Reading Latin1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

READING LATIN

(Peter Jones e Keith Sidwell,


Cambridge University Press)

SEÇÃO I
TEXTO, GRAMÁTICA, VOCABULÁRIO E EXERCÍCIOS

Equipe de Tradução:
Alessandro Rolim de Moura
Giovanna Mazzaro Valenza
Guilherme Gontijo Flores
Irene Cristina Boschiero
Rodrigo Tadeu Gonçalves

CURITIBA
2009
  2  

ESCLARECIMENTO

Este material é, em grande parte, uma


tradução livre dos primeiros capítulos do método
Reading Latin, de Peter Jones e Keith Sidwell
(Cambridge University Press, 1986). O tradutor fez
algumas adaptações necessárias para os leitores
brasileiros, omitiu algumas partes e acrescentou
outras. Também há algumas poucas modificações
de caráter teórico (nomenclatura, definições etc.).
Os textos, a ordem dos conteúdos e os enunciados
latinos apresentados como exemplos são
praticamente os mesmos do original. As partes do
material que foram elaboradas pelo tradutor e/ou
por outros professores estão indicadas em nota de
rodapé. Esta tradução deve ser utilizada apenas em
sala de aula, e não deve ser distribuída ou
publicada sem o consentimento dos autores.

Alessandro Rolim de Moura


  3  

OBSERVAÇÕES PRELIMINARES

O curso: tempo a ser gasto com as lições; princípios de organização

Lendo em latim (Texto e Gramática, vocabulário e exercícios) é destinado a


iniciantes maduros (nos dois últimos anos do ensino médio, nas universidades ou na
educação para adultos) que querem aprender latim clássico ou medieval. Entre 1981 e
1984, foram realizadas experiências em várias escolas, cursos de verão, universidades
(na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, no Canadá, na Nova Zelândia e na Dinamarca) e
centros de educação para adultos, e a versão final foi entregue à editora em setembro de
1984. Nossa experiência sugere fortemente que se leva mais tempo para desenvolver
uma habilidade de leitura em latim do que em grego. Conseqüentemente, nas escolas e
na educação para adultos, em que o tempo é restrito, Lendo em latim deve ser tratado
como um curso de dois anos, e nas universidades, com uma carga horária de 3 a 4 horas
por semana, a meta do primeiro ano deve ser algo em torno da Seção 5. Turmas muito
boas, é claro, podem ir mais rápido.
Os princípios que guiaram a organização do curso são em geral os mesmos do
Reading Greek,1 com três importantes exceções. Primeiramente, ficou claro logo no
início que o latim precisa de mais exercícios do que o grego, e que exercícios de versão
para o latim restritos a verbos isolados e locuções têm um papel importante (há também
versões de frases e pequenos textos em prosa para aqueles que o desejam). Em segundo
lugar, ficamos convencidos de que, se o objetivo é fazer que no futuro os estudantes
venham a ler em latim com alguma segurança, eles devem ser encorajados desde as
primeiras aulas a endender o latim, palavra por palavra e locução por locução, na
mesma ordem em que estas foram escritas. Um grande número de exercícios é destinado
a esse fim. Em especial, encorajamos os estudantes a explicar em voz alta como
analisam uma frase à medida que a traduzem, e a indicar o que eles esperam da
seqüência. Em terceiro lugar, o papel da língua latina no desenvolvimento, em
particular, do português2 e, em geral, da civilização ocidental e das outras línguas
neolatinas, é algo inegável. Percebemos que, se ignorássemos essa tradição e nos
concentrássemos estritamente no latim clássico, estaríamos privando os estudantes de
uma compreensão da verdadeira importância do latim para o mundo ocidental.
Conseqüentemente, embora o curso ensine o latim clássico, as seções de dēliciae
Latīnae levam os estudantes pelo mundo do latim pré-clássico, pós-clássico, medieval e
da Vulgata, e exploram a influência do latim no vocabulário português hoje.

Metodologia

Quem já usou o Reading Greek está familiarizado com a metodologia que


propomos. São dois volumes: Texto e Gramática, vocabulário e exercícios (GVE).
Primeiro passo: com a ajuda dos vocabulários do GVE, ou conduzido pelo
professor, o aluno lê e traduz o texto latino da seção (no volume Texto). Durante a
tradução, o professor deve extrair do texto e formalizar no quadro apenas a gramática
que está definida para ser ensinada naquela seção (se o professor desejar, isso pode ser

1
JOINT ASSOCIATION OF CLASSICAL TEACHERS. Reading Greek. Cambridge: Cambridge
University Press, 1978.
2
Para tornar o texto mais adequado ao público brasileiro, substituímos, quando possível, as referências à
língua inglesa por menções à língua portuguesa. Da mesma forma, informações sobre a presença do latim
no inglês e na cultura inglesa em geral foram substituídas por (ou acompanhadas de) outras relativas ao
português e ao mundo lusófono.
  4  

feito, é claro, antes de se abordar o texto, mas nossa experiência sugere que é muito
melhor deixar os estudantes tentarem ver sozinhos, sob a orientação do professor, como
os novos elementos gramaticais funcionam.
Segundo passo: quando isso terminar, os estudantes devem memorizar
completamente a parte do vocabulário intitulada Memoranda.
Terceiro passo: a gramática da seção deve ser revisada e aprendida
completamente a partir do GVE, e deve-se fazer uma parte selecionada dos exercícios. É
extremamente importante observar que o exercício deve ser encarado como uma gama
de opções: a partir dela os professores/estudantes devem escolher quais exercícios
serão feitos, e quais serão feitos em sala de aula ou em casa. Alguns dos exercícios
mais simples, nós já os dividimos em seções obrigatórias e opcionais, mas o princípio
deve ser seguido para todos eles. A maior parte dos exercícios deve ser feita e corrigida
fora de sala (isso economiza muito tempo),3 mas os Exercícios de leitura devem ser
feitos oralmente, e os estudantes devem ser encorajados a explicar em voz alta como
analisam uma frase à medida que a lêem. Com o tempo, deve-se passar a utilizar essa
técnica na leitura do Texto.
Quarto passo: use quantas dēliciae Latīnae o tempo permitir ou seu gosto
pessoal estipular.
Quinto passo: passe para a próxima seção do Texto, e repita a operação acima.

Nota para estudantes de latim medieval

Como o latim clássico é a base sobre a qual o latim medieval se desenvolveu e


para a qual os escritores medievais constatemente se voltavam, é essencial começar os
estudos de latim com o clássico. As seções de dēliciae Latīnae oferecem bastante
contato com latim mais tardio, especialmente a Vulgata (provavelmente o texto latino
mais importante já escrito). Você deve ter como meta entrar na Seção 5 de Lendo em
Latim, e de preferência completá-la, antes de passar para o Reading medieval Latin.4
Trata-se de um só volume contendo seleções de textos latinos, em ordem cronológica,
do início do latim cristão até o século XII, com comentários sobre as mudanças culturais
e lingüísticas de cada época. Os textos são acompanhados de vocabulário e, no fim do
volume, de uma pequena gramática e um vocabulário geral.

NOTAS

1. Todas as datas são a.C., exceto onde indicado.


2. Sinais de ligação são usados ao longo de todo o texto para indicar que
determinadas palavras devem ser tomadas em conjunto. Palavras adjacentes
são conectadas pelo sinal ^. Palavras que estão afastadas uma da outra são
conectadas pelos sinais .
3. Todas as vogais devem ser pronunciadas como breves, a não ser que estejam ale 26/6/09 11:50
Comment: não encontrei nada parecido com o que
marcadas com um mácron (e.g. ē), caso em que devem ser pronunciadas está impresso no original... sugestões?
como longas (ver guia de pronúncia na p. xiv do volume Gramática,
vocabulário e exercícios). ale 26/6/09 11:50
Comment: lembrete para revisão final: número de
página a definir
3
Estamos investigando a possibilidade de criar um programa de computador contendo os exercícios e um
sistema de autocorreção. Isso pouparia ainda mais tempo para o professor com um calendário apertado.
4
SIDWELL, K. Reading medieval Latin. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. Quando da
publicação do original de Lendo em latim (em 1986), o livro sobre latim medieval era apenas um plano.
Quando veio à luz, tinha uma estrutura diferente da exposta na introdução de Lendo em latim. A descrição
que trazemos aqui corresponde à do livro realmente publicado.
  5  

MAPAS

Nomes de lugares e localizações de tribos mencionadas no texto latino ou nas


introduções em português encontram-se em um ou mais dos mapas listados abaixo.

1. O mundo romano (c. 44 a.C.) p. x


2. Ásia Menor e o Oriente p. xi OEM 26/6/09 11:50
Comment: também aqui, nas datas desta lista, é
3. Grécia p. xii preciso fazer revisão posterior quanto aos números
4. A província da Sicília p. 64 das páginas
5. Catilina: a fase final p. 113
6. A batalha de Pharsalus (48 a.C.) pp. 136-7
  6  

História da língua latina5

A língua latina pertence à família indo-europeia, mais precisamente ao ramo


latino-falisco do grupo itálico, que corresponderia aos primeiros povos que chegaram à
península Itálica (aproximadamente no ano 1000 a. C.). O latim era a língua falada no
antigo Lácio, região cujo centro é a cidade de Roma (fundada no séc. VIII a. C.). Com o
tempo os romanos se impuseram aos outros povos da Itália. Em 250 a. C., concluiu-se a
conquista da península (com exceção das colônias gregas no sul) e da Sicília. Como é
sabido, a expansão do poderio militar romano se fez acompanhar da propagação do
latim e do desaparecimento de outros idiomas (o último testemunho de outra língua
itálica é a Tabula Bantina, escrita em osco e datada do séc. I a. C.). O mesmo ocorreu,
posteriormente, em diversas regiões da Europa e do Mediterrâneo em geral.
A história do latim pode ser dividida, na Antiguidade, em cinco fases:

- época pré-literária;
- época arcaica;
- época clássica;
- época imperial pós-clássica;
- época imperial tardia.

Durante a época pré-literária a língua se modificou bastante. Assim, segundo


Políbio (III, 22, 3), no séc. II a. C. os próprios romanos não conseguiam compreender
facilmente os documentos mais antigos. Um exemplo dessa mudança é a transformação
do s intervocálico em r (cf. o genitivo de genus ‘gênero’, que passa de genesis a
generis). Esse fenômeno, chamado “rotacismo”, já estava concluído em meados do séc.
IV a. C. Também é importante a modificação do sistema de acentos: durante os séculos
VI-V a. C., o acento se liga à primeira sílaba da palavra; mais tarde, ele se desloca para
a penúltima sílaba, se esta é longa, ou para a antepenúltima, se a penúltima é breve (ver
“Elementos fundamentais da pronúncia do latim”).
No período arcaico os ditongos tendem a desaparecer e se transformar em vogais
longas (ei, por exemplo, passa a i — ceiuis > ciuis ‘cidadão’). No campo da sintaxe,
intensifica-se o uso da subordinação, que vai substituir o antigo predomínio da
justaposição de orações independentes. Escritores importantes desse período são Lívio
Andronico, Ênio, Plauto e Terêncio, entre outros.
A partir do séc. I a. C. se inicia a época clássica, assim chamada por causa da
concepção tradicional que enxerga na literatura desse período uma superioridade em
relação à das outras fases da cultura romana. Há também, entre os estudiosos mais
antigos, uma tendência a entender a língua da época como “melhor”, mais “precisa” ou
mais “pura”. Depois do final do período clássico (geralmente datado em 14 d. C., ano da
morte de Augusto), teríamos, então, uma “decadência” do latim.
O fato é que o período assistiu ao nascimento de muitos escritores que,
posteriormente, teriam uma influência muito grande sobre a literatura ocidental: Catulo,
Lucrécio, Cícero, César, Virgílio, Horácio, Tibulo, Tito-Lívio etc. O fascínio exercido
sobre os intelectuais pela “época de ouro” será tanto que a morfologia do latim clássico
será a norma seguida pelos gramáticos até o século VI d. C. Embora várias tendências
de mudança observadas na fase arcaica tornem-se mais intensas, a língua clássica é, em

5
N. do T.: Elaborado por Alessandro Rolim de Moura e María Pilar Rivero.
  7  

geral, bastante conservadora.6 Por exemplo, o m final se mantém, sendo que há indícios
de que já não era mais pronunciado como consoante bilabial; tinha-se transformado em
mera nasalização da vogal precedente (cf. “Alfabeto e pronúncia do latim”). Outra
característica do período é a influência do grego na língua escrita culta, facilmente
perceptível na linguagem de Cícero e César.
 Durante o Império, a prosa adota alguns procedimentos típicos da poesia, e
esta, por sua vez, se vê influenciada pela retórica. Entre o final do séc. I e princípios do
II d. C., aparece uma tendência arcaizante, que procura manipular artisticamente
vocábulos antigos. Outro fenômeno frequente é a aparicão de alguns elementos da fala
popular nos textos literários, se bem que na primeira fase do Império já podemos
observar uma distância cada vez maior entre a linguagem escrita e a falada. O que
ocorre é que, enquanto o chamado "latim vulgar" evolui rapidamente, a língua escrita
continua bastante presa aos modelos clássicos. A época imperial também possui
escritores muito importantes. Os nomes de Sêneca, Lucano, Petrônio, Plínio o Antigo,
Plínio o Novo, Marcial, Juvenal, Suetônio e Apuleio são apenas uma pequena amostra
da diversidade e riqueza da produção literária de então (isso sem considerar os
primeiros autores cristãos).
Na Idade Média, o latim continuou a ser utilizado como língua falada nos
territórios onde a romanização tinha sido mais profunda (Hispânia, Gália e Dácia),
dando origem às línguas neolatinas (português, espanhol, galego, catalão, francês,
italiano, sardo, romeno etc.). O latim escrito permaneceu como língua da ciência, da
filosofia e da literatura durante toda a época medieval. A língua latina dessa época é o
meio de expressão da cristandade, e portanto é fundamentalmente religiosa. Embora se
origine do latim literário pagão, a variedade medieval é bastante diferente: a ordem dos
termos na frase torna-se mais fixa, e são abandonados alguns tipos de subordinação;
também se produzem mudanças no uso dos casos e do modo subjuntivo, ao passo que
se faz mais frequente a utilização de preposições.

Alfabeto e pronúncia do latim7

Introdução

Como o latim é uma língua morta, é uma tarefa difícil descobrir como os
romanos pronunciavam suas palavras. Por isso, no decorrer dos séculos, praticamente
cada país desenvolveu uma pronúncia diferente, sempre influenciada pelas
características de uma língua moderna. Há, por exemplo, uma pronúncia tradicional
portuguesa, que interpreta as letras do alfabeto latino de uma maneira muito semelhante
à do português. Por outro lado, existe a pronúncia eclesiástica, utilizada pela Igreja
Católica. É uma pronúncia muito difundida, e se baseia no sistema fonético do italiano.
Com o desenvolvimento da Linguística no final do séc. XIX e no início do séc.
XX, contudo, os foneticistas começaram a tentar reconstruir a pronúncia que de fato foi
utilizada pelos latinos da Antiguidade, sobretudo os da época clássica. Surgiu desse
modo a chamada “pronúncia reconstituída”, “restaurada” ou “reconstruída”. Mas como
os estudiosos puderam chegar a tal resultado?
Vários são os dados que permitem que nos aproximemos do latim falado na
época clássica. Relacionemos alguns exemplos.
6
Que fique claro que estamos considerando, nesse panorama, sobretudo o latim escrito (mais
especificamente, o latim escrito das obras literárias e, portanto, das classes dominantes de Roma). Temos
pouquíssimos documentos a respeito do latim oral e das variedades menos prestigiadas socialmente.
7
Elaborado por Alessandro Rolim de Moura.
  8  

a) Um testemunho importante é o fornecido pelas gramáticas latinas da


Antiguidade, que tentam explicar (muitas vezes, com termos que são para nós um tanto
vagos) como se pronunciavam as letras do alfabeto. O gramático Capela, por exemplo,
afirma: “Pronunciamos o b com uma explosão do som com os lábios fechados.”

b) Outro dado fundamental é a transliteração de palavras latinas para o alfabeto


grego. O nome próprio Sicilia era transliterado Sikeliva, e não Siseliva, o que indica
que a letra C c representava uma consoante oclusiva velar, mesmo diante de I i ou E e
(ver “As letras e os sons que representam”).

c) Também erros de ortografia nas inscrições antigas nos revelam determinados


aspectos da pronúncia do latim. Muitas vezes encontra-se Caisar no lugar de Caesar, o
que é um indício de que o ae representava o ditongo [aj]. É um fenômeno semelhante
àquele que faz com que frequentemente encontremos em português a grafia ‘caza’ em
vez de ‘casa’.

d) A análise da métrica dos poemas latinos é igualmente reveladora. Neste verso


de Catulo (VIII, 5): amata nobis quantum amabitur nulla ‘[menina] amada por nós
como nenhuma outra será amada’, a escansão só fica de acordo com o padrão esperado
se, em quantum amabitur, contamos as sílabas -tum e a- como apenas uma sílaba
métrica. Em outras palavras, na leitura ou recitação do verso, precisamos, para seguir
adequadamente o ritmo, pronunciar -tum e a- numa só sílaba, como que fundindo as
vogais [u] e [a]. Isso só será possível se a letra M m, nesse contexto, não for
pronunciada como [m], mas sim como mero sinal de nasalização (ver “As letras e os
sons que representam”).

e) É considerável a quantidade de informações que nos traz o estudo da


pronúncia das línguas derivadas do latim. Por exemplo: lat. nomen > port. ‘nome’, esp.
‘nombre’, fr. ‘nom’, it ‘nome’, rom. ‘nome’. O resultado da evolução nas línguas
neolatinas nos fornece uma visão do que pode ter sido o estado de coisas no ponto de
partida.

Dados desse tipo, bem como informações de outra natureza, é que possibilitaram
a restauração dos sons do latim. Obviamente, a pronúncia reconstituída é apenas uma
hipótese. Mas está fundamentada em testemunhos convincentes, e não se podem
desprezar os estudos que a originaram. Ao que tudo indica, portanto, trata-se da
pronúncia mais próxima da verdade histórica, e, por isso, vamos adotá-la. E tal
posicionamento não é apenas o resultado de um culto ao rigor científico. Ora, se a
poesia se baseia também no trabalho com o estrato fonético da língua, é legítimo o
esforço para se recuperar a sonoridade autêntica dos poemas latinos, a fim de que
possamos ler adequadamente as obras de autores como Virgílio, Horácio, Catulo etc.
Ademais, é preciso estabelecer uma convenção entre os estudiosos de todo o mundo,
para que haja entendimento mútuo, coisa que não ocorria quando cada país utilizava sua
própria pronúncia. E é justo que tal convenção seja construída sobre bases científicas
sólidas. Atualmente, nos congressos internacionais, praticamente todos os latinistas
usam a pronúncia reconstituída.
  9  

Elementos fundamentais da pronúncia do latim

Um dos fenômenos fonéticos mais relevantes na língua latina é a duração ou


quantidade. Corresponde ao tempo que dispendemos para proferir as vogais e sílabas.
Há vogais longas e breves, e a mesma classificação é utilizada para as sílabas. Uma
vogal longa equivale ao tempo de duas breves.
A duração tem uma grande importância semântica no latim. Há uma série de
palavras que se diferenciam apenas pela quantidade da vogal. Exs.:

ara (os dois aa longos) ‘lavra!’ x ara (os dois aa breves) ‘altar’;
uenit (e breve) ‘ele/ela vem’ x uenit (e longo) ‘ele/ela veio’;
hic (i longo) ‘aqui’ x hic (i breve) ‘este’;
os (o longo) ‘boca’ x os (o breve) ‘osso’;
domus (u breve) ‘casa’ x domus (u longo) ‘da casa’.

Uma sílaba é longa quando: (a) possui uma vogal longa; (b) possui um ditongo,
como em casae ‘cabanas’; (c) possui uma vogal seguida de duas consoantes (uma
fechando a sílaba em questão e a outra iniciando a sílaba seguinte) ou de uma letra
“dupla” (X x ou Z z), como em adulescens ‘adolescente’ e senex ‘velho’,
respectivamente. Nos demais casos, as sílabas são breves.
A duração das sílabas é importante para a leitura da poesia clássica, já que o
ritmo do verso latino é marcado pela alternância de sílabas longas e breves.
Os métodos de latim costumam marcar as sílabas longas com o sinal ¯ (mácron)
e as breves com ˘ (braquia), embora esses símbolos não fossem utilizados pelos antigos
usuários da língua. Aos poucos, o estudante se familiariza com os modos de se descobrir
a duração das sílabas em latim, e pode, então, dispensar o auxílio do mácron e da
braquia.
Em latim não há acentuação gráfica. Para saber qual é a sílaba acentuada de uma
palavra, é preciso conhecer a duração da penúltima sílaba. Não há oxítonas em latim,
apenas paroxítonas e proparoxítonas. Quando a penúltima sílaba é longa, o acento cai
sobre ela, e a palavra é paroxítona. Quando a penúltima é breve, o acento recua, e a
palavra é proparoxítona. Exemplos: amāre ‘amar’ (penúltima sílaba longa) pronuncia-se
amáre; facĕre ‘fazer’ (penúltima sílaba breve) pronuncia-se fácere. Como não existem
oxítonas, todas as palavras de duas sílabas são paroxítonas.
Há uma dúvida a respeito da natureza desse acento. Alguns estudiosos defendem
que era um acento de intensidade (ou seja, algumas sílabas seriam pronunciadas com
mais força do que outras). Outros pensam que o acento latino era musical, como o do
grego antigo (nesse caso, algumas sílabas seriam pronunciadas num tom mais alto).
Em seguida apresentamos um quadro que mostra como é a pronúncia
reconstituída.

As letras e os sons que representam

A a: quando é breve, pronuncia-se [a], como em port.; o a longo [a:] é semelhante ao do


ingl. ‘father’

B b: [b], como no port. ‘bota’

C c: sempre [k], como no port. ‘capa’; nunca [s], como no port. ‘cedo’
  10  

D d: [d], como no port. ‘data’ e no ingl. ‘day’; nunca como no ingl. ‘just’

E e: o breve é aberto [ɛ], como no port ‘pé’; o longo é fechado [e:] — pronuncia-se
quase como o fr. ‘fiancée’

F f: [f], como no port. ‘fazer’

G g: sempre [g], como no port. ‘gato’; nunca como no port. ‘gelo’

H h: indica leve aspiração, quase como no ingl. ‘home’

I i: pode representar uma vogal breve [i], como a do port. ‘vi’, ou uma longa [i:], como
no ingl. ‘deep’

J j: [j] — semivogal, como no ingl. ‘yes’

K k: [k], como no ingl. ‘kind’

L l: sempre [l], como no port. ‘lado’; nunca representa a semivogal [w], como muitas
vezes ocorre em port. — ex.: ‘Brasil’

M m: [m] no começo ou no meio das palavras, como em ‘mudo’; em final de palavra, é


articulado de modo débil, representando apenas, praticamente, uma nasalização da
vogal que o precede

N n: sempre [n], como no port. ‘neto’; nunca apenas sinal de nasalização de uma vogal

O o: o breve é aberto [ɔ] — cf. port. ‘pó’; o longo é fechado [o:] — cf. fr. ‘eau’

P p: [p], como no port. ‘pato’

Q q: [k], como no port.

R r: sempre [r], isto é, uma vibrante rolada, como no port. do Sul do Brasil e no
escocês

S s: sempre [s], como no port. ‘soma’

T t: sempre [t], como no port. ‘tudo’; nunca africado como no it. ‘ciao’

U u: representa uma vogal breve [u] ou uma vogal longa [u:], como no ingl. ‘foot’

V v: [w] — semivogal, como no port. ‘quase’ e no ingl. ‘will’

X x: [ks], como no ingl. ‘explain’

Y y: [y], como o fr. ‘mur’ e o al. ‘über’

Z z: [z], como em port.


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Observações e casos especiais

1. O alfabeto latino antigo não possuía as letras J j, U u e V v. Elas foram


introduzidas apenas no século XVI. Na época clássica, a letra I i servia para representar
os sons [i], [i:] (vogais — como em canis ‘cão’ e loci ‘lugares’, respectivamente) e [j]
(semivogal — como em iudex ‘juiz’). Havia também a letra V u, que era usada para os
sons [u], [u:] (vogais — como em locus ‘lugar’ e ducis ‘você conduz’, respectivamente)
e [w] (semivogal — como em uideo ‘eu vejo’).
No Renascimento, adotou-se o J j para os contextos em que a semivogal [j]
tinha-se transformado na consoante [ʒ] (como no port. ‘jogo’). Do mesmo modo, o V v
foi incorporado para a representação de [v] (como no port. ‘vaca’), som inexistente no
latim clássico. O U u passou a ser usado para os sons vocálicos [u] e [w].
Com o surgimento recente da pronúncia reconstituída ou restaurada, muitos
métodos de latim e edições dos textos latinos decidiram voltar a usar o alfabeto antigo.
Portanto, nesse tipo de material, o I i e o V u só representam sons vocálicos.

2. O Y y e o Z z foram introduzidos no alfabeto no fim do século I a. C. para


representar os sons [y] e [z] em palavras de origem grega.

3. No período clássico, o H h era pronunciado com aspiração pelos membros da


classe que tinha acesso a uma formação erudita. Quando aparecia acompanhando uma
consoante (th, ch, ph), fazia com que esta fosse pronunciada com leve aspiração, como
na pronúncia enfática do ingl. ‘terrible’, ‘cat’ e ‘pig’. O ch nunca se pronuncia como em
português (ex.: ‘chama’).

4. Na pronúncia reconstituída, ae e oe (às vezes grafados æ e œ) pronunciam-se


como ditongos — [aj] e [ɔj].

5. Ao contrário do que ocorre em português, o U u é sempre pronunciado depois


de Q q e G g. Ex.: quid [kwid] ‘que’.

6. As consoantes duplas (pp, tt etc.) pronunciam-se mais longas e fortes que as


simples.

7. Os nomes das letras em latim eram: a, be, ce, de, e, ef, ge, ha, i, ka, el, em, en,
o, pe, qu, er, es, te, u, ix, upsilon (ou Hy, ou i graeca), zeta.
  12  

Introdução

Gregos e romanos

De acordo com a tradição, Roma foi fundada por Rômulo em 21 de abril de 753.
Ele foi o primeiro de sete reis. Em 509, o último rei (Tarquinius Superbus — “Tarquínio
o Orgulhoso”) foi expulso, e se iniciou a República. Considerava-se esse momento o
começo da era da liberdade (lībertās). Durante esse período de governo aristocrático,
Roma estendeu seu domínio, primeiro, pela Itália; então, até o Mediterrâneo ocidental
— Sicília, Espanha, norte da África (Cartago); e, finalmente, até o Mediterrâneo
oriental. Desde o início Roma tinha estado em contato com a cultura grega, pois
colônias gregas haviam sido estabelecidas na Itália e na Sicília já no século VII. Ao
norte de Roma estava outra cultura desenvolvida, a dos etruscos. A cultura de Roma se
desenvolveu sob a influência conjunta de ambas. Quando os romanos finalmente
conquistaram a Grécia, em 146, tornaram-se senhores do lar da cultura mais prestigiada
no Mediterrâneo. A reação dos Romanos foi muito complexa, mas nela podem-se notar
três elementos principais. Eles ficaram orgulhosos de seu feito militar e administrativo,
e portanto desprezavam os Gregos contemporâneos, que eles haviam derrotado. Ao
mesmo tempo, eles compartilhavam da reverência dos gregos contemporâneos pelas
grandes realizações culturais dos Gregos mais antigos — Homero, Heródoto, Tucídides,
os tragediógrafos, poetas cômicos e oradores. O resultado dessa atitude ambivalente foi
uma decisão mais ou menos consciente de criar para eles próprios uma cultura digna da
sua posição como nova superpotência. Tal cultura tomava como modelo e emulava a da
Grécia no seu apogeu. Mas o amor-próprio dos romanos garantiu que essa cultura fosse
latina, e sua literatura fosse escrita em latim, não grego. As famosas palavras de Horácio
ilustram a dívida de Roma para com a cultura grega:

Graecia capta ferum uictōrem cēpit, et artīs


intulit agrestī Latiō

“A Grécia, capturada, capturou seu feroz conquistador, e as artes


introduziu no agreste Lácio”

Por outro lado, o poeta Propércio, um contemporâneo de Virgílio, descreve a


Eneida nos seguintes termos:

Nescioquid maius nāscitur Īliade

“Está nascendo algo de maior que a Ilíada”

Agora os romanos sentiam que sua cultura podia ser comparada com o melhor
da dos gregos. Essa veneração pelos gregos contrasta fortemente, por exemplo, com os
constantes ataques que o poeta satírico romano Juvenal dirige ao Graeculus ēsuriēns
(“greguinho esfomeado”) de sua época, o que refletia o desprezo aristocrático pelos
gregos “modernos” enquanto descendentes degenerados de um povo que fora outrora
grande. Em todos os períodos, todavia, certos gregos (e.g. Políbio, Posidônio, Partênio,
Filodemo) foram tidos em alta conta em Roma. No final do século I, Roma tinha-se
tornado o centro cultural do mundo, aos olhos não apenas dos romanos, mas também
dos gregos, cujos poetas, estudiosos e filósofos agora para lá afluíam. Parte da grandeza
de Roma é o fato de que, quando confrontados com a cultura grega, os romanos nem
  13  

cederam completamente, nem a pisotearam, mas aceitaram o desafio, assumiram o


controle sobre ela, transformaram-na e a transmitiram à Europa. Sem a mediação de
Roma, nossa cultura seria muito diferente e, provavelmente, muito mais pobre.
Na passagem abaixo, Cícero, um dos escritores mais influentes de Roma, lembra
seu irmão Quinto (que era governador da Ásia Menor, uma província romana
densamente povoada por gregos) sobre que tipo de pessoas ele tinha autoridade e o que
Roma devia a elas:

já que estamos governando uma espécie de homens que são, não apenas
civilizados, mas também homens que considera-se terem passado a civilização
para outros, certamente devemos dar os benefícios desta, acima de tudo, àqueles
de quem a recebemos. De fato, já não me envergonharei de dizê-lo,
especialmente porque sobre minha vida e meus feitos não pode existir nenhuma
suspeita de indolência ou frivolidade: tudo o que consegui obtive com os
estudos e artes que nos foram transmitidos pela literatura e pelas disciplinas da
Grécia. Por isso, além da lealdade comum que devemos a todos os povos,
parece-me que temos um dever especial para com essa espécie de homens:
instruídos por seus preceitos, desejar expor diante deles o que deles
aprendemos.

(Cícero, Ad Quintum 1.1.27-8)


  14  

PRIMEIRA PARTE
Seções 1-3: Plauto e a tradição cômica romana

Plauto

Titus Macc(i)us Plautus viveu provavelmente de c. 250 a c. 180. Diz-se que ele
escreveu cerca de 130 comédias, das quais sobreviveram 19. Como quase todos os
escritores romanos, ele buscou inspiração para sua obra em modelos gregos anteriores,
que ele traduziu e adaptou livremente a fim de adequá-los ao público romano para o
qual estava escrevendo. Por exemplo, é quase certo que ele baseou sua Aululāria, a
primeira peça que você vai ler, numa peça do ateniense Menandro (c. 340-c. 290), e sua
Bacchidēs no Dis exapatōn (“Duas vezes enganador”), também de Menandro. Plauto
escrevia comédias para serem apresentadas em festivais romanos (fēriae, lūdī),
momentos devotados à adoração dos deuses e à folga do trabalho. Os originais foram
escritos em verso.
Os atores nos originais gregos usavam máscaras que cobriam toda a cabeça.
Embora não seja absolutamente certo que Plauto seguia essa convenção, nós ilustramos
as personagens plautinas na Introdução com modelos de máscaras gregas
aproximadamente do tempo de Menandro. Você vai encontrar notas sobre essas
máscaras e sobre as outras ilustrações na p. 154.
ale 26/6/09 11:49
Comment: atentar para o número da página na
A Aululāria de Plauto: uma nota versão final

A Aululāria começa com a entrada em cena do Lar familiar (deus do lar),


que delineia um breve resumo da história da família e nos alerta para a avareza de
Euclião. Para fins de adaptação, nós aumentamos essa breve história familiar com várias
cenas retiradas de outras passagens cômicas romanas. Nós começamos a seguir Plauto
na Seção 1C.
  15  

Seção 1

A Aululāria de Plauto
Introdução: familia Eucliōnis

quis es tū?
ego sum Eucliō. senex sum.

quis es tū?
ego sum Phaedra. fīlia Eucliōnis sum.

quis es tū?
Staphyla sum, serua Eucliōnis.

quī estis?
familia Eucliōnis sumus.

drāmatis persōnae

Eucliō: Eucliō senex est, pater^Phaedrae.8

Phaedra: Phaedra fīlia^Eucliōnis est.

Staphyla: serua^Eucliōnis est.

Eucliō senex est. Eucliō senex auārus est. Eucliō in^aedibus habitat
cum^fīliā. fīlia^Eucliōnis Phaedra est. est et serua in^aedibus. 5
seruae^nōmen est Staphyla.
Eucliōnis^familia in^aedibus habitat. sunt in^familiā^Eucliōnis
paterfamilias, et Phaedra fīlia^Eucliōnis, et Staphyla serua. omnēs
in^aedibus habitant.

Vocabulário da Introdução

aedēs casa filia filha quis quem? (sing.)


auārus avaro, avarento fīlia Euclionis a filha de Euclião senex ancião, velho
cum filiā com a (sua) filha habitant eles vivem, habitam serua escrava
ego eu habitat ele(a) vive, habita serua Eucliōnis (a) escrava de
es você é in aedibus na casa Euclião
est ele(a) é, há in familiā Euclionis na seruae nōmen o nome da escrava
estis vocês são família de Euclião Staphyla Estáfila
et e; também omnēs todos sum sou
Eucliō Euclião paterfamiliās o pai de família sumus somos
Eucliōnis de Euclião pater Phaedrae o pai de Fedra sunt eles(as) são, estão, há (pl.)
Eucliōnis familia a família de Phaedra Fedra tū você
Euclião Phaedrae de Fedra
familia família quī quem? (pl.)

8
Palavras unidas pelo sinal ^ devem ser procuradas juntas no vocabulário.
  16  

Phaedr-a Fedra sum ser, estar, haver


Memoranda seru-a escrava
Staphyl-a Estáfila Outros
Substantivos et e; também, até mesmo
Eucliō Euclião Verbos
famili-a família habit-ō viver, habitar
fili-a filha

Conteúdo gramatical e exercícios

1 sum ‘ser’, ‘estar’, ‘haver’

Primeira pessoa do singular (1ps) su-m ‘sou, estou’


Segunda pessoa do singular (2ps) es9 ‘és, estás’
Terceira pessoa do singular (3ps) es-t ‘é, está’
Primeira pessoa do plural (1pp) su-mus ‘somos, estamos’
Segunda pessoa do plural (2pp) es-tis ‘vocês estão’
Terceira pessoa do plural (3pp) su-nt ‘eles/elas são/estão’

Notas
1 sum é o verbo mais comum do latim.
2 Não é necessária a presença do pronome pessoal em latim. Isso se dá basicamente
porque a marcação morfológica do verbo indica a pessoa do sujeito (como
também ocorre em português). As desinências número-pessoais que indicam as
pessoas (em uma grande quantidade de formas verbais) são as seguintes:

-m ‘eu’10
-s ‘você’
-t ‘ele/ela’
-mus ‘nós’
-tis ‘vocês’
-nt ‘eles/elas’

3 O verbo sum é irregular porque, como se pode observar, é formado com dois
radicais, que se alternam dependendo da pessoa gramatical: su- e es-. Se puder
servir de consolo, todos os verbos que significam “ser/estar” são irregulares, cf. o
mesmo verbo português ‘sou’, ‘és’, o inglês ‘I am’, ‘he is’, o francês ‘je suis’, ‘tu
es’ etc.
4 Nas terceiras pessoas, est e sunt só significam “é” ou “são” se os sujeitos estiverem
explicitados, como, por exemplo, senex est = “ele é um velho”, Eucliō senex est =
“Euclião é um velho”, seruae sunt = “elas são escravas”, omnēs seruae sunt =
“todas são escravas”.
5 Note os seguintes pontos sobre a ordem das palavras nas orações com o verbo sum:
(a) Quando sujeito e somplemento estiverem presentes:
(i) a ordem não-marcada é: sujeito complemento sum, e.g.,
Eucliō senex est “Euclião é um velho”

9
Na realidade, es-s
10
Em outros verbos, -ō = ‘eu’.
  17  

(ii) outras ordens colocam a ênfase na primeira palavra, e.g.,


senex est Euliō (complemento sum sujeito)
senex Eucliō est (complemento sujeito sum)
Ambas significam “um velho, isso é que Euclião é.”

NB: A ordem “sujeito sum complemento” coloca ênfase no sujeito.

(iii) O verbo sum pode vir na primeira posição, e, então, será enfático. Ex
est enim Eucliō auārus (sum sujeito complemento)
“Pois Euclião é (de fato), um avarento.”

(b) Quando o sujeito não estiver explicitado em latim, a ordem usual é:


complemento sum, e.g.,
Staphyla est. “É Estáfila”.

(c) est/sunt no início de uma oração comumente indica a existência de alguma


coisa, e são melhor traduzidos pelo verbo haver, e.g.,
est locus... “Há um lugar...”

Nesse tipo de oração, informação adicional será esperada, e.g., “há um lugar
onde as rosas crescem”, “há pessoas que gostam de latim”.

NB Em (a) (i) e (ii) e em (b), observe como a ordem complemento + sum


normalmente forma o conjunto do predicado, e.g.,

Eucliō senex-est
senex-est Eucliō

Há maior probabilidade de o verbo sum ligar-se à palavra que o precede, exceto


quando a ordem tiver sido alterada para ênfase especial (como em, e.g.,
senex Eucliō est).

Morfologia

1 Verta para o latim: você é, eles são, há (pl.), ele é, vocês são, há (sing.), sou, ela é.

2 Mude do singular para plural e vice-versa: sum, sunt, estis, est, sumus, es.

Exercício de leitura

Leia e traduza:

(a) familia est.


(b) serua Staphyla est.
(c) est enim aula auri plena (enim ‘realmente’; aula ‘panela’, ‘pote’; auri plena ‘cheia
de ouro’).
(d) coquus est seruus (coquus ‘cozinheiro’; seruus ‘escravo’).
(e) Phaedra filia est.
(f) in aedibus sunt Euclio, Phaedra et serua (in aedibus ‘na casa’).
  18  

(g) auarus est senex (auarus ‘avaro’; senex ‘velho’).


(h) est prope flumen paruus ager (prope flumen ‘perto do rio’; paruus ‘pequeno’; ager
‘campo’).

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Depois verta as portuguesas para o latim
tomando como referência a estrutura das latinas para a ordem das palavras.

(a) sunt in familia Euclio, Phaedra, Staphyla.


Há na casa uma escrava.

(b) Euclio et Phaedra in aedibus sunt.


A escrava está na casa.

(c) Euclio sum.


Você é um escravo.

(d) filia Euclionis Phaedra est.


A escrava de Euclião é Estáfila.

(e) quis es?


Sou Euclião.

(f) qui estis?


Somos Euclião e Fedra.
  19  

Seção 1A

A ação retrocede no tempo vários anos. O avô de Euclião, Demêneto, no dia do


casamento de sua filha, temendo que seu ouro seja roubado durante a confusão dos
preparativos, confia seu tesouro aos cuidados do deus doméstico (o Lar). Coloca todo o
ouro numa panela e a esconde num buraco junto ao altar.

dramātis persōnae

Dēmaenetus: Dēmaenetus senex est, Eucliōnis^auus. 10


seruus: seruī^nōmen est Dāuus.
serua: seruae^nōmen est Pamphila.
coquus et tībīcina.

(seruus in^scaenam intrat. ante^iānuam^Dēmaenetī stat et clāmat. cūr clāmat? clāmat


quod seruam uocat) 15

SERVVS: heus, Pamphila! ego Dāuus tē uocō!


SERVA: quis mē uocat? quis clāmat?
SERVVS: ego Dāuus tē uocō.
SERVA: quid est? cūr mē uocās?

(seruus ad^iānuam appropinquat, sed iānua clausa est. seruus igitur iānuam 20
pulsat)

SERVVS: heus tū, serua! ego iānuam pulsō, at tū nōn aperīs: iānua
clausa est.
SERVA: (iānuam aperit) cūr clāmās? ego hūc et illūc cursitō, tū autem
clāmās. ego occupāta sum, tū autem ōtiōsus es. seruus nōn es, 25
sed furcifer.
SERVVS: ego ōtiōsus nōn sum, Pamphila. nam hodiē Dēmaenetus,
dominus meus, fīliam in^mātrimōnium^dat: nūptiae^fīliae
sunt!

(Dēmaenetus, dominus^serui^et^seruae, in^scaenam intrat) 30

DĒMAENETVS: cūr clāmātis, Dāue et Pamphila? cūr stātis? cūr ōtiōsī


estis? nam hodiē nūptiae^fīliae^meae sunt. cūr nōn in^aedīs
intrātis et nūptiās parātis?

(in^aedīs intrant seruus et serua, et nūptiās parant. in^scaenam intrant coquus et tībīcina.
Dēmaenetus coquum et tībīcinam uidet) 35

DĒM: heus uōs, quī estis? ego enim uōs nōn cognōuī.
COQVVS ET TĪBĪCINA: coquus et tībīcina sumus.
ad^nūptiās^fīliae^tuae uenīmus.
DĒM: cūr nōn in aedīs meās intrātis et nūptiās parātis?

(coquus et tībīcina in^aedīs^Dēmaenetī intrant) 40


  20  

(Dēmaenetus corōnam et unguentum portat. aulam quoque portat. aula


aurī^plēna est)

DEM: heu! hodiē nūptiās^fīliae^meae parō. cūncta familia festīnat.


hūc et illūc cursitant puerī et puellae, ego coquōs et tībīcinās
uocō. nunc aedēs plēnae sunt coquōrum^et^tībīcinārum, et 45
cūnctī coquī et tībīcinae fūrēs sunt. heu! homo perditus sum,
immō, perditissimus hominum. nam aulam habeō
aurī^plēnam. ecce! aulam portō. (senex aulam mōnstrat) nunc
aulam sub^ueste cēlō. nam ualdē timeō. (Cheira o ar) aurum
enim olet; et fūrēs aurum olfactant. aurum autem nōn olet, sī 50
sub^terrā latet. sī aurum sub^terrā latet, nūllum coquum
nūllam tībīcinam nūllum fūrem timeō. aulam igitur clam
sub^terrā cēlō. ecquis mē spectat?

(Dēmaenetus circumspectat. nēmo adest. Dēmaenetus igitur nēminem uidet)

bene. sōlus sum. sed prius ad^Larem appropinquō et 55


unguentum corōnamque dō, et supplicō.

(ad^Larem appropinquat. unguentum dat et corōnam. deinde Larī supplicat)

ō Lar, tūtēla^meae^familiae, tē ōrō et obsecrō. ego tē semper


corōnō, semper tibi unguentum dō, semper sacrificium et
honōrem. tū contrā bonam Fortūnam dās. nunc ad^tē aulam 60
aurī^plēnam portō: sub^ueste autem aulam cēlō. familia
dē^aulā ignōrat. sed hodiē sunt nūptiae^fīliae. plēnae sunt
aedēs coquōrum^et^tībīcinārum. immō, fūrum^plēnae sunt.
aurum olet. ego igitur fūrēs timeō. ō Lar, tē ōrō et obsecrō.
aulam seruā! 65

(senex ad^focum appropinquat. prope focum fouea est. in^foueā aulam cēlat)

ecce. saluum aurum est. saluus quoque ego. nunc enim tū


aulam habēs, Lar.

Vocabulário da Seção 1A

Notas importantes
1 nom. significa nominativo: indica, em princípio, o sujeito ou o atributo de uma
oração.
2 ac. significa acusativo: indica, em princípio, o objeto (direto) de uma oração
(quando aparece sem preposição).

ad focum junto à lareira ad tē junto a você, até junto ante iānuam Dēmaenetī
ad iānuam junto à porta de você diante da porta de Demêneto
ad Larem junto ao Lar adest ele(a) está presente, aperīs você abre
ad nūptiās (fīliae tuae) ao está aperit ele(a) abre
casamento (de sua filha) aedēs (nom. pl.) casa appropinquat ele(a) se
aproxima
  21  

appropinquō me aproximo Eucliōnis auus o avô de nūptiās (ac.) (fīliae meae) as


at mas Euclião núpcias (de minha filha)
aula (nom.) panela familiae Eucliōnis da família ō ó! (dirigindo-se a
aulam (ac.) panela de Euclião alguém)
aurī plēna (nom.) cheia de festīnat ele(a) corre obsecrō suplico
ouro fīliae tuae de sua filha occupāta ocupada,
aurī plēnam (ac.) cheia de fīliam (ac.) filha atarefada
ouro Fortūnam (ac.) sorte olet ele(a) cheira, libera odor
aurum (nom., ac.) ouro fouea buraco olfactant eles(as) cheiram,
autem porém furcifer ladrão, patife percebem o odor
bene bem fūrem (ac.) ladrão ōrō peço
bonam (ac.) boa fūrēs (nom.) ladrões ōtiōsī ociosos
cēlat ele(a) esconde fūrum plēnae cheias de ōtiōsus ocioso
cēlō escondo, guardo, ladrões Pamphila (nom., voc.)
oculto habeō tenho Pânfila
circumspectat ele(a) olha ao habēs você tem parant eles(as) preparam
redor heu ai!, oh!, ah! parātis vocês preparam
clam secretamente heus ei! parō preparo
clāmās você grita hodiē hoje perditissimus o mais
clāmātis vocês gritam hominum de (os) homens desgraçado
clausa (nom.) fechada homo (nom.) homem perditus perdido, desgraçado
cognōuī conheço honōrem (ac.) honra, plēnae (nom. pl.) cheias
contrā contra, por outro lado respeito portat ele(a) leva
coquī (nom.) cozinheiros hūc aqui portō levo
coquōrum et tībīcinārum de iānua (nom.) porta prius primeiro, antes
(os) cozinheiros e de (as) iānuam (ac.) porta prope focum perto da lareira
flautistas igitur assim, por conseguinte puellae (nom.) meninas
coquōs (ac.) cozinheiros ignōrat ele(a) ignora, não puerī (nom.) meninos
coquum (ac.) cozinheiro sabe nada pulsat ele(a) bate
coquus (nom.) (o) cozinheiro illūc ali pulsō bato
corōnam (que) (ac.) (e) uma immō ainda mais, ou melhor quī quem?
coroa in aedīs Dēmaenetī para quid o que?
corōnō corôo (com dentro da casa de Demêneto quis quem?
guirlandas) in aedīs (meās) na (minha) quod porque
cūncta (nom.) tudo, todas as casa quoque também
coisas in foueā no buraco sacrificium (ac.) sacrifício
cūnctī (nom.) todos in mātrimōnium dat dá em saluum salvo, intacto
cūr por que? matrimônio saluus salvo, intacto
cursitant eles(as) correm de in scaenam na cena, no palco sed mas
um lado para outro intrant eles(as) entram semper sempre
cursitō corro de um lado intrat ele(a) entra senex (nom.) velho
para outro intrātis vocês entram serua (nom.) escrava
dās você dá Lar (voc.) ó Lar! (deus seruā guarde!, proteja!
dat ele(a) dá, oferece protetor da família) seruae nōmen o nome da
Dāue (voc.) ó Davo! Larī ao Lar escrava
Dāuus (nom.) Davo latet ele(a) está escondido seruam (ac.) escrava
dē aulā sobre a panela mē (ac.) me seruī nōmen o nome do
deinde depois meus meu escravo
Dēmaenetus (nom.) mōnstrat ele(a) mostra, seruus (nom.) escravo
Demêneto revela seruus Dēmaenetī senis
dō dou nam pois, porque escravo do velho Demêneto
dominus (nom.) senhor nēminem (ac.) ninguém sī se
dominus seruī et seruae nēmo (nom.) ninguém sōlus só
senhor do escravo e da nōn não spectat ele(a) contempla,
escrava nūllam (ac.) nenhuna olha
ecce eis!, olha!/olhe! nūllum (ac.) nenhum stat ele(a) está em pé
ecquis (nom.) acaso alguém? nunc agora stātis vocês estão em pé
ego eu nūptiae (nom.) (fīliae sub terrā debaixo da terra
enim pois meae) as núpcias (de minha sub ueste debaixo da (minha)
filha) roupa
  22  

supplicō rogo, suplico ego eu


tē (ac.) você aul-a ae 1f. panela enim pois, porque, realmente
tibi a você, para você aur-um ī 2n. ouro (coloca-se depois da
tībīcina (nom.) flautista coqu-us ī 2m. cozinheiro primeira palavra)
(mulher) corōn-a ae 1f. corona igitur pois, por conseguinte
tībīcinae (nom.) flautistas Lar Lar-is Lar (deus protetor (coloca-se depois da
(mulheres) da família) primeira palavra)
tībīcinam (ac.) flautista scaen-a ae 1f. cena, palco in (+ ac.) a, até, em; (+ abl.)
(mulher) seru-us ī 2m. escravo em
tībīcinas (ac.) flautistas mē me
(mulheres) Adjetivos nam pois, porque (coloca-se
timeō temo, tenho medo plēn-us a um cheio (de) + no princípio da frase)
tū (nom.) você gen. nōn não
tūtēla meae familiae nunc agora
protetor (lit. proteção) de Verbos quoque também
minha família cēl-ō 1 esconder sed mas
ualdē muito clām-ō 1 gritar semper sempre
uenīmus vimos (pres. de vir) habe-ō 2 ter sī se
uidet ele(a) vê intr-ō 1 entrar sub (+ abl.) sob, debaixo de
unguentum (ac.) unguento, port-ō 1 levar, trazer tē você (acus.)
perfume time-ō 2 temer, ter medo tū você
uocās você chama uoc-ō 1 chamar
uocat ele(a) chama
uocō chamo Outros
uōs (nom., voc., ac.) vocês ad (+ ac.) a, até, junto a
autem porém (coloca-se
Memoranda depois da primeira palavra)
cūr por que?
Substantivos deinde depois

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1A

2 Presente do indicativo ativo (l.a conjugação): amo ‘amar’

sing.
1ps am-ō ‘eu amo’
2ps amā-s ‘você ama’
3ps ama-t ‘ele/ela ama’
pl.
1pp amā-mus ‘nós amamos’
2pp amā-tis ‘vocês amam’
3pp ama-nt ‘eles/elas amam’

3 Presente do indicativo ativo (2ª conjugação): habeo ‘ter’

sing.
1ps habe-ō ‘eu tenho’
2ps habē-s ‘você tem’
3ps habe-t ‘ele/ela tem’
pl.
1pp habē-mus ‘nós temos’
2pp habē-tis ‘vocês têm’
  23  

3pp habe-nt ‘eles/elas têm’

Notas
1 Todos os verbos da 1ª conjugação conjugam-se no presente como am-ō ‘amar’.11
Exs.: habit-ō ‘habitar’, intr-ō ‘entrar’, uoc-ō ‘chamar’, clam-ō ‘gritar’, par-ō
‘preparar’, cel-ō ‘esconder’. Os verbos da 2ª conjugação, que terminam sempre em
-eō, conjugam-se como habe-ō ‘ter’. Ex.: time-ō ‘temer’.
2 Observe que esse verbos regulares são construídos a partir de um radical a que são
acrescentadas terminações. Esse radical traz o significado básico do verbo (ama-
‘amar’, habe- ‘ter’), e as terminações indicam a pessoa e o número gramaticais:

-o 1ª pessoa do singular (‘eu’)


-s 2ª pessoa do singular (‘você’)
-t 3ª pessoa do singular (‘ele/ela’)
-mus 1ª pessoa do plural (‘nós’)
-tis 2ª pessoa do plural (‘vocês’)
-nt 3ª pessoa do plural (‘eles/elas’)

3 Observe também que a vogal característica (ou “vogal temática”) da 1.a conjugação
é -a (amA-), e a da 2.a conjugação é -e (habE-). A única forma em que essa vogal
não aparece é a da 1.a pessoa do singular da 1.a conjugação (amo), embora fosse
originalmente amaō.

4 Terminologia: conjugação, modo, voz, tempo

Conjugação significa a disposição do verbo em todas as suas pessoas e números,


conforme ilustrado em 2 e 3. Assim, conjugar um verbo significa dispor as formas
conforme os §§ 2 e 3.
Modo Indicativo significa que a ação é apresentada como um fato (embora não
precise ser verdadeira), e.g.,
Eu falo com você. (fato verdadeiro)
O porco sai voando pela janela. (apresentado como fato, mas não
verdadeiro)
Voz Ativa significa que o sujeito é o agente da ação, e.g., “Euclião corre”;
“Estáfila vê a filha”.
Tempo significa o tempo em que a ação ocorre. Assim, “presente” significa
“tempo presente”, i.e., a ação acontece concomitantemente com o presente do locutor,
e.g., “Estou correndo” vs. “Correrei”.

5 Significado: aspecto verbal

O presente do indicativo tem basicamente três significados possíveis. Por


exemplo, uma forma como amas pode ser traduzida por ‘você ama’, ‘você está amando’
ou ‘você realmente ama’. Cada uma dessas três possibilidades representa a ação de uma
maneira um pouco diferente. ‘Você ama’ é a mais simples afirmação do fato. ‘Você está

11
N. do T.: Em latim, quando queremos falar de um verbo, tradicionalmente referimo-nos a ele na 1ª
pessoa do singular do presente. Em português, como se sabe, usamos o infinitivo. Daí traduzirmos am-o,
em textos teóricos como este, por ‘amar’, e não por ‘eu amo’.
  24  

amando’ fornece uma representação mais vívida e concreta da ação, exprimindo uma
ideia de continuidade (como se pudéssemos ver a ação se desenrolando diante de nós).
Já ‘você realmente ama’ é o sentido enfático. Deve-se escolher o sentido mais adequado
pela análise do contexto. É bom lembrar, no entanto, que em geral o sentido enfático é
indicado em latim pela disposição do verbo no início da sentença.

Exercícios

Morfologia

1 Conjugue: cēlō, timeō, portō, habeō, (opcionais: habitō, clāmō, intrō, uocō, sum).

2 Traduzir cada verbo e em seguida mudar de singular para plural e vice-versa:


clāmās, habent, intrat, uocō, sumus, portāmus, timēs, habētis, est, timet, uocant, cēlātis,
timēmus, habeō, sunt.

3 Verter para o latim: vocês têm, escondo, estamos levando, eles chamam, você tem
medo, ele está vivendo, há (pl.), ela tem, ele entra, ela é.

6 Declinação: terminologia e significado

O funcionamento do sistema de casos

As palavras “nominativo”, “vocativo”, “acusativo”, “genitivo”, “dativo” e


“ablativo” são termos técnicos para os seis “casos” dos substantivos, adjetivos e
pronomes latinos. Quando uma palavra é apresentada em todos esses casos, temos a
“declinação” da palavra. Declinar um substantivo, por exemplo, significa apresentá-lo
em todos os casos. As diferentes formas dos casos em latim têm uma importância
fundamental, e, aos poucos, devem ser apreendidas com perfeição. O estudante, num
nível um pouco mais avançado, deve conhecê-las de cor.
A razão é a seguinte. Em português, determinamos o sentido de uma frase
através da ordem em que as palavras aparecem. A frase ‘o homem morde o cachorro’
significa algo totalmente diferente da frase ‘o cachorro morde o homem’, e isso por
nenhum outro motivo além do fato de as palavras aparecerem numa ordem diferente.
Um romano da Antiguidade ficaria desnorteado com isso, porque em latim a ordem das
palavras não determina as funções gramaticais dos vocábulos na frase (embora
desempenhe um papel importante em questões relativas à ênfase). O que é vital em
latim são as formas que as palavras assumem.
Em ‘a filha chama o escravo’, o substantivo ‘filha’ é o sujeito da frase (sujeito é,
grosso modo, a palavra com que o verbo concorda), e ‘escravo’ é o objeto. Um romano,
para dizer uma frase como essa, usaria a forma do caso nominativo para indicar o
sujeito, e a forma de acusativo para indicar o objeto. Assim, quando ele escrevia ou
falava a palavra que significa ‘filha’, ou seja, fīlia, indicava não apenas o significado
básico do vocábulo, mas também sua função na sentença — nesse caso, sujeito. Do
mesmo modo, quando ele dizia a palavra que quer dizer ‘escravo’, isto é, seruum, a
forma utilizada servia também para mostrar que se tratava do objeto. Logo, tendo
ouvido ou lido fīlia seruum, um romano concluiria imediatamente que uma filha estava
fazendo alguma coisa para um escravo. Se o romano tivesse ouvido fīliam seruus (note-
  25  

se a diferença na forma das palavras), teria concluído que um escravo, seruus, que está
aqui no caso nominativo, estava fazendo alguma coisa para uma filha, fīliam, aqui no
caso acusativo.
A ordem das palavras em latim tem importância secundária, pois suas funções
estão mais diretamente relacionadas a problemas de ênfase, contraste e estilo do que a
problemas de sintaxe (parte da gramática ligada à função dos vocábulos na frase). Para
falantes de português, obviamente, a ordem das palavras é muito mais importante para a
determinação do significado. Em latim, a forma das palavras é que é essencial.
Podemos observar, contudo, que o português possui resíduos do sistema de casos
latino. Exs.: ‘eu gosto de cerveja’, e não ‘me gosto de cerveja’; ‘ele gosta de mim’, e
não ‘o gosta de eu’... Trata-se, conforme a terminologia tradicional, da distinção entre
pronomes pessoais do caso reto e do caso oblíquo.

Funções e significados básicos de cada caso

a. Nominativo

Suas funções mais importantes são a de sujeito de uma sentença e a de


complemento do verbo sum. Duas palavras ligadas pelo verbo sum ficam sempre ambas
no nominativo. Se iniciamos uma frase com seruus est... (‘o escravo é...’), espera-se que
a palavra que vai completar a oração esteja no nominativo: seruus est coquus (‘o
escravo é um cozinheiro’).
Em frases dessa espécie (isto é, frases com verbo sum), o nome que aparece em
primeiro lugar é normalmente o sujeito, e o que aparece em segundo lugar é o
complemento12 (é o que ocorre na frase citada acima), a não ser que o contexto indique
o contrário. Em frases com outros tipos de verbo, como veremos em seguida, o sujeito
também vai para o nominativo, mas o complemento não. Resta dizer que, quando
desejamos falar de um substantivo latino, usamos a forma do nominativo (ex.: ‘o
substantivo seruus é muito comum em latim’).

b. Acusativo

Sua mais importante função é a de objeto de um verbo. O caso acusativo denota


a pessoa ou coisa sobre que se exerce a ação. Ex.: ‘o homem morde o cachorro’. Pode-
se também entendê-lo como um caso que limita ou define a extensão da ação. Ex.: ‘o
homem morde...’ O que ele morde? um pedaço de carne? um chocolate? Não: ‘morde o
cachorro’. Ex.: coquus tibicinam uidet (tibicinam é uma palavra no acusativo, e portanto
é objeto do verbo) ‘o cozinheiro vê a flautista’. O verbo sum nunca é seguido de um
complemento no acusativo (releia o item acima).

c. Genitivo

Esse caso expressa posse, pertencimento, sendo frequente traduzi-lo por um


substantivo antecedido da preposição “de”. Ex.: seruus Euclionis ‘escravo de Euclião’.
A raiz da palavra “genitivo” é a mesma de genitor ‘autor’, ‘progenitor’, ‘pai’. Pode,
portanto, expressar também a ideia de origem: amo filium Euclionis ‘eu amo o filho de
Euclião’. Compare-se esse fenômeno com o inglês dog’s dinner ‘o jantar do cachorro’,
em que dog’s é como que uma forma de genitivo.
12
N. do T.: O complemento do verbo sum é chamado de “predicativo do sujeito”, porque se entende que
ele atribui algo ao sujeito, descreve-o de alguma forma, enuncia alguma coisa a respeito dele.
  26  

d. Dativo e ablativo

Por enquanto, esses casos não vão aparecer muito nos textos, e por isso vamos
deixar seu estudo para mais tarde.

7 Singular e plural; masculino feminino e neutro

Assim como possuem casos diferentes, os substantivos podem estar no singular


ou no plural. Essa característica é o número do substantivo. Assim, para cada caso há
uma forma de singular e uma de plural (ver quadros no item “Declinação”). Os
substantivos possuem também gênero, isto é, podem ser masculinos, femininos ou
neutros.

A ordem das palavras

Como se sabe, a ordem usual, em português, para uma sentença simples


consistindo em sujeito, verbo e objeto, é: sujeito + verbo + objeto (ordem também
representada abreviadamente pelas três iniciais em maiúsculas — SVO). Ex.: ‘a escrava
(sujeito) teme (verbo) o cozinheiro (objeto)’. Já em latim, a ordem mais comum é
sujeito + objeto + verbo (SOV). Seguindo essa regra, a frase portuguesa citada acima
fica assim em latim: serua (sujeito) coquum (objeto) timet (verbo). Note-se que essa
ordem é a mais frequente, mas não a única. De acordo com o que já estudamos, o fato
de as funções gramaticais das palavras já estarem marcadas nas suas terminações
permite ao latim uma grande liberdade de ordenação dos termos da sentença.

8 e 913 Declinação

Os substantivos latinos são classificados em declinações, ou seja, em grupos de


palavras que se declinam da mesma maneira. Por exemplo, serua e filia pertencem ao
mesmo grupo, a 1ª declinação, e por isso têm as mesmas terminações para os diversos
casos (nominativo, acusativo etc.), tanto no singular quanto no plural. Os substantivos
estão presos aos seus respectivos grupos, e têm, portanto, um número limitado de
terminações. Um substantivo da 2ª declinação como seruus, por exemplo, tem, é claro,
várias terminações possíveis (seru-us para o nom. sing., seru-i para o nom. pl e gen.
sing., seru-os para o acus. pl. etc.), mas apenas aquelas contidas no modelo da 2ª
declinação. Nunca encontraremos o acusativo singular dessa palavra expresso por -em,
terminação da 3ª declinação. Assim, todas as declinações expressam o genitivo singular
e plural, o vocativo singular e plural etc., mas cada uma o faz a seu modo, isto é, com
suas terminações características. Vejamos agora os quadros contendo os modelos da 1ª e
da 2ª declinação:

13
Seguimos aqui a numeração dos parágrafos do original inglês. Por isso, quando da ocasião de algumas
adaptações julgadas mais apropriadas na tradução, a numeração vai aparecer, ainda que com formatos
estranhos como este.
  27  

1.a declinação (ou tipo I) 2.a declinação (ou tipo II)14

sing. pl. sing. pl.


nom. seru-ă seru-ae coqu-us coqu-ī
voc. seru-ă seru-ae coqu-e15 coqu-ī
acus. seru-am seru-ās coqu-um coqu-ōs
gen. seru-ae seru-ārum coqu-ī coqu-ōrum
dat. seru-ae seru-īs coqu-ō coqu-īs
abl. seru-ā seru-īs coqu-ō coqu-īs

Notas
1 Perceba que o ablativo singular tipo I se diferencia do nominativo e do vocativo
singular porque estes têm uma vogal final breve, enquanto aquele tem uma vogal
final longa.
2 Note que também os substantivos são formados por um radical mais uma
terminação (compare com os verbos vistos no início deste texto). Nos substantivos
tipo I e II, o radical permanece sempre o mesmo, e apenas a terminação varia.
3 A maioria dos substantivos tipo I são femininos. Exceções comuns são agricol-a
‘agricultor’, naut-a ‘marinheiro’ e poet-a ‘poeta’, todas palavras masculinas.
4 Quase todos os substantivos que se declinam como coqu-us são masculinos. São
exceções, por exemplo, os nomes de árvores, todos femininos: pin-us ‘pinheiro’,
fag-us ‘faia’ etc.
5 Observe que alguns casos têm terminações coincidentes. Exs.: seru-ae pode ser
genitivo singular, dativo singular, nominativo plural ou vocativo plural; coqu-i
pode ser genitivo singular, nominativo plural ou vocativo plural. Isso, contudo,
não gera confusões para o leitor atento, pois a ambiguidade, na maior parte das
vezes, pode ser solucionada pela análise do contexto, a não ser que a ambiguidade
seja intencional ou haja um erro grave por parte da pessoa que escreveu a frase.

Exercícios

1 Decline: coquus, aula, (opcionais: seruus, familia, corōna, scaena).

2 Diga o caso de cada uma das seguintes palavras: seruārum, coquō, corōnam, seruōs,
scaenae, fīliā, coquus, seruī, coquum, fīliae, scaenās, seruō, coquōrum, aula, seruīs.

3 Traduza cada frase; em seguida mude, quando for conveniente, o número


dos substantivos e dos verbos, e.g., coquus seruam uocat. ‘O cozinheiro
chama a escrava.’ coqui seruas uocant.

(a) sum seruus.


(b) aulam portō.
(c) cōronās habent.
(d) serua timet seruum.
(e) seruās uocātis.

14
N. do T.: Note que aqui só aparece o paradigma dos masculinos. Os neutros da 2.a declinação são um
pouco diferentes, e serão estudados mais tarde.
15
N. do T.: Para explicações mais detalhadas sobre o vocativo singular tipo II (2.a declinação), ver p. 19.
  28  

(f) seruae aulās portant.


(g) cēlāmus aulās.
(h) seruās cēlant coquī.
(i) familia corōnam habet.
(j) uocat seruus seruam.

10 Preposições: in, ad

Preposições (praepositus, “colocado na frente”) são palavras “colocadas na frente” de


substantivos, e.g., in “para dentro de”, ad “para junto de” etc. Aprenda as seguintes
preposições importantes:

in, ad + ac.
in “em, para dentro de”, e.g., in scaenam intrat “entra no palco”.
ad “para junto de, em direção a”, e.g., ad scaenam aulam portat “ele carrega a
panela em direção ao/para junto do palco” (mas não necessariamente para dentro
do palco).

Observe que o caso acusativo denota movimento em direção a algo. Compare com a
próxima preposição.

in + abl.
in “em”, e.g., in scaenā est “ele está no palco”.

No caso dessa preposição, o caso ablativo denota estaticidade espacial.

Dar o equivalente latino de: no palco (sc. entrar em); na panela; nas panelas (sc. pôr
em); na família; até a escrava.

Exercícios de leitura

1 Leia as frases. Depois, sem traduzi-las, diga qual é o sujeito da segunda (em latim).
Finalmente, traduza.

(a) seruus in scaenam intrat. cōrōnas portat.


(b) coquī in aedibus sunt. seruās uocant.
(c) est in familiā Eucliōnis serua. Staphyla est.
(d) in scaenam intrat Dēmaenetus. aulam aurī plēnam habet.
(e) coquus et serua clāmant. seruum enim timent.

2 Analise a função de cada palavra na oração, e.g., Dēmaenetus coquum... Dēmaenetus


está no nom.; logo é sujeito, isto é, Dēmaenetus faz algo. coquum está no ac.; logo é
objeto, isto é, Dēmaenetus faz algo a coquum. Finalmente completar a frase com um
verbo adequado na forma correta e traduzir, e.g., Dēmaenetus coquum uocat.
‘Demêneto chama o cozinheiro.’

(a) aulam seruus...


(b) serua corōnam, aulam seruus...
  29  

(c) seruās seruī...


(d) familia coquōs...
(e) Lar seruōs...
(f) aurum ego...
(g) Eucliō familiam...
(h) aulās aurī plēnās et corōnās seruae...

3 Com a ajuda do vocabulário da Seção 1A, trabalhe o texto latino abaixo seguindo
estas instruções:

(a) Analise cada palavra

(i) seu significado


(ii) sua função na frase (sujeito, objeto etc.)

E. g.

Dēmaenetus coquōs et tībīcinās uidet.

Dēmaenetus ‘Demêneto’, sujeito; coquōs ‘cozinheiros’, objeto; et ‘e’, usado para ligar
algo a coquōs; tībīcinās ‘flautistas’, ligado a coquōs por et, faz parte do objeto coquōs
et tībīcinās; uidet ‘vê’, verbo: Demêneto os cozinheiros e as flautistas vê.

(b) Traduza

(c) Depois de ter trabalhado todo o texto, volte ao latim e leia toda a passagem em voz
alta com a entonação correta, pensando simultaneamente no significado do que se lê.

Dēmaenetus coquōs et tībīcinās uidet. ad nūptiās fīliae ueniunt. in aedīs Dēmaenetī


intrant et nūptiās parant. nunc aedēs Dēmaenetī coquōrum et tībīcinārum plēnae sunt.
Dēmaenetus autem timet. aulam enim aurī plēnam habet. nam sī aula Dēmaenetī in
aedibus est aurī plena, fūrēs ualdē timet Dēmaenetus. aulam Dēmaenetus celat. nunc
aurum saluum est. nunc saluus Dēmaenetus, nunc salua aula. Lar enim aulam habet
plēnam aurī. nunc prope Larem Dēmaenetī aula sub terrā latet. nunc igitur ad Larem
appropinquat Dēmaenetus et supplicat. “ō Lar, ego Dēmaenetus tē uocō. ō tūtēla meae
familiae, aulam ad tē aurī plēnam portō. fīliae nūptiae sunt hodiē. ego autem fūrēs
timeō. nam aedēs meae fūrum plēnae sunt. tē ōrō et obsecrō, aulam Dēmaenetī aurī
plēnam seruā.”

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Depois verta as portuguesas para latim,
tomando como referência a estrutura das latinas para a ordem das palavras.

(a) coquus aulam Dēmaenetī portat.


O escravo tem as coroas dos cozinheiros.

(b) tū clāmās, ego autem aulās portō.


A escrava tem medo. Por conseguinte, eu chamo o cozinheiro.
  30  

(c) cūr scaena plēna est seruōrum?


Por que a casa está cheia de cozinheiros?

(d) ego Lar tē uocō. cūr mē timēs?


Eu, Fedra, entro. Por que vocês escondem a panela?

(e) sī aurum habet, Dēmaenetus timet.


Se escondem a panela, as escravas têm medo.

(f) corōnās et aulās portant seruī.


Demêneto chama o cozinheiro e a escrava.
  31  

Seção 1B

Muito tempo se passou. O velho Demêneto morreu sem desenterrar o ouro nem revelar
o segredo a seu filho. Agora, contudo, seu neto Euclião vai ter uma surpresa. Quem
explica é o deus Lar.

(Eucliō in scaenā dormit. dum dormit, Lar in scaenam intrat et fābulam


explicat) 70

LAR: spectātōrēs, ego sum Lar familiāris. deus sum familiae Eucliōnis.
ecce Eucliōnis aedēs. est in^aedibus Eucliōnis thēsaurus
magnus. thēsaurus est Dēmaenetī, auī Eucliōnis. sed thēsaurus
in aulā est et sub terrā latet. ego enim aulam clam in^aedibus
seruō. Eucliō dē thēsaurō ignōrat. cūr thēsaurum clam adhūc 75
seruō? fābulam explicō. Eucliō nōn bonus est senex, sed auārus
et malus. Eucliōnem igitur nōn amō. praetereā Eucliō mē nōn
cūrat, mihi numquam supplicat. unguentum numquam dat;
nūllās corōnās, nūllum honōrem. sed Eucliō fīliam habet
bonam. nam cūrat mē Phaedra, Eucliōnis fīlia, et multum 80
honōrem, multum unguentum, multās corōnās dat. Phaedram
igitur, bonam fīliam Eucliōnis, ualdē amō. sed Eucliō pauper
est. nūllam igitur dōtem habet fīlia. nam senex dē aulā auī
ignōrat. nunc autem, quia Phaedra bona est, aulam aurī
plēnam Eucliōnī dō. nam Eucliōnem in^somniō uīsō et aulam 85
mōnstrō. uidēte, spectātōrēs.

(Eucliō dormit. Lar imāginem auī in scaenam dūcit. Eucliō stupet)

EVCLIŌ: dormiō an uigilō? dī magnī! imāginem uideō auī meī,


Dēmaenetī. saluē, Dēmaenete! heu! quantum mutātus
ab^illō... ab^īnferīs scīlicet in aedīs intrat. ecce! aulam 90
Dēmaenetus portat. cūr aulam portās, Dēmaenete? ecce!
circumspectat Dēmaenetus et sēcum murmurat. nunc ad āram
Laris festīnat. quid facis, Dēmaenete? foueam facit et in foueā
aulam collocat. mīrum hercle est. quid autem in aulā est? dī
magnī! aula aurī plēna est. 95

DĒMAENETĪ IMĀGŌ: bene. nunc aurum meum saluum est.

EVC: nōn credō, Dēmaenete. nūllum in^aedibus aurum est.


somnium falsum est. pauper ego sum et pauper maneō.

(Euclião desperta e se mostra aborrecido porque os deuses o atormentam com o que ele crê
serem falsos sonhos de riqueza)

EVC: heu mē miserum. ego sum perditissimus hominum. pauper 100


sum, sed dī falsa somnia mōnstrant. auum meum in^somniō
uideō. auus aulam aurī plēnam portat. aulam sub terrā clam
collocat iuxtā^Larem. nōn tamen crēdō. somnium falsum est.
  32  

quārē Lar mē nōn cūrat? quārē mē dēcipit?

(Eucliō ad^Larem appropinquat. subitō autem foueam uidet. Eucliō celeriter 105
multam terram ē foueā mouet. tandem aula appāret)

EVC: quid habēs, ō Lar? quid sub^pedibus tenēs? hem. aulam uideō.
nempe somnium uērum est.

(Eucliō aulam ē foueā mouet. intrō spectat et aurum uidet. stupet)

euge! eugepae! aurum possideō! nōn sum pauper, sed dīues! 110

(Subitamente desanimado)

sed tamen hercle homo dīues cūrās semper


habet multās. fūrēs in^aedis clam intrant. ō mē miserum! nunc
fūrēs timeō, quod multam pecūniam possideō. eheu! ut Lar
mē uexat! hodiē enim mihi multam pecūniam, multās simul
cūrās dat; hodiē igitur perditissimus hominum sum. 115
quid tum? ā! bonum cōnsilium habeō. ecquis mē spectat?

(Eucliō aurum sub^ueste cēlat et circumspectat. nēminem uidet. tandem


ad^Larem appropinquat)

ad tē, Lar, aulam aurī plēnam portō. tū aulam seruā et cēlā!

(Eucliō aulam in^foueā iterum collocat; deinde multam terram super aulam 120
aggerat)

bene. aurum saluum est. sed anxius sum. quārē autem anxius
sum? anxius sum quod thēsaurus magnus multās cūrās dat, et
mē ualdē uexat. nam in diuitum hominum aedīs fūrēs multī
intrant; plēnae igitur fūrum multōrum sunt dīuitum hominum 125
aedēs. ō mē miserum!

Vocabulário da Seção 1B
a ah! appropinquō 1 aproximo-me crēdō 1 creio
ab illō daquele (essa frase é ār-a ae 1f. altar cūr-a ae 1f. cuidado,
uma citação de Virgílio, auārus avarento atencão, diligência, interesse,
Eneida 2, 274, quando au-us ī 2m. avô preocupação
Eneias evoca o espírito de bene bem cūrō 1 cuido, preocupo-me
Heitor) bona (nom.) boa com
ab īnferīs da morte, do bonam (ac.) boa dē (+ abl.) a respeito de,
mundo dos mortos bonum (ac.) bom sobre
adhūc até agora bonus (nom.) bom dēcipit ele(a) decepciona
aedēs (nom.) casa cēlā esconda! Dēmaenete ó Demêneto!
aedīs (ac.) casa celeriter rapidamente Dēmaenet-us ī 2m.
aggerō 1 amontoo, acumulo circumspectō 1 olho em Demêneto
amō 1 amo volta de-us i 2m. deus
an? ou? clam secretamente dī deuses; ó deuses!
anxius angustiado collocō 1 coloco dīues (nom.) rico
appāreō 2 apareço cōnsilium plano dīuitum (gen.) de ricos
  33  

dō 1 dou mīrum admirável uērum verdadeiro


dormiō durmo, estou miserum miserável, infeliz uexō 1 molesto, perturbo
dormindo mōnstrō 1 mostro, revelo uideō 2 vejo
dormit ele(a) dorme moueō 2 movo, tiro uidēte vejam!, olhem!
dōtem (ac.) dote multam (ac.) muita uigilō 1 estou acordado
dūcit ele(a) leva, conduz multās (ac.) muitas uīsō visito
dum enquanto multī (nom.) muitos unguentum unguento,
ē fora de, desde multōrum de muitos perfume
ecce eis aqui!, olha!/olhe! multum (ac.) muito ut como
ecquis acaso alguém? murmurō 1 murmuro
eheu ah!, ai!, que lástima! mutātus mudado Memoranda
Eucliōnem (ac.) Euclião nēminem (ac.) ninguém
Eucliōnī (dat.) a Euclião nempe claramente, sem Substantivos
Eucliōnis de Euclião dúvida aedis aed-is 3f. templo; pl.
euge muito bem!, bravo! nūllam (ac.) nenhuma aed-ēs ium casa
eugepae muito bem!, bravo! nūllās (ac.) nenhuma (pl.) cūr-a ae 1f. cuidado,
explicō 1 explico nūllum (ac.) nenhum diligência, interesse
fābul-a ae 1f. obra, numquam nunca de-us ī 2m. deus
comédia, argumento pauper (nom.) pobre fūr fūr-is 3m. ladrão
facis você faz pecūni-a ae 1f. dinheiro honor honōr-is 3m. honra,
facit ele(a) faz perditissimus o mais respeito
falsa falsa desgraçado senex sen-is 3m. ancião,
falsum falso possideō 2 possuo, tenho velho
familiāris familiar praetereā além disso thēsaur-us i 2m. tesouro
festīnō 1 apresso-me quantum quanto, quão unguent-um ī 2n. unguento,
foue-a ae 1f. buraco quārē por que? perfume
fūrēs (nom., ac.) ladrões quia porque
fūrum de (os) ladrões quid o que? Adjetivos
hem o que é isso? quod porque mult-us a um muito
hercle por Hércules! saluē salve!, olá! nūll-us a um nenhum
heu ai!, oh!, ah! saluum salvo
hodiē hoje scīlicet evidentemente Verbos
hominum de (os) homens sēcum consigo mesmo am-ō 1 amar
homo (nom.) homem, senex ancião, velho cūr-ō 1 cuidar, preocupar-se
indivíduo seruā guarde! com
honōrem (ac.) honra, seruō 1 guardo d-ō 1 dar
respeito simul ao mesmo tempo explic-ō 1 explicar, contar
ignōrō 1 ignoro somnia (ac.) sonhos posside-ō 2 possuir, ter
imāginem (ac.) visão, somnium sonho supplic-ō 1 suplicar
imagem spectō 1 olho, vejo uide-ō 2 ver
imāgō (nom.) visão, imagem spectātōrēs espectadores,
espectro, fantasma público Outros
in aedīs dentro de casa stupeō 2 surpreendo-me, fico clam secretamente
in aedibus na casa assombrado, atônito quārē por que?
in somniō num sonho sub pedibus debaixo dos quod porque
intrō dentro (teus/seus) pés tamen contudo, porém
iterum de novo, outra vez sub (+ abl.) debaixo de tandem finalmente, por
iuxtā (+ ac.) junto a, ao lado sub ueste debaixo da roupa último
de subitō repentinamente
Larem (ac.) (o deus) Lar super (+ ac.) sobre
Laris do Lar supplicō 1 suplico
lateō 2 estou escondido, tamen contudo, porém
escondo-me tandem finalmente, por
magnī (voc.) grandes último
magnus grande teneō 2 tenho, seguro,
malus mau, perverso guardo
maneō 2 permaneço terr-a ae 1f. terra
mei de meu, de mim thēsaur-us ī 2m tesouro
meum meu tum então
mihi a mim ualdē muito
  34  

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1B

11 Substantivos da terceira declinação (tema consonântico): fur fur-is 3m. ‘ladrão’

sing. pl.
nom. fūr fūr-ēs
voc. fūr fūr-ēs
acus. fūr-em fūr-ēs
gen. fūr-is fūr-um
dat. fūr-ī fūr-ibus
abl. fūr-e fūr-ibus

Notas
1 Note que, tal como ocorria na 1.a e na 2.a declinação, as terminações de dativo e
ablativo, no plural, são idênticas. Perceba também a identidade entre as
terminações de nominativo, vocativo e acusativo no plural.
2 Esse é o paradigma das terminações para os substantivos da 3.a declinação cujos
radicais terminam em consoante. Há, contudo, pequenas mudanças de padrão para
os substantivos cujos radicais terminam com a vogal -i (chamados “substantivos
em -i”), apresentados em seguida.16

12 Substantivos da terceira declinación (tema em -i-) aedis aed-is 3f. ‘templo’; no


plural ‘templos’, ‘casa’

sing. pl.
nom. aed-is aed-ēs
voc. aed-is aed-ēs
acus. aed-em aed-īs (ou aed-ēs)
gen. aed-is aed-ium
dat. aed-ī aed-ibus
abl. aed-e (ou -ī) aed-ibus

Notas
1 aed-is, no singular, significa ‘sala’, ‘templo’; no plural significa, usualmente,
‘casa’.
2 Observe o acusativo plural em -is, o genitivo plural em -ium e o ablativo singular
alternativo em -i. Essa predominância do -i é a marca dos substantivos em -i da 3.a
declinação. Na verdade, originalmente todos os casos teriam tido o -i, já que ele
faz parte do radical. O singular de turris, turr-is 3f. ‘torre’, que mantém as formas
antigas mesmo no latim clássico, demonstra essa hipótese: turr-is, turr-is, turr-im,
turr-is, turr-i, turr-i.

16
N. do T.: Os autores estão apresentando apenas substantivos masculinos e femininos. Também existem
neutros na 3.a declinação (tanto com radical consonântico como em -i), mas eles serão estudados mais
tarde.
  35  

3 Note que nas explicações gramaticais nós indicamos quais substantivos e adjetivos
têm o radical em -i, mas por razões práticas apresentamos as terminações como se
estivéssemos tratando de radicais consonânticos, i.e. aed-is, e não aedi-s (que
seria tecnicamente o mais correto).17

13 Radicais e terminações dos substantivos da 3.a declinação

Os substantivos da 3.a declinação têm uma grande variedade de terminações no


nominativo singular. O que une todos esses vocábulos num mesmo paradigma é o fato
de que seu genitivo singular termina sempre da mesma forma: Euclio, Euclion-is; senex,
sen-is. É preciso, portanto, aprender tanto a declinação quanto o genitivo singular, bem
como o gênero desses substantivos. Por exemplo: não basta saber simplesmente aedis
‘templo’, pl. ‘casa’, mas é necessário ter todas as seguintes informações: aedis, aed-is
3f. ‘templo’, pl. ‘casa’.
O genitivo singular é duplamente importante, porque fornece o radical do
substantivo, ao qual são adicionadas as terminações para formar a declinação. Assim,
quando você aprende senex, sen-is 3m., fica sabendo que o radical é sen-. É o genitivo
singular que dá essa informação.
Você também deve ser capaz de, a partir do radical, descobrir o nominativo
singular, para achar a palavra num dicionário. Por exemplo: se você encontra pacem no
texto, você deve saber deduzir que o nominativo singular é pax. Do contrário, não
encontrará o vocábulo no dicionário. Observe alguns padrões frequentes de radicais
consonânticos:

(a) radicais terminando em -l ou -r mantêm l e r no nominativo singular

consul-is → nom. sing. consul ‘cônsul’


fur-is → nom. sing. fur ‘ladrão’

(b) radicais terminando em -d ou -t terminam em -s no nominativo singular

ped-is → nom. sing. pes ‘pé’


dot-is → nom. sing. dos ‘dote’

(c) radicais terminando em -c ou -g terminam em -x no nominativo singular

17
N. do T.: Há um problema de terminologia que precisa ser esclarecido. A rigor, chamamos de “radical”
a parte invariável da palavra que contém o seu significado básico. Quando o radical está pronto para
receber as desinências de número e caso, é chamado de “tema”. Algumas palavras têm radicais que, antes
de receber as desinências, ganham uma vogal específica, a “vogal temática” (assim denominada porque
forma o “tema”). Outras palavras não têm vogal temática e recebem as desinências diretamente. Nesse
caso, o radical é idêntico ao tema. Portanto, o radical de fur, fur-is é fur-, e o tema tem a mesma forma.
Trata-se de uma palavra de “tema consonântico”. Já em aed-i-s, aed-i-s, o radical (aed-), antes de receber
as desinências, ganha a vogal temática -i, formando o tema aedi-. É um substantivo de tema em -i. Ocorre
que, por causa de uma série de transformações fonéticas, muitas vezes fica difícil, sem uma análise
detida, separar a vogal temática da desinência. Por isso, os métodos de latim para iniciantes preferem
tratar a desinência e a vogal temática como um todo, o qual recebe o nome de “terminação”. Como
consequência disso, é frequente que não se faça nenhuma distinção entre radical e tema. Normalmente
segmentam-se os vocábulos em duas partes: radical e terminação.
  36  

reg-is → nom. sing. rex ‘rei’


duc-is → nom. sing. dux ‘comandante’

(d) radicais terminando em -on ou -ion terminam em -o ou -io no nominativo


singular

Scipion-is → nom. sing. Scipio ‘Cipião’


praedon-is → nom. sing. praedo ‘pirata’18

Exercícios

1 Decline: honor, fūr, (opcionais: Eucliō (sing.), Lar, aedis).

2 Diga o caso de cada uma das seguintes palavras: Eucliōnis, fūrem, aedium, honōrēs,
Lar, senum, aedīs, honōrem, fūr, Laris.

3 Traduza cada frase; em seguida mude, quando for conveniente, o número dos
substantivos e dos verbos. Ex.: fūrem seruus timet. ‘O escravo teme o ladrão.’ fūrēs
seruī timent.

(a) deinde thēsaurum senis fūr uidet.


(b) Lar honōrem nōn habet.
(c) igitur senem deus nōn cūrat.
(d) quārē tamen supplicātis, senēs?
(e) unguentum senex tandem possidet.
(f) in aedibus senex nunc habitat.
(g) fūr aulam aurī plēnam semper amat.
(h) honōrem tamen non habet fūr.
(i) quārē in aedīs nōn intrās, senex?
(j) seruam clam amat senex.

14 Adjetivos da l.a e 2.a declinação: mult-us a um ‘muito’

sing.
m. f. n.
nom. mult-us mult-a mult-um
voc. mult-e mult-a mult-um
acus. mult-um mult-am mult-um
gen. mult-ī mult-ae mult-ī
dat. mult-ō mult-ae mult-ō
abl. mult-ō mult-ā mult-ō

18
N. do T.: Quanto aos substantivos em -i, os nominativos singulares mais frequentes são em -is e em -es.
Exs.: ciuis, ciu-is 3m. ‘cidadão’; uestis, uest-is 3f. ‘vestimenta’; nauis, nau-is 3f. ‘navio’; uulpes, uulp-is
3f. ‘raposa’; rupes, rup-is 3f. ‘rocha’.
  37  

pl.
m. f. n.
nom. mult-ī mult-ae mult-a
voc. mult-ī mult-ae mult-a
acus. mult-ōs mult-ās mult-a
gen. mult-ōrum mult-ārum mult-ōrum
dat. mult-īs mult-īs mult-īs
abl. mult-īs mult-īs mult-īs

Notas
1 Os adjetivos (do radical de adiectus ‘adicionado a’) fornecem informações
adicionais sobre um substantivo. Por exemplo: ‘cavalo rápido’, ‘colina íngreme’
(os adjetivos são frequentemente chamados de “palavras descritivas”).
2 Como os substantivos podem ser masculinos, femininos e neutros, os adjetivos
precisam ter formas masculinas, femininas e neutras, de modo que possam
concordar gramaticalmente com o substantivo que descrevem. Assim, adjetivos
devem concordar com substantivos em gênero.
3 Os adjetivos devem também concordar com os substantivos em número (singular
ou plural).
4 Finalmente, eles devem concordar com os substantivos em caso (nominativo,
vocativo, acusativo, genitivo, dativo ou ablativo). Um substantivo no acusativo
pode ser descrito apenas por um adjetivo no acusativo.
5 Resumindo: em latim, se um substantivo vai ser descrito por um adjetivo, este
último terá de concordar com o substantivo em gênero, número e caso. Exemplos:
(a) ‘Eu vejo muitos templos’ — ‘templos’ é o objeto, e está no plural; a palavra
que deveremos utilizar em latim é aedīs, que é feminina. Assim, se a palavra
latina correspondente a ‘muitos’ (mult-us, a, um) deve concordar com aedis,
terá de estar no acusativo feminino plural. Resposta: multās aedīs.
(b) ‘Ele mostra muito respeito’ — ‘respeito’ está no singular e cumpre a função
de objeto. A palavra latina que usaremos para traduzir ‘respeito’ é honor,
honōr-is, que é masculina (a forma adequada para a frase em questão é
honōrem). Portanto, mult-us, a, um deve aparecer no acusativo masculino
singular. Resposta: multum honōrem.
(c) ‘Eu ouço a voz de muitas escravas’ — ‘escravas’ vai aparecer em latim no
genitivo plural. A palavra latina para ‘escrava’ é serua, seru-ae, um
vocábulo feminino. Então mult-us, a, um ficará no genitivo feminino plural.
Resposta: multārum seruārum.
6 É importante enfatizar aqui que um adjetivo não descreve necessariamente o
substantivo ao lado do qual está. Ele descreve, isto sim, o substantivo com o qual
concorda em gênero, número e caso, independentemente de este substantivo estar
próximo ou não do adjetivo. Exemplos:
(a) multum fīlia seruat thesaurum — multum = acus. m. sing.; fīlia = nom. f.
sing.; thesaurum = acus. m. sing. Assim, multum descreve thesaurum, e não
fīlia. A tradução é: ‘A filha guarda um tesouro abundante’.
(b) nūllum fūrum cōnsilium placet — nūllum = acus. m. sing. ou nom./acus. n.
sing.; fūrum = gen. m. pl.; cōnsilium = nom./acus. n. sing. Portanto, nūllum
está descrevendo cōnsilium. Tradução: ‘Nenhum plano de ladrões é
agradável’.
  38  

Usualmente, mult-us, a, um precede o substantivo (multī seruī ‘muitos escravos’).


Quando aparece depois do substantivo, é enfático: seruōs multōs habeō ‘eu
realmente tenho muitos escravos’
7 Adjetivos podem ser usados isoladamente com valor de substantivos, situação em
que o gênero vai indicar o significado: bonus ‘um bom homem’, bonum ‘uma
coisa boa’.

15 Substantivos neutros da segunda declinação: somni-um ī 2n. ‘sonho’

sing. pl.
nom. somni-um somni-a
voc. somni-um somni-a
acus. somni-um somni-a
gen. somnī (ou somni-ī) somni-ōrum
dat. somni-ō somni-īs
abl. somni-ō somni-īs

Notas
1 Há apenas um tipo de substantivo neutro na 2.a declinação; sua terminação no
nominativo singular é sempre -um. Cf. aur-um ‘ouro’, unguent-um ‘unguento’.
2 Como ocorre com todos os neutros, o nominativo e o acusativo são iguais (tanto no
singular quanto no plural).
3 Não confunda as formas do neutro singular com o acusativo masculino singular da
2.a declinação (como seru-us, acus. sing. seru-um) ou com o genitivo plural da 3.a
declinação (como aed-is, gen. pl. aed-ium). Você deve saber com segurança que
palavras como somnium são neutras e pertencem à 2.a declinação.
4 Tal como se dá com todos os neutros, há o perigo de se confundirem as formas de
plural em -a com substantivos da 1.a declinação como serua.
5 Note o genitivo singular somnī ou somniī. Substantivos masculinos da 2.a
declinação cujo nominativo singular termina em -ius (como fīlius ‘filho’)
geralmente têm genitivo singular em -ī (fīlī), mas sempre nominativo plural em -iī
(fīliī).
6 Observe que as formas de genitivo, dativo e ablativo são idênticas às dos
masculinos como seruus.

Exercícios

1 Memorize esta lista de substantivos neutros da segunda declinação como somnium:

exiti-um ī 2n. ‘destruição’


ingeni-um ī 2n. ‘habilidade’, ‘talento’
perīcul-um ī 2n. ‘perigo’

2 Identifique o caso e diga o nom. e gen. sing. e o significado de cada palavra desta
lista (ex.: perīculōrum = gen. pl. de perīcul-um ī ‘perigo’): honōrum, ingenium, aedibus,
fūrum, exitiō, seruum, unguentōrum, aurum, senum, thēsaurīs.
  39  

3 Assinale e dê o significado dos substantivos plurais da seguinte lista: scaena, serua,


ingenia, familia, cūra, unguentīs, fīliā, somnia, corōna, perīcula.

16 Substantivo irregular da segunda declinação: de-us i 2m. ‘deus’

sing. pl.
nom. de-us dī (ou de-i/di-i)
voc. —19 dī (ou de-i/di-i)
acus. de-um de-ōs
gen. de-ī de-ōrum (ou de-um)
dat. de-ō dīs (ou de-is/di-is)
abl. de-ō dīs (ou de-is/di-is)

17A Vocativos

O caso vocativo (de uocō ‘chamar’) é usado para nos dirigirmos a uma
pessoa. Ex.: aue, amice ‘olá, amigo’. Sua forma é idêntica à do nominativo em quase
todas as palavras, exceto nas terminadas em -us ou -ius (no nom. sing.) da 2ª
declinação. Os vocábulos desse grupo, quando terminados em -us, têm vocativo singular
em -e (seruus, voc. sing. serue), e, quando terminados em -ius, têm vocativo singular
em -ī (fīlius, voc. sing. filī). Outra exceção é o vocativo de meus (‘meu’), que é mī. Ex.:
mī fīlī ‘ó meu filho’.

17B Aposição

Considere a seguinte sentença:

sum Dēmaenetus, Eucliōnis auus ‘Sou Demêneto, avô de Euclião’

O segmento frasal Eucliōnis auus dá mais informação a respeito de Demêneto. Diz-se


que está “em aposição” a Dēmaenetus, ou que é “aposto” de Dēmaenetus (de adpositus
‘colocado perto’). Note que auus, a principal parte da informação suplementar, está no
mesmo caso de Dēmaenetus. Qualquer que seja o caso em que está um substantivo, ele
pode receber um aposto. Por exemplo: em sum seruus Dēmaenetī senis ‘eu sou o
escravo de Demêneto, o velho’, senis (genitivo) é aposto de Dēmaenetī (genitivo).

Exercícios

1 Qualifique corretamente estes substantivos com o adjetivo multus (nos casos


ambíguos, dê todas as alternativas possíveis): cūrās, aurum, fūrēs, senem, honōris,
aedem, seruōrum, senum, aedīs, corōnae, (opcionais: seruum, unguenta, aedis,
familiam, aedium, honor, aedēs).

2 Assinale os substantivos com os quais concorda a forma dada de multus:

19
N. do T.: Não existe vocativo singular antes da época cristã, quando criou-se o vocativo deus.
  40  

multus: senex, cūra, Larem, familiae, seruus


multī: honor, aedēs, Laris, senēs, seruī
multīs: honōribus, aedīs, cūram, seruum, deum, senibus, aurum
multās: senis, honōrēs, aedīs, cūram, familiās
multae: seruae, aedī, cūram, senēs, dī
multa: aedēs, unguenta, senem, cūra, corōnārum
(opcionais: multōs: aedīs, unguentum, cūrās, seruōs, fūrēs
multō: aurum, Larem, cūram, honōrī, aedem
multōrum: aedium, unguentōrum, seruum, senum, deōrum, corōnārum
multārum: fūrum, aurum, honōrem, seruārum, aedium)

3 Verta para o latim: muitas escravas (nom.); de grande honra; de muitas coroas; muito
ouro; um homem muito velho (ac.); de muitos ladrões; muitos anciãos (ac.).

4 Traduza estas frases:

(a) multī fūrēs sunt in aedibus.


(b) multās cūrās multī senēs habent.
(c) multae seruae plēnae sunt cūrārum.
(d) multum aurum Eucliō, multās aulās aurī plēnās habet.
(e) seruōs senex habet multōs.

5 Traduza estas frases:

(a) nūlla potentia longa est. (Ovídio)


(b) uīta nec bonum nec malum est. (Sêneca)
(c) nōbilitās sōla est atque ūnica uirtūs. (Juvenal)
(d) longa est uīta sī plēna est. (Sêneca)
(e) fortūna caeca est. (Cícero)

potenti-a ae 1f. poder mal-us, a um mau ūnic-us a um único, sem igual


long-us a um longo, nōbilitās nōbilitāt-is 3f. uirtūs uirtūt-is 3f. virtude
duradouro nobreza fortūn-a ae 1f. fortuna
uīt-a ae 1f. vida sōl-us a um só, único caec-us a um cego
nec... nec nem... nem atque e, mas

Exercício opcional

Diga o caso (ou casos, quando houver ambiguidade) dos seguintes substantivos e
indique a declinação a que pertencem: seruae, honōrī, thēsaurīs, familiā, deum, fīliā,
dīs, corōna, senum, thēsaurum, honōrum, deōrum, seruārum, aedium.

Exercícios de leitura

1 Em cada uma das seguintes frases o verbo está em primeiro ou segundo lugar. Diga
em cada caso se está no sing. ou no pl. Em seguida indique, seguindo a ordem em que
aparecem, o sujeito e (se houver) o objeto do verbo. Depois traduza para o português e,
finalmente, leia as frases em latim com a entonação correta.
  41  

(a) clāmant seruī, senex, seruae.


(b) dat igitur honōrem multum Phaedra.
(c) nunc possidet Lar aedīs.
(d) amant dī multum honōrem.
(e) dat aurum multās cūrās.
(f) habitant quoque in aedibus seruī.
(g) est aurum in aulā multum.
(h) timent autem fūrēs multī senēs.
(i) quārē intrant senex et seruus in scaenam?
(j) tandem explicat Lar cūrās senis.

2 Diga de cada termo se é sujeito, objeto ou se está no genitivo. Depois complete a


frase com um verbo adequado e na forma correta. Finalmente, traduza.

(a) senem seruus...


(b) aedīs deus...
(c) honōrēs Lar...
(d) fūr aurum...
(e) Eucliōnis fīliam dī...
(f) fīliae senum honōrēs...
(g) aedem deus...
(h) unguenta dī...
(i) Larem Phaedra, Phaedram Lar... (o verbo tem de estar no sing.)
(j) seruōs Phaedra et seruās...

3 Traduza literalmente e diga, ao mesmo tempo em que se traduz, que função tem cada
palavra (sujeito, objeto, verbo etc.), agrupando, quando necessário, palavras que
cumprem juntas o mesmo papel. Traduza para o português por escrito. Finalmente, leia
em latim com a entonação correta, pensando ao mesmo tempo no significado do texto.

(a) aulās enim habet multās Eucliō senex.


(b) aedīs fūrum plēnās multī timent senēs.
(c) thēsaurum Eucliōnis clam uidet serua.
(d) nūllus est in aedibus seruus.
(e) Phaedram, fīliam Eucliōnis, et Staphylam, fīliae Eucliōnis seruam, Lar amat.
(f) deinde Eucliō aulam, quod fūrēs ualdē timet, cēlat.
(g) mē igitur Phaedra amat, Phaedram ego.
(h) nam aurum Eucliō multum habet, corōnās multās, multum unguentum.
(i) senex autem fūrēs, quod multum habet aurum, ualdē timet.
(j) multum seruī unguentum ad Larem, multās corōnās portant.

Exercício de leitura / exercício de teste

Leia a passagem abaixo e, enquanto lê, ao identificar um adjetivo, diga (i) com o que
ele concorda (se ele segue seu substantivo), (ii) que tipo de substantivo você espera que
concordará com ele (se aparecer antes). Use o vocabulário da seção 1B para as
palavras que você desconhecer. Ao fim, depois de traduzir o trecho todo, leia em voz
alta o texto latino.
  42  

Lar in scaenam intrat. deus est Eucliōnis familiae. seruat Lar sub terrā thēsaurum
Dēmaenetī. multus in aulā thēsaurus est. ignōrat autem dē thēsaurō Eucliō, quod Larem
nōn cūrat. nam nūllum dat unguentum, nūllās corōnās, honōrem nūllum. Phaedram
autem, senis auārī fīlim, Lar amat. dat enim Eucliōnis fīlia multum unguentum, multās
corōnās, multum honōrem. Lar igitur Dēmaenetī aulam, quod bona est Eucliōnis fīlia,
Eucliōnī dat. Eucliō autem aulam, quod auārus est, sub terrā iterum collocat. nam fūrēs
ualdē timet Eucliō! cūrās habet multās! uexat thēsaurus senem auārum et anxium.
plēnae enim fūrum sunt dīuitum hominum aedēs.

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Depois verta as portuguesas para latim,
tomando como referência a estrutura das latinas para a ordem das palavras.

(a) Lar igitur Eucliōnem, quod honōrem nōn dat, nōn amat.
Por conseguinte, os deuses cuidam de Fedra, porque Fedra cuida do Lar.

(b) senex autem cūrās habet multās, quod aurum habet multum.
Os escravos, contudo, levam muitas coroas, porque têm (usar do) muito respeito.

(c) Eucliōnis aedēs fūrum sunt plēnae, quod aulam aurī plēnam habet senex.
O templo dos deuses está cheio de ouro, porque as filhas dos ricos oferecem panelas
cheias de oro.

(d) ego multum unguentum, corōnās multās, multum honōrem habeō.


Você tem uma grande preocupação e um grande tesouro.

(e) tē, Dēmaenete, nōn amō.


Não levo ouro, meu filho.

(f) clāmant seruī, supplicant seruae, timet senex.


A filha está suplicando, os velhos estão gritando e as escravas têm medo.

__________________________________________________________________
Deliciae latinae
______________________________________________________________________

Esta seção, que aparecerá no final de cada unidade, consistirá de uma mistura de dicas
sobre a formação das palavras, exercícios com palavras latinas de relevância para o
português, palavras e expressões latinas de uso corrente ainda hoje, e trechos de textos
latinos originais para leitura e tradução. O título significa algo como “deleites latinos”.

NB. Os auxílios de vocabulário presentes nesta seção servem para auxiliar a leitura e a
tradução do modo mais rápido, fácil e eficiente possível. Assim, não daremos
informações gramaticais completas sobre as palavras.

N dos T. Como muitas das deliciae foram escritas originalmente para o público original
anglófono, faremos muitas adaptações, cortes e inserções de questões mais interessantes
para o público lusófono.
  43  

Formação de palavras

(a) Radicais
O radical de uma palavra dá a dica do significado de muitas outras palavras, e.g., seru-
nas palavras seru-us ou seru-a significa “escravo”, “servo”; com terminação verbal,
seruiō significa “servir a, ser um escravo de alguém”, e.g.,

aed- na forma aedēs “casa”, com o sufixo –ficō “tornar, fazer” = aedificō
“construir, edificar”. Na forma aedīlis, significa “edil”, um oficial romano
originalmente responsável por edificações.

(b) Prefixos
Um “prefixo” (prae “diante de”, fīxus “fixado”) é uma palavra fixada diante de uma
outra. A maior parte das preposições (cf. 10), e.g., in, ad etc. pode também ser usada
como prefixo, e, dessa forma, alterar ligeiramente o significado da palavra-base à qual
elas se fixam, e.g.,

palavra-base sum: adsum “estar junto de”; insum “estar dentro”


palavra-base portō “carregar”: importō “carregar para dentro”; apportō “carregar
até” (observe que imp- torna-se imp- mas adp- torna-se app-)

Observe as seguintes preposições que são comumente usadas como prefixos:

cum (con-) “com”


prae “diante de, em frente de”
post “depois”

Exercício

Divida as seguintes palavras latinas em radical e prefixo, e tente adivinhar seu


significado: inhabitō, inuocō, praeuideō, comportō, praesum, posthabeō.

(c) Radicais verbais diferentes dos radicais do presente


Como você logo descobrirá, os verbos latinos possuem um número de radicais
diferentes. Até agora você aprendeu o radical de presente, e.g., uoc-ō “chamar”. Mas a
maioria dos verbos da primeira conjugação possui um outro radical em -āt-, i.e. uoc-āt-.
Esse radical foi bastante frutífero na formação de outras palavras latinas, assim como
das línguas europeias como o francês, o inglês e o português, particularmente aquelas
terminadas em “–ado/a” e “-ação”. Exemplos em português são “vocação”,
“convocação”, “invocação”, “invocado” etc.

Exercício

Encontre substantivos em português em “-ado/a” ou em “-ação” para os seguintes


verbos latinos: supplicō, importō, dō, habitō.

Exercícios de vocabulário
  44  

1 Encontre palavras em português relacionadas às seguintes palavras latinas: familia,


corōna, scaena, timeō, deus, multus, uideō.
2 Encontre as palavras latinas relacionadas com as seguintes palavras do português:
pecuniário, honorífico, amatório, tesouro, portador, filial, edifício, unguento, furtivo,
servil, anular.

Latim cotidiano

Há várias palavras e expressões latinas que usamos no nosso dia-a-dia:

a.m. = ante merīdiem.


p.m. = post merīdiem. cf. post mortem; post scrīptum.
iānua = porta. Iānus (Jano) era um deus romano que tinha duas faces, de modo
que ele pudesse olhar para dentro e para fora como uma porta e, assim como o mês de
janeiro, para frente em direção ao novo ano e para o velho que ficou para trás.
tandem = “por fim, por último”. A bicicleta para duas pessoas em inglês chama-
se tandem. A expressão possui vários usos cotidianos em inglês, a maioria deles
relacionados a grupos de coisas ou pessoas agindo de maneira similar, sincronizada ou
enfileirada.
uōx (= “voz”) populī, uōx deī = qual é o significado dessa expressão? cf. agnus
(“cordeiro”) deī.

É comum que usemos, em português e em outras línguas europeias, palavras em latim


com seus plurais flexionados corretamente, como por exemplo campus, campi. Agenda
(“coisas que devem ser feitas”) e media (“coisas que estão no meio”) são exemplos de
latinismos que usamos. Em inglês encontramos criteria (“critérios”), data (“dados”).

Latim autêntico

Vulgata

(Excerto retirado da Vulgata, tradução da Bíblia para o latim por São Jerônimo, nos
séculos IV e V a.C. Essa edição foi chamada “vulgata” a partir de sua ēditiō uulgāta,
“edição popular”. Cf. “vulgar” em português.)

et (Deus) ait (“disse”) ‘ego sum Deus patris tuī, Deus (“de”) Abraham, Deus (“de”)
Isaac, et Deus (“de”) Jacob.’ (Êxodo, 3.6) ‘ego sum quīs um.’ (Êxodo, 3.14)

Latim conversacional

Contrariamente à crença popular, o latim sempre foi uma língua falada, e não apenas
escrita. A maior parte dos textos dos tempos antigos, naturalmente, refletem a forma
escrita e literária da língua. Mas em Plauto, Terêncio e nas cartas de Cícero nós
podemos ouvir a voz dos romanos. Vejamos alguns elementos para iniciar uma
conversa em latim.

saluē ou saluus sīs ou auē (ou hauē) : ‘Olá!’ (literalmente, “salve!”, “que estejas
salvo!”)
ualē “adeus” (literalmente, “seja forte, fique bem”)
  45  

sīs ou sī placet ou nisi molestum est ou grātum erit sī... ou amābō tē : “por
favor” (literalmente, “se você estiver/puder”, “se lhe aprouver”, “será agradável se...”,
“gostarei de você (se...)”.
grātiās tibi agō “obrigado” (literalmente, “dou graças a você”)
ut ualēs? ou quid agis? ou quid fit? “como vai você?” (lit. “como está de
força/saúde?”, “o que está fazendo?”, “o que está acontecendo?”)
est ou est ita ou etiam ou ita ou ita uērō ou sānē ou certē: “sim” (lit. “é”, “é
assim”, “também/até”, “assim/isso”, “assim mesmo”,
“razoavelmente/verdadeiramente”, “certamente”)
nōn ou nōn ita ou minimē: “não” (lit. “não”, “não dessa forma”, “minimamente”)
age ou agedum “vamos lá”
rēctē “certo” (lit. “corretamente”)
malum: “droga!” (lit. “uma coisa má”)
dī tē perdant!: “dane-se” (lit. “que os deuses te destruam!”)
īnsānum bonum: “bom demais” (lit. “uma coisa boa insana”)

O latim conversacional não morreu com o fim do Império Romano. Erasmo de Roterdã,
o grande humanista holandês, escreveu originalmente seus Colloquia Familiāria
(publicado pela primeira vez em 1518) parcialmente como um material de auxílio para o
ensino da conversação em latim. O primeiro “Colóquio” apresenta aos pupilos vários
modos de saudação. A seguir temos algumas fórmulas recomendadas para os amantes:

saluē... mea Cornēliola “Corneliazinha”


mea uīta “minha vida”
mea lūx “minha luz”
meum dēlicium “meu deleite, minha querida”
meum suāuium “meu docinho (lit. “beijo”)”
mel meum “meu mel”
mea uoluptās única “meu único prazer”
meum corculum “meu coraçãozinho”
mea spēs “minha esperança”
meum sōlātium “meu conforto/meu consolo”
meum decus “minha graça/glória/esplendor”
  46  

Seção 1C

(Eucliō ex aedibus in scaenam intrat clāmatque)

EVC: exi ex aedibus! exi statim! cūr nōn exīs, serua mea?
STAPHYLA: (ex aedibus exit et in scaenam intrat) quid est, mī domine?
quid facis? quārē mē ex aedibus expellis? serua tua sum. quārē 130
mē uerberās, domine?
EVC: tacē! tē uerberō quod mala es, Staphyla.
STAPH: egone mala? cūr mala sum? misera sum, sed nōn mala,
domine. (sēcum cōgitat) sed tū īnsānus es!
EVC: tacē! exī statim! abī etiam nunc... etiam nunc... ohē! stā! 135
manē! (Eucliō sēcum cōgitat) periī! occidī! ut mala mea serua
est! nam oculōs in occipitiō habet. ut thēsaurus meus mē
miserum semper uexat! ut thēsaurus multās cūrās dat! (clāmat
iterum) manē istīc! tē moneō, Staphyla!
STAPH: hīc maneō ego, mī domine. tū tamen quō īs? 140
EVC: ego in aedīs meas redeō (sēcum cōgitat) et thēsaurum meum
clam uideō. nam fūrēs semper in aedīs hominum dīuitum
ineunt...

(Eucliō ē scaenā abit et in aedīs redit)

STAPH: ō mē miseram! dominus meus īnsānus est. per^noctem 145


numquam dormit, sed peruigilat; per^diem mē ex aedibus
semper expellit. quid in animō habet? quārē senex tam īnsānus
est?

(Eucliō tandem ex aedibus exit et in scaenam redit)

EVC: (sēcum cōgitat) dī mē seruant! thēsaurus meus saluus est! (clāmat) 150
nunc, Staphyla, audī et operam dā! ego tē moneō. abī intrō et
iānuam occlūde. nam ego nunc ad praetōrem abeō — pauper
enim sum. sī uidēs arāneam, arāneam serua. mea enim arānea
est. sī uīcinus adit et ignem rogat, ignem statim exstingue. sī
uīcīnī adeunt et aquam rogant, respondē “aquam numquam in 155
aedibus habeō.” sī uīcīnus adit et cultrum rogat, statim
respondē “cultrum fūrēs habent.” sī Bona Fortūna ad aedīs it,
prohibē!

STAPH: Bona Fortūna numquam ad tuās aedīs adit, domine.


EVC: tacē, serua, et abī statim intrō. 160
STAPH: taceō et statim abeō. (Staphyla abit et sēcum murmurat) ō mē
miseram! ut Phaedra, fīlia Eucliōnis, mē sollicitat! nam grauida
est Phaedra ē^Lycōnidē,^uīcīno Eucliōnis. senex tamen
ignōrat, et ego taceō, neque cōnsilium habeō.

(exit ē scaenā Staphyla) 165


  47  

(Agora Euclião descreve como, ainda que a contragosto, vai ao foro para pegar sua parte do
dinheiro distribuído pelo pretor — para evitar suspeitas de que é rico)

EVC: nunc ad praetōrem abeō, nimis hercle inuītus. nam praetor


hodiē pecūniam in^uirōs dīuidit. sī ad forum nōn eō, uīcīnī
meī “hem!” inquiunt, “nōs ad forum īmus, Eucliō ad forum
nōn it, sed domī manet. aurum igitur domī senex habet!” nam
nunc cēlō thēsaurum sēdulō, sed ucīnī meī semper adeunt, 170
cōnsistunt, “ut^ualēs, Eucliō?” inquiunt, “quid^agis?” mē
miserum! ut cūrās thēsaurus meus dat multās!

Vocabulário da Seção 1C
abeō vou embora, saio hīc aqui per noctem durante a noite,
abī saia, vá embora! hodiē hoje à noite
abit ele(a) sai, vai embora homo homin-is 3m. homem, periī estou perdido!
adeunt eles(as) aproximam- indivíduo peruigilō 1 estou/fico
se, vêm até iānu-a ae 1f. porta acordado
adit ele(a) aproxima-se, vem ignis ign-is 3m. fogo praetor praetōr-is 3m. pretor
anim-us ī 2m. mente ignōrō 1 ignoro prohibē proíba!, impeça!
aqu-a ae 1f. água īmus vamos quid o que?
arāne-a ae 1f. teia de aranha, in uirōs entre os homens quid agis que você faz/está
aranha ineunt eles(as) entram fazendo?
audī escute! inquiunt eles(as) dizem quō aonde?
Bona (bon-us a um) boa īnsān-us a um louco redeō volto
clāmatque e ele(a)grita intrō dentro redit ele(a) volta
cōgitō 1 penso, reflito, inuīt-us a um que procede respondē responda!
medito contra a própria vontade, rogō 1 pergunto por, peço
cōnsili-um ī 2n. plano contrariado salu-us a um salvo
cōnsistunt eles(as) põem-se īs você vai sēcum consigo mesmo
ao redor istīc aí, ali sēdulō cuidadosamente
cultrum (ac.) faca it ele(a) vai seruā guarde!
dīuidit ele(a) divide iterum outra vez, de novo seruō 1 guardo, conservo
dīuitum de (os) ricos mal-us a um mau, perverso sollicitō 1 atormento
domī em casa manē pare!, fique! stā aguarde!, pare!
domin-us ī 2m. senhor maneō 2 permaneço, paro statim em seguida,
dormit ele(a) dorme me-us a um meu imediatamente
ē Lycōnidē, uīcīnō de mī (voc.) ó meu...! tacē cale-se!
Licônides, o vizinho miser miser-a um desgraçado taceō 2 calo-me, estou
ē, ex (+ abl.) de, desde, fora moneō 2 aconselho, advirto calado
de murmurō 1 murmuro tam tão
egone eu? acaso eu? neque nem, e... não tu-us a um seu (2ps.)
eō vou nimis demasiado, demais uerberō 1 açoito, bato
etiam nunc todavia, agora nōs (nom., ac.) nós, nos uexō 1 molesto, perturbo
exī saia! numquam nunca uīcīn-us ī 2m. vizinho
exīs você vai, sai occidī estou morto! ut como!, que!
exit ele(a) sai occipiti-um ī 2n. occipício ut ualēs como você está?
expellis você expulsa (parte ínfero-posterior da
expellit ele(a) expulsa cabeça), nuca Memoranda
exstingue apague! occlūde feche!
facis você faz ocul-us ī 2m. olho Substantivos
Fortūn-a ae 1f. sorte ohē pare! aqu-a ae 1f. água
for-um ī 2n. foro operam dā preste atenção! domin-us ī 2m. senhor, amo
grauid-us a um pesado, pauper (nom.) pobre ignis ign-is 3m. fogo
grávida (no f.) pecūni-a ae 1f. dinheiro ocul-us ī 2m. olho
hem bem! per diem durante o dia, de uīcīn-us ī 2m. vizinho
hercle por Hércules! dia
  48  

Adjetivos
mal-us a um mau, perverso
salu-us a um salvo

Verbos
cogit-ō 1 pensar, refletir,
meditar
mane-ō 2 permanecer, parar
mone-ō 2 aconselhar,
advertir
rog-ō 1 perguntar
seru-ō 1 guardar, conservar
st-ō 1 estar de pé, parar
tace-ō 2 calar-se, estar
calado
uerber-ō 1 açoitar, bater
uex-ō 1 molestar, perturbar

Outros
ē, ex (+ abl.) fora de, desde,
de
me-us a um meu (voc. sing.
m. mi)
neque nem, e... não
numquam nunca
quid o que?
statim em seguida,
imediatamente
tu-us a um seu (2ps.)
ut como!, que!

Formas novas:

Adjetivos
miser miser-a um
desgraçado, infeliz

Verbos
eō ir, vir, andar
exeō sair
abeō andar, partir
adeō ir a, vir a, aproximar-se
redeō voltar
  49  

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1C

18 Imperativo presente ativo da 1.a e da 2.a conjugação

1.a 2.a
2ps amā ‘ama!’/‘ame!’ habē ‘tem!’/‘tenha!’
2pp amā-te ‘amai!’/‘amem!’ habē-te ‘tende!’/‘tenham!’

Notas
1 Essas formas expressam uma ordem, tal como o imperativo em português.
2 Os sujeitos subentendidos são tu ‘você’, para a 2.a pessoa do singular, e uos
‘vocês’, para a 2.a pessoa do plural.
3 A forma de singular é um “radical puro”, i.e., o radical sem o acréscimo de
nenhuma desinência. Já o plural forma-se com a desinência -te.

Exercícios

1 Forme e traduza o imperativo (singular e plural) dos seguintes verbos: timeō, rogō,
taceō cōgitō, moneō, cūrō, possideō, (opcionais: habeō, stō, explicō, cēlō, amō, uideō,
maneō).

2 Traduza para o português: dā corōnam!; portā aquam!; in aedibus manēte!; tacē!;


thēsaurum seruā!; monēte filiam!

3 Verta para o latim: olhem!; pergunte a Euclião!; calem-se!; escondam a panela!

19 eo ‘ir’, ‘vir’ (irregular): presente indicativo ativo

e-ō Imperativos:
ī-s
i-t ī ‘vai’/‘vá’, ‘vem’/‘venha’
ī-mus ī-te ‘ide’/‘vão’, ‘vinde’/‘venham’
ī-tis
e-u-nt

Notas
1 O radical do verbo é simplesmente i- ou e-.
2 Há várias palavras compostas que tomam como base o verbo eō. Por exemplo:
adeō ‘aproximar-se’, ‘ir na direção de’ (cf. preposição ad ‘junto a’, ‘para junto
de’, ‘para’), ineō ‘entrar’ (cf. preposição in ‘dentro’, ‘para dentro’) etc.

Exercícios
1 Traduza para o português e depois mude o número: ī, eunt, ītis, eō, it, īmus, exītis,
abīmus, abītis, redeunt, redītis, īte, redeō, exeunt.
  50  

2 Verta para o latim: vamos embora; voltam; vá!; aproximem-se; está saindo; vou;
voltem!; vocês vão.

20 Pronomes possessivos: meus, tuus

Os pronomes meus, a, um ‘meu’, ‘minha’ e tuus, a, um ‘teu’, ‘tua’/‘seu’, ‘sua’


(as traduções ‘seu’ e ‘sua’ correspondem aqui à 2.a p. s. ‘você’, e não à 3.a p. s. ‘ele/ela’)
declinam-se exatamente como adjetivos do tipo de multus, a, um, e concordam com os
substantivos seguindo as mesmas regras desses adjetivos.
O vocativo singular masculino de meus, a, um é mī. Exemplo: mī fīlī ‘ó meu
filho!’.20

21 Adjetivos da 1.a e da 2.a declinação: miser miser-a miser-um ‘miserável’,


‘desgraçado’, ‘infeliz’21

sing.
m. f. n.
nom. miser miser-a miser-um
voc. miser miser-a miser-um
acus. miser-um miser-am miser-um
gen. miser-ī miser-ae miser-ī
dat. miser-ō miser-ae miser-ō
abl. miser-ō miser-ā miser-ō

pl.
m. f. n.
nom. miser-ī miser-ae miser-a
voc. miser-ī miser-ae miser-a
acus. miser-ōs miser-as miser-a
gen. miser-ōrum miser-ārum miser-ōrum
dat. miser-īs miser-īs miser-īs
abl. miser-īs miser-īs miser-īs

Exercícios

1 Qualifique com as formas corretas de meus e tuus os seguintes substantivos e diga em


que caso estão: igne, aedīs, honōris, familiā, oculōrum, dominō, aquae, Eucliōnem,
senex.

2 Qualifique com a forma apropriada de miser os seguintes substantivos e diga em que


caso estão: Eucliōnī; Phaedrā; deus; fīliam; aedibus; dominī; seruārum; coquīs; senum.

20
N. do T.: tuus, a, um não possui vocativo.
21
N. do T.: miser, miser-a, miser-um é um adjetivo da 1.a classe, como multus, a, um. A única diferença
está, como se pode notar, no nominativo e no vocativo singular masculino.
  51  

22 Pronomes pessoais: ego ‘eu’ e tu ‘você’

nom. ego tū
acus. mē tē
gen. meī tuī
dat. mihi (ou mī) tibi
abl. mē tē

Notas
1 Quando o sujeito de um verbo é a 1.a pessoa do singular (‘eu’) ou a 2.a pessoa do
singular (‘você’), o latim não precisa expressar esse sujeito separadamente através
dos pronomes ego ou tū, já que o verbo por si só indica o sujeito pelas desinências
número-pessoais -o e -s. Mas o latim emprega ego e tū quando o falante quer
realçar a identidade da pessoa que está falando ou estabelecer um contraste
específico entre duas pessoas. Exemplos:
(a) ego Eucliōnem amo, tū Phaedram ‘eu amo Euclião, enquanto você ama
Fedra’22
(b) ego deum cūrō, tū senem uexās ‘eu me preocupo com o deus; você perturba
o velho’
Trata-se de uma questão de ênfase, sobretudo quando temos um contraste.
2 meī e tuī são genitivos “objetivos”, i.e. significam ‘dirigido a mim’, ‘dirigido a
ti/você’. Não expressam posse. Por exemplo, amor tuī não significa ‘teu/seu
amor’, mas ‘amor por ti/você’. A ideia de pertencimento, nesta situação
específica, é expressa pelos pronomes possessivos meus, a, um e tuus, a, um:
amor tuus ‘teu/seu amor’.

Exercícios

1 Traduza as seguintes frases e em seguida mude o número dos substantivos, adjetivos e


verbos:

(a) manent in dominī meī aedibus neque seruae neque seruī.


(b) malī senis mala serua dominum meum uexat.
(c) tuus uīcīnus uīcīnum meum uidet.
(d) senis miserī seruus in aedibus numquam manet.
(e) seruae miserae ad Larem meum numquam adeunt neque supplicant.
(f) dominus malus seruās statim uerberat miserās.

2 Nestas frases os adjetivos, em sua maior parte, não estão junto aos substantivos que
qualificam. Leia cada frase, prevendo o gênero, o número e o caso do substantivo que
se espera (quando o adjetivo aparece em primeiro lugar), e indique o substantivo em
questão. Depois traduza.

(a) malus igitur senex nōn multum habet honōrem.


(b) meā est tuus ignis in aulā.
(c) meīs tamen in aedibus multī habitant patrēs.
(d) malōs enim senēs Lar nōn amat meus.
22
N. do T.: Para marcar a ênfase na tradução, ‘eu’ e ‘você’ podem ser pronunciados com uma entonação
especial.
  52  

(e) meusne tuum seruat pater ignem? (-ne é uma partícula usada para enfatizar uma
interrogação)

3 Traduza estas orações:

(a) sōla pecūnia rēgnat. (Petrônio)


(b) uēritās numquam perit. (Sêneca)
(c) semper auārus eget. (Horácio)
(d) nōn dēterret sapientem mors. (Cícero)
(e) in fugā foeda mors est, in uictōriā glōriōsa. (Cícero)

sōl-us a um só auār-us ī 2m. avarento fug-a ae 1f. fuga


pecūni-a ae 1f. dinheiro egeō 2 estar necessitado foed-us a um feio,
rēgnō 1 reinar dēterreō 2 causar medo vergonhoso
uēritās uēritāt-is 3f. sapiēns sapient-is 3m. homem uictōri-a ae 1f. vitória
verdade sábio glōriōs-us a um glorioso
pereō (conjuga-se como eō) mors mort-is 3f. morte
perecer, morrer

23 Preposições: a/ab, e/ex

Outras preposições importantes são ā/ab e ē/ex. Ambas constroem-se apenas


com ablativo. As formas ab e ex são usadas diante de vogais: ab aulā, ex igne. ā/ab
indica afastamento, expressando muitas vezes o ponto de partida de um movimento:
ueniō ā casā ‘venho da choupana’. ē/ex exprime noções semelhantes: fonte, lugar de
onde algo vem ou de dentro do qual algo sai: ē foueā aurum mouet ‘tira ouro do
buraco’.23

Exercícios

Verta para o latim: fora da água; no olho (sc. entrar em); desde o fogo; até os senhores;
desde a casa; na cena (sc. entrar em). Opcionais: fora da panela; para junto dos ladrões;
desde os anciãos; na casa (sc. entrar em).

Exercício de leitura

Diga, ao mesmo tempo em que traduz, a função de cada palavra na frase, indicando a
que substantivos os adjetivos ou pronomes se referem. Se o adjetivo ou pronome
preceder o substantivo, procure prever o número, o caso e o gênero do substantivo. Em
seguida, complete a frase com um verbo adequado na forma correta e traduza as
frases por escrito.

(a) uīcīnum senex miser...


(b) dominus enim meus tuum ignem...
(c) neque ego meum neque tū tuum seruum...
(d) deinde mē seruī malī...
(e) seruōs malōs uīcīnus meus...
23
N. do T.: Aqui fizemos várias alterações em relação ao original.
  53  

(f) aulam, mī domine, serua mala...


(g) fūrem miserum ego quoque...
(h) ignem tū, ego aquam...
(i) oculōs meōs serua tua semper...
(j) quārē aurum et unguentum et corōnās Eucliō miser numquam...?

Exercício de leitura

Leia a seguinte passagem cuidadosamente, traduzindo cada palavra conforme ela


aparece e analisando sua função. Identifique sintagmas e expressões e, conforme for
possível, antecipe o que deve seguir. Quando tiver terminado, traduza para o português
corrente. Por fim, leia a passagem latina em voz alta sem a tradução, tentando
compreender o texto latino enquanto lê. Utilize apenas o vocabulário da seção 1C para
consulta.

EUCLIŌ (clāmat) exī! exī ex aedibus, serua.


(serua in scaenam intrat)
SERVA quid est, mī domine? quārē tū mē ex aedibus uocās? (Eucliō seruam uerberat)
ō mē miseram. ut dominus meus mē uexat. nunc enim mē uerberat. sed tū, mī domine,
quārē mē uērberās?
EUC. ō mē miserum. tacē ut mala es! ut mē miserum uexās! manē istīc, Staphyla, manē!
stā! moneō tē!
(in aedīs intrat Eucliō)
SER. ō mē miseram. ut miser dominus meus est.
(Eucliō ex aedibus in scaenam intrat)
EUC. saluum est. tū tamen quārē istīc stās? quārē in aedīs nōn īs? abī! intrā in aedīs!
occlūde iānuam!
(serua in aedīs intrat)
nunc abeō ad praetōrem, quod pauper sum. ut inuītus eō! sed sī hīc maneō, uīcīnī meī
‘hem’ inquiunt ‘senex senex miser multum habet aurum’.

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Em seguida, verta as portuguesas para o


latim, tomando como referência a estrutura das latinas para definir a ordem das
palavras.

(a) Staphyla, abī et aquam portā!


Escravas, saiam e peçam fogo.

(b) tū autem, mī domine, quārē cūrās malās habēs?


Mas por que você, meu Euclião, ama uma miserável escrava?

(c) ut aurum multum senēs uexat miserōs!


Como o perverso ancião açoita seus infelizes cscravos!

(d) ō mē miseram! ut oculī meī mē uexant!


Ai, pobre de mim! Que velho desgraçado eu sou!
  54  

(e) malōs dominōs miserī seruī habent.


A infeliz filha ama um miserável ancião.

(f) malōrum seruōrum oculī dominī miserī cūrās nōn uident.


Os olhos de uma má escrava não vêem a preocupação da desgraçada filha.

__________________________________________________________________
Deliciae latinae
______________________________________________________________________

Construção de palavras

Prefixos

in- pode significar “em”, como por exemplo em ineō “ir para dentro, entrar”,
insum “estar em”, mas também pode significar negação, como em īnsānus = in + sānus
“não são, insano”.
ē, ex geralmente significa “fora de”, “para fora de”, como por exemplo em exit
“ele sai”, expellō “expelir [i.e., para fora]”
ā, ab = “longe de”, “afastado de”, e.g., abeō “ir embora”
re- (usado apenas como prefixo) = “de volta”, “novamente”, e.g., redit “ele
retorna” (observe que re- torna-se red- antes de vogais)

Exercícios

1 Dê a derivação latina (prefixo e radical) dos seguintes verbos do português: cogitar,


instar, reinstar, reverberar, exportar, importar, aportar, revogar, reservar, explicar (plīco
= “dobrar”).
2 Liste palavras em português derivadas dos seguintes radicais: mane- (maneō), monit-
(moneō). Use prefixos quando necessário.
3 Dê as palavras latinas ligadas às seguintes palavras portuguesas: vexatório, aquático,
admoestar, dominante, inexplicável.
4 Encontre palavras portuguesas relacionadas a: ignis, oculus, maneō, malus, saluus.

Latim cotidiano

notā bene (NB) “note bem!” De que conjugação é notā?


vide infrā (ou simplesmente vidē, abreviado como v.) “veja abaixo”
adeste, fidēlēs “estejam presentes, fiéis”, “vinde, ó fiéis”
exit, exeunt marcações de cena para a saída de personagens no teatro

Latim autêntico

Vulgata

honōrā patrem tuum et mātrem tuam. (Exodus, 20.12)


uōs estis sal terrae... uōs estis lūx mundī. (Secundum Matthaeum, 5.13)

Preceitos de Catão
  55  

parentēs amā.
datum (= o que lhe foi dado) seruā.
uerēcundiam (= modéstia) seruā.
familiam curā.
iūsiūrandum (= juramento) seruā.
coniugem amā.
deō supplicā.

Essas orações são de uma coleção de dicta Catōnis (“ditos de Catão”, = Marcus Cato,
234-149 a.C.), escritos no século III ou IV a.C. mas atribuídos ao grande velho que
epitomizou a sabedoria e a tradição romanas para as gerações posteriores. Essas frases
foram muito prezadas desde a Idade Média até o século XVII na Inglaterra, por
exemplo.

Início de um epitáfio

sepulcrum hau pulcrum pulcrāī fēminae...

hau não (forma arcaica de pulcrāī: note a forma arcaica


haud) de genitivo singular
pulc(h)r- belo, bonito feminino.

Sabe-se que a mulher enterrada ali chamava-se Cláudia – talvez um membro da família
chamada Claudii Pulchri.
  56  

Seção 1D

A cena muda. Entra um vizinho de Euclião, Megadoro, com sua irmã, Eunômia. Foi o
filho de Eunômia, Licônides, que engravidou Fedra; mas ninguém sabe disso, exceto
Estáfila. Eunômia deseja que Megadoro se case, e os pensamentos deste se dirigem à
bela filha de seu vizinho.

drāmatis persōnae

Megadōrus, uīcīnus Eucliōnis et frāter Eunomiae: uir dīues.


Eunomia, soror Megadōrī.
(Lycōnidēs fīlius Eunomiae est.) 175
est uīcīnus Eucliōnis. nōmen uīcīnī Megadōrus est. Megadōrus
sorōrem habet. nōmen sorōris Eunomia est. Megadōrus igitur
frāter Eunomiae est, Eunomia soror Megadōrī. Eunomia fīlium
habet. nōmen fīlī Lycōnidēs est. amat Lycōnidēs Phaedram, Eucliōnis
fīliam. Lycōnidēs Phaedram amat, Phaedra Lycōnidem. 180

(Eunomia Megadōrum ex aedibus in scaenam dūcit)

MEGADŌRVS: optima fēmina, dā mihi manum tuam.

EVNOMIA: quid dīcis, mī frāter? quis est optima? fēminam enim


optimam nōn uideō. dīc mihi.
MEG: tū optima es, soror mea: tē optimam habeō. 185
EVN: egone optima? tūne mē ita optimam habēs?
MEG: ita dīcō.
EVN: ut tū mē optimam habēs fēminam, ita ego tē frātrem habeō
optimum. dā igitur mihi operam.
MEG: opera mea tua est. iubē, soror optima, et monē: ego audiō. 190
quid uīs? cūr mē ab aedibus dūcis? dīc mihi.
EVN: mī frāter, nunc tibi dīco. uxōrem nōn habēs.
MEG: ita est. sed quid dīcis?
EVN: sī uxōrem nōn habēs, nōn habēs līberōs. sed uxōrēs uirōs
semper cūrant seruantque et pulchrī līberī monumenta 195
pulchra uirōrum sunt. cūr uxōrem domum nōn statim dūcis?
MEG: periī, occidī! tacē, soror. quid dīcis? quid uīs? ego dīues sum;
uxōrēs uirum dīuitem pauperem statim faciunt.
EVN: ut tū frāter es optimus, ita ego fēmina sum optima, sororque
optima tua. tē ita iubeō moneōque: dūc domum uxōrem! 200
MEG: sed quam in animō habēs?
EVN: uxōrem dīuitem.
MEG: sed dīues sum satis, et satis pecūniae aurīque habeō. praetereā
uxōrēs dīuitēs domī nimis pecūniae aurīque rogant. nōn amō
uxōrum dīuitum clāmōrēs, imperia, eburāta uehicula, pallās, 205
purpuram. sed...
EVN: dīc mihi, quaesō, quam uīs uxōrem?
MEG: (sēcum cōgitat, tum...) puella uīcīna, Phaedra nōmine, fīlia
Eucliōnis, satis pulchra est...
  57  

EVN: quam dīcis? puellamne Eucliōnis? ut tamen pulchra est, ita est 210
pauper. nam pater Phaedrae pecūniam habet nūllam. Eucliō
tamen, quamquam senex est nec satis pecūniae aurīque habet,
nōn malus est.
MEG: sī dīuitēs uxōrēs sunt dōtemque magnam habent, post nūptiās
magnus est uxōrum sūmptus: stant fullō, phrygiō, aurifex, 215
lānārius, caupōnēs flammāriī; stant manuleāriī, stant propōlae
linteōnēs, calceolāriī; strophiāriī adstant, adstant simul sōnāriī.
pecūniam dās, abeunt. tum adstant thylacistae in aedibus,
textōrēs limbulāriī, arculāriī. pecūniam dās, abeunt.
intolerābilis est sūmptus uxōrum, sī dōtem magnam habent. 220
sed sī uxor dōtem nōn habet, in potestāte uirī est.
EVN: rēctē dīcis, frāter. cūr nōn domum Eucliōnis adīs?
MEG: adeō. ecce, Eucliōnem nunc uideō. ā forō redit.
EVN: ualē, mī frāter.

(exit ē scaenā soror Megadōrī) 225

MEG: et tū ualē, soror mea.

Vocabulário da Seção 1D

ā, ab (+ abl.) (a partir) de faciunt eles(as) fazem monument-a ōrum 2n. pl.


adstant eles(as) estão fēmin-a ae 1f. mulher lembrança(s), memorial,
presentes, aguardam fīli-us i 2m. filho túmulo
anim-us ī 2m. mente flammāri-us i 2m. fabricante nec e... não, nem (= neque)
arculāri-us ī 2m. fabricante de véus de noiva nimis (+ gen.) demasiado,
de pequenos cofres for-um i 2n. foro muito, demais
audiō ouço, escuto frāter frātr-is 3m. irmão nōmen nome
aurifex aurific-is 3m. ourives fullō fullōn-is 3m. lavador de nōmine de nome
aurīque e de ouro panos nūpti-ae ārum 1f. pl. núpcias
calceolāri-us ī 2m. sapateiro habeō 2 tenho por, considero occidī estou morto!
caupō caupōn-is 3m. imperi-um ī 2n. autoridade, oper-a ae 1f. atenção
vendedor, balconista ordem optim-us a um ótimo,
clāmor clāmōr-is 3m. grito intolerābilis intolerável excelente
dīc diga! ita assim pall-a ae 1f. manto (próprio
dīcis você diz iubeō 2 ordeno de mulheres ricas)
dīcō digo lānāri-us i 2m. o que pater patr-is 3m. pai
dīues dīuit-is rico trabalha com lã pauper pauper-is pobre
domī em casa līber-i ōrum 2m. pl. filhos pecūni-a ae 1f. dinheiro
domum para casa limbulāri-us a um o que põe periī estou perdido!
domum dūc case-se! franjas nos vestidos persōn-a ae 1f. personagem
domum nōn dūcis você não linteō linteōn-is 3m. tecedor phrygiō phrygiōn-is 3m. o
se casa de lenços que borda com ouro
dōs dōt-is 3f. dote Lycōnidēs Lycōnid-is 3m. post (+ ac.) depois
dōtemque e um dote Licônides potestās potestāt-is 3f. poder
drāma drāmat-is 3n. peça, magn-us a um grande praetereā além disso
comédia manuleāri-us ī 2m. propōl-a ae 1m. vendedor de
dūcis você leva, conduz fabricante de túnicas com varejo
dūco conduzo, levo mangas puell-a ae 1f. menina
eburāt-us a um adornado manum (ac.) mão puellamne a menina?
com marfim Megadōr-us ī 2m. Megadoro pulcher pulchr-a um bonito
ecce eis, olhe! mihi a/para mim, me purpur-a ae 1f. púrpura
egone eu? moneōque e aconselho quaesō por favor (lit.
Eunomi-a ae 1f. Eunômia ‘pergunto’)
  58  

quam (ac.) que mulher?, ut como (ut... ita assim


quem? como... também, tão... Outros
quamquam embora quanto) ā, ab (+ abl.) (a partir) de
-que e uxor uxōr-is 3f. esposa ita assim, sim
quis quem? nec e... não, nem (= neque)
quod porque Memoranda nimis (+ gen.) demasiado,
rēctē corretamente muito, demais
satis bastante, o bastante, o Substantivos -que e (= et)
suficiente dives diuit-is 3m. rico satis (+ gen.) bastante, o
sēcum consigo fēmin-a ae 1f. mulher bastante, o suficiente
mesmo/mesma fīli-us ī 2m. filho tum então
seruantque e eles(as) frāter frātr-is 3m. ut como (ut... ita assim
protegem irmão como... também, tão...
simul ao mesmo tempo pater patr-is 3m. pai quanto)
sōnāri-us i 2m. fabricante pauper pauper-is 3m. pobre
de cintos pecūni-a ae 1f. dinheiro Formas novas
soror sorōr-is 3f. irmã puell-a ae 1f. menina
sororque e (tua/sua) irmã soror sorōr-is 3f. irmã Substantivos
strophiāri-us i 2m. uir uir-ī 2 m. homem, domī em casa
fabricante de sutiãs esposo domum para casa
sūmptus extravagância, gasto uxor uxōr-is 3f. esposa nōmen nōmin-is 3n. nome
textor textōr-is 3m. tecelão
thylacist-a ae 1f. coletor de Adjetivos Adjetivos
oferendas magn-us a um grande pulcher pulchr-a um bonito
tibi lhe, a você optim-us a um ótimo,
tum então excelente Verbos
tūne acaso você? audi-ō 4 ouvir, escutar
ualē! adeus! Verbos dīc-o 3 dīx-, dīct-** dizer,
uehicul-um ī 2n. meio de habe-ō 2 ter por, considerar falar
transporte, veículo (ter)* dūc-o 3 dūx-, dūct-**
uir uir-ī 2m. homem, esposo iube-ō 2 iuss-** ordenar, conduzir, levar (domum dūcō
uīs você quer mandar levar para casa, casar)
ualē! adeus!

* Na seção Memoranda, quando aparece um significado novo de uma palavra já aprendida, o(s)
significado(s) anteri-or(es) aparece(m) entre parênteses.

** Essas formas são radicais que servem para formar outros tempos verbais a serem vistos mais tarde.

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1D

24 Presente indicativo e presente imperativo ativos (3.a conjugação): dico ‘dizer’,


‘falar’

1ps dīc-ō
2ps dīc-i-s
3ps dīc-i-t
1pp dīc-i-mus
2pp dīc-i-tis
3pp dīc-u-nt

Imperativo
2ps dīc (irregular) ‘diz!’/‘diga!’
2pp dīc-i-te ‘dizei!’/‘digam!’
  59  

Notas
1 Note que a 3.a conjugação tem como vogal característica um -i- breve. Essa vogal
não faz parte do radical, ao contrário do que ocorre com as vogais que aparecem
na 1.a e na 2.a conjugação.
2 Observe que a 3.a pessoa do plural é dīc-u-nt.
3 Outro verbo importante da 3.a conjugação é dūcō ‘conduzir’.
4 Os imperativos regulares da 3.a conjugação terminam em -e e -ite. O verbo dico é
uma das poucas exceções, pois não possui o -e na 2.a pessoa do singular. Compare
com os imperativos de audio, que aparecem no item seguinte.

25 Presente indicativo e presente imperativo ativos (4.a conjugação): audio ‘ouvir’,


‘escutar’

1ps audi-ō
2ps audī-s
3ps audi-t
1pp audī-mus
2pp audī-tis
3pp audi-u-nt

Imperativo
2ps audī ‘ouve!’/‘ouça!’
2pp audī-te ‘ouvi!’/ ‘ouçam!’

Notas
1 A vogal característica da 4.a conjugação é -i-. Tal como o -e- da 2.a conjugação, faz
parte do radical, e aparece em todas as pessoas. Observe que esse -i- é longo na 1.a
e na 2.a pessoa do plural.
2 Note que na 3.a pessoa do plural aparece um u antes da desinência (audi-u-nt).
Compare com dīc-u-nt.

Exercícios

1 Verta para o latim: ele diz, eles estão levando, ouvimos, dizemos, vocês ouvem, diga,
escutem, conduzam, você está dizendo, (ele/ela) ouve, elas estão escutando.

2 Identifique a conjugação dos seguintes verbos e traduza-os: cūrō, cēlat, habētis,


dūcunt, rogās, possidēmus, audiō, (opcionais: iubētis, supplicō, clāmāmus).

3 Traduza e mude o número: dīcitis, audiunt, supplicāmus, audīs, dīcō, dūcimus,


audīmus, clāmant, tacēs, (opcionais: rogat, dīcit, cōgitō, manētis, amātis, dūcunt,
moneō, uocās, dūcis).
  60  

26 Substantivos da 3.a declinação: nomen nomin-is 3n. ‘nome’

sing. pl.
nom. nōmen nōmin-a
voc. nōmen nōmin-a
acus. nōmen nōmin-a
gen. nōmin-is nōmin-um
dat. nōmin-ī nōmin-ibus
abl. nōmin-e nōmin-ibus

Notas
1 Todos os substantivos neutros têm a mesma forma para o nominativo e o acusativo,
tanto no singular quanto no plural (neste caso, sempre em -a). Só o contexto dirá
se uma palavra neutra é sujeito ou objeto. É claro que, se a frase tiver um neutro
plural e um verbo no singular, o neutro plural deve ser o objeto. Detalhes como
esse devem ser observados com atenção.
2 Todos os substantivos da 3.a declinação terminados em -men são neutros e
declinam-se como nomen, nominis.
3 nomen, nominis é um substantivo de tema consonântico. Também há neutros da 3.a
que têm a vogal temática -i, mas serão estudados mais tarde.

27 Adjetivos da 1.a e 2.a declinações: pulcher puchr-a pulchr-um ‘bonito’

sing.
m. f. n.
nom. pulcher pulchr-a pulchr-um
voc. pulcher pulchr-a pulchr-um
acus. pulchr-um pulchr-am pulchr-um
gen. pulchr-ī pulchr-ae pulchr-ī
dat. pulchr-ō pulchr-ae pulchr-ō
abl. pulchr-ō pulchr-ā pulchr-ō

pl.
m. f. n.
nom. pulchr- ī pulchr-ae pulchr-a
voc. pulchr-ī pulchr-ae pulchr-a
acus. pulchr-ōs pulchr-ās pulchr-a
gen. pulchr-ōrum pulchr-ārum pulchr-ōrum
dat. pulchr-īs pulchr-īs pulchr-īs
abl. pulchr-īs pulchr-īs pulchr-īs

Notas
1 Já vimos o adjetivo miser, misera, miserum, que, exceto pelo nominativo/vocativo
singular masculino, declina-se como multus, multa, multum através do radical
miser-. pulcher, pulchra, pulchrum funciona quase do mesmo modo. A única
diferença está no radical pulchr- (como se esse adjetivo tivesse perdido o e nas
formas que são diferentes do nominativo/vocativo singular masculino).
  61  

28 Substantivos da 2.a declinação: puer puer-i 2m. ‘menino’, uir uir-i 2m. ‘homem’,
culter cultr-i 2m. ‘faca’

puer, puer-i
sing. pl.
nom. puer puer-ī
voc. puer puer-ī
acus. puer-um puer-ōs
gen. puer-ī puer-ōrum
dat. puer-ō puer-īs
abl. puer-ō puer-īs

uir, uir-i
sing. pl.
nom. uir uir-ī
voc. uir uir-ī
acus. uir-um uir-ōs
gen. uir-ī uir-ōrum
dat. uir-ō uir-īs
abl. uir-ō uir-īs

Notas
1 Esses substantivos declinam-se exatamente como seruus, seruī através dos radicais
puer- e uir-. Só o nominativo/vocativo singular é diferente. Compare com miser,
misera, miserum.

culter, cultr-i
sing. pl.
nom. culter cultr-ī
voc. culter cultr-ī
acus. cultr-um cultr-ōs
gen. cultr-ī cultr-ōrum
dat. cultr-ō cultr-īs
abl. cultr-ō cultr-īs

Notas
1 culter, cultri declina-se como seruus, seruī através do radical cultr-. Só o
nominativo/vocativo singular é diferente. Compare com pulcher, pulchra,
pulchrum.

Exercícios

1 Qualifique com a forma adequada de magnus, miser e pulcher o substantivo nōmen:


nōmen, nōminis, nōmine, nōmina, nōminum.
  62  

2 Qualifique com a forma adequada de pulcher e miser cada um dos seguintes


substantivos: uxōrum, sorōribus, uirō, uxōris, fēminae, frātrī, aedīs, Larem, seruā, aedēs,
fēminīs, dominī, seruōs.

Opcional
Qualifique com a forma apropriada de miser e pulcher os seguintes substantivos e
traduza o resultado: sorōre, dīuitis, uir, uxōrī, fēminae, puellīs, fīliī, uīcīnō, Larem,
frātrum, seruā.

29 Pronome interrogativo quis/qui, quis/quae, quid/quod ‘quem?’, ‘qual?’, ‘que?’

sing.
m. f. n.
nom. quis quis quid → pronomes substantivos
quī quae quod → pronomes adjetivos24
acus. quem* quam* quid → pronome substantivo
quod → pronome adjetivo
gen. cuius* cuius* cuius*
dat. cui* cui* cui*
abl. quō* quā* quō*

pl.
m. f. n.
nom. quī* quae* quae*
acus. quōs* quās* quae*
gen. quōrum* quārum* quōrum*
dat. quibus (quīs)* quibus (quīs)* quibus (quīs)*
abl. quibus (quīs)* quibus (quīs)* quibus (quīs)*

* Formas que servem tanto para os pronomes substantivos quanto para os pronomes adjetivos.

Notas
1 Pronomes interrogativos são utilizados em orações interrogativas.
2 Observe que, assim como os substantivos, os pronomes interrogativos latinos
também se declinam, ou seja, têm formas específicas para expressar as diferentes
funções que cumprem na frase. Numa oração como ‘quem te ama?’ estamos
fazendo uma pergunta sobre o sujeito do verbo ‘ama’. Mais precisamente, o
pronome ‘quem’ é o sujeito da oração interrogativa. Portanto, ao traduzirmos essa
oração para o latim, temos de substituir o pronome português por uma forma de
nominativo: quis te amat? Já em ‘quem você vê?’, estamos fazendo uma pergunta
sobre o objeto de ‘vê’; ‘quem’ é o objeto dessa oração. A tradução para o latim
deve ser feita com o pronome no acusativo: quem uidēs? Em português os
pronomes não mudam de forma segundo a função que cumprem na frase. Mas os

24
N. do T.: Um pronome adjetivo, em latim, aparece sempre acompanhando um substantivo e
concordando com ele, como ocorre com os adjetivos propriamente ditos. Um pronome substantivo
aparece “isolado”, desacompanhado de substantivo. Tomemos um exemplo do português. Em ‘quem está
falando?’, a palavra ‘quem’ é um pronome substantivo. Mas em ‘que homem está falando?’, o termo
‘que’ é um pronome adjetivo.
  63  

interrogativos do inglês funcionam de modo semelhante aos do latim. Observe o


seguinte quadro comparativo:

LATIM INGLÊS PORTUGUÊS


quis te amat? who loves you? quem te ama?
quem amas? whom do you love?* quem você ama?
cuius? whose? de quem?

* A forma whom só é usada como objeto, mas normalmente é substituída por who
no inglês falado.
3 Note que as terminações desses pronomes são uma mistura das terminações da 1.a,
2.a e 3.a declinações. Trata-se da chamada “declinação pronominal”. Veremos esse
fenômeno novamente com outros pronomes.
4 Os interrogativos podem ser utilizados como pronomes substantivos ou como
pronomes adjetivos. A forma que eles assumem para desempenhar essas duas
funções é a mesma, exceto para o nominativo singular e para o acusativo neutro
singular. Verifique o quadro acima.
5 Veja alguns exemplos do uso dos interrogativos como pronomes substantivos: quis
uocat? ‘quem está chamando?’; quid uideo? ‘o que eu vejo?’; cui donum das? ‘a
quem você dá o presente?’
6 Finalmente, aqui estão alguns exemplos da utilização dos pronomes adjetivos: qui
uir deos non amat? ‘que homem não ama os deuses?’; quod aurum uideo? ‘que
ouro eu estou vendo?’; quam feminam amas? ‘que mulher você ama?’; cuius senis
filiam amas? ‘você ama a filha de que velho?’; qui uiri boni sunt? ‘que homens
são bons?’; quos fures timetis? ‘que ladrões vocês temem?’; in quibus aedibus di
habitant? ‘em que templos moram os deuses?’

Exercícios

1 Verta para o latim as palavras sublinhadas. É necessário descobrir se o pronome está


em função substantiva ou adjetiva e qual o caso gramatical a ser empregado.

(a) De quem são estes livros?


(b) Que mulheres vemos?
(c) Que é isto?
(d) Qual nome é? / Qual é o nome?
(e) Quem odeias mais?
(f) De que mulher são essas coisas?
(g) Quem (feminino singular) perseguimos?
(h) Que homem é culpado?

30 domus f. ‘casa’, ‘lar’25

domus, quando antecedido de preposição, significa ‘casa’ (como o inglês house), e é um


sinônimo de aedēs, aedium. Para significar ‘lar’, ‘minha/sua/nossa casa’ (como o inglês
25
N. do T.: Trata-se de um substantivo que tem terminações específicas, algumas da 2.a declinação e
outras da 4.a declinação. Vamos estudá-lo com mais detalhes em outro momento.
  64  

home), domus utiliza-se sem preposição. Por enquanto, vamos encontrar nos textos
apenas as seguintes formas: domum ‘para casa’; domī ‘em casa’; domō ‘(vindo) de
casa’.

Exemplos:

(a) domum eō ‘vou para casa’ (isto é, ‘para a minha casa’);


(b) ad domum eō ‘vou para a casa’ (isto é, ‘uma casa qualquer, não necessariamente a
minha’) — podemos dizer o mesmo usando aedēs, aedium: ad aedīs eo.

31 satis ‘suficiente(mente)’, ‘o suficiente’, nimis ‘demasiado’, ‘demais’, ‘muito’

Essas duas palavras constroem-se com substantivos no genitivo (o chamado


“genitivo partitivo”, que indica uma parte de um todo). Exemplos: satis pecūniae habeō
‘tenho dinheiro suficiente’ (literalmente ‘o suficiente de dinheiro’); nimis curārum
habes ‘você tem preocupações demais’ (literalmente ‘muito de preocupações’). satis e
nimis são palavras invariáveis, ou seja, não se declinam.

32 -que

-que significa ‘e’ (como et) e (i) ou coordena o termo ao qual está anexado com a
palavra anterior (e.g., seruum patremque = ‘escravo e pai’) ou (ii) na poesia, indica que
uma lista de elementos está sendo apresentada (e.g., seruumque patremque sorōremque
‘tanto escravo quanto pai e filha’ ou ‘escravo, pai e filha’).

Exercícios

1 Nestas frases os adjetivos, em sua maior parte, não estão junto aos substantivos que
qualificam. Leia cada frase, prevendo o gênero, o número e o caso do substantivo que
se espera (quando o adjetivo aparece em primeiro lugar), e indique o substantivo em
questão. Depois traduza.

(a) nōn multam possident pecūniam optimae uxōrēs.


(b) multī meās sorōrēs amant fīliī.
(c) seruōs miserōs optimī nōn uexant senēs.
(d) malī frātrēs pulchrās uerberant sorōrēs.
(e) multī fēminās pulchrās domum dūcunt senēs.

Antes de resolver os exercícios 2 e 3, revise os ablativos das três declinações.

2 Traduza: in aedīs; in aulā; ad Larem; ab ignibus; in aquam; ex aulīs; in aedibus; in


aquā; ā dominō; ex oculīs; (opcionais: ad dominum; in scaenam; in nōmine; ā seruā; in
aulam; in scaenā).

3 Verta para o latim: na casa (use aedēs); para junto da menina; até os irmãos; para
longe da esposa; para dentro do palco; na casa; para fora da água; para longe dos fogos;
(opcionais: nas águas; para longe do palco; para dentro da família; no olho; até os
senhores; para fora da casa).
  65  

4 Traduza: nimis coronārum; satis seruōrum; nimis aquae; satis nōminum; nimis
sorōrum; satis ignis.

5 Traduza estas frases:

(a) quem uirum audiō?


(b) cuius nōmen nunc dīcitis?
(c) in aedibus Eucliōnis satis aurī semper est.
(d) habet fīlia Eucliōnis misera nimis cūrārum.
(e) tū autem quam fēminam domum dūcis?
(f) puer pulcher est, uir tamen malus.
(g) pater meus nimis pecūniae habet, satis cūrārum.
(h) quārē pulchra fēmina pauperem numquam amat?
(i) optimī uirī satis aurī semper habent.

6 Traduza estas frases:

(a) uir bonus est quis? (Horácio)


(b) quis nōn paupertātem extimēscit? (Cícero)
(c) quis bene cēlat amōrem? (Ovídio)
(d) quid est beāta uīta? sēcūritās et perpetua tranquillitās. (Sêneca)
(e) mors quid est? aut fīnis aut trānsitus. (Sêneca)
(f) immodica īra gignit īnsāniam. (Sêneca)
(g) uītam regit fortūna, nōn sapientia. (Cícero)

bon-us a um bom perpetu-us a um perpétuo, immodic-us a um


paupertās paupertāt-is 3f. contínuo desmesurado, imoderado
pobreza tranquillitās tranquillitāt-is īr-a ae 1f. ira
extimēscō 3 temer muito 3f. tranquilidade, paz gignō 3 engendrar, gerar
bene bem mors mort-is 3f. morte īnsāni-a ae 1f. loucura
amor amōr-is 3m. amor aut... aut ou... ou regō 3 reger, dirigir
beāt-us a um feliz fīnis, fīn-is 3m. fim fortūn-a ae 1f. fortuna, sorte
uīt-a ae 1f. vida trānsitus (nom.) transição, sapienti-a ae 1f. sabedoria,
sēcūritās sēcūritāt-is 3f. passagem inteligência
segurança

Exercício de leitura

Observe os seguintes exemplos:

ego tē uxōrem habeō ‘eu te considero minha esposa’


ego tē pauperem faciō ‘eu faço de ti um pobre’
(NB.: faciō se conjuga como audiō, mas o -i- é sempre breve)

Agora complete com uma forma de habeō ou faciō as frases abaixo. Em seguida, leia a
frase latina com a entonação correta.

(a) tandem uir mē fīlium...


(b) Eucliō uīcīnum dīuitem...
(c) Eucliōnem pauperem...
  66  

(d) Megadōrus fīliam Eucliōnis uxōrem...


(e) ego autem dīuitēs miserōs...
(f) dominus malōs seruōs miserōs...

Exercício de leitura

Leia a passagem inteira em latim, procurando analisar as estruturas e antecipar o que


deve aparecer na sequência. Em seguida, traduza para o português.

Megadōrum, uirum dīuitem et Eucliōnis uīcīnum, soror Eunomia ex aedibus uocat.


Eunomia enim anxia est, quod Megadōrus uxōrem nōn habet. Megadōrus autem uxōrem
nōn uult (quer). nam uxōrēs uirōs dīuitēs pauperēs faciunt. habet satis aurī Megadōrus et
fēminās pulchrās nōn amat. ut enim pulchra fēmina est, ita uirum uexat. ut uir dīues est,
ita uxor uirum pauperem facit. Eunomiam autem sorōrem optimam Megadōrus habet. ut
igitur postulat (exige) soror, ita facit frāter. Phaedram enim, Eucliōnis fīliam, puellam
optimam habet. ut tamen pauper Eucliō est, ita dōtem habet Phaedra nūllam. Megadōrus
autem dōtem nōn uult. nam sī dīuitēs uxōrēs sunt magnamque habent dōtem, magnus est
post nūptiās sūmptus, nimis dant uirī pecūniae.

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Em seguida, verta as portuguesas para o


latim, tomando como referência a estrutura das latinas para definir a ordem das
palavras.

(a) ut ego soror optima sum, ita tū frāter optimus.


Da mesma maneira que Fedra é uma filha excelente, assim também Euclião é um pai
excelente.

(b) dominus meus frātrem uirum optimum habet.


Considero as mulheres bonitas más esposas.

(c) quid nōmen uxōris est tuae?


Quem é o irmão de meu vizinho?

(d) uir pauper uxōrem pauperem domum dūcit.


Os maridos excelentes se casam com belas esposas.

(e) fēminae in aedibus stant.


As meninas entram na água.

(f) satis ego aurī habeō, satis pecūniae.


O rico tem dinheiro demais e preocupações demais.
  67  

__________________________________________________________________
Deliciae latinae
______________________________________________________________________

Exercícios de vocabulário

1 Identifique os termos latinos dos quais se derivam as seguintes palavras: fraternal,


viril, otimizar, paupérrimo, pulcritude, duque, magnitude.

2 Encontre termos em português derivados dos seguintes termos latinos: nōmen, domī,
pecūnia, fēmina, ualē, satis.

Latim cotidiano

O que significa ex libris?


Em Lucas, 16:19ss., Cristo contou a história de Lázaro e Dives. Quem era Dives?
O que se quer dizer pela expressão ad īnfīnītum?
in vīnō vēritās  o que se encontra no vinho?
O que significam as expressões ad libitum (de libet, ‘apraz, é aprazível’) e ad nauseam?
No teatro antigo, māchina era um tipo de guindaste que permitia que atores ou
elementos de cena ficassem elevados em cena. O que significa deus ex māchinā neste
contexto? E por que esta expressão passou a significar um final milagroso para um
evento?

Construção de palavras

dūcō possui o radical dūct- para formas participiais. Que palavras portuguesas podemos
formar a partir de seus radicais (e eventuais prefixos)?
E quanto a audiō, audīt- e dīcō, dīct-?

Latim Autêntico

Marcial
Marcial (c. 40-140 d.C.) foi um autor de epigramas satíricos Romano.

Thāida Quīntus amat. ‘quam Thāida?’ Thāida luscam.


ūnum oculum Thāis nōn habet, ille duōs. (3.8)

Thāis nome de uma prostituta lusc-us a um caolho duōs dois


romana famosa (ac. Thāida) ūn-us a um um
quam qual? ille ele, aquele (Quīntus)

NB. Os romanos pensavam no amor como sendo cego e nos amantes como tendo sido
cegados por ele.

habet Āfricānus mīliēns, tamen captat.


Fortūna multīs dat nimis, satis nūllī. (12.10)

mīlliēns cem milhões de captō 1 tomar posse, conquistar, multīs a muitos


sestércios caçar (recompensas) nūllī a ninguém
  68  

Vulgata

Dominus regit mē. (Salmo 23)

Missa cristã

in nōmine Patris et Fīliī et Spīritūs Sānctī.


  69  

Seção 1E

Euclião, de volta do foro, encontra Megadoro, e está muito desconfiado das intenções
deste. Por fim, contudo, concorda com um casamento sem dote entre Fedra e o vizinho.
Estáfila fica horrorizada ao saber.

(abit ā forō in scaenam Eucliō)

EVCLIŌ: (sēcum cōgitat) nunc domum redeō. nam ego sum hīc, animus
meus domī est.
MEGADŌRVS: saluē Eucliō, uīcīne optime. 230
EVC: (Megadōrum uidet) et tū, Megadōre. (sēcum cōgitat) quid uult
Megadōrus? quid^consilī habet? cūr homo dīues pauperem
blandē salūtat? quārē mē uīcīnum optimum dīcit? periī!
aurum meum uult!
MEG: tū bene ualēs? 235
EVC: pol ualeō, sed nōn ualeō^ā pecūniā. nōn satis pecūniae habeō, et
paupertātem meam aegrē ferō.
MEG: sed cūr tū paupertātem tuam aegrē fers? sī animus aequus est,
satis habēs.
EVC: periī! occidī! facinus Megadōrī perspicuum est: thēsaurum 240
meum certē uult!
MEG: quid tū dīcis?
EVC: (assustado) nihil. paupertās mē uexat et cūrās dat multās.
paupertātem igitur aegrē ferō. nam fīliam habeō pulchram, sed
pauper sum et dōtem nōn habeō. 245
MEG: tacē. bonum habē animum, Eucliō, et dā mihi operam.
cōnsilium enim habeō.
EVC: quid cōnsilī habēs? quid uīs? (sēcum cōgitat) facinus nefārium!
ō scelus! nōn dubium est! pecūniam uult meam! domum statim
redeō. ō pecūniam meam! 250

(exit ē scaenā in aedīs Eucliō)

MEG: quō abīs? quid uīs? dīc mihi.


EVC: domum abeō...

(Euclio exit. mox in scaenam redit)

dī mē seruant, salua est pecūnia. redeō ad tē, Megadōre. dīc 255


mihi, quid nunc uīs?

MEG: ut tū mē, ita ego tē cognōuī. audī igitur. fīliam tuam uxōrem
poscō. prōmitte!
EVC: quid dīcis? cuius fīliam uxōrem uīs?
MEG: tuam. 260
EVC: cūr fīliam poscis meam? irrīdēsne mē, homo dīues hominem
pauperem et miserum?
MEG: nōn tē irrīdeō. cōnsilium optimum est.
  70  

EVC: tū es homo dīues, ego autem pauper; meus ōrdō tuus nōn
est. tū es quasi bōs, ego quasi asinus. sī bōs sīc imperat “asine, 265
fer onus”, et asinus onus nōn fert, sed in lutō iacet, quid bōs
facit? asinum nōn respicit, sed irrīdet. asinī ad bouēs nōn facile
trānscendunt. praetereā, dōtem nōn habeō. cōnsilium igitur
tuum nōn bonum est.
MEG: sī uxōrem puellam pulchram habeō bonamque, satis dōtis habeō, 270
et animus meus aequus est satis. satis dīues sum. quid opus
pecūniae est? prōmitte!
EVC: prōmittō tibi fīliam meam, sed nūllam dōtem. nūllam enim habeō
pecūniam.
MEG: ita est ut uīs. cūr nōn nūptiās statim facimus, ut uolumus? cūr 275
nōn coquōs uocāmus? quid dīcis?
EVC: hercle, optimum est. ī, Megadōre, fac nūptiās, et fīliam meam
domum dūc, ut uīs — sed sine dōte — et coquōs uocā. ego enim
pecūniam nōn habeō. ualē.
MEG: eō. ualē et tū. 280

(exit ē scaenā Megadōrus)

EVC: dī immortalēs! pecūnia uērō ualet. nōn dubium est: pecūniam


meam uult Megadōrus. heus tū, Staphyla! tē uolō! ubi es,
scelus? exīsne ex aedibus? audīsne mē? cūr in aedibus manēs?

(ex aedibus in scaenam intrat Staphyla) 285

hodiē Megadōrus coquōs uocat et nūptiās facit. nam hodiē


uxōrem domum dūcit fīliam meam.

STAPH: quid dīcis? quid uultis et tū et Megadōrus? ō puellam


miseram! subitum est nimis. stultum est facinus!
EVC: tacē et abī: fac omnia, scelus, fer omnia! ego ad forum abeō. 290

(exit Eucliō)

STAPH: nunc facinora sceleraque Lycōnidis patent! nunc exitium


fīliae Eucliōnis adest. nam hodiē grauidam domum dūcit
uxōrem Megadōrus, neque cōnsilium habeō ego. periī!

Vocabulário da Seção 1E
adsum estou perto, estou Audīsne acaso você ouve? ne cōnsili-um ī 2n. plano,
presente transforma audīs em uma decisão
aegrē dificilmente, pergunta dōs dōt-is 3f. dote
duramente bene bem, completamente dubi-us a um duvidoso
aequ-us a um tranquilo blandē de modo lisonjeiro dūc conduza!, tome!
anim-us ī 2m. mente, bon-us a um bom exīsne ver audīsne
espírito, coração bōs bou-is 3m. boi fac faça!
asin-us ī 2m. asno certē certamente, sem dúvida facile facilmente
audī ouça!, escute! cognōuī conheço facimus fazemos
  71  

facinora (nom./ac.) prōmitte prometa! nūpti-ae ārum 1f. pl.:


maquinações, intrigas prōmittō 3 prometer núpcias
facinus (nom./ac.) quasi como, como se
maquinação, intiga quid cōnsilī que plano? Adjetivos
facit ele(a) faz (literalmente ‘o que de bon-us a um bom, valente,
fer leve!, traga! plano?’) honrado, conveniente
ferō levo, suporto quō aonde?
fers você leva, você suporta respiciō 3/4 volto-me para Verbos
fert ele(a) leva, suporta olhar, olho para trás, olho, irrīde-ō 2 rir-se de (+ ac.)
for-um ī 2n. foro examino prōmitt-ō 3 prōmīs-,
grauid-us a um pesado, saluē salve!, olá! prōmiss- prometer
grávida (no f.) salūtō 1 saúdo posc-ō 3 pedir
hercle por Hércules! scelus (nom./ac.) crime, saluē salve!, olá!
heus ei! criminoso
hīc aqui scelera (nom./ac.) crimes, Outros
hodiē hoje criminosos bene bem, totalmente, de
homo homin-is 3m. homem, sēcum consigo maneira correta
indivíduo, ser humano mesmo/mesma hodiē hoje
iaceō 2 jazo sīc assim -ne partícula que, unida a
immortālēs imortais sine (+ abl.) sem uma palavra, faz com que a
imperō 1 ordeno stult-us a um estúpido, tolo ênfase da interrogação incida
irrideō 2 rio-me de (+ ac.) subit-us a um súbito, sobre esta
lut-um ī 2n. lodo, barro repentino occidī estou morto, estou
mihi a/para mim, me tibi a/para você, lhe perdido
mox sem demora, trānscendō 3 atravesso (com periī estou perdido
imediatamente, logo depois ad + ac. ‘transformo-me quasi como, como se
nefāri-us a um criminoso em’) quid cōnsilī que plano?
nihil nada ualeō 2 estou bem, (ualeō a (literalmente ‘o que de
nūpti-ae ārum 1f. pl. núpcias + abl. ‘estou bem do ponto plano?’)
occidī estou morto, estou de vista de’) quō aonde?
perdido ubi onde? sēcum consigo
omnia (nom./ac.) todas as uērō verdadeiramente mesmo/mesma
coisas, tudo uīs você quer, você deseja ubi onde?
onus (nom./ac.) carga, peso uolō quero, desejo
oper-a ae 1f. atenção uolumus queremos, Formas novas
opus (nom./ac.) necessidade desejamos
ōrdō ōrdin-is 3f. ordem, uult ele(a) quer, deseja Substantivos
classe social uultis vocês querem, desejam facinus facinor-is 3n.
pateō 2 estou aberto, exposto maquinação, intriga
paupertās paupertāt-is 3f. Memoranda onus oner-is 3n. carga, peso
pobreza scelus sceler-is 3n. crime,
periī estou perdido Substantivos criminoso
perspicu-us a um claro, anim-us ī 2m. mente,
evidente espírito, coração Verbos
pol certamente (literalmente cōnsili-um ī 2n. plano, faci-ō 3/4 fēc-, fact- fazer
‘por Pólux!’) decisão, conselho fer-ō, tul-, lāt- levar, trazer,
poscō 3 peço, peço em dōs, dōt-is 3f. dote suportar
casamento homo homin-is 3m. homem, uol-ō querer, desejar
praetereā ademais, além indivíduo, ser humano
disso
  72  

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1E

33 Presente indicativo ativo (3.a/4.a conjugação): capio ‘pegar’, ‘capturar’

1ps capi-ō
2ps capi-s
3ps capi-t
1pp capi-mus
2pp capi-tis
3pp capi-u-nt

Notas
1 Há alguns verbos cujo paradigma de conjugação se assemelha ora ao da 3.a
conjugação, ora ao da 4.a (como é o caso de faciō ‘fazer’, que já apareceu na
Seção 1D).
2 No presente do indicativo, capiō parece, à primeira vista, um verbo da 4.a
conjugação. Mas há uma diferença a ser observada. Embora em todas as formas
tenhamos um -i-, essa vogal é sempre breve, como na 3.a conjugação.26

34 uolo ‘desejar’, ‘querer’ (irregular): presente indicativo ativo

uol-ō
uī-s
uul-t (uol-t)
uol-u-mus
uul-tis (uol-tis)
uol-u-nt

Nota
O radical de uolo é irregular; mas observe que as terminações são regulares: -o, -s, -t
etc.

35 fero ‘levar’, ‘trazer’ (irregular): presente indicativo ativo

fer-ō
fer-s
fer-t
fer-i-mus
fer-tis
fer-u-nt

Nota
O que faz esse verbo ser irregular é a ausência de -i- entre o radical e as desinências
número-pessoais em algumas das formas.

26
N. do T.: O texto original chama verbos como capio de “3rd/4th conjugation verbs”. Outras gramáticas
preferem denominações como “verbos de conjugação mista”. Há autores, ainda, que dizem que capio,
facio, etc., pertencem a uma “variante da 3.a conjugação”. Já os dicionários tratam essas palavras
simplesmente como verbos da 3.a, sem maiores explicações.
  73  

36 Presente imperativo ativo (todas as conjugações)

1 2 3 4 3/4
2ps amā habē posc-e audī cap-e
2pp amā-te habē-te posc-ite audī-te capi-te

Notas
1 Usamos poscō como exemplo de imperativo da terceira conjugação já que dīcō tem
imperativo irregular. capiō passa a exemplificar a conjugação mista.
2 Observe a semelhança entre imperativos de terceira conjugação e da conjugação
mista.

37 Imperativos irregulares: sum, eo, dico, duco, fero, facio

sum eo duco dico fero facio


2ps es ī dūc dīc fer fac
2pp es-te ī-te dūc-i-te dīc-i-te fer-te faci-te

Exercícios

1 Verta para o latim: você faz; ouçam!; eles trazem; traga! (dois verbos); ele deseja;
fazemos; ela suporta; vão!; você quer; peça!; faço; pegue o dote! Opcionais: pegamos;
vocês trazem; vocês levam; vocês desejam; ame o seu pai!

2 Traduza e depois mude o número: facimus, fert, uult, ferunt, dīc, ferte, uolumus, est,
eunt, facis, dūcite, īte, capite, (opcionais: fac, uīs, es, habent, dīcit, audīte, faciunt, fers).

38 Substantivos da terceira declinação: onus oner-is 3n. ‘carga’, ‘peso’

sing. pl.
nom. onus oner-a
voc. onus oner-a
acus. onus oner-a
gen. oner-is oner-um
dat. oner-ī oner-ibus
abl. oner-e oner-ibus

Nota
Todos os substantivos da 3.a em -us, -eris são neutros (compare com nomen, outro
tipo de neutro da 3.a, já estudado na Seção 1D). Observe que, como sempre, o
nominativo e o acusativo têm formas idênticas. Note também o nom./voc./acus.
pl. em -a, típico dos neutros. É vital conhecer todas as informações básicas (i. e.
onus, oneris 3n.) sobre substantivos como onus, para que se evitem confusões
com substantivos masculinos da 2.a como thēsaurus, dominus etc. onus é um
substantivo de radical consonântico.
  74  

Exercícios

1 Dê a forma de multus que concorde com estes casos de onus: onus, oneris, onere,
onera, oneribus.

2 Assinale as palavras com que concorda a forma dada de pulcher:

pulchrō: oneris, scelere, dominī, facinus, deī, dī


pulchra: fēmina, facinora, scelera, seruae, senex
pulchrum: opus, seruum, fēminam, senēs, Larem, scelus, facinoris
pulchrōrum: nōminum, seruārum, deōrum, senum, scelerum

39 Sufixo interrogativo -ne...?

A partícula -ne, unida à primeira palavra de uma sentença, transforma essa


sentença em uma pergunta. Exemplo: puerum amās ‘você ama o menino’ — amāsne
puerum? ‘você ama o menino?’.
Além disso, -ne dá uma ênfase especial à palavra a que se une: puerumne amās?
‘é o menino que você ama?’.

Exercícios

Leia estas orações em latim com a entonação correta. Depois traduza-as. Por fim,
converta-as em interrogações adicionando -ne à primeira palavra da frase e leia com a
entonação que essa partícula implica.

(a) est bona puella.


(b) īmus ad aedīs Eucliōnis.
(c) fert bene onus serua.
(d) optimum cōnsilium habent.
(e) Eucliō fīliam statim prōmittit.
(f) Megadōrus satis pecūniae habet.
(g) soror frātrem bene audit.
(h) scaenam uidētis.
(i) Eucliō honōrem numquam dat.
(j) uxōrēs nimis aurī semper habent.

40 quid + gen.

Já vimos que satis + genitivo significa ‘o suficiente (de)’, e que nimis + genitivo
quer dizer ‘demais (de)’ (cf. Seção 1D). O interrogativo quid + genitivo, por sua vez,
tem o sentido de ‘que (de)?’. Por exemplo: quid consili? ‘que plano?’ (literalmente ‘o
que de plano?’); quid negoti? ‘que problema?’ (literalmente ‘o que de problema?’).
Trata-se de outro exemplo do chamado “genitivo partitivo”.
  75  

Exercícios

1 Traduza: in aedīs; ē dōte; in animō; ad hominēs; ab aquā; ex ignibus; domī; ē


perīculō; in exitium; ad aquās; in perīculum.

2 Traduza estas orações:

(a) ubi est Megadōrus? quid cōnsilī habet?


(b) uxōremne pulchram uult uir dīues? quid negōtī est?
(c) uōs igitur bonōs habeō.
(d) seruī in aedibus nimis faciunt scelerum, nimis facinōrum malōrum.
(e) quid oneris fers? quō īs?

3 Traduza estas orações:

(a) festīnā lentē. (Suetônio)


(b) uirtūs sōla uītam efficit beātam. (Cícero)
(c) nihil inuītus facit sapiēns. (Sêneca)
(d) auctor opus laudat. (Ovídio)
(e) nihil in uulgō modicum. (Tácito)
(f) neque bonum est uoluptās neque malum. (Aulo Gélio)

festīnō 1 apressar-se beāt-us a um feliz auctor auctōr-is 3m. autor


lentē devagar nihil nada opus oper-is 3n. obra
uirtūs uirtūt-is 3f. virtude inuīt-us a um obrigado, laudō 1 louvar, elogiar
sōl-us a um só contrariado uulg-us ī 2n. vulgo, povo
uīt-a ae 1f. vida sapiēns sapient-is 3m. homem modic-us a um moderado
efficiō 3/4 produzir, fazer sábio uoluptās uoluptāt-is 3f. prazer

Exercício de leitura

Leia cada par de frases. Em cada caso, (1) diga se o sujeito da segunda frase é
masculino, feminino ou neutro, (2) diga a quem ou a que se refere a segunda frase, (3)
traduza, (4) leia em latim com a entonação correta.

(a) Megadōrus fīliam Eucliōnis sine dōte domum dūcit. optimus igitur homo est.
(b) Megadōrus domī hodiē neque nūptiās parat neque coquōs uocat. malum est.
(c) Eunomia soror Megadōrī est. bona fēmina est.
(d) Eunomia frātrem habet. nōn dubium est.
(e) Eucliō fīliam amat. malus nōn est.
(f) Eucliō timet. nōn dubium est.
(g) Staphyla cōnsilium Eucliōnis audit. malum est.
(h) Staphyla in aedīs redit. cūrae enim plēna est.

Exercício de leitura / teste

Leia a passagem inteira em latim, procurando analisar as estruturas e antecipar o que


deve aparecer na sequência. Em seguida, traduza para o português.
  76  

Megadōrus Eucliōnem uīcīnum uidet. ā forō abit Eucliō. anxius est. nam animus
Eucliōnis, quod aurum nōn uidet, domī est, Eucliō ipse (ele mesmo) forīs (fora).
Eucliōnem blandē salūtat Megadōrus, homo dīues pauperem. timet autem Eucliō, quod
Megadōrus uir dīues est. perspicuum est. Megadōrus thēsaurum Eucliōnis uult. nōn
dubium est. Eucliō in aedīs it, uidet aurum, saluum est. ex audibus igitur exit.
Megadōrus fīliam Eucliōnis uxōrem poscit. fīliam prōmittit Eucliō, sed sine dōte.
pauper enim est. dōtem igitur habet nūllam. Megadōrus dōtem uult nūllam. bonus est et
dīues satis. nūptiae hodiē sunt. coquum igitur uocat Megadōrus in aedīs. timet autem
Staphyla, quod Phaedra ē Lycōnidē grauida est. Megadōrus uxōrem domum dūcit
grauidam. malum est.

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Em seguida, verta as portuguesas para o


latim, tomando como referência a estrutura das latinas para definir a ordem das
palavras.

(a) irrīdēsne me, homo malus uirum optimum?


Ele, um rico, zomba de Euclião, um pobre?

(b) malum est. Megadōrus enim fīliam Eucliōnis uxōrem facit.


Não há dúvida. O ancião considera a menina sua filha.

(c) redīte ad Larem, seruī! corōnās ferte multās!


Entrem na casa, escravas. Tragam sua carga.

(d) quid cōnsilī est? Megadōrusne dōtem uult? malum est.


Que é? Você quer dinheiro? Sem dúvida.

(e) quō abīs? īsne in aedīs? nūptiāsne parās hodiē? optimum est.
O que eles querem? Estão indo para casa? Se levam a carga são bons meninos.

(f) bonum habē animum, Megadōre. nam cōnsilium bonum est.


Tenha o coração tranquilo, senhor. É uma maquinação muito boa.

_________________________________________________________________
Deliciae latinae
______________________________________________________________________

Construção de palavras

trāns significa “através”. Às vezes aparece como trā-, como por exemplo em trādō
“entregar”, “atravessar as eras”, de onde vem “tradição”.
prō significa “em frente a”, “em favor de”, “por”.

Aprenda os seguintes radicais importantes:


mittō possui um radical de particípio miss- (assim, prō + mittō “enviar adiante”,
resulta em “prometer” e “promessa”
  77  

faciō possui radical de particípio fact-. Quando faciō recebe um prefixo, torna-se
–ficiō, particípio fect-, e.g., prae + faciō torna-se praeficiō, radical de particípio
praefect-.
ferō possui radical de particípio lāt-.

Exercício

Usando os prefixos já encontrados, construa palavras com os radicais de mittō (miss-),


faciō (fact-), ferō (lāt-) e dūcō (duct-).

Exercícios lexicais

1 Encontre termos latinos relacionados com as seguintes palavras: nupcial, animado,


hominídeo, voluntário, ígneo, ourives.
2 De que palavras provêm os termos “asinino” e “bovino”?
3 Você reconhece o verbo latino comum em “aquífero”, “Lúcifer” e “mamífero”?

Latim cotidiano

Cf. = cōnfer, “compare” (cum + ferō = “trazer conjuntamente”).


Um substantivo neutro comum da terceira declinação é corpus. Lembre-se que é neutro
através da citação famosa mēns sāna in corpore sānō “mente saudável num corpo
saudável” (frase de Juvenal, satirista romano, lembrando-nos do que todo homem deve
perseguir). Cf. corpóreo, corporal, incorporar, corporação. Também pode ser de auxílio
a expressão habeās corpus “que tenhas o corpo”.

Latim autêntico

Marcial

Tongliānus habet nāsum: scio, nōn nego. sed iam


iām praeter nāsum Tongliānus habet. (12.88)

Tongliān-us ī 2m. Tongliano significa “ser crítico”, lit. “ter nīl nada
(baseado no verbo tongeō 2, nariz”.) praeter + ac. além de, exceto
“saber”) scio saber
nās-us ī 2m. nariz, nego 1 negar
discernimento (nāsum habeō iam agora, já

nōn cēnat sine aprō noster, Tite, Caeciliānus.


bellum conuīuam Caeciliānus habet. (7.59)

cēnō 1 ceiar, jantar noster nostr-a nostr-um nosso bell-us a um belo


sine + abl. sem Tite voc. de Titus conuīu-a ae 1m. convidado,
aper apr-ī 2m. javali Caeciliān-us ī 2m. Ceciliano conviva

NB. Javali era um prato normalmente preparado para banquetes. Ceciliano comia javali
mesmo quando jantava sozinho.

Vulgata
  78  

saluum mē fac, domine. (Salmo 59)


pater, sī uīs, trānsfer calicem istum ā mē. (Lucas 22.42)

Missa católica

laudāmus tē, benedīcimus tē, adōrāmus tē, glōrificāmus tē, grātiās agimus tibi propter
magnam glōriam tuam: Domine Deus, rēx caelestis, Deus pater omnipotēns.

laudō 1 louvar propter (+ ac.) em virtude de, omnipotēns onipotente


benedīcō 3 bendizer por causa de
grātiās agō 3 dar graças rēx, rēgis rei
  79  

Seção 1F

Pitódico, o cozinheiro-chefe, distribui cozinheiros entre as casas de Euclião e de


Megadoro. O cozinheiro que vai para a casa do desconfiado Euclião recebe deste, sem
motivo aparente, um tratamento bastante rude.

(omnes coqui intrant. nomina coquorum Pythodicus, Anthrax, Congrio sunt. 295
Pythodicus dux coquorum est)

PYTHODICVS: īte, coquī! intrāte in scaenam, scelera! audīte! dominus


meus nūptiās hodiē facere uult. uestrum igitur opus est cēnam
ingentem coquere.
CONGRIŌ: cuius fīliam dūcere uult? 300
PYTH: fīliam uīcīnī Eucliōnis, Phaedram.
ANTHRAX: dī immortālēs, cognōuistisne hominem? lapis nōn ita est
āridus ut Eucliō.
PYTH: quid dīcis?
ANTH: dē ignī sī fūmus forās exit, clāmat “mea pecūnia periit! dūc mē 305
ad praetōrem!” ubi dormīre uult, follem ingentem in ōs
impōnit, dum dormit.
PYTH: quārē?
ANTH: animam āmittere nōn uult. sī lauat, aquam profundere nōn
uult. et apud tōnsōrem praesegmina āmittere nōn uult, sed 310
omnia colligit et domum portat.
PYTH: nunc tacēte et audīte, coquī omnēs. quid uōs facere uultis?
cuius domum īre uultis, scelera? quid tū uīs, Congriō?
CON: uolō ego domum uirī dīuitis inīre...
OMNĒS COQVĪ: nōs omnēs domum Megadōrī, uirī dīuitis, inīre 315
uolumus, nōn domum Eucliōnis, uirī pauperis et trīstis.
PYTH: ut Eucliō uōs uexat! nunc tacēte uōs omnēs. (a Ântrax) tū abī
domum Megadōrī; (a Congrião) tū domum Eucliōnis.
CON: ut uexat mē Eucliōnis paupertās! nam Eucliō, scīmus, auārus
et trīstis est. in aedibus nīl nisi ināniae et arāneae ingentēs sunt. 320
nihil habet Eucliō, nihil dat. difficile est igitur apud Eucliōnem
cēnam coquere.
PYTH: stultusne es, Congriō? facile enim est apud Eucliōnem cēnam
coquere. nam nūlla turba est. sī^quid uīs, ex aedibus tuīs tēcum
portā: nam nihil habet Eucliō! sed Megadōrus dīues est. apud 325
Megadōrum est ingēns turba, ingentia uāsa argentea, multae
uestēs, multum aurum. sī^quid seruī āmittunt, clāmant
statim “coquī auferunt omnia bona! fūrēs sunt coquī omnēs!
comprehendite coquōs audācīs! uerberāte scelera!” sed apud
Eucliōnem facile est nihil auferre: nihil enim habet! ī mēcum, 330
scelerum caput!
CON: eō.

(Congrião, com seus auxiliares, se arrasta, muito a contragosto, para dentro da casa de Euclião.
Alguns segundos depois, sai correndo)
  80  

CON: attatae! cīuēs omnēs, date uiam! periī, occidī ego miser!
EVCLIO: (chamando-o da casa) ō scelus malum! redī, coque! quō
fugis tū, scelerum caput? quārē? 335
CON: fugiō ego quod mē uerberāre uīs. cūr clāmās?
EVC: quod cultrum ingentem habēs, scelus!
CON: sed ego coquus sum. nōs omnēs coquī sumus. omnēs igitur cultrōs
ingentīs habēmus.
EVC: uōs omnēs scelera estis. quid^negōtī est in aedibus meīs? uolō scīre 340
omnia.
CON: tacē ergō. ingentem coquimus cēnam. nūptiae enim hodiē fīliae
tuae sunt.
EVC: (sēcum cōgitat) ō facinus audāx! mendāx homo est: omne
meum aurum inuenīre uult. (em voz alta) manēte, coquī omnēs. 345
stāte istīc.

(Eucliō domum intrat. tandem domō exit et in scaenam intrat. aulam in


manibus fert)

EVC: (sēcum cōgitat) nunc omnem thēsaurum in hāc aulā ferō. omne
hercle aurum nunc mēcum semper portābō. (em voz alta) īte 350
omnēs intrō. coquite, aut abīte ab aedibus, scelera!

(abeunt coquī. Eucliō sēcum cōgitat)

facinus audāx est, ubi homo pauper cum dīuite


negōtium^habēre uult. Megadōrus aurum meum inuenīre et
auferre uult. mittit igitur coquōs in meās aedīs. “coquōs” 355
dīcō, sed fūrēs sunt omnēs. nunc quid cōnsilī optimum est?
mē miserum!

Vocabulário da Seção 1F

āmittere (inf.) perder cīuis cīu-is 3m. cidadão forās fora, para fora
āmitttō 3 perco cognōuistisne vocês fugiō 3/4 fujo
anim-a ae 1f. ar, respiração, conhecem? fūm-us ī 2m. fumaça
espírito colligō 3 coleto, junto hāc esta
apud (+ ac.) na casa de comprehendō 3 agarro, hercle por Hércules
arāne-a ae 1f. teia de aranha apanho immortālēs imortais
argente-us a um de prata coquere (inf.) cozinhar impōnō 3 coloco
ārid-us a um seco, árido coquō 3 cozinho ināni-a ae 1f. vazio
attatae ai! culter cultr-ī 2m. faca ingēns (nom.) muito grande,
auār-us a um avarento dē (+ abl.) de enorme
audācēs (nom.) atrevidos, difficile difícil ingentem (ac.) muito grande,
desavergonhados, ousados domō da casa enorme
audācīs (ac.) atrevidos, dormīre (inf.) dormir ingentēs (nom.) muito
desavergonhados, ousados dormiō 4 durmo grandes, enormes
audāx (nom.) atrevido. dūcere (inf.) conduzo ingentia (nom./ac.) muito
auferre (inf.) levar embora dum enquanto grandes, enormes
auferō levo embora dux duc-is 3m. chefe, líder ingentīs (ac.) muito grandes,
auid-us a um ávido ergō logo, portanto enormes
aut ou facere (inf.) fazer inīre (inf.) entrar
caput cabeça, fonte facile fácil intrō para dentro
cēn-a ae 1f. ceia, jantar follis foll-is 3m. saco inuenīre (inf.) achar
  81  

īre (inf.) ir, vir profundere (inf.) derramar Verbos


istīc aí quid negōtī que (de) negócio āmitt-ō 3 āmis- āmiss-
lapis lapid-is 3m. pedra sī quid (ac.) se algo perder aufer-ō auferre 3
lauō 1 lavo sciō 4 sei abstul- ablāt- levar embora
manibus (abl.) mãos scīre (inf.) saber coqu-ō 3 cozinhar
mēcum comigo stult-us a um estúpido, tolo dormi-ō 4 dormir
mendāx (nom.) mentiroso tēcum com você fugi-ō 3/4 fugir, escapar
mittō 3 envio tōnsor tōnsōr-is 3m. barbeiro habe-ō negōtium fazer
negōtium habēre (inf.) fazer trīstis triste, carrancudo, negócio
negócio austero mitt-ō 3 mīs- miss- enviar
nihil nada turb-a ae 1f. multidão ine-ō entrar
nīl nada ubi quando inueni-ō 4 encontrar
nisi a não ser uās-um ī 2n. vaso sci-ō 4 saber
nōs (nom./ac.) nós, nos uerberāre (inf.) açoitar, bater
omne (nom./ac.) todo uestis uest-is 3f. roupa Outros
omnēs (nom.) todos, todas uester uestr-a um seu (‘de apud (+ ac.) na casa de, nas
omnīs (ac.) todos, todas vocês’) mãos de
omnia (nom./ac. pl. n.) todas uexō 1 incomodo, perturbo aut ou
as coisas, tudo ui-a ae 1f. caminho, estrada quid negōtī? que negócio?,
opus oper-is 3n. trabalho, (date uiam ‘abram que problema
obra caminho!’) ubi quando (onde)
ōs ōr-is 3n. boca uōs (nom./ac.) vocês
paupertās paupertāt-is 3f. Formas novas
pobreza Memoranda
periit ele(a) desapareceu, foi- Adjetivos
se Substantivos audāx audāc-is audaz,
portābō carregarei cēn-a ae 1f. cena, palco ousado facil-is e fácil
praesegmin-a 3n. pl. pedaços cīuis cīu-is 3m. cidadão ingēns ingēnt-is grande,
de unha nihil (indecl.) nada enorme
praetor praetōr-is 3m. pretor turb-a ae 1f. multidão, omn-is e todo
(magistrado que julgava agitação trīst-is e triste, infeliz
processos criminais)

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1F

41 Infinitivo presente ativo (2ª forma primitiva): todas as conjugações

1 2 3 4 3/4
amā-re habē-re dīc-ĕ-re audī-re cap-ĕ-re

Notas
1 O infinitivo é comumente traduzido pelo infinitivo português: amare ‘amar’. Trata-
se, na verdade, de um substantivo indeclinável baseado num verbo (o nome deriva
de in “sem/não” + fīnis “fim”). Considere o fato de que ‘eu quero amor’ (‘amor’:
substantivo, objeto direto de “quero”) significa praticamente o mesmo que ‘eu
quero amar’ (‘amar’: infinitivo, objeto direto de “quero”).
2 Note a vogal longa nas conjugações 1, 2 e 4, e a perda do -i- no infinitivo da 3.ª e
da conjugação mista.
3 O infinitivo é conhecido como a segunda forma primitiva do verbo (sendo que a
primeira é a entrada do dicionário, isto é, amō, habeō, dīcō, audiō, capiō). É
importante conhecê-lo porque, junto com a primeira pessoa do singular do
presente do indicativo ativo, informa infalivelmente a que conjugação o verbo
pertence:
  82  

1ps inf.
-o -āre = 1.ª conjugação
-ĕo -ēre = 2.ª conjugação
-o -ĕre = 3.ª conjugação
-ĭo -īre = 4.ª conjugação
-ĭo -ĕre = conjugação mista (3/4)

42 Infinitivos irregulares: sum, eo, uolo, fero,

É importante memorizar os seguintes infnitivos:


sum – es-se
eō – ī-re
uolō – uel-le
ferō – fer-re

Exercício
Dê o infinitivo destes verbos e traduza-os: habeō, explicō, cēlō, inueniō, maneō, redeō,
dūcō, dīcō, poscō, stō, rogō, fugiō, āmittō, auferō, faciō, sum, (opcionais: uerberō,
coquō, dormiō, seruō, uolō).

43 Pronomes pessoais: ego nos; tu uos

nom. ego nōs tū uōs


acus. mē nōs tē uōs
gen. meī nostrum/nostrī tuī uestrum/uestrī
dat. mihi (mī) nōbīs tibi uōbīs
abl. mē nōbīs tē uōbīs

Notas
1 Você já conhece as formas de singular ego e tū (e suas respectivas declinações).
Agora estudaremos as formas de plural nōs e uōs. Atenção para o genitivo.
2 nostrum e uestrum são genitivos partitivos (indicam uma parte de um todo): multī
nostrum ‘muitos de nós’. nostrī e uestrī são genitivos objetivos (indicam o objeto
de um sentimento ou de uma ação): memor uestrī ‘lembrado de vocês’. Tais
genitivos não possuem sentido de posse. Esta, para as pessoas do discurso, é
expressa pelos pronomes possessivos: meus, tuus, nostrum etc.

44 Adjetivos da terceira declinação: omn-is e ‘todo’

sing. pl.
m./f. n. m./f. n.
nom. omn-is omn-e omn-ēs omn-ia
acus. omn-em omn-e omn-īs (-ēs) omn-ia
gen. omn-is omn-ium
dat. omn-ī omn-ibus
  83  

abl. omn-ī omn-ibus

Notas
1 Você já conhece os adjetivos da 1.ª classe, como mult-us a um, que seguem a 1.ª e
a 2.ª declinação. Os adjetivos que seguem a 3.ª, também conhecidos como
“adjetivos da 2.ª classe”, também concordam com os substantivos em gênero,
número e caso, observando exatamente as mesmas regras (ver Seção 1B).
2 As formas de masculino e feminino são exatamente as mesmas.
3 O vocativo é sempre igual ao nominativo.
4 Geralmente, os adjetivos da 3.ª declinação possuem a vogal temática –i– (como
aedis aed-is), e portanto fazem o ablativo singular em –ī, o acusativo plural em –
īs, os três casos iguais do neutro plural em –ia e o genitivo plural em –ium.
Contraste com os nomes da 3.ª de radical consonântico (como fūr fūr-is), que têm
o ablativo singular em –e, o acusativo plural em –ēs, os três casos iguais do neutro
plural em –a e o genitivo plural em –um.
5 Adjetivos do tipo de omn-is e: trīst-is e ‘triste’, facil-is e ‘fácil’, difficil-is e
‘difícil’.

45 Adjetivos da terceira declinação: ingens ingent-is ‘grande’, ‘enorme’

sing. pl.
m./f. n. m./f. n.
nom ingēns ingēns ingent-ēs ingent-ia
acus. ingent-em ingēns ingent-īs (-ēs) ingent-ia
gen. ingent-is ingent-ium
dat. ingent-ī ingent-ibus
abl. ingent-ī ingent-ibus

Nota
Observe o radical desse tipo muito comum de adjetivo (em –ens). A forma de neutro
singular é a mesma do masculino/feminino no nominativo. De resto, as
terminações são as mesmas de omn-is e.

46 Adjetivos da terceira declinação: audāx audāc-is ‘audaz’

sing. pl.
m./f. n. m./f. n.
nom audāx audāx audāc-ēs audāc-ia
acus. audāc-em audāx audāc-īs (-ēs) audāc-ia
gen. audāc-is audāc-ium
dat. audāc-ī audāc-ibus
abl. audāc-ī audāc-ibus

Nota
Esse adjetivo possui as mesmas características de ingens ingent-is, mas seu radical
termina em –c, o que dá um nominativo singular em –x (ver substantivos como
dux duc-is ‘chefe’).
  84  

Exercícios

1 Decline: puer audāx; omnis aqua; ingēns perīculum.

2 Construa um quadro de sete colunas do modo abaixo indicado:

SUBSTANTIVO CASO NÚMERO GÊNERO omnis ingēns audāx

Debaixo de SUBSTANTIVO, escreva a seguinte lista de substantivos: seruae, thēsaurī,


oculōs, dominus, nōminibus, cōnsilium, cēnā, turbārum, cīuī, pecūniās, puellā, perīculō,
ignis, animīs.
Nas três colunas seguintes, determine com exatidão o caso, número e gênero de cada
substantivo. Nas últimas três colunas, dê a forma de omnis, ingēns e audāx que
concorde com o substantivo. Quando a forma do substantivo permitir diferentes
possibilidades, escreva-as todas. Ex.:

SUBSTANTIVO CASO NÚM. GÊN. omnis ingēns audāx

fīliae gen. s. f. omnis ingentis audācis


dat. s. f. omnī ingentī audācī
nom. pl. f. omnēs ingentēs audācēs

3 Determine com quais dos substantivos concorda o adjetivo:

ingentem - nōminum, cōnsilium, deum, seruārum


audāx - puellā, cōnsilium, homo, dominus, ingenia
omnium - oculum, coquōrum, perīculum, honōrem
trīstēs - animōs, dominī, fīliae, familiam, aedīs
facilia - aqua, serua, puella, familia, scelera
difficilī - coquō, frāter, sorōris, dominus, filiā, turba, exitiō

47 dīues dīuit-is ‘rico’, ‘pessoa rica’; pauper pauper-is ‘pobre’, ‘pessoa pobre’

sing. pl.
m./f. n. m./f. n.
nom dīues dīues dīuit-ēs dīuit-a
acus. dīuit-em dīues dīuit-ēs dīuit-a
gen. dīuit-is dīuit-um
dat. dīuit-ī dīuit-ibus
abl. dīuit-e dīuit-ibus

sing. pl.
m./f. n. m./f. n.
nom pauper pauper pauper-ēs pauper-a
acus. pauper-em pauper pauper-ēs pauper-a
gen. pauper-is pauper-um
dat. pauper-ī pauper-ibus
  85  

abl. pauper-e pauper-ibus

Notas
1 Quando usamos para descrever um substantivo, esses dois adjetivos significam
‘rico’ e ‘pobre’, respectivamente. Mas eles podem ser usados isoladamente,
situação em que funcionam como substantivos e significam ‘pessoa rica’ e ‘pessoa
pobre’. Exemplos: Eucliō dīuitēs amat ‘Euclião ama os (homens) ricos’ (diuites
como substantivo); Eucliō homo pauper est ‘Euclião é um homem pobre’ (pauper
como adjetivo).
2 Os mesmos princípios se aplicam a todos os adjetivos latinos. Quando usados
isoladamente, sem determinar nenhum substantivo, funcionam eles próprios como
substantivos. Nessas circunstâncias, é importante verificar com atenção o gênero
do adjetivo: multī (masculino plural) significa ‘muitos homens’; multae (feminino
plural) significa ‘muitas mulheres’; multa (neutro plural) indica, por sua vez,
‘muitas coisas’.
3 dīues dīuit-is e pauper pauper-is são adjetivos de radical consonântico. Compare
com omnes, ingēns e audāx e verifique as diferenças nas terminações.

Exercícios

1 Traduza:

(a) cēnam igitur ingentem coquus audāx coquere uult.


(b) quārē omnia coquōrum nōmina scīre uīs?
(c) cōnsilium autem audāx in animō habēs.
(d) ubi in aedīs intrāre uultis, statim nōs uocāte.
(e) scelera audācia omnis pauper facere uult.
(f) turba hominum audācium ingēns ad aedīs Megadōrī adit.

2 Traduza:

(a) multae neque dormiunt neque cēnam coquunt.


(b) bona aufert.
(c) omnia scīre uultis.
(d) pulchrī pulchrās amant.
(e) omnēs pecūniam habēre uolunt.
(f) multī fugiunt, multī autem stant.
(g) pauperem dīues non amat.
(h) omnēs bonī cīuīs cūrant.
(i) malī mala cōgitant.
(j) pecūnia omnīs uexat.

3 Traduza estas orações:

(a) aeuum omne et breue et fragile est. (Plínio)


(b) senectūs īnsānābilis morbus est. (Sêneca)
(c) īra furor breuis est. (Horácio)
(d) ratiōnāle animal est homo. (Sêneca)
(e) facilis est ad beātam uītam uia. (Sêneca)
  86  

(f) difficile est saturam nōn scrībere. (Juvenal)


(g) difficile est longum subitō dēponere amōrem. (Catulo)
(h) natūram quidem mūtāre difficile est. (Sêneca)
(i) uarium et mūtābile semper
fēmina (Virgílio)
(j) turpe senex mīles, turpe senīlis amor. (Ovídio)

aeu-um ī 2n. idade beāt-us a um feliz amor amōr-is 3m. amor


breu-is e curto, breve uīt-a ae 1f. vida nātūr-a ae 1f. natureza
fragil-is e frágil ui-a ae 1f. via, caminho quidem sem dúvida
senectūs senectūt-is 3f. velhice difficil-is e difícil mūtō 1 alterar, mudar
īnsānābil-is e incurável satur-a ae 1f. sátira uari-us a um variável, instável
morb-us ī 2m. doença scrībō 3 escrever mūtābil-is e mutável
īr-a ae 1f. ira long-us a um longo, duradouro, turp-is e vergonhoso
furor furōr-is 3m. loucura que durou muito mīles mīlit-is 3m. soldado
ratiōnāl-is e racional subitō de repente senīl-is e senil
animal animāl-is 3n. animal dēpōnō 3 abandonar

Exercício de leitura

Diga, ao mesmo tempo em que traduz, as funções das palavras ou dos grupos de
palavras destas frases incompletas. Complete-as com uma forma de uolō e traduza-as
por escrito. Enfim, leia as frases latinas com a entonação correta.

(a) ubi pauper cēnam ingentem habēre...?


(b) quō tū inīre...?
(c) cūrās dīuitis ferre omnis pauper...
(d) amāre puellās pulchrās et aurum dominī auferre nōs seruī...
(e) facile ferre onus cīuēs omnēs...
(f) uōs apud Eucliōnem cēnam coquere numquam...

Exercício de leitura / teste

Leia a seguinte passagem, definindo a função de cada palavra e antecipando a


construção. Traduza para o português. Em seguida, leia o trecho em voz alta,
segmentando os sintagmas corretamente, pensando no sentido enquanto lê. Use o
vocabulário da seção 1F.

Megadōrus nūptiās facere uult. coquōs igitur uocat multōs ad aedīs. coquōrum opus est
cēnam coquere ingentem. uxōrem domum dūcit Megadōrus Phaedram, Eucliōnis fīliam.
sed coquī Eucliōnem uirum pauperem habent et trīstem. nam nīl āmittere uult. follem
enim ingentem, ubi dormīre uult, in ōs impōnit. ita animam, dum dormit, nōn āmittit.
apud tōnsōrem praesegmina, quod nihil uult āmittere, colligit omnia et domum dūcit.
aquam dare nōn uult. ignem dare, quod āmittere timet, nōn uult. uir trīstis est. coquī
igitur in aedīs inīre Megadōrī, uirī dīuitis et facilis, uolunt. perīculum autem in aedibus
Megadōrī multum est, uāsa argentea ingentia, uestēs multae, multum aurum. sī quid
seruī āmittunt, coquōs fūrēs putant (“julgam, pensam”) et comprehendere uolunt. apud
Eucliōnem autem coquī saluī sunt. uāsa argentea ex aedibus auferre Eucliōnis facile nōn
est, quod uāsa nūlla habet!
  87  

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Em seguida, verta as portuguesas para o


latim, tomando como referência a estrutura das latinas para definir a ordem das
palavras.

(a) quārē in aedīs Megadōrī, uirī dīuitis, onus ferre uultis?


Vocês querem preparar uma ceia na casa de Euclião, um homem pobre?

(b) cīuēs omnēs ē perīculō exīre uolunt.


As escravas audazes querem fugir da casa.

(c) ingentem enim āmittere pecūniam quis uult?


Que mulher não deseja encontrar um escravo atrevido?

(d) dīuitēs ubi nūptiās faciunt, coquōs in aedīs uocant.


Quando querem uma grande ceia, os senhores pedem um bom cozinheiro.

(e) omnēs coquī cultrōs portant ingentīs.


Uma bela mulher atrai (fero) uma grande multidão.

(f) apud tamen pauperem cēna trīstis est.


Na casa do rico, as ceias são excelentes.

__________________________________________________________________
Deliciae latinae
______________________________________________________________________

Construção de palavras

ā/ab torna-se au quando prefixado a ferō, i.e., auferō “levar embora, roubar”
in significa “para dentro” ou “até” em inueniō, “vir até”, “encontrar”.

Observe a combinação de elementos interessante em negōtium “negócio”: a palavra se


constrói a partir de nec(g)- “não” + ōtium “ócio, prazer”.

Exercícios de vocabulário

1 Apresente um termo latino relacionado a: civilizado, niilista, dormitório, fugitivo,


negociar, inicial, invenção, ciência, emitir.

2 Apresente palavras portuguesas relacionadas a: facilis, audāx, omnis (dat. pl.), āridus,
lápis, tōnsor.

Latim autêntico

Preceitos de Catão

quod satis est dormī.


  88  

āleam (sorte, jogo de azar) fuge.


meretrīcem fuge.

Vulgata

beātī pauperēs quia uestrum est rēgnum deī. (Lucas, 6.20)

beātus abençoado pauperēs: rēgnum: reino


insira sunt

Giovanni Cota (1480-1510)*

amō, quod fateor, meam Lycōrim,


ut pulchrās iuvenēs amant puellās;
amat mē mea, quod reor, Lycōris,
ut bonae iuvenēs amant puellae.
quod fateor: conforme eu Lycōrim: acus. de Licóris quod reor: conforme eu
admito iuuenis iuuen-is 3m. moço julgo, penso

* O latim foi a língua dos acadêmicos e da comunicação internacional ao longo da Renascença (séculos
XV e XVI) e também era comumente considerado como o meio apropriado para a literatura. Estas são os
quatro primeiros versos de um poema no qual a moça do poeta dá a ele alguns cachos de seu cabelo como
prova de amor. O poeta os queima, já que, como ele afirma, eles o “queimaram” – de amor!

Lemas*

fac rēctē et nīl timē. (Hill)


ā deō et patre. (Thomas)
amat uictōria cūram. (Clark)

rēctē corretamente ā ao lado de

* Esses lemas (ou ainda divisas ou motes – de “mottoes” em inglês) se originaram no período medieval
ou posteriormente. Muitas famílias inglesas (os nomes entre parênteses acima são de algumas delas)
possuem vários lemas. O lema brasileiro, como se sabe, é “Ordem e Progresso”. O lema da cidade de São
Paulo é em latim: nōn dūcor, dūco “não sou conduzido, conduzo”.

Estudo de palavras
uestis significa “roupas” (uestiō, “visto-me”), de onde temos “vestes”, “vestiário” (de
uestiārium). inuestīre “pôr roupas em” nos dá “investir” a partir de “cobrir, cercar”
(cercar o dinheiro com ainda mais dinheiro?). trāns “através” + uest- nos dá “travesti”,
ou seja, aquele que “atravessa” até as roupas do sexo oposto, ou simplesmente aquele
que se disfarça. Também temos, a partir daí, “revestir”, entre outros.
Não confunda essas formas com “vestígio”, de uestīgium, “pegada”, “traço”: daí, por
exemplo, “investigar”, que tem a ver com seguir as pegadas de alguém.
  89  

Seção 1G

Agora Euclião está procurando por um lugar onde esconder seu ouro de forma segura,
fora da casa. Guarda o tesouro no santuário da deusa Fides ('Fidelidade’,
'Confiança’), mas, sem que ele perceba, Estróbilo, um escravo que está nas
proximidades. ouve tudo o que o velho diz.

EVC: ecce!. Fānum uideō! quis deus fānī est? ā. Fidēs est. dīc mihi,
Fidēs, tūne uīs mihi custōs bona esse? nam nunc tibi ferō
omne aurum meum; aulam aurī plēnam bene custōdī, Fidēs! 360
prohibē fūrēs omnēs. nunc fānō tuō aurum meum crēdō.
aurum in fānō tuō situm est.

(Eucliō in aedīs redit. in scaenam intrat Strobīlus seruus. omnia Eucliōnis


uerba audit)

STROBĪLVS: dī immortālēs! quid audiō? quid dīcit homo? quid facit? 365
aurumne fānō crēdit? aurumne in fānō situm est? cūr in
fānum nōn ineō et aururn hominī miserō auferō?

(Strobīlus in fānum init. Eucliō autem audit et domō exit. Strobīlum in fānō inuenit)

EVC: ī forās, lumbrīce! quārē in fānum clam inrēpis? quid mihi ā 370
fānō aufers, scelus? quid facis?

(Eucliō statim hominī plāgās dat.)

STRO: quid tibi negōtī mēcum est? cūr mē uerberās?


EVC: uerberābilissime, etiam mē rogās, fūr, trifūr? quid mihi ā fānō
aufers? 375
STRO: nīl tibi auferō.
EVC: age, redde statim mihi.
STRO: quid uīs mē tibi reddere?
EVC: rogās?
STRO: nīl tibi auferō. 380
EVC: age, dā mihi.
STRO: nīl habeō. quid uīs tibi?
EVC: ostende mihi manum tuam.
STRO: tibi ostendō.
EVC: age, manum mihi ostende alteram. 385
STRO: em tibi.
EVC: uideō. age, tertiam quoque ostende.
STRO: homo īnsānus est!
EVC: dīc mihi, quid ā fānō aufers?
STRO: dī mē perdunt! nīl habeō, nīl ā fānō auferō! 390
EVC: age rūrsum mihi ostende manum dextram.
STRO: em.
EVC: nunc laeuam quoque ostende.
STRO: ecce ambās prōferō.
  90  

EVC: redde mihi quod meum es! 395


STRO: dīc mihi, quid mē uīs tibi reddere?
EVC: certē habēs.
STRO: habeō ego? quid habeo?
EVC: nōn tibi dīcō. age, redde mihi.
STRO: īnsānus es! 400

(Euclião se rende)

EVC: periī. nīl habet homo. abī statim, scelus! cūr nōn abīs?
STRO: abeō.

(Eucliō in fānum init. aurum inuenit, et ē fānō portat. in alterō locō c1am cēlat)

Mas Estróbilo, decidido a vingar-se de Euclião, não o perdeu de vista, e desta vez
rouba o ouro sem deixar-se notar. Euclião chega ao paroxismo da dor e da raiva.
Depois de pedir em vão ajuda aos espectadores, encontra Licônides, o jovem
responsável pela gravidez de Fedra (Euclião ainda não sabe de nada). Fedra, na
verdade, já deu à luz, de modo que o casamento com Megadoro já não é possível.
Assim, Licônides decidiu confessar tudo a Euclião e pedir a mão de Fedra. Surge um
mal-entendido a respeito de quem “colocou as mãos” sobre o quê...

EVC: occidī, periī! quō currō? quō nōn currō? (spectātōribus) tenēte, 405
tenēte fūrem! sed quī fūr est? quem fūrem dīcō? nesciō, nīl
uideō, caecus eō. quis aulam meam aurī plēnam aufert mihi?
(spectātōribus) dīcite mihi, spectātōrēs, quis aulam habet?
nescītis? ō mē miserum!

(in scaenam intrat Lycōnidēs, iuuenis summā^ pulchritūdine, nūllā^continentiā) 410

LYCŌNIDĒS: quī homo ante aedīs nostrās plōrat? edepol, Eucliō est,
Phaedrae pater. certē ego periī. nam Eucliō uir summā^uirtūte
est; certō omnia dē filiā scit. quid mihi melius est facere?
melius est mihi abīre an manēre? edepol, nesciō.
EVC: heus tū, quis es? 415
LYC: ego sum miser.
EVC: immō ego sum.
LYC: es bonō animō.
EVC: quid mihi dīcis? cūr mē animō bonō esse uīs?
L YC: facinus meum est, fateor, et culpa mea. 420
EVC: quid ego ex tē audiō?
LYC: nīl nisi uērum. facinus meum est, culpa mea.
EVC: ō scelus, cūr tū tangis quod meum est?
LYC: nesciō. sed animō aequō es! mihi ignōsce!
EVC: uae tibi! iuuenis summā^audácia, nūllā^continentiā es! cūr tū
quod meum est tangis, impudēns? 425
LYC: propter uīnum et amōrem. animō aequō es! mihi ignōsce!
EVC: scelus, impudēns! nimis uīle uīnum et amor est, sī ébrio licet
quiduīs facere.
LYC: sed ego iuuenis summā^uirtūte sum, et habēre uolō quod 430
  91  

tuum est.
EVC: quid dīcis mihi? Impudēns, statim mihi refer quod meum
est.
LYC: sed quid uīs mē tibi referre?
EVC: id^quod mihi aufers. 435
LYC: sed quid est? nīl tibi auferō! dīc mihi, quid habeō quod
tuum est?
EVC: aulam aurī plēnam dīcō! redde mihi!

Assim a verdade de ambas as partes vai surgindo pouco a pouco. Licônides consegue
sua garota e logo recupera o ouro roubado por Estróbilo (que é seu escravo). Aqui se
interrompe o manuscrito; mas a partir dos poucos fragmentos que restaram pode-se
deduzir que o matrimônio com Licônides se confirma e que Euclião, mudando de
humor, dá o ouro ao casal como presente de casamento.

Vocabulário da Seção 1G
age!: vamos! Fidēs: a deusa Boa-fé mantenho afastado
alter, altera, alterum: um ou forās: fora propter (+acus): por causa
outro (de dois) heus: ei! de
ambō, ae, ō: ambos (as) hominī: (a partir do) homem quiduīs: o que quiser
amor, amōris 3m: amor id quod: o que, aquilo que quod: que, o que
an: ou ignōscō 2 (+dat): perdoo reddō 3: devolvo
animō aequō: com ânimo immō: ou melhor referō 3: levo de volta,
calmo, tranquilo immortālis, e: imortal devolvo
animō bonō: com bom impudēns: imprudente, sem- rūrsum: de novo
ânimo, animado vergonha situs, a, um: colocado,
ante (+acus.): antes inrēpō 3: insinuo-me, entro localizado
auferō 3 tiro/roubo X (acus.) furtivamente spectātōribus (dat. pl.): aos
de Y (dat.) īnsānus, a, um: insano, louco espectadores
caecus, a, um: cego inueniō 4: descobrir, summā audāciā (abl): de
certē certamente, sem dúvida encontrar grande audácia
certō decerto iuuenis, is 3m: jovem summa pulchritūdine: de
crēdō 3: acredito em X / laeua, ae 1f.: esquerda (mão) grande beleza
confio X (acus.) a Y (dat.) licet (+dat.): é permitido a summā uirtūte: de grande
culpa, ae 1f.: culpa lumbrīcus, i 2m: minhoca, retidão
cum (+abl.): com lombriga tangō 3: toco, ponho as mãos
currō 3: corro manum (acus): mão em
custōdiō 4: guardo, vigio mēcum: comigo tertius, a, um: terceiro,
custōs, custōdis 3m: guarda, melius: melhor terceira (mão)
vigia mihi: para mim, me, de mim tibi: para você, de você
dē (+abl.): sobre, a respeito miserō (dat): infeliz trifur: três vezes ladrão
dextra, ae 1f: direita (mão) nesciō 4: não sei, ignoro tuō (dat): ao ao seu
domō: (de ) casa nisi: exceto uae: ai!, ai de (+dat.)!
ēbriō: (para um, a um) noster, nostra, nostrum: uerbum, ī 2n: palavra
bêbado nosso uerberābilissimus: o mais
ecce: eis! olha! nūllā continentiā (abl): sem açoitável
edepol: por Pólux! nenhuma moderação uērus, a, um: verdadeiro
em: aqui está! toma! ostendō 3 mostro, revelo uīlis, e: barato, vil
es!: sê! seja! perdō 3: perco, destruo uīnum, i 2n: vinho
esse: ser, estar plāga, ae 1f: golpe
etiam: também, ainda plāgās do (+dat): bater, dar Memoranda
fanō: (para) o santuário golpes
fānum, ī 2n: santuário, plōrō 1: choro Substantivos
templo prōferō 3: mostro, estendo audācia, ae 1f. audácia
fateor: confesso, admito prohibeō 2: impeço,
  92  

continentia, ae 1f. Adjetivos reddō 3 devolver


moderação, comedimento, aequus a um equânime, justo tangō 3 tetig-, tāct- tocar,
autocontrole summus a um sumo, o maior, pôr as mãos
fānum, ī 2n. santuário, extremo
templo, altar Outros
iuuenis, iuuenis 3m jovem, Verbos certē certamente
rapaz age! vamos! certō de fato, decerto
uirtūs, uirtūtis 3f. valor, credō 3: acreditar em X /
coragem, virtude confiar X (acus.) a Y (dat.)
ostendō 3 mostrar, revelar

Conteúdo gramatical e exercícios da Seção 1G

48 O dativo: usos e significado

1 O dativo é o “caso da doação” (a palavra deriva do verbo dō, datum ‘dar’). Isto é, se
eu dou algo a alguém, a pessoa que o recebe é expressa pelo dativo. Ex.: mihi aulam dat
'ele/ela me (para mim) dá a panela’. Mas é igualmente o “caso da perda”, já que, se eu
tiro algo de alguém, essa pessoa também é expressa por uma palavra no dativo. Ex.:
hominī aulam auferō ‘tomo a panela do homem/ao homem’. Então, pode-se dizer que o
dativo é o caso que exprime o “ganhador” e o “perdedor”, ou a pessoa “beneficiada” e a
“prejudicada”.

2 Outro uso do dativo que se relaciona com a ideia de pessoa “beneficiada” é o chamado
“dativo de posse”, na construção sum + dativo. Ex.: est mihi pecunia “tenho dinheiro”
(literalmente, “há dinheiro para mim”).

3 Também se utiliza o dativo para indicar a pessoa a quem se diz algo (de certa forma,
um “ganhador” das palavras pronunciadas). Ex.: fēminae dīcit multa “ele/ela diz muitas
coisas à mulher”.

4 As preposições a e para (e às vezes a preposição de) servem para traduzir o dativo em


português.

5 Deve-se notar que o dativo tem usos e sentidos muito variados. Quando unimos todas
essas utilizações, parece que a ideia comum que está por trás delas é a de que a pessoa
expressa por uma palavra no dativo é alguém envolvido ou interessado na ação do
verbo: essa ação tem consequências (às vezes específicas, às vezes um tanto vagas) para
a pessoa no dativo. Fala-se do dativo, assim, como caso da “'atribuição”.

Exercícios

1 Dê o dativo singular e plural destas expressões formadas por substantivo e adjetivo:


senex miser; puella audāx; puer ingēns; onus multum; cōnsilium audāx; (opcionais:
soror optima; nōmen meum; culter tuus; seruus omnis).

2 Identifique os dativos na lista de palavras a seguir: cūram, animō, fāna, uirtūtī,


audāciae, hominis, animōs, dīuitibus, uxor, onerī, pecūniam, fīliīs, aquae, dominō,
ignibus, uīcīnum, dīs, honōrēs, fēminīs, corōnae, cōnsiliō.
  93  

3 Dê o equivalente latino de: aos enormes escravos; para mim; para o infeliz ancião: às
mulheres perversas; para nós; a ti; para o melhor cidadão; à audaz escrava; para o bom
pai.

3 Traduza estas frases:

(a) deinde Lar familiae aulam Eucliōnī dat aurī plēnam.


(b) senex miser tamen aurum omne fānō crēdit.
(c) sed seruus audāx senī miserō aurum auferre uult.
(d) Eucliō autem ita seruō clāmat malō: "quid tibi negōtī est in fānō? quid mihi aufers?”
(e) seruus igitur timet et Eucliōnī aurum nōn aufert.
(f) Eucliō autem ā fānō aulam aufert, quod nunc deō aurum crēdere non uult.

49 Ablativo descritivo (de qualidade)

O ablativo é usado também para descrever as qualidades de pessoas ou coisas. Ex.: uir
summā uirtute “homem de extrema virtude”; iuuenis nūllā continentiā “jovem sem
nenhuma moderação”. A tradução desse tipo de ablativo em português traz, grande parte
das vezes, a preposição de. Mas frequentemente é preciso procurar uma construção que
possa soar melhor em nossa língua (como no segundo exemplo).

Exercícios

1 Dê o ablativo singular e plural destas expressões formadas por substantivo e adjetivo:


senex miser; puella audāx; puer ingēns; onus multum; cōnsilium audāx; (opcionais:
sóror optima; nōmen meum; culter tuus; seruus omnis).

2 Dê o equivalente latino de: no templo; para longe da mulher; fora das águas; em um
crime; fora da mente; nos planos; fora dos fogos (opcionais: para longe da preocupação;
fora das panelas; na casa; longe de um irmão; fora dos nomes).

3 Traduza estas frases:

(a) Eucliō uir est summā continentiā.


(b) Lycōnidēs iuuenis summā pulchritūdine est, nūllā continentiā.
(c) animō aequō es, mī fīlī.
(d) tū serua es summā audaciā, summā pulchritūdine, continentiā nūllā.
(e) animō bonō sum, quod fīliam meam summā uirtūte puellam habeō.

4 Traduza estas frases:

(a) fortīs fortūna iuuat. (Terêncio)


(b) nēmo est in amōre fidēlis. (Propércio)
(c) omnis ars nātūrae imitātiō est. (Sêneca)
(d) patet omnibus uēritās. (Sêneca)
(e) omnī aetātī mors est commūnis. (Cícero)
(f) magna dī cūrant, parua neglegunt. (Círero)
  94  

(g) Britannī capillō sunt prōmissō atque omnī parte corporis rāsā praeter caput et labrum
superĭus. (César)

fortis, e corajoso, forte uēritās, uēritātis 3f. verdade atque e


fortūna, ae 1f. fortuna, sorte aetās, aetātis 3f. idade pars, partis 3f. parte
iuuō 1 ajudar mors, mortis 3f. morte corpus, corporis 3n. corpo
nēmo (nom.) ninguém commūnis, e comum (a + rāsus, a, um raspado
amor, amōris 3m. amor dat.) praeter (+ ac.) exceto
fidēlis, e fiel paruus, a, um pequeno caput, capitis 3n. cabeça
ars, artis 3f. arte neglegō 3 negligenciar, labrum, ī 2n. lábio
nātūra, ae 1f. natureza desprezar superius (n. sing.) superior
imitātiō, imitātiōnis 3f. Britannī, ōrum 2m. pl.
imitação bretões
pateō 2 estar aberto, abrir-se, capillus, ī 2m. cabelo
ser acessível prōmissus, a, um longo

Exercícios de leitura

1 Leia estas frases com cuidado. Traduza-as literalmente e determine a função de cada
uma das palavras (assegurando-se de agrupá-las corretamente). Dê atenção especial
ao dativo, procurando dierenciar os diversos usos deste caso.

(a) senī miserō seruus audāx multa dīcit mala.


(b) unguentum et corōnās et aurum mihi ostende.
(c) uxōrī meae domī nimis cūrārum est.
(d) quārē tū mihi meum aurum nōn reddis?
(e) ego tibi, quod uīcīnus es bonus, meam fīliam prōmittō.
(f) uxōrēs pulchrae dīuitibus, quod coquīs pecūniam multam dare uolunt, aurum semper
auferunt.
(g) tibi multōs seruōs pecūniamque multam dō.
(h) seruō audācī et seruae pulchrae nihil umquam crēdō.
(i) uirō dīuitī, quod mihi dōs nūlla est, fīliam meam prōmittere uolō.
(j) nōbīs corōna, unguentum uōbīs domī est.

2 Nestas frases, o verbo fui omitido. Tente prever as funções que as palavras teriam se
a frase estivesse completa. Depois, complete a frase. Frequentemente, será possível
acrescentar verbos diferentes que implicam, para o dativo, funções também diferentes.
Por fim, traduza.

(a) hominibus bonīs cīuēs omnēs pecūniam...


(b) quārē mihi aurum...?
(c) nōbīs anĭmus bonus...
(d) fānō, nōn hominī audācī, Eucliō aurum...
(e) tū nōbīs quārē corōnās omnīs et omne unguentum...?
(t) puellīs audācibus et iuuenibus pulchrīs nūlla continentia...
(g) ego fīliae meae dōtem ā uirō...
(h) quārē pater tuus mihi tē uxōrem nōn...?
(i) scelus, quid tibi negōtī in aedĭbus meīs...?
(j) omnī bonō iuuenī uirtūtem audācia...
  95  

Exercício de leitura / teste

Leia a passagem a seguir com cuidado, definindo, enquanto lê, as funções das palavras
e dos sintagmas, e antecipando as partes seguintes das sentenças. Quando tiver
terminado a leitura, traduza o texto. Finalmente, leia em voz alta, atentando para a
segmentação dos sintagmas e para a entoação, sem deixar de pensar no significado
enquanto você lê. Use o vocabulário da seção 1G.

est Eucliōnī aula aurī plēna. Eucliō aulam ex aedibus portat. timet enim ualdē. omnibus
enim bonīs fūrēs omne aurum auferre semper uolunt. uult igitur in fanō aulam cēlāre.
ubi aurum in fānō cēlat Eucliō, Strobīlus uidet. ē fānō exit Eucliō. bonō animō est, quod
nunc fūrem timet nūllum. Strobīlus autem ut lumbrīcus in fānum inrēpit. nam aulam
Eucliōnī miserō auferre uult. sed seruum audācem uidet Eucliō. seruō audācī mala multa
dīcit et aurum poscit. seruus autem senī aurum reddere nōn uult, quod aurum nōn habet.
Eucliōnī manum dextram seruus ostendit. deinde senī miserō ostendit laeuam. Eucliō
autem manum tertiam rogat. seruus Eucliōnem īnsānum habet et exit. aulam Eucliō ā
fānō aufert et alterī (dat. sing. masc.) locō clam crēdit.

Versão

Traduza as frases latinas para o português. Em seguida, verta as portuguesas para o


latim, tomando como referência a estrutura das latinas para definir a ordem das
palavras.

(a) Eucliō uir summā uirtūtē est.


Fedra é uma menina de extrema beleza.

(b) bonō animō es et dā mihi pecūniam.


Acalme-se e tome o ouro do escravo.

(c) senex miser hominī malō aulam aurī plēnam crēdit.


Todos os anciãos estão devolvendo as panelas cheias de dinheiro aos bons cidadãos.

(d) uōs autem quārē senī aurum nōn redditis?


Mas por que você está tomando a coroa do jovem?

(e) quid tibi negōtī est in aedibus senis miserī?


O que vocês querem no altar de meu Lar?'

(f) est mihi pater optimus, uir summā continentiā.


Tenho um filho excelente, um jovem de extrema virtude.

__________________________________________________________________
Deliciae latinae
______________________________________________________________________

(a) prefixos
sub- (às vezes su-, sus-): sob, de baixo, embaixo
dē- “vindo de baixo”
per- “através”, “completamente”, “muito”
  96  

Exercício

Divida as palavras em suas partes componentes e sugira um significado para cada uma:
ēuocō, circumdūcō, perfacilis, trānsmittō, redeō, prōuideō, efferō, praeficiō, āmittō,
reddō, subdūcō, ēdūcō, subeō, permultus, anteferō, trādō, perficiō, circumdō, dēdūcō,
referō, dēuocō, summitō, perstō.

(b) formação de palavras


Muitos substantivos são formados a partir de verbos ou de adjetivos. Isso é feito,
normalmente, através do acréscimo de um sufixo (sub-fīxus “fixado abaixo”, ou seja,
“ao fim”) ao tema do verbo ou do adjetivo. Esse sufixo geralmente dá alguma dica sobre
o significado do substantivo, e.g.,

-sor ou -tor (gen. s. -ōris m.) significa “a pessoa que”, e.g., amātor, “o que ama”,
“amante”;
-or (gen. s. -ōris m.) significa “atividade”, “estado” ou “condição”, e.g., amor “o
estado de amar”, “amor”;
-iō, -tiō, -siō (gen. s. –iōnis f.) significa “ação ou resultado de uma ação”, e.g.,
cōgitātiō “o ato de pensar”, “pensamento”;
-ium n. significa “ação ou resultado de uma ação”, e.g., aedificium, “resultado de
construir uma casa”, “edifício”;
-men (gen. s. -minis n.) significa “meio ou resultado de uma ação”, e.g., nō-men
“meio de conhecer”, “nome”.

Exercícios

1 Dê o significado dos seguintes substantivos: audītor, cūrātor, uexātiō, inuentiō,


cōnsilium, dictiō, turbātor, prōmissiō, maleficium, beneficium, habitātiō.

2 Forme o genitivo singular de: uexātiō, dictiō, habitātiō, inuentiō, audītor, turbātor.

Latim autêntico

Vulgata

pānem nostrum quotīdiānum dā nōbis hodiē et dīmittē nōbis peccāta nostra. (Lucas,
11.3-4)

pānis pānis 3m. pão dīmittō 3 livrar de, deprivar peccātum, ī 2n. pecado
quotīdiānus, -a, -um diário de, descarregar

Lemas (baseados no dativo)

nōn nōbis, sed omnibus. (Ash, Ashe)


nōn mihi, sed deō et rēgī. (Booth, Warren)
nōn mihi, sed patriae. (Heycock, Jones-Lloyd, Whittingham)
deō, regī et patriae. (Irvine, Duncombe)
deō, patriae, tibi. (lambard, Sidley)
glōria deō. (Challen, Henn)

rēx, rēg-is 3m. rei pátria, ae 1f. pátria glōria, ae 1f. glória
  97  

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