Manual - Educaao Inclusiva e Nee

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Duração: 50 horas

Formadora: Dra. Mariana Martins

Drª. Mariana Martins 1


Ø Pretende-se que cada formando, após este módulo seja capaz de:

• Distinguir os conceitos de educação inclusiva e de necessidades educativas


específicas;

• Reconhecer os fatores que determinam as necessidades educativas


específicas;

• Relacionar os fatores que determinam as necessidades educativas


específicas;

• Reconhecer a interação que deve existir entre a família e a equipa


educativa.

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A inclusão é entendida como um processo para responder à diversidade das necessidades
de todas as crianças, jovens e adultos, aumentando a participação nas aprendizagens, nas
culturas e nas comunidades, reduzindo e eliminando a exclusão da educação. Promover a
inclusão significa estimular a discussão, incentivar atitudes positivas e melhorar os
enquadramentos sociais e educacionais para lidar com novas exigências nas estruturas de
educação e de governação. Trata-se de melhorar os processos e ambientes para facilitar a
aprendizagem, tanto ao nível do aluno no seu contexto de aprendizagem, como ao nível
do sistema para apoiar a aprendizagem” (UNESCO, 2009, p. 7–9).

A Educação Inclusiva requer sistemas educativos flexíveis que respondam às


diversas e, muitas vezes, complexas necessidades individuais dos alunos.

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A não esquecer:

Þ A Inclusão e qualidade são recíprocas;


Þ O acesso e qualidade interligam-se e reforçam-se
mutuamente;
Þ A qualidade e equidade são fundamentais para garantir
a educação inclusiva.

Princípios e valores da educação inclusiva:

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Durante a formação
inicial todos os professores devem ser preparados para
trabalhar na educação inclusiva. Posteriormente,
devem ter acesso à formação em serviço, a fim de
desenvolverem conhecimentos e competências para
melhorar a prática, em contextos inclusivos.

A formação para a inclusão envolve a aquisição de conhecimentos e de competências


sobre:

- Diferenciação e resposta às diferentes necessidades, que permita a um professor prestar


apoio individual na sala de aula;

- Trabalho colaborativo com pais e famílias;

- Colaboração e trabalho em equipa que facilite o trabalho efetivo em equipa com outros
professores, bem como com os serviços educacionais e profissionais dentro e fora da
escola.

Inclusão diz respeito a um grupo mais vasto de alunos e não apenas aos
identificados com necessidades educativas especiais.

Garantir que todos os professores são treinados e que se sentem capazes de assumir a
responsabilidade por todos os alunos, independentemente das suas necessidades
individuais é primordial.

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Essa cultura aceite por todos:

- Inclui todos os intervenientes: alunos, famílias, professores e comunidade local;

- É dirigida por uma liderança escolar com uma visão para inclusão que contempla o
desenvolvimento da escola, a prestação de contas e a responsabilidade pela resposta à
diversidade das necessidades.

As culturas organizacionais que apoiam a inclusão têm como resultado:

- Práticas que evitem todas as formas de segregação e promovam uma escola para todos,
proporcionando igualdade de oportunidades educacionais para todos os alunos;

- Cultura de trabalho em equipa e de parceria com os pais, bem como trabalho


interdisciplinar;

- Prática educativa que responde a todos os tipos de necessidades, assente no


desenvolvimento duma educação de qualidade para todos os alunos em geral, não
focalizada apenas em grupos específicos.

Este princípio baseia-se na igualdade de todos e é uma consequência lógica da igual


dignidade de ser humano. O princípio da não discriminação supõe que deve ser dado um
cuidado igual a indivíduos em situações iguais e implica a existência de uma norma que
determine essa igualdade de tratamento.

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O que mudou? Da educação especial para a escola inclusiva?

Educação especial Educação especial na perspetiva inclusiva

Faz parte da proposta pedagógica da escola.


Perpassa todos os níveis, etapas e
Sistema separado, paralelo ao regular
modalidades de ensino. Por isso, é tida como
transversal

Complementa ou suplementa o processo de


Substitui o ensino regular
escolarização em sala de aula

Dinâmica independente, total ou


Dinâmica dependente, totalmente articulada
parcialmente dissociada do ensino
com o trabalho realizado em sala
regular

Restritiva e condicional. Somente os Incondicional e irrestrita. Garante o direito de


alunos considerados aptos para o todos à educação, ou seja, à plena
ensino regular podem frequentá-lo participação e aprendizagem

O referencial é o que se convenciona


Parte do pressuposto de que a diferença é uma
julgar como “normal” ou
característica humana
estatisticamente mais frequente

Baseia-se no modelo social de deficiência.


Baseia-se no modelo médico de
Foca na articulação entre as características da
deficiência. Foca nos aspetos clínicos,
pessoa e as barreiras a sua participação
ou seja, no diagnóstico
presentes no ambiente

Nem todos os estudantes conseguem A escola deve responder às necessidades e


se adaptar à escola. Nem todos interesses de todos os alunos, sem exceção,
correspondem ao padrão estabelecido partindo do pressuposto de que todas as
por ela pessoas aprendem

Estratégias pedagógicas diferentes Diversificação de estratégias pedagógicas


para somente alguns estudantes para todos

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Vantagens da inclusão nas crianças com Necessidades educativas
específicas:

• Melhoraria do comportamento social;


• Maior facilidade em jogos e brincadeiras;
• Melhoria dos resultados escolares;
• Redução da estigmatização;
• Crescimento em ambientes integrados;
• Maior aceitação e respeito pela diferença;
• Participação e partilha de aprendizagens;
• Desenvolvimento da autoestima;
• Desenvolvimento de apoio e companheirismo mútuo;
• Construção de uma sociedade mais solidária.

Estratégias para ajudar na inclusão para Crianças e População Geral

Crianças com problemas de visão

Crianças População Geral

• Necessidade de se aproximar mais das coisas;


• Realizar jogos maiores;
• Usar figuras e textos maiores, com alto contraste e visibilidade;
• Controlar luminosidade;

Crianças com problemas de audição

Crianças População Geral

• Falar diretamente para a criança;


• Falar alto e calmamente;
• Usar gestos, objetos, expressões faciais;
• Repetir se for preciso ou dizer de forma diferente;
• Acentuar o início e o fim das frases.

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Crianças com dificuldades motoras

Crianças População Geral

• Oferecer oportunidades para interagir com


outras crianças;
• Ensinar jogos e exemplificar; • Utilizar equipamento especial (tesouras
• Convidar a criança para as brincadeiras; adaptáveis que requeiram menor força de
• Fortalecer os pulsos e dedos; mãos);
• Estimular a coordenação olhos/mãos (exemplo: • Utilizar atividades variadas e
tesouras) multissensoriais;
• Alternância entre atividades ativas e
atividades passivas.

Crianças com dificuldade de compreensão

Crianças População Geral

• Usar frases curtas, simples e com vocabulário


• Usar frases simples; pouco ambíguo;
• Dar tempo para processar e responder; • Verificar a se compreendeu o que lhe disse;
• Usar gestos; • Convencer as crianças a convidarem a outra para
• Ajudar com os exercícios das aulas. se juntar a elas e mostrarem-lhe o que estão a
fazer;

Crianças com dificuldade de expressão

Crianças População Geral

• Ouvir cuidadosamente;
• Encorajar a criança a falar mais (por exemplo: fazer
• Encorajar a criança a falar mais;
perguntas que não sejam de resposta direta);
• Encorajar a criança a explicar-se com base
• Encorajar convívio com crianças que a estimulem;
em figuras e objetos;
• Escutar realmente o que a criança diz e como o diz;
• Mesmo que a criança não fale, é possível
• Manter contacto visual;
fazer algum tipo de jogos;
• Utilizar comportamentos desafiadores.
• Dar tempo para a criança responder.

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Crianças com dificuldades de concentração

Crianças População Geral

• Simplificar atividades;
• Alterar ou reduzir o número de etapas de uma
• Dar o exemplo e encorajar a criança a juntar-se a atividade;
ele na atividade, mostrando interesse. • Utilizar as preferências da criança;
• Adaptação de materiais, tornando-os mais
apelativos visualmente.

Todos diferentes … todos iguais

Todos somos diferentes e as necessidades educativas


são apenas uma característica.
As crianças com necessidades educativas específicas são
capazes de atingir os mesmo resultados, mas necessitam de
abordagens de ensino e formas de contactar distintas.
Todos temos um papel ativo na sociedade e na forma como a
mesma procede à inclusão de crianças com necessidades
educativas especiais. Este papel passa por garantir a igualdade
de oportunidades para todos, de forma a atingir o melhor
resultado no expoente do potencial de cada um.

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O conceito de necessidades educativas específicas (NEE) surge de uma
evolução de conceitos que, ao longo do tempo, se foram generalizando a quase todos os
países desenvolvidos. Assim, a aceitação e as atitudes perante pessoas com NEE é de algo
que tem vindo a ser desenvolvido em função dos contextos sociais e educacionais em que
vivemos.
O termo NEE vem, responder ao princípio da progressiva democratização das
sociedades, refletindo uma igualdade de direitos no que respeita à não discriminação de
crianças ou jovens em idade escolar, nomeadamente ao nível das suas características
físicas ou intelectuais. Este conceito tem por base problemas sociais, físicos, intelectuais
e emocionais, bem como dificuldades de aprendizagem resultantes de fatores orgânicos
ou ambientais. Para o autor, este termo adequa-se a crianças e jovens que, ao nível
escolar, não conseguem acompanhar o currículo normal, devendo o estabelecimento
educativo e o educador realizar adaptações e transformações com o objetivo de
proporcionar estratégias integrativas e não discriminatórias.
É nesta linha que emerge o papel da escola na relação com as crianças e jovens
com NEE, devendo destacar-se o facto de ser importante que os seus currículos se
encontrem preparados para responder, de forma convincente, à problemática do aluno, de
acordo com as suas particularidades. O currículo deverá ser aberto e flexível, tendo por
base uma escola para todos e uma educação não segregada, não descartando a
responsabilidade de equacionar e disponibilizar respostas educativas às diversas
necessidades dos alunos.

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A inclusão e a participação são essenciais à
execução dos direitos humanos, a que todos os
indivíduos têm direito e para termos uma escola
para todos, em que se dá primazia à equidade de
oportunidades a todas as crianças quer tenham
NEE ou não, é necessária a adequação dos
currículos, uma boa gestão e organização dos
recursos da escola bem como cooperação com a
restante comunidade, a fim de se poder fazer uma
boa adequação aos diferentes ritmos de
aprendizagem dos alunos, podendo assim responder eficazmente às suas necessidades.

A “inclusão tem o sentido de total participação, porque se está no seu próprio lugar, se
é um ser-pessoa, e, portanto, a viver experiências em grupo com a diferenciação que lhe
é natural”.

Com a escola inclusiva, os alunos, todos os alunos, estão na escola para aprender,
participando”, devendo ser cultivado o sentido de pertença à escola, ao grupo, fazendo
com que a escola sinta responsabilidade face àquele aluno, pois faz parte da escola. Posto
isto, não basta a presença física para que haja inclusão. Perante isto, o professor tem um
papel fundamental na implementação inclusiva na medida em que toda a organização
realizada para a sala de aula, seja nas atividades, nas metodologias ou estratégias
utilizadas permitam que todas as crianças participem. Em contexto de sala, um dos
contextos pertencentes da escola, deve ser trabalhado então o sentido de cooperação e
solidariedade, pois aprendendo juntos e tendo o contributo de todos, percebendo que
todos têm qualidades bem como defeitos, as aprendizagens tornar-se-ão mais ricas pois,
“uma sala de aula que se pretende cooperante e comunitária aceita todos os pares e fá́ -los
participar em todas as atividades”. No entanto em relação aos professores de ensino
regular é importante que se invista na sua formação na área da Educação Inclusiva pois,
a mesma tem um impacto positivo na implementação de uma educação inclusiva de
qualidade e consequentemente atitudes positivas face à mesma.

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O “conhecimento, a compreensão e as competências derivam da participação”, portanto,
incluir as crianças com deficiência nas turmas regulares, constitui um meio para que estas
tenham ao seu alcance a possibilidade de adquirirem o mesmo conhecimento quer a nível
teórico como a nível social que os seus pares, sendo que a participação é essencial para a
aprendizagem.

Para que as crianças participem é necessário que desempenhem vários papéis dentro do
seu contexto, podendo assim experienciar variadas situações bem como interagir com
diferentes pessoas e estar envolvida num determinado contexto baseado nos seus pré-
requisitos pessoais.

O conceito de participação define-se como sendo o “envolvimento de um indivíduo


numa situação da vida real”, assim sendo para podermos caracterizar a participação de
uma criança na escola regular, podemos observar o seu envolvimento nas várias
atividades. O envolvimento é definido pelo tempo que a criança passa a interagir no
ambiente social e físico de uma maneira desenvolvida e contextualmente apropriada”.

Þ Deficiência
O conceito de “deficiência” tem uma perspetiva
eminentemente biológico. Refere-se às alterações ou
anomalias ao nível das estruturas e funções do corpo
(incluindo as mentais), tais como um desvio importante
ou perda.
Podemos considerar quatro grandes agrupamentos:
deficiências psíquicas, sensoriais, físicas e mistas.

Þ Incapacidade
O termo “incapacidade” corresponde a uma noção mais complexa e
abrangente; reporta-se à disfuncionalidade no conjunto dos seus diferentes níveis:
deficiências, limitações na atividade e restrições de participação e não apenas a
um dos seus aspetos.
Segundo a OMS, a incapacidade consiste na restrição ou falta de
capacidade para realizar uma atividade dentro dos limites considerados normais

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para um ser humano. As incapacidades podem ser temporárias ou permanentes,
reversíveis ou irreversíveis, progressivas ou regressivas e são sempre resultantes
de uma deficiência.

Þ Na prática uma pessoa com deficiência pode ter maior ou menor grau de
incapacidade, ser mais ou menos funcional no seu dia a dia consoante as condições
que encontra no meio físico e social. Por isso se torna tão importante melhorá-lo,
torná-lo para Todos. E Todos temos essa responsabilidade. Até porque a
incapacidade é encarada, à luz do novo paradigma, como algo que ocorre a todas
as pessoas, em alguma altura da vida.

A CIF (Classificação Internacional de


Funcionalidade Incapacidade), tem a
intenção de facilitar a continuidade na
identificação da funcionalidade, atividades e
participação e o papel que o ambiente
desempenha nas alterações do ser humano,
desde a infância até à idade adulta.

A CIF-CJ surge como uma derivação da primeira, adaptada para crianças e jovens.
Visa, igualmente, facilitar a comunicação entre profissionais, prestadores de serviços e
pais, englobando um total de 237 novos códigos que contemplam especificidades da
infância e adolescência, com especial relevo para questões do desenvolvimento e
crescimento, tais como: a criança no contexto da família; o atraso de desenvolvimento; a
participação e os contextos da criança.

§ A CIF tem importância no âmbito do ciclo da vida, e também pode ser usada na
educação “como um referencial para analisar a funcionalidade, monitorizar
progressos e planear as intervenções”.
§ A CIF “revela-se como um instrumento unificador que proporciona um trabalho
interdisciplinar, promovendo, práticas de cooperação entre serviços”, tornando-a,

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num “canal de acesso a apoios coordenados, relacionados com as necessidades
funcionais das crianças e jovens”.

A CIF encontra-se organizada em duas partes, cada uma delas com duas componentes.
A parte 1 diz respeito à funcionalidade e incapacidade e inclui: funções e estruturas do
corpo e atividades e participação. A parte 2 trata dos fatores contextuais, incluindo:
fatores ambientais e fatores pessoais (atualmente não classificados na CIF, dado que são
descritivos e respeitam a individualidade de cada um).

No intuito de homogeneizar conceitos, importa explicar os que a CIF padroniza, que se


prendem com as quatro componentes que a integram: funções do corpo; atividades e
participação; fatores ambientais e fatores pessoais.

A aplicação da CIF no processo de avaliação das NEE preconiza uma linguagem


unificada bem como uma estrutura de trabalho comum, interativa e multidimensional, no
âmbito de um trabalho de equipa transdisciplinar.

A CIF caracteriza-se como modelo operativo de caracterização da funcionalidade do


indivíduo, em conformidade com o modelo social. O mais importante não é a avaliação
das alterações ao nível das estruturas ou funções do indivíduo, “mas sim, as limitações da
atividade e as restrições da participação que o sujeito experiência no decorrer da interação
entre as suas caraterísticas biopsicológicas e as caraterísticas dos ambientes sociais em
que se move”.

Para os diversos Profissionais e Técnicos que trabalham com crianças e jovens com vista
à sua inclusão familiar, escolar, social e/ou profissional, cabe a tarefa de “esclarecer a
sociedade, sensibilizá-la nas vertentes humanista, ética e utilitarista” (p. 236), colocando
à disposição das crianças e jovens com NEE e respetivas famílias todos os meios e
recursos com vista às suas necessidades acrescidas.

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Papel das famílias de NEE na inclusão educativa: Famílias de crianças com NEE

Devido às múltiplas evoluções que


tem sofrido ao longo dos tempos, a noção
de família não deve ser considerada como
una e universal e assume na atualidade um
sentido polissémico. Enquanto unidade de
conduta social significativa, a família tem
vindo a sofrer alterações que acabaram por
afetar de forma considerável o seu
desenvolvimento tanto na sua estrutura
como nas suas funções e interações.
Exemplo disso é o peso cada vez maior nas nossas sociedades das famílias monoparentais,
das famílias reconstruídas e das famílias de homossexuais ou lésbicas, da democratização

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das relações dentro casal, da entrada da mulher no mercado de trabalho, da crescente
partilha das tarefas domésticas.
Apesar das mudanças na instituição familiar “a família aparece-nos, antes de
mais nada, como o meio por excelência, onde, não obstante as insuficiências relativas
ao mundo físico e social que a cerca, a criança pode viver e iniciar-se para a vida”.
A família é, então, a principal instituição que acaba por oferecer e por preencher
esta função, servindo de base para a vida social da criança.
É neste seguimento que abordamos a situação das famílias de crianças com NEE.
O nascimento de uma criança no seio de uma família provoca sempre alterações
significativas. Porém, quando se trata de uma criança com algum tipo de deficiência, essas
alterações são muito mais estruturais e globalizantes, podendo ter um impacto profundo
na estrutura familiar. Algumas famílias adaptam-se facilmente a esta situação, encarando
a realidade apesar de todas as limitações e dificuldades da criança, porém em outros casos
tal não acontece. Em alguns casos o processo é longo e difícil, noutros é fácil.
As reações das famílias envolvem vários tipos de sentimentos desde negação,
zanga, medo do futuro incerto, culpabilização, confusão, impotência ou rejeição. A
notícia da chegada de uma criança com limitações acaba por, de certa forma, levar à
confrontação de determinados sonhos ou aspirações que se projetavam para aquele filho.
Todavia, de forma progressiva, a família terá́ que se adaptar a cada nova exigência que
surja, procurando desempenhar sempre o seu papel de forma válida e convincente, indo
ao encontro das características e das limitações da criança.
Igualmente importante é o papel da sociedade no apoio que é prestado à família
de uma criança com NEE. Infelizmente, a sociedade continua a excluir os deficientes e
suas famílias com base em atitudes e crenças preconceituosas. Todo este processo pode,
em algumas situações, levar as famílias ao isolamento social e à desvalorização da criança
com NEE perante o olhar da sociedade.
Esta situação acaba por se refletir, por exemplo, na colocação da criança numa
escola de ensino regular onde, diariamente, as famílias são obrigadas a lidar com as
diferenças entre a sua criança com NEE e as restantes ditas “normais” e com o preconceito
por parte de diferentes agentes de socialização perante esta situação. É importante que as
instituições educativas e todos os seus agentes trabalhem para ultrapassar essas situações,
combater os medos e receios e, acima de tudo, contribuir para o bem-estar e segurança da
criança.

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Sabendo, então, que a família é o espaço, por excelência, onde cada indivíduo
aprende a socializar e a interagir construindo-se enquanto ser social, percebemos que “o
processo educativo da criança, cuja raíz está na vivência familiar, se vai sucessivamente
ligando a outros agentes educativos”.
É no seguimento desta ideia que surge o ponto seguinte, na medida em que as
instituições frequentadas por crianças com NEE devem servir de apoio e suporte para as
respetivas famílias, de acordo com o importante papel que desempenham na inclusão da
criança.

A relação família/jardim de infância na educação de crianças com NEE

O desenvolvimento da criança, tal como já́ foi referido anteriormente, é


fortemente condicionado pelos dois
principais contextos onde esta cresce e se
desenvolve: a família e a escola, neste caso,
o jardim de infância, proporcionando-lhe a
conquista da sua própria identidade. Desta
forma, destaca-se a importância da relação
entre a família e o jardim de infância na
educação de crianças com NEE, pois só
assim existirão as escolas inclusivas e,
consequentemente, uma educação inclusiva para as crianças.

O jardim de infância deverá ser, portanto, uma continuidade da educação familiar,


onde a criança se educa, socializa e adquire conhecimentos que a poderão ajudar a viver
em sociedade. A escola deve incluir a família nas decisões mais importantes referentes à
criança, quer esta possua um desenvolvimento dito “normal” quer seja portadora de NEE.
A relação existente entre a família de crianças com NEE e a escola pode promover
e mesmo garantir a satisfação das necessidades da criança. Obviamente que a relação
estabelecida entre estes dois intervenientes é importante para qualquer criança, mas no
caso das NEE adquire um significado ainda mais relevante para que esta, especificamente,
possa desenvolver ao máximo as suas capacidades de forma harmoniosa e coerente.
No que concerne ao papel das famílias de crianças com NEE face à escola,
destaca-se o facto de este se ter vindo a alterar ao longo dos tempos. As famílias deixaram

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de ser “recipientes passivos” passando a ser “participantes ativos numa terapia. Os pais
têm direito a ser informados sobre tudo o que diz respeito ao seu filho, tal como a pessoa
com deficiência tem”.
É neste sentido que se ressalta a importância de uma comunicação aberta com
base no diálogo como ponto-chave para a relação entre a escola e a Família de crianças
com NEE. O diálogo acaba por ser uma das principais e mais enriquecedoras estratégias
utilizadas por ambas as partes para melhor se articularem. Para tal, é necessário que
ambos os contextos se conheçam e tenham noção das responsabilidades de cada um.
Assim sendo, “o envolvimento e a participação dos pais devem ser preparados
cuidadosamente e guiados por sólidos princípios democráticos, baseados em
preocupações de igualdade e cuidadosamente seguidos para se evitarem efeitos
perversos”.
A relação estabelecida entre os dois contextos deve ter sempre por base os
interesses, necessidades e características da criança para que as atitudes e ações vão ao
seu encontro e a estimulem a desenvolver determinadas competências. Face a esta
questão, é função dos profissionais ser um recurso e suporte para a família, devendo criar
condições para que esta possa exercer e desenvolver competências, para responder às
necessidades sentidas no lidar com uma criança em risco ou com NEE. Considera-se,
portanto, que a escola e a família se devem apoiar mutuamente ao longo de todo o
processo de inclusão da criança como pedras basilares para uma inclusão eficaz.
A relação entre a família de crianças com NEE e as instituições educativas
ser a mais próxima e pessoal possível, estabelecendo laços de confiança de parte a
parte com o objetivo de ajudar a criança e os restantes intervenientes.
Os profissionais de educação devem estar informados e atentos às necessidades e
preocupações das famílias das crianças com NEE, estabelecer relações de confiança, de
colaboração, de comunicação e de apoio para, assim, ajudá-las a atingir os seus objetivos
e contribuir para a inclusão da criança na instituição educativa e na sociedade no geral.

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