Ditadura Brasileira e Chilena
Ditadura Brasileira e Chilena
Ditadura Brasileira e Chilena
BEATRIZ RIBEIRO
BEATRIZ TATEISHI
CAROLINA BORGES
ERICK LEON
EVELYN SERQUEIRA
MARIA LUIZA RODRIGUES
RODRIGO MESQUITA
Guarulhos, SP
2022
BEATRIZ RIBEIRO
BEATRIZ TATEISHI
CAROLINA BORGES
ERICK LEON
EVELYN SERQUEIRA
MARIA LUIZA RODRIGUES
RODRIGO MESQUITA
Guarulhos, SP
2022
A farda modela o corpo e atrofia a mente. (GUEVARA, Che)
RESUMO
The present work is a research and a study on the dictatorships that occurred in two
Latin American countries in the 20th century, Brazil and Chile. The main objectives are to
rescue information, reassemble historical contexts and, most importantly, make all this data
public, in a didactic and helpful way, in a way in which the truth that is put in the words
makes sense and, above all, generates empathy. Empathy for all victims, whether Brazilian,
Chilean or from other countries, empathy for children taken from their families in a dictatorial
period, for political prisoners, for exiles and for those who, even today, suffer the
consequences of this so violent and inhumane.
Keywords: dictatorship; Latin America; search.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
2. DITADURA BRASILEIRA ............................................................................................... 17
2.1. ANTECEDENTES AO GOLPE MILITAR DE 64 .......................................................... 17
2.1.1. João Goulart .................................................................................................................. 17
2.1.2. Guerra Fria .................................................................................................................... 17
2.1.3 Golpe Civil e Militar ...................................................................................................... 18
2.2. ANOS DE TERROR .......................................................................................................... 18
2.2.1. Castello Branco (1964-1967) ........................................................................................ 18
2.2.2. Costa e Silva (1967-1969).............................................................................................. 19
2.2.3. Médici (1969-1974) ........................................................................................................ 19
2.2.4. Geisel (1974-1979) ......................................................................................................... 20
2.2.5. Figueiredo (1979-1985) ................................................................................................. 21
2.3. O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO ................................................................. 21
2.3.1. Reorganização Partidária ............................................................................................ 21
2.3.2. Greves ............................................................................................................................. 22
2.3.3. Eleições ........................................................................................................................... 24
2.3.4. Diretas já! ....................................................................................................................... 24
3. DITADURA CHILENA ..................................................................................................... 25
3.1. TOMADA DE PODER ...................................................................................................... 25
Introdução ao governo de Salvador Allende ........................................................................ 25
Características do governo que antecedeu o golpe .............................................................. 25
Influência dos EUA ................................................................................................................. 26
Retirada de Salvador do governo .......................................................................................... 26
3.2. O GOVERNO DE PINOCHET ......................................................................................... 26
3.2.1. O Golpe .......................................................................................................................... 26
3.2.2. Chicago Boys ................................................................................................................. 27
3.2.3. Documentos CIEX ........................................................................................................ 27
3.2.4. Perseguições e mortes ................................................................................................... 28
3.3 RETORNO AO REGIME DEMOCRÁTICO .................................................................... 29
3.3.1. O processo ...................................................................................................................... 29
3.3.2. Consequências ............................................................................................................... 31
3.3.3. O rompimento ............................................................................................................... 33
4. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 34
16
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Maurice Duverger, cientista político e sociólogo francês, a ditadura
pode ser definida como um regime político autoritário, mantido pela violência, de caráter
excepcional e ilegítimo, ela pode ser conduzida por uma pessoa ou um grupo que impõe seu
projeto de governo à sociedade com o auxílio da força. Normalmente, ditadores chegam ao
poder por meio de um golpe de Estado. Já o filósofo político Norberto Bobbio afirma que a
ditadura moderna é um regime caracterizado pela concentração absoluta do poder e pela
subversão da ordem política anterior.
As ditaduras tendem a ser muito centralizadas, o poder está extremamente
concentrado nas mãos dos indivíduos ou grupos que governam o país, com pouca ou nenhuma
oportunidade de debate político. Os espaços de comunicação e deliberação são, muitas vezes,
fortemente regulamentados ou suprimidos. Isso inclui a imprensa, o legislativo e o judiciário,
que não são mais independentes, como costuma ser no caso da divisão dos três poderes, e os
partidos políticos, que geralmente são proibidos de existir. Dessa forma, ao suprimir as vozes
opositoras, as ditaduras impõem o consenso e implementam suas políticas com pouca ou
nenhuma consulta à sociedade. É por isso que o autoritarismo e a violência são duas marcas
de qualquer ditadura.
Um golpe de Estado ocorre quando um governo estabelecido por meios democráticos
e constitucionais é derrubado ilegalmente – portanto, derrubado de uma forma que não
respeita os processos democráticos, como eleições diretas, e as leis do país. Embora os golpes
militares sejam mais comuns na história do Brasil e de outros países latino-americanos – ou
seja, a ameaça da força para desmantelar o poder estabelecido. Outras formas de golpe
também são possíveis, como pelo uso indevido da Justiça para incriminar pessoas no poder –
ou seja, a Justiça agindo ela mesma de maneira ilegal. É uma forma mais sutil de golpe, mas
produz o mesmo resultado: a derrubada de um governo eleito de uma forma que vai além das
regras de um estado democrático de direito.
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2. DITADURA BRASILEIRA
objetivo concentrar ainda mais o poder militar diante da população brasileira. O AI-1, declara
o fim das eleições diretas, ou seja, o Congresso Nacional que iria eleger um novo presidente.
No mesmo governo entrou em vigor o AI-2, em 1965, deliberando o fechamento de todos os
partidos políticos que existiam, adotando o bipartidarismo, apenas dois partidos poderiam ser
elegidos: Aliança Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro
– MDB –. As eleições estaduais também foram suspensas, porém em 1967, com o AI-4,
Castello convoca uma elaboração de uma Nova Constituição, substituindo a de 1946. Isso
permitiu que a ditadura fosse legitimada, ganhado mais força e posse sobre o poder judiciário
brasileiro.
Mas a partir de 1974 houve uma mudança surpreendente e importante nas urnas,
elegendo 16 senadores das 22 vagas disponíveis, que antes eram preenchidas por militares e
candidatos da ARENA, o que frustrou o plano dos militares de um plano de regime mais
autoritário.
O MDB conseguiu alianças com outros opositores do governo, como intelectuais,
apoiadores de movimentos sociais e culturais e sindicatos. Mas houve uma piora na repressão
para os integrantes da oposição. Ao apoiar o Movimento Democrático Brasileiro, o PCB
(Partido Comunista Brasileiro), na época um partido clandestino por ser de oposição ao
governo militar, recebeu uma dura repressão do governo, onde vários dirigentes do partido
foram presos, ou entraram para a lista de desaparecidos onde muitos, provavelmente, foram
mortos sob tortura.
Apesar de todas as dificuldades e opressão sofrida pelo governo, a oposição legal
avançava no Congresso, Câmara, Senado e sobretudo, nas grandes cidades. Após perceber o
movimento catalisador, o governo promoveu a reforma dos partidos em 1979.
A lei sancionada pelo Congresso em novembro de 79 era uma tática dos militares em
dividir a oposição em várias “facções” para manter o partido oficial unido, que naquele ano
mudou de nome e a ARENA passava a se chamar Partido Democrático Social (PDS).
A lei de reforma partidária, portanto, só dificultava a vida da oposição que naquele
momento se reorganizará, proibindo alianças, votos vinculados e exigindo diretórios em
vários estados do Brasil além dos partidos terem que lançar candidatos em todos os níveis.
Assim como vontade do governo, os oposicionistas se dividiram, mas apenas isso pode ser
considerado uma vitória dos militares, já que o PMDB, antigo MDB, manteve em grande
parte seus parlamentares e conquistando muitos apoiadores nas eleições gerais de 1982.
O quadro atualizado ao final da ditadura serviu de base para o novo regime de
partidos democráticos, e uma das novidades foi a criação do partido PSDB (Partido da Social
Democracia Brasileira), a partir de um conflito do PMDB, e a criação de outros pequenos
partidos ligados a esquerda ou aos evangélicos.
2.3.2. Greves
A classe operária foi de suma importância para a mudança de cenário político no
Brasil, já que foram responsáveis por grande parte das greves e agiam de forma contundente
contra a represália da ditadura.
A primeira greve ocorreu em maio de 1978, onde operários da empresa sueca Saab-
Scania entraram na empresa, mas não trabalharam, cruzaram seus braços ao lado dos
maquinários e fizeram suas reivindicações: 20% de aumento salarial. Durante o quarto dia de
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2.3.3. Eleições
Durante o golpe, a votação funcionava por meio da junta militar criada pelo General-
Presidente, que elegia os Senadores, Deputados e Governadores do Brasil. Mas após a
promulgação da Constituição de 1967, a escolha de Presidente e poderes do Legislativo
passou a acontecer de forma indireta, por meio de voto do Colégio Eleitoral.
A primeira eleição direta pós ditadura aconteceu em 1989 e Fernando Collor assume
o poder e se torna presidente da República.
Collor conquistou os eleitores com promessas grandes e a retórica de “jovem contra a
velha política”, gerando uma grande expectativa para o futuro do Brasil, mas seu governo foi
um fracasso por estar envolvido em diversos escândalos de corrupção e acabou isolado
politicamente e acabou sofrendo Impeachment e logo renunciou ao posto, e o Senado
determinou sua inabilitação política por oito anos, e quem acaba assumindo o poder é seu
vice, Itamar Franco.
3. DITADURA CHILENA
dignos e justos. Eles apoiaram a decisão de Allende em deixar as empresas em seu domínio,
sendo uma quantidade maior do que o esperado, a tutoria do governo para essas empresas.
Como em tudo, nem todos gostaram disso, principalmente os empresários que
acabaram perdendo seu domínio em suas empresas, como também, os militares que
precisavam "aprovar" inúmeros pedidos feitos em pouco tempo, não podendo ter uma reação
diferente de aprovação. Deixando eles furiosos, com a demanda que estava tendo. Os
trabalhadores estavam em pouco tempo, colocando as empresas como tutores do governo.
3.2.1. O Golpe
Após o golpe de estado e o suicídio de Allende, havia ficado decidido que o Chile
seria governado por um governo rotativo de quatro pessoas, dentre elas, o comandante chefe
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reuniões partidárias de políticos com essas ideologias. Com tudo isso, o Brasil sabia quem era
e quem poderia ser seus possíveis inimigos no futuro, e facilitaria uma intervenção contra
eles, pois tendo toda essa bagagem de informações, o Brasil não seria peho desprevenido caso
tentassem alguma ofensiva sobre o país.
Porém nem sempre esse tipo de informações, como o de asilados, era abordada no
documento, por volta de 1970 já se comentava sobre o governo de Allende, sobre o risco que
trazia o seu posicionamento político, o fato de quererem induzir a ocorrência de um golpe de
estado no Chile também já era comentado nos documentos do CIEx, o ano de 1973 foi o ano
que teve a maior quantidade documentos, e era sobre o que ocorria no Chile, a apreensão
sobre o resultado das eleições e a permanência de Allende no poder.
E somente agora todos esses documentos estão sendo trazidos à tona e sendo
estudados para entender tudo o que aconteceu durante essa época sombria.
Diversas mulheres por seres casadas com opositores, em que os mesmos foram
assassinados, foram capturadas por essas agências que defendiam Pinochet, e elas eram
mantidas em cárcere onde eram brutalmente torturadas e estupradas, muitas das que foram
apreendidas grávidas, quando tinham seus filhos, eram assassinadas e seus filhos entregues à
família do assassino de seus pais ou entregues para a adoção, muitas delas ficaram com
diversas sequelas, como, insônia, depressão, cefaleia, compulsão alimentar, paranoias, etc.
Um caso que ficou conhecido e foi resolvido a pouco tempo foi o do chileno Pablo
German Athanasiu Laschan, que com seis meses em 1976, desapareceu junto de seus pais
também, Pablo foi registrado como filho de um casal ligado ao regime, e trinta e sete anos
depois (2013) após fazer um teste imunogênico comprovaram quem eram seus pais
biológicos, mas eles nunca foram encontrados.
O local que foi símbolo da tortura na ditadura chilena foi o estádio nacional de
Santiago, onde as pessoas eram mantidas sob cárcere e torturadas.
3.3.1. O processo
Historicamente, o regime ditatorial teve seu fim após a eleição direta e democrática
de Patricio Aylwin, em 1990.
Em 2014, Barack Obama, presidente dos EUA na época, disse que desde o final da
ditadura, o Chile se mostrou um dos países mais estáveis da América Latina, se tornando um
exemplo para o mundo. Desde a era Pinochet, sua Constituição é estudada sob uma
perspectiva de “democracia protegida”, que visava a despolitização da população - que, na
geração anterior, era muito politizada por viverem em constante ameaça e opressão - e a
aparente abertura para a comunidade internacional, essa democracia “alternativa” não pode
ser considerada de fato democracia pois o Estado não se preocupa em garantir as liberdades
individuais da nação e, ao invés disso, induz a população a ter medo da oposição que,
supostamente, sabotaria a ordem política e acabaria com os valores e as tradições do país. O
regime também transformava as forças armadas em um quarto poder e em um guardião do
Chile, mesmo no período pós-ditadura. Em toda a sucessão de fatos, a oposição da ditadura
nunca teve poder o suficiente para alterar qualquer coisa, na verdade, os militares tomaram a
frente da reforma constitucional, com o apoio da direita que queria a continuação de um
governo socioeconômico como o de Pinochet. Um artigo da Constituição de 1980 esclarece
bem o termo “democracia protegida”:
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“Todo acto de persona o grupo destinado a propagar doctrinas que atenten contra la
familia, propugnen la violencia o una concepción de la sociedad, del Estado o del
orden jurídico, de carácter totalitario o fundada en la lucha de clases, es ilícito y
contrario al ordenamento institucional de la República. Las organizaciones y los
movimientos o partidos políticos que por sus fines o por la actividad de sus
adherentes tiendan a esos objetivos, son
Inconstitucionales” (Constituição chilena de 1980)
Observa-se que o texto menciona que qualquer ato contrário ao governo, seja de uma
pessoa ou de uma organização, pode ser enquadrado como crime, nesse ponto é visível a
limitação da liberdade de expressão, uma tentativa de silenciar qualquer “ameaça comunista”,
uma inimiga muito presente em todas as ditaduras latino-americanas do século XX,
principalmente no contexto de Guerra Fria. Esse tipo de lei, como no parágrafo da
Constituição, dificultou a movimentação e que a oposição se organizasse em massa e de uma
maneira legal, inviabilizando ainda mais o fim do regime.
No que diz respeito a Augusto Pinochet, após ser deposto do seu cargo em 1990, por
um plesbicito feito com a participação da população chilena em 1988, se tornou senador
vitalício e continuou como comandante do exército até o ano de 1998, quando foi preso. Foi
acusado de inúmeros crimes, entre eles: desvio de dinheiro público, contas bancárias ilegais
no exterior e, o principal, violação dos direitos humanos e crimes cometidos contra a
humanidade, não obstante, foi solto em 2001, quando médicos psiquiatras alegaram
debilidade mental que exigia tratamento, o que não poderia ser feito na cadeia. Já em 2006,
sua esposa, Lúcia Hiriart foi presa, sob as mesmas acusações de fraudes e corrupção, no
mesmo ano, morre Augusto Pinochet, por complicações após uma parada cardíaca. O ex-
ditador morreu no dia 10 de dezembro, na mesma data em que se comemora o Dia
Internacional dos Direitos Humanos e dos Estados Democráticos. Apesar das dezenas de
condenações e da curta passagem de Augusto pela prisão, muitos cidadãos se sentem
injustiçados porque não acreditam que Pinochet tenha realmente pago por todos os seus
crimes.
Quanto aos outros militares, apoiadores da ditadura, houve uma grande negociação
para que, num primeiro momento, eles não fossem nem julgados e nem condenados por suas
ilegalidades, mas o governo federal, comandado por Patricio Aylwin, começou a fazer
investigações para descobrir dados anteriormente arquivados sobre mortes, torturas,
desaparecimentos e perseguições políticas. Uma das investigações concluiu que quase 40 mil
pessoas foram vítimas de prisões injustas e 90% dessas pessoas foram torturadas, com o
objetivo de darem informações ou confessarem possíveis crimes contra o regime. Mesmo com
31
3.3.2. Consequências
Em 1973, uma série de reformas atribuiu ao setor privado fatores que antes eram
considerados direitos sociais garantidos pelo Estado, essas reformas foram chamadas de “as 7
modernizações” que ocorreram nas áreas da saúde, da educação, da previdência social, do
saneamento básico, entre outras. Todavia, mais alterações foram ocorrendo ao longo dos anos
do regime ditatorial, tais alterações permanecem dificultando a vida do trabalhador chileno até
os dias de hoje.
O plano integral de transformação econômica e social que o Chile sofreu, deixou
marcas na sociedade chilena do século XXI, exemplos disso são:
1) A terceirização, a lei da subcontratação feita para aumentar a competitividade
dentro do mercado de trabalho, porém, a mesma acarreta altos níveis de empregos
desprotegidos, sem seguridade social ou estabilidade, além de dificultar o exercício total dos
direitos coletivos;
2) Imposto global complementar, onde os impostos pagos por grandes empresas são
baseados nos lucros e não em sua existência, apesar disso, esse sistema cria uma brecha para
que grandes empresários não paguem os impostos devidos, gerando um sistema tributário a
favor dos mais ricos, onde os que ganham mais pagam menos impostos, em termos
proporcionais;
3) Previdência privada, que antes da ditadura era tida como um benefício social e de
distribuição de renda, isso significa que um sistema no qual havia benefício definido e estável
foi alterado para um sistema em que o benefício é incerto e exige uma contribuição
determinada, além de pagar pensões e salários muito baixos e favorecerem apenas as 20
maiores empresas do Chile, gerando capital de giro por intermédio da especulação e uso dos
fundos dos trabalhadores, essa política é apoiada fortemente pelo Estado, entretanto, não
recebe muito apoio da população, já que os investimentos da previdência exigem 10% do
salário, sem ajuda nenhuma do Estado e com a adição de taxas de administração, os que mais
sofrem com esse tipo de política são os aposentados, que vivem em condições muito precárias
e tiveram sua expectativa reduzida pelo mesmo motivo;
4) Sistema de saúde, no ano de 1981 foi declarado o fim do sistema de saúde pública
e o início de uma instituição mista, no qual os subsistemas público e privado disputam entre
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si, enquanto isso, os gastos públicos com a saúde são uns dos menores, contudo, o gastos dos
usuários de serviços prestados nessa área são os mais altos, segundo o relatório da OCDE de
2019, as famílias chilenas gastam mais de 35% de sua renda com a saúde, isso mostra que
essa instituição se tornou um espaço de capitalização, para fazer dinheiro, é visto que o setor
privado cuida de um paciente até ele não ser rentável, quando passa do ponto onde o paciente
não pode mais pagar, ele é direcionado para uma unidade pública;
5) Privatização da educação, em 1981 houve o desmembramento da educação
escolar, escolas públicas começaram a receber subsídios dos próprios alunos, atualmente o
Chile mantém o sistema educacional mais segregado do mundo, nas universidades, estudantes
concluem cursos completamente endividados pelos altos valores cobrados, ademais, desde
1973, professores são perseguidos e os cargos que antes eram ocupados por eles, foram
ocupados por militares, atualmente é a instituição mais desigual do país;
6) Sistema bancário, que desde 1975 está nas mãos de bancários, ao invés do Estado,
permitiu a entrada de bancos estrangeiros com taxas de juros liberalizadas, também há uma
dívida, oriunda de uma crise internacional, que é empurrada para o Banco Central sem que
ninguém a pague, há também leis “de risco” que alegam que as famílias com renda baixa são
de risco, por essa razão, devem pagar juros mais altos, outro fator agravante ocorreu em 2001,
um artigo que prevê a redução do capital necessário para abrir uma empresa bancária, gerando
“bancos de varejo” que podem não ser regulamentados ou fiscalizados, a privatização dos
bancos afetou, de uma forma direta, a economia e a população, criando, cada vez mais,
classes sociais mais baixas e mais pobres e, por outro lado, deixando uma minoria mais forte
política e economicamente;
7) Constituição política, aprovada em 1980 através de uma fraude num plesbicito,
uma comissão constituinte foi formada dias depois do golpe por militares e outros membros
da extrema-direita, essa comissão elaborou a constituição chilena, que coloca o Estado no
papel de subsidiário da economia e garante o direito à propriedade privada, em contrapartida,
direitos sociais, culturais e econômicos foram desprezados, o exército se tornou o “guardião
da democracia” , apesar de algumas modificações e novos projetos, essa ainda é a constituição
em vigor no país latino-americano;
8) Estímulo empresarial florestal, nos primeiros anos da ditadura, os grandes
empresários estavam interessados no fortalecimento do setor florestal, que ocorreria por meio
da arborização, plantariam espécies exóticas por grandes extensões de terra, com o passar do
tempo foi de grande ajuda para empresas que trabalhavam com a extração de celulose ou
venda de madeira, já que as mesmas detinham mais de 60% das plantações de florestas, não
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obstante, 40 anos depois, essa ação política teve fortes implicações na área ambiental,
organizações de povos indígenas afirmam que não foram consultados e ainda não há dados
concretos sobre o que realmente aconteceu nas florestas, deixando claro o descaso com certas
pautas sociais e ambientais;
9) Desnacionalização do cobre, o Chile é riquíssimo em cobre e na era ditatorial, ao
invés de aproveitarem o dinheiro oriundo das minas e da exploração, o governo decidiu
privatizá-las, esse feito ficou conhecido como “desnacionalização do cobre” pois tira o poder
do Estado de gerenciar e expandir o comércio do metal para entregá-lo a mãos privadas,
donas de 70% da mineração atual, ainda que a constituição reitera que “o Estado tem domínio
absoluto, exclusivo, inalienável e imprescritível de todas as minas”;
10) Privatização da água, em 1981 foi promulgado o “código da água”, em suma, o
mercado de água sem intervenção alguma do Estado, ocorreu a privatização total da água e
permitindo que todos os processos, desde a extração até o tratamento e a distribuição, sejam
feitos por empresas, em consequência disso há a superexploração de rios e lagos, feita sem
nenhuma consciência ecológica, uma falsa “crise hídrica” causada somente pela falta de
acesso que as populações de baixa renda têm de água tratada ou saneamento básico, essa é
considerada a privatização mais cruel de todas, pois atribui valor e lucro em cima de um
recurso natural e abundante, essencial para a vida em qualquer país do mundo - a água.
3.3.3. O rompimento
A única ação que declarou o rompimento da relação entre governo e militares foi a
criação de um lieux de memoire, que significa “lugar de memórias”, um monumento que não
tem como objetivo somente prestar homenagem às vítimas da barbárie do totalitarismo, mas
também atua como memória coletiva, para que todo o povo se lembre dos anos de terror, para
que eles não se repitam jamais. Para sempre, o Chile ficará marcado pela violência,
autoritarismo e ganância, mesmo assim, nos dias de hoje, pessoas de todas as classes lutam,
com manifestações, projetos de leis e movimentações políticas, para transformarem seu país
em um lugar digno de se viver. Enfrentam e contestam autoridades hoje, para que no futuro,
possam se orgulha dos direitos conquistados e de uma história nova, sem perseguições,
desigualdades ou mortes, apenas justiça.
“Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante
todos.” Salvador Allende
34
4. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LIMA, Fernanda Luíza Teixeira; CARVALHO, Aline Vieira de. Memórias em construção: o
presente e o passado da ditadura militar chilena representados no Museo de la Memoria y los
Derechos Humanos.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71832019000100004
Acesso em: 27 de aug. 2022.
BARRETO, Ana Flávia Arruda Lanna; OLIVEIRA, Natália Silva Teixeira Rodrigues de.
Histórias de violações dos direitos humanos na Era Pinochet: sequestros, desaparecimentos
forçados e autoritarismo.
Disponível em: https://doi.org/10.15448/1980-864X.2019.1.31552
Acesso em: 27 de aug. 2022.
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