Documento Introdutório Da Unidade Curricular
Documento Introdutório Da Unidade Curricular
Documento Introdutório Da Unidade Curricular
Documento introdutório
Esta unidade curricular tem por objetivo oferecer uma perspetiva genérica sobre a
Idade Média no âmbito territorial do reino português, orientando-se pelos seguintes vetores:
1. os momentos chave da história política e a génese e desenvolvimento das instituições
(a coroa, os concelhos, os senhorios);
2. a evolução das estruturas económicas e sociais do reino;
3. os quadros mentais e culturais da medievalidade portuguesa.
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Neste momento é pacífico que a história política é integrável e valorizável.
A formulação do programa em termos de momentos chave, estruturas e quadros,
não pretende escamotear a existência de uma história das guerras e alianças contra os
muçulmanos e contra os reinos peninsulares, dos acordos matrimoniais, dos milagres,
das paixões e dos vícios que os cronistas consubstanciaram em rainhas santas, amantes
extremadas e esposas aleivosas. E não é apenas a história política e alguma petite
histoire que se encontra ausente. Muitas dimensões do passado medieval são omitidas e
podem (devem!) ser (re)visitadas pelos estudantes, de motu próprio, numa das várias
Histórias de Portugal referidas.
Assim, a reduzida dimensão do programa, baseado na escolha cirúrgica de temas
nucleares, pretende incutir o interesse pela procura, de forma orientada e segura, do que
existe para além do que é mencionado. Reformulada a anterior afirmação ao abrigo das
premissas de Bolonha, visa-se promover a participação ativa dos estudantes, criando
mecanismos que lhes permitam pesquisar, de forma autónoma, mas devidamente
direcionados pelas suas aprendizagens e competências adquiridas
Chegados a este ponto, conclui-se que é propósito desta unidade curricular
conceder determinado tipo de ferramentas concetuais que facilitem a apreensão da
medievalidade portuguesa. Tais ferramentas adquirem-se quer pela familiaridade com o
conhecimento produzido por historiadores quanto pelo contacto com a matérias prima
da História, a documentação coeva.
Assim, pretende-se impulsionar os estudantes a contactarem com as fontes
medievais e a adquirirem competências de exploração das mesmas. O encontro direto
com os documentos, quando realizado nos Arquivos, salda-se pela ilusão de uma
viagem ao passado, como muito bem transmitem as palavras de Georges Duby que
alguns dos estudantes já conhecem. Neste uc têm a possibilidade de simular a
experiência descrita por este historiador, uma vez que o mítico toque na pele de
pergaminho é de mais difícil concretização.
"Ficara sozinho. Tinha finalmente conseguido que me trouxessem uma caixa para a
mesa. O que iria sair de dentro dela? Tirei o primeiro maço. Desfiz o nó, a minha mão deslizava
por entre as peças de pergaminho. Pegando numa delas, desenrolei-a, e tudo isto já com algum
prazer: muitas vezes, estas peles, ao tacto, são de uma suavidade delicada. Acrescento a
sensação de me introduzir num lugar reservado, secreto. Destas folhas macias, alisadas, parece
propagar-se no silêncio o perfume de vidas há muito extintas. Mantém-se forte a presença do
homem que, oitocentos anos antes, agarrou numa pena de pato, a mergulhou na tinta, começou a
desenhar as letras, pausadamente, como uma inscrição gravada para a eternidade, e o texto está
lá, à minha frente, na sua força plena. Quem, desde então, pôde passar os olhos sobre estas
palavras? Quatro, cinco pessoas no máximo. Happy few. Outro prazer excitante este, o prazer da
decifração, que não é, na verdade, senão um jogo de paciência. No final da tarde, uma mão-
cheia de dados, leves. Mas só nos pertencem a nós, que os soubemos fazer saltar, e a caçada
teve muito mais importância do que a caça. O historiador nunca se encontra tão perto da
realidade concreta, dessa verdade que morre por alcançar, e que lhe escapa sempre, como
quando tem à sua frente, examinando com os seus próprios olhos, estes fragmentos de escritos
vindos do final dos tempos, como destroços sobrevindos a um completo naufrágio, estes
objectos, cobertos de sinais, que se podem tocar, cheirar, olhar à lupa, a que ele chama, no seu
calão, as «fontes»".
Georges Duby, A História continua, Lisboa, Edições Asa, 1992, pp. 25-26.
Competências Gerais
Programa
I. 1096-1325
1. As estruturas de organização sócio-política do reino: senhorios e concelhos
(definição e mutações);
2. A estruturação do poder da coroa e a relação com outros poderes territoriais.
II. 1325-1480
1. As estruturas económicas e sociais
1.1. O território, os recursos naturais, a base demográfica e as tecnologias.
1.2. Os grupos sociais e o sustentáculo económico
2. Os poderes: coroa, senhorios, concelhos.
3. A cultura e os meios culturais
3.1. O ensino: Universidades e escolas
3.2. A literatura e a arte
Para atingir tal finalidade, deverá existir uma gestão equilibrada (mas militante) dos
recursos de aprendizagem por parte dos estudantes. Como é já do vosso conhecimento,
a bibliografia obrigatória não corresponde ao instrumento de aprendizagem único. O
docente elabora um programa com o propósito de veicular certos conteúdos e de
desenvolver outras tantas capacidades2 e todos os recursos concorrem, para permitir, de
forma integrada, o sucesso na frequência da uc.
Recursos
O livro preferencial que irá funcionar como guia básico de estudo é História de
Portugal, dir. de José Mattoso, vol. II, A Monarquia Feudal (1096-1480), coord. de
José Mattoso, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.
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Programa este que não tem de coincidir com o índice do(s) livro(s) adoptado(s).
● Nova História de Portugal, dir. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, vol. III,
Portugal em Definição de Fronteiras (1096-1325). Do Condado Portucalense à
Crise do Século XIV, coord. de Maria Helena da Cruz Coelho e Armando Luís de
Carvalho Homem, vol. IV, Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV, por A. H. de
Oliveira Marques, Lisboa, Editorial Presença, 1996 e 1987.