Informativo TST 274
Informativo TST 274
Informativo TST 274
Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
Nº 274
Período: 29 de maio a 16 de junho de 2023.
Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento, contém resumos não
oficiais de decisões proferidas pelo Tribunal. A fidelidade dos resumos ao conteúdo efetivo das decisões,
embora seja uma das metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a sua
publicação no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho.
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Recurso ordinário em ação rescisória. Jornada de trabalho 4x4. Previsão em norma
coletiva. Tema 1.046.
O excelso Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema 1.046 da Repercussão
Geral, fixou a seguinte tese: “São constitucionais os acordos e as convenções coletivos
que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou
afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação
especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos
absolutamente indisponíveis”. Havendo previsão constitucional – art. 7°, VI, XIII e XIV –
admitindo a redução de salários e de jornada mediante negociação coletiva, os demais
direitos daí decorrentes, que tenham a mesma natureza, também permitem
flexibilização. Na espécie, as cláusulas do acordo coletivo de trabalho que estipulam
jornada de trabalho de 12 horas, em escalas de 4x4, em turnos ininterruptos de
revezamento, ainda que extrapole a jornada diária e semanal sem a correspondente
compensação, atende aos parâmetros do precedente vinculante do STF, fixados no
ARE 1.121.633. Sob esses fundamentos, a SBDI-II, por unanimidade, conheceu do
recurso ordinário e, no mérito, deu-lhe provimento para julgar procedente a pretensão
rescisória, nos termos do art. 966, V, do CPC/2015, por ofensa ao art. 7°, XIV e XXVI, da
Constituição da República. TST-ROT-230-14.2021.5.17.0000, SBDI-II, rel. Min. Amaury
Rodrigues Pinto Junior, julgado em 13/6/2023.
TURMAS
Transcrição de ementas selecionadas nas sessões de julgamento das Turmas do TST.
“[...] III – RECURSO DE REVISTA. REGIDO PELA LEI 13.015/2014. EXECUÇÃO. BEM DE
FAMÍLIA. PROTEÇÃO AO DIREITO À MORADIA. IMPENHORABILIDADE.
TRANSCENDÊNCIA SOCIAL RECONHECIDA. 1. A impenhorabilidade do bem de família
(art. 1º da Lei 8.009/1990), cujo fundamento radica na dignidade da pessoa humana do
executado e na proteção do direito à moradia (CF, arts. 1º, III, e 6º), tem como objeto o
imóvel do devedor, indispensável à sua sobrevivência e de sua família. 2. No presente
caso, não se discute se o imóvel é o único de propriedade do Executado, mas, sim, se
ele residia no imóvel. O Tribunal Regional, reformando a sentença, determinou a
penhora sobre o imóvel do executado, ao fundamento de que não restou comprovado
que ele residia na propriedade, em razão das tentativas frustradas de os oficiais de
justiça em cumprirem o mandado. A leitura do acórdão regional revela que o
executado encontrava-se em viagem internacional, sem data de retorno (conforme
relatado pelo oficial de justiça que foi contactado pela advogada do executado), e que
o imóvel não estava ocupado por outra pessoa e/ou família. A Corte de origem
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concluiu que não ficou cabalmente comprovada a residência no imóvel, tendo em vista
que as taxas condominiais, bem como as contas de água e esgoto e de consumo de
gás, não são suficientes para provar a moradia do executado no imóvel objeto da
penhora. Consignou que apenas contas de energia elétrica, televisão/internet por
assinatura, telefone, seriam suficientes para comprovar a residência. Consta do
acórdão regional, contudo, a transcrição da sentença na qual está registrado que do
conjunto probatório (certidões negativa e positiva de bens e taxas condominiais)
restou comprovado que o imóvel constrito é bem de família, enquadrando-se na
proteção legal. 3. Em razão da natureza sensível de que trata o bem de família, não
parece razoável que o Tribunal Regional tenha sopesado de forma distinta provas de
naturezas similares para concluir que conta de energia elétrica é prova suficiente para
comprovar a residência, mas conta de água e esgoto e de consumo de gás não o é.
Ainda, o só fato de o empregado encontrar-se no exterior por tempo prolongado não
é suficiente para afastar a proteção de que dispõe o bem de família, sobretudo
quando emerge dos autos que o imóvel não estava ocupado. Nesse cenário, resta
divisada a violação do artigo 5º, XXII, da Constituição Federal. Recurso de revista
conhecido e provido.” (TST-RR-77300-69.2000.5.04.0303, 5ª Turma, rel. Min. Douglas
Alencar Rodrigues, julgado em 7/6/2023)
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“[...] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMANTE. LEI Nº 13.467/2017.
DISPENSA POR JUSTA CAUSA. NULIDADE. MANIFESTAÇÃO DA EMPREGADA EM REDE
SOCIAL. NÃO COMPROVAÇÃO DA FALTA GRAVE. NECESSIDADE DE PONDERAÇÃO DAS
CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS DO CASO CONCRETO E GRADAÇÃO DAS PENAS.
REINTEGRAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA ECONÔMICA RECONHECIDA. A resolução
contratual é a hipótese de extinção do vínculo de emprego em que um dos
contratantes, em virtude do cometimento de falta grave pela parte adversa, decide pôr
fim ao contrato de trabalho. No que tange, especificamente, à resolução por falta
grave do empregado, o artigo 482 da CLT elenca os tipos de infrações por ele
cometidas que poderão dar ensejo a tal modalidade de extinção contratual. Em sua
alínea “k”, o dispositivo mencionado dispõe que constitui justa causa para rescisão do
contrato de trabalho pelo empregador o cometimento pelo empregado de ‘ato lesivo
da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e
superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem’.
Outrossim, é cediço que para efetivação do exercício disciplinar do empregador e
consequente aplicação da justa causa no contrato de trabalho, além da tipicidade da
conduta (requisito objetivo), deverão ser levados em conta alguns outros requisitos
(de ordem subjetiva ou circunstancial) para aferição da validade da penalidade
imposta, estando entre eles, o dolo ou culpa do empregado; o nexo existente entre a
falta e a penalidade; a adequação e proporcionalidade desta; gradação da pena; bem
como a ausência de perdão tácito ou expresso do empregador. Logo, não basta a
tipicidade da conduta para que o exercício do poder disciplinar do empregador seja
considerado regular e responsável. Deverão ser atendidos outros requisitos, a
exemplo dos demais aqui apresentados, sempre com o cuidado e observância das
peculiaridades impostas ao caso. Na hipótese, é incontroverso o fato de que a
reclamante publicou em seu perfil nas redes sociais a seguinte frase: ‘Escrava na
empresa Correios’. Sabe-se que a liberdade de expressão é preceito fundamental
assegurado a todos os indivíduos, que encontra guarida na Constituição Federal,
especialmente, no seu artigo 5º, IV. Não obstante, como qualquer garantia
constitucional, o seu exercício possui limites que devem ser observados, de modo que
a livre manifestação do pensamento ou opinião nunca poderá se sobrepor à esfera
jurídica de outrem, sob pena de configuração do uso abusivo de tal liberdade. Essa
afirmação ganha contornos ainda mais delicados nos dias atuais, tendo em vista o
alcance disponibilizado pela internet e a visibilidade fornecida pelas denominadas
‘redes sociais’, as quais permitem a disseminação de mensagens em velocidade e
extensão nunca antes imaginadas. Assim, a utilização de tais meios pelo empregado,
inclusive em contexto externo ao seu ambiente laboral, requer o cuidado de
observância do dever de preservação de imagem da empresa, obrigação inerente a
todo o contrato de trabalho, como forma de garantir a inviolabilidade da norma
prevista no artigo 5º, X, da CF/88. A publicação realizada pela empregada, por óbvio,
extrapola os limites da razoabilidade. Embora se trate de expressão utilizada
comumente pela população para indicar, de forma jocosa, o labor em jornada mais
extensa, deve ser devidamente repudiada, por fazer alusão e pretensamente
normalizar um dos crimes mais bárbaros cometidos contra a humanidade que,
infelizmente, até hoje encontra espaço em nossa sociedade, como noticiado
corriqueiramente pelos veículos de comunicação. É necessário advertir, portanto, que
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não se compactua com a atitude dispensada pela obreira. Contudo, de modo objetivo,
tem-se que a referida conduta, por si só, não serve como justo motivo para o término
do contrato de trabalho, uma vez que, ao contrário do disposto no acórdão regional,
não possui o condão de ofender a honra e imagem da ré em gravidade se permita a
aplicação direta da pena máxima à empregada, considerando o já mencionado sentido
coloquial emprestado à expressão, que afasta, inclusive, a subsunção exata à
proibição prevista em norma interna da empresa. Ou seja, embora se trate de ato
reprovável, não se reveste da gravidade necessária à configuração da justa causa,
esclarecendo-se que deveria a empresa se utilizar da gradação das penalidades para,
só assim, imputar à empregada a maior punição prevista na relação de emprego.
Inobservado tal procedimento, torna-se inválida a dispensa realizada. Recurso de
revista conhecido e provido.” (TST-RR-1000864-41.2018.5.02.0444, 7ª Turma, rel. Min.
Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 14/6/2023)
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