Langfur Traduzido Por Paulo ELE
Langfur Traduzido Por Paulo ELE
Langfur Traduzido Por Paulo ELE
da Universidade do Texas
Os habitantes da Minas Gerais colonial que migraram para o oeste, sul, e leste
partindo do núcleo urbano de mineração do ouro, à medida que o declínio que se
seguiu à corrida do ouro tornou-se mais pronunciado, depois da metade do século 18
tinham outra visão. Para sua grande decepção, eles sabiam que os índios de fato
tinham sobrevivido no sertão, muito embora não estivessem fadados a fazê-lo como é
ressaltado em monografias históricas posteriores. A oeste do Rio São Francisco,
através da fértil região que se transformaria no Triângulo Mineiro, os caiapós se
espalhavam livremente, formando uma barreira ao povoamento lusófono mesmo
dentro do século XIX. Um funcionário descreveu em 1807 essa área entre Minas
Gerais e Goiás, dizendo que compreendia “os sertões despovoados, habitados
unicamente pelos caiapós, selvagens ferozes que causavam grande dano aos viajantes
que passam por aquelas terras” (4). Ao sul e sudoeste do distrito minerador, viviam
os coropós e coroados. Perseguidos pelos bandeirantes durante o século dezessete,
lutavam para manter suas terras nativas fazendo oposição aos colonizadores ao longo
da maior parte da segunda metade do século dezoito. (5).
Mas era especialmente no sertão à leste que os índios continuavam a se impor sem
contestação. Os puris mantinham resolutamente os limites ao sul da floresta tropical e
subtropical que separa Minas Gerais da costa atlântica. Seu domínio estendia-se do
Rio Paraíba às Montanhas da Mantiqueira até às margens superiores do Rio Doce.
Os maxacalis (incluindo os subgrupos macuní, cumanaxó, capoxó, panhame, e
monoxó) e os camacã, habitavam as colinas cobertas de florestas que dividem Minas
Gerais do litoral da Bahia, incluindo partes dos vales dos rios Pardo, Jequitinhonha, e
Mucuri. Entre e sobrepondo-se à essas zonas, os pataxós e malalí ocupavam terras
que iam dos vales dos Rio Pardo aos vales do Rio Doce. (6) E sobretudo, cobiçando o
território destes e de outros grupos, dominando uma vasta extensão de terreno
montanhoso cobrindo cerca de 7200 quilômetros quadrados do Rio Pomba ao norte
do Rio Pardo e além, os aimorés ou botocudos, que ficaram cada vez mais
conhecidos depois da metade do século dezoito, bloqueavam o povoament e a
exploração de novos depósitos de ouro e diamante.
*****
Desta forma, ao longo do tempo, a base geográfica das rotas de acesso ao distrito
minerador e ao padrão de colonização confundiam-se com o exercício do poder
colonial para delimitar os limites daquelas terras ocupadas pelos colonos e,
inversamente, aquelas terras que serviam de refúgio para os índios que continuavam
donos da situação. Ao leste, em Ilhéus, Porto Seguro, e Espírito Santo – quase toda a
distância, em outras palavras, entre as cidades do Rio de Janeiro e Salvador – o
povoamento estava restrito a uma estreita faixa ao longo da costa marítima,
principalmente em razão da presença dos indígenas. A coroa procurou
conscienciosamente transformar a área entre a costa e o distrito minerador no interior
em uma espécie de terra de ninguém florestal, habitada por antagonistas nativos, cuja
inimizade, cultivada no decurdso de dois séculos de conflito com os colonizadores
portugueses, impediria o acesso não autorizado às minas e o contrabando do seu
produto para o litoral. (19)
Mapas da região fornecem outro aferidor da eficácia dessa barreira e o status que o
sertão ganhou de território indígena. Traçado em meados do século dezesseis, antes
da incorporação do conhecimento geográfico resultante da corrida do ouro, o mapa
do cartógrafo holandês Joan Blaeu representava o interior do Brasil virtualmente
vazio mas dividido em diversas regiões identificadas pelos grupos indígenas que nele
habitavam. A zona que separava as capitanias litorâneas de Ilhéus, Porto Seguro,
Espírito Santo, e Rio de Janeiro da região que mais tarde evoluiria para ser um
distrito minerador – a zona que veio a ser conhecida em Minas Gerais como o leste
do sertão – trazia os nomes das seguintes tribos indígenas de norte a sul: os
guaymorés (a oeste de Ilhéus); os aimorés (a oeste de Porto Seguro); os apiapetangs,
os tapuias, e Margaias (a oeste do Espírito Santo); e os molopaques e tupinambauti (a
oeste do Rio de Janeiro). Um mapa posterior de Blaen representa as bacias fluviais do
interior com um pouco mais de detalhe e altera os nomes de alguns grupos indígenas.
Do norte para o sul incluem os tupinachins (a oeste de Ilhéus); os aimorés, gaymorés,
e apiapetangas (a oeste de Porto Seguro); o tomonymeno, margayas, e tapuyas (a
oeste do Espírito Santo); e os tupinambautis (a oeste do Rio de Janeiro). O território
controlado pelos aymorés, aos quais os porgugueses chamariam mais tarde de
botocudos, estende-se pelo lado oeste do Rio São Francisco, emborar não haja razão
para acreditar que Blaeu baseasse o tamanho do seu território em qualquer coisa que
não fosse especulação. Os puri (no mapa seu nome é transcrito como Pories), que
também ocuparam o leste do sertão, similarmente aparecem mais ao oeste, além do
Rio Paraná. (21)
Esta exploração, apesar das proibições, continuando na bacia do Rio Doce (e por
inferência em outras bacias do leste do sertão) do tempo de Blaeu indo para meados
do século dezoito está confirmado por um mapa datado de 1750, quando as grandes
descobertas do ciclo do ouro eram coisa do passado, e seu ouro de aluvião estava
virtualmente esgotado. Mesmo neste estágio inicial da crise econômica que se
seguiria, a atenção estava focalizada no leste do sertão. Este mapa, cujo autor
permanece desconhecido, mostra muitos dos numerosos afluentes do Rio Doce. Rio
abaixo, a partir de Mariana, algumas poucas cidades e paróquias marcam agora a
paisagem, incluindo Furquim, Piranga, e Antônio Dias (Abaixo?). E ao norte,
Peçanha (no mapa chamada de Santo Antônio do Bom Sucesso) aparece às margens
do Suaçuí Grande, um dos numerosos tributários do Rio Doce. O cartógrafo chamou
a atenção para uma parte específica do sertão, observando a existência de “campos de
esmerada com várias jazidas ainda por serem descobertas.” Curiosamente, no entanto,
ele esqueceu-se de fazer qualquer menção aos indígenas, como se a barreira que eles
representavam às descobertas que esperavam ser feitas não tivessem ainda se
transformado no problema claramente definido que viria a ser por volta de 1760. É
este também o caso de um mapa que descreve a expedição de 1764 do Governador
Silva pelo sertão ao sul e ao oeste de Vila Rica, um mapa que também inclui o leste
do sertão para o qual Silva viria a dirigir diretamente sua atenção ao elaborar sua
agressiva política indígena. (22)
Após a virada do século dezenove, a presença indígena preocupada cava vez mais os
cartógrafos. Um mapa comparativamente detalhado que inclui o sertão separando
Minas Gerais de Ilhéus e Porto Seguro é comprovação não apenas da sobrevivência
tenaz dos indígenas na região protegida contra contrabandistas, e pressão crescente
dos colonizadores, mas também do modo pelo qual os indígenas eram sem sombra de
dúvida, mais do que nunca, representados como uma barreira para uma colonização
desse tipo. Esse mapa menciona a saga das fazendas próximas à Peçanha sujeitas à
“invasão de numerosos selvagens da nação tocoió” (outro subgrupo botocudo), que
habitava as margens do Rio Araçuaí. Em algum lugar estavam as áreas nas quais
“uma multidão de botocudos selvagens e outros perambulam,” bem como aquelas
ocupadas pelos “ferozes e selvagens pataxós” e as em que “os selvagens Amburés
costumeiramente assaltam fazendas.” Também são descritas as as aldeias dos
Tupinambás e Camacãs, ambos taxados de “fugitivos”, sugerindo que eles haviam
anteriormente ocupado terras vizinhas aos núcleos colonizadores portugueses mas
que tinham então se retirado para o centro do sertão, procurando refúgio em áreas
mais remotas à medida que a relação com os colonizadores se tornava mais
dificultosa. Já em 1810, outros cartógrafos anônimos descreveram o leste do sertão
como um território “no qual perambulam os selvagens botocudos”. Ao sul desse
território estão um sertão “povoado pelos ferozes e selvagens puris” e “dominado
pelos selvagens guarulhos,” que tinham de modo similar buscado refúgio nas
florestas remotas, subindo os rios Pomba e Muraié a partir do Rio de Janeiro rumo a
Minas Gerais, onde se transformaram, de acordo com o cartógrafo, nos “únicos
adversários dos botocudos.” (24)
Todos esses mapas mostram ainda que não foi estabelecida nenhuma fronteira
política entre Minas Gerais e Espírito Santo, de tão inexplorado e desconhecimento
que era o território em questão. Em 1780, tendo completado seu mapeamento
ambicioso, Rocha escreveu que “entre a capitania de Minas Gerais e a do Espírito
Santo não existe divisória conhecida salvo a da Ilha da Esperança,” uma pequena ilha
no Rio Doce. Nenhuma outra fronteira foi estabelecia, pois aqueles eram “sertões
escassamente penetrados, povoados por selvagens de várias nações.”(25) A legislação
que se destinava a delimitar a fronteira entre Minas Gerais e Espírito Santo, editada
em 1800 e confirmada pelo édito real em 1816, fracassou na resolução do que iria se
desenvolver em acirrada disputa fronteiriça e que permaneceu em litígio até o século
vinte. A região disputada reteve sua designação de “Território Aimoré” até no século
vinte.
A conexão entre índios e fronteiras não existiu por acaso. A divisão de limites que
faltava para as capitanias, a ausência de uma linha imaginária diferenciando uma
jurisdição colonial de outra, eram testemunho tanto do vácuo do poder colonial
quanto do predomínio do índio. A fronteira ocidental da capitania, também, não tinha
linha bem definida, mas “os sertões despovoados” continuaram vazios sem colonos
por causa dos caiapós. O mesmo era verdadeiro quanto a parcelas da fronteira ao sul
com São Paulo, onde os caiapós impediram a exploração e a colonização pelo menos
até a chegada do ano de 1760.(27) Mesmo as divisões de limites entre comarcas
específicas, especialmente nos casos em que coincidiam com a área de floresta ao
leste, eram “imprecisas,” queixava-se o governador Noronha em 1779, dizendo que
sido estabelecidas em uma época em que essas terras eram “despovoadas,
desconhecidas, e habitadas por índios selvagens, e apenas uma parte delas ainda
sobram”.(28) Mas era acima de tudo as terras entre Minas Gerais e as capiutanias a
leste que constituíam “um deserto,” no dizer de um contemporâneo. (29) Ali, em
lugar de uma fronteira formal, a coroa e, quando lhes convinha, os donatários de
capitanias criaram outro tipo de autoridade jurisdicional – a da ausência forçada. Para
tanto, traçavam linhas imaginárias que tinham um significado que não ia além de
representarem fronteiras políticas, linhas que separavam o território minerador
estabelecido do território dominado pelos indígenas da costa litorânea. Essas linhas
dividiam e definiam as identidades coloniais de acordo com padrões tão antigos
quanto os da colonização portuguesa do próprio Brasil. A fronteira entre as
sociedades de colonos e as sociedades nômadas, entre a economia mercantil e a
economia baseada em laços de sangue, entre, para usar o termo empregado pelos
colonizadores, o cristão e o pagão, o civilizado e o selvagem, tinha suas linhas
divisórias que emergiam de um ou outro desses modos de vida que reforçava depois
as oposições instaladas no centro dessa dinâmica fluida de contenção de fronteiras e
conquista da periferia do núcleo minerador urbano. (30) O território desde há muito
destinado a ser terra incógnita assumia desta forma um significado que ia bem além
das fronteiras geográficas, que deu surgimento a um padrão de colonização rarefeito e
a preocupações quanto ao contrabando e vigilância que prolongaram seu status como
fronteira.
Quanto mais os portugueses tinham êxito na criação de uma zona – ou até a idéia de
uma zona como essa – fora dos limites para a sociedade instalada, “civilizada”, tanto
mais os índios que viviam ali podiam ser tipificados como “não-civilizados.” Até o
ponto em que os índios eram identificados referenciando-os com o “interior dos
sertões” impenetrável, eles eram vistos como sendo parte da natureza selvagem,
como “ferozes” e “desumanos”, como “bestas irracionais” ou até como “mais
ameaçadores do que as próprias bestas.” (32) Tornou-se cada vez mais difícil
diferenciar a ameaça rotineira que eles constituíam para os renegados
contrabandistas, em função do impedimento intolerável que representavam para os
colonos. No dizer de um sacerdote, os índios que ocupavam o leste do sertão eram
“bandidos perversos”, “inimigos”, ou então “malfeitores” que “insistem de modo
escandaloso em serem nossos carrascos e inimigos exponenciais do contrato social
civil e humano.” (33) Ele não atentou para o fato de que, naturalmente, isto acontecia
porque eram precisamente essas as características que se supunha fossem de
utilidade para os propósitos do governo. Mas tais propósitos não faziam exclusão do
concomitante insulto experimentado diante da presença do índio. Ao contrário, os
próprios funcionários passaram a ver os índios como indomesticáveis não porque o
eram, mas precisamente por causa das proibições destinadas a isolar o seu território.
E quanto mais os índios pareciam exercer controle indiscutível sobre o seu território,
mais eles inspiravam terror nas mentes dos colonos, inclusive dos funcionários. Uma
política destinada a criar barreira para o contrabando, criava medo, ódio racial, e um
ímpeto irreprimível de conquista.
Outra consequência do veto à entrada no leste do sertão, e uma outra maneira pela
qual este veio a ser solapado, foi o status que a região ganhou, pouco distante do
mítico, que é o de um lugar de fecundidade sem paralelos. Enquanto parcelas
substanciais da região permanecessem como terra incógnita, inexploradas e
desconhecidas, e agressivamente retratadas como tais, os colonos podiam manter os
mesmos sonhos e fantasias que tinham levado à conquista das Américas desde o
princípio, inscrevendo-os por sobre as montanhas ainda não conquistadas, florestas, e
vales de rios separando o distrito minerador do mar. Os colonos passaram a valorizar
a região em proporção direta com a impenetrabilidade da barreira, tanto real quando
suposta, criada por seus ocupantes originais. Assim esse sertão podia ser descrito
como “salubre” e carregado de “riqueza escondida”, mantendo a promessa de futuro
povoamento e abundância, e simultaneamente, podia ser ainda descrito como um
lugar “infestado pelos puris”, como se eles fossem uma porção de formigas ou
moscas, ou corrompidos por um difuso “temor dos índios ferozes da nação dos
botocudos,” e, consequentemente, inabitável.
Mas existe também uma incongruência marcante entre o chamamento de Ottoni para
a conquista e os eventos que o precederam. A conquista militar do leste do sertão
começou em torno de 1760. Ottoni fez suas propostas expansionistas um quarto de
século mais tarde. Fez referência ao fato de que os habitantes de Minas Gerais já
estavam despachando bandeiras para procurar ouro e pedras preciosas. (37) Mas ele
não percebeu o significado desse fato, e o mesmo pode ser dito dos historiadores.
Focados na política da coroa em vez da efetiva incorporação da fronteira da forma
como foi concebida e executada tanto formalmente pelos donatários de capitanias e
informalmente pelos colonizadores, todos simplesmente ignoraram a importância do
avanço dos militares e dos colonizadores rumo ao leste do sertão, que era
basicamente uma resposta ao declínio da economia mineradora. Similarmente, não
levaram em consideração o destino dos índios da região. O avanço para o leste do
sertão – de fato, uma era nova para as bandeiras reclamada por Ottoni – começou
para valer após a posse do governador Silva. Continuou inegavelmente tempos depois
em cada mandato dos governadores que o sucederam até o fim do século e seguiu,
após, sem contestação, entrando no século dezenove. Em alguns casos os soldados
lideraram a marcha, em outros, os colonizadores o fizeram e depois chamaram os
militares para defender o novo território recentemente colonizado e exposto ao ataque
dos índios. No tempo de Ottoni, um sem número de expedições tinham já penetrado
profundamente nas florestas ao leste à procura de novas riquezas, ou para combater
os índios que se pusessem em seu caminho, ou ambos, em atitude contrária à todas as
medidas tomadas para resguardar a região fora-dos-limites. (ver tabela 4.1). A
política da coroa de manter o sertão como uma barreira ao contrabando continuou
em vigência até o começo do século dezenove, mas as autoridades locais,
respondendo às pressões de um número crescente de mineiros empobrecidos,
fazendeiros e granjeiros, forjou, simultaneamente, uma política incompatível de
abertura do território à exploração e colonização. Toda atividade na região, toda
faceta das relações entre estado, colonizadores, e índios, teria seus indícios revelados
graças às contradições inevitáveis e específicas entre esses objetivos opostos entre si.
Pouco se tem escrito sobre as implicações dessa legislação para o Brasil não-
amazônico. (54) Formalmente instituída pela coroa e estendida ao restante da
América portuguesa por édito de agosto de 1758 e também na assim chamada
Direção, legislação de maio de 1759, o Diretório permaneceu como ossatura da
política indígena até ser abolido em 1798, e em várias regiões do Brasil seu preceitos
continuaram em vigor até a chegada do século dezenove, nele permanecendo. (55)
Entretanto os historiadores não acompanharam seus efeitos, sujeitos talvez a
equívocos, como o de Capistrano de Abreu, influente e estudioso de envergadura
intelectual que se expressou dizendo que “no resto do Brasil, os assuntos indígenas
não eram mais objeto de preocupação, e que a violência contra eles não foi tão grande
como o que aconteceu no extremo norte.”(56)
No registro oficial do seu governo delineando as bases para suas ações, Silva
estabeleceu a legitimação de uma política de conquista militar citando três
documentos. O primeiro foi a ordem que ele recebeu como governador de
Pernambuco em 1758 na qual a coroa o instruía a tomar medidas, de acordo com seus
decretos anteriores, para devolver a liberdade aos índios nas aldeias de Pernambuco ,
colocando-os, ao mesmo tempo sob a autoridade civil dos diretores brancos. Os
funcionários tinham que dar aos índios das aldeias “todo o apoio e proteção de que
eles necessitavam até que eles estivessem inteiramente na posse mansa e pacífica
dessas liberdades.” O solo da aldeia seria protegido sob a forma de uma concessão do
rei (sesmaria) e seria entregue aos índios para se beneficiarem com atividade agrícola
e comércio. As aldeias seriam ser convertidas oficialmente em cidades com nomes
portugueses em vez de “nomes bárbaros” atribuídos pelos nativos. A autoridade
secular em vez da religiosa governaria esse núcleos colonizadores. O segundo
documento reafirmava o fim do domínio dos missionários em todas as aldeias
indígenas às vésperas da expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759. O terceiro
documento, uma carta de Furtado, agora em Portugal, datada de 12 de fevereiro de
1765, dois anos após Silva ter assumido a liderança de Minas Gerais, comunicava
sobre a permissão do monarca para continuar com uma tentativa começada no ano
anterior de distribuir mercadorias entre certos índios do leste do sertão com o fim de
“estabelecer algum comércio” na margem de seus rios, especificamente dos rios Doce
e Piracicaba. Furtado disse a Silva que o rei pagaria as despesas decorrentes do
esforço. Ele conclamou o governador a “trabalhar o quanto mais possível para
estabelecer núcleos urbanos civis entre os mesmos índios, utilizando todos os meios
que fossem julgados necessários.” O rei, asseverou Furtado, estava convencido de
que além dos possíveis lucros em acréscimo vindos do comércio na região, haviam
outros benefícios “ainda mais importante, tanto temporais como espirituais, que se
seguirão na medida que nos familiarizarmos e nos associarmos com esses infelizes
povos que, por causa da tirania com a qual sempre têm sido tratados, encontram-se
no estado de ignorância no qual nasceram.” Condenados a esse destino, esses índios
tinham se degradado transformando-se para os portugueses em “inimigos mortais,
almas perdidas, privando o estado das grandes vantagens que podiam ser tiradas
deles”. (58) Até a própria coroa, parece, dobrava-se às contradições da questão dos
índios do leste do sertão, sobre se deviam serem deixados à sua própria sorte e sobre
se as atividades ali deviam ou não serem completamente proibidas.
Furtado não se estendeu em detalhes quanto ao que ele queria dizer com a expressão
“todos os meios que se fossem julgados necessários.” Entretanto, com base nas frases
seguintes ele queria dizer algo diferente de um confronto militar. Sua advertência
para se concentrarem em “familiarizar-se e associar-se com esses, até o presente,
infelizes povos” sugere que ele tinha métodos mais moderados em mente. Isto é
apoiado, também, pelo teor da política indígena em outras regiões da colônia. Uma
compilação recente da legislação pertinente relaciona ordens destinadas somente aos
índios das aldeias em 1760: o pagamento dos salários dos índios por parte dos
contratadores de seus serviços de mão-de-obra em Pernambuco e na Paraíba do
Norte, restrições sobre a sua movimentação ao longo das rotas comerciais em São
Paulo: a distribuição da terra nas suas aldeias e a transformação dessas aldeias em
núcleos urbanos civis, também em São Paulo. De acordo com a lista, somente após
1770 as ordens foram novamente dadas, agora para sancionar a conquista violenta,
mas elas eram dadas pelos donatários das capitanias, não pela coroa. (59) O
precedente real mais imediato foi o da Lei da Liberdade de 1755, a qual, embora
objetivasse os índios estabelecidos em aldeias, continha provisões para incorporar os
nativos que “vivem nas trevas da ignorância” no “interior dos sertões” bem distante
das missões jesuítas e dos núcleos urbanos civis do Amazonas. A lei conclamava
esses índios a se estabelecerem em aldeias, serem cristianizados pelos missionários, e
encorajados a se ocupar da agricultura e comércio. Mas ela também estipulava que as
autoridades garantissem que esses nativos, como aqueles que já estavam
estabelecidos, tivessem “preservadas a liberdade de suas pessoas físicas, posses, e
comércio,” e proibia que tais direitos fossem “suspensos ou usurpados a qualquer
título ou pretexto.” Qualquer indivíduo que perpetrasse ato de violência contra índios
recentemente colonizados receberia imediato castigo.(60)
Silva não hesitou em ignorar tais sutilezas. Baseando suas ações nos três documentos
citados, aproveitando-se vantajosamente das nebulosas instruções de Furtado,
imaginando que a tarefa que tinha em mãos diferia pouco das ordens que ele tinha
imposto anteriormente aos índios de aldeias, o governador pôs-se a “continuar o
cumprimento das ordens (reais),” repetindo o que ele “tinha feito em Pernambuco”
com o fim de assegurar, de maneira conseqüente a “submissão dos ferozes índios que
infestam” Minas Gerais. Deste modo, ele seguiu o que imaginou serem os desejos da
monarquia portuguesa que buscava “levar a Lei de Deus às nações bárbaras, submetê-
los à fé católica e ao verdadeiro conhecimento do Seu Santo Nome.” (61) Já que a
política em vigor ditada pelo Diretório Índio tinha sido elaborada para os índios
estabelecidos em aldeias, os nômadas de Minas Gerais, pensou Silva, teriam que ser
antes estabelecidos em aldeias com o fim de implementar essa política. Teriam que
ser reunidos em aldeias, à força se necessário, submetendo-se àquilo que o
governador e seus contemporâneos chamavam abertamente de “conquista”, de forma
que a liberdade deles pudesse então ser restaurada, de acordo com lei de 1755.
Porém, em manifesto desafio àquela lei, ele ordenou às tropas da capitania que
“barrassem a liberdade” exercida pelos índios das florestas, enfrentando sua
resistência com força militar. (62) Embora recorrendo às ordens imperiais, Silva
revelou sua tendência de agir contrariamente à intenção declarada da política
indigenista da coroa, e de ultrapassar o aparente alcance das instruções diretas de
Furtado. Os índios do leste do sertão, acreditava o governador, tinham mostrado
serem absolutamente indóceis. A liberdade deles, segundo deixou claro, não devia ser
entendida como liberdade para manter uma existência nômade, tradicional, mas devia
simplesmente ser o direito – ou, mais exatamente, a obrigação – de contribuir para a
sociedade colonial como trabalhadores cristãos, leais e sedentários. Esta era a base da
política de conquista violenta que, de uma forma ou de outra, permaneceu em vigor
no decorrer da segunda metade do século dezoito, indo até a declaração de guerra de
1808, inclusive.
Essa espécie de nuance local, a natureza maleável da política da coroa com relação ao
leste do sertão e seus ocupantes nativos, e, mais basicamente, a presença
surpreendentemente difusa do índio em fontes de arquivo durante um período no qual
se imaginava que eles eram uma preocupação de há muito esquecida, nos faz pensar
que esses fenômenos exigem uma análise bem mais aprofundada do que a que
mereceram na escassa historiografia sobre as relações entre o estado colonia d os
índios das zonas interiores atravessadas pela corrida do ouro. Uma série de
afirmações comuns requerem revisão em particular. Primeiro, dada à preocupação
oficial com a resistência nativa, deve-se rejeitar a noção de que os índios
desapareceram como elemento ativo da história da região. O ato de “expulsar e/ou
dizimar a vasta maioria da polpulação indígena” antes e durante a corrida do ouro
deveria nos levar a ignorar os índios mas voltar a nossa atenção para as florestas
isoladas e vales de rios onde encontraram refúgio.
NOTAS DE PÉ-DE-PÁGINA
John Monteiro observa a falta de um único estudo de utilidade sobre o papel das
populações nativas durante os primeiros anos da corida do ouro. John M. Monteiro,
Negros da terra: Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo (São Paulo:
Companhia das Letras, 1994), 210, n. 3.
Ver José, Indígenas 13-37; Nelson de Senna, “Principaes povos selvagens que
tiveram o seo 'habitat' em território das Minas Geraes,” Revista do Arquivo Público
Mineiro (aqui RAPM) 25:1 (1937); 337-55; Maximilian Wied, Prinz von, Viagem ao
Brasil, trad. Edgar Süssekind de Mendonça e Flávio Poppe de Figueiredo (Belo
Horizonte: Ed. Itatiaia, 1989), 283-4; originalmente publicado como Reise nach
Brasilien (Frankfürt: H. L. Brönner, 1820). Ver também Auguste de Saint-Hilaire,
Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, trad. Vivaldi Moreira
(Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1975, 251-3; originalmente publicado como Voyage
dans les provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes (Paris: Grimbert et Dorez,
1830). Para uma discussão mais atual, ver Métraux, “The Botocudo,” in Handbook 1:
531-40; in José Ribamar Bessa Freire e Márcia Fernanda Malheiros, Aldeamentos
indígenas do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: Programa de Estudos dos Povos
Indígenas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1997), 6-8.
Para a declaração de guerra do príncipe regente contra os botocudos, ver carta arégia,
13 de maio de 1808, in Legislação indigenista no século XIX: Uma compilação
(1808-1889), ed. Manuela Carneiro da Cunha (São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 1992), 57-60.
Para estatísticas sobre a produção do ouro, receitas da cxoroa, o quinto real, e outras
taxas e impostos em Minas Gerais, ver C. R. Boxer, The Golden Age of Brazil, 1695-
1750: Growing Pains of a Colonial Society (Berkeley: University of California Press,
1969), 333-50; Laura de Mello e Souza, Desclassificados do Ouro: A pobreza
mineira no século XVIII, 3a. ed. (Rio de Janeiro: Graal, 1990), 43-9; Kenneth R.
Maxwell, Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 1750-1808 (Cambridge,
Eng.: Cambridge University Press, 1973), 245-54.
Francisco (de Sales) Ribeiro ao governador, n. p., 24 de julho de 1761, AN, cód. 807,
vol. 5, fls. 81,85.
Governador para Jozé Leme da Silva, Vila Rica, 27 de Julho de 1778, e para
Francisco Pires Farinho, Vila Rica, 27 de julho de 1778, BNRJ), Seção de
Manuscritos (aqui SM), CÓD. 2,2,24, FLS. 164-5v. Ver também Waldemar de
Almeida Barbosa, Dicionário histórico geográfico de Minas Gerais (Belo Horizonte:
Itatiaia Limitada, 1995), 286-7. Celso Falabella de Figueiredo Castro, Os sertões de
leste, achegas para a história da Zona da Mata (Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1987), 11-5.
Governador, “Plano Secreto paa a nova Conquista do Cuieté,” (ca. Agosto. 1779,
Vila Rica) BNRJ, SM, cód. 2,2,24, fl. 230v.
Johannes (Joan) Blaeu, “Brasilia,” 1657, Rare Books Room, Benson Latin American
Collection (aqui BLAC0, University of Texas, Austin, Joanne Blaev (Joan Blaeu),
“Nova et Accurata Brasiliae,” 1670?, ibid.
“Mapa da região banhada pelo Rio Doce e seus afluentes, na Capitania de Minas
Gerais,” ca. 1758, in Mapa: Imagens da formação territorial brasileira ed. Isa Adonias
(Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht, 1993), 223, pl. 152, “Carta geographica
que comprehende toda a Comarca do Rio das Mortes, Villa Rica, e parte da Cidade
de Mariana do Governo de Minas Geraes,” ca. 1764, in ibid., 224, pl. 153.
O primeiro desses mapas, sem título, BNRJ, SI, arq. 9,2,7A, está catalogado
erradamente como cópia do “Mappa da Capitania de Minas Geraes...,” de Rocha,
1777, BNRJ, SI, arq. 1,2,28, do qual na verdade difere. O segundo mapa é “Carta
geographica da capitania de Minas Gerais e partes confinantes,” 1767, BNRJ, SI, ar.
17,5,12. Os mapas de Rocha de 1778 incluem “Mapa da Capitania de Minas Geraes
com a deviza de suas comarcas,” “Mappa da Comarca do Serro Frio,” “Mappa da
Comarca da Villa Rica,” “Mappa da Comarca do Rio das Mortes,” e “Maappa da
Comarca do Sabara.” O Arquivo Histórico do Exército no Rio de Janeiro tem os
orginais, facsímiles que foram publicados recentemente como inserções de folha
solta em Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais de José Joaquim da
Rocha, editado por Maria Efigênia Lage de Resende a partir de ms (manuscritos?) de
1780. (Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1995).
“Comarcas de Porto Seguro e de Ilhéus,” ca. 1807, in Mapa, ed. Isa Adonias, 207, pl.
145, “Mapa da capitania de Minas Geraes,” 1810, BNRJ, SI, arq. 32,4,20. Sobre as
origens de Guarulho, ver José, “indígenas”, 28-9. Apesar da afirmação do cartógrafo,
sabemos que os puri, coroados, e coropós também se bateram contra os botocudos na
mesma zona.
Sobre a resistência caiapó ao longo da fronteira de São Paulo, ver Jerônimo Dias
Ribeiro para Morgado de Mateus, Registro de Itupeva, 11 de Jan. 1766, 29 de Nov.
1768, BNRJ, SM, Arquivo Morgado de Mateus (aqui MM), I-30,16,9 docs. 1,9.
Governador, “Bando para a devizão das Comarcas,” Vila Rica, 5. out. 1779, BNRJ,
cód. 2,2,24, fls. 223v-4v. Neste decreto, Noronha estabeleceu novas fronteiras entre
o que era então as quatro comarcas da capitania: Vila Rica, Sabará, Rio das Mortes, e
Serro Frio. O decreto está publicado em Theophilo Feu de Carvalho, Comarcas e
termos: Creações, suppressões, restaurações, encorporações e desmembramentos de
comarcas e termos, em Minas Geraes (1709-1915) (Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1922), 64-6.
Maxwell, por exemplo, escreve que “O vale do Rio Doce era o território
inquestionável dos ferozes índios aimorés...” Na mesma linha, Prado Júnior escreve
que além do distrito diamantífero ao norte das bacias dos rios Jequitinhona-Araçuaí
instalado em Minas Novas, e mais ao sul, alguma atividade de mineração de ouro de
menor importância na bacia do Rio Doce nas vizinhanças de Peçanha, o restante do
leste do sertão permanecia como “um deserto.” A coroa “tinha isolado
completamente a região” para impedir o contrabando. Ao norte do vale do rio
Paraibuna e do Caminho Novo, “as florestas permaneciam intactas, ocupadas
unicamente por tribos de índios selvagens.” Somente no final do século dezoito, de
acordo com Prado Júnior, ocorreu algum avanço significativo no leste do sertão de
Minas Novas, embora expansão similar na região do rio Doce tenha começado
somente após a virada do século. Maxwell, Conflicts and Conspiracies, 85; Prado
Júnior, Formação do Brasil contemporâneo, 76-8.
Do governador para Jozé do Valle Vieira, Vila Rica, 4 de mar. 17777, BNRJ, SM,
cód. 2,2,24, fl. 88; do governador para o comandante da terceira divisão, Vila Rica, 7
de mar. De 1812, BNRJ, SM, cód. 1,4,5, doc. 271; Paulo Mendes Ferreira Campelo
para o governador, Cuiteé, 4 de abr. 1770, BNRJ, SM, Arquivo Conde de Valadares
(aqui CV), cód. 18,2,6, doc 237; Pedro Afonso Galvão de São Martinho para o conde
de Linhares, Vila Rica, 29 de jan. 1811, BNRJ, SM, I-33,30,22, doc. 1.
Pontes, “Extractos,” BNRJ, SM, cód. 5,3,40, fls. 19V; “Ordens sôbre arrecadação e
despesas, 1768 (-1771),” 30 de maio de 1770, BNRJ, SM, Arquivo Casa dos Contos
(aqui CC), GAVETA I-10-7, doc. 55; “Petição que fizerão e assignarão os moradores
das freguesias ostilizadas,” ca. Maio 1865, Arquivo Público Mineiro (aqui APM), cc,
CÓD. 1156, FL. 9. Ver também Ricardo de Bastos Cambraia e Fábio Faria Mendes,
“A colonização dos sertões do leste mineiro; Políticas de ocupação territorial num
regime escravista (1780-1836),” Revista do Departamento de História –
FAFICH/UFMG, 6 (julho de 1988): 137-50.
Jozé Eloi Ottoni, “Memoria sobre o estado actual da Capitania de Minas Gerais,”
Lisboa, 1789, em ABNRJ 30 (1908): 313. A imagem de Ottoni do leste do sertão
espelha mitos centrais que desde o início povoaram o espírito europeu na conquista
do Novo Mundo: o da existência e consequente busca de um paraíso terrestre, um
Éden perdido, especialmente um cuja fecundidade tornava desnecessário o labor
humano. Ver Sérgio Buarque de Holanda, Visão do paraíso: Os motivos edênicos no
descobrimento e colonização do Brasil, 4a. ed. (São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1985). Para o equivalente do mito na América do Norte no qual a fronteira
do oeste era representada como o “jardim do mundo,” ver Henry Nash Smith, Virgin
Land: The American West in Symbol and Myth (New York: Vintage Books, 1957).
Para uma análise do declínio ou decadência que se seguiu ao ciclo do ouro durante a
segunda metade do século dezoito, ver Souza, Desclassificados, cap. 1. Sobre a
grande crise econômica colonial da qual o declínio damineração foi apenas uma
parte, ver Fernando ª Novais, “Brazil in the Old Colonial System,” trad. Richard
Graham e Hank Phillips, in Brazil and the World System, ed. Richard Graham
(Austin: University of Texas Press, 1991), 11-55; Novais, Portugal e Brasil na crise
do antigo systema colonial (1777-1808), 2a. ed. (São Paulo: Ed. HUCITEC, 1981);
José Jobson de A Arruda, O Brasil no comércio colonial (São Paulo: Editora Ática,
1980), esp. 115-20, 317-8, 655-62. Ver também Kenneth Maxwell, Pombal: Paradox
of the Enlightenment (Cambridge, Eng.: Cambridge University Press, 1995), 131-6, e
Conflicts and Conspiracies, esp. Cap. 2.
Sobre a extensão da guerra a esses outros grupos,s ver Oliveira Lima, Dom João VI
no Brasil, 3a. ed. (Rio de Janeiro: Topbooks, 1996), 487; John Hemming, Amazon
Frontier: The Defeat of the Brazilian Indians (Cambridge, Mass.: Harvard University
Press, 1987), 93, 112-3. Para a declaração de guerra real contra os Kaingáng, ver
carta régia, 5 de nov. 1808, em Legislação indigenista, 62-4.
“Lista das pessoas que devem e tem obrigação de concorrerem para embaraçar o
corso com que o gentio Sylvestre está todos os annos entrando pelas fazendas e
sesmarias da Beira do Rio Doce...,” Vila Rica, 9 de maio de 1765, APM, CC, cód.
1156, fl. 4.
“Petição que fizerão e assignarão os moradores das freguesias ostilizadas,” ca. Maio
de 1765, APM, CC, cód. 1156, fls. 9-10.
Governador (Antônio de Noronha), “Conta que foi inclusa nas ditas cartas do sr.
Marquês de Pombal e Martinho de Mello sobre a extinção das duas companhias de
pedestres do Cuieté,” Vila Rica, 25 de julho 1775, APM, Seção Colonial (aqui SC),
cód. 212, fls. 72-3.
Alvará (carta real), 4 de abril de 1755, citado em John Hemming, Amazon Frontier,
1-2.
“Lei por V. Magestade há por bem restituir aos Índios do Grão Pará, e Maranhão a
liberdade das suas pessoas, bens, e commercio na forma que nella se declara,”
Lisboa, 6 de junho de 1755, facsímile reimpressa em Carlos de Araújo Moreira Neto,
Índios da Amazônia: De maioria a minoria (1750-1850) (Petrópolis: Editora Vozes,
1988), 152-63.
Para o texto completo do Diretório, ver “Directorio que se deve observar nas
Povoaçoens dos Índios do Pará, e Maranhão em quanto Sua Magestade não mandar o
contrario,” (Pará, 1757), facsímile reimpresso em Moreira Neto, Índios da Amazônia,
165-203, citaçõs 166-8. A acusação de Furtado é citada em Colin MacLachlan, “The
Indian Labor Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800,” em Colonial Roots of
Modern Brazil, ed. Dauril Alden (Berkeley: University of California Press, 1973),
209. Trabalhos de estudiosos no Directório incluem Hemming, Amazon Frontier, 4-7,
11-6, cap. 3; Barickman, “Tame Indians,” 337-51; Maxwell, Pombal, 58-9; Beatriz
Perrone-Moisés, “Índios livres e índios escravos: Os princípios da legislação
indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII),” em História dos índios, 115-
32; Colin MachLachlan, “The Indian Directorate: Forced Acculturation in Portuguese
America (1757-1799),” The Americas 28:4 (Abril 1972); 357-87 e “The Indian Labor
Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800,” em Colonial Roots of Modern
Brazil, ed. Dauril Alden (Berkeley: University of California Press, 1973), 209-22; e
João Capistrano de Abreu, Chapters of Brazil's Colonial History, 1500-1800, trad.
Arthur Brakel (New York: Oxford University Press, 1997), 155-65; tradução baseada
em Capítulos de história colonial, 1500-1800, 3a. ed. (Rio de Janeiro: Ed. Briguiet,
1954). Sobre a emancipação dos índios e a expulsão dos jesuítas, ver também
Maxwell, Conflicts and Conspiracies, 17,30. Para um índice útil por ano, assunto, e
grupo étnico da legislação pertinente aos índios brasileiros, ver Beatriz Perrone-
Moisés, “Inventário da legislação indigenistas, 1500-1800,” em História dos índios,
529-66. Sobre o século dezenove, ver M. Cunha, Legislação indigenista.
Na ordem, esses três documentos são dois decretos reais (cartas régias), ambas
datadas de 14 de setembro de 1758, e Francisco Xavier de Mendonça Furtado para o
Governador, Salvaterra de Magos, 12 de fevereiro de 1765. Eles ocupam as primeiras
páginas do códice manuscrito, o último dos quais con^tém documentos relacionados
com a tentativa de conquista dos índios do leste do sertão feita pelo governador Silva
. Ver “Providencias tomadas para a catechese dos Indios no Rio Doce e Piracicaba,
Vila Rica, 1764-1767,” APM, CC, cód. 1156, fls. 2-3v.
“Ley porque V. Magestade há por bem restituir aos Indios do Grão Pará, e Maranhão
a liberdade das suas pessoas, bens, e commercio na forma que nella se declara,”
Lisboa, 6 de junho de 1755, Índios da Amazônia, 161-2.
“Providências tomadas para a catechese dos Índios no Rio Doce e Piracicaba, Vila
Rica, 1764-1767,” APM, CC, cód. 1156, fls. 1-1, 4.
Governador, “Orden para a entrada dos corpos de gente para a civilização dos gentios
silvestres puris e buticudos,” Vila Rica, 21 de abril de 1766, APM, SC, cód. 118, fls.
148-50v; governador para Antônio Pereira da Silva, Vila Rica, 28 de junho de 1766,
APM, SC, cód. 118, fls. 171v-2.