
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novas habilidades, como o aperfeiçoamento o futebol, ballet, outros esportes e nas


disciplinas escolares em geral, como matemática e geografia.

Os casos de crianças com transtornos seguem aumentando no Brasil e,


pensando nisso, as escolas buscam o aperfeiçoamento para que possam atender as
crianças com dificuldades de inclusão. Dessa forma, muitas instituições estão
qualificando os profissionais do seu quadro de funcionários e contratando novos
profissionais da área da educação e da saúde.

O melhor desenvolvimento dos portadores de TEA não dependerá apenas da


readaptação escolar e de profissionais adequados. Será necessário ainda que ocorra
um maior envolvimento entre a escola e a família, para que os familiares tenham uma
maior participação no planejamento educacional dos seus filhos.

A inclusão escolar tem um caráter político que engloba os Direitos Humanos,


atribuindo diversos fatores que estarão relacionados ao contexto político do país em
questão e a emancipação será colocado como fator central. (SANTOS, 2016).

7. REDES DE APOIO

Ao tratarmos sobre o autismo, o portador e seus familiares, pode-se notar a


importância da existência de recursos que atendam às necessidades causadas pelo
transtorno, e a partir desse fator surge a busca pelas redes de apoio. Essas redes
possibilitam um melhor amparo aos familiares e a criança, proporcionando aos pais
sensações de capacidade já que, por muitas vezes, esses se colocam em posição de
culpa pela condição de seus filhos.

Essas redes de apoio, que por muitas vezes são consideradas como o suporte
social, são conceituadas como o grupo de recursos utilizados em prol de um indivíduo
que podem ser ampliados aos seus familiares, visando o amparo emocional,
psicológico, físico e material. Essas redes podem ser distinguidas em dois tipos de
suporte: a informal, que agrupa os familiares, amigos, vizinhos, colegas e os grupos
sociais; e a formal, que agrupa os profissionais (como médicos, educadores,
assistentes sociais e etc.) e as próprias instituições, (como hospitais, segurança social
e etc.), as quais já estão preparadas para prestar essa assistência as pessoas que
precisam.
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A procura pelas redes de apoio surge quando os familiares já não sabem como
lidar com o transtorno, não conseguem buscar meios para acalmar a criança e não
sabem como lidar com os comportamentos inadequados etc. O papel da rede de apoio
é proteger e acalmar essas sensações negativas causadas nos familiares, buscando
mediações para um melhor desenvolvimento da criança e consequentemente dos
seus familiares. De acordo com Lopes (2015), as características e consequências
trazidas pela rede de apoio deverão ser compreendidas como meios de um processo
transacional no oriundo de um sistema social e do próprio contexto ecológico.

Estudos defendem que é possível compreender que as famílias que buscaram


as redes de apoio tiveram uma melhor adaptação ao transtorno, sentindo-se mais
encorajadas pelo apoio dos seus outros familiares, amigos e das próprias redes de
apoio formal. Esses benefícios surgem uma vez que, ao compartilhar com pessoas de
sua confiança, é possível que obtenha outras visões do que é o transtorno e de como
tratar e como lidar com a aceitação.

Foi aprofundado por Karst e Hecke (2012) que os pais que buscam o suporte
social adquirem a redução de sentimentos depressivos, consequentemente
melhorando o estado de humor e a convivência com o filho autista, já que começam
a sair da não aceitação para a aceitação do autismo.

Quando esse suporte vem da própria família, é ainda mais importante,


promovendo maior amparo. Mas, para algumas famílias, existe ainda uma barreira:
avós ou outros parentes mais velhos. Ainda que seja comprovado historicamente e
cientificamente que o autismo existe há muitos anos, pessoas mais velhas tendem a
ter dificuldades de compreender comportamentos típicos da doença. Por isso é
fundamental que os pais incluam, desde cedo, os avós no processo de diagnóstico e
tratamento da criança, favorecendo a comunicação e o relacionamento deles no
futuro.

Normalmente os pais buscam as redes de apoio formal quando ocorre algum


problema grave no desenvolvimento da criança, como algo na fala. Eles buscam
profissionais especializados para um tratamento que favoreça um melhor
desenvolvimento. Outros profissionais muito procurados quando se trata de
desenvolvimento são os pediatras e os psicólogos sociais e educacionais.
16

Através dos avanços da medicina e da própria aceitação da existência do


autismo, essa rede de apoio se tornou fundamental para muitos pais, visto que os
tratamentos atribuídos por eles refletem no desenvolvimento da criança.

Outro componente importante das redes de apoio são as escolas, já que


possuem um vínculo com as crianças e começam a entender suas atitudes e
comportamentos visando sempre o maior amparo e proteção, melhorando, com
formas adaptadas e adequadas, o seu desenvolvimento. Pode-se citar ainda as
pessoas jurídicas que são redes de apoio formal que possibilitam a proteção jurídica
das crianças e dos seus familiares, proporcionando aos pais uma maior proteção
perante a sociedade.

As organizações que promovem e incentivam as pesquisas e apoio ao autismo


no Brasil são de grande valia para esse movimento, como a AMA (Associação de
Amigos do Autista), a Instituição Autismo é Vida, a ABRA (Associação Brasileira de
Autismo), o Autismo e Realidade, a CASA da Esperança, a FADA (Fundação de Apoio
e Desenvolvimento do Autista) e o Instituto Ninar.

8. AVANÇOS E DESAFIOS

No que tange aos avanços e desafios do autismo e da sua inclusão escolar, é


possível notar que, ao decorrer dos anos, as variações foram relativamente intensas
e que necessitou de uma maior valoração para o entendimento de que o autismo é
compreendido como um transtorno mental.

Seria impossível falar de autismo e não abordar os desafios enfrentados pelos


portadores e seus familiares. Os desafios causados pela doença são muitos, como o
retrocesso na linguagem, no processo de comunicação e interpretação, e o próprio
comportamento perante a sociedade. Mas essa não é uma regra para todos autistas,
já que existe uma grande variação de comportamentos e fatores da doença, em que
são considerados como únicos por cada um possuir um tipo de reação ao transtorno.

Alguns autistas não se expressam através da fala, mas compreendem o que


está sendo dito, causando a dificuldade de comunicação a respeito do que ele está
ouvindo. Essa dificuldade pode originar os estresses e variações de humor.
17

Diante disso, eles demonstram um maior desenvolvimento a respeito daquilo


que gostam, e conseguem dominar o assunto. Muitos se tornam grandes jogadores
de futebol, cantores, médicos e entre outros, por possuir essa característica de altas
habilidades de concentração naquilo que lhes chama atenção.

Quando o assunto é inclusão escolar, existe uma resistência de muitos


educadores e de pais que não possuem filhos deficientes. A não aceitação é muito
recorrente nesses casos, quando as pessoas têm medo de como lidar com pessoas
com transtorno mental. Nesse caso, alguns educadores se sentem incapazes de
ensinar e alguns pais acham que poderá prejudicar os seus filhos tendo alguém com
deficiência na sala. Com isso, se faz necessário maior investimento das escolas para
a preparação do atendimento a crianças com transtornos mentais, seja em estrutura
ou em qualificação para os educadores.

Conforme o Plano Nacional de Educação (PNE), em 2018 apenas 40,4% das


crianças e adolescentes entre 4 a 17 anos que possuíam deficiências de aprendizado
estavam inseridos no atendimento especializado de educação, tornando-se uma meta
bem distante do que é almejado pela PNE para 2024, que seria 100%.

Mesmo com esses desafios, é um desejo dos pais que a inclusão escolar seja
melhor no decorrer dos anos, já que, assim como qualquer outra criança, os autistas
têm como um direito uma educação digna e de qualidade, que respeite suas limitações
e potencialize suas qualidades.

Quanto aos avanços, ainda que, atualmente seja determinado que o autismo
não tem cura, muitas pesquisas apontam o avanço dos estudos com as células-tronco
das crianças portadoras do transtorno do espectro autista, em que visam a
diferenciação por neurônios para que possa reconstruir um “minicérebro” por
reprogramação celular, sendo necessário o acompanhamento de terapias
moleculares. Também utilizado o fator de crescimento de insulina, o IGF1, para alguns
tipos de autismo como a Síndrome de Rett e para alguns graus de autismo.

A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que


aconteceu em 2006, foi um marco importante para o desenvolvimento do debate sobre
o autismo no Brasil, visando a melhora na inclusão escolar incluindo normas como a
não exclusão de crianças com deficiência do ensino primário gratuito e compulsório
18

ou do ensino secundário; as adaptações razoáveis de acordo com as necessidades


individuais; e as medidas de apoio individualizadas.

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) foi criado com o objetivo de


proteger o sistema educacional inclusivo em todos os seus níveis, para que não haja
discriminação buscando a igualdade. Assim, são disponibilizadas atividades e
recursos complementares para a formação dos estudantes com deficiências em geral.

Por fim, a Lei Brasileira de Inclusão, de 2015, foi fundamental para a proteção
das pessoas que são portadoras de transtornos e deficiências. Apesar de todos esses
avanços, as discussão acerca dos direitos dos portadores do transtorno e das
obrigações do Estado ainda são rasas diante da necessidade de amparo à essas
pessoas e às suas famílias que merecem, como todo cidadão brasileiro, uma vida
digna com o acesso aos seus direitos respeitado.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todos os fatos expostos no que se refere à inclusão da criança


portadora do transtorno do espectro autista, pode-se concluir que houve um avanço
significativo nessa direção, sem, entretanto, ter-se esgotado tal propósito. A seguir,
são resgatados os objetivos específicos desta pesquisa em busca de identificar os
principais resultados obtidos que podem esclarecer esses objetivos.

Em relação ao objetivo específico das famílias com filhos autistas, constatou-


se que existe uma grande variação acerca de como o transtorno é aceito e vivenciado
por cada uma delas. O sentimento de culpa e preocupação é tomado pelos familiares
ao se deparar com a situação do transtorno. Diante da situação, buscam formas para
melhorar o desenvolvimento da criança que é portadora do transtorno do espectro
autista. Foi possível constatar ainda que, ao decorrer da vida, são administradas
formas de aceitar o transtorno, meios de como lidar com o filho autista, buscando
formas de inclui-lo no âmbito social e educacional.

Sobre o objetivo específico da legislação, constatou-se que existem meios


legislativos e jurídicos que asseguram as crianças autistas como a Lei nº 12.764/ 12,
Lei Berenice Piana; Lei nº 13,145/15, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência; e o Projeto de Lei 1712/19. As quais visam assegurar e proteger os
19

direitos das pessoas com autismo. Cada pessoa possui a sua especificidade e,
pensando nisso, as alterações nas leis existentes visam a melhoria de direitos que
não eram tão específicos às pessoas com transtorno do espectro autista.

Sobre o objetivo específico inclusão escolar, constatou-se que passou e passa


por grandes variações, já que não é algo tão corriqueiro na sociedade e principalmente
nas escolas. Uma vez que não são todas as escolas que estão aptas a receber
crianças com deficiências, algumas acabam criando uma resistência para o assunto.

Nesse quesito, as escolas, muitas vezes, veem a necessidade de inclusão e


adaptam o local para a recepção desses alunos que necessitam de uma maior
atenção. Com isso, é de importante valia que exista essa preocupação com essas
crianças, visto que precisam de um atendimento específico e de um maior cuidado
para que não atrapalhe em seu desenvolvimento.

No que se refere ao específico redes de apoio, constatou-se que é dividido em


formal e informal. Formal se configura normalmente pelos familiares e o informal pelos
profissionais e instituições. Na maioria das vezes, os pais buscam as redes de apoio
formal por sentir uma maior segurança e proteção, para que haja a maior aceitação
do seu filho na própria família e na sociedade.

Essas redes de apoio informal são procuradas quando os familiares não


conseguem lidar com as alterações comportamentais da criança, como a deficiência
da fala e da comunicação, e necessitam procurar um profissional específico na área
para que possa acompanha-los e desenvolver tratamentos específicos. Há ainda uma
análise das escolas e dos profissionais jurídicos que asseguram uma proteção para
essas pessoas que sofrem com o transtorno e os seus familiares.

O último objetivo específico, que trata dos avanços e desafios, constatou que,
por muitos anos, o autismo foi tido como um tabu na sociedade, mas que ao longo do
tempo foi aceito como um transtorno mental. Com isso, começam os desafios que vão
desde a descoberta da doença, com as suas restrições e privações, como dificuldade
em expressar o que ouve, comportamentos agressivos e dentre outros
comportamentos específicos que cada um autista possui.

Mas os desafios não são apenas esses, já que a sociedade também é uma
grande barreira com a não aceitação a doença, o que acaba prejudicando o
20

desenvolvimento dessas crianças. Isso pode acontecer através da própria escola, que
se diz incapaz de aceitá-los, ou de outros pais, com uma visão preconceituosa, têm
medo de que inclusão dos autistas possa interferir na atenção dos seus filhos tidos
normais dentro da sala de aula.

Mesmo havendo esses desafios, pode-se dizer que existiram avanços no que
compete ao TEA, já que os estudos científicos não param de pesquisar meios para
melhorar o desenvolvimento dessas pessoas que sofrem com o transtorno do
espectro autista.

As estratégias metodológicas utilizadas permitiram aprofundar o estudo do que


é o autismo, quais são as formas de tratamento e quais são desafios enfrentados
pelas crianças e seus familiares na inclusão escolar. Não possibilitaram, porém,
encontrar um grande avanço significativo que esteja sendo utilizado na prática em si,
visto que ainda se torna muito falho os meios de avanços para as pessoas que sofrem
com o autismo.

Diante dos resultados encontrados, certas implicações práticas podem ser


consideradas, são elas: a resistência social acerca do transtorno, que é o maior fator
que causa implicações para todo e qualquer desenvolvimento dos avanços do
transtorno, já que que a sociedade e instituições se privam de adaptações para
aceitação dessas pessoas, e a prática das Leis e Projetos que são previstos para a
proteção dessas pessoas, que no momento são utilizadas apenas na teoria.

Diante do que foi constatado no presente estudo, identificou-se a necessidade


de pesquisas futuras que aprofundem a aplicabilidade do Projeto de Lei 1712 de 2019,
que visa modificar as duas Leis anteriores que relatam sobre deficiência, causando
uma maior especificidade ao cuidado com o autismo; a obrigação de cursos
específicos para educadores para o atendimento a crianças com autismo em sala de
aula; projetos de Lei que trabalhem acerca da proteção das famílias com crianças com
autismo; e a aplicabilidade de investimento nas escolas para que promova um maior
acolhimento as crianças com transtorno do espectro autista.
21

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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