Historia Da Igreja Batista No Brasil
Historia Da Igreja Batista No Brasil
Historia Da Igreja Batista No Brasil
The history of the Baptist Church in Brazil: liturgy, precepts and doctrines
Resumo:
O presente artigo buscou analisar a história de um dos maiores grupos religiosos do país, os
Batistas. A partir de uma reflexão de base histórica e teológica, foi possível conhecer o
desenvolvimento dessa denominação que se destaca como uma das principais do Brasil e que está
presente em diversos países do mundo. Ao longo do texto, a Doutrina Batista foi examinada, com
o intuito de se conhecer suas principais estruturas e influências. Por fim, foi possível averiguar o
perfil Batista no Brasil e como os influxos do pentecostalismo e da própria cultura do país estão
moldando a liturgia, a fé e a religiosidade dos Batistas brasileiros.
Palavras-chave:
Igreja Batista; Religião; Cristianismo; Doutrina.
Abstract:
This article sought to analyze the history of one of the largest religious groups in the country, the
Baptists. From a reflection of historical and theological basis, it was possible to know the
development of this denomination that stands out as one of the main ones in Brazil and that is
present in several countries of the world. Throughout the text, the Baptist Doctrine was examined,
in order to know its main structures and influences. Finally, it was possible to ascertain the Baptist
profile in Brazil, and how the influxes of Pentecostalism and the country's own culture are shaping
the liturgy, faith and religiosity of Brazilian Baptists.
Keywords:
1
Doutorando em Planejamento Regional e Gestão da Cidade pela Universidade Cândido Mendes (UCAM); Mestre em
Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória (UNIDA); Pós-graduado em História e Cultura no Brasil pela
provided by Escola Superior de Teologia, São Leopoldo: Periódicos da Faculdades EST
(ICETEC); Pós-graduado em Filosofia e Sociologia (ICETEC); Pós-graduado em Metodologia de Ensino Religioso e Artes
(ICETEC); Pós-graduado em Maçonologia: História e Filosofia (UNINTER); Licenciado em História pelo Instituto Superior
de Educação Elvira Dayrell (ISEED) e Bacharel em Teologia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da CGADB
(FAECAD). Docente do Centro Universitário São José de Itaperuna (UNIFSJ). Contato: paulojsjunior@hotmail.com.
2
Mestrando na linha de pesquisa “Representações e Ideias Políticas” do Programa de Pós-Graduação em História
Social das Relações Políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (PPGHIS/UFES), com auxílio de bolsa de
estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES). Especialista em História do Brasil
pelo Centro Universitário São José de Itaperuna (UNIFSJ) e Graduado em História pela mesma instituição. E-mail:
viniciusdossantos834@gmail.com
***
Introdução
Para entender o surgimento dos primeiros sinais daquilo que mais tarde se consolidaria
como “Doutrina Batista” é de suma importância se ter a noção de tempo e espaço histórico, uma
vez que, durante os séculos XV, XVI e XVII, época do apogeu do pensamento que serviu de raiz
para esse princípio doutrinário, a Europa presenciava intensas modificações em suas estruturas
socioculturais3. Com o fim da Idade Média e, consequentemente, a chegada da Idade Moderna,
áreas como política, economia e sociedade foram repensadas, uma vez que acontecimentos como
a Tomada de Constantinopla4 pelos turcos-otomanos, o Descobrimento das Américas5, e a
decadência do Feudalismo6 levaram as instituições a passarem por profundas e intensas crises
internas7.
3
SANTOS JÚNIOR, Paulo Jonas dos; ROSA, André Luis da. Experiência religiosa: da Reforma Protestante ao avivamento
pentecostal. Encontros Teológicos: Reforma ontem e hoje, Florianópolis, v. 31, n. 2, p.235-252, ago. 2016. Disponível
em: <facasc.edu.br>. Acesso em: 05 dez. 2019.
4
Na perspectiva de boa parte dos historiadores, esse evento, ocorrido em 1453, marcou o fim da Idade Média. Cf.
[FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do ocidente. 2 ed. São Paulo: Brasiliense. 2001].
5
Esse evento, ocorrido em 1492, foi de grande importância para o rompimento do pensamento medieval, uma vez
que, na perspectiva de diversos teóricos da época, não havia outras terras além do Oceano Atlântico. Cf. [HUIZINGA,
Johan. O declínio da Idade Média. 2. ed. [s.i.]: Ulisseia, 2005. 261 p. Disponível em:
<http://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/31458971/67428469-O-Declinio-da-Idade-Media-Johan-
Huizinga.pdf?ASAccessKeyId=AKIAJ5Ly9lCtgiC3ZseSEP5RRVSs=&response-content-disposition=inline;
filename=Copyright_by_The_Huizinga_Estate_Titulo.pdf>. Acesso em: 07 dez. 2019].
6
A partir do final do século XIII o Feudalismo foi, gradativamente, substituído pelo Mercantilismo, uma vez que o
florescimento da vida urbana e o desenvolvimento do comércio exigiu novas formas de negociação. Cf. [HUIZINGA,
2005].
7
FREBVRE, L. Martinho Lutero, um destino. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
A Igreja Cristã foi uma dessas Instituições que enfrentavam, em suas bases, sobejas
instabilidades. Destarte, essa Organização tentava ainda se adaptar com o fim do período
medieval, onde a mesma encontrava-se no comando da cientificidade, tratados políticos e sociais,
sendo uma agremiação política forte e estável. Entretanto, com o Renascimento8, todo esse
poderio que a Igreja possuía começou a ser questionado e contestado e, para que ela não
testemunhasse seu próprio fim, viu-se obrigada a apaziguar conflitos externos e internos,
produzidos, em sua maioria, na aljava do pensamento renascentista9. O desembocar de todo esse
cenário foi a Reforma Protestante, evento histórico que modificou não somente a religiosidade
europeia, mas sim, toda a organização política, social, cultural e econômica, do ocidente10. Não
obstante disso, observa-se que a Reforma surgiu como um movimento reivindicatório dentro do
próprio Cristianismo, que exigia atitudes a fim de coibir determinadas práticas que estavam
ocorrendo, e prejudicando que a Igreja voltasse seu olhar para o seu real propósito, a vida
espiritual de seus fiéis.
No século XVI uma grande revolução eclesiástica ocorreu na Europa Ocidental, levando a
mudanças consideráveis na esfera religiosa que, durante todo o período medieval,
estivera sob o domínio da Igreja católica. Essa revolução nas mentalidades teve tanto
causas políticas como religiosas. Muitos monarcas estavam insatisfeitos com o enorme
poder que o papa exercia no mundo, ao mesmo tempo que muitos teólogos criticavam a
doutrina e as práticas da Igreja, sua atitude para com a fé e seu feitio organizacional.
Idéias e razões distintas deram origem a diversas comunidades eclesiais novas11.
A Reforma Protestante teve Martinho Lutero como um de seus principais expoentes e
como marco medular o dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de Todos os Santos, quando às
portas da Igreja do Castelo de Wittenberg na Alemanha, Lutero propagou suas 95 teses como
forma de protesto à postura que a Igreja Cristã havia tomado12. A partir de suas concepções,
teóricos adeptos ao movimento reformado buscaram resumir os pilares desse pensamento em
cinco pontos, conhecidos também como cinco solas: Sola Fide (somente a fé), Sola Scriptura
(somente a Bíblia), Sola Christus (somente Cristo), Sola Gratia (somente a Graça) e Soli Deo Gloria
(Glória somente a Deus)13.
Esses princípios pretendiam, principalmente, deixar claro que a teologia da reforma era
diferente da teologia católica romana. Os pontos defendidos pela reforma se sustentavam a partir
da premissa de uma livre interpretação dos textos bíblicos, e essa será à raiz que nutrirá o
surgimento de inúmeras doutrinas de natureza protestante14. Para os seguidores da fé
Protestante, a Bíblia Sagrada deve ser a principal fonte da espiritualidade Cristã, e defendem que
ela é um documento redigido por homens e mulheres inspirados diretamente por Deus15. Sendo
assim, a vertente Batista, como os demais seguimentos religiosos da matriz do cristianismo
protestante, não se afasta dessa óptica. Dessa maneira, é mister observar que:
8
O Renascimento foi um período que marcou a transição do pensamento medieval para o moderno, onde as Artes, a
Filosofia e a Literatura deixaram de seguir o teocentrismo e ganharam autonomia. Apesar de não haver datas que
marcam definitivamente o início o fim do Renascimento, é consenso que esse ocorreu nos séculos XIV, XV e XVI. Cf.
[SANTOS JÚNIOR; ROSA, 2016].
9
SANTOS JÚNIOR; ROSA, 2016.
10
LINDBERG, C. História da reforma. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2002.
11
GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
12
SANTOS JÚNIOR; ROSA, 2016.
13
SANTOS JÚNIOR; ROSA, 2016.
14
FREBVRE, 2012.
15
FREBVRE, 2012.
Os humanistas seculares tinham o lema ad fontes, “de volta às fontes”, ou seja, as obras
da antiguidade clássica greco-romana. Os reformadores fizeram o mesmo com a Bíblia, à
fonte por excelência da tradição cristã, o registro da ação providencial e redentora de
Deus na vida do mundo. Desde o início, homens como Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e
João Calvino afirmaram o princípio da autoridade suprema das Escrituras em matéria de fé
e prática (“Sola Scriptura”), e passaram a reavaliar toda a sua herança religiosa à luz desse
critério16.
Outrossim, não se pode descrever a Reforma Protestante como se essa fosse um
movimento único e de faceta pariforme, no sentido de se presumir que todos os personagens
desta possuíam os mesmos entendimentos e concepções acerca dos rumos que a Igreja deveria
tomar, mas antes, é de essencial importância expor que um dos principais resultados dos
desdobramentos deste evento histórico, foi o surgimento de inúmeras linhas doutrinárias
baseadas em seus princípios de livre interpretação da Bíblia17. Nesse ínterim, podemos usar como
exemplo as correntes Calvinista18, Luterana19 e Anglicana20, que apesar de possuírem pontos de
vista semelhantes, têm princípios teológicos distintos21.
São diversas as teorias defendidas sobre a origem do movimento Batista, e dessas, três
são as propostas mais difundidas entre a literatura acadêmica e religiosa. A primeira propaga a
ideia de que esse seguimento é herdeiro direto de João Batista22, a segunda defende que os
batistas se originaram entre os anabatistas no século XVI23, e a terceira apregoa que vieram dos
ingleses no século XVII24.
16
MATOS, A. S. Sola Scriptura: a centralidade da bíblia na experiência protestante. 2016, p.5. Disponível em:
<https://docplayer.com.br/46420873-Sola-scriptura-a-centralidade-da-biblia-na-experiencia-protestante-por-alderi-
souza-de-matos.html>. Acesso em: 5 set. 2019.
17
FREBVRE, 2012.
18
Apesar de romper com a Igreja Católica, o calvinismo não segue alguns dos principais pontos defendidos pelo
luteranismo, e se distanciam em questões como salvação, justiça divina e eucaristia. Cf. KUYPER, A. Lectures on
Calvinism. Wm. A B. Eerdmans Publishing Company, 1999.
19
O luteranismo é considerado como uma das principais igrejas do mundo, e segundo seus principais teólogos, se
originou em 1521, data oficial da excomunhão de Martinho Lutero da Igreja Católica Romana. As bases defendidas por
Lutero contra a Igreja de Roma serviram de base para o desenvolvimento das doutrinas cristãs conhecidas como
protestantes. FREBVRE, 2012.
20
Igreja que se originou na Inglaterra, e teve sua separação oficial de Roma em 1534. Sua estrutura litúrgica e
doutrinária é peculiar tanto para o catolicismo quanto ao protestantismo. Cf. TAKATSU, S. D. Breve História da Liturgia
Anglicana (de 1549 a 1995). Revista Inclusividade, v. 6, n. 2, p. 35-57, 2003. Disponível em:
<http://www.centroestudosanglicanos.com.br/rev/6/breve_historia.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2019.
21
SANTOS JÚNIOR; ROSA, 2016.
22
Porte Júnior (2011) ao falar sobre essa teoria, define: “conhecida como ‘Sucessionismo Batista’, define que os
Batistas surgiram do ministério de João Batista, nas margens do Rio Jordão. Eles traçam uma sucessão da moderna
denominação Batista vinda dos Paulicianos, Albingenses, Waldenses, Montanistas, etc. Os defensores desta
perspectiva argumentam que, cada um destes grupos, sustentou as crenças básicas dos batistas. G. H. Orchard, J. M.
Cramp e J. M. Carroll, com sua obra Rastro de Sangue, estão entre os principais defensores desta posição”. Cf. [PORTE
JÚNIOR, Wilson. Os Batistas e Suas Origens. 2011. Disponível em:
<http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/files/pdf/Os_Batistas_e_Suas_Origens.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2020, p.
2].
23
De acordo com Porte Júnior (2011): “Os que sustentam a segunda perspectiva, a de que os Batistas vieram dos
Anabatistas, argumentam que, ao tempo da Reforma, alguns que saíram da Igreja Romana mas não se identificaram
com os Reformadores Magistrais (Lutero, Zwínglio, e Calvino), formaram um grupo à parte, buscando uma reforma
“radical”. Estes, por sua posição de que o batismo devesse ser administrado apenas aos regenerados, ficaram
conhecidos como Anabatistas (século dezesseis). É destes que, segundo os defensores desta visão, surgem os Batistas,
também no século dezesseis”. Cf. [PORTE JÚNIOR, 2011, p. 2].
24
Sobre essa teoria, Porte Júnior (2011), esclarece: “que os Batistas surgiram dos Movimentos Puritano e Separatista
na Inglaterra, durante o século dezessete. Esta é a posição defendida pelos principais historiadores batistas da
atualidade: Michael A. G. Haykin e Thomas J. Nettles. Além destes, Champlin Burrage, W. T. Whitley, J. H. Shakespeare
e B. R. White, historiadores batistas dos principais seminários nos Estados Unidos e na Europa, sustentam esta visão”.
Cf. [PORTE JÚNIOR, 2011, p. 3].
25
Thomas Helwys (1550 - 1616) foi um advogado inglês e profundo estudioso de assuntos ligados ao universo religioso
e liberdade de expressão religiosa. Cf. [ALIANÇA BATISTA MUNDIAL. O Legado de Thomas Helwys. Disponível em <
https://www.bwanet.org/portugues>. Acesso em 26/02/2020].
26
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. Nossa História. 2017, p. 1. Disponível em:
<http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?MEN_ID=24>. Acesso em:18 nov. 2019.
27
(1570-1612) Nascido em Lincolnshire no Reino Unido, foi um grande defensor da liberdade religiosa. Foi membro da
Igreja Anglicana e um dos principais fundadores da Doutrina Batista. Cf. [ALIANÇA BATISTA MUNDIAL, 2020].
28
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Cf. [BÍBLIA]
29
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, 2017.
30
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, 2017.
A Doutrina Batista no Brasil, através dos tempos, tem passado por consideráveis
transformações. Essas, possivelmente, se dão pelas influências de outros seguimentos religiosos
que circulam no mesmo espaço desta, uma vez que a cultura brasileira é marcada por uma grande
diversidade religiosa. Tal fato pode ser entendido a partir da formação social do brasileiro, que se
configurou nos princípios trazidos pelos colonizadores, o que permitiu a consolidação do
catolicismo como religião oficial do país, cenário que só foi alterado com a promulgação da
Constituição Federal de 1891, que finalmente permitiu a liberdade religiosa em território
nacional31.
Da mesma forma, além de influência europeia, negros trazidos do Continente Africano
para o exercício de trabalho escravo no país, e os índios, habitantes genuínos do Brasil,
contribuíram sobremaneira para a construção da identidade cultural, social e religiosa do país.
Essa convergência de hábitos, crenças e costumes, fez do brasileiro um povo capaz de se adaptar
com facilidade, da mesma maneira que esse consegue lidar, com certa facilidade, com ideias e
convicções diferentes das suas. Por conseguinte, a Igreja Batista no Brasil acaba por receber uma
substancial influência de outros seguimentos religiosos, principalmente os de bases protestantes,
como por exemplo, o Movimento Pentecostal, que tem modificado a liturgia e as expressões da fé
do seguimento batista brasileiro32.
De forma geral, as doutrinas das Igrejas derivadas do seguimento protestante baseiam-se
nos cinco sola que fundamentou o desenvolvimento teológico desse movimento. Seguindo esse
preceito, cada uma desenvolveu sua filosofia doutrinária, baseando-se sempre em interpretações
particulares da Bíblia Sagrada. Dessa maneira, os princípios norteadores da fé batista, iniciam-se
pelo próprio nome desse seguimento religioso:
Os discípulos de Jesus Cristo que vieram a ser designados pelo nome batista se
caracterizavam pela sua fidelidade às Escrituras e por isso só recebiam em suas
comunidades, como membros atuantes, pessoas convertidas pelo Espírito Santo de Deus.
Somente essas pessoas eram por eles batizadas e não reconheciam como válido o batismo
administrado na infância por qualquer grupo cristão, pois, para eles, crianças recém-
nascidas não podiam ter consciência de pecado, regeneração, fé e salvação. Para
adotarem essas posições eles estavam bem fundamentados nos Evangelhos e nos demais
livros do Novo Testamento. A mesma fundamentação tinham todas as outras doutrinas
que professavam. Mas sua exigência de batismo só de convertidos é que mais chamou a
atenção do povo e das autoridades, daí derivando a designação “batista” que muitos
supõem ser uma forma simplificada de “anabatista”, “aquele que batiza de novo”33.
As Igrejas Batistas no território brasileiro, possuem autonomia em suas administrações, e
cada uma se pauta, na Bíblia e em seus Estatutos34, para embasar qualquer decisão, religiosa ou
administrativa, que envolva a Igreja. A Convenção35 é o órgão superior da doutrina Batista no
Brasil. Compete à mesma se relacionar com as Igrejas Batistas no Território Nacional, a fim de
garantir a coesão da fé Batista.
A Convenção se relaciona com as igrejas em decorrência dos laços cooperativos, isto é,
reconhece as ligações determinantes do arrolamento como igrejas cooperantes, mas
também as reconhece como igrejas locais, autônomas, interdependentes e que vivem
num ambiente de mutualidade36.
Os princípios da Fé Batista, são baseados a partir da exegese de textos da Bíblia, que é
considerada pelos cristãos um livro sagrado escrito a partir de revelações do próprio Deus. Os
31
SANTOS JÚNIOR; ROSA, 2016.
32
ESPERANDIO, Mary Rute Gomes. A IDENTIDADE BATISTA E O “ESPÍRITO” DA MODERNIDADE. Protestantismo em
Revista, São Leopoldo, v. 6, n. 2, p.15-28, jun. 2005. Disponível em:
<http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/view/2137/2045>. Acesso em: 26 fev. 2020.
seguidores da fé cristã acreditam que a palavra divina inspirou alguns homens de fé a transcrever
suas revelações e experiências, a fim de demonstrar a toda a humanidade o poder de Deus. Sendo
assim, todas as medidas tomadas pelas Igrejas Batistas e de seus membros, devem ser pensadas a
partir da interpretação dos ideais contidos neste livro37.
Uma das principais marcas dos batistas é a forma congregacional com que as suas igrejas
são administradas. Seus membros possuem forte participação nas suas atividades, como por
exemplo, na Assembleia Regular ou Extraordinária, onde são deliberadas as questões
administrativas da Instituição, bem como a aceitação de novos membros e quaisquer outros
assuntos que necessitem ser votados, de acordo com o Estatuto Igreja Batista. O Pastor dessa
agremiação é também o responsável por dirigi-la durante as Assembleias e possui o dever de
representá-la38.
Para se tornar membro dessa Instituição, o indivíduo deve ter aceitado a Jesus e ter
conhecimento das principais bases da fé Batista39. Após frequentar um curso para preparação dos
candidatos ao rol de membros, o candidato realizará sua Profissão de Fé, onde o responderá a
uma série de perguntas acerca da doutrina Batista e onde demostrará que concorda com a mesma
e que reconhece Cristo como sendo o único Salvador do mundo e o único caminho para se chegar
ao Pai40. Após esse ato, há votação para que a Igreja aceite o novo membro, através de
Assembleia, e caso o resultado da votação seja positivo pela aceitação do candidato, o mesmo
será batizado por imersão, que é a única forma de batismo aceita por essa denominação41.
Desde quando a pessoa se torna membro, ela deve se portar como defensora de alguns
princípios elementares da doutrinária batista. Dentro desses preceitos é defendida a ideia de
separação entre Igreja e Estado. Entende-se assim, que o Estado deve ter a postura neutra
perante a sociedade, além de ser o responsável por garantir a liberdade religiosa e o livre direito
ao culto.
1) A igreja e o Estado devem estar separados por serem diferentes a sua natureza,
objetivos e funções. 2)É dever do Estado garantir o pleno gozo e exercício de liberdade
religiosa, sem favorecimento a qualquer grupo ou credo. 3)O estado deve ser leigo e a
igreja livre. Reconhecendo que o governo do Estado é de ordenação divina para o bem-
estar dos cidadãos e a ordem justa da sociedade, é dever dos crentes orar pelas
autoridades, bem como respeitar e obedecer às leis e honrar os poderes constituídos,
exceto naquilo que se oponha à vontade de Deus42.
33
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, 2017, p. 22.
34
Conjunto de regras que os membros e administração da Igreja deve seguir. O mesmo deve ser baseado na bíblia e
deve respeitar o Estatuto da Convenção Batista Estadual e da Convenção Batista Brasileira. Cf. CONVENÇÃO BATISTA
BRASILEIRA, 2017.
35
Apesar de atualmente existirem diversas convenções, neste artigo utilizamos como paradigma a Convenção Batista
Brasileira, pois essa é a mais antiga instituição desse tipo no Brasil.
36
SOUZA, S. O. Organização de Igrejas. Rio de Janeiro: Convicção Editora, 2010, p. 7.
37
SOUZA, 2010.
38
SOUZA, 2010.
39
Segundo os preceitos Batistas, Salvação é um ato de entrega total do Homem a Deus. Ela pode ser obtida através da
aceitação de Jesus Cristo.
40
Dentro das religiões cristãs, “Pai” seria Deus, o Criador do mundo.
41
SOUZA, 2010.
42
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. A Nossa Fé. Rio de Janeiro, CBB. 1996, p. 7.
43
ALVES, C. A. A criação x A evolução. 2003. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/aristotelesrocha75/claudia-
aparecida-alves-criao-x-evoluo>. Acesso em: 20 dez. 2019.
44
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, 1996.
45
ESPERANDIO, 2005.
46
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, 1996.
47
DECLARAÇÃO doutrinária da Convenção Batista Brasileira. 1996, p. 14. Disponível em:
<http://www.setorgrafico.org.br/estudos_biblicos/Declara%C3%A7%C3%A3o%20Doutrin%C3%A1ria%20da%20Conve
n%C3%A7%C3%A3o%20Batista%20Brasileira.pdf>. Acesso em: 10 set. 2019.
48
Projeto desenvolvido pela Junta de Missões Nacionais, que é uma Secretaria da Convenção Batista Brasileira. Esse
projeto, tem como objetivo resgatar pessoas viciadas em drogas lícitas e ilícitas e apresentá-las o Plano de Salvação,
ou seja, apresentar um “plano de conversão”. CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, 2020.
49
“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de
toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que
estes”. Cf. [BÍBLIA].
acerca de liturgia de culto, postura dos membros e fundamentos administrativos, esse fato porém,
pode ser entendido através da cultura e do desenvolvimento da sociedade, uma vez que, a
sociedade passa por mudanças estruturais, e para acompanhá-la a Igreja precisa de remodelar
dentro dos seus próprios princípios, entendimentos e base50.
De todas as influências que a fé e a doutrinária batista têm recebido, o Pentecostalismo é
o maior destaque, uma vez que esse é um movimento que vem a cada momento ganhando mais
espaço e força no Brasil, principalmente nas classes populares. Desta forma, ele tem influenciado
muitas outras denominações, devido a suas expressões e visão teológica. Nas igrejas batistas
brasileiras, desde a década de 1960, a influência desse movimento e, consequentemente, a
agregação dos ideais pentecostais, modificou de maneira profunda alguns princípios exegéticos da
teologia batista, o que resultou em novas formas de adoração, liturgia e religiosidade51.
Considerações Finais
Este artigo buscou refletir sobre a história da Igreja Batista no Brasil. De uma maneira
geral, foi possível observar que a atual Doutrina dessa Igreja foi baseada nos fundamentos
lançados na Reforma Protestante. A partir dos ideais propagados pelos pensadores reformistas,
principalmente o ensino de livre interpretação dos textos sagrados, a fé e os costumes batistas se
estabeleceram.
Após a análise histórica da Reforma Protestante, observamos que apesar de haver
controvérsias ao redor da origem desse seguimento, a obra de Thomas Helwys, “Uma Breve
Declaração Sobre o Mistério da Iniquidade”, de 1612, foi a primeira a utilizar a terminologia
“Batista” para designar um grupo específico de cristãos, que a partir de uma série de convicções
elaboraram princípios de fé e espiritualidade típicos, o que levou a Igreja Batista a ser conhecida
em todo o mundo.
Por fim, ao analisar os princípios de administração eclesiástica e litúrgica da Igreja Batista
no Brasil, foi possível observar que a influência do pentecostalismo está moldando a percepção
dos fieis dessa igreja, em relação a essas questões. Essa discussão é importante, uma vez que o
pentecostalismo, como um princípio de fé que prima pelas experiências e convicções individuais,
pode levar o sistema batista a se apresentar de maneiras diferentes àquelas que eram suas marcas
nos séculos anteriores.
Referências
50
ESPERANDIO, 2005.
51
ESPERANDIO, 2005.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do ocidente. 2 ed. São Paulo: Brasiliense.
2001.
GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.
HUIZINGA, Johan. O declínio da Idade Média. 2. ed. [s.i.]: Ulisseia, 2005. 261 p. Disponível em:
<http://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/31458971/67428469-O-Declinio-da-Idade-
Media-Johan-Huizinga.pdf?ASAccessKeyId=AKIAJ5Ly9lCtgiC3ZseSEP5RRVSs=&response-content-
disposition=inline; filename=Copyright_by_The_Huizinga_Estate_Titulo.pdf>. Acesso em: 07 dez.
2019.
SANTOS JÚNIOR, Paulo Jonas dos; ROSA, André Luis da. Experiência religiosa: da Reforma
Protestante ao avivamento pentecostal. Encontros Teológicos: Reforma ontem e hoje,
Florianópolis, v. 31, n. 2, p.235-252, ago. 2016. Disponível em: <facasc.edu.br>. Acesso em: 05 dez.
2019.
TAKATSU, S. D. Breve História da Liturgia Anglicana (de 1549 a 1995). Revista Inclusividade, v. 6, n.
2, p. 35-57, 2003. Disponível em: