E-Book - Democracia Ambiental
E-Book - Democracia Ambiental
E-Book - Democracia Ambiental
Organizadores
Celso Maran de Oliveira
Sandra Medina Benini
Laura Augusta da Silva Lagares
1ª Edição
ANAP
Tupã/SP
2021
2
EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
www.editoraanap.org.br
editora@amigosdanatureza.org.br
Ficha Catalográfica
CDD: 340
CDU: 34:502/49
Conselho Editorial
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .............................................................................. 09
Celso Maran de Oliveira
Capítulo 1 ......................................................................................... 13
ESTUDO DA ADERÊNCIA DO PLANO DE GESTÃO PARA O
CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ (MT) AOS OBJETIVOS DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)
Luciana Pelaes Mascaro
Carla Cristina Rosa de Almeida
Karyna de Andrade Carvalho Rosseti
Luciane Cleonice Durante
Capítulo 2 ......................................................................................... 39
PARTICIPAÇÃO E REPRESENTATIVIDADE NO ÂMBITO DAS
LEGISLAÇÕES AMBIENTAIS NO BRASIL
Sidnei Pereira da Silva
Flávia Darré Barbosa
Frederico Yuri Hanai
Capítulo 3 ......................................................................................... 65
IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES
INTERESSADAS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO E MANUTENÇÃO
DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
Edson Ricardo Saleme
Celso Maran de Oliveira
Capítulo 4 ....................................................................................... 79
METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS E CONTEXTO
DEMOCRÁTICO
Marcel Britto
Celso Maran de Oliveira
8
Capítulo 5 ........................................................................................ 99
JUSTIÇA AMBIENTAL E DIAGNÓSTICO DE EQUIDADE
NO ESPAÇO URBANO
Tatiana Vieira de Moraes
Beatriz de Deus Grotto
Celso Maran de Oliveira
Democracia Ambiental - 9
APRESENTAÇÃO
Boa leitura!
1
Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo, professor
Associado do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
celmaran@gmail.com
12
Democracia Ambiental - 13
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
2
Doutora, docente no Depto. de Arquitetura e Urbanismo/FAET/UFMT, responsável pela
coordenação da pesquisa. E-mail: mascaro.luciana@gmail.com
3 Doutora, docente na Faculdade de Economia/UFMT. E-mail: carlalmeidarosa@gmail.com
4 Doutora, docente no Departamento de Arquitetura e Urbanismo/FAET/UFMT. E-mail:
karyna.rosseti@gmail.com
5 Doutora, docente no Departamento de Arquitetura e Urbanismo/FAET/UFMT. E-mail:
luciane.durante@hotmail.com
14
METODOLOGIA
RESULTADOS
Quadro 1. Propostas elaboradas para o PGCHC e seus objetivos específicos (OE) em cada
um dos eixos temáticos
3.1.2. Criação de um
núcleo de governança para -OE6: Viabilizar gestão eficiente e focada no Centro Histórico;
gestão do Centro Histórico
Das 169 metas dos ODS, 58 delas são aplicáveis ao PGCHC. A Figura 2
apresenta os 17 ODS, agrupados nas dimensões social, ambiental, econômica
e governança, em consonância com Lima (2020), ilustrando a distribuição das
metas em cada ODS.
22
com pelo menos uma proposta, todas as dimensões e 59% das metas dos ODS
aplicáveis, mostrando que as propostas são diversificadas em termos de
impacto para a sociedade.
Quadro 2. Identificação das metas dos ODS atendidas pelas propostas do PGCHC
1.5. Até 2030, reduzir a exposição das pessoas em 3.1.6. Por meio do aluguel social
situação de vulnerabilidade a eventos extremos minimizam-se as exposições da
relacionados com o clima e outros choques e população a situações de risco
desastres econômicos, sociais e ambientais (moradia)
3.3. Até 2030, acabar com as epidemias de AIDS, 3.1.6. Minimização das condições de
tuberculose, malária e doenças tropicais abandono das edificações
negligenciadas, e combater a hepatite, doenças 3.2.3. Melhorias urbanísticas
transmitidas pela água, e outras doenças (saneamento/salubridade) e reabilitar
transmissíveis o patrimônio
10.4. Adotar políticas, especialmente fiscal, 3.1.6. Regularização dos ambulantes pela
salarial e de proteção social, e alcançar inclusão de comerciantes de rua e
progressivamente maior igualdade ambulantes no fluxo comercial
11.1. Até 2030, garantir o acesso de todos à 3.1.6. Aluguel social – OE11 e 21: acesso à
moradia digna, adequada e a preço acessível; aos habitação segura e a preço acessível
serviços básicos e urbanizar os assentamentos 3.2.3 Através de adensamento de área
precários, com especial atenção para grupos em urbana específica e incentivo por meio do
situação de vulnerabilidade plano de conservação integrada
Figura 3. (a) Cobertura das metas aplicáveis ao PGCHC por ODS (eixo principal) e da
quantidade de propostas do PGCHC que abrangem cada ODS (eixo secundário); (b) Cobertura das
metas aplicáveis ao PGCHC por dimensão de ODS (eixo principal) e quantidade de propostas do
PGCHC que contemplam cada dimensão de ODS
Figura 4. Quantidade de ODS por dimensão em cada proposta do PGCHC (eixo principal) e da
cobertura das propostas do PGCHC quanto a abrangência de ODS (eixo secundário)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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38
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Paulo: Marco Zero; Cuiabá: EdUFMT, 1993.
Democracia Ambiental - 39
Capítulo 2
INTRODUÇÃO
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante:
I – Plebiscito;
II – Referendo;
III – Iniciativa popular. (BRASIL, 1988, on-line).
Já a iniciativa popular foi uma das principais novidades que veio com a
Constituição de 1988. A iniciativa popular de leis é a proposição direta, sem a
presença de intermediários, e seria a maneira mais direta de se fazer valer o
artigo primeiro da Constituição: “o poder emana do povo”. A ideia é fazer com
que o eleitorado tenha participação ativa do processo legislativo, sugerindo e
manifestando seu interesse acerca de determinada matéria. Conforme o art.
13 da Lei Federal 9.709,
(art. 225, § 1º, inc. IV) (PAES, 2015), todos eles envolvem graus diferenciados
de participação social.
Outro mecanismo que promoveu ampla participação social em
discussões relacionadas ao meio ambiente foram as Conferências Nacionais de
Meio Ambiente. As Conferências promoveram o espaço para a interlocução
entre Estado e Sociedade Civil, com o objetivo de contribuição para formulação
de propostas de políticas públicas. Na esfera ambiental, entre os anos de 2003
e 2010 (Quadro 1), foram realizadas diversas conferências sobre o meio
ambiente, a saber:
a) 2003 – I CNMA – Fortalecimento do Sistema Nacional do Meio
Ambiente;
2005 – II CNMA – Gestão Integrada das Políticas Ambientais e Uso
dos Recursos Naturais;
b) 2008 – III CNMA – Mudanças Climáticas;
c) 2009 – Saúde Ambiental;
d) 2013 – IV CNMA – Resíduos Sólidos;
e) Anos de 2003, 2006 e 2009 – em conjunto com o Ministério da
Educação, a Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente.
Quanto ao alcance participativo, os números no quadro a seguir
destacam os números de participantes e os resultados obtidos nas respectivas
conferências.
[...] qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural. (BRASIL, 1988).
CONCLUSÃO
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Capítulo 3
INTRODUÇÃO
9 Doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo, professor da Universidade Católica
de Santos. E-mail: ricasal@unisantos.br
10
Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo, professor
Associado do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
celmaran@gmail.com
66
nas primeiras seria apenas admissível o uso indireto dos recursos naturais nela
existentes, nos termos do §1º de seu art. 7º11.
As composições estabelecidas territorialmente por áreas de grande ou
média extensão representam uma das principais fórmulas em prol da
conservação de áreas in situ, cuja eficácia, em termos de preservação a longo
termo, é inquestionável. Nos termos da própria manifestação quanto à
preservação de espaços naturais e seus respectivos biomas, a IUCN (2020), em
português UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) já se
manifestou no sentido de que a terra deve ser gerida de maneira racional,
sustentável e equitativa, evitando a consequente degradação de recursos
naturais, conflito e migração de pessoas; para esse propósito deveria ser
empregada uma variedade de instrumentos para restaurar as paisagens e
processos naturais eventualmente degradados, tais como: gerenciamento do
uso da terra, avaliações de impacto, normas relacionadas ao uso dos recursos
hídricos, entre outras possibilidades.
As prioridades indicadas pela UICN estão dispostas como Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), nas palavras da Larbordière et al. (2020);
eles compõem a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e incluem
verdadeiras “ambições ambientais”, como a própria organização definiu, em
termos de metas para consumo e produção responsáveis (ODS 12), ação
climática (ODS 13), vida subaquática (ODS 14) e vida na terra (ODS 15).
Antes disso, a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) (ONU, 1992),
ratificada por mais de 170 países, estabeleceu claramente que por
biodiversidade entendem-se as relações entre seres vivos, a relação destes
com o meio ambiente, a variação de espécies e ecossistemas, além das ofertas
de bens e serviços ambientais, os quais tornam possível a sobrevivência
humana.
Para realizar ações de proteção à enorme biodiversidade no país, são
adotadas estratégias de conservação in situ, amplamente representadas pela
11Nos termos do art. 8o o grupo das unidades de proteção integral é composto pelas seguintes
categorias de unidades: I – Estação Ecológica; II – Reserva Biológica; III – Parque Nacional; IV –
Monumento Natural; V – Refúgio de Vida Silvestre. Nos termos do art. 14 constituem o grupo das
unidades de uso sustentável as seguintes categorias: I – Área de Proteção Ambiental; II – Área de
Relevante Interesse Ecológico; III – Floresta Nacional; IV – Reserva Extrativista; V – Reserva de
Fauna; VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e VII – Reserva Particular do Patrimônio
Natural.
Democracia Ambiental - 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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78
Capítulo 4
Marcel Britto12
Celso Maran de Oliveira13
INTRODUÇÃO
dados e mais a percepção que deles esteja tendo a população neles envolvida”
(FREIRE, 1988, p. 35).
A importância dos grupos populares como sujeitos da pesquisa,
juntamente com a pesquisadora ou pesquisador, é condição indispensável para
uma postura libertadora, em vez de uma ação pautada a serviço da dominação.
Para que as pessoas não se resumam à condição de afetadas, tanto
maior deve ser o grau de envolvimento, rompendo com a passividade até o
atingimento de níveis cada vez mais elevados de participação popular. A
participação deve permear todas as fases das políticas públicas, desde a
dimensão estratégica até a operacional, essa a condição de um contexto não
apenas formalmente democrático para o qual as metodologias hão de
contribuir.
O imperativo da participação é consagrado internacionalmente, tendo
merecido destaque com sua vinculação às questões ambientais – novamente
reforçando a pertinência de uma Democracia Ambiental. Dentre os dispositivos
normativos supranacionais vale referir a Organização das Nações Unidas (ONU)
na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de junho de
1992:
Quadro 2. Relação dos métodos participativos segundo a ÖGUT por tamanho e tempo para
realização
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Democracia Ambiental - 97
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98
Democracia Ambiental - 99
Capítulo 5
INTRODUÇÃO
15
Advogada. Mestre em Ciência Ambiental. Especialista em Direito Ambiental. Doutoranda no
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos. E-
mail: tativmoraes@gmail.com
16 Gestora e analista ambiental. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
RESULTADOS E DISCUSSÕES
18É inquestionável que em diversas situações, mesmo havendo planejamento prévio, possa existir
fragmentação e desigualdade na ocupação urbana, como os casos, por exemplo, de Brasília.
104
democrática, uma vez que não afeta a todos de uma forma equânime, mas com
maior impacto aos "socialmente mais desprovidos".
De acordo com o autor, “os riscos ambientais são diferenciados e
desigualmente distribuídos” (ACSELRAD, 2010, p. 109), o que dá origem aos
“conflitos ambientais”, uma vez que determinados grupos sociais favorecidos
escapam das fontes de tais riscos, enquanto outros não possuem opção e/ou
tais condições, sofrendo, desta forma, os efeitos advindos da exploração do
grupo favorecido sobre o meio ambiente. Para o autor, “a poluição não é, nessa
perspectiva, necessariamente “democrática”, podendo afetar de forma
variável os diferentes grupos sociais” (ACSELRAD, 2010, p. 109).
Como o elemento social não é desvinculado do elemento ambiente, já
que o humano está nele inserido, os "conflitos socioambientais" acabam por
envolver disputas de natureza socioeconômica e recursos naturais. Nessa linha
de ideias, Giaretta et al. (2012, p. 528) ilustram como a ampliação das
disparidades sociais e dos riscos ambientais está intimamente ligada à ausência
de equidade do uso e ocupação do solo urbano.
Tomando-se como exemplo “o Município de São Paulo, em que um
terço da população (ou seja, cerca de 994.926 famílias) está vivendo em
situação de risco, em favelas, loteamentos ou demais ocupações irregulares”
(BRANCATELLI, 2010), evidencia-se que esses resultados são intrínsecos ao
modelo de desenvolvimento instaurado, o qual amplia as disparidades sociais,
degradação e poluição ambiental.
Nesse aspecto, as atividades/empreendimentos positivamente
impactantes ao meio ambiente e à saúde humana são priorizados para uma
parcela da população, enquanto outra parcela limita-se a conquistar soluções
paliativas ou maquiadoras dos problemas socioambientais, como sustenta
Herculano (2002, p. 6), afirmando que, embora as políticas ambientais urbanas
brasileiras sejam dotadas de questões de saúde pública e higienismo, estas
ainda “assumem a lógica das soluções paliativas, resumindo-se a intervenções
de cunho reparador em medidas de efeito cosmético e controverso”.
Para um bom desempenho das ações de resistência e ativismo contra
desigualdades, Souza (2020, p. 24) aponta a necessidade de articulação entre
o território, que seria a projeção espacial de poder; o lugar, considerado pelo
autor como o tecido das identidades “socioespaciais”; e o ambiente, o qual
denomina contexto “socionatural”. Tal articulação possibilita o entendimento
106
19
Giarretta et al. (2010) citam a denominação de Funtowicz e Ravetz (2000) para esses novos
participantes nas discussões políticas, que os qualificam como "comunidades de pares estendidas".
110
CONCLUSÃO
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Favela do Vietnã construídas ao longo do Córrego Água Espraiada, desocupação do local e
alojamento das famílias em local apropriado, bem como o refazimento das obras irregulares
localizadas no local Admissibilidade. Omissão da Municipalidade que não retirou as famílias das
áreas de risco, bem como não observou seu dever de fiscalização, com relação às moradias
irregulares. Recurso da associação não conhecido. Recurso da municipalidade desprovido.
Relatora: Isabel Cogan, Data de Julgamento: 22/05/2013, 12ª Câmara de Direito Público, Data de
Publicação: 23/05/2013. Disponível em: esaj.tjsp.jus.br. Acesso em: 22 maio 2021.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo (3ª Câmara). Apelação cível 0006071-
82.2010.8.26.0223. Ação de obrigação de fazer e não fazer. Guarujá. Livre acesso à praia. Pedido
para que os requeridos retirem todos os obstáculos que limitem ou restrinjam o acesso à praia,
bem como, não crie qualquer restrição em relação ao acesso da coletividade na praia e nas vias
públicas do loteamento. Comprovação de que havia restrição indevida no acesso à praia.
Necessidade de adequação à legislação de regência da matéria. Honorários advocatícios
mantidos. Sentença mantida. Recurso improvido. Relator: Maurício Fiorito, Data de Julgamento:
13/03/2018, 3ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 14/03/2018. Disponível em:
esaj.tjsp.jus.br. Acesso em: 22 maio 2021.
SOUZA, M. L. Planejamento e gestão urbanos em uma era de medo. Revista Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, v. 2, p. 55-74, 2005.
SOUZA, M. L. Articulando ambiente, território e lugar: a luta por justiça ambiental e suas lições
para a epistemologia e a teoria geográficas. AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia
Política, v. 2, p. 16-64, 2020.
UNITED NATIONS (UN). Sustainable development goals report 2020. Disponível em:
https://www.un.org/development/desa/publications/publication/sustainable-development-
goals-report-2020. Acesso em: 21 maio 2021.
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