Sociobiodiversidade

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Sociobiodiversidade – mais um palavrão

Muriel Saragoussi1

Povos e Comunidades Tradicionais. Sempre que usamos esta expressão, alguém na


roda pergunta por que não dizemos simplesmente Índios. Porque além de índios, existem no
Brasil Seringueiros, Castanheiros, Quebradeiras de coco babaçu, Comunidades de Fundos de
Pastos, Faxinalenses, Pescadores Artesanais, Marisqueiras, Ribeirinhos, Caiçaras, Praieiros,
Sertanejos, Jangadeiros, Ciganos, Açorianos, Campeiros, Varzanteiros, Pantaneiros,
Geraizeiros, Veredeiros, Caatingueiros... Lista longa, mas não exaustiva: são no mínimo 5,2
milhões de brasileiros quase invisíveis aos olhos do poder público e da maioria dos seus
concidadãos.
A definição oficial diz que povos e comunidades tradicionais são “grupos
culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias
de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição
para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (Decreto 6040 de
7 de fevereiro de 2007).
São Povos com nomes de recursos e territórios: suas identidades passam por esta
relação. Estes territórios fazem parte das áreas mais conservadas do país, contradizendo a
visão usual de que natureza protegida é natureza intocada. A cultura e a natureza evoluíram
de forma indissolúvel.
O conhecimento tradicional sobre o uso dos recursos naturais é reconhecido pela
Convenção da Biodiversidade (artigo 8j), mas isto tem ainda poucas implicações práticas,
não há regulamentação sobre como acessá-lo ou remunerá-lo, não há modo de emprego.
O desenvolvimento do conceito de “produtos da sociobiodiversidade” e do plano
para promovê-los é um primeiro passo nesta direção. Em 2008, o Plano foi discutido em
seminários promovidos pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário, Ministério do Meio
Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Social e Conab nas 5 regiões do país. Estiveram
presentes comunidades tradicionais, governos estaduais e municipais, setor privado,
pesquisadores, instituições de fomento, assistência técnica e bancos. Aprovado, ele
começou a ser implementado de 2009. De forma coletiva definiu-se que os produtos da

1
Inserido de <http://www.biotrix.com.br/mosaico.html>
sociobiodiversidade são “bens e serviços (produtos finais, matérias primas ou benefícios)
gerados à partir de recursos da biodiversidade, voltados à formação de cadeias produtivas de
interesse dos povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares, que promovam a
manutenção e valorização de suas práticas e saberes, e assegurem os direitos decorrentes,
gerando renda e promovendo a melhoria de sua qualidade de vida e do ambiente em que
vivem”. O Plano tem por objetivo trabalhar os gargalos da cadeia de produção de produtos
da sociobiodiversidade prioritários de forma a resolvê-los com o cuidado de fortalecer os
povos e comunidades tradicionais (PCT) envolvidos e ao mesmo tempo agregar valor e
tecnologia ao processo de transformação.
Um exemplo: fortalecer as quebradeiras de coco babaçu (PCTs) na sua organização,
na garantia de acesso ao recurso natural e a novas tecnologias de quebra do coco (C&T);
inserir o babaçu na Política Geral de Preços Mínimos (Governo Federal), permitindo uma
oferta a preços justos para as produtoras (PCTs) e em volume suficiente para investimento
no desenvolvimento de produtos industrializados enriquecidos com o babaçu (alto teor de
fibras e minerais) por parte da indústria de alimentos (Setor Privado). Talvez fosse bom dizer
aqui algo como: se isso for feito, a vida dessas mulheres pode mudar etc e tal...
O Plano é uma oportunidade para que estes conhecimentos sejam mais respeitados e
gerem recursos para as comunidades tradicionais, apesar de não criar as garantias previstas
na Convenção sobre Diversidade Biológica. É um passo torto, mas na direção certa.

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