Da Sensibilidade Moral em David Hume: O Papel Das Paixões Na Fundamentação Moral Antonio Adilson Venâncio
Da Sensibilidade Moral em David Hume: O Papel Das Paixões Na Fundamentação Moral Antonio Adilson Venâncio
Da Sensibilidade Moral em David Hume: O Papel Das Paixões Na Fundamentação Moral Antonio Adilson Venâncio
Resumo: O presente trabalho procura analisar o papel das paixões na fundamentação da moral em
David Hume, especialmente, na obra “Tratado da Natureza Humana”, Livros II e III. Evidencia-se o
caráter prático e a influência da paixão no que tange a motivação e o impulso para a ação, conciliando-
se com a razão, uma vez que esta tem a função de deliberar sobre o verdadeiro e o falso. Com isso, o
fim último é dado pela paixão a qual se aproxima da moral pelo sentido útil e benevolente da ação.
Palavras-chave: sensibilidade moral, paixão, razão, motivação, prática.
Palavras-chave: Hume, sensibilidade, moral.
Introdução
*
Aluno especial do Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Pelotas –
email: adilsonvenancio@gmail.com.
1 HUME, 2004, p. 227. Algumas coisas são boas naturalmente e independem do conceito e da abstração
para se firmarem.
O objetivo do trabalho é evidenciar o papel das paixões na
fundamentação da moral. E, para isso, pretende-se discorrer sobre algumas
citações do Livro II e do Livro III, sem a pretensão de esgotar a problemática,
mas iniciar nos estudo do autor, suscitar questões a partir desses aspectos
peculiares e polêmicos de sua obra.
1 - A relevância do tema
4 Cf. HUME, 2004, p. 226-228. Nota-se que nestas passagens (Investigação Sobre o Conhecimento
Humano e os Princípios da Moral) David Hume comenta sobre as perspectivas da tradição filosófica dos
Racionalistas, Metafísicos e A-racionais sobre as questões da razão ou do sentimento como fundamento
da moral. No entanto, após considerar tais posições, conclui que: “(...) razão e sentimento colaboram em
quase todas as decisões e conclusões morais.” Nesta obra Hume não fala propriamente em paixão, mas
em sentimento e razão. O sentimento teria o mesmo significado de paixão ou seria substituída por
expressar melhor seu posicionamento?
As paixões são aquilo que representa o conjunto dos impulsos mais
importantes e decisivos na vida humana. Pois é delas que parte a motivação
primeira e última fundamental da ação.
(...), toda cadeia de razões no raciocínio dos meios para os fins é finita e tem
como seu ponto de término um fim concludente (ou último), que é um objetivo
ou propósito de uma ou mais das paixões, como Hume as designa. Suponho que
uma razão em tal cadeia de razões é uma asserção (e desse modo verdadeira ou
falsa) que diz que (fazer) algo é meio (eficaz) para algo que se deseja. (RAWLS,
2005, p. 39).
5 Ver também: AYER, 2003, p. 119. “A razão controla a paixão, na medida em que ela pode ser usada
para descobrir que uma paixão se baseia em uma falsa avaliação, (...)”
6Ver também: HUME, 2004, p. 225-229. O autor evidencia os argumentos sobre os “fundamentos gerais
3 - Sensibilidade moral
8 Cf. HUME, 2009, p. 495 – “Entretanto, ainda tenho a esperança de que o presente sistema filosófico
ganhará nova força conforme vai avançando; e que nosso raciocínio a respeito da moral irão corroborar
o que foi dito a respeito do entendimento e das paixões. A moral é um tema que nos interessa mais que
qualquer outro.”
Não se delibera sobre determinado fim porque o fim é o sentido, mas
sim sobre os meios, sobre o que traz prazer e é virtuoso 9 . Pode-se dizer que
David Hume não se preocupa com questões de normatividade no sentido
estrito de princípios, de dever, de fundamentação, de obrigação, de
responsabilidade, mas sim, com questões de fato.
O autor reduz as questões morais das práticas do dia-a-dia a ideias
simples e gerais, onde o que dá prazer é bom e o que causa dor é vicioso. E,
com isso, estrutura as paixões em uma relação complexa a partir das
impressões.
(...) não é de espantar que a ideia de um sentimento ou paixão possa desse modo
ser ativada a ponto de se tornar o próprio sentimento ou paixão. A ideia vívida
de um objeto sempre se aproxima de sua impressão; e certamente podemos
sentir mal-estar e dor pela mera força da imaginação, e até mesmo tornar real
uma doença de tanto pensar nela. (HUME, 2009, p. 353).
9 Cf. AYER, 2003, p. 120. “(...) a escolha dos fins foi posta do lado de fora da esfera da razão.”
10 Cf HUME, 2009, p. 353 – todas as ideias são tiradas de impressões.
11 HUME, 2009, p. 353.
impressões. De acordo com a vivacidade, as impressões após gerarem ideias e,
essas, sendo fortes e vivazes, podem tornar-se impressões de ideias que se
denominam também como impressões de reflexão, onde se localizam as
paixões como um todo. Nas impressões de reflexão existem as paixões 12
calmas e as paixões violentas. As primeiras são sentimentos estáveis e por
vezes podem ser confundidas com a razão e as últimas são fortes,
arrebatadoras e intensas.
Falando de maneira geral, as paixões violentas exercem uma
influência mais poderosa sobre a vontade; mas constatamos frequentemente
que as calmas, quando corroboradas pela reflexão e auxiliadas pela resolução,
são capazes de controlá-las em seus movimentos mais impetuosos. O que
torna tudo isso mais incerto é que uma paixão calma pode facilmente se tornar
violenta, seja por uma mudança no humor da pessoa ou na situação e nas
circunstâncias que envolvem o objeto, seja por extrair força de uma paixão
concomitante, pelo costume, ou por excitar a imaginação. (HUME 2009 p.
473).
As paixões como impressão de reflexão surgem de impressões
originais. As paixões diretas são sensações de desejo e aversão e as indiretas
são o orgulho e a humildade. Pode-se dizer que o orgulho causa prazer e a
humildade dor. O ser humano naturalmente tende a buscar e associar o prazer
ao bom e a dor ao vicioso e, por sua vez, ter desejo e aversão por um e outro.
Aqui, mais uma vez, nota-se que o agir não é movido pela obrigação,
mas porque “sensível” distingue o que é vicio e o que é virtude, sendo a
normatividade condicionada pela reflexão complexa da sensibilidade moral.
Dessa forma, a motivação é sustentada pelos sentimentos, pelas paixões que
são conteúdos concretos da vida moral e não por representação, motivação
13 HUME, 2009, p. 496-497; DICIONÁRIO DE ÉTICA E FILOSOFIA MORA, 2007, p. 754. Hume
questiona os sistemas que afirmam que a virtude está em conformidade com a razão e que impõe uma
obrigação tanto às pessoas quanto às divindades.
14 Ver: RAWLS, 2005, p. 101; DICIONÁRIO DE ÉTICA E FILOSOFIA MORA, 2007, p. 759.
15 Cf.: DICIONÁRIO DE ÉTICA E FILOSOFIA MORA, 2007, p. 762.
16 Ver também: RAWLS, 2005, p.99-102.
Conclusão
Referência bibliográficas: