YLDV17062020
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João Pessoa - PB
2020
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João Pessoa - PB
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Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar a perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.
Charles Chaplin
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AGRADECIMENTOS
Filosofia e de você (risos). Não era fácil ficar acordada nas aulas (risos), mas,
para minha surpresa, me apaixonei pelos dois. Você é extraordinário.
Às professoras Marlene e Suelídia, obrigada por terem aceitado compor
a minha banca. Sei que vocês são profissionais incríveis, e estou orgulhosa por
estarem juntas comigo nessa “última etapa”.
Ao meu fantástico orientador, Timothy Ireland, por ter parado para me
ouvir naquele estacionamento e ter aceitado meu convite, feito de forma tão
alvoroçada (muito eu - risos). Quem me conhece sabe do medo que eu tinha
de convidar o Senhor (risos), e também sabe da imensa alegria que senti
quando aceitou. Meus olhos ainda brilham tamanha minha admiração por ti.
Obrigada por acreditar em mim.
Por fim, e não menos importante, ao Programa de Educação de Jovens
e Adultos (Peja) – Educação em Prisões, pelos quatro anos de muito
aprendizado. Lecionar para privados de liberdade me ensinou mais sobre ser
humana do que qualquer outra coisa. Eu sou eternamente grata à experiência
vivida, pois foi ela quem deu vida a este trabalho.
Com amor,
Yuliana Lisboa.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como objetivo central analisar
a contribuição da educação no processo de ressocialização dos sujeitos
privados de liberdade. O material empírico foi produzido por meio de um
questionário, cuja aplicação ocorreu de modo presencial. Visto que os limites
do encarceramento em prisões constitui-se em um método de
institucionalização da punição, a garantia de uma boa educação é uma forma
de ressocializar as pessoas condenadas à prisão, pois ela possibilita que, ao
após quitar sua dívida com a justiça, os privados de liberdade tenham outras
oportunidades que não o regresso à criminalidade, dessa forma, a educação
nesse processo garante também um acesso à cidadania. Como resultado, é
possível perceber que os privados de liberdade entendem a educação como
um instrumento libertador, oferecendo ao ser humano a possibilidade de
conhecer o mundo no qual está inserido, sendo este responsável pelo seu
destino. Pautando-se na análise bibliográfica e nos relatos dos privados de
liberdade e da experiência adquirida in loco, este TCC aponta para a
importância da abordagem do tema, que na perspectiva dos direitos humanos,
constitui um caminho para desconstruir padrões sociais e contribuir para
minimizar a exclusão das minorias.
ABSTRACT
This Course Completion Work (CBT) has central objective is to analyze the
contribution of education in the process of re-socialization of individuals
deprived of their liberty. The empirical material was produced through a
questionnaire, which was applied in person. Since the limits of imprisonment in
prisons are a method of institutionalizing punishment, ensuring a good
education is a way to re-socialize people sentenced to prison, as it allows them,
after settling their debt to justice, the deprived of liberty have other opportunities
than the return to crime, in this way, education in this process also guarantees
access to citizenship. As a result, it is possible to perceive that the deprived of
liberty understand education as a liberating instrument, offering human beings
the possibility of knowing the world in which they are inserted, being responsible
for their destiny. Based on the bibliographic analysis and the reports of the
deprived of liberty and the experience acquired in loco, this CBT points to the
importance of addressing the theme, which in the perspective of human rights,
constitutes a way to deconstruct social standards and contribute to minimize the
exclusion of minorities.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14
2. ASPECTOS TEÓRICOS DA REALIDADE PRISIONAL ............................. 17
2.1 Surgimento da Instituição Prisional ......................................................... 17
2.2 Sistema Penitenciário Brasileiro.............................................................. 19
3. A EDUCAÇÃO NAS PRISÕES: GARANTIAS LEGAIS À SUA OFERTA E A
QUESTÃO DA RESSOCIALIZAÇÃO ............................................................... 24
3.1 A Educação nas Prisões Brasileiras e as Políticas Públicas que Garantem
a Educação nos Espaços Penais .................................................................. 24
3.2 A Educação Carcerária para Jovens e Adultos: Conceitos e Finalidades
...................................................................................................................... 27
3.2.1 Os possíveis entraves para o processo de ressocialização .............. 30
4. OS PRIVADOS DE LIBERDADE FALAM SOBRE A SUA PERSPECTIVA DA
EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DE RESSOCIALIZAÇÃO ................................ 32
5. CONCLUSÃO............................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 44
APÊNDICES..................................................................................................... 50
Apêndice A- Termo de Consentimento livre e esclarecido- TCLE ................ 51
Apêndice B- Questionário aplicado com privados de liberdade da
Penitenciária de Segurança Média Juiz Hitler Cantalice ............................... 52
14
1. INTRODUÇÃO
Tratar a educação como um direito humano significa que ela não deve
ser limitada à condição social, nacional, cultural, de gênero ou étnico-racial da
pessoa.
No caso dos privados de liberdade, o artigo 10 da Lei 7.210/1984,
conhecida como Lei de Execução Penal, garante a assistência ao preso como
um dever do Estado, que deve assegurar assistência material, jurídica, à
saúde, social e educacional ao preso internado, objetivando prevenir o crime e
orientar o retorno à convivência em sociedade.
Visto que um dos caminhos para a mudança desses sujeitos é investir
em sua formação educacional, este trabalho de conclusão de curso (TCC) se
concentra nas pessoas que cumprem uma condenação semiaberta numa
sociedade cheia de preconceito a fim de promover uma reflexão sobre o ensino
do sistema penitenciário, que é de amplo interesse para o contexto social, pois
abrange a ressocialização dos detentos.
Assim, a partir do tema Educação como prática de ressocialização na
perspectiva dos privados de liberdade da Penitenciária de Segurança Média
Juiz Hitler Cantalice, me propus a investigar a contribuição da educação no
processo de ressocialização dos sujeitos privados de liberdade e, com isto,
repensar esta prática refletindo a realidade do sistema prisional.
O interesse por essa temática tem profunda relação com a minha
experiência profissional. Fiz parte do Programa de Educação de Jovens e
Adultos (PEJA) – Educação em Prisões, como professora; e no mesmo
período, também era aluna do curso de Pedagogia da UFPB. Como estudante,
foi através do professor Timothy Ireland, com a disciplina Alfabetização de
Jovens e Adultos, que vi a possibilidade de estudar a educação no sistema
prisional, a ressocialização e suas práticas pedagógicas, temáticas estas que
motivaram a pesquisa.
Sabendo que existem pesquisas sobre o devido tema e da importância
do estudo, buscou-se na prática como seriam abordadas questões
relacionadas à temática a fim de contribuir para a sociedade e para os presos,
mostrando que o melhor caminho para a reinserção social e profissional está
na educação, refletindo que o contexto socioeconômico da maioria dos
15
apenados não possibilitou ter acesso à educação e uma formação, o que gerou
em muitos os casos infringir às leis.
Acredito que a garantia de uma boa educação é uma forma
de ressocializar as pessoas condenadas à prisão, pois ela possibilita que, ao
retornar à sociedade após quitar sua dívida com a justiça, os ex-presidiários
tenham outras opções que não o regresso à criminalidade. Além disso,
ela diminui significativamente a ocorrência de rebeliões dentro dos presídios,
promovendo atividades de interação e reflexão que oferecem melhores
perspectivas acerca do futuro. A adesão dos presos a uma modalidade de
educação é ainda uma forma de reduzir o tempo da pena cumprida e, por
consequência, uma maneira de diminuir a superlotação dos presídios.
Toda a argumentação trazida aqui apontou razões consideráveis para se
pesquisar o processo de ressocialização a partir da educação, visto que essa
temática na perspectiva dos direitos humanos é um caminho para desconstruir
padrões sociais e contribuir para minimizar a exclusão das minorias.
Desta forma, verifico a importância do tema uma vez que é através dele
que o preso pode ser respeitado e garantido. Nestas perspectivas, este estudo
estabeleceu como problema de pesquisa: investigar a contribuição da
educação no processo de ressocialização dos sujeitos privados de liberdade do
Hitler Cantalice para compreender a realidade educacional no ambiente
prisional.
Desse modo, este trabalho de conclusão de curso (TCC) tem como
objetivo geral analisar a contribuição da educação no processo de
ressocialização dos sujeitos privados de liberdade. Os objetivos específicos
são: caracterizar e analisar a experiência de escolarização entre os apenados
do presídio Hitler Cantalice; levantar a visão dos envolvidos a cerca de sua
experiência de escolarização; examinar o papel da educação no processo de
ressocialização dos privados de liberdade.
No tocante à metodologia, a produção do material empírico se deu a
partir de um questionário, cuja aplicação ocorreu presencialmente na
Penitenciária de Segurança Média Juiz Hitler Cantalice, e que foi respondido
por 23 sujeitos privados de liberdade, no período de 01 de outubro a 20 de
outubro de 2019. Os caminhos metodológicos, descritos mais adiante.
16
com penalidade máxima de trinta anos, bem como prisão celular, reclusão,
prisão com trabalho obrigatório e prisão disciplinar (MACHADO et al, 2013).
Nesta época a sociedade era escravista e os interesses pela expansão
cafeeira geravam diversas tensões entre as classes sociais. Diante do cenário
social vivenciado nesse período a prisão surge como mecanismo de controle
essencial, capaz de disciplinar e vigiar determinados segmentos da sociedade
(ROIG, 2005).
Ainda neste período, com o aumento da população da cidade, os
governantes já enfrentavam os problemas da superlotação carcerária. O
sistema prisional caracterizava-se pela ausência de acomodações suficientes,
altas taxas de enfermidade e mortalidade devido às precárias condições
sanitárias e elevados índices de fuga, dadas as ineficientes estruturas de
segurança (ARAÚJO, 2009).
Em 1824, a partir da nova Constituição, o Brasil passa a reformar seu
sistema punitivo. A nova proposta banira as penas de açoite, a tortura, o ferro
quente e outras penas cruéis; também determinara que as cadeias devessem
ser seguras, limpas e bem arejadas havendo diversas casas para a separação
dos réus, de acordo com as circunstâncias, e natureza dos seus crimes.
Porém, a eliminação das penas cruéis não foi plena, já que os escravos ainda
estavam sujeitos a elas (DI SANTIS; ENGBRUCH, 2012).
Já em 1890, com o novo Código Penal, aboliram-se as penas de morte,
penas perpétuas, açoite e as galés e previa quatro tipos de prisão: a prisão
celular, a maioria dos crimes previstos; reclusão em fortalezas, praças de
guerra ou estabelecimentos militar destinada para os crimes políticos contra a
recém-formada República; prisão com trabalho cumprida em penitenciárias
agrícolas, para esse fim destinado, ou em presídios militares; prisão disciplinar,
cumprida em estabelecimentos industriaes especiaes, onde serão recolhidos
os menores até á idade de 21 anos, além de uma inovação do Código que foi o
limite de 30 anos para as suas penas (SILVA, 2018).
Em 1940, durante o governo de Getúlio Vargas, é publicada a
consolidação das Leis penais, completado com Leis modificadoras, chamado
de Código Penal Brasileiro. A partir de então, as penas são divididas em
principais e acessórias, observando-se a gravidade do delito, sendo de três
tipos: reclusão, detenção e multa. Enquanto que as segundas consistem: na
21
Vale salientar que a educação como direito humano foi assegurada pela
Declaração Universal de Direitos Humana aprovada pela Assembleia Geral da
ONU, em 10 de dezembro de 1948. No seu Art. 26, a Declaração estabelece
que toda pessoa tenha direito à instrução, incluindo-se a instrução básica,
técnica e profissional, visando ao desenvolvimento da personalidade humana e
do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais.
Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), em relação à
educação escolar ministrada nas instituições carcerárias, foram definidas as
bases para uma educação integral conforme artigos das Normas Gerais de
Regime Penitenciário do Brasil, introduzindo-se também as exigências para
uma educação voltada para a formação e capacitação profissional das pessoas
em privação de liberdade (VASQUEZ, 2008).
Em 1984, aprovou-se a Lei nº 7.210 (Lei de Execução Penal – LEP), que
tratava, em seus artigos. 17 a 21, da assistência educacional ao preso e ao
internado. Caracterizava-se por estabelecer obrigatoriedade do ensino de 1º
grau; ensino profissional ministrado em nível de iniciação ou de
aperfeiçoamento técnico; adequação do ensino profissional da mulher
condenada à sua condição; possibilidade de convênio com entidades públicas
ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados;
previsão de dotar cada estabelecimento com uma biblioteca para uso de todas
as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos
(SANTIAGO e BRITTO, 2006).
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 208, I, estabelece o dever
do Estado na garantia de ensino fundamental obrigatório e gratuito,
assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem
acesso na idade própria. Tendo em conta os baixos índices de escolarização
apresentados pela população carcerária, a educação de jovens e adultos,
modalidade que responde pela oferta de educação básica para a população
acima da idade escolar, deveria estar presente em todos os estabelecimentos
penais implantados no País (BRASIL, 1988; SANTIAGO e BRITTO, 2006).
Em 1996, a Lei n° 9.394, que institui as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, estabeleceu a modalidade de ensino EJA como aquela destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino
27
Fundamental - Incompleto
Fundamental - Completo
Médio - Incompleto
11; 48%
Médio - Completo
Superior - Incompleto
8; 35% Superior - Completo
Não sei
1; 4%
Figura 1. Gráfico referente ao segundo ponto do questionário.
Fundamental - Incompleto
8; 35%
Fundamental - Completo
Médio - Incompleto
Médio - Completo
Superior - Incompleto
8; 35% Superior - Completo
Não sei
1; 4%
3; 13%
Refletir sobre o grau de escolarização dos pais, muitas vezes, nos faz
compreender sobre como as condições educacionais oferecidas a esses jovens
foram e são deficientes e desestimulantes, levando os mesmos, na maioria dos
casos, a desistir da escola.
A cultura, por exemplo, é um fator fundamental para a saúde mental e a
cultura e a educação está intimamente ligada. Pessoas com problemas
culturais – agravados pela problemática econômica e social – tendem a ter uma
família que reflete essas mesmas características.
De acordo com algumas pesquisas, filhos de pais analfabetos ou que
não terminaram o ensino fundamental têm uma chance bem maior de ter baixo
desempenho escolar quando comparados a filhos de pais com curso superior
completo, pois depende dos estímulos recebidos em casa também.
Segundo Coyle (2002, p. 102):
Fundamental - Incompleto
Fundamental - Completo
6; 26% Médio - Incompleto
Médio - Completo
Superior - Incompleto
Superior - Completo
Não sei
14; 61%
9; 39%
Ler
Escrever
Ler e escrever
Ler, interpretar e refleitr
14; 61%
4; 17%
Para aprender
7; 30%
Incentivo da família
Outros
2; 9%
7; 31%
A maioria dos alunos são ouvintes na sala de aula da EJA Prisional, pois
já concluíram o ensino médio e, por este motivo, não podem se matricular.
Um dos fatores que explica a insuficiente oferta de educação no sistema
prisional é o mau aproveitamento ou ausência total de infraestrutura para o
programa. Apenas 50% das unidades prisionais brasileiras possuem salas de
aula destinadas a programas de educação e em 14 estados, há mais unidades
com salas de aula do que com pessoas estudando. O Infopen aponta também
que apenas um terço das unidades prisionais possuem bibliotecas disponíveis,
39
É preciso dar trabalho para eles, para ocuparem a mente, sendo ele
remunerado ou não, que garanta sua saída para o mercado de trabalho, mas
no Brasil a Lei de Execução Penal garante que o preso perde sua liberdade,
mas deve ser tratado com dignidade. Assim afirma Zacarias (2006. p. 35): “a
execução da pena implica uma política destinada à recuperação do preso, que
é alcançada de quem tem jurisdição sobre o estabelecimento onde ele está
recluso”.
Refletindo sobre a fala dos sujeitos, vemos que a ressocialização tem
sido uma constante preocupação, porque muitos detentos com possíveis
condições para seu reingresso na sociedade não conseguem devido à
superlotação nos presídios ao regime, pois a saída do preso exige muito
trabalho tanto no aspecto físico como mental onde há pessoas com mentes
doentias, cabeças vazias.
Finalizando o questionário, perguntamos se os privados de liberdade
acreditam na ressocialização através da educação, e todos responderam que
sim, alegando entre outras coisas, a educação como um direito à cidadania.
Inclusive destaco algumas das respostas que além de citar a educação como
41
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
of-a-Maximum-Sykes/8e1c193c23c86d9ceff93a34e0179aa3227e61b1. Acesso
em: 22/11/2019.
TOIGO, R. R. Frente à Realidade do Sistema Penitenciário Brasileiro Atual,
o cidadão Encarcerado é Passível de Ressocialização? 2006. Disponível
em: http://www.direitonet.com.br/textos/x/16/80/1680/. Acesso em: 12/01/2020.
VASQUEZ, E. L. Sociedade Cativa. Entre Cultura Escolar e Cultura
Prisional: Uma Incursão Pela Ciência Penitenciária. São Paulo, SP.
Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica, 163 p. 2008.
Disponível em:
https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/13381/1/Eliane%20Leal%20Vasquez.pd
f. Acesso em: 10/10/2019.
ZACARIAS, A. E. C. Execução Penal Comentada. 2 ed. São Paulo: Tend Ler,
2006.
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APÊNDICES
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