Caes - Prolapso Terceira Palpebra
Caes - Prolapso Terceira Palpebra
Caes - Prolapso Terceira Palpebra
329-334, 2012
Ivan Felismino Charas dos Santos1*, José Manuel Mota Cardoso2, Maíra Duarte Del
Poente3, Letícia Fernanda da Silva4, Natália Caroline Nalesso de Castro5
1
Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Faculdade de Veterinária, Universidade Eduardo
Mondlane (UEM), Maputo, Moçambique. Doutorando do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Botucatu,
SP.
2
Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Faculdade de Veterinária, Universidade Eduardo
Mondlane (UEM), Maputo, Moçambique.
3
Médica Veterinária Autônoma, Osasco, SP.
4,5
Discentes do Curso de Graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Botucatu, SP.
ABSTRACT – The updating of the of the prolapse of the third eyelid gland treatment in the literature is
pertinent, due to the different surgical techniques for his resolution, with advantages and disadvantages. The
work aimed to report the Moore technique in surgical treatment of the bilateral prolapse of the third eyelid gland
in a female dog with bilateral entropion, six months, Shar-Pei breed, attended in the Veterinary Hospital School,
Mozambique. The Moore technique showed good results and if the bilateral entropion was not a spastic type,
was able to do the both surgeries in same day. The surgery using the Moore technique continues easy to learn,
more simple to do and does not affect the third eyelid mobility.
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Figura 1 - Cão da raça Shar-Pei, seis meses de idade. A - Prolapso da glândula da terceira pálpebra direita (seta
branca), B - Blefaroespasmo no olho direito (Arquivo pessoal, Ivan Santos).
O animal foi submetido à cirurgia para correção do glândula da terceira pálpebra (Arquivo pessoal,
prolapso da glândula da terceira pálpebra bilateral e Ivan Santos).
correção cirúrgica do entrópio bilateral. Realizou-se
eritrograma, leucograma, contagem total de A terceira pálpebra foi fixada com duas pinças de
plaquetas, urinálise e bioquímica sérica para forma a acessar a porção bulbar da terceira
avaliação das funções hepática (alanina pálpebra. Foi removida uma seção, em forma de
aminotransferase e proteínas totais) e renal (uréia e elipse, da conjuntiva, com duas incisões acima e
creatinina). Todos os valores apresentaram-se abaixo da porção glandular, de aproximadamente 3
dentro dos padrões normais da espécie. mm (Figura 3).
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DISCUSSÃO
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por Ward (1999) e Slatter (2001) para o prolapso da rotina de cirurgia oftálmica da técnica de
glândula da terceira pálpebra, a predisposição conjuntivectomia periglandular para fixação da
genética na raça Shar-Pei é a mais provável, uma glândula da terceira pálpebra prolapsada.
vez que não ocorreu nenhum trauma ou qualquer
outra alteração que possa ter conduzido o A técnica proposta por Plumer et al. (2008) teve
relaxamento dos ligamentos da glândula da terceira como objetivo ancorar a cartilagem nictante da
pálpebra e consequentemente o prolapso. Devido à glândula prolapsada. Por outro lado, a colocação da
predisposição hereditária e/ou genética, a paciente sutura dentro da cartilagem pode potencialmente
foi submetida à ováriosalpingohisterectomia. restringir o fluxo sanguíneo dos vasos adjacentes,
produzir inflamação, deiscência ou ruptura dos
Os sinais clínicos observados foram compatíveis pontos de sutura e consequente recidiva.
com os descritos por Ward (1999) e Peiffer (1999),
embora o blefaroespasmo seja um sinal clínico No presente relato de caso foi usada a técnica de
associado ao entrópio. O tratamento cirúrgico Moore por ser a mais descrita pela literatura, devido
usando a técnica de Moore baseou-se no à facilidade do aprendizado da técnica cirúrgica em
reposicionamento da glândula sem remoção da relação às outras técnicas, preservar a mobilidade
mesma, visto que a produção de lágrimas era da terceira pálpebra e não danifica o tecido
inferior a 10 mm/minuto pelo teste de lágrima glandular ou os seus dutos excretores (Gelatt,
Schirmer. Deste modo, preveniram-se alterações 2003). Por outro lado, a mucosa periglandular
significativas na produção lacrimal e posterior invaginada dentro do saco subconjuntival pode
ceratoconjuntivite seca iatrogênica, conforme Filho desencadear uma reação inflamatória do tipo corpo
(2004) e Almeida et al. (2004). A remoção da estranho, acompanhada por deiscência e recidiva do
glândula é considerada quando as tentativas prolapso (Lackner, 2001), o que não foi observado
cirúrgicas de recolocação fracassam e a mesma na paciente. Todas as técnicas cirúrgicas resultam
deve ser realizada quando os valores do teste de em um efeito estético adequado, mas há menor
lágrima Schirmer excedam os 20 mm/minuto recidiva nas técnicas de “bolso”. Um estudo
(Slatter, 2001; Almeida et al., 2004). Segundo comparando os resultados obtidos com diferentes
Lackner (2001), ocorre a diminuição do volume da técnicas cirúrgicas para a resolução cirúrgica do
produção lacrimal em cerca de 10 a 37% com a prolapso da glândula da terceira pálpebra
remoção da glândula lacrimal e de 29 a 57% com a demonstrou 34% de recidivas quando o
remoção da glândula da terceira pálpebra. reposicionamento fora realizado com técnicas de
ancoragem, contra 6% quando a escolhida foi a
São descritas na literatura diferentes técnicas técnica de Moore (Morgan et al., 1993).
cirúrgicas que têm como objetivo o
reposicionamento da glândula da terceira pálpebra
em cães. Recomenda-se o mínimo de seis meses de CONCLUSÕES
idade para se realizar o procedimento cirúrgico,
pois, a probabilidade de recidiva é menor (Morgan, De acordo com as características do presente relato
1993), sendo a idade do animal do presente relato de caso, conclui-se que o tratamento cirúrgico do
de caso no momento da cirurgia. Cada prolapso da glândula da terceira pálpebra usando a
procedimento cirúrgico possui vantagens e técnica de Moore apresenta um bom resultado e
desvantagens do ponto de vista técnico e funcional, prognóstico favorável, e em casos de entrópio
que incluem a dificuldade para colocação das associado ao prolapso da glândula da terceira
suturas, risco de perfuração do globo ocular e pálpebra, podem-se realizar ambas as cirurgias no
deiscência de suturas (Slatter, 2001). mesmo dia, desde que o entrópio não seja do tipo
espástico. O procedimento cirúrgico usando a
López et al. (2011) propôs uma técnica, para não técnica de Moore continua sendo a técnica cirúrgica
ocorrer recidiva do prolapso, que elimina a mucosa de fácil aprendizado, mais simples de se realizar,
conjuntival periglandular através de uma incisão em não afeta a mobilidade da terceira pálpebra e
forma de elipse na base da mucosa glandular. Este demonstra bons resultados.
procedimento de conjuntivectomia periglandular
assegura uma melhor fixação da glândula
submetida à cirurgia, mas, por outro lado, requer REFERÊNCIAS
maior destreza cirúrgica em relação às outras
técnicas. Os mesmos autores citaram que não se Almeida, D.E, Mamede, F.V., Duque, J.P.O. & Laus, J.L. 2004.
podem comparar os resultados obtidos com as Iatrogenickeratoconjunctivitis sicca in a dog. Ciência Rural. 34:
921-924.
outras técnicas cirúrgicas, devido à insuficiente
casuística de animais submetidos à técnica de
Brandão C.S., Rocha, N.S., Ranzani, J.J.T.; Antunes, P.A.C. &
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