Interconsulta Psiquiátrica
Interconsulta Psiquiátrica
Interconsulta Psiquiátrica
O paciente hospitalizado por doença aguda passa por diversas situações de estresse psicológico:
Reações de ajustamento
As reações de ajustamento são respostas individuais frente às doenças e internações, determinadas pelo
significado pessoal e objetivo que a doença física desperta, características de personalidade, circunstâncias sociais
e pela própria natureza da patologia e de seu tratamento, sendo semelhantes às reações observadas durante o
processo de luto. Na prática clínica, as reações de ajustamento podem ser tomadas como uma síndrome parcial de
um transtorno específico do humor, a meio caminho entre o comportamento normal e um transtorno psiquiátrico de
maior gravidade, com início ocorrendo dentro de um mês após o evento estressante, com o quadro não durando
mais do que seis meses.
Mecanismos de defesa
Os mecanismos de defesa são essenciais na própria constituição do sujeito, de sua personalidade, capazes de
proporcionar uma espécie de viabilidade mental na relação do indivíduo com a realidade, incluindo-se sua realidade
mais íntima. São subsídios importantes para a compreensão do comportamento humano.
Negação
Racionalização
Banalização
Regressão
Deslocamento
Personalidade
A personalidade pode ser compreendida como resultante da combinação de propensão biológica, experiências
vivenciadas ao longo da vida e contexto sociocultural. Ela é relativamente estável ao longo da vida da pessoa, ainda
que sujeita a mudanças dependentes de experiências existenciais marcantes ou de alterações neurobiológicas. A
personalidade tem caráter preditivo, na medida em que é um conjunto probabilístico de respostas cognitivas,
afetivas e comportamentais a acontecimentos da vida. A resposta a estes acontecimentos, por exemplo, no
momento em que surge uma doença liga-se a experiências semelhantes vividas no passado. Atualmente são mais
conhecidos e estudados o modelo dos cinco fatores:
Estresse
Está relacionado às reações adaptativas de um organismo vivo quando submetido a agentes nocivos (dor, frio,
fome, estados tóxicos e infecciosos). Em psicologia, está relacionado ao cumprimento de tarefas de
responsabilidade, a reações a eventos inesperados e a situações de expectativa e de contato com o novo. O
homem reage não só um perigo real e atual, mas também a ameaças de perigo (potenciais ou imaginadas) relativas
tanto a situações pessoais como a condições de um ambiente inseguro, criado por nosso sistema social e
econômico. O que determina a patologia é a reação do organismo, e, com muita frequência, a gravidade da
enfermidade deve-se, primariamente à violência dos mecanismos de defesa orgânicos. O estresse prolongado afeta
o sistema imunológico do organismo e suas defesas naturais contra infecções e outras doenças.
Alguns fatores contribuem para intensificar ou minorar o estresse e seu conhecimento é crucial para a elaboração
de estratégias a serem utilizadas em tratamentos individuais ou coletivos, de caráter preventivo:
Coping
De acordo com modelos cognitivos do comportamento, as pessoas podem ser divididas em duas grandes
categorias quanto à maneira como enfrentam as adversidades:
1. Pessoas orientadas para a solução dos problemas: ao lidarem com situações de doença, tendem a buscar
informações, procuram trocar idéias com médicos, amigos, grupos de autoajuda, a fim de alterar suas concepções,
hábitos e características do ambiente em que vivem. Tudo isso com a finalidade de reassumir o controle de suas
vidas, tornando as consequências da doença mais toleráveis.
2. Pessoas orientadas para a emoção: estão mais preocupadas em lidar suas emoções, reduzindo-lhes o impacto.
Elas tem mais dificuldade para se focalizar em alternativas cognitivas. Estes pacientes respondem mais
emocionalmente, usam mais mecanismos de defesa, sentem mais desesperança, desamparo e depressão,
necessitando de estratégias de apoio psicológico por parte da família, amigos e da equipe assistencial.
Pacientes-problema: um Impasse
De modo geral, o que consideramos como paciente-problema é, de um lado, decorrência da crise que se instala em
pessoas que têm certos traços de personalidade, modalidades de apego e mecanismos de defesa primitivo e, de
outro, da crise que acomete vários membros da equipe assistencial, que sofrem com uma carga emocional
excessiva. Segundo Grove, existem quatro tipos de pacientes que manifestam tendência a dependência psíquica:
Modalidades de apego
A figura de apego tem função dupla: proteger do perigo imposto pelos predadores e funcionar como rede de apoio à
vida independente, em momentos de segurança. O comportamento de apego é desencadeado em momentos de
ameaça, quer pela percepção de ausência de figura primária de apego, quer pelo surgimento de um estímulo
ameaçador.
Uma proposta de categorização das modalidades de apego seria que estejam presentes ao longo de um continuum,
onde aproximadamente 55% das pessoas têm uma modalidade de apego seguro, 20% têm apego inseguro ansioso,
15% têm apego inseguro evitador e 10% têm apego desorganizado:
1. Apego inseguro ansioso: Estas pessoas não desenvolveram a segurança que lhes permite enfrentar com ponderação uma
situação de doença. A hipótese é a de que esse constante sinal de desespero, emitido desde o início do desenvolvimento, é a
única forma conhecida de obter atenção de uma figura de apego.
2. Apego inseguro evitador: estas pessoas tiveram a experiência, ao longo do desenvolvimento, de receber atenção de forma
distante e pouco cuidadosa. Assim, suas necessidades não foram atendidas de forma a lhes transmitir confiança. Passaram
então, a não acreditar que outras pessoas pudessem ajudar pragmática e emocionalmente, passando a contar consigo mesmas.
3. Apego desorganizado (e desorganizante): a pessoa manifesta traços de personalidade que denotam serem portadoras de
algum transtorno mental, comumente transtorno de personalidade
Traços de personalidade:
As defesas psicológicas utilizadas por pessoas que têm transtorno de personalidade são consideradas mais primitivas,
características de um ego imaturo:
Clivagem: separação completa de idéias opostas e dos sentimentos associados, com membros da equipe bons e maus
Identificação projetiva: identificação de qualidade negativa do próprio paciente no cuidador
Negação psicótica: substituição na consciência do paciente um aspecto angustiante por outro de caráter oposto
Idealização primitiva: tendência a conceber o cuidador como alguém extremamente bom para proteção daqueles maus
Onipotência e ataques: relação com equipe, outrora, poderosa, passa a ser odiada devido a frustrações
Interconsulta Psiquiátrica
Todo encaminhamento ao psiquiatra deve ser considerado como processo psicodinâmico, onde a tríade formada
pelo paciente, seu médico e o psiquiatra configura um campo relacional influenciado tanto por crenças e
sentimentos pessoais quanto por normais institucionais. Estes aspectos devem ser utilizados pelo consultor como
instrumento de avaliação e de orientação da ação. A formulação de um diagnóstico situacional considera tanto a
presença de um transtorno psiquiátrico quanto de estressores psicossociais, dificuldades da relação médico-
paciente e aspectos da instituição que interferem na assistência prestada aos doentes.
Uma característica básica e fundamental da interconsulta psiquiátrica é a natureza aguda e dinâmica dos problemas
surgidos no hospital geral. O desafio da formulação diagnóstica e do tratamento é considerável, principalmente se
levarmos em conta a gravidade de muitos casos clínicos, a costumeira escassez de informações e a rapidez
esperada para nossa atuação. Além dos aspectos concernentes ao paciente, frequentemente o psiquiatra lida com
os condicionantes psicológicos e institucionais que permeiam a relação entre os membros da equipe assistencial e
desta com o paciente.
Tratamento específico a pacientes acometidos por transtornos mentais atendidos em serviços não psiquiátricos
Modificação da estrutura assistencial centrada na doença para uma forma de trabalho centrado no paciente
Valorização da relação médico-paciente
Aprofundamento do estudo da situação do paciente e dos profissionais nas instituições médicas
Aproximação da psiquiatria de outras especialidades médicas e profissões da área da saúde
Uma interconsulta não produz bons resultados quando o psiquiatra falha em um ou nos três seguintes pontos:
Etapas da interconsulta:
a. O pedido de interconsulta:
c. Entrevista ampliada:
f. Avaliação do paciente:
g. Diagnóstico situacional:
h. Devolução da informação:
i. Manejo:
Às vezes, a principal tarefa do interconsultor será a tentativa de alterar a maneira como o médico, ou equipe
assistencial como um todo, vem lidando com determinada situação.
j. Registro no prontuário:
As anotações registradas no prontuário devem ser claras, concisas, evitando-se o uso de jargões, mais detalhadas
em aspectos importantes e mais concisas no que for secundário. No registro, deve constar a razão específica, dada
pelo médico assistente, para a solicitação de interconsulta. Além da história da moléstia atual e das manifestações
psiquiátricas, a história psiquiátrica pregressa e o exame do estado mental. Também deve-se registrar
recomendações nos casos de riscos de conduta auto ou heteroagressividade. Sugestões de como a equipe deve
proceder em situações críticas previsíveis devem vir em destaque, ao fim das anotações.
O calcanhar de Aquiles da interconsulta psiquiátrica é seu aparente “caráter dispensável”, no sentido de ser tomada
por alguns como pouco importante. Este pressuposto errôneo pode surgir tanto na mente do médico que solicita a
interconsulta quanto na do psiquiatra iniciante em interconsulta. É necessário então que o interconsultor desenvolva
a capacidade de tolerar a limitação de sua intervenção e de sua função, sem cair na armadilha de achar que, por
ser pouco valorizado por alguns colegas, seu trabalho seja mesmo dispensável. A melhor forma de o psiquiatra
enfrentar esse potencial desalento é concentrar-se em sua tarefa ao lado dos pacientes, procurando manter a
comunicação com as pessoas que deles cuidam. As recompensas, mais cedo ou mais tarde, virão.
1. Determine a razão da interconsulta: entre em contato com o médico assistente para saber, especificamente, por
que ele o chamou.
2. Estabeleça o grau de urgência (emergência, urgência, rotina), evitando problemas de comunicação ou demora
desnecessária.
3 . Faça você mesmo o seu trabalho: colete informações e examine o paciente. Não se contente com o que já se
encontra no prontuário do paciente.
7. Não cobice o paciente do próximo: é seu colega quem deve manter o controle da situação.
9 . Discuta seu plano com o médico assistente, notadamente se as recomendações forem cruciais ou
potencialmente controversas.