Cpafro 18455 LV Pec Leite
Cpafro 18455 LV Pec Leite
Cpafro 18455 LV Pec Leite
Embrapa Rondônia
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
PECUÁRIA
LEITEIRA
NA AMAZÔNIA
Ana Karina Dias Salman
Luiz Francisco Machado Pfeifer
Editores Técnicos
Embrapa
Brasília, DF
2020
Embrapa Responsável pela edição
Parque Estação Biológica (PqEB) Embrapa, Secretaria-Geral
Av. W3 Norte (Final)
CEP 70770-901 Brasília, DF Coordenação editorial
www.embrapa.br Alexandre de Oliveira Barcellos
www.embrapa.br/fale-conosco/sac Heloiza Dias da Silva
Nilda Maria da Cunha Sette
Pecuária Leiteira na Amazônia / Ana Karina Dias Salman, Luiz Francisco Machado
Pfeifer, editores técnicos. – Brasília, DF : Embrapa, 2020.
PDF (399 p.) : il. color. ; 18,5 cm x 25,5 cm.
ISBN 978-65-86056-57-0
CDD 636
Mais de 20 anos depois, essa realidade não é muito diferente. Pouca atenção ainda é
dada à pecuária leiteira nessa região, a qual ainda sofre com o estigma de ser a principal
causa do desmatamento da floresta. Por sua vez, assim como no restante do País, a
pecuária de leite tem um importante papel social por estar intimamente relacionada
com a agricultura familiar. Diante desse cenário, um grupo de pesquisadores e
professores de diferentes instituições da Região Amazônica, do Brasil e até do exterior,
especializados em temas importantes para a produção de leite, reúnem-se para, num
esforço único, disponibilizar informações básicas para o desenvolvimento sustentável
de uma atividade tipicamente familiar na Região Amazônica.
CAPÍTULO 1
Histórico e evolução do
rebanho de leite
na Amazônia
José Lima de Aragão
Paulo Moreira
Moacyr Bernardino Dias-Filho
Introdução
Com o propósito de contextualizar a história e a evolução da pecuária de leite na
Amazônia, este capítulo apresenta um breve histórico da chegada dos primeiros
bovinos ao Brasil e à Amazônia brasileira, bem como seu papel social e econômico
na ocupação e no povoamento do País. Em seguida, discorre-se sobre o povoamento
e a evolução da pecuária leiteira na Amazônia com destaque para Acre, Amapá,
Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Por fim, são feitas considerações sobre a
pesquisa realizada com base em dados secundários que fundamentaram a escrita do
histórico e da evolução do rebanho de leite na Amazônia.
Coimbra (2002) cita que, em 1639, “um rico morador” da cidade de Belém, PA, doou um
terreno e sete vacas a frades mercedários espanhóis daquela cidade. Também, Barata
(1915) afirma que, em 1644, as primeiras cabeças de gado bovino (Bos taurus) chegaram
a Belém e, consequentemente, na Amazônia. Já segundo Valverde (1967), os primeiros
bovinos chegaram a essa região, na Ilha de Marajó, estado do Pará, no ano de 1692.
Esse processo se deu de forma lenta, de modo que, do final do século XVI a meados
do século XVIII, a pecuária ocupou diversas regiões brasileiras, seguindo o curso dos
rios, que eram os canais de integração entre o litoral, onde estava a grande população
da colônia, e as terras ocupadas no interior do País.
A criação de gado, nessa época, cumpriu duplo papel (Simonsen, 2005): complemen-
tou a economia do açúcar e iniciou a ocupação, a conquista e o povoamento do
interior do Brasil.
Essa descentralização se deu em duas fases. Na primeira, o gado era criado no próprio
engenho, sendo utilizado como força de tração e alimento, e o senhor de engenho
era o dono dos animais. A segunda fase ocorre com a intensificação da exploração da
cana-de-açúcar e com a exigência cada vez maior de terras para o cultivo da cana, que
expulsou a boiada dos limites da área agrícola, iniciando aí duas atividades distintas: a
agricultura e a pecuária. Com a divisão das atividades, os donos de engenho diminuem
seus criatórios e passam a comprar gado para o trabalho de tração nos engenhos, na
atividade canavieira e nos serviços agrícolas. Essa dinâmica fez surgir um mercado
interno de compra e venda de gado que induz a criação de bovinos no Brasil Colônia.
Com isso, em 1614, acontece a primeira feira pecuária na Bahia. A partir desse momento,
a atividade começa a se consolidar como um fator de povoamento do interior do Brasil
(Simonsen, 2005) e certamente da Amazônia brasileira.
para alimentação, bem como para a proteção humana, além de serem utilizados
como meio de transporte, colaborando para a existência, o povoamento e a evolução
do ser humano no planeta Terra.
No século XIX, por volta de 1870, o povoamento ocorre nos campos de Perizes, atual
estado do Maranhão, e em Goiás e Mato Grosso. Nesse mesmo período, ocorre a
1
O couro era um dos produtos mais nobres da época, na região Sul do País, valia mais do que a carne. Tirava-se o couro
e jogava-se a carne fora. Os “artesãos do couro” fabricavam diversos produtos: arreios para monta dos animais e
transporte de cargas, surrões, alforjes, cadeiras, camas, roupas, calçados e outros utensílios (Valverde, 1967).
16 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
introdução dos búfalos nos campos de Marajó, por iniciativa privada, e Maicuru, por
medida oficial. O búfalo demonstrou qualidade de animal rústico, precoce e bom
para trabalho, com bom desempenho como produtor de leite e carne. Não se presta
para criação em fazendas pequenas e médias com pastos divididos, pois danificam
as cercas e currais. O seu ambiente ideal são os campos alagáveis e os locais onde se
pratica o livre pastoreio (Valverde, 1967).
Silva (2000) relata ainda que, apesar de os registros históricos sobre o povoamento
da Região Amazônica constarem do século XVII, quando se encontravam algumas
missões jesuíticas na região, somente no século XX, nas décadas de 1960 e 1970,
é que se efetiva um movimento político, no qual a ocupação da Amazônia passa a
ser percebida pelo governo militar da época como solução para as tensões sociais
internas vividas no País, em decorrência da agricultura moderna que se estabelece nas
regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, afugentando pequenos produtores
que migram para regiões menos desenvolvidas.
2
As drogas do sertão consistiam em raízes, folhas e cascas que serviam de base para os produtos farmacêuticos
europeus e iam também acompanhadas de especiarias, como a canela, a pimenta, a castanha, o cravo, a
baunilha, o urucum, a salsaparrilha, as cascas, folhas e raízes aromáticas que ajudavam a conservar ou temperar
os alimentos, assim como as aves exóticas de coloridas e belas plumagens de grande procura e elevado preço na
Europa (Silva, 2000).
CAPÍTULO 1 – Histórico e evolução do rebanho de leite na Amazônia 17
3
Dado publicado pela Embrapa Rondônia, mas não presente no site do IBGE nos dias atuais.
18 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
No final dos anos 1940, em análise feita sobre o abastecimento de leite na Região
Amazônica, o então diretor do Instituto Agronômico do Norte (hoje Embrapa Ama-
zônia Oriental), Felisberto Cardoso de Camargo, informava que esse abastecimento
ineficiente era suprido pela importação de leite condensado e em pó, proveniente
de outras regiões brasileiras e dos Estados Unidos (Camargo, 1948). Conforme esse
autor, o leite in natura que abastecia capitais populosas como Manaus e Belém era
oriundo de vacarias situadas nos arredores da cidade. Tratava-se de um leite mais
caro do que o importado, o qual apresentava ainda o perigo de contaminação. A dis-
tribuição era feita, usualmente, em carroças pequenas, tracionadas por cavalo. O leite
era acondicionado em garrafas comuns e latões estanhados ou zincados, cuja limpe-
za era feita em tanques com água que serviam para diversos fins. Nessas condições
de higiene precária, o leite era usualmente “molhado” ou “batizado”, tendo um alto
índice de contaminação (Brasil, 1958).
Segundo Ferreira Netto (1954), na Amazônia brasileira o leite fresco era um artigo de
luxo, que, por seu alto preço e diminuta quantidade ofertada, só podia ser adquirido
por uma ínfima parcela da população regional. Lemos (1954), em artigo para a revista
O Cruzeiro, sobre a pecuária conduzida na Região Amazônica, comentava que o leite
de vaca era um alimento raro que não entrava na alimentação do povo ribeirinho.
Soares (1963) cita publicação de 1956, a qual informa que a deficiência da pecuária
praticada na Região Amazônica seria responsável pelo precaríssimo abastecimento
de carne, leite e produtos derivados à população regional, e que apenas 10% dos
habitantes da Amazônia bebiam leite.
Nessas vacarias precárias que existiram até meados dos anos 1960, o gado dominante
era o holandês ou o mestiço entre o holandês e o crioulo (gado heterogêneo
oriundo dos animais trazidos pelos colonizadores) (Camargo, 1948). De acordo com
Brasil (1958), as instalações dessas vacarias consistiam em um galpão com baias de
madeira, onde as vacas eram confinadas desde o nascimento até serem consideradas
imprestáveis para a reprodução, e os reprodutores eram usados para tracionar as
carroças que conduziam forragem verde para os animais confinados. A alimentação
desse gado leiteiro era composta de capim, torta de algodão, farinha de mandioca,
feijão velho cozido, babaçu e sal.
Somando-se a esses fatos, no início dos anos 1960, técnicos do antigo Instituto
Agronômico do Norte (IAN) recomendam a introdução do gado holandês nessa
região, no intuito de vitalizar a pecuária de Clevelândia do Norte, no estado do Amapá,
onde adotam o uso de um touro da raça Holandesa para melhorar a produção de
leite de vacas crioulas do rebanho de uma granja leiteira local (Lima et al., 1960).
20 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Da década de 1970 aos dias atuais, pesquisa realizada pelo IBGE mostrou que a
evolução do rebanho bovino nos estados da região Norte integrantes do bioma
Amazônia (região Norte sem o estado do Tocantins), no período de 1974 a 2015,
passou de 2,2 milhões para 38,7 milhões de cabeças (IBGE, 2016). Isso representa
um crescimento médio na ordem de 7,24% ao ano, contribuindo para ocupação
e povoamento da região, que ocupa 71% da área territorial da Amazônia Legal
Brasileira.
De acordo com o IBGE (2016), em média 22% do rebanho bovino dos estados da
Amazônia brasileira são de gado de leite. Logo, isso representa um rebanho leiteiro
na ordem de 8,5 milhões de cabeças, dos quais são ordenhadas anualmente
1,6 milhão de vacas. Na Figura 1, apresenta-se a evolução do rebanho bovino nos
estados da região Norte integrantes do bioma Amazônia , no período de 1974 a 2015.
Figura 1. Evolução do efetivo bovino nos estados amazônicos da região Norte do Brasil (1974 a 2015).
Fonte: IBGE (2016).
Nesse período de 42 anos, o rebanho que mais evoluiu foi o do Pará, que passou
de 1,3 milhão para 20,2 milhões de bovinos, tendo crescimento médio anual de
6,92% ao ano. Em seguida, vem o estado de Rondônia que, no seu primeiro registro,
tinha apenas 41 mil cabeças e atingiu 13,3 milhões em 2015, com evolução média
de 15,15% ao ano, sendo a maior média de crescimento anual entre os estados
amazônicos da região Norte. O Acre, que tinha 99,8 mil cabeças, passou para
2,9 milhões, tendo crescimento médio de 8,56% ao ano. O estado do Amazonas
cresceu, em média, 3,29% ao ano, saindo de 317,8 mil cabeças para 1,2 milhão de
animais. Roraima passou de 286,1 mil para 794,7 mil cabeças, crescendo, em média,
CAPÍTULO 1 – Histórico e evolução do rebanho de leite na Amazônia 21
2,52% ao ano. O Amapá, que tem o menor rebanho da Amazônia, tinha, em 1974,
um efetivo bovino na ordem de 88,2 mil cabeças, mas, em 2015, houve redução para
79,4 mil animais, apresentando taxa de crescimento de -0,26% ao ano.
Figura 2. Evolução do efetivo de vacas ordenhadas nos estados da região Norte do Brasil (1974 a 2015).
Fonte: IBGE (2016).
22 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Figura 3. Evolução do volume de leite produzido nos estados amazônicos da região Norte do Brasil (1974 a 2015).
Fonte: IBGE (2016).
A produção de leite das vacas ordenhadas nos estados da região Norte evoluiu
de 58,5 milhões de litros, em 1974, para 1,5 bilhão, em 2015. Esse incremento
representou uma evolução de quase 26 vezes no volume produzido, o que equivale
a um crescimento médio de 8,23% ao ano. Nesse cenário, quem mais cresceu foi o
estado de Rondônia (18,75% ao ano), que saiu de uma produção de 711 mil litros
para 817,5 milhões. Em segundo lugar, vem o Pará (8,25% ao ano), que evoluiu de
22 milhões para 567,2 milhões de litros. Em seguida, vem o Acre (5,24% ao ano), que
evoluiu de 7,2 milhões para 58,4 milhões de litros. O Amazonas obteve crescimento
médio de 2,67%, evoluindo de 16,1 milhões para 47,6 milhões de litros. Roraima
passou de 10 milhões para 13 milhões de litros, crescendo a uma taxa média de
0,64% ao ano. Por último, o estado do Amapá, cuja produção leiteira é a menor entre
os estados da região Norte do País, saiu de 2,4 milhões para 5,5 milhões de litros e
obteve crescimento médio de 2,04% ao ano.
Figura 4. Evolução da produtividade das vacas leiteiras nos estados da região Norte do Brasil (1974 a 2015).
Fonte: IBGE (2016).
do Amapá, que passou de 397 L por vaca por ano para 829 L por vaca por ano, com
média de 524 L por vaca por ano e crescimento anual de 1,8%. A terceira melhor
evolução ocorreu no estado do Pará, que saiu de 308 L por vaca por ano para 798 L
por vaca por ano, com média de 468 L por vaca por ano e crescimento de 2,35%
ao ano. O Acre evoluiu de 404 L por vaca por ano para 712 L por vaca por ano, com
média de 567 L por vaca por ano e crescimento anual na ordem de 1,4%. O estado do
Amazonas evoluiu de 403 L por vaca por ano para 481 L por vaca por ano, com uma
média de 519 L por vaca por ano e crescimento médio de 0,43% ao ano. A menor
evolução ocorreu em Roraima, que, em 2015, apresentou produtividade de 345 L por
vaca por ano e, em 1974, reduziu para 271 L por vaca por ano. A média do estado no
período foi de 296 L por vaca por ano e a taxa média foi de 0,59% ao ano.
Considerações finais
No interior do Brasil, a atividade de criação de gado exerceu papel de fundamental
importância na colonização, na ocupação e no povoamento. Além disso, contribuiu
para a expansão dos territórios ocupados, por meio da produção de alimentos e
derivados, tais como queijo, manteiga, carne de sol, charque, carne de conserva
e paçoca, além do curtimento do couro. Com isso, gerou riqueza e promoveu o
desenvolvimento socioeconômico em todas as regiões do País.
região. Somente a partir dos anos 1960, a bovinocultura passou a contribuir para o
desenvolvimento regional, fortalecendo-se nas décadas seguintes. Até então, o leite
in natura, a carne fresca e os derivados praticamente não faziam parte da alimentação
habitual da população.
Mediante o exposto, conclui-se que a produção de leite nos estados que compõem
a região Norte do Brasil, no aspecto econômico e social, foi positiva, pois evoluiu
de 58,5 milhões de litros, em 1974, para 1,5 bilhão de litros, em 2015. Certamente,
contribuiu para a geração de renda e emprego, para a fixação do homem no campo
e para a diminuição do êxodo rural.
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VALVERDE, O. Geografia da pecuária no Brasil. Revista Portuguesa de Geografia - FINISTERRA, v. 2,
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27
CAPÍTULO 2
Aspectos socioeconômicos da
bovinocultura leiteira
Calixto Rosa Neto
Francisco de Assis Correa Silva
Leonardo Ventura de Araújo
Paulo Moreira
Introdução
Com o objetivo de contextualizar o setor produtivo da pecuária leiteira na Amazônia,
este capítulo aborda os aspectos socioeconômicos que caracterizam a atividade
leiteira regional. Em primeiro lugar, aborda as minudências relativas à produção, aos
estabelecimentos produtores de leite e ao rebanho bovino leiteiro. Em segundo,
focaliza aspectos da produção em Rondônia, principal estado produtor de leite da
Amazônia. Em terceiro, apresenta os resultados de análise econômica realizada em
dois sistemas de produção – um tradicional e outro melhorado – localizados na
região central do estado de Rondônia. Em quarto, discorre sobre as políticas públicas
voltadas para o setor, com ênfase no Programa de Incentivo ao Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira do Estado de Rondônia e na evolução do crédito rural direcionado à
pecuária leiteira da Amazônia no período de 2003 a 2012. E, por fim, conclui o estudo,
sintetiza os tópicos abordados e pontua os desafios que se apresentam para o setor.
1
A POF mede a aquisição domiciliar (monetária e não monetária) per capita na unidade familiar, não considerando
o consumo institucional (lanchonetes, restaurantes, hotéis, sorveterias, etc.). Na POF 2008–2009, a aquisição de
alimentos fora do domicílio apresentou participação de 31,1% no total das despesas com alimentação.
2
Os estados da Região Amazônica considerados para fins deste capítulo são os seguintes: Rondônia, Acre,
Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.
3
Conforme definido no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006 (Brasil, 2006), que estabelece as diretrizes
para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.
CAPÍTULO 2 – Aspectos socioeconômicos da bovinocultura leiteira 29
Figura 1. Quantidade de leite produzida na Amazônia pela agricultura familiar e não familiar e participação percentual da
agricultura familiar em relação ao total produzido em 2006.
Fonte: IBGE (2011).
Figura 2. Número de estabelecimentos familiares e não familiares de produtores de leite na Amazônia e participação percen-
tual da agricultura familiar em relação ao número total de estabelecimentos.
Fonte: IBGE (2011).
onde apenas 1,4% dos estabelecimentos possui atividades voltadas para a produção
de leite (Figura 4).
Figura 4. Percentual de estabelecimentos agropecuários produtores de leite em relação ao total existente na Amazônia e nos
estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, em 2006.
Fonte: IBGE (2011).
A maior produtividade (8,69 L por vaca por dia) foi a do estrato situado acima de
500 L dia-1, enquanto o maior percentual de vacas em lactação situou-se entre 401 L
e 500 L. A Figura 6 apresenta a produtividade e o percentual de vacas em lactação
por estrato de produção.
Figura 5. Produtores de leite em Rondônia por estrato de produção diária – em valores percentuais – no período de 15/10/2016
a 15/11/2016.
Fonte: Adaptado de Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (2016).
4
De acordo com os dados coletados na 41ª etapa de vacinação contra a febre aftosa, o número de propriedades
com atividade leiteira no estado era de 32.484 e o de produtores 34.630.
CAPÍTULO 2 – Aspectos socioeconômicos da bovinocultura leiteira 33
Figura 6. Produtividade média e percentual de vacas em lactação por estrato de produção do rebanho leiteiro em Rondônia,
no período de 15/10/2016 a 15/11/2016.
Fonte: Adaptado de Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (2016).
Para aferição dos custos de produção, foram realizados, no mês de fevereiro de 2017,
na região central de Rondônia, painéis com produtores e técnicos locais, cujo objetivo
era coletar dados para identificar e caracterizar os sistemas de produção. Esse é um
método prático e objetivo que possibilita fornecer um feedback instantâneo aos
participantes, ao mesmo tempo em que permite fazer correções de informações a
fim de obter os coeficientes dos sistemas.
Os custos de produção de leite aqui apresentados têm como objetivo comparar dois
sistemas de produção com diferentes práticas e adoção de tecnologias existentes
no estado de Rondônia. O primeiro sistema considerado é o modal dos pecuaristas
de leite do estado e o segundo é aquele composto por um nível tecnológico mais
elevado.
O rebanho total é de aproximadamente 120 animais, dos quais apenas 25 vacas estão
em período de lactação, com produtividade média de 6,8 L de leite por dia.
Tabela 1. Custo de produção de leite com nível baixo de tecnologia, região de Ouro Preto do Oeste, Rondônia.
Tabela 1. Continuação.
Ao acrescentar a depreciação, ou seja, o custo que o produtor incorrerá para repor suas
máquinas, equipamentos e lavoura, o COE aumentará em R$ 0,20 (Tabela 1). Dessa
forma, levando em consideração os custos operacionais totais (COE + depreciações),
a margem líquida (RB-COT) aferida pelo sistema seria de R$ 2.840,44 anuais, ou seja,
aproximadamente R$ 236,70 mensais. É importante ressaltar que, nos custos levantados,
foi considerada a remuneração do trabalhador, a qual é efetuada pela própria família na
maioria das vezes. Assim, à margem liquida obtida na atividade deve ser somada a renda
paga ao trabalhador. Contudo, chama atenção que o custo total unitário para produção
de leite é de R$ 1,55 (R$ 0,53 a menos que o valor recebido por litro de leite pelo produtor),
demonstrando que o produtor adotante desse sistema pode não perdurar na atividade,
já que ela não é rentável em longo prazo. Isso força o agricultor a se desfazer de ativos ou
até mesmo migrar para uma atividade mais rentável nesse período.
Tabela 2. Custo de produção de leite com nível tecnológico melhorado, região de Ouro Preto do Oeste, Rondônia.
Tabela 2. Continuação.
Total da atividade Total do leite
Especificação
leiteira (R$) R$ por ano R$ por litro
Impostos e taxas 1.520,00 1.520,00 0,0116
Reparos de benfeitorias 6.444,60 5.328,96 0,0406
Reparos de máquinas 2.642,08 2.184,70 0,0166
Custos administrativos 2.400,00 1.984,53 0,0151
Total COE 135.350,13 112.449,66 0,8558
2.2. Custo Operacional Total (COT)
Custo operacional efetivo 135.350,13 112.449,66 0,8558
Depreciação
Benfeitorias 9.598,80 7.937,13 0,0604
Máquinas 2.706,00 2.237,56 0,0170
Animais de serviço 12,00 9,92 0,0001
Forrageiras não anuais 4.996,78 4.131,77 0,0314
Total COT 152.663,71 126.766,05 0,9647
2.3. Custo Total (CT)
Custo operacional total 152.663,71 126.766,05 0,9647
Remuneração do capital em
Benfeitorias 7.733,52 6.394,75 0,0487
Máquinas 2.377,87 1.966,23 0,0150
Animais 16.924,83 13.994,94 0,1065
Forrageiras não anuais 1.425,81 1.178,98 0,0090
Custo de oportunidade
Terra 5.137,19 4.247,88 0,0323
Total CT 186.262,93 150.300,95 1,1762
estados da região Norte, o leite é o quinto principal gerador de VBP, atrás apenas da
bovinocultura de corte, mandioca, soja e banana (Tabela 3).
Com base nos dados apresentados na Tabela 3, constata-se que o leite, do ponto
de vista econômico, tem importância mais significativa apenas nos estados de
Rondônia e Pará, enquanto, nos demais estados amazônicos, constitui atividade
marginal. Contribui para isso a inexistência quase total de políticas públicas para o
setor, exceto em Rondônia, onde foi implantado programa de incentivo à produção
e melhoria da qualidade do leite produzido no estado.
Tabela 3. Valor bruto da produção dos principais produtos agropecuários nos estados da região Norte – em R$ milhões.
Como suporte financeiro para o projeto, foi criado, em parceria com as indústrias
de laticínios instaladas no estado, por meio do Decreto nº 8.812, de 30 de julho
de 1999 (Rondônia, 1999), o Fundo de Apoio à Pecuária Leiteira de Rondônia –
Fundo Proleite. Por esse dispositivo, foi concedido o benefício (opcional) do crédito
40 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
A Lei Complementar nº 547 foi regulamentada pelo Decreto nº 15.513, de 22 de
novembro de 2010 (Rondônia, 2010a), que institucionalizou a Política de Incentivo
ao Desenvolvimento da Pecuária Leiteira do Estado de Rondônia, baseada em três
mecanismos de apoio à sua consecução, quais sejam:
5
Para mais detalhes sobre as fontes de receitas do Fundo Proleite, ver o art. 5º do Decreto nº 15.513, de 22 de
novembro de 2010 (Rondônia, 2010a).
42 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Crédito rural
O crédito rural constitui um dos principais instrumentos de política pública na
agropecuária, haja vista ser o elo propulsor de acesso aos meios de produção por
parte do produtor rural, principalmente na agricultura familiar, que, como visto no
início deste capítulo, é a principal força componente da produção leiteira no País.
Tabela 4. Evolução do crédito rural da pecuária leiteira em relação ao total de crédito rural aplicado na Amazônia, 2003–2012(1).
Figura 7. Quantidade de contratos e volume de recursos de crédito rural da pecuária leiteira, celebrados nos estados da Ama-
zônia, 2003–2012.
Fonte: Banco Central do Brasil (2017).
Considerações finais
A pecuária leiteira na Amazônia é pouco representativa no contexto nacional, com
participação de pouco mais de 5% na produção nacional de leite. Entretanto, dada
44 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Dos seis estados da região Norte que pertencem à Amazônia, apenas Rondônia
estabeleceu ações efetivas para a formulação de políticas públicas para o setor, com a
oficialização, em 1999, do Fundo Proleite. Após algumas reformulações, chegou-se ao
arcabouço atual, com a regulamentação da Política de Incentivo ao Desenvolvimento
da Pecuária Leiteira do Estado de Rondônia, baseada em três linhas de atuação: o
Programa Proleite, responsável por desenvolver ações que propiciem a melhoria
da produção, produtividade e qualidade do leite de Rondônia; o Fundo Proleite,
para dar sustentação econômica ao programa; e o Condalron, instância normativa
e deliberativa composta por entidades governamentais e da iniciativa privada, que
tem como objetivo analisar, propor e aprovar políticas públicas para o setor.
Por fim, mas não menos importante, está a questão do crédito rural, que experi-
mentou crescimento médio anual da ordem de 5,67% entre os anos de 2003 e
2012, movimentando cerca de 4,2 bilhões de reais, em valores corrigidos a preços
de dezembro de 2016, por meio da celebração de 194,9 mil contratos. Entretanto,
o montante empregado na atividade leiteira no período analisado pode ser
considerado baixo quando se leva em consideração o número de estabelecimentos
beneficiados em relação ao total existente.
Referências
AGÊNCIA DE DEFESA SANITÁRIA AGROSILVOPASTORIL DO ESTADO DE RONDÔNIA. Relatórios de
Campanhas: campanhas de vacinação contra febre aftosa. Porto Velho, 2016. Disponível em: <http://
www.idaron.ro.gov.br/index.php/relatorios-e-formularios/>. Acesso em: 14 nov. 2019.
ARAGÃO, J. L. de. Políticas públicas voltadas para a pecuária leiteira em Rondônia. In: ZOCCAL, R.; ROSA
NETO, C.; MOREIRA, P.; SOUZA, V. F. de (Ed.). Políticas e tecnologias para o leite em Rondônia. Juiz de
Fora: Embrapa Gado de Leite, 2010. p. 45-60.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Anuário Estatístico do Crédito Rural. Brasília, DF: 2003-2012.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/default.asp?RELRURAL>. Acesso em: 2 fev. 2017.
CAPÍTULO 2 – Aspectos socioeconômicos da bovinocultura leiteira 45
BRASIL. Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diário Oficial da União, 25 jul.
2006.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Valor bruto da produção agropecuária
– agosto/2017. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/noticias/valor-bruto-
da-producao-de-2016-e-de-r-523-6-bilhoes/2016-11-valor-bruto-da-producao-regional-por-uf.pdf>.
Acesso em: 26 set. 2017.
IBGE. Censo agropecuário brasileiro: Brasil, grandes regiões e Unidades da Federação:
segunda apuração. Rio de Janeiro, 2011.
IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <http://
biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=247307>. Acesso em: 26 out. 2016.
IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Produção pecuária municipal. 2015.
Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/74#resultado>. Acesso em: 2 fev. 2017.
METODOLOGIA para avaliação de viabilidade econômica de tecnologias e práticas desenvolvidas pela
Embrapa: manual de orientação: pecuária. Brasília, DF: Embrapa, 2010.
RONDÔNIA (Estado). Decreto nº 15.513 de 22 de novembro de 2010a. Regulamenta a Lei
Complementar nº 547, de 21 de dezembro de 2009, no que dispõe sobre a Política de Incentivo e
Apoio ao Desenvolvimento da Pecuária Leiteira do Estado de Rondônia e dá outras providências.
Diário Oficial do Estado de Rondônia, 23 nov. 2010a.
RONDÔNIA (Estado). Decreto nº 8.812 de 30 de julho 1999. Introduz alterações no Regulamento do
Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação e dá outras providências. Diário Oficial
do Estado de Rondônia, 2 ago. 1999.
RONDÔNIA (Estado). Lei Complementar nº 547 de 21 de dezembro de 2009. Dispõe sobre a criação
do Fundo PROLEITE e demais mecanismos e instrumentos relativos à Política de Incentivo e Apoio ao
Desenvolvimento da Pecuária Leiteira do Estado de Rondônia. Diário Oficial do Estado de Rondônia,
22 dez. 2009.
RONDÔNIA (Estado). Lei nº 1.723 de 21 de março de 2007. Altera a Lei nº 1.558, de 26 de dezembro de
2005, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de Rondônia, 29 mar. 2007.
RONDÔNIA (Estado). Lei nº 2.250 de 3 março de 2010b. Altera dispositivos da Lei nº 1.558, de 26 de
dezembro de 2005. Diário Oficial do Estado de Rondônia, 3 mar. 2010.
47
CAPÍTULO 3
A cadeia agroindustrial
do leite na Amazônia
Francisco de Assis Correa Silva
Calixto Rosa Neto
Leonardo Ventura de Araújo
Paulo Moreira
Introdução
A atividade leiteira no Brasil acompanhou o surgimento das cidades. Fruto do
processo de urbanização, as bacias leiteiras se formaram inicialmente com o
propósito de atender ao mercado de consumidores das cidades. Hoje, em todos os
municípios brasileiros, é possível encontrar um rebanho leiteiro, por menor que seja.
A importância que a atividade adquiriu no País é incontestável, tanto no desempenho
econômico quanto na geração de empregos permanentes (Zoccal et al., 2008).
A produção de leite figura como uma das mais importantes atividades da agropecuária
brasileira. Buss et al. (2017) reforçam que, além de sua importância alimentar, o
produto é o ponto inicial que move uma cadeia produtiva bastante complexa, a qual
envolve vários setores por meio de diversas operações, abrangendo desde aspectos
primários, como a criação de bovinos, até a fabricação, distribuição e comercialização
dos produtos lácteos.
Segundo o IBGE (2017), o estado de Minas Gerais destaca-se como o maior produtor
nacional, com 8,9 bilhões de litros de leite produzidos em 2016, seguido pelos
estados do Paraná, do Rio Grande Sul, de Santa Catarina e de Goiás. Juntos, os cinco
estados respondem por 72% da produção nacional.
Figura 2. Países com as maiores produtividades de leite em 2016 (kg por vaca por ano).
Fonte: FAO (2017).
Desde 2012, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking dos maiores produtores
mundiais de leite de vaca, atrás apenas dos Estados Unidos, Índia e China (FAO,
2017). Segundo Tognon (2016), essa colocação foi alcançada graças a uma maior
organização financeira nas propriedades rurais, que permitiu investimentos em
rebanho, tecnologia da ordenha, suplementação animal e pastagem. Reforça a
autora que, ao longo dos últimos anos, a pecuária de leite brasileira tem passado por
constante desenvolvimento.
Nos últimos anos, observou-se forte expansão da produção leiteira no Brasil, com
visíveis ganhos de eficiência no sistema produtivo. No período de 2007 a 2016, a
produção de leite saltou de 26,1 para 33,6 bilhões de litros de leite, o que representa
incremento de 28,7%. No mesmo período, o número de vacas ordenhadas passou
de 21,1 para 19,7 milhões de cabeças, o que representa uma redução da ordem
6,8% (IBGE, 2017). Em outra análise, afirma-se que as vacas ordenhadas passaram a
produzir mais, gradativamente, no citado período (Figura 3).
50 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Figura 3. Produção de leite e número de vacas ordenhadas no Brasil entre 2007 e 2016.
Fonte: IBGE (2017).
Tabela 1. Produção de leite, número de vacas ordenhadas e produtividade dos maiores produtores de leite do Brasil em 2016.
Nº de vacas Produtividade
Estado Produção
ordenhadas (kg por vaca por ano)
Minas Gerais 8.970.779 4.974.449 1.803
Paraná 4.730.195 1.621.957 2.916
Rio Grande do Sul 4.613.780 1.461.315 3.157
Santa Catarina 3.113.769 1.116.994 2.788
Goiás 2.933.441 2.237.872 1.311
São Paulo 1.692.068 1.156.899 1.463
Bahia 858.408 880.206 975
Pernambuco 839.029 488.780 1.717
Rondônia 790.947 600.065 1.318
Mato Grosso 662.720 553.100 1.198
Fonte: IBGE (2017).
Completando esse cenário, projeções para o mesmo período apontam para redução
das importações em torno de 6,9% e elevação nas exportações em torno de 46,3%
(Brasil, 2016). Equilibrar a balança comercial de produtos lácteos tem sido um
desafio para o governo brasileiro. Segundo Carvalho et al. (2018), nos últimos anos a
balança comercial tem se apresentado negativa em relação aos seguintes produtos:
leite fluido, leite em pó, iogurte, leitelho, soro de leite, manteiga, queijos, doce de
leite e leite modificado. Em 2017, apenas o leite condensado e o creme de leite
apresentaram resultados favoráveis na análise da balança comercial. O saldo total foi
um deficit de 449 milhões de dólares. A importação de leite em pó é responsável por
68,5% desse deficit.
Essa realidade impõe aos diferentes atores da cadeia produtiva inúmeros desafios
no que concerne à melhoria da eficiência dos sistemas produtivos nos estados
1
Neste estudo, foram considerados apenas os seis estados amazônicos (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e
Rondônia) da região Norte. O estado do Tocantins, situado na região Norte, não pertence ao bioma Amazônia.
Tabela 2. Evolução da produção de leite (mil litros) nos estados amazônicos no período de 2007 a 2016.
Variação
Brasil e estados
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2007–2016
amazônicos
(%)
Brasil 26.137.266 27.585.346 29.085.495 30.715.460 32.096.214 32.304.421 34.255.236 35.124.360 34.609.590 33.624.651 28,7
Rondônia 708.349 723.108 746.873 802.969 706.647 716.829 920.496 940.621 817.520 790.947 11,6
Pará 643.192 599.538 596.759 563.777 590.551 560.916 539.490 554.195 567.231 577.522 -10,2
Acre 80.489 70.054 42.595 41.059 42.254 42.732 47.125 51.921 58.470 56.870 -29,3
CAPÍTULO 3 – A cadeia agroindustrial do leite na Amazônia
Amazonas 19.905 40.656 41.749 47.203 52.033 48.165 48.969 51.337 47.687 45.978 131,0
Roraima 5.595 5.117 5.117 5.954 7.012 8.794 10.137 11.260 13.091 13.141 134,8
Amapá 5.743 5.271 6.706 6.952 9.481 10.996 10.948 11.670 5.578 5.983 4,2
Total 1.463.273 1.443.744 1.439.799 1.467.914 1.407.978 1.388.432 1.577.165 1.621.004 1.509.577 1.490.441 1,8
Fonte: IBGE (2017).
53
54 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Participação na Percentual
Produção Vacas Produtividade
Estado produção total acumulado
(mil litros) ordenhadas (kg por vaca por dia)
(%) (%)
Rondônia 790.947 600.065 1.318 53,1 53,1
Pará 577.522 732.936 788 38,7 91,8
Acre 56.870 81.284 700 3,8 95,7
Amazonas 45.978 97.104 473 3,1 98,7
Roraima 13.141 37.919 347 0,9 99,6
Amapá 5.983 6.777 883 0,4 100,0
Total 1.490.441 1.556.085 958
Fonte: IBGE (2017).
Observa-se que apenas 65% da produção leiteira dos estados estudados foram
entregues nas plataformas dos estabelecimentos industriais em 2016, o que
equivale a 966 milhões de litros de leite cru. Em torno de 93,4% desse volume foi
processado por laticínios inspecionados pelo SIF, compreendendo basicamente as
plantas industriais do Pará e de Rondônia. Além disso, apenas o estado de Rondônia
apresenta indicador de processamento da produção leiteira acima da média nacional.
Acre
O estado do Acre, localizado no sudoeste da Região Amazônica, apresentou em
2016 uma produção de 56,8 milhões de litros de leite, o que corresponde 3,8% da
produção da região (IBGE, 2017).
Observa-se na Figura 6 que, no período de 2007 a 2010, o estado registrou declínio
de 49% na produção. A partir daí, a produção estabilizou-se em cerca de 42 milhões
de litros até 2012. Entre 2013 e 2015, verifica-se uma retomada da produção, que
alcançou 58,4 milhões de litros em 2015. Apresenta também produtividade abaixo
da média da região, com 700 kg por vaca por ano (IBGE, 2017).
Segundo o IBGE (2017), os municípios de Acrelândia, Senador Guiomard, Plácido de
Castro, Rio Branco e Xapuri apresentam os maiores volumes de produção de leite no
estado. Em 2016, foram responsáveis por 50,7% da produção total.
Uma série de gargalos não tecnológicos restringe o desenvolvimento da cadeia
produtiva no Acre, entre os quais se destacam os seguintes: a) baixa escala de
CAPÍTULO 3 – A cadeia agroindustrial do leite na Amazônia 57
Tabela 5. Quantidade de leite cru industrializado no Brasil e nos estados amazônicos, por tipo de inspeção, e percentual de
participação em relação aos volumes totais produzidos em 2016.
Amapá
Segundo o IBGE (2017), o estado do Amapá apresenta a menor produção entre os
estados amazônicos, pois responde por apenas 0,4% da produção da região. Apesar
disso, apresentou crescimento gradual entre 2007 e 2014. Observa-se, na Figura 7,
que, em 2015, a produção teve um declínio da ordem de 50%, atingindo 5,57 milhões
de litros de leite provenientes da ordenha de 6.777 vacas, o que corresponde a um
valor bruto da produção de 10,6 milhões de reais. A produtividade, que é de 883 kg
por vaca por ano, está abaixo da média da região Norte e resulta da baixa eficiência
dos sistemas produtivos.
2
O estudo da Embrapa Acre não menciona se os dez estabelecimentos citados são inspecionados pelo Serviço de
Inspeção Estadual ou Municipal. A Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) não disponibiliza em
seu portal informações sobre os estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Estadual (SIE).
CAPÍTULO 3 – A cadeia agroindustrial do leite na Amazônia 59
Amazonas
A produção leiteira no Amazonas ficou praticamente estagnada no período avaliado,
representando apenas 3,1% da produção da região. Na Figura 8, observa-se que, entre
2007 e 2011, a produção saltou de 19,5 para 52 milhões de litros de leite. A partir de
2014, a produção passou a declinar gradativamente. A produtividade, considerada
baixa, foi de 473 kg por vaca por ano em 2016, considerada uma das menores do País,
sendo superior apenas à produtividade do estado de Roraima (IBGE, 2017).
Pará
O estado do Pará é o segundo maior produtor de leite entre os estados amazônicos
e sua produção equivale a 38,7% do volume total. Na Figura 9, observa-se que, no
período de 2007 a 2013, houve redução na produção em torno de 16,2%. Entre 2013
e 2016, a produção teve moderado crescimento, atingindo 577,5 milhões de litros de
leite e um valor bruto de cerca de 518,9 milhões de reais (IBGE, 2017).
As vacas ordenhadas totalizaram 732 mil cabeças em 2016, o que refletiu numa
produtividade considerada muito baixa, em torno de 788 kg por vaca por ano.
A produção local não é suficiente para atender a demanda por produtos lácteos.
Com uma população estimada em cerca de 8,3 milhões de habitantes (IBGE, 2017), o
estado importa volumes substanciais desses produtos.
Roraima
O estado de Roraima apresentou, em 2016, a segunda menor produção de leite
entre os estados estudados, o que representa 0,9% do volume total. Gradativamente,
desde 2009, a sua produção vem crescendo. Nesse período, houve um incremento
na produção de cerca de 135% (Figura 10). No entanto, os resultados são pouco
significativos diante da produção regional. No que se refere à produtividade, o
estado apresenta o desempenho mais baixo da região com 347 kg por vaca por ano.
Figura 10. Evolução da produção de leite (x 1.000 L) no estado de Roraima de 2007 a 2016.
Fonte: IBGE (2017).
Rondônia
Rondônia é o maior produtor de leite entre os estados amazônicos. A produção de
leite do estado corresponde a 53,1% do total. Figura também como o nono produtor
nacional de leite. Entre 2007 e 2016, a produção cresceu 11,6% (Tabela 2), percentual
que suplanta a taxa média de crescimento da região Norte (1,8%), porém está abaixo
do crescimento da produção brasileira, que foi de 38,7% no mesmo período. O estado
detém ainda a melhor produtividade da região, alcançando, em 2016, em torno de
1.318 kg por vaca por ano. Essa produtividade apresenta-se praticamente uniforme
entre os municípios produtores, variando de 1.200 kg a 1.500 kg por vaca por ano.
Apenas Alto Alegre dos Parecis, Jaru, Rio Crespo e Vilhena apresentam produtividade
superior a 1.500 kg por vaca por ano (IBGE, 2017). Já os municípios de Nova Mamoré
e Vale do Anari não atingem a produtividade de 1.200 kg por vaca por ano.
3
A Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr) não disponibiliza em seu portal informações sobre os
estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Estadual (SIE).
CAPÍTULO 3 – A cadeia agroindustrial do leite na Amazônia 63
Participação
Produtividade Percentual
Produção Vacas na produção
Município (kg por vaca acumulado
(mil litros) ordenhadas total
por ano) (%)
(%)
Jaru 52.424 33.660 1.557 6,6 6,6
Ouro Preto do Oeste 39.031 29.786 1.310 4,9 11,6
Governador Jorge Teixeira 33.109 26.239 1.262 4,2 15,7
Urupá 31.948 25.159 1.270 4,0 19,8
Nova Mamoré 31.685 33.191 955 4,0 23,8
Ji-Paraná 30.318 23.466 1.292 3,8 27,6
Presidente Médici 26.578 20.656 1.287 3,4 31,0
Cacoal 26.102 19.677 1.327 3,3 34,3
Machadinho d’Oeste 26.034 19.202 1.356 3,3 37,6
São Francisco do Guaporé 24.758 18.592 1.332 3,1 40,7
Porto Velho 24.706 18.830 1.312 3,1 43,8
Buritis 24.262 18.874 1.285 3,1 46,9
Alvorada d’Oeste 23.635 18.243 1.296 3,0 49,9
Demais municípios 396.357 294.490 1.346 50,1 100,0
Total 790.947 600.065 1.318 100,0
Fonte: IBGE (2017).
A análise por microrregião (Figura 11) revela que o Território da Cidadania Central
constitui a mais importante bacia leiteira do estado, seguido do Território da Cidadania
Vale do Jamari e do Território Rural Rio Machado. Esse fato mostra a concentração da
produção na região central se estendendo a sudoeste do estado. As menores bacias
estão nos territórios rurais Vale do Guaporé e Cone Sul, o que demonstra que a parte
sul do estado é a menos expressiva no que se refere à produção leiteira (IBGE, 2017).
64 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Captação e industrialização
O parque industrial lácteo de Rondônia é o maior da região Norte. Verifica-se na
Tabela 4 que 41 dos 68 estabelecimentos com registro no SIF estão sediados em
Rondônia (Brasil, 2018). Essa condição, associada à maior proximidade dos principais
mercados consumidores brasileiros, confere ao estado de Rondônia uma situação de
relativa competitividade em relação aos demais estados da região.
Preços praticados
Na Figura 12, observa-se que houve sazonalidade nos preços pagos aos produtores
de leite em Rondônia no ano de 2016 (Emater, 2017). Houve elevação dos preços
no período de julho a novembro com picos em setembro em razão da severidade
do período seco, período em que se verifica redução da oferta de alimentos nas
pastagens. Com a escassez de alimentos, a produção de leite diminui e os laticínios
passam a valorizar os produtos numa tentativa de evitar perda de eficiência nas
plantas industriais com a ociosidade parcial das estruturas de processamento.
Com base na Figura 12, observa-se que os preços médios de Rondônia ficaram abaixo
da média brasileira4 em todos os meses (Centro de Estudos Avançados em Economia
4
A média brasileira calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada considera os preços
praticados nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. Em
cada estado, são coletados sistematicamente os preços praticados em várias microrregiões.
CAPÍTULO 3 – A cadeia agroindustrial do leite na Amazônia 65
Aplicada, 2017). Esse fato, associado aos elevados custos dos insumos, contribui para
a redução da rentabilidade da atividade no estado.
Figura 12. Médias mensais de preços pagos aos produtores de leite em 2016 em Rondônia e no Brasil.
Fonte: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (2017) e Emater (2017).
Com uma bacia leiteira caracterizada pela pulverização, onde 84,3% dos
estabelecimentos rurais produzem até 100 L de leite diariamente (Agência de Defesa
Sanitária Agrossilvopastoril do Estado de Rondônia, 2017b), as indústrias adotam
estratégias permanentes de conquista de novos fornecedores por meio de bônus,
que se caracteriza pelo pagamento de uma diferença após o faturamento mensal e é
calculado em função da diferença paga pelos demais laticínios de determinada região.
66 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Considerações finais
A pecuária leiteira é, por natureza, uma atividade atrativa para os agricultores
familiares, por causa de suas singularidades, tais como: proporcionar renda regular,
gerar segurança por ter mercado garantido, demandar poucas horas de dedicação
da jornada diária do agricultor e permitir a agregação de valor na fabricação de
produtos como queijo. Além disso, o descarte de animais é configurado como uma
“poupança”. Essas características diferenciam a produção leiteira de outras atividades
agropecuárias.
Referências
AGÊNCIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA DO ESTADO DO PARÁ. Estabelecimentos registrados na
Gerência de Leite e Derivados. Disponível em: <http://www.adepara.pa.gov.br/estabelecimentos-
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com-servico-de-inspecao-estadual-do-amazonas-sie-am/>. Acesso em: 13 jul. 2017.
CAPÍTULO 3 – A cadeia agroindustrial do leite na Amazônia 67
CAPÍTULO 4
Introdução
Este capítulo traz um breve histórico da chegada dos bovinos na Região Amazônica e
dos programas de melhoramento genético de raças leiteiras no Brasil. Considerando
as particularidades em relação às condições climáticas da região e a disponibilidade
de raças especializadas para produção leite, serão discutidas estratégias para
uniformização do rebanho de acordo com os conceitos considerados nos principais
programas de melhoramento genético, em especial o da raça Girolando.
Figura 2. Principais sinais (caixa em azul) e consequências (caixa amarela) do estresse por calor em vacas leiteiras.
Foto: Ana Karina Dias Salman
Fonte: Pejman e Shahryar (2012).
Para fixação de uma nova raça, é necessário o acasalamento entre touros e vacas
mestiças, geralmente de um mesmo grau de sangue, por exemplo, bimestiço
Girolando, que é o 5/8H e 3/8Z, geralmente conhecido como 5/8HZ. A partir do
híbrido F1 HZ, pode-se obter o Girolando (5/8HZ), como indicado na Tabela 1, onde
deve-se ler primeiramente a fração de composição da raça Holandesa. A composição
racial do pai sempre vem antes da composição da mãe. Para efeito de registro, as
matrizes 5/8 ou puro sintético (PS) somente poderão ser acasaladas com touros
CAPÍTULO 4 – Aptidão leiteira dos bovinos na Amazônia 77
5/8 ou PS. As fêmeas com composição racial entre F≈5/8 serão controladas como
5/8. Já os machos F≈5/8 não terão sua composição racial aproximada para 5/8,
permanecendo na fração correta conforme o acasalamento que lhe deu origem.
Os quadros identificados com X representam os produtos advindos de cruzamentos
dos quais a Girolando não oficializa a genealogia (Silva et al., 2017).
MÃE
Holandês 7/8 3/4 5/8 ou PS 1/2 3/8 1/4 Gir
Holandês X X 7/8 X 3/4 F≈5/8 5/8 1/2
3/4 7/8 13/16 3/4 X 5/8 F≈5/8 1/2 3/8
PAI
5/8 ou PS 13/16 3/4 F≈5/8 PS F≈5/8 1/2 7/16 5/16
Gir 1/2 7/16 3/8 X 1/4 X X X
(1)
PS = puro sintético; F≈ = fração aproximada.
Fonte: Silva et al. (2017).
A raça Holandesa originalmente era de dupla aptidão (Frísia), mas, a partir do fim do
século XIX, passou a ser selecionada exclusivamente para aptidão leiteira na América
do Norte (Estados Unidos e Canadá). Isso fez com que animais que possuíssem o
mesmo padrão da raça se tornassem morfologicamente diferentes. Na América do
Norte, surgiram animais mais altos, mais descarnados e angulosos. Na Europa, por sua
vez, a seleção para dupla aptidão (carne e leite) originou animais que demonstram
Fotos: Rafael Rocha 78 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
A B
Figura 3. Forma de “cunha” observada em uma vaca vista de cima (A) e de frente (B).
aptidão para produzir leite, mas também apresentam qualidade de carcaça, são de
porte menor e menos exigentes do ponto de vista nutricional (Europon Livestock
Limited, 2018). Para diferenciá-los, é comum denominar os animais desenvolvidos na
América do Norte como Holstein, e os europeus como Frísios ou Friesian, embora se
trate da mesma raça bovina.
Estudos demonstram que vacas de maior porte selecionadas para produzir mais leite
nem sempre são as vacas que apresentam maior rentabilidade (Madalena, 2007b).
Esses resultados corroboram diversos experimentos neozelandeses que relatam
a obtenção de um peso vivo ideal para as vacas leiteiras em lactação sob sistema
de pastejo, que seria em torno de 420 kg. Acima desse peso, haveria necessidade
de volumes crescentes de suplementação concentrada e volumosa às vacas, o
que inviabilizaria a produção de leite em pasto nos moldes de custos de produção
competitivos (Holmes, 1995).
1
UA = unidade animal correspondente a 450 kg de peso vivo.
80 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Para a Região Amazônica, pode-se utilizar como base o biotipo leiteiro Neozelandês,
já que ele foi desenvolvido para sistemas em pastejo com baixo custo de produção.
Considerando as características de clima da região e das raças bovinas especializadas
para produção de leite, pode-se sugerir que o biotipo leiteiro mais adequado para
pastejo na Região Amazônica deve contemplar um animal oriundo do cruzamento
entre raças de origem europeia e indiana (preferência 1/2 sangue), de porte mediano,
elevada “força leiteira” e membros locomotores fortes e corretos. Considerando um
rebanho formado com animais com esse biotipo, há maior probabilidade de se obter
um sistema com maior produtividade e menor custo de produção.
no decorrer da primeira lactação (Valloto, 2016). Se isso não for possível, a avaliação
deverá ser feita na lactação seguinte, de forma dinâmica e paciente, no curral de
manejo ou nos piquetes da pastagem ou onde for mais conveniente para o avaliador.
Tabela 2. Grupos de características e medidas, avaliação, indicadores e recomendações para avaliação linear de rebanhos leiteiros na Amazônia.
Medida/
Grupo Avaliação Indicador Recomendação
Característica
Posicionar um hipômetro em cima da
Ter altura suficiente para que o úbere esteja afastado do solo, de
Altura da garupa garupa (próximo da ponta do ílio) até Longevidade produtiva
modo a reduzir os riscos de injúrias e contaminações
o chão
Posicionar um hipômetro na região
Em regiões de clima quente, é desejável ter profundidade corporal
imediatamente anterior à garupa, antes
Profundidade Capacidade digestiva, acima da média da raça para favorecer a adaptação ao estresse
do ílio (região lombar) até a linha inferior
corporal respiratória e produtiva calórico e para permitir o melhor desenvolvimento fetal durante
do ventre do animal (porção cranial da
Capacidade a gestação
inserção do úbere anterior)
corporal
Em ambientes quentes, é desejável que esta medida seja a maior
Perímetro Medir a circunferência do tórax do Capacidade cardíaca e
possível, mas sem excessos, porque pode diminuir a aptidão
torácico animal, utilizando fita métrica respiratória
leiteira do animal
Avaliar por meio de escore de 1 a 9,
Amplitude peitoral sendo 1 para peito extremamente Para animais em pastejo, recomenda-se amplitude peitoral acima
Relacionada à força
(abertura de peito) fechado, 5 para amplitude intermediária de 5
e 9 para peito muito amplo
Medir distância entre a ponta do Qualidade e
Comprimento Animal de biotipo leiteiro deve ter 1/3 da medida de comprimento
ísquio até a ponta do ílio, utilizando o sustentação do sistema
da garupa de garupa em relação ao comprimento corporal total
hipômetro ou a fita métrica mamário
Garupa Vacas estreitas tendem a ter dificuldades de parto, e garupas
Medir distância da ponta esquerda até excessivamente largas estão associadas a vacas muito
Longevidade
Largura entre ísquios a ponta direita do ísquio, usando a fita pesadas, por conseguinte menos eficientes e de menor
reprodutiva
métrica ou o hipômetro longevidade. Recomenda-se garupa média, o que corresponde a
aproximadamente 18 cm de largura entre os ísquios
Continua...
PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 2. Continuação.
Medida/
Grupo Avaliação Indicador Recomendação
Característica
O ideal são pernas com curvatura média. Nas raças zebuínas
é comum as pernas laterais muito curvas. Por esse motivo,
Avaliar por meio de escore, sendo 1
Relacionada à recomenda-se para fêmeas com elevado grau de sangue zebuíno
Pernas (vista lateral) para pernas muito curvas, 5 para pernas
longevidade o acasalamento com touros da raça Holandesa com pontuações
intermediárias e 9 para pernas retas
negativas para pernas (vista lateral), ou seja, medidas de pernas
laterais mais retas
Relacionada à
Pernas com jarretes fechados podem comprimir e reduzir o espaço
longevidade, pois
do úbere, causar traumatismos e aumentar a ocorrência de
Pernas e pés afeta a distribuição
Avaliar por meio de escore, jarretes bem mastite, enquanto pernas muito abertas podem causar problemas
Pernas (vistas por trás) do peso sobre os pés
fechados (1) e muito abertos (9) de locomoção. O ideal são pernas paralelas (escore 5), porque
e determina como se
o úbere posterior tende a ser mais largo e, consequentemente,
dará o desgaste dos
possui maior capacidade de produção de leite
cascos com o tempo
CAPÍTULO 4 – Aptidão leiteira dos bovinos na Amazônia
Considerações finais
A pecuária leiteira tem papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico
da Região Amazônica, porém ainda enfrenta problemas ocasionados pela falta de
especialização dos rebanhos, o que poderia ser sanado pela implementação de um
programa de melhoramento genético. Na falta desse, o problema pode ser resolvido
em médio e em longo prazo por meio de incentivo aos produtores no intuito de
utilizarem conceitos de melhoramento genético nas tomadas de decisão para definição
de acasalamentos e de descarte de animais. Seguir um biotipo mais adequado,
considerando as características do sistema de produção e o clima da região, auxilia no
direcionamento de estratégias que visam à obtenção de rebanhos mais homogêneos,
formados por animais com maior potencial de adaptação ao clima quente e úmido,
com produtividade e longevidade que não acarretem prejuízos ao sistema.
Referências
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2
É a medida do valor genético do touro, obtido por meio do desempenho de suas filhas e de seus parentes
nos diferentes rebanhos, expresso como diferença (superioridade ou inferioridade) da base genética da raça.
Exemplificando: a progênie de um touro com PTA igual a 100 kg, em média, tem um potencial esperado de
produção de 100 kg de leite superior à média da raça.
CAPÍTULO 4 – Aptidão leiteira dos bovinos na Amazônia 85
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CAPÍTULO 4 – Aptidão leiteira dos bovinos na Amazônia 87
CAPÍTULO 5
Introdução
Este capítulo objetiva apresentar as normativas vigentes, os principais avanços
e desafios para melhoria da qualidade do leite e a situação epidemiológica dos
indicadores higiênico-sanitários do leite da região, a fim de subsidiar a definição de
estratégias para melhoria da qualidade e seguridade do leite produzido na Amazônia.
Para os estados das regiões Norte e Nordeste, a IN nº 51 entrou em vigor em 2007,
e para cumprir as exigências e parâmetros estabelecidos tornou-se necessária a
reorganização da cadeia produtiva do leite. Nos estados da Amazônia, esforços
por parte do governo e de empresas de lácteos e produtores têm sido realizados
especialmente com relação à melhoria da qualidade do leite cru. Avanços estruturais,
como a aquisição de tanques de resfriamento, melhoria das estradas e qualidade
de energia elétrica, são observados. Entretanto, estudos mostram a predominância
de produtores com baixo nível tecnológico para a produção de leite e os desafios
a serem enfrentados para melhoria da qualidade microbiológica da matéria-prima.
Normas e regulamentos
Em virtude da preocupação com a qualidade dos alimentos de origem animal no
Brasil, incluindo o leite e seus derivados, em 29 de março de 1952 foi publicado o
Decreto nº 30.691, que sancionou o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal (Riispoa) (Brasil, 1952). As normas estabelecidas no Riispoa
foram o esteio da garantia sanitária dos animais e dos produtos, como carne, leite,
ovos e derivados. Ao longo dos anos, algumas alterações foram feitas, mas ainda assim
grande parte de suas determinações foram mantidas. Outros regulamentos técnicos
surgiram depois de 1952, os quais complementaram e supriram as necessidades que
advinham com a evolução tecnológica, social e econômica do setor.
A principal alteração introduzida pela IN nº 51 (Brasil, 2002) foi a extinção do leite tipo
C, definida para 1º/7/2007 nas regiões Norte e Nordeste, o qual foi substituído pelo
leite pasteurizado, beneficiado a partir do leite cru refrigerado (ou, excepcionalmente,
a partir do leite cru não refrigerado) (Timm, 2005). Nesse sentido, foi introduzida a
denominação “leite cru refrigerado” para a matéria-prima a ser recebida pelos laticínios
(único tipo de leite), denominação essa que substituiu o leite dos tipos B e C.
Tabela 1. Requisitos microbiológicos e de contagem de células somáticas (CCS) no leite cru definidos pela Instrução Normativa
nº 51/2002 para as regiões Norte e Nordeste.
Vigência e limite
Requisito 1º/7/2007 a 1º/7/2010 a A partir de
1º/7/2010 1º/7/2012 1º/7/2012
Contagem padrão em placas (UFC por mL) 1.000.000 750.000 100.000
Contagem de células somáticas (células por mL) 1.000.000 750.000 400.000
Fonte: Brasil (2002).
Tabela 2. Requisitos físico-químicos no leite cru refrigerado, estabelecido pela Instrução Normativa nº 51/2002.
Requisito Limite
Matéria gorda (g por 100 g) Teor original ou no mínimo 3,0
Proteína total (g por 100 g) Mínimo de 2,9
Acidez titulável (g ácido láctico por 100 mL) 0,14 a 0,18
Densidade relativa 15/15 °C (g mL-1) 1,028 a 1,034
Extrato seco desengordurado (g por 100 g) Mínimo de 8,4
Índice crioscópico máximo -0,530H (-0,512 °C)
Estabilidade ao alizarol 72% (v/v) Estável
Fonte: Brasil (2002).
CAPÍTULO 5 – Qualidade do leite na Amazônia 93
imersão, que antes eram permitidos na IN nº 51 (Brasil, 2002). Os limites e prazos
para CPP e CCS nas diferentes regiões do País foram definidos na IN nº 51 e alterados
pela IN nº 62 (Brasil, 2011) e pela IN nº 7 (Brasil, 2016), estabelecendo novos prazos e
limites gradativos para atendimento ao limite final definido na IN nº 51 (Tabela 3). Em
26/11/2018, foram publicadas as INs nº 76 e nº 77, que revogaram as INs nº 51, nº 62
e nº 7 (Brasil, 2018a, 2018b).
Entre as alterações propostas pelas INs nº 76 e nº 77, pode-se destacar a definição
do limite da temperatura de 4,0 °C para a conservação do leite cru na usina de
beneficiamento. Além disso, a temperatura de recebimento do leite na indústria
passou de 10,0 °C para 7,0 °C. Também foi definida a análise do leite cru refrigerado
antes do processamento no estabelecimento, com limite máximo de CPP de 900 mil
unidades formadoras de colônias (UFC) por mililitro. O leite cru refrigerado em tanques
de resfriamento individuais ou coletivos deverá apresentar médias geométricas
trimestrais não superiores ao limite de 300 mil UFC por mililitro para CPP e de 500
mil células por mililitro para CCS. Entretanto, a norma estabelece a interrupção da
coleta do leite de propriedade que apresentar, por 3 meses consecutivos, resultado
da média geométrica de CPP superior a 300 mil UFC por mililitro. De acordo com a
IN nº 76, o conselho consultivo da RBQL será responsável por avaliar a necessidade
de revisão dos requisitos dispostos na normativa no mínimo a cada 2 anos, de acordo
com a evolução da qualidade do leite.
Tabela 3. Limites de contagem padrão em placas (CPP) e contagem de células somáticas (CCS) definidos para as regiões Norte
e Nordeste, a partir da entrada em vigor da Instrução Normativa nº 51/2002 e das alterações estabelecidas pelas Instruções
Normativas nº 62/2011, nº 7/2016 e nº 76/2018.
Vigência e limites
Requisito 1º/7/2007 a 1º/7/2010 a 1º/1/2013 a A partir de
1º/7/2010 31/12/2012 30/6/2015 1º/7/2015
Contagem padrão em placas (UFC por mL) 1.000.000 750.000 600.000 300.000
Contagem de células somáticas (células por mL) 1.000.000 750.000 600.000 500.000
A qualidade microbiológica do leite cru resulta, entre outros fatores, das condições
de manejo do rebanho, da higiene na obtenção do leite, da sala e dos utensílios e
equipamentos de ordenha, do estado de saúde do ordenhador e das condições de
estocagem e armazenamento (Cerqueira, 2007). Além disso, fatores como tempo
de resfriamento do leite e tempo e temperatura de armazenamento também são
determinantes para a contagem bacteriana. A refrigeração adequada do leite cru é
capaz de desacelerar a multiplicação da maioria dos microrganismos contaminantes
da matéria-prima.
O teor de gordura no leite pode ser influenciado principalmente pela seleção genética,
pela identificação e manipulação dos genes que controlam a composição do leite
e pela nutrição. Outros fatores, porém, também podem afetar o teor de gordura
no leite, como raça, estágio da lactação, estação do ano e saúde animal (Santos;
Fonseca, 2007). Embora o melhoramento genético seja uma importante via para o
CAPÍTULO 5 – Qualidade do leite na Amazônia 95
O aumento do teor de proteína do leite, assim como ocorre com a gordura, pode
ser alcançado por meio de estratégias nutricionais e de acasalamento. O teor de
proteína pode ser afetado por diferentes fatores, entre os quais estão as características
genéticas, o estágio de lactação, a dieta dos animais, o manejo alimentar e as
condições ambientais. Entre os fatores que afetam a proteína do leite, o que mais
influencia é a genética. Em relação à seleção genética, deve se considerar a correlação
negativa entre a produção de leite e o teor de sólidos (Santos; Fonseca, 2007).
Do total da variabilidade da composição do leite, cerca de 55% decorrem da genética,
e o restante é proveniente do ambiente (nutrição e manejo). Por isso, o cruzamento de
raças, como, por exemplo, a Jersey, é utilizado para o aumento da proteína no leite dos
animais (Santos; Fonseca, 2007). Deve-se ressaltar, porém, que a maioria dos fatores
apresenta limitações quanto à manipulação quando comparados à gordura do leite.
Figura 1. Evolução da produção de leite (milhões de litros por ano) e percentual da produção de leite industrializado nos
estados da região da Amazônia nos anos de 2000 a 2015.
Fonte: IBGE (2015).
Além dos desafios estruturais, outras variáveis podem estar associadas à baixa
qualidade do leite na região: 1) a inexistência de indústrias para o processamento
do leite em algumas regiões, o que favorece a produção de leite informal e aumenta
o risco para a saúde pública; 2) baixa interação indústria-produtor, o que dificulta a
modernização do produtor; 3) pouca tradição de cooperativismo e associativismo,
o que resulta em desorganização e pouca representatividade dos produtores;
4) deficiente infraestrutura de estradas, pontes e qualidade de energia elétrica, o
que dificulta o escoamento da produção até a indústria e reflete em baixa qualidade
microbiológica da matéria-prima; 5) baixo padrão tecnológico, caracterizando baixa
produtividade e alta sazonalidade de produção; 6) baixa eficiência da assistência
técnica e de estratégias de transferência de tecnologia aos produtores da região.
A B
Figura 2. Distribuição espacial dos indicadores higiênico-sanitários do leite cru, por contagem de células somáticas – CCS (A)
e contagem padrão em placas – CPP (B), de rebanhos localizados na microrregião de Ji-Paraná, Rondônia.
Fonte: Dias et al. (2015).
de resfriamento do leite, a fim de definir medidas para redução dos pontos críticos
de contaminação e multiplicação microbiana (Dias et al., 2015).
Considerações finais
Ao longo dos anos, as transformações observadas no agronegócio do leite mostram
a importância das ações do governo, das indústrias e dos produtores no intuito de
garantir produtos de alta qualidade aos consumidores. Nesse sentido, é papel do
governo determinar normas com padrões mínimos de qualidade da matéria-prima
e fiscalizar o cumprimento das ações. As indústrias, por sua vez, devem priorizar a
102 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
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105
CAPÍTULO 6
Introdução
Considerando a importância da adoção de práticas adequadas para minimizar a
contaminação do leite cru e garantir a qualidade da matéria-prima e seus derivados,
este capítulo irá abordar os principais aspectos da ordenha e das boas práticas de
produção.
Ordenha
Estrutura e função da glândula mamária
Na vaca, os tecidos mamários relacionados com a produção e o armazenamento do
leite formam o úbere, localizado na região inguinal. O úbere é uma glândula secretora
composta por quatro glândulas mamárias distintas (quartos mamários), drenadas
por um teto cada uma, que funcionam de forma independente. A superfície dos tetos
apresenta pele fina, e a parede possui fibras musculares lisas e suprimento sanguíneo
e nervoso. Na extremidade do teto, encontra-se um orifício que se comunica com a
cisterna por meio do canal. O orifício do teto é mantido fechado entre as ordenhas
por um grupo de fibras musculares que formam o esfíncter do teto. Internamente e
acima do canal do teto, encontra-se um conjunto de pregas denominado roseta de
Furstenberg, cuja função é auxiliar na retenção de leite entre as ordenhas.
O leite é liberado pela vaca quando o bezerro mama ou em resposta aos estímulos
do ordenhador e do equipamento de ordenha. O alvéolo é circundado por uma
CAPÍTULO 6 – Ordenha e boas práticas de produção 107
camada de células mioepiteliais que estão sob controle hormonal. Com o estímulo do
hormônio ocitocina, as células se contraem e o leite contido nos alvéolos é expulso e
pode ser extraído pelo bezerro ou pela ordenhadeira. O início da contração das células
mioepiteliais é uma combinação de estímulo nervoso e hormonal. A vaca responde ao
estímulo do bezerro ou do ordenhador por meio do sistema nervoso sensorial durante
a preparação antes da ordenha. O estímulo táctil no teto ativa receptores nervosos
da pele, os quais enviam esses estímulos até a medula espinhal e posteriormente
ao hipotálamo, resultando na liberação da ocitocina pela hipófise (Santos; Fonseca,
2007). O hormônio é carreado pela corrente sanguínea até a glândula mamária em
aproximadamente 20 segundos, onde se liga a receptores das células mioepiteliais
dos alvéolos, estimulando a contração e expulsão do leite para os grandes ductos
e para a cisterna da glândula mamária. O estímulo táctil resulta no relaxamento
do esfíncter do teto, dos ductos maiores e aumenta a irrigação sanguínea para o
alvéolo, elevando a quantidade de ocitocina que chega às células mioepiteliais para
o estímulo ao reflexo de ejeção do leite. Dessa forma, é fundamental que a ordenha
seja realizada aproximadamente de 1 a 1,5 minuto após o início da estimulação dos
tetos. O objetivo é obter a extração completa do leite, pois a ocitocina tem meia-vida
de aproximadamente 3,5 minutos e desaparece rapidamente na corrente sanguínea
(Santos; Fonseca, 2007). Parte do leite presente na glândula mamária não é extraída
e é conhecida como leite residual. O leite armazenado no úbere antes da ordenha
preenche os alvéolos, a rede de canais que fica entre os alvéolos e a cisterna do úbere e
a própria cisterna. O leite armazenado nos alvéolos (cerca de 70%) depende muito do
reflexo de ejeção. Dessa forma, situações que causem estímulos nervosos negativos
(dor ou estresse) aos animais antes ou durante a ordenha resultam em liberação de
adrenalina. Com isso, ocorre inibição do reflexo de descida do leite, aumentando
consideravelmente o volume de leite residual.
Tipos de ordenha
A ordenha pode ser realizada de forma manual, mecânica ou robotizada (automática).
A escolha do tipo de ordenha deve ser baseada em informações como infraestrutura
da propriedade, número de animais em lactação, produtividade animal (kg de leite
por dia) e número de funcionários. É possível obter leite de boa qualidade com os
diferentes tipos de ordenha, desde que sejam adotadas as práticas de higiene e a
manutenção recomendada para cada tipo.
Assim como ocorre na maior parte das propriedades de leite do Brasil, a ordenha
manual é a forma mais adotada na Região Amazônica em virtude das características
108 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
prioritárias de atuação (Dias et al., 2015). Nas áreas com altas contagens de bactérias,
observou-se a presença de intermediários (carreteiros) na entrega do leite no tanque
comunitário, o que, nesses casos, aumentou em 3,8 vezes a chance de ocorrência
de resultados de CPP acima do limite. No estado de Rondônia, a produção de leite é
de caráter familiar e de baixa escala, e o resfriamento da matéria-prima em tanques
de uso coletivo é adotado de forma predominante. A presença de intermediários
na entrega do leite no tanque coletivo está relacionada à maior distância entre a
propriedade e o tanque, que resulta em maior período de tempo entre a ordenha e
o resfriamento do leite, à deficiente lavagem de latões e ao tempo em que o latão
permanece nas bancadas localizadas na entrada das propriedades, contribuindo para
o aumento da multiplicação bacteriana. Esses resultados demonstram a importância
de reavaliar a logística de resfriamento do leite a fim de definir medidas para redução
dos pontos críticos de contaminação.
com diferentes níveis de tecnificação (Santana et al., 2001; Fagan et al., 2005;
Mattos et al., 2010; Matsubara et al., 2011). Os resultados, que foram similares
independentemente da região e do grau de tecnificação, revelaram que os pontos
de maior contaminação foram os seguintes: a pele do teto dos animais lactantes, os
três primeiros jatos de leite e os utensílios e equipamentos mal higienizados e/ou
com água residual. Em Rondônia, estudos realizados pela Embrapa em propriedades
com características de manejo e estrutura representativas do estado demonstraram
que a pele dos tetos, a superfície de utensílios (baldes/latões) e a água residual foram
os principais pontos de contaminação do leite durante a ordenha (Oliveira, 2018).
A contagem média de microrganismos aeróbios mesófilos (AM) e psicrotróficos (P)
em pontos da ordenha de quatro propriedades representativas dos sistemas de
ordenha adotados em Rondônia está apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Contagens médias de microrganismos aeróbios mesófilos (AM) e psicrotróficos (P) em pontos da ordenha de quatro
propriedades localizadas em Rondônia, no ano de 2017.
Microrganismo(1)
Ponto de contaminação
AM P
Equipamentos e utensílios de ordenha
Teteira antes da ordenha 3,1 x 105 UFC/cm2 2,1 x 104 UFC/cm2
Teteira depois da ordenha 4,0 x 105 UFC/cm2 1,5 x 104 UFC/cm2
Água residual do balde 4,4 x 107 UFC/mL 9,6 x 104 UFC/mL
Parede de balde 1,2 x 107 UFC/cm2 5,6 x 105 UFC/cm2
Água residual do latão 8,1 x 107 UFC/mL 4,3 x 106 UFC/mL
Parede de latão 4,8 x 108 UFC/cm2 6,3 x 106 UFC/cm2
Coador 5,7 x 104 UFC/cm2 3,1 x 101 UFC/cm2
Água de uso, tetos e mãos do ordenhador
Água de uso 1,7 x 102 UFC/mL 0,1 x 101 UFC/mL
Parede do teto 1,8 x 105 UFC/cm2 1,6 x 103 UFC/cm2
Mão do ordenhador antes da ordenha 4,1 x 104 UFC/cm2 6,9 x 102 UFC/cm2
Contagens expressas em unidade formadora de colônia (UFC).
(1)
• Separar o leite dos animais doentes e em tratamento e identificá-lo para que não
seja consumido.
Higiene de ordenha
A contaminação microbiológica ocorre principalmente no momento da ordenha e
pode se agravar ao longo da cadeia. Dessa forma, é fundamental a adoção de práticas
que evitem ou reduzam ao máximo a contaminação microbiana do leite nessa etapa
e, em consequência, que auxiliem na prevenção da mastite e no controle das células
somáticas.
Rotina da ordenha
Devem-se estabelecer horários e rotinas de ordenha regulares e garantir que boas
práticas sejam utilizadas consistentemente. A adoção de práticas incorretas ou
mudanças na rotina da ordenha podem aumentar o risco de ocorrência de mastite e
de contaminação microbiológica do leite.
Higiene do ordenhador – O ordenhador deve estar com boa saúde e usar roupas
limpas. Antes de iniciar a ordenha, deve lavar as mãos com água e sabão e secar
com papel-toalha. No caso de ordenha manual, os cuidados com a higiene das mãos
devem ser priorizados, pois o contato é maior e as mãos sujas aumentam o risco de
contaminação dos tetos e do leite com microrganismos.
ordenha. Para isso, cobre-se toda a superfície dos tetos com solução desinfetante,
cuja função é reduzir a contaminação microbiológica do leite e as infecções causadas
por microrganismos ambientais. Os produtos a serem utilizados para essa finalidade
devem ter ação bactericida imediata, sem deixar resíduos no leite, pois a ordenha
será realizada em seguida. Recomenda-se a aplicação de solução desinfetante,
utilizando-se uma caneca sem refluxo (Figura 3). Para a escolha da solução a ser
utilizada, devem-se considerar os testes de eficácia, a relação custo-benefício e a
facilidade de aplicação. Avaliações realizadas em propriedades de leite, nas condições
de produção prevalentes em Rondônia, demonstraram que o uso da solução clorada
(750 ppm), para desinfecção dos tetos antes da ordenha, reduziu em 99% a contagem
de bactérias mesófilas. Caso os tetos estejam sujos, proceder à lavagem somente dos
tetos, utilizando balde conectado a uma mangueira para uso em sistema de ordenha
manual (Bernardo et al., 2013).
Foto: Renata Silva
Secagem dos tetos – No caso de uso de solução clorada, deixar o desinfetante agir
por 30 segundos e secar os tetos com papel-toalha, descartando-o em lixeira. Caso
seja adotado outro produto, seguir o tempo de ação recomendado pelo fabricante.
Proceder à ordenha – Manual: a ordenha das vacas deve ser rápida e sem
interrupções. O tempo recomendado para realizar toda a ordenha do animal é de
cerca de 7 a 8 minutos. Se esse tempo for ultrapassado, há aumento de ocorrência de
CAPÍTULO 6 – Ordenha e boas práticas de produção 119
Figura 6. California mastitis test (CMT): raquete com quatro compartimentos para realização do teste (A); homogeneização
da mistura (B).
Como o resultado é subjetivo, recomenda-se que o teste seja realizado pelo mesmo
funcionário a fim de padronizar a interpretação dos resultados. Os testes devem ser
realizados mensalmente ou a cada 15 dias, em situações específicas.
em que:
a = número de vacas ordenhadas por dia;
b = número de ordenhas por dia;
c = número de unidades de ordenha do equipamento.
Ordenha manual
Nesse caso, os utensílios são basicamente o balde de ordenha e os latões de leite.
A limpeza é manual e deve seguir a seguinte rotina:
Ordenha canalizada
Na ordenha canalizada, há sistemas automatizados para limpeza em circuito fechado
e sistemas semiautomatizados, que são aqueles em que a troca de substâncias e o
tempo de circulação devem ser controlados por um indivíduo. Em qualquer das
opções, o procedimento deve seguir as seguintes etapas:
• Enxágue: deve ser abundante, com água em temperatura de 40 °C a 45 °C, e
dimensionado de acordo com o equipamento e com as recomendações do
fabricante. Não se deve recircular a água. A água de descarte pode ser aproveitada
para limpeza das instalações.
Observações:
• Limpar a linha de vácuo, que pode se contaminar por refluxo de leite.
• Trocar, a cada ordenha, os filtros descartáveis localizados depois do balão
coletor.
• Lavar a parte externa do equipamento de ordenha.
• Utilizar agentes de limpeza e desinfecção aprovados pela autoridade
competente.
Tanques de expansão
Nos equipamentos fechados, a sequência da limpeza automatizada é a mesma
descrita para o equipamento de ordenha canalizada. Nos tanques de resfriamento
em que é possível abrir a tampa, a limpeza é manual, seguindo a mesma lógica:
Considerações finais
Os estudos realizados na região demonstram baixa adoção de práticas de higiene da
ordenha e controle da mastite, além de infraestrutura deficiente para realização da
ordenha. Isso indica a importância de investimento na propriedade, capacitação da
mão de obra e assistência técnica efetiva, visando à melhoria da qualidade do leite
produzido na região e adequação à legislação.
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130 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
CAPÍTULO 7
Mastite
Epidemiologia e controle
Juliana Alves Dias
Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e Brito
Guilherme Nunes de Souza
Introdução
A mastite bovina é a doença infecciosa mais prevalente e economicamente relevante
em rebanhos leiteiros. O impacto decorrente da doença se deve à redução da
produção de leite, ao descarte precoce de matrizes, à redução do valor comercial
dos animais doentes, às perdas na evolução genética do rebanho e aos gastos com
medicamentos e mão de obra extra (Dürr et al., 2004). Além disso, a mastite causa
prejuízos à indústria de laticínios por causa das alterações na composição físico-
-química do leite, e pode constituir risco à saúde pública em virtude da veiculação de
patógenos e suas toxinas (Oliveira et al., 1999; Santos; Fonseca, 2007). Dessa forma,
este capítulo tem o objetivo de apresentar as formas de manifestação da doença, os
métodos de diagnóstico e as medidas de prevenção e controle.
Definição
A mastite pode ser definida como a inflamação da glândula mamária em resposta à
infecção por microrganismos, como bactérias, fungos, leveduras e algas. O objetivo
dessa resposta inflamatória é a eliminação dos agentes infecciosos, a neutralização
de toxinas e a regeneração dos tecidos lesados.
O início da mastite ocorre quando o patógeno penetra na glândula mamária por meio
do canal do teto e multiplica-se no interior da glândula. Após a invasão microbiana no
parênquima mamário, ocorre grande migração de leucócitos do sangue para o tecido
mamário, com o objetivo de eliminar a infecção. Além disso, ocorrem alterações na
permeabilidade vascular e outros sinais de inflamação (Santos; Fonseca, 2007).
132 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 1. Relação entre contagem de células somáticas (CCS) do tanque, porcentagem de quartos infectados e de perdas de
produção de leite.
As alterações visíveis no leite também são sinais muito comuns de mastite clínica, tais
como aparecimento de grumos, pus e/ou sangue. Além dos sinais clínicos locais e
das alterações no leite, a mastite clínica pode ser acompanhada por sinais sistêmicos,
como aumento da temperatura retal, depressão, desidratação, diminuição do
consumo de alimentos e produção de leite, dependendo da gravidade e do agente
patogênico envolvido (Santos; Fonseca, 2007). Para o exame das características físicas
do leite, recomenda-se realizar o teste da caneca de fundo preto antes de todas as
ordenhas, procedendo a retirada dos três primeiros jatos de leite em superfície escura
com a finalidade de observar as alterações no leite (grumos, pus, sangue).
Tabela 2. Interpretação do California mastitis test (CMT) e valores aproximados de células somáticas correspondentes.
A B
Figura 1. Diagnóstico laboratorial da mastite bovina: equipamento automatizado para determinação de células somáticas no
leite (A); diagnóstico microbiológico da mastite (B).
CAPÍTULO 7 – Mastite: epidemiologia e controle 135
Considerações finais
Esforços são necessários para que os produtores tenham acesso à assistência técnica e
ao diagnóstico laboratorial. A implantação de programas de prevenção e controle da
mastite nos rebanhos leiteiros da região é fundamental para a redução dos impactos
econômicos da doença e melhoria da qualidade e seguridade do leite produzido.
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143
CAPÍTULO 8
Manejo sanitário
Adelmar Bendler da Rocha
Audrey Bagon
Camila de Valgas e Bastos Castro
Daniel Sobreira Rodrigues
Eduardo Bastianetto
Eduardo Schmitt
Emanuela Panizi Souza
Evandro Schmoeller
Evelyn Rabelo Andrade
Fabiano Alexandre dos Santos
Jéssica Lazzari
Leonardo Costa Tavares Coelho
Liana Villela de Gouvêa
Luciano Bastos Lopes
Márcio Alex Petró
Ney Carlos Dias de Azevedo
Plínio Lopes Leite
Romário Cerqueira Leite
Introdução
Em regiões recentemente antropizadas, existe uma natural limitação de estudos
epidemiológicos e levantamentos casuísticos de doenças que acometem animais de
produção criados nessas regiões. Apesar do desafio, muitas práticas e alternativas
de manejo sanitário já têm sido recomendadas para bovinos leiteiros criados no
bioma Amazônia. Dessa forma, este capítulo visa apresentar as principais doenças
de ocorrência em bovinos de leite na Região Amazônica, bem como descrever a
profilaxia e o tratamento dessas doenças.
Cetose
A cetose é um transtorno metabólico que acomete principalmente vacas de alta
produção. Caracteriza-se pelo aumento das concentrações de corpos cetônicos
nos tecidos e líquidos corporais, que, em quantidades elevadas, são prejudiciais à
manutenção das funções orgânicas. Essa enfermidade ocorre principalmente nas
primeiras três semanas pós-parto, em virtude da grande exigência energética gerada
pela produção do leite, somada à insuficiente ingestão alimentar nesse período. Essa
condição, conhecida por balanço energético negativo (BEN), gera uma drástica perda
de peso, que é visível pela rápida mudança no escore de condição corporal.
que então passa a ser convertido em corpos cetônicos (acetato, cetona e beta-
-hidroxibutirato). Estes servem como fonte energética principalmente do tecido
muscular. Contudo, quando o BEN persiste por períodos prolongados, ocorre
elevação de corpos cetônicos e desenvolvimento de quadros de cetose, que são
classificados de acordo com as causas que os predispõem.
Cetose tipo I
A cetose tipo I é caracterizada pela ingestão de energia insuficiente para atender
a demanda de glicose da glândula mamária. O deficit calórico pode ocorrer de
forma primária, em que há ingestão normal de alimentos; ou secundária, em que há
o estabelecimento de outras enfermidades que levam à diminuição da ingesta ou
anorexia, como mastite, metrite e hipocalcemia. Em ambas as situações, os animais
possuem capacidade normal para síntese de glicose, porém ocorre a deficiência de
substratos percursores da glicose. A cetose tipo I ocorre principalmente entre a 3ª e a
6ª semana pós-parto e é predisposta pelo aumento da demanda energética imposta
no pico da lactação, coincidindo com o período de maior prevalência de doenças, ou
seja, nas seis semanas pós-parto.
Cetose tipo II
A cetose tipo II ou espontânea é prevalente em vacas de alto mérito genético, que
demandam alta drenagem de nutrientes para a glândula mamária e, ao contrário do
tipo I, ocorre principalmente em vacas com alta condição corporal. Sua patogenia
ocorre pela diminuição de receptores de membrana à insulina, criando resistência à
passagem de glicose para o interior das células do tecido periférico. Em contrapartida,
essa glicose é facilmente captada para a glândula mamária. Nessa condição, os
animais tendem a mobilizar reservas corpóreas para suprir a elevada necessidade
energética imposta no início da lactação. É importante ainda salientar que os ácidos
graxos livres provenientes da lipomobilização podem ter efeitos tóxicos sobre as
células pancreáticas, reduzindo os níveis de insulina. Os mecanismos envolvidos
não são totalmente elucidados, sendo esclarecidos principalmente por duas teorias.
A primeira, que é conhecida como teoria hipoglicêmica, é caracterizada pela queda
de glicose em detrimento da glândula mamária, que impulsiona a lipólise e causa
o aumento das concentrações de corpos cetônicos, que, por sua vez, implicará
redução da ingesta. A partir disso, o quadro hipoglicêmico causará a diminuição
da insulina, o aumento do glucagon e o excesso de ácidos graxos livres e corpos
146 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Cetose alimentar
A cetose alimentar ou butírica, ao contrário das anteriores, não está intimamente ligada
ao período de transição, embora possa ser intensificada quando ocorre concomitante-
mente com esse período. Sua patogenia envolve principalmente alimentos, como feno
e silagem mal conservados e com altas quantidades de butirato, que poderá ser subs-
trato para a produção de beta-hidroxidobutirato e acetoacetato no rúmen.
Além disso, a inclusão de alguns aditivos na dieta tem efeito positivo na disponibilidade
de glicose e na metabolização lipídica pelo tecido hepático. Os ionóforos, por
exemplo, são compostos de poliéter produzidos a partir de espécies de Streptomyces
sp., que agem de forma seletiva e causam a diminuição do crescimento e até a morte
das bactérias Gram-positivas. Quando a monensina, que é o principal representante
dessa classe, é utilizada na dose de 15 mg kg-1 a 30 mg kg-1 na dieta dos animais no
periparto, ocorre a redução da incidência de cetose, pois os íons C e H+ divergem
para outros produtos diferentes do metano, que é responsável por cerca de 10% a
12% da perda energética na digestão ruminal.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 147
Hipocalcemia
A hipocalcemia clínica é caracterizada pela abrupta queda dos níveis séricos de cálcio
após o parto, fator esse que compromete a manutenção das funções vitais e pode
levar o animal à morte em poucas horas. Ocorre principalmente em vacas leiteiras,
entre 12 e 24 horas pós-parto, por causa das perdas de grandes quantidades desse
mineral pela glândula mamária já na primeira ordenha e da necessidade de rápida
reposição. Sua manifestação pode ser clínica, quando os níveis de Ca no sangue
148 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Figura 1. Cascata de eventos em quadros de hipocalcemia no pós-parto e seu reflexo na produção de leite e eficiência repro-
dutiva.
Fonte: Adaptado de Goff (2008).
Além dos minerais, a inclusão de lipídios na dieta das vacas, acima do nível 5%–7%
na matéria seca (MS), pode causar a saponização do Ca, que e formação de sabões
de cálcio que se tornam indisponíveis para absorção no rúmen, no ceco e no cólon.
Ademais, fatores como idade, raça, parto e hereditariedade podem ser determinantes
nesse mecanismo.
Hipomagnesemia
A hipomagnesemia consiste na queda dos níveis séricos de Mg na corrente sanguínea
e no líquido cérebro-espinhal. Essa deficiência mineral é também conhecida por
tetania das pastagens, pois causa sintomas como hiperexcitabilidade e tremores
musculares e está associada à falta desse mineral na dieta, principalmente em
sistema de pasto com alta adubação de nitrogênio (N) e potássio (K). Além da baixa
disponibilidade de Mg em plantas que acumulam N e K, a qualidade do solo e o
estado vegetativo da planta são determinantes nesse processo. Em regiões como o
150 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Acidose ruminal
A acidose ruminal consiste em um distúrbio alimentar no qual ocorre a diminuição
do pH ruminal, em virtude da ingestão de carboidratos facilmente degradáveis,
como milho, trigo ou melaço. A digestão desses alimentos pelos microrganismos
ruminais resulta na formação de ácidos graxos voláteis (AGV), os quais são utilizados
como fonte de energia pelo ruminante. Quando há o acúmulo desses ácidos, por
causa da grande ingestão de carboidratos e da incapacidade de os sistemas-tampão
modularem o pH ruminal ao valor fisiológico (entre 6 e 7), há o estabelecimento da
acidose, inicialmente sem a manifestação de sinais clínicos, conhecida como acidose
ruminal subclínica, quando o pH varia de 5,5 a 6.
absorver o impacto e realizar o contato direto com o solo para impulsão e início do
movimento. Cada casco é composto por coroa, muralha e sola, e a junção dessas
estruturas é chamada de linha branca. A muralha é uma estrutura preparada para
acomodar a maior parte do peso do animal; e a sola, ao contrário do que muitos
pensam, possui uma concavidade que a impede de sustentar o peso de forma
constante (Figura 2).
Figura 2. Visão solear do casco bovino com suas áreas anatômicas. As áreas mais escuras (muralha do casco) suportam mais o
peso do animal, e as mais claras acomodam menos peso.
Fonte: Adaptado de Blowey (2004).
Vários fatores podem contribuir para que o casco se fragilize e permita a penetração
de agentes que geram complicações. O casco é semelhante a uma parede de tijolos,
na qual a junção das células queratinizadas se assemelha ao rejunte. Se houver falha
nessa junção, ocorrerá infiltração e penetração de agentes infecciosos.
• Genética: alguns animais são propensos a ter cascos frágeis e, na presença dos
fatores citados, têm maior incidência de lesões. Animais que têm ganho de peso
rápido também ficam mais predispostos, principalmente pelo desgaste desigual
ou excessivo do casco em decorrência desse sobrepeso, além de alterações de
conformação dos aprumos.
A laminite séptica pode se instalar pela ocorrência inicial de quaisquer das lesões
descritas a seguir.
Úlcera de sola – É uma erosão na região de sola, que expõe a parte vascularizada do
casco e predispõe à hemorragia (Figura 3), o que resulta em infecção com presença
de secreção purulenta. O tratamento nesse caso deverá ser realizado por um médico-
-veterinário especializado, já que é uma ferida mais profunda.
Figura 4. Hiperplasia/dermatite interdigital agravada pela presença de miíase (seta preta) e doença da linha branca (seta
vermelha).
Profilaxia
Para evitar patologias de casco, todos os fatores predisponentes devem ser
combatidos, e o casqueamento preventivo do rebanho realizado por um médico-
-veterinário é a melhor forma de evitar prejuízos, pois as lesões serão diagnosticadas
em seu início. Outra medida essencial associada a esse manejo preventivo é a
realização da higiene dos currais e confinamentos, a fim de evitar que os animais
sejam colocados em piquetes alagados.
Fotossensibilização
A fotossensibilização em bovinos, também chamada de requeima, ocorre por
sensibilidade exagerada da pele à luz solar e pela ação de toxinas hepatotóxicas
oriundas de plantas. Na Região Amazônica, a fotossensibilização secundária ou
hepatógena surge em decorrência de uma lesão hepática prévia. Os ductos biliares
são obstruídos prejudicando a função excretora da bile e consequentemente da
filoeritrina, que é o produto da degradação da celulose no rúmen. A eliminação
inadequada da filoeritrina resulta no acúmulo dessa substância na derme, que, em
contato com os raios solares, sofre queimaduras e necrose.
tornando-se inquietos. Na época das chuvas, ocorre maior índice de casos, e as perdas
econômicas estão relacionadas à queda de produtividade, aos custos do tratamento
e à reposição de animais nos casos de morte. Como manejo profilático, indica-se a
realização da diversificação das pastagens, oferecendo outra opção de forragem que
não seja a Brachiaria sp., principalmente para animais após a desmama.
A ingestão de Crotalaria sp. (Figura 6F) durante período prolongado provoca lesão
hepática progressiva. Essa leguminosa ocorre espontaneamente em pastagens da
Região Amazônica, e pesquisas demonstraram dificuldade no controle químico
dessas plantas adultas. Estudos de Inoue et al. (2012) demonstraram que o herbicida
glifosato (1.550/1.860 g ha-1), em aplicação sequencial, apresentou-se eficiente no
controle de C. spectabilis.
Figura 6. Plantas causadoras de fotossensibilização hepatógena: favas de Enterolobium contortisiliquum (A e B); planta de
E. contortisiliquum (C); Lantana camara (D); Lantana trifolia (E); Crotalaria spectabilis (F).
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 161
A B
Figura 7. Amorimia amazonica em uma propriedade na região do Vale do Anari, RO, onde ocorreram surtos de intoxicação em
bovinos (A); Palicourea marcgravii em fase de floração em região de mata (B).
162 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Palicourea pode rebrotar, portanto é necessário cercar a área infestada para impedir
o acesso dos animais.
O tratamento dos animais intoxicados pelas plantas que levam à morte súbita é
sintomático e normalmente não é efetivo, por causa da evolução superaguda dessas
intoxicações.
A B
Figura 8. Pteridium aquilinum presente em campo de propriedade de Porto Velho, RO (A); broto de samambaia considerado
bastante tóxico (B).
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 163
Grande parte dos surtos ocasionados pela ingestão de Ipomoea sp. foi relatada
em animais jovens que apresentaram tremores musculares e desequilíbrio dos
membros posteriores. Para o controle dessas plantas, não se recomenda realizar a
queimada ou o uso de roçadeiras, pois normalmente elas rebrotam. A maneira mais
eficiente de controlar é por meio da aplicação de herbicidas na fase em que a planta
se apresentar vigorosa no pasto. Além disso, durante a época de seca, os animais
devem ser colocados em pastagens pouco invadidas pela Ipomoea sp.
Intoxicação por Amaranthus sp. (Figura 9E) também ocorre em áreas invadidas
pela planta e só acontece quando ingerida em grandes quantidades. O consumo
provoca lesões renais que resultam em ulcerações no esôfago e no abomaso. Apesar
de a doença tóxica ser rara, causa perdas consideráveis. Existem relatos de que,
mesmo sem escassez de pastagem, os bovinos podem ingerir a planta misturada às
forragens, principalmente de Brachiaria sp., em quantidades suficientes para causar
intoxicação. Uma forma de evitar o problema é retirar os animais das áreas invadidas,
principalmente na fase de frutificação da planta.
Fotos: Audrey Bagon 164 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
A B
C D
Tabela 1. Principais espécies vegetais tóxicas para bovinos descritas na Região Amazônica.
Condições
Espécie Nome popular Efeitos Princípio(s) ativo(s)
de ingestão
Amaranthus blitum Bredo-macho Nefrose tubular tóxica Nitratos/Nitritos Planta palatável
Oxalatos, nitratos e
Amaranthus viridis Caruru-de-soldado Timpanismo Planta palatável
ácido cianídrico
Monofluoroacetato
Amorimia amazonica Ciganinha Morte súbita Planta palatável
de sódio
Ação sobre a
Acidental
musculatura lisa
Asclepias curassavica Camará-bravo Asclepiadina (contaminação da
e sobre o sistema
ração ou feno)
nervoso central
Brachiaria decumbens Braquiarinha
Fotossensibilização
Brachiaria humidicola Quicuio Saponinas esteroidais Forrageiras
hepatógena
Brachiaria brizantha Braquiarão
Alcaloides
Crotalaria spectabilis Guizo-de-cascavel Patologias hepáticas Fome
pirrolizidínicos
Inibição da cadeia
Timbó-venenoso- respiratória
Derris floribunda Rotenoides Acidental
-do-pará mitocondrial
Morte
Timbó Fotossensibilização
Enterolobium Triterpenos/
Tamboril hepatógena Favas palatáveis
contortisiliquum Saponinas esteroidais
Orelha-de-macaco Aborto
Acidental (árvore
Saponinas/ utilizada para
Erythrina fusca Suinã Depressor do SNC
Alcaloides sombreamento de
pastos)
Ação sobre o Alcaloide derivado do
Ipomoea asarifolia Salsa Fome
SNC ácido lisérgico
Ipomoea carnea subsp. Ação sobre o Orizambina ou Fome
Manjorana
Fistulosa SNC jalapina Vício
Fotossensibilização
Lantana camara Chumbinho hepatógena Triterpenos
Fome
Lantana trifolia Câmara Distúrbios Lantadeno A e B
gastrointestinais
Palicourea juruana
Monofluoroacetato
Palicourea grandiflora Cafezinho Morte súbita Planta palatável
de sódio
Palicourea marcgravii
Samambaia Hemorragia Fome
Tiaminase/
Pteridium aquilinum Samambaia-do- Hematúria enzoótica Superlotação de pasto
Princípio radiométrico
-campo Carcinomas Vício
Continua...
166 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 1. Continuação.
Condições
Espécie Nome popular Efeitos Princípio(s) ativo(s)
de ingestão
Ação sobre o sistema
Ricina
Ricinus communis Mamona digestivo Torta de mamona
Ricinina
Ação sobre o SNC
Triterpenos
Mangerioba-do-
Lesão renal Saponinas
Senna alata -pará Fome
Aborto Cumarinas
Mata-pasto
Alcaloides
Fome
Diversos (ação sobre
Acidental
Senna occidentalis Fedegoso o metabolismo das Diantrona
(contaminação da
mitocôndrias)
ração ou feno)
Fotossensibilização
Stryphnodendron Barbatimão
hepatógena Saponinas Fome
adstringens Curte-couro
Aborto
Ação sobre o coração Acidental
Arapabaca
Spigelia anthelmia Vômito Alcaloide espigelina (contaminação de
Erva-lombrigueira
Convulsão pastagem)
Arrebenta-boi Timpanismo
Solanum aculeatissimum Ácido cianídrico Planta palatável
Arrebenta-cavalo Morte
Monofluoroacetato
Gibata
Tanaecium bilabiatum Morte súbita de sódio Fome
Chibata
Esteroides cardioativos
Doenças parasitárias
Em decorrência do longo tempo que levou para que a Região Amazônica se tornasse
alvo da expansão da pecuária bovina, bem como das distantes e escassas estruturas
de pesquisas na área da Parasitologia Veterinária, dispõe-se hoje de poucos estudos
que permitam conhecer o que ocorre, em termos parasitológicos reais, com os
animais introduzidos no ainda desconhecido bioma Amazônia. Neste capítulo,
apresentamos conceitos e técnicas cujo objetivo é disponibilizar aos estudantes e
profissionais metodologias comprovadas em suas áreas de aplicação que possam ser
empregadas nos diagnósticos parasitários e no planejamento das ações de controles
parasitários, enquanto se aguardam os necessários estudos em seus diversos biomas
regionais, para que, no futuro, seja possível dar suporte técnico e científico preciso.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 167
Helmintoses
As helmintoses ou verminoses são doenças que acometem bovinos em todo o território
nacional. Ocorrem com maior incidência nos meses de primavera e verão, período no
qual existem condições ambientais mais favoráveis para o desenvolvimento desses
parasitos em sua fase larval e de maior susceptibilidade à infecção dos animais.
É de senso comum na comunidade científica que sua erradicação é praticamente
impossível, e até mesmo indesejada em razão dos estímulos imunogênicos diretos
e indiretos decorrentes da infecção. Com o crescimento e a chegada da maturidade,
o estímulo antigênico leva ao desenvolvimento da tolerância ao desafio parasitário
nos indivíduos em idade adulta.
vários criadores a ter a ilusão de que o produto é seguro e perene. Com isso, fatores
importantíssimos são negligenciados, como, por exemplo, o papel do médico-
-veterinário como consultor em saúde animal e a necessidade do diagnóstico.
É importante lembrar que o uso errado e equivocado dos anti-helmínticos é um dos
principais fatores que têm levado ao desenvolvimento de resistência pelos helmintos
aos diversos grupos químicos. Além da indicação técnica, a correta utilização das
drogas para seu controle deve também considerar o custo-benefício de diferentes
dosagens anti-helmínticas em relação ao desenvolvimento dos animais.
Passados mais 17 a 45 dias de incubação e, desde que sejam mantidos na sombra, com
umidade e temperatura adequadas, deles eclodem as larvas. Essas não apresentam
diferenciação sexual, possuem três pares de patas e têm aproximadamente 0,5 mm
de comprimento. Logo após a eclosão, ainda apresentam baixa motilidade e precisam
completar a oxidação do exoesqueleto de quitina a fim de que se tornem aptas ao
parasitismo, quando adquirem a condição de larvas infestantes. Na vegetação, elas
se mantêm agrupadas, procuram se proteger do sol e sobrevivem por períodos de
2 a 5 meses (Pereira; Labruna, 2008).
Na maior parte do País onde a população de vetores está presente durante o ano
inteiro, a doença é endêmica e os animais são relativamente resistentes à doença,
desenvolvendo imunidade nos primeiros meses de vida em virtude de infecção
precoce, quando ainda estão protegidos pelos anticorpos colostrais, estabelecendo-
-se assim uma condição de estabilidade enzoótica. Nessas regiões, espera-se
que surtos e altas taxas de mortalidade sejam raros (Porto, 2007). Porém vários
levantamentos epidemiológicos realizados no Brasil têm observado a ocorrência
de surtos e casos clínicos agudos da doença, com altas taxas de mortalidade em
áreas endêmicas. Isso pode ocorrer quando não é realizado nenhum controle
de vetores, permitindo altíssimas infestações, ou quando é realizado um controle
muito intensivo dos carrapatos, não permitindo reinfestação dos animais por longos
períodos. O problema ocorre também em bezerros criados em abrigos individuais
onde não há contato com os vetores, e também em sistemas de criação intensiva,
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 173
Animais infectados por B. bovis apresentam sinais clínicos mais intensos e podem
desenvolver, independentemente da anemia, um quadro clínico fatal caracterizado
por sinais neurológicos, como letargia, ataxia, ptialismo, trismo e morte. Esse quadro
é conhecido como babesiose cerebral e é causado pela aglutinação de hemácias
no córtex cerebral (Purnell, 1981). A duração do período patente é de cerca de
10 dias tanto para B. bovis quanto para B. bigemina. O período convalescente é longo.
O tempo de retorno aos parâmetros hematológicos normais e de recuperação de
escore corporal é de até 90 dias. Durante esse período, podem-se observar pequenas
elevações cíclicas, seguidas de queda na parasitemia, o que caracteriza o estado de
portador (Jonsson et al., 2008).
174 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
O diagnóstico pode ser realizado por meio da observação dos sinais clínicos descritos
anteriormente, associados ao histórico de altas infestações de vetores (carrapatos
e moscas), além da observação dos parasitos dentro das hemácias em lâminas de
esfregaço sanguíneo. A bactéria Anaplasma é identificada como um pequeno
corpúsculo de inclusão na região marginal das hemácias. Já a Babesia é visualizada
em pares dentro das hemácias e apresentam forma piriforme característica (Schalm
et al., 1975). Também podem ser realizados testes sorológicos mais sensíveis,
como, por exemplo, as técnicas Elisa e reação de imunofluorescência indireta (Rifi).
Os achados de necropsia são os seguintes: emaciação, palidez de mucosas e órgãos
internos ou icterícia (mais comum na anaplasmose), aumento de volume do baço
e fígado. Em animais acometidos por babesiose cerebral, observa-se agregação de
hemácias nos capilares encefálicos do córtex cerebral (Purnell, 1981).
Mosca-dos-chifres
Entre os dípteros hematófagos que frequentemente atacam os bovinos, destaca-se
a espécie Haematobia irritans (Linnaeus em 1758), popularmente conhecida como
mosca-dos-chifres. Essa mosca faz parte de um extenso grupo de insetos da ordem
díptera (família Muscidea). Tem como característica um par de asas apenas e
176 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
corpo composto por cabeça, tórax com listras escuras e abdômen, e seu tamanho
varia de 3 mm a 5 mm. Tanto as fêmeas quanto os machos adultos se alimentam
exclusivamente do sangue do hospedeiro. Em média, ocorrem 18 picadas por dia,
que causam bastante dor e irritação.
Apesar de seu nome popular vincular sua presença à região dos chifres, esses insetos
concentram-se nas partes do corpo protegidas dos movimentos da cabeça e do rabo
do animal, como a região escapular, o dorso, a região abdominal e as pernas. Como
característica importante, o parasitismo ocorre durante as 24 horas do dia, sendo
interrompido momentaneamente apenas para oviposição. Nesse momento, havendo
disponibilidade de fezes frescas, as fêmeas voam rapidamente e depositam de 10 a 20
ovos, mais precisamente na interface do bolo fecal com o solo (Honer et al., 1991). Cada
fêmea pode realizar cerca de 15 posturas durante sua vida (Wislow, 1992).
Outro ponto importante que merece destaque está relacionado com a pluviosidade,
pois o excesso de chuvas acelera a degradação do bolo fecal e, dessa forma,
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 177
indivíduo pode não voltar a investir no mesmo animal de origem, iniciando o ataque a
um outro membro do rebanho que esteja nas proximidades.
Com relação aos efeitos do clima sobre a saúde dos rebanhos, a alta pluviosidade e
a ocorrência de altas temperaturas encontradas na Região Amazônica, mesmo em
termos de médias anuais, podem ser consideradas como potenciais fatores de risco
para a ocorrência do parasitismo em níveis elevados.
Doenças infecciosas
Brucelose bovina
A brucelose é uma doença infectocontagiosa provocada por bactérias do gênero
Brucella. Sua distribuição é universal e pode ser transmitida dos animais para o
homem.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 179
Transmissão
No animal infectado, a bactéria se localiza com maior frequência em linfonodos,
no baço, fígado, aparelho reprodutor masculino, útero e úbere. A principal fonte
de infecção é representada pela vaca prenhe, que, por ocasião do aborto ou parto,
elimina grandes quantidades da bactéria pelos fluidos e pela placenta, contaminando
pastagens, água, cochos com rações/sal mineral e outros. A eliminação da bactéria
pode ocorrer também pelo leite e sêmen. Essas bactérias podem permanecer viáveis
no meio ambiente por longos períodos, dependendo das condições de umidade,
temperatura e sombreamento. Isso amplia a chance de o agente entrar em contato
com outro animal e infectá-lo.
180 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
O grande risco para a saúde pública decorre da ingestão de leite cru oriundo de
animais infectados ou de produtos lácteos (queijo fresco, iogurte, creme, etc.) não
submetidos a tratamento térmico. A carne crua e o sangue de bovinos infectados
podem conter bactérias e, portanto, representam risco para a população humana.
Nos machos, a bactéria pode instalar-se nos testículos, que podem tornar-se
inflamados, inchados, com aspecto amolecido e presença de pus. A brucelose
também diminui a libido, a fertilidade e pode causar lesões nas articulações.
Em 2007, o Mapa instituiu que todas as fêmeas bovinas com idade superior a
8 meses e que não tenham sido vacinadas com a vacina B19 entre 3 e 8 meses de
idade são obrigadas a ser vacinadas uma única vez, com a vacina RB51 (Brasil, 2007).
Em 2016, com a reformulação do PNCEBT, reforçaram-se as ações sanitárias inerentes
às vacinações contra brucelose das fêmeas bovinas entre 3 e 8 meses de idade.
A aplicação da vacina B19 ou da RB51 nessa faixa etária fica a cargo do produtor rural.
Animais com exames laboratoriais positivos para brucelose deverão ser isolados dos
demais, marcados com a letra P na face direita, e os animais leiteiros deverão ser
afastados da produção. Todos os animais positivos são obrigados a ser abatidos em
30 dias em matadouros frigoríficos com serviço de inspeção oficial e/ou sacrificados
na propriedade sob acompanhamento do médico-veterinário do órgão de defesa
agropecuária.
Tuberculose bovina
A tuberculose é causada por uma bactéria chamada Mycobacterium bovis. A doença
apresenta evolução crônica e acomete principalmente bovinos e bubalinos e pode
ser transmitida dos animais para o homem. Caracteriza-se pelo desenvolvimento
progressivo de lesões nodulares denominadas tubérculos, que podem localizar-se
em qualquer órgão do animal.
maior foi constatada no estado do Espírito Santo, norte de São Paulo, sul de Minas
Gerais e sul de Goiás, coincidindo com o cinturão produtor de leite no Brasil.
Transmissão
Em um animal infectado, a bactéria é eliminada pelo ar expirado, pelas fezes, pela
urina, pelo leite e por outros fluidos corporais, dependendo dos órgãos afetados.
A transmissão inicia-se antes do aparecimento dos sinais clínicos. A principal porta
de entrada da enfermidade é a via respiratória. Em aproximadamente 90% dos
casos, a transmissão ocorre pela inalação do ar contaminado com o microrganismo.
O trato digestivo também é porta de entrada da tuberculose bovina, principalmente
em bezerros alimentados com leite proveniente de vacas com mastite tuberculosa
e em animais que ingerem água ou forragens contaminadas. A principal forma de
introdução da tuberculose em um rebanho é pela aquisição de animais infectados.
O homem adquire a doença por meio da ingestão de leite e derivados crus oriundos
de vacas infectadas. O risco é maior para crianças, idosos e pessoas com deficiência
imunológica, nos quais ocorrem principalmente as formas extrapulmonares.
Os tratadores de rebanhos bovinos e os trabalhadores da indústria de carnes
constituem os grupos ocupacionais mais expostos à doença, cuja principal forma
clínica observada é a pulmonar.
Leptospirose
As leptospiroses são zoonoses cosmopolitas que atingem os animais domésticos,
silvestres, sinantrópicos e acidentalmente os seres humanos. São enfermidades
bacterianas infectocontagiosas que afetam a saúde animal e possuem grande
importância em saúde pública (Chiareli et al., 2012). No Brasil, a leptospirose é
endêmica e está presente no rebanho bovino em quase todos os estados da
Federação (Homem et al., 2001).
Os sinais clínicos variam desde a forma aguda e toxêmica até a forma crônica
e inaparente, e os bezerros são os mais suscetíveis aos processos toxêmicos.
Os animais podem apresentar febre, sangue na urina, anemia, mucosas amareladas,
anorexia, apatia, mastite clínica ou subclínica, com alterações nas características
184 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
As regiões tropicais e subtropicais são as mais favoráveis à infecção. Além disso, nota-
-se uma correlação positiva entre a frequência de casos de leptospirose e os índices
pluviométricos (Oliveira; Lobo, 2003). A Amazônia apresenta estrutura ecológica
favorável à disseminação e à endemicidade da leptospirose por suas condições de
temperatura e umidade, próprias da zona equatorial, associadas à baixa qualidade
dos hábitos de higiene da população e à presença de abundante fauna silvestre,
potenciais reservatórios desses microrganismos.
1
Levantamento sorológico realizado na zona da mata rondoniense em 2017, pelo Departamento de Medicina
Veterinária, campus Rolim de Moura da Universidade Federal de Rondônia.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 185
Raiva
A raiva é considerada uma das doenças de maior importância para a pecuária na América
Latina, em razão dos prejuízos econômicos ocasionados pela elevada mortalidade de
bovinos acometidos por essa enfermidade. Além do impacto econômico, a raiva possui
grande importância em saúde pública, pois a doença pode ser transmitida de animais
para humanos e não tem cura, evoluindo em todos os casos ao óbito.
2
Levantamento sorológico realizado na zona da mata rondoniense em 2017, pelo Departamento de Medicina
Veterinária, campus Rolim de Moura da Universidade Federal de Rondônia.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 187
Estima-se que a raiva bovina na América Latina cause prejuízos anuais de centenas
de milhões de dólares, provocados pela morte de milhares de cabeças, além dos
gastos indiretos com a vacinação de milhões de bovinos e inúmeros tratamentos de
pessoas que mantiveram contato com animais suspeitos.
Etiologia
A raiva é uma doença causada por um vírus que provoca lesões no sistema nervoso
central (SNC), podendo acometer quase todos os mamíferos domésticos e silvestres,
inclusive os seres humanos. No Brasil, o principal transmissor da raiva para os bovinos
é o morcego hematófago (que se alimenta de sangue) da espécie Desmodus rotundus,
que está presente em quase toda a América Latina e consequentemente no Brasil.
A Figura 10 mostra morcegos hematófagos se alimentando do sangue de um bovino.
Epidemiologia
Os focos de raiva em herbívoros domésticos (bovinos, bubalinos, equídeos, ovinos,
caprinos e suínos) têm sido registrados em todo o Brasil, e a grande maioria dos casos
ocorre na espécie bovina. De 2002 a 2012, o Mapa registrou 21.143 casos de raiva em
herbívoros domésticos. Já na região Norte do Brasil, nesse mesmo período, foram
registrados 2.134 casos. Os dados do número de casos registrados e comunicados
ao órgão de defesa agropecuária referem-se a animais enfermos, nos quais foram
realizados diagnóstico laboratorial para raiva. Porém, sabe-se que é muito maior
o número de animais que morrem de raiva anualmente sem que tenha havido
comunicação aos órgãos de defesa agropecuária para investigação e confirmação da
doença por meio de testes laboratoriais.
Sinais clínicos
A raiva pode acometer animais jovens, adultos e de ambos os sexos. Com a
disseminação do vírus no organismo, ocorre o surgimento de sinais clínicos da
doença. Inicialmente o bovino se afasta do rebanho, apresenta apatia e perda de
apetite. Seguem-se outros sinais, como aumento da sensibilidade, mugido constante,
vontade de defecar, aumento da libido, salivação abundante e viscosa e dificuldade
para engolir (confundindo com um engasgo). Com a evolução da doença, os animais
apresentam movimentos desordenados da cabeça, tremores musculares e ranger
de dentes, incoordenação motora e andar cambaleante. Em seguida, os animais
apresentam paralisia dos membros traseiros, causando a queda e a impossibilidade
de se levantar de novo. Nesse momento, podem-se observar movimentos de
pedalagem, cabeça curvada para trás, dificuldade respiratória e finalmente a morte,
que ocorre geralmente entre 3 e 6 dias após o início dos sinais, podendo prolongar-
-se, em alguns casos, por até 10 dias.
Diagnóstico
Quando se identifica animal com sinais clínicos sugestivos de raiva, deve-se
isolá-lo e evitar que pessoas entrem em contato com ele. Recomenda-se que o
produtor comunique imediatamente o caso ao órgão de defesa agropecuária
local, para que o médico-veterinário oficial proceda à avaliação do animal e à
colheita de material para o exame laboratorial de raiva. Na impossibilidade de se
fazer essa notificação ao escritório de defesa agropecuária local, deve-se buscar
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 189
Controle e prevenção
Não existe tratamento para o animal acometido de raiva. Dessa forma, devem ser
tomadas medidas de prevenção e controle instituídas pelo Mapa. Uma das medidas
de controle instituídas é a vacinação do rebanho, que é voluntária, porém em
algumas situações pode ser obrigatória. Nesse caso, o criador é obrigado a declarar a
vacinação contra raiva de seu rebanho para o órgão estadual de defesa agropecuária.
Em alguns municípios onde exista maior risco de ocorrência da raiva no rebanho, a
vacinação é obrigatória. Outra situação em que a vacinação contra raiva é obrigatória
é quando ocorre um foco. Nessa situação, além da propriedade afetada, todas as
outras em um raio de 12 km são obrigadas a vacinar seu rebanho.
Febre aftosa
A“doença de pata e boca”, conhecida nos países da América do Sul simplesmente como
febre aftosa, é uma doença viral não perigosa para o homem, mas extremamente
contagiosa. Afeta principalmente os animais biungulados (mamíferos herbívoros
dotados de cascos fendidos), com destaque para as espécies de produção, como
a bovina, bubalina, ovina, caprina e suína. Ela se caracteriza principalmente pelo
surgimento de vesículas e aftas na boca, gengiva ou língua, acometendo também os
cascos, tetos e úberes, e podem evoluir para graves feridas.
O PNEFA surgiu em 1992 a partir de uma nova visão e vontade política para o
enfrentamento da doença no País. Por meio desse programa e do compartilhamento
da responsabilidade com o setor produtivo, foi possível encarar o grande desafio de
erradicá-la de todo o território nacional.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 191
Nesse contexto, o programa passou por várias adequações, entre as quais se destaca
o processo de regionalização/zoneamento do País para a doença, com classificações
de áreas em relação às condições sanitárias e à capacidade dos serviços veterinários
e restrições de trânsito entre elas. Essas medidas permitiram o fortalecimento das
estruturas dos Serviços Veterinários Oficiais (SVOs) e do sistema de vigilância em
todo o País. Além disso, o programa evoluiu de forma gradativa, de acordo com
o grau de interesse e participação do setor produtivo, por meio da implantação e
ampliação progressiva de zonas livres da doença, as quais foram sendo reconhecidas
internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), conforme
demonstrado na Figura 11.
Em 2015, o Mapa cria um grupo de trabalho com a finalidade de definir novas bases
e estratégias para o PNEFA. Em abril de 2017, o Mapa lança o Plano Estratégico 2017–
2026 do PNEFA.
Destaca-se que o Plano Estratégico 2017–2026 tem como objetivo geral criar e manter
condições sustentáveis para garantir o status de país livre de febre aftosa e ampliar
as zonas livres sem vacinação, de modo a proteger o patrimônio pecuário nacional e
gerar o máximo de benefícios aos atores envolvidos e à sociedade brasileira.
Para realizar a transição de status sanitário de livre de febre aftosa com vacinação para
livre de febre aftosa sem vacinação, foram considerados critérios técnicos, estratégicos,
geográficos e estruturais. Esse agrupamento visa favorecer o processo de retirada
de vacinação com o menor impacto possível. Iniciou-se em 2019 e tem conclusão
prevista para 2023, quando todo o País alcançará a condição de livre de febre aftosa
sem vacinação, reconhecida pela OIE. Os anos seguintes servirão para ampliação e
fortalecimento das relações institucionais entre os setores público e privado, além do
desenvolvimento de um programa nacional sustentável de educação e comunicação
social em saúde animal, fixando cada vez mais a importância da iniciativa privada e
de toda a sociedade.
Figura 11. Evolução das zonas livres de febre aftosa com e sem vacinação.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 193
Desde 2018, todo o território nacional foi reconhecido pela OIE como livre de febre
aftosa. Por isso, neste ano de 2020, o Mapa atualizou sua legislação e aprovou as
novas diretrizes gerais do PNEFA, por meio da publicação da Instrução Normativa
n° 48 de 14/07/2020 (Brasil, 2020). Dando seguimento às diretrizes gerais do Plano
Estratégico do PNEFA 2017-2026, houve a suspensão da vacinação contra febre
aftosa nos estados do RS, PR, RO, AC e parte dos municípios do estado do Amazonas
e do Mato Grosso, com o objetivo de se iniciar o processo de transição e posterior
encaminhamento para a OIE do pleito para ampliação de área livre de febre aftosa
sem vacinação, atualmente representada apenas pelo estado de Santa Catarina.
Dessa forma, a detecção precoce é um dos objetivos que exige um forte sistema de
vigilância em uma área sem a doença. Para isso, deve atender aos seguintes atributos:
ser contínua, cobrir toda a população animal susceptível e ser sensível a prevalências
muito baixas, como é o caso da febre aftosa no Brasil. Portanto, esse tipo de vigilância
194 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
deve ser apoiado por uma ampla conscientização do setor produtivo, especialmente
dos detentores de animais, a fim de que identifiquem sinais clínicos suspeitos de
enfermidade vesicular alvo (febre aftosa e estomatite vesicular) e não descartem
mecanismos que favoreçam a observação clínica oficial dos casos suspeitos.
Etiologia
A EEB é causada por um agente denominado de príon, que é uma proteína infectante
extremamente resistente ao congelamento, ao calor e aos processos convencionais de
esterilização e desinfecção química. Atualmente a EEB apresenta-se de duas formas.
Uma é chamada de EEB atípica, que é uma forma mais rara da doença e acontece
naturalmente em bovinos mais velhos (acima de 8 anos). A outra forma é a EEB clássica,
que ocorre em bovinos alimentados com rações que contenham farinhas de origem
animal (farinha de carne e ossos e outros) contaminadas com o príon.
CAPÍTULO 8 – Manejo sanitário 195
Epidemiologia
A EEB foi identificada pela primeira vez na Inglaterra, em 1986. Já foram registrados
cerca de 190 mil casos em todo o mundo, dos quais aproximadamente 96% ocorreram
no Reino Unido. Fora do Reino Unido, a doença também foi confirmada em vários
outros países da Europa. No Brasil, ocorreram dois casos de EEB: um foi registrado em
2012 no município de Sertanópolis, PR, e o outro caso em 2014 no município de Porto
Esperidião, MT. Ambos os casos tratavam-se de animais velhos, criados extensivamente,
com alimentação à base de pastagem, indicando a forma atípica da doença. No caso
que ocorreu em Mato Grosso, foi confirmado laboratorialmente a forma atípica de EEB.
Sinais clínicos
Na EEB clássica, o tempo entre a contaminação do animal e o surgimento dos
primeiros sinais clínicos é de 2 a 8 anos (média de 5 anos). Os bovinos afetados por
EEB podem apresentar alterações de comportamento, sensibilidade e locomoção.
Inicialmente ocorre diminuição na produção de leite e perda de peso, apesar da
manutenção do apetite.
Diagnóstico
Não existe ainda exame laboratorial para diagnosticar EEB no bovino vivo, ou seja,
os exames laboratoriais são realizados nos animais suspeitos quando já morreram.
No Brasil, os exames laboratoriais são realizados por laboratórios oficiais do Mapa.
196 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Prevenção e vigilância
Desde o ano de 1990, o Mapa já adotava medidas de prevenção para a EEB. Atual-
mente existe o Programa Nacional de Prevenção e Vigilância da EEB (PNEEB), que
estabelece as normas sobre ações de prevenção e vigilância para essa enfermidade.
Essas ações são executadas pelo Mapa em conjunto com os órgãos estaduais de de-
fesa agropecuária.
Em bovinos com suspeita de raiva também com idade a partir de 2 anos, além
do exame laboratorial de raiva, o Mapa recomenda que seja realizado o exame
laboratorial de EEB. Isso ocorre porque ambas as doenças apresentam sinais clínicos
semelhantes.
Durante as fiscalizações, caso algum produtor seja flagrado usando esses alimentos
proibidos na alimentação dos ruminantes, procede-se à interdição da propriedade
e realiza-se a colheita de amostra do alimento suspeito, o qual é enviado para
laboratório oficial do Mapa, para confirmar a presença de farinhas de origem animal.
Confirmada a presença de farinha de origem animal no alimento suspeito, os
bovinos da propriedade que ingeriram tal alimento serão sacrificados e destruídos
na propriedade, ou encaminhados para abate sanitário em matadouro frigorífico
sob inspeção oficial. Além do sacrifício e/ou abate sanitário dos animais, o produtor
poderá sofrer auto de infração com multa e/ou responder perante a autoridade
judicial.
Considerações finais
A obtenção de índices de excelência na produção leiteira está baseada em um
adequado manejo sanitário do rebanho. Assim, torna-se fundamental garantir um
manejo nutricional satisfatório, apropriadas condições de higiene ambiental, além
de um programa robusto de imunização das principais patologias que acometem o
gado leiteiro. O atendimento dessas condições propiciará que os animais expressem
ao máximo seu potencial genético, proporcionando, consequentemente, maior
produtividade e retorno econômico aos produtores.
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203
CAPÍTULO 9
Introdução
Este capítulo tem por finalidade apresentar as principais instalações de um sistema de
produção de leite destinado a animais em pastagem com suplementos alimentícios
e uso de inseminação artificial. Não serão apresentados detalhes estruturais das
instalações, já que o planejamento de construções rurais deve ser feito por técnicos
especializados com base nas características da propriedade e dos objetivos do
produtor. No entanto, serão listadas as principais instalações para um sistema de
produção de leite e serão propostas algumas estratégias para adequar a ambiência
dessas instalações, considerando o clima tropical úmido, que é predominante na
Região Amazônica brasileira.
Curral de espera
O curral de espera é o local onde as vacas em lactação permanecem antes da orde-
nha. Deve ser dimensionado de modo que a área média por vaca seja de 2,0 m2 a
2,5 m2. O piso deve ser feito com material não escorregadio, e o declive deve ser de
2% para facilitar a limpeza e o escoamento das águas e dos resíduos orgânicos. Deve
ser provido de bebedouro cuja capacidade de fornecimento de água seja de 40 L dia-1
por vaca. Nesse local, deve-se garantir sombreamento e ventilação adequada.
A Figura 1 mostra dois exemplos de currais de espera, ambos no estado de Rondônia.
Na Figura 1A, em um sistema de produção de leite de búfalas localizado em Presiden-
te Médici, o curral tem piso de cimento e cerca de madeira e cordoalha. Na Figura 1B,
em um sistema de produção de leite de vacas mestiças Holandesa x Gir localizado em
Ji-Paraná, o curral tem piso de blocos de concreto e cerca de concreto e cordoalha.
Fotos: Ana Karina Dias Salman
A B
Figura 1. Curral de espera com piso de cimento e cerca de madeira e cordoalha (A); e outro com piso de blocos de concreto e
cerca de concreto e cordoalha (B).
Sala de ordenha
Existem vários tipos de sala e sistemas de ordenha. A escolha por um deles e o planejamento
de seu uso devem ser realizados por assistência técnica especializada e de confiança,
que deverá considerar os seguintes aspectos: o padrão racial do rebanho, o número
de vacas a serem ordenhadas, o manejo adotado na propriedade, a disponibilidade e
a capacitação da mão de obra, etc. O importante é que a sala seja funcional e permita
que o(s) ordenhador(es) tenha(m) um ambiente favorável para a realização da ordenha,
seguindo os padrões de higiene e controle de mastite. A sala de ordenha deve ser de fácil
limpeza, e o piso não pode ser escorregadio para evitar acidentes com os animais.
CAPÍTULO 9 – Ambiência nas instalações para produção de leite 205
Sala do leite
A sala do leite deve ser próxima à sala de ordenha, pois isso facilita o transporte tanto
do leite até o tanque de refrigeração, quando for o caso, quanto dos equipamentos e
utensílios utilizados na ordenha. Como esse é o local onde esses itens são higieniza-
dos, é necessário que tenha pia com uma ou duas cubas. A iluminação e a ventilação
devem ser favorecidas por janelas com tela para evitar a entrada de insetos; e o piso,
as paredes e o forro devem ser de material impermeável e de fácil limpeza.
Curral de alimentação
O curral de alimentação é o local onde as vacas são suplementadas após a ordenha.
Nos cochos (Figura 2A), o espaço linear por cabeça alojada deve ser de 0,6 m a 0,8 m,
e a cobertura pode ser feita de telha, palha ou tela de sombreamento 50% (sombri-
te). O piso pode ser de terra batida, desde que o local não seja susceptível à formação
de lama (Figura 2A), ou calçado com blocos de concreto (Figura 2B). O importante
é que seja possível manter o local seco e sem obstáculos, para que os animais não
sejam expostos ao risco de acidentes.
Figura 2. Currais de alimentação para suplementação de vacas após ordenha: piso de terra batida (A) e piso de blocos de
concreto (B).
Área de manejo
A área de manejo é destinada para o conjunto de seringa (ou mangueira), tronco
(ou brete) de contenção, balança e embarcadouro. O dimensionamento e a escolha
do tipo de tronco devem ser feitos de acordo com o tamanho e o padrão racial do
206 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
rebanho. Essa área também pode ser utilizada para os procedimentos de inseminação
artificial, exames ginecológicos pós-parto e diagnóstico de gestação, bem como
para o manejo sanitário. Na Figura 3, são apresentados exemplos de um conjunto
pertencente a um sistema de produção de leite de búfalas em Presidente Médici,
Rondônia.
Fotos: Ana Karina Dias Salman
A B
O ambiente de criação é constituído pelo espaço físico e social no qual o animal está
inserido. Essa situação refere-se ao conceito de ambiência, o qual é definido como:
“o espaço constituído por um meio físico, e ao mesmo tempo um meio psicológico,
preparado para o exercício das atividades do animal que nele vive” (Paranhos da
Costa, 2000).
Esse meio físico, que aqui será tratado como o sistema de produção, na maioria
das vezes não atende às necessidades dos animais, os quais precisam de ajustes
fisiológicos e comportamentais para manter a homeostase e se adaptar às diversas
características e condições do ambiente.
Os bovinos leiteiros são animais homeotérmicos, o que significa que são capazes
de manter a temperatura corporal constante independentemente das variações
da temperatura ambiental. Entretanto, existe uma faixa de temperatura ambiente,
denominada de zona de termoneutralidade, na qual os bovinos se encontram em
conforto térmico. Nesse caso, para manter o sistema corporal em homeostase,
os animais não necessitam usar seu sistema termorregulador para a produção
(termogênese) ou perda de calor (termólise). Logo, o gasto de energia para mantença
é mínimo, proporcionando maior eficiência produtiva.
Os valores ideais da temperatura ambiente para os bovinos variam entre 4 ºC e 26 ºC
(Huber, 1990) de acordo com as diferentes raças. Na raça Holandesa, essa faixa está
entre 5 ºC e 21 ºC, na raça Jersey é de até 24 ºC e nas raças zebuínas de até 29 ºC (Silva,
2000). De tal modo, valores de temperatura acima dos mencionados resultariam em
aumento da temperatura corporal e influenciariam de forma negativa o desempenho
produtivo.
A B
Figura 4. Animais com sinal de estresse térmico (A) buscam locais sombreados e bebedouros (B).
Caracterização do ambiente
O estresse térmico caracteriza-se pela soma dos mecanismos de defesa do organis-
mo em resposta ao estímulo desencadeado por um fator causador de estresse, seja
ele externo ou interno, a fim de manter o equilíbrio fisiológico (Hahn, 1993). Entre
os principais fatores estressantes no clima tropical, podem ser citados os seguintes:
temperatura do ar, umidade relativa, radiação solar (direta e indireta) e vento.
em que:
Ts = temperatura do termômetro de bulbo seco, em ºC.
Tpo = temperatura do ponto de orvalho, em ºC.
CAPÍTULO 9 – Ambiência nas instalações para produção de leite 209
Cabe ressaltar que não se sabe se essa classificação proposta por Du Preez (2000)
é adequada para bovinos mestiços, já que ela foi proposta para rebanho da raça
Holandesa pura. Em estudo realizado no Brasil com vacas mestiças 1/2, 3/4 e 7/8
Holandesa-Zebu foram identificados, respectivamente, os seguintes valores críticos
de ITU: 79, 77 e 76 (Azevedo et al., 2005).
Outra ressalva ao ITU é o fato de esse índice não considerar em sua equação
elementos importantes como a radiação solar e a movimentação do ar. A associação
desses quatro fatores (temperatura, umidade, radiação solar e vento) determina a
troca de calor entre o animal e o meio ambiente. Considerando essas limitações
do ITU, o índice de carga de calor (ICC), cuja equação inclui a radiação solar e a
velocidade do vento, tem sido sugerido como alternativa para estimar o conforto
térmico de bovinos (Gaughan et al., 2008).
em que:
e = base do logaritmo natural (valor aproximado de 2,71828).
Ainda de acordo com Gaughan et al. (2008), o animal ganhará calor quando o ICC
for maior que 86 e irá dissipar o calor do corpo quando o ICC for inferior a 77.
210 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
É importante salientar que esses limites são apenas um guia e podem ser maiores ou
menores dependendo de outros fatores, como dieta e consumo de ração.
As perdas de produção de leite (DPL) decorrentes dos fatores climáticos podem ser
estimadas a partir da seguinte equação desenvolvida por Hahn (1993):
em que:
DPL = declínio absoluto na produção de leite (kg por vaca por dia).
PN = nível normal de produção de leite (kg por vaca por dia).
ITU = valor médio diário do índice de temperatura e umidade (adimensional).
Cada propriedade tem suas necessidades e seus objetivos, e é isso que deve ser
levado em consideração para determinar a melhor forma de distribuição das
árvores. Considerando a eficiência na distribuição dos nutrientes, a melhor opção é a
212 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Ventilação
Em condições extremas, contar somente com os recursos naturais pode não ser
suficiente para que as condições térmicas nas instalações estejam adequadas, o
1
Disponível em: <https://ecopex.com.br/telha-ecologica/>.
214 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
C D
Figura 5. Ventiladores instalados na linha de alimentação (A), nas camas (B), na sala de espera (C) e na sala de ordenha (D).
O SRE pode ser obtido por vários processos, entre os quais se destacam: nebulização,
microaspersão e aspersão sobre os animais ou telhados (Silva, 1998). A diferença
entre a nebulização e a aspersão consiste no diâmetro da gota e na pressão na qual
esses sistemas operam (Figura 6).
A B
Quando os animais são borrifados com gotículas de água, torna-se desejável que
essa névoa permaneça no microambiente que circunda o animal, para que seja re-
movida pelos ventiladores, e assim resfriem o ambiente. Dessa forma, a nebulização
associada à movimentação do ar proporcionada por ventiladores acelera a evapora-
ção (Armstrong, 1994).
C D
Figura 7. Possibilidades de utilização do resfriamento evaporativo: na linha de alimentação (A e B) e na sala de espera (C e D).
Alguns trabalhos relataram que o uso de grandes volumes de água nem sempre foi
associado a maiores benefícios na produção de leite (Strickland et al., 1988; Miltlöhner
et al., 2000). O experimento desenvolvido por Means et al. (1992) avaliou três taxas
de aspersão d’água (313,4 L, 492,9 L e 704,1 L de água por hora) em vacas lactantes
mantidas em free stall. Os animais eram aspergidos em ciclos de 15 minutos, com
tempo de aspersão de 1,5 minuto por ciclo. A produtividade e as variáveis fisiológicas
(frequência respiratória e temperatura retal) não apresentaram diferenças entre os
tratamentos, demonstrando assim que o uso de maior fluxo de água nem sempre
reflete em melhores resultados.
218 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Por sua vez, em condições tropicais, Matarazzo et al. (2007) testaram diferentes
ciclos de aspersão (12, 14 e 16 minutos) na linha de alimentação em sistema free stall
(aspersores ligados por 1,25 minuto por ciclo durante 9 horas por dia) e observaram
que o ciclo de 16 minutos, apesar de utilizar menor volume de água, proporcionou
boas condições de conforto térmico aos animais. Com esse período de intermitência,
as vacas da raça Holandesa em lactação apresentaram menores valores de
temperatura retal, frequência respiratória e temperatura da superfície do pelame.
Além disso, houve redução no desperdício de água pelo sistema. Com a mesma
proposta de diminuir o uso de água em sistemas de aspersão, Mello (2015) avaliou
os efeitos da aspersão de água na sala de espera. O autor empregou 0,08 L e 1,00 L
de água por bico por minuto e observou que ambas as quantidades foram efetivas
para a redução da frequência respiratória, da temperatura retal e da temperatura da
superfície do pelame de vacas Holandesas em lactação. Esses resultados enfatizam
a necessidade de se planejar o SRE de forma racional, a fim de evitar excessos e
diminuir a produção de resíduos.
Considerações finais
As instalações devem ser planejadas de modo a oferecer conforto aos animais. Toda
vez que essa condição não é satisfeita, devem-se adotar estratégias de manejo
ambiental que permitam atenuar os efeitos adversos do estresse térmico sobre a
produção de leite. As medidas de controle do ambiente devem ser personalizadas a
cada situação, portanto não existe uma recomendação única de climatização. Sendo
assim, o monitoramento das variáveis climáticas é indispensável para determinar
o potencial estressante do ambiente sobre o bem-estar do rebanho, permitindo a
implantação de estratégias mais adequadas para cada situação.
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220 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
CAPÍTULO 10
Introdução
O objetivo deste capítulo é descrever o manejo para vacas secas de acordo com o
perfil das vacas encontradas na maior parte dos rebanhos amazônicos, ou seja, o
manejo que mais se adequa a esse tipo de vaca e perfil de produtores.
Além dessas, há outro grupo de vacas que são aquelas que tiveram a lactação
interrompida de forma proposital, com o objetivo de preparar a vaca para a próxima
lactação.
Observe que, para escolher um dos dois critérios a serem utilizados, é imprescindível
tomar as seguintes medidas:
CAPÍTULO 10 – Manejo da vaca seca 223
Para instruções sobre a secagem das vacas, tem sido utilizada a cartilha intitulada
Método de secagem de vacas, publicada pela Embrapa Gado de Leite (Ribeiro, 2000).
A metodologia proposta nessa cartilha tem sido utilizada por produtores rurais
que têm conseguido sucesso na secagem das vacas. O texto dessa cartilha será
apresentado aqui com pequenas adaptações.
Para realizar a secagem das vacas, as seguintes medidas devem ser tomadas:
• Verificar no início da secagem se a vaca está com mastite. O diagnóstico será feito
com o uso da caneca telada ou de fundo preto. Se o teste da mastite for negativo,
a vaca estará apta ao processo de secagem; se positivo, não se deve secar a vaca,
mas tratar a mastite.
• Não ordenhar mais; mesmo se o úbere se encher de leite. Esse fato não ocasionará
nenhum mal ao animal, pois o organismo da vaca absorverá esse leite. Entretanto,
deve-se observar diariamente se o úbere da vaca está avermelhado ou dolorido,
embora raramente isso aconteça. Na hipótese de o úbere estar inflamado, deve-
-se fazer nova ordenha e realizar o tratamento da mastite normalmente (o mesmo
tratamento das vacas em lactação). Após a cura completa da mastite, deve ser
aplicado antibiótico de longa duração específico para o momento da secagem.
Decorridas duas semanas, a vaca não mais produzirá leite e a secagem estará
completa. A alimentação poderá voltar ao normal – volumosa e concentrada –,
condizente com o período pré-parto.
Esse método e esses cuidados têm permitido realizar a secagem de vacas com
produção média superior a 20 L dia-1. Trata-se de um processo fácil e eficiente e, por
ser rápido, não acarreta problema algum para o feto.
É recomendado que essa avaliação seja feita por pessoa treinada e, como a avaliação
é subjetiva, recomenda-se que a mesma pessoa seja o avaliador da propriedade, para
que não haja variação nas notas atribuídas.
Figura 1. Pontos anatômicos que são observados para a determinação do escore da condição corporal.
Fotos: Luiz Francisco Machado Pfeifer 226 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
A B
C D
Apesar de a avaliação do ECC ser uma ferramenta muito importante para o mane-
jo nutricional e reprodutivo do rebanho, trata-se de uma técnica subjetiva, por-
tanto podem ocorrer discrepâncias entre os avaliadores. Com o objetivo de auxi-
liar o produtor na avaliação do ECC, a Embrapa desenvolveu um dispositivo mui-
to simples que avalia a condição corporal de forma prática e objetiva, o Vetscore.
Essa ferramenta é composta de duas hastes articuladas que devem ser sobrepostas
na garupa do animal (Figura 3). O dispositivo indica se o animal encontra-se em ECC
baixo, adequado ou alto. O ECC adequado é desejado para vacas de leite a partir do
pico de lactação. Como o Vetscore caracteriza os animais apenas nessas três condi-
ções, independentemente da fase de produção, a Embrapa já está desenvolvendo
uma nova versão que vai informar ao produtor as condições ideais para cada fase do
ciclo produtivo da vaca.
A avaliação do escore de condição corporal das vacas secas é fundamental para evitar
distúrbios metabólicos e redução nos índices produtivos e reprodutivos durante a
vida do animal. Por isso, os produtores devem observar seu rebanho, porque:
Vacas magras devem ser mantidas em pasto de alta qualidade e de maior massa
de forragem e devem ser suplementadas diariamente com concentrado balanceado,
para que elas possam ganhar peso e atingir a condição corporal desejável de acordo
com a fase de lactação em que o animal se encontra.
Período de transição
O período de transição corresponde ao intervalo de tempo que se estende desde
as três últimas semanas de gestação até as três primeiras semanas de lactação
(Grummer, 1995).
CAPÍTULO 10 – Manejo da vaca seca 229
O produtor deve ter em mente que suas melhores vacas serão os animais com maior
chance de apresentar os problemas metabólicos já mencionados anteriormente.
Com o objetivo de facilitar o manejo das vacas secas, recomenda-se a divisão desses
animais em dois grupos.
• Grupo 1 (60 a 21 dias antes do parto): neste grupo, encontram-se as vacas que
acabaram de encerrar a lactação. A dieta é menos energética do que a do segundo
grupo. No caso de as vacas estarem em boa condição corporal (ECC entre 3,25 e
3,5), e em pastagem com boa disponibilidade e qualidade, não há necessidade de
fornecimento de concentrado.
• Grupo 2 (21 dias antes do parto até o parto): neste grupo, as vacas já devem
receber uma dieta similar à dieta das vacas do grupo de início de lactação.
Essa divisão permite ao produtor manejar as vacas secas em dois grupos distintos e,
consequentemente, formular dietas específicas para cada fase.
A dieta deverá ser formulada especialmente para atender aos requerimentos das
vacas secas: mantença, crescimento fetal e reposição das reservas corporais. Nessa
fase, recomenda-se no mínimo 12% de proteína bruta na dieta. O consumo de
MS poderá ser próximo de 2% do peso corporal. Quanto à forragem, deverá ser
230 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Conforme proposto na Tabela 1, na fase que se inicia 21 dias antes do parto, o ideal
é que sejam utilizadas dietas aniônicas, ou seja, aquelas em que a quantidade de
ânions (Cl- e S-) é superior à quantidade de cátions (Na+ e K+). Esses objetivos podem
ser atingidos de duas formas: podem-se comprar rações prontas específicas para essa
fase da vida da vaca ou sais aniônicos para formulação da ração na própria fazenda.
Em ambos os casos, deve-se observar de maneira criteriosa as informações presentes
no rótulo do produto.
Tabela 1. Quantidades recomendadas de minerais e vitaminas na dieta das vacas, no período de 60 a 21 dias antes do parto e
no período de 21 dias antes do parto até o parto.
Minerais e vitaminas 60 a 21 dias antes do parto 21 dias antes do parto até o parto(1)
Cálcio absorvível (g) 18,10 95,00
Cálcio (%) 0,44 0,98
Fósforo absorvível (g) 19,90 36,00
Fósforo (%) 0,22 0,37
Magnésio (%) 0,11 0,38
Cloro (%) 0,13 0,89
Potássio (%) 0,51 1,32
Sódio (%) 0,10 0,15
Enxofre (%) 0,20 0,31
Cobalto (mg kg-1) 0,11 0,11
Cobre (mg kg-1) 12,00 13,00
Iodo (mg kg-1) 0,40 0,40
Ferro (mg kg-1) 13,00 13,00
Manganês (mg kg-1) 16,00 18,00
Selênio (mg kg-1) 0,30 0,30
Zinco (mg kg-1) 21,00 22,00
Vitamina A (IU/dia) 80.300 100.000
Vitamina D (IU/dia) 21.900 25.000
Vitamina E (IU/dia) 1.168 1.803
Valores para dietas com sais aniônicos.
(1)
Considerações finais
Os impactos negativos gerados na bovinocultura leiteira pela falta de boa alimentação
e bom manejo no período seco podem causar muitos prejuízos para o produtor de
leite. Assim é de suma importância que o manejo seja realizado de maneira eficiente,
tanto no processo de secagem, quanto na alimentação e no conforto desses animais.
Essas ações são uma resposta ao período mais crítico da vida de uma vaca e garante
animais saudáveis, nas melhores condições possíveis durante a nova lactação.
Além disso, é necessário esclarecer que, antes de tudo, o produtor deve manejar
corretamente as vacas secas ao longo do ano, para que, posteriormente, em casos
mais específicos, seja possível obter melhoria nos índices produtivos e reprodutivos
e menor incidência de distúrbios metabólicos via intensificação de manejo.
As medidas a serem tomadas em cada situação devem ser discutidas e decididas, se
possível, com orientação do nutricionista da propriedade.
Referências
GRUMMER, R. R. Impact of changes in organic nutrient metabolism on feeding the transition dairy
cow. Journal of Animal Science, v. 73, p. 2820-2833, Sept. 1995. DOI: 10.2527/1995.7392820x.
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milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/guia-rapido-para-nutricao-de-vacas-leiteiras-60707n.aspx>.
Acesso em: 29 maio 2019.
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National Academy Press, 2001. 381 p.
RIBEIRO, A. C. C. L. Método de secagem de vacas. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2000.
(Instrução Técnica para o Produtor de Leite, 3).
SANTOS, R. M.; VASCONCELOS, J. L. M. Escore de condição corporal em vacas de leite. 2007.
Disponível em: <http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/reproducao/escore-da-condicao-
corporal-em-vacas-de-leite-33876n.aspx>. Acesso em: 29 maio 2019.
235
CAPÍTULO 11
Introdução
A criação de bezerras e novilhas é considerada uma das atividades mais importantes
de um sistema de produção de leite e exige boas práticas de manejo e muita atenção
a detalhes. Um bom sistema de criação de bezerras garante não apenas sua saúde,
mas também a lucratividade e a sustentabilidade de todo o sistema de produção
de leite. Durante essa fase, cada propriedade deve ter metas claras que devem ser
cumpridas, e os custos devem ser monitorados em busca de oportunidades que
aumentem a eficiência do sistema. Boas práticas de criação devem ser aplicadas
por serem eficazes na redução em mais de 70% da mortalidade de bezerras e na
diminuição dos tratamentos com antibióticos em 54% (Paranhos da Costa; Silva,
2014).
A criação de bezerras, fase que será discutida neste capítulo, compreende não
apenas a fase de criação per si, mas também o período que antecede seu nascimento
(o período seco das vacas, aproximadamente 60 dias antes do parto). Os aspectos
práticos mais importantes que permitem a melhoria dos sistemas de criação de
bezerras do nascimento até o desmame são os seguintes: os cuidados no período do
pré-parto até o nascimento, instalações, manejo ao nascimento, cuidados durante o
período de cria, saúde da bezerra, cuidados após a desmama e controle dos índices
zootécnicos.
A maioria dos trabalhos que estudam limites de temperatura e umidade para vacas
de leite utilizam como parâmetro a raça Holandês, que é especializada em produção
de leite. Entretanto, na Amazônia, os rebanhos são formados por animais cruzados,
gerados principalmente do cruzamento entre Holandês e Gir, resultando em
animais Girolando de diferentes graus de sangue. Por serem menos especializadas
na produção de leite, quando comparadas às vacas de raça Holandês pura, animais
Girolando suportam níveis ligeiramente mais elevados de temperatura e umidade,
mas também sofrem de estresse térmico se não conseguirem eliminar o calor
acumulado em razão da exposição ao sol, das altas temperaturas e da umidade
relativa do ar. Portanto, é um erro acreditar que, em sistemas de leite que usam
animais mais rústicos ou com menor potencial de produção de leite, não se deve
preocupar com as consequências negativas no desempenho do rebanho por causa
do estresse por calor. Bovinos cruzados ½ Gir x ½ Holandês, machos e fêmeas, com
idade entre 14 e 20 meses sofrem estresse térmico severo quando são expostos por
6 horas à condição de 42 °C e 60% de umidade (Ferreira et al., 2006).
Estudos têm demonstrado que o estresse térmico durante o período seco não
somente afeta a lactação subsequente das vacas, mas também compromete o
desempenho das bezerras. Vacas que passam o período seco sob estresse térmico
produzem colostro de pior qualidade e menos leite na lactação subsequente.
Bezerras nascidas de vacas submetidas ao estresse térmico durante o período seco
são mais leves (Tao; Dahl, 2013), têm maior probabilidade de morte no período de 1
a 60 dias de idade e apresentam comprometimento na transferência de imunidade
passiva. Além disso, existem evidências de que novilhas nascidas de vacas que
estavam sob estresse térmico durante o período seco produzam menos leite em sua
primeira lactação (Monteiro et al., 2016). Dessa forma, é importante considerar o uso
de sistemas de sombreamento nas áreas destinadas a essa fase da criação. Algumas
opções são apresentadas no Capítulo 9.
CAPÍTULO 11 – Criação de bezerras leiteiras 237
Figura 2. Bezerreiros não adequados por apresentarem pé direito baixo (A) e por serem de difícil limpeza e desinfecção (A e B).
O local escolhido para o bezerreiro deve ser bem ventilado e de fácil acesso para
facilitar os cuidados com os animais. A instalação deve permitir a limpeza ou
desinfecção diária e, principalmente, após a morte ou saída dos animais (Azevedo
et al., 2008). Existem inúmeras opções de instalações para bezerras em aleitamento,
desde bezerreiros fechados e coletivos, até abrigos individuais confeccionados
com diferentes tipos de materiais. O importante é sempre considerar que essa é
uma fase bastante delicada, em que as bezerras estão mais susceptíveis às doenças
infectocontagiosas, por apresentarem imunidade mais baixa do que em outras
fases da vida. A seguir são apresentadas algumas opções de instalações para cria de
bezerras leiteiras.
CAPÍTULO 11 – Criação de bezerras leiteiras 239
Sistemas individuais
A disseminação de doenças pelo contato é o principal motivo para adotar a criação
de bezerras de forma individualizada durante a fase de aleitamento. Doenças como
240 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
a diarreia, tão comum nessa fase, são a principal causa de morte de bezerros, e sua
transmissão é oral-fecal, o que agrava a situação quando os animais ficam agrupados.
Abrigos individuais móveis (casinhas) têm sido uma alternativa prática e econômica
para a criação de bezerras. Entre as inúmeras vantagens de tal sistema, destacam-se
as seguintes: redução dos riscos de propagação de doenças com menor morbidade
e mortalidade (Santos; Lopes, 2014), melhor controle individual do consumo e,
consequentemente, melhor ganho de peso e desempenho dos animais.
É muito importante observar onde as casinhas serão localizadas. O local deve ser
próximo a áreas de movimentação humana para facilitar o manejo dos animais e permitir
a observação e identificação de algum possível animal doente. Além disso, a área
deve ser protegida de ventos dominantes e não ser sujeita a alagamento. As casinhas
podem ser localizadas em uma área com capim de altura média (aproximadamente
10 cm–15 cm) e bom valor nutricional (preferencialmente do gênero Cynodon, por
serem macios e terem altura mais baixa). Porém, sempre que a área começar a molhar
ou a acumular barro, as casinhas devem ser trocadas de lugar (daí a importância da
escolha do material dos abrigos, de forma que facilite sua movimentação).
Figura 3. Casinhas individuais confeccionadas com PVC e manta térmica (A e B) e dotadas de cochos para fornecimento de
água e ração (C). Detalhe do destorcedor utilizado para prevenir o enforcamento dos animais pela corrente (D).
Manejo ao nascimento
O manejo correto no primeiro dia de vida define tanto a saúde dos animais quanto
a mão de obra e os custos associados à fase de criação de bezerras (0 a 60 dias). Ao
nascer, as bezerras devem ser capazes de levantar e mamar o colostro o mais rápido
possível, pois, durante as primeiras horas pós-parto, a absorção de imunoglobulinas do
242 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Colostro1 Leite2
Item Valor mínimo Valor máximo
Média Média
encontrado encontrado
Gordura (%) 6,70 2,0 26,5 3,9
Proteína (%) 14,92 7,1 22,6 3,5
Lactose (%) 2,49 1,2 5,2 4,6
Sólidos totais (%) 27,64 18,3 43,3 11,5
Minerais (%) 1,11 - - 0,74
IgG1 (mg mL-1) 34,96 11,8 74,2 0,35
IgG2 (mg mL-1) 6,00 2,7 20,6 0,05
IgA (mg mL-1) 1,66 0,5 4,4 0,08
IgM (mg mL-1) 4,32 1,1 21,0 0,09
Fonte: 1Adaptado de Kehoe et al. (2007) e 2El-Loly (2007).
O colostro deve ser de boa qualidade para garantir que imunoglobulinas sejam
transmitidas em quantidade suficiente e assegurar proteção adequada às bezerras.
A qualidade do colostro pode ser avaliada facilmente no parto, quando as vacas
são trazidas à sala de ordenha, com o uso de um colostrômetro (Figura 4), que é
um hidrômetro calibrado para medir a densidade específica do colostro, a qual tem
correlação alta com a concentração de imunoglobulinas (Ig) (Fleenor; Stott, 1980).
A temperatura da amostra de colostro deve estar entre 20 °C e 25 °C. O colostrômetro
deve ser calibrado em intervalos de 5 mg mL-1. O colostro é classificado em três
categorias de acordo com a escala apresentada no hidrômetro: baixa qualidade
(vermelho) quando Ig < 20 mg mL-1; moderado (amarelo) para o intervalo de 20 mg mL-1
a 50 mg mL-1; e excelente (verde) para valores de Ig maiores que 50 mg mL-1.
Foto: Emanuelle Araújo
CAPÍTULO 11 – Criação de bezerras leiteiras 243
Vacas que produzem colostro de melhor qualidade devem ter o excedente arma-
zenado em recipientes que possam ser congelados. Os vasilhames devem ser previa-
mente desinfetados e sua capacidade ideal é de até 3 L, para evitar desperdícios ao
descongelá-los. As garrafas PET são uma boa opção para armazenamento do colostro
no congelador (Paranhos da Costa; Silva, 2014). Antes do fornecimento, o colostro
pode ser descongelado em banho-maria.
Bezerras podem permanecer com as mães até 12 horas após o parto. Alguns animais
são retirados de suas mães antes desse tempo em consequência de problemas
relacionados ao fornecimento do colostro (pouco colostro, colostro de baixa
qualidade, dificuldades da bezerra para mamar). A qualidade do colostro é baixa
quando a concentração de imunoglobulinas no soro de bezerras 24 horas após o
nascimento é menor que 20 mg mL-1 (variação de 20 mg mL-1 a 50 mg mL-1) e alta
acima de 50 mg mL-1 (Salles, 2011). A média da concentração de imunoglobulinas no
colostro de vacas ½ Holandês-Zebu é de 54,7 mg mL-1 (Lima et al., 2013).
com Wattiaux (2011), existe uma relação linear entre a quantidade de colostro
fornecida à bezerra nas primeiras 12 horas após o nascimento e a mortalidade aos
6 meses de vida. Bezerras que recebem menor volume de colostro ou demoram
para recebê-lo apresentam até 100% maior mortalidade que bezerras que
recebem o volume adequado de colostro rapidamente após o parto. Ao nascer,
as bezerras devem ter acesso ao colostro de qualidade em, no máximo, uma hora
após o nascimento. A absorção das imunoglobulinas através do intestino das
bezerras para a circulação é possível por aproximadamente 24 a 48 horas após o
nascimento. Após esse período, a transferência de anticorpos é praticamente nula,
processo conhecido como fechamento intestinal (Bessi et al., 2002; Coelho, 2005).
Entretanto, é importante continuar fornecendo aos bezerros o leite de transição
por 2 a 3 dias após o nascimento, pois tal prática dificulta a adesão das bactérias
à parede intestinal, reduzindo a incidência de diarreias durante as primeiras
semanas de vida (Coelho, 2005). Além disso, o colostro exerce papel importante no
desenvolvimento adequado do sistema digestivo dos bezerros.
Cura de umbigo
O umbigo é a porta de entrada de muitas doenças em sistemas de criação de bezer-
ras. Ao nascer, bezerras apresentam a área umedecida e exposta, e infecções umbi-
Fotos: Fernanda Carolina Ferreira
CAPÍTULO 11 – Criação de bezerras leiteiras 245
A B
Classificação
da transferência passiva
Figura 5. Refratômetro portátil (A); detalhe do visor de leitura (B); e critérios de classificação da transferência passiva de
imunidade para a bezerra.
Para secagem do umbigo, deve-se usar solução de iodo a 10% em um recipiente que
possibilite embeber todo o umbigo duas vezes ao dia por no mínimo 3 dias (Figura 7).
O corte do umbigo só é necessário quando o umbigo for maior que 15 cm e deve
ser feito com tesoura limpa e tratada com solução de iodo 10%. Nesse caso, o corte
deve ser feito para deixar o umbigo com 8 cm a 10 cm de comprimento (Paranhos da
Costa; Silva, 2014).
Figura 6. Onfalite em bezerras cuja cura de umbigo foi feita de forma inadequada.
Foto: Fernanda Carolina Ferreira
Figura 7. Coto umbilical seco (A) e uso de solução de iodo a 10% para cura de umbigo (B).
Figura 8. Pesagem de bezerros com fita métrica: a fita deve envolver o peito do animal logo atrás das patas dianteiras (A) para
a leitura do peso (B).
Descorna ou mochamento
A descorna é um procedimento que deve ser feito nas bezerras leiteiras para evitar
a ocorrência de lesões e acidentes entre os animais e para segurança dos tratadores.
O procedimento de descorna ou amochamento pode ser feito tanto por ferro quen-
te/elétrico ou por cauterização química (uso de pastas cáusticas). A pasta cáustica
deve ser aplicada apenas no botão cornual com prévia tosa dos pelos da região.
O uso de quantidade excessiva pode fazer com que o produto escorra pela pele oca-
sionando lesões, inclusive nos olhos. Outra forma de prevenir as lesões na pele é
criar um círculo de contenção com pomada à base de bálsamo, evitando que a pasta
cáustica escorra para área indesejada (Bittar; Coelho, 2018).
Na descorna feita com ferro quente, o pelo também deve ser previamente retirado
do local. Quando o ferro estiver candente, deve-se pressioná-lo sobre o botão
córneo, evitando utilizar força excessiva. Após o procedimento, deve-se usar pomada
cicatrizante e repelente para facilitar o processo de cicatrização (Bittar; Coelho, 2018).
Recomenda-se que a descorna seja feita até a idade de 2 semanas, para rápida
cicatrização e maior facilidade na execução do procedimento. Tal procedimento deve
ser evitado durante as semanas anteriores e posteriores ao desmame, pois, durante
esse período, as bezerras são submetidas a grande estresse (Lima et al., 2013).
a 60 kg–70 kg). Pode-se adotar um único critério ou combinar peso e idade, por
exemplo.
Tabela 2. Sugestão de desmama progressiva tendo como referência uma bezerra de 40 kg de peso vivo ao nascimento.
Idade (em dias) Quantidade do leite (L) Frequência (vezes por dia)
0a4 Colostro à vontade 2
5 a 20 6 2
21 a 30 5 2
31 a 55 4 2
56 a 60 3 1
61 a 65 2 1
66 a 70 1 1
Fonte: Adaptado de Paranhos da Costa e Silva (2014).
Após a desmama
Após a desmama, as bezerras podem ser transferidas para piquetes de transição
formados com capim do gênero Brachiaria (Urochloa), com água e sal mineral
à vontade e sistema de sombreamento para as horas mais quentes do dia. Nos
piquetes, as bezerras são agrupadas em lotes não muito grandes (de 8 a 12 animais)
uniformes quanto à idade e ao peso (tamanho).
As novilhas devem ser pesadas mensalmente, e a fita de pesagem pode ser utilizada.
O ideal é que as novilhas tenham o primeiro parto aos 24 meses de idade, mas isso só
é possível com um bom sistema de cria e recria de bezerras leiteiras.
Além disso, em virtude das condições climáticas da Amazônia, é muito comum que
as áreas ao redor do cocho fiquem úmidas e que o barro se acumule, dificultando
o acesso dos animais (Figura 10A). Nesse cenário, o consumo de alimento e sal pe-
los animais diminui, e a incidência de doenças de casco aumentam. A área onde os
cochos se localizam deve ser pensada e escolhida cuidadosamente para evitar esse
tipo de problema (Figura 10B). Cochos móveis podem ser uma boa opção, pois a mu-
dança de local permite que as áreas sequem e o acúmulo de barro fique minimizado.
Foto: Fernanda Carolina Ferreira
A B
Figura 10. Cocho em local inapropriado por causa do acúmulo de água e barro (A); cocho em local alto e seco (B).
CAPÍTULO 11 – Criação de bezerras leiteiras 251
Ocorrência Anotação
Data, número e nome dos pais (mãe e pai), peso (kg), ingestão e qualidade do colostro e
Nascimento
resultado do teste de transferência de imunidade materna (TIM 24)
Número do animal, data da ocorrência, nome da doença, medicação (nome do princípio ativo,
Doenças
dose e período do tratamento)
Vacinação Data, nome da vacina e a marca
Desmame Data e peso
O primeiro registro que se deve fazer é a data de nascimento da bezerra, a qual deve
constar no brinco de identificação. A propriedade pode contar com um sistema
próprio que facilite a identificação e o manejo dos animais. Por exemplo, todos os
animais nascidos no ano de 2016 começam com a letra “A”, em 2017, “B”, e assim por
diante. O produtor deve ter fichas individuais para registrar o número/nome da mãe
da bezerra e do pai (ou informações do sêmen utilizado, no caso de inseminação
artificial), data e peso ao nascimento, peso vivo semanal ou quinzenal, consumo de
252 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 4. Modelo de planilha de registro de informações sobre a bezerra, a mãe, a qualidade do colostro e a transferência de
imunidade materna (TIM 24h)(1).
Tabela 5. Modelo de planilha de controle de ganho de peso das bezerras nascidas no campo experimental da Embrapa
Rondônia.
desmame, caso ele ocorra até 60 dias. Esse período pode ser ajustado conforme o
interesse do técnico e do produtor:
Taxa de mortalidade (ao desmame) = nº de animais mortos até 60 dias / nºde animais
nascidos
em que:
Considerações finais
Com base no exposto, conclui-se que a realização de mudanças simples na rotina da
propriedade pode melhorar de maneira significativa a criação de bezerras leiteiras
com impacto sobre a lucratividade do sistema de produção de leite. Em síntese,
produtores e técnicos devem focar no manejo de bezerras e novilhas nos seguintes
aspectos:
• Ter a meta de dobrar o peso das bezerras até o desmame, aos 60–70 dias.
Referências
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257
CAPÍTULO 12
Manejo reprodutivo
Luiz Francisco Machado Pfeifer
Evelyn Rabelo Andrade
Daniela Lemos de Carvalho
Introdução
A produtividade e rentabilidade de um sistema de produção de leite dependem de
um eficiente manejo reprodutivo. Quanto mais tecnificado for o sistema de produção
principalmente quando se utilizam biotécnicas direcionadas à reprodução, como
controle farmacológico do ciclo estral, inseminação artificial (IA), inseminação
artificial em tempo fixo (IATF), transferência de embriões (TE) e produção de embriões
in vitro (PIV), maior serão os desafios para que uma ótima eficiência reprodutiva seja
atingida.
que têm impacto negativo sobre o meio ambiente, as vacas podem compensar esse
efeito pela produção adequada de leite. Por sua vez, novilhas antes do primeiro
parto são apontadas como “vilãs” do sistema, pois necessitam de alimentos e
medicamentos, emitem CH4, mas ainda não produzem leite, ou seja, não há
compensação das emissões de CH4, tampouco retorno econômico na fase de recria.
Portanto, diminuir a idade ao primeiro parto e o intervalo parto-concepção, além de
aumentar a eficiência reprodutiva, torna a produção de leite mais sustentável.
Esses desafios tornam-se mais evidentes nos sistemas de produção de leite da região
da Amazônia Legal, onde, apesar de o sistema de produção de leite ser “a pasto” e,
portanto, menos oneroso, a grande maioria do rebanho encontra-se em pequenas
propriedades caracterizadas por baixos índices reprodutivos e com alto percentual
de áreas de pastagens degradadas.
Eficiência reprodutiva
Como os índices reprodutivos afetam diretamente a produtividade do rebanho,
cabe a todos os produtores que pretendem continuar no ramo, conhecer, mensurar
e analisar esses índices. Dessa forma, a Tabela 1 elucida os principais parâmetros
reprodutivos utilizados na bovinocultura de leite e seus respectivos valores ideais
para um bom acompanhamento do rebanho.
Tabela 1. Principais parâmetros reprodutivos utilizados em bovinocultura de leite e seus respectivos valores ideais.
Parâmetro Objetivo
Intervalo parto-concepção < 90 dias
Intervalo parto-primeira inseminação < 70 dias
Taxa de concepção na primeira inseminação > 60%
Número de inseminações por concepção < 1,5 dose
Abortos < 3%
Idade ao primeiro parto < 24 meses
Intervalo entre partos (IEP) – Para uma ótima produção tanto de leite quanto
de bezerros, é importante que cada vaca do rebanho produza em média uma cria
saudável a cada ano, ou seja, o seu IEP deve ser de no máximo 365 dias. Para que
essa meta seja atingida, um eficiente manejo nutricional e reprodutivo deve ser
empregado na propriedade, principalmente no período pós-parto recente.
TS x TC = TP
Se uma vaca não é observada em estro (cio) entre 17 e 24 dias após a inseminação
artificial (IA) ou monta natural (MN), ela pode ser considerada prenhe, porém falhas
na detecção de cio podem ocorrer. Dessa forma, o mais indicado é a realização do
diagnóstico de gestação por meio da palpação retal ou exame ultrassonográfico
para confirmação da prenhez.
Taxa de abortos – Para um rebanho, a taxa aceitável de abortos, entre 45 a 265 dias
de prenhez, é de até 3%. Se esse valor for maior, pode-se suspeitar de problemas de
ordem nutricional, sanitária e/ou genética.
Idade ao primeiro parto – Este índice está ligado à precocidade sexual e ao nível
nutricional dos animais. O ideal é que a primeira cobertura ou inseminação artificial
ocorra aos 14–15 meses de idade, para que o parto ocorra antes dos 2 anos de idade.
Na monta natural (MN), a fecundação é realizada por meio da cópula entre macho e
fêmea, sem a interferência do homem.
também diminui a vida útil do touro pelo desgaste das sucessivas montas e pelo risco
de ocorrer acidentes tanto da fêmea quanto do macho. Além disso, requer aquisição
regular de touros, os quais não devem cobrir suas próprias filhas que aos 24 meses
de vida já devem ser acasaladas.
Inseminação artificial
Sistemas de produção leiteira do bioma Amazônia são caracterizados pelo baixo
uso de inseminação artificial (IA). Em Rondônia, maior estado produtor de leite da
região Norte, a IA é utilizada apenas por cerca de 3% das propriedades leiteiras. Essa
característica evidencia claramente o baixo uso de tecnologias nesses sistemas de
produção. A maioria das propriedades que utilizam a IA também faz uso da MN, pois
a IA é realizada de duas a três vezes na mesma fêmea. Caso não ocorra a prenhez, as
fêmeas são direcionadas para o repasse com touros.
Estação reprodutiva
A estação reprodutiva é definida como o período estabelecido para que ocorra
a concepção das matrizes do rebanho por monta ou inseminação artificial (IA).
A utilização da estação reprodutiva permite que o pico de produção das vacas ocorra
concomitantemente ao pico de produção do pasto; o excedente alimentar pode ser
estocado e ofertado durante o período de menor oferta de alimentos. Dessa forma,
é possível diminuir ou otimizar a suplementação, com consequente diminuição dos
custos de produção do leite. Essa prática pode ser convenientemente utilizada em
regiões que possuem períodos críticos para a produção leiteira, como nos casos de
regiões de extrema seca ou calor.
• Observar o escore de condição corporal (ECC) das vacas que vão entrar em
reprodução, pois elas devem apresentar bom ECC, estar ciclando normalmente
e livres de doenças que comprometam a sua fertilidade. É de fundamental
importância que o manejo nutricional esteja bem ajustado, pois, durante o
período de lactação, o animal ingere cerca de 70% dos nutrientes consumidos
durante o ano. As vacas devem parir com bom escore de condição corporal para
que manifestem cio logo após o parto.
• Adequar o período do ano e a duração. A programação deve ser feita para que as
parições ocorram a partir do início do aumento da disponibilidade de forragens
na região.
• Cobrir o maior número de vacas no início da estação. Esses animais irão parir
no início da estação de parição e, consequentemente, terão mais tempo para
emprenhar na estação de cobertura seguinte.
• Considerar a cadeia como um todo, pois a indústria láctea regional pode não estar
de acordo com a produção sazonal de leite, e isso pode ocasionar penalizações e
dificuldades de comercialização para o produtor.
Detecção de cio
Cio, também conhecido como estro, é o período durante o qual a fêmea aceita a
monta ou cobrição. O cio ocorre em um intervalo de 18 a 24 dias, com média de
21 dias, em animais não prenhes. A duração do cio varia de 10 a 30 horas e depende
dos seguintes fatores: raça, produção leiteira, temperatura ambiente, tipo de manejo,
entre outros.
Conforme descrito anteriormente, para obter um intervalo entre partos (IEP) próximo
de 12 meses e, consequentemente, maior eficiência reprodutiva do rebanho, é
necessário que a vaca conceba ou fique prenhe até 90 dias após o parto. Para que
isso ocorra, os seguintes fatores são importantes: a vaca deve exibir cio o mais breve
possível após o parto, a propriedade deve ter uma identificação de cio eficiente, além
de boa taxa de concepção. As falhas na detecção do cio afetam a taxa de serviço e,
consequentemente, reduzem a produção tanto de leite e quanto de crias durante a
vida reprodutiva dos animais.
Para que o cio seja corretamente identificado, é necessário pessoal treinado, que
conheça bem os sinais característicos do cio das vacas e novilhas. Além disso, os
horários de observação devem ser respeitados, e as anotações feitas em fichas
adequadas, de fácil acesso e consulta. Todos os animais devem possuir identificação
de fácil visualização, como brincos, números marcados com ferro quente, colares
ou correntes com número no pescoço, para que possam ser identificados a uma
distância razoável, sem que seja necessária uma maior aproximação.
O uso de rufiões pode auxiliar o produtor a identificar fêmeas em cio. Para tal função,
podem ser utilizados os machos ou as fêmeas androgenizadas. Normalmente esses
animais são utilizados em uma proporção de 1:40 a 1:50 em relação às fêmeas.
Nos rufiões machos, realiza-se cirurgia para evitar a penetração durante a monta.
Os principais tipos de cirurgias são as seguintes: a deferectomia (interrupção cirúrgica
do canal deferente), o desvio lateral do pênis ou a aderência do pênis à parede
abdominal. Para esses procedimentos, é recomendável a orientação e consulta
de um médico-veterinário. Já as fêmeas androgenizadas precisam passar por um
tratamento com hormônio masculino (testosterona). Apresentam a vantagem da
possibilidade de utilização mais rápida do animal (8–10 dias), porém tem um custo
relativamente mais elevado dada a necessidade de aplicações de manutenção
do hormônio. Após passarem pelo processo, as fêmeas não podem ser utilizadas
novamente na reprodução.
Para a detecção do cio em vacas, também podem ser utilizados sensores como pedô-
metros, os quais são colocados nas patas do animal para registrar seu deslocamento
em um determinado período, pois animais em estro são quatro vezes mais ativos
quando comparados com animais em outra fase do ciclo estral. Entretanto, cada
animal tem de ter seu padrão individual de atividade preestabelecido. Esse método
também necessita de verificação dos sinais secundários para confirmar o compor-
tamento típico de estro, portanto não é adequado para ser utilizado isoladamente.
Ele pode ser comercialmente utilizado em rebanhos leiteiros de alta produção, po-
rém com ressalvas em relação ao seu custo-benefício, pois cada unidade coloca-
da no animal custa em média R$ 500,00 (US$ 100), enquanto o software custa de
R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00.
Diagnóstico de prenhez
O diagnóstico de gestação constitui importante prática nos sistemas de produção
de leite. A detecção precoce da prenhez permite ao produtor identificar as fêmeas
que estão abertas (não prenhes) e, consequentemente, adotar medidas de manejo
adequadas para torná-las gestantes o mais rápido possível. A identificação precoce
de fêmeas não prenhes tem impacto direto na lucratividade da fazenda, pois permite
que o produtor adote medidas como melhorar a detecção de cio, sincronizar ou
ressincronizar o estro ou mesmo realizar o descarte do animal.
A palpação retal, que ainda é o método mais utilizado, permite a detecção de prenhez
nos diversos estágios da gestação. Dependendo da habilidade do técnico é possível
detectar uma prenhez desde 35 dias após a concepção até o final da gestação.
A palpação retal é um método rápido e possui baixo custo em relação a outros métodos.
No entanto, o exame deve ser conduzido por um veterinário bem capacitado.
Figura 1. Procedimento de ultrassonografia em uma fêmea bovina prenhe: exame retal com sonda linear com 5 MHz de
frequência (A); imagem de um embrião com 30 dias de gestação (B).
PGF2 alfa
A prostaglandina F2 alfa (PGF2 alfa) e seus análogos são os hormônios mais utilizados
na sincronização de cio em bovinos. Entretanto, o uso de PGF2 alfa apresenta algumas
limitações, tais como:
esse protocolo, uma vez que, atualmente, possui pouca aplicação nos sistemas de
produção de leite da Amazônia.
Figura 2. Protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) para vacas de leite pós-parto: uso de benzoato de estradiol
(A), GnRH (B) ou ECP (C) para indução da ovulação.
BE = benzoato de estradiol; P4 = progesterona exógena; FSH = hormônio folículo estimulante; PGF2α = prostaglandina F2 alfa; eCG = gonadotrofina coriô-
nica equina; GnRH = hormônio liberador de gonadotrofinas; ECP = cipionato de estradiol.
Figura 3. Protocolo de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) para vacas de leite pós-parto, em que se adiantou a injeção
de PGF2 alfa, para que fossem obtidas baixas concentrações de progesterona logo após a retirada do implante intravaginal.
BE = benzoato de estradiol; P4 = progesterona exógena; FSH = hormônio folículo estimulante; PGF2α = prostaglandina F2 alfa; eCG = gonadotrofina coriô-
nica equina; GnRH = hormônio liberador de gonadotrofinas; ECP = cipionato de estradiol.
CAPÍTULO 12 – Manejo reprodutivo 275
observação de cio. Em razão dessa redução da fertilidade, o sêmen sexado tem sido
mais indicado para novilhas, que geralmente apresentam melhor condição corporal
e menor risco de infecção uterina.
O uso de sêmen sexado na IATF ainda é restrito e poucos estudos foram realizados.
Entretanto, já se sabe que protocolos de IATF para sêmen convencional podem não
funcionar adequadamente para sêmen sexado, exigindo modificações. Uma alterna-
tiva para melhorar os índices de prenhez é selecionar vacas de acordo com a respos-
ta ovariana para utilização de sêmen sexado na IATF. Recentemente, Karakaya et al.
(2014) induziram vacas de leite lactantes à IATF com protocolo Ovsynch e seleciona-
ram somente vacas com folículos entre 12 mm e 18 mm de diâmetro e com claros
sinais de muco vaginal no momento da IATF. A taxa de prenhez de vacas inseminadas
com sêmen sexado (31,8%) tendeu a ser menor do que o da IATF com sêmen con-
vencional (40,9%), mas apesar disso é aceitável quando comparado à média geral de
rebanhos de alta produção.
Sobre o uso de IA ou IATF com sêmen sexado, é importante ainda salientar que o
resultado dependerá do efeito individual do touro e que, para otimizar os resulta-
dos, as fêmeas observadas em cio depois da remoção do implante de progesterona
devem ser inseminadas. Ressalta-se ainda que as vacas podem ser avaliadas por ul-
trassonografia, e apenas aquelas que apresentarem boa resposta ovariana (folículo
dominante acima de 11 mm de diâmetro) devem ser inseminadas.
pelo fato de a aspiração de oócitos das doadoras se tratar de uma biotécnica invasiva,
é importante que os animais sejam cuidadosamente acompanhados por médicos-
-veterinários capacitados, a fim de evitar patologias como aderências e fibroses nos
ovários. Essas lesões podem ser ocasionadas pelo uso excessivo ou não adequado
das doadoras de oócitos.
A Pive é composta por várias etapas. Inicia-se na propriedade rural, passa para
o laboratório e termina novamente na propriedade. As etapas que constituem as
atividades de campo são a avaliação das doadoras (fêmeas com genética superior) e
a aspiração folicular guiada por ultrassonografia desses animais que visa à colheita
dos oócitos (gametas femininos). Após a produção dos embriões no laboratório,
é necessário retornar à propriedade para realizar a avaliação e a sincronização
hormonal das receptoras, conhecidas popularmente como barrigas de aluguel.
Embora a técnica de Pive apresente bons índices de fertilidade e esteja pronta para
ser utilizada em qualquer local do Brasil, é necessário que uma série de cuidados
sejam tomados para a obtenção de bons índices de prenhez nas receptoras. A fal-
ta desses cuidados normalmente representam o maior obstáculo da Pive. O índice
de prenhez será baixo caso os embriões sejam transferidos para receptoras que não
estejam em condições nutricionais e sanitárias adequadas. Esse é um cuidado que
se deve ter principalmente em relação aos pequenos produtores, o que é comum na
região Norte do Brasil, e nos casos em que os programas de Pive são incentivados por
órgãos governamentais. Neste último caso, é comum identificar políticas públicas de
incentivo à produção de leite, via fomento à Pive, nas quais os embriões são produzi-
dos com qualidade, mas o produtor tem muita dificuldade na realização do manejo
adequado da receptora. Além dessas dificuldades, a falta de animais geneticamente
superiores é um entrave para a técnica. Contudo, essa dificuldade pode ser facilmen-
te resolvida, com a aspiração de oócitos de animais melhorados ou também com a
importação de embriões ou doadoras de outras regiões produtoras de leite.
Considerações finais
A reprodução é identificada como o principal fator que afeta diretamente a produção
geral do rebanho. O desempenho reprodutivo tem efeitos diretos sobre índices que
impactam diretamente a viabilidade econômica da propriedade, tais como: intervalo
entre lactações, progresso genético, persistência de lactação, idade à primeira
lactação e política de descarte de animais, uma vez que a baixa fertilidade leva a
altas taxas de descarte involuntário.
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theriogenology.2010.06.004
281
CAPÍTULO 13
Alimentos e alimentação
Aline Fernanda Ramos
Ana Karina Dias Salman
Aníbal Coutinho do Rêgo
Cristian Faturi
Gerbson Francisco Nogueira Maia
Jucilene Cavali
Marlos Oliveira Porto
Maykel Franklin Lima Sales
Introdução
O objetivo deste capítulo é apresentar as principais etapas dos processos de
conservação de forragens, bem como as características dos principais alimentos
disponíveis na Região Amazônica. Com base nessas informações, serão apresentadas
orientações técnicas para formulação de misturas concentradas, bem como para a
alimentação e suplementação mineral e vitamínica dos rebanhos leiteiros da região.
Feno
A fenação é o processo pelo qual a planta forrageira é conservada por meio da
desidratação. O feno é o produto da fenação, em que o teor de umidade da forragem
1
Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/portal/>.
282 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
é reduzido de, aproximadamente, 85% para 15% (Figura 1). O princípio básico da
fenação resume-se na conservação do valor nutritivo da forragem pela rápida
desidratação da planta quando cortada e expostas ao ambiente. Assim, a qualidade
do feno está associada aos fatores relacionados com as plantas que serão fenadas, às
condições climáticas ocorrentes durante a secagem e ao sistema de armazenamento
empregado (Reis et al., 2010). Especificamente na Região Amazônica, o principal
entrave para a produção de feno é a falta de condições climáticas ideais (excesso de
umidade) no momento da secagem e para o armazenamento dos fenos.
Quando a cultura atinge o máximo da produtividade com bom valor nutritivo, deve-
-se proceder à etapa de corte. Essa etapa é um fator-chave na produção de fenos
de qualidade, pois, em determinadas regiões, podem ocorrer chuvas frequentes
no momento em que os fatores rendimento e bom valor nutritivo se aliam.
Portanto, atenção deve ser dada na tomada de decisão ao iniciar essa etapa, pois,
no momento do corte, os informes meteorológicos não devem prever chuvas por
3 dias consecutivos. Para se proceder ao corte da planta, normalmente se utilizam
duas opções: em grande escala, utilizam-se segadoras (máquinas específicas para
cortar a planta forrageira sem dilacerá-la) e, em pequena escala, a utilização de
roçadoras costal é bastante comum. Não é recomendada a utilização de roçadoras
convencionais acopladas a tratores, pois tal equipamento dilacera a planta, o que
aumenta as perdas físicas e o valor nutritivo.
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 283
Quando cortada para fenação, a planta forrageira contém elevado conteúdo de água
em sua estrutura (de 70% a 80% de umidade), por isso ela deve ser mantida de forma
espalhada no campo para secar o mais rápido possível, dando preferência para que
essa etapa ocorra nas horas mais quentes do dia. Assim, durante as primeiras horas
após o corte, a planta perderá maior proporção de água, por isso é importante que
no primeiro dia as condições climáticas sejam de baixa umidade (abaixo de 50%),
elevada temperatura e velocidade do vento. Depois de algumas horas após o corte,
o material cortado na parte superior fica mais desidratado do que o das camadas
inferiores, por isso é importante fazer o revolvimento e a inversão dessas camadas.
Quanto maior o número de revolvimentos, maior e mais rápida será a desidratação
da forragem. Esse processo também favorece a secagem mais uniforme na massa, no
entanto a prática excessiva leva a perdas físicas pelo desprendimento de lâmina foliar
do caule, principalmente quando o revolvimento do material ocorre próximo de ser
enfardado e em leguminosas. Normalmente, em larga escala são utilizados ancinhos
revolvedores nessa etapa; por sua vez, em pequena escala, esse procedimento é feito
de forma manual com a utilização de ganchos apropriados.
Tabela 1. Vantagens e limitações do uso do feno como forragem conservada em propriedades leiteiras na Amazônia.
Vantagem Limitação
Inúmeras espécies forrageiras, tanto gramíneas como Falta de condições climáticas ideais durante o processo de
leguminosas, podem ser utilizadas no processo secagem da planta forrageira na região
Boas condições para produção de espécies forrageiras a Dificuldades estruturais da propriedade para a produção
serem fenadas o ano todo própria, por causa da falta de infraestrutura
Pode ser armazenado com pequenas alterações no valor Exigência de equipamentos que quase sempre estão
nutritivo da planta forrageira indisponíveis para venda ou terceirização no mercado local
Pode ser produzido e utilizado em grande ou pequena escala Desconhecimento do valor nutricional do feno para compor
Pode ser colhido, armazenado e fornecido aos animais a dieta dos animais, o que leva a um fator cultural na não
manualmente ou em processo inteiramente mecanizado adoção dessa tecnologia
Não deterioração no fornecimento, pois é um produto
estável em contato com o oxigênio e consegue permanecer
mais tempo no cocho sem estragar
Fonte: Adaptado de Reis et al. (2010).
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 285
Silagem
A silagem é uma alternativa de conservação de forragem para a alimentação do
gado leiteiro no período seco do ano. É o produto do processo de ensilagem, no
qual bactérias produtoras de ácido lático fermentam carboidratos solúveis contidos
na estrutura da planta, convertendo-os em ácidos orgânicos, principalmente ácido
lático, na condição de ausência de oxigênio (Weinberg; Muck, 1996). A partir dessa
fermentação, o pH da massa declina e inibe o crescimento de microrganismos que
podem deteriorar o material ensilado. Desse modo, a forragem fica preservada
no interior de estruturas físicas denominadas de silos. Em geral, o processo de
ensilagem oferece meios para preservar o valor nutritivo de uma dada cultura desde
a colheita até a alimentação dos ruminantes. Diferentemente da fenação, a silagem
é um produto obtido da conservação de plantas forrageiras in natura, ou seja, com
elevado teor de umidade.
Processo produtivo
O processo produtivo da silagem pode ser dividido nas seguintes etapas:
• Fornecimento aos animais – Se houver uma camada de silagem escura e/ou com
mofo, essa deve ser descartada antes da retirada, deixando apenas a quantidade
de silagem que será oferecida imediatamente aos animais. A camada de silagem
a ser retirada diariamente não deve ser inferior a 25 cm. Por isso, o tamanho
(volume) do silo deve ser dimensionado de acordo com o número de animais e
com o período em que serão alimentados com a forragem ensilada.
A B
Figura 2. Colheita de milho para produção de silagem no município de Paragominas, PA: colheita (A) e compactação (B).
No fim do período chuvoso dessa região, é comum haver produção excedente de capins
tropicais, principalmente capim-elefante e capins do gênero Panicum. Entretanto, essas
288 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 2. Vantagens e limitações do uso de silagem como forragem conservada em propriedades leiteiras na região Norte.
Vantagem Limitação
Facilidade de condução pelo conhecimento das técnicas O processo é caracterizado pelas perdas ao longo da
inerentes ao processo colheita, do armazenamento e do descarregamento até a
Boas condições para produção de espécies forrageiras a ingestão pelo animal
serem fenadas o ano todo Dificuldades estruturais da propriedade para a produção
É um alimento de boa aceitabilidade pelos animais própria, em razão da falta de infraestrutura
Pode ser produzido e utilizado em grande ou pequena escala Dependendo dos insumos utilizados, pode gerar um produto
de elevado custo
É uma opção de aproveitamento do excedente de produção
Jamais a silagem de determinada cultura terá seu valor
É considerada uma boa fonte energética
nutritivo melhorado pelo processo de conservação
Proporciona a maximização da produção animal nos meses
O armazenamento de grandes volumes de forragem pode
de escassez de alimento
gerar maiores custos ao produtor
Pode ser armazenada em estrutura simples
concentradas para bovinos. Cada tonelada de soja moída para a extração do óleo
gera, em média, 73% a 78% de farelo e 5% de casca. A seguir esses três ingredientes
são brevemente descritos.
Soja em grão
O grão de soja possui proteína de alta degradabilidade ruminal, muito interessante
para vacas de alta produção leiteira. Como oleaginosa, pode ser utilizada também
para elevar o valor energético das dietas. A quebra do grão cru, pela moagem,
por exemplo, pode aumentar a eficiência na digestão no rúmen, facilitando
principalmente o acesso ao amido. Já o processamento pela tostagem diminui a
degradabilidade ruminal (aumento do teor de proteína não degradável no rúmen)
e elimina fatores antinutricionais. Para ruminantes, não há restrição quanto a sua
inclusão na dieta, no entanto recomenda-se não utilizar ureia quando o grão estiver
cru. Além disso, deve-se ter atenção quanto aos efeitos deletérios do excesso de
gordura. No caso do grão tostado, o aquecimento inativa as enzimas urease e lipase,
o que aumenta o tempo de armazenamento do alimento.
Casquinha da soja
A casca da soja passa por dois processos: tostagem para inativar a enzima urease e
posterior moagem para aumentar a densidade do material. Suas características físico-
-químicas, a facilidade de aquisição em algumas regiões e seu preço competitivo
fazem dela um alimento interessante para o gado leiteiro. É composta principalmente
de fibra de alta degradabilidade potencial, que pode contribuir para um ambiente
ruminal mais favorável para a fermentação, além de oferecer menor risco de acidose.
É classificada como fonte não forrageira de fibra, porque contém aproximadamente
43% de celulose e 18% de hemicelulose, sendo muito pouco lignificada (1,4% a
4,3%). O teor de amido tem variado de 0% a 9,4%, com valores médios de 3,6%, e
pectina em torno de 12,8% da MS.
A substituição do milho pela casca de soja em até 30% em dietas de alto grão (com
mais de 60% de concentrado em relação ao volumoso) não afeta o consumo nem
apresenta redução significativa da produção total de leite (Ipharraguerre; Clark,
2003; Pedroso et al., 2007). Essa substituição pode chegar até 50% desde que se au-
mente a proporção de concentrado na dieta ou para animais com menor exigência.
290 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Farelo de soja
É o principal representante dos concentrados proteicos. Pode ser a única fonte
proteica da dieta, com alto teor de proteína, alta aceitabilidade, digestibilidade
total e degradabilidade ruminal. Na obtenção do farelo, o aquecimento reduz os
fatores antinutricionais da soja e aumenta a proporção de proteína não degradada
no rúmen (PNDR). Para vacas de alta produção, nos primeiros 100 dias de lactação,
o requerimento de PNDR é maior (de 40% a 45% da proteína ingerida). Por isso, o
tratamento térmico da soja pode ser interessante, porque reduz a degradabilidade
ruminal e aumenta a quantidade da proteína conhecida como bypass (proteína bruta
que escapa da degradação no rúmen).
Milho
É o principal representante dos concentrados energéticos por causa do seu elevado
teor de amido. Quando utilizado em excesso ou fornecido ao rebanho sem adaptação
prévia, pode causar problemas metabólicos, como a acidose e a laminite. Além disso,
é necessário ser fornecido em harmonia com uma fonte de N disponível, em geral o
farelo de soja, sendo ambos principais ingredientes das rações comerciais.
Sorgo
O grão de sorgo surge como opção ao milho pela semelhança em relação ao valor
nutritivo e pelo menor custo. Dependendo do genótipo e das condições de cultivo,
os teores de fenóis totais, em que o tanino se enquadra, ficam em média inferiores a
0,5%, mas podem ser encontradas variedades com 3%. Em média, apresenta menor
valor de digestibilidade do amido e, consequentemente, valor energético um pouco
menor em comparação ao milho.
Milheto
É um cereal interessante por causa da menor exigência hídrica e da fertilidade de
solo. É uma cultura produtiva e surge como opção à safrinha do milho e da soja. Por
ter crescimento precoce (espigamento, em média, aos 60 dias após plantio) e alta
produção de biomassa, é uma boa alternativa para cobertura do solo (produção de
palhada) na Amazônia em sistemas conservacionistas, como plantio direto, rotação
e sucessão de culturas, e ainda para a produção de silagem (Torres et al., 2008; Melo
et al., 2015).
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 291
Torta de coco
A torta de coco tem atraído a atenção de técnicos e produtores, principalmente no
estado do Pará, segundo maior produtor brasileiro de coco, por ser um concentrado
proteico de menor custo em relação ao farelo de soja. A torta de coco é resultante
da prensagem do endosperma sólido do coco (polpa), que é misturado ao material
proveniente da despeliculagem, com característica mais fibrosa. A maior ou menor
inclusão desse material fibroso, associado ao método e à eficiência de extração,
provoca grande variação na composição química da torta. A falta de padronização
do produto praticamente exige que se realize a análise antes de sua utilização, para
garantir os teores de nutrientes adequados à ração. Como o teor de gordura na dieta
acima de 5%–6% prejudica a fermentação ruminal, com efeitos negativos sobre o
consumo e a produtividade de bovinos, o elevado teor de extrato etéreo (EE) da
292 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
torta de coco, geralmente acima de 20%, limita sua inclusão na ração (Correia et al.,
2014). Por sua vez, em virtude da alta digestibilidade da fibra e da boa qualidade da
proteína, pode ser utilizada na alimentação de vacas leiteiras de alta produção (Bosa
et al., 2012; Silva, 2016).
Mandioca
A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é cultivada em todo o território brasileiro,
e a região Norte é responsável por aproximadamente 38% da produção nacional.
A produção de mandioca é uma atividade de excelente empregabilidade, sobretudo
para pequenos produtores. As raízes são utilizadas para fabricação de farinhas,
a fécula (ou amido) para produção de polvilho, a parte aérea da planta é utilizada
como fonte proteica no enriquecimento de farinhas. Cerca de 10% da mandioca total
utilizada na fabricação de farinha é eliminada na forma de casca e cerca de 3% a
5% na forma de farinha de varredura. Tanto a casca quanto a farinha de varredura
podem ser aproveitadas na alimentação de bovinos (Caldas Neto et al., 2000).
As raízes in natura também podem ser fornecidas picadas aos animais após lavagem
para que o excesso de terra seja retirado. Entretanto, se forem de variedade brava
(teor de ácido cianídrico-HCN acima de 50 mg kg-1), será necessário o descanso por
um dia antes do fornecimento, ou então devem ser desidratadas ao sol (raspas) para
volatilização e redução dos teores de HCN, o que também facilita o armazenamento
e a incorporação na ração.
Subprodutos do cupuaçu
O cupuaçu (Theobroma grandiflorum Schum.) pode ser encontrado nas regiões Sul
e Sudeste da Amazônia Oriental, mas seu cultivo está presente em todo o bioma
Amazônia por ser uma das frutas mais atrativas da região. A semente resultante da
despolpa do fruto após desidratada e moída apresenta teor de extrato etéreo de
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 293
Babaçu
O babaçu (Orbygnia speciosa) pertence à família das palmeiras. É dotada de frutos com
sementes oleaginosas das quais se extrai um óleo utilizado na alimentação humana,
na fabricação de remédios e cosméticos, além de ser alvo de pesquisas para produção
de biocombustíveis. A torta de babaçu é resultante do processo de extração do
óleo e, como quase todos os subprodutos agroindustriais, sua composição química
é bastante variável e seu valor nutricional é prejudicado em razão da presença de
partículas de endocarpo e de cascas que aumentam os teores de fibra em detergente
ácido (FDA) e lignina, reduzindo a digestibilidade da MS. O teor de EE da torta de
babaçu varia entre 5,8 a 9,4 (% na MS). Segundo Castro (2012), a torta de babaçu
pode substituir em até 19% a cana-de-açúcar hidrolisada na dieta total de novilhas
leiteiras mestiças Holandês x Zebu.
Tabela 3. Teores de matéria seca (MS), nutrientes digestíveis totais (NDT), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro
(FDN) em alguns alimentos volumosos e concentrados (energéticos e proteicos) disponíveis na Região Amazônica.
MS PB
Alimento NDT FDN
(%) (% de MS)
Volumosos
Brachiaria spp. 34,1 51,0 6,9 70,6
Capim-marandu 34,1 58,1 7,7 72,1
Pasto Capim-xaraés 24,1 - 9,3 69,6
Humidícola 29,6 - 7,4 78,2
Mombaça 27,6 - 10,7 70,2
Capineira Capim-elefante 26,7 47,0 6,6 74,4
Cana-de-açúcar Planta inteira 28,1 63,6 2,6 55,9
Milho 30,9 61,9 7,3 55,7
Silagem Sorgo 30,7 53,5 7,0 61,7
Capim-elefante 27,5 - 5,5 75,3
Concentrados energéticos
Arroz Farelo 88,1 79,5 14,4 34,7
Babaçu Torta 90,7 65,9 19,3 71,4
Torta 93,5 - 13,5 46,5
Cupuaçu
Semente 91,0 83,5 8,3 51,4
Dendê/Palmiste Torta 92,5 60,5 15,5 71,7
Girassol Semente 92,4 - 19,0 28,6
Farinha de varredura 91,5 70,6 2,4 12,2
Mandioca Raiz dessecada 43,9 - 2,4 -
Raspa 87,0 - 3,3 10,4
Grão inteiro 88,9 76,4 14,1 18,1
Grão triturado 91,6 86,4 9,0 20,7
Milho
DPS (1)
87,8 68,2 8,1 38,9
Silagem de grão úmido 69,9 - 7,9 12,4
Murumuru Torta 89,0 - 9,9 83,9
Pupunha Farinha 94,4 - 4,0 59,8
Grão 87,7 78,4 9,6 13,2
Sorgo
Silagem de grão úmido 77,6 - 8,1 9,4
Soja Casquinha 92,5 77,0 13,0 62,0
Concentrados proteicos
Caroço 90,8 82,9 23,1 45,0
Algodão
Farelo 89,8 65,8 38,0 43,7
Continua...
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 295
Tabela 3. Continuação.
MS PB
Alimento NDT FDN
(%) (% de MS)
Babaçu Torta 90,0 55,2 21,31 72,3
Castanha Torta 95,3 - 33,2 48,5
Cervejaria Resíduo úmido 16,1 76,8 29,2 47,7
Coco Torta 90,8 - 21,6 40,6
Girassol Farelo 90,4 - 31,5 43,8
Glúten Farelo 87,5 73,5 23,2 39,5
Farelo 88,6 81,0 45,0 14,8
Soja
Grão 90,8 91,0 38,7 14,0
DPS = Desintegrado com palha e sabugo.
(1)
Fonte: National Research Council (2001), Salman et al. (2011), Bosa et al. (2012), Maciel et al. (2012), Menezes (2012), Silva (2016), Giordani Júnior (2017) e
Valadares Filho et al. (2017).
2
Disponível em: <http://cqbal.agropecuaria.ws/index.php>.
296 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Exemplo 1
Na formulação com três ingredientes, dos quais dois são proteicos e um energético,
ou um proteico e dois energéticos, procede-se à mistura dos ingredientes com
mesma classificação nutricional.
Exemplo 2
Pelo método do Quadrado de Pearson, ainda é possível fazer a inclusão de núcleo mineral-
vitamínico (conforme recomendação dos fabricantes), que suplementa as deficiências
de macro e microminerais e também a de vitaminas da dieta de bovinos leiteiros.
Exemplo 3
Exemplo 4
Em seguida, o teor de NDT de cada mistura (M1 e M2) deve ser estimado
conforme os quadros a seguir:
Proporção na M1 NDT ingrediente NDT M1
Ingrediente Cálculo
(%) (%) (%)
FS 36,11 81,00 29,25 36,11 × 81,00 ÷ 100
MGT 63,89 86,40 55,20 63,89 × 86,40 ÷ 100
Total 100 84,45 29,25 + 55,20
Continua...
300 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Exemplo 4. Continuação
em que:
≥ ou ≤ ou = Exig(N)
em que:
NDT (%) = FS × 0,8073 + GMT × 0,8603 + FB x 0,00 + CC × 0,00 (Restrição, NDT ≥ 82%)
Suponha-se que o custo do quilograma dos alimentos seja FS = R$ 1,80;
GMT = R$ 0,75; FB = R$ 2,00 e CC = R$ 0,20. Por programação linear, é possível
302 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
A função de valor mínimo para determinada restrição pode ser obtida por meio de
ferramentas simples de planilhas eletrônicas, como, por exemplo, o Solver da planilha
Excel.
O resultado desse exemplo é uma ração concentrada com 26% de PB, contendo
a seguinte proporção de ingredientes (em % da MS): 55,81 de MGT, 42,55 de FS,
1,51 de FB e 0,37 de CC. O custo por kg dessa ração em reais (R$) é de 1,19.
1º dia – Fornecimento de colostro o mais rápido possível após o parto. Se não for
possível via mamada, deve-se fornecer em mamadeira na quantidade de 10% do PV.
2ª semana – A mesma quantidade de leite pode ser oferecida uma vez ao dia (de
manhã ou à tarde). Deve-se iniciar o fornecimento de alimentos sólidos. Como as
bezerras têm elevada exigência nutricional, deve-se fazer uso de capins de alto valor
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 303
nutricional, de porte baixo e de folhas tenras, que podem ser picados e oferecidos no
cocho ou em piquetes bem manejados. As gramíneas do gênero Cynodon, como o
capim-estrela, o coast-cross e tifton, são as mais indicadas para essa categoria. O uso
de silagem deve ser evitado até os 3 meses de idade.
Observação:
Observação:
Deve-se evitar até os 6 meses de idade ganho de peso diário acima de 900 g
e EC acima de 3,5. Altas taxas de ganho nesse período podem prejudicar o
desenvolvimento da glândula mamária e a futura produção de leite da
novilha. Os cochos para suplementação alimentar devem ser dimensionados
considerando 30 cm linear por animal, o que reduz a competição entre animais
durante a alimentação.
304 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Vacas
Ao se alimentarem, as vacas primíparas devem estar separadas das vacas mais velhas
(multíparas), a fim de evitar comportamentos de dominância que diminuem o
consumo e prejudicam a produção de leite.
O monitoramento da sobra ou do excesso que fica no cocho é uma regra prática para
determinar a quantidade de volumoso a ser fornecida. Caso não haja sobras ou se
sobrar menos do que 10% da quantidade total fornecida no dia anterior, aumente a
quantidade de volumoso a ser fornecida. Caso haja muita sobra, reduza a quantidade.
CAPÍTULO 13 – Alimentos e alimentação 305
Na estação das chuvas, deve ser fornecido 1 kg de concentrado para cada 3 kg de
leite produzido acima de 5 kg. No período seco, deve se utilizar a mesma relação,
porém acima de 3 kg de leite produzidos.
Vacas em lactação requerem quantidade muito grande de água, uma vez que o
leite é composto de 87% a 88% de água. Ela deve estar à disposição dos animais, à
vontade e próxima dos cochos. Normalmente, as vacas consomem 8,5 L de água para
cada litro de leite produzido.
Deficiências severas de minerais são detectáveis com relativa facilidade, já que causam
perturbações ou sintomas bastante característicos (Tabela 4). Por sua vez, estados de
carências mais leves, que causam sinais pouco específicos, como redução na taxa
de crescimento, problemas de fertilidade, baixo rendimento de carcaça e menor
produção de leite, são tão ou mais importantes, uma vez que passam muitas vezes
despercebidos e causam perdas econômicas consideráveis (Tokarnia et al., 2000).
306 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 4. Principais distúrbios e doenças causadas pela deficiência de minerais em bovinos leiteiros.
Elemento(1) Doença/Distúrbio
Ca, P Raquitismo, osteomalacia; abortos; baixa produção de leite
Atraso da puberdade e estro pós-parto, moderada à baixa taxa de concepção, nascimento de fetos mortos
P
ou fracos
Mg Tetania
Fe, Cu Anemia
Alterações cardíacas, alterações na coloração dos pelos, atraso no estro e baixa na taxa de concepção,
Cu
aborto ou mumificação do feto
Estro silencioso, estro irregular, infertilidade, abortos, redução na motilidade dos espermatozoides (SPTZ),
Mn
nascimento de animais deformados
Se Retenção de placenta
Co Baixa taxa de concepção
Ca = cálcio; P = fósforo; Mg = magnésio; Fe = ferro; Cu = cobre; Mn = manganês; Se = selênio; Co = cobalto.
(1)
Para a maioria dos minerais, com exceção do Ca, a absorção pelo animal não possui
controle e regulação precisos e depende integralmente da oferta de quantidade
suficiente do mineral na dieta. Dessa forma, as determinações das exigências
dos minerais foram formuladas por métodos fatoriais. Pelo método fatorial, as
quantidades necessárias para atendimento das exigências diárias são obtidas pela
soma das necessidades de manutenção, lactação, gestação e crescimento, levando
em consideração o coeficiente de absorção do mineral. A recomendação, nesse
caso, leva em consideração a concentração do elemento na dieta para concretizar
o desempenho esperado: ganho ou manutenção de peso ou produção de leite
(National Research Council, 2001; Mattos; Souza, 2006).
Diversos alimentos podem ser utilizados na dieta do animal para atender as exigên-
cias de fósforo. Os teores de P em gramíneas forrageiras tropicais variam de 0,8 g kg-1
a 3,0 g kg-1 de MS. Os níveis mais baixos não permitem elevados desempenhos na
308 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Existem basicamente três tipos de fosfato bicálcico: os produzidos via cal virgem,
via cal hidratada e aqueles produzidos via calcário. Contudo, não há na literatura
trabalhos que comprovem maior ou menor biodisponibilidade do P para os diferentes
fosfatos bicálcicos produzidos no Brasil (Balsalobre et al., 2006).
• Suplemento mineral com ureia: Possui na sua composição macro e/ou microele-
mento mineral e, no mínimo, 42% de equivalente proteico (no produto final).
• Suplemento mineral proteico: Possui na sua composição macro e/ou micro
elemento mineral e pelo menos 20% de PB para fornecer, no mínimo, 30 g de PB
por 100 kg de PC.
• Suplemento mineral proteico-energético: Possui na sua composição macro e/
ou micro elemento mineral e pelo menos 20% de PB para fornecer, no mínimo,
30 g de PB e 100 g de NDT por 100 kg de PC.
Os suplementos minerais também são classificados quanto ao modo de uso:
• Prontos para o uso: Quando se apresentarem prontos para serem fornecidos ao
animal.
• Para mistura: Quando necessitam ser misturados ao cloreto de sódio (sal comum)
ou a outros ingredientes antes de serem fornecidos ao animal.
No entanto, no que diz respeito aos suplementos considerados para mistura, exceto
as rações e concentrados, existem valores de referência que devem ser observados
(Tabela 5), após a adição ser efetuada, e o cloreto de sódio não poderá exceder 60%
da mistura final. Também nos suplementos minerais prontos para o uso, o cloreto de
sódio não poderá exceder 60%.
A IN nº 152 também proíbe a venda de suplemento fracionado e estabelece que
os suplementos para alimentação animal devem ser comercializados embalados e
rotulados, e neles deve haver informações claras, visíveis, legíveis e indeléveis.
Os suplementos minerais devem apresentar na garantia os valores fornecidos por
100 g do suplemento e a quantidade em percentagem do valor de referência (VR),
fornecida por 100 g de suplemento (Tabela 6). Para comparações entre produtos,
pode-se elaborar uma tabela com as percentagens do VR fornecidas por diferentes
suplementos e selecionar o produto que melhor atende às necessidades do rebanho.
Tabela 6. Modelo de planilha para comparação dos valores de referência (VR) de diferentes produtos disponíveis no mercado.
Cálcio 14,0 - -
Fósforo 11,0 - -
Sódio 7,0 - -
Magnésio 9,0 - -
Enxofre 13,5 - -
Potássio 54,0 - -
Microminerais (mg dia ) -1
Cobalto 0,9 - -
Cobre 90,0 - -
Iodo 4,5 - -
Manganês 180,0 - -
Selênio 0,9 - -
Zinco 270,0 - -
Ferro 450,0 - -
Vitaminas (UI dia-1)
Vitamina A 20.000,0 - -
Vitamina D 2.500,0 - -
Vitamina E 350,0 - -
Valor diário de referência para mantença de um animal de 450 kg de PC (IN nº 152). (2)Para o cálculo da “% do VR fornecida por 100 g de suplemento”: dividir
(1)
o valor apresentado na coluna “Quantidade fornecida por 100 g de suplemento” pelo valor correspondente na coluna “Valor de referência”. (3)Valor a ser definido
pelo usuário da planilha.
312 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Suplementação vitamínica
As vitaminas são elementos dietéticos essenciais, exigidas em pequenas
quantidades, que participam do metabolismo normal dos tecidos, no entanto não
participam da estrutura da célula. Embora requeridas em pequenas quantidades
quando comparadas aos requisitos de energia e proteína, a deficiência de vitamina
na dieta do animal produz sintomas específicos de deficiência, reduzindo índices de
produtividade (National Research Council, 2001). Sob condições normais, os pastos
tropicais fornecem a maioria das vitaminas ou de seus precursores em quantidades
satisfatórias, dependendo do nível de produção do animal (Zeoula; Geron, 2006).
Considerações finais
Em um sistema de produção de leite, manter uma alimentação adequada é de
fundamental importância, tanto do ponto de vista nutricional quanto econômico, já
que a alimentação tem a maior representatividade no custo total do leite vendido,
o que significa que os produtores devem dar muita atenção ao tema. Isso exige que
314 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
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319
CAPÍTULO 14
Introdução
Na Amazônia, encontram-se pastagens em 335.700 km2, segundo levantamento
por imagens de satélite do projeto TerraClass. As maiores áreas encontram-se nos
estados de Mato Grosso (107.500 km2), Pará (107.300 km2) e Rondônia (52.900 km2),
e representam cerca de 80% do total de áreas de pastagem na região (Almeida et al.,
2016). Do total de área em uso na Região Amazônica, cerca de 62% são de pastagem
(Almeida et al., 2016), o que demonstra a importância desse recurso vegetal nas
atividades de produção leiteira. De forma geral, apesar de sua importância, nos
últimos anos houve pouca evolução nas tecnologias de manejo das pastagens, as
quais são conduzidas com pouco uso de insumos e baixo investimento financeiro
(Dias Filho, 2015). Assim, apresentaremos neste capítulo as principais tecnologias
para a melhoria das pastagens utilizadas nos sistemas de produção leiteira na Região
Amazônica.
Tabela 1. Classificação das principais gramíneas forrageiras quanto ao grau de tolerância à síndrome da morte do capim-
-braquiarão (SBM).
Forrageira Tolerância
Capim-braquiarinha (Brachiaria decumbens)
Capim-quicuio (Brachiaria humidicola)
Capim-llanero “dictioneura” (B. humidicola ‘Llanero’)
Capim-tupi (B. humidicola ‘BRS Tupi’)
Capim-tangola (Brachiaria arrecta x Brachiaria mutica)
Capim-tanner-grass (B. arrecta)
ALTA
Grama-estrela-roxa (Cynodon nlenfluensis)
Capim-tanzânia (Panicum maximum ‘Tanzânia’)
Capim-mombaça (P. maximum ‘Mombaça’)
Capim-zuri (P. maximum ‘BRS Zuri’)
Capim-quênia (Híbrido P. maximum ‘BRS Quênia’)
Capim-xaraés (Brachiaria brizantha ‘Xaraés’)
Capim-tamani (Híbrido P. maximum ‘BRS Tamani’)
Capim-piatã (B. brizantha ‘BRS Piatã’) MÉDIA
Capim-kurumi (Pennisetum purpureum ‘BRS Kurumi’)
Capim-MG4 (B. brizantha ‘MG4’)
Capim-ipyporã (Híbrido B. brizantha x Brachiaria ruziziensis ‘Ipyporã’)
Capim-massai (P. maximum ‘Massai’)
Capim-mulato (B. ruziziensis x B. brizantha ‘Marandu’) BAIXA
Capim-marandu (B. brizantha ‘Marandu’)
Capim-ruziziensis (B. ruziziensis)
Capim-elefante-pioneiro (P. purpureum ‘Pioneiro’)
Fonte: Andrade e Valentim (2007), Tonwsend et al. (2011) e Pedreira et al. (2014).
CAPÍTULO 14 – Pastagens para produção leiteira 321
Para cada condição existe uma espécie forrageira adequada (Tabela 2), o que significa
que é possível promover a diversificação e evitar o monocultivo de forrageiras nas
pastagens. Logo, deve-se estabelecer diferentes espécies/cultivares forrageiras em
diferentes áreas da propriedade, respeitando as condições de solo e relevo de cada
uma, e evitar o cultivo simultâneo de várias gramíneas numa mesma área (Townsend
et al., 2011).
Plantio
Um ponto importante a ser levado em consideração para a formação das áreas com
pastagens é o valor cultural (VC) das sementes a serem utilizadas no plantio. O VC
permite estimar a qualidade do lote de sementes (quanto maior o VC melhor sua
qualidade) e ajustar adequadamente a densidade de semeadura. O VC é dado pela
relação entre a pureza física das sementes (%) e o teste de germinação (%):
Tabela 2. Características agronômicas das gramíneas forrageiras recomendadas para formação de pastagens em Rondônia.
Característica(1)
Exigência Resistência à
Gramínea Aceitabilidade
em fertilidade cigarrinha-das-
(bovídeos)
do solo -pastagens
Capim-tanzânia (Panicum maximum ‘Tanzânia’)(2)
Capim-mombaça (P. maximum ‘Mombaça’)(2)
Capim-zuri (P. maximum ‘BRS Zuri’)
Capim-quênia (Híbrido P. maximum ‘BRS Quênia’)
Capim-massai (P. maximum x Panicum infestus ‘Massai’)
Capim-tangola (Brachiaria arrecta x Brachiaria mutica)
Capim-xaraés (Brachiaria brizantha ‘Xaraés’)
Capim-ruziziensis (Brachiaria ruziziensis)
Capim-mulato (B. ruziziensis x B. brizantha)
Capim-marandu (B. brizantha ‘Marandu’)
Capim-piatã (B. brizantha ‘BRS Piatã’)(2)
Capim-MG4 (B. brizantha ‘MG4’)
Capim-ipyporã (B. brizantha x B. ruziziensis ‘Ipyporã’)
Capim-braquiarinha (Brachiaria decumbens)
Capim-quicuio (Brachiaria humidicola)
Capim-tupi (B. humidicola ‘BRS Tupi’)
Capim-tanergrass (B. arrecta)
Capim-kurumi (Pennisetum purpureum ‘BRS Kurumi’)
Capim-elefante-pioneiro (P. purpureum ‘Pioneiro’)
Capim-estrela-roxa (Cynodon nlenfluensis)
Capim-andropogon (Andropogon gayanus ‘Planaltina’)
• = alta; •= média; • = baixa. (2)Suscetível ao ataque do gênero Mahanarva.
(1)
Tabela 3. Características agronômicas das leguminosas forrageiras recomendadas para pastagens em Rondônia.
Característica(1)
Leguminosa Exigência em Tolerância ao
Aceitabilidade
fertilidade do encharcamento
(bovídeos)
solo do solo
Amendoim forrageiro (Arachis pintoi)
Calapogônio (Calapogonium mucunoides)
Guandu (Cajanus cajan)
Centrosema acutifolium
Centrosema brasilianum
Centrosema macrocarpum
Desmódio (Desmodium ovalifolium)
Leucena (Leucaena leucocephala)
Puerária (Pueraria phaseoloides)
Estilozante Bandeirante
(Stylosanthes guianensis ‘Bandeirante’)
Estilosante Mineirão (S. guianensis ‘Mineirão’)
Estilosante Pioneiro
(Stylosanthes macrocephala ‘Pioneiro’)
Estilosante Campo Grande
(Stylosanthes macrocephala + Stylosanthes capitata)
• = alta; •= média; • = baixa.
(1)
A semeadura pode ser realizada a lanço e/ou por meio de plantadoras e deverá levar
em consideração as condições de preparo inicial do solo (Tabela 4), as quais podem
variar de ótima a ruim:
Tabela 4. Pontos de valor cultural (PVC) das principais cultivares forrageiras em diferentes condições de plantio.
Condição de plantio(2)
Forrageira(1)
Ótima Ruim
Capim-braquiarinha (Brachiaria decumbens) 300 500
Capim-quicuio (Brachiaria humidicola) e capim-tupi (B. humidicola ‘BRS Tupi’) 300 600
Capim-xaraés (Brachiaria brizantha ‘Xaraés’) 350 600
Capim-ruziziensis (Brachiaria ruziziensis) 200 400
Capim-mulato (B. ruziziensis x B. brizantha ‘Marandu’) 350 500
Capim-marandu (B. brizantha ‘Marandu’) 300 500
Capim-piatã (B. brizantha ‘BRS Piatã’) 400 550
Capim-MG4 (B. brizantha ‘MG4’) 400 550
Capim-ipyporã (B. brizantha ‘Ipyporã’) 400 550
Capim-tanzânia (Panicum maximum ‘Tanzânia’) 250 450
Capim-mombaça (P. maximum ‘Mombaça’) 250 450
Capim-zuri (P. maximum ‘BRS Zuri’) 300 450
Capim-quênia (Híbrido P. maximum ‘BRS Quênia’) 250 450
Capim-massai (P. maximum x Panicum infestus ‘Massai’) 250 450
Capim-pojuca (Paspalum pojuca) 200 400
Capim-adropogon (Andropogon gayanus ‘Planaltina’) 250 450
(1)
Forrageiras identificadas com o uso do aplicativo Pasto Certo, da Embrapa. (2)Ótima = possibilita uso de mecanização e condições edafoclimáticas favoráveis
para pleno estabelecimento da forrageira; ruim = condições adversas para o plantio forrageiro. Poderá ser utilizada uma condição intermediária (média PVC
“ótima” e “ruim”) a depender da avaliação do técnico. Semeadura com veículo aéreo aumenta em 50% a taxa de semeadura. Semeadura a lanço aumenta em
30% a taxa de semeadura. Plantio em consórcio com leguminosas reduz de 20% a 30% a taxa de semeadura da gramínea.
Fonte: Adaptado de Townsend et al. (2011).
em que:
SPC = quantidade de sementes puras viáveis.
PVC = pontos de valor cultural.
VC = valor cultural das sementes.
CAPÍTULO 14 – Pastagens para produção leiteira 325
Preparo do solo
O preparo do solo poderá ser realizado de forma convencional com o uso de arados
e grades e/ou com preparo mínimo do solo seja por semeio direto na palha seja com
auxílio de maquinário específico de plantio direto (Figura 1).
Figura 1. Plantio de capim-mombaça (Panicum maximum ‘Mombaça’), utilizando semeadora específica para plantio direto em
palha (A) e detalhe da germinação do capim (B), Fazenda São José, Jaru, RO.
O primeiro pastejo deverá ser realizado entre 45 e 60 dias após a germinação das
sementes, com o objetivo de estimular o perfilhamento e o desenvolvimento
radicular. Nesse momento, deve-se dar preferência ao pastejo por animais jovens
para evitar que as plantas em formação sejam arrancadas.
Tabela 5. Estágios de degradação de pastagens e variações de degradação agrícola e biológica que podem ocorrer em pasta-
gens.
A tomada de decisão entre recuperar e/ou renovar deverá ser feita com base em
um bom diagnóstico do nível de degradação da pastagem (Tabela 5). As práticas de
recuperação demandam um custo significativo no sistema de produção, em que o
retorno do investimento dependerá do grau de degradação presente na área. Assim,
quanto maior o grau de degradação maior será o investimento e, consequentemente,
maior será o tempo de retorno do capital investido. Townsend et al. (2010) observaram
Tabela 6. Critérios para tomada de decisão quanto à reforma e/ou recuperação de pastagem degradada.
O plantio direto a lanço ou semeadura direta a lanço é outra técnica que poderá ser
utilizada sem a necessidade de revolvimento do solo. Nessa técnica, emprega-se o
uso de herbicidas para suprimir a vegetação existente (dessecação) e semeia-se o
dobro da necessidade recomendada de capim a lanço diretamente sobre a palhada
(Andrade et al., 2015).
Número de piquetes
Para o cálculo do número de piquetes, deve-se levar em consideração dois aspectos
principais: o período de descanso do pasto e o período de ocupação.
Tabela 7. Período de descanso das principais forrageiras tropicais utilizadas em sistemas de produção em pasto na Amazônia.
Período de descanso
Gramínea
(dias)
Capim-mombaça, capim-tobiatã, capim-tanzânia, capim-zuri e capim-quênia
21–35
(Panicum maximum ‘Mombaça’, ‘Tobiatã’, ‘Mombaça’, ‘Tanzânia’, ‘BRS Zuri’ e ‘BRS Quênia’)
Capim-massai (P. maximum x Panicum infestus ‘Massai’) 28–35
Capim-marandu, capim-xaraés, capim-piatã e capim-ipyporã
28–35
(Brachiaria brizantha ‘Marandu’, ‘Xaraés’, ‘BRS Piatã’ e ‘BRS Ipyporã’)
Capim-braquiarinha (Brachiaria decumbens) 28–42
Capim-humidícola, capim-tupy e capim-lhanero (Brachiaria humidicola ‘BRS Tupy’ e ‘Lhanero’) 28–42
Capim-tifton e capim-estrela-africana (Cynodon dactylon, Cynodon nlenfluensis) 21–28
Capim-pojuca (Paspalum atratum ‘Pojuca’) 21–35
Capim-elefante (Pennisetum purpureum) 35–42
Capim-kurumi (P. purpureum ‘BRS Kurumi’) 21–35
Fonte: Oliveira (2006) e Townsend et al. (2011).
Tamanho do piquete
A definição do tamanho dos piquetes não é uma escolha aleatória; vários são
os fatores que interferem nessa tomada de decisão. Entre eles estão a produção
esperada da planta forrageira e o consumo de forragem, que depende da categoria
do animal, do número de animais e da qualidade da planta forrageira (Oliveira, 2006).
Uma regra empírica, mas muito utilizada por técnicos extensionistas, baseia-se na
disponibilidade de área (m2) por animal por dia no sistema. Os valores podem variar
de acordo com o potencial produtivo da forrageira (as mais produtivas suportam mais
animais por área) e com o grau de intensificação do sistema (irrigado ou não irrigado) –
as forrageiras irrigadas e fertilizadas suportam mais animais por área (Tabela 8).
Tabela 8. Disponibilidade de área por animal em diferentes níveis de intensificação (irrigado e/ou não irrigado) das principais
gramíneas utilizadas em sistemas intensivos.
de peso vivo. (2)Irrigado + fertilizações periódicas. (3)Não irrigado com fertilizações periódicas.
Para o cálculo da área total do sistema, basta multiplicar a área de piquete pelo
número de piquetes utilizados, de acordo com a fórmula a seguir:
Vale ressaltar que, nos sistemas de produção de leite, a subdivisão das pastagens
(piqueteamento) não elimina a necessidade de reserva estratégica de forragem no
período de menor produção forrageira (ex.: capineira e/ou silagem). Nos sistemas
não irrigados, durante a estação seca, a quantidade e a qualidade da forragem
produzida na pastagem são limitantes para a manutenção e a produção das vacas
em lactação, por isso elas deverão receber suplementação volumosa de capim-
-elefante (Pennisetum purpureum) e/ou cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), com
adição de ureia. Além disso, deve-se fornecer diariamente matéria seca (MS) de pelo
menos 1% do PV (cerca de 20 kg de matéria verde por dia) (Townsend et al., 2011).
no caso de solos muito argilosos. As espécies arbóreas mais indicadas são aquelas
que apresentam características de crescimento rápido, fixadoras de nitrogênio
e de copa pouco densa ou rala, que não produza frutos tóxicos aos animais e que
sejam adaptadas às condições edafoclimáticas regionais. Algumas espécies nativas
da Amazônia Ocidental recomendadas para áreas de pastagem são as seguintes:
parapará [Jacaranda copaia (Aubl.) D.Don], paricá [Schizolobium parahyba var.
amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby] e o bordão-de-velho [Samanea tubulosa
(Benth.) Barneby & J. W. Grimes] (Andrade et al., 2012).
Os corredores deverão ser dimensionados com largura mínima de 5 m para facilitar a
operação de máquinas e implementos agrícolas na área.
Manejo da pastagem
Após o dimensionamento do sistema, o ajuste da condição do pasto será o principal
aspecto a ser levado em consideração por meio do monitoramento das metas de
manejo do pastejo (altura do pasto) com ajustes na taxa de lotação.
Seguir a altura do pasto estabelecida para saída dos animais (Tabela 9) permite que
seja deixada na área do piquete uma quantidade de forragem (resíduo pós-pastejo)
que funciona como “poupança” e deve ser respeitada para manutenção de um pasto
duradouro, evitando o processo de degradação da pastagem.
334 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
• Subdividir em talões homogêneos e/ou piquetes com área não superior a 20 ha.
• Amostrar todo o perfil que se deseja analisar (geralmente 0–20 cm), tomando o
cuidado de identificar adequadamente (nome, local, cultura, piquete, etc.).
• Utilizar de 10 a 20 amostras simples para 1 amostra composta (mistura homogênea
de várias amostras simples).
Calagem
A calagem é um processo importante na implantação e na manutenção da
pastagem, uma vez que neutraliza o alumínio (Al3+) presente na solução do solo, que
é tóxico para as plantas, fornece cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+), além de aumentar
a disponibilidade de nutrientes presentes no solo, como nitrogênio (N), potássio (K),
fósforo (P), enxofre (S) e boro (B).
Tabela 10. Classificação de gramíneas e leguminosas forrageiras quanto às exigências em fertilidade e à respectiva recomen-
dação de saturação por bases.
de saturação de bases presente no solo, informação essa que é fornecida pelo laudo
da análise de solo.
em que:
Adubação
A correção da fertilidade do solo no plantio é fundamental para o bom
desenvolvimento da gramínea. As quantidades recomendadas de P, K e N variam
de acordo com o sistema de manejo adotado e com o tipo de forrageira utilizada,
levando em consideração o resultado da análise de solo.
Adubação fosfatada
O P é um nutriente exigido em praticamente todos os processos metabólicos da
planta. Os solos amazônicos, assim com a maioria dos solos tropicais, apresentam
CAPÍTULO 14 – Pastagens para produção leiteira 337
baixos teores de P na forma disponível para as plantas. Isso se deve ao alto poder de
adsorção desse nutriente pelos óxidos de ferro, alumínio e manganês, presentes em
solos ácidos, formando um composto insolúvel.
Tabela 11. Recomendações de adubação fosfatada em gramíneas e leguminosas forrageiras de acordo com suas exigências
em fertilidade do solo e com a disponibilidade de fósforo (P) no solo.
Manutenção
Alta 80 60 40 30
Média 60 40 30 20
Baixa 40 20 20 20
Estabelecimento
Alta 120 80 60 40
Média 80 60 40 20
Leguminosa
Baixa 40 30 20 -
Manutenção
Alta 80 60 40 30
Média 40 30 20 -
Baixa 20 20 20 -
Extrator Mehlich-1.
(1)
A mistura do adubo com a semente, que deve ser feita no dia ou na véspera do plantio
para evitar danos à semente, tem a vantagem de facilitar a semeadura, atuando
como diluente para melhor espalhar a semente da forrageira. Para manutenção, a
adubação deve ser realizada na estação chuvosa, aplicada em dose única (Luz et al.,
2007). Em pastagens estabelecidas, é possível obter produtividades elevadas com
adubação fosfatada em superfície, sem a necessidade de revolvimento do solo.
Adubação potássica
O K possui importante papel nas funções metabólicas da planta forrageira, pois
tem participação na fotossíntese, na respiração, no metabolismo de carboidratos
e no controle estomático. A sua falta na planta pode limitar a produção forrageira,
tanto quanto o N, especialmente em sistemas intensivos, por causa da maior
extração do nutriente pela alta eficiência de colheita pelo pastejo. A Tabela 12
mostra a recomendação de adubação potássica em pastagens, tanto para a fase de
estabelecimento quanto para manutenção.
Tabela 12. Recomendação de adubação potássica em gramíneas e leguminosas forrageiras de acordo com suas exigências em
fertilidade do solo e com a disponibilidade de potássio no solo.
Baixa 60 40 20 -
Manutenção
Alta 60 40 30 20
Média 40 30 20 20
Baixa 40 20 20 20
Estabelecimento
Alta 90 60 40 20
Média 80 60 40 20
Leguminosa
Baixa 40 30 20 -
Manutenção
Alta 60 40 30 20
Média 40 30 20 -
Baixa 30 20 10 -
Fonte: Costa et al. (2004).
CAPÍTULO 14 – Pastagens para produção leiteira 339
Como as doses recomendadas para pastagens nos sistemas intensivos são elevadas,
a adubação potássica deve ser parcelada em pelo menos três aplicações com
intervalos de 30 dias. A primeira deve ser aplicada no início da estação chuvosa. Se
houver recomendação para o parcelamento da adubação potássica, esta deve ser
feita junto com a adubação nitrogenada. A relação N:K de 1:1 tem sido recomendada
(Bernardi; Rassini, 2008; Freire et al., 2012), entretanto o acompanhamento dos níveis
de K no solo nos sistemas intensivos devem ter frequência anual para melhor ajuste
dos níveis.
Adubação nitrogenada
O N é um nutriente essencial para produção forrageira, pois é absorvido em grandes
quantidades pelas plantas e sua utilização está relacionada a altos ganhos de
produtividade animal em pastagens. Apesar de ser o nutriente mais abundante na
atmosfera (78% dos gases), sua introdução no sistema apenas acontece por meio de
adubações orgânicas e inorgânicas, pela mineralização da matéria orgânica ou por
fixação biológica (Santos et al., 2007). A sua recomendação nos sistemas extensivos e
intensivos vai depender da taxa de lotação pretendida no sistema (Tabela 13).
Tabela 13. Recomendação de adubação nitrogenada de gramíneas forrageiras de acordo com a exigência em fertilidade e com
a expectativa de taxa de lotação (UA por hectare) em sistemas extensivos e intensivos.
Em sistemas intensivos, a adubação orgânica (ex.: cama de frango) pode ser utilizada,
o que, em muitos casos, pode trazer benefícios ao sistema (Camargo et al., 2001),
entretanto devem ser contabilizadas como fontes de N no cálculo.
CAPÍTULO 14 – Pastagens para produção leiteira 341
Considerações finais
Por ser o principal alimento dos rebanhos leiteiros na Amazônia, a pastagem deve ser
encarada como uma cultura perene e deve ser mantida produtiva por muitos anos.
O manejo correto evita que intervenções para reforma, renovação ou recuperação
sejam realizadas em curto espaço de tempo, o que sempre implica descapitalização
do produtor tanto pela queda da produtividade do rebanho leiteiro quanto pela
necessidade de investimentos em operações que são tanto mais altos quanto maior
o grau de degradação da pastagem.
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Circular técnica, 38).
CAPÍTULO 14 – Pastagens para produção leiteira 343
CAPÍTULO 15
Pragas e doenças em
pastagens na Amazônia
César Augusto Domingues Teixeira
José Roberto Vieira Júnior
José Nilton Medeiros Costa
Introdução
O crescimento significativo da pecuária na Amazônia deve-se, em parte, à
capacidade do gênero Brachiaria de adaptar-se às mais variadas condições de solos,
desenvolvendo-se em solos úmidos e férteis, como a espécie Brachiaria purpurascens,
e em solos pobres de Cerrado sujeitos a secas estacionais, como a espécie Brachiaria
decumbens. Atualmente, entre as várias espécies de Brachiaria, o capim-marandu
(Brachiaria brizantha ‘Marandu’) é a gramínea forrageira mais plantada em todo o
País. Essa forrageira apresenta agressividade e alta resistência às cigarrinhas-das-
-pastagens, além de ser bem aceita pelos pecuaristas, substituindo boa parte das
pastagens de B. decumbens. Entretanto, esse progresso no plantio de Brachiaria
também apresenta reflexos negativos, como o aumento das áreas abandonadas com
solos degradados e improdutivos, em razão do manejo inadequado e do surgimento
de pragas e doenças que afetam as pastagens e tornam as áreas pouco produtivas ou
com baixa capacidade de suporte e impróprias para a pecuária.
Cigarrinhas-das-pastagens
(Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae)
As cigarrinhas-das-pastagens são as principais pragas das pastagens da Amazônia.
São insetos sugadores que causam prejuízos às pastagens (Poaceae) e a outras
gramíneas, como a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), o milho (Zea mays)
e o sorgo (Sorghum bicolor). Apresentam significativa capacidade de adaptação a
diferentes condições ecológicas e são encontradas em todas as áreas de pastagens
da região.
Figura 1. Principais espécies de cigarrinhas em pastagens da Amazônia: adulto de Deois flavopicta (A); adulto de Deois
incompleta (B); adulto de Mahanarva fimbriolata (C); e adulto de Notozulia entreriana (D).
Ciclo de vida
A biologia das cigarrinhas-das-pastagens está diretamente associada às condições
climáticas, especialmente umidade relativa do ar e temperaturas altas (acima de 70%
e 28 °C), características comuns na Região Amazônica, que levam à ocorrência de
cerca de três a cinco gerações anuais.
Espécie
Fase do ciclo Deois flavopicta Notozulia entreriana Mahanarva fimbriolata
Duração (dias)
Ovo 11,1 19,6 21,0
Ninfa 34,2 33,0 37,0
Pré-oviposição 4,0 3,0 5,0
Total 49,3 55,6 58,0
Longevidade de adultos
Machos 10,4 10,4 18,0
Fêmeas 10,9 19,0 23,0
Fonte: Terán (1987), Silveira Neto (1994) e Garcia et al. (2006).
Métodos de controle
Não há uma medida isolada que possa controlar eficientemente as cigarrinhas-
-das-pastagens. Com base nas pesquisas desenvolvidas, recomenda-se o Manejo
Integrado de Pragas (MIP), que combina estratégias de controle que minimizam os
danos dessa praga às pastagens. A seguir, serão descritas estratégias de controle
cultural.
Correção e adubação de pastagens – Embora não seja uma prática muito usual, a
correção e a adubação do solo de pastagens são alternativas de controle da praga. Em
grande parte, os solos da Amazônia apresentam baixa fertilidade natural, retenção
do fósforo (P) e elevada saturação por alumínio (Al), o que limita o desenvolvimento e
a longevidade das pastagens. Com o decorrer do tempo de utilização dos pastos, há
uma constante e crescente queda no vigor de rebrota das forrageiras e infestação por
plantas invasoras. Além disso, o ataque de pragas e doenças e o manejo inadequado
(elevada pressão de pastejo/curto período de descanso) resultam no processo de
degradação das pastagens.
CAPÍTULO 15 – Pragas e doenças em pastagens na Amazônia 351
Gênero de cigarrinha
Capim Deois flavopicta e
Mahanarva fimbriolata
Notozulia entreriana
Brachiaria humidicola (syn. Urochloa humidicola)
Tolerante Sem informação
BRS Tupi
Híbrido de Brachiaria
Resistente Resistente
BRS RB331 Ipyporã
Brachiaria brizantha (syn. Urochloa brizantha)
Suscetível Suscetível
BRS Paiaguás
BRS Piatã Resistente Suscetível
BRS Xaraés Suscetível Suscetível
Marandu Suscetível Suscetível
Panicum maximum (syn. Megathyrsus maximus)
Resistente Resistente
BRS Zuri
Híbrido BRS Tamani Resistente Resistente
Mombaça Resistente Suscetível
Tanzânia Resistente Suscetível
Massai Resistente Suscetível
BRS Quênia Resistente Sem informação
Pennisetum purpureum
Suscetível Suscetível
BRS Capiaçu
BRS Kurumi Suscetível Suscetível
Brachiaria decumbens (syn. Urochloa decumbens) Suscetível Suscetível
Fonte: Teixeira et al. (2017).
1
Disponível em: <www.agricultura.gov.br/serviços-e-sistemas/sistemas/agrofit>.
CAPÍTULO 15 – Pragas e doenças em pastagens na Amazônia 353
Tabela 3. Medidas de controle de acordo com o número de cigarrinhas-das-pastagens amostradas (ninfas e adultos).
Por sua vez, os cupins Syntermes spp. são predominantemente subterrâneos (hipó-
geos). Quando seus ninhos afloram à superfície, eles se expandem horizontalmente
e apresentam consistência menos dura que os ninhos de Cornitermes. Esses cupins
têm a característica de forragear na superfície das pastagens e podem competir com
o rebanho, especialmente no período seco, pois seus indivíduos danificam direta-
mente a pastagem, cortando e carregando grandes quantidades de folhas e colmos,
tanto verdes como secos. Na maioria dos casos, entretanto, seus ninhos não afloram
à superfície, o que dificulta a visualização de suas colônias e medidas de controle
(Constantino, 2002; Valério, 2005).
A
Foto: Thiarles Teozolim Silva
representa uma das características dos insetos sociais. Nesse aspecto, a estrutura dos
ninhos de cupins tem sido mais pesquisada e serve de referência para os estudos
da bioecologia e do comportamento desses insetos em pastagens. A seguir, uma
descrição dos ninhos formados pelos cupins de pastagens:
• Syntermes spp.: os ninhos desse gênero podem ser de três tipos: completamente
subterrâneos, apenas com orifícios no solo; subterrâneo, mas com um pequeno
monte de terra fofa aflorando à superfície; e subterrâneo com um pequeno monte
de terra resistente e dura na superfície. Os indivíduos da maioria das espécies de
Syntermes têm o hábito de cortar folhas e estocá-las nos ninhos, onde cultivam
um fungo (Berti Filho, 1993).
Métodos de controle
Controle químico – Os inseticidas químicos registrados para esse fim na plataforma
Agrofit (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) são introduzidos no
cupinzeiro por perfuração feita com uma barra de ferro pontiaguda e uma marreta.
Para C. cumulans, sugere-se que a perfuração do cupinzeiro atinja o endoécio. No
caso de C. silvestrii, em cujo ninho não se observa um núcleo, recomenda-se que
a perfuração seja feita verticalmente a uma profundidade equivalente à sua altura.
Para cupinzeiros de Syntermes spp. que afloram à superfície, nos quais também não
se constata facilmente um endoécio, e, pelo fato de eles poderem ocupar áreas de
vários metros quadrados, as seguintes medidas são recomendadas:
356 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Atenção especial deve ser dada ao gênero Syntermes, cujos ninhos, em sua maio-
ria, são subterrâneos. Em contraste com a alta taxa de ninhos abandonados de
C. cumulans, os ninhos subterrâneos de Syntermes, geralmente, estão ativos. Assim,
no controle de Syntermes em áreas de pastagens a serem recuperadas, a aplicação
de inseticida é necessária, admitindo-se ser mais eficiente pelo menos 30 dias antes
da mecanização do solo. Nessa ocasião, com a área ainda inalterada, a localização
dos ninhos de Syntermes que afloraram à superfície é facilitada (Valério, 2005, 2006).
O curuquerê caracteriza-se por ser a mais importante das lagartas que atacam as
pastagens. Alimentam-se inicialmente da epiderme da folha, raspando a parte
inferior, e, em seguida, passam a devorá-las pelas bordas. De ocorrência cíclica,
quando aparecem os surtos, podem destruir praticamente toda a folhagem,
deixando apenas as nervuras principais (Assunção-Albuquerque et al., 2010).
Métodos de controle
Controle cultural – A roçagem do pasto atacado e a indução de superpastejo são
medidas de manejo que, segundo as peculiaridades do ataque do curuquerê-dos-
-capinzais e da lagarta-militar, devem ser consideradas prioritárias, principalmente
em capineiras, onde as áreas de cultivo costumam não ser extensas como aquelas
de pastejo direto.
As ninfas e os adultos causam danos por meio da sucção de seiva dos capins
atacados. Geralmente o ataque às pastagens causa o retardamento do crescimento
das plantas e posteriormente a morte delas. No estado do Acre, em capim-tanner-
-grass (B. arrecta), ocorre inicialmente o amarelecimento das folhas e posteriormente,
em aproximadamente 15 dias, uma rápida evolução para a “queima” das plantas
atacadas (Fazolin et al., 2009).
Por sua vez, segundo os autores, o capim-braquiarão apresenta como fator limitante
baixa adaptação ao encharcamento do solo. Em solos encharcados, os espaços
porosos tornam-se saturados de água, e as raízes de plantas não adaptadas a essas
condições não conseguem obter o oxigênio necessário para sua respiração. Em
áreas com solos de baixa permeabilidade (mal drenados), o encharcamento ocorre
durante os meses mais chuvosos do ano, não apenas nas baixadas, mas também nas
áreas mais elevadas das propriedades, quadro típico do estado de Rondônia.
CAPÍTULO 15 – Pragas e doenças em pastagens na Amazônia 363
Nesse contexto, Verzignasi e Fernandes (2001) relatam que a expansão das pastagens
cultivadas, a intensificação da atividade pecuária nos últimos anos e os períodos
chuvosos prolongados contribuíram para o aparecimento de várias doenças de
forrageiras com importância significativa, especialmente nas regiões Centro-Oeste e
Norte, as quais causaram perdas em produtividade e qualidade das pastagens.
Figura 5. Detalhe dos sintomas de morte das pastagens em capim Brachiaria brizantha ‘Marandu’, município de Alto
Paraíso, RO.
Foto: José Roberto Vieira Júnior 364 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Figura 6. Sintomas iniciais de morte das pastagens em touceira de capim Brachiaria brizantha ‘Marandu’, Porto Velho, RO.
Nesse sentido, Vieira Júnior et al. (2015) realizaram testes com 15 espécies monocoti-
ledôneas plantadas em Rondônia como alternativa ao capim-marandu. Os autores
observaram que a maioria das gramíneas testadas como alternativa apresenta
algum nível de susceptibilidade ao patógeno e, dessa maneira, seu uso precisa ser
determinado levando em conta fatores como região geográfica, tipo de solo (mais
ou menos encharcado), regime pluviométrico e tipo de manejo adotado (Tabela 4).
Nesse sentido, Dias Filho (2017) elaborou cartilha em que apresenta o grau de
susceptibilidade de diversas espécies de capins ao mal do braquiarão, levando em
consideração o tipo de solo em que ele pode ser empregado e os riscos envolvidos
quanto à ocorrência da doença. Os autores recomendam o uso de Brachiaria
humidicola, Cynodon nlemfuensis, B. arrecta x B. mutica e B. arrecta, quando as
condições de solo foram de alto risco de alagamento temporário e de ocorrência
de mal do braquiarão. Recomenda ainda a substituição imediata de B. brizantha
‘Marandu’ nas áreas com essas características.
CAPÍTULO 15 – Pragas e doenças em pastagens na Amazônia 367
Tabela 4. Resultados dos ensaios de patogenicidade de R. solani, isolada de diferentes gramíneas em Rondônia.
Hospedeiro original
Hospedeiro testador Panicum Brachiaria brizantha
Fungo Paspalum sp. Cynodon spp.
maximum ‘Piatã’
Milho Rhizoctonia solani + + + +
Sorgo R. solani - + - +
Milheto R. solani - - - +
Capim-sudão R. solani + - - +
Panicum ‘Massai’ R. solani - - - +
Panicum ‘Tanzânia’ R. solani + - + -
Arroz R. solani - - - +
Piatã R. solani + - + +
Mombaça R. solani - + + +
Marandu R. solani + - + +
Ruziziense R. solani + - - +
Além dessas doenças, tem sido relatada a ocorrência esporádica de mancha foliar
causada por Bipolaris maydis. De acordo com Marchi et al. (2011), a doença ataca
mais severamente Panicum e pode também afetar outras espécies de plantas, como
Brachiaria sp., Paspalum sp. e Pennisetum sp. Plantas infectadas apresentam, quando
afetadas seriamente, manchas foliares pequenas de coloração castanha a preta.
As manchas podem evoluir, apresentando centro marrom a pardo, circundados por
halo marrom-escuro.
368 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Considerações finais
De modo geral, as principais pragas e doenças em pastagens podem ser
diagnosticadas com certa facilidade. Quanto mais precoce for a identificação do
problema, mais efetivo será o método de intervenção para reverter o processo e
evitar prejuízos ao sistema de produção de leite.
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370 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
CAPÍTULO 16
Sistemas agrossilvipastoris
para produção de leite
Ana Karina Dias Salman
Carolina Della Giustina
Gladys Beatriz Martínez
Roberta Aparecida Carnevalli
Introdução
O objetivo deste capítulo é apresentar os sistemas agrossilvipastoris como alternativa
para produção de leite na Região Amazônica. Inicialmente, serão abordados aspectos
conceituais e os possíveis benefícios desses sistemas. A seguir, serão apresentadas
as possibilidades de integração entre lavoura, pastagem e árvores, bem como
os resultados de desempenho de rebanhos leiteiros mantidos nesses sistemas na
Região Amazônica.
Figura 1. Denominações dos sistemas de integração de acordo com as possíveis combinações dos componentes agrícola,
florestal e animal.
Fonte: Adaptado de Garcia e Andrade (2001).
beneficiam da presença de árvores, pois aproveitam nutrientes que são extraídos por
elas de camadas mais profundas do solo, nutrientes esses que o sistema radicular das
forrageiras não consegue extrair por ser superficial quando comparado ao sistema
das árvores (Castro et al., 1996; Sánchez et al., 2003). Para o componente pecuário, a
presença das árvores na pastagem gera sombra natural, forma um microclima local
pouco variável e favorece o conforto térmico, refletindo em maior produção por
animal (Pires et al., 2000; Almeida, 2010; Morais et al., 2013). Esse conforto térmico é
especialmente importante para rebanhos leiteiros mantidos na Região Amazônica,
onde predominam temperaturas e umidade relativa do ar elevadas (Alvares et al.,
2013). Essas condições levam ao estresse por calor e, consequentemente, reduzem o
tempo de pastejo, o consumo e o desempenho dos animais.
Figura 2. Principais benefícios do sistema da integração pecuária-floresta (IPF) ou silvipastoril para o sistema solo-planta-
-animal.
Foto: Rafael Rocha
O milho e o sorgo são culturas mais adaptadas ao processo de ensilagem, por sua
facilidade de cultivo, altos rendimentos e, especialmente, pela qualidade da silagem
produzida sem o uso de aditivos ou técnicas de emurchecimento (Demarchi et al.,
1995). Concomitantemente à semeadura de forrageiras anuais, podem ser semeadas
forrageiras perenes. Essa prática possibilita o alongamento do período de pastejo e
ainda a formação de palhada para a semeadura direta da cultura granífera ou de lavoura
para a produção de silagem na safra de verão seguinte (Kluthcouski; Yokoyama, 2003).
As formas de introdução da forrageira na lavoura dependem da disponibilidade de
maquinário de cada produtor rural. As sementes podem ser distribuídas em caixas
específicas, em maquinários mais modernos ou adaptados; ou podem ser colocadas
CAPÍTULO 16 – Sistemas agrossilvipastoris para produção de leite 375
em caixas separadas juntamente com o adubo de plantio, com a ressalva de que devem
ser misturadas somente no dia em que serão aplicados; ou podem ser distribuídas a
lanço antes do plantio; ou, em último caso, podem ser adicionadas à adubação de
cobertura da cultura, entretanto esta última opção é a menos recomendada.
Para cada finalidade haverá uma série de opções que, ao serem cuidadosamente
analisadas, podem aumentar a eficiência do sistema. A maioria dos capins do gênero
Panicum apresenta-se como excelente opção para ruminantes domésticos, no entanto
esses capins são muito estacionais, ou seja, apresentam alta produção no período das
águas e praticamente não crescem durante o período seco sem irrigação (Carvalho
et al., 2005). Os capins do gênero Panicum, em geral, atingem, no período das águas,
produção média de 20 t ha-1 a 45 t ha-1 de matéria seca (MS), e não apresentam boa
qualidade quando diferidos ou conservados como feno ou silagem (Jank et al., 2008;
Alves et al., 2014). Contudo, respondem bem à irrigação, desde que a temperatura
noturna esteja acima de 15 °C (Teodoro et al., 2002). Apresentam dificuldade no
consórcio com cultivos agrícolas subsequentes, por causa da alta tendência de
formação de touceiras, o que prejudica a qualidade do plantio direto (Carvalho et al.,
2005). Ações de manejo da pastagem são fundamentais para reduzir o diâmetro das
touceiras, que tendem a dificultar o desempenho das semeadoras, e para assegurar
a distribuição de massa aérea e radicular, garantindo a homogeneidade do plantio
subsequente.
culturas anuais. Entretanto, todas as cultivares desse gênero são altamente exigentes
em fertilidade de solo e demandam adubação nitrogenada para permanecerem
competitivas e produtivas (Severino et al., 2006; Jank et al., 2008). Quando o plantio
é realizado em consórcio com culturas anuais e a pastagem é mantida por longo
período sob pastejo, as cultivares Mombaça e Zuri são excelentes opções. Todas as
cultivares de Panicum devem ser mantidas sob lotação intermitente da pastagem,
não havendo bons resultados de produção e persistência em médio e longo
prazo quando manejadas sob lotação contínua, em razão de suas limitações e/ou
dificuldades para serem manejadas (Carvalho et al., 2005).
Sistemas silvipastoris com espaçamentos mais amplos, onde haja entrada de luz su-
ficiente para o desenvolvimento da pastagem e sombra suficiente para que o animal
a alcance sem percorrer grandes distâncias, têm sido a maneira mais eficaz de obter
sucesso nessa modalidade. Com redução de 20% somente na radiação fotossinteti-
camente ativa (RFA), pode-se obter uma pastagem com pequena redução do perí-
metro das touceiras (25%), acompanhado de um aumento significativo de touceiras
pequenas (abaixo de 30 cm) e redução de touceiras grandes (acima de 60 cm). No
sistema equilibrado, a taxa de aparecimento de perfilhos, que é afetada pelo som-
breamento, não sofre alteração em relação ao pleno sol, da mesma forma que a mor-
talidade, que mantém índice de estabilidade semelhante. Assim sendo, a densidade
populacional de perfilhos não foi afetada por essa disposição de árvores, e o estande
se manteve semelhante a pleno sol (Crestani, 2015). Nenhuma das variáveis morfo-
gênicas foi afetada pelo sistema silvipastoril equilibrado. Isso também não ocorreu
no sistema mais sombreado, onde foi verificado aumento principalmente na taxa de
alongamento de colmos, resposta esperada nesse ambiente de restrição lumínica.
380 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
proporciona. O uso desses sistemas tende a estabilizar os ITUs nos limites ideais para
gado leiteiro, entre 60 e 64, nunca igual ou maior que 72 (Ferro et al., 2010).
Vacas cruzadas com zebuínos são mais tolerantes às variações climáticas (Azevedo
et al., 2005). O problema principal das raças leiteiras de origem europeia está
na adaptação ao clima tropical, decorrente da alta capacidade produtiva, o que
proporciona alterações fisiológicas e comportamentais provocadas pelo estresse
pelo calor (Silva et al., 2002). A maior adaptação dos zebuínos às condições de
temperatura elevada está na sua capacidade de dissipação de calor por meio
da sudorese de forma mais efetiva, pois possuem maior número de glândulas
sudoríparas ou maior volume de secreção, pelos mais curtos e maior superfície em
relação à massa corporal, apresentando, assim, um mecanismo termorregulatório
mais eficiente que os taurinos (Pereira et al., 2008).
Esse planejamento vai desde a escolha correta das forrageiras e das espécies arbóreas
que irão compor o sistema até a densidade e sua distribuição na área. Leme et al.
(2005) verificaram em seu experimento que o tempo que os animais despendiam ao
sol e à sombra ao deitarem-se em busca de descanso era igual, independentemente
da época do ano, possivelmente pela dispersão das árvores no piquete experimental.
382 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Além disso, os animais conseguem identificar locais sombreados que oferecem maior
proteção contra a radiação solar, a fim de amenizar o estresse pelo calor ao qual se
encontram (Schütz et al., 2009). Por isso, a distribuição de árvores com diferentes
densidades de copa pode induzir os animais a buscarem mais a sombra de uma
determinada espécie arbórea e preterir a sombra de outras árvores com copa menos
densa.
Tabela 1. Médias da temperatura interna (TI) de novilhas Girolando, observadas nos períodos diurno e noturno, em pastagem
de capim-xaraés a pleno sol ou sombreada por renques de eucalipto (65% de sombreamento).
Diurno Noturno
Parâmetro Erro padrão
Pleno sol Sombreada Pleno sol Sombreada
TI (°C) 39,51A 39,41B 39,39 39,35 0,1110
Médias dentro do período do dia (diurno ou noturno) seguidas de letras diferentes na linha se diferenciam pelo teste Tukey (<0,05).
Tabela 2. Valores médios de tempo (minutos) em pastejo, ruminação e ócio de novilhas Girolando, em pastagem de capim-
-xaraés a pleno sol ou sombreada por renques de eucalipto (65% de sombreamento).
Diurno Noturno
Atividade Erro padrão
Pleno sol Sombreada Pleno sol Sombreada
Pastejo 436,88B 581,35A 228,00 238,06 0,0169
Ruminação 237,00 301,16 648,50 670,16 0,4131
Ócio 490,62 497,50 446,87 485,64 0,6754
Médias dentro do período do dia (diurno ou noturno) seguidas de letras diferentes na linha se diferenciam pelo teste Tukey (<0,05).
384 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
Tabela 3. Índice de temperatura e umidade (ITU) médio, temperatura retal (TR), frequência respiratória (FR) e índice de con-
forto animal de Benezra (ICB) em bezerros bubalinos avaliados em dois sistemas silvipastoris (SSP), durante dois períodos do
ano, em Belém, PA, 2007/2008.(1)
Período 1 Período 2
Horário SSP1 SSP2 SSP1 SSP2
ITU TR FR ICB TR FR ICB ITU TR FR ICB TR FR ICB
06:00 74,2 38,5 33,3 2,46 38,5 34,8 2,42 73,5 38,3 32,2 2,51 38,4 35,5 2,54
12:00 82,2 38,9 50,5 3,22 38,9 53,9 3,15 81,1 38,6 49,1 3,31 38,7 56,5 3,45
18:00 80,4 39,3 46,6 3,05 39,3 41,7 2,99 77,9 39,0 45,2 2,83 39,0 44,4 2,96
ITU = ts + 0,55 (1 - UR) (ts - 58), em que ts é a temperatura do termômetro de bulbo seco (graus Fahrenheit) e UR é a umidade relativa do ar (%); ICB =
(1)
TR/38,33 + FR/23, em que TR é a temperatura retal, em graus Celsius (°C), e FR é a frequência respiratória, mensurada em movimentos por minuto. Período
1 = abril/2007 a setembro/2007; Período 2 = outubro/2007 a março/2008.
SSP1: sistema silvipastoril 1, com sombreamento útil, de 18% a 21% nas pastagens.
SSP2: sistema silvipastoril 2, sem sombreamento útil nas pastagens, com lago para banho.
Fonte: Moraes Júnior et al. (2010).
nesses sistemas, a partição de energia dos animais pode ser direcionada para seu
crescimento em vez da termólise (Moraes Junior et al., 2010).
Considerações finais
Os sistemas agrossilvipastoris constituem uma alternativa para a produção de
leite na Região Amazônica, principalmente quando se consideram as condições
climáticas extremas que desafiam a produção animal. Para a obtenção do equilíbrio
entre condições climáticas adversas e a produtividade nessas regiões, os produtores
devem se valer, em seus sistemas de produção, de tecnologias que contribuam para
amenizar tais efeitos. Entretanto, ainda existem poucos dados na literatura acerca do
valor nutricional de forrageiras e do manejo de pastagens sombreadas, bem como
de coeficientes técnicos de produção de leite de rebanhos Girolando em pastagens
sombreadas.
386 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
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390 PECUÁRIA LEITEIRA NA AMAZÔNIA
CAPÍTULO 17
Introdução
Os búfalos contribuem com 11% do total da produção mundial de leite. A população
de búfalos no mundo é de 201,1 milhões (FAO, 2018). Desse montante, o continente
asiático (Índia, Paquistão e China) é responsável por 96,9% do contingente. Na Índia,
57% do leite produzido é de búfala.
O búfalo é um animal com aptidão para produção de carne e leite, além de ser
utilizado como força de trabalho no campo. Em razão de sua elevada rusticidade e
capacidade de adaptação em solos de baixa fertilidade e terrenos alagadiços, bem
como sua capacidade de converter alimentos de baixa qualidade em proteína de
qualidade, esses animais têm ocupado regiões que são consideradas inadequadas
para a criação de bovinos.
dessa raça apresenta alta endogamia genética no Brasil (Marques et al., 2011). O nome
Murrah significa “caracol” em hindu, numa clara referência ao formato espiralado dos
chifres desses animais. Possui como padrão racial altura de 1,35 m e peso corporal de
550 kg e 750 kg para fêmeas e machos, respectivamente. Sua cor é preta, inclusive
mucosas, sua pele é fina e os pelos são raros. A cabeça é mediana, o chanfro varia
de retilíneo a subcôncavo e os chifres são pequenos, relativamente finos. Possuem
corpo curto, reto e profundo, simétrico e equilibrado, com conformação média e
compacta. O pescoço tem comprimento médio, forte no macho e descarnado na
fêmea. O dorso é largo e um pouco selado, as costelas são bem arqueadas, as ancas
salientes e a garupa larga. Possuem úbere volumoso, com veias e artérias mamárias
grossas e sinuosas, e tetos longos (os anteriores mais curtos e bem separados).
Os membros anteriores e posteriores são curtos, grossos e corretamente aprumados.
Fotos: Jucilene Cavali
Figura 1. Búfalos cruzados da raça Murrah na Embrapa Rondônia, município de Presidente Médici, RO.
No Brasil há duas variedades bem distintas: a Gir búfalo, mais delicada e de ossatura
leve; e a Palitana, que possui ossatura mais pesada e grande carapaça na região
frontal.
e para baixo, e curvatura final para cima e para dentro, em harmonia com o perfil
craniano. Possuem olhos profundos, elípticos, límpidos e pretos; orelhas de tamanho
médio, com direção horizontal por cima dos chifres; corpo simétrico e equilibrado.
Os membros têm aprumos normais, com cascos fortes e bem conformados.
Mediterrâneo: originária da Índia, essa raça foi selecionada na Itália para a produção
de leite. No entanto, pelo seu porte, tem aptidão mista para leite e carne. Essa raça
apresenta características das raças Murrah e Jafarabadi. No Brasil, é conhecida também
como búfalo “preto” ou “italiano”. Suas características corporais são semelhantes às
da raça Murrah, porém seu porte é mais alto e os chifres mais longos, fortes e grossos,
de seção oval ou triangular, dirigidos para trás, para fora e para o alto, terminando
em forma semicircular ou de lira. Os olhos são arredondados, levemente projetados,
vivos, límpidos e pretos. As linhagens mais leiteiras mostram corpo mais longo e
menos musculoso. Possuem pescoço fino com pouca barbela.
Produção de leite
A aptidão mais importante dos bubalinos é, sem dúvida, a produção de leite. Esse
é o objetivo que os produtores buscam, por isso o conhecimento e o controle da
produção são fundamentais para o sucesso econômico da criação. O búfalo tem uma
habilidade intrínseca para converter eficientemente forragens de baixa qualidade
e resíduos de culturas de áreas marginais em leite e carne de alta qualidade. Além
disso, tem vida produtiva excepcionalmente longa: uma fêmea saudável pode ter
de nove a dez lactações. Em média, um búfalo produz de 7 L a 11 L de leite por dia.
A curva de lactação apresenta ampla variação de 150 e 390 dias, com média de
256 dias. A sanidade do úbere também influencia o tempo de lactação, a produção e
a qualidade do leite. A realização de duas ordenhas ao dia eleva a produção de leite
do rebanho em até 20%, quando comparada a uma vez ao dia. Primíparas tendem a
produzir menos leite que multíparas.
Tabela 1. Comparação das características entre o leite de vaca e o de búfala (valores médios).
Espécie
Parâmetro
Búfala Vaca
Gordura (%) 8,16 3,68
Proteína (%) 4,50 3,70
Cinzas (%) 0,70 0,70
Extrato seco total (%) 17,00 12,00
Cálcio (mg) 180,00 107,00
Ferro (mg) 0,12 0,07
Fósforo (mg) 120,00 82,00
Vitamina A (mcg) 54,00 48,90
Calorias por 100 mL 104,29 62,83
Fonte: Adaptado de Verruma e Salgado (1994).
Apesar de ser quase 1,8 vez mais calórico, apresenta menos colesterol (275 mg vs.
330 mg por 100 g de gordura) (Amaral et al., 2005).
Considerações finais
Com base nos dados produtivos e comportamentais dos bubalinos na Amazônia,
pode-se inferir que a espécie possui grande potencial para ser criada em sistemas
de produção de leite localizados em ambientes de clima tropical úmido. Além
disso, apresentam resistência a endo e ectoparasitas e são altamente adaptáveis às
elevadas temperaturas Amazônicas.
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CGPE 016215