04 Mapeamento-De-Processos 07 20
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Gregório Varvakis
Federal University of Santa Catarina
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All content following this page was uploaded by Maurício Elias Klafke Dick on 16 September 2017.
Resumo
O surgimento do livro digital trouxe uma série de transformações que tornaram o sistema
editorial mais complexo, afetando todos os elos de sua cadeia. Com mudanças na produção,
reprodução e consumo do livro, o fluxo de trabalho também se altera. Diante disso, torna-se
evidente a necessidade de identificar os processos no fluxo editorial de modo a torná-los
explícitos e delineá-los, contribuindo para a formulação de um novo paradigma no projeto do
livro digital. Assim, este estudo tem por objetivo mapear os processos envolvidos no fluxo
editorial do livro digital, além de identificar os conhecimentos e agentes ali presentes. Para tal,
executou-se um levantamento de campo (survey) com duas empresas que atuam na produção
de livros digitais. Com base nos resultados obtidos, observou-se que os fluxos adotados são
simples e que ambas empresas não são responsáveis pelo fluxo completo ao se considerar a
complexidade de um projeto de livro digital.
Palavras-chave: mapeamento de processos, fluxo editorial, livro digital.
Abstract
The emergence of e-books brought a set of transformations that made the editorial system
more complex, affecting all links in its chain. With changes in the production, reproduction and
consumption of the book, the workflow also changes. Given this, the need to identify the
processes in the editorial flow becomes evident in order to make them explicit and delineate
them, contributing to the formulation of a new paradigm in digital book design. Thus, this
study aims to map the processes involved in the e-book editorial flow and also identify the
knowledge and performers that are involved there. For that, a survey was carried out with two
companies that operate in the production of e-books. Based on the results obtained, it was
observed that the editorial flows adopted are simple and that both companies are not
responsible for the complete flow when considering the complexity of an e-book project.
Keywords: process mapping, editorial workflow, e-book.
1. Introdução
Com o advento dos livros digitais, o ecossistema do livro tem passado por uma mudança
radical em todos os seus elementos, o que resultou numa série de transformações que afetam
todos os elos da cadeia de valor do sistema editorial – autores, editores, bibliotecas e leitores.
Como exemplos destas mudanças, têm-se os novos hábitos e formas de leitura, além do
questionamento do papel do editor e a função das bibliotecas frente às novas possibilidades
trazidas pelo meio digital como a autopublicação, o gerenciamento dos direitos autorais, o
acesso instantâneo (streaming), entre outros (CORDÓN-GARCÍA, 2016, 2015).
Assim, criou-se uma mudança de paradigma vinculada às transformações nas formas
de produção, reprodução e consumo do livro (ARÉVALO; CORDÓN-GARCIA, 2015) e, diante
disso, o olhar ao design deste artefato e seu planejamento deve ser renovado (SILVA; BORGES,
2016). Pinsky (2013) aponta que, em decorrência do livro digital, o fluxo de trabalho também
se altera. Mesmo que diversas editoras ainda mantenham o fluxo editorial impresso para
posteriormente realizar a conversão para o formato digital, existem empresas que já fazem
uso ou estudam um fluxo editorial próprio do livro digital (PINSKY, 2013).
Dessa forma, a abordagem clássica para o fluxo de trabalho deve ser revista e a forma
de enquadrar o problema editorial também deve ser diferente (SILVA; BORGES, 2016). Frente a
este cenário de mudanças, torna-se evidente a necessidade de identificar os processos
realizados de modo a torná-los explícitos e delineá-los, contribuindo para a formulação desse
novo paradigma.
Ainda, no contexto editorial, uma das tarefas mais importantes é o controle dos
resultados de cada um dos diferentes processos (POLO PUJADAS, 2016). Para Polo Pujadas
(2016), um processo se pode controlar, em parte, a partir do conhecimento técnico para
qualificar o resultado e, em parte, com as ferramentas necessárias para comprovar e detectar
se este e seus resultados são realmente os desejados. Sabe-se que o descontrole acarreta em
um aumento de erros e a um produto sem competitividade que eventualmente resulta em um
acréscimo de custos (POLO; PUJADAS, 2016).
De toda forma, para gerenciar e controlar um processo, é necessário visualizá-lo e para
isto é preciso identificá-lo. Neste sentido, tem-se o mapeamento de processos, que é uma
atividade essencial “para entender o fluxo de valor à medida que cria uma compreensão mais
profunda das atividades no processo" (SALGADO et al., 2013, p. 155).
Diante do exposto, este estudo, portanto, tem por objetivo mapear os processos
envolvidos no fluxo editorial do livro digital. Ademais, de modo a qualificar o mapeamento,
também objetiva-se identificar os conhecimentos e agentes presentes nos processos
mapeados. Para tal, realizou-se um levantamento de campo (survey) com duas empresas que
atuam na produção de livros digitais.
macro, tem-se os macroprocessos, que podem ser divididos em subprocessos, os quais são
atividades logicamente relacionadas e sequenciais. Dessa forma, todos os macroprocessos e
subprocessos são compostos de atividades – ações necessárias para produzir um resultado
particular – e estas, por sua vez, são formadas por diferentes tarefas (HARRINGTON, 2006). Em
síntese, as atividades são “o que fazer” e as tarefas, “como fazer” (PAVANI JUNIOR;
SCUCUGLIA, 2011).
3. Procedimentos Metodológicos
Em relação aos seus procedimentos metodológicos, este estudo se caracteriza como aplicado e
exploratório, possuindo abordagem qualitativa (GIL, 2008). Como estratégia de pesquisa e
técnica de coleta de dados, realizou-se um levantamento de campo (survey) a partir de uma
entrevista semiestruturada configurada como um questionário com perguntas abertas com o
intuito de extrair o máximo de conhecimentos possíveis com base no discurso dos
participantes.
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4O conhecimento tácito é pessoal, difícil de formalizar, comunicar e compartilhar com outros. Conhecimentos de
experiência, know-how, conclusões, insights e palpites subjetivos são exemplos deste tipo de conhecimento. Já o
conhecimento explícito é transmissível em linguagem formal e sistemática, podendo ser facilmente automatizado e
documentado ou armazenado. O conhecimento da racionalidade tende a ser explícito, por exemplo (NONAKA,
1997).
5 Os processos intensivos em conhecimento (KIBPs) podem ser definidos como processos que requerem um
conhecimento muito específico, predominantemente experiencial, envolvendo geralmente especialistas.
Habitualmente, os processos intensivos em conhecimento dependem em grande parte do envolvimento humano,
embora algumas de suas partes possam ser apoiadas por automação. Exemplos destes tipos de processo podem ser
o desenvolvimento de novos produtos ou serviços, processos de marketing e o desenvolvimento de software (ISIK;
VAN DER BERGH; MERTENS, 2012).
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descrição pormenorizada.
4. Resultados e Discussões
A seguir, são apresentados os resultados do levantamento separados por ambiente de
pesquisa.
6 O ePUB é um formato aberto padrão para livros digitais geralmente com predominância textual, criado pelo IDPF
(International Digital Publishing Forum).
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Processo 1: Orçamento
O primeiro processo executado pela empresa B inicia com a demanda do cliente por um
projeto de livro digital. De acordo com o número de páginas do texto original e a complexidade
do trabalho, um atendente produz o orçamento do trabalho e o comunica ao cliente. Para a
realização deste, é necessário conhecer os parâmetros de complexidade estabelecidos pela
empresa, conhecimento explícito, os quais têm relação com o tipo de livro a ser desenvolvido,
a existência ou não de imagens, entre outros. Se a solicitação é realizada através do website, o
próprio sistema automatizado da empresa realiza o processo. Por ser essencialmente
operacional, este processo pode ser considerado não-intensivo em conhecimento.
Finalmente, o orçamento é avaliado pelo cliente e, caso seja aprovado, inicia-se o
processo seguinte. Do contrário, recomeça-se o processo ou cancela-se o projeto.
Processo 3: Revisão
O terceiro e último7 processo começa a partir do pedido de revisão solicitado pelo cliente. Ao
7O entrevistado destacou que a criação da capa para o livro digital segue os mesmos processos, porém em fluxo
paralelo depois do aceite do orçamento, sendo adicionada ao arquivo ePUB no envio da primeira versão para
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aprovação e após a revisão, momentos de convergência dos fluxos. De toda forma, por se tratar de um processo
cujo foco foge do escopo desta pesquisa, este não foi detalhado.
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4.3. Discussões
Com base nos resultados obtidos, observa-se que o fluxo editorial adotado nas empresas
pesquisadas é simples e que ambas não são responsáveis pelo fluxo completo ao se considerar
a complexidade de um projeto de livro digital.
Provavelmente por ser uma editora tradicionalmente focada em livros impressos, a
empresa A deriva parte das decisões de projeto dos livros digitais de seus correspondentes
impressos. Assim, o setor responsável faz a conversão a partir de arquivos de livros existentes,
sendo a distribuição executada por outra empresa. É interessante notar que em seu fluxo não
se encontram momentos de aprovação das saídas. Uma das explicações pode ser o fato dos
processos se desenvolverem a partir de uma demanda interna e não externa ou ainda porque
o mesmo agente é responsável pelo fluxo completo, do início ao fim.
Já a empresa B, especializada na produção de livros digitas, tem como foco a prestação
de serviços de conversão para seus clientes, majoritariamente editoras. Desse modo, ela
recebe os originais e faz a conversão para formato digital, porém não é responsável pela
distribuição e entrega ao consumidor final.
Ainda, percebeu-se que ambas trabalham somente com livros digitais em formato
ePUB, não se constatando a presença de projetos mais complexos em formato de livro
aplicativo, por exemplo. Em razão disso, explica-se a simplicidade dos fluxos editoriais. Além
disso, uma vez que seus nichos de mercado ainda estão atrelados à produção de livros
tradicionais, é natural a vinculação dos fluxos digitais aos correspondentes impressos.
Em ambas as empresas se verificou que o principal processo do fluxo – o qual envolve
a conversão do livro digital – é intensivo em conhecimento. Isso se dá principalmente em razão
da mobilização de conhecimentos tácitos, tal como constatou-se na literatura, mesmo que
parte das decisões fossem automatizadas ou operacionais. Assim, a existência de atividades
criativas e que envolvam decisões subjetivas caracteriza o principal processo do fluxo editorial
do livro digital nas empresas estudadas.
No que tange aos conhecimentos mobilizados, estes foram em sua maioria explícitos,
justamente pela carga operacional dos processos descritos, incluindo os processos de
conversão. Estes, ainda que intensivos em conhecimento e que demandem conhecimentos
tácitos, caracterizam-se também por necessitarem conhecimentos explícitos. De toda forma,
como destacou a participante da empresa A, a conversão é um processo que demanda o
entendimento da prática e o resultado pode variar conforme a experiência desse agente.
Ainda, nos processos comuns às duas empresas, os conhecimentos necessários
também foram similares. Por fim, em relação aos agentes, em ambas as empresas estes eram
internos. Na empresa A, trata-se de um profissional ligado à produção editorial, ou seja,
especializado. Na empresa B, porém, nota-se que não foi possível qualificar o perfil dos
profissionais envolvidos nos processos, pois o entrevistado optou por não fornecer
informações mais detalhadas ou precisas.
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5. Considerações Finais
O cenário da produção editorial tem se alterado nos últimos anos com a emergência dos livros
digitais. Frente a essa realidade, torna-se necessário explicitar os processos e atividades no
fluxo editorial destes artefatos para que seja possível controlá-los e aperfeiçoá-los. Nesse
contexto, a técnica de mapeamento de processos se mostrou útil e contribuiu no
delineamento e caracterização dos processos, bem como na identificação de seus executores e
dos conhecimentos mobilizados.
Nesta pesquisa, portanto, observou-se que os processos realizados são simples, em
razão da baixa complexidade dos projetos, ainda atrelados ao fluxo editorial impresso –
utilizando-se os termos “conversão” e “transformação”. Assim, diversas definições e decisões,
bem como processos anteriores e posteriores à produção do artefato em si se mostraram
escassos ou externos aos fluxos editoriais mapeados. Com isso, evidenciou-se uma
precariedade em termos de projeto.
Também, constatou-se que o principal processo de cada fluxo é intensivo em
conhecimento e que, mesmo assim, ocorre a utilização de conhecimentos em sua maioria
explícitos. De toda forma, identificou-se a existência de saberes tácitos, necessários às
atividades criativas e fundamentais para a caracterização deste tipo de processo. Em relação
aos agentes, devido às limitações deste estudo, não foi possível qualificá-los detalhadamente,
porém, verificou-se que estes são internos à equipe e especializados.
Finalmente, para estudos futuros, planeja-se o mapeamento por indução através da
listagem de processos ou ainda a realização de estudos de caso para maior aprofundamento
do fluxo editorial do livro digital, possibilitando eventuais sugestões de melhorias nos
processos, completando o ciclo do mapeamento de processos.
Referências
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MATTOS, M. E. Processos Organizacionais. São Paulo: Editora Sol, 2013.
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