Prova de História Social e Política

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“Tortura de Amor” – Waldick Soriano

Baiano de Caetité, Waldick Soriano compõe “Tortura de Amor” no final da década de 1950 e
faz uma primeira gravação em 1962, sem muita repercussão. Em 1974, ele regrava a canção,
que é censurada no mesmo ano por ter a palavra “tortura” na letra. Um motivo também
provável da censura, apontado pelo historiador Paulo César Araújo, autor do livro “Eu não sou
cachorro não – música popular cafona e ditadura militar”, seria uma entrevista dada por
Waldick a uma rádio gaúcha em 1973, onde o cantor se refere a Jesus Cristo como “arruaceiro”
e “enganador”, o que indignou políticos tanto da Arena quanto do MDB, representantes
religiosos do estado e até setores da imprensa, que pediram a censura e o banimento de
Waldick da vida nacional. O Brasil era governado pelo general Emílio Garrastazu Médici, militar
pertencente a ala considerada como linha-dura e seu governo ficou marcado pelo
endurecimento da repressão na caça às guerrilhas armadas, como a do Araguaia, que
encontraria seu fim no governo do general Médici. Fato é que a letra de “Tortura de Amor”
não possui conotação que pudesse ser considerada “subversiva” nem parece estar subtendido
algum tipo de manifestação política contrária ao regime, entretanto, como ressalta Araújo, a
letra de Soriano tocava em um tema caro ao regime militar, a prática repressiva por meio da
tortura, institucionalizada a partir da decretação do AI-5 em dezembro de 1968, o que talvez
nos revele que a censura terminou por ser muito útil para que os militares vestissem a
carapuça.

“Animais Irracionais” – Dom e Ravel

Os irmãos Eustáquio e Eduardo de Farias, naturais da cidade de itaiçaba, no Ceará, tiveram


muitas de suas letras embalando a propaganda da ditadura militar, como “Eu te amo meu
Brasil” e “Você também é responsável” que serviu de trilha-sonora para o programa
educacional do regime, o Movimento Brasileiro de Alfabetização ou Mobral. As letras da dupla
soavam ao regime como declarações patrióticas de amor ao Brasil, numa época em que
vigorava a determinação “Brasil: ame-o ou deixe-o. A simpatia do regime militar às
composições de Dom e Ravel atraía, por outro lado, críticas por parte de músicos e artistas
contrários à ditadura. Porém, em 1974, ainda sob o governo Médici, a dupla lança “Animais
Irracionais” canção que trata de opressão, injustiça social, desigualdade entre os homens, da
indiferença à miséria e à pobreza por parte dos que oprimem e de uma história humana
marcada, como lembra Paulo César Araújo, pela violência do açoite, da chibata, do chicote,
analogia que facilmente se transpõe à história do Brasil. Num momento em que a ditadura
militar tentava manter a sociedade brasileira alheia à violência do regime e propagava a união
nacional rumo ao progresso, “Animais Irracionais”, com sua letra contestadora, acabou sendo
censurada por fazer menção “ao açoite e ao porrete” (Araújo, 2002, p.91), muito utilizados
pelo famoso “guarda da esquina” de Jarbas Passarinho, que proferiu a famosa frase em
resposta à decretação do AI-5 seis anos antes da censura a Dom e Ravel. Sem conseguir uma
revisão da decisão em São Paulo, Dom e Ravel procuram o setor da censura em Brasília e, por
meio de um coronel conhecido da dupla, conseguem reverter a censura a “Animais Irracionais”
que, na alegação de Dom ao governo, fazia referência à saga do povo judeu.
“Treze anos” / O samba do divórcio – Luiz Ayrão

Em 1977, a ditadura militar no Brasil completava seu décimo terceiro funesto aniversário sob o
comando do general Ernesto Geisel que, ao assumir o regime em 1974, prometeu levar o Brasil
rumo a um processo de redemocratização por meio de uma “abertura lenta, gradual e segura”.
Porém, três anos após a promessa, o general, tido como um membro do grupo da Sorbonne
(referência à ala mais moderada entre os militares), irritado com as obstruções do MDB,
partido que fazia uma oposição consentida ao regime, à aprovação da reforma do Judiciário,
decide fechar o Congresso Nacional. É neste contexto que o carioca Luiz Ayrão lança “Treze
Anos”, samba de letra simples, mas de contestação direta ao regime que, por óbvio, acabou
sendo censurada por aproveitar o aniversário do regime para fazer objeção direta a ele. Como
relata Paulo César de Araújo em “Eu não Sou Cachorro Não”, Ayrão, ao contrário da maioria
dos cantores tidos como bregas, conseguiu driblar a pobreza e se formar em Direito, condição
que influenciou politicamente o cantor a se opor ao regime através de suas composições. Para
driblar a censura, Luiz Ayrão se aproveita da aprovação da lei do divórcio três meses após a
censura a “Treze Anos” e altera o título do samba para “O Divórcio”, sem modificar a letra,
logrando êxito na liberação da música, até o general Fernando Bethlem, substituto do general
Sylvio Frota no ministério do Exército, perceber o real significado da música e, novamente,
censurá-la.

Por meio de um advogado influente nos meios militares, a gravadora de Luiz Ayrão consegue,
mais uma vez, a liberação da música. Ao relatar o sucesso da empresa, Ayrão faz um
questionamento quase retórico que se define bem o caráter dos três poderes na capital
federal: “Brasília é uma corte, né?”

Ainda em 1977, a sociedade civil começa a se rearticular contra o regime através de


movimentos estudantis, da OAB, comandada à época por Raymundo Faoro, por setores da
Igreja católica influenciadas pela Teologia da Libertação e dos movimentos sindicais que
pediam o fim da ditadura, a anistia política aos exilado pelo regime e eleições diretas.

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