Lotes Iptu
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Acórdão Nº 1187756
EMENTA
1 – A penhora sobre direitos dos quais o devedor é titular encontra guarida no artigo 835, inciso XIII,
do Código de Processo Civil e esta Corte de Justiça vem se manifestando reiteradamente quanto à
possibilidade de constrição de direitos sobre bens imóveis em condomínios irregulares por possuírem
relevante expressão econômica.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
“DECISÃO
Pretende a parte exequente decisão com força de alvará para diligenciar junto à Secretaria de
Fazenda do Distrito Federal, bem como no GDF para que informem a existência de eventuais bens
imóveis, não regularizados, em nome da parte devedora.
Correta é a premissa da parte exequente em requerer o auxílio deste juízo na obtenção dos dados
indicados, uma vez que a Administração Pública impôs a necessidade de atendimento de condições o
pleito.
Não obstante, o que pretende a parte em nada promoverá a solução da presente lide, porquanto os
bens imóveis não regularizados, tal como já é de ciência da parte, não possuem registro perante o
cartório de imóveis.
Tais bens, apesar de terem valor econômico, não são de propriedade de seus possuidores e,
geralmente, são ‘transferidos’ por procurações, substabelecimentos e cessões de direitos.
Desta forma, o ato de penhora não terá a publicidade necessária, podendo ser atingido bem que já
esteja na posse de outrem e/ou a transferência desta posse pelo devedor no curso da penhora,
tornando o ato de expropriação demasiadamente complexo em razão do envolvimento de terceiros
estranhos a lide.
Destaque-se, ainda, que o que se pretende alienar é a posse e/ou detenção de uma área, resultado em
insegurança jurídica e dificuldade na sua alienação em razão da baixa procura por tais áreas.
Assim, intime-se a parte exequente, no prazo de 5 dias, para indicar outros bens da parte devedora
passíveis de constrição, sob pena de arquivamento do feito.
Acrescenta que o pedido indeferido por meio da decisão agravada objetiva a prolação de “decisão com
força de alvará permitindo que exequente por meio do PRÓPRIO advogado faça diligências na
SEFAZ-DF e GDF para obter informações e saber se a devedora agravada LUZIA MARIA MOTA,
inscrita no CPF n° 386.655.571-72 é contribuinte de IPTU e possui bem imóvel não registrado em
cartórios para que possa ser identificado o bem e após procedida a penhora de direitos possessórios
nos termos do artigo 835, XIII, CPC” (Doc. Num. 8013229 - Pág. 4 – destacado conforme o original).
Sustenta que não postulou a realização de diligência inútil ou protelatória, mas sim medida adequada à
busca da satisfação do crédito e que somente pode ser efetivada com a atuação do Poder Judiciário.
Afirma que estão presentes os requisitos para o deferimento do efeito suspensivo, uma vez que, “
segundo o artigo 921, III e §1º do CPC suspende-se a execução quando por 01 (um) ano quando o
executado não possuir bens penhoráveis, de modo que a execução ficará suspensa (arquivada
provisoriamente) e SOMENTE SERÁ DESARQUIVADA se forem encontrados bens penhoráveis e
após esse prazo a execução será arquivada e começara a correr a prescrição intercorrente” (Doc.
Num. 8013229 - Pág. 11).
Requer a concessão de efeito suspensivo e, no mérito, postula o provimento do recurso para que seja
deferido “alvará permitindo que agravante por meio do PRÓPRIO advogado faça diligências na
SEFAZ-DF e GDF para obter informações e saber se a devedora LUZIA MARIA MOTA, inscrita
no CPF n° 386.655.571-72 é contribuinte de IPTU e possui bem imóvel não registrado em cartórios
para que possa ser identificado o bem e após procedida a penhora dos direitos possessórios nos
termos do artigo 835, XIII, CPC” (Doc. Num. 8013229 - Pág. 14 – destacado conforme o original).
Por meio da decisão de ID Num. 8122677, foi indeferido o efeito suspensivo vindicado.
É o relatório .
VOTOS
O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - Relator
Como relatado, trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto contra
decisão proferida pelo Juiz de Direito da Primeira Vara Cível de Ceilândia que, nos autos da Ação de
Conhecimento, em fase de Cumprimento de Sentença, Feito nº 0708386-07.2017.8.07.0003, indeferiu
o pedido da Credora, ora Agravante, de expedição de alvará que permitisse a realização de diligências
junto ao Distrito Federal no intuito de verificar se a Devedora, ora Agravada, é contribuinte de IPTU
relativo a imóvel irregular, cujos direitos aquisitivos são penhoráveis segundo a jurisprudência.
A Agravante alega, em síntese, que diversamente da conclusão obtida na decisão agravada “é possível
a penhora sobre os direitos possessórios de imóveis situados em condomínios irregulares, por
possuírem tais bens expressão econômica, sendo, assim, aptos à garantia dos créditos em execução”
(Doc. Num. 8013229 - Pág. 6).
O exame atento dos elementos constantes dos autos em cotejo com a legislação e a jurisprudência que
disciplinam a matéria revela que a pretensão recursal encontra amparo em parte.
A penhora sobre direitos dos quais o devedor é titular encontra guarida no artigo 835, inciso XIII, do
Código de Processo Civil.
Colaciono, a seguir, julgados que expressam tal compreensão acerca da matéria, in verbis:
A constrição pleiteada se dá sobre direitos pessoais do devedor, a posse sobre eventual imóvel
localizado em condomínio irregular, e não sobre o bem propriamente dito.
Tais direitos são sujeitos à alienação e conforme se verifica dos negócios realizados de modo
recorrente nesta capital, não é razoável impossibilitar a satisfação do crédito do Exequente com base
na afirmação de que eventual penhora poderia atingir bem que já esteja na posse de outrem e/ou que é
possível o advento de transferência desta posse pelo devedor no curso do processo.
Porém, é de se observar que o pedido de autorização judicial por escrito para realização de diligências
pessoalmente pelo procurador da parte não encontra amparo no ordenamento jurídico vigente, o que
se vislumbra é possibilidade de expedição de ofício à Secretaria de Fazenda do Distrito Federal
solicitando as informações pleiteadas pela parte acerca de ser a Ré/Agravada LUZIA MARIA MOTA,
inscrita no CPF n° 386.655.571-72, contribuinte de Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial
Urbana no Distrito Federal a fim de serem identificados eventuais bens e possibilitada futura penhora
de direitos possessórios ou de aquisição.
Com essas considerações, dou parcial provimento ao Agravo de Instrumento para, reformando a
decisão agravada, determinar que o Juízo de origem providencie a expedição de ofício à Secretaria de
Fazenda do Distrito Federal solicitando informações acerca de ser a Ré/Agravada LUZIA MARIA
MOTA, inscrita no CPF n° 386.655.571-72, contribuinte de Imposto Sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana no Distrito Federal.
É como voto .
DECISÃO