Apostila Fundamentos Da Cor
Apostila Fundamentos Da Cor
Apostila Fundamentos Da Cor
Fundamentos da cor
Prof. Berenice Santos Gonçalves, Dra.
Florianópolis,2005
Sumário
1 Introdução | 4
4 Aparência da Cor | 21
2 A percepção da cor | 6
2.2 O processo fisiológico: o olho | 6 4.2 Fatores que influenciam a interpretação das
2.2.1 as teorias fisiológicas da visão cromática | 7 cores: os fenômenos cromáticos | 23
5
2.3 O processo cerebral | 8
2.3.1 A cor e os dois hemisférios cerebrais | 9
Cor e cognição | 26
3
5.1 O legado histórico | 26
Descrição e representação da cor | 12
5.2 Cor e imagem | 27
5.2.1As contribuições da linguística cognitiva | 28
3.1 Sistemas baseados em misturas de cores:
luzes e pigmentos | 13 5.3 Cor e forma | 29
3.1.1 Síntese Aditiva | 13
5.3.1 Sistemas de contrastes e harmonias | 30
3.1.2 Síntese Substrativa | 13
5.3.1.1 Contrastes | 30
5.3.1.2 Harmonização cromática | 31
3.2 Sistemas baseados na percepção da
6
cor | 14
3.2.1 O sistema de Cores Munsell | 15 Considerações Finais | 35
3.2.2 Sistema de Cores Naturais | 16
fragmentar áreas, auxiliar no processo de memorização e no As cores têm uma significação perceptiva e cognitiva
desempenho de tarefas. Muitas vezes a abordagem da cor em imediata na experiência humana. Varela (2003) destaca três
várias ciências e expressões, além da sua forte presença na eixos fundamentais para discussão acerca do fenômeno
vida cotidiana, torna este tema propício às mais diferentes cromático: um está relacionado a como as cores aparecem,
manifestações. ou seja, a estrutura da aparência das cores, um segundo eixo
discutiria as cores como atributos percebidos das coisas do
O processo de percepção e cognição das cores é algo mundo e por fim as cores seriam discutidas como “categoria
complexo. De um modo simplificado, caracteriza-se o experiencial”. Varela alerta que esses estágios não são
fenômeno cromático como sendo resultante da interação encontrados separadamente na experiência: ela é moldada
entre uma fonte de luz, um objeto e um observador (Berns, simultaneamente pelos três. Em geral, as teorias sobre as
2000). Observa-se que muitos aspectos da fonte luminosa cores tendem a ter como ponto de partida um ou outro desses
(propriedades espectrais e a quantidade de luz, por três aspectos.
exemplo), do objeto (tamanho e textura) e do observador
(por exemplo: sensibilidade espectral, propriedades das No decorrer deste texto pretendeu-se destacar os
lentes, pigmento macular, adaptação luminosa e cromática), fundamentos da cor aplicada ao design gráfico. Portanto,
e de suas inter-relações, transformam o estudo da cor num inicia-se o texto discorrendo sobre os processos primários da
tema complexo. percepção da cor aspectos físicos e fisiológicos. Em seguida,
os modelos e sistemas de representação cromática (que são
Abordagens como a de Pedrosa (1989), que busca definir cor a base de muitos sistemas técnicos de reprodução de cor
como uma “sensação produzida por certas organizações importantes para a área de Design) são explicitados. A
nervosas sob ação da luz - mais precisamente como a relativização da aplicação e cognição da cor quanto aos
sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão, aspectos contextuais, culturais, lingüísticos e históricos da
condicionada à existência de dois elementos: a luz e o olho cor também são tangenciados.
(Pedrosa, 1989, p. 17) nos parece insuficiente. Mesmo a
conceituação esboçada por Guimarães (2000) que relaciona Em suma, o presente texto tem como principal objetivo
cor a luz, ao objeto, ao órgão da visão e ao cérebro1 se mostra ampliar a compreensão acerca do fenômeno cromático,
limitada diante do campo complexo que nos apresenta Varela sem pretender esgotá-lo, mas buscando enfatizar, a partir
(2003). Para o autor, o estudo das cores oferece um do escopo teórico, fundamentos para a aplicação da cor no
microcosmo das ciências cognitivas, pois disciplinas como design gráfico.
neurociências, psicologia, inteligência artificial, lingüística e
filosofia trouxeram importantes contribuições para nossa
compreensão das cores (Varela, 2003, p.162). Segundo o
autor, a cor sempre é percebida dentro um contexto visual
mais abrangente em que todas as sub-redes trabalham
1. Ao propor uma conceituação sobre cor, Guimarães sintetiza: cooperativamente, nunca vemos a cor como um item isolado.
cor é uma informação visual, causada por um estímulo físico,
percebida pelos olhos e decodificada pelo cérebro (Guimarães, As conceituações objetivistas assumem que reflexos de
2000, p.12). Pastoreau (1997, p. 6) também busca uma superfície devem ser encontrados em algum mundo pré-
abordagem mais abrangente ao explicitar “cor não é nem uma determinado, independente de nossas capacidades
substância, nem uma fração da luz. É uma sensação, a sensação perceptivas e congnitivas. Contrariamente à visão
de um elemento colorido por uma luz que o ilumina, recebida pelo
objetivista, as categorias de cores são experienciais;
olho e comunicada ao cérebro”.
Fisicamente, quando a luz atinge um corpo, podem ocorrer O sistema visual humano está apto a receber estímulos
Infravermelho um ou mais fenômenos que interferirão no processo de luminosos na faixa entre 400 a 800 nanômetros, entre as
radio
percepção da cor. Segundo Pietrocola (1997), estes faixas do violeta e vermelho2. Portanto, é importante definir
fenômenos são: que luz visível ou radiação visível é energia em forma de
ondas eletromagnéticas capazes de excitar o sistema
*Dispersão: ocorre quando a luz passa através de um humano olho-cérebro, produzindo diretamente uma
prisma ou objeto similar. O aparecimento das cores segue sensação visual” (Pereira, s/d). Ao contrário do som ou
sempre a mesma ordem: do mais longo comprimento de vibração, que são mecânicas, as ondas eletromagnéticas não
Ultravioleta
onda e baixa freqüência vermelho até os estímulos de curto necessitam do meio para sua transmissão. Elas se propagam
raio-x
comprimento de onda e alta freqüência violeta; através de sólidos, líquidos ou gases, mas se propagam mais
eficientemente no vácuo, onde não há nada para absorver a
*Difração: ocorre quando a luz fragmenta-se a partir de um energia radiante.
Figura 1: Cores espectrais desvio, por ex. quando passa através de uma fenda ou contra
um objeto facetado; Numa extremidade do espectro, como exemplifica a figura 1,
de grande comprimento de onda (milhares de metros, de
*Transmissão: ocorre quando a luz atravessa o material baixa freqüência) encontram-se as ondas de rádio, enquanto
Músculos Ciliares praticamente sem alteração. Este processo ocorre em que na outra ponta estão os “raios gama” e “raio x” com baixo
Retina materiais transparentes; comprimento de onda e alta freqüência. Apenas uma
Íris pequena parte desta energia radiante é percebida pelo olho
Fóvea *Interferência: esse fenômeno pode ocorrer quando a luz humano, chamada luz.
Córnea passa entre películas muito finas, como óleo ou água, em
situações que não permitem a completa penetração das
Nervo
Óptico
ondas de luz. Muito do colorido existente na natureza provém
dos mecanismos de absorção e reflexão seletiva das ondas 2.2 O processo fisiológico: o olho
luminosas pela superfície dos corpos. Efeitos cromáticos nas
asas de borboletas, asas de patos e pavões ou o atrito entre O estímulo luminoso penetra os olhos até chegar na retina,
finas lâminas transparentes são casos em que a coloração onde os receptores absorvem uma porção de luz incidente,
ocorre por interferência; gerando sinais que eventualmente serão interpretados pelo
Pupila cérebro. Em muitos aspectos a formação da imagem é similar
*Absorção e reflexão: ocorre quando uma determinada ao processo da câmera fotográfica. Segundo Berns (2000), a
Cristalino quantidade de luz, ao incidir sobre um objeto, é absorvida ou qualidade da imagem retinal depende do nível de absorção e
refletida. Alguns comprimentos de onda são absorvidos pelas das propriedades focais da córnea, das lentes, dos fluídos do
Figura 2: O processo fisiológico: o olho moléculas de cada superfície, enquanto outros são completa globo ocular (humor aquoso e humor vítreo). Esses
ou parcialmente refletidos pelo objeto, permitindo, assim, a elementos ópticos, mostrados na figura 2, influenciam as
sensação de cor. propriedades espectrais e espaciais dos receptores de luz.
São, principalmente, os fenômenos de absorção e/ou A esclerótica é a camada externa que dá forma arredondada
2. A física newtoniana especifica da seguinte forma as cores reflexão da luz que permitem ao ser humano a sensação ao olho. É uma membrana branca, opaca e fibrosa. Na sua
espectrais: violeta 380 a 436 mµ; anil 436 a 480 mµ; azul 480 a cromática (Rautemberg, 1998). Assim, um corpo pode parte anterior ou frontal mostra-se transparente e mais
495 mµ; verde de 495 a 566 mµ; amarelo de 566 a 589 mµ; assumir três estados possíveis em relação a cor: quando convexa e recebe o nome de córnea: em sua parte posterior
laranja de 589 a 627 mµ e vermelho de 627 a 760 mµ. absorvem toda a luz são negros, quando refletem toda a luz reveste o nervo óptico (nervo que leva os impulsos até o
*Hue [matiz ou tom]: é a qualidade que distingue uma Softwares gráficos empregam o modelo HLS (hue, lightness e
família de cor da outra, tal como o vermelho, azul e amarelo; saturation) para tom, brilho e saturação, respectivamente.
Assim, o “tom” (matiz) define a cor espectral, o “brilho”
*Value [valor]: é aquela qualidade que distingue uma cor define a atenuação ascendente (que acrescenta branco ou
luminosa de outra escura. A luminosidade da cor depende da luz) ou descendente (que escurece a cor até o preto ou
porcentagem de luz que é refletida. Diferentes cores podem subtrai luminosidade) e “saturação” referindo-se a pureza da
ter o mesmo valor quando refletem a mesma quantidade de cor. As dimensões básicas da cor, segundo o modelo do cubo
luz. A escala de cinzas de Munsell é dividida em dez etapas de de cor7, também são matiz (hue), valor (value) e saturação
valor. Essas cores neutras não tem hue; ou croma (saturation/chromaticity):
*Chroma [saturação]: é a força ou a intensidade da cor. *Hue: matiz ou tom é a dimensão da cor que especifica a
Cores intensas tem alto croma. Cores cinzentas ou neutras posição da mesma no espectro visível. Humanos interpretam
tem baixo croma. diferentes combinações de vermelho, verde e azul para
verem os matizes.
Guimarães (2000) sintetiza os atributos (parâmetros) da cor
da seguinte forma: o matiz determina a exata posição da cor *Value: valor da cor refere-se à luminosidade ou
no espectro eletromagnético, o valor determina as escurecimento. O branco é a mais luminosa das cores e tem
atenuações ascendentes - clareamento - ou descendentes alto valor. O preto tem baixo valor porque é a mais escura das
(escurecimento) da cor e o croma determina a proximidade cores. Quanto mais preto for adicionado a uma cor mais baixo
Matiz da cor espectral com sua correspondente em uma escala de será seu valor.
cinza (figura 7).
*Saturation: saturação ou cromaticidade são usados
Guimarães (2000) também realizou uma comparação freqüentemente para descrever o quão brilhante ou vibrante
Valor mostrando as diferentes interpretações que os parâmetros a cor é. Cores como o amarelo canário são altamente
da cor sofrem, segundo a abordagem de diferentes autores saturadas e possuem alta cromaticidade. Sombras de cinza
(quadro 1). Essa diversidade de termos presente na literatura não tem croma e são chamadas de acromáticas.
da área, gera confusões quanto à identificação e manipulação
Croma dos atributos da cor. Com base nas diversas abordagens, assume-se neste
trabalho que os termos matiz, valor de luminosidade e
Quadro 1: Comparação entre as diferentes saturação seriam os mais adequados. Assim, matiz é usado
Figura 7: Parâmetros da cor Denominações dos parâmetros da cor para identificação das cores espectrais; valor de
luminosidade, para as atenuações ascendentes
Munsell Aumont Varela (clareamento) ou descendentes (escurecimento) da cor; e
Matiz matiz croma saturação, para a variação da expressão máxima da cor até
Valor luminosidade brilho o seu correspondente em tom de cinza.
7.Computadores e outros dispositivos digitais especificam cor
Croma saturação saturação Descrever cor por seu matiz, luminosidade e croma é apenas
baseando-se no modelo conhecido como COLORCUB.
percepção da cor
satisfatório as tonalidades das imagens originais de tom
9. Em 1963 Lawrence Herbert salvou da falência a gráfica contínuo (Baer, 1999). Contudo, quase todo o trabalho de
Pantone, de New Jersey (EUA), ao desenvolver o catálogo de impressão em cores baseia-se no modelo subtrativo CMYK8.
tintas Pantone Matching System. A inovação de Herbert foi
O preto é representado pela letra K no lugar do B (black ) Os “sistemas baseados na mistura de cores” são
produzir em formato de fácil manuseio um livreto com centenas
de cores numeradas que podiam ser produzidas na própria evitando confusão com o B (blue). desenvolvidos a partir da definição de uma seqüência de
gráfica, por meio de mistura em quantidades exatas de apenas 14 cores primárias no processo de coloração, e os “sistemas
tintas básicas. As tabelas Pantone tornaram-se sinônimo genérico A indústria gráfica também tem desenvolvido sistemas de baseados na percepção de cores” são desenvolvidos a partir
de tintas especiais, embora seja uma marca registrada. Na área mistura de cores subtrativas sob forma de livros e cartelas. da definição de uma seqüência de intervalos visuais.
gráfica são mais de 20 catálogos, que incluem tintas metálicas, Estes são produzidos para exemplificar diferentes
fluorescentes, tons pastéis e escalas CMYK em diferentes tipos de possibilidades de arranjo entre ciano, magenta, amarelo e
suportes. O livreto original foi rebatizado de “Pantone fórmula Eles não requerem uma seqüência de amostras, mesmo
preto, impressos em papéis revestidos (brilhantes) e não assim, a exemplificação do sistema tem muitas vantagens,
Guide”, oferece 1147 cores diferentes, com as respectivas
fórmulas de misturas. Muito fabricantes são credenciados para revestidos (opacos), papelões, plásticos, tecidos etc. Um pois leva ao conceito de intervalo visual equivalente. Este
produzir tintas no padrão Pantone (Lopes, 2003). exemplo pode ser o True Color Process Guide, desenvolvido
YR
YR
2,5Y
5Y
5B 2,5B G
7,5 5G As cores específicas dos cinco matizes principais foram
10BG 7,5BG 2,5BG *Primeiro, deve-se utilizar o exemplo apenas em seu
5BG 10G determinadas visualmente; Munsell concluiu que estes cinco
ambiente de iluminação e visualização padronizado;
matizes (ajustados com o mesmo valor e croma) deveriam
formar cor neutra quando misturados através de um disco
*Segundo, se a amostra original for utilizada para
rotatório. Ele construiu um aparelho que girava uma esfera
Figura 13: Os dez matizes ordenados em círculo especificação de cores (ex: um designer que utiliza as
pintada com os cinco matizes principais, com valores
Por Munsell amostras para especificar um esquema de cores) deve-se
diferentes para demonstrar este princípio.
verificar, visualmente, se as mudanças na aparência da cor,
em relação às mudanças de iluminação, são aceitáveis.
Um enfoque histórico exige que se observe os códigos Não há nada de universal na cor, nem na sua natureza,
historicamente estabelecidos na percepção de objetos e de nem na sua percepção. Por isso mesmo, não acredito de
propriedades relativamente simples, questionando-se se as todo na possibilidade de um discurso científico unívoco
leis da cor e da forma permaneceram imutáveis ao longo dos sobre a cor, unicamente fundado nas leis da física, da
séculos (Luria, 1990). Sem dúvida essas leis possuem uma química e da matemática. Para mim a cor que não é
*Nível um - incluía o branco e o preto; Ungerer & Schmid (1996) alertam que estes limites nem
*Nível dois - branco, preto e vermelho; sempre são claros e que algumas propriedades físicas, que
*Nível três - branco, preto, vermelho, verde ou amarelo; não podem ser tocadas (como duração, cheiro, altura, brisa e
*Nível quatro - branco, preto, vermelho, amarelo ou verde; cores), são compostas por escalas muito amplas, definidas
*Nível cinco - branco, preto, vermelho, verde, amarelo e por dois extremos.
azul;
*Nível seis - branco, preto, vermelho, verde, amarelo e Uma escala de cores não cria uma divisão natural e clara
marrom; como se comparássemos livros, carros e montanhas.
*Nível sete - o púrpura, o rosa, o laranja, o cinza... até Portanto, na ótica da linguística cognitiva a classificação de
completar os 11 níveis. cores só pode ser concebida como processo mental e não
como propriedade física. Esse processo mental que estuda a
O referido estudo recebeu críticas por parte dos lingüistas e natureza complexa do que vemos e como o classificamos é
etnógrafos. Eles alertam que as culturas de nível I e II chamado de categorização. Seus produtos são categorias
distinguem cores claras e escuras, quentes e frias ou úmidas cognitivas, por exemplo, azul, vermelho e amarelo (Ungerer
e secas. Outro aspecto refere-se ao método, que utilizou & Schmid, 1996).
cores correspondentes ao sistema de Munsell (Gage, 1993).
Luria (1990) analisou o processo de nomeação e classificação
Gage (1993) destaca que a identidade cromática que revela a de cores e figuras geométricas em povos do Uzbequistão,
linguagem deve relacionar-se com a mais ampla experiência região montanhosa da extinta União Soviética, nos anos de
cromática que existe dentro de uma cultura, experiência que 1931 e 1932. Foram apresentados aos sujeitos17 pequenos
difere bastante, segundo os diferentes grupos interessados novelos de lã (ou seda) de diferentes cores (quadro 08) para
em cor. As crianças podem constituir um grupo, cujo serem nomeados. Os ativistas das fazendas coletivas e as
desenvolvimento do léxico pode coincidir com o proposto por estudantes responderam como as crianças em idade escolar
Berlin e Kay, mas as mulheres, como grupo, não de Moscou. Eles freqüentemente designavam cores através
correspondem a esse esquema devido ao seu amplo manejo dos nomes categoriais (azul, vermelho, amarelo...), mas,
com a cor. Pode-se estabelecer outras conexões com grupos algumas vezes demonstravam dificuldades na nomeação das
de profissionais segundo seu grau de interesse por cores. cores de n.16, 18, 19, 23, 24 e 26. Já os trabalhadores das
fazendas diziam: “um trator é uma máquina, um trator
Parece claro que muitas pessoas que não estão relacionadas também é uma máquina, o mesmo ocorre com as cores. Os
profissionalmente com a terminologia da cor possuem um homens que não conhecem cores as chamam todas de azul”.
vocabulário reduzido, e este atua poderosamente na própria As mulheres deram nomes de cores mais ricos e mais
percepção. A percepção cromática e a linguagem relacionam- diversificados que os trabalhadores das fazendas e os
se intimamente; o léxico que se dispõe desempenha um estudantes. Nomes de objetos (como cor-de-romã, pistache
papel fundamental na criação de qualquer linguagem de etc.) foram empregados por 16% dos sujeitos.
símbolos cromáticos, visto que a ação de simbolizar é,
sobretudo, uma função da linguagem (Gage, 1993).
17. Nesse experimento foram envolvidos diferentes grupos
populacionais com qualificações educacionais e experiência
Quadro 08: cores apresentadas aos sujeitos da pesquisa.
diversificadas: mulheres analfabetas, homens camponeses 5.2.1 As contribuições da lingüística cognitiva
(analfabetos), ativistas de fazendas coletivas, mulheres semi-
alfabetizadas e alfabetizadas.
Inicialmente, evidenciou-se que o estímulo físico (luz) Procurou-se destacar que o processo de nomeação e
quando detectado e interpretado pelo nosso sistema visual categorização de cores é complexo e dependente da
(olho e cérebro) resulta numa cor particular. As imagens do linguagem. Os códigos e estratégias compositivas de uso
mundo visual são projetadas na retina. A retina é composta cromático são produtos construídos historicamente. Também
de cones e bastonetes organizados como um mosaico. Com as práticas, a cultura material e o ensino contribuem para a
baixa luminosidade, os bastonetes enviam sinais para o disseminação dos principais parâmetros de estudo e
cérebro resultando na percepção monocromática. Com o utilização da cor em diferentes campos, sobretudo na área de
aumento de iluminação os cones respondem. Há três tipos de Design.
cones, cada um com uma propriedade espectral e espacial
diferenciada. As combinações de cones formam sinais
oponentes: preto-branco, vermelho-verde, azul-amarelo. Os
três canais oponentes têm diferentes resoluções espaciais. A
partir das respostas de combinações dos cones (ou as
respostas oponentes) é possível criar combinações que não
têm propriedades físicas idênticas. Muitos equipamentos
simulam cor com base nos modelos físico e fisiológicos da
percepção cromática.
3. Curvas de sensibilidade | Fonte: Berns (2000) 19. Contraste simultâneo | Fonte: adaptado de Pedrosa
(1982)
4. Percurso do olho ao cérebro | Fonte: adaptado de
Greenberg; Aminoff e Siman 20. Disco de Benham | Fonte: adaptado de Foley e Matlin
5
5. Transmissão dos sinais visuais no cérebro | Fonte:
adaptado de Guimarães (2000) 21. Questionário aplicado por Kandinsky na Bauhaus que
objetivava relacionar formas básicas e cores | Fonte:
6. Uso da assimetria do cérebro na imagem | Fonte:
Droste (1992
adaptado de Guimarães (2000)
22. Contraste de matiz | Fonte: adaptado de White e