Astros II 41 Anos Atualizado em Julho 2022a 1
Astros II 41 Anos Atualizado em Julho 2022a 1
Astros II 41 Anos Atualizado em Julho 2022a 1
ARTILHARIA DE FOGUETES
BRASILEIRO AVIBRÁS ASTROS II
1981 - 2022
E seu descendente direto M124 HIMARS com sua
eficiência contra as forças invasoras russas na
Guerra da Ucrânia em Junho/Julho de 2022
aparência e com a capacidade de operar três calibres diferentes de foguetes, SS-30, SS-40 e
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SS-60 já possuindo uma plataforma básica e toda uma família com os lançadores, os
remuniciadores e a diretora de tiro.
Projeto inicial do sistema ASTROS II. (Foto: catálogo Avibrás – coleção autor)
Primeira versão do Astros II (Brucutu), veículo lançador e diretora de tiro. (Fotos: catálogos Avibrás –
coleção autor)
Após os primeiros testes, percebeu-se que era preciso um caminhão com tração 6x6,
mais robusto em relação ao escolhido e a princípio cogitou-se em adquirir no próprio país,
tanto que o escolhido foi uma versão mais robusta do caminhão Engesa, que poderia suportar
a blindagem, mas devido a problemas existentes entre as duas empresas esta opção foi
descartada e passou-se a importar da Alemanha um chassi MERCEDES BENZ civil, 6x6
que continua até hoje sendo o padrão para a produção do ASTROS II, recebendo reforços e
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outras pequenas modificações pela TECTRAN S/A, uma subsidiária da Avibrás, criada em
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O chassi depois de modificado e na linha de produção para Arábia Saudita. (Fotos: Avibrás)
Outro ponto importante foi melhorar a cabine blindada, dando-lhe uma forma mais
robusta e maior. Para isso os técnicos da empresa se basearam na carreta blindada americana
M-26 PACIFIC da segunda guerra mundial, desenvolvida para resgatar carros de combate
avariados na frente de batalha. Após estudarem um único exemplar existente no país, que se
encontrava como peça histórica na então Escola de Material Bélico – EsMB, no Rio de
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Janeiro, e com modificações expressivas puderam enfim criar a nova configuração do veículo
plataforma padrão para as diversas versões que se produziram e continuam produzindo na
atualidade. Basta olhar um e outro e ver a grande semelhança existente, sendo que a do Astros
II não possui a inclinação da M-26, é bem mais em pé e reta
Sua produção seriada iniciou em 1983 e a configuração de uma bateria típica era
composta de seis veículos lançadores múltiplos, seis veículos remuniciadores e uma central
diretora de tiro, inicialmente um Fieldguard suíço e posteriormente uma versão derivada,
produzida pela própria Avibrás.
Uma grande quantidade foi então vendida ao Iraque que os usou com sucesso contra o
Irã entre 1983 a 1988. Posteriormente, já em 1990 quando este invade o Kwait e as Nações
Unidas dão um ultimato para que saia, formando uma grande coalizão de países encabeçados
pelos Estados Unidos, dando início à guerra pela libertação daquele país, a primeira guerra
com data e hora certa para começar, a qual teve apenas cem horas de combates terrestres,
sendo definida pelo poder aéreo, o qual foi responsável pela caça aos sistemas Astros II, visto
que foi o grande temor principalmente por parte dos americanos, tanto que no relatório
“Conduct of the Persian Gulf War – Final Report to Congress”, elaborado pelo
Departamento de Defesa e publicado em abril de 1992, em sua página 835 faz menção às
qualidades da performance do sistema Astros II, num pequeno parágrafo, aliás o único
armamento não americano lá mencionado.
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Capa do catálogo da Avibrás mostrando sua comprovação em combate e barragem de tiro realizada pelo
Exército Iraquiano. (Fotos: coleção autor e Avibrás)
Astros II Iraquiano inutilizado e casulos de lançamentos capturados pelas tropas americanas no Iraque.
(Fotos: Militaryphotos.com)
Folheto lançado pelos americanos no Iraque incitando os soldados Iraquianos a abandonarem suas armas,
pois elas seriam destruídas. Notar dois F-15 atacando um Astros II nesta ilustração. (Foto:
http://www.psywarrior.com)
Outro país que percebeu a capacidade deste sistema foi a Arábia Saudita, tanto que
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adquiriu algumas baterias, ainda em uso e que foram usadas contra as tropas Iraquianas em
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Unidade de Astros II de lançamento de foguetes e unidade diretora de tiro da Arábia Saudita, durante a
operação da coalizão contra o Iraque em 2003. (Fotos: http://kr.img.blog.yahoo.com)
Unidade de Astros II Saudita operando em 2020 no Iêmen e alguns casulos de munições do Astros
capturados pelos rebeldes Houtis neste mesmo ano. Notar os calibres diferentes. (Fotos:
Militaryphotos.com)
de fogo, fundamento principal para desencadear em curto espaço de tempo uma massa capaz
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de bater uma determinada área, causando grandes danos dentro daquele raio de atuação.
Atualmente se encontra operacional no Brasil, Catar, Arábia Saudita, Malásia e Indonésia.
O Exército adquiriu sua primeira unidade no início dos anos de 1990 e até a unificação
de todos os Astros II em uma única unidade, o 6º Grupo de Lançadores Móveis de Foguetes
(6º GLMF) no Campo de Instrução de Formosa (CIF), próximo à capital federal Brasília,
criado em 2003, atual 6º GLMF-CIF, possuía cinco baterias, sendo três de artilharia de costa e
duas de campanha, que estavam assim distribuídas: 6º Grupo de Artilharia de Costa
Motorizado (6º GACosM) em Praia Grande, SP; 8º GACosM, em Niterói, RJ; 1º/10º
GACosM, em Macaé, RJ; 1ª Bateria de Lançadores Múltiplos de Foguetes (1ª Bia LMF)
em Brasília, DF e 3ª Bia LMF em Cruz Alta, RS, que totalizavam vinte veículos lançadores
(LMU), dez municiadores (RMD), duas unidades de controle de fogo (UCF), duas unidades
oficina (OFV) e viaturas meteorológicas (MET).
Em 2009 o governo alemão suspendeu a venda do chassi Mercedes-Benz para a
Avibrás, o que obrigou a empresa a buscar um novo chassi, oriundo da República Checa, do
fabricante Tatra, na versão T-815-7 – 6x6, o que veio dar uma nova configuração ao veículo e
uma melhor desempenho em terrenos acidentados, surgindo assim a versão Mk-5 e que
posteriormente foi desenvolvida a versão Mk-6 – Astros 2020 que possui a capacidade de
lançar um míssil tático com alcance de 300 km que se encontra em desenvolvimento,
obedecendo as limitações impostas pelo MTCR (Missile Technology Control Regime).
O Exército e a Marinha do Brasil (Corpo de Fuzileiros Navais – CFN) adquiriram esta
nova versão do Astros 2020 (Mk-6) em 2011.
Engenheiro João Verdi e Comandante do Exército General Leônidas Pires Gonçalves na solenidade de
entrega dos primeiros Astros II ao Exército Brasileiro e o Astros II em sua primeira configuração na cor
verde-oliva. (Fotos: Avibrás e autor)
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(Foto: Avibrás)
Astros 2020 da Malásia e do Catar, aqui operando junto ao americano HIMARS. (Fotos: Malasian Army
e Militaryphotos.com)
Outra versão que chegou a ser desenvolvida, mas não comercializada, foi apresentada
o Salão de Le Bourget em 1999, na versão 8x8 denominada Astros III que utilizou o chassi
alemão Mercedes-Benz Actros, mas com uma lançadora similar ao modelo II, com maior
capacidade de foguetes, como 84 da versão SS-30, 40 do SS-40, 12 do SS-60 e SS-80, 4 do
SS-150, Fog-MPM e TM e uma quantidade não divulgada do SS-300, mas que não passou da
fase de protótipo.
Vale ressaltar que 2015 Exército Brasileiro decidiu pelo sistema de Controle de Tiro e
Rastreamento Fieldguard 3 Fire Control da empresa alemã Rheinmetall. Esta encomenda está
incluída em um contrato de 2012, que totaliza o valor total, incluindo peças de reposição no
valor de €52 milhões (cerca de R$ 400 milhões). As entregas iniciaram em Maio daquele ano.
O mais curioso de tudo isso é que após as Guerras do Golfo (1991 e 2003)
efetuado pela coalizão liderada pelos Estados Unidos e apoiado principalmente pelo seu
aliado incondicional a Inglaterra, cada um deles desenvolveu a sua versão de um veículo
sobre rodas, montado sobre chassis de caminhão para as mesmas tarefas que o Astros II, dos
quais capturam vários exemplares. Os americanos lançaram o HIMARS (HIghly-Mobile
Artillery Rocket System) e os tem exportados para vários países, e os ingleses divulgaram
um desenho em 2003 do que seria o seu futuro lançador de foguetes LIMAWS (LIghtweight
Mobile Artilery Weapon Systems), previsto para 2006, mas que ficou na fase de protótipo
em 2005, por questões financeiras.
anunciado no Jornal Defense News de 22 de setembro de 2003. (Fotos: Lockheed Martin Missiles e Seção
de periódicos, biblioteca do autor)
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O mais curioso é que nestes cinco meses de guerra na Ucrânia, invadida por forças
russas em 24 de fevereiro de 2022 o descendente direto do Sistema de Artilharia de Saturação
de Área Astros II, desenvolvido nos Estados Unidos e denominado M142 HIMARS que foi
introduzido naquele conflito a favor da Ucrânia, em 8 unidades já operacionais e mais 4 que
estão a caminho, tem se mostrado extremamente eficaz equilibrando a guerra de artilharia que
tem sido um constante naquele conflito e poderíamos estar lá também com o nosso sistema
Astros II, caso tivéssemos um visão geopolítica eficaz por parte do governo brasileiro que tem
preferido ficar em cima do muro, muito embora tenha uma visão equivocada em relação à
Rússia, pois sua demanda em fertilizantes para manter o agronegócio o preocupa, mas não a
ponto de incentivar sua produção localmente, mas isto já outra história. Esta sem dúvida
poderia ter sido uma grande ajuda para a tão propalada Base Industrial de Defesa que não está
nos seu melhor momento e onde ainda temos um produto que em nada fica a dever a seu
congênere americano que tanto assustou suas forças nas Guerras do Golfo de 1991 e 2001.
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Luhansk, Donetsk e Kherson entre 28 de junho até 8 de julho de 2022 a distâncias de 3 a 75 km. (Foto: EU
Political Report de 12 de julho de 2022 e publicado no artigo The Turning Point in the Russia-Ukraine
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War is Coming: Russia Can’t Resist HIMARS on the Battlefield, de autoria de James Wilson)
Em março de 2022, a Avibrás Aeroespacial S/A completou 61 anos, e entrou com um
pedido de Recuperação Judicial, demitindo 420 funcionários de um total de aproximadamente
1500 e possuindo uma dívida de R$570 milhões, o que tem sido amplamente divulgado pela
mídia brasileira.
O que chama a atenção é que esta empresa é na prática a última sobrevivente da Base
Industrial de Defesa cujo ápice se deu nos anos de 1980 a 1990 do século passado e pode
muito bem nos trazer de volta o erro estratégico que foi cometido com o fim das principais
empresas do setor que acabaram falindo e perdendo todos os seus projetos e o conhecimento
técnico acumulado ao longo de décadas e seus importantes contratos no exterior com o seu
caro chefe, o sistema Astros 2020. Será que vamos assistir a isto de novo...
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