Fundamentos de Contabilidade 2019
Fundamentos de Contabilidade 2019
Fundamentos de Contabilidade 2019
facebook.com/iesdebrasil
58355 9 788538 762348
Fundamentos de
contabilidade
José L. Azzolin
1. Contabilidade. I. Título.
CDD: 657
18-54428
CDU: 657
Apresentação 7
1 A contabilidade 9
1.1 A origem da contabilidade 10
1.2 Evolução da contabilidade 12
1.3 A contabilidade no cenário atual 17
2 O patrimônio 25
2.1 O que é patrimônio? 25
2.2 Bens econômicos 26
2.3 Direitos: o que é seu, mas encontra-se em poder de terceiros 30
2.4 Obrigações: elas financiam os investimentos 32
4 Balanço Patrimonial 55
4.1 O Balanço Patrimonial 55
4.2 Ativo: conjunto de bens e direitos 56
4.3 Passivo: obrigações da empresa com terceiros 68
4.4 Patrimônio Líquido: capital investido pelos sócios e retenção de lucros 74
5 Demonstrações financeiras 83
5.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) 83
5.2 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) 93
5.3 Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) 98
6 Fundamentos de custos 107
6.1 Custeio por absorção e custeio variável 107
6.2 Análise do custo/volume/lucro 115
6.3 Margem de contribuição unitária e determinação do ponto de equilíbrio 119
Gabarito 153
Apresentação
A contabilidade é a linguagem dos negócios. Por isso, destina-se não apenas aos contado-
res, mas também aos empresários, administradores, gestores e todos os indivíduos que precisam
conhecer adequadamente as técnicas contábeis para tomar decisões em uma organização. Assim,
esta obra destina-se aos profissionais que desejam ou precisam, em decorrência de suas escolhas
profissionais, compreender a contabilidade.
Nesta obra veremos que a riqueza – tanto da pessoa física quanto da pessoa jurídica –
é demonstrada pelo conjunto de seus bens, direitos e obrigações, itens que representam seu
patrimônio. Ainda, veremos que para elaborar e entender um plano de negócios, é necessário
conhecer a essência da equação contábil e os pressupostos do processo de contabilidade de um
plano de contas.
Além desses aspectos, conheceremos o Balanço Patrimonial (BP) – constituído por Ativos,
Passivos e pelo Patrimônio Líquido – e aprenderemos a elaborar e interpretar as demais demons-
trações financeiras: Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido (DMPL) e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC).
Compreenderemos que é impossível gerir uma empresa sem a compreensão básica dos
custos e que a avaliação eficaz de uma entidade depende principalmente da possibilidade de
compará-la a outras.
A análise das demonstrações financeiras, por sua vez (assunto que também estudaremos
nesta obra), tem o objetivo de dotar o administrador e o empreendedor de informações qualitativas
e quantitativas capazes de levá-los a tomar decisões e monitorar o desempenho de suas empresas.
Dada a riqueza deste livro, você tem em mãos uma obra essencial para a compreensão
dos aspectos básicos da contabilidade, indo além das noções preliminares e dominando aspectos
contábeis e financeiros que garantem a gestão eficiente de um negócio.
1
A contabilidade
Você pode perceber que a contagem e a análise são tão antigas quanto o próprio ser humano.
Relatos bíblicos, inclusive, já traziam informações sobre a contagem. O Livro de Jó, por exemplo,
descreve a riqueza deste personagem: “possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas
de bois, quinhentas jumentas e uma grande quantidade de escravos” (BÍBLIA, Jó, 2018, 1: 3).
Embora estejamos tratando do pastoreio, muitos cidadãos exerciam outras atividades, como
a caça, a pesca, a agricultura e a prestação de serviços. Quem possuía um rebanho, certamente ne-
cessitava de grãos que pertenciam ao agricultor, e este, por sua vez, necessitava tanto da carne para
se alimentar quanto das peles dos animais para se vestir. Pela inexistência da moeda, era necessário
atribuir valores aos bens para se realizar a troca de um por outro.
Uma questão que se levanta é: como atribuir valores? Smith (2017), ao discorrer sobre o
assunto, busca determinar o valor pela quantidade de trabalho necessária para conquistar o bem.
Por exemplo, imagine que um caçador, para abater um veado, tenha despendido o dobro de tempo
que outro caçador despendeu para abater um castor. Seguindo esse raciocínio, um veado deve
custar o equivalente a dois castores.
Além disso, o valor dos bens estava sujeito à lei natural da oferta e da demanda. Não existia,
por exemplo, processo de conservação da carne, por isso, havia a necessidade de trocá-la mais
rapidamente que os grãos. Se houvesse pouca demanda por carne e nem sua troca, ela se deterioraria
em dias. Esse fato ensejava que o valor da carne dependesse também do mercado, e não apenas do
tempo de trabalho aplicado em sua obtenção.
Os diversos polos começaram a preocupar-se com o controle da produção e dos estoques
e com seus potenciais rendimentos. Assim, havia a necessidade da criação de um sistema que
pudesse representar a produção e o consumo, sem o qual seria impossível realizar um registro,
ainda que incipiente. Veja na Figura 2 registros da antiga Mesopotâmia, em que a escrita, criada
pelos sumérios por volta de 4.000 a.C., era efetuada em placas de barro.
Figura 2 – Texto de escrita cuneiforme em sumério
Jastrow/Wikimedia Commons
Fonte: Contrat archaïque sumérien concernant la vente d’un champ et d’une maison1. 2.600 a.C. 8,5 x 8,5 x 2 cm. Museu do Louvre, Paris.
Todos esses relatos confirmam a asserção de Marion (1988, p. 23), de que “a contabilidade é
tão antiga quanto a origem do homem”.
1 Contrato sumério de Shuruppak diz respeito ao contrato desenvolvido por uma antiga civilização da Suméria – atual-
mente localizada no Iraque –, que registra a venda de um campo e de uma casa (cerca de 2.600 a.C.).
12 Fundamentos de contabilidade
DCCXXIV + DCCXXIV = ?
Você conseguiu? Agora divida o resultado por três. Consegue? Como seria difícil realizar
operações matemáticas básicas fazendo uso do sistema romano!
Constata-se, em decorrência de tamanha dificuldade, que os algarismos romanos foram de-
senvolvidos para demonstrar quantidades e não para o desenvolvimento de cálculos.
Vamos, agora, para a Idade Média. Em meados do século XI, na Europa Ocidental, o pontapé
inicial para o desenvolvimento da ciência matemática – e o consequente desenvolvimento da contabili-
dade – foi realizado por Leonardo Fibonacci, conhecido também como Leonardo de Pisa.
A contabilidade 13
O matemático publicou, em 1202, o Liber abaci2, que continha capítulos sobre adição, subtra-
ção, preços de produtos, sociedades, entre outros. As fontes de apoio utilizadas por Leonardo Pisa
para escrever seu livro provinham do mundo islâmico, por ele visitado durante suas muitas viagens.
Segundo Cuomo (2002), nessa obra, o autor aprofundou-se encadeando todo o material
recolhido que, além de conter as regras para o cálculo dos numerais indo-arábicos, é um verdadeiro
baú do tesouro não só para cientistas e estudiosos da matemática, mas também para os historiadores
da sociedade e economia medievais, já que trata de numerosos problemas de natureza prática,
principalmente ligados ao cálculo dos lucros, conversões e mensuração de moedas.
Os algarismos arábicos, também chamados de indo-arábicos, são um sistema de numeração
que consiste nos símbolos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 0. Há autores que atribuem a origem dos símbolos
à relação destes com a quantidade de ângulos que possuíam em sua forma original. Você pode
observar essa curiosa relação na Figura 3. Figura 3 – Uma versão da evolução dos
números arábicos
De acordo com Hendriksen e Van Breda (2009,
p. 39), “não sabemos quem inventou a contabilidade.
Sabemos, porém, que sistemas de escrituração por
partidas dobradas começaram a surgir gradativamen-
te nos séculos XIII e XIV em diversos centros de co-
mércio da Itália”.
Pode-se afirmar que até a edição da obra de
Leonardo de Pisa, a contabilidade era embasada apenas
em conhecimentos adquiridos no cotidiano, não fun-
damentados na ciência, fato que só se tornou possível
com a evolução da matemática, relacionando de vez as
duas áreas. Sem ângulos
A sistematização, ou seja, a padronização por Fonte: Adaptada de Lemos apud Darela, Cardoso e
Rosa, 2011, p. 69.
meio de normas, só foi possível graças ao Liber abaci
(no qual houve a utilização dos algarismos arábicos) e progrediu em 1494, quando a contabilidade
começou a tomar corpo com a obra de Luca Pacioli (Figura 4).
A obra Summa de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalita, como o próprio título
sugere, é um tratado matemático, mas além disso, ela contempla os registros contábeis segundo o
método das partidas dobradas3, metodologia aceita e utilizada até hoje pela contabilidade (e que
será estudado adiante).
Denominado Tratado Particular de Conta e Escrituração, o método desenvolvido por Luca
Pacioli, de acordo com Marion (2009, p. 160) é “universalmente aceito, dá início a uma nova fase
para a Contabilidade como disciplina adulta, além de desabrochar a escola contábil italiana, que
iria dominar o cenário contábil até o início do século XX”.
De acordo com estudiosos da área, ao longo dos anos foram criadas várias escolas,
compreendidas como correntes doutrinárias da contabilidade, sempre atendendo às mudanças
exigidas pela sociedade, limitadas a determinado período histórico. É possível dividir essas escolas
de acordo com os períodos, os personagens principais, os ideais e doutrinas defendidas, e a
aceitação dessas correntes pela sociedade. É o que vemos no Quadro 1.
Quadro 1 – Períodos da contabilidade
História Média ou da
Frei Luca Pacioli, com o método das
2º sistematização da conta- De 1202 até 1494
partidas dobradas.
bilidade
O terceiro período teve início com a obra de Francesco Villa, La Contabilita Applicata alle
Ammistrazioni Private e Publiche (1840), complementada no quarto período por Fábio Besta, que
produziu diversas obras, tendo La Ragioneria (1880) como a principal, cujos princípios permane-
cem até os dias de hoje.
No terceiro período ocorreu a disseminação da escola italiana por toda a Europa, liderada
por doutrinadores italianos como Leonardo de Pisa, Luca Pacioli, Benedetto Cotrugli, Francesco
Villa, Fábio Besta, Gino Zappa e Vicenzo Masi. Entretanto, essa escola se fundamentava em
excessiva teoria e não permitia a flexibilidade necessária para o surgimento, por exemplo, de uma
contabilidade gerencial4, já que os autores europeus entendiam que a contabilidade era uma ciência.
Assim, ela se voltava apenas ao público acadêmico, não sendo compreendida como uma disciplina
que pudesse ser discutida nas empresas.
De acordo com Iudícibus, Marion e Faria (2018, p. 17), nesse período os estudos da contabi-
lidade avançaram, “porém, os trabalhos [eram] repetitivos e excessivamente teóricos, apenas pelo
gosto de serem teóricos”.
A Revolução Industrial, a intensificação do comércio internacional e as guerras – ocasiões
que acarretaram inúmeras falências – tornaram necessários os levantamentos de perdas e lucros.
Além disso, o crescimento dos negócios no século XX foi um dos fatores que contribuíram para o
aperfeiçoamento da contabilidade.
Com o término da Primeira Guerra Mundial em 1919, aflorou uma demanda de bens de con-
sumo e de uso que alimentou uma explosão de investimentos, principalmente voltados para rádios,
telefones e automóveis. De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p. 57), “somente a produção de
automóveis elevou-se de 485.000, em 1913, para 1.934.000 em 1919 e 5.622.000 em 1929”.
Em 1929, porém, ocorreu uma crise no mercado norte-americano que foi chamada de
Grande Depressão, cujas causas e efeitos permanecem em discussão até a atualidade. Os contado-
res não passaram incólumes às críticas levantadas nas discussões. Pesquisadores atribuíram como incólumes: ilesos,
intactos.
causa da crise a concentração do poder e da riqueza nas mãos de poucas pessoas.
Autores das áreas de direito e de economia, como Adolph Berle e Gardiner Means, escreve-
ram sobre a temática e afirmaram que “enquanto padrões de contabilidade não se tornarem mais
rígidos, e não houver lei que imponha cânones específicos, os diretores de empresas e seus contado-
res serão capazes, dentro de certos limites, de apresentar as cifras que quiserem” (HENDRIKSEN;
VAN BREDA, 2009, p. 58).
A contabilidade, à época, não impunha padrões de controle no intuito de evitar fraudes.
Por isso, por meio do New Deal, plano que vigorou entre 1933 e 1937, implementado pelo então New Deal: novo
acordo.
presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, o governo criou leis que permitiram controlar
o sistema financeiro, de modo a reduzir a possibilidade de fraudes.
4 Em vez de ater-se exclusivamente à teoria, a contabilidade gerencial adota um conjunto de técnicas contábeis, como
a controladoria, a gestão de custos e a análise das demonstrações financeiras, que fornecem informações para o proces-
so de tomada de decisões.
16 Fundamentos de contabilidade
Embora um pouco injustas, essas críticas à contabilidade ensejaram respostas que vieram
por meio da adoção de inúmeros procedimentos de suas associações: o American Institute of
Accountants (AIA) e o American Association of Accountants (AAA).
De acordo com Hendriksen e Van Breda (2009), a AIA, por exemplo, criou uma comissão
com o objetivo de cooperar com a Bolsa de Valores de Nova Iorque e, como resultado dessa coope-
ração, editou uma norma exigindo que todas as empresas se inscrevessem na Bolsa e fornecessem
a esta última suas demonstrações financeiras auditadas.
Os líderes empresariais, porém, não reagiram suficientemente para tentar solucionar os
problemas, pois cada um deles ou cada grupo de pessoas atribuía a outra ou a outros a respon-
sabilidade pela Grande Depressão. Segundo Hendriksen e Van Breda (2009), o então candidato
a presidente Franklin Roosevelt, em um comício realizado em 1928, culpou os empresários pela
depressão, mesmo sabendo que o poder público também tinha sua responsabilidade.
Com a posse do presidente Roosevelt, iniciaram-se os famosos 100 primeiros dias5, em que
foram editadas inúmeras leis, destacando-se a Lei de Emergência Bancária e a Lei da Veracidade na
Emissão de Títulos6, ambas com o objetivo de evitar ou diminuir fraudes.
Assim, entra em ação no ano de 1936 o Comitê de Procedimentos Contábeis (Committee
on Accounting Procedure – CAP), ao qual foi atribuída autoridade para fazer pronunciamentos a
respeito de princípios e procedimentos contábeis.
Surge, então, no início do século XX, a escola norte-americana, conhecida como pragmática,
que apresentou muitas características especiais e importantes para a contabilidade, sobretudo
porque se ateve ao aspecto prático das questões econômico-administrativas e se preocupou pouco
com as construções teóricas gerais, praticando mais a arte do que a ciência. Importante frisar que
por arte, entende-se a capacidade de gerar informações por meio das demonstrações, e assim,
garantir a possibilidade de auditar o passado, controlar o presente e planejar o futuro.
As grandes corporações que foram criadas naquele século exigiam que a contabilidade
ampliasse seus horizontes para além dos ideais da escola europeia, que se restringia apenas
ao campo acadêmico e concebia a contabilidade como ciência pura, estudando seus aspectos
lógicos e sistemáticos.
Essas corporações exigiam uma contabilidade prática, que resolvesse as questões ligadas ao
custo, à controladoria, à gestão financeira e, principalmente, à possibilidade de prever o futuro por
meio da aplicação de práticas orçamentárias. No Brasil, seguem esse pensamento os professores
José Carlos Marion, Milton Augusto Walter, Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins, Alexandre Assaf
Neto, Stephen Kanitz, entre outros grandes nomes da área.
5 Roosevelt conseguiu construir todo o programa de recuperação e reforma econômica-social, a New Deal, em dias,
com a participação dos grandes sindicatos, das autoridades municipais, industriais, dos fazendeiros e de todas as
lideranças americanas.
6 Essas leis de 1933 exigiam que os títulos emitidos fossem registrados quando oferecidos à venda ao público,
coibindo, assim, a emissão de títulos enganosos.
A contabilidade 17
Marion (1988) esquematiza os modelos que vigoram no Brasil desde a década de 1940 até a
atualidade, como é possível observar pela análise da Figura 5:
Figura 5 – Modelos de contabilidade adotados no Brasil nos últimos anos
Modelo europeu Modelo americano Contabilidade para o mundo
Decreto-Lei n. 2.627/1940 Lei n. 6.404/1976 Leis n.11.638/2007 e n.11.941/2009
• Visava os donos das empresas. • Adequa-se aos acionistas. • Propõe a contabilidade
• Não considerava os acionistas. • Brasileiros, padrão nacional. para o mundo.
7 O AIA é uma organização profissional que define a contabilidade como profissão que deve ser exercida com padrões
profissionais éticos e alinhados com o interesse público. Conheça mais em: https://www.aiaworldwide.com/. Acesso em:
18 dez. 2018.
18 Fundamentos de contabilidade
ou seja, os atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis aos seus usuários. O pronun-
ciamento em questão também comenta acerca das características qualitativas da informação
contábil-financeira útil e prescreve que ela precisa ser relevante e representar com fidedignidade o
que se propõe representar, além de dever apresentar materialidade, como é demonstrado na Figura 6.
Figura 6 – Características da informação contábil
Relevância
Revelação fidedigna
Comparabilidade
Verificabilidade
Características qualitativas de melhoria
Tempestividade
Compreensibilidade
É possível que um evento, para fins de registro contábil, tenha forma legal,
porém a forma tenha sido artificialmente produzida. No caso da constituição
Primazia da essência
de um fundo de reserva, por exemplo, para enfrentar futuros problemas com
sobre a forma indenizações trabalhistas, não há data definida para ocorrer o evento indeni-
zatório, mas esses recursos devem ser contabilizados.
Além das características preconizadas, é forçoso lembrar que as entidades se obrigam a obe-
decer a um conjunto de normas e regras oriundas das boas práticas da governança corporativa, as
quais estão expostas na Figura 8.
Figura 8 – Normas básicas de governança corporativa
Transparência
Equidade
Princípios básicos de governança corporativa
Prestação de contas
Responsabilidade corporativa
É oportuno considerar que mesmo as empresas que não estejam obrigadas a se inserir nos
princípios da governança corporativa devem atender a esses princípios, pois sua observância gera
valor e credibilidade e os clientes passam a enxergá-la como responsável e transparente.
A ciência contábil encontrou um campo fértil quando a economia de mercado exigiu
ferramentas de controle e projeções, de modo que, ao longo dos tempos, houve (e ainda há) uma
interação entre os dois fenômenos: a economia e a contabilidade.
Considerações finais
Como vimos no decorrer deste capítulo, as modificações sofridas pela contabilidade
sempre foram ensejadas pelo mercado. Sem informações contábeis, o investidor que desejasse
se tornar acionista não teria como analisar a situação econômico-financeira das empresas
nas quais desejava investir, os administradores não poderiam obter informações precisas
22 Fundamentos de contabilidade
Atividades
1. Leia a seguinte afirmação, constante na Resolução n. 1.121/2008: “As transações devem ser
contabilizadas e apresentadas de modo a demonstrar a substância econômica, mesmo que
em detrimento dos aspectos formais”. Com base no que estudamos sobre essa resolução,
qual pressuposto básico está relacionado a essa afirmativa?
2. Qual foi a importância da obra Liber abaci (1202), de Leonardo Fibonacci, para a matemática
e para a contabilidade? Justifique.
3. Sabe-se que, por muito tempo, o ensino da contabilidade seguia orientações da escola euro-
peia. Entretanto, no início do século XX, a escola norte-americana ganhou força e cresceu.
Explique qual é a principal diferença entre essas duas escolas.
Referências
ARISTÓTELES. Retórica. Trad. de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento
Pena. São Paulo: Publifolha, 2015.
BC – Banco Central do Brasil. Circular n. 179, de 10 de maio de 1972. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 maio 1972. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?
arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/40314/Circ_0179_v2_L.pdf. Acesso em: 26 nov. 2018.
BÍBLIA. (Antigo Testamento). Jó. Português. Bíblia Sagrada. Trad. Bíblia Ave Maria, cap. 1, vers. 3. Disponível
em: https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/jo/1/. Acesso em: 26 nov. 2018.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 1 out. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2627compilado.htm.
Acesso em: 27 nov. 2018.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.
A contabilidade 23
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 30 out. 2018.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.121, de 28 de março de 2008. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 1 abr. 2008. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1121.pdf.
Acesso em: 28 nov. 2018.
BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, Poder Legislativo, DF,
28 maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 16 nov. 2018.
BOUCINHAS, J. C. Prefácio. In: IUDÍCIBUS, S. Contabilidade introdutória. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1): estrutura conceitual para elaboração e di-
vulgação de relatório contábil-financeiro. Brasília, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/
Documentos/147_CPC00_R1.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018.
CUOMO, S. Fibonacci’s Liber Abaci: A Translation into Modern English of Leonardo Pisano’s Book of
Calculation by Laurence E. Singler. Institute for Research in Classical Philosophy and Science, 2004. Revisão.
Disponível em: http://www.ircps.org/sites/ircps.org/files/aestimatio/1/2004-02-01_Cuomo.pdf. Acesso em:
28 nov. 2018.
DARELA, E.; CARDOSO, M.; ROSA, R. C. História da matemática. Palhoça: UnisulVirtual, 2011. Disponível
em: http://pergamum.unisul.br/pergamum/pdf/restrito/000003/00000369.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018.
HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.
HOOG, W. A. Z. A importância da filosofia para os contadores. Contábeis. 17 fev. 2014. Disponível em:
https://www.contabeis.com.br/artigos/1606/a-importancia-da-filosofia-para-os-contadores/. Acesso em: 28
nov. 2018.
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de governança
corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015. Disponível em: http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/Publicacoes/
Publicacao-IBGCCodigo-CodigodasMelhoresPraticasdeGC-5aEdicao.pdf. Acesso em: 14 dez. 2018.
IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C.; FARIA, A. C. Introdução à teoria da contabilidade. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2018.
IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as
normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. 3. ed.
Rio de Janeiro, 2017.
2
O patrimônio
A contabilidade relativa às entidades1 tem como objeto o estudo do patrimônio. Seu objetivo
é controlá-lo permanentemente que esse controle possa contribuir nas tomadas de decisões.
No desenvolvimento de suas atividades, as entidades utilizam bens econômicos para
produzir outros bens, realizando a intermediação entre o produtor e o usuário ou na prestação
de serviços.
No intuito de atender aos seus objetivos, a entidade jurídica – que é independente das
pessoas físicas que a compõem – tem a necessidade, por um lado, de realizar investimentos em
bens e direitos e, por outro, de buscar financiamentos para seus investimentos. Nesse sentido, o
presente capítulo tratará dos investimentos e financiamentos que representam o patrimônio.
1 Contabilmente, uma entidade pode ser uma pessoa física ou um conjunto de pessoas que se unem e constituem uma
empresa por quotas de responsabilidade limitada ou uma sociedade anônima.
26 Fundamentos de contabilidade
Ainda, segundo o autor, para que um bem seja reconhecido pela contabilidade é necessário
que ele:
• tenha valor econômico;
• possa ser convertido em dinheiro;
• seja útil e capaz de satisfazer as necessidades da entidade.
Assim, o interesse da contabilidade são os bens econômicos, ou seja, os bens que têm preços,
diferentemente dos bens livres (como o ar e o sol) aos quais não se pode atribuir preço.
Os bens econômicos de existência própria – independentemente do meio em que se situam –
são denominados tangíveis ou materiais. São exemplos de bens tangíveis: terrenos, prédios,
máquinas, veículos, ferramentas, entre outros. Entretanto, se os bens econômicos não puderem ser
reconhecidos visualmente, de maneira distinta dos outros (ainda que possuam valor monetário),
eles são conceituados como intangíveis ou imateriais. São exemplos de bens intangíveis: marcas e
patentes, fundos de comércio2, entre outros.
Considerando a relevância dos bens econômicos para a contabilidade, é importante
apresentar algumas definições e classificações embasadas no Código Civil (BRASIL, 2002), no
CPC 27 (CPC, 2009) e em diversos autores da área3. Essas definições são utilizadas pela con-
tabilidade empresarial e, por meio delas, podemos enumerar e classificar os principais bens
como imóveis ou móveis.
Os bens imóveis não podem ser deslocados, a não ser que haja danos em sua estrutura.
Para a contabilidade, há necessidade de separar esses bens em diversos itens, por exemplo: solo
(superfície), elementos incorporados ao solo (como construções e plantações) e bens determinados
legalmente (como penhor agrícola e apólices da dívida pública).
2 Para uma empresa comercial, por exemplo, é de suma importância a localização do estabelecimento de vendas.
O fundo de comércio é conhecido também por goodwill of trade ou como ponto da empresa.
3 Como Franco (1988), Calderelli (1967), Iudícibus et. al (2018) e Marion (2015).
O patrimônio 27
Os bens móveis são aqueles que podem ser deslocados sem prejuízos ou com pouco prejuízo
em sua estrutura, podendo ser classificados em: móveis que podem ser transportados (animais,
materiais e mercadorias) ou móveis por determinação legal (direitos autorais sobre um objeto
móvel, ou seja, produção intelectual, marcas, patentes ou obras artísticas).
As características sobre a fungibilidade ou não fungibilidade dos bens se assentam na
possibilidade de substituição desses bens. Assim, os bens fungíveis são aqueles que podem ser
substituídos por outros de mesmo gênero, espécie, quantidade e qualidade (como móveis, imóveis,
dinheiro etc.). Já os infungíveis são os bens de natureza insubstituível (por exemplo: pinturas,
obras de arte, partituras etc.).
Os bens econômicos podem ser classificados como bens de troca, por serem valores rotati-
vos destinados à venda ou transformação. Esses bens, por sua vez, são classificados como:
• numerários: denominação atribuída a moedas que foram cunhadas ou impressas,
ou seja, diz respeito a valores monetários;
• produtos: são objetos que tenham sido alvo de fabricação, isto é, que foram extraídos de
algo e que modificaram os insumos empregados;
• mercadorias: são artigos adquiridos por intermediários (empresas comerciais) entre os
produtores primários ou industriais e os consumidores ou usuários. Essa intermediação é
denominada revenda, e pode ser realizada a varejo ou por atacado.
Os bens econômicos também podem ser classificados como bens de consumo ou de aplica-
ção, sendo classificados como:
• matéria-prima;
• materiais secundários;
• embalagens; e
• material de escritório.
A matéria-prima é o insumo principal para a fabricação de qualquer produto. Ela pode ser insumo: elemento
necessário para
natural, como a soja ou o trigo utilizados na produção do óleo e da farinha, ou pode ser transfor- a produção de
mercadoria.
mada, como chapas de aço e tábuas para produzir automóveis e mobiliários.
Os materiais secundários são itens agregados à produção, em caráter complementar. Para pro-
duzir uma compota de figo, por exemplo, o fruto é a matéria-prima e o açúcar é o material secundário.
Já a embalagem é o recipiente destinado a armazenar os produtos tanto individualmente
quanto em grupos, com o objetivo de protegê-los. A embalagem é um insumo que, muitas vezes,
tem custo superior ao do próprio produto.
28 Fundamentos de contabilidade
Ao material de escritório devem ser adicionados os custos pertinentes aos produtos utiliza-
dos na higiene e limpeza da instituição, além de gastos com produtos consumidos na copa, como
água, pó de café, entre outros. Vemos na Figura 1 a classificação apresentada até aqui.
Figura 1 – Mapa da classificação dos bens
Imóveis
Uso Móveis
Fungíveis e Infungíveis
Materiais ou corpóreos
Matéria
Imateriais ou
intangíveis
Bens econômicos
Numerários
Troca Produtos
Mercadorias
Matéria-prima
Materiais secundários
Aplicação
Embalagens
Materiais de escritório
Além das máquinas, a empresa deve registrar sua marca e seus produtos no Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI). Para realizar o registro, ela despende valores para a contratação
de empresas especializadas em desenvolver sites, logomarca e afins. Para esse tipo de bens, exige-se
também um memorial descritivo, de acordo com o modelo expresso na Tabela 2.
Tabela 2 – Exemplo de memorial descritivo dos bens intangíveis
Para começar a produzir, a empresa necessita de insumos; então, ela deve adquiri-los,
fazendo-se necessária a elaboração de um memorial descritivo dos insumos que inicialmente
comporão os estoques e, posteriormente, os custos de produção.
Vamos imaginar que a previsão de produção durante o mês seja de 100 calças, sendo necessário
adquirir para cada unidade e para o total de calças a serem produzidas os insumos descritos na Tabela 3.
Tabela 3 – Exemplo de memorial descritivo dos insumos para a produção de calças
Bens de troca
Bens de aplicação
Insumos R$ 2.525,00
Para confeccionar seus produtos, a pequena indústria de confecções necessita manter recur-
sos alocados como bens sem os quais não consegue produzir. Por outro lado, constituirá direitos
quando começar a vender os produtos acabados. Este é o tema da próxima seção.
Bens de troca
Numerário R$ 492,75
4 Cheque com uma data futura indicando quando deve ser depositado.
32 Fundamentos de contabilidade
Bens de aplicação
Insumos R$ 1.262,50
Direitos
Concluída a explanação dos bens e direitos pertencentes à empresa, o passo seguinte é deter-
minar de que forma a instituição provê os recursos para financiá-los.
Capital de terceiros
Bens tangíveis R$ 11.595,90 R$ 8.143,16
(R$ 18.095,00 × 45%)
Capital próprio
Bens intangíveis R$ 6.500,00 R$ 9.952,75
(R$ 18.095,00 × 55%)
Capital próprio
R$ 9.952,75
(R$ 18.095,90 × 55%)
Capital próprio
R$ 9,952,75
(R$ 18.095,90 × 55%)
Por meio desses dados, constatamos que a pequena indústria realizou a venda de 50% das
calças existentes em estoque, ou seja, 25 calças. Essas calças foram vendidas por R$ 4.927,50. Do
valor de vendas foi recebido R$ 492,50 e foi constituído um direito de R$ 4.434,75. Para completar a
operação, falta calcular qual foi o lucro obtido na venda realizada. Para isso, basta efetuar a seguinte
operação:
O lucro apurado será distribuído aos sócios da empresa ou aumentará sua riqueza líquida
como um aumento de capital. Como ensinam Iudícibus et al. (2018, p. 345), o Capital Social é:
uma figura mais jurídica do que econômica, já que, do ponto de vista econômico,
também os lucros não distribuídos, mesmo que ainda na forma de Reservas,
representam uma espécie de investimento dos acionistas. Sua incorporação ao
Capital Social é uma formalização em que os proprietários renunciam a sua
distribuição. É como se os acionistas recebessem essas Reservas e a reinvestissem
na sociedade.
Lucro R$ 2.190,00
Considerações finais
Ao iniciar um planejamento para criação de uma empresa é necessário prover recursos
financeiros para realizar os investimentos necessários. Por isso, os sócios integralizam o Capital
Social, ou seja, realizam um investimento inicial por quotas de capital ou ações.
À medida que a empresa opera, suas obrigações deixam de se restringir apenas aos sócios, pois,
em virtude da aquisição de mercadorias para pagamento a prazo e da protelação de pagamento de
despesas, as obrigações se estendem também a fornecedores de mercadorias ou de insumos.
36 Fundamentos de contabilidade
Ao final, a soma dessas obrigações próprias e para com terceiros se iguala ao montante
investido em bens e em direitos, e o capital total compreende o somatório dos recursos postos à
disposição da entidade, ou seja, a soma do capital de terceiros com o capital próprio.
O Balanço Patrimonial, por ser uma demonstração contábil que apresenta um retrato da
empresa em dado momento, é considerado estático, porém, é necessário muito dinamismo para se
chegar a ele.
Você pode não conhecer fisicamente uma empresa, porém, ela se apresenta a você por meio
deste retrato. Com ele, você poderá conhecer o conjunto de bens, direitos e obrigações dessa enti-
dade; em outras palavras, você conhecerá o patrimônio dessa entidade.
Atividades
1. José, um dos sócios da empresa Alfa, solicita que o contador realize a escrituração de uma
escrivaninha que pertencia ao seu falecido avô. Ele justifica a solicitação em decorrência do
alto valor sentimental desse móvel, reconhecido por todos os sócios e familiares. O conta-
dor, na dúvida, solicita sua opinião a respeito dessa escrituração. O que você diria a ele?
2. Identifique e justifique se os itens a seguir devem ser caracterizados como bens, direitos
ou obrigações:
3. Toda a torcida de um clube de futebol, inclusive os adversários, acham que o jogador Júnior
vale muito dinheiro. Alguns torcedores e principalmente a diretoria do clube até imaginam
o valor monetário desse jogador em cifras de milhões de dólares. O presidente do clube,
visando aumentar o valor da riqueza da empresa, entende que o valor que a torcida atribui
ao jogador (que é um bem fungível, porque pode ser transferido) deve ser registrado pela
contabilidade. Você concorda com ele? Justifique sua resposta.
Referências
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/
L10406.htm. Acesso em: 14 dez. 2018.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 27: Ativo Imobilizado. Brasília, DF, 2009. Disponível
em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=58. Acesso
em: 26 dez. 2018.
FULGENCIO, P. C. Glossário Vade Mecum: administração pública, ciências contábeis, direito, economia,
meio ambiente. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as
normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
Imagine-se responsável pelos apontamentos das transações realizadas por uma pessoa ou
empresa. Certamente você se preocuparia em organizar os documentos separando os recebimentos
dos pagamentos. Após essa separação, provavelmente você organizaria as despesas, por exemplo,
em diversas categorias: alimentação, transporte, vestuário etc.
Um raciocínio lógico induziria você a pensar que como há necessidade desses apontamentos,
eles devem ser usados futuramente para eventuais conferências, controle, entre outras utilidades.
Por isso, você naturalmente usaria fichas ou folhas para registrar as transações de acordo com a
separação feita inicialmente.
A realização desse trabalho nada mais é que a utilização de um recurso contábil que se
caracteriza por reunir em um item todos os eventos da mesma natureza, no intuito de estruturar
os apontamentos de maneira homogênea e compatível, e proporcionar aos usuários dessas
informações a possibilidade de analisá-las, compará-las e exercer controle sobre elas.
Note que você planejou, executou e possibilitou o controle das transações. Em contabilidade,
o documento utilizado para essa finalidade é um plano, o qual tem como objetivo o planejamento e
a execução ordenada dos lançamentos, almejando a viabilidade do controle. Neste capítulo, vamos
entender como se organizam e se contabilizam as contas.
Na teoria materialista (que apresenta uma visão mais econômica da conta) não são as pes-
soas que contam: o que conta são as entradas e saídas de valores. As contas são classificadas como
integrais e diferenciais, sendo as integrais aquelas que representam os bens, direitos e obrigações da
empresa; enquanto as diferenciais representam o Patrimônio Líquido e suas modificações (Receitas
e Despesas).
Nos ateremos à terceira teoria, pois na contabilidade atual utiliza-se a teoria patrimonialista
e as contas são divididas em dois grupos:
• contas patrimoniais: referentes aos bens, direitos e obrigações, ou seja, aquelas relacionadas
ao patrimônio da entidade;
• contas de resultado: representam as receitas auferidas e as despesas incorridas em uma
entidade.
Assim, pode-se dizer que conta patrimonial é a denominação dada a cada um dos elementos
patrimoniais. São exemplos: Caixa, Estoques, Veículos, Duplicatas a pagar e Capital Social.
As contas patrimoniais são classificadas como Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Os bens
e os direitos são contas ativas; as obrigações com terceiros são contas passivas e o capital perten-
cente aos sócios e acionistas são contas do Patrimônio Líquido. Essa classificação pode ser melhor
visualizada na Figura 1 a seguir.
Figura 1 – Classificação das contas patrimoniais
Bens e
Ativo
direitos
Capital
Patrimônio Líquido
próprio
Além de possuir bens, direitos e obrigações, uma empresa – seja ela produtora rural, indus-
trial, comercial ou de prestação de serviços – é constituída para realizar operações que resultem
em lucro. Para isso, a empresa obtém receitas que decorrem da venda de bens ou da prestação de
serviços e incorre em despesas por consumo de bens e serviços. Denominamos de contas de resul-
tado as contas de Receitas e Despesas. Cada um dos elementos do resultado também será chamado
de conta, por exemplo: Receita de vendas, Receita de serviços, Despesas de tributos, Despesas de
salários, Despesas de aluguel, entre outros.
Estudo das contas 41
Salários
Custos e Aluguel
Despesas Juros
etc.
Contas de resultado
Vendas
Serviços
Receitas
Juros
etc.
Nome da conta
Essa expressão gráfica denomina-se razonete e consiste em uma ficha para a escrituração
contábil feita sinteticamente. O razonete tem apenas o número, o nome da conta e as colunas da
direita e da esquerda.
1 A expressão caixa provém do nome do recipiente em que era guardado o dinheiro quando não existiam cofres,
bancos etc. O comerciante colocava o dinheiro em uma caixa e o levava para casa ao final do dia.
42 Fundamentos de contabilidade
Já o razão é um livro no qual cada conta ocupa uma página e reúne um conjunto de contas.
De acordo com Sá (2002), o livro-razão tem a finalidade de registrar o que se passa em cada conta,
apresentando sua posição. A conta, em decorrência disso, é uma unidade no livro-razão2.
Com o emprego de sistemas mecanográficos, o livro-razão foi substituído por fichas soltas
que hoje estão na memória de um computador ou embutidas em sistemas operacionais avançados.
No entanto, segundo Iudícibus (1998, p. 45, grifo no original), embora as contas estejam
em seu conjunto “mantidas em um livro, ou arquivo, ou numa memória, continuam com a mesma
denominação, Razão”3. Observe no Quadro 1 como é uma folha do livro-razão.
Quadro 1 – Folha do livro-razão
Conta:
Código da conta:
Aplicações Origens
Data Histórico Saldo
Débito Crédito
Débito Crédito
2 A expressão razão é de origem italiana e provém de ragione. Na Itália, as escolas de Contabilidade são denominadas
de ragioneria, cuja tradução livre é “escola das razões”.
3 Cada uma das páginas do livro-razão refere-se a uma conta que “deve contar à outra o que aconteceu”.
Estudo das contas 43
Assim, em um mesmo lançamento, a soma dos débitos é sempre igual a dos créditos efetua-
dos. O registro, dessa maneira, obedece ao método das partidas dobradas. Segundo Hendriksen e
Van Breda (2009, p. 45), “as contas em forma de T foram desenvolvidas para indicar aumentos de
um lado e reduções do outro”.
Conclui-se que, em um mesmo lançamento, a soma dos débitos é sempre igual à dos créditos
efetuados4. A figura a seguir identifica somente uma operação: a de compra de um automóvel. Mesmo
sendo somente uma operação, os registros contábeis são realizados em duas contas.
Figura 5 – Contabilização da compra de um automóvel
Automóvel
b ito 50.000
Dé
Compra de
um automóvel
Cr
éd
ito Contas a pagar
50.000
O princípio ou axioma contábil das partidas dobradas pode ser enunciado de diversas formas:
• não há débito sem que haja o respectivo crédito;
• se um valor é debitado de uma conta, credita-se o mesmo valor em outra conta;
• não há registro no débito de uma ou mais contas sem que haja registro simultâneo, de
igual valor, a crédito de uma ou mais contas.
Os critérios para que uma conta receba lançamento a débito (lado esquerdo) ou a crédito
(lado direito) são estudados na seção seguinte.
4 A expressões débito e crédito são meramente contábeis. Assim, débito não significa algo ruim ou depreciativo e crédito
não significa algo de bom ou vantajoso. As palavras débito e crédito referem-se, exclusivamente, aos dois lados da conta.
44 Fundamentos de contabilidade
É importante ressaltar que à época de Pacioli (1494), de acordo com Iudícibus, Martins e
Carvalho (2005, p. 13),
possivelmente não se conhecia, ainda, o conceito de número negativo. Daí, por
incrível que possa parecer, haver surgido uma das maiores forças do método,
representado pela figura da dualidade débito/crédito, ou seja, os escrituradores
da época desenvolveram, a seu modo, uma espécie de nova teoria matemática
com a figura do saldo devedor e credor para suprir o que faltava. Em outras
palavras: se for debitada uma conta representativa de um Ativo, por exemplo,
quando esse, por outra operação, diminui, não se registra como número
negativo ou dedução do lançamento anterior no lado do débito, mas sim como
crédito, no lado direito, permanecendo ambos os registros, bem como valendo
seu resultado algébrico (o saldo).
Para realizar os lançamentos de acordo com o método das partidas dobradas, em conse-
quência, são considerados os aumentos ou as diminuições dos valores de cada conta.
Ativo
Débito Crédito
As contas de Resultado, por sua vez (em razão de serem unilaterais e porque ao final, se
for uma Receita, aumentará o Patrimônio Líquido e se for uma Despesa diminuirá o Patrimônio
Líquido), obedecem ao seguinte procedimento:
Estudo das contas 45
Com base nessas explicações, é oportuno resumir o mecanismo dos lançamentos a débito e
crédito das contas, como pode se observar no Quadro 2.
Quadro 2 – Resumo do mecanismo de débito e crédito
Agora, vejamos como são desenvolvidos os lançamentos nas contas por meio do método das
partidas dobradas. Para isso, é necessário seguir os seguintes passos:
• 1º passo: identificar as contas envolvidas;
• 2º passo: verificar a que grupos as contas pertencem (Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido,
Despesa ou Receita);
• 3º passo: identificar o que o fato provoca sobre o saldo das contas, se ele os aumenta ou
se os diminui;
• 4º passo: efetuar o lançamento segundo o método das partidas dobradas.
Imagine que dois cidadãos tenham resolvido constituir uma sociedade, a qual denominaram
de JJ SC, e, pelo contrato, subscreveram um capital. Entendendo que havia uma necessidade de subscrição: ato
jurídico em que
aporte de recursos inicial, cada um dos sócios integralizou sua parcela no valor de R$ 50.000,00 em sócios assumem a
O primeiro passo, como se viu, é identificar quais contas estão envolvidas no lançamento. para o patrimônio da
entidade.
Uma delas já está identificada pelo nome: Capital Social. Para determinar o nome da outra, note
que estamos falando que a integralização foi em dinheiro, logo, a conta é denominada Caixa.
5 Após a subscrição, os sócios integralizam (entregam à sociedade) o valor subscrito, em dinheiro ou em bens
suscetíveis de avaliação monetária.
46 Fundamentos de contabilidade
O segundo passo é identificar a que grupos as contas pertencem: o Caixa pertence ao Ativo
e o Capital Social ao Patrimônio Líquido. O terceiro passo é identificar o que o fato provoca sobre
o saldo das contas. Como esses são os lançamentos iniciais, as contas identificadas não possuem
saldo, isso significa que mesmo assim o fato irá provocar um lançamento.
O quarto passo é efetuar o lançamento de acordo com o método das partidas dobradas: a con-
ta Caixa é uma conta ativa e está aumentando, por isso recebe lançamento a débito. A conta Capital
Social é uma conta de Patrimônio Líquido que está aumentando e, por isso, recebe lançamento
a crédito.
Desconsiderando os centavos para fins didáticos e considerando que as contas – em virtude
de não terem sido ainda codificadas – serão enumeradas na ordem em que aparecerem a partir
daqui, os lançamentos serão realizados da seguinte maneira:
Figura 7 – Aporte inicial de recursos
3. Despesas de organização
(2) 2.000
Note que a conta Capital Social permaneceu inalterada, pois o evento relatado não tem
relação com essa conta.
Estudo das contas 47
5. Duplicatas a pagar
1.000 (3)
Nota-se aqui que as contas Capital Social e Despesas de organização não receberam lança-
mentos em decorrência de o evento não se referir a elas.
O quarto evento da empresa se deu logo nos primeiros dias, quando a empresa conseguiu
realizar um serviço que gerou uma receita de R$ 5.000,00. Desse valor, 30% foi recebido em
dinheiro. Para o restante, a empresa emitiu uma fatura de R$ 3.500,00 para recebimento em 30 dias.
Aqui também devem ser utilizadas três contas: Caixa, Receita de serviços e Duplicatas a
receber. A conta Caixa é ativa e está aumentando, assim, recebe lançamento a débito. Duplicatas
a receber é uma conta ativa que está aumentando, dessa forma, recebe lançamentos a débito.
Já a conta Receita de serviços, em razão de ser uma receita, recebe lançamento a crédito. Veja os
lançamentos na Figura 9 a seguir.
48 Fundamentos de contabilidade
7. Duplicatas a receber
(4) 3.500
Da mesma maneira que nos casos anteriores, constata-se que algumas contas permanecem
inalteradas porque não têm relação com o evento, então não recebem lançamentos.
Repare que na conta Caixa, tanto na coluna do débito quanto na de crédito, aparecem a
totalização de dois valores. Significa, até o momento, que entraram no Caixa (débito) R$ 101.500,00
e saíram do Caixa (crédito) R$ 2.900,00. Será que os lançamentos pelo método das partidas dobra-
das estão corretos?
No exemplo que exploramos, utilizamos poucos eventos. Imagine, porém, os milhares de
eventos que são realizados por uma empresa real. Essa quantidade poderia gerar lançamentos
incorretos, por isso há necessidade da montagem de um Balancete de Verificação, que é um
relatório contábil gerado periodicamente com o objetivo de verificar eventuais distorções nos
saldos das diversas contas. Esse relatório é elaborado com base nos valores lançados a débito de
cada conta para confirmar se o método das partidas dobradas foi realizado adequadamente, isto é,
se os valores lançados a débito são iguais aos lançados a crédito. A seguir, é apresentado o Balancete
de Verificação.
Estudo das contas 49
Como elucidado anteriormente – e verificado pela ordem sequencial das contas que com-
põem o Balancete de Verificação –, em decorrência de as contas ainda não terem sido codificadas,
elas foram enumeradas na ordem em que surgiram os lançamentos. A codificação das contas é
realizada a partir da elaboração de um plano de contas, assunto que estudamos na seção seguinte.
1. Ativo
2. Passivo
3. Custos e Despesas
4. Receitas
50 Fundamentos de contabilidade
Por meio dessa graduação, as contas são inseridas hierarquicamente, relacionando-se entre
si como se fossem uma família. De acordo com Padoveze (2018), o elemento denominado Bancos
conta corrente, por exemplo, é a mãe da conta Banco do Brasil; é possível dizer ainda que o Banco
do Estado e o Banco do Brasil são filhas de Bancos conta corrente.
Se utilizarmos, por exemplo, a conta Fornecedores – que sintetiza quem fornece insumos ou
produtos e concede ao adquirente prazo para pagamento –, podemos estabelecer a hierarquia das
contas de acordo com a Figura 11.
Figura 11 – Hierarquia das contas
1º grau 2. Passivo
2.1.1.1.1 – JotaJota
5º grau
2.1.1.1.2 – JotaKa
1. Ativo
1.1 Ativo Circulante
1.1.1 Disponibilidades
1.1.2 Duplicatas a receber
1.1.3 Estoques
1.2 Ativo não Circulante
1.2.1 Realizável a longo prazo
1.2.2 Investimentos
1.2.3 Imobilizado
1.2.4 Intangível
2. Passivo
2.1 Passivo Circulante
2.1.1 Duplicatas a pagar
2.1.2 Salários a pagar
2.2 Passivo não Circulante
2.2.1 Financiamentos
2.2.2 Tributos refinanciados
2.3 Patrimônio Líquido
2.3.1 Capital Social
2.3.2 Reservas de Lucros
3. Despesas e Custos
3.1 Custo das mercadorias vendidas
3.2 Despesas com vendas
3.3 Despesas financeiras
3.4 Despesas gerais e administrativas
4. Receitas
4.1 Receita de vendas
4.2 Receita de serviços
4.3 Tributos incidentes sobre vendas
4.4 Abatimentos e diferenças de preços
Fonte: Elaborado pelo autor.
52 Fundamentos de contabilidade
Considerações finais
Pelo explicitado neste capítulo, foi possível entender que o plano de contas pode ser consi-
derado um elo de comunicação entre os diversos setores de uma empresa e o mundo exterior a ela,
incluindo clientes, bancos, fornecedores e outros.
Se não existir um plano de contas ou se ele não possibilitar a escrituração adequada dos
eventos contábeis que ocorrem em uma empresa, as improvisações para esses registros podem
produzir dissabores a todos os que dependem da informação contábil.
Atividades
1. As leis brasileiras que regem a estrutura das contas patrimoniais dividem-nas em cinco
grandes grupos. Identifique-os em contas do Ativo e do Passivo e indique suas funções em
termos de registros contábeis.
2. Um plano de contas pode ser elaborado com o intuito de adequar-se apenas ao cumprimento
da lei ou pode ser produzido para, além dessa obrigatoriedade, auxiliar os gestores nas
tomadas de decisões. Indique os dois planos de contas e explique a diferença entre eles.
3. Por que as contas podem ser hierarquicamente chamadas de “mãe” e “filha”? Dê exemplos
dessa classificação.
Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 30 out. 2018.
BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, Poder Legislativo, DF, 28
maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 16 nov. 2018.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 16 (R1): Estoques. Brasília, DF, 2009. Disponível em:
http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/243_CPC_16_R1_rev%2013.pdf. Acesso em: 27 dez. 2018.
HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.
IUDÍCIBUS, S. et. al. Contabilidade introdutória. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Introdução à teoria da contabilidade: para o nível de graduação. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2002.
PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: uma introdução à prática contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
1 O Simples Nacional é um regime tributário diferenciado que abrange as empresas com receita bruta anual de até
R$ 4,8 milhões. Os objetivos do regime são: 1. abranger todos os tributos devidos pela empresa em uma só rubrica,
minimizando, em muito, a carga tributária; e 2. dispensar a escrituração de livros e da elaboração das demonstrações
financeiras (BRASIL, 2017).
56 Fundamentos de contabilidade
Balanço Patrimonial
Ativo Passivo
Patrimônio Líquido
Neste capítulo vamos discorrer sobre esses três elementos que compõem o Balanço Patrimonial
(Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido), apresentando suas funções e a importância de cada um para o
retrato do patrimônio de uma entidade.
International Financial Reporting Standards2 (IFRS). Dadas as modificações introduzidas por essas leis
na Lei das Sociedades por Ações, pode-se afirmar com base no art. 178 desta última, que
no balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio
que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da
situação financeira da companhia. [...] No ativo, as contas serão dispostas em
ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos
seguintes grupos:
I – ativo circulante; e
II – ativo não circulante, composto por ativo realizável a longo prazo, investi-
mentos, imobilizado e intangível.” (BRASIL, 1976)
As disposições detalhadas nesse artigo (já alterado pela Lei n. 11.941/2009) têm o propósito
de enumerar detalhadamente todos os bens e direitos da companhia que já vinham sendo imple-
mentados pelos comitês.
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado em 2005 e tem como objetivo
estudar, preparar e emitir pronunciamentos técnicos sobre procedimentos contábeis. O CPC é o
órgão regulador brasileiro do processo de produção de normas, e tem como intuito de adequar a
contabilidade brasileira aos padrões internacionais.
2 As Normas Internacionais de Informação Financeira são emitidas pelo International Accounting Standards Board –
IASB (Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade), o qual tem como objetivo uniformizar os procedimentos
contábeis a nível mundial.
58 Fundamentos de contabilidade
De acordo com o CPC 00 (CPC, 2011), que define a estrutura conceitual para a elaboração
e apresentação das demonstrações contábeis, “ativo é um recurso controlado pela entidade como
resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para
a entidade” (CPC, 2011). Da mesma maneira, esse pronunciamento define que para se enquadrar
na definição de Ativo, deve-se atentar não só para a forma legal, mas também para sua essência
subjacente, o que caracteriza a primazia da essência sobre a forma.
Por exemplo, imagine que uma empresa adquiriu via pagamento à vista mercadorias para
revenda e depois constatou que não havia caixa suficiente para pagar o valor da compra. O con-
tador resolveu, então, lançar o valor do Estoque (Ativo), porém, pela inexistência de numerário,
resolveu lançar a contrapartida na conta de Duplicatas a pagar.
Sabemos que a duplicata é um documento que comprova operações de compra a prazo,
não correspondendo, portanto, a uma operação à vista. Nesse caso, existe um documento formal:
a nota fiscal. Contudo, a essência dessa operação consiste no fato de não ter sido realizada a prazo;
em decorrência disso, há necessidade de se alterar o conteúdo da nota fiscal para atender à forma e
à essência. Outro exemplo de primazia da essência é trazido pelo CPC de 2011, ao discorrer sobre
uma operação de arrendamento mercantil.
Assim, por exemplo, no caso do arrendamento mercantil financeiro, a essência
subjacente e a realidade econômica são a de que o arrendatário adquire os
benefícios econômicos do uso do ativo arrendado pela maior parte da sua
vida útil, em contraprestação de aceitar a obrigação de pagar por esse direito
valor próximo do valor justo do ativo e o respectivo encargo financeiro. Dessa
forma, o arrendamento mercantil financeiro dá origem a itens que satisfazem à
definição de ativo e de passivo e, portanto, devem ser reconhecidos como tais no
balanço patrimonial do arrendatário. (CPC, 2011)
3 São exemplos de documentação comprobatória de perdas: laudos do corpo de bombeiros, saúde pública, polícia,
autoridades sanitárias ou Poder Judiciário.
Balanço Patrimonial 59
Por outro lado, há certos itens que embora apresentem potencial para a obtenção de
benefícios futuros, não são evidenciados no Balanço. Isso ocorre porque esses itens não podem ser
avaliados em dinheiro, ou, ainda que possam ser avaliados monetariamente, não é possível ativá-
-los. Um exemplo disso é o goodwill, expressão que pode ser traduzida como “clientela” e representa
o valor do ponto comercial.
Outro exemplo dessa situação seria a propriedade de uma banca de revistas localizada em
um ponto de grande movimentação de público e outra, com as mesmas características físicas,
mas que se encontra em um local com pouca movimentação de transeuntes: certamente o valor do
ponto comercial da primeira banca é maior que o valor da segunda.
O “nome” e a “marca” também podem representar algo valioso para a entidade, mas quase
nunca aparecem no Balanço em decorrência da dificuldade de atribuir-lhes um valor objetivo.
Tanto o goodwill quanto o nome e a marca podem ser contabilizados se houver um valor
objetivo obtido por documento probante de negociação ou pelo pagamento da criação da marca.
Como exemplo, podemos citar a contabilização de um craque do futebol “formado” por um clube:
esse profissional não pode ter seu valor contabilizado no Ativo por ter se tornado um grande craque
durante seu crescimento no clube, diferentemente de outros jogadores adquiridos, que possuem
valores objetivos expressos nos contratos de negociação e que, portanto, constarão no Intangível.
O Ativo, que é uma conta de 1º grau, é subdivido em Ativo Circulante e Ativo não Circulante
que, por sua vez, são contas de 2º grau. As contas constantes no Ativo Circulante, que são de
3º grau, envolvem transações mais numerosas que, no dizer de Marion (2015, p. 74), “são contas que
estão constantemente em movimento, isto é, seus saldos são frequentemente alterados”. Essas contas
são caracterizadas pelo giro e seus elementos patrimoniais são:
• as disponibilidades;
• os direitos realizáveis no curso do exercício social subsequente;
• os estoques; e
• as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte.
Cada um desses grupos contém outras contas, as quais são classificadas como Contas de
4º grau, como se demonstra no quadro a seguir:
Quadro 1 – Contas de 4º grau do Ativo Circulante
1. Ativo
1.1 Ativo Circulante
1.1.1 Disponibilidades
1.1.1.1 Caixa e equivalentes de caixa
1.1.1.2 Bancos
1.1.1.3 Aplicações financeiras de liquidez imediata
1.1.2 Direitos realizáveis
1.1.2.1 Duplicatas a receber (clientes)
(Continua)
60 Fundamentos de contabilidade
A primeira conta que aparece no Ativo é a conta Disponibilidades. Nesse grupo, o destaque é
para a conta Caixa, que de acordo com normas internacionais também engloba os recursos equiva-
lentes, ou seja, cheques em mãos e em trânsito, que representam recursos com livre movimentação
para aplicação nas operações da empresa.
É importante observar que as contas relacionadas sejam de utilização da entidade. O conjunto
de estoques, por exemplo, indica que o plano pertence a uma empresa industrial, tendo em vista
a necessidade de estocar produtos em elaboração e matéria-prima. Em uma empresa mercantil, o
estoque seria apenas de mercadorias.
O último grupo de contas do Ativo Circulante é o de Despesas do exercício seguinte, o qual
representa valores pagos cujos benefícios ocorrerão em período futuro. Quando da contratação
de um seguro, por exemplo, para aproveitar descontos, a empresa paga o valor da despesa à vista,
embora o período de cobertura seja de doze ou mais meses. Dessa maneira, o valor pago não se
refere ao mês do pagamento, mas aos diversos meses de vigência do seguro, período no qual a
organização tem o direito de ser ressarcida na ocorrência de um fato fortuito. Decorre desse direito
futuro o lançamento de uma despesa em uma conta do Ativo.
As contas do Ativo não Circulante, também de 3º grau, envolvem transações referentes a
bens e direitos de vida mais longa, ou seja, seus valores não são alterados frequentemente, já que
não há uma conotação de giro. Seus elementos patrimoniais são:
• Realizável a longo prazo
• Investimentos
Balanço Patrimonial 61
• Imobilizado
• Intangível
Aqui, também, cada um dos grupos de contas possui outras contas a eles vinculadas, que são
classificadas como sendo de 4º grau, como se demonstra a seguir:
Quadro 2 – Contas de 4º grau do Ativo não Circulante
1. Ativo
1.2 Ativo não Circulante
1.2.1 Realizável a longo prazo
1.2.1.1 Duplicatas a receber (clientes)
1.2.1.2 Tributos a recuperar
1.2.1.3 Aplicações financeiras de liquidez de longo prazo
1.2.1.4 Outros valores a receber
1.2.2 Investimentos
1.2.2.1 Participações permanentes em outras sociedades
1.2.2.2 (-) Perdas estimadas
1.2.2.3 Investimentos em incentivos fiscais
1.2.2.4 Obras de arte
1.2.3 Imobilizado
1.2.3.1 Terrenos
1.2.3.2 Obras civis
1.2.3.3 Instalações
1.2.3.4 Máquinas e equipamentos
1.2.3.5 Móveis e utensílios
1.2.3.6 Veículos
1.2.3.7 Obras em andamento
1.2.3.8 (-) Depreciação acumulada
1.2.4 Intangível
1.2.4.1 Direitos federativos
1.2.4.2 Marcas e patentes
1.2.4.3 Direitos sobre recursos naturais
1.2.4.4 Pesquisa e desenvolvimento
1.2.4.5 (-) Amortização acumulada
Fonte: Elaborado pelo autor.
62 Fundamentos de contabilidade
Algumas contas ativas merecem uma breve explicação, pois, como verifica-se, são pre-
cedidas por sinal negativo. Vamos tratar deste assunto a seguir, fundamentando os ajustes nas
contas ativas.
3. Despesas de provisão
para devedores duvidosos 4. Provisão para devedores duvidosos
1. Ativo
Demonstração do Resultado
Como se nota na Tabela 1, há um valor que reduz os Direitos a receber, pela expectativa de
perda. Na Tabela 2, podemos observar o impacto dessa perda no Resultado do período. Na sequên-
cia, constatamos que no grupo de Estoques também há uma conta redutora, que foi denominada
Provisão para ajuste de estoques. Essa conta registra as perdas decorrentes de avarias, estragos,
danos verificados e obsolescência dos itens constantes nos estoques, de modo que eles sejam regis-
trados pelo valor realizável líquido.
Suponhamos que determinada empresa, em decorrência de uma tempestade, tenha sofrido
avarias nos componentes dos estoques. A primeira medida é buscar na autoridade competente –
neste caso, no Corpo de Bombeiros – um laudo pericial que documente essa perda.
O problema é que há necessidade de se promover diversos atos que demandam tempo para
realização e a empresa não pode realizar de imediato a baixa dos itens afetados. Por isso, realiza-se
uma provisão para ajustes. Vejamos como será esse lançamento, supondo que o estoque apontado
pela contabilidade seja de R$ 50.000,00, e as perdas, de R$ 6.000,00.
Tecnicamente, os valores referentes às diminuições não podem ser lançados diretamente na
conta de Estoques, por isso são lançados em contas distintas, como se vê nos razonetes 2 e 3 da
Figura 3.
64 Fundamentos de contabilidade
Verificamos que o valor referente aos estoques permanece inalterado. Esse valor e o da
Provisão para ajuste de estoques serão ao final do período contábil transferidos para o Balanço,
como se vê Tabela 3.
Tabela 3 – Composição das contas dos estoques líquidos
1. Ativo
Por isso, de acordo com a Lei n. 11.638/2007, “os elementos do ativo decorrentes de
operações de longo prazo serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando
houver efeito relevante” (BRASIL, 2007). Complementando esse entendimento, o Pronunciamento
Técnico CPC 12 (CPC, 2008) determina que os recebíveis devem ser ajustados a valor presente com
base em taxas de retorno que reflitam as avaliações do mercado.
Vamos imaginar que uma empresa possua uma Duplicata a receber proveniente de vendas
a prazo para daqui a 367 dias, ou seja, para depois do ano seguinte. O valor da duplicata é de
R$ 90.000,00 e a taxa de retorno, denominada pela matemática financeira como taxa de desconto,
é de 10% ao ano. A questão que se apresenta é: quanto será esse valor depois de um ano, já que
a duplicata valerá 10% a menos? A resposta pode ser obtida trazendo esse valor a valor presente
líquido (VPL), que é calculado por meio da fórmula de juros compostos:
1
(1 + i)n
o fator que determinará o VPL será 1 , ou seja, 0,909. Isso significa que daqui a um ano a
(1,10)n
duplicata corresponderá somente a 90,9% de seu valor atual, representando uma perda de 10%.
Assim, ao multiplicar o fator 0,909 por R$ 90.000,00, concluímos que o valor do realizável
trazido a valor presente é de R$ 81.818,18. A diferença entre R$ 90.000,00 e R$ 81.818,18, ou seja,
R$ 9.818,82, será debitada da Receita bruta de vendas e creditada em Ajuste a valor presente, que
é uma conta redutora das Duplicatas a receber a longo prazo. Os lançamentos em razonete podem
ser vistos na figura a seguir.
Figura 4 – Lançamento dos ajustes nos recebíveis de longo prazo
1. Ativo
Note que os bens registrados no imobilizado são depreciados, os bens e direitos contabilizados
no intangível são amortizados e os bens de recursos naturais são exauridos.
A depreciação, a amortização e a exaustão devem ser entendidas como medidas de perda de
utilidade do bem de uso, representadas por quotas periódicas – mês, trimestre ou ano – computadas
como custo ou despesa de cada exercício.
Existem diversos métodos para efetuar os cálculos de depreciação e amortização. De acordo
com Iudícibus et al. (2018), o método mais utilizado é o de quotas uniformes, também chamado
de quotas constantes. Por meio desse método, a depreciação é calculada dividindo-se o valor do
Imobilizado ou do Intangível pelo tempo de vida útil do objeto em questão.
Imagine uma máquina adquirida e registrada por R$ 200.000,00 e que, de acordo com as
especificações técnicas definidas pelo fabricante, tenha uma vida útil de dez anos. Para se calcular
sua depreciação anual, basta dividir R$ 200.000,00 por 10 anos: o resultado é R$ 20.000,00 ao ano.
Para determinar a depreciação mensal, divide-se os R$ 20.000,00 por 12 meses. Assim, a de-
preciação mensal será de R$ 1.666,67. A depreciação diária é o valor resultante da divisão do valor
mensal por 30 dias. Se um produto demanda segundos para ser produzido, o cálculo deve ser feito
em cima da hora trabalhada: divide-se as horas em minutos e estes em segundos para chegar ao
custo da depreciação por segundo. O mesmo método é utilizado para a amortização do Intangível.
O último agrupamento refere-se aos registrados como recursos naturais. Uma floresta,
por exemplo, é comprada com a finalidade de extrair árvores que resultem em madeira; uma
jazida de calcário é utilizada para que a extração resulte em produção de cimento, entre outros
empreendimentos.
A exaustão é a denominação que acompanha a extração desse calcário ou o corte das árvores.
Para se determinar o valor da exaustão, toma-se o valor que foi pago pela reserva mineral ou florestal
e divide-se pela possança4 conhecida. Assim, será possível saber o valor de cada m3, m2, tonelada ou
4 Possança é a denominação que se dá ao volume de minério previsto em uma jazida ou à quantidade de árvores exis-
tentes em uma floresta
68 Fundamentos de contabilidade
outras unidades de medida. Cada vez que os recursos minerais ou florestais vão se exaurindo, regis-
tra-se na contabilidade o valor de cada unidade de medida.
Vamos imaginar que uma área florestal foi adquirida por R$ 1.000.000,00 e possuía 2.000
árvores. Cada árvore custa, em consequência, R$ 500,00 (R$ 1.000.000,00 / 2.000). Assim, cada
árvore abatida gera um lançamento contábil referente à exaustão no valor de R$ 500,00.
Tendo conhecido as características dos Ativos, agora vamos conhecer as origens ou financia-
mentos de recursos que representam as obrigações registradas no Passivo.
2. Passivo
2.1 Passivo Circulante
2.1.1 Fornecedores (duplicatas a pagar)
2.1.2 Encargos trabalhistas
2.1.2.1 Salários a pagar
2.1.2.2 Provisão para férias
2.1.2.3 Provisão para terço de férias
2.1.2.4 FGTS a recolher
2.1.2.5 Participação nos resultados a pagar
2.1.2.6 Provisão para demandas trabalhistas
2.1.3 Tributos e contribuições a pagar
2.1.3.1 INSS a recolher
2.1.3.2 Outros encargos sobre a folha a pagar
(Continua)
5 Os saldos bancários a descoberto ocorrem quando a empresa emite um cheque especial ou possui uma conta cor-
rente garantida, que é uma modalidade em que o banco liquida o cheque mesmo que ele não tenha fundos, pois existem
garantias contratuais.
70 Fundamentos de contabilidade
A Figura 6 representa uma situação ideal de capital de giro, isto é, uma situação na qual todo
o Passivo Circulante financia os valores investidos em Duplicatas a receber e em Estoques, pois os
valores aplicados nessas contas serão convertidos em dinheiro em um pequeno intervalo de tempo.
Não é adequado que uma obrigação de curto prazo (Passivo Circulante) financie uma aplicação em
Imobilizado (Ativo não Circulante), pois este não será vendido pela empresa.
Em finanças, adota-se também um modelo que desmembra tanto as contas do Ativo Circulante
quanto as do Passivo Circulante em dois grupos. Esse modelo, proposto por Fleuriet (1978), leva em
consideração a sua ligação com a atividade operacional da empresa. Em consequência disso, as contas
cíclicas e não cíclicas são divididas em grupos, de modo a poder calcular adequadamente a necessi-
dade de capital de giro.
As contas não cíclicas, embora classificadas no Ativo Circulante, não estão estritamente
relacionadas ao ciclo operacional. No Ativo, podemos citar a conta Caixa, pois nela são registradas
algumas entradas não provenientes do ciclo operacional, por exemplo, a entrada de recursos
Balanço Patrimonial 71
No preço cobrado por uma entidade pela venda de um produto, está inserido o ICMS.
O valor desse imposto deverá ser pago ao Estado oportunamente, assim, é um recurso que perma-
nece temporariamente na empresa, devendo ser excluído da Receita de vendas. Como é necessário
identificar seu valor, ele é lançado em uma conta à parte, no caso, na conta 3 (ICMS sobre vendas).
Dessa maneira, a Receita Líquida de Vendas será de R$ 220.000,00 (R$ 250.000,00 – R$ 30.000,00).
Como a empresa deverá pagar ao Estado o valor do ICMS, a contrapartida da conta de ICMS
sobre vendas será na conta de ICMS a pagar, que constará no Passivo Circulante, na conta ICMS a
recolher ou a pagar.
Outro exemplo refere-se ao pagamento de salários. Como a empresa, em decorrência do
permissivo da legislação trabalhista, poderá pagar o salário no mês seguinte ao do fato gerador6,
o apontamento da despesa de salário ocorrerá no mês em que ele se realizou e, como não foi
pago, constitui-se uma obrigação de Salários a pagar. Supondo que o valor do salário seja de
R$ 30.000,00, a despesa será lançada em Despesas de salários e a contrapartida em Salários a pagar,
como pode ser visualizado na Figura 8.
Figura 8 – Lançamento nas contas de Despesas de salários a Salários a pagar
A conta 1 reflete a conta de Despesas de salários, que deve ser lançada no mês da ocorrência
do fato, ou seja, no mês em que se realizou o trabalho. Como ele não foi pago no mês (pois será pago
no mês seguinte), a empresa assume uma obrigação que é registrada na conta 2, em seu encerra-
mento, que constará no Passivo Circulante, na conta Salários a pagar.
As contas do Passivo não Circulante, também de 3º grau, envolvem transações referentes a
obrigações exigíveis em longo prazo e têm características de financiamento.
Enquanto no Ativo as contas de Realizável a longo prazo são classificadas como um subgrupo
do Ativo não Circulante, do qual fazem parte os grupos de Investimentos, Imobilizado e Intangível.
No Passivo, as contas com vencimento de longo prazo são classificadas em um grupo de contas
separado, denominado Passivo não Circulante.
Do mesmo modo, cada um desses grupos de contas possui outras contas classificadas em
3º e 4º graus, como demonstrado no quadro a seguir:
6 O mês do fato gerador dos salários é o mês em que o trabalho se realizou. Assim, os salários de janeiro referem-se
ao trabalho realizado pelos funcionários no mês de janeiro e são despesas do mês de janeiro.
Balanço Patrimonial 73
2. Passivo
2.2 Passivo não Circulante
2.1.1 Fornecedores (duplicatas a pagar)
2.1.2 Provisão para demandas trabalhistas
2.1.3 Tributos e contribuições a pagar
2.1.3.1 Imposto de Renda a recolher
2.1.3.2 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido a recolher
2.1.3.3 ICMS a recolher
2.1.4 Instituições financeiras nacionais
2.1.4.1 Empréstimos
2.1.4.2 Saldos bancários a descoberto
2.1.5 Instituições financeiras internacionais
2.1.6 Outras obrigações
Fonte: Elaborado pelo autor.
Da mesma maneira que vimos no Ativo, de acordo com Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007),
os elementos integrantes do Passivo não Circulante decorrem de operações de longo prazo (supe-
rior a um ano).
Para a avaliação das exigibilidades de longo prazo, utiliza-se o mesmo critério utilizado
para avaliar o Realizável a longo prazo do Ativo, ou seja, são ajustadas a valor presente líquido
(VPL). Se as obrigações forem em moeda estrangeira, é exigida a conversão para a moeda nacional,
consoante o disposto no art. 184 da Lei n. 6.404/1976:
no balanço, os elementos do passivo serão avaliados de acordo com os seguintes
critérios:
I – as obrigações, encargos e riscos, conhecidos ou calculáveis, inclusive Imposto
sobre a Renda a pagar com base no resultado do exercício, serão computados
pelo valor atualizado até a data do balanço;
II – as obrigações em moeda estrangeira, com cláusula de paridade cam-
bial, serão convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na
data do balanço.
III – as obrigações, os encargos e os riscos classificados no passivo não circulante
serão ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando houver
efeito relevante. (BRASIL, 1976)
Cabem ainda considerações sobre as provisões que, de acordo com Iudícibus et al. (2018),
para serem constituídas precisam atender aos seguintes itens:
• existência de obrigação legal presente como consequência de um evento passado;
• probabilidade de que os recursos sejam exigidos para liquidar a obrigação;
• possibilidade de o valor da obrigação ser estimado com segurança suficiente.
74 Fundamentos de contabilidade
Vamos supor que a Receita Federal tenha lavrado um auto de infração contra uma empresa.
Analisado esse fato, a assessoria jurídica entende que existe a possibilidade de ele ser anulado,
porém, para isso há necessidade de a empesa impetrar recursos.
Entretanto, o debate jurídico pode não ser bem-sucedido e, após dois anos ou mais, o auto
de infração pode ser julgado procedente, obrigando a entidade a efetuar o pagamento. Assim, esse
será um evento passado, com probabilidade liquidação e o valor está expresso com suficiente segu-
rança, por isso ele é considerado uma provisão.
O último grupo de contas que será objeto de nossa análise neste capítulo é o Patrimônio
Líquido, que veremos a seguir.
De acordo com Marion (2015, p. 48), “a verdadeira riqueza de uma empresa são os bens
e direitos (Ativo) menos as obrigações (Passivo) da empresa para com terceiros”. Essa definição
justifica a equação básica do Patrimônio Líquido, utilizada para identificar a riqueza de uma pessoa
física ou jurídica:
PL = A – P
Além da doutrina exposta por Marion (2015), no mesmo sentido, para o CPC 00, o Patrimônio
Líquido “é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos”
(CPC, 2011).
É fácil entender o conceito de riqueza líquida (conhecido como Patrimônio Líquido) ao rela-
cionarmos uma empresa com uma pessoa física. Imagine que uma pessoa possua R$ 1.200,00 em sua
conta no banco e tenha direito a receber de R$ 5.000,00 ao final do mês. Essa pessoa também possui
um automóvel inteiramente pago no valor de R$ 25.000,00 e um apartamento de R$ 180.000,00,
comprado junto ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), devendo ainda 80 prestações de
R$ 1.000,00. Seu patrimônio pode ser demonstrado da seguinte maneira:
Tabela 5 – Patrimônio de uma pessoa física
Ativo Passivo
Depósito no banco R$ 1.200,00 Dívidas com o SFH R$ 80.000,00
Direito ao salário R$ 5.000,00
Automóvel R$ 25.000,00 Patrimônio Líquido (A – P) R$ 131.200,00
Apartamento R$ 180.000,00
De acordo com o art. 178 da Lei n. 6.404/1976, no Passivo as contas também podem ser
classificadas no seguinte grupo: “III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital,
ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados”
(BRASIL, 1976). Note que a Lei considera o Patrimônio Líquido como Passivo, representando como
obrigações da empresa os valores pertencentes aos sócios ou acionistas.
O Passivo é uma conta de 1º grau. Como se viu no texto transcrito da Lei n. 6.404/1976
(BRASIL, 1976), ele é subdivido em Passivo Circulante, Passivo não Circulante e Patrimônio
Líquido, que são contas de 2º grau. Com relação ao Patrimônio Líquido, vamos apresentar cada
um dos grupos de contas que são classificadas como de 3º e 4º graus no Quadro 5 a seguir.
Quadro 5 – Contas de 3º e 4º graus do Patrimônio Líquido
2. Passivo
2.3 Patrimônio Líquido
2.3.1 Capital Social
2.3.1.1 Capital subscrito
2.3.1.2 Capital a integralizar
2.3.2 Reservas de capital
2.3.3 Ajustes de avaliação patrimonial
2.3.4 Reservas de lucros
2.3.5 (-) Ações em tesouraria
2.3.6 (-) Prejuízos acumulados
7 Porto Maravilha é a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro S.A.
76 Fundamentos de contabilidade
Como se vê, os acionistas não realizaram totalmente o capital subscrito e têm “uma dívida”
para com a sociedade no sentido de que falta integralizar o valor registrado nesse título (no exem-
plo, R$ 117.477,00) no ano de 2015.
Após o grupo de contas referentes ao Capital Social, aparece o grupo das Reservas de Capital.
As contas que compõem esse grupo não provêm do resultado do período, por isso, não transitam
pela Demonstração do Resultado. São aportes de recursos vinculados ao capital, porém não podem
ser computados de imediato como capital. A justificativa é que o Capital Social possui um valor
nominal declarado nos estatutos e esse valor só pode ser alterado por meio de decisão societária
tomada em Assembleia Geral Extraordinária (AGE).
Um bom exemplo desse grupo de contas é o ágio ou deságio na venda das ações. Quando uma
empresa emite novas ações e as coloca à venda, pode acontecer de o investidor comprá-las por
maior valor que o valor nominal (valor de face) da ação ao considerar que será um bom investi-
mento e que poderá vendê-la com lucro.
O valor que exceder o valor nominal da ação deverá ser contabilizado como ágio na emissão
de ações. Esse valor fica nessa conta até que ocorra a Assembleia Geral Extraordinária, que aprova
sua transformação em capital. Por outro lado, se o investidor pagar um valor menor do que o valor
nominal da ação, verifica-se um deságio na emissão das ações. O ágio e o deságio constituem reser-
vas de capital, o primeiro aumentando e o segundo diminuindo o Patrimônio Líquido.
Os valores de Ativo e de Passivo sofrem variações em decorrência de sua avaliação a preço
de mercado (valor justo). As contrapartidas dos ajustes das contas ativas e passivas, enquanto não
computadas no Resultado do exercício, constituirão a conta de Ajuste de Variação Patrimonial.
As contas de Reservas de lucros, diferentemente das contas de Capital, provêm do resultado
do exercício. Destacam-se as discriminadas na Lei n. 6.404/1976.
Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de
qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá
de 20% (vinte por cento) do capital social. [...] O estatuto poderá criar reservas
desde que, para cada uma: I - indique, de modo preciso e completo, a sua fina-
lidade; II - fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos
que serão destinados à sua constituição; e III - estabeleça o limite máximo da
reserva. [...] A assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos da adminis-
tração, destinar parte do lucro líquido à formação de reserva com a finalidade
Balanço Patrimonial 77
De acordo com Azevedo (2016), diversas empresas deixaram de ter ações negociadas na bol-
sa de valores em 2017. O fechamento de capital ocorre principalmente quando o valor de mercado
das companhias começa a cair drasticamente por razões diversas ou quando seu produto sofre
restrições no mercado. Um bom exemplo de perda de valor seria o das indústrias tabagistas em
virtude das campanhas publicitárias voltadas aos prejuízos causados pelo tabaco.
No mesmo sentido, as indústrias que utilizam a fibra de amianto para fabricar caixas e
condutores de água tiveram quedas bruscas e irrecuperáveis no valor de suas ações, motivadas
pelos prejuízos que o amianto causa à saúde (como o câncer), por isso fecham o capital. Quando as
entidades resolvem fazer isso, elas devem adquirir suas próprias ações e registrá-las como redução
de Patrimônio Líquido, sob o título Ações em tesouraria. Neste grupo também se incluem as ações
que ainda não foram vendidas.
Explicitada a estrutura do Patrimônio Líquido a ser observada por todas as empresas brasi-
leiras, vamos visualizar qualitativamente e quantitativamente o Patrimônio Líquido apresentado
pela Gerdau S.A. Nas colunas 1 e 2 são apresentados os dados da controladora em 31 de dezembro
de 2017 e de 2016; já nas colunas 3 e 4 são apresentados dados consolidados de 31 de dezembro de
2017 e de 2016.
Figura 10 – Demonstração do Patrimônio Líquido da empresa GERDAU.
Patrimônio Líquido 22
Capital Social 19.249.181 19.249.181 19.249.181 19.249.181
Ações em tesouraria (76.085) (98.746) (76.085) (98.746)
Reserva de Capital 11.597 11.597 11.597 11.597
TOTAL DO PASSIVO E DO
PATRIMÔNIO LÍQUIDO 32.423.852 32.888.695 50.301.761 54.635.141
Não Circulante: aplicações de recursos em bens e direitos Não Circulante: obrigações exigíveis em longo prazo, que
que se realizarão em longo prazo ou serão mantidos para uso serão liquidadas com prazo superior a um ano.
das empresas.
Patrimônio Líquido: recursos dos proprietários aplicados
Realizável em longo prazo: aplicações de recursos em bens e na entidade, compreendendo os seguintes itens:
direitos que se realizarão em longo prazo ou serão mantidos
para uso das empresas. • Capital: participação inicial dos sócios ou acionistas.
Investimentos: inversões financeiras de caráter permanente • Reservas de Capital: compreende o ágio, as doações
(como ações de outras companhias) que geram rendimentos e as subvenções para investimentos.
e não são necessários à atividade operacional da companhia.
• Reservas de lucros: contas constituídas pela apro-
Imobilizado: itens de natureza permanente, denominados
priação de lucros da companhia.
de bens de uso, que serão utilizados para a manutenção das
atividades da companhia. • Prejuízos acumulados: saldo remanescente da DRE
Intangível: gastos referentes a bens e direitos incorpóreos, quando da ocorrência de prejuízos.
que beneficiarão resultados de exercícios futuros.
Conhecendo o conteúdo de cada uma das contas, veja na Tabela 6 um modelo de Balanço
Patrimonial.
Tabela 6 – Modelo de Balanço Patrimonial
O quadro apresentado é uma síntese de todos os grupos de contas que compõem o Balanço
Patrimonial de uma empresa. A Tabela 6 exemplifica como essa demonstração poderia ser elabo-
rada. Todas as contas e a ordem em que foram apresentadas correspondem às determinações das
leis societárias citadas e a descrição das contas e de cada grupo de contas sintetiza todo o conteúdo
contextualizado neste capítulo.
Considerações finais
Constata-se que o Balanço Patrimonial, por apresentar a situação financeira da empresa em
determinado período, é uma demonstração estática em que se evidencia o Patrimônio Líquido de
uma entidade, que é a diferença entre o Ativo e o Passivo.
Sob a ótica financeira, o Balanço é a principal demonstração contábil e ganha maior evidência
a partir da convergência das normas nacionais para as normas internacionais de contabilidade e
auditoria, em virtude dessas normas exigirem que sejam obedecidas as características de relevância,
materialidade e revelação fidedigna. O Balanço Patrimonial é a demonstração que deve atender aos
princípios básicos da governança corporativa da transparência e da prestação de contas.
Atividades
1. No Balanço Patrimonial das empresas, verifica-se que, em ordem de classificação, primeiro
são colocadas as contas de Duplicatas a receber e depois as contas de Estoques. Essa dispo-
sição está correta? Por quê?
2. No grupo do Patrimônio Líquido existe uma conta denominada Reservas de capital. Explique
por que o ágio na emissão de ações deve ser contabilizado nesse grupo e não diretamente na
conta capital.
80 Fundamentos de contabilidade
3. As contas cujas exigibilidades vencem depois do exercício seguinte devem ser registradas
no Passivo não Circulante. Cite e explique por que algumas delas, mesmo vencendo a longo
prazo, são classificadas no Passivo Circulante.
Referências
BC – Banco Central do Brasil. Circular n. 179, de 10 de maio de 1972. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 maio 1972. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?
arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/40314/Circ_0179_v2_L.pdf. Acesso em: 2 jan. 2019.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 3 jan. 2019.
BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Deliberação n. 29, de 05 de fevereiro de 1986. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 13 fev. 1986. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/
deliberacoes/anexos/0001/deli029.pdf. Acesso em: 2 jan. 2019.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 750, de 29 de dezembro de 1993. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 31 dez. 1993. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_750.pdf.
Acesso em: 2 jan. 2019.
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 3 jan. 2019.
BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília DF, 28
maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 3 jan. 2019.
BRASIL. Lei complementar n. 155, de 27 de outubro de 2016. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 28 out. 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp155.htm.
Acesso em: 10 jan. 2019.
BRASIL. Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 23 nov. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.
htm. Acesso em: 10 jan. 2019.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 12: ajuste a valor presente. Brasília, DF, 2008. Disponível
em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/219_CPC_12.pdf. Acesso em: 2 jan. 2019.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1): estrutura conceitual para elaboração e
divulgação de relatório contábil-financeiro. Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/
Documentos/147_CPC00_R1.pdf. Acesso em: 3 jan. 2019.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 26 (R1): apresentação das Demonstrações Contábeis.
Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.
pdf. Acesso em: 3 jan. 2019.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 46: mensuração do valor justo. Brasília, DF, 2012.
Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/395_CPC_46_rev%2012.pdf. Acesso em: 3 jan. 2019.
FLEURIET, M. A dinâmica financeira das empresas brasileiras: um novo método de análise, orçamento e
planejamento financeiro. Belo Horizonte: FDC, 1978.
Balanço Patrimonial 81
HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as
normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
Como vimos no capítulo anterior, cabe ao Balanço Patrimonial uma demonstração estática,
isto é, cabe a ele evidenciar o estágio patrimonial da empresa, seus bens, direitos e obrigações.
O Patrimônio Líquido – parte do Balanço Patrimonial – pode sofrer modificações por
aumentos ou diminuições de capital realizadas pelos sócios. Entretanto, as maiores modificações
provêm de operações realizadas pela empresa.
Uma indústria, por exemplo, promove uma redução do Patrimônio Líquido ao adquirir
insumos, ao realizar gastos com mão de obra e com custos indiretos necessários à fabricação de
um produto. Por outro lado, ao vender esse produto, obtém-se também uma receita de vendas, que
o faz aumentar.
As receitas e os gastos anunciados são compilados na Demonstração do Resultado do
Exercício (DRE), cuja elaboração tem como objetivo avaliar a situação econômica com base nas
variações do Patrimônio Líquido da empresa e resultam em lucros ou prejuízos. A DRE retrata a
situação dinâmica do Patrimônio Líquido, apresentando, ao final, o Lucro Líquido do Exercício
(LLE) ou o prejuízo do período, se esse for o caso.
Esses lucros ou prejuízos são transportados para outra demonstração, denominada
Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). De acordo com a Lei n. 6.404/1976
(BRASIL, 1976), a DLPA pode ser substituída pela Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido (DMPL), em virtude desta ser mais completa.
O Balanço Patrimonial (BP), a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e a
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) são demonstrações que interagem
entre si, uma vez que no encerramento do exercício contábil, uma partida realizada em uma delas
tem contrapartida em outra.
Além dessas demonstrações, que espelham o resultado econômico da empresa, é necessário
determinar sua situação financeira. Sob essa óptica, a questão agora é: a receita foi total ou parcial-
mente recebida? Os gastos foram total ou parcialmente pagos? As respostas a essas duas questões
serão respondidas por meio da Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). Essas são, portanto, as
demonstrações que estudaremos neste capítulo.
1 Período contábil é aquele que, de acordo com o art. 175 da Lei n. 6.404/1976, “terá duração de 1 (um) ano e a data
do término será fixada no estatuto” (BRASIL, 1976).
84 Fundamentos de contabilidade
períodos mais curtos: mensais ou trimestrais. Para as sociedades por ações, é obrigatório que esses
dados sejam apurados trimestralmente.
O Resultado, que pode ser um lucro ou um prejuízo, representa a diferença entre as Receitas
e as Despesas geradas no período. O Resultado será um lucro se as Receitas forem maiores que as
Despesas ou será um prejuízo se as Receitas forem menores que as Despesas.
Nos ensinamentos de Hendriksen e Van Breda (1999, p. 223), “receitas podem ser definidas,
em termos gerais, como o produto gerado por uma empresa e despesas são os custos assumidos
para gerar essas receitas”.
As variações provenientes das operações ocorrem por meio do relacionamento comercial
entre a empresa e as pessoas com as quais ela se corresponde – clientes, fornecedores, prestadores
de serviços etc. – independentemente do pagamento ou recebimento de numerário no momento
da operação. Se uma venda for realizada a prazo, constitui-se um direito sob o título de Duplicatas
a receber, se uma compra for realizada a prazo, assume-se uma obrigação para pagamento futuro.
Dessa maneira, pode-se afirmar que a movimentação do Patrimônio da empresa ocorre em
função de quatro acontecimentos principais: compras, vendas, pagamentos ou recebimentos.
As Receitas, os gastos e, consequentemente, o Resultado são evidenciados na Demonstração
do Resultado do Exercício, prevista pelo art. 176 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), já com a
redação dada pela Lei n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009). O conteúdo da DRE deve ser elaborado de
maneira descritiva e dedutiva, de acordo com o seguinte exemplo:
Quadro 1 – Conteúdo da DRE
Faturamento Bruto
(-) IPI faturado
(=) Receita Bruta de Vendas e Serviços
(-) Deduções (∑ das vendas canceladas, dos abatimentos e dos tributos)
Vendas canceladas
Abatimentos concedidos
Tributos sobre vendas e serviços (∑ do ICMS ou ISS, PIS, COFINS e SIMPLES)
ICMS ou ISS
PIS
COFINS
SIMPLES NACIONAL (se for o caso)
(=) Receita Líquida de Vendas e Serviços
(-) Custo das mercadorias e serviços vendidos
(=) Lucro Bruto Operacional
(-) Despesas operacionais (∑ das Despesas com vendas, financeiras e gerais)
Despesas com vendas
Resultado Financeiro Líquido (Receitas – Despesas financeiras)
Despesas gerais e administrativas
Outras despesas operacionais
(Continua)
86 Fundamentos de contabilidade
Determinada a estrutura, vamos agora aprender o conteúdo das contas que compõem
a DRE. Liminarmente, é necessário relembrar que na determinação do Resultado, de acordo com
a Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), as receitas e os rendimentos do período são computados
independentemente de sua realização em moeda e os gastos incorridos são reconhecidos indepen-
dentemente de seu pagamento. Essa é a adoção formal expressa pelo regime de competência, ou
seja, o registro de receitas e de gastos são realizados pela data de sua ocorrência, independentemente
dos reflexos no caixa.
O art. 187 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976) estabelece que as empresas devem descrimi-
nar a Receita Bruta das Vendas e Serviços, as Deduções das vendas, os Abatimentos e os Impostos.
Dessa forma, a contabilização das vendas deverá ser feita por seu valor bruto, incluindo tributos.
De acordo com a Instrução Normativa n. 51/1978 (BRASIL, 1978), nas Receitas de Vendas
incluem-se somente os impostos não cumulativos. Por isso, o IPI (imposto incidente nas operações
de industrialização) não deve ser incluído, pois as indústrias são meras arrecadadoras desse impos-
to, cobrando de seus clientes sem alterar sua Receita Bruta.
Constata-se, em decorrência disso, discrepâncias entre as diversas normas citadas. De acor-
do com Iudícibus et al. (2018, p. 569) “uma forma utilizada na prática para conciliar o problema
é dar o nome de Faturamento Bruto ao que seria a Receita Bruta, e utilizar esta para designar a
diferença entre o Faturamento Bruto e o IPI”.
Demonstrações financeiras 87
Constata-se pela fórmula que os tributos e o Markup2 (MK) incidem sobre si próprios e
uns sobre os outros sucessivamente, como no exemplo aplicado com os dados a seguir (Tabela 1).
É importante salientar que os tributos possuem alíquotas seletivas e podem variar de acordo com a
região, com o produto, com a pessoa etc. Os percentuais do exemplo a seguir são meramente didáticos.
ICMS 12%
PIS 0,065%
COFINS 3,0%
Markup 25%
IPI 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
10.000,00
Faturamento = + 10%
1 - (12% + 0,065% + 3% + 25%)
10.000,00
Faturamento = + 10%
1 - 0,4065
10.000,00
Faturamento = + 10%
0,5935
2 O Markup indica o quanto o preço de venda está acima do preço de custo do produto que será vendido. É um per-
centual que define a precificação do produto.
Demonstrações financeiras 89
Ou seja, o custo corresponde a 59,35% do preço. Com a inclusão desses tributos e do Markup,
a precificação será de R$ 16.849,20. Há necessidade de acrescentar o IPI sobre ela, calculado por
fora sobre tudo o que se incluiu até o momento.
Constata-se que o preço pelo qual o produto deve ser vendido é de R$ 18.534,12, é a partir
dele que serão realizados os cálculos dos tributos. Note que o PIS, a COFINS e o IPI são calculados
sobre as vendas, não sobre os custos. Assim, para determinar o preço de venda, foi necessário in-
cluir os tributos e o Markup, realizando a precificação.
Após a realização dos cálculos, é possível elaborar a Demonstração do Resultado do Exercício
até o item Lucro Bruto Operacional, que também representa o Markup estimado pelos gestores ou
proprietários, de acordo com a Tabela 2.
Tabela 2 – Demonstração do Resultado considerando o ICMS na base de cálculo do PIS e COFINS.
Como podemos verificar na Tabela 2, o valor do faturamento bruto, que será cobrado do
comprador, inclui todos os tributos e o Markup. Para calcular os tributos, aplica-se a respectiva
alíquota sobre a Receita Bruta de Vendas e a Receita Bruta subtraída dos tributos resultará na
Receita Líquida de Vendas.
Da Receita Líquida diminui-se o Custo dos produtos vendidos e obtém-se o Lucro Bruto
Operacional, que é o Markup. No exemplo em questão, em virtude de termos determinado que ele
seria de 25%, “sobraram” R$ 4.212,30 para a empresa pagar suas despesas; essa “sobra” representa
o lucro.
Para se determinar o valor do faturamento excluindo o ICMS da base de cálculo do PIS e
da COFINS, há necessidade de realizar cálculos diferentes. No exemplo adotado anteriormente,
procedeu-se com o cálculo por dentro do ICMS, do PIS e da COFINS. Na modalidade a seguir,
que exclui esses tributos, vamos utilizar valores meramente didáticos (Tabela 3).
90 Fundamentos de contabilidade
Tabela 3 – Valor de custos, alíquotas de tributos e Markup para calcular o Resultado de uma operação de venda.
IPI 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Além da dedução dos tributos, a Receita Bruta é diminuída pelas vendas canceladas –
que correspondem ao montante devolvido pelos clientes, considerando defeitos ou não atendi-
mento das especificações do pedido – ou pelos abatimentos sobre vendas, que são descontos con-
cedidos a clientes na ocasião da venda, normalmente de caráter promocional.
O custo das vendas tem duas denominações: Custo dos produtos vendidos, no caso de
empresa industrial, e Custo das mercadorias vendidas, nos casos de empresas comerciais. O Custo
dos produtos vendidos é obtido pela fórmula:
CPV = EI + CPP - EF
Em que:
CPV= Custo da produção vendida
CPP= Custo de produção do período
EI = Estoque inicial
EF = Estoque final
Demonstrações financeiras 91
CMV = EI + CL - EF
Em que:
CMV = Custo das mercadorias vendidas
EI = Estoque inicial
CL = Compras líquidas
EF = Estoque final
Vimos nos exemplos que do faturamento são excluídos os tributos e os custos, obtendo-se o
Lucro Bruto Operacional. Deste deverão ser eliminadas as Despesas operacionais.
Despesas operacionais são sacrifícios financeiros necessários ao funcionamento da empresa,
isto é, são atividades necessárias para que a entidade possa vender, administrar e financiar suas
atividades. São elas:
• Despesas com vendas: correspondem às despesas de promoção e distribuição dos pro-
dutos da empresa no mercado, e ainda os riscos assumidos pela venda, como garantias e
provisão para devedores duvidosos;
• Despesas administrativas: compreendem as despesas incorridas para a direção e execução
das tarefas administrativas, bem como as despesas gerais que beneficiam os negócios da
empresa, como o aluguel do escritório e gastos com pessoal administrativo;
• Despesas financeiras: representam a remuneração paga a instituições financeiras pelos
financiamentos por elas concedidos.
As Receitas financeiras representam os ganhos de capitais aplicados em investimentos
temporários. É oportuno esclarecer que a diferença entre as Despesas e Receitas financeiras
representa o Resultado Financeiro Líquido. Por exemplo, uma empresa pode ter investido
temporariamente seus recursos em uma instituição financeira, por outro lado, ela também
pode ter captado recursos para financiar seu capital de giro. Os investimentos geram receita, os
financiamentos geram despesas. O Resultado Financeiro Líquido a ser levado para a DRE é a
diferença entre essas Receitas e Despesas financeiras.
Outras receitas e despesas são contas que compreendem valores provenientes de transa-
ções eventuais ou secundárias. Retomando os dados do Quadro 1, nota-se que a partir do valor
do Resultado do exercício antes dos tributos sobre resultado, há a necessidade de calcular esses
tributos, que são Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL). Obtém-se, então, o Resultado do exercício após os tributos sobre Resultado, valor
utilizado para cálculo das participações dos debenturistas, empregados, administradores, partes
beneficiárias, fundos de assistência e previdência.
92 Fundamentos de contabilidade
2017 2016
(19.955) (16.761)
1.861 2.189
uma explicação por sua existência, por isso, as notas integram essas demonstrações. Além disso,
note que é necessário que as demonstrações apresentem dados de dois períodos sucessivos, como
vimos na Figura 1.
Pasivo + PL
LLE
Dividendos a pagar
Ativo Constituição de
reservas
Patrimônio Líquido
A DMPL inicia-se com os saldos do Patrimônio Líquido do ano anterior e, na sequência, recebe
a contrapartida do Lucro Líquido do Exercício que estamos encerrando e que consta na DRE.
Para esclarecer como ocorre esse processo, imagine que estamos no ano 2. Os saldos do
Balanço Patrimonial, que serão transportados para a DMPL, são os do ano 1 e o Lucro Líquido
do Exercício a ser transportado para a DMPL é o da DRE do ano 2.
Desse somatório, isto é, da soma dos valores trazidos do BP (ano 1) acrescido do lucro do
ano 2, deduz-se a constituição de reservas e calcula-se o valor dos dividendos a pagar aos acionistas.
A contrapartida das contas de Reservas é realizada no grupo do Patrimônio Líquido e os dividendos
no grupo do Passivo, ambos no Balanço Patrimonial.
A estrutura da Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados está definida pelo art. 186
da Lei n. 6.404/1976, que determina que ela discriminará:
I - o saldo do início do período, os ajustes de exercícios anteriores e a correção
monetária do saldo inicial;
II - as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício;
III - as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorpo-
rada ao capital e o saldo ao fim do período.
§ 1º Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os
decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro
imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a
fatos subsequentes. (BRASIL, 1976)
94 Fundamentos de contabilidade
Percebe-se que a DLPA é uma simplificação da DMPL, pois apresenta somente dados
relacionados ao lucro do exercício. Além das empresas que são obrigadas a apresentar a DMPL,
muitas outras estão também optando pela DLPA.
Ademais, o CPC 26 (CPC, 2011) cita a existência somente da DMPL. Convém assinalar,
porém, que existe uma contradição entre os termos da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976) e os
termos do Pronunciamento, prevalecendo, no entanto, a determinação legal.
O parágrafo 2 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976) determina que a DLPA “poderá ser
incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela
companhia”. Nota-se que a DMPL é uma demonstração mais completa, sendo uma de suas colunas
a representação dos lucros ou prejuízos acumulados.
O CPC 26 (BRASIL, 2011), por sua vez, determina que seja apresentada a Demonstração
das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), não restando, em consequência disso, motivos para
não elaborá-la. A elaboração da DMPL abrange todas as empresas, em decorrência do disposto na
Resolução CFC n. 1.185/2009 (BRASIL, 2009).
Para Iudícibus et al. (2018, p. 639), essa demonstração é de grande importância, pois indica
“claramente a formação e a utilização de todas as reservas, e não apenas das originadas por lucros.
Servirá também para melhor compreensão, inclusive quanto ao cálculo dos dividendos obrigató-
rios”, estes necessariamente calculados pelas empresas constituídas como sociedades por ações.
Como o próprio nome indica, a DMPL registra as variações das contas que formam o
Patrimônio Líquido. Essas variações, por sua vez, constituem-se por fatos contábeis divididos em
duas categorias: fatos permutativos e fatos modificativos.
Os fatos contábeis permutativos são aqueles que não alteram o valor do Patrimônio Líquido.
Um exemplo é quando há aumento de capital utilizando valores de Reserva Legal: a conta de Capital
aumenta e a conta de Reserva Legal diminui, porém, o valor do Patrimônio Líquido continua o mes-
mo porque é realizada apenas uma transferência entre contas de dentro do próprio grupo do PL.
Já os fatos contábeis modificativos alteram o valor do Patrimônio Líquido. Eles acontecem
em decorrência dos seguintes eventos:
• acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício;
• redução por pagamento de dividendos;
• acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações integralizadas
ou o preço de emissão das ações sem valor nominal;
• acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures;
• redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda;
• acréscimo ou redução por ajustes de exercícios anteriores;
• ajustes de avaliação patrimonial.
Demonstrações financeiras 95
Capital R$ 10.000,00
Reservas de Capital
Reservas de Lucros
No ano 2, o Patrimônio Líquido da Cia. Beta sofreu mutações, ou seja, ocorreram fatos
como lucros e aumento de capital.Vejamos algumas dessas mutações:
• Lucro Líquido de R$ 2.000,00;
• aumento de capital no início do período no valor de R$ 3.800,00, com transferência da
conta de Ágio;
• captação de recursos dos acionistas da empresa durante o ano 2, no montante de R$ 3.000,00;
• constituição de Reserva legal de 5% sobre o Lucro Líquido;
• constituição de Reserva estatutária de 10% sobre o Lucro Líquido;
• reversão de 50% da Reserva de Lucros a realizar;
• constituição de R$ 200,00 de Reserva orçamentária;
• distribuição do restante do lucro líquido.
Como vimos, existe uma integração entre as três demonstrações. Vejamos agora a aplicação
de diversos procedimentos para a elaboração da DMPL na Tabela 6:
96
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Reserva Reserva de
A/Z Fatos Capital Ágio Reserva Legal Reserva Estatutária DLPA Total
Orçamentária lucros a realizar
Fundamentos de contabilidade
O primeiro ponto a notar é que todas as contas e saldos referentes ao Patrimônio Líquido
constantes no Balanço Patrimonial do ano 1 foram transferidos para a Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido do ano 2, como se verifica nas colunas 3 a 10 da linha A.
O Lucro Líquido do Exercício, calculado na Demonstração do Resultado do ano 2, também
foi transferido para a DMPL do ano 2, como se verifica na coluna 9 da linha B. O valor transportado,
proveniente de um fato contábil modificativo aumentativo, é adicionado ao saldo inicial, como se
vê no totalizador da linha B.
Uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) pode aprovar um aumento do capital
mediante a incorporação de reservas existentes. Na empresa, o saldo da conta de Ágio na venda de
ações ensejou um aumento de capital. Esse é um fato contábil permutativo, pois apenas realizou-se
a transferência de valores entre as contas existentes do Patrimônio Líquido, como pode ser obser-
vado nas colunas 3 e 4 da linha C.
Além de aumentar o capital com a transferência de valores entre as contas do PL, os acionistas
da Cia. Beta aportaram novos recursos na empresa, aumentando o capital em mais R$ 3.000,00.
Esse é um fato contábil modificativo aumentativo, pois ocorre um aumento do PL, situação
demonstrada nas colunas 3 e 10 da linha D.
De acordo como o art. 193 da Lei n. 6.404/1976, “do lucro líquido do exercício, 5% (cinco
por cento) serão aplicados, antes de qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal”
(BRASIL, 1976). Este fato não altera o valor do PL, pois ao mesmo tempo em que se aumenta a conta
de Reserva Legal, diminui-se a conta de Lucros (DPLA), como se vê nas colunas 5 e 9 da linha E.
O art. 194 da mesma lei afirma que “o estatuto poderá criar reservas desde que, para cada
uma: I – indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade; II – fixe os critérios para determi-
nar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados à sua constituição; e III – estabeleça
o limite máximo da reserva” (BRASIL, 1976). Essa é a Reserva estatutária que, para a Cia. Beta foi
fixada em 10% do Lucro Líquido do Exercício. O fato não altera o valor do PL, porque ao mesmo
tempo em se aumenta a conta de Reserva estatutária, diminui-se a conta de Lucros (DPLA), como
exposto nas colunas 6 e 9 da linha E.
A legislação prevê que no exercício em que o montante do dividendo obrigatório ultrapassar
a parcela realizada do Lucro Líquido do Exercício, a Assembleia Geral poderá destinar o excesso
à constituição de Reserva de Lucros a realizar (BRASIL, 1976). No ano 1, a Cia. Beta realizou essa
reserva e, em consequência, deixou de distribuir dividendos. No ano 2, em decorrência do lucro
apresentado, há a possibilidade de reverter parte dela.
Esse é um fato contábil permutativo, pois ocorrem somente alterações dos valores entre
contas. Entretanto, cabe uma observação: diminui-se a conta de Reserva de Lucros a realizar e a
contrapartida ocasionará um aumento na coluna 9 (correspondente à DLPA), por isso, realizada a
reversão, deverá ser realizada a distribuição de dividendos que havia sido diferida no ano 1.
As sociedades anônimas não podem mais reter lucros sob a denominação de Lucros
Acumulados, isso significa que todo lucro que remanescer após a realização de reservas deve ser
distribuído. Por isso, de acordo com o art. 195 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), é de suma
98 Fundamentos de contabilidade
importância que o Conselho de Administração proponha aos acionistas destinação de parte dos
lucros para constituição de reservas – como para Contingências – com a finalidade de compensar
em exercício futuro a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável.
Para o presente exemplo, foi escolhida a constituição de uma Reserva orçamentária
com objetivo de reter parte do lucro para, de acordo com Iudícibus et al. (2018, p. 425), “atender a
projeto de investimento [...] que deverá estar justificada com o orçamento de capital da companhia.”
quantum: quantidade O quantum pode ser definido em percentual sobre o lucro ou em valor determinado, como é
de um elemento.
possível verificar nas colunas 7 e 9 da linha I.
Todo o saldo remanescente do lucro, como se vê nas colunas 9 e 10 da linha J, será distribuído,
fato que caracteriza um fato contábil modificativo diminutivo. Os saldos finais da Demonstração
das Mutações do Patrimônio Líquido são transferidos para o Balanço Patrimonial do ano 2 que
conterá, agora, os valores dos anos 1 e 2, como se observa na Tabela 7, pois o Balanço deverá ser
divulgado de maneira sucessiva.
Tabela 7 – Balanços Patrimoniais da Cia. Beta
Reservas de Capital
Reservas de Lucros
Pode-se constatar a confirmação da assertiva inicial de que existe uma integração entre as três
demonstrações (BP, DMPL e DRE), as quais servirão de base para a elaboração da Demonstração
do Fluxo de Caixa (DFC), assunto da seção seguinte.
Por isso, os dados necessários à sua elaboração são colhidos no Balanço Patrimonial e na
Demonstração do Resultado do Exercício, sem que ocorra um lançamento contábil. Isso significa
que a DFC colhe dados de outras demonstrações sem as características das partidas dobradas.
As empresas constituídas sob a forma de sociedades anônimas já eram obrigadas a
elaborar e apresentar a DFC desde 1999, em decorrência de exigências previstas pelo Instituto dos
Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). A demonstração deveria refletir as transações
de caixa de três grupos específicos: atividades operacionais, atividades de investimentos e
atividades de financiamentos.
Entretanto, a partir de 2005, com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC), essas exigências foram revogadas e produziu-se grande número de normas tendentes a fazer
a contabilidade brasileira ser convertida para as normas internacionais de contabilidade e de auditoria.
Em virtude da criação do CPC, a atividade contábil passou a ter uma norma única e as entidades, a
partir de então, revogaram todas as resoluções, pronunciamentos e normas que existiam.
Em 2007, com a edição da Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007) – que alterou a Lei n. 6.404/1976
(BRASIL, 1976) – a elaboração da DFC tornou-se obrigatória para todas as empresas, repetindo
basicamente a divisão de grupos de eventos antes ditados pelo IBRACON: das operações, dos
financiamentos e dos investimentos. Atualmente, toda a matéria está regulamentada pelo Comitê
de Pronunciamentos Contábeis, que define as contas que serão classificadas em cada um dos fluxos.
O fluxo de caixa das operações deriva das atividades operacionais, como dos recebimentos de
caixa pela venda de mercadorias ou pela prestação de serviços; dos recebimentos de caixa decorren-
tes de royalties3 e de outras receitas; pagamentos de caixa a fornecedores de mercadorias e serviços;
pagamentos de caixa a empregados e pagamentos de caixa de impostos sobre a renda.
Além dessas atividades operacionais, o fluxo de caixa também pode ser gerado pelas
atividades de financiamento de fornecedores de capital à entidade, por exemplo, nos casos de
caixa recebido pela emissão de ações, pela emissão de debêntures, e empréstimos, amortização de
empréstimos e financiamentos.
O fluxo advindo das atividades de investimento representa os dispêndios de recursos feitos
pela entidade com a finalidade de gerar lucros, por exemplo, pagamentos em caixa (numerário)
para aquisição de Ativo Imobilizado, Intangíveis e outros Ativos de longo prazo, recebimentos de
caixa resultantes da venda de Ativo Imobilizado, Intangíveis e outros Ativos de longo prazo, adian-
tamentos em caixa e empréstimos feitos a terceiros (exceto instituição financeira).
De acordo com Iudícibus et al. (2018, p. 575) “para divulgar o fluxo de caixa oriundo das
atividades operacionais, pode ser utilizado o método direto ou o indireto.”
Pelo método direto, no fluxo referente às atividades operacionais são relacionadas as principais
classes de recebimentos e pagamentos. Já pelo método indireto, também no fluxo das atividades
operacionais, a DFC parte do lucro e ajustam-se os valores de transações que não envolvem o caixa, pois
apontam-se os aumentos e diminuições das diversas contas.
3 Royalties, plural de royalty. Trata-se do pagamento que alguém faz por ter obtido o direito de explorar um bem de outra pessoa.
100 Fundamentos de contabilidade
Repare que a diferença dos dois métodos circunscreve-se somente às atividades operacio-
nais. Para as atividades de investimento e de financiamento os fluxos são iguais.
O Quadro 2 apresenta-se um modelo de Demonstração do Fluxo de Caixa pelo método direto.
Quadro 2 – Demonstração qualitativa do Fluxo de Caixa pelo método direto
Atividades operacionais
Recebimento de clientes
Recebimento de juros
Duplicatas descontadas
Outros recebimentos
(-) Pagamentos
a fornecedores de mercadorias
de impostos
de salários
de juros
outros pagamentos
Atividades de Investimentos
Atividades de financiamentos
Aumento de capital
Pagamento de dividendos
Bancos
Aplicações financeiras
Total
Fonte: Adaptado de Iudícibus et al., 2018, p. 580.
Demonstrações financeiras 101
Descritores
Atividades operacionais
Lucro Líquido
(+) depreciação
Lucro ajustado
Aumento em Estoques
Aumento em Fornecedores
Atividades de investimentos
Atividades de financiamentos
Aumento de capital
Distribuição de dividendos
Como pode ser observado, quando se faz uso do método indireto, as entradas e saídas de
caixa das atividades operacionais são informadas por seus volumes brutos. Vejamos um exemplo
de DFC neste método, em que determinada empresa apresenta os Balanços Patrimoniais conforme
a Tabela 8.
102 Fundamentos de contabilidade
Pelo método indireto, são calculadas as variações que ocorreram no período em todas as
contas que compõem o Balanço Patrimonial. É o valor dessas variações que são levados à DFC,
agrupados nos três fluxos: de atividades operacionais, de atividades de investimento e de atividades
de financiamento.
104 Fundamentos de contabilidade
Com base nas variações calculadas na Tabela 9, no lucro de R$ 570,00 informado e no valor
dos dividendos de R$ 100,00 também informados, elabora-se a Demonstração do Fluxo de Caixa
(DFC), como se vê na Tabela 10.
Tabela 10 – Demonstração do Fluxo de Caixa
Atividades operacionais
Atividades de investimentos
Atividades de financiamentos
A DFC, como podemos perceber, é uma demonstração financeira elaborada com base em
informações e dados de outras. Sua maior utilidade é a de representar um instrumento financeiro
para a tomada de decisões.
O Lucro Líquido (R$ 570,00) e o valor dos dividendos (R$ 100,00) foram informados logo
após os Balanços Patrimoniais. As demais contas e valores provêm das variações calculadas na
Tabela 9.
Ao final de cada um dos fluxos da DFC, encontra-se o somatório dos valores de cada qua-
dro. Assim, o somatório do fluxo 1 (caixa líquido consumido em atividades operacionais) é de R$
395,00; o somatório do fluxo 2 (atividades de investimentos) é de R$ 360,00 e o do fluxo 3 (ativida-
des de financiamento) é de R$ 15,00.
Constata-se, pela explicitação do tema e pela apresentação dos exemplos, que o objetivo da
DFC é prover informações sobre as entradas e saídas de dinheiro de uma empresa durante determi-
nado período, de modo a propiciar aos usuários a informação sobre a capacidade que a companhia
tem de gerar caixa.
Demonstrações financeiras 105
Considerações finais
Pode-se dizer que a Demonstração do Resultado é comparável a um filme. O enredo é o
registro das receitas e das despesas e o final é aquilo que se espera: é feliz quando há lucro ou infeliz
quando há prejuízo. A DRE aponta, em consequência disso, a capacidade de geração de riqueza do
negócio empreendido.
O Patrimônio Líquido representa de fato a riqueza de uma entidade, por isso é indispensável
a elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, por meio da qual se torna
possível identificar o valor patrimonial das ações ou das quotas de capital de uma empresa. Por esse
motivo, a DMPL é um instrumento indispensável para os investidores quando se interessam por
investir na compra de ações.
A Demonstração do Fluxo de Caixa, por sua vez, propicia aos gestores a realização de um
planejamento financeiro da empresa, pois os dados históricos por ela apresentados embasam as
decisões futuras sobre a necessidade de captações de empréstimos ou de aplicações de recursos
excedentes.
Essas três demonstrações, acrescidas do Balanço Patrimonial, atuam como registros histó-
ricos do sucesso ou insucesso de uma empresa e norteiam as ações dos seus acionistas e gestores.
Atividades
1. Explique a diferença entre os fatos contábeis modificativos e fatos contábeis permutativos.
3. É possível afirmar que a DRE e a DMPL são demonstrações interdependentes e que a DFC
é independente? Justifique.
Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 17 jan. 2019.
BRASIL. Receita Federal – RFB. Instrução normativa n. 51, de 3 de novembro de 1978. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 8 nov. 1978. Disponível em: http://sijut2.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
action?&visao=original&idAto=13879. Acesso em: 17 jan. 2019.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
Acesso em: 28 jan. 2019.
BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28
maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 17 jan. 2019.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.185, de 28 de agosto de 2009. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 15 set. 2009. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1185.pdf.
Acesso em: 18 jan. 2019.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 26 (R1): apresentação das demonstrações contábeis.
Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.
pdf. Acesso em: 03 jan. 2019.
HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as
normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
Para iniciar o tema custos, faz-se necessário inicialmente definir gastos. O gasto é uma
quantia monetária empregada pela empresa com a finalidade de desenvolver o negócio, sendo
classificado em quatro espécies: investimentos, despesas, perdas e custos.
Os investimentos compreendem os recursos despendidos em imobilizações técnicas e finan-
ceiras, os quais são caracterizados como bens de uso ou de rendimentos não destinados à venda.
Com o passar do tempo eles perdem valor em decorrência de uso ou obsolescência e, aos poucos,
transformam-se em custos ou despesas.
Despesas são gastos que representam uma inversão de capital com o objetivo de cooperar na
produção ou distribuição de riquezas. São lançadas diretamente no Resultado do período, ou seja,
não integram o valor do produto que se produz ou se revende. Pode-se dizer que as atividades de
vendas, distribuição e administração realizadas pela empresa geram despesas.
As perdas são gastos que ocorrem no processo de fabricação, no transporte ou no manuseio
da matéria-prima ou do produto. Já os custos são valores que fazem parte do produto final.
São os gastos empregados para produzi-lo, como matéria-prima, mão de obra direta, custos
indiretos de fabricação ou ainda valores dispendidos para adquiri-lo para revenda, nos casos de
empresas comerciais.
Em decorrência de os custos integrarem o valor da produção ou da aquisição de um bem ou
serviço, há necessidade do desenvolvimento de métodos para determinar de que maneira eles se
integram ao produto. Esses métodos podem ser o custeio por absorção e o custeio variável, um dos
assuntos que serão estudados neste capítulo.
Nesses dois tipos de atividade, é fácil determinar o custo porque existem dados
disponibilizados pelos documentos das operações. No caso da empresa mercantil, o custo é o
valor que consta na nota de compra; na prestação de serviços, é o apontamento da mão de obra
executada. Assim, vamos nos aprofundar na determinação de custos de uma empresa industrial,
pois não é tão simples chegar nesse valor quanto seria para as demais empresas.
De acordo com Martins (2003), custo se faz no chão da fábrica. Uma fábrica é, normalmente,
dividida em departamentos ou centros de custos, pois ao imaginá-la, pressupõe-se a existência de
uma planta industrial. Centro de custo ou Departamento, de acordo com Martins (2003, p. 70),
“é a unidade mínima administrativa para a Contabilidade de Custos, representada por pessoas e
máquinas (na maioria dos casos), em que se desenvolvem atividades homogêneas.”
Os centros de custos compostos por pessoas e máquinas são os encontrados com mais
frequência. Uma caldeiraria, por exemplo, é um centro de custo constituído por máquinas, pois
não existem funcionários que trabalhem próximos e permanentemente nesse centro.
Agora imagine uma empresa de consultoria que, para o exercício de suas atividades,
os consultores se deslocam para diversas empresas no mesmo dia e utilizam os equipamentos
dessas empresas. Nesse caso, teríamos um centro de custos formado apenas por pessoas.
Qualquer que seja o centro, é ali que ocorrem os custos e eles acompanham o movimento
físico dos insumos1. Imagine que os materiais (espécies de insumos) de uma fábrica artesanal de
cerveja sejam o malte, o lúpulo e o fermento. Para fabricar a cerveja, a matéria-prima transita por
três centros de custos, nos quais são realizados os processos produtivos.
Para exemplificar, nominaremos esses centros: mostura, fervura e fermentação. Esses são
os centros por onde os insumos transitam de maneira usual e repetitiva. O fluxo dos custos de
materiais acompanha seu movimento físico pelos centros, de acordo com Figura 1 a seguir.
1 Os insumos estão relacionados aos gastos gerados com os materiais, com a mão de obra e com o Imobili-
zado empregado.
Fundamentos de custos 109
Fervura: o mosto é
fervido e recebe a adi-
ção de lúpulo. Ao final
Mostura: processo ini- da fervura, é separado
ciado com a moagem do do lúpulo e resfriado,
malte, que depois é mistu- Fermentação: o fermen-
preparando-se para a
rado à água quente. to é adicionado ao mosto
fermentação.
Com essa água rica em para iniciar a fermenta-
açúcares (chamada de ção e transformá-lo em
mosto) tem início o cerveja. A fermentação
processo de fabricação. dura de 5 a 10 dias.
Os custos dos materiais (malte, lúpulo e fermento) utilizados no processo de fabricação são
variáveis, de acordo com a intensidade ou natureza da produção. De acordo com Martins (2003), se
o custo aumenta à medida em que cresce o volume, trata-se de um custo variável, pois ele mantém
relação direta com o volume de produção ou serviço.
Além dos custos variáveis, na fábrica existem também os custos fixos, que ocorrem inde-
pendentemente da quantidade de produtos que está sendo produzida. São custos da capacidade
instalada que compreendem, por exemplo, a depreciação de máquinas, aluguel e seguro da fábrica.
São custos fixos também os referentes à remuneração e encargos da folha de salários dos empregados.
Como atribuir os custos variáveis e fixos ao produto? No Brasil é obrigatória a adoção do
custeio por absorção, em decorrência do disposto no CPC 16:
Os custos de transformação de estoques incluem os custos diretamente
relacionados com as unidades produzidas ou com as linhas de produção, como
pode ser o caso da mão de obra direta. Também incluem a alocação sistemática
de custos indiretos de produção, fixos e variáveis, que sejam incorridos
para transformar os materiais em produtos acabados. Os custos indiretos
de produção fixos são aqueles que permanecem relativamente constantes
independentemente do volume de produção, tais como a depreciação e a
manutenção de edifícios e instalações fabris, máquinas, equipamentos e ativos
de direito de uso utilizados no processo de produção e o custo de gestão e de
administração da fábrica. (CPC, 2009)
Nesse sentido, Iudícibus et al. (2018, p. 84) afirmam que a inclusão de materiais, mão de obra
e custos indiretos “representa o custeio por absorção, ou seja, o estoque em processo ou acabado
‘absorve’ todos os custos incorridos, diretos e indiretos”. A Figura 2 detalha a formação dos custos.
110 Fundamentos de contabilidade
Custos indiretos de
Matéria-prima Mão de obra direta
fabricação
Produtos em
elaboração
Produtos acabados
Por meio dessa contextualização, vamos supor que o custo dos materiais empregados na
produção de uma garrafa de cerveja seja de R$ 2,00. Admitamos, também, que os custos fixos
mensais da cervejaria artesanal sejam os dispostos conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Custos fixos de uma fábrica de cerveja
Total R$ 3.318,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
Por outro lado, vamos imaginar que a produção do mês tenha sido de 1.500 garrafas de
cerveja. Uma maneira bastante simples é a distribuição proporcional dos custos indiretos às
garrafas produzidas. Assim, cada garrafa produzida irá absorver R$ 2,21 de custos fixos. O custo
de cada garrafa, utilizando-se o custeio por absorção será o demonstrado na Tabela 2.
Tabela 2 – Custo unitário por absorção de uma garrafa de cerveja
Total R$ 4,21
Fonte: Elaborada pelo autor.
O custo de uma garrafa de cerveja pelo custeio por absorção é de R$ 4,21. Vamos ampliar
nosso entendimento projetando custos para uma empresa dividida em centros e que fabrica diver-
sos produtos que transitam pelos diversos centros.
Fundamentos de custos 111
Os produtos não transitam pelos centros de serviços (supervisão e almoxarifado). Assim, não
é possível atribuir os custos desses serviços a eles, portanto, há necessidade de transferi-los aos
centros produtivos.
Existem diversas bases para ratear custos, como o aluguel do espaço ocupado. A escolha
da base será feita pelo gestor, considerando a relevância do custo tanto qualitativamente
quanto quantitativamente.
Observa-se que a mão de obra (qualidade) e o valor dela (quantidade) são os custos fixos
mais relevantes na empresa objeto do estudo, por isso, vamos escolher a mão de obra como a base
de rateio, utilizando os valores despendidos nos centros produtivos. Para isso, há necessidade de
calcular a relação de valor de cada centro produtivo com o total dos três centros, como se vê na
Tabela 4.
Tabela 4 – Relação percentual de participação do custo da mão de obra sobre o total
Estabelecida a relação do custo de cada centro com o total dos custos, vamos transferi-los
dos centros de serviços para os centros produtivos.
Assim, os custos da supervisão e do almoxarifado serão transferidos de acordo com o
percentual da relação. Realizada a transferência, os valores referentes aos dois centros de serviços
ficarão com saldo nulo, como se observa na Tabela 5.
Tabela 5 – Transferência dos custos dos centros de serviços
Vamos aceitar que a empresa produza três produtos, denominados Alfa, Beta e Gama.
Esses produtos transitam pelos três centros produtivos durante determinado tempo. Para saber
quanto tempo foi destinado a cada um deles, há necessidade de saber qual é o tempo necessário de
produção de cada unidade e a quantidade produzida. Vamos admitir as dimensões de tempo e de
quantidade descritas na Tabela 6.
Tabela 6 – Dimensão de tempo e de quantidade da produção
Quantidade
Produto Estamparia Usinagem Acabamento
produzida
Alfa 20 15 20 750
Beta 15 18 15 600
Gama 20 10 20 300
Fonte: Elaborada pelo autor.
Dessa maneira, uma unidade do produto Alfa demanda 20 minutos de estamparia, 15 minu-
tos de usinagem e 20 minutos de acabamento.
Fundamentos de custos 113
Estamparia
Alfa 20 min × 750 unidades 15.000
Usinagem
Alfa 15 min × 750 unidades 11.250
Acabamento
Alfa 20 min × 750 unidades 15.000
Constata-se, pela Tabela 7, que o tempo gasto em minutos em cada centro foi de:
Para determinar o custo do minuto de cada centro, cujo valor podemos observar na Tabela
8, basta dividir o custo total (Tabela 5) pela quantidade de minutos trabalhados em cada centro
(Tabela 7).
114 Fundamentos de contabilidade
Além desses custos com o tempo de produção, há necessidade de incluir o custo dos mate-
riais. Para esse cálculo, vamos admitir que os produtos consumissem a quantidade de material e o
custo da unidade de material constantes na Tabela 9.
Tabela 9 – Quantidade, custo unitário e valor do material de cada unidade produzida.
Consumo unitário
Produto Custo unitário por kg Custo unitário
de matéria-prima
Alfa 2 kg R$ 50,00 R$ 100,00
Beta 3 kg R$ 40,00 R$ 120,00
Gama 2 kg R$ 30,00 R$ 60,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
Produto Alfa
Materiais R$ 100,00
Outros custos
Produto Beta
Materiais R$ 120,00
Outros custos
Produto Gama
Materiais R$ 60,00
Outros custos
Na Tabela 10 foi possível observar os custos de cada produto pelo método do custeio por
absorção, que é obrigatório no Brasil. É relevante observar que existe outro método cuja adoção se
torna indispensável sob a ótica gerencial, que é o custeio variável ou direto.
Esse método considera como custo de produção somente os custos variáveis, por enten-
der que os custos fixos existem, mesmo que não haja produção no período. É utilizado somente
pela contabilidade gerencial, pois não é permitido pela contabilidade financeira. De acordo com
Iudícibus et al. (2018, p. 84), o “chamado custeio direto não é aceitável para fins contábeis e de de-
monstrações contábeis oficiais, nem para fins fiscais”.
Entretanto, para a tomada de decisões – principalmente no enfrentamento de conflitos –
há necessidade de isolar o custo variável, tanto o direto quanto o indireto identificável, para que
depois de deduzido da receita com vendas, seja apurada a margem de contribuição. Essa apuração
se faz adotando a análise do custo/volume/lucro, que é o tema da seção a seguir.
• apresenta a relação entre custo, volume e lucro, levando à decisão de estabelecer o preço
de venda;
• define volumes de produção e preços adequados.
Vejamos o caso de uma indústria automobilística que possui uma planta industrial com
capacidade para produzir 36.000 automóveis por mês. Em decorrência da crise econômica, o mer-
cado encontra-se em recessão e essa indústria está conseguindo produzir e vender somente 24.000
automóveis mensalmente, com preço de venda de cada automóvel de R$ 50.000,00.
Os custos variáveis por unidade produzida são:
• custos variáveis incorridos com materiais no valor de R$ 32.000,00;
• despesas variáveis incorridas com transporte do veículo da fábrica até os pontos de venda
no valor de R$ 500,00;
• custos fixos mensais totais no valor de R$ 270.000.000,00.
Em determinado dia, a empresa recebe uma proposta do mercado externo para venda de
12.000 automóveis, porém o preço de venda da proposta é de R$ 35.000,00 por unidade. O dilema
é: deve-se aceitar ou não a proposta?
Vamos iniciar a resolução do problema realizando os cálculos com base no custeio por
absorção, de uso obrigatório, de acordo com a Tabela 11.
Tabela 11 – Cálculo de custeio por absorção
Descritores Valores
Receita Bruta de Vendas R$ 50.000,00
(-) CPV -R$ 43.750,00
Veja que a MCU do produto a ser vendido no mercado externo é bem menor do que a MCU
obtida na venda no mercado interno. Considere, porém, que ela é positiva e se não houver limita-
ção ou restrição na capacidade produtiva, a proposta é aceitável. Essa premissa deriva da teoria das
restrições, referente aos aspectos operacionais e mercadológicos da empresa.
Inicialmente, há necessidade de examinar se existe restrição na capacidade produtiva.
Sabemos que a planta industrial instalada tem capacidade para produzir 36.000 automóveis por mês,
porém está produzindo somente 24.000 unidades. Vender 12.000 automóveis sob a ótica da capaci-
dade instalada é viável porque seria utilizada a capacidade ociosa, não havendo, portanto, limitação:
Conclui-se facilmente que a contabilidade financeira legal ou fiscal deve ser realizada, obri-
gatoriamente, fazendo uso do custeio por absorção, porém, ela não permite enfrentar os dilemas
que se colocarem à frente do gestor. Portanto, é imprescindível a utilização do custeio variável para
fins gerenciais, sob risco de tomada de decisões inadequadas.
E se houver limitação na capacidade produtiva? A pergunta será respondida utilizando a
margem de contribuição unitária. Calculamos a MCU para venda nos dois mercados:
Vimos também que não é possível produzir mais do que 36.000 automóveis por mês. Então,
vamos imaginar que a proposta de compra do exterior seja de 13.000 automóveis. Para atender-
mos, em decorrência da restrição da capacidade produtiva, nós teríamos que reduzir a venda para
o mercado interno para 23.000 unidades. Seria viável? Primeiramente vejamos a situação atual:
Observa-se que a nova proposta é inviável. Foi possível verificar que é indiscutível que
os gestores devam fazer uso do que se denomina contabilidade gerencial e que a análise da
margem de contribuição unitária deve ser mais estudada. Até aqui, vimos o custo, o lucro e
o volume (parcialmente), restando aprofundar o conceito e utilização desse último, objeto de
destaque na próxima seção.
Por isso, a linha que representa os custos fixos deverá ser elaborada não exatamente de modo
horizontal, e sim com pequenos degraus que representam os pequenos aumentos e, algumas vezes,
diminuições durante o período, como se vê na Figura 3.
Figura 3 – Representação da variação dos custos fixos
$
Custos
fixos
Já em relação aos custos variáveis, o valor dos materiais oscila proporcionalmente ao grau da
produção, com pequenas variações, principalmente decorrentes das perdas verificadas no processo
produtivo. Dessa maneira, a representação gráfica dos custos variáveis, em vez de ser uma linha
reta, deve ser representada como na Figura 4.
Figura 4 – Representação dos custos variáveis
$
Custos
variáveis
Como vimos na seção anterior, com a definição do preço e dos custos variáveis podemos
chegar à margem de contribuição unitária2, que junto dos custos fixos é indispensável para calcular
o volume, ou seja, a quantidade a ser (ou que já foi) produzida, principalmente o necessário para
cobrir os gastos da empresa, determinando o chamado ponto de equilíbrio.
Para Leone (2000, p. 427), “sua utilização e a análise tem como objetivo auxiliar as funções
de planejamento e a de tomada de decisões gerenciais de curto prazo da empresa”. Com os valores
a seguir discriminados (Figura 5), podemos determinar o ponto de equilíbrio, que ocorre quando
as Receitas e Despesas da empresa são iguais a zero.
Figura 5 – Ponto de equilíbrio
RECEITAS = DESPESAS
PONTO DE EQUILÍBRIO
Fonte: Elaborada pelo autor.
2 Preço de venda unitária subtraído dos custos variáveis unitários consumidos em uma unidade produzida.
Fundamentos de custos 121
Existem algumas formas de calcular o ponto de equilíbrio. São elas: Ponto de Equilíbrio
Operacional em unidades (PEO); Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE); e Ponto de Equilíbrio com
múltiplos produtos (Mix).
O Ponto de Equilíbrio Operacional (PEO) define em unidades o número de produtos
(peças, metros, quilos etc.) que deve ser fabricado e vendido para que o resultado seja zero, de
acordo com a seguinte fórmula:
CFT
PEO em unidades =
MCU
5.000
PEO em unidades =
4,0 - 2,50
5.000
PEO em unidades = = 3.333,33 unidades
1,50
5.000 + 3.000
PEE em unidades =
4,00 - 2,50
8.000
PEE em unidades = = 5.333,33 unidades
1,50
Nota-se que para cobrir todos os custos e ainda apresentar o lucro almejado, a empresa de-
verá vender 5.333,00 unidades. A Tabela 17 demonstra o resultado superavitário para quando se
atingir o PEE.
Tabela 17 – Resultado com vendas no PEE
Para determinar a MCU Ponderada, em primeiro lugar deve-se calcular a MCU de cada um
dos produtos. Em seguida, multiplica-se a MCU pelo percentual de participação que cada produto
tem na receita total.
Por último, soma-se as margens ponderadas de cada produto, obtendo-se a MCU Ponderada
de todos eles. Todos esses cálculos estão demonstrados na Tabela 19.
Tabela 19 – Cálculo da Margem de Contribuição Ponderada de todos os produtos
Qual é o volume de produtos que a empresa deve produzir e vender para que seu resultado
seja igual a zero?
CFT
PEO em unidades =
MCU ponderada
90.000
PEO em unidades =
18,75
90.000
PEO em unidades = = 4.800 unidades
18,75
Ao dividir R$ 90.000,00 de custos fixos totais pela margem de contribuição unitária pon-
derada de R$ 17,75, chegamos à conclusão de que devem ser produzidas 4.800 unidades para
obter o Ponto de Equilíbrio Operacional. Como estamos trabalhando com margem ponderada,
é necessário determinar qual é a quantidade mínima de cada produto a ser produzida.
Para se determinar o ponto de equilíbrio de cada produto, basta multiplicar o percentual de
relação de um pela quantidade prevista para o PEO, assim:
Considerações finais
A contabilidade financeira embasa-se totalmente nos preceitos legais e normativos regentes
da contabilidade. Porém, paralelamente, os gestores se obrigam a desenvolver o que se denomina
contabilidade gerencial, sem a qual não seria possível examinar e resolver os dilemas que se apre-
sentam no dia a dia das empresas.
É a contabilidade gerencial que promove a análise do resultado econômico por meio da
relação entre custo, volume e lucro, o que permite determinar o preço e a lucratividade de modo a
realizar o planejamento estratégico na área das finanças.
2. Em relação ao valor dos estoques, qual é a diferença entre custeio por absorção e custeio variável?
3. Quais bases são aceitas para determinar o rateio dos custos fixos?
Referências
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 16: Estoques. Brasília, DF, 2009. Disponível em:
http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/243_CPC_16_R1_rev%2013.pdf. Acesso em: 14 jan. 2019.
IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as
normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2004.
7
Análise das demonstrações financeiras
Após a Grande Depressão ocorrida no mercado financeiro dos Estados Unidos da América,
em 1929, as empresas ficaram obrigadas a apresentar o Balanço auditado. À época, as demons-
trações eram assim denominadas: Demonstração do Patrimônio – hoje denominado de Balanço
Patrimonial; Balanço Econômico – atual Demonstração do Resultado do Exercício; e Balanço
Financeiro – conhecido como Demonstração do Fluxo de Caixa. É por isso que encontramos na
literatura ou mesmo em conteúdos programáticos de algumas disciplinas a expressão análise de
balanços. Contudo, levando em conta que hoje são exigidas as análises de outras demonstrações,
a expressão mais adequada tornou-se análise das demonstrações financeiras.
Oportunamente, convém acrescentar que a análise da situação econômico-financeira de
uma empresa extrapola o conteúdo apresentado nas demonstrações contábeis e engloba dados e
informações que não estão presentes nessas demonstrações.
A análise das demonstrações financeiras pode ser direcionada à própria empresa ou ao
público em geral. Denomina-se análise interna quando sua execução é realizada por profissionais
da própria empresa e objetiva realizar o controle operacional da entidade e dos colaboradores.
De acordo com a escola norte-americana, análise das demonstrações financeiras interna é um
instrumento de correção e de tomadas de decisões. Já a análise externa é promovida por um analista
não vinculado à empresa e é realizada para atender demandas requeridas por agentes externos,
como instituições financeiras, estudos e projetos de ampliação da empresa, fiscalização tributária,
entre outros.
Este capítulo irá fornecer fundamentos teóricos e realizar aplicações práticas com o objetivo
de orientar um analista nas ações de decompor, comparar e interpretar as demonstrações financeiras.
Para isso, é importante que o analista tenha conhecimento de matemática básica e financeira e
que saiba classificar as contas de todas as demonstrações financeiras com a finalidade de aplicar as
fórmulas matemáticas adequadas para a construção de indicadores que irão propiciar a interpretação
dos dados apresentados pela contabilidade.
Os valores absolutos são os descritos nos anos 1 e 2 e a diferença dos valores absolutos é o
resultado obtido pela diminuição dos valores do ano 1 pelos valores do ano 2.
A Demonstração do Fluxo de Caixa pelo método indireto apresenta as variações nos Ativos
não Circulantes no fluxo denominado Investimentos. Com base na Tabela 1, podemos verificar que
houve saídas de caixa pelas aquisições de subsidiárias no valor de R$ 3.950,00 em razão de compras
de Imobilizado no valor de R$ 9.450,00; e pela compra de Intangível no valor de R$ 2.450,00.
Por outro lado, constatamos entrada de caixa pela venda (diminuição) de Ativos financeiros
e pela devolução de empréstimos concedidos às coligadas no valor de R$ 3.000,00. Por tratar de
aquisições ou vendas de contas do Ativo não Circulante, as variações entre essas contas são deno-
minadas atividades de investimento e estão demonstradas na Tabela 2.
Tabela 2 – Fluxo dos investimentos (DFC)
Contas R$
Aquisição de subsidiárias -R$ 3.950,00
Compras de Imobilizado -R$ 9.455,00
Compras de Intangíveis -R$ 2.450,00
Compras de Ativos financeiros R$ 1.000,00
Empréstimos concedidos a coligadas R$ 3.000,00
Como se vê, a variação total do caixa foi de R$ 11.855,00 negativos, o que significa que houve
esse desembolso em decorrência da aquisição de subsidiárias, de Imobilizado e de Intangíveis,
aquisições que resultam no valor de R$ 15.855,00 negativos.
Análise das demonstrações financeiras 129
Por outro lado, houve um recebimento referente à redução de Ativos financeiros no valor de
R$ 1.000,00 e uma devolução de empréstimos realizados pelas subsidiárias no valor de R$ 3.000,00.
Assim, se diminuirmos dos R$ 15.855,00 de saídas os R$ 4.000,00 de entrada, chegaremos ao resul-
tado apresentado na Tabela 2.
Realizada a análise dos valores absolutos, estudamos agora a análise horizontal, que é a
comparação entre resultados da evolução de uma mesma conta em sucessivos períodos contábeis.
De acordo com Azzolin (2012, p. 187)
A análise horizontal, também denominada de análise de evolução, ou de método
de percentagens horizontais, consiste em verificar a evolução, através do tempo,
dos diversos itens que compõem as demonstrações financeiras permitindo, em
consequência, avaliar o crescimento ou a diminuição dos componentes das
demonstrações financeiras através de uma série histórica (vários períodos).
Como se constata, na análise encadeada os valores dos anos 2, 3 e 4 foram divididos pelo
valor do ano 1 – já que este foi considerado como ano-base para os cálculos –, enquanto na análise
anual, o valor do ano 2 foi dividido pelo valor do ano 1. Os valores do ano 3 foram calculados sobre
o ano 2 e os valores do ano 4 foram divididos pelo ano 3.
O terceiro tipo de análise que reflete a tendência de crescimentos ou de diminuições dos
componentes patrimoniais é a análise vertical. Por essa análise, também conhecida por análise de
130 Fundamentos de contabilidade
estrutura ou método de percentagens verticais, calcula-se a participação percentual dos valores dos
diversos elementos que compõem as demonstrações financeiras com relação aos valores totais.
Por exemplo, os valores de Disponibilidades (que é um elemento do Ativo Circulante)
serão divididos pelo valor total do Ativo Circulante para verificarmos quantos por cento as
Disponibilidades representam no valor total do Ativo Circulante. O mesmo procedimento é
adotado para todas as contas e demonstrações: qual a porcentagem que o Capital representa do
Patrimônio Líquido? Quanto a conta Fornecedores representa do Passivo não Circulante?
Como exemplo, vamos considerar a Demonstração do Resultado simplificada desenvolvida
na Tabela 4, com suas partes em relação à conta totalizadora, isto é, a conta que representa 100%
do grupo.
Tabela 4 – Análise vertical da Demonstração do Resultado simplificada
(73.200,00 × 100%)
X= = 61%
120.000,00
(10.000,00 × 100%)
X= = 8,33%
120.000,00
(12.000,00 × 100%)
X= = 10%
120.000,00
Análise das demonstrações financeiras 131
(24.800,00 × 100%)
X= = 20,67%
120.000,00
Realizando esses cálculos na Demonstração simplificada, ela ficará de acordo com o de-
monstrado na Tabela 5.
Tabela 5 – DRE com os cálculos da análise vertical
Descritores Valores AV
Como podemos verificar, ao dividirmos cada uma das partes pelo total, identificamos quan-
to cada parte representa do total.
Agora, vejamos um relatório das análises horizontal (AH) e vertical (AV) das Demonstrações
do Resultado dos Exercícios dos anos 1 e 2 de uma empresa fictícia, com o intuito de interpretar os
percentuais dessas análises.
Tabela 6 – DRE com os cálculos da AH e AV
Evolução Estrutura
CONTAS ano 1 ano 2
AH a2/a1 AV 1 AV 2
(-) ICMS + PIS + COFINS -R$ 20.520,00 -R$ 27.984,00 36,37% 19,00% 22,00%
(-) Despesas operacionais -R$ 22.788,00 -R$ 26.314,00 15,47% 21,10% 20,69%
questionarão: não será possível realizar um planejamento tributário para minimizar a carga
tributária? Qual é motivo do crescimento desproporcional das Despesas financeiras e das Despesas
administrativas? A busca de respostas a essas questões é uma função importante, principalmente
para a correção de falhas e para a definição de metas saneadoras.
As análises dos valores absolutos e as análises horizontal e vertical oferecem evidências que
devem ser confrontadas com outros indicadores, dentre os quais estão os indicadores financeiros,
assunto que veremos a seguir.
ILC = AC / PC
Em que:
ILC = indicador de liquidez corrente
AC = Ativo Circulante
PC = Passivo Circulante
O indicador de liquidez seca revela quanto a empresa possui em dinheiro e bens dispo-
níveis – desconsiderando o valor do estoque – para pagar suas dívidas no curto prazo (próximo
exercício). Ele é obtido por meio da seguinte fórmula:
134 Fundamentos de contabilidade
ILS = (AC – E) / PC
Em que:
ILS = indicador de liquidez seca
AC = Ativo Circulante
E = Estoques
PC = Passivo Circulante
O indicador de liquidez geral esboça quanto a empresa possui em dinheiro e bens realizá-
veis no curto e no longo prazo para pagar suas dívidas também no curto e no longo prazo. Ele é
obtido ao utilizar a seguinte fórmula:
Observados os Balanços dos anos 1 e 2, e fazendo uso das fórmulas, vejamos o resultado do
cálculo dos indicadores de solvência na Tabela 8 a seguir.
Tabela 8 – Indicadores de solvência
(PC + PNC) / AT
Em que:
PC = Passivo Circulante
PNC = Passivo não Circulante
AT = Ativo Total
136 Fundamentos de contabilidade
ANC / PL
Em que:
PL = Patrimônio Líquido
ANC = Ativo não Circulante
A composição do endividamento, que indica quanto da dívida total da empresa deverá ser
paga em curto prazo, é obtida por meio da seguinte fórmula:
CE = PC / (PC + PNC)
Em que:
CE = Composição do endividamento
PC = Passivo Circulante
PNC = Passivo não Circulante
Os percentuais referentes aos indicadores da estrutura patrimonial, calculados com base nos
dados da Tabela 9, podem ser vistos na Tabela 10.
Tabela 10 – Indicadores da estrutura patrimonial
Em que:
PC = Passivo Circulante
PNC = Passivo não Circulante
AT = Ativo Total
PL = Patrimônio Líquido
1 O Passivo não oneroso é composto por obrigações sobre as quais não incidem juros nem atualização monetária.
As Duplicatas a pagar, por exemplo, são um passivo não oneroso, pois se o valor for pago no prazo de vencimento, não
sofrerá acréscimo algum.
138 Fundamentos de contabilidade
Compra de
fornecedores
Recebimento Estocagem de
das vendas matéria-prima
Venda Produção
Estocagem de
produtos prontos
Cada ação do ciclo operacional representado na Figura 1 deve ser convertido em dias,
para isso, desenha-se uma linha do tempo. Vamos considerar a linha do tempo da Figura 2.
Figura 2 – Linha do tempo do ciclo operacional
Compra de Recebimento
Produção
fornecedores das vendas
Estocagem da Estocagem Ciclo operacio-
matéria-prima dos produtos nal (total)
Observa-se que desde o momento da compra até o recebimento das vendas, é demandado
um período de 120 dias, isto é, a empresa obterá dinheiro somente 120 dias após a compra
do produto.
Identificado o prazo de realização de caixa, a questão que se levanta é: a empresa pode
liquidar a obrigação decorrente da compra? A resposta é dada por meio dos cálculos realizados no
ciclo financeiro, também chamado de ciclo de caixa, cuja fórmula é a seguinte:
Ciclo financeiro (CF) = Ciclo operacional (–) Prazo de pagamento das obrigações
Se o fornecedor conceder 60 dias de prazo, está nítido que a empresa não conseguirá liquidar
seu compromisso, fato que resulta em necessidade de capital de giro. Veja na Tabela 11.
140 Fundamentos de contabilidade
Para exemplificar, vamos calcular o indicador referente aos estoques. Os estoques estão
registrados pelo custo de aquisição, por isso mantêm relação com o custo das mercadorias
vendidas (CMV). Imaginando que o valor do estoque seja de R$ 20.000,00 e o CMV seja de
R$ 160.000,00, dividindo-se um pelo outro (20.000,00 / 160.000,00), concluímos que a empresa
tem o correspondente a 12,5% de estoque para suas vendas.
Esse indicador será multiplicado por 360 dias2 e o resultado indicará quantos dias a em-
presa tem de estoque para vender. A seguir, apresentamos um pequeno comentário e as fórmulas
de cálculo. O prazo médio de estocagem mostra quantos dias o estoque demora para ser utilizado
na produção, ou vendido nos casos de empresas comerciais:
Estoques
Prazo médio de estocagem = × 360
CMV
O prazo médio de recebimento das duplicatas, calculado a partir da política de crédito deter-
minada pela empresa, expressa quantos dias a empresa espera, em média, para receber suas vendas
a prazo. A fórmula utilizada é a seguinte:
Duplicatas a receber
Prazo médio de recebimento = × 360
Receita de vendas
2 Para cálculo da rotatividade, considera-se que todos os meses do ano têm 30 dias. Logo, o ano tem 360 dias para
esse fim.
Análise das demonstrações financeiras 141
Fornecedores
Prazo médio de pagamento = × 360
Compras
PM de estocagem + PM de recebimentos
Posicionamento de atividade =
Prazo médio de pagamentos
Descritores ano 1
Estoque de mercadorias R$ 600,00
Compras R$ 5.000,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
142 Fundamentos de contabilidade
Com os dados fornecidos para desenvolvermos uma atividade prática, é possível fazermos
os cálculos.
• Prazo médio de estocagem
600,00
PME = = 0,17 × 360 = 60
3.600,00
O resultado significa que a empresa possui em estoques 17% do necessário para vender
no próximo período, pois possui R$ 600,00 em estoques e vende R$ 3.600,00. Ou seja, a
empresa possui em estoque o suficiente para vender nos próximos 60 dias.
• Prazo médio de recebimentos
600,00
PMR = = 0,075 × 360 = 27
8.000,00
Infere-se que a empresa ainda não recebeu 7,5% das vendas que realizou e que o prazo
médio de recebimento das vendas é de 27 dias.
• Prazo médio de pagamentos
900,00
PMP = = 0,18 × 360 = 64,8
5.000,00
Nota-se que a empresa ainda não pagou 18% das compras que realizou e que o prazo
médio de pagamento das compras é de 64,8 dias.
• Posicionamento relativo
27
Posicionamento relativo = = 0, 42
64,8
60 = 24
Posicionamento de Atividade = = 1,38
60,8
Em conclusão, percebe-se que o gargalo da empresa está no prazo de estocagem, pois ao com-
parar o prazo médio de estocagem com o prazo médio dos recebimentos de vendas, constatamos que
o prazo de estocagem é mais de 100% maior que o de recebimento – e é ele que cria valor para a em-
presa porque uma das motivações para o cliente é a possibilidade de pagar no maior prazo possível.
A exemplo da adoção do sistema just in time, uma negociação para determinar o prazo just in time: no
momento certo.
de pagamento aos fornecedores e uma adequada concessão de crédito aos clientes são os objeti-
vos de uma gestão financeira eficiente e eficaz que deve ser realizada por meio dos indicadores
apresentados.
Além dos indicadores de solvência e de atividades que acabamos de conhecer – que anali-
sam os aspectos financeiros –, a atenção agora volta-se para os indicadores econômicos, objeto da
próxima seção.
As deduções de vendas anulam o valor das vendas, pois representam devolução do que
foi vendido. Os abatimentos concedidos também reduzem o valor das vendas. Os tributos serão
recolhidos ao erário. Dessa maneira, “ao se proceder a análise econômica, quando for necessário
reportar-se à Receita, adotar-se-á a receita líquida de vendas e serviços sob a denominação de
‘vendas’” (AZZOLIN, 2012, p. 239).A expressão Lucro Bruto refere-se ao resultado da Receita
subtraída do Custo dos produtos vendidos (CPV).
O Lucro Líquido Operacional é o Lucro Bruto deduzido dos gastos com as atividades não
ligadas diretamente ao processo produtivo, como nos casos de despesas com vendas e despesas
gerais e administrativas. Esse Lucro Líquido Operacional é o que denominamos de EBITDA3,
capaz de identificar a geração de caixa antes dos juros, tributos, depreciação e amortização.
Atualmente, o EBITDA é utilizado no Brasil em decorrência da conversão às normas internacionais
de contabilidade.
3 EBITDA é uma sigla inglesa que significa Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization ou, traduzindo
livremente, “Lucro Antes dos Juros, dos Impostos, da Depreciação e da Amortização”.
144 Fundamentos de contabilidade
Ao adquirir uma ação ou uma quota do capital de uma empresa, o investidor almeja resultado
financeiro. A mensuração e a rentabilidade são medidas por meio dos indicadores que se embasam
no lucro. Vamos analisá-los na sequência.
O giro do Ativo mostra a proporção existente entre o volume de vendas e os investimentos
totais realizados pela empresa, ou seja, quanto a empresa vendeu para cada R$ 1,00 de investimen-
tos no Ativo. A fórmula utilizada para obter esse indicador é:
Vendas
Ativo Total
4 EBT significa Earning Before Taxes ou, traduzindo livremente, “Lucro Antes dos Impostos”.
Análise das demonstrações financeiras 145
de 8% (80.000,00 / 1.000.000,00). Os gestores de qual das duas empresas teria agido com mais
eficiência? Os cálculos devem ser feitos por meio da seguinte fórmula:
Lucro Líquido
Ativo Total
Lucro Líquido
Patrimônio Líquido
A margem das vendas revela a rentabilidade obtida pela empresa em função de seu fatura-
mento, ou seja, quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 1,00 vendido. Esse valor é obtido
aplicando-se a fórmula a seguir:
Lucro Líquido
vendas
EBITDA
Receita Líquida
pay-out = dividendos
Lucro Líquido
O Lucro por Ação (LPA) representa a parcela do Lucro Líquido que compete a cada ação da
empresa. Esse indicador é obtido por meio da seguinte expressão:
Uma parte dos lucros auferidos nos diversos períodos da existência da empresa é distribuída
aos sócios ou acionistas, enquanto a outra parte permanece retida na empresa, com base na decisão
da Assembleia de acionistas. Por derivar dos lucros, os valores que permanecem na entidade
são agrupados em Reservas de Lucros, ensejando aumento do Patrimônio Líquido. Disso resulta
que o valor patrimonial6 é diferente do valor nominal7, sendo determinado da seguinte maneira:
Imagine que uma empresa tenha acionistas dispersos pelo mundo inteiro em decorrência da
globalização da economia. Eles elegem gestores para administrar a empresa e esperam que estes a
dirijam com eficiência e eficácia para que os investimentos realizados lhes propiciem um retorno.
Em outras palavras, eles esperam que sejam remunerados pelo lucro e que essa remuneração seja
maior que as de outras empresas, pois, se assim não for, convém vender as ações e adquirir outras
ações de companhias de maior rendimento. Esse entendimento, por si só, já justifica a importância
dos indicadores que acabamos de explicitar.
Para exemplificar os cálculos dos indicadores econômicos aprendidos, vamos utilizar dados
fictícios da Demonstração do Resultado (Tabela 13) e do Balanço Patrimonial (Tabela 14),
apresentados a seguir.
6 O valor patrimonial das ações é o valor do Patrimônio Líquido dividido pela quantidade de ações.
7 O valor nominal das ações, denominado valor de face, é o constante nos estatutos sociais.
Análise das demonstrações financeiras 147
Descritores ano 2
Com os dados dessas duas demonstrações, é possível calcular todos os indicadores referen-
tes à situação econômica da empresa. É o que faremos a seguir.
148 Fundamentos de contabilidade
vendas
Lucro Líquido do Exercício
Ativo Total
Ativo Total
30.075,00
= 0,85 566,66
35.970,00 = 0,016
35.970,00
No ano 2, o Ativo girou 85%, ou seja, a Receita de
No ano 2, a rentabilidade do Ativo Total foi de 1,6%,
Vendas de um ano quase atingiu o valor de todos
o que quer dizer que todos os investimentos realiza-
os investimentos realizados no Ativo Total.
dos geraram um retorno (ganho) de 1,6% a.a.
EBITDA %RetPL
vendas %RetA
4.065,60 0,029
= 0,132 = 1,841
30.705,00 0,016
%RetPL = percentual de retorno do
Patrimônio Líquido
Significa que, no ano 2, a margem do EBITDA sobre %RetA = percentual de retorno do Ativo
as vendas foi de 13,2%. Podemos concluir, com isso,
Quando o grau de alavancagem financeira for maior
que as atividades operacionais da empresa geram um
que 1, isso indica que o endividamento tem um efeito
lucro de 13,2%.
de alavanca sobre o lucro, ou seja, o capital de terceiros
contribui para um retorno maior para os acionistas.
Quando o grau de alavancagem é igual a 1, a situação é
nula, ou seja, é indiferente tomar recursos de terceiros
ou dos acionistas. Entretanto, se o grau é menor que 1,
significa que o capital de terceiros está consumindo o
capital próprio em decorrência da incidência de juros.
(Continua)
Análise das demonstrações financeiras 149
Os indicadores que acabamos de calcular e analisar devem ser comparados com aqueles
apresentados pelas empresas do mesmo setor e com os índices oficiais. Tomemos como exemplo
a rentabilidade do Patrimônio Líquido que calculamos anteriormente e vamos compará-la às
de diversos setores de atividades, com base nos dados e informações constantes no site do
Instituto Assaf8.
Tabela 15 – Retorno do Patrimônio Líquido de alguns setores no ano de 2017
Setores de atividades %
Serviços educacionais 13,10%
Vestuário 12,40%
Fonte: Adaptado de Instituto Assaf, 2019.
É importante notar que se a empresa objeto desta análise for dos setores de serviços
educacionais ou de vestuário, a rentabilidade do Patrimônio Líquido deixa muito a desejar, pois
o rendimento da empresa foi de 2,9%, muito aquém ao das outras empresas do mesmo ramo.
Por outro lado, se o setor for de serviços computacionais, de varejo de linhas especiais ou de
veículos terrestres e aéreos há que se festejar, pois esses três setores apresentaram índices negativos.
Assim, não basta calcular os índices, é necessário compará-los com o das empresas do mesmo ramo.
Considerações finais
Uma das funções da contabilidade é a de promover a análise das demonstrações financei-
ras por meio de diversos indicadores que interagem entre si. Os indicadores de rentabilidade e
8 O Instituto Assaf traz informações sobre indicadores da economia, rendimento de aplicações financeiras, indicado-
res de valor, indicadores de mercado, entre outros.
150 Fundamentos de contabilidade
de atividades, ao longo dos anos, exercem um efeito muito grande sobre os índices de liquidez
e de endividamento.
A análise das demonstrações financeiras no Brasil, a partir de 2007 – ano em que nosso
país começou a adotar as normas internacionais de contabilidade e auditoria – passou a utilizar
obrigatoriamente expressões novas (destacando-se o EBITDA) e começou a se preocupar muito
mais com a avaliação de empresas, pois o valor de uma empresa é definido pelos resultados por
ela esperados.
Não basta que as entidades possuam prédios enormes e modernos, maquinaria sofisticada
etc. se esses recursos não forem capazes de gerar resultados, pois não haverá acionista que compre
suas ações.
Além de calcular os indicadores da própria entidade, é necessário compará-los aos de outras
empresas, pois é assim que um investidor procede: ele estuda a situação financeira e econômica
das empresas para decidir de qual (ou quais) irá comprar ações.
Internamente, a análise dos indicadores deve propiciar à empresa a possibilidade de tomar
decisões, no intuito de corrigir eventuais erros e, principalmente, de projetar o futuro. Por isso, as
demonstrações financeiras elaboradas com base em registros dos fatos contábeis e que têm a finali-
dade de demonstrar as situações econômicas, financeiras e patrimoniais são complementadas pela
análise, que tem o objetivo de avaliar os resultados obtidos, objetivando principalmente estimular
os investidores.
Atividades
1. Por que o valor nominal de uma ação é diferente de seu valor patrimonial?
2. É possível afirmar que os indicadores são independentes e a análise isolada de cada um deles
pode conduzir à determinação do desempenho da empresa? Justifique.
Referências
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico financeiro. 10. ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
AZZOLIN, J. L. Análise das demonstrações contábeis. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2012.
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 30 out. 2018.
FERNANDES, P. O. Análise de balanços no setor público: em que consiste a análise de balanços e qual a sua
importância para o setor público? Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, DF, v. 26, n. 108, p. 60-68,
nov./dez. 1997.
FRANCO, H. Estrutura, análise e interpretação de balanços: de acordo com a nova Lei das S.A., Lei n. 6.404,
de 15-12-1976. 15. ed. São Paulo: Atlas, 1989.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
INSTITUTO ASSAF. Finanças corporativas e valor no Brasil. 2019. Disponível em: http://www.institutoassaf.
com.br/2012/. Acesso em: 23 jan. 2019.
MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: uma abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
VALOR ECONÔMICO. 1000 maiores empresas e as campeãs em 25 setores e 5 regiões. 2017. Disponível em:
https://www.valor.com.br/valor1000/2017. Acesso em: 23 jan. 2019.
Gabarito
1 A contabilidade
1. A característica atrelada a essa afirmativa é a primazia da essência sobre a forma. Essa
característica determina que mesmo que um evento tenha forma legal e se sua forma
tiver sido artificialmente produzida, abandona-se o documento, pois foi produzido de
modo artificial e se faz o registro pela essência.
2. A obra Liber abaci (1202) tornou-se importante para as duas áreas porque contém regras
para cálculos com numerais indo-arábicos e capítulos sobre adição, subtração e preços
de produtos. Ela também trata de diversos problemas de natureza prática, como cálculo
de lucros, conversões e mensuração de moedas.
3. Pode-se dizer que a escola europeia era mais voltada para o mundo acadêmico e produziu
dezenas de obras somente para construções teóricas sobre a contabilidade. A escola norte-
-americana, por outro lado, pouco se preocupa com a teoria e volta-se pragmaticamente
aos aspectos práticos das questões econômico-administrativas, produzindo muito mais
arte que ciência.
2 O patrimônio
1. Não é possível atender à solicitação de José pois, juridicamente, para ser reconhecido pela
contabilidade, o bem deve reunir três condições mínimas: ter valor econômico, poder
ser convertido em dinheiro e ser útil e capaz de satisfazer as necessidades da entidade.
No caso apresentado, o móvel, como um bem de uso, possui um valor objetivo, entretanto
seu valor sentimental não pode ser convertido em valor econômico (vale somente a
quem possuir um sentimento com relação ao móvel, não sendo útil às necessidades
da entidade).
2.
3. O valor do jogador de futebol é um bem infungível, pois cada atleta tem um preço
denominado de passe. Esse bem, porém, só pode ser escriturado por meio de uma
documentação probante, isto é, quando um clube adquire o passe de um jogador de
futebol, é lavrado um contrato de compra e venda. Esse contrato é um comprovante do
valor do jogador, sem ele, não é possível registrar contabilmente esse valor.
154 Fundamentos de contabilidade
4 Balanço patrimonial
1. A disposição está correta porque a legislação vigente determina que no Ativo as contas sejam
dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez. As duplicatas a receber têm vencimento
a partir do dia de hoje, enquanto os estoques têm de ser vendidos e, normalmente, vão
compor o grupo de Duplicatas a receber.
2. Quando uma empresa emite novas ações e as coloca à venda, pode acontecer de o investidor
comprá-las por maior valor que o valor nominal (valor de face) da ação em virtude de
considerar que será um bom investimento e poderá vendê-la com lucros. O valor que exceder
o valor nominal deverá ser contabilizado como ágio na emissão de ações até que os sócios,
em Assembleia Geral Extraordinária, resolvam convertê-lo em Capital Social.
5 Demonstrações financeiras
1. Os fatos contábeis permutativos ocorrem quando se transfere um valor de uma conta à outra
dentro do Patrimônio Líquido, por isso eles não o modificam. Já os fatos contábeis modificativos,
como expresso na própria denominação, modificam o Patrimônio Líquido, modificação esta
que pode ser aumentativa (quando o valor do PL é aumentado) ou diminutiva (quando o valor
do PL é diminuído).
Gabarito 155
2. Esta afirmativa não é correta. Quando a opção de elaboração da DFC for o método indireto,
há um detalhamento das contas de atividades operacionais, porém, os dados dos campos de
financiamentos e de investimentos são os mesmos para os dois métodos.
3. Sim, é correto afirmar que a DRE e a DMPL são interdependentes e a DFC é independente,
pois na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, efetua-se a contrapartida do
encerramento da Demonstração do Resultado do Exercício. Já a Demonstração do Fluxo
de Caixa colhe e seleciona dados dessas duas demonstrações, sem realizar lançamentos
contábeis nelas.
6 Fundamentos de custos
1. Para a elaboração de um produto, é necessária a existência de uma matéria-prima que será
transformada. Porém, ela não pode realizar por si só essa transformação, sendo necessária,
portanto, a participação de outros dois componentes: mão de obra e custos de transformação.
Além disso, nem sempre é possível agregar estes três componentes em apenas um local,
por isso, divide-se a fábrica em centros. Os centros produtivos são os locais por onde o
produto transita; os demais são denominados centros de serviços ou auxiliares, tendo como
finalidade prestar serviços aos centros de produção.
2. No custeio por absorção, todos os custos – sejam variáveis ou fixos – são atribuídos ao produto.
Dessa maneira, ao ser levado aos estoques, ele carrega consigo todos os custos incorridos, ou
seja, ele absorve todos os custos. Já no custeio variável, por entender que somente os custos
variáveis podem ser atribuídos aos produtos, na transferência para os estoques somente esses
custos são agregados ao produto e os custos fixos são controlados separadamente.
3. Existem diversas bases para se efetuar o rateio dos custos fixos, sua escolha merece uma
análise técnica e profunda do gestor. O aluguel, por exemplo, tem relação com o porte do
imóvel, assim, o modo mais razoável de ratear o valor do aluguel é com base no espaço
ocupado pelos diversos centros ou pessoas. Outro exemplo seria o rateio da energia elétrica,
que deve embasar-se no consumo de cada unidade. Em decorrência disso, a maneira mais
técnica de realizar o rateio seria por meio de medidores de consumo a serem instalados em
cada uma das unidades.
2. Não, pois os indicadores interagem entre si. Não adianta, por exemplo, apresentar um alto
índice de liquidez comum se os valores a receber demoram para ser recebidos e os valores a
pagar devem ser quitados imediatamente. Um valor expressivo de Receita Bruta de Vendas
e uma pequena rentabilidade não estimulam a compra de ações.
156 Fundamentos de contabilidade
3. Quando se calcula o índice de liquidez corrente, divide-se o valor do Ativo Circulante pelo
valor do Passivo Circulante. Ocorre que o prazo de recebimento dos valores pode ser maior
que o do pagamento das exigibilidades e, por isso, o índice fica distorcido. É necessário que
se calculem os prazos médios de recebimentos e de pagamentos para, posteriormente, juntá-
-lo ao índice de liquidez corrente, concluindo, assim, se a empresa tem condições de pagar
adequadamente suas obrigações.
Fundamentos de contabilidade
Atualmente, a importância da contabilidade é reconhecida não só pelos
contadores, mas por empresários, administradores e gestores dos mais diversos
segmentos. Isso se deve à relevância das informações contábeis, não apenas
para o cumprimento de formalidades legais, mas para a gestão das empresas e
tomadas de decisões diárias inerentes ao universo corporativo.
Vamos apresentar tanto aspectos elementares e conceituais da contabilidade
– desde suas primeiras aparições – quanto conhecimentos da prática contábil
José L. Azzolin
atual – após a adoção de padrões internacionais.
O enfoque na prática atual possibilita ao profissional de contabilidade e aos demais
interessados nas informações contábeis compreender conceitos, lançamentos e Fundamentos de
demonstrações, e atrelá-los ao bom gerenciamento de um negócio por meio de
análises específicas e do monitoramento do desempenho das empresas.
contabilidade
José L. Azzolin