Como Nasceu o Jardim de Sequeiro

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EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
www.editoraanap.org.br editora@amigosdanatureza.org.br

Revisão Ortográfica - Smirna Cavalheiro


Editoração da Capa - Lucas Tioda Antonini
Capa (imagem) – aquarela de Claudia Bigoto

Ficha Catalográfica

P284m Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina /


Marta Enokibara, Sandra Medina Benini e Geise Brizotti Pasquotto (orgs).
1. ed. – Tupã: ANAP, 2022.
440 p; il.; 14.8 x 21cm

Requisitos do Sistema: Adobe Acrobat Reader


ISBN 978-65-86753-60-8

1. Paisagem 2. Pesquisa história 3. Natureza


I.
Título.

CDD: 710
Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 383
CDU: 710/49
Índice para catálogo sistemático
Brasil: Planejamento Urbano e Paisagismo

Capítulo 15

COMO NASCEU O JARDIM DE SEQUEIRO NA UNIVERSIDADE DE


BRASÍLIA

Júlio Barêa Pastore1

INTRODUÇÃO

O Jardim de Sequeiro ocupa o vão central do Instituto Central


de Ciências (ICC) – edifício icônico da arquitetura moderna brasileira,
projeto de Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima (Lelé), de 1962. O
jardim se estende pelos 730 metros de comprimento do edifício por
15 metros de largura, intercalado com passagens e vãos de
iluminação. Trata-se de um jardim sobre laje com mais de 5 mil m²
de área plantada sobre fina camada de terra, de 20 centímetros no
topo a 40/50 centímetros no fundo das calhas.
Ao deixar de ser regada a partir de crise hídrica em 2017, esta
área perdeu toda sua cobertura vegetal ornamental, composta
então majoritariamente por grama batatais (Paspalum notatum
Flüggé) e algumas primaveras (Bougainvillea spectabilis Willd.).
Desde então, vegetação espontânea composta por diversas daninhas
exóticas comuns em áreas urbanas ocupava a área entre os meses
de chuva (outubro a maio), vindo a secar e deixar a terra nua
durante o inverno. As principais espécies presentes eram braquiárias
(Brachiaria sp.), variadas espécies de capim-colchão (Digitaria sp),

1 Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP, professor adjunto da Universidade de


Brasília.
E-mail: jbpastore@gmail.com
capim-pé-de-galinha (Eleusine indica (L.) Gaertn (ELEIN)) e erva de
touro (Tridax procumbens L.), dentre tantas outras.
Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 385

Neste contexto, projetou-se um jardim com baixo custo de


execução, implantado por sementes, utilizando flora nativa do
Cerrado e flores tradicionais de ciclo curto: um jardim temporário,
que nasce, cresce e floresce em poucos meses. Sem irrigação,
aproveita as chuvas para crescer florescer. Ao final das chuvas, o
jardim, marcado pelos pendões de plumas brancas e douradas dos
capins nativos, adquire os tons do outono. Entra, a partir de então,
no ciclo seco, ainda passível de interesse estético e capaz de oferecer
serviços ecológicos, momento que culmina com a colheita das
sementes para a próxima estação.
Espera-se que a adequação à paisagem do Cerrado e suas
estações possa ajudar a despertar o olhar para o contexto
paisagístico local. Do mesmo modo, busca-se tirar partido de todas
as fases do jardim: a beleza e o aprendizado de acompanhar suas
operações de cultivo e manejo, os processos de germinação e
crescimento inicial, as sucessões de flores ao longo da estação
chuvosa, a chegada dos tons da seca, palha, marrom, castanho, suas
estruturas expostas, a colheita das sementes e, mesmo, a ocorrência
do tempo da estiagem e a espera pela nova estação.
O presente texto deriva de palestra proferida no II Simpósio
Brasileiro Cidade, Paisagem e a Natureza, promovido pelo Programa
de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Estadual Paulista, campus de Bauru. Buscamos manter algo de sua
oralidade, adequada ao fato de que se trata de um comunicado
sobre a criação do Jardim de Sequeiro, projeto experimental de
paisagismo implantado pela primeira vez nas chuvas de 2020-21 na
Universidade de Brasília (UnB), trazendo informações e resultados de
seus dois ciclos inaugurais. Dados sobre este projeto paisagístico e
suas referências estão sendo preparados para apresentação em
revistas especializadas.
Paisagem - 386

BASES PARA A CRIAÇÃO DO PROJETO

A idealização do Jardim de Sequeiro teve início nas aulas da


disciplina de Paisagismo, Parques e Jardins ministradas na
universidade (1ª e 2ª de 2017), quando o ICC foi tema para os
trabalhos de projeto paisagístico para quatro turmas (turmas A e B,
durante dois semestres consecutivos). Levantamentos e estudos
sobre o solo, espécies vegetais, insetos, histórico do projeto
paisagístico e do edifício, histórico do manejo do jardim, percepção e
demandas da comunidade foram realizados no âmbito das disciplinas
e permitiram melhor entendimento das condições do local, de suas
fragilidades e potencialidades.
A partir de 2017, o meu envolvimento com a Coordenação de
Parques e Jardins (CPJ) da Universidade de Brasília permitiu maior
interação entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão em
paisagismo e a gestão das áreas verdes da universidade. Juntamente
com o arquiteto Matheus Maramaldo, servidor da Universidade de
Brasília, criamos a disciplina de Jardinagem na Faculdade de
Agronomia e Veterinária da UnB, assim como o projeto de extensão
Museu das Flores, que transformou o viveiro da Prefeitura da UnB
(PRC) em espaço também acadêmico composto por jardins
experimentais, denominado agora “Viveiro-Escola da PRC”,
abrigando também o projeto de extensão Casa de Chá (2021), o
projeto “Jardim de Sequeiro”, as atividades da disciplina de
jardinagem, projetos de pesquisa e Trabalhos de Conclusão de Curso
(TCC). Nesse período foram também realizados jardins pela
universidade que possibilitaram explorar composições naturalistas
assim como o uso de plantas anuais (plantas de ciclo curto) e a
técnica de semeadura direta, em que o jardim é plantado a partir de
sementes. Destes, destacamos o Jardim experimental da Reitoria da
UnB (2020) e os jardins criados no Projeto rotatórias do Campus
Darcy Ribeiro.
Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 387

Também a partir de 2017, o uso de vegetação nativa do


Cerrado no paisagismo da Universidade de Brasília tem sido
explorado em jardins experimentais, sendo o pioneiro o Jardim
Louise Ribeiro (Instituto de Biologia da UnB), cujo projeto de
paisagismo foi coordenado pela paisagista Mariana Siqueira. A
criação do Jardim Experimental do ICC, coordenado por mim, e a
implantação do experimento de “Manejo de ervas e subarbustos do
Cerrado para fins paisagísticos” (2017-2020), realizado em parceria
com a paisagista Mariana Siqueira e a professora Isabel Schimdt,
também são exemplos de atividades nesta área.
Foi partir dessas experiências que em março de 2020, durante
os primeiros meses de isolamento social causado pela pandemia da
COVID-19, levei a proposta de criação de um jardim temporário por
semeadura direta no vão central do ICC aos integrantes do projeto
de extensão Museu das Flores (grupo coordenado por mim e por
Matheus Maramaldo e formado por paisagistas profissionais e
demais interessados que se encontravam voluntariamente para
estudar paisagismo, atuar no Viveiro-Escola da PRC e em jardins
experimentais da UnB e auxiliar na disciplina de Jardinagem). O
trabalho durante os meses que sucederam foi majoritariamente
remoto, com estudo de referências (em especial dos paisagistas Piet
Oudolf, James Hitchmough e Gilles Clement), seleção de espécies,
desenho, entre outras atividades. Pudemos, durante esse período,
implantar um jardim experimental de aproximadamente 200 metros
quadrados próximo ao edifício da Reitoria da UnB para avaliar o
desenvolvimento de algumas das espécies selecionadas.
Em setembro de 2020 a proposta foi exposta pela primeira vez
em público, durante a palestra “Paisajismo naturalista en climas de
sabana”, que fez parte de uma série de apresentações realizadas
pelo grupo de estudos intitulado “Paisagismo Naturalista Latino-
americano”. Fez parte da apresentação o histórico do projeto e a
composição paisagística. Além disso, foi apresentado o texto
Paisagem - 388

“Manifesto do Jardim de Sequeiro”, de minha autoria, que aqui se


registra pela primeira vez.

MANIFESTO JARDIM DE SEQUEIRO

Que possa encantar!


Cultura de sequeiro é a não irrigada, que cresce só com as
chuvas. Assim é o jardim que o ICC irá receber: gramíneas do cerrado
e flores tradicionais do paisagismo, em composição naturalista,
criando uma campina florida ao longo do seu vão central, que se
secará quando chegar o inverno.
É, assim, um jardim-instalação, um jardim de plantas breves.
Um jardim multiplicador de sementes, que a cada chuva poderá ́
nascer renovado, re-imaginado.
E é um jardim de equilíbrio dinâmico e múltiplas composições:
os tons vão se sucedendo ao longo da estação, acompanhando a
floração das espécies precoces e tardias.
Que sirva de elogio à UnB e ao ICC! Que a leveza das flores, tão
fugazes, sirva de sustentação momentânea para a arquitetura
perene. E que possa encantar e se lançar para além: que vejamos
mais jardim de sequeiro por aí!

COMPOSIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CICLO 2021-22

Sendo um jardim concebido para ser redesenhado a cada ano,


vale aqui informar sobre os desenhos do primeiro e segundo ciclos
separadamente, posto que houve muitas alterações entre os dois
primeiros ciclos do jardim. Elas refletem a busca por melhores
soluções e a concretização do processo de experimentação e
aprendizado.
Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 389

Foto 1 – Semeadura do Jardim de Sequeiro 2020-21

Foto: Maurício Mercadante (2021).

No primeiro ciclo a composição do jardim explorou a dinâmica


de crescimento das espécies a partir de três camadas de composição:
flores precoces, flores tardias e gramíneas nativas do Cerrado. As
flores precoces foram consideradas as espécies anuais que poderiam
passar pelo ciclo de florescimento em até 90 dias. No desenho, as
flores precoces compõem desenhos abertos, extensos, com
densidade variável e diferentes associações. Suas cores têm o azul
como tom prevalente, dado por Centaureas (Centaurea cyanus L.),
zínias (Zinnia elegans Jacq.) e Linhaças (Linum usitatissimum L.),
salpicado por tons quentes da coreopsis (Corepsis tinctoria Nutt.) e
do endro (Anethum graveolens L.). Foram selecionadas espécies de
estrutura leve que permitissem o crescimento por entre sua
folhagem das gramíneas e flores tardias.
Paisagem - 390

Foto 2 – Ala Sul, Jardim de Sequeiro 2020-21

Foto: Julio B. Pastore (2021).

As flores tardias foram consideradas aquelas que começariam


a florescer após 90 dias e seguiriam assim até o fim das chuvas. As
flores tardias, em especial Salvias (Salvia farinacea Benth., Gaillardias
(Gaillardia x grandiflora), dispostas em manchas menores e mais
densas, vêm suplantar as precoces quando estas perdem a floração.
Junto a elas, Mostardas (Sinapis alba L.) Ornithogaluns
(Ornithogalum saundersiae Baker) trazem verticalidade e se
destacam no momento em que o jardim já se assemelharia a uma
campina, com as gramíneas volumosas.
Foram plantadas também, em manchas monoespecíficas,
mudas da variedade ornamental de Euphorbia hypericifolia (L.)
denominada Euphórbia Hip-hop.
Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 391

Para a camada de gramíneas nativas do Cerrado foram


selecionadas algumas espécies que já haviam sido testadas nos
jardins experimentais e possuíam, além de interesse ornamental,
capacidade de florescer logo na primeira estação de crescimento a
partir da semeadura. Na camada de gramíneas, seis espécies de
capins nativos do Cerrado: capim-carinato (Paspalum carinatum
Humb. & Bonpl. ex Flüggé), capim-orelha-de-coelho (Paspalum
stellatum Humb. & Bonpl. ex Flüggé), capim-membeca (Andropogon
leuchostachyus Kunth), capim-fiapo (Trachypogon spicatus (L. f.)
Kuntze.), capim-brinco-deprincesa (Loudetiopsis chrysothrix (Nees)
Conert) e capim-panasco (Aristida setifolia Kunth). Essas gramíneas
foram distribuídas em grandes manchas de andamento sinuoso,
formando a base para as flores tardias.

Foto 3 – Ala Central, Jardim de Sequeiro 2020-21

Foto: Julio B. Pastore (2021).


Paisagem - 392

Dentro deste esquema compositivo, as espécies foram


selecionadas para coabitar, tecendo relações ecológicas e
apresentando uma dinâmica de ocupação do espaço que vai de um
jardim mais leve e aberto no início do ciclo a uma campina mais
densa e diversa nos momentos finais. A longevidade do jardim vem
da sucessão das florações, em diferença de canteiros
monoespecíficos comuns no meio urbano.
Devido à baixa taxa de germinação de algumas espécies, em
especial do capim-panasco já durante os procedimentos de
semeadura, o projeto foi adaptado, recebendo a ala central uma
composição em duas manchas diversas, uma monoespecífica de
Gaillardias e outra de uma mistura entre o capim nativo Capim-
fastigiato (Andorpogon fasigiathus Sw.) e zínias. O objetivo da
alteração foi, dentro das possibilidades que se apresentavam,
propiciar o aumento da densidade de plantas no jardim. Assim,
buscamos novas sementes para a ala central e utilizamos aquelas
previamente previstas para reforçar as taxas de semeadura das duas
alas laterais.

Foto 4 – Ala Sul, Jardim de Sequeiro 2020-21


Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 393

Foto: Julio B. Pastore (2021).

Autoria do Planting Design ciclo 2020-21: Julio B. Pastore,


Desirèe Salvatore, Marina Franco. O projeto foi desenvolvido a partir
de estudo de referências em composição de jardins naturalistas,
prospecção de espécies de interesse e sementes obtidas. As
sementes foram obtidas a partir dos fornecedores Isla Sementes,
Rede de Sementes do Cerrado e Verdenovo sementes. Parte das
sementes foram coletadas diretamente em campo pela equipe.

Foto 5 – Ala Central, Jardim de Sequeiro 2020-21


Paisagem - 394

Foto: Julio B. Pastore (2021).

O jardim foi semeado a partir do dia 2 de dezembro, com a


semeadura se estendendo até os últimos dias de dezembro e
operações de ressemeadura durante o mês de janeiro e início de
fevereiro, para buscar corrigir as falhas devidas à baixa taxa de
germinação de algumas das sementes, além de danos causados por
formigas cortadeiras, pombos, estiagem e outros. Teve seu auge de
floração entre março e abril. A coleta de sementes se deu a partir de
abril e a área foi finalmente roçada entre maio e junho de 2021.

Foto 6 – Ala Central, Jardim de Sequeiro 2020-21


Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 395

Foto: Madson Reis (2021).

COMPOSIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CICLO 2021-22

Em junho de 2021 foi realizada seleção pública para montagem


da equipe responsável pelo ciclo 2021-22 do Jardim de Sequeiro. A
equipe resultante somou 26 participantes, entre os egressos do
primeiro ciclo e os novos integrantes, passando a ser composta por
profissionais de paisagismo, servidores da UnB, comunidade externa
e alunos da graduação oriundos de variados cursos, em especial
agronomia, biologia, engenharia florestal, ciências ambientais e
arquitetura. O grupo se dividiu em quatro coordenações:
Implantação, Pesquisa, Extensão e Divulgação, com objetivo de
conduzir os trabalhos de implantação do jardim assim como, em
adição, de explorar o potencial acadêmico da iniciativa e divulgar
seus resultados.

Foto 7 – Preparação das sementes para plantio – Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem - 396

Foto: Julio B. Pastore (2021).

A equipe trabalhou até maio de 2022. A universidade, durante


este período, se manteve ainda com a maioria de suas atividades
acadêmicas funcionando em modo remoto. Os resultados do
trabalho das coordenações pode ser assim resumido:

Foto 8 – Germinação no ICC – Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 397

Foto: Julio B. Pastore (2021).

Coordenação de pesquisa: foram realizadas pesquisa de


germinação em laboratório e em casa de vegetação, foi observada e
quantificada a emergência das plantas no jardim, foram testados
métodos de contenção de danos causados por pombos; foram
anotados os dados da implantação e manejo do jardim, inclusive em
relação ao ciclo de florescimento das espécies utilizadas.

Foto 9 – Ala Central, Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem - 398

Foto: Julio B. Pastore (2022).

Coordenação de Extensão: foram oferecidos 46 eventos de


extensão, distribuindo-se em: Visitas guiadas, Oficinas de fotografia,
Oficinas de Arranjos florais, Oficinas de flores comestíveis, Oficinas
de manejo de identificação de abelhas nativas; Oficinas de aquarela
e Oficinas de coleta e beneficiamento de sementes. No total foram
recebidas mais de 1.400 inscrições para os eventos.

Foto 10 – Devaneio em manhã com neblina, Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 399

Foto: Julio B. Pastore (2022).

Coordenação de divulgação: Foram realizadas 11 aulas


abertas/palestras sobre o Jardim de Sequeiro, todas em formato
remoto. As atividades e os resultados do Jardim de Sequeiro foram
divulgados através de conta em mídias sociais, com produção de
fotos e vídeos, sendo o principal produto até o presente momento o
vídeo “Jardim de Sequeiro: uma conversa com Julio Pastore”,
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=jXX1h1Uf2BU.

Planting Design do ciclo 2021-22

Na composição do Jardim em seu segundo ciclo, as alas norte e


sul ganharam composições em manchas sinuosas de tamanho
variável, entre 5 a 20 m². Não foi mais utilizado e esquema anterior
com padrões extensivos de camadas sobrepostas. O uso de
gramíneas nativas, à exceção do capim-fastigiato, passou a ser por
mudas, visto que o sucesso na semeadura das demais espécies
Paisagem - 400

utilizadas foi apenas relativo, com relativamente poucas touceiras


estabelecidas, apenas da espécie capim-membeca (Andropogon
leuchostachyus) as quais não fizeram em tempo de florescer durante
a estação das chuvas.

Foto 11 – Linhaças contra cerquinha de bambu, Ala Central, Jardim de Sequeiro 2021-22

Foto: Julio B. Pastore (2022).

Foi decidido que as touceiras já existentes de capim-membeca


seriam regadas (com baixa frequência) durante a seca, para que
viessem participar do ciclo seguinte, ao mesmo tempo em que se
fizeram mudas na casa de vegetação do Viveiro-Escola de capim
prateado (Anthaenantia lanata (Kunth) Benth.), capim brinco de
princesa, capim fiapo, capim-panasco, capim-orelha de coelho e do
próprio capim membeca, que serviram para enriquecimento da base
de capins nativos do jardim.

Foto 12 – Ala Sul, Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 401

Foto: Julio B. Pastore (2022).

Os capins nativos, assim como as zínias e mostardas, foram


plantados em manchas monoespecíficas, distribuídas em meio às
demais manchas semeadas com mixes de sementes.
Os mixes de sementes utilizados foram formados a partir da
composição com 3 ou 4 espécies de caráter precoce, mediano e
tardio, visando propiciar uma sucessão de florações ao longo da
estação. Foram adicionadas ao roll de espécies utilizadas as
rudbeckias (Rudbeckia hirta L.), anis (Pimpinella anisum L.), e rúcula
(Eruca sativa Mill.), dentre outras espécies.

Foto 13 – Detalhe Ala Norte, Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem - 402

Foto: Julio B. Pastore (2022).

Foram utilizadas, pontualmente, mudas de babosa (Aloe Vera


(L.) Burm.) e bulbos de gladíolo (híbridos de Gladiolus sp), assim
como foram realizados testes pontuais para prospecção de novas
espécies de interesse.
Autoria do Planting Design ciclo 2021-22 foi de Julio B.
Pastore, Desirèe Salvatore, Marina Franco e Madson Reis. O projeto
foi desenvolvido a partir dos resultados do primeiro ciclo,
incorporando novas espécies e estratégias de composição que
permitissem um período de florescimento mais prolongado e
melhor cobertura do solo.
As sementes foram obtidas a partir de coleta no próprio
Jardim de Sequeiro e demais jardins da UnB, com compra de
algumas sementes da Isla Sementes.

Foto 14 – Detalhe Ala Central, Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 403

Foto: Julio B. Pastore (2022).

O jardim foi semeado em meados de novembro de 2021 e


começou a florescer no início de janeiro de 2022. As oficinas e visitas
guiadas se estenderam de janeiro a maio de 2022. A partir de
meados de abril a situação de estiagem levou o jardim a entrar em
seu ciclo seco. A coleta de sementes se iniciou ainda no fim de abril e
se estendeu até maio de 2022, quando o restante das plantas secas
foi roçado e se deu início aos tratos de inverno.

Foto 15 – Chegada da seca, Ala Central, Jardim de Sequeiro 2021-22


Paisagem - 404

Foto: Julio B. Pastore (2022).

CONCLUSÃO

No momento em que este texto é finalizado, maio de 2022, o


jardim está completamente seco. E estamos já com grandes sacos de
sementes colhidas aguardando no Viveiro-Escola, esperando as
oficinas de limpeza e o armazenamento em câmara-fria. À medida
que as sementes são colhidas, o jardim é roçado e se conclui o ciclo
2021-22.
Juntamente com alguns egressos do ciclo atual estamos
finalizando a seleção para os participantes do próximo ciclo, 2022-
23, que deverá assumir definitivamente a condução do jardim a
partir do início de junho próximo.
É de se registrar a procura que temos tido nos editais públicos
de seleção: no total foram 168 inscrições para participar do projeto,
entre alunos da graduação, pós-graduação da UnB, mas também de
outras universidades de Brasília. Recebemos também inscrições de
Paisagem: Pesquisa histórica e aplicada no Brasil e América Latina - 405

profissionais de paisagismo e público interessado em geral. As


expectativas são as melhores: esperamos ampliar as atividades de
pesquisa, extensão, ensino e divulgação ligadas ao jardim.
Esperamos também, por certo, fazer um jardim mais bonito e mais
resistente.
Há ainda uma grande expectativa: com a volta em pleno das
atividades presenciais, o ICC deverá retomar o posto central que
ocupa na vida acadêmica da UnB. Assim, o Jardim de Sequeiro do
ciclo 202223 finalmente fará parte do cotidiano dos milhares de
frequentadores da universidade. Esperamos que ele possa encantar!

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