Sistemas de Energia Solar T - Rmica e Fotovoltaica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 181

Sistemas de Energia

Solar Térmica e
Fotovoltaica

Prof. Henrique Gonçalves Pereira


Profª. Naiane Paiva Stochero

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. Henrique Gonçalves Pereira
Profª. Naiane Paiva Stochero

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. PEREIRA, Henrique Gonçalves.

Sistemas de Energia Solar Térmica e Fotovoltaica. Henrique Gonçalves


Pereira; Naiane Paiva Stochero. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022.

171p.

ISBN 978-85-515-0566-3
ISBN Digital 978-85-515-0561-8

“Graduação - EaD”.
1. Energia Solar 2. Térmica 3. Fotovoltaica

CDD 621.47
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico, seja muito bem-vindo à disciplina Sistemas de Energia Solar
Térmica e Fotovoltaica. Somos os professores Henrique e Naiane, escrevemos este livro
com muito carinho para que você possa agregar conhecimento aos seus estudos neste
curso de graduação da Uniasselvi.

Podemos considerar o Sol, nosso astro Rei, como a fonte primária de energia
no planeta Terra, sendo assim, é essencial para existência e sobrevivência da vida
no planeta, pois muitos dos fenômenos que acontecem na Terra são resultado direto
da interação com o Sol. Desta forma, este livro irá abordar duas diferentes formas de
energia provenientes do Sol, a energia solar térmica e a energia solar fotovoltaica.

Na unidade I, iremos entender como funciona esta importante fonte de


energia, onde abordaremos diversos conceitos relacionados ao sistema solar, pois será
importante para entendermos futuramente como funciona um sistema de energia solar.
Falaremos ainda de diversos conceitos ligados à este tipo de energia, como radiação
solar, irradiação solar, radiação direta e radiação difusa, além de comentar dos diversos
fatores envolvidos no processo de conversão de energia.

Para a segunda unidade, iremos mais a fundo especificamente no campo da


energia solar fotovoltaica, onde abordaremos os conceitos envolvidos neste tipo de
energia, além de citar os componentes de um sistema solar fotovoltaico e por fim,
calcular as variáveis envolvidos no processo de dimensionamento destes sistemas.

Já na terceira unidade do livro, nos aprofundaremos da energia solar térmica


e, analogamente com o que fizemos na unidade anterior, falaremos dos conceitos
envolvidos nos processos envolvidos em um sistema solar térmico, os componentes
utilizados neste tipo de processo e também sobre os cálculos de dimensionamento
deste tipo de sistema.

Esperamos que você possa aproveitar o conteúdo deste livro, ele foi escrito de
modo que sua jornada nesta disciplina seja prazerosa e rica em conhecimento.

Desejamos a você bons estudos!

Prof. Henrique Gonçalves Pereira


Profª. Naiane Paiva Stochero
GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS DE ENERGIA SOLAR.............................................................. 1

TÓPICO 1 - CONCEITOS GERAIS............................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 ENERGIA SOLAR..................................................................................................................3
2.1 CARACTERÍSTICAS DO SOL ................................................................................................................ 6
2.2 ESTRUTURA INTERNA DO SOL...........................................................................................................8
2.3 POSIÇÃO RELATIVA SOL – TERRA................................................................................................... 10
2.3.1 Rotação.......................................................................................................................................... 11
2.3.2 Translação ...................................................................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 15
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 16

TÓPICO 2 - RADIAÇÃO SOLAR............................................................................................. 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 19
2 CONCEITOS........................................................................................................................ 19
3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA VARIAÇÃO DE ENERGIA SOLAR............................... 26
3.1 LATITUDE ...............................................................................................................................................26
3.2 MOVIMENTO DE ROTAÇÃO................................................................................................................ 27
3.3 MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO .......................................................................................................28
4 INSTUMENTOS PARA MEDIÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR................................................. 30
5 ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL.................................................................. 32
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 34
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 35

TÓPICO 3 - POTENCIAL SOLAR...........................................................................................37


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................37
2 MATRIZ ENERGÉTICA E ELÉTRICA...................................................................................37
3.1 POTENCIAL SOLAR MUNDIAL...........................................................................................................43
3.2 POTENCIAL SOLAR DO BRASIL........................................................................................................43
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 48
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 54
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 55

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................57

UNIDADE 2 — SISTEMAS FOTOVOLTAICOS.........................................................................59

TÓPICO 1 — TIPOS DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS............................................................. 61


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 61
2 ORIGEM E HISTÓRIA.......................................................................................................... 61
2.1 HISTÓRIA DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO BRASIL.......................................................63
3 EFEITO FOTOVOLTAICO.................................................................................................... 64
4 TIPOS DE CÉLULAS...........................................................................................................67
4.1 SILÍCIO MONOCRISTALINO.................................................................................................................69
4.2 SILÍCIO POLICRISTALINO....................................................................................................................71
4.3 FILMES FINOS....................................................................................................................................... 73
4.4 COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE CÉLULAS............................................................................ 74
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................76
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 77

TÓPICO 2 - COMPONENTES DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO..........................................79


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................79
2 COMPONENTES DO PAINEL SOLAR FOTOVOLTAICO.......................................................79
3 CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS............................... 81
4 COMPONENTES DO SISTEMA .......................................................................................... 84
5 REGRAS PARA INSTALAÇÃO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS ................................... 86
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 90

TÓPICO 3 - DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS.................................. 93


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 93
2 DIMENSIONAMENTO......................................................................................................... 93
2.1 DIMENSIONAMENTO DE PAINÉIS (On-Grid)...................................................................................94
2.1.1 Inclinação......................................................................................................................................96
2.1.2 Rendimento.................................................................................................................................98
2.1.3 Cálculo do dimensionamento.................................................................................................99
2.1.4 Quantidade de módulos fotovoltaicos..................................................................................99
2.1.5 Cálculo do inversor....................................................................................................................101
2.2 DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA ISOLADO (OFF-GRID).................................................102
2.2.1 Dimensionamento de baterias..............................................................................................103
2.2.2 Quantidade de módulos fotovoltaicos (off-grid).............................................................105
2.2.3 Configuração dos módulos...................................................................................................106
2.2.4 Controlador de carga ............................................................................................................. 107
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................ 116
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................117

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 119

UNIDADE 3 — SISTEMAS SOLARES TÉRMICOS................................................................ 121

TÓPICO 1 — TIPOS DE COLETORES SOLARES TÉRMICOS................................................123


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................123
2 ENERGIA SOLAR TÉRMICA..............................................................................................123
3 CLASSIFICAÇÃO DO SISTEMA SOLAR TÉRMICO ..........................................................125
4 TIPOS DE COLETORES.....................................................................................................128
4.1 COLETOR SOLAR PLANO.................................................................................................................. 129
4.2 COLETOR DE TUBO DE VÁCUO......................................................................................................130
4.3 COLETOR SOLAR NÃO VIDRADO OU ABERTO............................................................................130
5 CONCENTRADORES SOLARES.......................................................................................133
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................ 137
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................138

TÓPICO 2 - COMPONENTES DE UM SISTEMA SOLAR TÉRMICO...................................... 141


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 141
2 COMPONENTES DO SISTEMA SOLAR TÉRMICO............................................................ 141
3 COLETARES SOLARES....................................................................................................143
3.1 ORIENTAÇÃO GEOGRÁFICA DOS COLETORES SOLARES......................................................... 145
4 SISTEMA DE ARMAZANEMANTO....................................................................................146
4.1 ISOLAMENTO DOS RESERVATÓRIOS TERMOSSOLAR............................................................... 149
5 SISTEMA DE AQUECIMENTO AUXILIAR..........................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 151
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................152

TÓPICO 3 - DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS SOLARES TÉRMICOS...........................155


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................155
2 ETAPAS DO DIMENSIONAMENTO...................................................................................155
3 CÁLCULO DO DIMENSIONAMENTO................................................................................156
3.1 CÁLCULO DO CONSUMO DE ÁGUA................................................................................................ 156
3.2 CÁLCULO DO VOLUME DE ÁGUA DO SISTEMA DE ARMAZENAMENTO............................... 156
3.3 CÁLCULO DA DEMANDA DE ENERGIA ÚTIL................................................................................ 157
3.4 CÁLCULO DO ÁREA COLETORA.....................................................................................................158
3.5 CÁLCULO DO FATOR DE CORREÇÃO DE INCLINAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOLAR.................158
4 EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO................................................................................159
5 PROTEÇÃO CONTRA O RETORNO DE ÁGUA QUENTE....................................................162
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................164
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................168
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................169

REFERÊNCIAS......................................................................................................................171
UNIDADE 1 -

FUNDAMENTOS DE
ENERGIA SOLAR
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o sistema solar, os movimentos de rotação e translação, os conceitos


sobre radiação solar, irradiação solar, radiação direta e radiação difusa;

• diferenciar os tipos de aproveitamento de energia solar, além de matriz energética


de matriz elétrica, bem como as principais fontes utilizadas;

• entender os fatores que influenciam na radiação solar;

• conhecer os principais equipamentos utilizados para realizar medidas de radiação


solar, o potencial solar do Brasil e a nível mundial.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITOS GERAIS


TÓPICO 2 – RADIAÇÃO SOLAR
TÓPICO 3 – POTENCIAL SOLAR

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

Acesse o
QR Code abaixo:

2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONCEITOS GERAIS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos início aos nossos aprendizados sobre energia
solar. Neste primeiro tópico da Unidade 1, a intenção é fazer você compreender e
diferenciar as principais formas de aproveitamento de energia solar, assim como
entender os principais benefícios e limitações decorrentes da geração de energia solar.

Veremos, também, as principais características do Sol e conheceremos como


a estrutura interna do Sol é composta. Além disso, estudar a posição relativa do Sol e a
Terra pode ajudar a responder a alguns questionamentos! Você já se perguntou por que
no Hemisfério Norte a incidência solar é diferente, quando comparada ao Hemisfério
Sul? A resposta é simples, devido à inclinação do eixo de rotação da Terra, associada aos
movimentos de translação. Os hemisférios são iluminados de maneira diferenciada ao
longo do ano, ou seja, a superfície da Terra não recebe a mesma quantidade de energia
solar e, como consequência, há a existência das estações do ano.

Como você já pode perceber, o estudo e o conhecimento dos movimentos de


rotação e translação são fundamentais para entender a disponibilidade da energia solar,
considerada um recurso energético sustentável e inesgotável, cuja aplicação cresce
exponencialmente.

2 ENERGIA SOLAR
O Sol é considerado a fonte primária de energia da Terra. É essencial para
existência e sobrevivência da vida no planeta, pois muitos dos fenômenos que acontecem
na Terra são resultado direto da interação com o Sol, por exemplo, favorecer o processo
de fotossíntese, manter a temperatura da Terra, permitir que a água esteja em estado
líquido. Além disso, a energia solar é responsável pelos fenômenos meteorológicos e o
clima do planeta Terra.

IMPORTANTE
A energia solar é considerada uma fonte energética inesgotável, pois é
abundante, permanente e renovável a cada dia. Esse tipo de geração tem
grande potencial de crescimento, ainda mais no Brasil, uma vez que nosso
país é ensolarado durante a maior parte do ano.

3
Acadêmico, é importante ressaltar que a energia solar é a denominação dada
a qualquer tipo de captação de energia luminosa proveniente do Sol, que pode ser
aproveitada basicamente por dois tipos de processos: térmico e fotovoltaico.

A energia solar térmica (Figura 1) é utilizada em várias aplicações, sendo a mais


comum a utilização em sistemas de aquecimento de piscinas e sistemas de aquecimento
de água em edificações. Na Unidade 3, iremos abordar detalhadamente a energia solar
térmica, mas, em resumo, nos sistemas de aquecimento solar térmico, a radiação solar
é captada por meio dos coletores solares, geralmente instalados em telhados com o
objetivo de aquecer a água. Destaca-se que nos coletores existem tubos que têm a
função de aquecer a água que circula e, posteriormente, armazena em um reservatório.

FIGURA 1 – ENERGIA SOLAR TÉRMICA

FONTE: <https://bit.ly/3Js1eze>. Acesso em: 16 jan. 2022.

A energia solar fotovoltaica (Figura 2) funciona por meio do “efeito fotovoltaico”,


convertendo a radiação solar em eletricidade através de materiais semicondutores. Na Uni-
dade 2, iremos abordar detalhadamente a energia solar fotovoltaica. Em resumo, os siste-
mas de energia solar fotovoltaica utilizam painéis solares que captam a luz e produzem, pelo
efeito fotovoltaico, correntes contínuas, que são convertidas em correntes alternadas.

FIGURA 2 – ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

FONTE: <https://www.portalsolar.com.br/tipos-de-energia-solar.html>. Acesso em: 16 jan. 2022.


4
Mas como funciona o efeito fotovoltaico? As partículas de luz que viajam do Sol
à Terra a cada dia são chamadas de fótons. Os fótons levam cerca de 8 minutos e 20
segundos para percorrer a trajetória do Sol até a Terra, quando os fótons colidem com
os átomos de silício presentes no painel, geram um deslocamento dos elétrons, que cria
uma corrente elétrica contínua, chamada de energia solar fotovoltaica.

NOTA
O efeito fotovoltaico é o surgimento de uma tensão elétrica em um material,
quando este é exposto à luz visível:

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3btwdPa>. Acesso em: 3 jun. 2022.

Segundo Poleto (2008), convencionalmente, existem duas formas de


aproveitamento da energia solar: ativa e passiva.

• Sistema passivo: obtém energia sem a utilização de qualquer equipamento


específico, por exemplo, a energia passiva permite um aquecimento ou resfriamento
de construções sem utilizar sistemas mecânicos ou elétricos. Os elementos de
construção de edifícios, tais como paredes, janelas, pisos e coberturas podem
ser ajustados, com o objetivo de viabilizar a captação de energia solar para utilizar
durante o período de inverno ou a construção pode ser ajustada para impedir a
captação da energia solar, durante o período de verão.
• Sistema ativo: sistemas que funcionam com o auxílio de dispositivos elétricos,
mecânicos ou químicos para transformar os raios solares em outras formas de
energia.

Acadêmico! Agora que você já conhece as formas de aproveitamento de energia


solar, iremos estudar as vantagens e desvantagens, visando compreender quais são os
principais benefícios e limitações.

Dentre as vantagens, podemos destacar (PIPE, 2015, p. 7):

• É renovável – a energia solar é renovável, uma vez que o Sol vai continuar brilhando
por bilhões de anos (considerada uma fonte inesgotável de energia).
• Não emite poluentes – utilizar energia solar para gerar eletricidade não polui e nem
cria gases do efeito estufa que contribuem para o aquecimento global, ao contrário
das usinas termelétricas.
• É gratuita – depois que as células solares são instaladas, elas fornecem energia
gratuita, ou seja, a energia proveniente do Sol não possui custos, uma vez que é um
recurso da natureza.

5
• Acessível em lugares remotos – a energia solar possibilita o fornecimento de
eletricidade para populações isoladas e remotas, que não possuem nenhum acesso
à eletricidade por rede de distribuição.
• Ocupa pouco espaço – a energia solar não demanda a ocupação de grandes áreas,
ao contrário das hidrelétricas, que é necessário a desocupação de regiões naturais.
• Não gera ruído – a energia solar não é barulhenta, ao contrário das turbinas eólicas.
• Baixa manutenção – apesar de ser uma tecnologia cara, os painéis são resistentes
e normalmente não oferecem altos custos de manutenção.

Dentre as desvantagens, podemos citar (PIPE, 2015, p. 7):

• Custo elevado – as células solares têm alto custo de produção, pois o silício,
material utilizado na produção das placas solares, é difícil de ser escavado do solo
e purificado.
• Dependência do período – o sol não brilha à noite e, assim, não há geração de
energia solar durante esse período. Dessa forma, é necessário um banco de baterias
conectado ao sistema para armazenar a energia utilizada no período noturno (porém,
as baterias têm custo elevado).
• Dependência do clima – situações climáticas de muita chuva e alta densidade
de nuvens há possibilidade da radiação solar não atingir a superfície dos painéis
solares, diminuindo a geração de energia.

Agora, que você já sabe compreender e diferenciar as formas de aproveitamento


de energia solar, vamos estudar as principais características do Sol, que é considerado
a fonte primária de energia da Terra.

2.1 CARACTERÍSTICAS DO SOL


Dentre as suas características, o Sol é a estrela mais próxima da Terra (localizado
a aproximadamente 150 milhões de quilômetros, equivalente a 8 minutos-luz de
distância (1 minuto-luz corresponde a 17.987.547 quilômetros) e é constituído por uma
enorme esfera de gás incandescente. Em função da distância, a luz do Sol não chega à
Terra de forma instantânea, demora aproximadamente 8 minutos e 20 segundos para
chegar ao nosso Planeta, conforme visto anteriormente.

Alguns estudos prescrevem que o Sol, assim como a Terra, possui cera de 4,5 bi-
lhões de anos de idade, e a temperatura varia entre 5,5 mil e 15 milhões de graus Celsius.
Além disso, o Sol é considerado 109 mil vezes maior quando comparado a Terra (estima-se
que dentro do sol cabem aproximadamente 1,3 milhões de planetas Terra) e é composto
praticamente de hidrogênio (91,2%) e hélio (8,7%), conforme consta no Quadro 1.

6
QUADRO 1 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SOL

Principais Características do Sol


Massa 1,989 x 1030 kg
Raio 696.000 km
Densidade média 1.409 kg/m³
Densidade central 1,6 x 105 kg/m³
Distância 1,499 x 108 km
Luminosidade 4 x 1026 W
Temperatura efetiva 5.785 K
Temperatura central 1,5 x 107 K
Hidrogênio= 91,2 %
Hélio = 8,7%
Composição química principal
Oxigênio= 0,078%
Carbono= 0,043%
FONTE: Adaptada de <https://www.todamateria.com.br/sol/>. Acesso em: 16 jan. 2022.

Acadêmico! Você sabia que cada m² na Terra recebe do Sol uma luminosidade
(potência) de 1.400 watts? E isso equivale a 14 lâmpadas de 100 watts, e, por meio
dessa potência recebida da Terra, é determinada a luminosidade do Sol em 4 x 1026 W.
Ressalta-se que toda essa energia é proveniente de fusões nucleares, que ocorrem no
núcleo do Sol, convertendo átomos de hidrogênio em átomos de hélio.

NOTA
A Unidade de energia no Sistema internacional de Unidades (SI) é o Joule (J). Entretanto,
existem outras áreas que utilizam outras unidades. A seguir, veja as unidades mais utilizadas:
• Caloria (cal): utilizada para estudos de fenômenos térmicos. Em relação ao Joule, temos: 1
cal = 4,186 J (aproximadamente).
• 1 Watt= 1 J/segundo
• Quilowatt-hora: (kWh): Unidade de energia muito utilizada em dispositivos e sistemas
elétricos. Em relação ao Joule, temos1 kWh = 3.600 kJ ou 3,6 x 106 J

Acadêmico, conforme você já estudou em disciplinas anteriores, a potência elétrica P de-


senvolvida para realizar o trabalho é dada pela tensão atuante V e a corrente resultante i:

P=Vxi

A unidade de potência no Sistema Internacional de Medidas é denominada watt (W). Já em


engenharia elétrica, são muito utilizados o miliwatt (1 mW = 10-3 W), quilowatt (1 kW = 103 W)
e o megawatt (1 MW = 106 W).

A energia elétrica, gerada ou absorvida pelo elemento, será:

E = P x tempo

7
Para você compreender melhor a relação entre potência e energia, considere,
por exemplo, uma lâmpada elétrica, cuja potência elétrica é de 60 W, ligada
por dez horas. A energia consumida pela lâmpada ao longo das dez horas
será dada por:

0,06 kW x 10h = 0,6kWh

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3OT4lBu>. Acesso em: 24 jan. 2022.

2.2 ESTRUTURA INTERNA DO SOL


De acordo com a figura a seguir, a estrutura do Sol é composta pelas regiões:
núcleo, zona radiativa, zona convectiva, fotosfera, cromosfera e coroa (também
chamada de corona).

FIGURA 3 – ESTRUTURA SOLAR

FONTE: Adaptada de <https://www.todamateria.com.br/caracteristicas-do-sol/>. Acesso em: 16 jan. 2022.

8
INTERESSANTE
Parker Solar Probe é o nome da sonda que se aproximou mais do Sol, o que
aconteceu em agosto de 2018. Essa é uma missão da Nasa que consiste
numa aproximação gradual ao Sol; essa missão prevê que em 2025 a sonda
chegue a sua coroa:

FONTE: Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/sol/>. Acesso em: 3 jun. 2022.

A proeminência solar tem aspecto brilhante e gasoso que se estende para fora
da superfície do Sol, às vezes, por centenas de milhares de quilômetros acima da coroa
solar. A causa das proeminências solares provavelmente são decorrentes das forças
magnéticas. Já a Corona, é composta por gases ionizados extremamente quentes, mais
conhecidos como plasmas.

Acadêmico, em resumo, temos que a zona fotosfera é a superfície do Sol, por


outro lado, a cromosfera e coroa são a atmosfera do Sol. Já o interior do Sol é composto
por: camada convectiva, camada radiativa e núcleo.

INTERESSANTE
Mancha Solar
A partir do século XVI, com a invenção da luneta, Galileu projetou e ampliou a imagem do
Sol, o que permitiu os primeiros registros das manchas escuras que aparecem na superfície
do Sol. Esses registros foram feitos periodicamente em busca de uma compreensão para
tal comportamento, visto que as manchas sumiam e apareciam em regiões diferentes da
superfície do Sol. No passado, acreditava-se que as manchas solares eram montanhas,
nuvens ou satélites do Sol. Ainda hoje, o complexo mecanismo de formação dessas
manchas não é totalmente conhecido, mas sabe-se que está diretamente relacionado aos
campos magnéticos e que acompanha o ciclo de atividade solar.
Essas manchas temporárias, que aparecem na fotosfera do Sol, possuem temperaturas entre
2000-4000 K, enquanto que o material fora da mancha tem temperaturas acima de 5000 K.
A temperatura reduzida dessas regiões é causada pela presença de campos magnéticos
intensos, que inibem o processo convectivo da fotosfera solar, diminuindo o fluxo de energia
proveniente do interior do Sol e, consequentemente, diminuindo a temperatura superficial
dessa região. A aparência escura da mancha é devido ao fato de que o entorno é tão brilhante,
que o contraste local nos faz perceber a mancha como negra. Na foto acima, é possível
observar, também, que as manchas solares possuem regiões mais claras nas bordas, o que
ocorre devido ao enfraquecimento do campo magnético. É importante mencionar que a
temperatura no interior do Sol é da ordem de 15 milhões de Kelvin.
As manchas podem aparecer em grupos de manchas ou de forma individual, e podem
durar entre alguns dias e alguns meses, mas acabam se dissipando à medida que a
atividade solar varia. As manchas solares possuem mecanismos de contração e expansão,
podendo variar seus diâmetros entre 16 km a 160.000 km conforme a intensidade do
campo magnéticos que as criou.

9
As manchas solares são extremamente estudadas, pois estão relacionadas
com a maioria das erupções solares e ejeções de massa coronal (EMC) se
originam em regiões magneticamente ativas nas proximidades de grupos de
manchas solares visíveis. Logo, quanto maior o número de manchas, maior
o número de erupções e tempestades solares impulsionadas por EMCs.
Esses fenômenos causam problemas em satélites de telecomunicações,
descargas elétricas em linhas de transmissão e interrupção do fornecimento
de energia. As tempestades solares também aumentam o nível de radiação
que atinge os astronautas, podendo provocar diversas alterações nas
células do corpo.
O monitoramento das manchas solares e da atividade solar como
um todo é feita atualmente com o satélite Soho, que atua na
posição intermediária entre a Terra e o Sol. Assim, esse satélite monitora
a atividade solar, avisando com antecedência a chegada de tempestades
radioativas à Terra. O satélite Soho é uma sonda espacial não-tripulada da
Agência Espacial Europeia e da NASA.
É válido ressaltar que a observação solar deve ser feita de maneira segura, com
a utilização de equipamento específico, caso contrário, a observação poderá
causar danos irreversíveis a visão de quem está observando de maneira
errada. Isto pode ocorrer porque as células responsáveis pela visão podem ser
afetadas gravemente por uma exposição exagerada de radiação solar.
Assim, para realizarmos uma observação segura do disco solar, e até
mesmo das manchas solares, são necessários telescópios que possuam
filtros específicos que bloqueiam a maior parte da radiação solar. Por outro
lado, uma maneira simples e barata de olhar para o Sol de forma segura é
através de vidros de máscaras de soldador. Esses vidros de número 4 (ou
maior) bloqueiam a radiação prejudicial vinda do Sol.

FONTE: Disponível em: <https://www.infoescola.com/astronomia/mancha-solar/>.


Acesso em: 17 jan. 2022.

2.3 POSIÇÃO RELATIVA SOL – TERRA


Caro acadêmico! Antes de estudarmos a radiação solar, é importante
compreender o sistema solar e a posição relativa do Sol e a Terra.

O sistema solar, localizado na galáxia via láctea, é composto por oito planetas
e por um grande número de outros corpos celestes (planetas anões, asteroides e
cometas). Conforme mostra a Figura 4, os planetas que formam o sistema solar (a partir
do Sol) são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Netuno e Urano. O Sol, é
considerado a estrela central do sistema solar, com grande domínio gravitacional sobre
os demais corpos celestes.

10
FIGURA 4 – SISTEMA SOLAR

FONTE: <https://www.infoescola.com/astronomia/planetas-do-sistema-solar/>. Acesso em: 24 jan. 2022.

Antigamente, Plutão era considerado um planeta do sistema solar, entretanto,


através de estudos e discussões, foi observada a existência de corpos celestes com
características similares com Plutão. Dessa forma, em 2006, a União Astronômica
Internacional (UAI), reclassificou o plutão, como planeta anão, sem essa classificação,
seria necessário aumentar o número dos planetas do sistema solar ou gerar uma nova
classificação para corpos celestes semelhantes a Plutão.

Analisando o sistema solar, você, acadêmico, deve pensar “O Mercúrio deve ser
um dos planetas mais quentes do sistema solar, pois está mais próximo do Sol”. Porém,
Vênus é considerado o planeta mais quente, com temperaturas de aproximadamente
471 °C, a explicação para esse fato é devido a sua composição. Vênus é composto de
dióxido de carbono e nuvens de ácido sulfúrico que aprisionam calor dentro do planeta.
Para você ter uma ideia, algumas espaçonaves que chegaram ao planeta aguentaram
apenas algumas horas antes da sua destruição, devido ao calor e pressão.

É importante destacar que a Terra e os demais corpos celestes não são estáticos,
ou seja, estão em constante movimento, por exemplo, a rotação e translação. Esses mo-
vimentos e a latitude do lugar são responsáveis pela variação da energia solar em um de-
terminado ponto terrestre, por isso entender esses movimentos é muito importante para
compreender, posteriormente, a disponibilidade de recurso energético em nosso planeta.

2.3.1 Rotação
A rotação é considerada o movimento que a Terra realiza em torno do seu pró-
prio eixo, um pouco inclinado em relação ao plano de sua órbita. Esse movimento causa
alteração entre os períodos de insolação do planeta. Conforme mostra figura a seguir, a

11
rotação ocorre no sentido anti-horário, ou seja, de oeste para leste. Essa rotação dura
aproximadamente 24 horas, tendo como resultado o dia e a noite. Destaca-se que o mo-
vimento de rotação é realizado com uma velocidade de aproximadamente 1.669 km/h.

Devido ao movimento de rotação, ocorre a variação dos dias e das noites, ou


seja, a parte do planeta Terra que recebe energia solar está no período diurno, por outro
lado, a parte oposta da Terra se encontra no período noturno.

FIGURA 5 – MOVIMENTO DE ROTAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3Qcodkb>. Acesso em: 24 jan. 2022.

2.3.2 Translação
A translação é considerada o movimento que a Terra realiza em torno do Sol, ou
seja, ao mesmo tempo que a Terra gira em torno de seu eixo de rotação, ela também gira
em torno do Sol. A Terra realiza uma volta completa a redor do Sol em aproximadamente
365 dias, isso é, um ano. O movimento de translação é realizado com uma velocidade de
aproximadamente 107.000 km. Ressalta-se que, quando a Terra está mais próxima do
Sol, velocidade do movimento é maior, e, quanto mais afastada, menor é a velocidade.

Um dos resultados do movimento de translação é a sucessão dos anos, uma


vez que a Terra leva, aproximadamente, 365 dias para dar uma volta completa ao redor
do Sol. Outro resultado do movimento de translação são as estações do ano.

Analisando a figura a seguir, é possível observar que o movimento da Terra em


torno do Sol descreve uma trajetória elíptica com inclinação de, aproximadamente,
23,5° com relação ao plano equatorial. Devido à inclinação da Terra e o movimento de
translação, os hemisférios são iluminados de maneira diferenciada ao longo do ano,
ou seja, superfície da Terra não recebe a mesma quantidade de energia solar e, como
consequência, há a existência das estações do ano e uma diferença na duração dos
dias e das noites.

12
FIGURA 6 – INCLINAÇÃO DO EIXO DE ROTAÇÃO DA TERRA

FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/movimento-rotacao.htm>. Acesso em: 24 jan. 2022.

Acadêmico! Você já ouviu falar nos solstícios e equinócios? Então, esses são os fenô-
menos responsáveis por marcar as posições do movimento do Sol e os raios solares da Terra.

FIGURA 7 – SOLSTÍCIOS E EQUINÓCIOS

FONTE: <https://www.estudokids.com.br/solsticios-e-equinocios/>. Acesso em: 24 jan. 2022.

Conforme mostra a figura anterior, o solstício corresponde aos dois períodos em


que a Terra recebe energia solar de maneira desigual nos hemisférios norte e sul, ou seja,
um dos hemisférios receberá maior insolação. Esse fenômeno ocorre em junho e dezem-
bro (duas vezes por ano), enquanto que, no hemisfério norte, a incidência solar é maior,
no hemisfério sul será menor, pois estará recebendo menor incidência e, por essa razão,
está experimentando o inverno, e assim vice-versa. No solstício de verão, os dias são mais
longos que a noite, por outro lado, no solstício de inverno, as noites são mais longas.

13
Já o equinócio corresponde aos períodos em que a Terra recebe luz do Sol com
mesma intensidade nos hemisférios. Esse fenômeno ocorre em março e setembro (duas
vezes por ano), marcando o início da primavera e o outono. Ressalta-se que, devido à
igual incidência solar nos hemisférios, os dias e as noites têm a mesma duração.

Acadêmico, neste tópico, aprendemos sobre o conceito de energia solar, os


tipos de processos de aproveitamento de energia solar (solar térmica e fotovoltaica)
e os principais benefícios e limitações. Além disso, para melhor compreensão da
disponibilidade e variação desse recurso energético no planeta Terra, estudamos
algumas características do sistema solar e a posição relativa do Sol e a Terra.

14
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A energia solar é considerada uma fonte energética inesgotável, pois é abundante,


permanente e renovável a cada dia.

• O Sol é considerado a fonte primária de energia da Terra. É essencial para existência


e sobrevivência da vida no planeta.

• A energia luminosa proveniente do Sol pode ser aproveitada basicamente por dois
tipos de processos: térmico e fotovoltaico.

• Devido à distância, a luz do Sol não chega à Terra de forma instantânea, demora
aproximadamente 8 minutos e 20 segundos para chegar ao nosso planeta.

• A estrutura do Sol é composta pelas regiões: núcleo, zona radiativa, zona


convectiva, fotosfera, cromosfera e coroa.

• Os planetas que formam o sistema solar (a partir do Sol) são: Mercúrio, Vênus,
Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Netuno e Urano.

• A Terra e os demais corpos celestes não são estáticos, ou seja, estão em constante
movimento, por exemplo, a rotação e a translação.

15
AUTOATIVIDADE
1 A energia solar é uma fonte energética sustentável e inesgotável, pois é abundante,
permanente e renovável a cada dia. Além disso, sabemos que a captação de energia
luminosa proveniente do Sol pode ser aproveitada basicamente por dois tipos de
processos. Assinale a alternativa CORRETA que corresponde ao aproveitamento de
energia solar fotovoltaica:

a) ( ) A energia solar fotovoltaica é utilizada em várias aplicações, sendo a mais comum


a utilização em sistemas de aquecimento de piscinas e sistemas de aquecimento
de água em edificações.
b) ( ) A energia solar fotovoltaica funciona por meio do “efeito fotovoltaico”, convertendo
a radiação solar em eletricidade através de materiais semicondutores.
c) ( ) Os sistemas de energia solar fotovoltaica utilizam os coletores solares, geralmente
instalados em telhados.
d) ( ) Os sistemas de energia solar fotovoltaica produzem, pelo efeito fotovoltaico,
correntes alternadas, que são convertidas em correntes contínuas.

2 A energia fotovoltaica e energia solar térmica são consideradas as principais formas


de aproveitamento de energia solar. Dentro desse contexto, assinale a alternativa
CORRETA que trata sobre as vantagens da energia solar:

a) ( ) A energia solar é renovável e esgotável, pois o Sol vai continuar brilhando por
bilhões de anos.
b) ( ) É totalmente gratuita, ou seja, mesmo antes das células solares serem instaladas,
elas fornecem energia de forma gratuita, uma vez que o sol é um recurso da
natureza.
c) ( ) A energia solar possibilita o fornecimento de eletricidade para populações
isoladas e remotas que não possuem nenhum acesso à eletricidade por rede de
distribuição.
d) ( ) As células solares têm alto baixo custo de produção, pois o silício, material utilizado
na produção das placas solares, é fácil de ser escavado do solo e purificado.

3 A estrutura do Sol é composta pelas regiões: núcleo, zona radiativa, zona convectiva,
fotosfera, cromosfera e coroa (também chamada de corona). Assim, assinale a
alternativa CORRETA que corresponde à Fotosfera.

a) ( ) Considerada uma camada instável, pois, nessa região, ocorre erupções solares.
b) ( ) Região onde acontece a geração de energia, por meio das reações termonucleares.

16
c) ( ) Região que tem um aspecto da superfície de um líquido em ebulição, carregado
de bolhas, que são intitulados de grânulos fotosféricos.
d) ( ) É a parte de baixa densidade que marca a transição entre a cromosfera e a coroa
solar.

4 A Terra e os demais corpos celestes não são estáticos, ou seja, estão em constante
movimento, por exemplo, a rotação e translação. Dentro desse contexto, explique o
movimento de translação e a principal consequência desse movimento.

5 Os fenômenos solstícios e equinócios são responsáveis por marcar as posições do


movimento do Sol e os raios solares da Terra. Dentro desse contexto, diferencie esses
fenômenos.

17
18
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
RADIAÇÃO SOLAR

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos prosseguimento aos nossos aprendizados sobre
energia solar. Neste segundo tópico da Unidade 1, a intenção é fazer você compreender
e diferenciar alguns conceitos, como radiação solar, irradiação solar, radiação direta,
radiação difusa, entre outros.

Além disso, estudaremos os principais fatores que influenciam na radiação


solar: a latitude do local, movimento de rotação da Terra (responsável pelo ciclo dia-
noite) e movimento de translação.

Veremos os principais equipamentos utilizados para efetuar a medição da


radiação solar, e, também, como calcular a irradiação solar global. Acadêmico, o estudo
da radiação solar é de suma importância para viabilizarmos e aplicarmos sistemas que
envolvem energia solar térmica e fotovoltaica.

2 CONCEITOS
A radiação solar é considerada o fluxo de energia emitida pelo Sol e transmitida
em todas as direções da atmosfera, por meio de ondas eletromagnéticas. A distribuição
de energia solar é alterada à medida que passa através das nuvens, gases, vapor de
água, poeiras e vegetação. A velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas é
diretamente proporcional a sua frequência e comprimento de onda, conforme Eq.1.

v= f.λ Eq.1

Onde:
v – velocidade de propagação (m/s);
λ – comprimento de onda (m);
f – frequência (Hz).

Acadêmico! É importante você compreender outros conceitos, por exemplo,


irradiância solar, irradiação extraterrestre e irradiação, pois serão fundamentais para o
dimensionamento dos sistemas que envolvem energia solar térmica e fotovoltaica.

• Irradiância solar: é o fluxo de energia solar que incide sobre uma superfície, por
unidade de superfície (W/m²).

19
• Irradiância extraterrestre: é o fluxo de radiação solar que chega no topo da
atmosfera (ou seja, sem ausência de partículas) e é recebida em uma superfície
perpendicular aos raios solares que esteja localizada a uma distância média
Terra-Sol (ausência de atmosfera). Em outras palavras, a constante solar pode
ser definida como a irradiância solar sobre uma superfície perpendicular aos raios
solares, na ausência da atmosfera. Essa irradiação solar no topo da atmosfera é de
aproximadamente 1367 W/m² ou 118,11 MJ/m².dia.
• Irradiação solar: é a quantidade de energia solar que incide em uma superfície
durante um certo período de tempo (Wh/m²).

Neste momento, acadêmico, você deve pensar: “por que a atmosfera atua como
filtro da radiação solar”? Para explicar esse questionamento, é importante compreen-
dermos que a atmosfera (composta principalmente de 78% de nitrogênio, 21% de oxigê-
nio e outros gases (1%), como hélio e dióxido de carbono), conforme mostra a Figura 7, é
dividida em camadas: exosfera, termosfera, mesosfera, estratosfera e troposfera, sendo
esta última a camada de ar mais próxima da Terra.

FIGURA 8 – CAMADAS DA ATMOSFERA

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/a-dinamica-atmosfera.htm>. Acesso em: 2 fev. 2022.

Essas camadas formam uma extensão de aproximadamente 650 km, e juntas


atuam com uma proteção, pois sem estas não suportaríamos o calor emitido pelos raios
solares. Dessa forma, no período da noite, perderíamos todo o calor recebido do Sol,
sofrendo uma brusca variação de temperatura. Com isso, é possível perceber que a
existência da atmosfera é essencial para manutenção da vida na Terra.

20
Conforme já estudamos, a distância entre a Terra e o Sol é de aproximadamente
150 milhões de quilômetros, em razão dessa distância, uma pequena parcela da radiação
chega à superfície terrestre, ou seja, após atravessar a atmosfera, a radiação solar chega
na superfície terrestre de três formas distintas:

• Radiação direta: atinge diretamente a superfície da terra, sem ter dispersão em


sua trajetória.
• Radiação difusa: é a radiação que atinge a superfície terrestre após ser desviada em
diferentes direções, em função, por exemplo, das nuvens presentes na atmosfera.
• Radiação refletida: é a radiação que é refletida pela superfície terrestre. Esse
fenômeno é chamado de efeito albedo.

FIGURA 9 – COMPONENTES DA RADIAÇÃO SOLAR

FONTE: <https://bit.ly/3BzRQYA>. Acesso em: 2 fev. 2022.

IMPORTANTE
Radiação global ou total: é a soma da radiação direta mais a difusa recebida
por uma superfície.

Acadêmico! Antes de prosseguirmos, vamos falar sobre Albedo, ou também


chamado de refletância solar, que pode ser definido como a relação entre a radiação
refletida e a radiação global. Em outras palavras, podemos dizer que é a capacidade da
superfície refletir a radiação incidente. O Albedo varia de zero (nenhuma reflexão, ou

21
seja, absorção total de um corpo negro) até um (reflexão perfeita, superfícies claras). É
importante destacar que Albedo é uma propriedade relacionada à superfície do solo e
seu número é adimensional que pode ser expresso em porcentagem.

A Figura 9 apresenta alguns valores de Albedo, conforme é possível observar,


dependendo da natureza da superfície em que a radiação solar incide, haverá um modo
diferente de reflexão ou absorção (para um corpo negro). Se a radiação incide sobre
superfícies de cor clara, Albedo é elevado, próximo de 1. Por outro lado, se a radiação
incide sobre superfícies de cor escura, Albedo é baixo, próximo de zero. Assim, podemos
citar algumas superfícies com Albedo alto: gelo, neve, areia; e as superfícies com Albedo
baixo: asfalto, florestas, oceanos, entre outros.

FIGURA 10 – VALORES DE ALBEDO (%)

FONTE: <https://profroselibaracal.wordpress.com/2015/12/12/albedo/>. Acesso em: 3 fev. 2022.

IMPORTANTE
Acadêmico! Lembre-se de que na variação do Albedo, 0 = significa que a energia
solar não é refletida (corpo negro), já Albedo = 0,9 ou próximo de 1 significa que
quase toda a energia recebida é refletida de volta para o espaço.

22
Conforme vimos, a radiação solar recebida pelo planeta Terra pode ser refletida
ou absorvida. Em termos de porcentagem, se consideramos 100% a radiação solar
incidente, conforme imagem a seguir, temos que:

• 30% são retirados por reflexão, sendo 6% refletidos pela atmosfera, 20% pelas
nuvens e 4% pela superfície. Ou seja, essa radiação que é refletida é devido ao
efeito albedo da Terra.
• 19% por absorção, sendo 16% relativos à absorção da atmosfera e 3% pelas nuvens.
• 51% por absorção da superfície terrestre, sendo que essa energia absorvida pela
superfície será devolvida para o espaço sob a forma de calor:
• 7% por condução e convecção do ar.
• 23% conduzidos pelo vapor de água nas nuvens e atmosfera.
• 64% por irradiação para o espaço por meio de nuvens e da atmosfera.
• 6% por radiação direta da terra para o espaço.

FIGURA 11 – BALANÇO ENERGÉTICO DA TERRA

FONTE: <http://recursosolar.geodesign.com.br/Pages/Sol_Rad_Basic_RS.html>. Acesso em: 5 fev. 2022.

Acadêmico! Você já pensou como seria a temperatura da terra sem a presença


da radiação solar? Para você ter uma ideia, uma das principais contribuições da radiação
solar é o aquecimento do planeta, sem está energia, a temperatura da Terra seria de
aproximadamente -238°C, uma das consequências é que a água existiria apenas no
estado sólido.

23
A radiação solar ao ser absorvida pela terra converte em energia calorífica,
aquecendo a superfície terrestre. Essa contínua entrada de radiação solar é compensada,
pois a terra emite praticamente a mesma quantidade de energia que recebe. Esse
balanço possibilita afirmar que a Terra se encontra em equilíbrio térmico.

A Terra, ao absorver a radiação solar (de curto comprimento de onda), emite uma
outra radiação sob a forma de calor, que é a radiação infravermelha (grande comprimento
de onda). Sabemos que uma parte dessa radiação é emitida para o espaço, porém outra
parte é bloqueada, pois é absorvida pelos gases do efeito estufa.

IMPORTANTE
Acadêmico! Antes de prosseguirmos, é de suma importância que você relembre o que é o
efeito estufa. Então, vamos lá!
O efeito estufa é um fenômeno natural de extrema importância para a existência de vida
na Terra. É responsável por manter as temperaturas médias globais, evitando que haja
grande amplitude térmica e possibilitando o desenvolvimento dos seres vivos.
Esse fenômeno, no entanto, tem sido agravado pela ação antrópica, que tem elevado as
emissões de gases de efeito estufa à atmosfera, provocando alterações climáticas em todo
o planeta. Essa grande concentração de gases dificulta que o calor seja devolvido ao espaço,
aumentando, consequentemente, as temperaturas do planeta. Como funciona o efeito estufa?

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3zRl04g>. Acesso em: 5 fev. 2022.

O Sol emite calor à Terra. Parte desse calor é absorvida pela superfície terrestre e pelos
oceanos, outra parte é devolvida ao espaço. Contudo, uma parcela da radiação solar
irradiada pela superfície fica retida na atmosfera em decorrência da presença de gases
de efeito estufa, que impedem que esse calor seja devolvido totalmente ao espaço. Dessa
forma, mantém-se o equilíbrio energético e evitam-se grandes amplitudes térmicas.

24
Para exemplificar melhor, imagine um carro estacionado em um dia bastante ensolarado.
Os raios solares atravessam os vidros e aquecem o interior do veículo. O calor tende a
ser devolvido para fora do carro, saindo pelo vidro, contudo encontra dificuldades. Assim,
parte do calor fica retido no interior do carro, mantendo-o aquecido.
Fazendo uma analogia, os gases de efeito-estufa presentes na atmosfera funcionam como
o vidro do carro, permitindo a entrada da radiação solar e dificultando que toda ela seja
devolvida ao espaço. Existem quatro principais gases de efeito estufa. São eles:
• Dióxido de carbono: é o gás de maior abundância na atmosfera. A queima
de combustíveis fósseis é uma das principais atividades responsáveis por emitir esse
gás. Desde a era industrial, a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera aumentou,
aproximadamente, 35%.
• Gás metano: é o segundo gás que mais contribui para o aumento das temperaturas
globais, com poder 21 vezes maior que o dióxido de carbono. Aproximadamente 60%
da emissão de metano provém de ações humanas ligadas a aterros sanitários e lixões.
Além disso, é eliminado por meio da digestão de ruminantes.
• Óxido nitroso: pode ser emitido à atmosfera por meio de bactérias no solo ou no oceano.
Atividades agrícolas, como uso de fertilizantes nitrogenados, também são fontes desse
gás. O óxido nitroso pode colaborar cerca de 298 vezes mais que o dióxido de carbono
para o aumento das temperaturas.
• Gases fluoretados: os gases fluoretados são produzidos pelo homem a fim de atender
às necessidades industriais. São exemplos desses gases: hidrofluorcarbone-
tos, usados em sistemas de aquecimento e refrigeração; hexafluoreto de en-
xofre, usado na indústria eletrônica; perfluorcarbono, emitido na produção
de alumínio; e os clorofluorcarbonos (CFCs), responsáveis pela destruição
da camada de ozônio.
• Vapor d'água: bastante presente na atmosfera, é responsável por mais
da metade do efeito estufa. O vapor d'água capta o calor irradiado pela
superfície terrestre, distribuindo-o para todas as direções e aquecendo
a superfície.

FONTE: <https://bit.ly/3zRl04g>. Acesso em: 5 fev. 2022.

O efeito estufa até um certo ponto é benéfico para o planeta Terra, pois sem
ele a temperatura seria de cerca de -20 °C, porém grandes quantidades de dióxido de
carbono, como no planeta Vênus (conforme citamos no tópico anterior) a temperatura
seria de, aproximadamente, 471 °C. Portanto, quanto maior a intensidade do efeito
estufa, a quantidade de radiação bloqueada aumenta e, por consequência, há um
aumento do aquecimento global.

Esse aumento dos gases de efeito estufa é, principalmente, provocado pelas


atividades industriais (queima de combustíveis fósseis). Entre as consequências do
aumento da concentração do efeito estufa, podemos citar o aumento da temperatura,
derretimento das calotas polares e aumento do nível do mar, extinção de espécies e
ecossistemas, perdas de terra devido a inundações, escassez de água, entre outros.

25
3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA VARIAÇÃO DE
ENERGIA SOLAR
Conforme estudamos anteriormente, a radiação solar chega à superfície terrestre
de três formas: direta, difusa e refletida. Para você ter uma ideia, estima-se que em um
dia ensolarado, sem nuvens, no mínimo 20% da radiação que atinge a superfície terrestre
é difusa, por outro lado, se tivermos um dia totalmente nublado, a radiação será 100% di-
fusa sem a presença de radiação direta. Bom, isso significa que a radiação que chega na
superfície terrestre irá influenciar na geração de energia solar, logo, em dias mais ensola-
rados, teremos maior produção de energia quando comparado aos dias nublados.

Além das condições de tempo e clima da região, outros fatores também


influenciam na variação da energia solar, como a latitude do local, movimento de rotação
da Terra (responsável pelo ciclo dia-noite) e movimento de translação. Vamos estudar
detalhadamente cada um desses fatores.

3.1 LATITUDE
A latitude é considerada a distância em graus de qualquer ponto da Terra em
relação ao Equador. Em posse deste conceito, agora vamos entender por que a latitude
influência na variação solar.

Primeiro, é importante lembrarmos que devido ao formato esférico do planeta,


a radiação solar não é distribuída uniformemente, ou seja, existem regiões onde os raios
incidem de forma mais concentrada, e, também, de forma mais dispersa. Bom, para
melhor entendimento, observe a figura a seguir. Veja que temos três pontos, A, B e C.

FIGURA 12 – TIPOS DE INCIDÊNCIA DOS RAIOS SOLARES

FONTE: <https://bit.ly/3PXlSKh>. Acesso em: 5 fev. 2022.

26
O ponto C está localizado sobre o equador; por outro lado, o ponto A está situado
na região polar e mais inclinado quando comparado ao ponto C. Outro fator interessante
é que a área ocupada pela incidência dos raios no ponto C é mais concentrada quando
comparada ao ponto A. Veja também que os raios que incidem no ponto C estão
refletindo na mesma direção; por outro lado, no ponto A, os raios que incidem, devido
a inclinação da área, refletem em vários lugares. Assim, nas áreas próximas aos polos,
haverá mais inclinação e, consequentemente, mais espalhamento dos raios e menor
concentração de calor. Por esse motivo, áreas próximas dos polos são mais frias.

No ponto C, temos baixas latitudes, ou seja, menor é a distância entre o equador,


assim, os raios chegam à superfície terrestre de forma perpendicular (90º), fazendo com
que os raios ocupem uma menor área e, consequentemente, a temperatura é maior
nessa região, devido à maior concentração dos raios. Em resumo, podemos afirmar que,
quanto maior a latitude, maior será a inclinação dos raios solares.]

O Brasil está localizado próximo à linha do Equador, e, por consequência, tem


alta incidência de radiação solar durante o dia e pouca variação durante as estações do
ano, devido ao movimento de translação.

CURIOSIDADE
Para se ter uma ideia, no local menos ensolarado do Brasil, é possível gerar
40% mais eletricidade solar que o lugar mais ensolarado da Alemanha, que é
um dos líderes no uso da energia fotovoltaica: https://quantageracao.com.br/
energia-solar-4-fatores-que-impactam-na-geracao/.

3.2 MOVIMENTO DE ROTAÇÃO


Conforme estudamos na Tópico 1, a rotação é o movimento que a Terra realiza
em torno do seu próprio eixo, e dura aproximadamente 24 horas. Esse fenômeno é
responsável pela sucessão dos dias e noites. Assim, é possível perceber que, ao longo
do dia, há variação:

• A inclinação dos raios solares.


• O ângulo de incidência.
• A massa atmosférica atravessada.
• A superfície aquecida.

Para entendermos melhor, veja a figura a seguir. Ao nascer do Sol, a radiação


solar é menor, pois há maior inclinação dos raios solares, o que faz com que os raios se
espalham e tangenciem uma área maior e devido a essa dispersão concentram menos

27
calor. O ângulo de incidência (considerado o ângulo que os raios solares fazem com
o plano tangente à superfície da terra) é menor, porque há maior inclinação dos raios
solares e, por conseguinte, a massa atmosférica que os raios solares atravessam é maior.

Já ao meio-dia, a radiação solar é maior, pois a inclinação dos raios é menor,


o ângulo de incidência é maior, porque há menor inclinação dos raios solares e, dessa
forma, a massa atmosférica que os raios solares atravessam é menor.

FIGURA 13 – VARIAÇÃO DA ENERGIA SOLAR AO LONGO DO DIA

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/10376254/>. Acesso em: 5 fev. 2022.

3.3 MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO


Conforme estudamos na Tópico 1, a translação é considerada o movimento que
a Terra realiza em torno do Sol, ou seja, ao mesmo tempo que a Terra gira em torno de
seu eixo de rotação, ela também gira em torno do Sol. A Terra realiza uma volta completa
ao redor do Sol em, aproximadamente, 365 dias, isso é, um ano. Esse fenômeno, além
de ser responsável pela sucessão dos anos, também influência nas estações do ano
(primavera, verão, outono e inverno), modificando a intensidade de radiação solar que
incide na superfície terrestre.

Em função desse movimento de translação, temos a variação da declinação


solar. Mas o que é declinação solar? Conforme imagem a seguir, é o ângulo criado entre
o equador terrestre e a linha imaginária que contém o plano do Sol.

28
FIGURA 14 – DECLINAÇÃO SOLAR

FONTE: <https://shortest.link/2VYS>. Acesso em: 5 fev. 2022.

Ao longo do ano, a declinação solar (δ) oscila -23,45° ≤ δ ≤ +23,45°. A declinação


nos equinócios é zero δ = 0°, já nos solstícios δ = +23,45° (positivo quando estiver no
hemisfério norte), e δ = -23,45° (negativo quando estiver no hemisfério sul). Dessa
forma, a posição do Sol em um mesmo horário varia a cada estação do ano.

Então, como estimar a declinação solar para um determinado dia do ano? Vamos
aos cálculos!

Eq. 2

Onde:
δ= declinação solar (graus)
DJ= Dia Juliano representa o dia do ano independente dos meses, também é denominado
de NDA (número de Dia do Ano), por exemplo, 1 de janeiro o DJ = é igual a 1, e 2 de março
equivale a: 31 (j)+ 28 (f) + 2 (m)= 61 e assim por diante.

AUTOATIVIDADE
Determine a declinação solar para a data de 21 de março de 2018:

29
4 INSTUMENTOS PARA MEDIÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR
Existem vários instrumentos que realizam medições da radiação solar, tanto a
radiação direta, quanto difusa e global. Através dessas medidas, é possível verificar a
viabilidade de instalação de sistemas de energia solar térmica e fotovoltaica em uma
determinada região assegurando maior aproveitamento da energia solar.

Conforme já estudamos, a radiação solar que incide sob uma superfície possui
variabilidade espacial e temporal relacionados aos movimentos do planeta, latitude,
além das condições de tempo e clima, por exemplo, nebulosidade, concentração de
aerossóis e, inclusive, emissão de poluentes. Assim, o equipamento utilizado para
realizar a medição da radiação solar deve ter a sensibilidade para detectar todas as
variabilidades e tempo de resposta inferior à menor variabilidade que deseja medir
(MARTINS et al., 2017).

De acordo com Brito (2003, p. 10), os principais instrumentos de medição da


radiação solar são:

• Piranômetro de termopilha – equipamento que mede a radiação global (direta


+ difusa), é constituído de uma termopilha que realiza medidas de temperatura
entre duas superfícies (uma branca e outra pintada de preto, ambas iluminadas). A
expansão sofrida nas superfícies causa uma diferença de potencial, que mostra o
valor instantâneo da energia solar. Existem vários modelos de diversos fabricantes,
um modelo interessante é aquele que utiliza uma célula fotovoltaica para realizar
medidas solarimétricas. Esse equipamento é muito utilizado, uma vez que
apresenta baixo custo quando comparado aos demais equipamentos, porém, como
desvantagem, apresenta sensibilidade de apenas 60% da radiação solar.

FIGURA 15 – PIRANÔMETRO DE TERMOPILHA

FONTE: Brito (2003, p. 10)

• Pireliômetro – equipamento que mede a radiação direta. Para realizar as medidas,


ele precisa ser apontado para o Sol. O pireliômetro é montado em um dispositivo de
rastreamento, que segue os movimentos do Sol. Após a luz entrar no equipamento,
esta é convertida em voltagem por meio de uma termopilha. Sendo que essa tensão
é calibrada para fornecer a irradiância solar (Wm²).
30
FIGURA 16 – PIRELIÔMETRO

FONTE: <http://recursosolar.geodesign.com.br/Pages/Pyrheliometer_RS.html>. Acesso em: 6 fev. 2022.

• Heliógrafo – equipamento que registra a duração do brilho solar. O heliógrafo


consiste em uma esfera de vidro cristalino estruturada sob um metal. Abaixo dessa
esfera, há uma tira de papel que realiza o registro do total de horas que o Sol brilhou
em determinado dia. A esfera age como uma lupa, focando os raios solares para que
queimem nessa tira de papel. Se a tira apresentar interrupções, quer dizer que as
nuvens passaram na frente do disco.

FIGURA 17 – HELIÓGRAFO

FONTE: <https://www.meteorologiaenred.com/pt/heliografo.html>. Acesso em: 6 fev. 2022.

• Actinógrafo – equipamento utilizado para realizar medidas da radiação global,


possuem uma lâmina bimetálica negra, exposta a radiação e outras duas lâminas
brancas à sombra. A lâmina negra irá se deformar por variação de temperatura
e absorção da radiação solar, já as lâminas brancas somente por variação de
temperatura.

31
FIGURA 18 – ACTINÓGRAFO

FONTE: <https://bit.ly/3d5qBuU>. Acesso em: 6 fev. 2022.

Esse equipamento é constituído de sensores que são baseados na expansão de


um par bimetálico. Esses sensores são ligados a uma pena registradora que registra o
valor da radiação solar.

DICA
Acadêmico! Para maiores detalhes sobre os instrumentos de medição da
radiação solar, leia o capítulo 6 do Atlas Brasileiro e Energia Solar. Acesse: http://
mtc-m21b.sid.inpe.br/rep/8JMKD3MGP3W34P/3PERDJE.

5 ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL


Segundo Beruski, Pereira e Sentelhas (2015, p. 2), “aproximadamente 51% da
irradiância solar extraterrestre (Qo) está disponível para ser utilizada em processos do
meio físico e biológico, sendo a fração de radiação que efetivamente chega à superfície
terrestre é denominada de irradiância solar global (Qg)”. O equipamento mais comum
utilizado para realizar a medida da irradiância solar global chama-se piranômetro, porém,
devido ao seu elevado custo de aquisição, esse equipamento não é muito encontrado
em muitas estações meteorológicas.

É possível estimar a irradiação solar global na superfície a partir de dados de


insolação, utilizando a equação de Angström-Prescott, conforme apresentado a seguir:

Eq. 2

Onde:
Qg= irradiância solar global (MJ/m2 dia ou W/m2).
Q0= irradiância solar extraterrestre (MJ/m2 dia ou W/m2).

32
a e b = correspondem à transmitância global da atmosfera, esses coeficientes dependem
da latitude e das condições atmosféricas do local. Quando não houver dados disponíveis,
é possível fazer a seguinte aproximação:

a = 0,29 * cos φ Eq. 4


b = 0,52

n= período de insolação (unidade em horas).


N = é a duração do dia em relação à noite em um tempo de 24 horas, ou seja, é a duração
do dia desde o nascer do sol até o pôr do sol (unidade em horas).

Eq. 5

hn= ângulo horário ao nascer do sol (unidade em graus).

Eq. 6

φ= latitude (graus).
δ= declinação solar (graus).
Para calcular a irradiância solar extraterrestre, utilizamos a seguinte equação:

Eq. 7

Sendo, d/D= distância relativa Terra-Sol, sendo d a distância média e D a


distância real.

Eq. 8

NDA= Número do dia do ano, ou número do dia Juliano (DJ.

DICA
Acadêmico! Para colocar em prática a utilização dessas equações, assista ao
vídeo que demostra passo a passo como estimar a irradiação solar global para
o dia 21 de março, cuja latitude (φ) = 18,9° sul, sendo que o equipamento do
heliógrafo registrou 6,3 horas de insolação. Acesse: https://bit.ly/3btvSMm.

Acadêmico! Neste tópico, aprendemos a diferenciar radiação solar, irradiação solar,


radiação direta, radiação difusa, entre outros. Além disso, estudamos os principais fatores
que influenciam na radiação solar e exploramos os principais equipamentos utilizados para
efetuar a medição da radiação solar, e também como calcular a irradiação solar global.
33
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A radiação solar é considerada o fluxo de energia emitida pelo Sol e transmitida em


todas as direções da atmosfera, por meio de ondas eletromagnéticas.

• A atmosfera é dividida em camadas: exosfera, termosfera, mesosfera, estratosfera,


e troposfera, sendo esta última a camada de ar mais próxima da Terra.

• A radiação solar chega à superfície terrestre de três formas distintas: radiação direta,
radiação difusa e radiação refletida.

• Albedo é a capacidade de a superfície refletir a radiação incidente.

• A radiação solar recebida pelo planeta Terra pode ser refletida ou absorvida.

• Além das condições climáticas outros fatores também influenciam na variação


da energia solar, por exemplo, a latitude do local, movimento de rotação da Terra
(responsável pelo ciclo dia-noite) e movimento de translação.

• O equipamento mais comum utilizado para realizar a medida da irradiância solar


global se chama piranômetro.

34
AUTOATIVIDADE
1 A radiação solar é considerada o fluxo de energia emitida pelo Sol e transmitida em
todas as direções da atmosfera, por meio de ondas eletromagnéticas. Ao atravessar
a atmosfera, a radiação solar chega à superfície de três formas. Disserte sobre cada
uma delas.

2 Além das condições climáticas outros fatores também influenciam na variação da energia
solar, como latitude do local, movimento de rotação da Terra (responsável pelo ciclo dia-
noite) e movimento de translação. Sobre esses fatores, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A latitude é considerada a menor distância em graus de qualquer ponto da Terra


em relação ao Equador.
b) ( ) A rotação é o movimento que a Terra realiza em torno do Sol em, aproximadamente,
24 horas.
c) ( ) Ao nascer do Sol, a radiação solar é maior, pois há maior inclinação dos raios solares.
d) ( ) Ao meio-dia, a radiação solar é maior, pois a inclinação dos raios é menor.

3 Existem vários instrumentos que realizam medições da radiação solar, direta, difusa e
global. Assinale a alternativa CORRETA que se refere ao equipamento Heliógrafo:

a) ( ) Equipamento que mede a radiação direta. Para realizar as medidas, ele precisa
ser apontado para o Sol.
b) ( ) Equipamento que registra a duração do brilho solar, consiste em uma esfera de
vidro cristalino estruturada sob um metal.
c) ( ) Equipamento utilizado para realizar medidas da radiação global, possuem uma
lâmina bimetálica negra, exposta a radiação e outras duas lâminas brancas à
sombra.
d) ( ) Esse equipamento é constituído de sensores que são baseados na expansão
de um par bimetálico. Esses sensores são ligados a uma pena registradora que
registra o valor da radiação solar.

4 Dependendo da natureza da superfície em que a radiação solar incide, haverá


um modo diferente de reflexão ou absorção (para um corpo negro). Dentro desse
contexto, assinale a alternativa CORRETA que se refere ao Albedo.

a) ( ) Albedo é uma propriedade relacionada a superfície atmosférica.


b) ( ) A unidade é W/m².
c) ( ) Albedo igual a zero significa que toda a energia recebida é refletida de volta para
o espaço.
d) ( ) Se a radiação incide sobre superfícies de cor clara, Albedo é elevado, próximo de 1.

35
5 O movimento de translação é responsável pela sucessão dos anos e, também,
influência nas estações do ano (primavera, verão, outono e inverno), modificando a
intensidade de radiação solar que incide na superfície terrestre. Em função desse
movimento de translação, temos a variação da declinação solar. Disserte sobre
declinação solar e determine a declinação solar para a data de 5 de junho.

36
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
POTENCIAL SOLAR

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, finalizaremos a Unidade 1 do seu livro didático abordando o
potencial solar. Neste último tópico da Unidade 1, a intenção é fazer você compreender
e diferenciar a matriz energética da matriz elétrica, analisar o potencial solar do Brasil e,
também, em nível mundial.

Ao longo dos anos, a energia elétrica se tornou fundamental, tanto que hoje em
dia é difícil imaginar uma atividade humana que não necessite de energia elétrica. Mas
para que a energia chegue às residências e indústrias, por exemplo, é necessário contar
com a matriz elétrica. Assim, ao longo deste tópico responderemos a alguns questio-
namentos, tais como, o que é matriz elétrica? Quais as fontes da matriz elétrica que são
utilizadas para geração de energia elétrica? Qual é a diferença entre matriz energética?

Além disso, veremos que cada região possui um determinado potencial solar,
em razão da latitude do local, movimento de rotação da Terra (responsável pelo ciclo dia-
noite) e movimento de translação, condições do tempo e clima da região que também
estão intrinsicamente relacionadas à disponibilidade e à variabilidade do recurso solar.

Você sabia que o semiárido nordestino é a região do Brasil que apresenta os


melhores parâmetros de irradiação? Com média anual de aproximadamente 5,52 kWh/
m²/dia. Mas quais são as condições desse local? Esse é um dos questionamentos que
iremos responder!

2 MATRIZ ENERGÉTICA E ELÉTRICA


A matriz energética é considerada o conjunto de fontes de energia (para mover
automóveis ou, por exemplo, gerar eletricidade) de um determinado local, seja em um
país, estado ou região. A matriz energética pode ser dividida em dois tipos de fontes, ou
seja, fontes de energia não renováveis e fontes renováveis.

As fontes de energia não renováveis utilizam recursos esgotáveis (reserva


limitada), isto é, não se renovam a curto prazo na natureza, e, além disso, o uso de
fontes não renováveis causa danos a natureza, como o efeito estufa. Petróleo, gás
natural, carvão e energia nuclear são exemplos de fontes não renováveis de energia.

37
Por outro lado, as fontes renováveis de energia possuem origem natural (sol,
vento, água) e são encontradas em abundância na natureza, ou seja, estão disponíveis
durante um longo prazo e possuem um ciclo curto de renovação, por isso, são recursos
inesgotáveis. Existem vários tipos de fontes renováveis de energia, tais como energia
solar, energia hidráulica, os ventos, marés, biomassa, geotérmica, entre outros.

Acadêmico, agora que você aprendeu o conceito de matriz energética, é


importante entender que há uma diferença de matriz elétrica.

A matriz elétrica representa o conjunto de fontes disponíveis somente para


geração de energia elétrica, por exemplo, energia elétrica para acender a luz, televisão,
carregar celular, entre outros. Assim, a matriz elétrica faz parte da matriz energética. A
geração de energia elétrica (nível mundial) consiste, principalmente, em combustíveis
fósseis, como termelétricas, carvão, óleo e gás natural.

A Figura 17 mostra a matriz energética mundial 2019, é possível observar que


a matriz consiste, majoritariamente, por fontes não renováveis, como petróleo (31,1%),
carvão (27,0%) e gás natural (23%). Já as fontes renováveis, correspondem à cerca
de 14%, com maior participação da biomassa (9,3%); a energia solar corresponde à
faixa indicada como “Outros” e junta com outras fontes, como eólica e geotérmica,
representando, aproximadamente, 2%.

FIGURA 19 – MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL 2019

FONTE: <https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica>. Acesso em: 12 fev. 2022.

Agora, se analisarmos a matriz energética brasileira (Figura 18), é possível


perceber que o Brasil utiliza mais fontes renováveis quando comparado em nível
mundial. As fontes renováveis correspondem a aproximadamente 48,3% (sendo que
19,1 corresponde a derivados de cana de açúcar, 12,6% hidráulica, 8,9% lenha e carvão
vegetal e 7,7% relacionado a outras fontes renováveis. Por outro lado, as fontes não
renováveis são petróleo e derivados (33,1%), gás natural (11,8%), carvão mineral (4,9%),
urânio (1,3%) e outras (0,6%).
38
FIGURA 20 – MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA (ANO BASE 2020)

FONTE: <https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica>. Acesso em: 12 fev. 2022.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE):

Nos últimos 20 anos, a participação das fontes renováveis na matriz


energética brasileira, manteve-se estável com valores superiores a
40%, o que já é um grande desafio para o País. Mais recentemente,
entre 2011 e 2014, houve uma redução da participação das renováveis
na matriz energética devido à queda da oferta hidráulica, associada à
menor quantidade de chuvas. A partir de 2015, as fontes renováveis
retomam uma trajetória de crescimento com a expansão da oferta
de derivados da cana, eólica e biodiesel, atingindo 46,1% em 2019 e
48,4% em 2020 (EPE, 2020, p. 13).

Com base nessas informações, é possível observar que o Brasil, comparado ao


resto do mundo, apresenta uma matriz energética bem variada, com grande parcela
de fontes renováveis (de 48,4%, a média mundial de aproximadamente 14%), assim
contribuindo para diminuição dos gases que causam o efeito estufa.

Se compararmos o Brasil com os países mais desenvolvidos, que integram a


OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a diferença é
ainda maior (de 48,4%, a média de 11%), conforme mostra a figura a seguir.

39
FIGURA 21 – PARTICIPAÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS

FONTE: BEN (2021, p. 12)

CURIOSIDADE
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico –
OCDE, com sede em Paris, França, é uma organização internacional
composta por 35 países membros, que reúne as economias mais avançadas
do mundo, bem como alguns países emergentes como a Coreia do Sul, o
Chile, o México e a Turquia. A Organização foi fundada em 14 de dezembro
de 1961, sucedendo a Organização para a Cooperação Econômica Europeia,
criada em 16 de abril de 1948.
Por meio da OCDE, representantes dos países membros se reúnem para trocar
informações e alinhar políticas com o objetivo de potencializar seu crescimento
econômico e colaborar com o desenvolvimento de todos os demais países
membros. Por meio dessa cooperação, a OCDE tornou-se uma fonte importante
de soluções para políticas públicas em um mundo globalizado.

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3zqvqGF>. Acesso em: 12 jan. 2022.

Até agora, observamos alguns dados da matriz energética brasileira e em nível


mundial. Mas, e a matriz elétrica? De acordo com Balanço Energético Nacional (BEN), o
Brasil apresenta uma matriz elétrica predominantemente de fonte renovável, conforme
mostra a figura a seguir, com destaque para a fonte de energia hidráulica com 65,2%,
seguida pela biomassa (9,1%) e eólica (8,8%) e energia solar (1,66%). Ao total, as fontes
de energias renováveis respondem por cerca de 84,8% da oferta interna de eletricidade
no Brasil, que é referente a soma da produção nacional, mais as importações, que são
majoritariamente renováveis (BEN, 2021).

40
FIGURA 22 – MATRIZ ELÉTRICA BRASILEIRA

FONTE: BEN (2021, p. 16)

O sistema elétrico brasileiro está praticamente todo conectado ao SIN – Sistema


Interligado Nacional (SIN). Somente 1,7% da demanda de eletricidade é atendida por meio
de sistemas isolados, ou seja, não conectados ao SIN. Esses sistemas isolados estão
localizados majoritariamente na Amazônia. As perdas no SIN são de aproximadamente
15%, e essas perdas são decorrentes da distância das grandes usinas, tais como perdas
na transmissão e distribuição de energia.

Em 2020, o Brasil atingiu 645,9 TWh de geração de energia (Terawatt-hora equi-


vale a 1012 Wh ou 3,6×1015 joules), sendo 421,0 TWh produzidos pela energia hidráulica,
em 2019 tivemos uma estrutura semelhante, porém a fonte de energia solar quase do-
brou a sua participação entre 2019 e 2020 (aumentou de 1% para 1,7%) além disso, em
2020, a capacidade instalada em energia solar cresceu 32,9% no país (BEM, 2021).

A geração de eletricidade por meio de energia hidráulica já foi responsável por


mais de 90% de energia no Brasil na década de 1990. Porém, há uma dependência de
grandes volumes de chuva para esse tipo de geração e para evitar falta de energia, é
necessário diversificar as fontes de energia que compõem a matriz energética.

De acordo com o Atlas de energia solar, para diversificar a matriz energética,


é importante considerar o planejamento do setor energético para garantir e assegurar
o abastecimento de energia ao menor custo e com menor risco de abastecimento e,
além disso com menores impactos socioeconômicos e ambientais. O planejamento
energético leva em consideração a curva de carga do sistema elétrico. Essa curva
possibilita analisar a demanda solicitada no sistema elétrico e permite verificar os
futuros investimentos que serão necessários para geração, transmissão e distribuição
de energia (MARTINS et al. 2017).

41
É importante destacar que, uma a demanda de energia elétrica ocorre durante o
horário comercial, em razão da climatização de ambientes e do crescimento exponencial
dos setores de prestação de serviços e do comércio na economia do país. Segundo
Martins et al. (2017, p. 14) “A demanda de eletricidade nesse período do dia coincide com
o período de maior disponibilidade do recurso solar, o que torna esse recurso energético
uma opção natural”.

CURIOSIDADE
TODA EMPRESA DE ENERGIA SOLAR PRECISA TER REGISTRO NO CREA?
Nos últimos anos, a abertura de empresas de energia solar cresceu em todo o Brasil.
Devido a esta alta, o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) de cada estado
brasileiro passou a acompanhar mais de perto as empresas e o mercado de energia solar.
No estado do Paraná, por exemplo, seis em cada dez empresas fiscalizadas pelo Crea-PR
estão irregulares. Entre as principais irregularidades encontradas estão a falta de registro
da empresa no órgão e ausência de profissional habilitado.
Isso acontece porque muitos empreendedores desconhecem a Lei Federal nº 5194/66 e a
Resolução nº 1.121/2019 do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), que
determina que “o registro é obrigatório para a pessoa jurídica que possua atividade básica
ou que execute efetivamente serviços para terceiros envolvendo o exercício de profissões
fiscalizadas pelo sistema CONFEA/CREA”.
Ou seja, empresas que realizam serviços de projetos e instalações de sistemas de energia solar
devem possuir o registro junto ao Crea do estado onde a sua empresa possui sede, já que suas
atividades envolvem um dos profissionais fiscalizados pelo CONFEA/CREA: os engenheiros.
O registro é obrigatório para a pessoa jurídica que possua atividade básica ou que execute
efetivamente serviços para terceiros envolvendo o exercício de profissões fiscalizadas pelo
sistema CONFEA/CREA.
“Todas as empresas que atuam em áreas de engenharia (incluindo a elétrica) devem se
registrar no Crea do seu estado. O mesmo ocorre com empresas que terceirizam os
serviços, pois elas estão ofertando aos seus clientes atividades que exigem conhecimento
técnico. Sendo assim, elas precisam do registro, pois por mais que não realizem
diretamente as atividades técnicas, precisam gerenciar e supervisionar as atividades que
estão terceirizando”, explica o CREA-PR.
A obrigatoriedade é reforçada pelo Crea-SC. “Tanto a empresa que projeta quanto a
empresa que executa as instalações precisam de registro no Crea. Para tais atividades é
necessária a emissão de ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que define para os
efeitos legais os responsáveis técnicos pelo serviço ou pela obra conforme determina a Lei
6.496/77”, enfatiza o conselho do estado de Santa Catarina.
O órgão ainda ressalta que, além do registro da empresa no Crea, o profissional da área
de engenharia responsável pelo serviço prestado também deve possuir registro
no conselho.
“Todas as firmas, sociedades, associações, companhias, cooperativas e
empresas em geral, que forem executar obras ou serviços relacionados à
energia solar deverão ter seu registro nos conselhos regionais, bem como os
profissionais do seu quadro técnico. Esse registro só será concedido se sua
denominação for realmente condizente com sua finalidade e a qualificação
de seus membros”.

FONTE: ARAÚJO, E. TODA EMPRESA DE ENERGIA SOLAR PRECISA TER REGISTRO


NO CREA? Revista Canal Solar, n. 8, 2022. Disponível em: https://bit.ly/3ztLdEx.
Acesso em: 12 de fev. de 2022.

42
3.1 POTENCIAL SOLAR MUNDIAL
No tópico anterior, estudamos alguns instrumentos que são utilizados para medir
a intensidade solar na superfície terrestre, como o piranômetro para medir a radiação
solar global (soma da radiação direta mais a difusa recebida por uma superfície). Cabe
destacar que, para maior confiabilidade dos resultados, a medição da radiação deve ser
feita por um período de, pelo menos, um ano para identificar a sazonalidade existente.

Acadêmico, para realizar medidas preliminares da radiação solar não é necessário


utilizar esses equipamentos. Uma alternativa é consultar esses dados no Atlas Brasileiro
de Energia Solar (MARTINS et al., 2017).

A Figura 20 ilustra a distribuição da irradiação em todo o planeta Terra. As áreas


mais ensolaradas estão localizadas na África, na região Andina (como o Deserto do Ataca-
ma), Austrália e Península Arábica, além do Brasil, destacando-se no semiárido nordestino.

FIGURA 23 – POTENCIAL SOLAR NO MUNDO

FONTE: Adaptado de Bezerra (2021)

No Brasil, a média anual de irradiação solar varia em torno de 4 e 6 kWh/m²/dia.


Os países europeus têm variações anuais entre 2,5 e 3,4 kWh/m²/dia na Alemanha, 2,5
e 4,5 kWh/m²/dia na França.

3.2 POTENCIAL SOLAR DO BRASIL


Conforme estudamos anteriormente, a latitude do local, movimento de rotação
da Terra (responsável pelo ciclo dia-noite) e movimento de translação são considerados
fatores que influenciam na variação da energia solar, além disso, as condições do
tempo e clima da região também estão intrinsicamente relacionadas a disponibilidade

43
e a variabilidade do recurso solar. As condições meteorológicas causam alterações
na nebulosidade e nas concentrações dos gases e aerossóis, e, consequentemente,
também influenciam na trajetória da radiação solar até a superfície terrestre.

O clima do Brasil, de acordo com o Atlas Brasileiro de Energia Solar (EPE, 2020), é
diversificado devido a vários fatores, tais como a extensão territorial, relevo e a dinâmica
das massas de ar. O relevo brasileiro. apresenta grande influência nas condições do
tempo e clima da região, uma vez que pontos mais elevados tendem a ser mais frios,
além da formação da nebulosidade. Além disso, é importante destacar que grande parte
do território brasileiro possui climas tropicais e subtropicais e parte do sertão nordestino
apresenta clima semiárido (MARTINS, et al., 2017).

DICA
Acadêmico, para relembrar os diferentes climas do Brasil, clique no link:
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/os-climas-brasil.htm.

De acordo com o mapa da Figura 21, é possível perceber que a radiação solar
média diária no Brasil varia entre 4 e 6 kWh/m²/dia. Para ter uma ideia do potencial solar
do Brasil, se pegarmos uma região menos ensolarada do país, a radiação solar é 40%
maior do que na região mais ensolarada da Alemanha, que é considerada um dos líderes
na geração de energia fotovoltaica.

O semiárido nordestino apresenta temperaturas que podem ultrapassar 32°C


e com pouca variação durante, além disso, a chuva é escassa e irregular, com longos
períodos de seca e baixo índice de umidade e precipitação (ao contrário da Amazônia,
que possui precipitação bastante elevada). Devido a essas características de clima, o
semiárido nordestino é a região do Brasil que apresenta os melhores parâmetros, com
média anual de irradiação de 5,52 kWh/m²/dia.

44
FIGURA 24 – POTENCIAL SOLAR NO BRASIL

FONTE: Martins et al. (2017, p. 35)

Embora o Brasil tenha grande potencial solar, o uso de energia solar ainda é
pouco considerado como uma opção para gerar eletricidade. A Figura 22 mostra, entre
os anos de 2010-2019, que a China obteve um aumento exponencial na capacidade
instalada de geração fotovoltaica no mundo com 205,5 GW em 2019 (representando
aproximadamente 35% da capacidade instalada em nível mundial). A Alemanha foi líder
no início do período, mas perdeu a liderança ao longo dos anos, bem como sua partici-
pação. A participação do Brasil, conforme comentamos, é pouco significativa. No ano de
2019, a capacidade instalada foi em torno de 2,5 GW (representando, aproximadamente,
0,4% da capacidade instalada a nível mundial).

45
FIGURA 25 – EVOLUÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA NO MUNDO, NOS
PRINCIPAIS PAÍSES E NO BRASIL (GW)

FONTE: Bezerra (2021, p. 3)

A geração de energia solar no Brasil foi impulsionada, principalmente, pelo marco


legal da geração distribuída e da queda dos preços dos equipamentos fotovoltaicos.
Entrou em vigor, desde 17 de abril de 2012, a Resolução Normativa n°482/2012, da
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), em que o consumidor pode gerar sua
própria energia elétrica por meio de fontes renováveis (como energia solar, eólica, da
biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas – PCHs ) ou cogeração qualificada, e, além
disso, fornecer o excedente produzido para a rede de distribuição.

É importante destacar que a Resolução Normativa nº 482/2012 também traz um


sistema de compensação de energia elétrica. Nesse sistema, a energia excedente gerada
pela unidade consumidora é injetada na rede da distribuidora. Quando a quantidade
de energia produzida em determinado mês for maior que a energia consumida, o
consumidor fica com créditos energéticos, e estes podem ser utilizados para diminuir a
fatura de energia elétrica dos próximos meses (os créditos são válidos por 60 meses).

NOTA
Acadêmico, para saber mais sobre cogeração qualificada acesse o link: https://
bit.ly/3Jvdr6E.

46
Dessa forma, a geração de energia elétrica, a partir de fontes renováveis como
a energia solar, torna-se atrativa em função da abundância do recurso energético,
aumento das tarifas de eletricidade, e um modelo de compensação de créditos. Essas
condições favoráveis levaram não apenas os consumidores residenciais, mas, também,
redes varejistas, indústrias e bancos a investirem, além de sistemas de Micro e Mini
Geração Distribuída (MMGD).

CURIOSIDADE
Acadêmico, para ler a Resolução Normativa nº 482/2012 na íntegra, acesse
o link:
http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf.

A microgeração é considerada o modelo que produz energia elétrica por meio


de fontes renováveis, com potência instalada inferior ou igual a 75 kW, por outro lado
a minigeração consiste no sistema que apresenta potência instalada superior a 75 kW
e menor ou igual a 3 MW (para fonte hídrica) e menor ou igual a 5 MW para as demais
fontes renováveis (solar, eólica, biomassa e cogeração qualificada).

Acadêmico! É importante você entender que existe uma diferença da geração


distribuída e geração centralizada. A geração distribuída é caracterizada pela geração
de energia elétrica próxima aos consumidores ou no mesmo local onde a energia é
consumida, além disso, emprega geradores de pequeno porte (até 5MW). Já a geração
centralizada, é representada pelas usinas de grande porte e que estão distantes dos
centros de consumo, sendo necessário o transporte de energia por linhas de transmissão.

Acadêmico! Neste tópico, aprendemos sobre o conceito de matriz energética,


matriz elétrica e quais são as principais fontes utilizadas atualmente. Além disso,
compreendemos o motivo pelo qual o Brasil possui um potencial solar maior quando
comparado a outros países, como a Alemanha.

INTERESSANTE
Acadêmico! Para maiores informações da evolução a geração distribuída e
centralizada, leia a leitura complementar.

47
LEITURA
COMPLEMENTAR
ENERGIA SOLAR

Francisco Diniz Bezerra

O potencial brasileiro para a geração de energia elétrica a partir de fontes


renováveis é gigantesco, compreendendo 172 GW para a fonte hídrica (sendo mais de
um terço na Região amazônica), 440,5 GW para a fonte eólica, 28.519 GW para a fonte
solar em projetos centralizados e 164,1 GW para essa fonte em projetos residenciais
de geração distribuída. A título de comparação, atualmente, a capacidade instalada
de geração de energia elétrica no Brasil é de aproximadamente 176 GW. Portanto, são
enormes as possibilidades de investimentos para suprir as necessidades do País por
meio das fontes renováveis, particularmente com a utilização dos recursos solar e eólico.

• Evolução da geração solar no Brasil e no Nordeste

Nos últimos anos, a energia solar no Brasil teve grande impulso, em razão dos
avanços no marco legal da geração distribuída e da queda no preço dos equipamentos
fotovoltaicos. A partir de 2017, a capacidade de geração solar experimentou crescimento
expressivo, alcançando 7.977,7 MW de potência instalada no final de 2020 (Figura 1).

FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA DE GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR NO BRASIL (MW)

48
No Subsistema Nordeste do Sistema Interligado Nacional (SIN), nos últimos
anos, a fonte solar está paulatinamente ocupando maior espaço na geração de energia
elétrica, representando 3,83% do total gerado em 2020 (Figura 2)

FIGURA 2 – EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DAS FONTES NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DO


SUBSISTEMA NORDESTE – 2010-2020 (%)

• Situação atual da fonte solar no Brasil, Nordeste e estados da Região

Conforme se depreende dos dados disponibilizados pela Aneel na data de


11/06/2021, da capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil (aproxi-
madamente 176 GW), 82,7% são provenientes de fontes renováveis, principalmente de
origem hídrica, sendo 1,9% especificamente da fonte solar. No Nordeste, a preponde-
rância de outrora da fonte hídrica tem cedido espaço ante a ascensão da fonte eólica e,
mais recentemente, da fonte solar. Na Região, a fonte solar centralizada representa 5,5%
da capacidade instalada regional de geração de energia elétrica.

A análise detalhada da fonte solar no Brasil indica que a geração centralizada


corresponde a 27% e a geração distribuída a 63% da capacidade instalada de geração
fotovoltaica do País (em dados de 30/04/2021), estando esta última modalidade
avançando muito mais rapidamente. Considerando a geração centralizada e a distribuída,
o Nordeste lidera com aproximadamente 38% da capacidade instalada fotovoltaica no
Brasil, decorrente da preponderância de projetos centralizados na Região (Tabela 1).

49
TABELA 1 – CAPACIDADE INSTALADA DE GERAÇÃO SOLAR FOTOVOLTAICA NO BRASIL, NORDESTE E
ESTADOS DA REGIÃO – DISTRIBUÍDA E CENTRALIZADA – POSIÇÃO: 30/04/2021

• Geração solar centralizada

No Brasil, a inserção da geração solar centralizada tem ocorrido principalmente


por meio de leilões promovidos pelo Governo Federal. Nos sete leilões realizados pela
Aneel, por intermédio da CCEE, em que a fonte solar foi contemplada, foram aprovados
160 projetos de geração fotovoltaica, perfazendo um montante de 4.767,1 MW de
potência (Tabela 2). Desse total, o Nordeste foi contemplado com 75,4% (3.592,32
MW), distribuídos em 112 projetos. Isto indica que o elevado potencial solar da Região
nordestina tem se materializado em projetos vencedores nos leilões públicos de compra
e venda de energia elétrica.

TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO ESTADUAL DA POTÊNCIA DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA APROVADA EM LEILÕES


DE ENERGIA ELÉTRICA REALIZADOS PELA CCEE

50
Nos leilões oficiais, destacaram-se os estados da Bahia, do Piauí e do Ceará.
Juntos, os três foram contemplados com 60% dos projetos de energia solar aprovados
nos leilões promovidos pelo Governo Federal. Ressalta-se que, por motivos diversos,
nem todos os projetos fotovoltaicos contemplados nos leilões foram implantados. Por
exemplo, por meio do Mecanismo de Descontratação de Energia de Reserva, realizado
em 28/08/2017, foram rescindidos os contratos referentes a nove projetos fotovoltaicos
do 08º LER. Em todos os certames, três outros contratos foram revogados e um não
adjudicado. Da potência fotovoltaica aprovada nos sete leilões, 369,66 MW foram
descontratados, o que corresponde a 7,8% do total.

De acordo com a Aneel (2021), existem atualmente 4.277 usinas fotovoltaicas


em operação no Sistema Interligado Nacional. Excluindo-se as 4.063 microusinas de
até 3 kW oriundas de um programa realizado pelas Centrais Elétricas do Pará (Celpa),
atual Equatorial Energia Pará, o País dispõe de 214 usinas fotovoltaicas em operação, a
maioria de grande porte. Por outro lado, encontram-se em construção ou com obras a
iniciar outros 522 empreendimentos, que somam mais de 20 GW em potência, nos quais
o Nordeste participa com cerca de dois terços.

• Geração distribuída

No caso da geração distribuída, somente após avanços na legislação,


ocorrida a partir da Resolução Normativa (REN) ANEEL 482/2012 e aperfeiçoamentos
proporcionados principalmente pela REN 687/2015, o crescimento dessa alternativa de
geração tem acontecido de forma mais intensa. A capacidade instalada de geração solar
nesta modalidade no País atingiu 5,6 GW em 30/04/2021, dos quais 18,88% no Nordeste.
Na geração distribuída regional, destaca-se o Estado do Ceará, com aproximadamente
200 MW instalados.

A título de comparação, foram instalados no Brasil 4,7 GW em projetos


fotovoltaicos (UFV) de geração distribuída em 2020, enquanto foram acrescidos 4,8 GW
por todas as fontes no Sistema Interligado Nacional (SIN), inclusive UFV centralizada.
Ressalta-se que a geração distribuída não integra a base de dados das usinas do SIN.

• Competitividade da fonte solar no Brasil

Até recentemente, a energia solar não fazia parte dos resultados dos leilões.
Somente em outubro de 2014, no 6º Leilão de Energia de Reserva (LER), a fonte solar foi
contemplada, embora com preços substancialmente elevados. Nos leilões seguintes (7º
e 8º LER), os preços da fonte solar se mantiveram altos (Figura 3). De fato, em valores
constantes atualizados para maio/2021, os preços mais elevados já negociados nos
leilões foram da fonte solar, tendo ocorrido nesses dois certames. Ressalta-se que,
apesar da existência de alternativas menos custosas, o Governo brasileiro promoveu
esses leilões visando incentivar a inserção da fonte solar no Brasil, contribuindo para a
criação de um mercado interno.

51
FIGURA 3 – POSICIONAMENTO DA FONTE SOLAR NOS LEILÕES DE ENERGIA ELÉTRICA REALIZADOS PELA
CCEE (VALORES DE PREÇOS MÉDIOS DOS LEILÕES POR FONTE, EM R$/MWh ATUALIZADOS PELO IPCA
PARA MAIO/2021)

No entanto, essa realidade mudou radicalmente. Nos últimos quatro leilões nos
quais a fonte solar teve participação, os preços do MWh despencaram. Particularmente
no 29º Leilão de Energia Nova (LEN), obteve o menor preço observado nos leilões já
realizados, em valores atualizados pelo IPCA. Tendo por base os resultados dos certames,
a fonte solar, juntamente com a eólica, são atualmente as alternativas mais competitivas
para gerar energia elétrica no Brasil. Cabe ressaltar, contudo, que os preços dos leilões
podem não refletir a realidade dos custos de geração para essas duas fontes, já que as
empresas, em geral, reduzem preços com o intuito de assegurar algumas vantagens,
prevendo negociar a maior parte da energia a ser gerada em seus projetos no Ambiente
de Contratação Livre (ACL), com valores mais elevados.

Considerando os sete leilões promovidos pelo Governo Federal que tiveram


projetos contemplados da fonte solar, observa-se que o preço da energia das usinas
fotovoltaicas diminuiu substancialmente ao longo dos certames realizados

52
FIGURA 4 – PREÇO MÉDIO DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA COMERCIALIZADA NOS LEILÕES

A expressiva diminuição no valor do MWh oriundo da fonte solar deveu-se,


sobretudo, à queda no preço do módulo nos últimos anos, principal item de custo
dos sistemas fotovoltaicos. Entre 2012 e 2020, o preço médio do módulo fotovoltaico
importado caiu 76%, o que explica, em parte, o aumento da competitividade da fonte
solar nos leilões.

FONTE: Adaptada de BEZERRA, F. D. Energia solar. Caderno Setorial ETENE, n. 174, 2021. Disponível em:
https://bit.ly/3QyM5yP. Acesso em: 12 fev. 2022.

53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A matriz energética é considerada o conjunto de fontes de energia (para mover


automóveis ou, por exemplo, gerar eletricidade) de um determinado local.

• A matriz elétrica representa o conjunto de fontes disponíveis somente para geração


de energia elétrica, como energia elétrica para acender a luz, televisão, carregar
celular, entre outros.

• No Brasil, a média anual de irradiação solar varia em torno de 4 e 6 kWh/m²/dia.

• As condições meteorológicas causam alterações na nebulosidade e nas


concentrações dos gases e aerossóis, e, consequentemente, também influenciam
na trajetória da radiação solar até a superfície terrestre.

• O clima do Brasil, de acordo com o Atlas Brasileiro de Energia Solar, é diversificado


devido a vários fatores, tais como: a extensão territorial, relevo e a dinâmica das
massas de ar.

• O semiárido nordestino é a região do Brasil que apresenta os melhores parâmetros


com média anual de irradiação de 5,52 kWh/m²/dia.

• A resolução Normativa n°482/2012 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica),


estabelece que o consumidor pode gerar sua própria energia elétrica por meio de
fontes renováveis ou cogeração qualificada.

• Geração distribuída é caracterizada pela geração de energia elétrica próxima aos


consumidores ou no mesmo local em que a energia é consumida, além disso,
emprega geradores de pequeno porte (até 5MW).

• Geração centralizada é representada pelas usinas de grande porte e que estão


distantes dos centros de consumo, sendo necessário o transporte de energia por
linhas de transmissão.

54
AUTOATIVIDADE
1 A matriz energética pode ser dividida em dois tipos de fontes, ou seja, fontes de
energia não renováveis e fontes renováveis. Diferentemente do panorama mundial,
a matriz energética brasileira é 4,4% por fontes renováveis. Dentro desse contexto,
disserte sobre esses dois tipos de fontes.

2 Com o avanço da tecnologia, a energia elétrica se tornou tão importante que atingiu
todas as esferas da atividade humana, como indústria, agricultura, além do nosso
cotidiano, sendo difícil imaginar nossas vidas sem energia. Assim, diferencie matriz
energética de matriz elétrica.

3 O Sol proporciona todo ano para a atmosfera, aproximadamente, e 1,5 x 108 kWh de
energia, e isso equivale a, aproximadamente, 1000 vezes o consumo mundial de
energia e, portanto, há um grande potencial de utilização através de sistemas de
energia solar fotovoltaica ou energia solar térmica. Sobre a energia potencial, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) A Alemanha possui maior potencial de irradiação quando comparado ao Brasil.


b) ( ) As condições de clima e tempo da região não influenciam na disponibilidade e
variabilidade do recurso solar.
c) ( ) O semiárido nordestino apresenta alta precipitação, por isso apresenta os
melhores parâmetros de irradiação anual.
d) ( ) A medição da radiação deve ser feita por um período de, pelo menos, um ano para
identificar a sazonalidade existente.

4 A geração de energia solar no Brasil foi impulsionada, principalmente, pelo marco


legal da geração distribuída e da queda dos preços dos equipamentos fotovoltaicos.
Entrou em vigor, desde 17 de abril de 2012, a Resolução Normativa n° 482/2012 da
ANEEL. Sobre essa resolução, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Consumidor pode gerar sua própria energia elétrica por meio de fontes não
renováveis.
b) ( ) A Resolução Normativa nº 482/2012 também traz um sistema de compensação
de energia elétrica.
c) ( ) O consumidor fica com créditos energéticos, e estes podem ser utilizados para
diminuir a fatura de energia elétrica dos próximos meses (válidos por 24 meses).
d) ( ) A Microgeração considera apenas a produção de energia elétrica por meio de
sistemas de energia fotovoltaica.

55
5 O consumidor pode gerar sua própria energia elétrica por meio de fontes renováveis
(como energia solar, eólica, da biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas – PCHs)
ou cogeração qualificada e, além disso, fornecer o excedente produzido para a rede
de distribuição. Sobre a geração distribuída, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Geração de energia elétrica próxima aos consumidores.


b) ( ) Geradores de pequeno porte até 5GW.
c) ( ) Necessário o transporte de energia por linhas de transmissão.
d) ( ) A Resolução Normativa nº 482/2016 foi um marco legal da geração distribuída.

56
REFERÊNCIAS
BEN (Balanço Energético Nacional). Relatório de Síntese 2021. Disponível em: <https://
bit.ly/3Sn6GHW> Acesso em: 23 jan. 2022.

BERUSKI, G. C.; PEREIRA, A. B.; SENTELHAS, P. C. Desempenho de diferentes modelos


de estimativa da radiação solar global em Ponta Grossa, PR. Revista Brasileira de
Meteorologia, v. 30, p. 205-213, 2015.

BRITO, S. S. Energia solar princípios e aplicações. Centro de Referência para


Energia Solar e Eólica, 2003.

BEZERRA, F. D. Energia solar. Caderno Setorial ETENE, n. 174, 2021.

EPE. Empresa de Pesquisa Energética. Atlas da eficiência energética, 2020.


Disponível em: https://bit.ly/3SgzX70. Acesso em: 12 fev. 2022.

MARTINS, F. R. et al. Atlas brasileiro de energia solar. 2. ed.


São José dos Campos: INPE, 2017. 80 p.

PIPE, J. Energia solar. São Paulo: Callis, 2015.

POLETO, C. Escola técnica aberta do brasil – e-TEC Brasil: energias renováveis.


Porto Alegre/RS, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3PVB5eU. Acesso em: 23 jan.
2022.

57
58
UNIDADE 2 —

SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a história e origem da energia solar fotovoltaica, as regras para


instalação dos módulos e seu efeito, além dos componentes do painel e os do seu
sistema;

• diferenciar as tecnologias existentes para a produção de células solares;

• interpretar as curvas características de corrente, tensão e potência para os módulos


fotovoltaicos;

• dimensionar sistemas fotovoltaicos on-grid e sistemas fotovoltaicos off-grid.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TIPOS DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS


TÓPICO 2 – COMPONENTES DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO
TÓPICO 3 – DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

59
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

60
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
TIPOS DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos início aos nossos aprendizados sobre tipos
de células fotovoltaicas. Neste primeiro tópico da Unidade 2, a intenção é fazer você
compreender a história e origem da energia solar fotovoltaica, bem como entender o
efeito fotovoltaico.

Veremos, também, as diferentes tecnologias para a produção de células solares,


como silício monocristalino, policristalino e filme fino. Dentre essas tecnologias, você
sabe qual possui maior eficiência na conversão de energia solar em eletricidade? Além
de responder a esse questionamento, ao longo deste tópico, você também irá entender
como são produzidas cada uma das tecnologias e, além disso, qual delas apresenta
melhor custo-benefício.

Acadêmico! A compreensão do efeito fotovoltaico e as diferentes tecnologias


para a produção das células solares serão fundamentais para entender os próximos
tópicos dessa unidade.

2 ORIGEM E HISTÓRIA
Nesta seção, iremos detalhar, de forma objetiva, a origem e história da energia
solar fotovoltaica. Desde o século IXX, essa tecnologia já dava os primeiros passos, ainda
que de forma rudimentar de utilização, como fazer fogo, aquecer água e casas. Porém, o
físico francês Alexandre Edmond Becquerel percebeu que a luminosidade solar poderia
ser utilizada para outros fins, assim, em 1839, descobriu o efeito fotovoltaico, quando
observou que, ao iluminar uma solução ácida, havia uma ddp (diferença de potencial)
entre os eletrodos imersos nessa solução.

Em 1877, Richard Adams e o seu aluno, Richard Day, verificaram efeito similar em um
dispositivo de estado sólido produzido com selênio. No entanto, em 1900 as primeiras células
solares, ou também chamadas de células fotovoltaicas, foram desenvolvidas em selênio por
Charles Fritts. Após aproximadamente 110 anos da descoberta do efeito fotovoltaico por Ale-
xandre Edmond Becquerel, foram produzidos, na década de 1954, as primeiras células foto-
voltaicas e apresentadas na reunião anual da National Academy of Sciences, em Washington.

No ano de 1958, teve-se o grande início da utilização das células fotovoltaicas em


programas espaciais, impulsionadas pela corrida espacial, essa foi a principal utilização
das células até o final da década de 1970. A partir da década de 1970, a utilização terrestre

61
de células fotovoltaicas superou a utilização espacial, devido à crise do petróleo de 1973.
É importante destacar que, naquela época, foi necessário investir em pesquisas para a
produção de energia a partir da radiação solar, com o objetivo de reduzir 100 vezes o
custo de produção das células solares para fins terrestres.

A partir do ano de 1978, a produção de células fotovoltaicas era equivalente a 1


MWp/ano (Wp – Watt-pico equivale à unidade de potência da saída de um gerador fotovol-
taico), sendo os Estados Unidos os líderes na produção. No final da década de 1990, outros
países como o Japão e Alemanha aumentaram a produção dessa tecnologia, devido às
políticas do governo e o compromisso de redução de CO2 – Protocolo de Kyoto. Em 1988,
a produção mundial de células fotovoltaicas chegou a 150 MWp, resultado do aumento
exponencial da produção dessa tecnologia em países como a China (PINHO et al., 2014).

CURIOSIDADE
O que é o Protocolo de Kyoto? Assinado na cidade japonesa de Kyoto, o Protocolo é um acordo
internacional com o objetivo de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, assim
como do aquecimento global.
Ele foi redigido e assinado em 1997 por países integrantes da Organização das Nações Unidas
(ONU), em uma reunião ocorrida no Japão. O protocolo foi feito justamente pelo fato do atual
modelo de desenvolvimento industrial e consumo ser um causador de danos à biodiversidade,
trazendo impactos visíveis à qualidade de vida de todas as espécies da Terra.
Assim, o Protocolo de Kyoto estabeleceu metas e compromissos por parte dos países com foco
na melhoria da qualidade do ar, amenizando os efeitos da emissão de gases poluentes, como
do dióxido de carbono (CO2).
O acordo foi proposto aos 38 países que mais emitem gases causadores do efeito estufa no
mundo, com metas de redução não homogêneas, sugerindo níveis variados de reduções para
cada realidade e particularidades existentes nas nações. Apesar de ter sido aprovado em 1997,
o Protocolo só entrou em vigor em 2005, com a adesão da Rússia.
Qual é a situação do Protocolo de Kyoto hoje?
Passados 15 anos desde que entrou em vigor, o Protocolo de Kyoto teve avanços bem tímidos
e não resolveu a problemática no longo prazo.
Apesar das emissões dos países industrializados terem caído 20% em 2012 – índice cinco vezes
melhor do que a meta estabelecida –, houve um aumento de 38% nas emissões globais.
O Protocolo de Kyoto foi um marco para o uso das energias renováveis e motivou
o Encontro de Paris, que ocorreu em 2015. Nesse encontro, quase todos os
países concordaram em limitar o aquecimento global a 2 ºC acima dos níveis pré-
industriais – índice que ainda não foi atingido.
O planeta Terra continua sofrendo vários abalos em razão do aquecimento
global. O Protocolo de Kyoto foi um avanço, mas ainda há muito a se fazer em
prol da manutenção da vida no mundo.

FONTE: <https://bit.ly/3QiGix6>. Acesso em: 27 fev. 2022.

62
2.1 HISTÓRIA DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO BRASIL
Conforme estudamos na Unidade 1, o Brasil possui altos índices de radiação
solar, em relação aos países europeus, uma vez que o Brasil está localizado próximo a
linha do Equador, e, por consequência, tem alta incidência de radiação solar durante o
dia e pouca variação durante as estações do ano devido ao movimento de translação.

Vamos entender como iniciou a produção de células fotovoltaicas no Brasil.


Vamos lá?! De acordo com Pinho et al. (2014, p. 63):

• A produção de células solares no Brasil iniciou nos anos 50, no


Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e no Centro Tecnológico de
Aeronáutica (CTA), onde foi realizado, em 1958, o 1º Simpósio de
Brasileiro de Energia Solar.
• Nos anos 70, o desenvolvimento da tecnologia solar fotovoltaica
era similar a outros países do mundo, em razão da crise internacio-
nal do petróleo. No início dos anos 80, duas fábricas de módulos
fotovoltaicos de silício cristalino foram criadas no país. Mas, devido
à falta de incentivo, as fábricas reduziram sua produção.
• Entre os anos 80 e 90, houve em várias universidades e centros de
pesquisa, assim como empresas privadas a produção em escala
de laboratório e piloto de tecnologias pertinentes à purificação de
silício para aplicação em células solares.
• A partir dos anos 90, as células fotovoltaicas de silício cristalino fo-
ram produzidas para serem testadas no primeiro satélite brasileiro.
• A produção de tecnologia fotovoltaica no Brasil ficou obsoleta em
comparação a Alemanha, Japão e outros países europeus, onde o
incentivo está direcionado a produção tecnológica e industrial e,
também, para aplicações de energia fotovoltaica em residências.
• Em 2012, foi definida pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elé-
trica) a Resolução Normativa nº 482/2012 sobre micro e mini ge-
ração distribuída. Nessa regulamentação, há sistema de compen-
sação de energia elétrica, realizando um balanço entre a energia
consumida e a energia gerada. A partir dessa regulamentação, o
crescimento do setor expandiu. Para se ter uma ideia, em 2012, a
potência instalada era de 7MW e, em 2020, o Brasil chegou a 6 GW
(igual a 6.000 MW).
• No relatório da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica
e Eletrônica), em 2012, o ritmo de aproveitamento da energia solar
para produção de energia elétrica continuará lento devido a alguns
aspectos: (i) o custo para instalações é elevado; (ii) as distribui-
doras apresentam restrições à micro e mini geração por receio
de perda de mercado; (iii) há falta de políticas de financiamento e
modelos de comercialização; (iv) os consumidores possuem pouco
conhecimento sobre a utilização da tecnologia fotovoltaica para a
produção de eletricidade.

Apesar do elevado potencial solar no Brasil, há baixa taxa de aproveitamento da


radiação solar para produção de energia elétrica quando comparados a outros países.

63
3 EFEITO FOTOVOLTAICO
A energia fotovoltaica é considerada a energia produzida por meio da conversão
direta da luz em eletricidade, através do fenômeno chamado efeito fotovoltaico.
Quando a luz ou a radiação eletromagnética do Sol incide sobre uma célula produzida
com materiais semicondutores, o fenômeno de efeito fotovoltaico ocorre. Em outras
palavras, podemos dizer que o efeito fotovoltaico é a criação de uma corrente elétrica
ou tensão elétrica após a exposição da luz solar.

Existem diversos tipos de células fotovoltaicas, porém 95% de todas as células


produzidas são de sílico, material semicondutor considerado abundante e barato. É
importante destacar que um semicondutor é um material que não pode ser classificado
como condutor e nem isolante, além disso, as propriedades do semicondutor podem
ser alteradas pela inserção de materiais dopantes ou impurezas. Isso quer dizer que um
semicondutor é isolante a temperaturas de 0 K, mas com o aumento de temperatura,
o material começa a conduzir eletricidade, atuando com um condutor. Uma célula
fotovoltaica é formada por meio da junção de duas camadas de material semicondutor,
uma do tipo P e outra do tipo N (conforme mostra figura a seguir).

FIGURA 1 – ESTRUTURA DE UMA CÉLULA FOTOVOLTAICA

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 65).

O material do tipo N, apresenta um excedente de elétrons, já o material tipo


P, apresenta falta de elétrons e, devido a essa diferença de concentração de elétrons
nas duas camadas, quando um fóton (partícula de luz) atinge a camada, os elétrons da
camada N migram para a camada P e produzem um campo elétrico. Para entendermos
melhor, veja a figura a seguir, que ilustra a estrutura molecular de semicondutores P e N.

64
FIGURA 2 – ESTRUTURA MOLECULAR DO SEMICONDUTOR DO TIPO “P” E “N”.

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 66).

Conforme apresenta a Figura 2, o material P possui menos elétrons, haja visto a pre-
sença de lacunas, dessa forma, é considerado um material positivo. Por outro lado, o material
N, apresenta elétrons em excesso, como pode ser observado a presença de elétron (carga
negativa) adicional ao redor de alguns átomos da estrutura e, portanto, o material é negativo.

Os materiais P e N, quando colocados em contato (junção semicondutora),


os elétrons da camada N percorrem para a camada P, ocupando os espaços vazios
presentes nas lacunas do material P, conforme mostra a figura a seguir.

FIGURA 3 – MATERIAIS SEMICONDUTORES EM TRÊS SITUAÇÕES DISTINTAS

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 67)

65
A Figura 3 apresenta os materiais semicondutores em três situações distintas,
material P e N separados, posteriormente unidos, formando a junção e, por fim, a
junção PN exposta à luz para produzir eletricidade. Quando as camadas estão unidas, o
movimento dos elétrons de uma camada para outra origina um campo elétrico e produz
uma barreira potencial. Quando a célula fotovoltaica não está iluminada, os elétrons e
lacunas ficam presos atrás da barreira potencial.

Ao receber fótons de radiação eletromagnética, a camada superior composta


pelo material N é tão fina que as partículas de luz podem penetrar e direcionar sua energia
sobre os elétrons, assim os elétrons possuem energia suficiente para vencer a barreira de
potencial e migrar da camada N para a camada P. Alguns elétrons são aprisionados pelas
lacunas presentes na camada N, porém uma grande parte fica livre para formar corrente
elétrica quando um condutor produz um circuito entre as duas camadas.

É importante ressaltar que várias células fotovoltaicas unidas em série/paralelo


produzem grande parcela de eletricidade e tensão elétrica mais elevada, quando
comparado a somente uma célula fotovoltaica que produz pouca energia e uma tensão
elétrica baixa (VILLALVA; GAZOLI, 2012).

INTERESSANTE
Aplicações da energia solar: cenários e possibilidades de uso:
• Residências
A energia solar já pode ser utilizada em residências, mesmo que o consumo de energia
elétrica não seja tão alto. A tecnologia já é acessível e existem linhas de crédito específicas,
que possibilitam o parcelamento. A instalação é fácil e rápida, e não é necessário fazer
reformas. Com um sistema fotovoltaico em casa, é possível reduzir em até 95% a conta de
luz e ter mais controle do orçamento doméstico.
• Empresas
Pequenos e grandes negócios também podem se beneficiar muito da energia solar. Os
gastos com energia elétrica podem comprometer uma boa parcela do orçamento, que
poderiam ser investidos em outras áreas. Ter um sistema fotovoltaico reduz drasticamente
a conta de luz – a economia chega a até 95%. Além disso, a empresa se torna mais
sustentável, o que é cada vez mais valorizado pelos consumidores.
Negócios que são muito prejudicados quando há queda de energia – como provedores de
internet e data centers por exemplo – podem ter autonomia energética e garantir a operação
sem riscos. A energia solar também pode alimentar sistemas de monitoramento de segurança.
• Indústrias
Outra aplicação da energia solar é nas indústrias, que costumam ter uma demanda
energética alta. Diversos setores já se beneficiam dessa solução: tecnologia, mecânica,
alimentícia e farmacêutica são alguns exemplos. Os sistemas fotovoltaicos colaboram para
a eficiência energética e reduzem os custos de produção. As indústrias que adotam fontes
de energia renováveis também podem obter certificações, que ajudam a adquirir recursos
e aumentam a competitividade no mercado.
• Fazendas
Na agricultura e pecuária também há muitas aplicações da energia solar. Algumas
propriedades não têm acesso à rede da concessionária, ou sofrem com instabilidades no
fornecimento de energia. Tanto o sistema on grid (ligado à rede da concessionária) quanto

66
o off grid (desconectado da rede da concessionária, ou seja, sistema isolado) podem ser
utilizados, dependendo do contexto e das necessidades.
A energia solar pode ser utilizada para garantir a iluminação e funcionamento dos
equipamentos. Na agricultura, pode ser aplicada em bombas de água para irrigação,
motores e cortadores. Na pecuária, em sistemas de ordenha e resfriamento do leite.
Além disso, pode servir para alimentar câmeras de monitoramento, o que possibilita
acompanhar a propriedade e a produção. Também fornece energia para rádios outdoor
para prover internet em toda a fazenda, proporcionando conforto para os funcionários, e
obter dados dos sistemas de segurança, das máquinas e equipamentos.
• Veículos
A energia solar também pode ser aplicada em veículos. Food trucks, por
exemplo, podem ter autonomia energética e operar em qualquer lugar com
um sistema fotovoltaico off grid instalado. Também há a possibilidade de utilizar
energia solar em caminhões para alimentar sistemas de monitoramento
veicular de carga. Assim, a carreta possui autonomia energética total, pois
irá consumir energia das baterias do sistema off grid.

FONTE: <https://bit.ly/3SlBOYn>. Acesso em: 27 fev. 2022.

4 TIPOS DE CÉLULAS
Existem diferentes tecnologias para a produção de células fotovoltaicas. As
tecnologias fabricadas em larga escala e comercialmente disponíveis no mercado são
constituídas do silício monocristalino, policristalino e filme fino de silício.

Antes de estudarmos com detalhes cada uma dessas células, vamos entender
como o silício é extraído.

O silício é um elemento químico que pertence ao grupo do carbono, com símbolo


Si extraído do mineral quartzo. Na natureza, o silício é um sólido duro, cinza-escuro, de
brilho metálico (Figura 4), e que possui estrutura similar ao diamante. O silício é um dos
elementos mais abundantes na Terra (a crosta terrestre apresenta 27,7% de silício), com
exceção do hidrogênio, hélio, nônio, oxigênio, nitrogênio e carbono.

67
FIGURA 4 – SILÍCIO (Si)

FONTE: <https://www.crq4.org.br/artigo_silicio>. Acesso em: 28 fev. 2022.

O silício é encontrado combinado em rochas, areias, barros e solos. Em razão


da estrutura, o silício é muito utilizado na indústria de componentes eletrônicos, como
diodo e transistores. Além disso, o silício é um dos principais componentes utilizados na
produção de células solares fotovoltaicas, sendo responsável por grande parte do custo
das células, uma vez que é necessário realizar o processo de purificação para obter o
silício de grau solar (SiGS) com 99,9999% de pureza.

É importante destacar que o silício bruto é obtido a partir da sílica (SiO2) e esta,
por sua vez, é extraída do mineral quartzo. O Brasil possui grandes reservas de quartzo,
porém importa a elevados custos as células solares para a produção dos painéis solares,
pois nosso país não realiza a purificação e fabricação das células solares.

De acordo com Souza Davies, Frisso e Brandão (2018), a China e a Alemanha


são países que possuem alto desenvolvimento tecnológico na produção de painéis fo-
tovoltaicos, pois são capazes de realizar toda a cadeia de manufatura fotovoltaica desde
a extração do silício até a montagem das placas. O Brasil, apesar de possuir grandes
reservas de quartzo, consegue realizar os extremos dessa cadeia, ou seja, extração da
matéria-prima, transformação em silício metalúrgico (cujo grau de pureza chega até
99,5%) e a montagem das placas fotovoltaicas. Assim, o Brasil exporta o silício (nível
metalúrgico) com preço que varia em torno de U$ 2/kg e importa células fotovoltaicas
com preço mais elevado, encarecendo, dessa forma, o custo dos painéis solares.

INTERESSANTE
TECNOLOGIAS DE TRANSFORMAÇÃO DO SILÍCIO
O silício encontrado na natureza, ou melhor, os materiais dos quais se extraem o silício,
necessitam de uma cadeia de tratamento que pode ser demasiada longa dependendo do
objetivo pretendido. O silício para a indústria microeletrônica, por exemplo, necessita de
uma pureza de 99,999999999%, e, portanto, uma grande cadeia de processamento. No

68
entanto, o silício utilizado na indústria fotovoltaica é o silício de grau solar (SiGS) que possui
uma pureza de 99,9999%. A Figura 5, a seguir ilustra a cadeia de purificação do silício para
a fabricação de módulos fotovoltaicos.

CADEIA DE PROCESSAMENTO DO SILÍCIO PARA SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

Basicamente, o “silício bruto” pode ser obtido a partir da sílica (SiO2), que é encontrada no quart-
zo (que, por sua vez, é abundante no Brasil). Essa sílica necessita de um tratamento de redução
(processo químico) a temperaturas que ultrapassam 1500 graus célsius. O resultado desse
processamento é o silício metalúrgico que ainda possui pouca aplicação na indústria tecnológi-
ca. Após essa primeira parte do tratamento, é necessária mais uma etapa para a obtenção do
silício de grau solar, que já pode ser utilizado na fabricação de células solares. Essa etapa é a
de maior complexidade e pode ser feita através de três processos amplamente conhecidos na
indústria fotovoltaica: processo Siemens, processo Du Pont e processo Czochralski.
O processo Du Pont é o menos utilizado em função de suas dificuldades de realização. Este
utiliza um composto chamado tetracloreto de silício (SiCl4) reagindo com outro gás a uma
temperatura inferior à 1000 graus célsius. O método Czochralski é o mais utilizado para a
obtenção do silício monocristalino cuja pureza é superior à do silício resultante do processo
Siemens. Por consequência disso, esse método é empregado para a produção de silício
para a indústria microeletrônica, sendo, também, utilizado para células fotovoltaicas de alta
eficiência. Por fim, o processo Siemens consiste, basicamente, no aquecimento do silício
metalúrgico juntamente com um gás chamado triclorosilano. O resultado do processo é
um silício de pureza 99,9999999%, ou seja, de uma pureza até superior à pureza que era
requerida para a célula fotovoltaica.
Desse modo, dentre os três processos, o de Siemens e o Czochralski são
os mais utilizados na indústria fotovoltaica, sendo amplamente usado em
países desenvolvidos como China, Alemanha e Japão, que apresentaram um
alto crescimento de sua capacidade fotovoltaica, alcançando juntos mais da
metade do mercado fotovoltaico, sendo que, a China, além fabricar células
solares de alta eficiência, ainda domina amplamente a cadeia ilustrada na
figura acima, já que produz e purifica o próprio silício.

FONTE: SOUZA DAVIES, F.; FRISSO, G. L; BRANDÃO, M. V. A utilização do silício nacional


para a fabricação de placas solares: uma reflexão das dificuldades tecnológica e
financeira. In: VII Congresso Brasileiro de Energia Solar-CBENS, Anais [...], 2018.

4.1 SILÍCIO MONOCRISTALINO


As células de silício monocristalino são as mais utilizadas e comercializadas para
a produção dos painéis solares. A cadeia da indústria fotovoltaica inicia com o silício meta-
lúrgico, obtido a partir da sílica de alta pureza em forno arco elétrico por meio da redução
do dióxido de silício (SiO2) com eletrodos de carbono sob uma temperatura de aproxi-
madamente 1900 ºC. Após, é extraído e resfriado o sílico líquido que se acumula no for-
no no fundo, esse silício obtido é denominado metálico ou metalúrgico e apresenta até
99,5% de pureza. Porém, para a construção das células solares é necessário um silício
com 99,9999% de pureza, que pode ser obtido por meio de métodos físicos ou químicos.

69
Os processos mais utilizados para chegar nesse grau de pureza é o processo
Czochralski, no qual o silício é fundido com uma certa quantidade de dopante (geralmente
é utilizado o boro – material do tipo P). Lingote de silício monocristalino é obtido ao
final desse processo, conforme mostra a figura a seguir, este cilindro possui estrutura
cristalina única e organização molecular homogênea, conferindo aspecto uniforme e
brilhante. Esse cilindro é cortado em fatias finas (com aproximadamente 300 µm), para
produzir os wafers, e, posteriormente, é realizado limpeza das impurezas das fatiais.

FIGURA 5 – LINGOTE DE SÍLICIO MONOCRISTALINO

FONTE: <https://www.powerwaywafer.com/pt/silicon-crystal.html>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Os wafers não apresentam propriedades de células fotovoltaicas, sendo


necessário submeter a processos químicos para introduzir impurezas do tipo N, com
o objetivo de formar a junção (P e N, que são a base para funcionamento das células).

Ao final, é depositado na célula uma película metálica em uma das faces e uma
grade metálica em outra face e uma camada de material antirreflexivo na face que irá
receber a luz solar. A Figura 6 apresenta a célula monocristalina (com aspecto azulado
escuro ou preto, dependendo do tratamento antirreflexivo).

FIGURA 6 – CÉLULA MONOCRISTALINA

FONTE: <https://blog.bluesol.com.br/celula-fotovoltaica-guia-completo/>. Acesso em: 28 mar. 2022.

70
É importante ressaltar que as células monocristalinas apresentam maiores
eficiências em produtos comerciais, atingindo cerca de 15 a 18%. Essa tecnologia
apresenta alto custo, em função da grande quantidade de material utilizado e a energia
consumida para a fabricação das células solares.

4.2 SILÍCIO POLICRISTALINO


O silício policristalino é produzido por meio de um processo mais barato quando
comparado ao silício monocristalino. O processo de fabricação do silício policristalino é simi-
lar ao processo de silício monocristalino, permitindo a produção de células com eficiências
semelhantes. A técnica de fabricação é basicamente a mesma, porém o silício policristalino
apresenta menor rigor de controle, pois o lingote policristalino é formado por um aglomera-
do de cristais, com orientações e tamanhos diferentes conforme mostra a Figura 7.

FIGURA 7 – LINGOTE DE SILÍCIO POLICRISTALINO

FONTE: <https://bit.ly/3Q2A18X>. Acesso em: 28 mar. 2022.

O lingote policristalino é fatiado para produzir wafers que irão se transformar


em células fotovoltaicas. As células policristalinas apresentam aspecto heterogêneo e,
geralmente, são encontradas na cor azul (mas pode depender do tipo de antirreflexivo
que foi utilizado). A figura a seguir apresenta um comparativo entre a célula de silício
monocristalino e policristalino. A célula fotovoltaica monocristalina apresenta uma
estrutura organizada e constituída de um único cristal de silício, por outro lado, a célula
fotovoltaica policristalina possui estrutura atômica desorganizada, sendo constituída de
vários cristais de silício.

71
FIGURA 8 – DIFERENÇA NA ESTRUTURA DAS CÉLULAS MONOCRISTALINAS E POLICRISTALINAS

FONTE: <https://engehallrenovaveis.com.br/artigos/celula-fotovoltaica>. Acesso em: 28 mar. 2022.

Importante destacar que a célula monocristalina não apresenta nenhuma


mancha, já a policristalina possui manchas em razão dos vários cristais de silício na
estrutura atômica. Outra diferença apresentada entre as células é o seu formato, pois
a célula policristalina é quadrada, já a monocristalina apresenta um formato octogonal,
em razão da sua extração de lingotes cilíndricos.

FIGURA 9 – DIFERENÇA NO FORMATO DAS CÉLULAS MONOCRISTALINAS E POLICRISTALINAS

FONTE: <https://engehallrenovaveis.com.br/artigos/celula-fotovoltaica>. Acesso em: 28 mar. 2022.

As células de silício policristalino apresentam eficiências entre 13 e 15%, pouco


inferiores às células de silício monocristalino, porém as células de silício policristalino
apresentam melhor relação custo-benefício.

72
4.3 FILMES FINOS
A tecnologia dos filmes finos surgiu após a consolidação dos processos de sílico
monocristalino e silício policristalino. Os filmes finos, diferentemente da tecnologia das
células cristalinas, são fabricados por meio da deposição de finas camadas de materiais
(por exemplo, o silício) sobre um substrato que pode ser rígido ou flexível, como, por
exemplo, um vidro, plástico ou metal.

O processo de deposição pode ser realizado por meio de vários métodos, porém
a técnica de vaporização é mais utilizada, que permite que pequenas quantidades
de material sejam utilizadas para fabricar as células, assim evitando desperdício,
diferentemente da produção das células cristalinas, em que ocorre desperdício no
momento do corte dos wafers. Além disso, as temperaturas utilizadas para a produção
das células cristalinas é em torno de 1500 ºC, já na produção dos filmes finos, a
temperatura varia entre 200 e 500 ºC, tornando baixo o custo dessa tecnologia quando
comparada às células cristalinas.

É importante destacar que nessa tecnologia dos filmes finos não há distinção
entre célula e módulo, pois os módulos de filmes finos são formados por uma grande e
única estrutura, conforme mostra a figura a seguir. A vantagem se serem formado por
uma única célula é o fato se serem menos sensíveis aos efeitos do sombreamento, por
exemplo quando uma folha ou árvore produz uma soba sobre o módulo, essa sombra
atinge uma pequena parcela da célula, resultando em uma pequena perda de energia.
Porém, isso não acontece nas células fotovoltaicas produzidas com silício cristalino,
pois a obstrução da luz causa perda maior de energia mesmo uma única célula sendo
atingida por esse sombreamento.

FIGURA 10 – MÓDULO FOTOVOLTAICO DE FILME FINO

FONTE: <https://bit.ly/3PZnmnb>. Acesso em: 28 mar. 2022.

73
Embora, os módulos de filmes finos apresentam custo baixo, essa tecnologia
possui baixa eficiência, quando comparada as células cristalinas. Sendo necessário maior
área de módulos de filmes finos para gerar a mesma energia do que as células cristalinas.

As células produzidas com filmes finos são geralmente classificadas com base
no material utilizado, de acordo com Villalva e Gazoli (2012, p. 72-73):

• Silício amorfo: os módulos de filmes finos de silício amorfo


possuem baixa eficiência em relação as células cristalinas. A
eficiência diminui durante os primeiros 6 a 12 meses, em razão da
degradação da luz solar.
• Silício microcristalino: uma tecnologia alternativa é a
produção e células fotovoltaicas de filme fino de silício cristalino,
simultaneamente apresenta vantagens do silício cristalino e dos
filmes finos, coprodução em massa, automatização, redução de
desperdício de material e maior consumo de energia. As células
microcristalinas possuem eficiência de até 8,5%.
• Células hibridas: é resultado da combinação da célula cristalina
convencional com célula de filme fino, e acrescido de uma fina
camada de silício sem impurezas. Essa tecnologia não apresenta
degradação devido à exposição à luz solar quando comparada aos
filmes finos de silício amorfo. O custo dessa tecnologia é atraente,
em razão do pouco consumo de energia para a produção, bem
como de matéria-prima. A célula hibrida diferencia-se das demais
pela maior produção de energia em elevadas temperaturas.
• CdTE e CIGS: Telureto de cádmio (CdTe) e CIGS (cobre-índio-
gálio-selênio) são as células mais eficientes na família dos filmes
finos, porém não chegam a produção em larga escala quando
comparada as demais, pois o cádmio (Cd) é um material tóxico
e o telúrio (Te) é um material raro, ou seja, não é encontrado em
abundância. Já as células CIGS não utilizam materiais tóxicos
e são mais eficientes quando comparadas as células de silício,
porém seu custo é alto e a comercialização ainda é pequena.

Em resumo, temos que as células produzidas com filmes finos são geralmente
classificadas em silício amorfo (aSi), silício monocristalino (µSi), telúrio de cádmio (CdTe),
tecnologia CIGS (cobre-índio-gálio-selênio), células solares sensíveis à cor (DSC) e
outras células solares orgânicas.

4.4 COMPARAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE CÉLULAS


O Quadro 1 apresenta uma comparação da eficiência das diversas tecnologias de
células fotovoltaicas. Dependendo da tecnologia e os materiais utilizados na fabricação
das células e módulos fotovoltaicos, a eficiência pode ser maior ou menor.

74
QUADRO 1 – COMPARAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS DIVERSAS TECNOLOGIAS DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS

Eficiência da Eficiência
Eficiência da célula
Tipo de célula fotovoltaica célula em dos módulos
comercial (%)
laboratório (%) comerciais (%)
Silício monocristalino 24,7 18 14
Silício policristalino 19,8 15 13
Silício cristalino de filme fino 19,2 9,5 7,9
Silício amorfo 13 10,5 7,5
Silício microamorfo 12 10,7 9,1
Célula solar híbrida 20,1 17,3 15,2
CIS, CIGS 18,8 14 10
Telureto de cádmio 16,4 10 9
FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 74)

É possível perceber que, as células fotovoltaicas produzidas com silício


monocristalino policristalino possuem maior eficiência na conversão da energia solar
em eletricidade tanto em testes de laboratório como em produtos comerciais.

Acadêmico! Neste tópico, aprendemos a origem e história da energia solar


fotovoltaica no mundo e, também, a história da energia solar no Brasil. Além disso,
estudamos o efeito fotovoltaico e as diferentes tecnologias para a produção de células
solares (silício monocristalino, policristalino e filme fino de silício).

75
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Em 1839, Edmond Becquerel descobriu o efeito fotovoltaico.

• Em 1877, Richard Adams e o seu aluno, Richard Day, verificaram efeito similar em um
dispositivo de estado sólido produzido com selênio.

• No ano de 1958, teve-se o grande início da utilização das células fotovoltaicas em


programas espaciais, impulsionadas pela corrida espacial.

• A partir do ano de 1978, a produção de células fotovoltaicas era equivalente a 1 MWp/


ano, sendo os Estados Unidos os líderes na produção, no final da década de 1990.

• A produção de células solares no Brasil iniciou nos anos 50, no Instituto Nacional de
Tecnologia (INT) e no Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA).

• Nos anos 1970, o desenvolvimento da tecnologia solar fotovoltaica era similar a


outros países do mundo, em razão da crise internacional do petróleo.

• A partir dos anos 1990, as células fotovoltaicas de silício cristalino foram produzidas
para serem testadas no primeiro satélite brasileiro.

• Em 2012, foi definida pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a Resolução
Normativa nº 482/2012, sobre micro e mini geração distribuída.

• A energia fotovoltaica é considerada a energia produzida por meio da conversão


direta da luz em eletricidade, através do fenômeno chamado efeito fotovoltaico.

• Existem diferentes tecnologias para a produção de células fotovoltaicas. As


tecnologias fabricadas em larga escala e comercialmente disponíveis no mercado
são constituídas do silício monocristalino, policristalino e filme fino.

• As células fotovoltaicas produzidas com silício monocristalino policristalino possuem


maior eficiência na conversão da energia solar em eletricidade tanto em testes de
laboratório como em produtos comerciais.

76
AUTOATIVIDADE
1 A energia fotovoltaica é a energia produzida por meio da conversão direta da luz
em eletricidade, através do fenômeno chamado efeito fotovoltaico. Dentro desse
contexto, disserte sobre o efeito fotovoltaico.

2 Existem diferentes tecnologias para a produção de células fotovoltaicas. As


tecnologias fabricadas em larga escala e comercialmente disponíveis no mercado
são constituídas do silício monocristalino, policristalino e filme fino. Dentro desse
contexto, disserte sobre cada um desses tipos de células fotovoltaicas.

3 Desde o século IXX, a tecnologia de energia solar fotovoltaica já dava os primeiros


passos, ainda que de forma rudimentar de utilização, como fazer fogo, aquecer água
e casas. Dentro desse contexto, assinale a alternativa CORRETA que corresponde à
origem e história da energia solar fotovoltaica.

a) ( ) Em 1870, Edmond Becquerel descobriu o efeito fotovoltaico.


b) ( ) Em 1839, teve-se o grande início da utilização das células fotovoltaicas em
programas espaciais, impulsionadas pela corrida espacial.
c) ( ) Nos anos 1970, o desenvolvimento da tecnologia solar fotovoltaica no Brasil era
similar a ao de outros países do mundo, em razão da crise internacional do petróleo.
d) ( ) Em 2013, foi definido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a Resolução
Normativa nº 482/2012, sobre micro e mini geração distribuída.

4 As células de silício monocristalino são as mais utilizadas e comercializadas para a


produção dos painéis solares. Dentro desse contexto, assinale a alternativa CORRETA
que corresponde ao silício monocristalino:

a) ( ) Os wafers apresentam propriedades de células fotovoltaicas, não sendo


necessário submeter a processos químicos.
b) ( ) As células monocristalinas apresentam maiores eficiências em produtos
comerciais atingindo cerca de 15 a 18%.
c) ( ) A cadeia da indústria fotovoltaica inicia com o silício metalúrgico com grau de
pureza em torno de 99,99%.
d) ( ) Para a construção das células solares, é necessário um silício com 99,9999999%
de pureza.

5 O processo de fabricação do silício policristalino é similar ao processo de silício


monocristalino, permitindo a produção de células com eficiências semelhantes.
Dentro desse contexto, assinale a alternativa CORRETA que corresponde ao silício
policristalino:

77
a) ( ) O silício policristalino apresenta menor rigor de controle, pois é formado por um
aglomerado de cristais.
b) ( ) A célula policristalina não apresenta nenhuma mancha, diferentemente da célula
monocristalina, que possui manchas em razão dos vários cristais de silício na
estrutura atômica.
c) ( ) A célula policristalina apresenta um formato octogonal, em razão da sua extração
de lingotes cilíndricos.
d) ( ) As células de silício policristalino apresentam eficiências entre 18 e 21%, superiores
às células de silício monocristalino.

78
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
COMPONENTES DE UM SISTEMA
FOTOVOLTAICO

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos prosseguimento aos nossos aprendizados sobre
os sistemas fotovoltaicos. Neste segundo tópico da Unidade 2, a intenção é fazer você
compreender os componentes do painel fotovoltaico, assim como os componentes
do sistema fotovoltaico isolado, além de saber interpretar as curvas características de
corrente, tensão e potência para os módulos fotovoltaicos.

Além disso, ao longo do estudo dessa unidade, responderemos alguns questio-


namentos, tais como, por que devemos conectar as células solares em série ao invés de
paralelo? Por que é necessário orientar o módulo fotovoltaico para o norte geográfico?
Quais são os fatores que influenciam as características elétricas dos painéis solares?

Veremos também algumas regras para instalação dos módulos fotovoltaicos, por
exemplo, como calcular o ângulo de inclinação do módulo em relação ao solo, a altura
da haste de fixação do módulo fotovoltaico, assim como calcular o espaçamento entre
módulo em usinas solares. Acadêmico, o estudo dessa unidade é fundamental para
entendermos os conteúdos do próximo tópico, que irá tratar sobre dimensionamento de
sistemas fotovoltaicos.

2 COMPONENTES DO PAINEL SOLAR FOTOVOLTAICO


Conforme mostra a Figura 11, um painel solar fotovoltaico é composto pelos
componentes a seguir:

• Moldura de alumínio: a moldura das células fotovoltaicas é, geralmente, fabricada


em alumínio com o objetivo de garantir uma montagem segura (evitando que as
células danifiquem) e prática das células.
• Vidro especial: o vidro é temperado e a espessura varia de 2mm a 4mm, além disso, é
fabricado para deixar passar os fótons e refletir o mínimo possível de luz. O objetivo do
vidro é conferir resistência mecânica a placa e proteger, por exemplo, contra chuva.
• Encapsulante – EVA: O EVA (Etileno Acetado de Vinila) é uma película utilizada como
encapsulante, com o objetivo de proteger as células contra temperaturas extremas
e umidade.

79
• Células fotovoltaicas: as células solares são constituídas de materiais semicondutores.
A luz solar, ao chegar nas células, ocorre uma reação no material semicondutor, ou
seja, os elétrons do material se deslocam gerando corrente elétrica.
• Backsheet: traduzindo para o português, significa “parte de trás”, é fabricado em
material plástico, geralmente na cor branca. O objetivo é atuar como isolante térmico
e proteger a célula solar.
• Caixa de junção: a caixa de junção é semelhante a um quadro elétrico do painel
solar, fica situada na parte de trás do painel, sendo responsável por conduzir as
conexões das células para o exterior.

FIGURA 11 – COMPONENTES DO PAINEL SOLAR FOTOVOLTAICO

FONTE: <https://bit.ly/3zUOjTu>. Acesso em: 28 mar. 2022.

A Figura 12 apresenta o custo de cada componente do painel solar, dessa forma,


é possível observar que as células solares são responsáveis por grande parte do custo
do painel solar, representando cerca de 60%.

FIGURA 12 – CUSTO DE CADA COMPONENTE DO PAINEL SOLAR

FONTE: <https://bit.ly/3zUOjTu>. Acesso em: 28 mar. 2022.


80
Conforme estudamos no tópico anterior, o Brasil possui grandes reservas de
quartzo, porém importa a elevados custos as células solares para a produção dos
painéis solares, pois nosso país não realiza a purificação e fabricação das células solares,
encarecendo, assim, as células solares. Posteriormente, temos o vidro representando
10% do custo do painel solar.

3 CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DOS MÓDULOS


FOTOVOLTAICOS
Os painéis solares são constituídos por um agrupamento de células, pois uma cé-
lula sozinha produz pouca eletricidade, assim as células são agrupadas formando os pai-
néis, placas, ou também chamado de módulos fotovoltaicos. As células podem ser conec-
tadas em série ou paralelo. Geralmente, as células são conectadas em série para produzir
tensões maiores (pois a tensão é somada em cada célula), conforme mostra figura a seguir.

FIGURA 13 – CÉLULAS CONECTADAS EM SÉRIE

FONTE: Brito (2003, p. 17)

Uma célula fotovoltaica apresenta uma tensão de aproximadamente 0,6 V.


Geralmente, um módulo tem 36, ou 60 células, dependendo da sua potência. Com
relação à corrente elétrica, temos que quanto maior a área dos painéis solares, maior a
captação de luz e, consequentemente, mais a corrente elétrica produzida. Os módulos
cristalinos fornecem aproximadamente 8 A de corrente elétrica.

INTERESSANTE
CURVAS CARATERÍSTICAS DE CORRENTE, TENSÃO E POTÊNCIA
Curva IV é o gráfico que relaciona a corrente (I) e a tensão de saída (V) do módulo fotovoltaico.
Já a curva PV, é o gráfico que relaciona a potência (P) e a tensão (V) de saída do módulo. Os
principais pontos da curva são:

81
• A Isc (short circuit – corrente de curto-circuito) é a máxima corrente elétrica que o
módulo pode fornecer.
• O Voc (open circuit – tensão de circuito aberto) é a máxima tensão que o módulo pode
fornecer.
• A Imp (maximum power – corrente de máxima potência) é a corrente que o módulo
fornece quando opera no seu ponto de máxima potência.
• A Vmp (tensão de máxima potência) é a tensão que o módulo apresenta nos seus
terminais quando opera no seu ponto de máxima potência.
• A Pmp (potência de máxima potência) o nome é um pouco redundante e quer dizer
exatamente isso. Em outras palavras, essa é a potência de pico do módulo fotovoltaico.
• A MPP (maximum power point) é o ponto de máxima potência do módulo fotovoltaico.
Encontra-se no joelho da curva IV e no pico da curva PV.
• A condição padrão para se obter as curvas características é definida para radiação de
1000 W/m² (radiação recebida em dia claro e ao meio-dia) e uma temperatura operacional
de 25 °C na célula (pois a eficiência da célula diminui com o aumento da temperatura).

CURVAS CARACTERÍSTICAS DE IxV e PxV

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3zUdcid>. Acesso em: 10 mar. 2022

As figuras a seguir ilustram como são medidos os parâmetros Isc e Voc. A corrente de
curto-circuito Isc é medida com um amperímetro, curto-circuitando os terminais de saída
do módulo fotovoltaico. Durante o teste ilustrado na Figura 15, o curto-circuito do módulo
é realizado internamente pelo multímetro (operando no modo amperímetro).
A tensão de circuito aberto Voc, por sua vez, é medida com um multímetro operando no
modo voltímetro, mantendo abertos os terminais do módulo fotovoltaico. Embora estejam
conectados ao multímetro durante o teste, não há corrente passando pelos terminais de
saída do módulo, portanto, dizemos que ele se encontra em circuito aberto (desligado).

82
MEDIDA DA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO DO MÓDULO COM UM MULTÍMETRO
(NO MODO AMPERÍMETRO)

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3zUdcid>. Acesso em: 10 mar. 2022

MEDIDA DA TENSÃO DE CIRCUITO ABERTO DO MÓDULO


FOTOVOLTAICO COM UM MULTÍMETRO (NO MODO VOLTÍMETRO)

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/3zUdcid>. Acesso em: 10 mar. 2022

É importante destacar que a intensidade luminosa e a temperatura das células


são os principais fatores que influenciam as características elétricas dos painéis solares.
Conforme mostra a Figura 14, a corrente produzida nos módulos aumenta linearmente
com o aumento da intensidade luminosa.

FIGURA 14 – INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR NO MÓDULO FOTOVOLTAICO

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 80)


83
Porém, com o aumento da temperatura, conforme mostra a Figura 15, a eficiência
do módulo diminui, ou seja, a potência fornecida pelo módulo diminui, uma vez que a
potência é o produto da tensão pela corrente (P=V x I).

FIGURA 15 – INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO MÓDULO FOTOVOLTAICO

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 80)

4 COMPONENTES DO SISTEMA
Um sistema fotovoltaico é classificado de três formas: sistemas isolados, híbridos
e conectados à rede. Todos os sistemas apresentam uma configuração básica, ou seja,
deverá ter uma unidade de controle de potência e uma unidade de armazenamento
conforme mostra a figura a seguir.

FIGURA 16 – CONFIGURAÇÃO BÁSICA DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO

FONTE: Brito (2003, p. 21)

De acordo com Brito (2003, p. 21), os sistemas são definidos em:

• Sistemas Isolados: Neste tipo de sistema, geralmente é utilizado


uma forma de armazenar a energia, que pode ser realizado por
meio de baterias. No armazenamento em baterias é utilizado um
controlador de carga, com o objetivo de controlar a carga, ou seja,
evitar que haja danos na bateria por sobrecarga ou descarga total.

84
Em alguns sistemas isolados, não é necessário o armazenamento,
como é o caso da irrigação, no qual toda água bombeada é direta-
mente consumida ou estocada em reservatórios.
• Sistemas Híbridos: Os sistemas híbridos são aqueles que quando
são desconectados da rede convencional, apresentam várias
opções de fontes de geração de energia, como eólica, geração
a diesel, fotovoltaico e entre outros. Os sistemas híbridos são
geralmente utilizados em sistemas de médio a grande porte em
função do número maior de usuários. É importante destacar que,
nesse sistema é necessário um controle de todas as fontes, com
intuito de que haja máxima eficiência na entrega ao usuário.
• Sistemas Interligados a rede: Utilizam grandes número de módulos
fotovoltaicos e não empregam o armazenamento de energia, uma
vez que toda a energia e produzida é entregue diretamente a rede.
O arranjo dos módulos fotovoltaicos é conectado em inversores
(que tem a função de transformar a corrente e tensão contínua
produzida pelos módulos em corrente e tensão alternada) e
posteriormente conduzidos diretamente na rede.

Neste tópico, iremos detalhar os equipamentos utilizados no sistema fotovoltaico


isolado, os quais são: módulos fotovoltaicos, baterias, controlador de carga e inversor.

As baterias são fundamentais para os sistemas isolados, pois são responsáveis


por armazenar energia para ser utilizada quando o sol não estiver presente. Há diversos
tipos de baterias, por exemplo: automotivas, tração e estacionária. No dimensionamento
das baterias, é necessário verificar o consumo diário de energia, a profundidade de
descarga da bateria e a autonomia (quantidade de dias que o banco pode atender sem
a produção de energia, ou seja, em dia de pouca radiação solar).

Controlador de Carga é o equipamento utilizado para realizar conexão entre


os módulos fotovoltaicos e a bateria do sistema. O objetivo do controlador de carga é
garantir o fluxo de energia entre os módulos fotovoltaicos e as baterias, de forma a evitar
a sobrecarga e descarga total, bem como garantir maior vida útil as baterias. Quando a
bateria está totalmente carregada, o controlador de carga desconecta os módulos, a fim
de evitar sobrecarga das baterias. Quando a bateria atingir o nível mínimo, o controlador
de carga interrompe o fornecimento de energia, visando à descarga total.

O inversor tem como objetivo transformar a corrente e tensão elétrica contínua


produzida pelos módulos fotovoltaicos ou baterias, em corrente e tensão alternada. O
dimensionamento de inversor para sistemas fotovoltaicos deve considerar a potência
dos equipamentos, ou seja, a potência do inversor deve ser igual ou maior que a
potência máxima (ou de pico) dos painéis fotovoltaicos. Existem vários tipos de inversos,
os principais são: inversores de onda quadrada, de onda senoidal modificada, onda
senoidal pura e inversores com a rede.

85
5 REGRAS PARA INSTALAÇÃO DOS MÓDULOS
FOTOVOLTAICOS
Na unidade anterior, estudamos alguns fatores que influenciam captação de
luz nos módulos fotovoltaicos, como a latitude do local, movimento de rotação da Terra
(responsável pelo ciclo dia-noite) e movimento de translação.

Além desses fatores, quando realizar a instalação do módulo, sempre que


possível, deve orientar a face do módulo/painel para o norte geográfico, com intuito
de maximizar a produção média de energia, pois, durante todo o dia, o módulo tem
raios solares incidindo sobre a superfície, com maior incidência ao meio-dia (módulo fica
posicionado de frente para o sol), com ângulo azimutal zero. Azimutal é considerado o
ângulo de orientação dos raios solares com relação ao norte geográfico.

FIGURA 17 – ORIENTAÇÃO CORRETA DO MÓDULO FOTOVOLTAICO

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 52)

Além de orientar o módulo fotovoltaico para o norte geográfico, é importante


ajustar o ângulo de inclinação do módulo em relação ao solo para potencializar a eficiência
de energia. O Quadro 2 mostra o ângulo de inclinação recomendado para várias faixas
de latitudes geográficas. Para saber, o ângulo da latitude de uma determinada região,
pode-se consultar no Google Maps.

QUADRO 2 – ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DO MÓDULO

LATITUDE DO LOCAL ÂNGULO DE INLINAÇÃO RECOMENDADO


0° a 10° α=10°
11° a 20° α=latitude

86
21º a 30º α= latitude + 5°
31º a 40º α= latitude + 10°
41º ou mais α= latitude + 15°
FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 52)

Para calcular a altura da haste de fixação (z), deve-se levar m conta o ângulo de
inclinação (α) e o comprimento do módulo (L), de acordo com a equação a seguir:

z= L. sen α (4)

Sendo que, para calcular a distância (x), considerada a distância entre a borda
do módulo no solo a barra de fixação, é utilizada a equação a seguir:

x= L. cos α (5)

FIGURA 18 – CÁLCULOS PARA INSTALAÇÃO DO MÓDULO

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 52)

Acadêmico! Além desse conhecimento, é necessário saber como calcular


o espaçamento entre módulo em usinas solares (Figura 19), pois as usinas solares,
geralmente, são construídas em fileiras de módulos (ou seja, uma seguida da outra),
e, nesse tipo de instalação, é necessária uma atenção especial ao espaçamento entre
os módulos, para que um módulo não faça sombra no outro e, consequentemente,
ocasione na diminuição do desempenho de energia elétrica.

87
FIGURA 22 – ESPAÇAMENTO ENTRE MÓDULO EM USINAS SOLARES

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 63)

Para calcular esse espaçamento, de acordo com Villalva e Gazoli (2012, p. 63),
utilizam-se duas estratégias. A primeira estratégia tem o intuito de reduzir as perdas
em razão das sombras, potencializando a eficiência do sistema fotovoltaico. Assim, é
possível empregar a seguinte equação para o espaçamento entre fileiras:

d= 3,5. z (6)

A segunda estratégia é utilizada em locais que apresentam limitação de espaço


para instalação, sendo assim, o objetivo é maximizar o fator de aproveitamento da área.

d= 2,25. L (7)

Porém, nessa estratégia, tem-se a redução da eficiência em razão da presença


e sombra sobre os módulos.

Acadêmico! Neste tópico, aprendemos os componentes do painel fotovoltaico


(moldura de alumínio, vidro especial, encapsulante – EVA, células fotovoltaicas,
backsheet, caixa de junção), componentes do sistema fotovoltaico isolado (módulos
fotovoltaicos, baterias, controlador de carga e Inversor), curvas características de
corrente, tensão e potência para os módulos fotovoltaicos, bem como algumas regras
para instalação dos módulos fotovoltaicos.

88
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A moldura de alumínio, vidro especial, encapsulante – EVA, células fotovoltaicas,


backsheet, caixa de junção são componentes do painel solar fotovoltaico.

• As células solares são responsáveis por grande parte do custo do painel solar,
representando cerca de 60%.

• As células podem ser conectadas em série ou paralelo. Geralmente, as células são


conectadas em série, para produzir tensões maiores (pois a tensão é somada em
cada célula).

• Existem curvas características de corrente, tensão e potência para os módulos


fotovoltaicos.

• A intensidade luminosa e a temperatura das células são os principais fatores que


influenciam as características elétricas dos painéis solares.

• Um sistema fotovoltaico é classificado de três formas: sistemas isolados, híbridos e


conectados à rede.

• Os equipamentos utilizados no sistema fotovoltaico isolado, são: módulos


fotovoltaicos, baterias, controlador de carga e inversor.

• Quando realizar a instalação do módulo, sempre que possível, deve orientar a face
do módulo/painel para o norte geográfico, com intuito de maximizar a produção
média de energia.

• Além de orientar o módulo fotovoltaico para o norte geográfico, é importante ajustar


o ângulo de inclinação do módulo em relação ao solo, para potencializar a eficiência
de energia.

89
AUTOATIVIDADE
1 Determine a altura da haste de fixação de um módulo solar que possui as dimensões
mostradas na figura a seguir. O módulo será fixado por um suporte apoiado no ponto
médio do seu comprimento, situação também mostrada na figura. Esse sistema será
empregado na cidade de São Paulo.­

FONTE: VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações. São Paulo: Érica,
v. 2, 2012.

2 A partir da curva característica corrente versus tensão e potência versus tensão dos
módulos fotovoltaicos, podemos obter vários parâmetros importantes para a análise
dos módulos fotovoltaicos. Dentro desse contexto, ilustre as curvas características
de corrente, tensão e potência e explique cada um dos pontos da curva.

3 Conforme estudamos nesta unidade, um sistema fotovoltaico pode ser classificado de


três formas: sistemas isolados, híbridos e conectados à rede. Com base no exposto,
associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Sistema Isolado.
II- Sistema Híbrido.
III- Sistema Interligado a rede.

90
( ) São aqueles que quando são desconectados da rede convencional, apresentam
várias opções de fontes de geração de energia, como eólica, geração a diesel,
fotovoltaico, entre outros.
( ) É utilizado uma forma de armazenar a energia, que pode ser realizado por meio de
baterias.
( ) Utilizam grande número de módulos fotovoltaicos e não empregam o
armazenamento de energia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) II – III – I.
d) ( ) II – I – III.

4 Um painel solar fotovoltaico é composto pelos seguintes componentes: moldura de


alumínio, vidro especial, encapsulante – EVA, células fotovoltaicas, backsheet e caixa
de junção. Com base no exposto, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Vidro especial.
II- Backsheet.
III- Encapsulante – EVA.

( ) O objetivo de proteger as células contra temperaturas extremas e umidade.


( ) O objetivo é atuar como isolante térmico e proteger a célula solar.
( ) O objetivo do vidro é conferir resistência mecânica a placa e proteger, por exemplo,
contra chuva.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) II – III – I.
d) ( ) II – I – III.

5 Neste tópico, estudamos os equipamentos utilizados no sistema fotovoltaico isolado,


os quais são: módulos fotovoltaicos, baterias, controlador de carga e inversor. Sobre
o controlador de carga, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) São responsáveis por armazenar energia para ser utilizada quando o sol não
estiver presente.
b) ( ) O objetivo do controlador de carga é garantir o fluxo de energia entre os módulos
fotovoltaicos e as baterias.

91
c) ( ) Quando a bateria está totalmente carregada, o controlador de carga conecta os
módulos, a fim de evitar sobrecarga das baterias.
d) ( ) Quando a bateria atingir o nível máximo, o controlador de carga interrompe o
fornecimento de energia.

92
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS
FOTOVOLTAICOS

1 INTRODUÇÃO
Agora que já sabemos as principais definições e os principais componentes de
um sistema fotovoltaico, está na hora aprendermos os cálculos de dimensionamento
desses sistemas.

Neste tópico, primeiramente, iremos abordar o dimensionamento de sistemas


conectados à rede, os famosos sistemas ON-GRID. Nesses sistemas, abordaremos a
energia necessária produzida, número de painéis para um determinado consumo, além
de, é claro, a inclinação do painel com base na sua posição geográfica e irradiação solar.

Em um segundo momento, abordaremos o sistema isolado, ou OFF-GRID, em


que, além das variáveis mencionadas, será necessário o cálculo do dimensionamento do
banco de baterias para esse sistema. Legal né?! Então, vamos aos assuntos do tópico.

2 DIMENSIONAMENTO
Nesta seção, iremos detalhar, de forma objetiva, os procedimentos necessários ao
realizar o dimensionamento de um sistema que utiliza energia solar fotovoltaica, utilizando,
para isso, os componentes inerentes a esse tipo de sistema, detalhada no tópico anterior.

Com isso em mente, devemos levar em conta, caro estudante, o que será
dimensionado.

Primeiramente, falaremos da quantidade de placas fotovoltaica, e, logo em


seguida, falaremos da potência do inversor.

LEMBRETE
Caro acadêmico! Você lembra qual é a função da placa e do inversor? Pois bem, a placa
solar será quem fará a conversão da energia luminosa em energia elétrica, enquanto o
inversor é o componente do sistema solar fotovoltaico responsável por receber a energia
elétrica gerada na placa fotovoltaica, e converter a corrente contínua vinda dos painéis
em corrente alternada, para que essa energia possa ser utilizada no funcionamento dos
equipamentos domésticos, conforme ilustrado na figura a seguir.

93
MÓDULO FOTOVOLTAICO DE FILME FINO

FONTE: <https://bit.ly/3d5HsgT>. Acesso em: 31 mar. 2022.

2.1 DIMENSIONAMENTO DE PAINÉIS (On-Grid)


Para o cálculo da quantidade de painéis conectados à rede (sistema On-Grid),
o primeiro ponto é levantar a quantidade de energia consumida por um determinado
período. Pegando um exemplo simples, de uma residência que possui um consumo
médio mensal de energia ( ) de 750 kWh. Assim, nosso objetivo, aqui, será
dimensionar energia suficiente por mês para essa residência.

Vale ressaltar que essa energia medida é uma relação de potência e tempo,
dessa forma, temos que:

(8)

Onde a potência é dada em quilowatts (kW) e o tempo é dado em horas.

No nosso caso específico, estamos interessados no cálculo da potência total ge-


rada pelos painéis ( ). Reorganizando a Equação 8, temos na potência total a razão da
energia total gerada ( ) pelo tempo de exposição dos painéis, em que esse tempo de
exposição também é denominado horas de sol pico (HSP), conforme equação a seguir:

(9)

Claro que, na Equação 2, estamos considerando um cenário ideal, onde não


temos perdas energéticas. No entanto, sabemos que, na prática, isso não ocorre;
assim, é necessário adicionarmos um fator de correção, para que nossa equação esteja
condizente com uma situação real, dessa forma, adicionamos o rendimento (η).

94
Assim temos que:

(10)

A variável HSP é dada em h/dia (horas/dia) e, normalmente, é um dado tabelado,


que você pode encontrar em sites especializados de confiança, esse dado nada mais é
que a irradiação solar diária média.

DICA
Caro acadêmico! Um site especializado que apresenta dados confiáveis
para as mais diversas localidades é o site do Centro de Referência para as
Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito (CRESESB). Acessando o link https://
cresesb.cepel.br/index.php, indo na aba à esquerda e acessando Potencial
Energético – Potencial Solar, você poderá coletar dados Irradiação solar
diária média mensal e anual, em kWh/m2 dia, para efetuar seus cálculos de
dimensionamento. Legal né?!

Um ponto importante, antes de continuarmos com o cálculo do dimensionamento,


é analisar o tipo de ligação, em que esta poderá ser monofásica, bifásica ou trifásica.
A importância do tipo de ligação para o cálculo do dimensionamento se deve que,
dependendo do tipo de ligação, haverá um custo de disponibilidade mínimo que essa
residência do exemplo deverá pagar mensalmente na conta de energia.

O artigo 98 da normativa 414, de 2010, da ANEEL (Agência Nacional de Energia


Elétrica) traz os valores de taxa mínima devido, conforme tabela a seguir:

QUADRO 3 – CUSTO DE DISPONIBILIDADE DO SISTEMA ELÉTRICO

Consumo mínimo Tipo de Ligação


30 kWh Monofásico
50 kWh Bifásico
100 kWh Trifásico
FONTE: Adaptado de <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=112868>. Acesso em: 31 mar. 2022.

Assim, para o cálculo da energia gerada, devemos levar em conta o consumo míni-
mo, uma vez que, mesmo que não seja consumido, o valor mínimo de energia será cobrado:

(11)

95
Para o nosso caso em tela, supondo que estejamos falando de uma ligação
residencial trifásica, então não temos necessidade de dimensionar uma geração de 750
kWh, pois, do mesmo modo, será pago o consumo mínimo de 100 kWh, sendo assim, a
quantidade de energia gerada pelos nossos painéis deverá de:

Até agora, estávamos interessados no cálculo do consumo/mês para obter a


energia gerada. No entanto, para prosseguirmos nossos cálculos devemos transformar
o cálculo da energia gerada por dia. Certo, e de que forma fazemos isso? Dividimos o
valor mensal por 30 dias. Simples né?!

Assim temos:

Agora, podemos partir para irradiação solar diária.

Para o cálculo da irradiação, é importante tomarmos como base a localização


geográfica, pois isso irá influenciar na inclinação do painel solar.

2.1.1 Inclinação
A inclinação do painel solar irá influenciar na captação de energia luminosa e,
consequentemente, na geração de energia do painel solar fotovoltaico. O desenho a
seguir ilustra a variação da inclinação da luz do sol ao longo do ano.

FIGURA 23 – VARIAÇÃO DA INCLINAÇÃO DA LUZ DO SOL AO LONGO DO ANO

FONTE: <https://bit.ly/3BVdPcT>. Acesso em: 31 mar. 2022.


96
Com base na figura anterior, é possível ver que quanto maior for a inclinação do
painel, isso irá favorecer uma maior geração nos meses de inverno, em detrimento ao
verão. Já se essa inclinação tende a 0°, a geração de energia no verão será favoravelmente
maior que a geração de energia no inverno. Como o objetivo, normalmente, é a captação
de energia o ano inteiro, deve-se, então, fazer com que o ângulo de inclinação seja
aproximadamente a latitude do local.

IMPORTANTE
Você pode se perguntar, afinal, o que é Latitude e Longitude?
O laboratório de cartografia da UFSM traz uma definição bem interessante:
Para referenciar nossa posição na terra, utilizamos a linha do Equador (horizontal no globo
terrestre) e o Meridiano de Greenwich (vertical em relação ao globo terrestre). Assim, em
termos dessas referências, temos que:
A longitude nada mais é que a distância (horizontal) medida do Meridiano de Greenwich ao
longo da extensão da linha do Equador, a qual é medida em graus (º), variando de 0º a 180º,
seja para leste (E - do inglês East) ou para oeste (W – do inglês West).
Já a latitude é o inverso, toma como referência da distância da Linha do Equador medida ao
longo da extensão do Meridiano de Greenwich, também medida em graus, mas, dessa vez,
variando entre 0º e 90º para o Sul (S) ou para o (N).
Podemos ver essas definições na figura a seguir:

LATITUDE E LONGITUDE EM RELAÇÃO AO MERIDIANO DE GREENWICH

FONTE: <https://bit.ly/3BEZK38>. Acesso em: 4 abr. 2022.

Para seguirmos como exemplo, vamos pegar uma localidade real e retirar as
coordenadas geográficas (latitude e longitude) desse local. Vamos tomar como exemplo
a cidade de Indaial/SC, cidade onde fica localizado o NEAD (Núcleo de Educação a
Distância da UNIASSELVI).

DICAS
Mais uma vez, devemos consultar um site sério, que nos dê informações
coerentes e confiáveis. Você pode acessar essas coordenadas acessando o
próprio Google Maps ®, quando um for uma localidade mais específica.

97
Para a cidade de Indaial/SC, temos que ela está a uma latitude 26º53'52" sul e a
uma longitude 49º13'54" oeste.

Ok, e o que fazer com essa informação? Ora, vamos acessar o site do CRESESB
para retirar os dados de Irradiação solar diária média, conforme figura a seguir.

FIGURA 24 – DADOS DE IRRADIAÇÃO SOLAR DIÁRIA MÉDIA

FONTE: <https://cresesb.cepel.br/index.php#data>. Acesso em: 4 abr. 2022.

Conforme destacado na imagem anterior, estamos interessados nos valores


de irradiação solar diária média anual, no plano inclinado (inclinação igual à latitude),
em que esse valor representará o cálculo de HSP. Dessa forma, é válido dizer que, em
Indaial, o valor de horas de sol por dia é de 4,21.

A última variável da nossa equação é o rendimento.

2.1.2 Rendimento
O Rendimento (ƞ), também denominado coeficiente de desempenho, está associa-
do as perdas energéticas. Não vamos entrar muito a fundo nas causas de perda de desem-
penho, pois, ao final deste tópico, foi separado uma Leitura Complementar que abordará
justamente esse assunto. No entanto, de modo geral, são motivos de perda de rendimento:

• Temperatura (principal, devido ao aquecimento dos painéis).


• Sombreamento.
• Sujeira nos painéis.
• Perdas por conexão dos painéis (em série ou paralelo).
• Perda por efeito Joule nos cabeamentos.
• Perdas no inversor.

Todos esses fatores fazem com que o rendimento do sistema fotovoltaica caia
(>1), sendo assim, irá reduzir a energia gerada. Para o nosso cálculo, iremos tomar como
valor de base, por se tratar de um sistema doméstico (menor, consequente menos
perdas globais de energia), um rendimento de 80%, ou ƞ = 0,8.

98
CHAMADA
Atenção acadêmico! Fique esperto, ao final deste tópico, está disponibilizada
uma Leitura Complementar sobre as Perdas por Mismatch em Sistemas
Fotovoltaicos. Assuntos de extrema importância no que tange a sistemas
fotovoltaicos, sejam eles industriais ou domésticos.
Ficou curioso? Então não deixe de conferir!

2.1.3 Cálculo do dimensionamento


Certo, agora devemos listar todos os valores encontrados para o nosso exemplo.
Temos que:

ƞ = 0,8

De posse desses valores, substituímos na equação 10. Dessa forma, temos que:

Assim, a quantidade necessária de potência para esse sistema residencial, para


gerar 25 kWh/dia, é de 7,42 kW.

ATENÇÃO
Fique ligado! O valor encontrado para potência foi dado em kW correto?
No entanto, quando estamos falando de sistemas fotovoltaicas, é costume
utilizar a unidade kWp (quilo watt pico), ok?!

2.1.4 Quantidade de módulos fotovoltaicos


Vamos lá, para o cálculo da quantidade de painéis (Np), você deverá levar em
conta a potência total necessária (PT) e dividir pela potência individual (unitária) de cada
painel (Pp). Conforme equação 12:

(12)

99
Essa potência individual irá depender do painel escolhido. Hoje, no mercado,
temos uma gama de opções de tamanhos e potências, conforme figura a seguir, retirada
de um fornecedor na internet.

FIGURA 25 – PAINÉIS FOTOVOLTAICOS DISPONÍVEIS EM DIVERSAS POTÊNCIAS

FONTE: <https://bit.ly/3Sr1RNV>. Acesso em: 4 abr. 2022.

Supondo que essas sejam nossas opções disponíveis, por uma questão custo
x projeto, decidimos escolher um painel de 465W. Assim, a quantidade necessária de
painéis, nesse projeto residencial, será de:

Ou seja, a quantidade de painéis necessária será de 16, pois não é possível obter
um valor que não seja inteiro.

ATENÇÃO
Embora no exemplo tenhamos chegado em um valor muito próximo de um
número inteiro, muitas vezes, isso não acontece (ex: Np = 12,4 painéis, onde
escolhemos colocar 13 painéis). Assim, é necessário recalcular sua potência
total gerada com base na potência individual de cada painel multiplicado
pelo número de painéis.

Dessa forma, o valor atualizado de PT é de:

Assim, a potência total do nosso sistema é de 7,44 kW.

100
2.1.5 Cálculo do inversor
Assim como a variedade de painéis fotovoltaicos, temos, também, diversos
inversores (Figura 26) disponíveis no mercado, com as mais variadas potências.

FIGURA 26 – DIVERSOS MODELOS DE INVERSORES DISPONÍVEIS NO MERCADO

FONTE: <https://bit.ly/3Sr67gn>. Acesso em: 5 abr. 2022.

Na literatura, é comum usar um fator de dimensionamento de inversor (FDI)


virando a, no máximo, 20 ou 30% da potência total dos painéis, ou seja, para o nosso
caso em tela, a mínima potência de um inversor, considerando um FDI de 20%, seria de:

Já o cálculo da potência máxima, para um mesmo FDI de 20%, seria de:

Assim, pelo método do FDI, deveríamos escolher um inversor com potência


entre 5,6 kW e 8,9 kW. Embora, na prática, é necessário agir de forma diferente.

Para a escolha do inversor, recomenda-se olhar o manual do fabricante desse


inversor, pois o próprio fabricante irá dizer qual potência de geração esse inversor está
dimensionado a atuar, embora o cálculo do FDI irá servir para escolhermos um inversor
mais assertivamente, dentre as várias opções no mercado.

DICA
Para dimensionar o seu sistema fotovoltaico, veja a indicação de potência
que o fabricante do inversor pretendido recomenda!

101
2.2 DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA ISOLADO
(OFF-GRID)
Para o cálculo do dimensionamento de sistemas isolado, primeiramente, deve-
se levar em conta os equipamentos que serão avaliados, e qual o tipo de corrente
que esses equipamentos utilizam. Caso esses equipamentos sejam alimentados com
corrente contínua, deve-se fazer o uso de um inversor.

Outro ponto importantíssimo que se deve levar em conta é que como o sistema
está fora da rede de energia, obrigatoriamente deve ser levado em conta uma autonomia
para esse sistema, pois haverá dia de pouca luminosidade, o que poderá gerar baixa
produção de energia e, consequente, descarregamento do sistema.

A autonomia irá depender de cada situação e de cada região, no entanto, é


comum utilizar uma autonomia de 2 a 3 dias para sistemas residenciais, por exemplo.
Claro que o primeiro ponto deve ser o levantamento do consumo energético dos
equipamentos que serão alimentados por esse sistema isolado. Para demonstrar esse
dimensionamento, simularemos que estamos interessados em prover a iluminação de
uma pequena fazenda na cidade de Indaial/SC.

Nessa localidade, temos que fazer o provimento de energias das lâmpadas a


seguir, conforme segue na Quadro 4:

QUADRO 4 – CUSTO DE DISPONIBILIDADE DO SISTEMA ELÉTRICO

Potência Tempo de Energia


Item Potência unt Quantidades
Total Utilização Consumida
Lâmpada
10 W 20 200 W 12 h 2,4 kWh/dia
Fluorescente
Lâmpada
20 W 10 200 W 12 h 2,4 kWh/dia
Fluorescente
Lâmpada
25 W 6 150 W 12 h 1,8 kWh/dia
Fluorescente
Total 6,6 kWh/dia
FONTE: Os autores (2022)

Conforme tabela anterior foi calculada a energia necessária para iluminar


toda essa fazenda. Para isso, multiplicou-se a potência unitária de cada equipamento
pela sua respectiva quantidade, obtendo-se a potência total. O cálculo prosseguiu
multiplicando-se essa potência pelo tempo de utilização de cada lâmpada, finalizando o
cálculo com o somatório da energia consumida por cada tipo de lâmpada. O valor total
encontrado de 6,6 kWh por dia.

102
2.2.1 Dimensionamento de baterias
No momento do dimensionamento das baterias, devemos levar em conta a
autonomia, citado anteriormente, do nosso sistema. O dimensionamento do banco de
baterias de um sistema off-grid deve considerar:

• O consumo diário de energia.


• A autonomia, número de dias que o banco de bateria pode atender ao consumo sem
que haja produção de energia em dias de pouca insolação.
• A profundidade do ciclo de descarga da bateria.

É importante ressaltar que as baterias utilizadas em sistemas de fontes alter-


nativas são projetadas para ciclos diários rasos, com reduzida taxa de descarga, porém
devem suportar descargas profundas esporádicas, períodos com escassez de recurso.

Para o cálculo da energia armazenada nas baterias (EA), é preciso levar em conta
a autonomia (Aut), a energia que será consumida (EC) e a descarga máxima projetada
para a bateria (dmáx), conforme equação a seguir:

(13)

Onde a autonomia é um fator contabilizado pelo número de dias e a descarga


máxima trata um fator adimensional, dado em porcentagem (ex: 20% de descarga
máxima, temos que ).

ATENÇÃO
O fator de descarga máxima das baterias é muito importante, pois, dessa
maneira, será possível a utilização da bateria durante todo o seu período de
vida útil. Descargas maiores que as indicadas pelo fabricante irão ocasionar
em uma severa diminuição da vida útil da bateria, encarecendo o sistema.

Para o nosso exemplo, iremos considerar um banco de baterias de chumbo ácida


com dmáx de 20% e uma autonomia de três dias. Dessa forma, a energia armazenada
para esse sistema deverá ser de: 99,0 kWh/dia

103
Além da energia armazenada, devemos calcular a configuração e a capacidade
do banco de baterias, além do número de baterias em paralelo.

Basicamente, podemos associar as baterias em série quando queremos uma


tensão maior no banco de baterias, dessa forma, a tensão do banco será a soma
das tensões das baterias associadas em série. Quando o objetivo é o aumento de
corrente, devemos conectar as baterias em paralelo, pois, nesse caso, a tensão no
banco é mantida. No entanto, as correntes individuais são somadas.

Dessa forma, quando o objetivo é aumentar simultaneamente a tensão e a


capacidade de corrente e armazenamento de carga, deve-se utilizar uma conexão das
baterias em série concomitante com uma conexão em paralelo. Assim, deve-se primeiro
associar as baterias em série, para obter a tensão desejada no banco de baterias, e, em
seguida, realizar a conexão em paralelo, com o objetivo de atingir uma maior corrente na
saída (VILLALVA; GAZOLI, 2012). A figura a seguir ilustra essas conexões.

FIGURA 27 – TIPOS DE CONEXÕES DE BATERIAS

FONTE: Villalva e Gazoli (2012, p. 104)

Como temos o valor de potência (2,12kW), calculado anteriormente, para


o dimensionamento do banco de baterias, estamos interessados no valor total da
corrente. Porém, para definir o valor da corrente, é necessário estipular a voltagem do
nosso banco. De acordo com a equação que relaciona potência, tensão e corrente (P = I
. V), que vimos na primeira unidade, quanto maior a tensão, menor será a corrente para
uma mesma potência.

No exemplo em tela, utilizaremos baterias com tensão de 12v e 240 A. Para


reduzirmos a corrente do banco (IT), podemos utilizar mais baterias ligadas em série,
para aumentar a voltagem do banco (VT). Assim, o cálculo do número de baterias em
série (NBS) se dá por:

104
(14)

Onde VB é a tensão de uma única bateria. Assim, a configuração do banco de


baterias, no nosso exemplo, é um banco de 24v de tensão. Assim, temos que:

Para o cálculo da capacidade total do banco de baterias (IT), dada em Ah,


devemos levar em conta a energia consumida em Wh e a tensão do banco de baterias,
conforme equação a seguir:

(15)

Dessa forma, temos que corrente do banco, do nosso exemplo, será dada por:

Agora, precisamos dimensionar o número de baterias em paralelo (NBP), que


é dada pela razão entre corrente total do banco e a corrente individual de cada bateria
(IB). Logo, temos que:

(16)

Assim, para o nosso exemplo, temos que o NBP será de:

Nesse caso, podemos optar por garantir a necessidade estipulado, com uma
autonomia de 3 dias de 20% de descarga, utilizando 18 baterias, ou, por uma questão de
custo, podemos arredondar para baixo e utilizar 17 baterias em paralelo. Ficaremos com
a primeira opção e utilizaremos 18 baterias em paralelo.

2.2.2 Quantidade de módulos fotovoltaicos (off-grid)


Considerando que temos uma eficiência ƞ = 0,8 e uma irradiação de
, utilizando a equação 10, temos que a potência total que precisamos
gerar, sendo de:

105
Assim, a quantidade necessária de potência para este sistema residencial, para
gerar 6,6 kWh/dia, é de 1,96 kWp.

Semelhante ao que fizemos no sistema on-grid, para o cálculo da quantidade


de painéis (NP), você deverá levar em conta a potência total necessária (PT) e dividir pela
potência individual (unitária) de cada painel (PP) (equação 5).

Assim, supondo que, dessa vez, tenhamos um painel de menor potência, como
um painel de 265 W, temos que:

Dessa forma, a quantidade de painéis necessária que utilizaremos será de 8


painéis, para que nosso sistema não fique subdimensionado.

Recalculando a potência total gerada pelos 8 painéis, temos:

Assim, a potência total do nosso sistema é de 2,12 kWp.

2.2.3 Configuração dos módulos


A configuração dos módulos fotovoltaicos irá dispor sobre a corrente máxima que
será fornecida por eles ao controlador de carga. Como optamos por 8 painéis, faremos
uma ligação de 2 painéis em série e 4 painéis em paralelo, conforme figura a seguir:

106
FIGURA 28 – CONFIGURAÇÃO DE 8 PAINÉIS FOTOVOLTAICOS, SENDO 2 CONECTADOS EM SÉRIE E 4
CONECTADOS EM PARALELO

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3bsLbop>. Acesso em: 10 abr. 2022.

Para o cálculo da corrente máxima fornecida pelo módulo, deve-se olhar o valor
da corrente de curto-circuito, informado pelo fabricante. A corrente máximo produzido
pelo sistema fotovoltaico será dado pelo somatório das correntes de cada módulo, ou
seja, o produto do número de painéis em paralelo (NPP) pela corrente de curto-circuito
(IC), conforme equação a seguir.

(17)

Para o exemplo em tela, consideramos uma corrente de 8,41 A. Assim, temos que:

2.2.4 Controlador de carga


Como vimos anteriormente, o controlador de carga é o aparelho responsável
por garantir o fluxo de energia entre os painéis e o banco de bateria. Basicamente é o
responsável por carregar a bateria. Pode ser do tipo MPPT ou PWM.

Devemos utilizar um coeficiente de segurança no controlador, para que a


corrente máxima fornecida pelos módulos não exceda a corrente máxima do controlador
de carga (ICC). De modo geral, o fator FS utilizado é, normalmente, de 30%, ou seja, FS =
1,3 (VILLALVA; GAZOLI, 2012).

(18)

107
Sendo assim, temos que:

DICA
Para o cálculo do inversor, deverá ser seguida a mesma lógica para o sistema
on-grid.

108
LEITURA
COMPLEMENTAR
Módulos Fotovoltaicos – Perdas por Mismatch em Sistemas Fotovoltaicos

João Paulo de Souza

O que é o mismatch? Quando e por qual razão ele ocorre?

Uma das principais fontes de perdas em um sistema fotovoltaico é o mismatch


(também chamado de incompatibilidade ou descasamento) entre as quantidades de
energia geradas por dois ou mais módulos dentro de um arranjo fotovoltaico. A Figura
1 representa a operação do MPPT em sistemas tradicionais. Os módulos fotovoltaicos
de 250Wp conectados em série não podem operar em seu ponto de máxima potência
individual porque a corrente é forçada a ser igual em todos os módulos da string.

Figura 1 – Sistema fotovoltaico tradicional com módulos de 250Wp em série

Ao invés do sistema disponibilizar 987W de potência, ele irá disponibilizar 968W,


como se todos os 4 módulos estivessem operando em 242W, pois é neste ponto que o
MPPT de um inversor tradicional irá operar. Dessa forma, um sistema que deveria estar
produzindo 987W – não 1000W – passa a produzir 968W, ou seja, a perda está sendo de
19W. Lembrando que até aqui estamos falando apenas de potência (W), pois devemos
considerar a perda de energia (kWh) que será cumulativa ao longo do tempo. Segue uma
lista com alguns exemplos de fontes de mismatch:

109
1. Sujeira

Em campo, cada módulo tem sua própria eficiência de produção de energia. Esse
desempenho varia e depende de vários fatores. Dentre eles, a sujeira provocada por folhas
e fezes de animais fará com que o mismatch (diferença da produção de energia) entre os
módulos e aumente todos os anos – resultando em perda de energia do sistema.

Figura 2 – Sujeira acumulada em módulos fotovoltaicos.

Por isso, limpezas periódicas devem ser programadas em função da sujeira


acumulada nos módulos.

2. Poeira

Embora aparentemente se trate do mesmo caso da sujeira, diversos trabalhos


diferenciam poeira de sujeira como fontes de mismatch e este artigo não fará diferente.
A poeira pode inclusive afetar de maneira diferente as tecnologias de módulo FV
utilizadas no projeto.

Nos módulos de silício cristalino, o sombreamento vertical é menos prejudicial.


Já nas tecnologias de filme fino, ocorre o oposto. Portanto, a quantidade de particulados
presentes no ambiente e o regime dos ventos predominantes na localidade, somados à
disposição dos módulos (paisagem ou retrato), no arranjo, certamente provocarão uma
diferença de produção de energia entre os módulos.

3. Degradação desigual dos módulos

Os módulos não funcionam no seu ponto de potência máxima durante toda a


vida útil do sistema. O desempenho do módulo poderá degradar até 20% ao longo de
20 anos. Contudo, cada módulo tem uma degradação diferente, mesmo que tenham
sido produzidos na mesma fábrica, o que acarreta em mismatch por envelhecimento.
Segundo Skoczek et al., um módulo depreciou 13%, enquanto um outro depreciou
apenas 2%, mas o módulo que depreciou 13% nivela por baixo a potência da string,
causando perda de energia, conforme mostra a Figura 3.

110
Figura 3 – Percentual de perda de energia por mismatch de degradação de módulos

Além disso, quando um módulo com defeito é substituído por um módulo novo,
mesmo que de mesma potência STC, a incompatibilidade é inevitável quando conectado
aos demais módulos. Isso, porque o módulo novo não sofreu os efeitos da degradação,
enquanto os módulos mais antigos sim.

4. Tolerância de fabricação (Potência STC)

A tolerância de potência de saída garantida pelos fabricantes de módulos pode


variar muito. Uma variação padrão de 3% é suficiente para resultar em aproximadamente
2% de perda de energia.

5. Danos de transporte

Além disso, a probabilidade de surgirem microfissuras ou outros danos durante


os processos de transporte e armazenagem podem contribuir ainda mais para a variação
de potência de saída garantida pelos fabricantes.

6. Projeto

O mismatch de projeto é um dos maiores problemas enfrentados pelos


projetistas. É com o objetivo de se evitar ao máximo todas as fontes de mismatch de
projeto que os projetistas de sistemas fotovoltaicos com inversores centrais ou de string
devem atender a uma série de requisitos como:

• Usarem o mesmo tipo de módulo e mesma potência STC.


• Todas as strings conectadas no mesmo MPPT precisam ter o mesmo comprimento.
• Os módulos precisam estar posicionados na mesma orientação e inclinação.
• Evitar pontos da instalação com sombreamento parcial, dentre outros.

111
7. Temperatura

O mismatch térmico, nesse caso, não deve ser confundido com as perdas por
temperatura. A diferença de temperatura entre os módulos pode criar um mismatch de
módulos e causar grandes perdas de energia. No exemplo da Figura 4, a temperatura
diminui de y = 0 m para y = 7,8 m (superior direito) em cerca de 13°C, devido transferência
de calor por convecção [3]. Mesmo um ligeiro gradiente de temperatura dentro de cada
módulo é visível, o que é cerca de 3 - 5°C.

Figura 4 – Imagem infravermelho aérea de um sistema fotovoltaico

Supondo um coeficiente de temperatura relacionado à potência de 0.43 %/°C,


as perdas por mismatch térmico representam 5,59%.

9. Sombreamento parcial e vegetação

O crescimento de árvores ou vegetação em locais onde existe um sistema


fotovoltaico pode fazer com que sejam feitas podas ou capinas periódicas, pois a
vegetação pode provocar sombreamento em pontos da instalação.

Figura 5 – Exemplos de sombreamento parcial de módulos fotovoltaicos

112
É um tipo de mismatch tão corriqueiro que muitas vezes os instaladores e
usuários acreditam ser a única fonte de incompatibilidade possível, o que não é verdade.

10. Nuvens

Os efeitos da cobertura de céu afetam diretamente nos valores das irradiações


global, difusa e direta infravermelha e do espectro total. Além das nuvens, a nebulosidade
e as precipitações afetam diretamente na produção individual dos módulos, pois esse
efeito não é uniforme sobre o arranjo. Embora a dinâmica do MPPT seja da ordem de
milissegundos, a dinâmica das nuvens de segundos ou minutos, ou seja, muito mais
lenta. Portanto, a não ser que os céus de sua cidade estejam protegidos por alguma
magia que impeça a formação de nuvens, certamente haverá aquela nuvenzinha negra
para provocar perdas por mismatch.

Resumo da Ópera

Isto significa que, mesmo que um sistema não apresente um sombreamento pro-
vocado por obstáculos presentes no telhado ou por outras edificações vizinhas, nenhum
sistema estará imune às outras fontes de mismatch. A Figura 6 apresenta um sistema
susceptível a pelo menos 9 fontes de mismatch. Você conseguiria enumerar quais são?

Figura 6 – Exemplo de um sistema fotovoltaico com variadas fontes de mismatch

É possível reduzir ou eliminar as perdas por mismatch?

As perdas de potência associadas ao efeito do mismatch representam


aproximadamente 10% da potência total gerada. Essas perdas estão na faixa de perdas
de potência associadas ao efeito do mismatch publicado em estudos anteriores.
Existem tecnologias promissoras que podem aumentar a eficiência e a confiabilidade
dos sistemas fotovoltaicos em condições de incompatibilidade, como o diodo de bypass
ativo, microinversores e otimizadores de potência.

113
Módulos fotovoltaicos são conectados em série e paralelo a fim de atender às
exigências relativas à tensão CC e corrente de entrada do inversor. No entanto, em
sistemas tradicionais, a potência total CC em tal arranjo é inferior à soma das potências
nominais individuais de cada módulo. As principais razões são incompatibilidade
estática, estresse ambiental e sombreamento.

O primeiro aspecto está relacionado às tolerâncias de fabricação e


envelhecimento dos módulos conectados no arranjo. O segundo aspecto refere-se ao
efeito de defeitos no módulo devido às condições climáticas.

Incompatibilidades dinâmicas ocorrem quando os módulos operam longe de


seu ponto de máxima potência. Os módulos fotovoltaicos conectados em paralelo ou
em série não podem operar em seu ponto de máxima potência individual porque a
tensão (em caso de conexão paralela) ou corrente (no caso de conexão em série) são
forçadas a serem iguais em todos os módulos da string.

Os arranjos fotovoltaicos são suscetíveis a grandes perdas de energia, devido


ao sombreamento parcial. O sombreamento parcial é causado por barreiras de luz como
árvores, chaminés, obstruções no telhado, linhas de energia, detritos, poeira e excre-
mentos de pássaros. Além disso, o mismatch também pode ocorrer se os módulos foto-
voltaicos estiverem instalados em orientação ou inclinação diferentes. Quando se trata
de strings conectadas em série, a maior corrente do arranjo é igual à corrente do módulo
com o menor desempenho e isso reduz significativamente a eficiência do módulo.

Quando parte do módulo é sombreado, as células sombreadas produzirão me-


nos corrente que as células não sombreadas. Como todas as células estão conectadas
em série, a mesma quantidade de corrente deve fluir por todas as células. As células não
sombreadas irão forçar a célula sombreada a conduzir mais corrente do que a sua nova
corrente de curto-circuito. A célula sombreada irá operar na região de polarização reversa
para corresponder a essa condição e causar uma perda de energia no sistema. O produ-
to da corrente e da tensão negativa fornece a energia dissipada pelas células sombrea-
das. Essa potência é dissipada em forma de calor e, portanto, causará hot-spots (pontos
quentes). A probabilidade de que algumas células no módulo ou alguns módulos na string
sejam capazes de fornecer correntes consideravelmente diferentes em condições opera-
cionais é muito alta e não pode ser ignorada. Isso pode causar um efeito de incompatibili-
dade significativo. Além disso, a potência e a eficiência da string serão reduzidas. Por isso
é importante estudar o efeito do mismatch em aplicações fotovoltaicas.

Conclusão

O mismatch de módulos fotovoltaicos sempre existirá, não importa o que você


faça, pois ele é uma característica intrínseca do sistema fotovoltaico. Quando falamos
em minimizar ou eliminar as perdas, lembre-se do exemplo da Figura 1.

114
Portanto, as diferentes tecnologias para reduzir as perdas por sombreamento
parcial e eliminar as perdas por mismatch de módulos fotovoltaicos são:

1. Microinversores
2. Otimizadores de potência
3. Diodo de bypass ativo

Dentre essas três tecnologias, as duas primeiras podem ser encontradas


facilmente no mercado brasileiro.

FONTE: ECORI. Energia Solar. Módulos Fotovoltaicos – Perdas por Mismatch em Sistemas Fotovoltaicos.
2019. Disponível em:https://bit.ly/3zuL9V2. Acesso em: 5 abr. 2022.

115
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Para o cálculo da quantidade de painéis, o primeiro ponto é levantar a quantidade de


energia consumida por um determinado período.

• A irradiação solar diária média é dada em h/dia (horas/dia) e, normalmente, é um


dado tabelado, que você pode encontrar em sites especializados de confiança.

• Quanto maior for a inclinação do painel, maior será a geração nos meses de inverno,
em detrimento ao verão.

• Se essa inclinação do painel tende a 0°, geração de energia no verão será


favoravelmente maior que a geração de energia no inverno.

• O rendimento, também denominado coeficiente de desempenho, está associado às


perdas energéticas.

• É no momento do dimensionamento das baterias que devemos levar em conta a


autonomia do sistema.

• Para o cálculo da capacidade total do banco de baterias, devemos levar em conta a


energia consumida e a tensão do banco de baterias.

116
AUTOATIVIDADE
1 Um ponto importante durante o cálculo do dimensionamento, é analisar o tipo de
ligação, em que esta pode ser monofásica, bifásica ou trifásica, pois haverá um custo
de disponibilidade mínimo para uma residência, dependendo do tipo de ligação. Nesse
sentido, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Em uma ligação bifásica, o consumo mínimo deverá ser de 20 kWh.


b) ( ) O consumo mínimo de uma ligação monofásica é de 30 kWh.
c) ( ) O consumo mínimo de uma ligação trifásica é menor que o de uma ligação
bifásica, que é menor que o de uma ligação monofásica.
d) ( ) Em uma ligação trifásica, o consumo mínimo deverá ser de 50 kWh.

2 O Rendimento (η) de um sistema fotovoltaico conectado à rede, também denominado


coeficiente de desempenho, está associado às perdas energéticas. Sobre os motivos
de perda de desempenho, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para falsas:

( ) Temperatura (devido ao aquecimento dos painéis).


( ) Sombreamento.
( ) Limpeza dos painéis.
( ) Efeito Joule nos cabeamentos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) F – F – V – V.

3 No momento do dimensionamento das baterias, é imprescindível o levantamento de


algumas variáveis do nosso sistema. O dimensionamento do banco de baterias de um
sistema off-grid deve considerar:

I- O consumo diário de energia.


II- O número de dias que o banco de bateria pode atender o consumo.
III- A profundidade do ciclo de descarga da bateria.

117
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença I está correta.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

4 No momento do dimensionamento das baterias, devemos levar em conta a autonomia


do nosso sistema. De modo geral, podemos associar as baterias em série ou em
paralelo. Nesse caso, como devemos proceder quando o objetivo é aumentar, ao
mesmo tempo, a tensão e a capacidade de corrente?

5 Para referenciar nossa posição na terra, utilizamos a linha do Equador (horizontal no


globo terrestre) e o Meridiano de Greenwich (vertical em relação ao globo terrestre).
Assim, em termos a Latitude e a Longitude. Nesse sentido, explique o que é a Latitude
e o que é a Longitude.

118
REFERÊNCIAS
BRITO, S. S. Energia solar princípios e aplicações. Centro de Referência para
Energia Solar e Eólica, 2003.

O que é latitude e longitude? Disponível em: https://bit.ly/3BEZK38. Acesso em: 4


abr. 2022.

PINHO, J. T. et al. Manual de engenharia para sistemas fotovoltaicos. Rio de


Janeiro, v. 1, p. 47-499, 2014.

Resolução Normativa ANEEL nº 414, de 9 de setembro de 2010. Disponível em:


https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=112868. Acesso em: 31 mar. 2022.

SOUZA D. F.; FRISSO, G. L; BRANDAO, M. V. A utilização do silício nacional para a


fabricação de placas solares: uma reflexão das dificuldades tecnológica e financeira.
In: VII Congresso Brasileiro de Energia Solar-CBENS. Anais [...], 2018.

VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e


aplicações. São Paulo: Érica, 2012.

119
120
UNIDADE 3 —

SISTEMAS SOLARES
TÉRMICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o funcionamento do sistema solar térmico, as vantagens e


desvantagens do aquecimento solar, e a classificação dos sistemas solares térmicos;

• diferenciar o sistema solar térmico do sistema fotovoltaico e os tipos de coletores


solares e concentradores solares;

• conhecer os componentes de um sistema solar térmico;

• calcular o dimensionamento de um sistema de aquecimento solar térmico.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TIPOS DE COLETORES SOLARES TÉRMICOS


TÓPICO 2 – COMPONENTES DE UM SISTEMA SOLAR TÉRMICO
TÓPICO 3 – DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS SOLARES TÉRMICOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

121
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

122
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
TIPOS DE COLETORES SOLARES TÉRMICOS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos início aos nossos aprendizados sobre tipos de
coletores solares térmicos. Neste primeiro tópico da Unidade 3, a intenção é fazer você
compreender e diferenciar o sistema solar térmico do sistema solar fotovoltaico, bem
como entender as vantagens da energia solar térmica.

Acadêmico! Você sabia que o chuveiro é um dos aparelhos que mais consome
energia elétrica? É isso mesmo, e como é bom tomar um banho quente ao final do dia!
Mas, para economizar na conta de energia elétrica, e, ao mesmo tempo, preservar o
meio ambiente, podemos optar pela instalação de sistemas solares para aquecimento
de água. Assim, ao longo deste tópico, também veremos os diferentes tipos de coletores
solares e concentradores solares utilizados nos sistemas de aquecimento solar.

A compreensão deste tópico é fundamental para entender os componentes


de um sistema solar, assim como dimensionar um sistema de aquecimento, que serão
estudados nos próximos tópicos desta unidade.

2 ENERGIA SOLAR TÉRMICA


Na Unidade 2, estudamos a energia solar fotovoltaica, que funciona por meio
do “efeito fotovoltaico”, convertendo a radiação solar em eletricidade através de
materiais semicondutores. Nesta Unidade 3, estudaremos a energia solar térmica,
não necessariamente corresponde à geração de eletricidade, mas é considerada uma
das formas mais comuns de utilização de energia solar, na qual os coletores solares
transformam a radiação solar em energia térmica para aquecimento de água em
edificações, ou, também, para o aquecimento de piscinas. Em outras palavras, pode-se
dizer que a energia solar térmica é uma maneira sustentável e eficiente de garantir água
aquecida sem utilizar eletricidade.

Acadêmico, antes de estudarmos os tipos de coletores solares, vamos entender


como se deu o início do aquecimento solar! Com a crise do petróleo nos anos de 1970,
começou a surgir, no Brasil, o sistema de aquecimento solar, mas, nesse período, ainda
não havia profissionais no mercado para implantar essa tecnologia. Porém, em 1980,
deu-se início à profissionalização dessa área, em razão da entrada dos primeiros testes
de equipamentos e com as primeiras normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas), relacionadas a esse setor.

123
Na década de 1990, teve-se um aumento no mercado de sistemas solares
térmicos, em razão da qualidade dos equipamentos e a redução do preço, assim
popularizando os sistemas de aquecimento solar.

De acordo com a ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração, ar-


condicionado, ventilação e aquecimento e o DASOL – Departamento Nacional de
Aquecimento Solar (2014, p. 8), existem inúmeras vantagens de utilizar a energia solar
térmica para aquecimento de fluídos, entre as vantagens, podemos citar:

• É renovável, isto é, nunca acaba.


• É uma energia limpa, ou seja, não gera poluentes. Cada kWh
de água quente produzido pelo sistema evita o uso de formas
poluentes de energia.
• A energia solar térmica é considerada uma das formas mais baratas
de produção de energia no Brasil, aumentando a capacidade
energética do país e sua competitividade. Com relação aos
custos do sistema solar, um equipamento constituído de 2 m² de
coletor solar e reservatório térmico de 200 litros, dimensionado
e compatível para uma residência de 4 pessoas, apresenta um
valor instalado de cerca de R$ 1.750,00. Esse investimento, para o
consumidor, é compensado mensalmente em razão da economia
de energia elétrica, sendo totalmente amortizado em um período
de aproximadamente 2 anos.
• Excelente para ser instalado em lugares remotos ou em áreas
afastadas e ainda não eletrificadas.
• A energia gerada por meio do aquecimento solar custa menos que a
energia produzida por termoelétricas, além do sistema solar produzir
energia diretamente na casa do consumidor, com emissão zero de
poluentes e diminuição no custo da conta de energia, uma vez que
deixará de utilizar as fontes convencionais para aquecer fluídos.

A Figura 1 apresenta os benefícios de instalação de cada m² de coletor solar:

FIGURA 1 – COM CADA “m²” DE COLETOR SOLAR INSTALADO, TEM-SE AS SEGUINTES VANTAGENS

FONTE: Abrava (2014, p. 8)

124
Dentre as desvantagens desse sistema, temos:

• Dependência do clima, ou seja, em estações com pouco sol ou muita chuva, o


coletor solar não recebe energia suficiente para aquecer água.
• Redução da eficiência em cidades grandes. Em razão da poluição, os coletores perdem
eficiência, pois as poeiras e gases aumentam o espalhamento da radiação solar.
• Os coletores solares são elevados, porém o aquecimento solar é mais barato quando
comparado ao sistema de energia fotovoltaica.

CURIOSIDADE
Aquecedor solar ou sistema fotovoltaico para geração de energia elétrica?
Essa é uma questão bastante importante a ser considerada e uma comparação
interessante de se fazer quando o assunto é o uso do calor do sol para
aquecimento e geração de energia. A primeira coisa a fazer é diferenciar um
do outro, ou seja, qual é a diferença entre os dois?
Os dois utilizam o calor do sol e captação dessa energia através de pla-
cas e painéis solares, que ficam posicionados no telhado da
casa. Contudo, o aquecedor apenas utiliza esse calor para
fazer o aquecimento da água que é transferido para um reservatório
e, assim, utilizado posteriormente. Já o sistema fotovoltaico, utiliza esse
mesmo calor do sol e o transforma em energia elétrica, que é ligada à rede
elétrica e, assim, utilizada como energia comum.
O aquecedor solar é bem mais barato do que um sistema de geração fotovoltaica,
portanto, se a necessidade é apenas o aquecimento da água do chuveiro e
torneiras, creio que o aquecedor já resolva bem e a um custo bem mais baixo.
O sistema fotovoltaico é um pouco mais caro de se instalar, contudo, ele gera
energia que pode ser usada em qualquer aparelho elétrico da casa e não apenas
para resolver um problema pontual do chuveiro ou de torneiras, por exemplo.
Creio que aqui a questão a analisar aqui é financeira. Se você tem condições
financeiras de colocar um sistema fotovoltaico, certamente ele é o melhor
e mais bem aplicado a necessidade geral da casa. Caso contrário, o
aquecedor já ajudará bastante na redução na conta de energia elétrica e
conta com todos os benefícios que foi apontado acima.

FONTE: <https://bit.ly/3BKgDt0>. Acesso em: 24 abr. 2022.

3 CLASSIFICAÇÃO DO SISTEMA SOLAR TÉRMICO


De acordo com a norma NBR 15569 da ABNT, o Sistema de Aquecimento Solar
(SAS) é classificado em seis atributos: arranjo, circulação, regime, armazenamento,
alimentação e alívio de pressão. O Quadro 1 resume essa classificação.

125
QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DO SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR (SAS)

Atributo Categorias
Solar com aquecimento auxiliar, somente solar ou pré-aqueci-
Arranjo
mento solar
Circulação Natural (termossifão) ou forçada
Regime Acumulação ou passagem
Armazenamento Convencional, acoplado ou integrado
Alimentação Exclusiva ou não exclusiva
Alívio de pressão Respiro ou conjunto de válvulas
FONTE: ABNT (2020, p. 18)

Arranjo está relacionado ao sistema utilizar ou não um sistema auxiliar para


dias chuvosos ou nublados, sendo capaz de garantir um serviço específico de água
quente. O arranjo com pré-aquecimento solar é quando não se atinge a temperatura
final de uso, ou seja, o aquecimento solar é utilizado para realizar um pré-aquecimento
da água, elevando a temperatura da água para ser utilizada em algum processo.

Circulação pode ser realizada de duas maneiras, circulação forçada e circulação


natural, ou também chamada de termossifão. O sistema de circulação natural (Figura 2)
utiliza o arranjo físico para promover a circulação da água de forma natural, ou seja, com
o uso da termodinâmica e da força da gravidade, fazendo com que a água quente (mais
densa, e, portanto, mais leve) suba naturalmente para o reservatório, e a água fria (com
maior densidade, e, portanto, mais pesada) desça para o painel solar.

FIGURA 2 – CIRCULAÇÃO NATURAL, OU TAMBÉM CHAMADA DE TERMOSSIFÃO

FONTE: <https://bit.ly/3vBHK5S>. Acesso em: 24 abr. 2022.

126
O sistema de circulação forçada (Figura 3) utiliza bombeamento hidráulico,
e, geralmente, são utilizados em piscinas, sistemas com grandes volumes de água,
ou, também, quando o local não é propício para a instalação de circulação natural.
Nesse sistema, o bombeamento hidráulico força a passagem da água pelos coletores
e conduzindo até o reservatório térmico. Esse sistema é automático, apresentando
sensores de temperatura que controlam a circulação de água, por exemplo, quando a
temperatura nos coletores for superior a 5°C, quando comparada ao reservatório térmico,
o termostato ativa a bomba, conduzindo a água quente do coletor para o reservatório, e
a mais fria do reservatório aos coletores. Importante destacar que a caixa d’água deve
ficar acima do reservatório térmico, com uma altura de aproximadamente 15 cm. Além
disso, é fundamental que o reservatório fique próximo dos coletores, a fim de minimizar
as perdas de calor pela tubulação.

FIGURA 3 – CIRCULAÇÃO FORÇADA

FONTE: <https://bit.ly/3OTjwuF>. Acesso em: 24 abr. 2022.

ESTUDOS FUTUROS
O sistema de aquecimento solar é composto basicamente por dois elementos
principais, coletores solares e reservatório térmico. No Tópico 2, veremos,
com detalhes, todos os componentes do sistema solar.

Dando continuidade à classificação dos SAS, temos que o Regime de utilização


da água, pode ser por acumulação ou passagem. No regime de passagem, quando a
água é aquecida e já é utilizada. Por outro lado, no regime de acumulação, é armazenado
água quente para ser utilizado em outros horários.

127
Armazenamento pode ser dividido em convencional, acoplado ou integrado.
Convencional é quando o reservatório é separado do coletor e localizado a uma certa
distância, acoplado é quando o reservatório está junto do coletor ou muito próximo, e
integrado é quando reservatório e coletor são um único arranjo, ou seja, as funções do
coletor e armazenamento são executadas dentro do mesmo dispositivo.

Alimentação de água fria pode ser dividida em exclusiva ou não-exclusiva. Exclu-


siva é quando o sistema de alimentação de água fria fornece somente para o SAS. Não-ex-
clusiva é quando o sistema de alimentação de água fria abastece o SAS e outros pontos.

Alívio de pressão é considerado um atributo obrigatório para toda instalação


de SAS, esse alívio de pressão pode ser através do respiro (tubo ascendente interligado
ao reservatório térmico, semelhante ao apresentado na Figura 3, ou por um conjunto de
válvulas (a saída de ar e vapor é executada por dispositivos mecânicos).

4 TIPOS DE COLETORES
Coletores solares são dispositivos que absorvem radiação solar e transformam
em energia térmica. Há uma grande variedade de coletores solares no mercado, como
coletores vidrados (que possuem uma cobertura transparente de vidro) e os não
vidrados, ou também chamado de abertos.

Além disso, os coletores solares podem ser produzidos em modelos verticais e


horizontais, conforme figura a seguir. A definição de qual modelo utilizar irá depender do
tipo de aplicação e funcionamento do sistema.

FIGURA 4 – MODELOS DE COLETORES VERTICAIS E HORIZONTAIS

FONTE: <https://bit.ly/3bwhp2e>. Acesso em: 24 abr. 2022.

Dentro da categoria dos coletores vidrados, podemos citar os coletores planos e


coletores de tubo de vácuo. A seleção dos coletores solares está relacionada a temperatura
e a aplicação do fluído. A seguir, estudaremos com detalhe cada um desses coletores.

128
4.1 COLETOR SOLAR PLANO
O coletor plano é, geralmente, destinado a aquecer água em temperaturas
compatíveis para uso em sanitário e outras aplicações. O coletor plano é constituído de
diversos elementos, conforme mostra a figura a seguir.

FIGURA 5 – COLETOR PLANO VIDRADO (FECHADO)

FONTE: <https://bit.ly/3bsDBua>. Acesso em: 24 abr. 2022.

Conforme pode ser observado na figura anterior, temos que:

• O vidro transparente garante a passagem da radiação solar, além disso, reduz as


perdas de calor por convecção entre o coletor e o meio ambiente. A característica
mais importante no vidro é a transmissividade, ou seja, quanto mais transmissivo,
maior é a captação de radiação solar. Além dessa característica, em países onde há
variações bruscas de temperatura, o vidro deve ser temperado, a fim de resistir à
pressão do cento, peso da neve, por exemplo, e a choques térmicos. É possível tam-
bém utilizar material plástico, desde que esse material seja resistente às variações
de temperatura e à radiação ultravioleta.
• Placa absorvedora absorve parte da radiação solar e transfere para a água. A fim de
garantir eficiência na absorção dos raios solares, a placa absorvedora deve ser pin-
tada com tinta preta (podendo reter até 95% de toda a radiação que incide).
• Isolamento térmico reduz as perdas de calor entre a placa absorvedora e a caixa
externa.
• Caixa tem a função de proteger todos os elementos do coletor solar da ação do meio
ambiente.
• Tubulação do fluído conduz o fluído a ser aquecido e transfere a energia absorvida
pela placa absorvedora. Geralmente, a tubulação é fabricada em material metálico,
em razão de se ser um bom condutor de calor.

129
4.2 COLETOR DE TUBO DE VÁCUO
Coletores solares do tipo tubos de vácuo são utilizados em locais com pouca
radiação solar ou em clima muito frio, ou, ainda, quando existe a necessidade de atingir
temperatura superiores a 100 °C. A diferença desses coletores para os demais é o fato de
apresentarem tubos de vidro transparente e, no seu interior, tubos metálicos, formando
um sistema de isolamento térmico à vácuo, minimizando perdas de calor.

FIGURA 6 – COLETOR SOLAR DE TUBO DE VÁCUO

FONTE: <https://bit.ly/3zUv3p4>. Acesso em: 24 abr. 2022.

Esses coletores são muito empregados na China e nos Estados Unidos. A


desvantagem desse sistema, é o coletor perder o vácuo pela entrada de ar no tubo e
reduzir a eficiência do sistema.

DICAS
Acadêmico, para melhor compreensão do aquecimento solar utilizando
coletor de tubo a vácuo assista ao vídeo: https://bit.ly/3OXdo4r.

4.3 COLETOR SOLAR NÃO VIDRADO OU ABERTO


O coletor solar não vidrado ou aberto (Figura 7) é, geralmente, produzido para
aquecer piscinas, em razão da ausência da cobertura de vidro do isolamento térmico, com
intuito de limitar a temperatura máxima em torno de 40 °C, diferente das temperaturas
elevadas do coletor plano vidrado (ou fechado).

130
FIGURA 7 – COLETOR SOLAR NÃO VIDRADO OU ABERTO

FONTE: <https://bit.ly/3BX7PQT>. Acesso em: 24 abr. 2022.

O coletor solar aplicado para aquecimento de piscinas é constituído de placas em


polipropileno de alta resistência, que realizam a conversão da energia solar em energia
térmica. O funcionamento do sistema de aquecimento de água (Figura 8) consiste,
basicamente, em bombear a água da piscina para os coletores solares, local que ocorre
o aquecimento da água por meio da radiação solar. Posteriormente, a água aquecida
volta para a piscina, e esse ciclo ocorre até a piscina atingir a temperatura desejada.

DICAS
Acadêmico! Para melhor compreensão do aquecimento solar de piscinas
assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wi40nZd1jBY.

FIGURA 8 – FUNCIONAMENTO DO AQUECIMENTO SOLAR DE UMA PISCINA

FONTE: <https://www.soletrol.com.br/produtos/piscinas/>. Acesso em: 24 abr. 2022.


131
CURIOSIDADE
COLETOR SOLAR FEITO COM MATERIAIS RECICLÁVEIS
A demanda por fontes alternativas de aquecedores solares tem crescido nos últimos
anos, devido ao baixo custo para sua construção e a redução no gasto de energia elétrica
residencial em cerca de 20% a 30%.
Para a construção do coletor solar, foram utilizadas 10 caixas tetra pak de 1L. Para recortar
as caixas, foi utilizado um gabarito de 22,5 cm de comprimento (figura a seguir), as caixas
foram cortadas e pintadas com tinta preta fosca, com a finalidade de absorver a maior
quantidade de radiação. Foram utilizados 4 tubos de PVC de 20 mm de diâmetro e 1 metro
de comprimento para fazer as colunas com as garrafas pet; esses tubos foram pintados
com tinta preta fosca. Para a montagem das colunas, foram utilizadas 8 conexões do tipo
tê, com reduções de 20 mm (Figura 9b). Foram utilizados tubos de 32 mm com 10 cm de
comprimento para o distanciamento entre as colunas. Utilizou-se um galão de 20L como
reservatório de água. Foram cortadas as partes inferiores das garrafas pet e feito os cortes
das caixas tetra pak.

GABARITO UTILIZADO NO CORTE DAS CAIXAS TETRA PAK (A) E ESQUEMA DE MONTAGEM DO
SISTEMA DE AQUECIMENTO COM O ENCAIXE DAS PEÇAS CORTADAS E PINTADAS NO INTERIOR DAS
GARRAFAS PET (B)

As conexões em tê e os joelhos também foram pintados de preto fosco, para uma maior
absorção do calor solar. Primeiramente, montamos a parte de cima e, com uma cola para
PVC, colamos os tubos e suas conexões. Foram montadas as quatro colunas com o tubo
de PVC com diâmetro de 20 mm e os espaçamentos entre eles com canos de 32mm. Para
o encaixe dos tubos, foram utilizadas conexões em tê e reduções. Logo em seguida, foram
encaixadas as garrafas nos tubos de 22 mm, já com as caixas tetra pak encaixadas com o
lado pintado virado para cima para um melhor aproveitamento do calor solar (figura a seguir).

DETALHE DA MONTAGEM DO AQUECEDOR; 1 – CONEXÃO TÊ DE 32 mm; 2 – REDUÇÃO PARA 20


mm; 3 – CANO DE PVC DE 32 mm; 4 – CANO DE PVC DE 20 mm.

132
Depois das garrafas já encaixadas, foram colados os outros espaçamentos,
conexões e as reduções do lado de baixo dos tubos. Na parte de cima do
lado direito, encaixamos um tubo de 32 mm o qual tem finalidade de levar
a água fria do galão de 20L para o aquecedor e, do lado direito, foi colocado
um tampão de PVC, para que a água não saia. Já na parte de baixo, no lado
esquerdo, foi colocado um tubo de 32 mm para levar a água já aquecida para
uma torneira. No lado direito, foi colocado outro tampão, também para a água
não derramar. A finalidade dos tampões terem sidos encaixados um do lado
direito na parte superior e o outro na parte esquerda do lado inferior é para
a água circular normalmente em todas as colunas.

FONTE: MARTINS, D. A. et al. Coletor solar feito com materiais recicláveis. VI Jornada
Acadêmica. Anais [...], v. 6, n. 1, 2012. Disponível em: https://www.anais.ueg.br/index.
php/jaueg/article/view/6388. Acesso em: 7 jun. 2022.

5 CONCENTRADORES SOLARES
Existem quatro tipos de configuração que se encaixam nos concentrados
solares: torre solar, concentradores parabólicos, concentrador Fresnel, sistema Stirling.

A torre solar é constituída por um conjunto de espelhos (também chamado


de heliostatos) ao redor de uma torre central, que contém o fluído a ser aquecido. Os
espelhos acompanham o movimento do Sol durante o ano e refletem seus raios solares
para a torre que fica no centro do conjunto de heliostatos.

FIGURA 9 – TORRE SOLAR

FONTE: <https://bit.ly/3BKsffA>. Acesso em: 24 abr. 2022.

O fluído presente na torre pode atingir temperaturas de aproximadamente 2000


°C, gerando vapor que é aproveitado para mover uma turbina e gerar energia mecânica
e, posteriormente, energia elétrica.

133
CURIOSIDADE
Israel constrói a maior torre de energia solar do mundo em seu deserto.
Atualmente, a torre Ashalim é a mais alta do mundo em um projeto de energia solar térmica
concentrada (Concentrating Solar Power – CSP). A torre é envolvida por 50.600 espelhos controlados
por computadores e distribuídos por uma área de 3 km². Os espelhos acompanham a movimentação
do sol, fazendo com que a luz solar reflita sobre uma caldeira, localizada no alto de uma torre, durante
o maior período possível do dia.
Localizada nas areias do deserto do Negev, no sul de Israel, a torre possui 250 metros de altura,
semelhante a um prédio de 50 andares. A torre da usina solar de Ashalim retrata o empenho dos
israelenses em prol da produção de energia solar. A intensão é que até 2020 10% da energia do país
seja por meio de fontes renováveis. Atualmente, esse percentual é de 2,5%.
A torre funcionará por meio de radiação solar infravermelha capturada pelos espelhos e refletida
através deles. Dessa maneira, também será criado um processo térmico de vapor, que moverá as
grandes turbinas capazes de gerar energia elétrica limpa, renovável e sustentável. A usina de Ashalim
será capaz de produzir 121 megawatts de energia solar, o suficiente para iluminar 125 mil casas. A
partir daí a emissão anual de 110 mil toneladas de dióxido de carbono será reduzida.
Assim como uma usina de gás ou carvão gera energia através do vapor, a torre terá a mesma capacidade,
no entanto, a energia vinda dela será proveniente do sol e será limpa, isso porque não virá
de combustíveis fósseis, muito prejudiciais ao meio ambiente. Atualmente, existem
somente 10 usinas heliotérmicas com capacidade superior a 121 MW no mundo todo.
A maior delas se encontra no deserto do Mojave, nos Estados Unidos. Chamada de
Ivanpah, a usina foi inaugurada em 2014, com capacidade de 392 MW, possuindo três
torres de 190 metros de altura, que recebem luz de 173.500 heliostatos.

FONTE: <https://bit.ly/3SlBZ65>. Acesso em: 25 abr. 2022.

Concentradores parabólicos (Figura 12) tem o mesmo princípio de funcionamento


da torre central, ou seja, produzir vapor e gerar energia mecânica e, consequentemente,
energia elétrica. Os espelhos possuem seção transversal parabólica, sendo que os raios
solares têm foco que coincide com a tubulação que contêm o fluído. A temperatura do
fluído pode chegar a 1000° C.

FIGURA 10 – CONCENTRADORES PARABÓLICOS

FONTE: <https://heat-changers.com/pt-br/>. Acesso em: 24 abr. 2022.

134
O concentrador Fresnel é composto de vários espelhos planos distribuídos ao
redor de um tubo, que tem a função de focalizar os raios solares. Os espelhos devem
se inclinar de acordo com o movimento do Sol, veja que cada espelho tem um ângulo
de inclinação diferente e pode ficar mais próximos um do outro, otimizando a área. A
temperatura do fluído pode chegar a, aproximadamente, 300 °C.

FIGURA 11 – CONCENTRADOR FRESNEL

FONTE: <https://bit.ly/3oSkTPt>. Acesso em: 24 abr. 2022.

Sistema Stirling são espelhos no formato de discos parabólicos, a radiação é


concentrada em um ponto onde fica o receptor solar, o fluído localizado no receptor
é aquecido a altas temperaturas (podendo chegar a 750 °C), que são destinadas a
secagem de grãos ou para produção de vapor, ou seja, a energia térmica absorvida
no receptor gera vapor e transfere para um motor Stirling, que produz trabalho e, com
auxílio de um gerador, pode gerar eletricidade. O motor Stirling (inventado por Robert
Stirling) é considerado um motor de combustão externa, que realiza trabalho mecânico
com base no ciclo Stirling.

135
FIGURA 12 – SISTEMA STIRLING OU DISCO PARABÓLICO

FONTE: <https://bit.ly/3JsH3kV>. Acesso em: 24 abr. 2022.

CURIOSIDADE
Um motor Stirling movido à energia solar utiliza a energia térmica para
aquecer o fluido de trabalho, o qual sofre expansão, realizando um
movimento linear do pistão, que gera um movimento rotacional em um
gerador que produz eletricidade.

FONTE: <https://bit.ly/3JsH3kV>. Acesso em: 24 abr. 2022.

Caro acadêmico, neste tópico iniciamos a nossa jornada de estudos sobre


energia solar térmica, sua diferença com relação ao sistema solar fotovoltaico, bem
como os tipos de coletores solares e concentradores solares.

136
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A energia solar térmica é uma maneira sustentável e eficiente de garantir água


aquecida sem utilizar eletricidade.

• Com a crise do petróleo nos anos de 1970, começou a surgir, no Brasil, o sistema de
aquecimento solar.

• O Sistema de Aquecimento Solar (SAS) é classificado (de acordo com a norma NBR
15569 da ABNT) em seis atributos: arranjo, circulação, regime, armazenamento,
alimentação e alívio de pressão.

• Coletores solares são dispositivos que absorvem radiação solar e transformam em


energia térmica.

• Há uma grande variedade de coletores solares no mercado, como coletores vidrados


(que possuem uma cobertura transparente de vidro) e os não vidrados, ou também
chamado de abertos.

• Os coletores solares podem ser produzidos em modelos verticais e horizontais. A


definição de qual modelo utilizar irá depender do tipo de aplicação e funcionamento
do sistema.

• Existem quatro tipos de configuração que se encaixam nos concentrados solares:


torre solar, concentradores parabólicos, concentrador Fresnel, sistema Stirling.

137
AUTOATIVIDADE
1 Conforme estudamos, a energia solar térmica é uma maneira sustentável e eficiente
de garantir água aquecida sem utilizar eletricidade, no qual os coletores solares
transformam a radiação solar em energia térmica para aquecimento de água em
edificações, ou, também, para o aquecimento de piscinas. Dentro desse contexto,
disserte sobre as vantagens da energia solar térmica.

2 Existe uma grande variedade de coletores solares no mercado, como coletores


vidrados (que possuem uma cobertura transparente de vidro) e os não vidrados, ou
também chamado de abertos. Dentro desse contexto, disserte sobre os coletores
solares planos (vidrados), bem como os componentes desse sistema.

3 O Sistema de Aquecimento Solar (SAS) é classificado em seis atributos: arranjo,


circulação, regime, armazenamento, alimentação e alívio de pressão, de acordo com
a norma NBR 15569 da ABNT. Dentro desse contexto, no que diz respeito ao atributo
"arranjo", classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O arranjo pode ser realizado de duas maneiras: circulação forçada e circulação


natural, ou também chamada de termossifão.
( ) Arranjo está relacionado ao sistema utilizar ou não um sistema auxiliar para dias
chuvosos ou nublados, sendo capaz de garantir um serviço específico de água
quente.
( ) O arranjo possui três categorias: solar com aquecimento auxiliar, somente solar ou
pré-aquecimento solar

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – V – V.

4 Conforme estudamos neste tópico, o SAS pode ser dividido em vários atributos,
sendo eles :arranjo, circulação, regime, armazenamento, alimentação e alívio de
pressão, de acordo com a norma NBR 15569 da ABNT. Dentro desse contexto, no
que diz respeito ao atributo "armazenamento", classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

138
( ) Armazenamento pode ser dividido em convencional, acoplado ou integrado.
( ) Acoplado é quando o sistema de alimentação de água fria fornece somente para o
SAS.
( ) Integrado é quando reservatório e coletor são um único arranjo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – V.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – V – V.

5 Arranjo, circulação, regime, armazenamento, alimentação e alívio de pressão, são


atributos do SAS, com base na norma NBR 15569 da ABNT. Dentro desse contexto,
no que diz respeito ao atributo " alívio de pressão", classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) É considerado um atributo obrigatório para toda instalação de SAS.


( ) O alívio de pressão deve ser utilizado somente por meio do respiro – tubo ascendente
interligado ao reservatório térmico.
( ) Alívio de pressão é quando o sistema de alimentação de água fria abastece o SAS
e outros pontos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – F – V.

139
140
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
COMPONENTES DE UM SISTEMA SOLAR
TÉRMICO

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos prosseguimento aos nossos aprendizados sobre
os sistemas solares térmicos. No tópico anterior, já falamos do conceito de energia
térmica solar e sobre os tipos de coletores.

Neste segundo tópico da Unidade 3, iremos nos aprofundar nos demais com-
ponentes de um sistema solar térmico, para que, no último tópico desta unidade, pos-
samos aprender os cálculos envolvidos no dimensionamento desses sistemas solares.

Este estudo será de fundamental importância para que você possa conhecer os
equipamentos envolvidos em um Sistema Solar Térmico, para que futuramente possa
dimensionar corretamente este tipo de sistema.

2 COMPONENTES DO SISTEMA SOLAR TÉRMICO


De modo geral, a NBR 15569 (2020) explícita que em um sistema solar térmico
(SAS) é composto pelos componentes a seguir:

1) Coletor(es) solar(es).
2) Reservatório termossolar.
3) Sistema de aquecimento solar.

Nesse sentido é muito importante que todos os equipamentos envolvidos no


projeto do SAS sejam de boa qualidade, pois todo o sistema estará sujeito a variações de
temperaturas, e o materiais especificados deverão contemplar a dilatação térmica que
os equipamentos estarão sujeitos durante o processo de aquecimento.

Além disso, é imprescindível que as partes móveis do projeto, como tubos e


conexões, sejam projetados para cumprir sua via útil em serviço, para que não ocorra
desgaste excessivo das partes móveis ou deterioração desses componentes. Dessa
forma, os materiais incompatíveis, ou seja, aqueles que tendem apresentar corrosão
dos mais diversos tipos, precisam ser protegidos desses tipos de ataque, através de
tratamentos eficazes, sempre verificando as condições de serviço (NBR 15569, 2020)

141
O quadro a seguir apresenta os componentes e suas funções dentro do SAS.

QUADRO 2 – COMPONENTES GERAIS DO SAS E SUAS FUNÇÕES

Atributo Categorias
Coletor solar Converter energia solar em energia térmica.
Controlar o funcionamento da motobomba hidráulica do
Controlador diferencial de
sistema de aquecimento solar por circulação forçada e
temperatura
eventualmente possui funções de segurança.
Proteger o sistema contra variações de pressão e
Dispositivo de Expansão
expansão volumétrica durante o funcionamento do SAS.
Dreno Possibilitar o escoamento ou drenagem da água do SAS.
Equipamento auxiliar de
Suprir a demanda térmica complementar do SAS.
aquecimento
Minimizar perdas térmicas dos componentes e acessórios
Isolamento térmico
do SAS.
Motobomba Promover a circulação forçada da água pelo SAS.
Reservatório termossolar Acumular energia térmica na forma de água aquecida.
Equalizar pressões positivas e negativas do SAS e permitir
Respiro
a saída de ar e vapor
Medir a temperatura da água em pontos específicos do
Sensor de temperatura
SAS.
Interconectar os componentes e transportar a água
Tubos e conexões
aquecida.
Válvula de segurança de Aliviar automaticamente a pressão do SAS caso a pressão
pressão máxima seja atingida.
Válvula de retenção Não permitir o movimento reverso da água.
Dispositivo de segurança acionado quando a pressão ou
Válvula de segurança de
a temperatura e pressão ou a temperatura ultrapassam
temperatura e pressão
os valores ajustados.
Dispositivo de segurança acionado pela temperatura
Válvula de segurança de
e projetado para abrir automaticamente, quando esta
temperatura
atingir um valor pré-ajustado.
Válvula eliminadora de ar Permitir a saída de ar do SAS.
Aliviar pressões negativas formadas durante o
Válvula quebra-vácuo
funcionamento do SAS, permitindo a entrada de ar.
FONTE: ABNT (2020, p. 8)

Os componentes descritos na tabela anterior podem ser visualizados na Figura


15, em que é apresentado o esquema de um SAS.

142
FIGURA 13 – ESQUEMA DE SISTEMA TERMOSSOLAR FECHADO PARA ATMOSFERA

FONTE: ABNT (2020, p. 8)

3 COLETARES SOLARES
Já falamos bastante sobre os coletares solares no tópico passado, então, vamos
fazer uma breve menção a esse importante componente do SAS, antes de seguirmos.

A seleção dos coletores solares deverá obedecer a alguns parâmetros, a NBR


15569 (2020) lista os seguintes:

• Eficiência térmica.
• Características da localidade a ser instalada.
• Compatibilidade de uso.

No que diz respeito à eficiência dos coletores, é comum o de curva características


de eficiência em função das diferenças de temperatura. A figura a seguir exemplifica
esse tipo de curva característica de três tipos de coletores diferentes.

143
FIGURA 14 – GRÁFICO DA CURVA CARACTERÍSTICA DE EFICIÊNCIA EM FUNÇÃO DA VARIAÇÃO DE
TEMPERATURA DE TRÊS TIPOS DE COLETORES SOLAR

FONTE: Solar Térmico (2004, s.p.).

As curvas típicas da eficiência para diferentes tipos de coletores: absorsor para


piscina de natação, coletor plano e coletor de tubo vácuo com a mesma irradiação
solar global, bem como a área de aplicação. Para ∆T = 0, o coletor absorsor para piscina
apresenta a maior eficiência, no entanto, com aumento da variação da temperatura do
coletor e o ambiente, essa eficiência cai rapidamente, onde o que apresenta menor
queda de eficiência para valores maiores de ∆T é o coletor de tubo de vácuo, apesar de
apresentar uma eficiência menor quanto ∆T = 0. O coletor plano apresenta eficiência
intermediária para ∆T = 0, e uma queda de eficiência também intermediária entre os
outros dois coletores apresentados.

Vale destacar que cada coletor apresenta uma temperatura máxima, que é
quando atinge a temperatura de estagnação, nesse ponto, a eficiência é igual a zero.

ESTUDOS FUTUROS
Fique tranquilo! No tópico seguinte, abordaremos mais esse assunto, ao
tratar do dimensionamento do SAS.

144
3.1 ORIENTAÇÃO GEOGRÁFICA DOS COLETORES SOLARES
A NBR 15569 (2020) recomenda que os coletares solares sejam instalados
sempre para o norte geográfico (NG), podendo ter um desvio máximo de até 30º,
conforme figura a seguir. Essa configuração visa um melhor aproveitamento da energia
solar térmica durante o ano inteiro.

FIGURA 15 – ORIENTAÇÃO GEOGRÁFICA DOS COLETORES SOLARES EM RELAÇÃO AO NORTE


GEOGRÁFICO

FONTE: NBR 15569 da ABNT (2020, p. 24)

Falando a respeito do ângulo de inclinação, a mesma norma recomenda que o


ângulo de inclinação (β) seja 10º maior que a latitude do local, conforme equação a seguir:

(1)

O ângulo de inclinação β está ilustrado na Figura 16.

FIGURA 16 – ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DOS COLETORES SOLARES EM RELAÇÃO À LATIUDE DO LOCAL DE


INSTALAÇÃO

FONTE: NBR 15569 da ABNT (2020, p. 24)

145
4 SISTEMA DE ARMAZANEMANTO
Segundo a NBR 15569 (2020), os sistemas de armazenamentos devem ser
capazes de operar nas faixas de temperatura e pressão estipuladas em projeto, bem
como resistência a radiação ultravioleta, quando exposto ao meio.

IMPORTANTE
Além do citado anteriormente, a NBR 15569 (2020) atende às normas
técnicas a seguir:
• ABNT NBR 10185.
• ABNT NBR 16641.
• Além da legislação em vigor.

Basicamente, o sistema de armazenamento possui um reservatório térmico, onde


este possui a função de armazenar a água quente recebida pelos coletores solares, e,
também, quando for o caso, receber essa água quente do sistema de aquecimento auxiliar,
mantendo-a disponível quente por mais tempo, com baixa perda de calor (OURO FINO, 2016).

Os reservatórios podem ser fabricados em modelos de baixa pressão, suportando


pressões de até 10 mca, ou de alta pressão, suportando pressões de até 40 mca. A
seguir, é apresentada uma figura de um modelo de reservatório térmico.

FIGURA 17 – À ESQUERDA É APRESENTADO O CORTE MOSTRANDO A VISTA DO INTERIOR DO RESERVA-


TÓRIO. À DIREITA É APRESENTADA A VISTA EXTERNA DO RESERVATÓRIO

FONTE: Ouro Fino (2016, p. 8)

146
O reservatório apresentado na figura anterior possui internamente uma
resistência elétrica monofásica, blindada com acionamento automático através de
um termostato de temperatura, pré-regulada em 45 °C. Isso se faz necessário para os
períodos de baixa radiação solar, baixas temperaturas ambientes e em dias de consumo
de água quente acima do previsto.

Ainda sobre o reservatório da figura anterior, é próprio para uso residencial,


para abastecimento com água da rede pública, e seu revestimento interno pode ser
fabricado em aço inox AISI 304 ou AISI 316L. O fabricante faz o alerta que, caso o
reservatório seja utilizado em locais onde a água possa vir a apresentar composição
química mais agressiva, deve ser utilizado o revestimento interno em AISI 316L, visando
impedir corrosão do reservatório. Ele possui capa de proteção fabricada em alumínio,
tampas em material termoplástico, resistente à ação ultravioleta, e isolamento térmico
em poliuretano (PU) (OURO FINO, 2016).

IMPORTANTE
A unidade “mca” significa Metros de Coluna D’água, ou seja, é a pressão exercida por uma
coluna de um metro de altura. Essa é uma medida de pressão muito comum em hidráulica,
conforme ilustra a figura a seguir.

FIGURA ESQUEMÁTICA: 1 M.C.A. EQUIVALE A PRESSÃO QUE UMA QUANTIDADE DE ÁGUA FAZ A
UM METRO DE ALTURA.

FONTE: <https://bit.ly/3So3qvZ>. Acesso em: 30 abr. 2022.

Para converter o mca para outras unidades de pressão, que podem ser úteis
em alguns cálculos, podemos usar a relação a seguir:

(2)

147
O sistema de armazenamento é fator crucial no projeto de energia solar
térmica, pois a energia fornecida pelo sol irá variar com o passar das horas, dias, meses
e estações do ano. Dessa forma, é essencial que se tenha um excelente sistema de
armazenamento.

Como vimos, outro ponto para se levar em conta é o tipo de água que se
deseja armazenar, se é potável ou não. Essa observação quanto ao tipo de água se faz
necessária, pois, para água potável, a temperatura armazenada deve atingir, no máximo,
60 ºC, pois, em temperaturas maiores, temos a precipitação do calcário, o que pode
acarretar o entupimento do SAS.

No tanque de armazenamento, existe água fria, quente e morna, pois sempre


que ocorre o consumo de água, por exemplo, a abertura de uma torneira, no tanque,
ocorre a entrada de água fria na parte inferior do tanque de armazenamento (SOLAR
TÉRMICO, 2004).

Por conta da diferença de densidade, devido às diferentes temperaturas da


água no tanque, a água quente, que é menos densa, permanece no topo, já a água fria,
que possui maior densidade, irá se alocar na parte inferior.

A figura a seguir ilustra bem como funciona a entrada e saída d’água no tanque
de armazenamento. É possível observar que a saída de água quente ocorre da parte
superior do coletor para o tranque de armazenamento, ao mesmo tempo que esse
tanque reabastece o coletor com água fria pela parte de baixo (sistema primário). Já no
sistema secundário, temos o abastecimento de água fria no tanque pela parte de baixo,
vindo, por exemplo, de uma caixa d’água, e temos ainda a saída de água quente para
consumo, da parte superior do reservatório térmico.

FIGURA 18 – DESENHO ESQUEMÁTICO DEMONSTRANDO OS CIRCUITOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

FONTE: ABNT (2020, p. 34)

148
4.1 ISOLAMENTO DOS RESERVATÓRIOS TERMOSSOLAR
Com o objetivo de suprimir perdas energéticas, os reservatórios dos SAS
devem possuir um bom isolamento térmico. O isolamento dos tanques deve ser feito
em materiais com baixa condutividade térmica (< 0,035 W/m°C), como a espuma de
polietileno ou lã de vidro, possuindo uma espessura de cerca 10 cm nos lados e uma
espessura de 15 cm, no topo e na base do tanque (SOLAR TÉRMICO, 2004).

As taxas de perdas de calor devem ser menores que 2 W/°C. Para efeitos de
comparação, se pegarmos um bom tanque, com uma diferença de temperatura de 35
°C, que possua uma taxa de perda de 1,5 W/°C, e compararmos com um tanque com 3
W/°C, teremos uma perda de cerca de 450 KWh horas por ano. Esse valor corresponde a
uma superfície de coletores adicional de cerca de 1m2 (SOLAR TÉRMICO, 2004). A Figura
22 ilustra o isolamento em reservatório termossolar.

FIGURA 19 – ISOLAMENTO DE TANQUE DE ARMAZENAMENTO

FONTE: Solar Térmico (2004, s.p.).

Além do próprio reservatório termossolar, a tubulação também deve ter bom


isolamento térmico. De modo geral, a NBR 15569 (2020) cita os seguintes requisitos
para os materiais isolantes térmicos:

• Estabilidade a temperatura máxima de operação.


• Autoextinguíveis à chama.
• Quando expostos ao tempo, devem ser protegidos, contração ação de intempéries
e radiação ultravioleta.

149
5 SISTEMA DE AQUECIMENTO AUXILIAR
Em certos projetos, poderá ser necessário a aplicação de um sistema de
aquecimento auxiliar. Esse sistema tem como objetivo suprir a demanda energética
para o consumo previsto (ABNT, 2020).

Nesse tipo de sistema, podem ser previstos sensores de temperatura, tanto


para o circuito solar, quanto para aquecimento adicional.

IMPORTANTE
No caso do sensor de temperatura para os reservatórios termossolares, visando ao circuito
solar: o sensor deverá ser instalado na parte inferior do tanque, no meio do trocador de calor
do circuito solar, uma vez que permite uma eficiente mudança automática da bomba. Isso
significa que, mesmo que sejam retiradas pequenas quantidades de energia, o sistema tem a
possibilidade de recarregar com energia solar. Se não for possível instalar um sensor submerso
na altura necessária, podem ser utilizados sensores de contacto. Esses sensores não apresen-
tam problemas desde que estejam bem fixos ao tanque. No caso de haver mau contacto entre
o sistema e o sensor, podem existir interferências funcionais no controle do sistema.

Para sensor de temperatura para os reservatórios termossolares, visando ao


aquecimento adicional: o sensor para o aquecimento adicional disponibiliza
informação para o controle do aquecimento adicional e, de acordo com
a temperatura da água quente, pré-estabelecida no controlador, é dada
informação de início e fim do processo de aquecimento adicional. Esse sensor
pode ser instalado na mesma altura que o trocador de calor adicional, ou
mais alto, mas nunca abaixo deste.

FONTE: SOLAR TÉRMICO. Energia solar térmica: manual sobre tecnologia, projecto
e instalação. Disponível em: https://bit.ly/3OYXIxH. Acesso em: 30 abr. 2022.

150
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Os principais componentes de um SAS são os coletores, o reservatório termossolar


e o sistema de aquecimento solar.

• Cada componente apresenta diversas funções dentro do SAS.

• Os coletores devem seguir parâmetros estipulados pela NBR 15569.

• A eficiência de um coletor irá depender do seu tipo e, também, da diferença de


temperatura que o coletor opera com a temperatura ambiente.

• O sistema de armazenamento deve ser capaz de operar em faixas de temperatura


e pressão estipulados em projeto e que ainda deve seguir normas específicas e
legislação em vigor.

• O isolamento do tanque de armazenamento é uma importante variável para impedir


as perdas energéticas.

• Os materiais utilizados no sistema de armazenamento, bem como nas tubulações,


devem possuir um baixo coeficiente de condutividade térmica, abaixo de 0,035 W/
m°C.

• Um sistema de aquecimento auxiliar poderá ser necessário dependendo da


demanda energética.

151
AUTOATIVIDADE
1 Podemos exemplificar o sistema de armazenamento com um reservatório termossolar,
em que esse reservatório possui a função de armazenar a água quente recebida
pelos coletores solares, e, também, quando for o caso, receber essa água quente
do sistema de aquecimento auxiliar, mantendo-a disponível quente por mais tempo,
com baixa perda de calor.

I- Um reservatório térmico deve, além de armazenar a água quente, mantê-la disponível


quente por mais tempo, com baixas perdas de calor.
II- Para os períodos de baixa radiação solar, baixas temperaturas ambientes e em dias
de consumo de água quente acima do previsto, um reservatório térmico poderá ter
uma resistência térmica pré-programa com acionamento automático, para garantir
água quente para esses períodos.
III- No tanque de armazenamento, existe água fria, quente e morna, pois sempre que
ocorre o consumo de água, como a abertura de uma torneira, no tanque, ocorre a
entrada de água fria na parte inferior do tanque de armazenamento.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença I está correta.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

2 É muito importante que todos os componentes envolvidos no projeto de um sistema


de aquecimento solar sejam de boa qualidade, pois todo o sistema estará sujeito
a variações de temperaturas, e o materiais especificados deverão contemplar as
especificações técnicas do projeto. Nesse contexto, associe os itens, utilizando o
código a seguir:

I- Coletores Solares.
II- Reservatório Térmico.
III- Sistema de aquecimento solar auxiliar.

( ) Podem ser fabricados em modelos de baixa ou de alta pressão, possuindo seu


revestimento interno normalmente fabricado em aço inox.
( ) Em determinados projetos, poderá ser necessário a sua aplicação, com o objetivo
suprir a demanda energética para o consumo previsto.
( ) A seleção desses materiais deverá obedecer a alguns parâmetros, como a eficiência
térmica, a compatibilidade de uso e as características geográficas dos locais de
instalação.

152
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) II – III – I.
d) ( ) II – I – III.

3 Com o objetivo de suprimir perdas energéticas, os reservatórios dos sistemas de


aquecimento solar devem possuir um bom isolamento térmico, de forma a armazenar
a água vinda dos coletores, mantendo-a disponível quente por mais tempo, com
baixa perda de calor. Nesse contexto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) Dentre os materiais para promover um isolamento térmico, temos o poliuretano


(PU), a espuma de polietileno e a lã de vidro.
( ) Para um bom tanque térmico, as taxas de perdas de calor devem ser superiores há
2 W/°C.
( ) O isolamento dos tanques deve ser feito em materiais com alta condutividade
térmica, superiores a 0,035 W/m°C.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) V – F – V.

4 De forma a suprimir perdas térmicas, os reservatórios termossolares, integrantes


de sistemas de aquecimento solar, devem possuir um bom isolamento térmico, de
forma a armazenar a água vinda dos coletores, mantendo-a disponível quente por
mais tempo, com baixa perda de calor. Além dos próprios reservatórios térmicos, a
tubulação também deve possuir um bom isolamento térmico. Nesse sentido, quais
são os requisitos para considerarmos o material como um isolante térmico em
sistemas de aquecimento solar:

5 No que diz respeito à eficiência dos coletores, é comum o de curvas características


de eficiência em função das diferenças de temperatura. Outra variável importante, em
relação aos coletores solares, é a sua orientação geográfica. Nesse contexto, disserte
sobre a orientação geográfica dos coletores.

153
154
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS SOLARES
TÉRMICOS

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, falamos sobre os diversos componentes de sistema de
aquecimento solar (SAS), quando, entre eles, falamos dos coletores solares, responsáveis
pelo aquecimento da água quente. Falamos também sobre o reservatório termossolar,
que é responsável por armazenar e manter a água quente, com o mínimo de perdas, e,
também sobre o sistema de aquecimento auxiliar.

Neste tópico, abordaremos como deve ser feito o cálculo de dimensionamento


de um SAS, passando por suas diversas etapas, equações inerentes a esse
dimensionamento, e finalizando com um exemplo de dimensionamento.

Dessa forma, vamos ao que interessa!

2 ETAPAS DO DIMENSIONAMENTO
No dimensionamento de um sistema de aquecimento solar, temos como
objetivo determinar a área total necessária de coletores solares com base no volume de
armazenamento necessário para atender à demanda energética do local em questão.

Para os cálculos de dimensionamento neste livro didático, tomaremos como


base a NBR 15569, no entanto, a própria norma afirma que o cálculo de dimensionamento
pode ser tomado com base em qualquer procedimento técnico, desde que devidamente
reconhecido.

Temos as seguintes etapas envolvidas no cálculo do dimensionamento de um SAS:

1. Consumo de água.
2. Volume de água do sistema de armazenamento.
3. Área coletora.
4. Fator de correção de inclinação e orientação solar.

155
3 CÁLCULO DO DIMENSIONAMENTO
Para os cálculos de dimensionamento, tomaremos como base o dimensionamento
de uma residência unifamiliar. Outro ponto é que, para esses cálculos, não pode haver
sombreamento sobre os coletores solares. A fração solar considerada será de 70%.

Feitas essas considerações partiremos para as etapas do dimensionamento.

3.1 CÁLCULO DO CONSUMO DE ÁGUA


É o ponto primordial do dimensionamento de um sistema aquecimento solar,
pois trata justamente da necessidade de consumo. Para esse dimensionamento, a NBR
15569 (2020) elenca os pontos a seguir:

• Deve-se verificar o volume consumido em todos os pontos de utilização de água


quente.
• Deve-se considerar a vazão dos aparelhos de utilização.
• É preciso, também, considerar o tempo de utilização.
• E ainda considerar a frequência de uso.

Para o cálculo do volume de consumo (Vconsumo), utilizaremos a equação 3,


conforme se segue:

(3)

Onde:
Vconsumo → é o volume total de água quente consumido diariamente, sendo expressa em
litro (L).
Qpu→ é a vazão de utilização do aparelho, expressa em litros por minuto (L/min).
Tu→ é tempo médio de utilização diário do aparelho, sendo expresso em minutos (min).
frequência de uso → é número total de utilizações do aparelho por dia.

O símbolo de somatório (Σ) indica que esse levantamento deverá ser feito
por cada aparelho que consome água quente, seguido do somatório de todos esses
aparelhos, para se obter o volume total de consumo.

3.2 CÁLCULO DO VOLUME DE ÁGUA DO SISTEMA DE


ARMAZENAMENTO
O cálculo do sistema de armazenamento deve levar em conta o volume total
consumido, além das diferenças de temperatura de consumo e de ambiente, e a
diferença de temperatura de armazenamento e de consumo, conforme equação 5:
156
(5)

Onde temos que:


Vconsumo → é o volume total de água quente consumido diariamente, sendo expressa em
litro (L);
Varmazenamento → é o volume do sistema de armazenamento do SAS, expresso em litros (L);
Tconsumo é a temperatura de consumo de utilização, expressa em graus Celsius (ºC);
Tarmazenamento → é a temperatura de armazenamento da água, expressa em graus Celsius (ºC);
Tambiente → é a temperatura ambiente média anual do local de instalação, expressa em
em graus Celsius (ºC);

A NBR 15569 (2020) recomenda que o Varmazenamento seja maior que pelo menos
75% do Vconsumo.

Outra recomendação importante que a norma traz, é referente a temperatura de


consumo e a temperatura de armazenamento. A Tconsumo é sugerida para uso de duchas
e lavabos que sejam de 42ºC. Sugere-se ainda que a Tarmazenamento seja maior ou igual a
temperatura de consumo, nunca menor.

O Quadro 3 apresenta alguns valores de consumo que podem ser utilizados como
base em cálculos de dimensionamento.

QUADRO 3 – VALORES SUGERIDOS PARA CONSUMO DIÁRIO DE ÁGUA QUENTE

Temperatura
Consumo Consumo Ciclo Diário
Aparelhos de Consumo
Mínimo Máximo (min/pessoa)
em ºC
Ducha de banho 3,0 L/min 15,0 L/min 10 39 – 40
Lavatório 3,0 L/min 4,8 L/min 2 39 – 40
Ducha higiênica 3,0 L/min 4,8 L/min 2 39 – 40
Banheira 80 L 440 L Banho 39 – 40
Pia de cozinha 2,4 L/min 7,2 L/min 3 39 – 40
Lava-louças 20 L 20 L Lavagem 39 – 50
Máquina de lavar roupas 90 L 200 L Lavagem 39 – 50
FONTE: ABNT (2020, p. 40)

3.3 CÁLCULO DA DEMANDA DE ENERGIA ÚTIL


Para o cálculo da energia da útil, devemos levar em conta a energia necessária
para aquecer o volume de água armazenado. Dessa forma, tomamos como base a
equação 5 a seguir:

157
(5)

Onde temos que:


Eútil → é a energia útil, expressa em quilowatts hora por mês (kKWh/mês);
Varmazenamento → é o volume do sistema de armazenamento do SAS, expresso em litros (L);
ρ → é a massa específica da água igual a 1, expressa em quilogramas por litro (kg/L):
Cp → é o calor específico da água igual a 4,18, expresso em quilojoules por quilograma
grau Celsius (kJ/kg .ºC);
Tarmazenamento → é a temperatura de armazenamento da água, expressa em graus Celsius (ºC);
Tambiente → é a temperatura ambiente média anual do local de instalação, expressa em
graus Celsius (ºC);

3.4 CÁLCULO DO ÁREA COLETORA


No cálculo da área coletora, devemos levar em consideração:

(6)

Acoletora → é à área coletora, expressa em metros quadrados (m²);


lG → é o valor da irradiação global média anual diária para o local de instalação, expresso
em quilowatts hora por metro quadrado dia (KWh/m2);
PMEE → é a Produção Média Mensal de Energia Específica do coletor solar, expressa em
quilo- watts hora por mês por metro quadrado (kWh/(mês);
FCinstal → é o fator de correção para inclinação e orientação do coletor, adimensional;
Eútil → é a energia útil, expressa em quilowatts hora por mês (kKWh/mês);
Eperdas → é o somatório das perdas térmicas dos circuitos primário e secundário, expresso
em quilowatts hora por mês (kKWh/mês), que pode ser calculado pela soma das perdas
ou pela equação a seguir, quando considerado um fator de perda de 15%:

(7)

O valor da Produção Média Mensal de Energia Específica (PMME) pode ser obtido
na Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), que se encontra fixada no
coletor solar, ou, então, pode-se consultar a Tabela de Eficiência Energética do INMETRO,
publicada em seu website (NBR 15569, 2020).

3.5 CÁLCULO DO FATOR DE CORREÇÃO DE INCLINAÇÃO E


ORIENTAÇÃO SOLAR
Muitas vezes, é necessário realizar uma correção baseada na inclinação dos
coletores e, também, na orientação quanto ao norte geográfico. Para isso, usamos a
equação 8, descrita a seguir:

158
(8)

FCinstal é o fator de correção para inclinação e orientação do coletor, adimensional;


β → é a inclinação do coletor em relação ao plano horizontal, expressa em graus (º);
βótimo → é a inclinação ótima do coletor para o local de instalação, expressa em graus (º);
γ → é o ângulo de orientação dos coletores solares em relação ao norte geográfico,
expresso em graus (º).

ATENÇÃO
Vale destacar que a NBR 15569 (2020) indica que o ângulo ótimo de inclinação
(βótimo) seja igual à latitude + 10°, como vimos anteriormente.

4 EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO
Neste exemplo, ilustraremos o cálculo do dimensionamento de um SAS em uma
residência unifamiliar, localizada em Indaial/SC, conforme as especificações a seguir:

• Três pessoas.
• Orientação geográfica dos coletores solares: 25º Leste.
• Inclinação de instalação dos coletores solares: 20º.
• Consumo de água quente: uma ducha, um lavabo e uma torneira de cozinha.
• Os dados de vazão e tempo de uso serão utilizados, conforme Tabela 3.
• PMEE do coletor solar: 78,5 kKWh/(mês.m2).
• IG de Indaial: 4,21 kWh/(m2.dia) (conforme Figura site da CRESESB).
• Temperatura ambiente: 21,8 ºC.

FIGURA 20 – DADOS DE IRRADIAÇÃO SOLAR DIÁRIA MÉDIA

FONTE: <https://cresesb.cepel.br/index.php#data>. Acesso em: 4 abr. 2022.

159
Assim, o primeiro passo é calcular o consumo dos três aparelhos listados: a
ducha de banho, o lavabo e a torneira da pia da cozinha.

Volume de Consumo
1. Consumo da ducha.

Conforme o Quadro 3, temos:

• Tempo médio de uso: 10 min.


• Vazão da ducha: 7,2 L/min.
• Frequência de uso: 2 banhos por pessoa.

Utilizando a equação 3, temos que:

2. Consumo do lavatório do lavabo:

Conforme o Quadro 2 3, temos:

• Tempo médio de uso: 2 min.


• Vazão da ducha: 3,0 L/min.
• Frequência de uso: 2 utilizações por pessoa.

Utilizando a equação 3, temos que:

3. Consumo da torneira da cozinha:

De acordo com o Quadro 3, temos:

• Tempo médio de uso: 3 min.


• Vazão da ducha: 3,6 L/min.
• Frequência de uso: 2 usos por pessoa.

Utilizando a equação 3, temos que:

160
Aplicando o somatório da equação 3, temos que:

Volume de armazenamento

Agora que temos o vconsumo, podemos partir para o cálculo do volume de


armazenamento, conforme visto anteriormente na equação 5. Para isso, consideraremos
os dados a seguir:

• Tconsumo = 42,0 °C.


• Tarmazenamento = 50,0 °C.

Assim, temos que:

Demanda energética

Para proceder ao cálculo da energia útil, utilizamos a equação 6:

Já para o calculado da energia perdida, utilizamos a equação 8:

Área coletora

De posse dos dados calculado anteriormente, podemos proceder ao cálculo da


área coletora, com base nas equações 7 e 8:

161
Sabendo que o ângulo de inclinação , usando como base
a latitude encontrada na Figura 20, temos que . Assim, o cálculo do fator de
correção será igual a:

De posse do fator de correção, pode partir para o cálculo da área coletora, onde:

Portanto, a área coletora, que será a soma das áreas dos coletores instalados,
para esse sistema de aquecimento solar, deverá ser de 6,0 m².

5 PROTEÇÃO CONTRA O RETORNO DE ÁGUA QUENTE


O retorno de água quente para o local de abastecimento de água fria pode ser
um problema, pois, muitas vezes, o local de abastecimento não possui materiais com
requisitos necessários para aguentar água a temperaturas elevadas.

Dessa forma, para evitar o retorno de água quente, proveniente do reservatório


térmico, é necessária a aplicação de um dispositivo de proteção contra esses refluxos,
conforme ilustrado na figura a seguir:

162
FIGURA 24 – ILUSTRAÇÃO DE DISPOSITIVO PARA EVITAR REFLUXO DE ÁGUA QUENTE

FONTE: ABNT (2020, p. 27).

Conforme figura anterior, a NBR 15569 (2020) recomenda que a altura mínima
do sifão deverá ser 30 cm, além de o material da tubulação de alimentação de água fria
possuir resistência às condições de pressão e temperatura do SAS, sem isolamento
térmico e com um comprimento mínimo, de, pelo menos, 1,5 m, a partir do dispositivo
de refluxo, em sentido oposto ao fluxo de alimentação.

163
LEITURA
COMPLEMENTAR
ENERGIA SOLAR TÉRMICA: PARTICIPAÇÃO NA MATRIZ ENERGÉTICA E
CONTRIBUIÇÕES SOCIOECONÔMICAS AO BRASIL APÊNDICES ‘A’ E ‘B’

ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e


Aquecimento

Metodologia para conversão da produção dos sistemas solares térmicos para


equivalentes elétricos

O primeiro passo na determinação da equivalência elétrica (EEE) da produção dos


sistemas solares térmicos, ou aquecedores solares, é o cálculo da produção de energia
térmica anual. A forma mais direta é através de simulações computacionais que permitem
prever a produção de energia a partir de dados meteorológicos típicos. No caso dos sis-
temas para banho que usam coletores solares fechados, foram utilizadas as ferramentas
RETSCREEN, POLYSUN, WATSUN e SCENOCALC, a partir de dados típicos de coletores
solares e operação de sistemas, utilizando a cidade de Belo Horizonte como referência.

Além disso, a IEA utiliza ainda outra ferramenta, o software T-SOL, e a cidade de
Brasília como referência. Com metodologias diferentes, esses programas computacionais
geraram um intervalo de resultados variando de 600 kWh/ano.m2 a 859 kWh/ano.m2.
Com base nesses resultados, adotou-se o número de 750 kWh/ano.m2 como o número
representativo do setor para coletores fechados. No caso de piscinas, foram utilizados
os programas RETSCREEN e Enerpool Pro, chegando-se a um resultado representativo
de 800 kWh/ano.m2.

Uma vez tendo-se a produção térmica específica em kWh/ano.m2, como deter-


minado acima, e os dados de área instalada em m2, é possível, então, calcular-se a Pro-
dução de Energia Térmica Fechado (PETF) e Produção de Energia Térmica Aberto (PETA).

164
Uma vez calculada a produção de energia térmica, é possível determinar sua
equivalência elétrica, tanto em termos de energia, quanto em termos de potência
elétrica instalada equivalente, seguindo-se as equações a seguir:

FCF é o fator de conversão de energia solar térmica para energia elétrica


equivalente para coletores solares fechados, ou seja, aplicação de banho. O FCA é o
seu equivalente para coletores solares abertos, ou seja, aplicação em piscinas. O FCF
adotado é 0,9, representativo das perdas técnicas de transmissão e distribuição de
energia elétrica. Isso representa que, na equivalência, 1 kWh gerado em uma central
elétrica levaria à 0,9 kWh de calor em um chuveiro elétrico.

No caso da aplicação de piscina, o FCA adotado é de 3,6, calculado pela multi-


plicação de um valor médio de coeficiente de performance de bombas de calor de 4,0 e
das perdas técnicas de transmissão e distribuição de energia elétrica (0,9). Isso quer dizer
que cada kWh gerado em uma central elétrica levaria a 3,6 kWh de calor em uma piscina.

FC é o fator de capacidade médio das usinas geradoras de eletricidade,


adotando-se aqui o número representativo para o Brasil de 0,52. Assim:

Cálculos de energia, uma mudança de paradigma para as empresas do setor.

Tradicionalmente o setor de energia solar térmica utiliza o m2 de área de coletores


solares como base nas suas transações comerciais e comunicações ao consumidor e
público em geral. Apesar de ser de fácil assimilação, o m2 não informa de forma direta
o real benefício do equipamento: a produção de energia, além de não ser um parâmetro
efetivamente comparativo entre os diversos modelos oferecidos pelas empresas.

Assim, a partir de aprovação em Assembleia de Associados do DASOL – Departa-


mento Nacional de Aquecimento Solar da ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigera-
ção, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento, indica-se a adoção por parte dos ato-
res do mercado, de uma nova base de apresentação de dados condicionada à Produção
Mensal de Energia (PME), já divulgada nas etiquetas INMETRO dos coletores solares.

165
O número que passa a ser apresentado é o da Produção Anual Padronizada de
Energia (PAPE)

Como exemplo, digamos que um determinado coletor solar tenha a PME


– Produção Mensal de Energia de 182 kWh/mês, e que 3 coletores estejam sendo
ofertados. A Produção Anual Padronizada de Energia – PAPE, seria:

Essa medida permite a comparação comercial dos coletores solares com base
na sua produção de energia padronizada e estabelece de forma imediata o benefício
gerado pela implantação: energia que será usada como água quente. Sugere-se, ainda,
a possibilidade de se oferecer o produto pelo CS - Custo Solar, onde é feito o cálculo
do investimento total do aquecedor solar completo em R$/kWh ou R$/MWh. Isso é feito
utilizando-se o preço total dividido pela PAPE – Produção Anual Padronizada de Energia,
multiplicado pela vida estimada de uso do equipamento, para a qual se sugere 20 anos:

Considerando-se um valor de venda de R$5.000,00 para o exemplo acima de


PAPE, o CS seria, então:

IMPORTANTE: Vale lembrar que a PAPE – Produção Anual Padronizada de


Energia é uma ferramenta de comparação em termos de propostas comerciais, mas em
situações que se requeiram cálculos mais precisos, a produção de energia real depende
de muitos outros fatores, como disponibilidade de irradiação solar no local, quantidade
de água quente efetivamente a ser utilizada, forma de instalação e muitos outros. A PME
– Produção Mensal de Energia da etiqueta é calculada a partir dos testes dos coletores
solares para um dia padrão de referência, que considera as condições climáticas da
cidade de Belo Horizonte.

INFORMAÇÃO ADICIONAL: para determinar o número da PAPE – Produção Anual


Padronizada de Energia ainda mais próximos da realidade de uma determinada cidade
para dimensionamento do SAS, existe um trabalho em curso no Grupo de Estudos e
Pesquisas em Energia (GEPEN), da UNA-BH, sob a coordenação da Profª. Elizabeth
Pereira e com suporte da Eletrobrás. Esse trabalho realizará a adaptação da ferramenta
ScenoCalc, para cidades brasileiras, por meio de uma planilha de cálculos desenvolvida
para o programa europeu Solar Keymark, que calculará a PAPE de um coletor a partir dos

166
dados meteorológicos típicos de uma cidade de interesse. Dessa forma, para situações
que requeiram maior precisão, recomenda-se que a PAPE seja calculada dessa forma,
assim que a ferramenta esteja disponível para uso das empresas.

Assim, fica claro que essa mudança de paradigma pode ser efetuada facilmente
e que, além de facilitar a avaliação dos consumidores, irá permitir que o setor comunique
de forma mais efetiva à sociedade brasileira a produção energética dos sistemas solares
térmicos (ABRAVA, 2014).

FONTE: Energia Solar Térmica. Metodologia para conversão da produção dos sistemas solares térmicos para
equivalente elétricos. In: Energia Solar Térmica: participação na matriz energética e contribuições so-
cioeconômicas ao Brasil. Apêndice A, p. 17-21, 2015. Disponível em: http://www.ecoa.org.br/wp-content/
uploads/2015/11/energia-solar-termica-publicacao.pdf. Acesso em: 7 jun. 2022.

167
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• No dimensionamento de um sistema de aquecimento solar, temos como objetivo


determinar a área total necessária de coletores solares com base no volume de
armazenamento necessário para atender a demanda energética.

• As etapas do dimensionamento de um SAS são: Volume do consumo de água;


Volume de água do sistema de armazenamento; Área coletora e Fator de correção
de inclinação e orientação solar.

• O cálculo do dimensionamento deve ser feito por etapas.

• Deve-se evitar o retorno de água quente, proveniente do reservatório térmico.

168
AUTOATIVIDADE
1 Em sistemas solares térmicos, a energia é captada através de painéis solares,
também denominados coletores solares. Esses sistemas são relativamente simples,
se comparados ao sistema de energia solar fotovoltaico, além de serem sistemas
econômicos e conhecidos de aproveitar o Sol, sendo utilizados em casas, hotéis e
empresas. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:

I- Sistemas solares térmicos residenciais utilizam a energia do sol para produção de


energia elétrica nas residências.
II- No cálculo do dimensionamento do volume de consumo, devemos levar em conta
o tempo médio de utilização dos aparelhos, bem como a vazão dos mesmos e sua
frequência de uso.
III- No dimensionamento do sistema de armazenamento, é recomendado que o volume
de armazenamento seja de, pelo menos, 75% do volume de consumo.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.


b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 O correto cálculo do dimensionamento de sistemas solares térmicos é extremamente


importante, de forma a não sub ou superdimensionar um sistema. Assim, o
conhecimento das variáveis envolvidas no processo é de especial importância. Nesse
contexto, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Vconsumo
II- Varmazenamento
III- Qpu

( ) É o volume do reservatório térmico do SAS.


( ) É o volume total de água quente consumido diariamente.
( ) É a vazão volumétrica de utilização do aparelho, expressa em litros por minuto.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) II – III – I.
d) ( ) II – I – III.

169
3 A energia solar térmica, também chamada de termossolar, utiliza o calor do sol
diretamente com o objetivo de realizar a captação e transferir o calor para um meio
líquido, como a água. Nesse contexto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) No dimensionamento de um sistema de aquecimento solar, temos como objetivo


determinar a área total necessária de coletores solares com base no volume de
armazenamento.
( ) O cálculo do volume é uma etapa fundamental do dimensionamento.
( ) A energia térmica é considerada uma forma sustentável e renovável de geração de
energia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A energia solar térmica utiliza o calor do sol diretamente com o objetivo de realizar
a captação e transferir o calor para um meio líquido, como a água. Nesse contexto,
calcule o volume de armazenamento de uma residência que possui quatro pessoas,
utilizando os dados de vazão do Quadro 3 e o valores mencionados a seguir:

• orientação geográfica dos coletores solares: 30º Leste;


• inclinação de instalação dos coletores solares: 18º;
• consumo de água quente: 1 ducha, 1 lavatório, 1 lava-louças, e 1 torneira de cozinha
(utilize o consumo mínimo indicado no quadro);
• frequência de uso: ducha: 1 uma vez por pessoa; lavatórios 2: vezes por pessoa;
cozinha: 2 vezes por pessoa; e lava-louças: 2 vezes por dia;
• PMEE do coletor solar: 78,5 kKWh/(mês.m2);
• IG de Indaial: 5,2 kWh/(m2.dia);
• temperatura ambiente: 23 ºC;
• Tconsumo = 42,0 °C;
• Tarmazenamento = 50,0 °C.

5 Muitas vezes, o local de abastecimento não possui materiais com requisitos necessá-
rios para aguentar água a temperaturas elevadas, assim, é preciso evitar o retorno de
água quente para o local de abastecimento de água fria. Como isso deve ser feito?

170
REFERÊNCIAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas: NBR 15569 Sistema de
aquecimento de água em circuito direto – Requisitos de projeto e instalação, 2020.

ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração, ar-condicionado, ventilação


e aquecimento. Energia solar térmica: participação na matriz energética e
contribuições socioeconômicas ao Brasil. São Paulo, 2014.

OURO FINO. Sistema de aquecimento solar: manual de instalação, utilização e


dados técnicos. 2016. disponível em: https://ourofino.com.br/especificacoes-tecnicas/.
Acesso em: 30 abr. 2022.

SOLAR TÉRMICO. Energia solar térmica: manual sobre tecnologias, projecto e


instalação. (2004). Disponível em: https://www.portal-energia.com/manual-e-guia-
tecnico-de-projecto-e-instalacao-da-energia-solar-termica/. Acesso em: 24 abr.
2022.

171

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy