3 - O Que É Deontologia
3 - O Que É Deontologia
3 - O Que É Deontologia
E ÉTICA
PROFISSIONAL
Débora Czarnabay
O que é Deontologia?
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A palavra Deontologia deriva das palavras gregas deon (dever) e logos
(estudo). Na filosofia moral contemporânea, a Deontologia é um tipo
de teoria normativa que indica quais escolhas são moralmente exigidas,
proibidas ou permitidas. Em outras palavras, a Deontologia se enquadra
nas teorias morais que orientam e avaliam nossas escolhas sobre o que
devemos fazer.
Neste capítulo, você vai aprender o conceito de Deontologia, além de
entender qual a diferença entre deontologia, ética e moral. Além disso,
também vai compreender o que são obrigações e deveres, levando ao
entendimento da Deontologia biomédica.
O que é Deontologia?
Na filosofia, Deontologia é um conjunto de teorias éticas que enfatizam a
relação entre o dever e a moralidade das ações humanas. O termo deontologia
é derivado do grego deon, que significa dever, e logos (ciência ou estudo). Na
ética deontológica, uma ação é considerada moralmente boa por causa de
alguma característica da ação em si, não porque o produto da ação seja bom.
A ética deontológica afirma que pelo menos alguns atos são moralmente obri-
gatórios, independente das suas consequências para o bem-estar humano. Em
contrapartida, a ética teleológica (também chamada de ética consequencial ou
consequencialismo) sustenta que o padrão básico de moralidade é precisamente
Imagine que você precisa entregar um trabalho final para uma disciplina
da faculdade, correspondendo a 80% da sua nota final. Você não conseguiu
realizar o trabalho e, em vias de entregar, acaba comprando um trabalho
pronto. Aplicando a formulação de Kant (2007), a sua máxima seria “Quando
me for solicitado entregar um trabalho final e eu não o escrevi, entregarei um
trabalho que comprei pronto como se fosse meu”. Se essa máxima se tornasse
lei universal, teríamos “sempre que lhe for solicitado um trabalho final e
você não o escreveu, compre um trabalho pronto e entregue como se fosse
de sua autoria” e todas as pessoas fariam o mesmo. Com isso, não teríamos
mais trabalhos finais próprios e não teria mais sentido pedir a entrega deles
como parte de uma nota final em uma disciplina. Entretanto, uma vez que
o princípio é irracional, a ação decorrente também é irracional. Logo, todos
têm a obrigação de evitar a entrega de um trabalho feito por outrem como se
fosse seu.
Enquanto indivíduos, todos devemos nos ver como agentes morais que têm
interesses, podendo deliberar, racionalmente, sobre tais interesses e escolher
com base na deliberação. Olhando por essa ótica, devemos ver os outros ao
nosso redor como possuidores das mesmas capacidades. Pensando assim
como um ser racional, a consistência demanda que você leve o valor objetivo
dos indivíduos em conta, o que lhe compromete a buscar ações conforme o
imperativo categórico. A plausibilidade de Kant (2007) propõe que “as pessoas
são dignas de respeito e nunca devem ser usadas meramente como meios para
um fim, para o qual elas não dão seu consentimento” se enlaça com o fato de
que “a moralidade consiste de princípios que estão em ação para todos em
todos os momentos”, sendo assim, cumprir promessas, respeitar propriedades
e não mentir é necessário, pois, se todos violassem esses preceitos, as próprias
práticas, cujas violações dependem, ruiriam.
A teoria deontológica de Kant foi confrontada no século XX pelo filósofo britânico Sir
David Ross, o qual considerou que vários deveres prima facie são evidentes no cotidiano,
em vez de um único princípio formal. Ross distinguiu esses deveres prima facie, tais
como a manutenção de promessas, a reparação, a gratidão e a justiça dos deveres
considerados reais, pois, segundo ele, “qualquer ato possível tem muitos lados que
são relevantes para a sua justiça ou erro”.
As diversas facetas de uma ação devem ser pesadas antes de “formar um julgamento
sobre a totalidade de sua natureza” como uma obrigação real nas circunstâncias dadas.
A tentativa de Ross de argumentar que a intuição é uma fonte de conhecimento moral
foi, no entanto, fortemente criticada e, no final do século XX, as formas de pensamento
kantianas – especialmente a proibição de usar uma pessoa como um meio e não como
um fim – foram novamente fornecendo a base para os pontos de vista deontológicos
mais discutidos entre os filósofos.
Fonte: Nill (2013).
A obrigação e o dever
Ao pensar em obrigação, logo vem a ideia de que a moralidade, ou o agir
de forma moral, faz-nos exigências. Uma obrigação moral ou dever é uma
exigência que leva uma pessoa a fazer ou não fazer algo. Geralmente, você
expressa obrigações em frases que emprega a palavra deve, entretanto, o
sentido moral dessa palavra tem uma autoridade adicional associada a ela. A
palavra dever tem um grande peso e seu uso cotidiano é vinculado a algo que
devemos fazer, sendo que o não fazer provocará uma consequência negativa/
danosa (CHAUÍ, 2000). Por exemplo: “eu devo ir para a cama às 23h, pois não
quero estar cansado amanhã”. Apesar de não querer acordar cansado no dia
seguinte, você não é moralmente obrigado a dormir às 23h. Já o uso moral da
palavra dever designa o pensamento de que somos obrigados ou proibidos de
fazer algo – trata-se de uma ação obrigatória.
Para os seres humanos, a obrigação é habitual, uma vez que todos somos
obrigados a realizar determinada ação em algum período da vida. A partir
do momento que passamos de seres solitários a seres que vivem em conjunto,
algumas regras foram necessárias para amenizar a convivência entre todos.
Quando faço uma promessa, devo cumprir o prometido. Todos têm obrigações
para com seus familiares, amigos e animais e obrigações de pagar as contas,
Para entender a questão inexorável das obrigações, ela também pode ser
explicada de outra forma, dizendo que as obrigações engajam a nossa vontade,
ou seja, elas restringem o que moralmente podemos ou não fazer, apesar de
nossos desejos. Sendo assim, determinada obrigação está entre as fontes mais
robustas para que executemos ou deixemos de executar algo (LA TAILLE,
2006). Frequentemente, você fala que um indivíduo deve ou não agir, quando
ele está sob uma obrigação – então a ação proposta é uma necessidade moral.
Para Kant (2007), um dos filósofos expoentes na ética do dever, como já
foi mencionado, os princípios morais devem ser universalizáveis, excluído
do julgamento os interesses pessoais e colocando as obrigações no centro da
experiência. Ele dividiu a Deontologia em dois conceitos básicos: razão prática
e liberdade. O agir por dever é a maneira de dar para a ação o seu valor moral,
agindo por livre vontade. Nesse caso, a liberdade é um fator importante para
o sentido da vida de cada indivíduo. Nós podemos garantir a nossa liberdade
por intermédio do julgamento racional de nossas ações, submetendo-as ao
julgamento do imperativo categórico (sem condições vinculadas) para que
elas não estejam sob influência das emoções, dos desejos ou de outros tipos
de engajamentos.
Logo, você tem a obrigação de agir segundo o imperativo categórico, pois
somente desse modo poderá preservar a sua liberdade e, assim, preservar
também sua pessoalidade. Dessa maneira, voltamos ao ponto de as obrigações
serem inescapáveis, ou seja, ao honrar suas obrigações, você acaba preservando
sua liberdade que é essencial para sua pessoalidade.
A teoria do dever, de acordo com o filósofo Immanuel Kant, baseia-se no
princípio lógico, visando à sequência de atos e meios da ação por dever e não
pela consequência, tendo uma motivação (o dever) intrinsecamente boa e sem
A Deontologia biomédica
Os códigos deontológicos tentam constituir o âmago das características de
um grupo social (profissional), o qual se identifica com as regras e as normas
propostas em tais códigos. A constante evolução do homem, as pressões
sociais e políticas, a adaptação aos incessantes avanços tecnológicos e uma
consequente necessidade de manter boas relações profissionais incentivam os
indivíduos a se guiarem por um fator comum. A necessidade do fator comum
permeou o estopim para a criação dos códigos deontológicos.
Em 1794, o médico britânico Thomas Percival propôs o primeiro Código
Deontológico em formato de panfleto, o qual era direcionado para a área
médica. Naquela época, não havia a ética normativa, então, o que regia a
sociedade eram os conceitos de virtude, honra e caráter. A proposta de Percival
era extremamente inovadora, visto que ele exaltava o dever e não o juramento
Se você quiser saber mais sobre quais são os direitos dos biomédicos previstos no
Código de Ética do Biomédico, pode acessar o link a seguir:
https://goo.gl/35Pkst
RESPONSABILIDADES E DEVERES
Art. 5º — Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade,
resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade
e lealdade.
Art. 6º — Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no res-
peito, na solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.
Art. 7º — Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos
que infrinjam dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício
profissional.
PROIBIÇÕES
Art. 8º — Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação
de membro da equipe de enfermagem, equipe de saúde e de trabalha-
dores de outras áreas, de organizações da categoria ou instituições.
Art. 9º — Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal
ou qualquer outro ato, que infrinja postulados éticos e legais (BRASIL,
2007, documento on-line).
Leituras recomendadas
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Filosofar. São Paulo: Saraiva, 2010.
GIANOTTI, J. A. Moralidade pública e moralidade privada. In: NOVAES, A. (Org.). Ética.
São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
OLIVEIRA, M. A. de (Org.). Correntes fundamentais da ética contemporânea. 2. ed. Pe-
trópolis, RJ: Vozes, 2000.
VÁSQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.