Zabalza Berasa
Zabalza Berasa
Zabalza Berasa
SUPERIOR:
A (IN)VISIBILIDADE DO
TRABALHO DOCENTE
COLEÇÃO
FORÇAS DE MUDANÇA EM EDUCAÇÃO
ÍNDICE
3 PREFÁCIO
Jorge Ramos do Ó
5 NOTA DE ABERTURA
Mariana Gaio Alves
29 PEDAGOGIA DO ENCONTRO
António Nóvoa
Jorge Ramos do Ó
Professor Associado com Agregação
UIDEF, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal
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tanto aos estudos em Ensino Superior, quanto à necessidade de criação de
estruturas de apoio à qualidade da aprendizagem e ao desenvolvimento
profissional aos docentes, seja para os que estão em início de carreira seja,
ainda, para aqueles que nela se encontram. O IE-ULisboa toma-se, assim,
da ambição de lançar um conjunto de iniciativas de reflexão e ação que o
deverão tornar a médio prazo numa instituição de referência neste domínio.
O desígnio de inscrever a Pedagogia no coração da Universidade teve a sua
tradução mais visível na criação, no ano de 2019/2020, da Pós-graduação em
Pedagogia do Ensino Superior. Num contexto de grandes transformações como
o que vivemos no ensino superior, torna-se imperiosa a construção de novos
ambientes pedagógicos em que os docentes se possam encontrar e discutir o
seu trabalho conjuntamente. Este curso constitui uma resposta aos desafios
que as instituições e os professores do Ensino Superior têm hoje pela frente.
Estes resultam em larga medida: (i) do afluxo em grande número de estudantes
à graduação e pós-graduação, provenientes de trajetórias escolares muito
diversificadas; (ii) da crescente demanda pela integração de novas tecnologias e
da circulação dos alunos em vários ambientes de aprendizagem; (iii) do trânsito e
da velocidade com que os saberes se cruzam e se consolidam. A Pós-graduação
em Pedagogia do Ensino Superior tem por objetivo uma mudança sustentada no
saber e no agir dos professores, com base na compreensão das necessidades
dos alunos e na evidência científica que a investigação sobre Ensino Superior
tem vindo a produzir nos últimos anos. Visa a formação de um profissional
competente, confiante, reflexivo e capaz de desenvolver e avaliar as próprias
práticas de ensino e aprendizagem, no contexto da teoria, da investigação
pedagógica e das próprias vivências relacionais e pessoais.
Este livro está também ele intrinsecamente ligado à Pós-graduação em Peda-
gogia do Ensino Superior, uma vez que os textos de António Nóvoa e Miguel
Zabalza – de resto especialistas destacados nos estudos de Ensino Superior
- reproduzem as conferências que ambos proferiram na abertura do Curso em
outubro de 2019.
Precisamos de inventar espaços de encontro e discussão dentro das nossas
instituições, precisamos mesmo de investir tempo, longo e de qualidade, na
reflexão tanto acerca da nossa identidade de professores e de investigadores
quanto sobre os sentidos do trabalho fazemos. E, suprema ambição, diria,
precisamos mesmo de produzir em conjunto e em contexto de cooperação
mais pesquisas robustas e muito informadas sobre as nossas práticas; só
assim poderemos imaginar os sentidos possíveis da sua transformação. É para
esse objetivo que temos vindo a trabalhar e é a ele também que se entregam
os autores do e-book de Pedagogia no ensino superior: A (in)visibilidade do
trabalho docente, maioritariamente professores do IE-ULisboa.
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NOTA DE ABERTURA
5
Com efeito, o trabalho docente desenvolve-se em situações instáveis, incertas
e únicas que não são compatíveis com soluções pré-definidas, requerendo
reflexão sobre as respetivas especificidades e sobre alternativas nos modos de
ensinar. Acresce que os professores são uma parte constitutiva das situações
educativas, e não elementos externos que agem sobre essas, pelo que as
suas próprias crenças e conceções precisam de ser objeto de reflexão. Os
capítulos deste livro têm este conjunto de princípios em comum quando
apresentam diversos pontos de vista sobre a pedagogia e o trabalho docente
no ensino superior.
Miguel Zabalza, no primeiro capítulo, questiona o papel das instituições de
ensino superior e, dentro destas, dos académicos, identificando mudanças que
afetam instituições e indivíduos, as quais são indissociáveis da constatação
das realidades complexas e identidades líquidas que caracterizam a contem-
poraneidade. A reflexão deste autor sublinha, muito especialmente, o carácter
coletivo do trabalho dos professores no ensino superior e respetiva relevância,
mas também as dificuldades de que o mesmo se reveste considerando o
individualismo, a opacidade e a discricionariedade que constituem, nas suas
palavras, autênticos “calcanhares de Aquiles” da docência.
No segundo capítulo, António Nóvoa reflete sobre a transformação da uni-
versidade identificando três momentos de “crise” (décadas de 1960, de 1990
e de 2020) que permitem sublinhar a importância perene do encontro entre
professores e estudantes na formação académica. O ponto de vista deste autor
destaca, particularmente, a premência de refletir e debater as condições em
que o encontro entre mestres e discípulos tem lugar, criando oportunidades
de partilha e formação sobre as questões do ensino que contemplem cinco
gestos - transmissão, participação, investigação, convergência, cidade –
essenciais ao trabalho docente e à pedagogia do ensino superior.
É, precisamente, em torno quer do conhecimento pedagógico específico a
que os docentes do ensino superior precisam de aceder quer dos modos de
apoiar o respetivo desenvolvimento profissional que se desenvolve a reflexão
de Marta Mateus de Almeida no terceiro capítulo. O ponto de vista da autora
evidencia a complexidade do conceito de desenvolvimento profissional docente
como processo de mudança e de aprendizagem permanente com implicações
nos planos individual e organizacional, bem como a sua indissociabilidade de
aspetos relativos às carreiras dos académicos e a dinâmicas de reconfiguração
da profissão.
O conhecimento sobre trabalho docente no ensino superior produzido pela
investigação é um elemento suscetível de enriquecer a partilha e a reflexão
dos professores, tornando pertinente o exercício de cartografar o lugar deste
objeto de estudo no campo da pesquisa educativa que Mariana Gaio Alves
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apresenta no quarto capítulo. Deste ponto de vista, o trabalho docente dos
académicos é iluminado como tema de estudo pouco explorado na investigação
nacional e internacional que parece ser abordado, predominantemente, a partir
da análise dos seus efeitos nos processos de aprendizagem e experiências
dos estudantes.
A necessidade de investigação mais aprofundada sobre as práticas peda-
gógicas reais dos docentes de ensino superior constitui o repto subjacente
ao capítulo da autoria de Ronald Barnett e Carolina Guzmán-Valenzuela que
assinalam o crescimento, nas últimas décadas, da literatura com enfoque
nas conceções de ensino. Os autores propõem o conceito de “horizontes de
ensino” para perspetivar significados da atividade pedagógica, individual e
coletiva, enfatizando a respetiva complexidade composta pela interligação
de estruturas e agência. Nesse sentido, identificam, no seu ponto de vista,
quatro horizontes de ensino que denominam de “pessoal”, “em reflexão”,
“estruturas” e “projeto de ensino”.
Sublinhe-se, finalmente, que todos os autores deste livro se relacionam, de
algum modo, com o trabalho que vem sendo desenvolvido no quadro da
Pós-Graduação em Pedagogia do Ensino Superior oferecida pelo Instituto
de Educação da Universidade de Lisboa desde 2019/20. Os dois capítulos
iniciais correspondem às conferências proferidas pelos autores na sessão de
abertura deste curso de pós-graduação no dia 7 de outubro de 2019. As autoras
do terceiro e quarto capítulos são membros da equipa docente do mesmo
curso. O último capítulo é a tradução de um artigo que tem sido estudado
pelos formandos da pós-graduação, entre os quais se incluem professores
das mais diversas áreas científicas em várias universidades e politécnicos.
A concretização desta publicação foi acompanhada do surgimento e desenvol-
vimento da crise pandémica que tem requerido, da parte dos professores de
ensino superior, inúmeras e recorrentes adaptações nas suas práticas e modos
de ensinar. Este é mais um elemento que reforça a relevância das questões
de pedagogia no ensino superior e que torna prementes os contributos para
a análise e reflexão sobre práticas de ensino, bem como para a formação e
desenvolvimento profissional dos professores.
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REFERÊNCIAS
Alves, M. G. (2020). A (in)visibilidade do trabalho docente dos académicos. TMQ – Techniques,
Methodologies and Quality, (Número Especial – processo de Bolonha), 57-68.
Ó, J. R. (2019). Fazer a Mão: por uma escrita inventiva na universidade. Lisboa: Edições
do Saguão.
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REDEFININDO A PEDAGOGIA
UNIVERSITÁRIA:
A DIFÍCIL PASSAGEM DO
SINGULAR PARA O COLETIVO
Miguel A. Zabalza-Beraza
Professor Emérito
Universidad de Santiago de Compostela, Espanha
REDEFININDO A PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA:
A DIFÍCIL PASSAGEM DO SINGULAR PARA O COLETIVO1
Miguel A. Zabalza-Beraza
Professor Emérito
Universidad de Santiago de Compostela, Espanha
Este novo mundo que nos calhou viver está configurado por realidades com-
plexas e identidades líquidas. E se assim sucede no que diz respeito ao nosso
ser como sujeitos, não pode ser de outra forma nas instituições académicas,
extremamente sensíveis ao que acontece no seu contexto. As universidades
(e em menor medida, todo o conjunto de centros de Educação Terciária)
passaram muito tempo defendendo a sua autonomia, querendo afirmar-se
como ecossistemas autorregulados e protegidos das circunstâncias e das
ingerências externas. Está à vista que tal utopia se tem revelado inalcançável
(de facto, nunca aconteceu, pelo menos no sentido pleno: as universidades
sempre estiveram dependentes de grupos de poder social, fosse esse poder
religioso, ideológico ou económico) e que as instituições se edificam e evoluem
protegendo-se dos ventos que sopram no seu contexto.
Assim sendo, faz sentido questionar o papel exigido às nossas instituições
e, dentro delas, ao pessoal académico. Também, neste caso, a reflexão que
possamos fazer tem de ser aberta e com a característica tão atual do relati-
vismo. E isto porque uma das coisas que se alterou de forma radical, tanto na
sociedade como nas próprias universidades, foi o consenso. Resulta evidente
que, neste momento, não existe uma visão comum sobre a Educação Superior,
pelo contrário as visões são muitas e muito diferentes. E o facto é que estas
visões não pertencem a entidades externas, com frequência abstratas e de
difícil delimitação (o sistema, os poderosos, o Banco Mundial, o capitalismo),
a questão é que são as visões e os enfoques dos teus próprios colegas, os
teus pares, aqueles com quem partilhas esforços e que sabes que amam a
1 A tradução deste artigo é financiada por fundos nacionais através da FCT - Fundação para
a Ciência e a Tecnologia, IP, no âmbito da UIDEF - Unidade de Investigação e Desenvolvimento
em Educação e Formação, Referência UIDB/04107/2020.
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R EDEFININDO A P EDAG O G IA U NIV ERSITÁRIA: A D IFÍCIL PASSAGEM D O SINGULAR PARA O COLETIVO
universidade tanto como tu. No entanto, vêem-na com outros olhos, desde
outra perspetiva. Por isso, torna-se vão falar na “universidade” como uma
entidade definida, com perfis e funções nítidas e indiscutíveis. Muita gente,
dentro e fora da universidade, perceciona a instituição de diferente forma e
atribui-lhe funções muito diferentes, às vezes incompatíveis. É óbvio que cada
um pensa que a sua perspetiva é a correta, mas de pouco serve ficar-se por
essa autocomplacência. Também, pouco acrescenta demonizar as perspetivas
alheias, sobretudo porque conheces e aprecias quem as defende. Por isso,
torna-se necessária uma conversa de bom-tom, aceitando as diferenças e
debatendo com estilo e fair play os diferentes pontos de vista e versões da
nossa verdade. Esta conversa é o objetivo deste artigo.
Situados nesta arena amigável de controvérsias, procurarei explicitar uma vez
mais algumas das ideias de inovação e melhoria da docência que advêm da forma
como vejo a universidade deste patamar onde me situa a reforma depois de 45
anos de docência universitária, não poucos dedicados ao estudo da mesma.
Com esta bagagem de vivências e trabalho às minhas costas, é fácil começar
partindo da convicção de que as universidades atuais têm muitas virtudes e
melhoraram, sem dúvida, a oferta académica que havia no passado. No entanto,
em simultâneo, perduraram e até se agravaram alguns problemas. Destes, três
parecem-me graves e precisam de políticas académicas reparadoras, porque são
autênticos “calcanhares de Aquiles” da docência: o individualismo, a opacidade e
a discricionariedade. Concretamente, essa tendência dos docentes de trabalhar
por sua conta, de configurar um cenário académico feito à sua medida e a salvo
das influências externas: cada um/a com a sua disciplina, os seus estudantes,
o seu estilo pessoal de concretizar a sua tarefa formativa, com a sua indepen-
dência. A opacidade é outro flagelo difícil de superar: acabamos por saber mais
de como ensinam os docentes das universidades americanas e europeias do
que sobre como o fazem os colegas da sala ao lado. Não só não sabemos o
que se faz e como se faz, como não sentimos a necessidade de sabê-lo porque
entendemos que “esse assunto é seu e dos seus estudantes e não podemos
meter-nos nisso”. Finalmente, a discricionariedade, baseada de forma errada na
“liberdade de cátedra”, esse respeito inquebrantável pela “vontade individual de
cada docente”, essa aceitação global do seu critério, seja qual for o ato académico
desenvolvido. Estabeleceu-se nas nossas universidades uma inviolabilidade
do critério individual que dificulta e, por vezes, impossibilita a existência de um
projeto coletivo, de uma proposta institucional que dê sentido à formação que
se oferece aos estudantes. Na medida certa, dos três aspetos (o valor singular e
criativo de cada docente, a possibilidade de criar um espaço individual e próprio
com os seus estudantes e o respeito pelo posicionamento individual de cada
docente) poderiam resultar qualidades benéficas que enriquecessem a vida
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R EDEFININDO A P EDAG O G IA U NIV ERSITÁRIA: A D IFÍCIL PASSAGEM D O SINGULAR PARA O COLETIVO
DESAFIO TRANSVERSAL
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Nem é preciso dizer que a lista poderia ser outra, porque os fatores que afetam
a vida académica universitária, mesmo colocando o foco sobre a docência, são
variados. No entanto, aceitando este enfoque, estes aspetos são importantes
tanto pela sua relevância intrínseca como porque, em praticamente todos os
casos, se trata de questões que nem sempre recebem a atenção que merecem
e constituem, portanto, claros nichos com necessidade de melhoria.
Este tem sido, na minha opinião, o eixo central do eterno debate das univer-
sidades. Poucas vezes foi um debate explícito, mas de uma forma ou outra
tem estado subjacente a qualquer das controvérsias que se têm colocado:
desde a organização curricular até a seleção de disciplinas e conteúdos dos
cursos; desde a incorporação das tecnologias à adoção de modelos formativos
como o das competências e/ou a regulação da avaliação. No fundo, sempre
está implícito o dilema do tipo de formação requerido pelo mundo profissional
e produtivo atual, o que implica tratar de esclarecer o que se vai entender
por formação universitária e o que vamos ter em consideração para poder
acreditar que um estudante graduado está bem formado.
A ideia tradicional de formação (mais ainda, se considerarmos os enfoques da
formação integral) vai abandonando o seu lugar protagonista e proeminente
que marcava a identidade e a função social das instituições de Educação
Superior a favor da ideia de profissionalização, como constructo socialmente
mais pragmático e rentável. Por isso, a estrela polar que serve de referência às
nossas propostas curriculares são os perfis profissionais e as competências
específicas inerentes. Uma ideia de profissionalização que será interpretada,
de forma ainda mais estrita, no caso dos institutos politécnicos e escolas do
ensino terciário. O reforço do sentido “profissionalizador” das instituições de
Educação Superior não tem de ser negativo, desde que não se perca nem se
desvirtue o propósito superior da formação, isto é, o impacto que se espera
ter em todo o conjunto de dimensões que vão mais além da profissionalização:
as aprendizagens pessoais (de vida) e axiológicas que conformam as carac-
terísticas das pessoas que transitaram pela Educação Superior, seja qual for
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o curso que frequentaram e que permite identificá-las pela sua cultura, a sua
forma de ser e de atuar.
Uma questão relevante a considerar nesta secção é a ideia de que essas
qualidades da formação integral tendem a estar vinculadas à interação pessoal
entre docentes e estudantes. Uma interação baseada na mediação próxima,
no contacto, no convívio e no diálogo. O que acontecerá se se fortalece essa
tendência para a interação virtual, muito mais distante, mais formal, mais
funcional e centrada nos aspetos disciplinares e práticos?
Não é pouco frequente, nem nas leis educativas nem na conceção dos gestores
académicos, que se entenda o currículo como “o conjunto de disciplinas e
experiências formativas que se desenvolvem durante os anos de estudo”. Isto
é, concebe-se o currículo como o conjunto das coisas que é preciso ensinar
e aprender nos anos universitários. É, portanto, uma noção sumativa: um
puzzle de unidades formativas desconexas que se sucedem ao longo dos
semestres que dura o curso. Aí surge o principal calcanhar de Aquiles das
nossas instituições: a atomização da formação, o individualismo docente, a
descontinuidade do processo formativo. Na realidade, é difícil identificar qual
a sequência narrativa que define a oferta formativa de algumas instituições
(“a formação que oferecemos aos nossos estudantes começa por estas
temáticas, continua nestas outras e conclui-se com estas possibilidades de
especialização…”). Muitos planos de estudo carecem de essa continuidade e
progressão que lhes dá coerência e sentido, não são um sistema porque neles
predomina a singularidade de cada elemento sobre a relação que deveria
existir entre eles.
Afortunadamente, algumas instituições têm avançado muito nesta direção
(gerando clusters de matérias; trabalhando por módulos, problemas ou casos;
planificando os seus currículos com base nas competências) (Zabalza Beraza,
2012), mas, no geral, continuamos ainda muito estagnados na organização por
disciplinas. Escanero (2007) utiliza a escada de Harden (2000) para assinalar
que a maior parte das propostas das Faculdades de Medicina se encontra ainda
nos degraus mais baixos dessa escada, que representa os níveis desejáveis
de organização curricular.
Desta visão sistémica e integrada do currículo deriva a sua natureza coral. A
condição de integralidade do projeto formativo exige que a sua implementação
seja feita com coordenadas comuns, num trabalho de equipa. O projeto de
construção de uma faculdade não pode ser o somatório dos projetos individuais
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As três secções anteriores exigem, pela sua própria natureza, uma nova
configuração dos cenários formativos institucionais, uma colocação em cena
de uma docência em consonância com os tempos e as solicitações sociais. É
o que Oser e Baeriswyl (2001) denominaram de coreografias didáticas e que,
depois, eu mesmo desenvolvi em relação à universidade (Zabalza Beraza, 2004).
Falar de coreografias reporta-nos ao mundo das artes. As coreografias deli-
mitam as condições do cenário em que os bailarinos irão desenvolver as
suas performances. Uma das caraterísticas básicas das coreografias é que
influencia a atividade que se desenvolve no cenário. Pressupõe-se que com
uma má coreografia até um bom bailarino fracassaria ou ficar-se-ia por uma
atuação medíocre. E, pelo contrário, uma boa coreografia pode fazer com
que um bailarino medíocre consiga uma exibição digna. Não acontece algo
semelhante na docência? Outra característica das coreografias (das boas
coreografias) é que conseguem estabelecer um equilíbrio adequado entre
a predeterminação da ação que a coreografia estabelece e a liberdade de
expressão e a criatividade pessoal que todo artista precisa. Uma coreografia
que espartilhe o artista resulta negativa e empobrece a sua criatividade.
Não é essa a nossa preocupação em relação à aprendizagem dos nossos
estudantes? Não o é, também, em relação ao nosso trabalho docente com
respeito às coreografias institucionais?
Partindo de ambas as premissas, a metáfora das coreografias é muito interes-
sante para definir o papel das instituições, tanto relativamente aos docentes
(enfrentando o ensino) como relativamente aos estudantes (enfrentando
a aprendizagem). Assim, entendida a metáfora das coreografias podemos
referir-nos a três níveis de definição das mesmas, no que respeita aos pro-
cessos de ensino-aprendizagem que se desenvolvem no Ensino Superior:
as coreografias institucionais (a forma como cada instituição desenha os
processos de ensino-aprendizagem que se irão desenvolver no seu seio, isto
é, o processo formativo que oferecerá aos seus estudantes); as coreografias
didáticas (a forma como cada docente organiza a sua docência) e as coreografias
discentes (a forma como cada estudante configura o seu próprio processo
externo e interno para abordar o processo formativo). Esta tripla estrutura é
a trama em que a docência universitária se desenvolve.
Os três níveis coreográficos são fundamentais para um desenvolvimento
bem-sucedido e enriquecedor da formação universitária, sendo, sem dúvida,
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aos estudantes e aos conteúdos que devem aprender. Como assinala Menges
(1997), ensinar não é outra coisa do que “the intentional arrangement of
situations in which appropiate learning will occur”.
É neste contexto que a competência da planificação adquire o seu pleno
sentido. Uma planificação que, em primeiro lugar, é coletiva (currículo institu-
cional) e, depois, é individual de cada docente (planificar como a construção
de um projeto docente singular dentro de um projeto docente institucional).
Uma planificação que nos obriga a rever todos os constituintes do currículo
(objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação) para os ajustar entre si e em
relação ao projeto institucional.
Essa foi a primeira conclusão da investigação de Bain (2004). Os bons pro-
fessores estão especialmente comprometidos com os seus estudantes e a
sua aprendizagem e, como tal, planificam cuidadosamente o ambiente de
aprendizagem que lhes proporcionarão “confrontando-os com problemas
importantes, atrativos e intrigantes; com tarefas autênticas que representarão
desafios na hora de lidar com ideias novas, revendo as suas suposições e
examinando os seus modelos mentais da realidade” (p. 29).
Ainda que a missão de criar ambientes de aprendizagem intensos seja, do
ponto de vista didático, a finalidade essencial da planificação, é a avaliação que
acaba por ter maior relevo e impacto prático pelas consequências que dela
advêm para os estudantes (e para todo o sistema, incluindo os avaliadores). Na
Educação Superior, a avaliação cumpre duas funções essenciais: a formativa
e a sumativa. Avaliando ajudamos os nossos estudantes a otimizar os seus
esforços e a melhorar a sua aprendizagem, assim como nos certificamos de
que os mesmos alcançaram o nível de desempenho exigido para continuar a
progredir na sua formação como futuros profissionais. O problema, habitual
nos processos envolvidos nesta dicotomia, surge quando uma destas funções
hipertrofia o seu espaço e acaba por esbater a outra. Uma coisa deste género
aconteceu na universidade: vinculamos mais a avaliação ao controle (a ava-
liação como processo que conduz à obtenção de uma qualificação) do que à
formação (a avaliação como recurso para a superação dos pontos fracos dos
estudantes e para o reforço dos pontos fortes). Daí a necessidade de insistir
na importância de uma avaliação mais baseada na relação interpessoal e no
feedback aos estudantes do que ficar-se pelo simples recurso de controlo
e certificação dos resultados. Recordemos que Chickering e Gamson (1987)
assinalam como um dos sete princípios das boas práticas docentes, o “o
oferecer um bom feedback” aos estudantes e, isso, é impossível se não temos
um bom sistema de avaliação formativa.
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REFERÊNCIAS
Bain, K. (2004). Lo que hacen los mejores profesores universitarios. Sevilla: Servicio de
Publicaciones de la Universidad de Sevilla.
Cantón Mayo, I., & Tardif, M. (2018). Identidad Profesional Docente. Madrid: Narcea.
Harden, R. M. (2000). The integration ladder: a tool for curriculum planning and evaluation.
Medical Education, 34, 551-557.
Paricio, J., Fernández, A., & Fernández, I. (2019). Cartografía de la buena docencia uni-
versitaria. Un marco para el desarrollo del profesorado basado en la investigación.
Madrid: Narcea.
Prieto, A. (2017). Flipped Learning. Aplicar el modelo de aprendizaje inverso. Madrid: Narcea.
Zabalza Beraza, M. A. (1987). Diseño y desarrollo curricular. Narcea. Madrid [13a edición: 2016].
Zabalza Beraza, M. A., & Zabalza Cerdeiriña, M. A. (2011). Profesores y profesión docente.
Entre el “ser” y el “estar”. Madrid: Narcea.
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PEDAGOGIA DO ENCONTRO
António Nóvoa
Professor Catedrático
UIDEF, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa,
Portugal
PEDAGOGIA DO ENCONTRO
António Nóvoa
Professor Catedrático
UIDEF, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal
Este excerto de uma carta de Simone Weil a Alain sobre ciência, provavelmente
de 1935, traduz bem a minha ideia de universidade, um lugar onde não chega
saber ou fazer, no qual precisamos de reflectir sobre o que sabemos e o que
fazemos. O que é verdade para a ciência, é verdade também para o ensino
e a pedagogia.
A relação entre professores e estudantes é o eixo em torno do qual deve
girar a vida universitária. Todos o reconhecem. Mas, estranhamente, há uma
ausência de reflexão e de debate sobre o ensino e a pedagogia, como se
bastasse saber ou fazer alguma coisa. De um universitário, exige-se uma
capacidade de reflexão crítica sobre aquilo que faz.
O propósito deste texto é marcar a importância do encontro entre professores
e estudantes, entre mestres e discípulos. Este encontro não se dá natural-
mente. É preciso construir as condições para que tenha lugar, o que obriga
a uma reflexão de fundo sobre a questão pedagógica. Os argumentos aqui
desenvolvidos foram apresentados numa intervenção de Outubro de 20191,
mas tornam-se ainda mais urgentes no tempo de pandemia que vivemos.
Sem pedagogia, não há universidade.
Na primeira parte, apresentam-se três momentos de “crise da universidade”
(décadas de 1960, de 1990 e de 2020) e as suas consequências para o ensino
1 A intervenção com o título Para que servem os professores universitários? foi feita no dia 7
de Outubro de 2019, no momento da inauguração do Curso de Pós-graduação em Pedagogia
do Ensino Superior, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
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O que quero realçar é a existência de uma reflexão intensa sobre o que cada
um sabe e faz no plano do ensino. Há uma espessura pedagógica nestes
debates, a procura de modos diferentes de ensinar e a inscrição da relação
entre professores e alunos como o centro da vida universitária. Infelizmente,
nas décadas seguintes, pouco se alterará nas dinâmicas de ensino e na
pedagogia universitária. As instituições cresceram a um ritmo nunca visto,
mas continuando a pensar os seus programas de ensino da mesma maneira,
como se a “massificação” não trouxesse transformações profundas nas relações
entre professores e estudantes.
De nada serve repetir a dicotomia entre “quantidade” e “qualidade”, como se a
expansão do ensino superior arrastasse, inevitavelmente, uma diminuição da
sua qualidade. Mais útil teria sido aprofundar uma reflexão sobre as condições
do ensino e os temas pedagógicos, bem como sobre o trabalho dos professores
universitários, que, infelizmente, quase nunca foi levada a cabo.
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
Drew Faust tem razão. Muitas vezes há um imaginário que liga as world-
-class universities ou research universities ou mesmo world-class research
universities (Altbach & Samil, 2011) à investigação e à ciência. E bem. Mas
as grandes universidades distinguem-se pela atenção ao ensino, pela forma
como valorizam a pedagogia e o trabalho docente. É isso que as torna únicas.
Vou buscar inspiração ao ensaio de Bernard-Henri Lévy, Ce virus qui rend fou
(2020). De entre as diversas formas de loucura, o filósofo francês menciona
os “oportunismos”, uma espécie de febre interpretativa que procura impor,
a pretexto da Covid-19, ideias que, na verdade, há muito eram defendidas.
2 Há uma literatura relativamente abundante publicada nos últimos anos. Ver, sobretudo em
francês, as referências bibliográficas do dossier “pedagogia universitária”, na Revue Internationale
d’Éducation (n.º 80, 2019, pp. 135-148). Ver também Reema Harrison, Lois Meyer, Patrick Rawstorne,
Husna Razee, Upma Chitkara, Steven Mears e Chinthaka Balasooriya, “Evaluating and enhancing quality
in higher education teaching practice: a meta-review”, 2020 (doi: 10.1080/03075079.2020.1730315).
Ver ainda os últimos números da revista Teaching in higher education – Critical perspectives.
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(ii) Uma das tendências mais insensatas das últimas décadas é a busca de
uma medida universal para avaliar as universidades. Comparar pela mesma
bitola as universidades de Harvard e de Lisboa é um disparate, e alargar este
exercício às 20.000 instituições do ensino superior no mundo é um disparate
ainda maior. As universidades são diferentes umas das outras e não podem
ser avaliadas todas por igual.
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Nada será feito sem a dedicação dos professores, sem dar centralidade à missão
docente na organização do trabalho universitário e da carreira académica,
sem a compreensão de que se pode aprender a ensinar.
O mais importante é a criação de novos ambientes educativos, muito diferentes
daqueles que, ainda hoje, predominam nas universidades. O ambiente não se
define apenas numa dimensão espacial, mas também em dimensões temporais
e relacionais. No ambiente dos anfiteatros é fácil “dar uma aula”, mas é difícil,
ou mesmo impossível, estudar em grupo ou realizar actividades de pesquisa.
A criação destes ambientes é o caminho necessário para valorizar o estudo,
a conversa informada, a partilha, a experiência de pesquisa, a descoberta, a
co-construção do conhecimento, numa palavra, para valorizar a pedagogia
universitária. Para isso, há cinco gestos que me parecem fundamentais: a
transmissão, a participação, a investigação, a convergência e a cidade.
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
4 Curta-metragem de Clément Gonzalez (Collectif 109) que pode ser vista em https://vimeo.
com/57814889.
5 Cf. meded.hms.harvard.edu/pathways.
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
1.ª “Nós, professores, aprendemos tanto com os nossos estudantes como eles
aprendem connosco” – com esta frase breve, ilustra-se de maneira notável
o princípio do encontro6;
2.ª “Cada ano temos 165 vagas para estudantes e, para cada um deles, apresentamos
165 diferentes percursos” – a individualização dos percursos, de acordo com
os projectos de cada estudante, explica bem o sentido da participação7;
3.ª “Os nossos estudantes aprendem mais uns com os outros do que aprendem
connosco, os seus professores” – através desta afirmação ilustra-se a importância
da cooperação e da colaboração, do colectivo, na formação de cada um8.
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O relatório do MIT é sobre a investigação, mas esta deve ser também a base
da educação de todos os estudantes. A questão não se prende apenas com
a organização dos saberes, mas também com a sua mobilização do ponto
de vista pedagógico. A perspectiva de agrupar os estudos universitários em
torno de grandes temas e problemas, a partir, por exemplo, dos Objectivos do
Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030), merece ser considerada. Por
esta via, a convergência pode ser um eixo estruturante, não só da investigação,
mas também da educação superior.
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
É preciso compreender que o ensino não tem lugar apenas “dentro de portas”,
e estende-se por toda a cidade.
A educação superior faz-se no conjunto dos espaços profissionais e sociais.
No que diz respeito às profissões, todos compreendemos a impossibilidade
de formar um médico ou um professor sem uma forte presença em hospitais
ou em escolas. Mas é preciso, também, referir a necessidade de contactar
e conhecer as populações e as diferentes realidades culturais e sociais. O
princípio da capilaridade educativa aplica-se também ao ensino universitário.
Há quase 50 anos, em 1972, a UNESCO publicou um importante relatório sobre
o futuro da educação, coordenado por Edgar Faure (1972), com o título Aprender
a Ser. Esta reflexão prospectiva combina as ideias de educação permanente
e de “cidade educativa”. Se é verdade que o conceito de uma “educação ao
longo da vida” se tornou muito popular, já o princípio de uma “educação que
se faz em todos os espaços da vida humana” ficou por cumprir.
Hoje, um dos grandes desafios da universidade é compreender a importância da
cidade do ponto de vista da formação, aproveitando todas as oportunidades que
nela existem para a educação dos seus estudantes. É neste “entrelaçamento”
que se definem muitas das possibilidades da univercidade. A transição digital
torna ainda mais nítida a possibilidade de investir educativamente numa
pluralidade de espaços e de lugares. Mas a “pedagogia da cidade” vai muito
para além dos debates tecnológicos e digitais.
CONCLUINDO
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
que diz respeito ao ensino. Há algum tempo que grandes empresas, ligadas
aos gigantes do digital, se preparam para esta mudança.
Por outro lado, esta tendência pode conduzir as grandes universidades mundiais
a decidirem avançar para campi virtuais, em todo o mundo, permitindo a
muitos estudantes obterem diplomas de Harvard ou do MIT sem nunca saírem
dos seus países. Esta possibilidade vem sendo discutida há vários anos e
pode ser precipitada pela crise pandémica e pela diminuição dos “estudantes
internacionais” que são vitais para a sustentabilidade destas universidades.
Estamos num tempo de viragem, com grandes riscos. No momento histórico
que vivemos, exacerbado pela crise, as duas grandes tendências que atra-
vessaram as universidades nas últimas décadas – o aumento exponencial do
número de estudantes e o crescimento de uma “indústria global” do ensino
superior (Marginson, 2018) – podem encontrar-se em soluções desastrosas
para o futuro das universidades.
A universidade inteiramente digital, se vier a existir, será tudo menos universidade.
Não há encontro sem face a face, sem presença, sem corpo, sem emoção.
Isto dito, ninguém pode negar que os meios digitais podem ser instrumentos
fantásticos para cumprir cada um dos cinco gestos apresentados neste texto.
A questão não é o digital, mas a forma como se enquadra numa concepção
de universidade e de pedagogia universitária. O ponto principal deste texto
foi a defesa de uma pedagogia do encontro, na pluralidade das acepções
deste conceito. Para isso, é necessário construir novos ambientes educativos,
dentro das universidades, muito diferentes dos ambientes tradicionais da sala
de aula ou do anfiteatro.
A metáfora do ambiente permite pensar as transformações dentro e fora das
universidades. Permite também chamar a atenção para a necessidade de
“ambientes” que sejam favoráveis e estimulantes para os diversos percursos
dos estudantes, mas também para a realização pessoal e académica dos
professores. Hoje, um dos problemas graves das universidades é a falta de
renovação geracional e, mesmo, um certo desinteresse dos mais jovens pelas
carreiras universitárias, que muitos consideram pouco estimulantes e motivadoras.
A universidade é um espaço de liberdade e de pensamento crítico. Valorizar a
pedagogia universitária implica não só “saber e ensinar bem”, mas ser capaz
de reflectir sobre este “saber” e sobre este “ensinar”.
Escrevo este texto em Agosto de 2020. Nada voltará ao “normal”. E, com
excepção das questões de saúde pública, é desejável que não regressemos a
uma normalidade muito problemática no caso das universidades. A mudança
era necessária. Agora, é urgente. É inútil tentar prever o futuro. Mas é possível
imaginar alguns cenários e dar passos concretos numa destas direcções.
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
45
PEDAGOGIA D O ENCONTRO
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PEDAGOGIA D O ENCONTRO
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DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL DOCENTE
NO ENSINO SUPERIOR:
ANATOMIA DE UM CONCEITO
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DES ENVO LVIMENTO P R O FISSIONAL D OCENTE NO ENSINO SUPERIOR: ANATOM IA D E UM CONCEITO
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DES ENVO LVIMENTO P R O FISSIONAL D OCENTE NO ENSINO SUPERIOR: ANATOM IA D E UM CONCEITO
Quanto ao primeiro nível, do uso das tecnologias pelos docentes, mesmo que
sejam revelados elevados níveis de proficiência técnica no uso de diversas
ferramentas pelos docentes, a verdade é que a tecnologia não resolve esta
clivagem entre paradigma instrucional e paradigma da aprendizagem. Como
expressam Nóvoa e Amante (2015), as tecnologias “são objectos ‘inteligentes’,
que não entraram na universidade para concretizar ou enriquecer uma prática
pedagógica preexistente, como aconteceu com muitos outros objectos no
passado” (p. 24). Pelo contrário, a s tecnologias vieram alterar a relação dos
estudantes (e dos professores) com o conhecimento, acentuando a impos-
sibilidade de manter os padrões de ensino tradicionais (Cunha, 2016), o que
nos remete para a reflexão em torno do lugar da pedagogia do ensino superior
(PES) enquanto corpus de conhecimento necessário para o exercício da
profissão no ensino superior.
O lado mais oculto, posto em evidência durante a pandemia, o da dimensão
pedagógica, veio emergindo com a expressão de preocupações de docentes
com afiliações institucionais diversas que fomos testemunhando em diferentes
contextos, e que ultrapassam em muito a diligência no uso de plataformas e
outras ferramentas tecnológicas.
Entre outras, fomos tomando nota de apreensões várias, por exemplo, inerentes
aos processos de avaliação, que surgiram com a roupagem da apreensão
relativamente à avaliação a distância, mas que indiciaram uma forte depen-
dência do tradicional teste como instrumento de avaliação. Outro exemplo, foi
a aparente proliferação de aulas transmitidas sincronamente para centenas de
alunos, sem rosto e sem voz, (des)ligados em frente a um ecrã, replicando as
tradicionais aulas magistrais, quando não deram origem a horas de monólogos
gravados. Estes ambientes, com que nos fomos deparando, ilustram claramente
cenários marcados pela impossibilidade de interação com os alunos, aspeto
que nos parece incontornável no processo de ensinar e aprender no ensino
superior (Nóvoa & Amante, 2015).
Os casos enunciados, conquanto não sejam provenientes de estudos extensivos,
indiciam uma forte presença de práticas tradicionais, que cremos não serem
a exceção no contexto do ensino superior. Parece, pois, estarmos ainda longe
do paradigma da aprendizagem preconizado desde há muito, agudizando
a necessidade “de (re)pensar a forma de ensinar, de aprender e de avaliar,
mormente no contexto do Ensino Superior” (Flores et al., 2021).
Decorrente do contexto de tensões, dilemas que marcam a atuação do docente
no ensino superior, e convictos de que os professores devem estar envolvidos
em dinâmicas promotoras de desenvolvimento profissional ao longo da sua
vida académica, que lhes permita responder de forma critica e sustentada aos
constantes desafios da profissão, propomo-nos ocupar as próximas páginas,
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL,
UM PROCESSO DE APRENDIZAGEM PERMANENTE
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2 Vertical - mudança para cima ou para baixo nos níveis da organização (relacionado com
aumentos e promoções). Contudo, nem todos chegam ao topo. As organizações variam no
número de oportunidades de subida e definem critérios e sistemas de avaliação.
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APONTAMENTOS FINAIS
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2016; Esteves, 2016; Imbernón, 2011; Nóvoa & Amante, 2015). Como sustentam
Nóvoa e Amante (2015)
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO
SOBRE ENSINO SUPERIOR:
O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE
COMO OBJETO DE ESTUDO
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
O conjunto de oito eixos temáticos que temos estado a considerar já havia sido
proposto pelo mesmo autor anteriormente com base numa análise e sistema-
tização de revistas e livros científicos que haviam publicado pesquisas sobre
ensino superior (Tigh, 2003). Trata-se, portanto, de um quadro de referência
para cartografar pesquisas sobre ensino superior que já foi longamente refletido,
pelo que se justifica a sua utilização. Aliás, este quadro de referência apresenta
convergências significativas com os seis subtemas principais identificados
na rede europeia de investigação sobre ensino superior1, uma das maiores
redes da EERA (European Educational Research Association) no que respeita
a número de pesquisas e investigadores envolvidos.
De facto, a consideração das pesquisas apresentadas nas conferências anuais
ECER (European Conference on Educational Research) organizadas pela EERA
ao longo dos anos estão na origem da identificação de subtemas como seja
ensino, aprendizagem e avaliação, o qual se sobrepõe a ensino e aprendiza-
gem; transições dos estudantes e inserção profissional de diplomados que
pode corresponder a experiência estudantil, pois Tigh (2019, p. 66) indica
“transition to work (or, increasingly, further study) is a critical part of student
experience”; políticas, gestão e governação que podem ser abrangidas pelos
eixos políticas e gestão institucional; trabalho académico e desenvolvimento
profissional que quase coincide totalmente com trabalho académico; enquanto
inclusão e diversidade e internacionalização constituem interesses de pes-
quisa eventualmente transversais a outros subtemas mas não diretamente
correspondente a nenhum dos restantes identificados pelo autor.
Constata-se, então, que também neste conjunto de subtemas, tal como nos
eixos temáticos identificados por Tigh (2019), o trabalho docente não parece
constituir um objeto de estudo em destaque. Porém, o aprofundamento do
conhecimento e compreensão sobre o mesmo pode decorrer de pesquisas
desenvolvidas sobre ensino e aprendizagem e sobre trabalho académico.
Em suma, no quadro desta panorâmica internacional, o conhecimento sobre
trabalho docente decorrente da investigação em educação parece articular-se,
sobretudo, com questões relativas ao ensino-aprendizagem e ao desenho
curricular que constituem dois dos eixos temáticos mais explorados no campo
de pesquisas sobre o ensino superior. Tal significa que o trabalho docente
parece tender a ser perspetivado a partir dos seus efeitos na aprendizagem
dos alunos, o que é consentâneo com as orientações políticas que têm vindo
a ser predominantes após a implementação do Processo de Bolonha.
1 Informação sobre a “Network 22 - Research into Higher Education” disponível em: 22. Research
in Higher Education | EERA (eera-ecer.de) (acesso em maio de 2020).
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
investigação, sendo que estes dois últimos têm pouca e nenhuma expres-
são, respetivamente, no caso das teses de doutoramento apresentadas em
universidades portuguesas em 2018. Importa, contudo, destacar que também
neste âmbito as pesquisas sobre ensino e aprendizagem parecem ser pre-
dominantes, sendo expectável que contribuam para o conhecimento sobre
trabalho docente no ensino superior.
Considerando o conjunto de teses de doutoramento sobre ensino e aprendi-
zagem complementadas com as que se enquadram no eixo temático desenho
curricular, assinala-se um interesse significativo em cerca de 1/3 pela análise
de questões relativas à introdução de tecnologias de informação e comuni-
cação no ensino superior. Tendo em conta as sete teses de doutoramento
sobre trabalho académico, constata-se que as temáticas mais exploradas
se articulam com a formação e desempenho pedagógicos dos professores
do ensino superior, por vezes incidindo especificamente também sobre a
utilização de tecnologias no ensino. Ou seja, neste âmbito o foco primordial
deste pequeno conjunto de teses parece ser mesmo o trabalho docente, e
não as atividades de investigação ou questões identitárias dos académicos
tal como é apontado pelas perspetivas internacionais.
Em suma, no quadro das teses de doutoramento concluídas em 2018 em
Portugal, pode supor-se que o aprofundamento do conhecimento sobre
trabalho docente decorrerá, primordialmente, da exploração de temáticas
centradas no ensino-aprendizagem e na introdução de tecnologias em educação.
Assinale-se, todavia, que o número de teses enquadráveis no eixo temático
trabalho académico é reduzido, ainda que se centrem, primordialmente, em
aspetos referentes à docência no ensino superior.
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CONCLUSÃO
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
REFERÊNCIAS
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Tigh, M. (2019). Higher Education Research - the developing field. London &
New York: Bloomsbury Academic.
81
CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
ANEXOS
ANEXO 1
PROJETOS DE INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR FINANCIADOS PELA FCT*
Programa de
aprendizagem
Aplicação informática
Médicos dotados de
pensamento científico
82
CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
* Foram considerados os concursos dirigidos a Todos os Domínios Científicos em 2010, 2012, 2014, 2017 no quadro
dos quais tenham sido financiados projetos na área de Educação/Ciências de Educação que remetam para temáticas
no âmbito do ensino superior no respetivo título.
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
ANEXO 2
LINHAS / GRUPOS / ÁREAS E PROJETOS / REDES SOBRE ENSINO SUPERIOR EM CURSO EM 2020
PROJETOS/REDES DE INVESTIGAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO DO CENTRO GRUPOS/LINHAS SOBRE ENSINO SUPERIOR**
DE INVESTIGAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO (TÍTULO, INVESTIGADOR RESPONSÁVEL,
DATAS, FINANCIAMENTO***)
Op.Edu: Observatório de
Políticas de Educação,
Formação e Ciência
PISA/Regulação e
Transnacionalização das
Políticas de Educação
Sociomuseologia
84
CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
Educação e Formação
Produção e tecnologia
alimentar
Comportamento alimentar
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CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
Melhorando a Aprendizagem na
Universidade através da Gamificação,
Fernando Costa, 2018-2021, FCT
* Foram considerados os centros aprovados para financiamento na Avaliação de Unidades de I&D 2017/18.
*** Quando não é mencionada a fonte de financiamento externa assume-se que o projeto/rede é apoiado pelo próprio
centro de investigação.
88
CARTOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO SOBRE ENSINO SUPERIOR: O LUGAR DO TRABALHO DOCENTE COMO OBJETO DE ESTUDO
ANEXO 3
ENDEREÇOS DE 31 PUBLICAÇÕES DO IE-ULISBOA SOBRE ENSINO SUPERIOR
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/42274
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/40010
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/38763
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/41304
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/41304
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/41766
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/42213
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/38194
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/32325
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/35242
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/35272
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/35273
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/34817
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https://repositorio.ul.pt/handle/10451/27569
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https://repositorio.ul.pt/handle/10451/32110
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/23632
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/27127
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https://repositorio.ul.pt/handle/10451/25077
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A COMPREENSÃO DOS
HORIZONTES DE ENSINO
NO ENSINO SUPERIOR
Ronald Barnett
Emeritus Professor of Higher Education
University College London, Institute of Education,
United Kigdom
Carolina Guzmán-Valenzuela
Associate Professor
Faculty of Education and Humanities,
Universidad de Tarapacá, Chile
Ronald Barnett
Emeritus Professor of Higher Education
University College London, Institute of Education, United Kingdom
Carolina Guzmán-Valenzuela
Associate Professor
Faculty of Education and Humanities, Universidad de Tarapacá, Chile
1 Este texto foi originalmente publicado como artigo: Barnett, R., & Guzmán-Valenzuela, C. (2017).
Sighting horizons of teaching in higher education. Higher Education, 73, 113-126. doi: 10.1007/
s10734-016-0003-2. A autorização (no. 5025970568773 de 11 março de 2021) para reprodução
e tradução do artigo são financiadas por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a
Ciência e a Tecnologia, IP, no âmbito da UIDEF - Unidade de Investigação e Desenvolvimento
em Educação e Formação, Referência UIDB/04107/2020.
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algo que, por seu turno, permite o aparecimento de novas conceções pessoais
sobre o ensino e práticas pedgagógicas.
Ainda que sejam processos cognitivos, tanto os valores como as crenças
adquirem dimensões não-racionais e afetivas, sendo que estas dimensões não
fundamentadas vão também modificar as abordagens de ensino e as práticas
pedagógicas. Não obstante pertencerem a uma esfera mais privada e íntima
(Trowler & Cooper, 2002) e de não serem facilmente objeto de investigação,
os valores e crenças são, no entanto, uma componente importante da prática
pedagógica, atribuindo-lhe significado, sustentando-a e orientando-a.
Sugerimos que os horizontes de ensino estão subjacentes a todos estes
elementos - conceções, valores, crenças, abordagens e práticas - e que estes
horizontes interagem com outros elementos no tempo e no espaço. O conceito
de horizontes existe há muito tempo na fenomenologia e na hermenêutica,
evidente na obra de Nietzsche, Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty, por
exemplo. O defensor mais recente deste conceito foi Hans-Georg Gadamer,
para quem a ideia de horizontes desempenhava um papel importante em
hermenêutica. Para Gadamer, “o horizonte não constitui uma fronteira rígida,
sendo antes algo que se move e convida a avançar” (Gadamer, 1989, p. 245).
Estes elementos de flexibilidade e de temporalidade são, em nosso entender,
fulcrais na ideia de horizontes que pretendemos desenvolver neste artigo.
Apesar de os horizontes de ensino estarem dependentes do presente (aquilo
que se ensina aqui e agora), encontram-se ancorados no passado (através da
aprendizagem, experiência e valores adquiridos) sendo, no entanto, direcionados
para o futuro. O conceito de horizontes de ensino aponta para um momentum
futuro, com esperanças (e até mesmo ansiedades) perspetivadas pela antevisão
de possibilidades futuras. Também o espaço entra nesta equação na medida
em que estes horizontes de ensino, na sua abrangência, podem ser de natureza
local, nacional ou global, sendo possível que todos estes horizontes espaciais
ajam simultaneamente (por exemplo, quando os estudantes numa aula global
são oriundos de continentes diferentes mas são incentivados a participar em
projetos que se centram em questões de natureza local).
Depreende-se, assim, que todos os três momentos de ensino a que a literatura
prestou especial atenção - conceções, abordagens e práticas - têm uma
componente comum que reside, pelo menos parcialmente, na sua natureza
de horizontes. Os horizontes estão subjacentes às conceções, abordagens e
práticas, modificam-nas e emprestam-lhes cor e vivacidade. Mas esta não é
uma relação autocrática - aspeto que será interessante desenvolver - porque
os horizontes podem ser modificados por experiências pedagógicas reais e
conceções de ensino em mutação.
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ESTRUTURAS E COGNIÇÕES
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HORIZONTES DE ENSINO:
CONJUNTO DE MULTIPLICIDADES
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A análise empreendida até este momento levanta questões incómodas. Até que
ponto é que os horizontes constituem um aspeto consciente do equipamento
cognitivo e dos valores de cada professor? Ou ainda, até que ponto se limitam
esses valores a existir, agindo como axiomas tomados como garantidos da sua
atividade profissional, constituindo de facto o mundo hipotético do próprio
professor? (Sabri, 2010). De forma mais direta, até que ponto podemos avançar
a sugestão plausível de que os horizontes existem pela ação de profundas
estruturas sociais (possivelmente globais) no local em que o ensino a nível
superior ocupa no mundo contemporâneo e até que ponto podemos afirmar
que os professores ainda podem expressar a sua própria agência?
Questões desta natureza apontam para a existência de vários tipos de horizontes
situados numa escala hierárquica de relações mútuas, podendo identificar-se
quatro tipos.
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HORIZONTES INTERPESSOAIS
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CONCLUSÕES
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FICHA TÉCNICA
TÍTULO
Pedagogia no Ensino Superior:
A (in)visibilidade do trabalho docente
COORDENADORA
Mariana Gaio Alves
PREFÁCIO
Jorge Ramos do Ó
COLEÇÃO
Forças de Mudança em Educação
EDIÇÃO
© Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal
www.ie.ulisboa.pt
ISBN
978-989-8753-63-2